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4. CO-ORIENTADOR: 5. DEPARTAMENTO:
1. Introdução
Durante as duas primeiras décadas do século XX, o país vivenciava uma fase
de estruturação da república e emergiram discrepâncias regionais mais
acentuadas, além de uma série de transformações político-sociais que
resultaram em mudanças no panorama da educação (MENDES, 2010, p. 95).
Além disso, conforme a autora referida acima, entre 1937 e 1945, o Brasil passou pelo
Estado Novo, com forte controle estatal em todos os setores sociais, centralização da Educação
e retrocesso na democratização do ensino. Nesse período, “a ênfase na educação como
equalização das oportunidades de ascensão social vai ceder lugar às mensagens patrióticas para
despertar a consciência nacional para a necessidade de centralizar o poder político”
(MENDES, 2010, p. 98).
Ademais, entre as décadas de trinta e quarenta do século XX, várias mudanças no
panorama da educação nacional ocorreram, como, por exemplo, o desenvolvimento do ensino
primário e secundário, a criação do Ministério da Educação e da Saúde, a fundação da
Universidade de São Paulo e o crescimento e reorganização de algumas escolas técnicas e de
magistério. Nesse período, a rede de serviços públicos, apesar de estar praticamente estagnada,
parecia apresentar uma tendência para a privatização, sobretudo por conta do descaso
governamental em relação à educação de pessoas com deficiências (MENDES, 2010). A
autora supracitada ainda complementa que
A referida autora também complementa que, em 1961, foi promulgada a Lei 4.024 de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que deu origem ao Conselho Federal de Educação e
apresentou a expressão “educação de excepcionais”, contemplada em dois artigos (88 e 89). A
esse respeito, Mazzotta (2005) considera que a promulgação dessa lei foi o marco inicial das
ações oficiais do poder público na área de educação especial, que antes se restringiam a
iniciativas regionalizadas e isoladas no contexto da política educacional nacional.
Em 1964, com o golpe militar que instaurou a ditadura, os processos de
desnacionalização da economia, concentração de renda, repressão às manifestações políticas,
êxodo rural, problemas urbanos e empobrecimento da população foram amplificados. Nesse
período, a privatização do ensino foi extremamente difundida, agora já sob a mentalidade
empresarial (MENDES, 2010).
Na década de sessenta, houve grande evolução no número de serviços de assistência e,
no ano de 1969, Jannuzzi (1992) encontrou registros de mais de 800 instituições para pessoas
com deficiência intelectual.
A discussão acerca da terminologia mais adequada para se referir às pessoas com altas
habilidades/superdotação não é recente, sendo possível constatar que há, desde 1924, no Brasil,
discordância acerca dos termos que devem ser adotados. Novaes (1979) aponta um relatório de
Ulisses Pernambucano (1892-1943), no qual este já fazia distinção entre crianças ‘super-
normaes’ e ‘precoces’.
Em 1931, o prefixo ‘super’ foi adotado por Leoni Kaseff – e o referido autor foi
considerado precursor do termo ‘supernormais’, que foi utilizado, conforme Delou (2007), na
legislação estadual do Rio de Janeiro e nas Reformas do Ensino Primário, Profissional e
Normal, por meio das quais se pretendia selecionar os alunos com AH/SD desde as séries
iniciais.
Além disso, a psicóloga russa Helena Antipoff, citada anteriormente, tornou-se
referência fundamental nos estudos das AH/SD, sobretudo ao fundar, em 1938, a Sociedade
Pestalozzi, com o marco da identificação de oito crianças “supernormais”. Com isso, o
atendimento a esses indivíduos ganhou visibilidade (BRANCO et. al., 2017).
A partir da influência de Antipoff, em 1967, o Ministério da Educação e Cultura
(MEC) indicou, por meio da edição de uma portaria já existente, um rol de critérios para que
houvesse a identificação e, consequentemente, a elaboração de ações voltadas para as
especificidades desses alunos (NOVAES, 1979).
