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CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL ​

​GABINETE DO DEPUTADO ROOSEVELT VILELA - GAB. 14

OFÍCIO Nº 437/2021-GAB DEP. ROOSEVELT VILELA


Brasília, 25 de novembro de 2021.

Assunto: Sugestão de normatização do sistema de cobrança da coparticipação no sistema


de saúde

Excelentíssimo Senhor Comandante-Geral,

Cumprimentando cordial e respeitosamente Vossa Excelência, venho solicitar o que segue.


Considerando que compete, privativamente, à Câmara Legislativa do Distrito Federal fiscalizar
e controlar os atos do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta, nos termos no art. 60
da Lei Orgânica do DF;
Considerando que o exercício do mandato do Deputado Distrital inicia-se com a posse,
cabendo-lhe, uma vez empossado, ter acesso às informações necessárias à fiscalização contábil,
financeira, orçamentária, operacional e patrimonial do Distrito Federal e das entidades da
administração direta e indireta, nos termos do art. 15, inciso X, do Regimento Interno da Câmara
Legislativa do Distrito Federal - RICLDF;
Considerando que este parlamentar é o Presidente da Comissão de Segurança, e entre as
atribuições do cargo estão a de acompanhar e fiscalizar a execução de programas e leis relativas às
matérias de sua competência;
Considerando que este Deputado vem constantemente buscando soluções para os problemas
envolvendo o instituto da coparticipação no sistema de saúde da Corporação, tendo em vista o
disposto no art. 33 da Lei nº 10.486/2002;
Considerando que em agosto de 2021 protocolei o Requerimento nº 2634/2021, em que foi
enviada consulta ao TCDF acerca da melhor interpretação do art. 33, §4º, alínea "d", da Lei nº
10.486, de 4 de julho de 2002, visto que a interpretação expressada pelo Tribunal de Contas do
Distrito Federal, por meio da Decisão nº 1831/2020, deve ser revista, pois, no ponto de vista deste
parlamentar, afastou a norma das demais diretrizes no nosso sistema jurídico;
Considerando que este parlamentar desenvolveu um novo estudo no âmbito deste gabinete,
com o intuito de oferecer solução para esse grave problema instalado nas corporações militares, até
que se consiga o consenso sobre a melhor interpretação da norma ou que a altere, de modo que o
texto fique mais claro e coerente, bem como que se harmonize com os princípios da capacidade
contributiva, da razoabilidade e da proporcionalidade.
Pelo exposto, apresento a Vossa Excelência o estudo realizado neste gabinete, que busca
harmonizar o instituto da coparticipação do sistema de saúde com o ordenamento jurídico, bem
como com os princípios da capacidade contributiva, da legalidade e da razoabilidade.
A Lei nº 10.486, de 4 de julho de 2002, em seu art. 33, §4º, alínea “d”, disciplina as fontes
de recursos do sistema de saúde da corporação:
"Art. 33. Os recursos para assistência médico-hospitalar, médico-domiciliar,
odontológica, psicológica e social ao militar e seus dependentes também poderão
provir de outras contribuições e indenizações, nos termos dos incisos II e III do caput
do art. 28 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.134, de
2005)
§ 1o A contribuição para a assistência médico-hospitalar, psicológica e social é de 2%
a.m.(dois por cento ao mês) e incidirá sobre o soldo, quotas de soldo ou a quota-
tronco da pensão militar.
§ 2o A contribuição de que trata o § 1o deste artigo poderá ser acrescida de até
100% (cem por cento) de seu valor, para cada dependente participante do Fundo de
Saúde, conforme regulamentação do Comandante-Geral de cada Corporação.
(Redação dada pela Lei nº 11.134, de 2005)
§ 3º As contribuições e indenizações previstas no caput deste artigo serão destinadas
à constituição de um Fundo de Saúde, que será regulamentado pelo Comandante-
Geral de cada Corporação.
§ 4o A indenização pela prestação de assistência médico-hospitalar aos dependentes
de que trata o caput deste artigo, não poderá ser superior, conforme regulamentação
do Comandante-Geral de cada Corporação:
a) a 20% (vinte por cento) do valor da despesa para os dependentes do 1o grupo;
b) a 40% (quarenta por cento) do valor da despesa para os dependentes do
2o grupo;
c) a 60% (sessenta por cento) do valor da despesa para os dependentes do
3o grupo;
d) ao valor máximo de apenas uma remuneração ou proventos do posto ou da
graduação do militar, considerada a despesa total anual, para todas as situações
deste parágrafo".

