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Expediente
Editor
Amaral Cavalcante
Produção
Cândida Oliveira
Design Gráfico
Adriano Mendes
Guto Arcieri
José Clécio
Revisão
Yuri Gagarin
Coordenador de Pré-impressão
Marcos Nascimento
Assessoria Técnica
Jeferson Melo
Gerente Editorial
Ana Carolline Oliveira
Cumbuca
Ano V | Número 13
cumbuca@segrase.se.gov.br
(79) 3205-7421
Rua Propriá, 227 - Centro
Aracaju - SE
Cumbuca conta com o apoio da Secretaria de Comunicação Social do Governo do Estado de Sergipe.
sobrevivência e arte
Clínio & Tabaréu
Passos: luteria,
de Notre Dame
Elias Santos:
Lindolfo Amaral
O Corcunda
Maria Carolina
das coisas
Álvaro Müller
Chico Varella
o tempo
Barcellos
carta ao leitor
su
m 04 16 28 48
A diretoria da Segrase, através da
Editora Diário Oficial de Sergipe/EDI-
SE, apresenta a edição nº 13 da Revista
ár
Cumbuca ao seu público leitor, cumprin-
20 36
do, mais uma vez, o dever de divulgar a
10 54
literatura sergipana nos seus mais diver-
sos aspectos e o de promover a atividade
io
cultural em nosso estado.
Como Empresa Estatal no âmbito
do Governo Estadual criada para produ-
zir e publicar o Diário Oficial do Estado
de Sergipe, a Segrase amplia suas fun-
ções institucionais implementando con-
A arte
Cataluzes
multicultural
de Ismael
Augusto
Luitgards
Pascoal Maynard
Pereira
Los Guaranis:
João Augusto
Gama da Silva
Juliana Almeida
os reis de baile
de Holanda:
Gilson Cajueiro
uma lembrança
tinuamente as atividades da sua editora,
a EDISE, responsável por trazer a lume
publicações essenciais à melhor com-
preensão da sergipanidade.
Assim, contribui efetivamente com
a arte e a cultura locais, promovendo o
registro de fatos históricos que nos dizem
respeito, difundindo a produção artística
contemporânea e oxigenando o ambien-
te cultural sergipano com a circulação de
novas ideias.
A revista Cumbuca, pela diversida-
de de temas abordados e pela excelência
dos textos produzidos por jornalistas e 44 - Poesia
intelectuais comprometidos com a difu- Bruno Pinheiro
são das nossas características culturais, Francisco Pippio
cumpre o compromisso do Governo do
Estado de trabalhar pelo desenvolvimen- 58 - Fernando Sávio: jornalista,
to integral do povo sergipano. amigo, intelectual e boêmio
Adiberto de Souza
64 - Imprensa Popular,
Ricardo José Roriz Silva Cruz
Presidente da Segrase
capa Comunista em Sergipe (1949-1964)
Gilfrancisco
Nº 13 - O Mistério da Sorte
Adriano Mendes 72 - Jesuítas como vilões
da História de Sergipe
Antonio Lindvaldo Sousa
Elias Santos
Maria Carolina
Barcellos O tempo das coisas
Série: Janela
4 | Cumbuca 2017 para Bispo - 2014. 2017 Cumbuca | 5
Viva Dominguinhos - 2014.
Apesar do domínio em diversas técnicas de desenho, xilogravura, pintura e escul- Gonzagão, Dominguinhos e o bando de
e materiais e do reconhecimento de sua tura. Hoje dá aulas particulares em seu Lampião), mas há qualquer coisa que se-
habilidade precoce, sua produção conti- próprio ateliê, o Espaço de Arte 745. Sua para as gravuras de Elias Santos das tra-
nuaria bem mais ligada ao conceito de atividade profissional vem sendo dividi- dicionais, que remetem à Literatura de
Arte Bruta, em vez de aderir às facili- da há algumas décadas entre a produção Cordel. “Ruídos” (2011) é uma amostra
dades de composições que tenham mais de sua obra e o ensino, algumas vezes do uso da técnica com traços muito par-
apelo comercial, uma escolha consciente. unindo as duas atividades, como no ano ticulares e com abordagem temática com-
Mesmo requisitado com a encomenda de de 2005, quando criou o projeto Gravu- pletamente contemporânea.
retratos e esculturas, Elias Santos pare- ra de Inverno, gerando ações para a di- A trajetória artística de Elias Santos
ce preferir focar sua energia na produção fusão da arte da xilogravura em Sergipe. tem uma marca muito peculiar: ao conse-
de obras que não lhe oferecem nenhum Na última década, aliás, tem pro- guir atingir um domínio técnico que lhe
adiantamento financeiro, e às vezes são duzido com sucesso séries de xilogravu- proporcionaria mercado para viver exclu-
frutos de meses ou anos de estudo sobre ras – muitos com o apoio de editais de sivamente de suas criações, o artista viu-se
temas não encomendados, ou seja, não cultura. Em 2012, criou a série “Bom diante da produção contemporânea, com
fazem apologia a nada além da forma e dia, Gonzagão”, em homenagem ao cen- a qual sentiu verdadeira identificação.