Virgolim (2007) também faz uma importante distinção entre as crianças ‘precoces’ e
‘prodígio’, pois essas noções ainda costumam ser muito confundidas. Afirma ela que “são
chamadas de precoces as crianças que apresentam alguma habilidade específica
prematuramente desenvolvida em qualquer área do conhecimento, como na música, na
matemática, nas artes, na linguagem, nos esportes ou na leitura” (p. 23). Para Winner (1998),
as crianças superdotadas são precoces, sobretudo por progredirem mais rápido do que as outras
e por demonstrarem maior facilidade em uma área do conhecimento.
Todavia, Freeman e Guenther (2000) alertam para o fato de que nem todos os adultos
que se destacaram foram crianças precoces. Há múltiplos fatores que interferem na trajetória de
vida de uma criança precoce além do nível de habilidade, entre os quais: os atributos de
personalidade, a motivação em buscar a excelência, o ambiente familiar propício para o
desenvolvimento das habilidades e as oportunidades que aparecerão no decurso de sua vida.
“Além disso, a motivação intrínseca, a curiosidade e a vontade de aprender, fatores essenciais
para um desempenho superior, dependem de um ambiente educacional enriquecido para se
desenvolverem” (VIRGOLIM, 2007, p. 23). O termo ‘prodígio’, por outro lado, é utilizado para
designar a criança precoce que apresenta um alto desempenho, ao nível de um profissional
adulto, em algum campo cognitivo específico (FELDMAN, 1991; MORELOCK; FELDMAN,
2000).
Ademais, em 2001, a Resolução CNE/CEB, nº 2, institui as Diretrizes Nacionais para a
Educação Especial na Educação Básica. Em seu artigo 5º, inciso III, define os educandos com
AH/SD como aqueles que apresentam grande facilidade de aprendizagem, o que faz com que
eles dominem rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes (BRASIL, 2001).
No âmbito do governo federal, foram instituídos, em 2005, os Núcleos de Atividades de
Altas Habilidades/Superdotação (NAAHS) em todos os estados brasileiros, com o objetivo de
atuar em três eixos: aluno, professor e família. “Embora essas ações consistam em vislumbrar
um impacto positivo num país que até esse período não havia promovido nenhuma ação
promissora relativa a esse grupo, os NAAHS não alcançaram grandes avanços, em razão das
condições de implantação de políticas públicas voltadas para essa demanda” (BRANCO et. al.,
2017).
Além disso, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva (BRASIL, 2008) também afirmou que os alunos com AH/SD
2. Objetivos
3. Metodologia
4. Resultados e discussão
Mendonça, Rodrigues e Capellini (2018) realizaram uma triagem com 326 alunos para
identificação de AH/SD. Dentre esses alunos avaliados, 74 apresentaram indicadores de altas
habilidades em dois dos instrumentos, ao menos. Nesse processo, foi utilizado o WISC-III 1 para
confirmar o alto desempenho intelectual desses estudantes.
O WISC-III é composto por 13 subtestes, sendo 12 deles mantidos do WISC-R
e um novo subteste, Procurador de Símbolos, organizados em dois grupos:
Verbais e Perceptivos-motores ou de Execução, que são aplicados nas crianças
em ordem alternadas, ou seja, um subteste de Execução e depois um subteste
verbal e vice-versa. Os Subtestes Verbais são compostos pelos itens:
Informação, Semelhanças, Aritmética, Vocabulário, Compreensão e Dígitos,
enquanto que os subtestes de Execução são formados pelos itens: Completar
Figuras, Código, Arranjo de Figuras, Cubos, Armar Objetos, Procurar
Símbolos e Labirintos. Na elaboração do WISC-III, muitas investigações
foram realizadas (teóricas e empíricas) e, embora tenham sido realizadas
melhoras substanciais e acrescentado importante número de itens novos, as
características fundamentais do WISC e do WISCR mantiveram-se iguais no
WISC-III (CRUZ, 2005).
