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AULA 3

CERTIFICAÇÕES AMBIENTAIS
E ANÁLISE DE DESEMPENHO
ENERGÉTICO

Prof. Bruno Garcia


CONVERSA INICIAL

Esta aula trata das características, peculiaridades e objetivos de cada


certificação sustentável, iniciando com o método Passiv Haus, essencial para o
entendimento de práticas eficientes na construção e base fundamental para as
outras certificações. Na sequência, aborda o Leadership in Energy and
Environmental Design, o selo Leed, atualmente o mais conhecido e com mais
unidades certificadas no mundo. No Brasil, uma ramificação do selo norte-
americano, o GBC Brasil, conta com o mesmo método de certificar, porém com
algumas especificidades locais. Logo após, discorre sobre o selo inovador,
“saudável” e orientado estritamente para os usuários da edificação, o Well. Por
fim, trata do selo Casa Azul, certificação fortemente atuante no Brasil.

TEMA 1 – MÉTODO PASSIV HAUS

Passiv Haus (em alemão), Passive House (em inglês) ou Casa Passiva
consiste em um conjunto de práticas desenvolvidas pelo Instituto Passive House
(PHI), localizado em Darmstadt, na Alemanha, que buscam aperfeiçoar a
utilização de energia para a construção de moradias. Tem suas origens na década
de 1970, porém somente em 1990 foi inaugurada a primeira construção de um
prédio eficiente utilizando esse protocolo.
É a noção exata de como projetar conscientemente um edifício ou casa
buscando máxima eficiência energética. Funciona por meio de um método que
promove a otimização do uso de energia em uma edificação, conforme revela a
Figura 1, a seguir.

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Figura 1 – Diagrama do método Passive House

Crédito: Lermot/Shutterstock.

A seguir estão os pré-requisitos que o Passive House Institute determina


em seu método.

• Isolamento térmico: todos os componentes opacos do edifício da


envolvente exterior da casa devem ser muito bem isolados. Para a maioria
dos climas temperados frios, isso significa um coeficiente de transferência
de calor (valor U) de 0,15 W/m²K no máximo, ou seja, perde-se um máximo
de 0,15 watts por grau de diferença de temperatura e por metro quadrado
de superfície exterior.
• Janelas passivas da casa: os caixilhos das janelas devem estar bem
isolados e equipados com vidraças low-e (baixa emissão) preenchidas com
argônio ou crípton para evitar a transferência de calor. Para a maioria dos
climas frios e temperados, isso significa um valor U de 0,80 W/m²K ou
menos, com valores g em torno de 50% (valor g = transmissão solar total,
proporção da energia solar disponível para a sala).

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• Recuperação do calor da ventilação: a ventilação eficiente com
recuperação de calor é fundamental, permitindo uma boa qualidade do ar
interior e economia de energia. Na Casa Passiva, pelo menos 75% do calor
do ar de exaustão é transferido novamente para o ar fresco por meio de um
permutador de calor.
• Estanqueidade ao ar do edifício: as fugas não controladas por meio de
aberturas devem ser inferiores a 0,6 do volume total da instalação por hora
durante um ensaio de pressão a 50 Pascal (pressurizado e
despressurizado).
• Ausência de pontes térmicas: todas as arestas, cantos, ligações e
penetrações devem ser planeadas e executadas com muito cuidado, para
que as pontes térmicas possam ser evitadas. As pontes térmicas que não
podem ser evitadas devem ser minimizadas o máximo possível.

Atualmente, essa metodologia é aplicada em todo o mundo por arquitetos,


empresas contratantes e outros profissionais envolvidos no desenvolvimento e na
execução da obra. É reconhecida por ser uma construção com procedimentos
rigorosos a respeito de normas de conforto para isolamento térmico e uso de
energia eficiente.
Conforme Ken Levenson, arquiteto consultor certificado Passive House
entrevistado no ano de 2016 pela revista eletrônica Curbed:

“A casa passiva é como construir uma garrafa térmica, mas uma garrafa
com uma boa ventilação”. Onde segue, “[...] Quando você quer que um
espaço mantenha sua temperatura naturalmente – seja ele tão pequeno
quanto uma garrafa térmica ou tão grande quanto uma casa – você
estará seguindo muitas das mesmas regras. As casas passivas precisam
ser herméticas, ter isolamento contínuo, janelas com painéis triplos e um
excelente sistema para controlar a qualidade do ar. O design da casa
também precisa eliminar um fenômeno chamado ponte térmica, que
ocorre quando a temperatura de um material se transfere para outro
através do toque físico, como num usuário que sente frio no inverno pelo
motivo da viga de aço que suporta o pavimento está encostada no tijolo
gelado da fachada. Ao vedar termicamente o interior de um espaço, as
temperaturas internas de uma casa são mais estáveis por consequência.
A implementação de técnicas de casas passivas é suficiente para tornar
uma casa 90% mais eficiente do que uma casa usual (Eldredge, 2016)

No aspecto econômico, as casas passivas consomem menos energia que


o usual, consequência do reaproveitamento de calor no ambiente interno. Desse
modo, o uso de energia para condicionamento de ar diminui. Em relação ao
conforto, um ambiente com uma temperatura constante evita doenças
respiratórias e possibilita que o usuário da casa possa usufruir de todos os

