COMO DESCOBRIR SUA VOCAÇÃO E CHAMADO

A JORNADA
COMO DESCOBRIR SUA
EM BUSCA
VOCAÇÃO DE UMA
E CHAMADO
TEOLOGIA RELEVANTE

Aula
Aula 151
18
24de
demarço de2021
junho de 2021

YagoMARTINS
YAGO Martins

Transcrição: Pedro Antunes Revisão e adaptação: Débora Oliveira

Transcrição: Júlia Costa | Revisão e adaptação: Alana Lins | Diagramação: Loanny Costa
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 COMO DESCOBRIR SUA VOCAÇÃO E CHAMADO

Aula 15
Como descobrir sua
vocação e chamado
Nossa aula hoje será sobre vocação e chamado. Sendo assim, falare-
mos em tons bem pastorais, bíblicos e testemunhais sobre como nos
encontramos no reino de Deus. Nós tivemos aulas bem difíceis, de
aprofundamento sobre idolatria do coração, portanto, agora falaremos
de alguns assuntos um pouco mais simples e fáceis, a fim de acalmar
a nossa cabeça, além de lançar para as outras áreas da vida e então ter
aulas sobre outros temas.

O tema da aula de hoje mexe com o meu coração desde muito

jovem, mesmo antes de entrar no seminário teológico, especialmente
porque fazia parte da minha jornada pessoal como alguém tentando se
encontrar no caminho de Deus. O primeiro livro que eu publiquei na
minha vida foi o Você não precisa de um chamado missionário, pela
editora Concílio, da série Grande Comissão, um livro muito bem reco-
mendado, pelo Nicodemos, pela Norma Braga, pelo Renato Vargens,
que foram muito graciosos ao indicá-lo. Ele trabalha no contexto da
Grande Comissão, mas não vamos estudar um capítulo desse livro
hoje, a ideia não é essa, mas ele é um resumo de tudo o que eu acre-
dito sobre vocação e ministério. “Você não precisa de um chamado
missionário” é uma frase muito simples e poderosa, porque passamos
muito tempo da nossa vida sentados aguardando a manifestação de
algum ministério da parte de Deus, de forma sobrenatural, em que
Deus vem falar conosco e nos achamos no seu reino. Geralmente isso
vem de ficar parado, fazendo pouquíssima coisa, meio que perdido em
um tipo de limbo ou em um tipo de adolescência espiritual esperando
Deus nos guiar até o seu chamado, até o seu ministério. Quando eu
viajava para dar aulas de missões pelo Brasil e pregar em conferências
missionárias no Brasil inteiro, constantemente os jovens me procu-
ravam para dizer: “Yago, eu tenho um chamado para as nações, mas
eu nunca consegui ir para o campo missionário ainda, o que eu faço?

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Eu tenho muita vontade de evangelizar neste ou naquele lugar, de le-

var a mensagem de Deus, eu quero ser pastor, mas eu não sei se eu
tenho chamado.” E fica nesse negócio todo de desculparmos a nossa
ausência de percepção de chamado à falta de algum tipo de revelação
especial acerca de para onde devemos ir.

Muitas pessoas acabam convictas do ministério porque recebe-

ram profecias, inclusive eu recebi várias delas, além de ver isso acon-
tecer com outros colegas pelo Brasil. Alguém chega, põe a mão na
sua cabeça e diz que você está separado para as nações, que você vai
ser missionário, cantor, profeta, ou músico e, geralmente, vai ser onde
você acaba se encaixando. E aqueles que não receberam essa imposi-
ção de mãos de um profeta, que não receberam a revelação especial
acerca de onde Deus lhe quer são pessoas que acabam se sentindo no
limbo, sem saber o que fazer.

Muitas vezes existe um tipo de terceirização da fé, mas como

isso acontece? Existem aqueles que Deus chamou, que Deus comis-
sionou, para pregar o evangelho, servir à igreja, levar a Palavra, fazer
o bem e evangelizar. Em contrapartida, há os que não foram chamados
e que não receberam ainda essa revelação especial, que morrem de
vontade, mas que até então não foram colocados por Deus no serviço
missionário.