Diante disso, Mendonça, Rodrigues e Capellini (2018) concluíram que esse instrumento
é adequado ao propósito de confirmar a identificação de alunos com AH/SD e, ainda, de
apontar outros estudantes que precisam de uma observação mais cautelosa: Segundo eles:
“Estes alunos, assim como aqueles identificados de acordo com critérios preestabelecidos,
devem ter seu desempenho monitorado, aumentando a probabilidade de oferecimento de um
currículo diferenciado para ambos os grupos” (MENDONÇA; RODRIGUES, CAPELLINI,
1
“A Escala de Inteligência Wechsler para Crianças (WISC-III) representa a terceira edição da Escala de
Inteligência Wechsler para Crianças (WISC) e tem por finalidade avaliar a capacidade intelectual de crianças” (CRUZ,
2005).
2018, p. 59).
Por meio de uma revisão bibliográfica Oliveira, Rodrigues e Capellini (2020)
observaram que entre sete teses analisadas, a identificação de pessoas com AH/SD foi o tema
mais frequente – presente em quatro das pesquisas –, seguido pela descrição de como
profissionais lidam ou lidaram com o referido público, descrição esta que apareceu em três
estudos. Eles concluem que a maioria das teses sobre AH/SD é proveniente da área de
Educação, sendo que apenas uma pesquisa adveio do programa de Psicologia, e as temáticas
mais frequentes foram a identificação de indivíduos com altas habilidades/superdotação e
percepções dos profissionais acerca desse público.
Remoli e Capellini (2017) constatam que a literatura encontrada se preocupou mais em
mensurar a criatividade de crianças e jovens do que estimulá-la, o que sinaliza a falta de
programas de enriquecimento destinados a estudantes com altas habilidades/superdotação.
Outro fator importante é que “a análise dos artigos desta revisão revela que alunos com AH/SD
são identificados por meio de diversos testes e critérios por diferentes países, assim como não
há padronização na avaliação da criatividade” (REMOLI; CAPELLINI, 2017, p. 466).
No estudo intitulado “Políticas educacionais para estudantes com altas
habilidades/superdotação: um estudo sobre a transversalidade”, Martelli (2017) conclui que os
alunos com AH/SD merecem ter seus direitos garantidos de forma constitucional, pois os
mesmos estão há décadas sendo negligenciados e invisibilizados diante dos gestores públicos,
comparado a outras demandas que compõem o mesmo público da educação especializada.
Destaca ainda que as políticas de educação especial são incluídas de forma genérica, e
contribuem para falta de regras e parâmetros claros para a identificação desses alunos. “As
ações de identificação têm que ser mais frequentes e terem protocolos mais específicos e
padronizados entre os sistemas de ensino, pois esta é uma população que é flagrantemente
subidentificada, principalmente no ambiente escolar” (p. 138). Pois a falta de mecanismos de
identificação padronizado faz com que esse grupo de alunos permaneça sendo invisível e
negligenciado (MARTELLI, 2017).
Veira (2018) descreve que os alunos com altas habilidades/superdotação estão
matriculados em escolas comuns e não possuem um “diagnóstico” como os demais alunos da
Educação Especial, e necessitam de um olhar atento e específico dos professores para que não
evadam da escola, visto que o atendimento e identificação destes alunos está previsto na
legislação e o processo de identificação é a primeira e mais importante tarefa a ser concluída
pela escola. Sendo assim: “[…] o melhor procedimento para se detectar a criança superdotada é
observá-la, escutá-la e senti-la em ação, mas sempre quando esta se dê em um marco de
liberdade” (GERSON; CARRACEDO, 1996, p. 49 apud VIEIRA, 2018, p. 46, grifos dos
autores).
Os métodos utilizados atualmente não contemplam as potencialidades dos alunos. Os
testes psicológicos de inteligência, por exemplo, se baseiam em estatísticas e números, contudo
deixam de investigar áreas importantes como uso do corpo, criatividade, artes, músicas entre
outras (VIEIRA; FREITAS, 2011).
