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1 GLAT, R.; MASCARO, C. A.; PINHEIRO, V.C. S. A Educação Inclusiva nas políticas públicas brasileiras.
Texto elaborado para a Disciplina Educação Inclusiva e Cotidiano Escolar. Curso de Pedagogi a.
Faculdade de Educação, UERJ, revisado e atualizado em 2021.
2 Promovida pelo Banco Mundial, a Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a
Cultura (UNESCO), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e o Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a conferência teve a participação de representantes de 155
países.
3 Nesta conferência, as nações mais pobres e populosas do mundo reiteraram os compromissos
assumidos em Jomtien. Para tal, deveriam redobrar os esforços para assegurar a todas as crianças,
jovens e adultos, até o ano 2000, conteúdos mínimos de aprendizagem considerados elementares
Conferência Mundial sobre Necessidades Educacionais Especiais: Acesso e Acessibilidade, em
Salamanca, na Espanha, em 19944.
A Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994), produto desta conferência, da qual o
Brasil é signatário, reafirmou o direito à educação de todos os indivíduos, como consta na
Declaração dos Direitos dos Homens de 1948, e propôs linhas de ação para o
desenvolvimento da Educação Especial, nos marcos do conceito de “Educação para a
Diversidade” e atenção às necessidades educacionais especiais de cada aluno.
Desde então, o sistema educacional brasileiro, nos seus três níveis (federal, estadual
e municipal), vem sofrendo constantes reformas para assegurar o ingresso, permanência na
escola e aprendizagem de todos os alunos. Tais reformas instituíram, entre outras medidas,
a obrigatoriedade de matrícula, a idade de ingresso, a duração dos níveis de ensino, os
processos nacionais de avaliação do rendimento escolar, as diretrizes curriculares
nacionais, bem como definições para a escolarização dos alunos com necessidades
educacionais especiais.
A Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), no inciso III do artigo 208,
estabelece que o atendimento educacional especializado “aos portadores de deficiências”
deve se dar “preferencialmente na rede regular de ensino”. Esse preceito foi reafirmado no
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), promulgado em 1990 (BRASIL, 1990) e na
Política Nacional de Educação Especial (BRASIL,1994). Este documento, em suas diretrizes,
destacava o apoio ao sistema regular de ensino para inserção de alunos com deficiências,
priorizando o financiamento de projetos institucionais que envolvessem ações de
integração5. Os princípios legais também foram reafirmados na Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional – LDB - Lei nº 9.394/96 (BRASIL, 1996) e nas Diretrizes Nacionais para
Educação Especial na Educação Básica- Resolução CNE/CEB Nº. 2 de 2001 (BRASIL, 2001),
as quais dispõem sobre a organização dos sistemas de ensino e a formação de professores.
Pode-se considerar, então, que no início do século XXI a Educação Inclusiva efetivou-
se como política educacional oficial do país, amparada pela legislação em vigor e convertida
em diretrizes para a Educação Básica dos sistemas federal, estaduais e municipais de ensino.
Conforme delibera a já citada Resolução CNE/CEB Nº. 2 de 2001:
6 Esse termo foi alterado em 2013 pelo Manual do Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais V
da Associação Americana de Psiquiatria, para” Transtorno do Espectro Autista.
7 FUNDEB é o Fundo da Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
8 Em linhas gerais trata da articulação de políticas, programas e ações necessárias para a garantia do
“exercício pleno e equitativo dos direitos das pessoas com deficiência” Para tal, entre outros aspectos,
são apontados os eixos de atuação aos quais as ações governamentais estarão voltadas a fim de
garantir o exercício dos principais direitos humanos para uma vida dignidade: I - acesso à educação;
II - atenção à saúde; III - inclusão social; e IV - acessibilidade.
habilidades ou superdotação, o acesso à educação básica e ao atendimento
educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino,
com a garantia de sistema educacional inclusivo, de salas de recursos
multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou
conveniados.
um grupo de trabalho com representantes de várias universidades, inclusive a Uerj, para sua revisão,
sociais, causou uma grande polêmica e manifestações de toda ordem. Para muitos
especialistas e membros de associações para defesa das pessoas com deficiência
representou um retrocesso na medida em que viola os princípios da Educação Inclusiva,
deixando sob responsabilidade da família a escolha de em qual instituição matricular as
crianças e adolescentes.
Entre outros aspectos, a maior preocupação foi que o decreto abriu a possibilidade
de as escolas comuns voltarem a recusar matrícula de alunos com deficiências, alegando
que seriam melhor atendidos em escolas ou classes especializadas. Conforme discutimos
nas aulas anteriores, a escola é para todos. Não é o aluno que tem que se adaptar à escola, é
a escola que tem que se transformar para atender a todos os alunos.
A prioridade de matrícula tem que ser nas escolas
comuns, senão a escola pode dizer ‘vai para a escola
especial, eu não tenho condições de lhe atender’, e os
pais vão continuar batendo de porta em porta para
que alguém possa receber os seus filhos. Isso exime a
escola de se transformar, de qualificar seus
professores e de flexibilizar seu currículo. Quando
você flexibiliza as práticas pedagógicas, a forma de
ensinar e de avaliar, não é só o aluno com deficiência
que se beneficia, todos os outros alunos também. As
crianças aprendem vivendo a diversidade (GLAT,
2020)12.
Por estes e outros motivos, uma liminar do Ministro Dias Toffoli do Supremo
Tribunal Federal (STF), ratificada em plenário em dezembro de 2020, suspendeu o referido
decreto. A liminar, mantida pelo STF por nove votos a dois, considera que a nova política
proposta traria ainda mais discriminação e segregação aos alunos com deficiência, violando
o direito a uma educação inclusiva13.
com base em nas experiencias e pesquisas realizadas nos dez anos desde sua implementação. A nova
Política proposta pelo Governo Bolsonaro, entretanto, não levou em consideração esta iniciativa.
Referências
BRASIL. Lei nº 13.146 de 06 de julho de 2015. Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência - Estatuto da Pessoa com Deficiência. Brasília. 2015.
ONU, Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Organização das Nações
Unidas, 2007.