Perceba que na nossa própria vida é comum que fiquemos per-

didos e não saibamos exatamente onde nos posicionamos no mercado
de trabalho. Você é mãe e às vezes trabalha fora e quer ficar em casa,
ou está em casa e queria complementar a renda; você é um marido que
tem um emprego, mas trabalha com o que não gosta; você é um jovem
que está na faculdade e está tentando descobrir se vai casar ou não.
Todos nós estamos no meio do caminho de alguma forma, tentando
nos encontrar e descobrir o que Deus quer de nós e como melhor ser-
viremos ao reino. Todos nós vivemos em um nível de confusão acerca
do que esperamos de nós mesmos sobre a existência, isso porque não
temos, para a vida comum, respostas cabais e diretas de Deus sobre o
que deveríamos estar fazendo: “Eu não sei o que Deus quer de mim
no mercado de trabalho. Ele quer que eu seja advogado ou médico?”,
isso não está em Mateus 12.14. Eu não tenho como abrir a Bíblia e

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descobrir o que Deus espera de mim no meu emprego, ou como um

universitário, ou a melhor área para investir os meus recursos, pois é
muito difícil encontrar uma revelação direta da parte de Deus sobre
a vida comum e, geralmente, tomamos decisões baseados em outras
coisas. Talvez possamos ter uma aula somente sobre como tomar de-
cisões segundo a vontade de Deus. Mas nós não tomamos decisões
jogando uma moeda para cima e esperando que Deus nos guie assim,
não tomamos decisões esperando que Deus nos traga uma revelação
direta se é hora de vender o carro e comprar um novo ou não. Não
tomamos decisões esperando que um profeta venha nos dizer se é hora
de renovar o seguro ou se devemos esperar mais um pouco, ou se es-
pera virar o cartão e só assim fazer outra compra. Essas são decisões
que tomamos com base em princípios da Palavra de Deus, em uma boa
sabedoria santificada e em bons conselhos, com inteligência e fugindo
da tolice.

Quando, no entanto, falamos de nossa vida espiritual, sobre

aquilo para o qual Deus nos chamou para a manifestação da fé na vida,
nós não deveríamos viver assim. Não tomamos decisões unicamente
baseadas em boa sabedoria porque não sabemos qual a melhor decisão
a tomar. Existe uma revelação especial, a nossa querida e maravilhosa
Bíblia Sagrada onde Deus fala conosco e diz exatamente o que Ele
espera de nós como cristãos para nos tirar da adolescência e da imatu-
ridade espiritual, para nos tirar da confusão, para nos tirar da sensação
de que não sabemos para onde ir. Todo cristão que é chamado, é de-
signado para um trabalho e nós gastamos tempo demais imaginando
especificidades desse trabalho, esperando que Deus venha nos dizer
exatamente os detalhes desse trabalho e, enquanto não recebemos esse
guia, nos eximimos daquele que é dado a cada um de nós. Nós iremos
falar um pouco sobre o ministério, sobre o chamado para o pastorado
e para o trabalho missionário, mas queremos falar para todos que são
cristãos que você que é um cristão comum que precisa pensar sobre
aquilo que Deus espera sobre você, sobre qual a sua vocação, qual o
seu chamamento em um nível de fé.

“Eu tenho um chamado”, você pode dizer e cada pessoa pode

sim ter um chamado particular da parte de Deus e, ainda podemos falar
sobre o ministério pastoral como a um cristão ordenado a ser pastor e a

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ser missionário, mas antes disso, todos nós somos chamados. Um cha-
mado que é ministerial e que se manifesta em nossa vida diariamente
é o que eu tento desenvolver no Você não precisa de um chamado
missionário, mas, antes de falar desse livro, deixe-me falar de um ou-
tro que é muito importante na minha vida do autor Dave Harvey, que
também escreveu o Quando pecadores dizem sim. O livro se chama
Eu sou chamado? A vocação para o ministério pastoral, que Harvey
escreveu com mais de 26 anos de experiência pastoral. Ele fala sobre
como identificar o chamado ao ministério, mas antes mesmo disso ele
fala que somos chamados ao Salvador. Citando o autor e teólogo Sin-
clair Ferguson, ele diz o seguinte: “Sinclair Ferguson, pastor e teólogo
ressaltou que, no Novo Testamento, uma das mais frequentes descri-
ções dos crentes em uma única palavra é chamado, e essa descrição
nos faz perguntar, o que devemos fazer com isso? Parece que temos
apenas duas opções. Podemos pensar que isso nos torna muito impor-
tantes. Deus me chamou. Ou podemos entender que isso torna Deus
muito importante. Deus me chamou. Quem realmente está no centro
da chamada do Chamador?”. Ele vai argumentar, então, que Deus é a
base do nosso chamado, porque somos chamados por Deus e que nos
convida a esse relacionamento com Ele. Deus é quem olha para nós e
nos traz em um chamamento para si. Ele vai dizer mais a frente, em
uma citação de Os Guinness, do livro The Call, que “antes e acima de
tudo, somos chamados para alguém, que é Deus, não para algo, como
maternidade, política e ensino, ou para algum lugar, como o centro da
cidade ou a remota Mongólia”. Nós somos chamados, irmãos, para
Deus, Ele nos chama para si. Nós éramos ovelhas desgarradas, perdi-
das no mundo, esperando que o mal viesse nos abocanhar, mas Deus
olhou para nós e nos chamou e é isso que lemos em Romanos capítulo
8, que Deus nos chamou. A linguagem de “chamados” no texto bíblico
é uma linguagem de salvação, pois quando falamos em chamado, esta-
mos falando principalmente de salvação. É isso que nós encontramos
no Novo Testamento, que o chamado, quase sempre, é uma referência
à salvação e não ao ministério.