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cômodos sem que haja diferença de temperatura ou tenha que mudar a
vestimenta. Outro fator importante é o controle de pressão interna que as casas
passivas possuem, possibilitando o impedimento de fumaça ou qualquer tipo de
poluidor da parte externa para a parte interna da casa.
As casas são construídas conforme qualquer outra, conforme Levenson.
“Noventa e nove por cento de uma casa passiva é construído com os mesmos
materiais, metodologias, trabalhadores e horários que uma casa não passiva”.
No entanto, há etapas específicas que devem ser respeitadas, como na
fase de projeto, quando se deve adotar o sistema de projeto integrado,
proporcionando que todos os participantes possam trabalhar em conjunto na
aplicação da metodologia e seus benefícios e evitar que o método Passiv Haus
seja apenas um conceito. Por exemplo, o condicionamento térmico interno por
meio de um trocador de ar só será eficiente se houver a utilização dos materiais
de isolamento térmico corretos para o fechamento adequado das janelas.
Além do mais, não há padrão estético para uma casa passiva. Ela pode ser
moderna, contemporânea, brutalista ou se adequar a qualquer outro estilo desde
que seja adaptável ao ser humano e ao seu conforto no ambiente interno.
Em relação ao custo de implantação desse método, ao se comparar com
empreendimentos certificados Leed no nível prata, que custam cerca de 2%
adicionados ao valor total da obra, um projeto Passiv Haus custa cerca de 5% a
10 % do valor total da obra, conforme Levenson. No entanto, as tecnologias e
pesquisas com materiais alternativos vão se aprimorando, e o preço da
construção tende a se tornar cada vez mais acessível.

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TEMA 2 – CERTIFICAÇÃO LEADERSHIP IN ENERGY AND ENVIRONMENTAL
DESIGN (LEED)

Figura 2 – Certificação Leed, nível gold

Crédito: Holly Guerrio/Shutterstock.

O Liderança em Energia e Design Ambiental (Leed, do inglês Leadership


In Energy and Environmental Design), é a principal certificação sustentável em
escala global, abrangendo cerca de 170 países e mais de 170 mil metros
quadrados certificados diariamente. Foi criado pela United States Green Building
Council (USGBC) para desenvolver projetos eficientes desde a fase de início de
projeto, em que será analisado qual caminho o projeto seguirá e qual nível quer
atingir dentro da certificação, a fase de desenho, na qual introduz para as equipes
formas mais eficientes e sustentáveis dentro do ambiente da construção, até a
final a fase de ocupação, em que expõe o feedback dos usuários referentes às
questões de conforto e a comprovação dos acessórios utilizados quanto ao seu
funcionamento e eficácia.
Os edifícios Leed procuram:

• contribuir com a diminuição do aquecimento global;


• garantir a saúde e o bem-estar dos seres humanos;
• proteger e restaurar os recursos d’água;
• proteger, garantir e restaurar a biodiversidade e ecossistemas;
• promover a sustentabilidade e o ciclo regenerativos de recursos materiais;
• criar uma economia verde; e
• garantir a equidade social, justiça ambiental e a qualidade de vida.

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Esse selo destina-se para qualquer tipo de projeto e pode ser aplicado em
qualquer fase da construção.
Para ter um edifício certificado, é necessário cumprir algumas condições
em diferentes categorias, contendo em cada uma delas pré-requisitos que são
práticas obrigatórias e créditos que são pontos facultativos os quais podem ser
atendidos caso a intenção seja alcançar uma pontuação maior.

• Localização e transporte (Location and transportation): essa categoria


destaca pontos para a certificação caso os projetos de edifícios ou casas
que estejam localizados em bairros certificados (Leed NC, Neighborhood),
tenham acesso em um raio de 400 metros a diversos usos públicos como
praça, hospital, farmácia, mercado e banco. O Leed, nessa categoria,
também incentiva que os empreendimentos tenham local reservado para
veículos elétricos e híbridos, estacionamento para bicicletas no interior do
edifício juntamente com banheiro acessível para banho. Há pontos de
excelência para a adoção de conectores elétricos para carregamento
(abastecimento) de veículos elétricos.
• Terrenos sustentáveis (Sustainable sites): nessa etapa, a certificação
revela preocupações com a qualidade do terreno, diagnosticando a
aparição de resíduos contaminantes e orientando para o seu bom uso.
Além do mais, incentiva o uso do telhado verde como também superfícies
com alta refletância, consertando o aquecimento por meio das ilhas de calor
e premia práticas como armazenamento e reaproveitamento da água da
chuva. Incentiva ainda a conexão entre espaços abertos e fechados, de
modo que o indivíduo obtenha fácil acesso a ambientes abertos e “verdes”.
• Energia e atmosfera (Energy and atmosphere): essa categoria visa garantir
o desempenho da energia do empreendimento, encorajando a aquisição
de equipamentos e utensílios que possibilitem a informação e o controle de
energia, visando aperfeiçoar os custos. Além disso, premia com créditos a
adoção de fontes alternativas de energia como a solar e eólica.
• Eficiência da água (Water efficiency): a água, nessa categoria, seja potável,
pluvial, cinza ou negra, é planejada para o reaproveitamento máximo, seja
para reuso ou irrigação de jardins. O objetivo dessa etapa é o uso
consciente da água, possibilitando ao empreendimento escolhas de
equipamentos ou utensílios que economizam no seu uso.

