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Apostila de Meteorologia Básica - IF 111 – 2013 – DCA/IF/UFRRJ

CAPÍTULO 9. PRECIPITAÇÃO

Rafael Coll Delgado


Ednaldo Oliveira dos Santos

9.1. Introdução

Entende-se por precipitação a água, na forma liquida ou sólida, proveniente de


mudança de fase (condensação, solidificação ou sublimação) do vapor d’água da
atmosfera que é transferida para a superfície terrestre por gravidade sob a forma de
chuva, garoa, granizo e neve. Resumidamente, a precipitação é qualquer processo da
condenação atmosférica que é depositada na superfície da Terra.

Assim, a precipitação representa um dos principais componentes do ciclo


hidrológico, sendo a ligação entre os demais fenômenos hidrológicos de superfície,
como por exemplo, o escoamento superficial.

Por isso, o fenômeno da precipitação é fonte de água da fase terrestre do ciclo


hidrológico e constitui, portanto, fator importante para os processos de escoamento
superficial, infiltração, evaporação, transpiração, recarga de aquíferos, vazão básica dos
rios e outros.

9.2. Mecanismo de Formação da Precipitação

Para que ocorra a precipitação, depois da condensação, deve haver a formação


de gotas maiores, denominadas de elementos de precipitação ou elementos de nuvens,
resultantes da coalescência das gotas menores, que ocorre devido a diferenças de
temperatura, tamanho, cargas elétricas e também devido ao próprio movimento
turbulento.

A coalescência é um processo que promove uma rápida união de um grande


número de elementos de nuvem até um tamanho suficiente para transformá-los em
elementos de precipitação. Ela é o resultado de alguns processos físicos que são
diferentes daqueles que regem a condensação (Figura 9.1).

As gotículas são arrastadas pelas correntes ascendentes e descendentes que


ocorrem no interior da nuvem, colidindo e aglutinando-se. Estas gotículas tornam-se
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grandes para serem sustentadas pelas correntes de ar, começam a caírem em forma de
gotas principalmente de chuva, com diâmetro mínimo de 0,5mm (Figura 9.1).

Dentre eles os mais importantes são:

▪ Absorção de uma gotícula durante o choque entre elas em virtude de


movimentos turbulentos no interior da nuvem;

▪ Diferenças de temperatura entre os elementos de nuvens;

▪ Diferenças de tamanho entre os elementos de nuvens;

▪ Existência de cargas elétricas entre os elementos de nuvens.

Figura 9.1. Diagrama mostrando processo de colisão e coalescência dentro de uma


nuvem. Fonte: Adaptado de Lutgens & Tarbuck (1992).

O diagrama acima mostra uma gotícula à medida que cresce por colisão /
coalescência e eventualmente se torna muito grande para permanecer dentro da nuvem.
As gotículas de nuvem menores são mostradas com algumas velocidades verticais para

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cima (setas vermelhas) para indicar que elas podem ser capturadas em uma corrente
ascendente dentro da nuvem.
A outra forma de precipitação líquida, garoa ou chuvisco, origina-se
similarmente à chuva, porém, se caracteriza por ter um tamanho de gota de água
pequeno (geralmente menor que 0,5 mm de diâmetro), através de nuvens relativamente
baixas e de pouco desenvolvimento vertical, como as nuvens stratus.
No caso da precipitação sólida, especificamente granizo, só se forma em nuvens
de tempestade – preferencialmente nas Cumulonimbus de grande desenvolvimento
vertical, e que haja os processos já mencionados acima. Isso porque no interior delas
existem correntes de ar ascendentes e descendentes que ficam levando o vapor d'água
condensado acima do que chamamos de linha Isotérmica, que é de 0ºC e depois o
"arrastam" abaixo desta linha (Figura 9.2).
Acima, desta linha as gotículas de água se congelam e depois "precipitam", seja
por peso ou por uma corrente descendente. Neste vai-e-vem o granizo derrete e depois
recongela num processo contínuo de aquecimento e resfriamento que absorve cada vez
mais umidade e cria camadas e mais camadas de gelo até que as pedras de granizo
alcançam um peso que impede sua sustentação, e então ele cai. Entre a parte mais baixa
das nuvens e o solo as pedras de granizo (medindo entre 5 e 200 mm de diâmetro) são
expostas à temperatura do ar e podem ser aquecidas. Esse aquecimento pode ou não
liquefazer o granizo. Quando há grande quantidade de precipitação de gelo, esse
fenômeno hidrometeorológico é denominado como “saraiva”.

