Ano 03

Nº 17
Dez. 2023

Avanços na Descarbonização:
medicina nuclear só se fala nisso
Teranóstico vai muito além Entenda onde, como e por que
do diagnóstico ela é a bola da vez

Frente Parlamentar
apresenta programa
de desenvolvimento
Deputado Julio Lopes confirma
que SMRs estão contemplados

Entrevista com
Alexandre Silveira
Ministro de Minas e Energia conta os planos do
governo para o nuclear

anos
anos Ano 03
Nº 17
Dez. 2023
Expediente
PRESIDENTE Conexão Nuclear é uma publicação
Celso Cunha da ABDAN Sumário
VICE–PRESIDENTE EDITORA
Ivan Alexandrovich Dybov Juliana Costa dos Santos - 0042392/RJ

12
VICE-PRESIDENTE REPORTAGEM
Paulo Coelho Larissa Haddock Lobo - 0042346/RJ CAPA
Juliana Costa dos Santos - 0042392/RJ Entrevista com Alexandre Silveira
VICE-PRESIDENTE Ministro de Minas e Energias compartilha posição
Fabrício Diel GERÊNCIA DE MARKETING E COMUNICAÇÃO de governo atual para o futuro do nuclear no Brasil
Cristiane Pereira

04 18
VICE-PRESIDENTE
Alexandre Honaiser GERÊNCIA DE DESIGN Editorial Teranóstico
Lucas do M. N. Cunha O foco é a Abordagem inovadora
DIRETOR TÉCNICO descarbonização utiliza técnicas

05
Leonam dos Santos Guimarães PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO combinadas de
Roman Atamanczuk
Descarbonização diagnóstico e terapia
no Brasil

20
CONSELHO CONSULTIVO
PRESIDENTE INFOGRAFIA Desafios e oportunidades Nuclear Legacy

07
Leonam dos Santos Guimarães Lucas Gomes Acompanhe a cobertura
VICE-PRESIDENTE
Térmicas a carvão do evento e conheça os
Rafael Madke FOTO DE CAPA
e SMRs premiados deste ano
Hora de minimizar os

22
MEMBROS Fernanda Coutinho
Nathanael Robson Albuquerque da Mota impactos socioambientais Projeto PX2 Amaná
Saiba mais sobre o

09
Luiz Celso Oliveira EDIÇÃO E REVISÃO DE TEXTO
Carlos Henrique Silva Seixas Kelli Gonçalves
Descomissionamento vencedor do Hachapower,
Newton Costa de usinas o hackathon da energia
Stephen McKinney Um passo a passo do nuclear 2023
processo na íntegra

23
Amazul, Fundação PATRIA

14
Congresso recebe novo e CNEN
programa nuclear do Parceria envolve Reator
ABDAN setor Multipropósito Brasileiro
Os detalhes são

24
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA PARA
DESENVOLVIMENTO DE ATIVIDADES NUCLEARES compartilhados pelo Rosatom
AV. RIO BRANCO, 122, 16º ANDAR - CENTRO Deputado Julio Lopes Cooperação internacional
em medicina nuclear

16
RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL
CEP: 20.040-001 Novidades no consultório
+55 (21) 2262-6587 Sociedade Brasileira de
WWW.ABDAN.ORG.BR Medicina Nuclear revela
cenário e novidades do
SUGESTÕES E DÚVIDAS setor
ABDAN@ABDAN.ORG.BR