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• Recursos materiais (Material resources): a prioridade dessa categoria é o
manejo correto dos materiais da obra e do edifício, por exemplo, um
canteiro de obra organizado que diferencie os tipos de materiais, desde
madeiras, pedras, metais, gessos, tinta, selantes, químicos etc. Além disso,
para atingir alguns créditos é necessário que o empreendedor mapeie as
rotas e trajetos de entrada e saída de material a fim de realizar o descarte
correto dos resíduos.
• Qualidade interna do ambiente (Indoor environment quality): na categoria
de qualidade interna do ambiente, estão priorizados a saúde e o bem-estar
dos ocupantes, pois há créditos que incentivam o uso de materiais com
baixa emissão e descartam os produtos químicos danosos à saúde humana
como os compostos orgânicos voláteis, contidos em materiais plastificados,
tintas, selantes etc. Além do mais, existem créditos sobre o tratamento do
ar interno, no qual regulamentam usos de exaustores e condicionadores de
ar eficientes e benéficos, conforto térmico e acústico do ocupante,
iluminação interna adequada para o serviço ou relaxamento, o acesso à luz
do dia baseando no ciclo circadiano e priorizando a qualidade das vistas
exteriores, seja pela criação de átrios ou vidros que possibilitem uma
imagem clara.
• Inovação (innovation): os créditos de inovação são pontuações extras para
premiar ideias e práticas que não estão listadas nas categorias do Leed,
isto é, esses créditos visam à educação do entorno do empreendimento,
marketing sustentável, criação de novos materiais ou qualquer outra prática
que agregue o tema da educação sustentável. A seguir estão alguns
exemplos:
− “Escola como ferramenta de ensino” (School as a Teaching Tool), que
visa fornecer ao quadro de funcionários da escola o conhecimento para
identificar o que apoia ou impede espaços de aprendizagem saudáveis,
eficientes e ambientalmente sustentáveis, como também transmitir esse
conhecimento aos seus alunos. Além disso, visa educar os alunos sobre
as conexões entre o ambiente construído e natural;
− “Edifício verde educacional” (Green Building Education), aproveitando o
valor educacional das características de construção verde, como
sinalizar e destacar os equipamentos que ajudam na economia de
energia ou água, desenvolver um manual ou diretriz para informar aos

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ocupantes os sucessos do projeto e fazer uma divulgação educacional
ou visita guiada focando na sustentabilidade.
• Processo integrado (Integrative process): é desenvolvido por uma equipe
multidisciplinar de profissionais desde a concepção da ideia do projeto até
a fase final da construção a fim de garantir que o andamento do processo
de projeto ocorra sem falhas, retrabalhos ou custos adicionais.
• Prioridade regional (Regional priority): os créditos dessa categoria são
pontuações extras que são alcançadas com base em critérios regionais
(admitidos pelo USGBC), ou seja, em diferentes regiões do Brasil existem
especificidades e demandas locais que podem ser mais bem exploradas
para a obtenção de pontos extras. Essas especificidades regionais são
descritas e possuem livre acesso à consulta na plataforma do USGBC.

No estado do Paraná, por exemplo, há:

• “Produção de energia renovável” (Renewable Energy Production),


propondo utilizar energias renováveis para compensar os custos de energia
dos edifícios, podendo atingir até três pontos extras;
• “Estratégias de garantia do ar interno” (Enhanced Indoor Air Quality
Strategies), com a instalação de grelhas ou tapetes nas entradas para
impedir que resíduos ou sujeiras entrem no ambiente, prevenindo possível
contaminação de modo que circule o ar limpo e garantindo o fechamento
automático de portas e divisórias, filtragem do ar para impedir a entrada de
partículas ou gases e uso da ventilação natural – esse crédito pode atingir
até dois pontos extras;
• “Luz do dia” (Daylight), incentivando a conexão dos ocupantes do edifício
com o ar livre, reforçando os ritmos circadianos e reduzindo o uso de
iluminação elétrica, ou seja, introduzindo a luz do dia no espaço, o que pode
atingir até três pontos extras;
• “Proteção e restauração do hábitat” (Protect or Restore Habitat), agindo
para conservar as áreas naturais existentes e restaurar as áreas
danificadas a fim de promover a biodiversidade, crédito que pode atingir até
dois pontos extras;
• “Manutenção da água da chuva” (Rainwater Management), reduzindo o
volume de escoamento superficial da água e melhorando a qualidade da

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água por meio da replicação da hidrologia natural e do balanço hídrico do
local, podendo atingir até três pontos extras;
• “Otimização e divulgação dos produtos do edifício” (Building Product
Disclosure and Optimization, Material Ingredientes), incentivando a
utilização de produtos e materiais que contenham informações sobre o ciclo
de vida, como também visa recompensar as equipes de projeto pela
seleção de produtos corretos a fim de minimizar o uso e a geração de
substâncias nocivas e recompensar os fabricantes de matérias-primas que
produzem produtos cujos impactos no ciclo de vida são conscientes, o que
pode atingir até dois pontos extras.

O grau de certificação é avaliado por pontos, sendo 40 o número mínimo


para alcançar a certificação, 60 a 69 para alcançar o nível prata, 70 a 79 o ouro e
acima de 80 pontos para o nível platina.
Os tipos de projeto que o Leed atende são:

• desenho e construção de edifício (Building Design and Construction):


− novas construções;
− núcleo e casca;
− escolas;
− varejo;
− hospitais;
− centrais de dados;
− armazéns.
• operação e manutenção (Operation and Maintenance):
− prédios existentes;
− centrais de dados;
− armazéns;
− hospitais;
− escolas;
− varejo.
• desenho e construção de interiores (Interior Design and Construction):
− interiores comerciais;
− varejo;
− hospitais.
• desenvolvimento de bairro (Neighborhood Development):

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− planos;
− projeto construído.