Figura 9.2. Esquema mostrando processo de formação do granizo dentro de uma nuvem.
Fonte: http://meteorologia.florianopolis.ifsc.edu.br/formularioPI/arquivos_de_usuario/201613C.pdf.

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O processo de formação da neve é basicamente o mesmo da chuva e do granizo,


com a concentração de vapor de água no interior da nuvem. No entanto, para que haja a
formação da neve é necessária uma condição em que as nuvens se encontrem em
temperatura inferior a 0°C. Assim, o vapor de água contido na nuvem acaba por se
condensar, formando pequenos cristais de gelo ou flocos que precipitarão em forma de
neve. Quando as regiões mais próximas à superfície têm temperaturas baixas, a neve
permanece.

9.3. Classificação da Precipitação

Em condições normais a maioria das precipitações provém do resfriamento


adiabático, classificando-se as precipitações da seguinte forma:

▪ Convectiva;

▪ Orográfica;

▪ Frontal.

9.3.1. Convectiva

A chuva convectiva é originada do processo de convecção livre, em que ocorre


resfriamento adiabático, devido à ascensão de uma parcela de ar na atmosfera,
formando-se nuvens de grande desenvolvimento vertical, como por exemplo,
Cumulunimbus (Cb). Na região Tropical é o tipo de precipitação mais frequente, sendo
chamadas chuvas de verão, caracterizadas por serem de abrangência local e de
intensidade variando de moderada a alta.

Isso acontece porque o aquecimento desigual das camadas de ar resulta em uma


estratificação em camadas de ar que se mantém em equilíbrio instável. Qualquer
perturbação que ocorra, como por exemplo, uma rajada de ventos, provoca ascensão
violenta das camadas de ar mais quentes, capaz de atingir grandes altitudes. Ao elevar-
se, a parcela de ar sofre rápida expansão adiabática, resfriando-se, condensando e com
os intensos movimentos turbulentos no interior da nuvem formada, devido à alta energia
da parcela, resulta em colisões e coalescência, que formam as gotas de grandes
tamanhos. Isto pode originar as chuvas de grandes intensidades, com curtas durações e
pequenas abrangências (Figura 9.3).
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Figura 9.3. Exemplo de Nuvem Convectiva: Cumulunimbus. Fonte:


https://www.climatempo.com.br/participe.

As características das chuvas convectivas são:

a. Distribuição: localizada, com grande variabilidade espacial;

b. Intensidade: moderada a forte, dependendo do desenvolvimento vertical


da nuvem.

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9.3.2. Orográfica

A chuva orográfica ocorre em regiões onde barreiras orográficas, ou seja,


obstáculos do relevo, forçam a elevação do ar úmido, e assim, provocam convecção
forçada, que resulta em resfriamento adiabático e em chuva na face à barlavento.

Na face à sotavento ocorre a sombra de chuva, ou seja, ausência de chuvas


devido ao efeito orográfico. Alguns exemplos são: os chuviscos, neblinas e garoas
típicas da Serra do Mar, e outras regiões. Ocorre quando uma massa de ar úmido
provinda do oceano é forçada a subir a grandes altitudes por encontrar uma cadeia
montanhosa em sua rota, sofrendo assim resfriamento adiabático e condensando (ar
saturado e núcleos de condensação). As chuvas deste tipo atingem áreas maiores do que
as do caso anterior (convectivas), tendo maior duração e menor intensidade (Figura 9.4).

Quando os ventos ultrapassam a barreira, se a maior parte do vapor d’água já


tiver condensado e precipitado, do lado oposto da montanha, à sotavento (direção de
onde o vento escoa), projeta-se a sombra pluviométrica, dando lugar a áreas secas ou
semiáridas causadas por esses ventos de ar seco, já que a umidade foi descarregada na
encosta à barlavento (para onde o vento se dirige). Na vertente oriental das Montanhas
Rochosas dos EUA e Canadá, esse vento, quente e seco, recebe o nome de Chinook e na
Europa, Mistral, sendo estes, no entanto, frios.

