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PROF. MSC. RAFAEL PRATA.

DISCIPLINA: HISTÓRIA ANTIGA I


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA (DHI/UFS)
ANTECEDENTES HISTÓRICOS
1. Quadro Histórico:
- A República que o antecedeu ao longo de cinco séculos encontrava-se numa
situação de elevada instabilidade, na sequência de diversos conflitos
políticos, durante os quais Júlio César foi nomeado ditador perpétuo e
assassinado em 44 a.C. As guerras civis culminaram na vitória de Otaviano,
filho adotivo de César, sobre Marco António e Cleópatra na Batalha de
Áccio em 31 a.C. Detentor de uma autoridade inquestionável, em 27
a.C. o senado romano atribuiu a Otaviano poderes absolutos e o novo título
de Augusto, assinalando desta forma o fim da República e o inicio do Império.
A frota de Otaviano era comandada
por Marco Vipsânio Agripa e a de António
apoiada pelos barcos de guerra da
rainha Cleópatra do Egito. O resultado foi
uma vitória decisiva de Otaviano, que findou
a oposição ao seu poderio crescente. Esta
data é por isso usada para marcar o fim
da República e início do Império Romano.
Durante a luta, Cleópatra decidiu fugir e
António depressa a seguiu. A fuga do
comandante não foi descoberta e a luta
prosseguiu até Agripa conseguir incendiar e
afundar a frota de António.
Cerca de um ano depois destes
eventos, Otaviano invadiu o Egito e António e
Cleópatra suicidaram-se.
A DIVISÃO TEMPORAL DO IMPÉRIO
2. As Fases do Império:
- O período Imperial, tradicionalmente, costuma ser dividido em
dois momentos:
• Alto Império: período em que Roma alcançou grande esplendor
territorial e bélico (estende-se até o século III d.C.).
• Baixo Império: fase marcada por crises que conduziram a
desagregação do Império Romano (do século III ao século V).
ALTO IMPÉRIO (I – III D.C)
2. As Dinastias do Alto Império:
- Após a morte de Augusto (14 d.C.) até o fim do século II, quatro dinastias se sucederam no poder. São elas:
• Dinastia Júlio-Claudiana (14-68): Com os imperadores Tibério, Calígula, Cláudio e Nero, essa dinastia esteve ligada à
aristocracia patrícia romana. Principal característica dessa fase: os constantes conflitos entre o Senado e os
imperadores.
• Dinastia Flávia (68-96): Com os imperadores Vespasiano, Tito e Domiciano, apoiados pelo exército, o Senado foi
totalmente submetido.
• Dinastia Antonina (96 – 193): Com Nerva, Trajano, Adriano, Antonio Pio, Marco Aurélio e Cômodo, assinalou-se uma fase
de grande brilho do Império Romano. Os imperadores dessa dinastia, exceto o último, procuraram adotar uma atitude
conciliatória em relação ao Senado.
• Dinastia Severa (193 – 235): Com Sétimo Severo, Caracala, Macrino, Heliogábalo e Severo Alexandre, caracterizou-se
pelo inicio de crises internas e pressões externas, exercidas por povos diversos, prenunciando o fim do Império
Romano, a partir do século III da era cristã.
A Guarda Pretoriana do
Imperador.
A Guarda Pretoriana do
Imperador.
ALTO IMPÉRIO
2.1. A Política do Pão e Circo:
- O imperador Otávio abandonou a política agressiva de
conquistas, promoveu a aliança entre aristocracia e os
cavaleiros (plebeus enriquecidos) e apaziguou a plebe com a
política do “pão e circo” (panem et circenses), que consistia
em distribuir trigo para a população carente e organizar
espetáculos públicos de circo.
Calígula
(12-41)
ALTO IMPÉRIO
1) Bisneto de Augusto, primeiro imperador romano, Caio Julio Cesar Augusto Germânico (12-
41) já tinha futuro certo na política. Passou a infância em campanha militar na Germânia ao lado
do pai, o famoso general Júlio César Germânico, e recebeu dos legionários o apelido
de Calígula (diminutivo de bota militar, em latim).
2) Ambicioso e inescrupuloso, ele não mediu esforços para alcançar seus objetivos. Em
37, Calígula e Macro, um importante magistrado pretoriano, sufocaram o imperador Tibério com
um travesseiro. Calígula ascendeu ao poder e uma de suas primeiras ordens foi a execução de
Macro e também de Gemelo, neto de Tibério, que teria direito à sucessão imperial.
3) Por ser filho de Germânico, o novo imperador de 25 anos, inicialmente, foi muito bem recebido
pelo povo. Vaidoso e empolgado para ampliar sua fama, instituiu ordens controversas, como
a abolição de taxas de comércio importantes para Roma e uma série de jogos e espetáculos
caros nos anfiteatros locais.
ALTO IMPÉRIO
4) Após sete meses de reinado, Calígula adoeceu e ficou mais megalomaníaco. Queria ser tratado como
um deus e construiu seu palácio anexado ao templo de Castor e Pólux – o que foi considerado um
sacrilégio para os romanos. Ameaçou nomear seu cavalo como cônsul e humilhou o senado com
julgamentos de traição arranjados.
5) Além de manter uma relação incestuosa com as três irmãs, nomeou-as para cargos e uma série
de honrarias públicas sem precedentes. Em 38, porém, uma delas, Drusila, morreu. No ano
seguinte, Calígula exilou as outras duas,Agripina e Livilla, acusando-as de conspiração.
6) Para se provar digno do legado de seu pai, Calígula saiu em campanha militar na Britânia e na
Germânia. Ambas não levaram a nenhuma conquista marcante. A caminho da Britânia, não chegou nem a
cruzar o canal da Mancha e ordenou que seus legionários ficassem recolhendo conchinhas da praia.
7) Em 40, tentando copiar as glórias militares de antecessores como Augusto e
Tibério, Calígula contratou germânicos livres para atuarem como escravos capturados no retorno de
suas legiões a Roma. Desfilou as tropas em plena Via Triumphalis, em Roma, como se fosse um vencedor.
ALTO IMPÉRIO