O selo Leed visa respeitar o tripé da sustentabilidade, englobando e unindo


aspectos econômicos, sociais e ambientais entre si. Em relação aos benefícios
econômicos, são apresentados:

• diminuição dos custos operacionais;


• diminuição dos riscos regulatórios;
• valorização do imóvel para revenda ou arrendamento;
• aumento na velocidade de ocupação;
• aumento da retenção; e
• modernização e menor obsolescência da edificação.

Quanto aos aspectos sociais:

• melhora na segurança e priorização da saúde dos trabalhadores e


ocupantes;
• inclusão social e aumento do senso de comunidade;
• capacitação profissional;
• conscientização de trabalhadores e usuários;
• aumento da produtividade do funcionário;
• melhora na recuperação de pacientes em hospitais;
• melhora no desempenho de alunos em escolas;
• aumento no ímpeto de compra de consumidores em comércios;
• incentivo aos fornecedores com maiores responsabilidades
socioambientais;
• aumento da satisfação e bem-estar dos usuários; e
• estímulo de políticas públicas de fomento a construção sustentável.

E por fim, no que se refere aos aspectos ambientais:

• uso racional e redução da extração dos recursos naturais;


• redução do consumo de água e energia;
• implantação consciente e ordenada;
• mitigação dos efeitos das mudanças climáticas;
• uso de materiais e tecnologias de baixo impacto ambiental; e
• redução, tratamento e reuso dos resíduos da construção e operação.

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TEMA 3 – CERTIFICAÇÃO GREEN BUILDING COUNCIL (GBC BRASIL)

O Green Building Council Brasil é uma organização não governamental,


criada em 2007, que visa fomentar a indústria de construção sustentável no Brasil.
Atualmente, a certificação GBC Brasil conta com mais de 850 empresas-membros
que auxiliam na promoção dos prédios sustentáveis no país.
O órgão GBC Brasil atua com os mesmos parâmetros de categorias,
pontuação e créditos do selo Leed, porém com especificidades do Brasil. As
individualidades ocorrem pela diferença de comportamento regional, custos de
materiais, legislação e limitações de órgãos ambientais que requerem estudos
específicos.
O GBC Brasil abrange três tipos de selos, o GBC Casa, o GBC Condomínio
e o GBC Zero Energy, que visam construir e operar residências inovadoras com
alto desempenho, responsabilidade social, oferecendo custos mais baixos,
valorização patrimonial, redução dos resíduos da construção, redução do uso de
energia e água, garantia de saúde e bem-estar dos ocupantes, redução das
emissões de gases do efeito estufa, além de qualificação para descontos fiscais
e incentivos financeiros por parte do poder público. A seguir estão as categorias
contidas no selo GBC Brasil Casa.

3.1 Implantação

Nessa categoria, os créditos abordados referem-se a questões de


organização do terreno de obra, qualidade do solo, administração da atividade de
construção, conexão com os usos públicos da cidade, como praças, bancos,
farmácias, hospitais. Há pré-requisitos como controle da erosão, sedimentação e
poeira na atividade da construção, orientações de arquitetura climática, não
utilizar plantas invasoras e seleção adequada do terreno.
Os créditos, que são pontos facultativos, contêm assuntos sobre
urbanização do entorno e ruas caminháveis, localização preferencialmente
desenvolvida, preservação e restauração do hábitat, acesso a espaço aberto,
redução das ilhas de calor, controle e gerenciamento de águas pluviais etc.

3.2 Uso eficiente da água

Essa categoria interessa-se no uso correto da água no consumo interno,


na especificação de equipamentos, na medição, na setorização e nos sistemas
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de irrigação. As estratégias procuradas pela categoria estão na instalação de
equipamentos ou utensílios que são eficientes quanto ao descarte da água,
reduzindo o consumo, e na captação das águas pluviais, no reuso das águas cinza
e no descarte correto das águas negras.
O uso eficiente da água e a medição única do consumo de água são pré-
requisitos para atingir o primeiro nível de certificação. Sistema de irrigação
eficiente, plano de segurança da água, uso de fontes alternativas não potáveis e
medição setorizada do consumo da água são créditos que podem ser alcançados
para atingir uma pontuação mais elevada na certificação.

3.3 Energia e atmosfera

Essa categoria encaminha decisões referentes ao uso da energia elétrica


de modo a utilizá-la de forma racional, pelo uso doméstico na residência na
iluminação, por meio dos eletrodomésticos, aquecedores e condicionadores de ar.
Visa, então, alavancar o uso de diferentes fontes de energia, renováveis ou
passivas.
Os pré-requisitos existentes nessa categoria são: desempenho mínimo da
envoltória, na qual deve obedecer aos requisitos mínimos da etiquetagem PBE
Edifica para os itens de transmitância térmica, ventilação e iluminação natural;
fontes de aquecimento de água eficientes que propõem usos corretos de
isolamento térmico para instalações de encanamentos de distribuição de água
quente na residência; qualidade e segurança dos sistemas elétricos, que visa que
o projeto obedeça a todas as normas técnicas de referência à segurança da
habitação como sistema elétricos de baixa tensão (ABNT NBR 5410 e 15920),
sistemas de aquecimento, ventilação, ar condicionado e refrigeração (ABNT NBR
16401-1:2008 e 15848:2010), sistemas de aquecimento de água (ABNT NBR
7198:1993) e sistemas de energia renovável (ABNT NBR 16274:2014 e ABNT
NBR IEC 62116:2012), e o último pré-requisito referente à iluminação artificial que
incentiva a instalação de equipamentos de luz, sendo 50% de lâmpadas ou
luminárias que contenham o selo Procel, Inmetro ou eficiência superior a 75 lm/w.
Os créditos são: obter etiquetagem PBE Edifica, fontes eficientes de
aquecimento solar, equipamentos eletrodomésticos eficientes, comissionamento
dos sistemas instalados e medição básica de energia.

