Você está na página 1de 2

Desespero que paralisa

1Reis 19.1-18

Em uma depressão ou profunda tristeza, nos vemos constantemente afogados pela melancolia de
nossos pensamentos e emoções. E com profetas também não é diferente, questionamos muitas das
vezes “Porque isso acontece comigo?; Porque eu? E não outro?”

Com Elias não foi diferente, em um capítulo vemos um homem de fé inabalável, plena convicção e
confiança no Senhor e um profeta ousado que cumpre a vontade do Pai. E neste, entretanto, vemos
um homem com medo de perder a própria vida. Como assim? Não fora Elias quem confrontara a
Acabe duas vezes, arriscando sua própria vida ao fazê-lo? Quem humilhou mais de centenas dos
profetas pagãos de Baal e depois matou cada um a fio de espada? Onde está este profeta no
capítulo 19 de 1 Reis?
Elias com medo diante a ameaça de Jezabel, mulher de Acabe, foge para Berseba em Judá. E logo
mais se dirige ao deserto e pede para si mesmo a morte.

Às vezes pode ser mais fácil desistir e jogar tudo para o alto e até mesmo a morte parece ser uma
saída dessa situação, o problema é que nesse momento não estamos sendo guiados por aquilo que
deveria realmente nos guiar, que é a Palavra e sim guiados pelas nossas emoções. Emoções e
sentimentos que muitas das vezes nos afastam de Deus e nos cegam o discernimento. E podemos
até mesmo pensar, de maneira errônea, que Deus não se importa com nossas emoções ou conosco
mesmo. Mas o texto revela que não é bem assim, nos versos seguintes podemos ver que o Senhor
continua cuidando dos seus. Ao ser tocado pelo anjo que o impele para que coma e beba, Elias não
se surpreende nem fica extasiado, mas simplesmente come, bebe e dorme. Muitas vezes é isso que
desejamos, quando estamos desolados e extremamente deprimidos queremos ficar sozinhos em um
quarto escuro e dormir eternamente… o que não nos faz parecer muito “crente”, não é mesmo?
No entanto, pela graça divina, não são nossos sentimentos e emoções que nos definem como
“crentes” de fato. Em Romanos 12 é dito para apresentarmos a Deus o nosso culto racional. É
independente de nossas emoções. O plano e a vontade de Deus irá seguir seu rumo apesar de nós.
Porém isso não demonstra que Deus não se importa conosco, muito pelo contrário. Mostra que
temos um Deus pessoal que na busca de se aproximar de nós, não nos permite que nos afastemos
dele com tanta facilidade.
Continuando no texto, no verso 7, o anjo pela segunda vez toca e acorda Elias, porém dessa vez
uma nova informação aparece: “…porque o caminho te será sobremodo longo.” Isso mostra que
Deus requer um dever de nós e que o próprio Deus nos sustenta e não nos abandona e nos impele
para que, apesar de nós, sigamos a sua vontade.

Após a longa caminhada pelo deserto Elias chega ao Monte Horebe, o monte de Deus. Porém ao
invés de se prostrar diante de Deus, Elias se esconde em uma caverna, o seu “quarto escuro”. E ao
ser indagado pelo próprio Deus do porque que estava ali, busca se justificar em sua própria razão ao
afirmar que era extremamente zeloso e que ficou só pois toda Israel abandonou a Deus e mataram
seus profetas e que sua vida também estava em risco. Deus o chama para sair da caverna e se pôr
diante de Deus no monte. Ao sair se depara com ventos, terremotos e fogo porém em nenhum
destes estava o Senhor, mas quando sentiu um sussurro tranquilo e suave, cobriu o rosto e sai para
a entrada da caverna. Muitas das vezes não desejamos nem mesmo ouvir a voz do Senhor e
queremos fugir de sua presença.
E Deus novamente pergunta a Elias o que fazia naquele lugar e Elias responde exatamente da
mesma forma, ainda tentando se justificar com suas desculpas baseadas em sua própria razão.
Porém Deus o “ignora” e o envia em sua missão.