WWW.ABDAN.ORG.BR 3
 EDITORIAL
PRECISAMOS FALAR
DE DESCARBONIZAÇÃO
Olá, leitores,
Quero compartilhar com vocês um bastidor interessan-
te na elaboração desta edição da Conexão Nuclear. Como
sempre, em conjunto com minha equipe definimos as pau-
tas e os entrevistados que serão contemplados em cada
matéria; e eu, particularmente, decido sobre o tema que
abordarei no Editorial. Trata-se de um espaço em que tra-
go uma visão geral sobre a publicação e o status atual do
setor, além de uma pitada de opinião.
Tínhamos um tema selecionado – não vou dar spoiler
porque pretendo abordá-lo em breve -, mas o setor nos
mostrou que a demanda era ainda maior pelo assunto des-
carbonização. Sim, se faz urgente abrir mais e mais espaço
para debatermos como o Brasil encaminhará essa questão.
Com tanta competência acadêmica, científica e empresa-
rial, não podemos mais uma vez ficar refém de decisões
arbitrárias ou políticas.
A preocupação com as mudanças climáticas está cada
vez maior, e a busca por formas mais sustentáveis de pro-
duzir energia no Brasil e no mundo está se tornando uma
4 Conexão Nuclear | NÚMERO 17 | DEZEMBRO 2023
MATÉRIA
DESAFIOS E OPORTUNIDADES
DA DESCARBONIZAÇÃO
NO BRASIL
DESCARBONIZAÇÃO DEVE COMO O SETOR NUCLEAR EXERCE PAPEL VITAL NESTE PROCESSO?
CONTINUAR PAUTANDO
A busca por alternativas mais sustentáveis na ma- Celso Cunha, presidente da Associação Brasilei-
ESTUDOS, DISCUSSÕES E triz energética do Brasil ganha destaque em meio ra para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares
EVENTOS EM 2024. à crescente preocupação com as mudanças climáti- (ABDAN), destaca a importância de uma abordagem
cas. Nesse contexto, a descarbonização surge como responsável e equilibrada nesse processo de transi-
um desafio multifacetado que envolve também im- ção. “Precisamos respeitar o meio ambiente e utili-
pactos socioeconômicos profundos. Nesta linha, o zar tecnologias que gerem o menor impacto ou im-
prioridade. Nesse contexto, a descarbonização se apresen- país tem um desafio: alcançar o “Net zero”, que é o pacto zero. É necessário descarbonizar a indústria.
ta como um desafio complexo, que não envolve apenas a compromisso de zerar as emissões de gases de efei- E a pergunta que temos que fazer é ‘como o setor
mudança da forma como produzimos energia, mas também to estufa na atmosfera a fim de frear o aquecimento nuclear pode ajudar nisso?’.” A resposta é simples,
traz impactos econômicos e sociais significativos. global. Porém a promessa se torna ainda mais desa- segundo ele, o país precisa focar nos grandes con-
Durante o Nuclear 360°, que a ABDAN realizou em par- fiadora ao Brasil quando o prazo estipulado é 2050. sumidores, principalmente as siderúrgicas. “Atual-
ceria com a SEENEMAR (Secretaria de Energia e Economia Por isso, de acordo com especialistas, o objetivo mente, o Brasil mantém oito usinas termelétricas a
do Mar do Rio de Janeiro), pudemos discutir sobre quem, é incentivar a descarbonização do carvão por meio carvão, totalizando cerca de 30 geradores. O impac-
onde, como, por que e quais motivos a devemos avançar de tecnologias de captura de CO2. O Brasil, que já to socioeconômico dessas usinas é significativo, já
na descarbonização da nossa matriz energética e da nos- se destaca por ter uma das matrizes elétricas mais que elas empregam muitos trabalhadores e são es-
sa indústria, produzindo aço verde, alumínio verde, entre limpas do mundo, com mais de 85% de sua ener- senciais para o fornecimento de energia em diversas
outros tantos. gia proveniente de fontes renováveis, precisa avan- regiões do país”, ressalta.
Entra em cena, então, as estrelas do show, os SMRs. Po- çar nesse caminho rumo à sustentabilidade, agora
demos firmar parcerias com empresas privadas nacionais e olhando para a matriz energética, que ainda está ASSUNTO EM PAUTA
internacionais e avançar na produção destes reatores. Atra- muito poluída, afirmam fontes do setor. A ABDAN como uma das principais entidades do
vés da Nuclep e da INB conseguiremos garantir a participa-
ção neste processo que o mundo iniciou. Temos a oportuni-
dade de ser um dos grandes fornecedores de combustível
para o mundo e produtores de SMRs. Este é o caminho para
o protagonismo que o país merece ter no segmento nuclear.
E são muitas as aplicações e os benefícios que essa po-
sição de protagonismo trará ao Brasil na medida que ex-
pandirmos os investimentos e parcerias no nuclear. Nas pá-
ginas a seguir, vocês poderão ficar por dentro de algumas
delas, como o texto que aborda o teranóstico. Há também
uma matéria bastante didática sobre os desafios e oportu-
nidades da descarbonização e a excelente entrevista com o
Ministro Alexandre Silveira, na qual conhecerão os planos
efetivos do governo atual nessa área.
Dito isso, convido vocês a desfrutarem de tudo o que
selecionamos para esta edição. Que seja uma leitura es-
clarecedora e estimulante. E em nome da ABDAN, desejo
a todos Boas Festas e um 2024 com paz, saúde e avanços
consistentes! E que venham os próximos passos na tão ne-
cessária descarbonização!
WWW.ABDAN.ORG.BR 5
 MATÉRIA
setor, tem fomentado a discussão do tema, como em ou-
tubro, com o “Nuclear 360°”, workshop sobre a descarbo-
nização da indústria através dos SMRs. O evento, em par-
ceria com a SEENEMAR (Secretaria de Energia e Economia
do Mar do Rio de Janeiro), trouxe como pauta também o
hidrogênio de baixo carbono e o aço verde neste processo
de descarbonização. Um dos desafios dessa transição é a
diversidade (geográfica e de status operacional) das usi-
nas termelétricas a carvão no país, reconhece Celso Cunha.
Algumas delas estão localizadas no Nordeste e dependem
de importações para operar. “Fechar essas usinas pode ser
mais fácil em comparação com aquelas que estão integra-
das localmente”, alerta.
De acordo com especialistas, a energia nuclear surge
como uma alternativa promissora. Ela tem características
ímpares por apresentar como vantagem ambiental a não
utilização de combustíveis fósseis sem captura de gases
(que provocam o aquecimento global e prejudicam o meio
ambiente), gerar energia de forma contínua, sem depen-
dência das condições ambientais, e ter grande densidade
energética, ocupando espaços mínimos em relação à ener-
gia total gerada. A energia nuclear é uma fonte confiável
e estável, que pode fornecer eletricidade 24 horas por dia,
7 dias por semana, independentemente das condições cli-
máticas. Isso é especialmente importante em um cenário
de alta demanda por eletricidade, como o aumento do uso
de veículos elétricos.
Hugo Leal, Secretário da SEENEMAR fez questão de
relembrar as vantagens naturais que o Brasil e o Rio de
Janeiro possuem, garantindo assim uma matriz diver-
sificada: “Somos privilegiados com a matriz elétrica e
energética que temos. Por isso estamos aqui trabalhan-
do para levar essa discussão (da descarbonização) para
dentro do Parlamento. O nuclear precisa estar no cen-
tro, como uma matriz de origem limpa. No processo de
descarbonização esta fonte desempenha um papel fun-
damental. A nossa responsabilidade é quebrar alguns
preconceitos e desmistificar a energia nuclear”. O pre-
sidente da ABDAN endossa: “o Rio de Janeiro é a capi-
tal do nuclear”.
O secretário de energia e parlamentar em Brasília des-
taca uma tendência internacional relevante para o Brasil:
os “small reactors” ou pequenos reatores nucleares. “Quan-
do você começa a discussão dos SMRs a perspectiva e pos-
sibilidades são muito maiores.” Um projeto piloto nesse
sentido já está em andamento em Santa Catarina, com a
empresa Diamante Energia. A ideia é utilizar a energia nu-
clear para a descarbonização e aproveitar o calor gerado
para as indústrias, como a siderúrgica, tornando a produ-
ção de energia mais limpa e estável. O Complexo Termelé-
trico Jorge Lacerda é uma importante fonte de energia elé-
6 Conexão Nuclear | NÚMERO 17 | DEZEMBRO 2023
trica para Santa Catarina e é o maior movido a carvão da
América Latina.
COMO ACELERAR O PROCESSO
Também presente ao “Nuclear 360°”, o executivo do setor
nuclear, Carlos Leipner, relembra que esta não é a primei-
ra transição energética que enfrentamos. “Essa é a quar-
ta transição que o mundo passa e envolve fontes renová-
veis em que a nuclear também está presente. Até quando
vamos ficar discutindo isso? Quando falamos que quere-
mos o ‘Net zero’ até 2050, isso é um desafio enorme, prin-
cipalmente em termos de tempo. O que podemos fazer
para acelerar? Essa é a grande questão. Quando falamos
de transição, falamos muito de eletricidade, mas temos
que lembrar que esse segmento, é somente 20% da ma-
triz energética global. Precisamos descarbonizar também
os demais segmentos, que são os mais críticos, principal-
mente o industrial.”
Hoje há 427 operadores nucleares no mundo e 57 em
construção. “O setor continua crescendo, embora devagar,
visto a necessidade de descarbonizar a matriz global”, re-
força Leipner. Atualmente, Estados Unidos, China e França
dominam o segmento. Ele mais uma vez salienta as van-
tagens do investimento nos SMRs. “O hidrogênio é visto
como vetor de descarbonização. O nuclear pode facilitar
a produção de hidrogênio limpo de baixo carbono para o
mundo; é a fonte que usa o menor espaço, comparado com
outras. Acredito que o setor industrial está cada vez mais
buscando esses caminhos e vendo o nuclear como alterna-
tiva para isso”, finaliza Leipner.
FRANÇA UM GRANDE EXEMPLO
A França, um grande exemplo na corrida pela descarbo-
nização, tem mostrado ao mundo como é possível trans-
formar a matriz energética de forma eficiente e susten-
tável. A atuação da Framatone nesse processo merece
destaque, sendo um farol de inspiração para o Brasil.
Nas palavras do diretor Alexandre Honaiser, “a descar-
bonização da produção de energia é uma missão que
demanda a ‘eletrificação’ do consumo de combustíveis
fósseis, bem como a descarbonização da produção por
meio de fontes renováveis e energia nuclear. A energia
nuclear se destaca como a única fonte de baixo carbo-
no que oferece eletricidade firme, segura e competitiva.
Graças à inovação e à oferta de produtos e serviços que
ampliam a vida operacional das centrais nucleares, a
Framatome possibilita aos seus clientes manter a gera-
ção de energia com baixas emissões de carbono - reco-
nhecendo a importância da energia nuclear como peça
fundamental na busca por metas de redução de emissões
de carbono ao redor do mundo”.
MATÉRIA
TÉRMICAS A CARVÃO
E SMRS: MINIMIZANDO
OS IMPACTOS
SOCIOAMBIENTAIS
O CUSTO DA ENERGIA GERADA PELO SMR SE MOSTRA MUITO COMPETITIVO
A descarbonização do Brasil não se resume apenas a mudar
a forma como produzimos energia. É um processo complexo
que impacta diretamente a vida das pessoas e a economia
do país. Para enfrentar esse desafio, precisamos conside-
rar cuidadosamente todas as opções disponíveis, inclusive
a utilização de pequenos reatores nucleares como uma pos-
sível solução para uma transição suave e sustentável. Essa
é uma questão importante que requer responsabilidade, es-
tudos aprofundados e um diálogo aberto com a sociedade,
para garantir um futuro mais limpo e próspero para todos.
Especialistas sugerem que uma solução promissora
para os próximos anos é reduzir a quantidade de carvão
utilizado na produção de energia, utilizando tecnologias de
captura de CO2. Um dos desafios dessa transição é o fato de
termos usinas termelétricas a carvão espalhadas pelo país.
Algumas dessas usinas ficam no Nordeste e dependem de
importações para operar.
A ABDAN organizou recentemente uma missão estraté-
gica para a Diamante Energia afim de discutir o projeto de
descarbonização. A iniciativa visou aprofundar o conheci-
mento sobre tecnologias sustentáveis e promover a troca
de experiências entre as principais empresas do setor, com
foco especial na área de energia nuclear de pequeno por-
te (SMR - Small Modular Reactors). Hoje a empresa, com
capacidade total instalada de 740MW, gera mais de 21 mil
empregos diretos e indiretos e injeta cerca de 6BI na eco-
nomia do estado todo ano.
“Nós vemos uma oportunidade muito grande para os
SMRs no Brasil. O site do Complexo Jorge Lacerda poderia
ser uma opção muito interessante para implantação da tec-
nologia. Temos uma área bastante grande (3 milhões de me-
tros quadrados), outorga de água, duas subestações de cone-
xão com o grid adjacentes ao terreno da usina, enfim, temos
as condições para trazer para Santa Catarina um projeto de
tecnologia de ponta. No mundo se estuda o aproveitamen-
to do ciclo do vapor de usinas a carvão, desmobilizando a
caldeira e substituindo a geração de vapor pelo combustível
nuclear. Em Jorge Lacerda provavelmente o aproveitamen-
WWW.ABDAN.ORG.BR
to dos equipamentos seria marginal, uma vez que a unida-
de mais moderna é dos anos 80, ou seja, já tem 40 anos de
vida. Vamos estudar com mais detalhes essa implantação e
levar um caso concreto para o Ministério de Minas e Ener-
gia. O Brasil tem disponibilidade de combustível, tem tecno-
logia de processamento do combustível e tem empresários
interessados em investir nesta indústria. O custo da energia
gerada pelo SMR se mostra muito competitivo e sem dúvida
será um componente de nossa matriz energética no futuro”,
afirma Pedro Litsek, CEO da Diamante Energia
A missão teve a participação de representantes de com-
panhias como Andrade & Gutierrez, OEC Engenharia, Gru-
po MPE Engenharia, Tractebel Engie, EDF Brasil, Holtec,
Westinghouse, Atech e Rosatom. Todos tiveram a oportu-
nidade de conhecer de perto as instalações da Diamante
Energia em Capivari de Baixo, Santa Catarina, e explorar
as inovações em tecnologias sustentáveis da empresa, com-
prometida com o ambiente, economia e sociedade do país.
Pedro destaca que o Brasil tem desafios importantes
para a descarbonização. Ele ressalta o PL 412/2022, que cria
o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de
Efeito Estufa (SBCE), que terá o objetivo de regular e fisca-
lizar o mercado. “Estarão sujeitas às regras do SBCE em-
presas que emitem acima de 10 mil toneladas de dióxido
de carbono (CO2) por ano. Aquelas que emitirem mais de
25 mil toneladas de CO2 terão de seguir regras mais rígidas.
As metas nacionais serão estabelecidas por um Plano Na-
cional de Alocação feito pelo SBCE, que terá de acompa-
nhar o cumprimento das metas. Caso isso não aconteça, há
penalidades previstas. Num primeiro momento, parece um
projeto de lei que se alinha com os compromissos firmados
pelo país, especialmente com relação ao Acordo de Paris.
Entretanto uma emenda já aceita ao PL exclui o setor agro
deste acompanhamento e fiscalização, o que é frustrante,
considerando que ele é responsável por cerca de 60% das
emissões de gases de efeito estufa no Brasil. Então a meu
ver há que se rever essa exclusão ou criar regras para o se-
tor do agro também”, explica.
7
 MATÉRIA
O CEO reconhece que no setor de geração de energia,
o Brasil já cumpriu a sua transição energética. “A questão
que temos que endereçar no Brasil é a segurança energéti-
ca, ou seja, qual a matriz que queremos ter para que tenha-
mos geração barata, renovável e segura. O recente apagão
ocorrido em setembro deixou claro que há limites na quan-
tidade de geração intermitente de uma matriz energética
saudável. Ou há geração síncrona, capaz de fazer frente
a oscilações do grid, ou vamos continuar tendo eventos
como os que tivemos em setembro”, alerta.
Pedro disse ainda que precisamos intensificar os esfor-
ços de pesquisa em captura de carbono, e que a Diamante
tem olhado esse tema com muita atenção e investido em
projetos de P&D. Recentemente estiveram na China visi-
tando uma unidade piloto de captura de carbono que uti-
liza amônia como agente de captura e produz fertilizante.
Questionado sobre o impacto das usinas termelétricas
a carvão no país, o executivo destaca que o Brasil possui
reservas de carvão razoáveis, especialmente no Rio Gran-
de do Sul. A indústria do carvão é importante do ponto de
vista de empregos e renda para as regiões onde há mine-
ração. A cadeia do carvão, no caso do Complexo Jorge La-
cerda, emprega direta e indiretamente cerca de 21.000 pes-
soas. Há municípios em Santa Catarina onde 70% do PIB é
proveniente da atividade carbonífera. Então em qualquer
programa de transição energética, é importante levar em
consideração o impacto social da indústria. Foi assim em
vários países do mundo, e deve ser assim no Brasil também.
“Fora a questão dos empregos, temos de levar em con-
ta que o carvão é ‘brasileiro’, precificado em reais, e rea-
justado por índices que conversam com a inflação. Vimos
8 Conexão Nuclear | NÚMERO 17 | DEZEMBRO 2023
no ano passado uma volatilidade enorme dos preços de
GNL, que chegou a valores superiores a USD 50/MMBTU.
Em 2020, quando trabalhava na Celse, compramos GNL a
USD 2/MMBTU! Imagina você ter um país que depende de
combustível importado em um cenário de crise mundial. É
um problema muito sério. O carvão utilizado nas usinas de
Santa Catarina e Rio Grande do Sul vem tendo seu preço
reajustado ano a ano por índices como o IPCA”, comenta.
ENERGIA NUCLEAR SURGE COMO UMA
ALTERNATIVA PROMISSORA
A energia nuclear possui vantagens ambientais únicas,
como a não utilização de combustíveis fósseis que contri-
buem para o aquecimento global, além de gerar energia de
forma contínua, independentemente das condições climá-
ticas, e ocupar pouco espaço em relação à quantidade de
energia gerada. Isso é especialmente importante em um
cenário em que a demanda por eletricidade está aumentan-
do, como a crescente adoção de veículos elétricos.
Para o Brasil, que historicamente depende de fontes de
energia renováveis, a transição para uma economia de baixo
carbono é um desafio complexo. É necessário encontrar um
equilíbrio entre a redução das emissões de gases de efeito
estufa, a manutenção de empregos e o fornecimento de ener-
gia confiável. A possibilidade de utilizar pequenos reatores
nucleares abre uma nova discussão sobre como alcançar
esse equilíbrio. A energia nuclear tem desempenhado um
papel crucial na descarbonização do setor elétrico em países
como França, Canadá, Suécia e Suíça, sendo responsável por
um quarto da eletricidade de baixo carbono nessas nações.
E esse cenário pode ser realidade aqui no Brasil também.
DESCOMISSIONAMENTO
DE USINAS NUCLEARES:
O CASO DA CNAAA
O OBJETIVO É PREPARAR TODOS AS PARTES INTERESSADAS NO PROCESSO (OS
STAKEHOLDERS) PARA ESSA IMPORTANTE FASE NA VIDA DE UMA USINA NUCLEAR, DE
FORMA TRANSPARENTE E INCLUSIVA
Todas as usinas de geração de energia, através de
carvão, gás natural e nuclear, têm uma determina-
da vida útil a partir da qual não é mais economica-
mente viável a sua operação. No caso de usinas nu-
cleares, a vida útil é projetada e licenciada para 40
anos, a partir de quando pode parar de operar ou re-
ceber melhorias e atualizações para que a sua vida
útil seja estendida por mais 20 anos e em alguns ca-
sos, já se fala em até 40 anos de geração adicional.
Após este período, a usina precisa ser desligada e
ser descomissionada.
O descomissionamento compreende as ações
técnicas e administrativas destinadas à liberação
de uma instalação do controle regulatório ao térmi-
no de operação, seja pelo fim de sua vida útil, ou
no caso de retirada precoce de operação, para a mi-
tigação de impactos ambientais e recuperação das
áreas alteradas, objetivando disponibilizá-las a ou-
tros possíveis usos pela sociedade, de forma segura
e responsável.
O melhor final é aquele que não mancha ou com-
promete os benefícios alcançados durante o proces-
so, pelo contrário, oferece ainda no limiar novas
possibilidades. Isso vale para a vida do ser huma-
WWW.ABDAN.ORG.BR
MATÉRIA
no e para tudo que ele, como profissional e cidadão,
produz durante a sua existência. É nesse contexto
que podemos inserir o descomissionamento de usi-
nas nucleares - um processo de encerramento segu-
ro e gradual das operações de uma usina nuclear,
que pode gerar ainda continuidade e novas oportu-
nidades (de emprego e negócios, por exemplo).
Trazendo aqui para o nosso território, para o
Brasil, como seria um planejamento bem-sucedido
do período de transição de uma usina nuclear do
tipo Angra 1, considerando desde o desligamento
permanente do reator nuclear até o armazenamen-
to ou descarte seguro do material radioativo? Para
responder a essa pergunta, Bruno Estanqueira Pi-
nho, Assistente da Diretoria Técnica da Eletronucle-
ar, consultou guias e padrões de instituições reco-
nhecidas, como o Electric Power Research Institute,
a Comissão Reguladora Nuclear dos Estados Unidos
e a Agência Internacional de Energia Atômica, bem
como experiências internacionais. O objetivo é pre-
parar todas as partes interessadas para essa impor-
tante fase na vida de uma usina nuclear, quando ela
se despede de seu foco principal, porém é capaz de
deixar um legado positivo.
9
 MATÉRIA MATÉRIA