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3.4 Materiais e recursos

Essa categoria importa-se com o manuseio correto dos resíduos gerados


pela construção civil, como também com a redução da geração destes. Os pré-
requisitos existentes nessa categoria são: plano de gerenciamento de resíduos da
construção e operação, na qual a equipe de projeto deve apresentar ao órgão
certificador um plano de gerenciamento contendo informações de caracterização
do empreendimento, localização, finalidade, estrutura física, quadro de áreas, tipo
de solo e caracterização dos resíduos existentes no canteiro de obra, como
também informar a qualificação das transportadoras desses resíduos e o
endereço de destinação destes.
Uso de madeira legalizada também é um pré-requisito, na qual toda
madeira usada na construção deve obter certificação legal e ter informações
quanto à nota fiscal da compra da quantidade de madeira e o Documento de
Origem Florestal (DOF).
Os créditos dessa categoria são: rotulagem ambiental de materiais
certificados, materiais ambientalmente preferíveis, declaração ambiental do
produto, sistemas estruturais e elementos não estruturais certificados. Essas
denominações visam garantir a extração correta da madeira e todas devem
possuir rótulos de selos FSC e Cerflor.

3.5 Qualidade do ambiente interno

Essa categoria está ligada à saúde, prevenindo doenças tais como as


respiratórias, e ao bem-estar dos ocupantes da residência. As propostas estão na
melhoria da ventilação, no controle da entrada de partículas contaminantes como
o dióxido de carbono (CO²), compostos orgânicos voláteis (COV) e ureia
formaldeído. Os pré-requisitos são: controle de emissão de gases de combustão,
exaustão localizada básica e desempenho mínimo do ambiente interno. Os
créditos que podem gerar de um a três pontos cada são: desempenho térmico,
lumínico, acústico, controle da umidade do local, proteção de poluentes
provenientes da garagem e materiais de baixa emissão.

3.6 Requisitos sociais

Os requisitos sociais estão diretamente ligados às boas práticas da obra


com a comunidade, explorando questões de legalidade, qualidade e
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acessibilidade. Os incentivos vão desde orientação e educação dos agentes de
obra em relação aos usos corretos da água, energia e dos resíduos gerados.
Como também promover a acessibilidade universal, propondo espaços
colaborativos e equitativos de trabalho e convivência.
Existe apenas um pré-requisito chamado legalidade e qualidade, no qual
aborda questões sobre responsabilidade técnica da construtora em estar são dos
seus direitos e deveres, isto é, apresentar inscrição do cadastro nacional das
pessoas jurídicas, prova de regularidade com o fundo de garantia do tempo e
serviço (FGTS), prova de inexistência de débitos, certidão negativa no cadastro
nacional de empresas inidôneas e suspensas, emissão de negativa de multas
ambientais e declaração assinada pelo representante legal.
Os créditos são: acessibilidade universal, na qual a residência deve ser
projetada para adaptarem-se à NBR 9050:2015, boas práticas sociais de projeto
e obra que incentiva a educação com cursos de alfabetização e profissionalizantes
para os colaboradores da obra, boas práticas sociais para operação e
manutenção que orienta os colaboradores e comunitários sobre a utilização dos
componentes ou equipamentos ligados à sustentabilidade no projeto e o crédito
liderança em ação que visa fomentar a transformação do mercado regional
terceirizado para os produtos mais ecológicos e equipamentos mais eficientes.

3.7 Inovações e projeto

Essa categoria recompensa com créditos extras caso optar por adotar
práticas como criação de um guia ou manual do usuário da residência, conter
profissionais credenciados em órgãos certificadores para a consultoria e
andamento do projeto e alcançar práticas mais eficientes das quais são
delimitadas pela certificação. O pré-requisito dessa categoria é o manual de
operação, uso e manutenção que propõe desenvolver informações, sejam
impressas ou digitais, para os residentes contendo informações como plantas de
arquitetura, instalações elétricas, hidráulicas, paisagismo, ar condicionado,
luminotécnico, desenhos de simulações energéticas, irrigação, estrutura,
memorial descritivo, checklist da certificação GBC Brasil com os itens alcançados
e outros manuais de fabricantes dos materiais e equipamentos.
Os créditos são: projeto integrado e planejamento, educação e divulgação
e inovação e projeto.

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3.8 Créditos regionais

Os créditos regionais buscam atrair pontos extras com oportunidade de


destacar cada local do Brasil, isto é, existem regiões que possuem
particularidades diferentes de outras, como variações de clima, vegetação, índice
pluviométrico, taxas de umidade relativa, velocidade e intensidade dos ventos,
níveis de poluição, disponibilidade de materiais e fornecedores, mão de obra
qualificada e taxas municipais. Essa categoria é distribuída apenas em cinco
créditos como Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
O setor Norte tem:

• IMP Crédito 3 – Localização Preferencialmente Desenvolvida;


• UEA Crédito 1 – Uso Eficiente da Água – Otimizado;
• EA Crédito 3 – Desempenho Aprimorado da Envoltória;
• MR Crédito 1 –Gerenciamento de Resíduos da Construção;
• MR Crédito 2 – Madeira Certificada;
• MR Crédito 4 – Rotulagem Ambiental Tipo II - Materiais Ambientalmente
preferíveis;
• QAI Crédito 4 – Controle de Umidade Local;
• RS Crédito 2 – Boas Práticas Sociais para Projeto e Obra.