•QUE FIM LEVOU?


Em 41, ele e sua família foram assassinados
pela guarda pretoriana, sob ordens do
Senado, que estava descontente com os
desmandos do imperador.
“Mas não através de auxílio humano, ou por doação do imperador ou com
oferendas para acalmar os deuses desapareceu a desconfiança que afirmava ter
sido o fogo ordenado [por ele]. Por isso, a fim de acabar com o rumor, Nero
colocou a culpa e infligiu as mais terríveis torturas àqueles que por suas
abominações eram chamados pelo vulgo de cristianos (sic). Cristo, de quem
provém este nome, fora executado no tempo do imperador Tibério pelo
procurador Pôncio Pilatos. Tendo sido reprimida de início, aquela odiosa
superstição ressurgiu novamente, não apenas na Judéia, local de origem do
mal, mas também em Roma, para a qual confluem todas as atrocidades e
vergonhas, e lá são festejadas. Por isso, primeiramente foram atacados aqueles
que confessaram serem cristãos; depois, foi aprisionada uma grande multidão
por acusação do povo, não tanto pelo crime do incêndio, mas pelo ódio que
[os cristãos] possuem contra o gênero humano. Aos que pereciam,
acrescentaram-se zombarias. Alguns, cobertos por peles de animais, foram
estraçalhados por cães e pereceram; ou eram pregados a cruzes, e por vezes
queimados, para servir de iluminação noturna quando a luz do dia havia
expirado. Nero ofereceu seus jardins para o espetáculo, e ofereceu jogos de
circo, misturando-se entre o povo em trajes de condutor de carro, ou
conduzindo o carro. Por isso, embora a condenação fosse contra culpados e
merecedores dos piores castigos, entre o povo surgiu pena para com eles,
como se não estivessem morrendo por utilidade pública, mas devido à
crueldade de um só indivíduo”. (Tácito)
A ANTIGUIDADE E A IDADE MÉDIA:
CONSTRUÇÕES HISTORIOGRÁFICAS?

Roma morreu ou foi assassinada?


a) André Piganiol e Edward Gibbon:
“A civilização romana não morreu de morte natural; foi assassinada".
(PIGANIOL, A. L’Empire Chrétien.Paris: 1972. p. 466).

b) Ferdinand Lot:
“O Império Romano morreu de morte natural”.
(LOT , Ferdinand,. Fim do mundo antigo e início da Idade Média, Lisboa: Edições 70, 1985)
A PROVA CRONÍSTICA DA
“RUPTURA”?

“Pouco tempo depois de Augústulo ter sido estabelecido Imperador em Ravena


por seu pai Orestes, Odoacro, rei dos Turcilingos, ocupou a Itália. Orestes foi
morto e seu filho Augústulo, expulso do reino e condenado à pena de exilio no
Castelo Luculano, na Campânia. Assim, o Império do Ocidente, que o
primeiro dos augustos, Otaviano Augusto, tinha começado a dirigir no ano 709
da fundação de Roma, pereceu com este Augústulo no ano quinhentos e
vinte e dois (476 d.C) do reinado de seus antecessores imperadores. Desde
aí Roma e a Itália passaram a ser governadas pelos reis dos Godos”.
(Jordanes, Gética, XLVI).
UMA OUTRA PERSPECTIVA POR MEIO DAS
FONTES TARDO-ANTIGAS?

“Anastácio mandou de volta para ele todos os ornamentos


do Palácio, que Odoacro havia transferido para
Constantinopla”.
(Anonymus Valesianus, 1892:322)
“Odoacro, vencedor e mestre da Itália, assumiu seu titulo de
rei e não utilizou nem a purpura, nem as insígnias
imperiais”.
(CASSIODORO, 1894:158-159)

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