Podemos perceber que Elias vinha tentando sufocar a verdade de Deus através de seus sentimentos
e emoções. Quando que o que o apóstolo Paulo nos diz não é para que apresentemos um culto que
nos faça sentir algo, sentirmos bem, ou acharmos que estamos certos sobre determinadas coisas.
Mas baseamo-nos na verdade inerrante da Palavra de Deus e apresentamos dessa forma a
verdadeira razão de nossa fé, o nosso verdadeiro culto. Pois a obra do Senhor será sustentada por
meio dela e não por meio de nossos sentimentos e razões, eles não são os fatores determinantes
que nos definem como salvos ou não-salvos, crentes ou incrédulos. Mas reconhecer a verdade do
Evangelho e se manter obediente mesmo que não sintamos nada, como já disse o Rev. Augustus
Nicodemus em uma de suas pregações. Esse é um de nossos maiores desafios, mas graças ao
Deus divino que nos concede a perseverança dos Santos, discorrida no Capítulo XVII de nossa
CFW, podemos ficar tranquilos e afirmar com a racionalidade e sabedoria das escrituras a verdade
de Deus. No capítulo da CFW em questão diz que não cairemos deste estado de graça, nem total,
nem finalmente, mas que perseveremos até o fim e perseverança essa que não depende de nós, de
nossos sentimentos e emoções, mas sim da soberania divina e de seus decretos pelo seu imutável
amor por nós, da eficácia do mérito e intercessão de Cristo e da permanência do Espírito e da
semente de Deus neles, pelo pacto da graça. São de todas essas coisas que vem sua certeza e
infalibilidade. Entretanto é possível que por meio de nossa própria natureza, artimanhas de Satanás e
pela negligência dos meios de graça “cairmos” momentaneamente deste estado e atrair para nós
mesmos juízos temporais e sermos privados das benesses da graça e seus confortos. Entretanto
tudo isso nos atesta para um Deus zeloso e pessoal que cuida de nós, apesar de nós. Para que tudo
ocorra conforme a vontade decretiva divina e seu nome seja glorificado e honrado para todo o
sempre por intermédio dele próprio, para ele próprio, por ele próprio mesmo que através de nós e de
toda sua criação.

Ainda mais ao final podemos ver que Elias cego pela sua própria razão e seus sentimentos, nem
pensava que o próprio Deus preservaria aqueles que são ditos no verso 18. Elias acreditava de certa
maneira arrogante que estava só e que TODA Israel havia abandonado ao Senhor, porém o próprio
Deus lhe abre os olhos e mostra quem realmente que sustenta sua obra. E é este o próprio Deus,
que cuida de nós como seus filhos. Elias paralisado pelo seu próprio desespero não deixou de ser
um crente, filho de Deus, antes o próprio Deus o sustentou assim como sustenta sua obra pela sua
própria providência. Este desespero nos cega para as verdades bíblicas e guiados muitas das vezes
pelos nossos sentimentos somos levados a querer nos afastar de Deus e de todos ao nosso redor e
em nossa isolação buscar até mesmo a morte… estes extremos são comuns em todos nós, outra
hora estamos repletos de alegrias e sorrisos e quando percebemos estamos nos questionando se
somos salvos ou o porquê de nosso sofrimento ou, até mesmo, simplesmente nos entristecemos e
buscamos aquilo que o desespero tem a oferecer, mesmo que muitas vezes não percebamos.
Devemos buscar cada vez mais apresentar a Deus nossa certeza da fé e salvação não baseando-se
em nós mesmos, naquilo que sentimos ou em nossas razões caídas, mas nas verdades bíblicas
expostas pela inspiração de Deus por intermédio de homens que são falhos como nós. Busquemos
apresentar a Deus o nosso culto que é racional, tendo a plena certeza e conhecimento daquilo em
que confiamos, isto é, a verdade de Deus.

Você também pode gostar