da própria estética. tenário de Luiz Gonzaga, aprovado pe- Com a necessidade de experimentar para
Paralelamente à sua produção ar- lo Ministério da Cultura, que circulou criar uma poética própria, sua obra dei-
tística, passa adiante seu conhecimento, em Exu (PE) e em Sergipe. Ainda com xou de ter como objetivo agradar o gosto
ministrando aulas. É professor do SE- a xilogravura, expôs no Museu Casa da de uma crítica média ou possíveis com-
NAC (SE) desde 1983. Atuou no Nú- Xilogravura, em Campos do Jordão (SP) pradores. A consistência de suas séries de
cleo Arte (no Cultart), na Galeria Álvaro e circulou por diversos museus do país, criações reside exatamente na necessidade
Santos, na Sociedade Semear, com aulas convidado pelo curador e também artis- de não se repetir. O impulso de gerar no-
ta Bené Fonteles, como único sergipano vas sensações submete a técnica, já domi-
a participar da mostra “Nordeste Rein- nada. Mesmo dentro de um universo apa-
ventado na imagem gravada”, ao lado de rentemente definido e confortável, como
nomes como Samico e Mestre Noza. Es- o da xilogravura, existe um traço inquieto
pecificamente no campo da xilogravura, na execução, que transforma uma técnica
há uma aceitação quase imediata da es- tradicional (e com temas que poderíamos
tética ligada aos temas tipicamente nor- chamar de familiares) em produto único
destinos (como as séries homenageando e absolutamente original.
2017 Cumbuca | 7
Série: O Prático, Zé Peixe - 2013.
Gonzaga e o Rio São Francisco
vão bater no meio do mar - 2012.
Em sua maneira de realizar intervenções res, formas e texturas têm muito a dizer Em silêncio, com pregos porosos de ferru-
urbanas, na escolha dos materiais, no viés para quem se dispuser a ouvir. gem, cheiro de borracha desprezada, Elias
que busca para dispor sua composição, Em 2014, foram expostas obras de Santos desperta nos olhos do expectador
Elias Santos sempre recorre ao inusitado, diferentes fases do artista, na exposição in- o que fuzis e bombas, espadas e lanças
o asfalto em vez do sagrado, o ruído no titulada: “O tempo das coisas”, no espaço abrem nos corpos. A ferida aberta da te-
lugar da melodia limpa. Abrindo mão do Semear. As obras ali dispostas apontavam la, a arqueologia da imagem. O sangue é
conforto do público, o artista se mantém para esse caminho sinuoso. Materiais que fictício, mas assombra. Corpos de animais
fiel à proposta de ele próprio não se aco- podiam estar enterrados ou descartados, abandonados. O grito pressentido fica es-
modar. Por isso suas fases parecem dis- ossos que podiam findar esquecidos po- tagnado na violência das formas. Não é
sonantes (ou até mesmo uma negação do savam para o artista como outrora damas mais a morte que vibra: o esqueleto é a paz
momento anterior): o tempo, o espaço e o e naturezas mortas em penumbra. O ero- final do corpo. E a obra é a possibilida-
olhar recusam o rótulo, e o criador prefere tismo e violência sutil de vermelhos, bor- de de vértebras convertidas em surpresa.
não comprometer a recepção do público racha e plástico unidos em aparente caos, Opacidade, absorção, invenção. Arte sem
criando legendas sobre as imagens. As co- mas que é minucioso e árido. moldura, sem prefácio.
2017 Cumbuca | 11
Dados biográficos
Ismael Pereira Azevedo nasceu no Estado de Sergipe, sem nunca
em 1º de outubro de 1940, na ci- abandonar suas experiências como
dade de Capela-Sergipe, filho de artista plástico.
Pedro Joaquim de Santana, ferrei- A primeira exposição indivi-
ro/mecânico e de Joana Pereira de dual de Ismael aconteceu na Gale-
Azevedo, doméstica. Ainda crian- ria de Arte Álvaro Santos, na época
ça, Ismael já demonstrava inte- em que era presidente o professor
resse pelo desenho, revelando a Clodoaldo de Alencar Filho. Co-
sua nascente vocação em rabis- mo artista plástico, Ismael Perei-
cos espalhados pela casa. ra já foi várias vezes catalogado e
Aos 18 anos, ingressa nas filei- premiado, sendo considerado pela
ras da Força Aérea Brasileira onde crítica especializada como um dos
o seu talento foi mais amplamen- maiores expoentes do chamado
te reconhecido e coroado de pleno “Neo-regionalismo Nordestino”. É
êxito, assumindo a função de dese- filiado a Associação Internacional
nhista do Esquadrão da Base Aérea de Artes Plásticas com sede em
do Salvador. Ao dar baixa da Força Paris – “AIAP”, realizou várias ex-
Aérea, consegue emprego de dese- posições coletivas e individuais no
nhista publicitário em Salvador nu- Brasil e no exterior.
