senhor, o reino encontrava-se num período de paz, atendendo ao pedido do rei, reunimo-nos no bosque logo pelo nascer do sol para caçar a carne para as refeições do dia. Depois de estarmos satisfeitos com os javalis que tínhamos caçado dirigimo-nos para o castelo para nos arranjarmos para a missa. Eu sendo conselheiro do rei fui chamado a atendê-lo, aconselhando-o se deveria colocar em vigor uma lei de impostos sobre as bancas da feira que iam tomando forma no largo da catedral, apesar da nossa opinião, acabou por tomar a decisão sozinho.
De seguida vesti as melhores roupas e sapatos que tinha,
para fazer boa figura naquela que é a missa mais importante do ano, e juntamente com o rei e os seus acompanhantes parti para a catedral. Esta era facilmente avistada devido à sua altura e imponência, que era reforçada por elementos arquitetónicos como as colunas reforçadas com pináculos, as rosáceas com vitrais e todo o trabalho de estatuária e decorativo.
Depois de prestar homenagem a nosso senhor Jesus
Cristo voltamos para o castelo onde já se encontrava um banquete à nossa espera, estendido por uma grande mesa, num salão ainda maior. Numa mesa comprida havia um manjar sem fim que incluía não só o javali que caçámos de manhã, mas também peixe fresco, marisco empilhado em torres rodeados de fruta e legumes frescos, havia ainda bolos adoçados com mel e muito vinho e cerveja para empurrar toda a comida, mas a estrela do banquete com um lugar especial no centro da mesa era um majestoso pavão.
Após o banquete ainda estava à nossa frente uma tarde
de entretenimentos.
Para celebrar esta data tão especial, assistimos a um
teatro sobre a vida, morte e ressurreição de Cristo.
Após um momento de reflexão entraram no salão os
trovadores e jograis prontos para entreter a corte com as suas cantigas de tom jocoso uma delas foi “Roi Queimado morreu com amor” e “O Romance da Rosa”. Além disso, ainda assistimos a um “espetáculo” feito por bobos e momos que nos fez rir até cair da cadeira.
Foram ainda contadas as Novelas arturianas apreciadas
por todos, que ajudavam a ensinar aos mais novos o ideal de cavalaria e os grandes feitos realizados pelo cavaleiro perfeito incentivando-os a seguir o mesmo caminho.
Com esta animação toda, juntamente com muito vinho
acabou por haver um desentendimento entre dois fidalgos por causa de uma mulher. Foi com grande infortúnio, quando ela foi apanhada pelo marido enquanto estava com o amante e quando demos por nós, já estávamos nos jardins do castelo a assistir a um duelo, acabaram por ficar só ligeiramente feridos, mas rapidamente voltámos.
Já caia a noite e ao serão os ânimos continuavam
animados seguindo-se o momento preferido de toda a corte que permite até a quem não está de bom humor se levantar da cadeira e se divertir ao som da música, dando oportunidade aos mais talentosos de mostrar os seus dotes no que consta à dança. Já eu, que não sou uma pessoa dotada com esse talento, limitei-me a juntar-me àqueles que aproveitavam esse tempo para jogar às cartas e também xadrez mostrando assim a nossa inteligência. As mulheres dançavam impressionando-nos com a sua beleza e graciosidade.
Para acabar a noite reunimos os mais novos em volta do
fogo para recordar a vida e os grandes feitos dos seus antepassados e manter a sua imagem presente nas suas mentes, para que se mentalizassem do legado que tinham de continuar.