ENTENDA O HISTÓRICO
Angra 1 é a primeira usina nuclear brasileira a operar co-
mercialmente, iniciando suas operações em 1985. Ela ope-
ra com um reator a água pressurizada, que é o tipo mais
comum no mundo, com uma potência elétrica de 640 me-
gawatts, utilizando tecnologia da Westinghouse (Estados
Unidos).
A Usina Nuclear Angra 1 faz parte da Central Nuclear
Almirante Álvaro Alberto (CNAAA, localizado a aproxima-
damente 133 km do Rio de Janeiro), que também possui a
Usina Angra 2, com 1.350 MW, e a Usina Angra 3 em cons-
trução, com 1.405 MW, ambas utilizando tecnologia Sie-
mens/Framatome (Alemanha). A CNAAA e todas as usinas
são de propriedade da Eletronuclear S.A., que é controlada
pelo governo brasileiro. As duas usinas operam com gran-
de eficiência e são de grande importante para a confiabili-
dade e energia de base do sistema nacional brasileiro, cor-
respondendo a 2,3% da energia consumida.
Angra 1 está complementando 40 anos de operação
no final de 2024 e a Eletronuclear está com grandes esfor-
ços aplicados no processo de extensão da sua vida útil por
mais 20 anos com um grande programa de projetos de me-
lhoria e atualizações chamado de Programa LTO de Angra 1.
Apesar da visão e estratégia para continuidade da operação
das usinas, trabalhar o pensamento sobre o descomissio-
namento desde o início de operação de uma usina é neces-
sário e de extrema importância, conforme recomendação
O PLANO PLEMININAR DE DESCOMISSIONAMENTO
Projeto, construção e Licença para o
LICENÇAS licença de operação Descomissionamento
DESLIGAMENTO
PERMANENTE
FASES
OPERAÇÃO PERÍODO DE
TRANSIÇÃO
Gerenciamento
ORGANIZAÇÃO
da Usina Nuclear
Planejamento do
período de transição
PROJETOS DE
DESCOMISSIONAMENTO Time de Preparação para o
planejamento Armazenamento Seguro
PREPARAÇÃO
Fonte: ABDAN
unânime internacional, para mitigar cenários inesperados.
No Brasil, a Comissão Nacional de Energia Nuclear
(CNEN) é o órgão regulador que exige que as usinas nucle-
ares tenham um plano preliminar de descomissionamen-
to com requisitos básicos de segurança por toda a sua vida
útil. Esse planejamento deve contemplar todas as fases, ati-
vidades e preparações necessárias para a implementação
da estratégia de descomissionamento escolhida, conforme
norma CNEN NN 9.01. Além disso também é necessário cal-
cular e gerenciar a captação de recursos financeiros para
estas atividades, uma vez que durante o descomissiona-
mento a usina não mais gerará energia e receita.
Estas preocupações da Eletronuclear e da CNEN permi-
tem um melhor planejamento antecipado fazendo com que
o descomissionamento seja o mais seguro possível para os
trabalhadores, para as comunidades circunvizinhas e para
o meio ambiente, mitigando quaisquer possíveis impactos.
PLANO PRELIMINAR DE
DESCOMISSIONAMENTO
O Plano Preliminar de Descomissionamento (PDP) da CNA-
AA precisa considerar todas as atividades necessárias, inclu-
sive o período final de operação da usina e a sua preparação
até o descomissionamento, chamado de Período de Transi-
ção (TP) da Usina. O planejamento do TP no passado não era
bem detalhado e não havia sido previsto na primeira versão
do PPD e foi objeto da dissertação de 2018, preparada por
Licença para o
Desmantelamento
ARMAZENAMENTO DESMANTELA-
SEGURO MENTO
Safe storage
Gerencimento Gestão
do Safe Storage do Sítio
Vigilância e Tratamento
manutenção de rejeitos
Projeto de
desmantelamento
IMPLEMENTAÇÃO PREPARAÇÃO IMPLEMENTAÇÃO
Cerca de 60 anos
Bruno Estanqueira Pinho, com o objetivo de preen-
cher essa lacuna no planejamento e propor um plano
inicial de atividades para este período de transição
- do final da operação até o início do descomissiona-
mento. O estudo propõe inicialmente as atividades
para a Usina Angra 1, já que, por ter entrado em ope-
ração mais cedo, será a primeira a encerrar suas ope-
rações, além de servir de base para o planejamento
do TP das outras usinas do complexo.
O PPD incorpora toda a CNAAA, incluindo seus
edifícios suporte que operam em apoio ao sítio nuclear.
A PROPOSTA
A proposta do especialista inclui diversas atividades
essenciais, documentos de licenciamento necessários,
gestão da comunicação do projeto, mudanças na es-
trutura organizacional e recursos humanos, análise
de segurança nuclear, avaliação do histórico do lo-
cal, descontaminação química dos sistemas, condi-
ções para o período de armazenamento seguro, redu-
ção de requisitos de especificação técnica e requisitos
proteção contra incêndio gestão de recursos humanos,
gerenciamento do combustível usado, identificação e
remoção de locais de alta radiação, desmantelamento
e liberação de sistemas e prédios não radioativos, mo-
dificações necessárias nos sistemas, análise de segu-
rança nuclear, estimativa de custos, plano de gerencia-
mento de qualidade e controles administrativos.
Tudo isso baseado na estratégia de desligamen-
to atualmente prevista para a usina Angra 1, que
será postergada até por 20 anos e terá o seu desman-
telamento programado para alguns anos antes do
desligamento permanente da usina Angra 3. “Dessa
forma, buscamos definir um plano inicial para essa
fase de transição após o desligamento permanente
da usina, levando em consideração as necessidades
específicas e os desafios envolvidos, até o início do
seu descomissionamento”, ressalta Bruno.
FASE INICIAL NO BRASIL
O Brasil está em uma fase inicial de conhecimen-
to em relação a outros países no que diz respeito
ao descomissionamento de usinas nucleares. Atu-
almente, o país possui duas usinas nucleares em
operação - Angra 1 e Angra 2 - e o processo de desco-
missionamento ainda não começou para essas ins-
talações. No entanto, o Brasil já possui duas normas
específicas sobre o assunto, que estabelecem as di-
retrizes e os requisitos para o descomissionamen-
to de usinas nucleares e da gestão dos recursos fi-
nanceiros necessários para custear estas atividades.
Petróleo e Biomassa
variados de cana
35,7% 15,4%
Hidráulica
12,5%
REPARTIÇÃO DA OFERTA
INTERNA DE ENERGIA (OIE)
2022
NÃO RENOVÁVEIS RENOVÁVEIS
52,6% 47,4%
Fonte: ABDAN
O caminho que ainda precisamos trilhar inclui
um maior detalhamento do atual plano preliminar
de descomissionamento, o que será feito alguns
anos antes do desligamento permanente das usi-
nas de Angra 1 e Angra 2, conforme apresentado por
Bruno Estanqueira Pinho. Esse plano deve levar em
consideração aspectos técnicos, econômico-finan-
ceiro, socioambientais e de segurança. Além disso,
é necessário desenvolver a capacidade técnica e in-
fraestrutura necessárias para realizar as diversas
etapas do processo de descomissionamento, como
desmantelamento das instalações e gerenciamento
e destinação dos rejeitos gerados.
O processo de descomissionamento de usinas
nucleares tem um grande benefício que é o da gera-
ção de empregos durante o processo, e configura a
oportunidade de aprendizado em uma área que está
crescendo em todo o mundo.
Já o planejamento adequado do processo de des-
comissionamento tem como benefício o aumento da
execução com segurança das atividades, adequado
gerenciamento de rejeitos, diminuição dos impac-
tos ambientais, diminuição da possibilidade de aci-
dentes com trabalhadores e gasto apropriado dos re-
cursos disponíveis. Ademais, o descomissionamento
permite a recuperação de áreas anteriormente ocu-
padas pela usina, possibilitando seu uso para ou-
tros fins, como atividades industriais, agrícolas ou
até mesmo para a preservação da natureza.
Em suma, embora o Brasil ainda precisa desen-
volver conhecimento técnico e científico relacionado
ao tema. Nos últimos anos tem-se visto um aumen-
to de dissertações e teses sobre o assunto, e a cres-
cente demanda dos serviços na área abrem diversas
oportunidades para os que querem se especializar.
Vamos em frente!