ma fábrica de letreiros luminosos, Chegou um tempo, porém,
onde labora cerca de três anos, e, em que os condicionamentos figu-
após aprender tudo concernente- rativos regionalistas começaram
mente ao ramo, resolve voltar para a sufocar a criatividade do pintor,
Aracaju, com suas economias, ad- ele teve coragem de renovar-se,
quire o maquinário básico e monta formalmente. Primeiro, criou a sé-
seu primeiro negócio, constituindo- rie Guerreiro das Alagoas, na qual
se assim o pioneiro na fabricação os característicos chapéus dos in-
No exercício de apurar a beleza, que, pos- Recebem a atenção da rica paleta do artis-
de letreiros luminosos em acrílico tegrantes desse folguedo popular
teriormente, plasma em suas obras, o ar- ta tanto as convencionais telas quanto ob-
tista lança mão dos arabescos tão presen- jetos de arte popular, muitos deles de ar-
tes na arte islâmica, das volutas utilizadas tifícios anônimos, que são recolhidos em
profusamente na Grécia antiga e no Bar- suas andanças. Notáveis nos trabalhos em
Guerreiros de Alagoas - acrílico sobre tela.
roco e de elementos do pontilhismo carac- tela são as mandalas, elaboradas com pa-
terístico dos impressionistas. ciência monástica e muito apuro técnico.
Ao apropriar-se dessas referências A essas formas primordiais circulares, que
clássicas, Ismael Pereira as ressignifica por povoam o inconsciente coletivo de várias
meio da aproximação com elementos tipi- civilizações, são agregados os já mencio-
camente locais. Essa aproximação não se nados arabescos e volutas, minuciosos ele-
dá de maneira subserviente e nem envolve mentos filiformes e elementos geométricos
qualquer tipo de reprodução acrítica. Pelo dispostos de forma muito peculiar.
contrário, o artista, com muita maestria, Ao migrar das telas para objetos tri-
emprega, refinadamente, o legítimo recur- dimensionais, Ismael generosamente, em-
so do citacionismo, esse procedimento tão prega muitos dos elementos presentes em
usual na alta modernidade e que envolve suas mandalas agregando novos sentidos
o emprego, na concepção e elaboração de a esculturas antropomorfas e zoomorfas,
novas obras, de referenciais já consagrados objetos utilitários e devocionais. No esta-
na História da Arte. belecimento da cumplicidade entre Ismael
12 | Cumbuca 2017
inspiraram-lhe instigantes compo- emprestou um “sotaque” nordesti-
sições geométricas; depois, a Série no àquela linguagem.
Jangada das Alagoas, mostrando Vale ressaltar que, paralela-
velas reduzidas a simples triângu- mente à pintura de cavalete, Ismael
los, agrupadas em sobreposições, Pereira vem transformando objetos
ou servindo de suportes de ele- de cerâmica popular em autênticas
mentos decorativos e até mesmo obras de Arte, ao revesti-los com
logomarcas empresariais. Mais ino- um tratamento pictórico persona-
vadora, ainda, a Série dos Cajus, na líssimo, que os torna peças únicas.
qual não hesitou em desconstruir a Uma prática que, indubitavelmen-
fruta-símbolo de sua terra natal. te, configura uma ligação umbilical
De repente, o artista “des- com as tradições regionais.
cobriu” a mandala e dela se apro- É membro da Academia Ma-
priou para criar composições de ceioense de Letras, sócio honorário
tamanha minudência de detalhes da Associação dos Ex-Combatentes
que mais parecem saída das mãos do Brasil. É Mestre Instalado, Grau
de fada das nossas bordadeiras e 33 da Maçonaria, condecorado com
rendeiras. a “Medalha do Mérito Montezuma”.
Mandala - acrílico.
Aos poucos, porém, as cores Recebeu a Medalha do Mérito Iná-
– que o artista vinha mantendo re- cio Barbosa; a Medalha do Mérito
baixadas e aprisionadas pelos tra- Militar do Corpo de Bombeiros do
ços fortes do seu desenho, liber- Estado de Sergipe; a Medalha Seri-
taram-se, como na Série “Galos gy; a Medalha de Ordem ao Mérito
de Briga”, na qual as cores já cria- Parlamentar do Estado de Sergipe
vam sozinhas as formas pretendi- e o Título de Cidadão Aracajuano
das – isoladas ou afrontadas. Dan- outorgado pela Câmara Municipal
do mais um passo, Ismael Pereira de Aracaju. É Membro da Acade-
dispensa essas últimas referencias mia de Letras de Aracaju, bacharel e variada gama de suportes sobre os quais
miméticas, deixando que as cores em Direito pela Universidade Tira- faz intervenções, o artista transmuta-se
explodissem, com estupefacien- dentes, continua pintando profis- em um demiurgo, na acepção platônica do
te riqueza de nuances, em compo- sionalmente nos suportes tela e termo, pois, ao observar as formas, empre-
sições resolutamente abstratas, cerâmica, escrevendo, publicando nha-se, denodadamente, no trabalhar de
chegando, assim, ao abstracionis- crônicas e artigos e realizando ex- potencializar as possibilidades estéticas de
mo informal onde Ismael Pereira posições periódicas. cada uma delas.