O §4º do art 33 transcrito acima, assevera que a indenização pela prestação de assistência
aos dependentes não poderá ser superior aos percentuais estabelecidos nas suas alíneas "a", "b" e
"c", de acordo com o grupo a que pertence o dependente.
Conforme o dispositivo citado acima, o percentual não poderá ser superior ao ali
estabelecido, sendo assim, eles podem ser definidos em outros percentuais abaixo daquele teto
estabelecido.
Com essa inteligência do §4º, aliado à Decisão nº 1831/2020 do TCDF, há ferramenta legal
administrativa, sob a alçada do Comandante-Geral da Corporação, que pode resolver o grave
problema existente atualmente, que tem levado alguns militares à situação de insolvência em
relação ao sistema de saúde.
Uma dessas ferramentas e possibilidades estudadas por este Deputado, seria o Comandante-
Geral da Corporação utilizar de sua prerrogativa estabelecida no §4º do art. 33 da Lei nº
10.486/2002, para estabelecer uma tabela progressiva de percentuais das indenizações, de modo
que atenda ao disposto na lei e que os valores a serem cobrados dos militares atendam ao caráter
social da norma, bem como respeite o princípio da capacidade contributiva e da razoabilidade.
Como não dispomos de dados completos referentes aos procedimentos realizados por
dependentes dos militares, com os montantes anuais por militar e dependentes, as premissas aqui
apresentadas deverão ser confirmadas em estudo mais aprofundados e com os dados completos
envolvendo a indenização aos sistema de saúde.
Uma das premissas utilizadas neste estudo é o fato de que a maior parte dos atendimentos
no sistema de saúde aos dependentes são de menor complexidade, consequentemente, de menor
custo. Portanto, utilizamos o diagrama de pareto, que estabelece a proporção 80/20, em que 20% da
causa é responsável por 80% das consequências. Nessa ótica, cerca de 20% dos atendimentos
seriam responsáveis por 80% do gasto do sistema de saúde.
Estabelecendo uma tabela progressiva de percentuais de indenização, nos limites
estabelecidos na Lei nº 10.486/2002, assim como ocorre com o imposto de renda, por exemplo, os
valores a serem cobrados atenderiam não só ao ditame da lei, bem como ao princípio da
progressividade estabelecido em nosso sistema tributário, ainda não que não seja um tributo
propriamente dito.
"A progressividade, conforme Baleeiro (1999, p. 293), é um método adotado
pela Constituição Federal. Sendo a única técnica que permite a personalização dos
impostos, prevista no art. 145, parágrafo 1º da CF, uma vez que na medida em que
observa a capacidade de contribuição com base nas necessidades dos
contribuintes, o legislador passa a conceder reduções e isenções. Isso
ocorre tendo em vista o princípio da igualdade, e tais renúncias devem ser
compensadas por meio da progressividade."
(https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-tributario/insercao-de-aliquotas-
progressivas-e-intermediarias-aos-contribuintes-do-imposto-de-renda-da-pessoa-
fisica-irpf-no-brasil-como-forma-de-efetivar-os-principios-fundamentais-com-enfase-
nos-valores-socia/)

A indenização ao sistema de saúde deve respeitar o princípio da capacidade contributiva, e


para tanto o instituto da progressividade é uma excelente ferramenta que pode levar a este objetivo.
Ressaltando que, embora a indenização não seja um tributo, tais princípios aplicam-se perfeitamente
ao caso.
"O princípio da capacidade contributiva influencia diretamente o princípio
da progressividade, pois se trata de um fator necessário a ser observado
pelo legislador para que o imposto não tenha o efeito de confisco e,
principalmente, para que não seja retirado do contribuinte o mínimo
necessário à sua sobrevivência."
(Fabiana Almeida Evangelista, 2013, O Princípio constitucional da progressividade e
sua consonância com os princípios da capacidade contributiva e igualdade)

Já o princípio da igualdade nos traz que é necessário tratar todos de maneira igual, mesmo
que, para isto, seja necessário tratar os desiguais de forma desigual, que no presente caso seria
atingido com as alíquotas progressivas, as quais buscam tratar os ressarcimentos anormais, altos
montantes, de maneira diferenciada, com alíquotas menores.
Acredita-se que a aplicação das alíquotas progressivas aqui sugeridas não traria impacto
significante aos valores pagos anualmente para as corporações, a título de indenização, tendo em
visto o diagrama de pareto citado e o fato de que, ainda que o militar seja obrigado a pagar um
montante exorbitante, o ressarcimento está limitado a uma remuneração anualmente.
Portanto, abaixo transcrevo um modelo de tabela progressiva para aplicação da indenização
pela prestação de assistência médica aos dependentes do militar, de modo que o alcance aos
princípios da capacidade contributiva, razoabilidade, igualdade e outros, sejam melhor alcançados.
Frisa-se que a tabela é uma mera sugestão que poderá ser aperfeiçoada com base em estudos mais
aprofundados e com os dados completos por parte da corporação.

Valor da despesa anual com dependentes

de R$0,00 a de R$10.000,00 de R$20.000,00 de R$50.000,00 acima de


Grupo
R$10.000,00 a R$20.000,00 a R$50.000,00 a R$100.000,00 R$100.000,00

1º - art.
33, §4º, 20,00% 18,00% 10,00% 5,00% 1,00%
"a"

2º - art.
33, §4º, 40,00% 35,00% 20,00% 10,00% 2,00%
"b"

3º - art.
33, §4º, 60,00% 50,00% 30,00% 15,00% 3,00%
"c"

Por fim, solicito que o resultado da análise da sugestão apresentada por este parlamentar
seja encaminhado a este gabinete, no prazo de 30 dias, para que possamos continuar
acompanhando de perto essa questão e, consequentemente, consigamos trazer tranquilidade a esta
categoria tão importante para a nossa sociedade.
Desde já agradeço a presteza de sempre e coloco-me à disposição para demais
esclarecimentos que se façam necessários.

Atenciosamente,

ROOSEVELT VILELA
Deputado Distrital

À Sua Excelência
Cel QOBM/Comb. Rogério Alves Dutra
Comandante-Geral
Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal
SAM Lote D Módulo E - CEP 70620-000 – Brasília/DF

Documento assinado eletronicamente por ROOSEVELT VILELA PIRES - Matr. 00141,


Deputado(a) Distrital, em 06/12/2021, às 14:27, conforme Art. 22, do Ato do Vice-
Presidente n° 08, de 2019, publicado no Diário da Câmara Legislativa do Distrito Federal nº
214, de 14 de outubro de 2019.

A autenticidade do documento pode ser conferida no site:


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Código Verificador: 0615022 Código CRC: 3F533B1F.

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