Então, quando dizemos “Qual é o meu chamado?”, acima de

qualquer coisa, nós estamos falando de um Deus que chama e de um
Deus que nos chama para si. O seu chamado, acima de qualquer coisa,
é um chamado para o Senhor, para glorificar o seu nome, para viver

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para a glória dEle, para viver de uma forma que diga para o mundo
que há um Senhor que guia a nossa vida. Esse é um chamado para nos
afastarmos do pecado e para vivermos em santificação, é um chama-
do para nos afastarmos do orgulho e vivermos em humildade, é um
chamado para nos afastarmos da ira e vivermos em mansidão, é um
chamado para nos afastarmos da vingança e vivermos em perdão, é
um chamado para negarmos a nós mesmos, tomarmos nossa cruz e,
então, segui-lo. Esse é o nosso chamado. Esse é o seu chamado se
você é cristão. Você foi chamado para Deus mais do que chamado para
algo ou algum lugar, pois foi chamado para alguém. Deus te chamou
para si e isso deveria ser a base de toda a sua vida, não apenas do seu
ministério, mas da tua vida.

Quando você está na igreja e diz: “nossa, eu não sei qual é o

meu chamado”, talvez não tenha conhecimento de que você está em
um relacionamento direto e profundo com o próprio Deus. Quando
somos batizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, a ideia
é que somos introduzidos em um relacionamento com o Pai, com o
Filho e com o Espírito Santo. Nós somos dele, vivemos em comunhão
com ele e vivemos para ele, centrados nele. A palavra é Coram Deo,
diante de Deus, que significa viver em Teo-referência, como dizem os
reformados, porque vivemos para Ele, para a glória d’Ele, para a honra
d’Ele.

Então, você se sente perdido no seu chamado, se você não sabe

qual o seu lugar no reino, antes de tudo, o seu lugar é com Deus. Se
você não acha que isso é suficiente, então não está pronto para fa-
zer coisas para Deus, porque você vai acabar substituindo Deus pelo
serviço a Deus. Você vai acabar substituindo Deus pelo reino, Jesus
pela igreja e acabar vivendo uma fé meramente comportamental. Nós
precisamos de intimidade com Deus e comunhão com o Senhor, nós
precisamos da presença d’Ele e de olhar para Cristo como uma pessoa
que nos acompanha e diante de quem nós vivemos, pois somos chama-
dos para Deus. Isso tem que, por si só, bastar. Eu sei qual é o meu cha-
mado. “Ah é? Então tem que fazer o que para Deus?”. Não sei o que é
que tem que fazer para Deus, eu não sei qual é o meu campo missioná-
rio, eu não sei qual é o meu ministério específico, eu não sei identificar
quais são os meus dons, mas eu sei que eu vivo para Deus. Viver para