O principal intuito dessa fase de identificação não deve ser baseado em rotular os
alunos, mas sim de oferecer subsídios pedagógicos que os atenda em suas necessidades
educacionais, sociais e emocionais, considerando que o objetivo final é expandi-lo e não limitar
as suas potencialidades. Esse procedimento deve estar registrado no projeto político da escola,
determinando como pode e deve ser feito (VIEIRA, 2018).
O tema sobre identificação dos alunos com AH/SD vem sendo muito debatido dentro da
educação e envolve áreas como: psicopedagogia, sociologia, política e ética, problematizando
questões que supõem que as capacidades humanas devem ser aproveitadas ao máximo, pois
estas são consideradas as maiores riquezas do país. Contudo na área da educação o objetivo de
identificar esses alunos “tem dois propósitos básicos: a construção do conhecimento por meio
de estudos e pesquisas que subsidiem o (re) conhecimento deste grupo social; e a construção de
métodos apropriados para sua intervenção educativa” (COSTA; SANCHES; MARTINEZ, 1997
apud VIERA, 2018, p.97).
De acordo com a Constituição Federal, a qual tem como princípio a igualdade nas
condições de acesso e permanência na educação (BRASIL, 1988, apud BRAZ; RAGNI, 2021),
alunos com altas habilidades/superdotação tem direito ao reconhecimento de suas habilidades e
ao oferecimento de condições para seu desenvolvimento em sala de aula (SABATELLA, 2008,
apud BRAZ; RAGNI, 2021).
Nesta perspectiva, Piske e Stoltz (2020, apud PISKE; STOLTZ, 2021) defendem que a
criança superdotada, ao estar inserida no ensino Waldorf, não deve apresentar grandes
dificuldades, pois o método pedagógico empregado é amplo e procura envolver os sentimentos,
as emoções e também o desenvolvimento cognitivo. Sendo assim, esse método opta por mesclar
a afetividade com a racionalidade, pois “não há desenvolvimento cognitivo eficiente se não for
a partir de uma atitude afetiva, de um ensino que integre a emoção de aprender e realizar o que
é apropriado pelos sentimentos” (PISKE; STOLTZ, 2021, p. 09-10).
Após apresentarem aproximações e distanciamentos entre as teorias de Steiner e
Vygotsky, as autoras finalizam dizendo que “ambas vão ao encontro das necessidades de
estudantes com altas habilidades/superdotação (AH/SD), principalmente quando os autores
ressaltam que a mediação deve ser significativa. O professor, como principal mediador, é
responsável por aguçar nos estudantes o amor ao conhecimento e à vida” (PISKE; STOLTZ,
2021, p. 13).
4.5 Intervenções com pais/responsáveis e professores dos alunos considerados com Altas
habilidades/superdotação
[...] a representação cultural deturpada leva a pensar que o aluno com AH/SD é
uma pessoa rara, que não precisa de nada, que se autoeduca, que somente
existe em classes privilegiadas, que só pode ser o aluno nota 10 na sala de aula
e, principalmente, que não é um aluno com necessidades educacionais
especiais, pois este termo é equivocadamente reservado aos alunos com
deficiência.
Ademais, dentre as professoras ouvidas, 66,66% elencaram as atividades extras que têm
oferecido a esses alunos, tais como exercícios de produção de texto, práticas de leitura e
orientação para pesquisa, e 50% do percentual total disse que sente falta de mais recursos para
trabalhar com esse público em sala de aula (MENDONÇA; RODRIGUES; CAPELLINI, 2020).
Por fim, as autoras apresentam que 50% dessas professoras nunca encaminharam
nenhum aluno com AH/SD para outros serviços, e que o restante pontua que só fez esse
encaminhamento para um projeto de extensão realizado na própria escola, cujo objetivo era a
identificação desses estudantes (MENDONÇA; RODRIGUES; CAPELLINI, 2020).
Diante disso, as autoras concluem que os alunos com AH/SD conhecem pouco sobre
suas habilidades e potencialidades, e normalmente ficam restritos aos conteúdos do currículo
escolar. Portanto, um primeiro passo no enriquecimento curricular consistiria em mostrar a
esses alunos o que existe enquanto possibilidade de desenvolvimento, de modo a ampliar
horizontes e escolhas.