10 Conexão Nuclear | NÚMERO 17 | DEZEMBRO 2023 WWW.ABDAN.ORG.BR 11

 ENTREVISTA
MINISTRO ALEXANDRE
SILVEIRA, DO MME
Nesta edição, a Conexão Nuclear tem a satisfação de tra-
zer para seus leitores uma entrevista bastante elucidadora
com o Ministro Alexandre Silveira, do Ministério de Minas e
Energia (MME). Sem evitar temas polêmicos, as respostas
mostram o esboço do setor nuclear brasileiro aos olhos do
atual governo e cenário econômico. Acompanhe a seguir a
entrevista na íntegra
1 – Como é a atuação do MME hoje com o setor nuclear?
Mencione exemplos de pautas que estão sendo
conduzidas pelo Ministério.
O Ministério de Minas e Energia tem competência em todas
as etapas do ciclo do combustível, da pesquisa de miné-
rios nucleares até a geração de energia termonuclear, como
também a regulação e o licenciamento nuclear e mineral
das atividades nucleares.
Estão sob a estrutura organizacional do MME a Autori-
dade Nacional de Segurança Nuclear; a NUCLEP - Nucle-
brás Equipamentos Pesados S.A.; a ENBpar - Empresa Bra-
sileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional
S.A.; a INB - Indústrias Nucleares do Brasil e a Eletronucle-
ar - empresa de economia mista que responde pela geração
de, aproximadamente, 3% da energia elétrica consumida
no Brasil e mais de 30% da eletricidade consumida no Es-
tado do Rio de Janeiro.
Entre as pautas em andamento, podemos mencionar
a coordenação do ministério do grupo técnico, criado no
âmbito do Comitê de Desenvolvimento do Programa Nucle-
ar Brasileiro/Gabinete de Segurança Institucional da Pre-
sidência da República, com o objetivo de estabelecer as
diretrizes para a determinação do próximo sítio nuclear,
onde poderão ser construídas as próximas usinas nucle-
ares no Brasil.
2 – Qual é o direcionamento do novo governo em relação
ao setor nuclear? Qual posicionamento foi adotado para
a tecnologia nuclear?
Existe um comprometimento mundial com a redução das
emissões de carbono e a energia nuclear contribui como
parte de uma estratégia mais ampla para a transição para
fontes de energia mais limpas e sustentáveis.
O Brasil é privilegiado no tocante à sua matriz elétrica,
contando com 88% de fontes renováveis para suprir sua
demanda. Nesse sentido, a fonte nuclear muito pode con-
tribuir ao fornecer segurança de suprimento, num contexto
12 Conexão Nuclear | NÚMERO 17 | DEZEMBRO 2023
em que parte representativa da oferta de energia nacional
advém de fontes intermitentes, além de não emitir gases
do efeito estufa.
A tecnologia nuclear fará parte de uma estratégia de
transição energética justa e inclusiva. O Brasil está traba-
lhando para descarbonizar, ainda mais, a nossa matriz
energética. Estamos trabalhando, de maneira firme, para
harmonizar desenvolvimento econômico, com frutos so-
ciais, e respeito ao meio ambiente.
3 – O Brasil tem a sétima maior reserva de urânio do
mundo, é provável que seja a segunda, visto que nosso
país domina a tecnologia. Qual é a sua visão sobre
projetos voltados para o descomissionamento das
Usinas nucleares e a descarbonização?
O Brasil, de fato, possui uma das maiores reservas de urâ-
nio do mundo e tem experiência significativa no uso da
tecnologia nuclear para a geração de eletricidade. O des-
comissionamento de usinas nucleares e a descarbonização
são temas importantes, e várias considerações devem ser
levadas em conta.
A energia nuclear é uma fonte de energia de baixo car-
bono, pois a geração de eletricidade por meio de reatores
nucleares não emite gases de efeito estufa durante a ope-
ração. Dessa forma, integrar a energia nuclear na matriz
energética pode contribuir para os esforços de descarboni-
zação, especialmente em comparação com fontes de ener-
gia mais intensivas em carbono, como combustíveis fósseis.
ENTREVISTA
“
ESTAMOS TRABALHANDO,
DE MANEIRA FIRME,
PARA HARMONIZAR
DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO, COM
FRUTOS SOCIAIS E
RESPEITO AO MEIO
AMBIENTE.
”
Além disso, o Brasil estará atento para o desenvolvi-
mento de tecnologias nucleares avançadas como estratégia
para aprimorar a eficiência e segurança da energia nuclear.
Isso pode incluir o desenvolvimento de reatores de quarta
geração, sistemas de reciclagem de resíduos nucleares e
métodos mais avançados de produção de energia nuclear.
Em suma, projetos de descomissionamento de usinas
nucleares e esforços de descarbonização podem ser parte
de uma estratégia global mais ampla para a transição para
uma matriz energética mais sustentável.
4 – Em sua participação no Nuclear Legacy, trouxe notícias
favoráveis ao Programa Nuclear Brasileiro. Poderia
antecipar os planos do MME para o setor no país?
O Governo Lula acaba de lançar o novo Plano de Acelera-
ção do Crescimento, em que consta a extensão da vida útil
da Usina de Angra 1 e estudos para avaliar a continuidade
das obras de Angra 3. Trata-se, portanto, de um direciona-
mento claro para a infraestrutura de geração de energia por
meio da fonte nuclear.
O país deverá investir, ainda, em pesquisa e desenvol-
vimento de tecnologias nucleares avançadas. Isso pode in-
cluir o desenvolvimento de reatores mais seguros, eficien-
tes e sustentáveis, bem como a inovação em áreas como a
gestão de resíduos nucleares.
Pela importância do tema, o Brasil estará atento à pro-
moção de parcerias e acordos de cooperação internacional
no campo nuclear, que envolvam não somente a geração de
energia, mas também todo o Programa Nuclear Brasileiro.
Isso pode incluir colaborações em pesquisa, compartilha-
mento de tecnologia e participação em iniciativas globais
relacionadas à energia nuclear.
Do ponto de vista institucional, vamos promover a se-
paração da atividade de pesquisa e fomento da regulação e
fiscalização, de forma a imprimir maior autonomia e capa-
WWW.ABDAN.ORG.BR
cidade de garantir a segurança no setor, bem como aprimo-
ramento da qualidade regulatória. Tal movimento se dará
por meio da instalação da Autoridade Nacional de Segu-
rança Nuclear (ANSN), segregada da Comissão Nacional
de Energia Nuclear (CNEN).
Todo esse planejamento se dará num contexto de abso-
luta transparência, com a participação popular nas deci-
sões relacionadas à energia nuclear. Isso incluirá consul-
tas públicas, divulgação de informações, envolvimento das
comunidades locais, de forma a permitir ao povo brasileiro
influenciar nas decisões tomadas no âmbito das políticas
públicas associadas ao setor nuclear.
5 – O MDIC, através do ministro Geraldo Alkmim,
anunciou na política industrial brasileira como
prioridade o setor nuclear e os SMRs (small modular
reactors), que são sensação do mundo. O Brasil pode
ser a grande matriz de produção desses equipamentos.
O que o ministério está fazendo para se juntar a essa
diretriz traçada pelo MDIC?
A temática de Reatores Modulares, os chamados SMRs, já
foi incluída pelo do MME nos seus instrumentos de pla-
nejamentos e iniciativas, como é o caso do Plano Nacio-
nal de Energia – PNE e da iniciativa de Modernização do
Setor Elétrico.
No âmbito do planejamento setorial de energia, o PNE
representa uma visão de longo prazo, e explora, através de
cenários, as perspectivas múltiplas existentes de diferen-
tes vetores energéticos para um período de trinta anos. É
um plano que dialoga com tendências e panoramas, sendo
construído para auxiliar os tomadores de decisão na elabo-
ração de políticas relacionadas às diversas fontes de ener-
gia. No caso do setor nuclear, a última publicação, o PNE
2050, trouxe uma visão de simulações, indicando cenários
com influência menor ou maior de diversas fontes, inclu-
sive a nuclear, e seu impacto no perfil de capacidade acu-
mulada do país para 2050, além de apresentar potenciais
desafios ao desenvolvimento do setor e recomendações de
soluções para estas questões.
Já na Modernização do Setor Elétrico, o Grupo Temá-
tico (GT) publicou relatório sobre a inserção de novas tec-
nologias, discutindo pontos de alteração de instrumentos
legais e infralegais que possam impactar nessa inserção.
Dentro dessas novas tecnologias, os SMRs também foram
avaliados, com o trabalho identificando aspectos que te-
riam potencial de dificultar a utilização de reatores modu-
lares no longo prazo.
Tanto a última edição do Plano Nacional, quanto o re-
latório final do GT da Modernização do Setor Elétrico se
encontram disponíveis para consulta da população no site
do MME.
13