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Deus já é chamado o bastante, pois é perder um coração de pedra e ga-

nhar um coração de carne, é perder a amizade com o mundo e, agora,
ser amigo de Deus. É parar de estar sujeito ao príncipe da potestade do
ar e, agora, viver como filho da obediência com o Espírito falando ao
teu espírito que você é filho de Deus. Esse é o seu chamado, esse é o
melhor chamado que você pode ter, esse chamado se basta na tua vida
e isso sozinho é o bastante. Sabe por quê? Porque quando nós chegar-
mos aos céus, não vai ter evangelismo, não vai ter missões, não haverá
dons. Quando chegarmos aos céus, teremos a presença de Cristo e de
Deus. Se você vive a vida da fé muito mais preocupado com aquilo
que faz, do que com a comunhão que você tem, possivelmente ainda
não entendeu que, por toda a eternidade, nós vamos mais desfrutar do
que fazer. O Guilherme Nunes quem diz isso em uma frase dele que
mexe muito comigo: “o cristianismo é mais sobre desfrutar que sobre
conquistar”, essa nossa luta por encontrar vocação e chamado é uma
luta por conquista, por fazer coisas. Quando nós entendemos que, se
somos cristãos, nós somos chamados para ele, somente assim teremos
um Cristo para desfrutar, para sempre, por toda a eternidade. Agora,
esse chamado para Cristo, claro, desemboca em outros chamamentos,
seja para o ministério pastoral, ou para o ministério missionário, seja
o próprio chamado que todo cristão recebe para ser um pregador e ser
alguém que ensina.

Em primeiro lugar, você é chamado para Deus e em segundo

lugar, você é chamado para servi-lo no mundo. Não estamos falando
aqui de ministério pastoral ou obra missionária ainda, mas da vida
da fé. A vida da fé inclui pregação do Evangelho, mesmo que você
não seja um pastor, inclui evangelismo mesmo que você não seja um
missionário, porque a vida da fé coloca todos nós diante de um mun-
do que precisa ser alcançado. Se abrirmos o nosso Novo Testamento,
encontraremos os mais variados lugares onde todo crente é convidado
à obra missionária. Nós temos um treinamento chamado Academia
de Missionários onde desenvolvemos tudo isso com mais cuidado e
tem um módulo inteiro só sobre a minha série de livros sobre a grande
comissão, que é praticamente uma aula para cada capítulo. Mas deixe
que façamos para você um pouco de teologia bíblica sobre evangelis-
mo no Novo Testamento: toda a Igreja é chamada para evangelizar,
toda a Igreja calça as sandálias do evangelho da paz, toda a Igreja,

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e não só os missionários. Paulo entendia que, quando ele pregava o

Evangelho em uma igreja, ele sabia que os membros daquela igreja
levariam seu amor e sua graça a outras pessoas. Em Atos 8.1, temos
cristãos comuns evangelizando toda aquela região da Ásia Menor, le-
vando o Evangelho aos perdidos, cristãos comuns, não só apóstolos,
porque estes continuaram em Jerusalém, eles eram membros da Igreja
levando o Evangelho.

Por que não falar do maravilhoso texto da grande comissão?

Mateus 28.18-20 é um texto maravilhoso: “Jesus aproximando-se, fa-
lou-lhes dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide,
portanto, e fazei discípulos de todas as nações. Batizando-os em nome
do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar todas as
coisas que vos tenho ordenado e eis que eu estarei convosco todos os
dias até a consumação dos séculos”. Essa não foi uma mensagem dada
aos doze, por mais que Lutero pensasse assim, porque essa não é uma
mensagem dada apenas a pastores e presbíteros, por mais que Calvino
pensasse assim. Essa não é uma mensagem dada apenas para cristãos
individualmente, como muitos pensam modernamente, porque ela é
dada à Igreja como um povo comunitário. Todos nós como comunida-
de recebemos a ordem de Deus para levar o Evangelho, para pregar a
graça de Cristo para esse mundo perdido. Todos nós somos chamados
a evangelizar, todos nós somos chamados a ensinar: “Ensinando-os a
guardar todas as coisas”. Todos nós somos comissionados a Deus para
isso.

Pense em Colossenses 3.16, em que Paulo lidava com uma

igreja que lutava contra heresias, especialmente a heresia gnóstica,
que era muito séria e inundava a igreja de Colossos. Ele diz que a pala-
vra de Cristo deve habitar na igreja em toda sabedoria com os cristãos
ensinando e exortando uns aos outros. Como? Cantando salmos e hi-
nos e cânticos espirituais, com graça no coração. Nós nos exortamos,
nós ensinamos uns aos outros como comunidade e o livro de Hebreus
fala sobre isso. Paulo escreve, na maioria de suas cartas, sobre a ne-
cessidade de nos encorajarmos mutuamente. Você é um Cristão e tem
um chamado, pois você é chamado para cumprir a grande comissão,
evangelizar e ensinar. Sendo assim, você não precisa de um chamado
missionário, uma vez que já tem uma comissão da parte de Deus para
levar a sua mensagem ao mundo caído e necessitado.