Nesse ofício de potencialização das
possibilidades estéticas, Ismael tem como
aliados a habilidade de estabelecer harmo-
nicamente a composição de suas obras, a
exploração sensível dos recursos óticos, a
criteriosa seleção de cores e as combina-
ções mais produtivas entre elas. Arremata
esse conjunto de elementos formais a lu-
minosidade que o artista tão bem trans-
põe do seu Nordeste para obras.
sos personagens. Clínio, em Simão Dias. musical e uma amizade que completa
Tabaréu, em Lagarto. Clínio recebeu sua meio século de existência. A arte, a cul-
- tura sergipana e os fabricantes de cerveja,
bosa, tipo faz tudo na Filarmônica Lira penhoradamente, agradecem ao Sérgio
Santana podendo-se, inclusive, considerá- por esta aproximação. Daí em diante, foi
-lo leaderband. Tabaréu, recebeu também só alegria.
do pai, o Dr. Guimarães, exímio violinis- Donos de memória musical inve-
ta, tocava na Orquestra Sinfônica de Ser- jável, Clínio e Tabaréu tocam por horas,
cobrindo uma enorme gama de músicas
Ambos nasceram bafejados pelo sopro de de seresta, sem repetição. Vale esclarecer, a
Euterpe, Musa da Música. existência de um caderno usado pelo Clí-
Corria o ano de 1968 e, em Ara- nio que, segundo as más línguas, tem le-
caju, Sérgio Botto promovia agitação tras que vão do maxixe ao cantochão me-
cultural na música de Sergipe. Maestro, dieval, do choro à dança kuarup. Falam
arranjador, compositor, pianista, do alto também que o violão do Tabaréu não é de
dos seus 1,60 metros, era, na realidade 6 cordas. Na realidade, tem sete cordas.
cultural, um indócil gigante. Inventou Sendo a última, invisível. Somente audível
uma roda de música que rolava na Praça nas baixarias e nos acordes.
da Bandeira, bucólico recanto da cidade Audições gratuitas podem ser de-
de Aracaju. Num desses eventos, formal gustadas no Bar e Restaurante do Camilo,
e musicalmente, Clínio e Tabaréu se co- em Aracaju, sextas-feiras às tardes. A alma
nheceram. Estavam criadas uma dupla e o estômago, agradecem de coração.
1. Clínio na bateria de Seu Barbosa, o pai
2. Com Sérgio Botto e Amaral Calvacante na década de 70
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cataluzes Pascoal Maynard
Álvaro Müller
Fotos: Valéria Bonini
guar
-anis Os reis de baile
A década de 1960 foi sui generis para o mundo sob
vários aspectos políticos, econômicos, realizações
de projetos culturais, alternativos e, principalmente,
musicais. É nos anos 60 que o rock no Brasil recebe
o nome de Iê, Iê, Iê. O movimento intitulado Jovem
Guarda, encabeçado por Roberto Carlos, Erasmo
Carlos e Wanderléa, dá aos adolescentes um espaço
importante no cenário cultural.
2017 Cumbuca | 37
“Bahia e Sergipe ficaram pe-
quenos para a Los Guaranis. Já
com cerca de vinte integrantes,
entre músicos, pessoal de apoio
l g
e empresários, a orquestra co-
meçou a viajar pelo país”.
Formação de 1966
Ano de 1963. Diante de tantos aconteci- cujas músicas ao piano eram modas nos quela época tinham conjuntos chamados Sociedade da Bahia divulgavam ampla-
mentos históricos na política mundial, no bailes da época. ‘Los Românticos’, ‘Los Mexicanos’ e ‘Los mente os bailes que lotavam. No reper-
esporte, foi o ano que marcou uma efer- Eram amadores e tocavam para se Mariachis’, então resolvemos mudar pa- tório havia música brasileira, americana,
vescência musical onde os Beatles chegam divertir. Com poucos instrumentos – es- ra Los Guaranis para chamar a atenção”, cubana, tudo que era sucesso. “Começa-
pela primeira vez ao topo da parada britâ- sencialmente de sopro que pegavam em- explica Bosco. mos a expulsar as bandas que tocavam
nica, com a canção “Please Please Me” e o prestado da Lira - se inspiravam no que Inicialmente apenas com músi- nos clubes. Todos queriam Los Guaranis.