Com relação aos pais, Mendonça, Rodrigues e Capellini (2020) constataram que eles até
identificam que seus filhos são “diferentes” dos demais, mas não têm conhecimento suficiente
para ajudá-los. Sendo assim, esses pais deveriam receber as orientações e informações
necessárias, tornando-se parceiros da equipe pedagógica no processo educacional. Finalmente,
no que concerne aos professores, as referidas autoras destacam a urgência de que estes sejam
devidamente preparados, em sua formação, para identificar e trabalhar com estudantes com
AH/SD.
Por sua vez, Martins, Chacon e Almeida (2020) desenvolveram um estudo comparativo
entre a formação de professores brasileiros e portugueses acerca das altas
habilidades/superdotação. Para tanto, os autores compararam duas universidades públicas:
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), no Brasil, campus de
Marília, e Universidade do Minho (UMinho), em Portugal, campus de Gualtar. Acrescenta-se
que o enfoque foi dado ao ensino de crianças de 3 a 10 anos.
Os objetivos específicos desta pesquisa foram: investigar o conhecimento dos estudantes
acerca da temática altas habilidades/superdotação em curso de formação inicial para
professores; analisar a relação de projetos de pesquisa e extensão com a formação dos
estudantes; e verificar o acervo de produções sobre altas habilidades/superdotação que as
universidades disponibilizam aos seus estudantes (MARTINS; CHACON; ALMEIDA, 2020).
Para realizar essa investigação, foram entrevistadas seis estudantes, todas do sexo feminino,
sendo três de cada instituição.
No que diz respeito aos resultados obtidos, os referidos autores observaram que ambos
os campi investigados têm as AH/SD como um componente curricular presente tanto como
conteúdo disciplinar, quanto em outras fontes de informação, e possuem um docente envolvido
com essa temática (MARTINS; CHACON; ALMEIDA, 2020).
O professor da UMinho se dedica à orientação de pesquisas em nível de mestrado,
doutorado e pós-doutorado; já o docente da UNESP orienta dissertações e teses, ministra
disciplinas de graduação e desenvolve projetos de extensão (MARTINS; CHACON;
ALMEIDA, 2020).
Entretanto, Martins, Chacon e Almeida (2020) observaram que a UMinho possui uma
coleção de materiais bibliográficos sobre AH/SD significativamente mais expressiva, o que se
justifica pelo fato de o docente dessa universidade estar se dedicando há muito mais tempo a
essa temática.
No que concerne ao currículo formal, “não há qualquer referência à sobredotação
durante o curso de Licenciatura em Educação Básica da UMinho (Campus de Gualtar). Embora
tenha a temática como conteúdo de uma de suas disciplinas dos Mestrados em Ensino, esta é
abordada superficialmente, pois se privilegiam os estudos acerca das deficiências” (MARTINS;
CHACON; ALMEIDA, 2020, p. 15).
Em contrapartida, embora a temática das AH/SD não conste explicitamente nos planos
de ensino do curso de Pedagogia da UNESP, o professor desta universidade promove o estudo
dessa necessidade educacional em quaisquer disciplinas ministradas. A esse respeito, os autores
supracitados concluem:
Nesse sentido, os autores ainda destacam que, nos dois casos investigados, as estudantes
expressaram a necessidade de maior presença e profundidade na abordagem dessa temática,
“bem como apresentaram algumas dúvidas e ideias equivocadas acerca das AH/SD, o que
indica a relevância de se incluir a abordagem sistemática deste tema nos currículos”
(MARTINS; CHACON; ALMEIDA, 2020, p. 16).
Ademais, Martins, Chacon e Almeida (2018) já haviam desenvolvido um estudo
comparativo luso-brasileiro anteriormente, com o intuito de analisar os currículos da formação
de professores que atuarão com crianças dos três aos dez anos de idade. Nesse estudo, as
mesmas universidades foram averiguadas, que são, a saber: Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho (UNESP, Campus de Marília) e Universidade do Minho (UMinho,
Campus de Gualtar).
