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O Cristão, a sociedade e a justiça

Mq 6:8

Estamos em 2022, ano bastante conturbado para a nação e para o mundo como um
todo, e não é somente por conta das eleições. Discussões sobre a justiça em meio a
um mundo onde atualmente temos em alta assuntos como as liberdades individuais,
guerras, limites da liberdade de expressão, confiabilidade da ciência, corrupção e etc
emergem nos mais diversos ambientes. Automaticamente, muitos de nós procuram em
pessoas de referência um direcionamento sábio para ouvir, seguir e reproduzir, e
também podermos efetivamente tomar nosso local de ação e posicionamento nessas
questões. Entretanto, algumas perguntas começam a surgir e acredito que são válidas
de fazê-las a nós mesmos. Por sermos cristãos, assumimos automaticamente o
posicionamento de que devemos adentrar em todas essas questões, e muitas das vezes
entendemos que nós temos que ser o real parâmetro de sensatez para a humanidade, e
portanto devemos consequentemente dominar em todas as esferas de discussão, “para
que o mundo assim veja como realmente devemos pensar e agir”. Acreditamos que
nós somos os modelos perfeitos que trarão a esperança divina para toda a Terra, “pois
somos as cópias de Jesus”. Entretanto, quem verdadeiramente somos nós diante de
Deus?

Nós estamos profundamente sedentos pela necessidade de combater as injustiças e


sermos os agentes de mudança de uma geração. Os jovens da geração Z
principalmente, dos quais faço parte. Infelizmente, surge em nós uma dicotomização:
de um lado está o evangelho da doutrina, e do outro a busca prática da justiça na Terra.
Alguns defendem um lado, outros o outro, e iniciam-se as discussões sobre o nosso
lugar no mundo e na igreja, e consequentemente, muitos estão dispostos a negociar as
verdades do evangelho para defender as suas próprias visões político-sociais. A
verdade é que existe em nós um verdadeiro desequilíbrio, e nessa gangorra interior o
lado que tem perdido força cada vez mais é o da verdade do Evangelho. Abramos em
Malaquias 6, verso 8:

“Ele já mostrou a você o que é bom; e o que o Senhor pede de você? Que pratique a
justiça, ame a misericórdia e ande humildemente com o seu Deus.”
(NAA)

O mandamento que deve servir para nós como meio de entendimento do que devemos
ser/fazer em meio ao mundo que vivemos é este: imitar o Senhor, sendo justo(ética),
demonstrando a misericórdia perdoando e exaltando (social), e nos submetendo de
maneira alegre e humilde à vontade divina, assim como Jesus, o fez!
Jamais haverá para nós outra saída ou solução, porque a verdadeira raiz de toda
injustiça que existe no mundo não poderá ser resolvida com nossas teorias
sociopolíticas: ela é o pecado e somente o Senhor é capaz de nos livrar de tal
condição. Portanto a raiz de toda nossa luta parte do evangelho das boas-novas, e não
das nossas concepções humanas somente.

A justiça flui ferozmente das escritas como uma característica inata e parte do caráter
perfeito do Deus Trino Soberano. Leiamos os trechos de Salmo 116.5, Salmo 89.9, e
Sofonias 3.5

“Compassivo e justo é o Senhor ; o nosso Deus é misericordioso.”


Salmos 116:5

“O teu braço é poderoso; forte é a tua mão, e elevada é a tua mão direita.
Justiça e direito são o fundamento do teu trono; graça e verdade te precedem.
Bem-aventurado o povo que conhece os gritos de alegria, que anda, ó Senhor , na luz
da tua presença.”
Salmos 89:13-15

“O Senhor é justo, no meio da cidade; ele não comete injustiça. Manhã após manhã,
ele traz o seu juízo à luz; não falha. Mas o injusto não sabe o que é vergonha.”
Sofonias 3:5

Como parte do caráter de Deus, nós, chamados de seu povo, consequentemente


devemos carregar em nós as mesmas marcas do Deus Soberano, aquele a quem
adoramos. O Deus que odeia a impiedade e também os que a praticam(Pv 3.31, Sm
11.5) é quem nos exorta diversas vezes a caminharmos em justiça.

— Não espalhe notícias falsas e não entre em acordo com o ímpio, para ser
testemunha maldosa. Não siga a multidão para fazer o mal e, num processo, não
deponha com a maioria, para torcer a justiça. Não seja parcial nem mesmo com o
pobre nas suas demandas.
— Se você encontrar desgarrado o boi ou o jumento do seu inimigo, leve-o sem falta
de volta para ele. Se você vir prostrado debaixo da sua carga o jumento daquele que
odeia você, não o abandone, mas ajude o dono a erguer o animal.
— Não perverta o direito do pobre que vem até você com a sua causa.
Fique longe da falsa acusação. Não mate o inocente e o justo, porque não justificarei
o ímpio. Não aceite suborno, porque o suborno cega até o perspicaz e perverte as
palavras dos justos.
— Não oprima o estrangeiro; vocês sabem o que é ser estrangeiro, pois foram
estrangeiros na terra do Egito.
Êxodo 23:1-9

E dize: Ouve a palavra do Senhor, ó rei de Judá, que te assentas no trono de Davi, tu,
e os teus servos, o teu povo, que entrais por estas portas.
Assim diz o Senhor: Exercei o juízo e a justiça, e livrai o espoliado da mão do
opressor; e não oprimais ao estrangeiro, nem ao órfão, nem à viúva; não façais
violência, nem derrameis sangue inocente neste lugar.
Porque, se deveras cumprirdes esta palavra, entrarão pelas portas desta casa os reis
que se assentarão em lugar de Davi sobre o seu trono, andando em carros e montados
em cavalos, eles, e os seus servos, e o seu povo.
Mas, se não derdes ouvidos a estas palavras, por mim mesmo tenho jurado, diz o
Senhor, que esta casa se tornará em assolação.
Jeremias 22:2-5

Andar humildemente com Deus nos levará consequentemente até a sede de praticar a
justiça. Se reconhecermos honestamente tanto nossa fraqueza quanto a grandeza de
Deus, desejaremos dar esperança e ajudar os outros. Nós vamos querer amar os que
nos cercam. E amar quem nos cerca significa satisfazer suas necessidades físicas
enquanto reconhecemos que sua necessidade mais importante é decididamente
espiritual. Eles estão mortos e precisam de vida. Precisamos de justiça operada a partir
do amor do evangelho, pois é foi assim que Cristo, o nosso modelo, o fez!

O cidadão do céu, ainda que lá não esteja agora, deve ser um embaixador do Reino
Celeste e assim deve viver aqui na terra. Leia-mos o Salmo 15.

Jesus não ignorou o sofrimento físico das pessoas, mas ele priorizou seu sofrimento
eterno. Não foi uma ou outra (não houve falsa dicotomia); foram as duas. Como John
Piper disse, “os cristãos devem se preocupar com todo o sofrimento, especialmente o
sofrimento eterno”. Foi o que Jesus fez. Ele se importava com o sofrimento e seu
amor radical pelas pessoas que o levava à ação.

Se os cristãos da Geração Z realmente querem mudar o mundo, precisamos viver


como Jesus, amar como Jesus e servir como Jesus. E se quisermos fazer a diferença
para a eternidade, também devemos agir – priorizar o evangelho à medida que
buscamos a justiça.
*** Citar William Wilberforce, Hannah Moore e Dietrich Bonhoeffer.

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