Figura 9.4. Esquema mostrando a formação de chuva orográfica. Fonte:


https://www.apontamentosnanet.com/tag/tipos-de-precipitacao/.
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9.3.3. Sistemas Frontais

A precipitação frontal está associada à movimentação de massas de ar de regiões


de alta pressão para regiões de baixa pressão, causada normalmente pelo aquecimento
desigual, em grande escala, da superfície terrestre.

As chuvas frontais são oriundas do encontro de duas massas de ar com diferentes


características de temperatura e umidade do ar. Dependendo do tipo de massa que
avança sobre a outra, as frentes podem ser denominadas basicamente de frias (massa de
ar fria se desloca em direção à massa de ar quente) e quentes (massa de ar quente se
desloca em direção à massa de ar fria). Nesse processo ocorre a convecção forçada, com
a massa de ar quente (menos densa) e úmida se sobrepondo à massa fria (mais densa) e
seca, com a massa de ar quente e úmida se elevando, ocorre o processo de resfriamento
adiabático, com condensação e posterior precipitação (Figura 9.5).

Figura 9.5. Exemplos de formação de precipitação frontal: Frente quente na parte


superior e frente fria na inferior. Fonte: https://www.infoescola.com/geografia/chuva-frontal/.

9.4. Fatores que Influenciam na Precipitação

Devido à existência de diversos fatores que influenciam na precipitação, o


conhecimento destas variações é de grande importância para o planejamento dos
recursos hídricos como no estudo de chuvas prováveis, projeto de irrigação; estudo de
chuvas intensas, secas, previsão de enchentes, dimensionamento de barragens de
contenção de cheias e regularização das vazões em épocas secas, controle de erosão do
solo, previsão de veranicos para escalonamento de plantio das culturas agrícolas, entre
outras.

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Do ponto de vista geográfico, a precipitação é maior na região equatorial e


decresce com o aumento da latitude em direção aos Pólos. Além do fator geográfico,
existem outros fatores que influenciam na distribuição da precipitação tais como:

✓ Latitude: influi na distribuição desigual das pressões e temperaturas no globo e


na circulação geral da atmosfera. Essa influência só pode ser percebida em
grandes áreas;

✓ Distância do mar ou de outras massas de água: à medida que as nuvens se


afastam do mar, em direção ao interior do continente, elas vão se consumindo de
forma que se pode esperar redução total de precipitação com o aumento da
distância da costa ou de alguma outra fonte de umidade;

✓ Orientação das encostas: sendo a precipitação influenciada por correntes


eólicas, o fato de uma encosta ou vertente estar mais ou menos exposta aos
ventos tem reflexos nas quantidades precipitadas;

✓ Vegetação: a evapotranspiração das áreas vegetadas tenderia a aumentar as


precipitações locais, porém este efeito ainda é discutível;

✓ Altitude: nos locais de maior altitude as precipitações são quase sempre


abundantes. Este fato deve-se ao resfriamento do ar com o aumento da altitude
que facilita a condensação do vapor d’água.

9.5. Medida da Chuva

Um índice de medida da chuva seria a altura pluviométrica, ou seja, é a altura


acumulada de água precipitada, expressa em milímetros (mm). Essa altura pluviométrica
(h) é definida como sendo o volume precipitado por unidade de área horizontal do
terreno, ou seja:

1 litro de água 1000 cm3


h= = = 0,1 cm = 1 mm de chuva
1 m 2 de terreno 10000 cm2

Outro índice de expressão da chuva é a sua intensidade (i), definida como a


altura pluviométrica por duração (unidade de tempo) da precipitação:

i = mm / hora

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Onde Duração (t) é definida como o intervalo de tempo decorrido entre o


instante em que se inicia a precipitação e seu término (min, h).
A intensidade pode ser expressa também em mm/min. Esse índice tem aplicação
em dimensionamento de sistemas de drenagem e conservação do solo, tanto para a
agricultura como para a construção civil.

9.6. Estimativa da Chuva

Séries climáticas de precipitação contínuas no tempo e mesmo no espaço são


difíceis de se obter, assim, uma alternativa para preencher falhas nas séries temporais de
chuva e também para interpolar1 espacialmente os dados de precipitação são métodos
matemáticos, como por exemplo, a média aritmética e o Polígono de Thiessen,
apresentados a seguir.