FRENTE PARLAMENTAR
APRESENTA DIRETRIZES
PARA UM NOVO PROGRAMA
NUCLEAR AO CONGRESSO
DEPUTADO JULIO LOPES DESTACA DIFERENCIAIS E IMPORTÂNCIA DA INICIATIVA
“O Brasil precisa se tornar um grande exportador
para o mundo”, afirma o parlamentar Julio Lopes
(PP-RJ), e para alcançar esse objetivo o setor apre-
senta ao Congresso diretrizes para um novo plano
para o desenvolvimento da tecnologia nuclear. A
iniciativa engloba ciência e tecnologia; saúde (medi-
cina nuclear); agropecuária (inonização de alimen-
tos); e investimentos em reatores modulares de pe-
queno porte.
O deputado, à frente da liderança da Frente Par-
lamentar Mista da Tecnologia e Atividades Nucle-
ares (FPN), informa que o propósito do plano é fo-
mentar uma discussão mais aprofundada sobre o
tópico, ressaltando que não se trata de um progra-
ma nuclear oficial, uma atribuição que compete ao
governo federal. Segundo suas palavras: “A minis-
tra Luciana Santos (da Ciência e Tecnologia) reco-
nhece a importância deste assunto. Tenho mantido
conversas frequentes com o ministro Alexandre Sil-
veira (de Minas e Energia), que demonstra grande
entusiasmo”.
O pacote compreende também benefício acadê-
mico, como parceria com países que adotam a ener-
gia nuclear intensiva para melhorar o perfil univer-
sitário e de desenvolvimento tecnológico nesta área.
Segundo o Lopes, são pontos que precisam estar de-
senhados em um programa, com orçamento, méto-
do e possibilidades.
“O que eu estou propondo não é um programa
já efetivo, pois esta responsabilidade é do Governo.
O que queremos é uma discussão sobre um novo
programa; vamos apresentar uma proposta para o
Congresso para que este plano vá adiante”, confir-
ma Julio Lopes, que reforça a expectativa: “Os rea-
tores ficaram muito menores, mais potentes e mais
confiáveis. A tecnologia está muito mais avançada.
O desafio do mundo é ter energia - energia limpa e
14 Conexão Nuclear | NÚMERO 17 | DEZEMBRO 2023
MATÉRIA
de menor impacto”.
Brasil: uma das maiores reserva de urânio
Apesar da vantagem, o Brasil não é autônomo
na produção de urânio enriquecido. Atualmente o
país compra este elemento enriquecido da Rússia.
Segundo o parlamentar não há motivo para o Bra-
sil não fazer um programa de investimentos e reti-
ficar isso, principalmente sendo a sétima maior re-
serva de urânio do mundo, segundo a World Nuclear
Association.
“Muitos países têm interesse em fazer parceria
com o Brasil, como Estados Unidos, França e Rús-
sia, entre outros. O Brasil, em 2006 e 2007, chegou
a produzir 800 toneladas de urânio por ano. Atual-
mente produz 200 toneladas apenas. E nós já temos
várias minas em fase de produção para isso. A mina
de Caetité, na Bahia, por exemplo, tem 38 meios de
mineração, e até hoje só explorou três deles. Só ali,
você tem uma condição extraordinária de gerar até
mil toneladas deste minério por ano. A mina de san-
ta Quitéria, no Ceará, também tem grande capacida-
de de produção. Então obviamente o mundo inteiro
está de olho”, explica Lopes.
Hoje os dez maiores produtores de urânio produ-
zem cerca de 44/45 mil toneladas, enquanto o con-
sumo está na casa de 51 mil toneladas. “Então estão
faltando milhares de toneladas de urânio no mun-
do”, alerta Julio Lopes.
PANORAMA MUNDIAL
Para Lopes, o mundo redescobriu a energia nuclear,
isso porque a área e a tecnologia nuclear evoluíram
muito, “mas no Brasil ficamos um pouco afastados
dessas informações, mas esse cenário está mudan-
do”, afirma o deputado.
A França, por exemplo, lançou um novo progra-
ma nuclear para construção de oito novas usinas,
com orçamento de cerca de 80 bilhões de euros. A
China está apresentando um plano estimado de 800
bilhões de dólares para a construção de pequenos
reatores e novas usinas. A Rússia, estima-se que
possui cerca de 250 reatores de pequeno porte só
para pesquisa. A Nasa tem um projeto que visa fa-
zer a energização dos centros (estações orbitais e
espaciais) movidos a energia nuclear. Além disso,
segundo ele, há pesquisas da Fundação Bill e Me-
linda Gates estudando pequenos reatores nucleares
para mover os data centers. Em relação ao Brasil,
podemos destacar o recente acordo assinado com a
Argentina para devolver o programa do reator mul-
tipropósito. “É bastante promissor esse acordo com
o nosso vizinho, pois a Argentina está muito à frente
no que tange a este segmento. Como exemplo, um
argentino tem três vezes mais chances de ter um
atendimento de medicina nuclear do que um bra-
sileiro. Um chileno tem cinco vezes mais chance”.
Julio Lopes afirma que a guerra da Ucrânia trou-
xe para o mundo uma nova realidade sobre energia.
“A Alemanha, que tinha optado por descontinuar o
seu programa nuclear, entrou em uma encruzilha-
da, porque com a guerra estão tendo que reativar as
usinas de carvão. E estão comprando a energia nu-
clear da França. Não era melhor que eles tivessem a
própria?”, pondera.
RETROSPECTIVA 2023
O ano de 2023 foi marcado por uma série de even-
tos significativos no setor nuclear brasileiro. Com
mudanças políticas e um foco renovado na energia
nuclear, este período foi repleto de debates e pro-
messas de avanço.
“Com a chegada de um novo governo, as expec-
tativas eram altas em relação ao futuro do setor nu-
clear. A nomeação de ministros comprometidos com
questões energéticas e ambientais trouxe a promes-
sa de uma abordagem revitalizada para a energia
nuclear.” Outro marco importante foi a criação da
Frente Parlamentar Mista de Atividades Nucleares
(FPN), liderada pelo deputado Julio Lopes. “Essa di-
visão tem desempenhado um papel fundamental na
promoção de discussões aprofundadas sobre a ener-
gia nuclear, visando estabelecer diretrizes para o de-
senvolvimento e aprimoramento do setor”, reconhe-
ce Celso Cunha, Presidente da ABDAN.
O parlamentar Julio Lopes enxerga o setor nucle-
ar em 2023 com um excelente desempenho. “Quero
cumprimentar a todos que vivem no ambiente nu-
clear pela extraordinária performance que temos ob-
WWW.ABDAN.ORG.BR
MATÉRIA
PLANO PARA O
DESENVOLVIMENTO DO
SETOR NUCLEAR ENGLOBA
CIÊNCIA E TECNOLOGIA;
SAÚDE (MEDICINA
NUCLEAR); AGROPECUÁRIA
(INONIZAÇÃO DE
ALIMENTOS); E
INVESTIMENTOS EM
REATORES MODULARES DE
PEQUENO PORTE.
tido neste ano de 2023. A energia nuclear ganhou
uma nova dimensão, apesar do grave e triste mo-
mento dos conflitos na Ucrânia. E estamos experi-
mentando este momento de crescimento também no
Brasil. Parabenizo a todos. Estou muito feliz de estar
liderando a Frente Parlamentar Mista. Se esse ano
estamos tendo um grande ano, faremos um ainda,
melhor ano que vem”, reconhece o deputado.
Ele considera importante também a FINEP (Fi-
nanciadora de Estudos e Projetos), que demonstrou
um compromisso renovado com o desenvolvimento
do setor nuclear, sinalizando seu apoio e disposição
para impulsionar iniciativas nessa área. “A discus-
são em torno da PEC da reforma tributária ganhou
destaque, com a luta pela consideração da energia
elétrica como um serviço essencial, o que tem im-
plicações significativas para o setor nuclear e sua
competitividade.”
O maior destaque, pode-se considerar que fi-
cou para a discussão a cerca da urgência da con-
clusão de Angra 3 e sua possível inclusão no pro-
grama PAC do governo. “Além disso, a Associação
realizou uma missão à Diamante Energia, fortale-
cendo ainda mais as discussões sobre descarboniza-
ção e a importância da energia nuclear na transição
para fontes de energia mais impas. O ano de 2023
foi, portanto, um período de mudanças e avanços
no setor nuclear do Brasil, com promessas de um
futuro energético mais sustentável e inovador”, fi-
naliza Cunha.
15
 MATÉRIA
“TEMPO É SAÚDE”: PROJETO
DA ABDAN É APRESENTADO
NO 37º CONGRESSO
DE MEDICINA NUCLEAR
REVISTA CONEXÃO NUCLEAR ENTREVISTA RAFAEL LOPES, PRESIDENTE DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE MEDICINA NUCLEAR (SBMN)
A medicina nuclear no Brasil enfrenta desafios significati-
vos, e a Associação Brasileira para o Desenvolvimento de
Atividades Nucleares (ABDAN) está determinada a abordar
essa questão com o protagonismo que ela exige. Isso foi
registrado durante o 37º Congresso Brasileiro de Medici-
na Nuclear, quando a ABDAN reforçou sua participação
ativa na busca por soluções que possam melhorar a situa-
ção atual dessa especialidade médica. Dentre as iniciativas
podemos destacar a criação de uma comissão de estudos
com o objetivo claro de identificar os principais pontos de
atenção, entender as necessidades, fraquezas e ameaças
que afetam a medicina nuclear no Brasil, levando em con-
sideração a vasta diversidade geográfica do país. O objeti-
vo final é propor ações que garantam a universalidade no
atendimento da população brasileira.
“Os resultados dessa iniciativa serão fundamentais para
o futuro da medicina nuclear no país. Com base nos dados
coletados, a comissão de estudos irá gerar um documen-
to que servirá como base para decisores e influenciadores
que podem pavimentar caminhos para o progresso do seg-
mento. Esse esforço tem uma meta primordial: proporcio-
nar atendimento médico de qualidade a todos os brasilei-
ros, independentemente de onde vivam”, é o que acredita
o presidente da entidade, Celso Cunha.
“A importância desse projeto não pode ser subestimada. Ele
se traduzirá em uma contribuição significativa para a saúde e
o bem-estar da população brasileira. Com diagnósticos preci-
sos e avançados, a medicina nuclear possibilita tratamentos
precoces e eficazes, oferecendo aos pacientes uma chance me-
lhor de recuperação. Portanto, o projeto ‘Tempo é Saúde’ não
é apenas uma ação da ABDAN, mas também um compromis-
so com o acesso igualitário à saúde para todos os cidadãos do
Brasil”, enfatiza a conselheira da ABDAN, Ana Celia Sobreira.
De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de
Medicina Nuclear, Rafael Lopes, o projeto “Tempo é Saúde”
está muito alinhado com os objetivos e a missão da SBMN,
16 Conexão Nuclear | NÚMERO 17 | DEZEMBRO 2023
Foto: Gleber Nova
em dar visibilidade e conhecimento não apenas à especia-
lidade, mas principalmente em relação a sua aplicação e
impacto positivo no cuidado em saúde. “Um projeto como
este, que visa conhecer melhor as demandas pelas técni-
cas de medicina nuclear e dar visibilidade à importância
de seu uso no contexto de saúde dos brasileiros, poderá
ter o apoio da instituição. Isso se dará através de consul-
toria científica em questões técnicas, bem como na busca
por parcerias e interlocução com a sociedade civil, associa-
ções de pacientes, entidades médicas e instituições gover-
namentais, e também da divulgação dos conhecimentos de
radioproteção, das técnicas diagnósticas, de tratamentos
e desmistificação das aplicações da medicina nuclear, por
meio de eventos ou mídias”, explica Rafael Lopes.
Lopes ressalta que a discussão segue para além do
evento: “Sobre as metas, um dos compromissos é comuni-
car cada vez melhor com os nossos médicos e associados.
Paralelamente a isso, continuar o trabalho de tentar esta-
belecer ou criar a disciplina de medicina nuclear nas gra-
duações das universidades. Ademais, expandir a represen-
tatividade da SBMN junto a instituições, entes políticos e
entidades internacionais, com tratativas de futuros acordos
de cooperação já sendo iniciadas neste Congresso”.
MATÉRIA
CENÁRIO BRASILEIRO
A medicina nuclear tem avançado consideravelmente nos
últimos anos. Segundo o presidente da SBMN, as grandes
inovações podem ser relacionadas ao crescimento no cam-
po do chamado teranóstico que, inclusive, vem sendo tema
frequente dos últimos congressos e cursos realizados por
eles, especialmente na área do tratamento de tumores neu-
roendócrinos e do câncer de próstata - mas com diversas
promessas para outros tipos de câncer, como renal, pâncre-
as, pele, cerebrais (glioblastomas), entre outros.
“Esse conceito consiste em desenvolver moléculas /
substâncias que possam identificar o tipo específico de tu-
mor de uma forma muito precisa e, a partir daí, ligar a ela
um isótopo radioativo, que permitirá, dependo do tipo de
isótopo, realizar imagens e melhor diagnosticar o tumor e
sua extensão pelo corpo. Também é possível usar um ou-
tro isótopo ligado à mesma molécula capaz de tratar, des-
truir aquele tumor específico, de forma precisa, com alta
eficiência, de forma menos agressiva, com boas respostas
clínicas e menos efeitos colaterais”, diz Lopes.
Rafael comenta ainda sobre alguns dos principais desafios
que o Brasil precisa superar para alcançar uma assistência
médica nuclear de excelência para todos os brasileiros: “Um
ponto de vulnerabilidade do país é a dependência externa de
radioisótopos, cujo principal exemplo é o molibdênio-99 usa-
do para a produção de geradores de tecnécio, radiofármaco
empregado na maioria dos exames de cintilografia no país e
que são fornecidos quase que na sua totalidade pelo IPEN. O
radioisótopo é importado semanalmente de países como Ar-
gentina, Israel, África do Sul e Rússia. Qualquer irregularida-
de no seu fornecimento impacta na produção dos geradores
de tecnécio, que são distribuídos para todo o país”.
Anualmente, são realizados no país cerca de dois mi-
lhões de procedimentos de medicina nuclear, consideran-
do-se o conjunto da saúde suplementar e Sistema Único de
Saúde (SUS). Os exames de cintilografia do miocárdio res-
pondem pela metade dos procedimentos. Os radiofármacos
também são utilizados em exames de diagnóstico PET-CT e
cintilografias tradicionais, além do tratamento de doenças
como o câncer de tireoide, com o iodo-131, e tumores neu-
roendócrinos, com o lutécio-177. “Esse número, no entanto,
deveria ser pelo menos o dobro, considerando o tamanho
da nossa população e a prevalência dessas doenças. Em
outros países da América Latina, como Argentina e Chile,
a possibilidade de um paciente realizar um exame ou tra-
tamento de medicina nuclear é duas vezes maior do que a
disponibilidade existente no Brasil. E o gap é ainda maior
se compararmos o número de procedimentos realizados na
medicina suplementar em relação ao sistema público. Cer-
ca de 94% dos serviços de medicina nuclear são privados -
embora a grande maioria das clínicas preste serviços para
WWW.ABDAN.ORG.BR
RAFAEL LOPES, PRESIDENTE
DA SBMN, ENFATIZA QUE
O PROJETO DO REATOR
MULTIPROPÓSITO BRASILEIRO-
RMB PROPICIARÁ UMA SÉRIE DE
MUDANÇAS NO CONTEXTO DOS
DESAFIOS ENFRENTADOS PELO
SETOR DE MEDICINA NUCLEAR
NO BRASIL.
o SUS – e apenas 6% são públicos, estimando-se assim que,
mesmo com um crescimento constante, seriam necessários
30 anos para que o número de procedimentos na saúde pú-
blica alcance os realizados na saúde suplementar.”
“Some-se a isso questões regulatórias que pairam há tem-
pos sobre a medicina nuclear - é bem verdade que não são
exclusivas de nosso país, mas diante da nossa realidade,
também impactam a utilização e até uma eventual expan-
são da metodologia. Por fim, uma questão que hoje permeia
todo sistema de saúde e não é diferente na nossa área: a sus-
tentabilidade financeira e que na medicina nuclear vem se
tornando crítica considerando a falta de reajuste dos proce-
dimentos da tabela SUS desde 2009, bem como as dificul-
dades com as fontes pagadoras da saúde suplementar em
seu momento talvez mais desafiador”, salienta o presidente.
EXPECTATIVAS POSITIVAS
Questionado sobre as perspectivas de crescimento e desen-
volvimento da medicina nuclear no Brasil nos próximos
anos, Rafael Lopes destaca o projeto do reator multipropó-
sito brasileiro-RMB que propiciará uma série de mudanças
no contexto dos desafios enfrentados. “Ao garantir a auto-
nomia do país na produção de diversos isótopos, principal-
mente o molibdênio-99, os geradores de tecnécio serão pro-
duzidos com matéria prima brasileira, seja pelo IPEN ou até
mesmo pela iniciativa privada, que, com a flexibilização do
monopólio ocorrida em 2021, já pode também exercer tal
atividade. Mas ambos o fariam com custo em Real, o que
facilitará sua distribuição e, principalmente, permitirá am-
pliar o acesso e reduzir os custos da medicina nuclear para
a população. Além disso, o RMB será um polo de agregação
do conhecimento, que permitirá produzir novos isótopos e
terá capacidade para abastecer não só o Brasil como outros
países da América Latina”, finaliza. -
17

