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Cleópatra & Júlio César

O romance entre César e Cleópatra tornou-se notório. Durante dois meses César
passeou de barco pelo Nilo na companhia da amante. No entanto, segundo
historiadores, o principal motivo da permanência de César no Egito foi outro: abril era o
mês da colheita do trigo no Egito e César aproveitou a ocasião para encher os seus
navios com o cereal. A maior parte do trigo consumido em Roma vinha do Egito.

Em julho de 47 a.C. Cleópatra deu à luz a um menino, que recebeu o nome de


Ptolomeu 15, mais conhecido como Cesário. Júlio César reconheceu a paternidade da
criança. No entanto, alguns historiadores atuais põem em dúvida o fato de o
verdadeiro pai ser mesmo Júlio César. Cleópatra tinha esperança de que seu filho se
tornasse não apenas herdeiro do reino do Egito, mas também de César.

Se isso acontecesse, Cesário se tornaria governante de um império semelhante ao de


Alexandre da Macedônia. Para César, o nascimento do filho de Cleópatra também foi
conveniente: sendo oficialmente o pai do herdeiro do trono egípcio, ele podia garantir o
envio do trigo do Egito para Roma sem maiores despesas para os cofres romanos.
Júlio César não se casou com Cleópatra pois já era casado com uma romana,
Calpurnia, com quem jamais teve filhos.

Em 44 a.C. Júlio César foi assassinado em Roma por um grupo de senadores, que o
acusaram de querer ser rei, o que significaria o fim da República e a volta da
monarquia. Eles não imaginavam que o assassinato de César criaria condições
favoráveis para o fim da República e o início de uma guerra civil. Para surpresa de
Cleópatra, o testamento de César designava Otávio, seu sobrinho, e não Cesário,
como seu principal herdeiro.

Cleópatra percebeu que, para governar sozinha, teria de contar com o beneplácito de
um dos homens fortes de Roma e tomou o partido de Pompeu, protector do seu pai, a
quem enviou víveres e tropas para a guerra que este mantinha com com César.

Os tutores do irmão provocaram uma sublevação em Alexandria e Cleópatra fugiu para


a Síria. Quase ao mesmo tempo, em Agosto de 48 a.C., César derrotou Pompeu em
Farsália e este fugiu para o Egipto em busca de refúgio junto dos herdeiros do seu
protegido, Ptolemeu XII. Foi uma opção trágica.

Os partidários de Ptolemeu XIII executaram-no, acreditando que isto agradaria a César


e esperando de seguida aniquiliar Cleópatra, privada do seu protector romano.

A reacção de César não foi a esperada por Ptolemeu XIII. Ao chegar a Alexandria,
ordenou aos dois irmãos que se apresentassem perante ele com a intenção de mediar
o conflito. Cleópatra teve dificuldades em obedecer à ordem, dado que os partidários
do irmão controlavam os acessos ao palácio. Para o conseguir, idealizou o famoso
ardil de se colocar no interior de um saco (ou tapete, segundo outras versões) que um
servo introduziu no palácio. César e Cleópatra terão passado juntos essa noite, o que
não impediu que o general romano se mostrasse aparentemente imparcial na querela
entre irmãos e esposos, restabelecendo o governo conjunto de ambos.

Os partidários de Ptolemeu XIII tentaram recuperar a iniciativa, eliminando os amantes.


Para tal, voltaram a sublevar a população da cidade e cercaram os quatro mil homens
de César no interior do bairro palaciano, com apoio de vinte mil soldados.
O cerco durou até os reforços de César chegarem e Ptolemeu XIII foi derrotado e
morto. Cleópatra casou-se nessa altura com o seu último irmão, Ptolemeu XIV.

Depois disto, as fontes relatam que César permaneceu no Egipto percorrendo o Nilo
durante três meses, até Abril, com a sua amante Cleópatra e um cortejo de
quatrocentos navios. As razões para que César não partisse para Roma de imediato,
apesar do perigo que os poderosos partidários de Pompeu representavam, ainda não
foram totalmente esclarecidas e o facto pode estar relacionado com o fascínio que este
sentia pela rainha. Em alternativa, vários historiadores asseguram que o motivo foi
mais prosaico. Abril é o mês da colheita de cereal no Egipto e César foi carregando os
seus quatrocentos navios com cereais. Necessitava dessa carga para alimentar Roma
e o seu exército, dado que os partidários de Pompeu controlavam a província de África
(actual Tunes), celeiro de Roma. Talvez a ânsia de César por reconciliar Cleópatra
com o seu irmão tenha tido o propósito também de evitar a guerra civil egípcia, que
teria colocado em perigo os objectivos de César relativamente à colheita do Egipto.

Assim, em Abril de 47 a.C., César saiu do Egipto deixando três legiões para proteger o
cereal e a rainha, grávida de um filho seu, Cesarião. Este fruto da sua relação
beneficiava os dois amantes, dado que César conseguia com isto assenhorear-se do
Egipto sem prestar contas a Roma, enquanto Cleópatra conseguia que o Egipto
passasse a ser uma província romana. Em contrapartida, se os planos de César
chegassem a bom porto, Cleópatra acreditava que poderia colocar Cesarião à frente
de um império com dimensão semelhante ao de Alexandre.

Depois de derrotar os últimos partidários de Pompeu em 45 a.C., César recebeu o


título de ditador perpétuo e o direito a usar o traje triunfal e a coroa de louros.
Entretanto, Cleópatra e Cesarião tinham chegado a Roma. César reconheceu
Cesarião como seu filho, embora não se tivesse casado com Cleópatra (já era casado
com uma romana, Calpúrnia, sem descendência dessa relação).

Enquanto isso, corria o rumor de que o conquistador da Gália aspirava a ser


proclamado rei, e foi assim que, no dia 15 de Março de 44 a.C. (os idos de Março),
Júlio César foi assassinado quando entrava numa sessão do Senado na qual se
discutiria, entre outros assuntos, a concessão do título de rei antes do início de uma
campanha militar contra o reino parto. Seria no fundo, a concretizar-se, a consumação
da resposta fornecida pelos Livros sibilinos a uma questão sobre o resultado da
campanha: “Só um rei pode vencer os partos.”

Morto César e aberto o seu testamento, Cleópatra comprovou que o ditador nomeara
como herdeiro o seu sobrinho Octávio. Se Cesarião alguma vez esteve nos projectos
de César, seria num futuro longínquo, quando a sua liderança estivesse consolidada.
Mas isso são apenas conjecturas, dado que os projectos de César morreram com ele.

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