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Projeto de Pesquisa – Trabalho de Conclusão de Curso

Projeto de Pesquisa e Planejamento de Atividades


Aluno: Douglas Lyra de Holanda Fonseca Data início curso: 28/10/2022

Orientador: Alessandra Cardoso de Moraes Defesa em: 04/2024

Curso: MBA Gestão Escolar Modalidade: Distância Turma: 222

1. Título do projeto (Inicial)

A importância do capital científico desenvolvido na educação básica para a formação


de cientistas.

2. Introdução

O processo de educação é um importante capacitor social, visto que esse mecanismo


busca possibilitar que as pessoas desenvolvam seu livre-arbítrio, seus pensamentos e
aproveitem sua humanidade. A educação é um dos principais fatores relacionados com o
desenvolvimento da sociedade e por esse motivo é uma área considerada importante no
mundo inteiro. Aliada à educação está a ciência, área que possibilitou grande revolução
tecnológica e de desenvolvimento de melhorias sociais, progressos os quais estão
intrinsecamente distribuídos na vida da população hoje em dia (NIEROTKA; TREVISOL,
2018; SCHWARTZMAN, 2022; SOUZA, 2018; WATANABE; MUNHOZ; KAWAMURA,
2016).
A educação e conhecimento científico teve o padrão que conhecemos hoje,
principalmente no mundo ocidental, formado a partir do século XVII com o desenvolvimento
de metodologias e sistematização dessa área (GIDDENS, 1991). Inicialmente somente as
classes sociais mais altas tinham o acesso à educação, e eram essas mesmas pessoas que se
inseriam no mundo científico, até que as classes mais baixas começaram a serem incluídas
nesses espaços (NIEROTKA; TREVISOL, 2018; SCHWARTZMAN, 2022; SOUZA, 2018).
Entretanto, notava-se que apesar de maior inserção de pessoas na educação, o processo
educacional de indivíduos de classes mais baixas era bem mais custoso do que para pessoas
que tinham o convívio e costumes com familiares que já tinham passado pelo processo
educacional (BOURDIEU, 1986). É da pergunta sobre como dois indivíduos realizando uma
mesma tarefa, porém com vivências diferentes, podem apresentar resultados discrepantes, que
surgem os termos “habitus” e “capital cultural” de Pierre Bourdieu em 1986, que descreve que
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as práticas, culturas e valores possuem uma configuração social (habitus) e o conhecimento e


comportamento desse habitus é passado entre os indivíduos de um mesmo contexto social,
principalmente pela família (capital cultural). Explicando assim que a educação formal
deveria sanar as diferenças de capital cultural entre os indivíduos, para que houvesse então
equidade de ensino (CLAUSSEN; OSBORNE, 2013).
A termologia de “capital científico” segue esse mesmo contexto de Bourdieu, estando
relacionado com aspectos culturais e sociais específicos da ciência que estão interligados aos
valores que cada indivíduo adquire durante sua vida (ARCHER et al., 2015; BOURDIEU,
1986). As variações de capital científico podem estar relacionadas com as aspirações que
jovens possam vir a demonstrar, principalmente com o mundo da ciência, sendo demonstrado
que famílias com maiores recursos científicos fomentavam um interesse maior por estudos
nessas áreas (ARCHER et al., 2015). Um importante fator que ajuda no desenvolvimento de
capital e conhecimento científico das pessoas é a divulgação científica, área que vem
ganhando mais ênfase após a pandemia de Sars-Cov-2 e o aumento desenfreado das “Fake
News” (LORENZETTI; RAICIK; DAMASIO, 2021). A divulgação científica busca
desburocratizar a ciência, levando informações corretas para a população e o entendimento de
aspectos científicos e de tecnologia que estão difundidos na nossa vida diária mas que para
muitos são conceitos complexos (LORENZETTI; RAICIK; DAMASIO, 2021;
WATANABE; MUNHOZ; KAWAMURA, 2016), dessa forma tentando tornar a sociedade
mais engajada com a ciência.
No Brasil, a educação é um processo em constante adaptação que foi lapidado por
diversos anos para se chegar ao contexto atual, com leis e diretrizes que regulam importantes
aspectos dessa área, buscando uma padronização entre o ensino público e privado e
universalização do acesso ao ensino, como disposto na constituição brasileira de 1988.
Durante a maior parte da história do Brasil, a educação não foi tratada como um direito
fundamental e por essa razão a educação foi por muitas vezes considerada um privilégio e
apenas a elite brasileira era capaz de possuir esse desenvolvimento. Na década de 70 foi feito
um esforço para a aumentar o acesso à educação básica, no qual buscava-se uma formação
técnica para o aumento da mão de obra capacitada, entretanto a educação é um fator que
contempla a formação individual, não somente a capacitação laboral. Dessa forma, somente
após a constituição de 1988 que vem sendo discutidas e implementadas diretrizes para
garantir o acesso à educação em todas as regiões do Brasil e para todas as classes sociais, de
um ensino com qualidade e com equidade como um direito a todos (SOUZA, 2018).
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Nesse mesmo caminho, o ensino superior no Brasil apresentou um grande período de