TERANÓSTICO UNE
DIAGNÓSTICO E TERAPIA
NO TRATAMENTO
DO CÂNCER
SAIBA MAIS SOBRE AS VANTAGENS EM RELAÇÃO AOS METODOS TRADICIONAIS
O teranóstico, também conhecido como medicina
personalizada, é uma abordagem inovadora que uti-
liza técnicas combinadas de diagnóstico e terapia
para o tratamento de doenças, como o câncer de
próstata. No Brasil, essa técnica vem ganhando des-
taque e mostra-se cada vez mais promissora, porém
ainda está em estágios iniciais de implementação
quando comparamos a outros países.
Para especialistas, o teranóstico surge como uma
alternativa assertiva e precisa, que permite aos mé-
dicos personalizarem o tratamento de acordo com as
características genéticas e moleculares do paciente,
aumentando significativamente as chances de su-
cesso no combate ao câncer de próstata.
Carlos Alberto Buchpiguel, Membro do Conse-
lho Diretor do Instituto de Radiologia do Hospital
das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e
do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo,
explica como a terapia funciona: é utilizado um
biomarcador de imagem, no caso da medicina nu-
clear, e ele, sendo uma sonda molecular, vai de-
terminar se aquele paciente que tem um tipo de
câncer específico expressará aquela molécula, ou
aquele receptor, na membrana ou dentro da cé-
lula tumoral.
O professor reforça que o biomarcador é funda-
mental para detectar se a expressão desta molécu-
la, que pode ser utilizada como um alvo terapêuti-
co, está bastante manifestada nos diferentes sítios
metastáticos daquele câncer ou daquela determi-
nada doença neoplásica. “Com isso, a gente faz a
imagem do corpo inteiro e quantifica quanto os fo-
cos de doença expressam aquela determinada mo-
lécula”, conta.
Com o teranóstico, além de o médico fazer o
diagnóstico, se o paciente se encaixa mostrando
alta expressão daquela molécula, é possível reali-
zar a alteração do isótopo radioativo e injetar no pa-
18 Conexão Nuclear | NÚMERO 17 | DEZEMBRO 2023
MATÉRIA
ciente com o mesmo biomarcador, agora com fina-
lidade terapêutica.
VANTAGENS EM RELAÇÃO AOS
MÉTODOS TRADICIONAIS
Para Carlos Buchpiguel, a primeira vantagem é que
a seleção do paciente é feita de forma muito mais
inteligente- avalia-se realmente qual paciente po-
derá se beneficiar mais do tratamento, mesmo en-
tre os que apresentam a mesma doença. Ele explica
que, “conforme os diagnósticos tradicionais, como
tomografia e ressonância, o profissional detecta se
o paciente tem um tumor de próstata, por exemplo,
e se ele tem metástases ósseas ou para linfonodos
regionais à distância. Mas dentro deste universo de
pacientes metastáticos com câncer de próstata, al-
guns vão expressar uma sonda molecular chamada
PSMA e outros não vão expressar essa sonda. E aí
está uma grande diferença”, afirma.
"A ENTRADA DA INDÚSTRIA
FARMACÊUTICA COM INTERESSE
NESSE TIPO DE TERAPIA TRAZ UMA
PERSPECTIVA DE DESENVOLVIMENTO
E DE REALIZAÇÕES. A DIMENSÃO
PARA QUE ISSO POSSA ATINGIR
DIFERENTES TIPOS DE NEOPLASIA
É ENORME. E O POTENCIAL É
GIGANTESCO", CARLOS ALBERTO
BUCHPIGUEL.
MATÉRIA
Por isso, o médico explica que a seleção de pa- de tireoide, próstata e para tumores neuroendócri-
cientes é feita de forma muito específica, para saber nos. No entanto, o médico afirma que vão aparecer
de fato os que vão se beneficiar com esse tipo de outras moléculas, então a dimensão para que isso
tratamento. “Com o tratamento convencional você possa atingir diferentes tipos de neoplasia é enorme.
trata todo mundo de forma geral. E depois vai des- “Um potencial gigantesco”, comemora.
cobrir quem respondeu bem e quem não respondeu Contudo, esse tratamento envolve várias pesqui-
conforme o esperado. Já com o conceito do teranós- sas e recursos financeiros, porque são testes clíni-
tico, você seleciona aqueles que vão ter uma proba- cos. Dessa forma, o professor ressalta a importância
bilidade maior de resposta positiva ao tratamento. da entrada da indústria farmacêutica com interesse
Isso é chamado medicina de precisão, dentro de um nesse tipo de terapia, pois traz uma perspectiva de
contexto de medicina personalizada”, diz. desenvolvimento e de realizações de estudos, en-
Questionado sobre como funcionam a seleção saios clínicos randomizados, controlados até então
das moléculas radioativas utilizadas no teranóstico, nunca vistos dentro do campo da medicina nuclear.
o médico explica que esse é o grande pulo do gato. E essa atratividade econômica por trás da indústria
Porque na verdade, para se descobrir realmente a farmacêutica é que vai certamente tornar viável a
molécula que vai estar mais expressa em um deter- construção de modelos custo-eficazes, ou pelo me-
minado tumor e que possa ser utilizada tanto para nos eficientes em termos de terapia oncológica, para
diagnóstico como tratamento, são anos de pesquisa. que possam ser praticados na população de uma
“São anos e décadas de trabalho. Não é algo trivial. forma geral.
Grande parte da seleção dessas moléculas são base- Além do tratamento do câncer, o teranóstico
adas no estudo dos aspectos da oncologia molecular pode se revelar funcional para outras aplicações.
e da oncogenética. Então todo o desenvolvimento “Vejo potencial para aplicações em outras áreas além
dessas moléculas radioativas caminha em parale- do câncer, com certeza”, afirma.
lo ao entendimento e desenvolvimento do conheci-
mento da fisiopatologia do câncer e dos diferentes BRASIL CAMINHA DE FORMA LIMITADA
tipos de câncer”, salienta. O Brasil ainda caminha a passos lentos em relação a
Um ponto de atenção em relação a esse trata- outros países, por causa da cadeia de fornecimento
mento é o uso da radiação. Porque a radiação de e falta de autonomia de produção. “O reator multi-
uma certa forma, embora seletiva e direcionada propósito poderia trazer grandes avanços nesse sen-
para aquela célula em questão, é injetada na cir- tido para o país, mas estamos em compasso de espe-
culação sanguínea para que ela percorra e chegue ra para ele estar pronto. Nós temos uma dificuldade
exatamente naquele tecido. “Só que, enquanto de fornecimento de isótopos radioativos, que depen-
ela está circulando para chegar naquele tecido em dem de grupos estrangeiros e de importação”, alerta
maior quantidade, ela também está passando por Carlos Buchpiguel.
diferentes órgãos. Então temos sempre que avaliar a O custo é um outro dificultador. Como os insu-
toxicidade sistêmica, principalmente hematológica, mos são importados, a defasagem cambial faz com
e os sintomas que podem ocorrer frente a esse tipo que o preço seja cinco ou seis vezes maior. “Mas
de tratamento. A boa notícia é que como selecio- talvez o que mais me preocupa seja o acesso a esse
namos muito especificamente, e geralmente só tem tipo de modalidade para a população em geral. Hoje,
maior concentração nos locais que tem a metástase quem tem mais acesso, sem dúvida nenhuma, é o
ou o tumor, o grau de toxicidade geralmente é muito público privado. Isso ainda não está aprovado no
leve, muito mais bem aceito do que quimioterapias SUS. O custo muito alto acaba limitando, porque
citotóxicas”, analisa. você tem mil prioridades para atender a população
economicamente mais vulnerável e menos favore-
SOMENTE PARA CASOS ESPECÍFICOS cida. Então, o Brasil está sofrendo um pouquinho”,
O teranóstico não pode ser utilizado para qualquer relata.
tipo de câncer. Cada molécula vai ser utilizada para Para concluir, Carlos Buchpiguel se diz otimista
aquele tipo de câncer que ela se mostrou mais efe- sobre oportunidades de melhoria na cadeia de forne-
tiva e só para ele. cimento desses insumos e na variedade de empresas
Hoje existem de três a quatro moléculas que es- que possam, sejam elas públicas, sejam elas privadas,
tão claramente identificadas, que são para câncer suportar o fornecimento a nível nacional.
WWW.ABDAN.ORG.BR 19