O setor Nordeste tem:

• IMP Crédito 8 – Paisagismo;


• UEA Crédito 1 – Uso Eficiente da Água – Otimizado;
• UEA Crédito 2 – Medição Setorizada do Consumo da Água;
• UEA Crédito 4 – Sistemas de Irrigação Eficiente;
• EA Crédito 3 – Desempenho Aprimorado da Envoltória;
• EA Crédito 7 – Energia Renovável;
• MR Crédito 1 – Gerenciamento de Resíduos da Construção;
• MR Crédito 4 – Rotulagem Ambiental Tipo II - Materiais Ambientalmente
preferíveis.

O setor Sul tem:

• IMP Crédito 5 – Proximidade a Recursos Comunitários e Transporte


Público;
• IMP Crédito 9 – Redução de Ilha de Calor;

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• IMP Crédito 10 – Controle e Gerenciamento de Águas Pluviais;
• UEA Crédito 2 – Medição Setorizada do Consumo de Água;
• EA Crédito 3 – Desempenho Aprimorado da Envoltória;
• EA Crédito 4 – Fontes Eficientes de Aquecimento Solar;
• EA Crédito 7 – Energia Renovável;
• MR Crédito 2 – Madeira Certificada.

O setor Sudeste tem:

• IMP Crédito 5 – Proximidade a Recursos Comunitários e Transporte


Público;
• IMP Crédito 9 – Redução de Ilha de Calor;
• IMP Crédito 10 – Controle e Gerenciamento de Águas Pluviais;
• URA Crédito 2 – Medição Setorizada do Consumo de Água;
• EA Crédito 3 – Desempenho Aprimorado da Envoltória;
• MR Crédito 2 – Madeira Certificada;
• QAI Crédito 6 – Controle de Partículas Contaminantes;
• QAI Crédito 7 – Materiais de Baixa Emissão.

O setor CENTRO-OESTE tem:

• IMP Crédito 3 – Localização Preferencialmente Desenvolvida;


• IMP Crédito 8 – Paisagismo;
• UEA Crédito 4 – Sistemas de Irrigação Eficiente;
• EA Crédito 3 – Desempenho Aprimorado da Envoltória;
• MR Crédito 4 – Rotulagem Ambiental Tipo II - Materiais Ambientalmente
preferíveis;
• QAI Crédito 4 – Controle de Umidade Local;
• QAI Crédito 6 – Controle de Partículas Contaminantes;
• RS Crédito 2 – Boas Práticas Sociais para Projeto e Obra.

TEMA 4 – CERTIFICAÇÃO WELL

Visando a saúde e o bem-estar do usuário, foi criado em 2014 o selo Well


Building Certification. Baseado nos selos Leed e Breeam, o Well direciona os
processos de projeto com base estritamente no bem-estar e saúde dos ocupantes
da futura edificação.

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Práticas de projeto como aumento de vegetação em ambientes, localização
das janelas para que o indivíduo possa aproveitar todo o período do dia e espaços
dedicados para descanso e atividades físicas dentro do ambiente de trabalho são
preocupações da certificação Well.
Uma edificação doente remete a uma queda de produtividade da empresa
devido a fatores que afetam o rendimento do colaborador diante das suas
atividades diárias. Alguns exemplos são a falta de iluminação adequada, locais
fechados e insalubres que obstruem a troca de ar e tornam-se fontes de doenças
respiratórias e ausência de áreas de descanso.
Semelhante às demais certificações de sustentabilidade, o número de
pontos alcançados determina o nível de certificação em prata, ouro ou platina.
As estratégias abordadas pelo Well baseiam-se em sete conceitos: ar,
água, nutrição, iluminação, fitness, conforto e mente.

4.1 Ar

A qualidade do ar está entre os principais fatores de mortalidade prematura.


No mundo, a qualidade do ar piora devido ao aumento do trafego de carros não
ecologicamente corretos, construções impróprias e insalubres, atividade agrária
com o uso de pesticidas prejudiciais à saúde e os compostos orgânicos voláteis
(VOC).
Um edifício com pouca ventilação tem consequências enormes ao ser
humano como exposição direta aos compostos voláteis originados de tintas,
selantes e materiais sintéticos, além de exposição a micróbios e germes oriundos
de paredes e móveis úmidos.
A certificação Well prevê que nessa categoria sejam feitas mudanças para
coibir o uso de cigarro no ambiente interno e externo bem como o uso de VOCs
em tintas, carpetes, selantes, adesivos, materiais de isolamento e móveis.
Também instiga à equipe de projeto a respeitar normas padrões de qualidade de
ar e de controle de poluição.

4.2 Água

A água, além de constituir mais de 2/3 do ser humano e ser responsável


por transportar nutrientes e descartar rejeitos do corpo, também tem a função de
regular a temperatura interna. O homem precisa aproximadamente de 3,7 litros de

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água por dia e a mulher de 2,7 litros para a respiração, transpiração, excreção e
para contribuir com a remoção de toxinas, subprodutos e outros resíduos.
O objetivo do selo é melhorar a qualidade da água para o uso diário, proibir
os contaminantes inorgânicos, fertilizantes e pesticidas, além de promover
pesquisas para o tratamento e manutenção da qualidade da água.