Para tanto, tais autores consultaram o programa de disciplinas da UMinho na página da
web, o que tornou possível reunir os seguintes dados: nome, carga horária, objetivos, resultados
de aprendizagem, programa sucinto e bibliografia essencial de todas as unidades curriculares.
Além do mais, eles solicitaram aos departamentos os programas completos das disciplinas nas
quais houve alguma menção à Educação Especial/Inclusiva. Já com relação à UNESP, que
divulga apenas a matriz curricular do curso, Martins, Chacon e Almeida (2018) fizeram a
seleção a partir dos títulos e solicitaram os programas completos das matérias que se destinam à
Psicologia e à Educação Especial/Inclusiva.
Diante disso, os autores supracitados observaram que, na UNESP (Campus de Marília),
a disciplina Currículo e Necessidades Educacionais Especiais, com 75 horas de aulas teórico-
práticas, não discrimina quais são as NEE abordadas. Porém, “como as AH/SD estão entre os
componentes presentes nos referenciais bibliográficos utilizados, infere-se que o assunto é
abordado” (MARTINS; CHACON; ALMEIDA, 2018). Além do mais, o curso de Pedagogia
oferece quatro outras disciplinas obrigatórias sobre a Educação Especial/Inclusiva, e um núcleo
de aprofundamento em estudos de Educação Especial (opcional).
Já na UMinho (Campus de Gualtar), está presente a unidade curricular Inclusão e
Necessidades Especiais, com 45 horas de atividades teóricas e práticas, que menciona
claramente a sobredotação entre seus conteúdos. “Sendo esta a única disciplina destinada
especificamente à Educação Especial/Inclusiva, depreende-se que o tempo empregado no
estudo da sobredotação não seja suficiente para promover o aprofundamento desejável”
(MARTINS; CHACON; ALMEIDA, 2018, p. 322).
A esse respeito, os referidos autores concluem que:
As possibilidades da instituição de Ensino Superior em proporcionar os
conhecimentos necessários acerca dessa temática, em profundidade, perpassam
pela questão da autonomia pedagógica universitária e, ainda, pela sensibilidade
dos acadêmicos ao tema. Essa sensibilidade nem sempre é suficiente,
permanecendo a percepção de que, sem formação adequada, os professores
continuarão deficitários na identificação e na atenção educativa diferenciada a
estes alunos, colocando-se em causa a implementação da “escola inclusiva” (p.
322).
5. Considerações Finais
Com o objetivo de averiguar, em produções acadêmico-científicas brasileiras publicadas
nos últimos cinco anos (2017-2021), de que maneira o atendimento aos alunos considerados
pessoas com Altas Habilidades/Superdotação têm sido desenvolvido na modalidade de ensino
da Educação Especial, este estudo traz como considerações aspectos gerais ligados aos estudos
selecionados na revisão bibliográfica.
A partir dos contextos expostos nos estudos realizados sobre a temática das AH/SD foi
possível concluir que, os estudos elaborados sobre esse relevante tema, se referem em geral a
assuntos relacionados ao processo de identificação dos alunos com AH/SD, e a forma como os
profissionais lidam com essa temática sendo grande parte dessas pesquisas realizadas na área da
Educação, e algumas na área da Psicologia.
Em relação ao processo de identificação dos alunos, pode-se averiguar que existe falta
de instrumentos padronizados para identificação, e que os estes, em sua maioria, não
contemplam as potencialidades do aluno, valorizando por sua vez, apenas áreas relacionadas a
inteligência, deixando de lado áreas importantes como uso dos corpos, artes entre outras. O
processo de identificação dos alunos é a primeira e mais importante tarefa da escola, para que
os alunos com AH/SD não sejam invisibilizados ou mesmo subnotificados, contudo, é
importante enfatizar que esse processo não tem a intenção de limitar ou de rotular o aluno, mas
sim, criar subsídios educacionais, emocionais e sociais, com o objetivo principal de expandi-lo.