DESCARBONIZAÇÃO
FOI PAUTA DE DESTAQUE
NO NUCLEAR LEGACY
EVENTO EM BRASÍLIA RECEBEU O MINISTRO DE MINAS E ENERGIA
E A MINISTRA DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
A necessidade do nuclear para a descarbonização
ganhou destaque no Nuclear Legacy, em Brasília,
evento do setor que aconteceu em Brasília nos dias
7 e 8 de novembro e recebeu o ministro de Minas e
Energia, Alexandre Silveira, a ministra da Ciência,
Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, o minis-
tro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI),
20 Conexão Nuclear | NÚMERO 17 | DEZEMBRO 2023
MATÉRIA
busca, a Europa avança em seus programas, afinal,
a pressão pela descarbonização de matriz energé-
tica aumentou”, declarou Celso Cunha, presidente
da Associação Brasileira para o Desenvolvimento
das Atividades Nucleares (ABDAN), organizadora
do encontro.
O ministro Alexandre Silveira, afirmou du-
rante o evento que esse debate se tornou vigoro-
so. “Os últimos anos trouxeram à tona dois temas
que nunca estiveram tão protagonizados quanto
agora: transição e segurança energética.” Nesse
contexto, Silveira ressaltou que vários países no
mundo têm redescoberto o uso da energia nuclear
numa perspectiva de segurança. Já o ministro Mar-
cos Antônio lembrou que em 2023 foi proposto pelo
Comitê de Desenvolvimento do Programa Nuclear
Brasileiro (CDPNB) o estudo de dois temas específi-
cos: normatizar a produção, comercialização e uti-
lização de radioisótopos para pesquisa e uso mé-
dico e para analisar aspectos direcionadores para
a escolha de novos sítios nucleares, onde poderão
ser construídas as próximas usinas no Brasil. Am-
bos foram concluídos terão suas conclusões divul-
gadas em breve.
O Nuclear Legacy também foi palco de assina-
tura do Memorando de Entendimento (MoU) entre
a ABDAN e a Secretaria de Energia e Economia do
Mar do Rio de Janeiro (Seenemar), com a presença
do secretário Hugo Leal.
PREMIAÇÕES E RECONHECIMENTOS
A ministra de Ciência e Tecnologia enfatizou o com-
promisso do governo Lula de reforçar a política nu-
clear brasileira e investir em pesquisa e desenvolvi-
mento do setor nuclear. “Compreendemos que não
é possível desenvolver uma área tão estratégica e
emancipatória para a nação que não seja através
de uma forte decisão política.”
O grupo Amaná foi o grande vencedor das Olim-
píadas Nucleares Brasileiras, com o projeto intitulado
“Complexo de Energia Limpa: Inovação Nuclear com
o Uso de SMR para Produção de Combustíveis Sinté-
ticos Utilizando Água Salobra e CO2 da Atmosfera”.
Também foram homenageadas, Patricia Wieland e
general Marcos Antonio Amaro dos Santos, o mi- Eliene Silva, que participaram da coordenação das
nistro da Defesa, José Múcio; bem como membros Olimpíadas Nucleares Brasileiras. A ABDAN também
da Frente Parlamentar, em especial o deputado Jú- realizou a entrega de honraria à Frente Parlamentar
lio Lopes e Aureo Ribeiro, dentre outros deputa- Mista de Tecnologia Nuclear (FPM), tendo como ho-
dos e autoridades que fizeram discursos sobre a menageados o deputado Julio Lopes e deputado Au-
relevância e o papel estratégico da energia nucle- reo Ribeiro, que receberam as medalhas pelo Carlos
ar no contexto nacional. “Os países estão indo em Seixas (Nuclep) e Alexandre Honaiser (Framatome).
WWW.ABDAN.ORG.BR
MATÉRIA
DEMAIS PREMIADOS:
JORNALISTA
Celso Chagas (Veículo Energia Hoje)
REPORTAGEM
Mídia: Valor Econômico (jornalista Fábio Couto)
PESQUISA E DESENVOLVIMENTO
Renato Machado Cotta (Consultor Técnico Amazô-
nia Azul Tecnologias de Defesa (AMAZUL))
FUNCIONÁRIO DESTAQUE
Maicon Umburanas Rigatto (Assessor de Garantia
da Qualidade AMAZUL)
MEDICINA NUCLEAR
Geraldo Alckmin (Vice-presidente do Brasil e mi-
nistro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e
Serviços)
DEFESA
Petronio Augusto Silveira de Aguiar (Almirante de
Esquadra) (Diretor-Geral de Desenvolvimento Nu-
clear e Tecnológico da Marinha)
DEBATES ACERCA DO SETOR
No segundo dia do Nuclear Legacy o enfoque foi a
discussão de temas relevantes e que impactam dire-
tamente o segmento. O primeiro painel, que teve como
moderador Celso Cunha, da ABDAN, e contou com a
participação de palestrantes de destaque, como Má-
rio Menel, Presidente da ABIAPE, e Giovani Machado,
Diretor de Estudos Econômico-Energéticos e Ambien-
tais da EPE, as discussões giraram em torno do papel
do setor nuclear na matriz elétrica do país. Luiz Carlos
Ciocchi, Diretor Geral da ONS, e Victor Ribeiro, Gerente
de P&D e Inteligência de Mercado da Thymos Energia,
também compartilharam valiosas perspectivas. Além
disso, Marcio Couto, da FGV, apresentou uma análise
abrangente sobre os impactos socioeconômicos das
atividades nucleares no Brasil, enriquecendo o debate.
No segundo painel, moderado pelo Alte. André
Conde, Secretário do GSI, e com a presença de desta-
cados palestrantes, como Uallace Moreira, Secretário
Executivo do MDIC, e Carlos Aragão, Diretor de Desen-
volvimento da FINEP, o foco se voltou para as diversas
aplicações da tecnologia nuclear. José Mauro, Assessor
do Diretor Geral da ANM, e Mauro discutiram a nova
legislação e as necessidades para a exploração das re-
servas de urânio no Brasil. Uallace destacou a priori-
dade da política industrial no país no que se refere à
tecnologia nuclear. O evento ABDAN - Nuclear Lega-
cy proporcionou uma plataforma de alto nível para o
compartilhamento de conhecimentos e estratégias es-
senciais no contexto da energia nuclear e seu impacto
na sociedade e economia brasileiras.
21
 MATÉRIA INFORME PUBLICITÁRIO

SMR E COMBUSTÍVEIS AMAZUL PARTICIPA DE

SINTÉTICOS NOVA ETAPA DO REATOR
MULTIPROPÓSITO
PROJETO AMANÁ VENCE HACKAPOWER 2023

BRASILEIRO
Na vanguarda da inovação nuclear, o HackaPower, o aguar- entre as instituições acadêmicas e a indústria, resultando
dado hackathon da energia nuclear de 2023, revelou um em soluções criativas e inovadoras para desafios nucleares.
projeto revolucionário que promete transformar a paisa- “O Hackapower é um exemplo brilhante de como a inova-
gem energética global. Sob o título «Complexo de Energia ção e o entusiasmo dos jovens talentos podem abrir novos
Limpa: Inovação Nuclear com o Uso de SMR para Produ- caminhos e perspectivas para a indústria nuclear brasilei- A AMAZUL – Amazônia Azul Tecnologias de Defesa S.A.
ção de Combustíveis Sintéticos Utilizando Água Salobra e ra, impulsionando o país em direção a um futuro energé- assinou, em outubro, com a Fundação PATRIA, contrato
CO2 da Atmosfera”, a equipe vencedora apresentou uma tico promissor.” para prestação de serviços de apoio técnico às contrata-
proposta visionária que destaca a aplicação de Reatores A coordenação da ONB também esteve nas mãos da en- ções de obras no terreno onde será construído o Reator
Modulares Pequenos (SMR) como catalisadores para a pro- genheira nuclear da Framatome, Eliene Silva, que faz ques- Multipropósito Brasileiro. O empreendimento, conduzido
dução de combustíveis sintéticos. Este projeto não apenas tão de afirmar o orgulho: “Fico extremamente orgulhosa de pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e pela
representa um marco significativo na busca por soluções nossa equipe e de todos os envolvidos por demonstrarem Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), tem rele-
sustentáveis, mas também reforça o papel crucial da AB- que a inovação e a visão podem transformar nossa indús- vância crucial não só na área de pesquisa, contemplando
DAN na promoção da excelência e inovação dentro do setor tria. É gratificante ver como a próxima geração de talen- o próprio setor nuclear e vários segmentos da indústria na-
nuclear, analisa personalidades do setor. tos em engenharia nuclear está disposta a abraçar desafios cional, mas, sobretudo, na área da saúde.
Na proposta, tecnologias inovadoras como a captura de complexos. Este projeto vencedor reflete o compromisso e A produção de radioisótopos permitirá testes de mate-
carbono e a co-eletrólise são combinadas com a energia de a paixão em fazer a diferença no setor de energia nuclear”. riais e de combustíveis nucleares para reatores de potência; nharia do Laboratório de Processamento de Radioisótopos
um reator nuclear modular para gerar combustíveis sintéti- A competição teve mentoria de Leonam Guimarães (AB- a utilização de feixes de nêutrons para pesquisa científica e à execução de serviços de terraplenagem, de construção
cos de alta qualidade. Utilizando água salobra dessaliniza- DAN/Eletronuclear) e Karla Lepetitgaland (Eletronuclear), e e tecnológica em diferentes campos da ciência; a produção de ponte e de planos e programas ambientais no terreno,
da e CO2 capturado diretamente da atmosfera, o complexo o juri foi formado por Carlos Leipner (Global Nuclear Ener- de traçadores para aplicação em pesquisas na agricultura localizado em Iperó.
de energia apresenta uma produção anual de diesel equiva- gy Strategy/executivo do setor), Alice Cunha (Westinghou- e no meio ambiente; e a formação e o treinamento de pes- Os serviços a serem prestados pela AMAZUL abrangem
lente significativa, indicando a viabilidade do projeto para se), Nivaldi de Castro (GESEL-UFRJ), Marcos Antônio (Co- soal para operação e manutenção de reatores. a elaboração de especificações técnicas e termos de refe-
o mercado de e-fuels. municação Eletronuclear) e Cristiane Pereira (Comunicação O RMB, além disso, deverá tornar o Brasil autossufi- rência para a contratação de obras; análise de documen-
O grupo vencedor é composto por alunos de diferen- ABDAN). ciente na produção de radioisótopos usados na fabricação tos técnicos e propostas das empresas licitantes; verifica-
tes universidades brasileiras, como a Larissa Pinheiro, do O Projeto P2X Amaná representa uma ponte para o fu- de radiofármacos, que são empregados no diagnóstico e ção dos documentos emitidos pelas empresas contratadas;
curso de Engenharia Nuclear da COPPE, Universidade Fe- turo da energia sustentável, combinando inovação tecno- tratamento de várias doenças complexas como o câncer. prospecção de mercado, visando a identificar empresas
deral do Rio de Janeiro (UFRJ), o Iago Gomes, do curso de lógica, eficiência e compromisso com o meio ambiente na Entre outros benefícios, contribuirá para ampliar o aces- com capacidade de realização do serviço; realização de ati-
Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia Nucleares, Insti- produção de combustíveis sintéticos. O trabalho apresen- so da população à medicina nuclear, reduzir os riscos de vidades de campo essenciais, relacionadas aos programas
tuto de Engenharia Nuclear (IEN), a Isabella Magalhães, tou alto potencial de transbordamento tecnológico, capaz desabastecimento dos insumos, que hoje são importados, ambientais até a contratação de empresa especializada; e
do Departamento de Engenharia Nuclear da Universida- de impulsionar a pesquisa e o desenvolvimento em di- e diminuir os custos tanto da produção de radiofármacos elaboração de relatório anual consolidado das atividades
de Federal de Minas Gerais (UFMG), a Suelen Oliveira, do versos setores, inclusive gerando acordos de cooperação quanto da realização de exames. dos programas ambientais, a ser encaminhado pela CNEN
curso de Pós-Graduação em Engenharia Nuclear do Ins- internacionais visando a transição energética, troca de A AMAZUL vem mantendo uma bem-sucedida parceria ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
tituto Militar de Engenharia (IME) e o João Alegrio, da conhecimento e financiamento conjunto de infraestrutu- com a CNEN no empreendimento. No fim de 2021, entregou Naturais (IBAMA).
Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Ja- ra. Como resultado, teria-se um natural incentivo ao au- o projeto detalhado do RMB, elaborado junto com a insti- Segundo o Diretor-Presidente da AMAZUL, Newton Cos-
neiro (UFRJ). mento de investimentos em educação e formação de re- tuição e a empresa argentina INVAP. A AMAZUL também ta, a liberação de novos recursos é um indício promissor de
O Hackapower, parte das Olimpíadas Nucleares Brasi- cursos humanos. Ademais, um dos principais impactos atua no terreno onde será construído o RMB, colaborando que o governo federal poderá incluir o RMB na pauta de
leiras 2023 (ONB), contou com a participação de cinco gru- sociais positivos do projeto é a criação de empregos em com a execução de programas e ações socioambientais ne- prioridades na área da saúde.
pos competidores de diversas instituições de ensino em vários setores, impulsionando o crescimento econômico cessárias ao licenciamento do empreendimento. A AMAZUL mantém outra parceria com a CNEN na área
todo o Brasil. A competição atraiu estudantes de gradu- na região e no país. O recente contrato assinado pela AMAZUL permitirá a da medicina nuclear, contribuindo com a implantação de
ação, mestrado e doutorado com um interesse apaixona- execução de algumas metas previstas no convênio firma- um programa de modernização no Centro de Radiofarmá-
do pela energia nuclear, cibernética e inteligência artificial do em dezembro de 2022 entre a Financiadora de Estudos cia do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN),
aplicadas a essa área. Patricia Wieland, uma das pesquisa- A CONEXÃO NUCLEAR CONVIDA VOCÊ PARA LER AIN- e Projetos (FINEP), a CNEN e a Fundação PATRIA, no valor em São Paulo, que garante a produção e distribuição de ra-
doras que faz parte da organização, ressaltou a importân- DA MAIS SOBRE O PROJETO VENCEDOR CLICANDO de R$ 172 milhões, destinados às obras do RMB. Essas me- diofármacos para todo o País, proporcionando a melhoria
cia do evento ao enfatizar que ele fortalece a colaboração NO LINK / QR CODE. <<INSERIR LINK OU QR CODE>> tas se referem à elaboração do projeto detalhado de enge- da qualidade de vida de milhares de brasileiros.