4.3 Alimentação

A alimentação saudável é a chave para a manutenção da saúde, o controle


do peso corporal e a prevenção de doenças crônicas. A busca por lanches rápidos
ou bebidas açucaradas para obtenção de mais energia no dia a dia cresce dentro
dos centros urbanos, seja por expedientes cada vez maiores ou facilidade de
acesso a esses alimentos. Além disso, a ingestão dessas calorias sem atividade
física pode agravar problemas cardíacos e resultar em distúrbios metabólicos
como diabetes, obesidade ou problemas motores.
A certificação prevê que o ambiente comporte e incentive o acesso a frutas
e verduras, informações sobre higiene na cozinha, locais adequados para
armazenamento de comida como câmaras frias, cartazes ou folhetos informativos
sobre valor nutricional de alimentos, plantio e manutenção de jardins ou hortas,
espaços atrativos para refeições, entre outros.

4.4 Luz

A luz é responsável por destacar pontos, ampliar espaços e incentivar uma


maior produtividade no ambiente de trabalho. É dimensionada conforme a sua
função e tipologia do ambiente que será inserida. Além do mais, é a luz que
influencia o comportamento humano, sincronizando atividades do corpo como
alimentação, digestão e estado de vigília e sono conforme o período do dia. Essa
variação no ciclo biológico dos seres humanos dentro do período de 24 horas é
chamada de ciclo circadiano.
A intenção do selo é melhorar a produtividade dos usuários por meio de
iluminação adequada, priorizando tipos de lâmpadas que tenham melhor
reprodução e temperatura de cor e evitando assim o cansaço dos colaboradores
e desconfortos visuais advindos da perda de foco.

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4.5 Aptidão física

Aptidão física é exercer qualquer atividade com vigor e energia sem fadiga
ou perda da resistência. A vida adulta requer ao menos trinta minutos de prática
de esportes ou atividades físicas por dia e a inatividade é um dos maiores
problemas referentes à saúde da sociedade moderna. As consequências do
sedentarismo vão desde cansaço para resolver questões diárias até infartos e
demais problemas cardíacos.
O Well promove políticas e estratégias que envolvam o usuário do edifício
na prática de atividades físicas combatendo o sedentarismo, a obesidade e as
doenças crônicas. As estratégias incluem espaços desenhados para interação
interpessoal, escadas acessíveis, mobiliário adequado ao corpo humano,
programas educacionais de incentivo a esportes, espaços prioritários para
caminhadas, garagem para bicicletas, entre outros.

4.6 Conforto

O ambiente interno deve ser um local de conforto, evitando fontes de


perturbação, distração ou irritação. Deve garantir um conforto acústico,
ergonômico, olfativo e térmico facilitando a produtividade e bem-estar dos
ocupantes.
Um importante causador de estresse para o usuário do edifício é o ruído
sonoro. Os espaços devem ser projetados para mitigar os sons internos
indesejáveis como ruídos indiretos ou de impacto e bloquear os sons externos ao
edifício como buzina de carros, apitos, trens ou eventos públicos.
O selo busca promover espaços acessíveis e agradáveis por meio da
utilização de mobiliários com ergonomia personalizável e adequada ao conforto e
ventilação mecânica e natural adaptada ao usuário. Além disso, busca bloquear
fontes de desconforto olfativo com materiais que evitem reverberação do som,
permitir o controle da temperatura de espaços individuais de trabalho e promover
o acesso a espaços abertos.

4.7 Mente

O corpo e a mente estão sempre conectados. A indisposição, a


negatividade e a depressão são problemas que afetam a autoestima e tornam as
atividades diárias exaustivas. Alguns fatores que contribuem para essa desordem
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estão ligados ao ambiente doente como espaços fechados, mal iluminados e sem
ventilação.
O exercício físico, remédio natural para uma vida saudável, aumenta o nível
de serotonina no corpo, melhorando a disposição para atividades diárias e
regulando o ciclo do sono. A mudança do estilo de vida reflete-se nas mudanças
de hábitos. A criação de uma atmosfera que possibilite espaços integrados e
interativos para o usuário de um edifício é essencial, pois transmitem sensações
variadas com o emprego de cores alternativas, mobiliários excêntricos e uma
exploração dinâmica de seu ambiente de trabalho.
O Well, por intermédio de seus créditos de pontuação, busca o
cumprimento das normas de conforto por meio da disponibilidade no interior do
edifício de livros e informações sobre saúde e bem-estar, do design consciente
visando ao belo, da integração e interação com a natureza, de espaços adaptáveis
à ocasião e do incentivo e promoção de práticas artísticas e atividades destinadas
à caridade.

TEMA 5 – SELO CASA AZUL

O selo Casa Azul é uma proposta criada pela Caixa Econômica Federal
para reconhecer empreendimentos que visam promover a sustentabilidade,
recompensando projetos que fazem o uso racional dos recursos naturais e
garantem qualidade na habitação.
Além disso, a Caixa propõe iniciativas como o uso da madeira legal na
construção, o incentivo financeiro para equipamentos de aquecimento solar e a
medição individual de água e gás em prédios, fomentando assim a
conscientização do morador da habitação.
A certificação envolve 53 critérios de avaliação divididos nas seis
categorias a seguir.