inacessibilidade para as classes sociais menos privilegiadas (NIEROTKA; TREVISOL,
2018), com políticas públicas de acesso e inclusão para as graduações sendo implementadas
somente nas últimas décadas, a exemplo do sistema de cotas das universidades públicas e do
ProUni das privadas que ganharam mais força a partir de 2010 (ARTES, 2018). O último
nível de ensino, a pós-graduação stricto sensu (Mestrado e Doutorado), é o nível com maior
desigualdade dentro da educação, onde cerca de 0,41% da população brasileira possui pós-
graduação (GAMA E COLOMBO, 2019). Apesar de ser justificado que esse baixo percentual
de pessoas com pós-graduação esteja relacionado com a seletividade realizada pelos
programas de pós-graduação que buscam os melhores alunos e possuem poucas vagas,
tentando dessa forma garantir que esse ensino tenha qualidade elevada, existe um baixo
interesse da população e poucas políticas de equidade e acesso estão inseridas nesse nível de
ensino, corroborando com a baixa presença de pessoas que não são de classes sociais mais
ricas e de grupos étnicos historicamente minoritários (SCHWARTZMAN, 2022;
VENTURINI; FERES JÚNIOR, 2020).
A ciência e pesquisa no Brasil começou a ser desenvolvida no século XIX,
inicialmente por professores/pesquisadores que vinham de outras nações, ou de cientistas
brasileiros que iam realizar sua formação em outros países. Esse sistema ficou em atividade
por um bom tempo, até o incentivo em resposta da Reforma Universitária de 1968, que
estabeleceu um aumento no número de professores doutores nas universidades brasileiras, e
consequentemente, um aumento na oferta de programas de pós-graduação a partir de 1970
(SCHWARTZMAN, 2022). Esse aumento progrediu até apresentar um aumento significativo
a partir dos anos 2000, chegando na marca de 59,6 mil novos mestres e 20,6 mil novos
doutores em 2016, tornando o Brasil como o país com maior número de formação de
doutores, produção científica e pesquisa na América Latina (GAMA E COLOMBO, 2019).
A ciência no Brasil atualmente é realizada principalmente por alunos de programas de
pós-graduação, 80% da pesquisa brasileira está relacionada com a pós-graduação, e está
concentrada nas universidades públicas, principalmente da região sudeste (GAMA E
COLOMBO, 2019; MARTINS, 2019; SCHWARTZMAN, 2022). Contudo, alunos de pós-
graduação não possuem direitos previdenciários apesar de muitos terem que dedicar todo o
seu tempo para pesquisa, os programas de pós-graduação apresentam poucas políticas de
inclusão (VENTURINI; FERES JÚNIOR, 2020), ainda há uma baixa distribuição de
programas de qualidade entre as outras regiões do Brasil (SCHWARTZMAN, 2022), há uma
baixa inclusão de investimento privado e são constantes os cortes de investimento em
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pesquisa e bolsas de pós-graduandos pelos governos (MARTINS, 2019), por esses motivos, é
comum ver pessoas que não entendem a razão de alguém escolher ser cientista no Brasil.
Ainda assim, apesar de todos esses enfrentamentos, o Brasil é o país com maior produção
científica na América Latina e o 14º no mundo (SCHWARTZMAN, 2022).
Existe um consenso entre educadores e governos no mundo de que são necessárias
melhorias durante o processo educacional, para que permitam um número maior de pessoas
interessadas pelas áreas científicas, e melhorias da inclusão de grupos que são pouco
representados nesses ambientes, como mulheres, grupos de minorias étnicos e pessoas de
classes sociais menos privilegiadas, em razão dos grandes benefícios que a ciência pode trazer
para a sociedade (ARCHER et al., 2015). É com esse contexto que buscamos analisar, através
cientistas do Brasil, quais aspectos do capital científico dessas pessoas possam ter sido
importantes para que elas adquirissem interesse em realizar ciência e dessa forma sugerir
pontos a serem mais trabalhados pelos sistemas de ensino durante os anos de educação básica.

3. Objetivo

Descrever aspectos que influenciam o capital científico formado durante os anos


escolares de ensino básico que refletem nas escolhas individuais e podem induzir o interesse
pela ciência. Avaliaremos:

- A importância da estrutura física escolar;

- O uso de material científico ou de divulgação científica pelo programa escolar;

- Influências além da classe (por incentivo de educadores);

- Influências externas (por incentivos familiares e/ou individuais).