Brasil perde um dos seus maiores compo- ouviam nas emissoras de rádio para for- cas instrumentais, Los Guaranis come- Tocamos em todos os clubes de Salvador,
sitores, Lamartine Babo, autor de famosas mar um repertório e se apresentar em pe- ça a expandir suas apresentações para os do pior ao melhor”, relembra Bosco.
marchinhas de carnaval e hinos de clubes quenos bailes em Lagarto e outras cidades clubes de Salvador. Com um repertório Bahia e Sergipe ficaram pequenos
tão representativos como Flamengo, Vas- sergipanas como Itabaiana. Desde cedo já mais exigente, logo vem à necessidade para a Los Guaranis. Já com cerca de vin-
co e Botafogo. A juventude da época se cruzavam as divisas da Bahia para se apre- de colocar um cantor. Mas não podia ser te integrantes, entre músicos, pessoal de
divertia ao som dos bailes em clubes e as sentar em cidades como Adustina, Cícero qualquer cantor. Além da boa voz, tinha apoio e empresários, a orquestra começou
emissoras de rádio traziam os sucessos de Dantas e Paripiranga. que ser bonito e ter presença de palco. O a viajar pelo país. Apresentou-se nos no-
todos os lugares. Em 1967 entra no grupo João Bos- primeiro cantor foi Boaventura ainda no ve estados nordestinos. Chegava a fazer 10
Foi justamente o rádio que alimen- co de Oliveira para ser guitarrista e logo final dos anos 60, depois vieram Alceu shows por mês. A elegância dos músicos
tou o desejo de adolescentes que partici- acaba se tornando empresário da banda. Monteiro, Roberto Alves, Petrúcio, Adal- chamava a atenção. Nos bailes, as apresen-
pavam da Lira Nossa Senhora da Pieda- Viajou para São Paulo e trouxe na mala venon... os clubes de Salvador eram os tações eram impecáveis e difícil era ficar
de, na cidade de Lagarto, distante 75 km teclado e acordeom para incrementar o principais objetivos. Inicialmente foram parado. O aposentado Francisco Macha-
de Aracaju, de formar uma banda para repertório. No início o nome da orquestra o Plataforma, Clube 6 e Piripiri. Não do, 68 anos, morador de Lagarto, lembra
se divertir e interpretar os clássicos dos era apenas “Conjunto Guarany”, referên- eram ainda os clubes mais famosos, mas que começou a acompanhar a Los Gua-
grandes mestres de orquestras america- cia a uma das mais representativas etnias foram suficientes para que a Los Guara- ranis aos 21 anos (idade permitida para ir
nas como Ray Conniff, francesas como indígenas das Américas. Como se tornou nis conquistasse um público baiano cati- aos bailes desacompanhado dos pais), nos
Paul Mauriat e o brasileiro Ed Lincoln, Los Guaranis? Pra ficar “na moda”. “Na- vo já nos anos 70. As rádios Excelsior e bailes “grã-finos”, como diz, nada se com-
parava à qualidade da orquestra. “Quando nhava inclusive os ensaios. Ele se intitula camarim do rei com muitas fotos e boas 50 anos depois
vejo essas orquestras famosas na televisão, fá número um e relembra a importância conversas. “Sem dúvida esse foi um dos
logo penso: ganhar para a Los Guaranis tá do carnaval na popularidade da orques- momentos mais importantes e marcantes Não só de um passado glorioso vi-
difícil”, destaca. tra. “Quando a Los Guaranis ia receber o da nossa carreira. Fomos elogiados pelo ve a Los Guaranis. Claro que com o pas-
dinheiro do carnaval, já estava contratada rei”, relembra emocionado Osman. sar do tempo a orquestra acompanhou as
Carnavais para o próximo ano”, ressalta. A rica trajetória da Los Guaranis traz mudanças de estilos musicais e de público.
shows acompanhando O baile de quatro horas
Nos anos 80 e 90, os músicos da Los Artistas famosos grandes nomes da mú- da Los Guaranis agra-
Guaranis também foram os reis do carna- sica popular brasileira. “O baile de quatro horas da gente de todas as
val de clubes de Aracaju. Era difícil con- Não demorou muito para a Los Cito alguns com enor- da Los Guaranis agrada idades. Não é à toa que
ciliar a agenda com tantos bailes. Foram Guaranis chamar a atenção de artistas na- me risco de muitos fica- gente de todas as ida- seu slogan é “Música de
muitos anos consecutivos nos carnavais do cionais. As apresentações abriam shows de rem de fora: Silvio Cé- des. Não é à toa que seu todas as gerações”. Das
Vasco, Associação Atlética de Sergipe e Iate estrelas da música brasileira como Roberto sar, Nelson Ned, Sérgio slogan é ‘Música de to- tradicionais músicas
Clube de Aracaju. Multidões ficaram até o Carlos. Só com o rei foram três apresenta- Reis, Antônio Marcos, das as gerações’”. americanas, cubanas,
sol raiar ao som das mais famosas marchi- ções. Uma das mais marcantes é relembra- Wanderley Cardoso, mexicanas e da jovem
nhas de carnaval. Foram tempos em que os da por um dos fundadores e ainda tocan- Jerry Adriane, Fagner, Cláudio Fontana. guarda brasileira aos mais novos sucessos
clubes eram os principais locais da folia de do na orquestra, Osman Carvalho. O ano Chegaram a fazer uma tournée de quinze do forró, axé e arrocha.