Média Aritmética: É determinada pela altura média da chuva sobre uma área,
que pode ser representada da seguinte forma:
P1 + P2 + P3 + ... + Pn
Pm = (9.1)
n
Polígono de Thiessen: Consiste em unir as estações por meio de linhas retas, e
em seguida, traçar as mediatrizes dessas retas de modo a obtermos polígono de
influência ao redor das estações.

P1A1 + P2 A 2 + P3A 3 + ... + Pn A n


Pm = (9.2)
At

em que,
P1, P2, P3 = precipitação em 1, 2 e 3;
A1, A2, A3 = área de influência do polígono que circunda cada estação;
At = área total.

1
Metodo que permite construir um novo conjunto de dados a partir de um conjunto discreto de dados
pontuais previamente conhecidos.
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9.7. Variabilidade Espacial da Precipitação

A variabilidade espacial das chuvas na escala diária gera também a variabilidade


espacial na escala mensal, que por sua vez geral tal variabilidade na escala anual.

A figura abaixo mostra o mapa da normal climatológica do INMET de chuva


para o período anual para o território brasileiro. Observa-se que os maiores índices
pluviométricos são observados na região Norte, enquanto que os menores valores
pluviométricos ocorrem climaticamente principalmente no Nordeste.

Figura 9.6. Variabilidade anual da precipitação no Brasil. Fonte: INMET.


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9.8. Instrumentos Medidores e Registradores de Chuva

Exprime-se a quantidade de chuva pela altura de água precipitada e acumulada


sobre uma superfície plana e impermeável. Ela é avaliada por meio de medidas
realizadas em pontos previamente escolhidos e baseados nas normas da Organização
Mundial de Meteorologia (OMM), utilizando-se aparelhos coletores de água precipitada
ou que registrem essas alturas no decorrer do tempo.
Dois aparelhos são comumente empregados nas observações de chuvas:
pluviômetro e pluviógrafo. O pluviômetro é mais utilizado devido à simplicidade de
sua instalação e operação, sendo facilmente encontrado em estações meteorológicas
convencionais e automáticas. As medidas realizadas nos pluviômetros são periódicas,
em geral, em intervalos de 24 horas feitas normalmente, no Brasil, às 09 horas da
manhã, contudo podem ser obtidas também em minutos ou horas principalmente em
estações automáticas.
A seguir descreveremos de forma ampla cada um destes instrumentos usados
para a obtenção da chuva.

9.8.1. Medidores

Para medir a chuva utilizam-se vários tipos de pluviômetros. No pluviômetro é


colhida à altura total de água precipitada em um intervalo de tempo conhecido,
normalmente 24 horas, ou seja, a lâmina acumulada durante a precipitação, sendo que
suas medidas são sempre fornecidas em milímetros por dia (mm/dia) ou em milímetros
por hora (mm/hora), com anotação da mesma dependendo do observador
meteorológico.

➢ Pluviômetro

a. Finalidade: Medir a quantidade de precipitação pluvial (chuva) em mm no


período de 24 h (um dia).
b. Constituição: Consiste de um coletor cilíndrico-cônico em formato de funil com
área de captação conhecida, que pode variar de 200 a 500 cm2, de um
reservatório que tem por finalidade armazenar a água coletada pelo funil durante
a precipitação e de uma proveta graduada.
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c. Funcionamento: Fundamenta-se em um coletor semelhante a um funil, com


medidas padronizadas, capaz de fazer escoar a água da chuva para um
reservatório. A base do coletor é formada por um funil com uma tela obturando
sua abertura maior. A finalidade do coletor é evitar a evaporação, através da
diminuição da superfície de exposição da água coletada; o objetivo da colocação
da tela é evitar a queda de folhas ou outros objetos dentro do reservatório, que
provocariam erros na leitura da altura de precipitação. A quantidade de chuva é
medida pelo escoamento da água feito através de uma torneira para uma proveta
graduada em mm (altura da precipitação) adquirida junto com o pluviômetro. A
unidade de medida é milímetro (mm) de chuva.
Caso não se tenha mais a proveta, pode-se usar uma proveta graduada em cm3
(volume). Assim, necessita-se fazer a transformação para mm utilizando-se a equação
abaixo:
V (cm 3 )
h(mm) =  10 (9.3)
S (cm 2 )
em que,
h = altura da precipitação (mm);
V = Volume (cm3);
S = Área (cm2).