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Imagine que eu chego em um irmão que está batendo na espo-

sa. Eu sento com ele e digo: “cara, o que é que está acontecendo?” e
ele me diz: “Eu não acho que fui chamado para ser calmo, pastor”; eu
chego em uma senhora que está traindo o marido e pergunto: “por que
você está fazendo isso?” e ela me diz: “Eu acho que não fui chamada
para ser fiel”. Muitos de nós estamos vivendo vidas inúteis com Deus,
sem produzir nada, sem conquistar nada e nós dizemos que é porque
achamos que não fomos chamados.

Talvez você não tenha sido chamado por Deus para ser um
pastor, ou um mestre, ou mesmo um missionário, mas certamente foi
chamado por Deus para pastorear os irmãos do seu lado, evangelizar
os descrentes, ensinar a Palavra aqueles que se aproximam da fé, por-
que todo crente foi chamado a Deus para isso. Nós, então, não nos
engajamos no serviço do reino porque não estamos dispostos a viver
aquilo que Deus comissiona todo crente a viver. Todo crente deveria
estar vivendo a vida da fé evangelizando e ensinando. Portanto, se
você se sente perdido na fé, numa grande adolescência espiritual, sem
saber para onde ir, porque ainda não entendeu que, pelo simples fato
de ser crente, já existe uma obra gloriosa à sua frente. Spurgeon dizia
que “todo cristão, ou é um missionário, ou é um impostor”, mas é claro
que aqui o termo missionário está sendo usado de forma mais ampla.
Todo cristão é alguém que está levando a mensagem do Evangelho e
que está seguindo a missão. Todo cristão é alguém que está pregando
para os cristãos à nossa volta. Se você é cristão, deveria arder no seu
coração um chamado da parte de Deus para levar Cristo a quem preci-
sa, para evangelizar, para instruir os jovens na fé e ensinando-os a obe-
decer tudo aquilo que Jesus ensinou. Você tem um chamado da parte
de Deus pelo simples fato de ser cristão para evangelizar descrentes,
ensinar novos convertidos, para exortar aqueles que estão fracos na
fé, para ser instrumento de Deus àqueles que precisam. Pelo simples
fato de ter sido chamado para Deus, você foi chamado a um serviço a
Deus.

Você acha que eu estou exagerando? Lembra o que Pedro es-

creveu em sua epístola? “Vocês são geração eleita, nação santa, sa-
cerdócio real, raça exclusiva de Deus”, para quê? “Para proclamardes
as maravilhas desse Deus”. Fomos chamados para proclamar, ele nos

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chama para que falemos para além de nós. No livro A vida centra-
da no evangelho, lemos que, quando o Evangelho começa a trabalhar
em alguém, ele nunca termina de trabalhar nesse alguém, ele sempre
continua trabalhando para além desse alguém. Se o Evangelho come-
çou a trabalhar em você, ele vai continuar trabalhando em você, para
trabalhar através de você. Você muitas vezes não age, vivendo uma
vida morna com Deus, porque não entendeu que, ao ser chamado para
Deus, você foi impulsionado por Deus para, então, agir para Ele.

Nós acreditamos muitas vezes que existe algum tipo de ate-

ísmo cristão, uma vida da fé altamente descompromissada, onde va-
mos para igreja, ouvimos os sermões, lemos a Bíblia em casa e é isso,
mas a vida da fé de verdade é para quem é missionário, para quem é
“jovenzinho”, para quem é pastor. Isso é mentira do Diabo tentando
convencê-lo a ficar deitado em uma rede, cantando “eu quero trabalhar
para meu Senhor”. Não é para ficar deitado até meio-dia cantando “
Sonda-me Senhor e me conhece”, “usa-me como um farol que brilha
à noite, como ponte sobre as águas” e não faz nada para Deus. Nada!
Porque ainda está esperando um chamado missionário, porque ainda
está esperando alguma revelação, alguma manifestação de ministério,
quando todos nós deveríamos estar servindo no ministério de Deus, no
chamamento de Deus, onde Ele nos impulsiona, onde Ele nos envia e
nos dá força.