momo. Sejam nos bailes noturnos ou nas era 1974. O Tênis Clube do município de dias – de Pernambuco à Bahia - acompa- Também com uma nova geração de
famosas matinês, crianças e adultos apro- Feira de Santana, na Bahia, ficou pequeno nhando Benito di Paula, Perla e Alcione. músicos, a orquestra se renova, se atualiza
veitavam os quatro dias de pura alegria. para uma apresentação memorável de Ro- Os artistas mandavam os discos e a orques- e continua a fazer sucesso com um públi-
O músico Reinaldo Prata, segue a berto Carlos, com o show de abertura da tra sergipana ensaiava o repertório. Quando co fiel e conquistando novas platéias. Faz
Los Guaranis desde os anos 60. Acompa- Los Guaranis. Depois do show visita ao as estrelas chegavam já estava tudo pronto. ensaios semanais para manter um reper-
Quando a gente
esperava o inverno
não esperava água, apenas. PROBIDADE
Nasci pedra
E havia sempre e, principalmente,
um enorme prazer vivi pedra, Francisco Pippio, nasceu em
na incerteza dessa espera apesar do furtivo rio Graccho Cardoso – Sergipe.
que se multiplicava no lombo das formigas de imponderável água mole. Professor de Sociologia da rede
que se abasteciam das minguadas estadual de ensino de Sergipe, é
palhas verdes de capim, CAVALO DE PAU bacharel em Direito e bacharel
prevendo o tempo de desestio. O cavalo de pau insone enviesou-se e licenciado em Ciências Sociais.
até se postar de frente para a lua. Autor do livro de poemas As
Quando a estação do inverno nascia, Cidades, Editora 7 Letras, 2006
MODO DE FALAR ÀS COISAS O cavalo de pau encarava a largueza do mundo e do livro infantil Cutucando a
Desaceitando vaqueirar vacas (ela nascia primeiro roncando
em nossos peitos), com um olhar aguado onça com vara curta, Cortez
José quis ser vaqueiro de borboletas. de quem julgava que se desarborizou por Editora, 2016. Premiado
As borboletas viviam ocultadas o céu se emborcava
e a chuva papocava nos telhados punição. no Concurso de Contos e
em suas ausências de verão Poemas Manuel Bandeira, do
e não aceitaram ser atangidas feito vacas. das casas que sofriam de abafação.
O cavalo de pau se desimportou Centro Acadêmico de Letras
José encasquetou de vaqueirar as casas com São Jorge montado em seu cavalo branco da Universidade Federal de
que descansavam acocoradas no morro Até que muito depois
uma nesga de sol surgisse no desenho prata da lua. Sergipe - UFS, em 1997 e nos
com suas paredes indesatavelmente azuis Concursos Literários Santo
e de madeira bruta descabida nos portais. das mãos de nossas mães
que estendiam seus arco-íris de chita Ao cavalo de pau interessava apenas Souza de Poesia, 2003 e Núbia
Mas as casas desaceitaram que a lua fosse vista pela coruja Marques de Contos, 2004, da
o laço desavizinhador. nas janelas dos quintais.
que mora no marmeleiro que o pariu Secretaria de Estado da Cultura
José, então, se encegueirou no tanger e que havia lhe emprestado os olhos. de Sergipe.
das palavras devolutas recolhidas na rua. HORIZONTE
As palavras, descompromissadas Onde estiveste de manhã
que não viste o sol, na crista do galo, DESPEDIDA
de protocolos, se desimportavam com o Do amor que me desacompanhou
modo extraordinário de José falar às coisas. avermelhar o horizonte?
na partida, nenhuma falta.
Bem assim, por que Porque o amor permanece no depois.
não acordaste quando
o canto alvar do galo ecoou, É da aridez do abandono,erguido
apesar de não sabermos onde? entre nós como parede chapiscada
escorando o rosto, que me queixo.
O sol, feito lâmina afiada
afastou-nos o galo, É da garapa do beijo,
mas por hora basta-nos que não me lambuzou,
que o horizonte esteja lá. que padeço.
Na passagem pelo principal jornal seu texto”, lembra Aberto, jornalista cari-
baiano, Fernando também impressionou rense radicado em Salvador.
o jornalista sergipano Alberto Oliveira:
“Ele tinha pelo menos duas qualidades: Salvo pelo texto
um texto exuberante e a humildade de
aceitar modificações nele; e um defeito: foi A irreverência era uma marca em
jornalista 20 anos depois do que deveria Fernando Sávio. Segundo Amaral, “talvez
ter sido. Escrevia respeitando as vírgulas, a porque nunca se importasse com as conse-
concordância, lapidando o estilo, buscan- quências do que fazia”. E o poeta tem ra-
do as palavras certas e a ordem exata delas; zão. Certa feita, nosso jornalista se juntou
o jornalismo de sua época, no entanto, co- a uma hippie e, depois de todos os goles
meçava a considerar tudo isso uma perda e fumos, foram à penitenciária de Aracaju não deixando nada a dever aos grandes da
de tempo”. insuflar os policiais a soltarem os detentos, literatura, como Garcia Marques e João
E Alberto prossegue: “Em A Tarde, “estes pobres injustiçados”. Foram presos! Ubaldo Ribeiro. Era um excelente editor
trabalhamos em editorias diferentes. Eu, O sargento que lavrou o flagrante propôs e pauteiro. Um repórter completo, levan-
em Economia; ele, em que os enquadrassem tava tudo sobre a notícia e escrevia de for-
Cidade. No carnaval, na Lei de Segurança ma objetiva e factual. Irreverente, possuía
no entanto, quando to- “O coronel respon- Nacional. O coronel um humor cortante, mas era também um
das se fundiam porque sável pelo caso também responsável pelo caso amigo doce e cativante, frisa.