d. Leitura: A leitura é feita diariamente em todas as observações (12GMT, 18GMT


e 24GMT).
e. Instalação: Este aparelho é instalado ao ar livre. A área de captação (coletor) fica
presa em um pilar a 1,5m do solo em nível, rigorosamente nivelado, e livre de
obstáculos.
Obs.: 1 mm de chuva equivale a 1 L/m2 de água .

O modelo de pluviômetro mais usado no Brasil é o tipo Ville de Paris (Figura


9.7). Ele tem um corpo bastante alongado e o coletor em forma de taça. É geralmente
feito em chapas de aço inoxidável ou galvanizado.

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Figura 9.7. Pluviômetro Ville de Paris. Fonte: Bíscaro (2007).

Para facilitar uma melhor visualização do pluviômetro e sua instalação,


apresenta-se um esquema mostrado na Figura 9.8 de como é feita a medição da chuva
contida no pluviômetro e as características de medição no aparelho (Figura 9.9).

Figura 9.8. Esquema da Instalação de um Pluviômetro na Estação Convencional. Fonte:


Musse (2013).

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Figura 9.9. Características de medição um pluviômetro. Fonte:


http://dc340.4shared.com/doc/ZepodSU4/preview.html.

Os pluviômetros automáticos podem ser de peso ou de balança, com sinal de


saída sendo do tipo elétrico, e a quantificação e a evolução da chuva podem ser
facilmente registradas. Contudo, o mais usado em uma estação meteorológica
automática é o de Báscula, apresentado a seguir.

• Pluviômetro de Báscula

Este pluviômetro é formado por uma base de metal, na qual está fixada a báscula.
O cone coletor de chuva, fixado no cilindro, normalmente de alumínio, direciona a água
para a báscula: uma vez que o nível pré-definido é atingido, a báscula calibrada gira sob
a ação de seu próprio peso, despejando a água.
Durante a fase de rotação, o interruptor de lingueta se abre por uma fração de
segundos, enviando um sinal ao contador. A precipitação pluvial medida é baseada na
contagem do número de baldes esvaziados: o contato magnético, normalmente fechado,
abre-se no momento da rotação da báscula entre uma seção e outra. O número de pulsos
é detectado e gravado por um sistema automático de aquisição de dados (datalogger) ou
por um contador de pulsos, conforme pode ser visto na Figura 9.10.
Em alguns modelos, um filtro removível destinado à limpeza e manutenção
periódica é inserido no cone coletor para evitar que folhas ou outros elementos
bloqueiem a sua saída.

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Figura 9.10. Modelo de Pluviômetro de Báscula automático. Fonte:¨Squitter.

9.8.2. Registradores

Para se registrar a chuva podem-se utilizar vários tipos de pluviógrafos. O


pluviógrafo é mais encontrado nas estações meteorológicas convencionais e registra a
intensidade de precipitação, ou seja, a variação da altura de chuva com o tempo. Este
aparelho registra em uma fita de papel em modelo apropriado, simultaneamente, a
quantidade e a duração da precipitação.
A sua operação mais complicada e dispendiosa e o próprio custo de aquisição do
aparelho, tornam seu uso restrito, embora seus resultados permitam determinar além do
total de chuva, sua duração e assim a intensidade de mesma, e o horário que ocorreu a
chuva.
Este equipamento consiste em um registrador automático que trabalha associado
a um mecanismo de relógio. Este mecanismo imprime rotação a um cilindro envolvido
em papel graduado, sobre o qual grafa a altura da precipitação registrada.