No capítulo oito de Você não precisa de um chamado missio-

nário, que leva o mesmo título do livro, é onde encontramos a cita-
ção de Ferguson dizendo que, no Novo Testamento, uma das mais
frequentes descrições do crente, em uma única palavra é chamado,
porque é isso o que nós somos, pessoas chamadas por Deus. Edmund
Clowney escreve que “não há chamada para o ministério que não seja,
primeiramente, uma chamada para Cristo. Somos chamados para Ele”.
Quando Paulo é chamado em Atos 16 para anunciar o Evangelho na
Ásia, onde o Espírito Santo apareceu e o comissionou para uma mis-
são específica, Paulo não estava parado esperando. Quando isso acon-
teceu, Paulo estava tentando pregar o Evangelho em vários lugares.
Paulo tentou pregar na Bitínia, mas Deus o impediu. O texto diz que
eles foram impedidos de anunciar o Evangelho na Ásia em Atos 16.6,
mas ele continua tentando ir. Paulo tentou pregar o Evangelho em vá-

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rios lugares e ainda assim o Espírito não deixava até que ele foi guiado
por uma revelação especial para um local onde pudesse pregar. O que
aprendemos com isso? Paulo não estava parado esperando Deus se
revelar para então agir em um ministério, mas ele estava agindo no
ministério e, enquanto ele agia, Deus se revelava. “Pastor eu quero en-
tender o meu lugar no reino, quero muito descobrir o que Deus quer de
mim”, alguém diz. Sabe onde você vai descobrir isso? Não é sentado
em casa, pois você não vai descobrir o seu lugar no reino no seu devo-
cional ou na sua leitura bíblica diária ou no culto de domingo – tenho
que dizer isso com muito cuidado – Sabe como você descobre onde é
o seu lugar no reino? É no trabalho do reino, mas entenda que eu não
quero desprezar a sua leitura bíblica ou o culto, pois o que eu quero
dizer é que o Espírito Santo se revela àqueles que estão trabalhando.
Deus apareceu para Paulo dizendo onde ele deveria pregar na visão
do homem macedônio enquanto pregava por toda a Ásia menor. Não
espere que Deus lhe guie em seu serviço ministerial para ele apontar
se você vai ser pastor, missionário, que tipo de serviço na igreja você
vai servir melhor ou não quando estiver parado, porque não é assim
que as coisas vão funcionar, mas quando você estiver com a mão na
massa, servindo.

Você acha que eu me encontrei no ministério dormindo até

meio-dia, participando de uma ou outra atividade da igreja? Eu sou
pastor desde os 23, fui para seminário aos 19 e já estava envolvido
com tudo que eu podia no reino de Deus desde os 15. Quando eu che-
guei na igreja, tentei fazer de tudo, mas eu não sabia qual era o meu
lugar no reino. Eu não só estava vivendo em um tipo de adolescência
espiritual, mas também uma adolescência de verdade. Sendo assim,
tentei fazer tudo: entrei no grupo de teatro, no grupo de louvor e no
grupo de dança. Além disso, estava na igreja de segunda a segunda,
ia para a classe de líderes e tentava fazer tudo o que desse para fazer.
Eu saía para evangelizar na praia, para a reunião de oração de sábado,
tentava pregar na escola, dar aula aos colegas, fazer estudo bíblico
com os amigos. Quando descobri a internet, comecei a fazer sincronia
de legenda de sermão americano, a escrever artigos, a fazer vídeo para
o YouTube, a pregar. Dessa forma, eu fui descobrindo coisas nas quais
eu era muito ruim: me tiraram muito rápido do ministério de louvor,
me tiraram muito rápido do ministério de dança, durei um pouquinho

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mais no ministério de teatro e fui percebendo que eu era razoavelmen-

te útil em um ou outro ministério específico. Até que eu evangelizava
com alguma coragem, ou eu ensinava com alguma capacidade e fui
encontrando espaço para o serviço. Enquanto eu ensinava, as opor-
tunidades foram se abrindo, eu fui pregando a Palavra, criando mais
gosto por aquilo. As pessoas em volta foram reconhecendo as minhas
capacidades, até que eu encontrei um lugar no reino para servir. Perce-
ba que, mesmo no lugar no reino que eu encontrei para servir hoje, que
é na área de ensino, ainda faço uma quantidade monumental de coisas
em termos de variedades. Eu sou pastor de uma igreja local, profes-
sor de um instituto teológico, Youtuber, blogueiro, dono de editora e
de um clube de assinatura literária, escrevo livros, faço rap. Existem
muitas coisas para fazer quando você é movido por um sentimento:
eu quero servir o povo de Deus. Eu fui chamado por Deus, para Deus,
impulsionado por Deus para o serviço ao seu povo e é importante que
pensemos na mesma coisa.