4. Material e Métodos

Serão aplicados questionários a pós-graduandos e pós-graduados de cursos stricto


sensu (Mestrado e Doutorado) de todo o Brasil que se consideram cientistas. O questionário
será compartilhado em redes sociais e grupos de WhatsApp a fim de captar o máximo de
participantes possível. O questionário do Google Forms será respondido de forma anônima e
online, composto por perguntas com alternativas e escalas, com respostas que não terão dados
pessoais dos participantes apenas opiniões sobre sua experiência durante os anos escolares e
de graduação.
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O questionário apresentará perguntas sobre a opinião com relação a estrutura física


escolar do participante, contato com conteúdo científico e de divulgação científica, e
incentivo educacional e/ou familiar durante seu ensino básico, que possam ter ajudado com a
decisão de se tornar cientista, além de perguntas para opinarem se o capital científico durante
os anos escolares apresentou influência na formação científica ou se foi apenas a formação
durante sua graduação.
Os dados serão plotados e analisados com o auxílio dos programas Excel Microsoft e
GraphPad Prism v.8. Será considerado estatisticamente significante valores p<0,05.

5. Resultados Esperados
Apesar de já serem descritos na literatura alguns aspectos relacionados ao acesso à
educação superior, a avaliação de aspectos precedentes que influenciam pela escolha da área
científica ainda possui poucos estudos, em boa parte esses estudos avaliam a condição social e
étnica desses indivíduos. É esperado que exista uma relação entre maior capital científico
durante os anos escolares básicos e maior interesse na escolha por realizar ciência, mas este
será um trabalho descritivo de aspectos que possam ser importantes para o desenvolvimento
do capital científico, de acordo com as respostas dos participantes. E dessa forma podem
existir outros aspectos além dos que serão investigados, como o conhecimento adquirido
durante a graduação.

6. Cronograma de Atividades

Atividades Mês
planejadas 09/2023 10/2023 11/2023 12/2023 01/2024 02/2024 03/2024 04/2024 05/2024
Desenvolvimento e
X X
avaliação do projeto
Realização de
X X X
questionários
Análise das respostas X X X
Redação do TCC X X
Redação do TCC X X
Preparação da
X X
apresentação do TCC
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Projeto de Pesquisa; Resultados Preliminares; Entrega do Trabalho de Conclusão de Curso;


Entrega da Apresentação da Defesa

7. Referências Bibliográficas

ARCHER, L.; DAWSON, E.; DEWITT, J.; SEAKINS, A.; WONG, B. “Science capital”: A
conceptual, methodological, and empirical argument for extending bourdieusian
notions of capital beyond the arts. Journal of Research in Science Teaching, vol.
52, no. 7, p. 922–948, 2015.
ARTES, A. Dimensionando As Desigualdades Por Sexo E Cor/Raça Na Pós-Graduação
Brasileira. Educação em Revista, vol. 34, no. 0, p. 1–23, 2018.
BOURDIEU, P. The forms of capital. The Sociology of Economic Life, First Edition, , p.
78–92, 1986.
CLAUSSEN, S.; OSBORNE, J. Bourdieu’s notion of cultural capital and its implications for
the science curriculum. Science Education, vol. 97, no. 1, p. 58–79, 2013.
GAMA E COLOMBO, D. A Desigualdade no Acesso à Pós-Graduação Stricto Sensu
Brasileira: Análise do Perfil dos Ingressantes de Cursos de Mestrado e Doutorado.
[S. l.: s. n.], 2019. p. 241–274.
GIDDENS, A. As consequências da Modernidade. (tradução de Raul Fiker). São Paulo:
Editora da UNESP, 1991.
LORENZETTI, C. S.; RAICIK, A. C.; DAMASIO, F. Divulgação Científica: Para quê? Para
quem? — Pensando sobre a História, Filosofia e Natureza da Ciência em uma
Revisão na Área de Educação Científica no Brasil. Revista Brasileira de Pesquisa
em Educação em Ciências, , p. e29395, 2021.
MARTINS, V. Educação, ciência e tecnologia: como desenvolver o Brasil sem investimento?
Revista Thema, vol. 16, no. 1, p. 1, 2019.
NIEROTKA, R. L.; TREVISOL, J. V. Desigualdades sociais e elitismo da educação superior
brasileira. Ações afirmativas na educação superior: a experiência da
Universidade Federal da Fronteira Sul, , p. 13–39, 2018.
SCHWARTZMAN, S. Pesquisa e Pós-Graduação no Brasil: duas faces da mesma moeda?
Estudos Avançados, vol. 36, no. 104, p. 227–254, Apr. 2022.
SOUZA, E. A. M. de. História da educação no brasil: o elitismo e a exclusão no ensino.
Cadernos de Pedagogia, vol. 12, no. 23, p. 15–33, 2018.
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VENTURINI, A. C.; FERES JÚNIOR, J. Affirmative action policy in graduate studies: The
case of public universities. Cadernos de Pesquisa, vol. 50, no. 177, p. 882–909,
2020.
WATANABE, G.; MUNHOZ, M. G.; KAWAMURA, M. R. Cientistas dialogam com a
escola básica: ações e reflexões para a divulgação científica. e-Boletim da Física,
vol. 5, no. 3, p. 1–6, 2016.

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