A literatura encontrada também denota a falta de programas de enriquecimento dos
alunos com AH/SD na escola, e onde estes foram realizados observou- se que houve uma
preocupação maior em mensurar a criatividade das crianças do que em estimulá-las. Os estudos
também apontaram que quando o processo de enriquecimento dos alunos é bem executado pela
escola, estes apresentam aumento do seu repertório de conhecimento e estímulo para as
novidades. Os autores também recomendam que nos casos em que não for possível realizar o
processo de identificação dos alunos com AH/SD, o ideal é que a prática de proposta de
enriquecimento pedagógico seja ofertada a todos.
Outro ponto destacado foi que frequentemente os alunos com AH/SD possuem
dificuldades comportamentais, emocionais e sociais que podem estar relacionados a riscos de
depressão, ansiedade e suicídio. Eventualmente, também são considerados maus alunos, devido
a baixas notas e queixas escolares, pois para eles as aulas se tornam monótonas e repetitivas. A
explicação é que esses alunos apresentam uma velocidade de aprendizagem diferente dos seus
pares, e isso faz com que eles tenham interesse em outros assuntos, gerando prejuízo nos
relacionamentos interpessoais. Assim sendo, a escola e os professores desempenham um papel
fundamental, no sentido de propor práticas que desafiem o comportamento dos alunos
considerados superdotados e que promovam o seu desenvolvimento.
Nos estudos relacionados ao desenvolvimento da interação entre as áreas cognitivas e
afetivas do aluno, a abordagem sociointeracionista de Vygotsky foi citada como de suma
importância para o desenvolvimento do sujeito social e suas atividades humanas, dado que esse
processo realizado dentro do âmbito escolar permite e instiga o desejo de aprender e a
curiosidade do aluno. Nesse sentido, a mediação do professor é fundamental, pois segundo
Waldorf, não há um ensino cognitivo eficiente sem que haja interação entre as emoções do
aluno.
Foram encontrados estudos que apontam que o trabalho realizado com as habilidades
sociais do aluno trouxeram resultados significativos em relação às responsabilidades dos pais e
em relação ao comportamento dos mesmo como: autocontrole, assertividade/desenvoltura
social, cooperação/afetividade e competência. Esse contexto evidencia, portanto, a importância
do desenvolvimento dessas habilidades, para que estes alunos não se sintam desanimados e
desajustados em relação aos demais. Tais resultados corroboram o quão importante é a
participação contínua da família e da escola no processo pedagógico, para que possa encontrar
ferramentas que subsidiem o processo educativo, emocional e social do aluno.
Em termos quantitativos, os dados dos últimos censos escolares apontam que houve um
aumento de matrículas de alunos com AH/SD, em especial no período do ensino médio. Nos
dados coletados do Inep (2019) os alunos de 4 a 17 anos, referente à Meta 4 do PNE, que trata
dos alunos com deficiência, transtornos do espectro autista ou altas habilidades/superdotação.
Conclui-se que houve um aumento das matrículas nas escolas comuns, entretanto, o número de
alunos da educação especial que frequentam as escolas comuns e acessam o AEE, ainda é
baixo, representando apenas 40% desses alunos.
Em relação aos alunos considerados superdotados no ensino superior foi verificado que
há poucas pesquisas elaboradas sobre esse tema, e as que foram concluídas apresentam um
grupo pequeno para comparação e falhas em relação ao método. Verificou-se ainda que os
serviços mais frequentes oferecidos aos alunos AH/SD são as salas de Recursos
Multifuncionais (SRM) e os Núcleos de Atividades para Altas Habilidades/Superdotação
(NAAH/S), os quais não preveem atendimento para os alunos do ensino superior.
Referências
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______. Métodos e técnicas de pesquisa social (6ª Ed.). São Paulo: Atlas, 2008.
_________, A. S. Educação não é privilégio. 4ª ed. São Paulo: Editora Nacional, 1977.
8 COMPROVANTE DE APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA
EM EVENTOS CIENTÍFICOS (Se houve premiação, informar o evento, a
classificação e anexar comprovante).