➢ Pluviógrafo

Finalidade: Registrar a quantidade, intensidade e frequência de chuva,


fornecendo informação gráfica e contínua de todas as variações da chuva.
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Constituição: É constituído por uma superfície coletora padrão de 200 cm2 (funil
coletor), montado em um cilindro. Dentro do cilindro existe um conduto, um
reservatório (cilindro menor), uma boia, o mecanismo de transmissão e o mecanismo de
registro.
Funcionamento: A água captada é conduzida para um recipiente cilíndrico
dotado de um sifão. À medida que a água se acumula, a bóia vai se elevando no interior
do cilindro e esse movimento é transmitido a uma pena que registra no diagrama
(pluviograma); quando a água do recipiente atinge seu ponto máximo, o sifão em
funcionamento esvazia o recipiente e provoca o retorno da pena ao ponto zero da escala
do pluviograma. O sifão entra em funcionamento a cada 10 mm de chuva, e é chamado
de sifonada. A unidade de medida é milímetro (mm) de chuva e/ou milímetro de chuva
por tempo (hora ou dia) (mm/hora ou mm/dia).
Leitura: Os dados de precipitação são obtidos no diagrama denominado de
pluviograma que normalmente é diário e é trocado antes da primeira observação (12h
GMT).
Tipos de linhas representadas no pluviograma:
▪ Linha reta horizontal: representa ausência de chuva;
▪ Linha reta vertical: representa uma sifonada;
▪ Linha inclinada: representa ocorrência de chuva.
Graus de intensidade da chuva:
▪ Nulo: 0,0 mm/h;
▪ Muito leve: 0,1 a 1,0 mm/h;
▪ Leve: 1,1 a 5,0 mm/h;
▪ Moderada: 5,1 a 25,0 mm/h;
▪ Forte: 25,1 a 50 mm/h;
▪ Muito Forte: mais de 50,1 mm/h.

Instalação: Este aparelho é instalado ao ar livre e a área de captação (coletor) se


localiza a 1,5m do solo em nível e livre de obstáculos.
Apesar de haver grande número de tipos de pluviógrafo, somente três tipos são
mais utilizados: Pluviógrafo de Sifão, de Peso, de Caçamba Basculante e mais recente o
de balança eletrônica, que serão mostrados a seguir.

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• Pluviógrafo de Sifão ou Cisterna Sifonada

Este tipo de Pluviógrafo é constituído de duas unidades: elemento receptor e


elemento registrador. O receptor é semelhante ao de um pluviômetro comum diferindo,
apenas, quanto à superfície receptora que é de 200 cm2, ou seja, a metade da área do
pluviômetro. O elemento registrador consta de um cilindro oco, dentro do qual fica
instalado um equipamento de relojoaria que faz girar um tambor situado sob o fundo do
cilindro.
Este cilindro gira uma volta completa em 24 horas contendo à mudança diária do
papel com os registros de precipitações ocorridos, assim como o arquivamento contínuo
para possíveis consultas futuras dos dados registrados. O modelo mais empregado no
Brasil é o de Hellmann-Fuess (Figura 9.11).

Figura 9.11. Exemplo de Pluviógrafo de Sifão. Fonte:


http://estacaometeorologicafctunesp.blogspot.com/2011/06/pluviografo.html.

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Neste tipo de pluviógrafo, durante uma precipitação sobre o receptor a água


escorre por um funil metálico (2) até o cilindro de acumulação (3). Neste cilindro
encontra-se instalado um flutuador (4) ligado por uma haste vertical (6) a um suporte
horizontal (9), que por sua vez possui em sua extremidade uma pena (8) que imprime
sobre o papel do cilindro de gravação (5) a altura acumulada de água no cilindro de
acumulação (3). Deste último, também parte um sifão (11) que servirá para esgotamento
da água quando esta atingir uma altura máxima, despejando o volume sifonado em um
vasilhame (10) situado na parte inferior da instalação, conforme mostra a Figura 9.12.

Figura 9.12. Esquemas mostrando o funcionamento (superior) e instalação (inferior),


respectivamente, do Pluviógrafo de Helmann-Fuess. Fonte: Musse (2013).

Essa altura máxima é função da capacidade de registro vertical no papel, ou seja,


quando a pena atinge a margem limite do papel, imediatamente ocorre o esgotamento,
possibilitando que a pena volte a margem inicial continuando o registro acumulado.