22 Conexão Nuclear | NÚMERO 17 | DEZEMBRO 2023 WWW.ABDAN.ORG.BR 23

 INFORME PUBLICITÁRIO
COOPERAÇÃO
INTERNACIONAL EM
MEDICINA NUCLEAR
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS),
o câncer é uma das causas mais comuns de morte
no mundo e mais da metade dos novos casos da do-
ença são registrados na África, Ásia, América Cen-
tral e do Sul.
Graças ao desenvolvimento de tecnologias para
o tratamento e diagnóstico do câncer, cada vez mais
tipos dessa doença são tratáveis. Mais de um terço
dos cânceres são evitáveis, e alguns dos mais co-
muns – incluindo câncer de colo de útero, mama,
cabeça e pescoço e cólon – são curáveis com diag-
nóstico precoce e tratamento adequado. Ao mesmo
tempo, as chances de vencer o câncer dependem,
em grande parte, de onde o paciente vive. Muitas
pessoas em países de baixa e média renda ainda
não têm acesso a serviços de diagnóstico e de saú-
de que salvam vidas.
Provavelmente, é por isso que os produtos mais
populares da Rosatom no exterior são os isótopos,
que são usados como matéria-prima para a produ-
ção de radiofármacos, e os cíclotrons, nos quais es-
ses isótopos são produzidos.
CÍCLOTRON PARA A BOLÍVIA
O projeto de referência da Rosatom na área de de-
senvolvimento da produção de isótopos na América
Latina é a construção do Complexo Pré-clínico Cí-
clotron-Radiofarmacia (PCRC em inglês), uma das
principais instalações do Centro de Pesquisa e De-
senvolvimento em Tecnologia Nuclear na cidade de
El Alto, Bolívia. O complexo entrou em operação co-
mercial em 9 de março de 2023, a cerimônia contou
com a presença do presidente do país, Luis Arce. O
nível tão alto do evento se explica pelo fato de que o
desenvolvimento da medicina nuclear é um projeto
estratégico para o país.
A construção do PCRC é um dos marcos im-
portantes na implementação do plano do gover-
no de criar uma rede de centros de medicina nu-
clear em todo o país. Até o momento, a Bolívia
tem três centros de medicina nuclear e radiote-
rapia que trabalham com isótopos baseados em
24 Conexão Nuclear | NÚMERO 17 | DEZEMBRO 2023
Cíclotron-Radiofarmacia.
O projeto de criar uma rede de centros de me-
dicina nuclear e radioterapia tornou-se uma salva-
ção para milhares de bolivianos, que agora podem
se submeter a diagnósticos e tratamentos de câncer
de alta precisão o mais rápido possível. Desde sua
inauguração, mais de 20.000 procedimentos já fo-
ram realizados nos centros de medicina nuclear de
El Alto e Santa Cruz. Entretanto, poucos anos atrás,
esse era um sonho inatingível para muitos mora-
dores locais. Muitos tipos de diagnósticos e trata-
mentos só podiam ser realizados no exterior, o que
dificultava muito o acesso das pessoas menos fa-
vorecidas economicamente às tecnologias com as
quais muitos de nós estamos acostumados.
O sucesso desse projeto atraiu outros países da
região. Em particular, a Nicarágua está demonstran-
do interesse na construção de um complexo cíclo-
tron para a criação de um setor nacional de medi-
cina nuclear.
DESENVOLVIMENTO DA MEDICINA
NUCLEAR NA RÚSSIA
Na década de 1940, cientistas soviéticos começaram
a investigar como a radiação afetava os organismos
vivos e se ela poderia ser usada para fins medicinais.
Logo, a União Soviética tornou-se um dos líderes de
um novo ramo da medicina – a medicina nuclear.
Na década de 1970, um terço de todos os tratamen-
tos por feixe de prótons no mundo ocorria na URSS.
Na década de 1990, a Rússia tornou-se um dos maio-
res produtores mundiais de radionuclídeos.
Por exemplo, os especialistas da Rosatom estive-
ram entre os primeiros no mundo a criar uma pro-
dução industrial em larga escala de itérbio176 e lu-
técio176, os materiais de partida para o lutécio177.
Além disso, várias tecnologias para a produção do
próprio lutécio177 têm sido desenvolvidas e imple-
mentadas. Atualmente, muitos radiofármacos dire-
cionados estão sendo desenvolvidos no mundo com
base nesse radioisótopo para o tratamento de tumo-
res inoperáveis e metástases.
INFORME PUBLICITÁRIO
Hoje, a medicina nuclear é usada na Rússia para diag-
nosticar e tratar várias doenças, em particular, doenças
cardiológicas e neurológicas. Mas a principal direção é
a luta contra o câncer. Na Rússia, 14 radiofármacos e 19
kits frios de diagnóstico para Tc-99m estão registrados e
a maioria deles é produzida internamente. A terapia com
base em I-131 para câncer de tireoide e tireotoxicose é res-
ponsável pela maior proporção dos procedimentos (mais
de 75%).
A base tecnológica e muitos anos de experiência permi-
tem que a Rosatom produza quase qualquer produto isotó-
pico, de modo que a Rosatom tem atualmente a mais am-
pla gama de isótopos produzidos do mundo, e todos os
radiofármacos mais procurados estão representados no
mercado russo.
Na medicina nuclear, os isótopos produzidos em rea-
tores, em geradores e, pelo método acelerador, em cíclo-
trons estão agora em proporções aproximadamente iguais.
A Corporação Estatal possui as competências mais podero-
sas do mundo em tecnologias de reatores e geradores. Oito
locais principais da indústria estão envolvidos na produção
de isótopos médicos usando o método do reator: o Institu-
to de Pesquisa Físico-Química Karpov, NIIAR (Instituto de
Pesquisa Científica para Reatores Nucleares), Instituto de
Materiais Nucleares IRM JSC, Instituto de Física e Energia
A. I. Leypunsky, JSC “Instituto de Rádio”, Mayak, a usina
nuclear de Leningrado e o Centro de Diagnóstico de Alta
WWW.ABDAN.ORG.BR
Tecnologia. Em algumas plantas, a produção de isótopos é
implantada em vários reatores ao mesmo tempo. Em geral,
pelo menos 30% da frota mundial de reatores envolvidos
na produção de isótopos para fins medicinais está locali-
zada na Rússia. A Corporação Estatal Rosatom é um dos
cinco maiores produtores de radioisótopos.
NOVAS CAPACIDADES PARA A PRODUÇÃO
DE RADIOFÁRMACOS
Agora, a Rosatom está desenvolvendo sua própria infraes-
trutura médica, a fim de fornecer aos residentes da Rússia
uma gama completa de serviços médicos, assumindo total
responsabilidade pela qualidade e resultado do tratamen-
to em todas as etapas. O objetivo é aumentar a disponibili-
dade de tecnologias médicas vitais, equipamentos e medi-
camentos para os pacientes sem depender do trabalho de
outras empresas ou suprimentos do exterior.
Esta gama de tarefas é resolvida pela integradora nesta
área - Rusatom Healthcare JSC, que reúne uma série de fa-
bricantes líderes da indústria nacional, como a NIITFA JSC
(produção de equipamentos), JSC Isotope (fornecimento de
produtos isotópicos para as plantas do complexo isotópi-
co da Corporação Estatal Rosatom), Instituto de Pesquisa
Físico-Química Karpov (produção de radiofármacos), bem
como o Centro de Diagnóstico de Alta Tecnologia (produ-
ção de radiofármacos à base de radionuclídeos de vida ul-
tracurta – flúor-18 e outros para diagnóstico PET). Tam-
25
 INFORME PUBLICITÁRIO
bém está em andamento o trabalho para criar uma rede
de centros de medicina nuclear. Um deles será construído
nos próximos anos em Irkutsk. Centros semelhantes estão
planejados também para serem construídos em outras re-
giões da Rússia.
Como parte do programa da Corporação Estatal para
criar sua própria cadeia tecnológica completamente inde-
pendente no setor de saúde, está planejada a construção
da maior fábrica da Europa para a produção de radiofár-
macos de acordo com os padrões GMP (Boas Práticas de
Fabricação, em inglês Good Manufacturing Practices) na
cidade de Obninsk (Região de Kaluga), que produzirá me-
dicamentos exclusivos para o diagnóstico e tratamento de
doenças oncológicas, cardíacas, reumatológicas, neuroló-
gicas, endócrinas, produção em série de medicamentos e
equipamentos de alta tecnologia e criação de instalações
de infraestrutura médica. O comissionamento dessa fábri-
ca está previsto para 2025.
Kirill Komarov, Primeiro Vice-Diretor Geral da Rosa-
tom, comentou sobre este projeto: “Planejamos lançar
esta fábrica muito rapidamente, já em 2025. Tenho certe-
za de que esses radiofármacos serão procurados não só
em nosso país, mas também por todos os nossos parcei-
ros do BRICS”.
REFORÇAR A COOPERAÇÃO
INTERNACIONAL
Hoje, o fornecimento de isótopos é uma das principais áre-
as de negócio da Rosatom na América Latina. Em particular,
26 Conexão Nuclear | NÚMERO 17 | DEZEMBRO 2023
a Corporação Estatal é uma importante fornecedora de ma-
térias-primas para radiofármacos para o Brasil, que é um
parceiro estratégico da Rosatom na região. A estatal está
pronta para desenvolver cooperação, em particular, em áre-
ISÓTOPOS
as como a expansão da gama de isótopos fornecidos e a
criação de radiofármacos baseados neles.
A Rosatom está pronta para implementar projetos de
investimento com empresas privadas e estatais brasilei-
PARA UMA
ras na área de modernização e criação de novas e mo-
dernas instalações de produção de radiofármacos. Em
particular, há uma iniciativa de um projeto de investi-
mento para modernizar a produção de radiofármacos do
VIDA MELHOR
Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN)
de acordo com as normas GMP e criar uma joint ven-
ture em sua base, que pode fornecer produtos isótopos
não só para o Brasil, mas também para outros países da
América Latina.
Além disso, a Rosatom desenvolve equipamentos mé-
dicos e está pronta para oferecer aos seus parceiros solu-
65 ANOS de experiência na área de fornecimento de
ções tecnológicas para a produção de radiofármacos intei- produtos isotópicos
ramente no território de um país utilizando exclusivamente
suas próprias instalações de produção.
Um desafio fundamental para o setor de medicina nu-
Os produtos da ROSATOM permitem tratar e diagnosticar
clear é aumentar a disponibilidade de tecnologias, equi- cerca de 2,5 MILHÕES de pacientes por ano
pamentos e medicamentos médicos que salvam vidas
para pacientes com câncer. E a cooperação internacio-
nal, além do intercâmbio de experiências e a transferên-
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