a edição tinha um úni- achou uma insubordina- também achou uma Carlos Magno lembra de como ter-
co tema – a folia, pude ção sem limite a atitude insubordinação sem li- minou com Fernando uma noitada de
editar suas reportagens. de Sávio, mas ponderou: mite a atitude de Sávio, boemia: “Na madrugada, o convidei para
Lembro de uma delas, “Só não ferro com você mas ponderou: “Só não dormir no meu apartamento, que era vizi-
em que narrava terem porque adoro suas crôni- ferro com você porque nho ao escritório de um advogado traba-
colocado uma fantasia cas na Folha da Praia”. adoro suas crônicas na lhista. Ali, desempregados faziam fila logo
(então conhecida co- Folha da Praia”. Dito cedo para serem atendidos. Acordei às 8
mo mortalha) na estátua do poeta Castro isso, encerrou o Inquérito Policial Militar. horas, com dezenas de peões dando risa-
Alves. Troquei a legenda da foto para al- Colega de Sávio na Gazeta de das. Deitado na sala, com a porta aberta
go como ‘antes te houvessem rasgado na Sergipe e na Folha da Praia, o jornalis- para espantar o calor, meu amigo estava
avenida que servires ao poeta de mortalha’, ta Carlos Magno diz que “ter convivido nú em pelo e roncava igual a um porco. A
empréstimo deslavado de verso célebre do com Fernando foi um privilégio. Ele foi síndica, uma senhora de óculos fundo de
Navio Negreiro. Nunca esqueci da alegria o cara mais inteligente e interessante que garrafa, batia palmas bem forte para acor-
de Fernando, pulando na Redação, por conheci na vida. Escrevia com estilo in- dá-lo. Quando Fernando abriu os olhos,
considerar que a edição havia valorizado confundível, seu texto era deslumbrante, ela bufou: ‘Bonito isso, né, moço?’. Ainda
Imprensa
ros, as primeiras reuniões, as detenções ou na terra dos irmãos Gorender, Leôncio
prisões, o ano em que chegou aqui na pro- Basbaum, Mario Alves, Edison Carnei-
víncia e se estabeleceu como agremiação ro, Maurício Grabóis, Ruy Facó, Milton
em Sergipe
na época se interessou em registrar a da- dos jornais sergipanos, divulgadas atra-
ta nem os nomes dos companheiros fun- vés de artigos dos acadêmicos do curso
dadores. Não há registros em jornais ou de Direito da Faculdade da Bahia, Carlos
Carlos Garcia
1949-1964 documentos até o momento descoberto.
Na Bahia as ideias se afloram no início
Garcia (1915-1971), Sinval Palmeira mi-
litantes comunistas presos em 1935. Em
dos anos 30. Dois anos depois Carlos 1937 é criada na Bahia a primeira revista
Gilfrancisco Marighella (1911-1969) ingressa na Ju- comunista do país, Seiva, criada em 1937
ventude Comunista e participa de mani- e dirigida por João Falcão, onde colabo-
festações contra o regime autoritário e o ram intelectuais sergipanos como Carlos
interventor (cearense) Juracy Magalhães Garcia e João Carlos Borges.
2017 Cumbuca | 65
A Verdade (1949-1951) de Bombeiros, utilizando-se de viaturas da Secretaria de Segurança Pública, do Esta- sergipano: “pela paz, contra as guerras
Prefeitura a do D.E.R., invadiram a reda- do de Sergipe, prendem dezenas de comu- de agressões, e o envio de tropas brasi-
O rador da turma de formandos em de- ção e oficinas do jornal, apreendendo a sua nistas. O jornal A Verdade teve a porta leiras para a Coréia ou qualquer outra
zembro de 1945 da Escola Técnica de edição especial que devia circular naquele arrombada por três ou quatro investigado- parte, por melhores dias para os traba-
Comercio - Sergipe, José Waldson de Oli- dia. De arma em punho, num acinte de res que, exorbitando da sua autoridade de lhadores e todo o povo”.3
veira Campos (1926), teve como colega o violência, os policiadores praticaram toda lá arrancaram o seu diretor: A imprensa popular sergipana não
companheiro de luta Fragmon Carlos Bor- sorte de arbitrariedade, ameaçando mesmo “Alguns foram presos e agarrados se intimida com as constantes ameaças e
ges que não se formou na mesma turma. depredar as oficinas e máquinas daquele ór- em plena Rua João Pessoa sem nenhum continua enfrentando as dificuldades fi-
José Waldson é o primeiro diretor de um gão da imprensa sergipana. A brutal agres- flagrante de atividade ilegal. Outros foram nanceiras para mantê-la e recorre ao po-
jornal comunista que circulou em Sergipe, são da polícia incomodou, inclusive, o sos- trazidos à Chefatura quando discursavam vo sergipano para conseguir recursos na
A Verdade, que sobreviveu com muitas di- sego da vizinhança, que foram tomadas de em ônibus coletivos, numa atitude, aliás, compra de novos equipamentos gráficos.