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• Pluviógrafo de Peso

Os pluviógrafos de peso possuem um recipiente capaz de conter certa quantidade


de água correspondente a 10 ou 20 mm de chuva, levando em conta a área do coletor. O
recipiente é dotado também de um sifão que esgota a água toda vez que a cisterna é
preenchida. Esse recipiente é montado na extremidade do braço de uma balança de peso
móvel de modo que, ao aumentar a quantidade de água no seu interior, o braço baixa e
faz com que, através de um sistema de alavancas a agulha sobe sobre a escala. Esta
escala encontra-se sobre um cilindro movido por um mecanismo de relojoaria como
descrito anteriormente (Figura 9.13).
Ou seja, neste modelo, o receptor repousa sobre uma escala de pesagem que
aciona a pena e esta traça um gráfico de precipitação sob a forma de um diagrama
(altura de precipitação acumulada x tempo).
Uma vantagem desse modelo é que, ao evaporar-se a água residual no fundo do
reservatório, após a chuva, é possível verificar sobre a escala o valor da perda, e assim
ter uma referência correta de onde passar a contar a chuva seguinte. Dessa forma ele é
mais preciso do que o correspondente de sifão e de caçamba basculante.

Figura 9.13. Esquema mostrando o funcionamento e instalação (à esquerda) e foto (à


direita) do Pluviógrafo de Peso. Fonte: Musse (2013)/Vieira & Piculli (2009).

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• Pluviógrafo de Caçamba Basculante

Esse aparelho consiste em uma caçamba dividida em dois compartimentos,


arranjados de tal maneira que, quando um deles se enche, a caçamba báscula, esvazia-o
e coloca o outro em posição. A caçamba é conectada eletricamente a um registrador, de
modo que, quando cai 0,25 mm de chuva, na boca do coletor, um dos compartimentos
da caçamba se enche, e cada variação corresponde ao registro de 0,25 mm de chuva
(Figura 9.14). Embora obsoletos esses instrumentos ainda são utilizados de maneira
rotineira. Com o advento dos registradores eletrônicos, só restou do antigo pluviógrafo
o par de caçambas com a chave cujo impulso é agora registrado em meio digital,
exibindo os dados referentes à data e hora em que ocorrem. Esse tipo de pluviógrafo é o
mais comum hoje em dia, existindo desde instrumentos de baixo preço feitos em
plástico até instrumentos de alta qualidade com carcaça aquecida para medição de
precipitação de neve ou gelo.
Uma desvantagem destes instrumentos é a possível perda de uma parte da leitura
de chuva, se a água acumulada na caçamba, não chega a provocar o basculamento. Se
não evaporar durante o período seco subsequente provocará um erro no outro sentido,
na medida da próxima chuva.
Normalmente, esses instrumentos têm resolução de 0,1 ou 0,2 mm de chuva.
Todos eles têm alguma forma de estender a escala além dos 10 ou 20 mm de chuva que
constituem a escala básica. Em alguns deles a agulha, uma vez atingida à extremidade
superior, retorna em um movimento invertido. Em outros, cada vez que a agulha chega
à posição superior, cai voltando para a posição inicial.

Figura 9.14. Exemplo de Pluviógrafo de Caçamba Basculante. Fonte:


http://asignatura.us.es/pfitotecnia/textosC/imagenes/Fig28.jpg.
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• Pluviógrafo de Balança Eletrônica

A versão moderna do pluviógrafo de cisterna sifonada é o pluviógrafo de


balança eletrônica. Este é o melhor de todos os pluviógrafos, porque o recipiente
colocado sobre a balança eletrônica pode ser de grande porte devido à alta resolução da
referida balança. Assim sendo o coletor, em vez de terminar em um funil (que despeja a
água da cisterna de pequeno porte do pluviógrafo mecânico), passa a ser apenas um
delimitador da área de captação. A chuva cai diretamente no interior do reservatório que
está sobre a balança (Figura 9.15).
Através de filtragem por software, eliminam-se as perturbações causadas pelo
impacto das gotas e pode-se medir com alta resolução a quantidade precipitada. Quando
o reservatório enche, ele pode ser esgotado pelo controlador eletrônico do instrumento
usando bombeamento ou válvulas atuadas eletricamente.

Figura 9.15. Esquemas mostrando o funcionamento do Pluviógrafo de Balança. Fonte:


Varejão-Silva (2006).

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Referências do Capítulo

LUTGENS, F.K; TARBUCK, E. J., 1992. The Atmosphere: An Introduction to


Meteorology. Englewood Cliffs, N.J./EUA, Prentice-HalL, 5th ed., 430 p.