5.1 Qualidade urbana

O selo Casa Azul descreve como qualidade urbana uma comunidade


sustentável.
Com base no Disco Egan, do livro Egan Review (Egan, 2004), uma efetiva
comunidade sustentável deve obter oito fatores: governança, com participação,
representação e liderança efetiva e inclusiva; conectividade, com um bom serviço

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de transporte e comunicação, conectando pessoas a empregos, escolas e
hospitais; disponibilidades de serviços, sejam comunitários, privados ou públicos;
responsabilidade ambiental, propondo espaços para a convivência saudável e
correta com o meio ambiente; justiça e igualdade, planejando o futuro para a
comunicação com outras comunidades; prosperidade, com criação de uma
economia crescente local; projeto e construção, com exercício de uma obra limpa
com qualidade de materiais e esteticamente bela; e vivacidade, inclusão e
segurança com a implementação de uma cultura local forte.

5.2 Projeto e conforto

Essa categoria refere-se à instalação da edificação em um determinado


terreno, adaptando-a às condições climáticas, físicas e geográficas do local, além
de propiciar um conforto térmico para o interior do edifício, analisando sua
orientação solar, direcionamento dos ventos dominantes, temperatura média,
umidade média e a disponibilidade de iluminação natural.
O projeto deve considerar o empreendimento e seu entorno, sabendo o
quanto este vai transtornar ou não a vida dos moradores ao redor. Diante disso,
buscará uma envoltória saudável e permeável entre o espaço interno e externo.
A minimização do uso de recursos artificiais como aparelhos para
condicionamento de ar, aquecimento de água e luzes artificiais que excedem o
gasto de energia é o objetivo do selo Casa Azul.
Portanto, o bom projeto de arquitetura deve aproveitar os condicionantes
do local em que o projeto será inserido.

5.3 Eficiência energética

O consumo de energia em uma residência provém de diferentes fontes,


como geladeira, freezer, ar-condicionado, chuveiro, lâmpadas, micro-ondas, lava-
roupas, ferro, som e televisão. Consequentemente, o setor residencial é maior
consumidor de energia em relação ao comercial e público.
Desse modo, o uso de fontes alternativas de geração de energia tornou-se
aplicável com o uso de painéis de aquecimento solar, painéis fotovoltaicos e cata-
ventos para energia eólica.

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Outro fator preponderante para diminuir o gasto energético de uma
residência é o isolamento térmico adequado, visto estudo do método Passiv Haus,
na qual impede a perda de calor interna.
Além do mais, há alternativas para condicionamento de ar, como ventilação
cruzada, ventilação mecânica eficiente, resfriamento de ar por dutos geotérmicos
e aquecimento solar passivo.

5.4 Conservação de recursos materiais

A atividade da construção gera inúmeros tipos de resíduos, desde o


carregamento de materiais para dentro da obra até movimentações de terra e
mesmo assim após o fim da obra, considerando também os resíduos gerados
pelos moradores.
Na obra, os resíduos gerados devem ser planejados para reuso dentro do
canteiro, reaproveitados em outra obra ou destinados para locais propícios para
armazenamento.
A importância de um estudo de ciclo de vida dos materiais empregados na
construção civil é essencial para evitar o desperdício e promover o estudo de
materiais ecológicos. O selo busca averiguar os impactos gerados, a fim de
aprimorar as formas de concepção de um projeto com diferentes materiais aliados
à construção limpa.

5.5 Gestão da água

A água, conforme o selo Casa Azul, deve ser vista com insumo finito tanto
em termos de qualidade como de quantidade. Sua gestão em edifícios é vital para
seu uso sustentável, devendo contemplar o planejamento das águas pluviais, o
esgotamento sanitário e o suprimento da água potável.
No entanto, um projeto consciente e sustentável abrange também águas
cinza advindas do reaproveitamento, como também as águas negras decorrentes
do contato com matéria orgânica.

5.6 Práticas sociais

Para o exercício da sustentabilidade, vários agentes devem estar


envolvidos, como arquitetos, engenheiros, empreendedores, construtoras,
trabalhadores terceirizados, moradores do futuro empreendimento e vizinhos da

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comunidade. Além do estudo do projeto para inserção do empreendimento no
local, deve-se também analisar a pós-ocupação, entendendo o comportamento da
comunidade com o empreendimento e vice-versa.
A aplicação de práticas sociais em conjunto com a construção do
empreendimento visa agregar a consciência ambiental, promovendo ações
proativas que ultrapassem obrigações legais e surpreendam de forma consciente,
buscando o benefício da comunidade.
Para receber o selo Casa Azul, o empreendimento deve cumprir 19 pré-
requisitos obrigatórios para atingir o nível bronze, mais seis critérios opcionais
para atingir o nível prata ou mais 12 créditos opcionais para o nível ouro.

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REFERÊNCIAS

BUSTOS ROMERO, M. A. Arquitetura Bioclimática do Espaço Urbano. 3. ed.


Brasília: Universidade de Brasília, 2007.

EGAN, J. The Egan Review: Skills for Sustainable Communities. London: Riba,
2004.

ELDREDGE, B. Passive house construction: everything you need to know.


Curbed, 2016. Disponível em: <https://www.curbed.com/2016/9/6/12583346/
passive-house-construction-guide>. Acesso em: 6 dez. 2019.

HEYWOOD, H. 101 Regras Básicas para Edificações e Cidades Sustentáveis.


São Paulo: GG, 2017.

INTERNATIONAL WELL BUILDING INSTITUTE. Well Building Standard, v. 1 with


Q1 2019 addenda. 2019.

JOHN, V. M.; PRADO, R. T. A. (Coord.). Boas práticas para habitação mais


sustentável. São Paulo: Páginas & Letras, 2010.

TRIANA, M. A.; GHISI, E. Benefícios para aplicação do Selo Casa Azul:


Categorias eficiência energética e projeto e conforto. Rio de Janeiro: Caixa, 2013.

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