ficuldades tendo seus jornalistas e operários pânico, sob a ameaça de terem as suas casas responsável porque, mesmo num regime Contando com o apoio da Imprensa Ser-
presos por várias vezes e suas oficinas des- revistadas pelos desordeiros policiais”. 1 em que se respirasse um clima de liberda- gipana, por uma imprensa popular e de-
truídas pela força policial do estado de Ser- Segundo o que foi apurado os pre- de ideal, poderia suscitar a parte, discus- mocrática, publica quase que diariamente
gipe. Alguns colaboradores: Renato Mazze juízos montam a mais de Cr$300.000,00 sões e tumultos com graves perigos para os apelos como este, “Cem mil cruzeiros para
Lucas, Fragmon Carlos Borges, José Wald- e os membros da comissão, responsabili- passageiros, senhoras e trabalhadores que, a Imprensa Popular”:
son, Carlos Prestes, Astrojildo Pereira zam o Governo do Estado e o seu Secretá- cuidavam apenas de se transportar ao tra- “Mais uma vez nos dirigimos ao po-
Na manhã do dia 7 de janeiro, nu- rio de Segurança por esses danos. balho ou ao repouso. vo sergipano, após os graves atentados so-
merosos policiais, inclusive investigadores, O jornalista do Sergipe-Jornal, J. É necessário que as autoridades fridos pela imprensa democrática de nosso
dirigidos pelo inspetor de segurança, in- Gusmão de Andrade publica o artigo Os compreendam os limites que separam a Estado por parte dos grupos dominantes,
vadiram as oficinas do jornal A Verdade, inimigos da Liberdade de Imprensa, defesa da ordem e os direitos dos cidadãos com que mandaram depredar e incendiar
apreendendo a edição que devia circular que assim inicia: inclusive de liberdade de imprensa (quer a tipografia onde era impresso o jornal
em homenagem à data da Independência, “Em terras sergipanas novamente a sejam comunistas ou não), como também popular A Verdade. Com o crescente pe-
além de ameaçarem de prisão jornalistas e liberdade de imprensa está sob o arbítrio os que os comunistas não confundam agi- rigo de guerra e agravação da situação de
operários das oficinas. O Correio de Ara- das autoridades policiais. tação da ordem com agitação de proble- miséria e pauperismo das grandes massas
caju, também registrou este atentado que Repetem-se agora os mesmos aten- mas que eles julguem necessário adverti- populares, se torna urgente e inadiável a
culminou com a invasão da redação e ofi- tados, as mesmas violências do passado rem ou defender. necessidade de fazer voltar à circulação os
cinas do jornal: estadonovista, quando eram crime e liber- O que é que o povo não pode ser jornais que defendem realmente a paz e são
“Esteve nesta manhã em nossa re- dade de pensar, falar e escrever. joguete de um e outro lado”.2 os porta vozes firmes e – consequentemente
dação uma comissão de jornalistas de A Naquela época, durante o período As perseguições continuam meses dos operários, camponeses e de todo o po-
Verdade, composta dos Srs. José Waldson, intervencionista do Sr. Maynard Gomes, depois a Associação Sergipana de Aju- vo, que lutam por alcançar dias melhores e
Fragmon Borges, José Rosa de Oliveira e era Secretário de segurança o Sr. Manuel da à Imprensa Popular, dirige-se a todos mais justas condições de existência”.4
Renato Chagas, para protestar contra as Ribeiro, sobre quem pesa ainda hoje, a para protestar contra os graves atenta-
últimas violências da polícia culminadas responsabilidade da invasão e fechamento dos à Imprensa democrática verificada Jornal do Povo (1945-1948)
ontem com invasão da redação e oficinas por longos dias, do Sergipe-Jornal e Cor- em nosso Estado, que culminou com a
daquele jornal. Às 10 horas e meia de on- reio de Aracaju.” bárbara depredação e incêndio da tipo- Tendo iniciado a sua publicação no
tem, justamente quando o povo se prepa- No final do mês de agosto de 1951 grafia que imprime A Verdade, jornal final do mês de novembro, o semanário
rava para comemorar as solenidades do um grupo de investigadores, por ordem da profundamente ligado às lutas do povo
Dia da Independência, cerca de 40 policia- 3 Sergipe-Jornal. Aracaju, 29 de setembro, 1951.
dores, investigadores e soldados do Corpo 1 Correio de Aracaju. Aracaju, 8 de setembro, 1951. 2 Gazeta Socialista. Aracaju, 1º de setembro, 1951. 4 Sergipe-Jornal. Aracaju, 31 de outubro, 1951.