BÍSCARO, G.A., 2007. Meteorologia Agrícola Básica. 1ª Edição, UNIGRAF, 87p.

MUSSE, C.L.B. Capítulo 02: Precipitações. Disponível em


http://professor.ucg.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/13239/material/capitul
o%2002%20-%20precipita%C3%A7%C3%B5es.ppt. Acesso em 05 de agosto de
2013.

SENTELHAS, P.C.; ANGELOCCI, L.R, 2009. Umidade do ar – Chuva – Vento. Slides


de Aula da Disciplina LCE 306 – Meteorologia Agrícola, ESALQ/USP.

VAREJÃO-SILVA, M.A., 2006. Meteorologia e Climatologia. Versão Digital. Acesso:


www.asasdaamazonia.com.br/.../Meteorologia_Climatologia.pdf. 552p.

VIANELLO, R L.; ALVES, A. R., 1992. Meteorologia Básica e Aplicações. Viçosa:


UFV – Imprensa Universitária, 449p.

VIEIRA, L.; PICULLI, F.J., 2009. Meteorologia e Climatologia Agrícola. Notas de


Aula, Cidade Gaúcha/PR, UEM, 133p.

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Exercícios Resolvidos

Teóricos

1) Quais são os elementos necessários para a formação da precipitação?


Resposta: Condensação do ar, mecanismo de resfriamento do ar, presença de núcleos
de condensação e mecanismo de crescimentos de gotas de água (colisão e coalescência).

2) Quantos e quais são os tipos de precipitação?


Resposta: São 3: Convectivas, Orográficas e Frontais.

3) Quais são as condições que interferem na precipitação?


Resposta: Condições atmosféricas (temperatura e umidade do ar, pressão e vento) e
condições da superfície (relevo).

4) Quais são as grandezas características das medições de precipitação?


Resposta: Altura pluviométrica, intensidade de precipitação e duração.

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Práticos

5) Coletou-se 675 cm3 de água em um pluviômetro cuja área de


captação é de 225 cm2. Quanto precipitou em mm?

V = 675 cm3
S = 225 cm2
V 675cm 3
h= → h= → h = 3cm → h = 30mm
S 225cm 2

6) Um Pluviógrafo coletou certo dia 12 mm de precipitação. Há no local


uma cultura que ocupa uma área de 2 hectare, cujas necessidades
hídricas diárias são de 300.000 litros de água. Deseja-se saber se a
precipitação ocorrida satisfaz ou não a estas necessidades. Em caso
negativo quantos litros de água deverão ser irrigados por m2? R.: Não
satisfaz. 3L/m2.

h = 12 mm; Área da cultura (S) = 2 ha = 20.000 m2;


Volume necessário = 30.000 litros = 30 m3 (1m3 = 1000 litros)
1 mm = 1L/m2
V 300000 L
h= → h= → h = 15mm . Não satisfaz porque choveu apenas 12 mm e
S 20000 m 2
exigência é de 15 mm.

X = 15 mm – 12 mm = 3 mm = 3 L/m2

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Exercícios Propostos

1) Defina chuvas convectivas, orográficas e frontais.

2) Por que as medições de chuva são necessárias?

3) Por que os pluviógrafos são essencialmente instalados nas estações


meteorológicas?

4) Explicar o funcionamento de um pluviômetro e de um pluviógrafo.

5) Por que os equipamentos de medição de chuva devem manter certa


distância dos obstáculos horizontais e verticais?

6) O que é intensidade de chuva? Como se determina?

7) Coletou-se 675 cm3 de água em um pluviômetro cuja área de captação é


de 225 cm2. Quanto precipitou em mm? R.: 30 mm.

8) Certa cultura necessita diariamente de 80.000 litros de água por hectare.


Em certo dia, um pluviômetro coletou 5 mm neste local. Deseja-se saber:
a) Esta precipitação satisfaz ou não as necessidades hídricas da cultura?
Em caso negativo, quanto litros deverão ser irrigados por m2? b) Quantos
cm3 de água foram coletados por este pluviômetro, durante esse dia,
sabendo-se que a área da boca coletora é de 200 cm2? R.: a) Não
satisfaz. 3L/m2; b) 100 cm3.

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