Como diz Eclesiastes 9.10, aquilo que te vier às mãos para

fazer, faze-o com todas as tuas forças e se engaje no reino. “Eu não sei
onde eu posso servir no reino”, então dê aula para as crianças. Quais
são as necessidades em volta? Onde precisa de alguém? “Falta quem
varra”, pois eu varro; “Falta quem cuide”, pois eu cuido. Procure as
suas necessidades ao redor e sirva. Entre nessas áreas, nesse mundo
que precisa de cuidado e pare de achar que o seu local no reino de
Deus será perfeito, que Deus vai te sentar lá pronto, preparado e boni-
to. O teu lugar no reino vai ser o lugar onde você vai se pôr. Quando o
mestre da lei chega em Jesus e pergunta qual é o maior mandamento,
Jesus diz que é amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a
si mesmo e o mestre da lei tenta escapar perguntando “ok, mas quem é
o meu próximo?” Ele queria dizer: “certo, eu tenho que amar o próxi-
mo como a mim mesmo, mas não é todo mundo que é o meu próximo
e Jesus responde: “tem um samaritano e um homem caído, o samari-
tano olhou para o homem caído e se aproximou dele” e pergunta no
final: “de quem ele se fez próximo?”

A grande questão não é qual o meu ministério ou qual o mi-

nistério Deus vai me dar, mas sim: Qual o ministério que eu vou me
colocar à disposição? Como eu posso servir? Onde eu posso suprir?

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Com o passar do tempo você verá em que áreas não é tão bom, ou você
pode acabar aprendendo e pegando o gosto e suprindo a necessidade
da sua igreja. A maioria de nós será chamado para as necessidades, a
maioria não vai ser chamado para o ministério que escolheu, porque
acha que é bom em tal coisa e vai oferecer isso ao mundo, quer ele
queira, quer não. A maioria de nós vai servir onde Deus mostrar ne-
cessidades a serem supridas, não porque é grande naquilo, mas porque
a sua igreja precisa daquilo e não tem um irmão que cuide dessa área.
Você pode cuidar dessa área, ela pode se tornar um ministério e você
tem que olhar para isso como Deus lhe impulsionando. A ordem da
Grande comissão não é um pedido, pois você foi chamado para isso.
Pregue o evangelho, discipule, ensine, aconselhem-se uns aos outros,
ajudem e suportem o peso uns dos outros, porque você foi chamado
para isso. Você já tem um chamado missionário, já tem um chamado
pastoral, pelo simples fato de ser crente, pois todo crente pastoreia
uma ao outro, todo crente prega para os que precisam.

Existe uma série de citações interessantes no livro e, dentre

elas, há uma do Gary Gilley que tem um livro chamado És tu Senhor:
Ouvindo a voz de Deus de uma perspectiva bíblica onde ele diz: “em-
bora Deus decidisse, ocasionalmente, dar direção especial, a alguns
poucos importantes líderes do Novo Testamento, nunca encontramos
tais pessoas buscando tal direção. Pedro estava dormindo no telhado,
Paulo em missão num país diferente, Felipe estava envolvido em uma
campanha de pregação. Todos eles estavam ocupados servindo ao Se-
nhor quando ele decidiu direcioná-los”. Para quem disser que estou
sendo frio espiritualmente, o Donald Gee é um famoso teólogo pen-
tecostal e diz o seguinte: “Existem vários problemas levantados pelo
hábito de receber mensagens pessoais de orientação por meio dos dons
do Espírito a Bíblia dá lugar para tal direção vinda do Espírito Santo,
tudo isto porém, deve ser mantido na devida proporção. O exame das
escrituras, mostrará que, de fato, os primeiros cristãos não recebiam
continuamente vozes do céu, na maioria dos casos, eles tomavam suas
decisões com base no que chamamos de senso comum santificado e
viviam normalmente. Muitos de nossos erros na área dos dons espiri-
tuais surgem quando queremos que o extraordinário e o excepcional
sejam transformados no frequente e no habitual que todos que desen-
volvem desejo excessivo pelas mensagens possam aprender com os

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enormes desastres de gerações passadas e com nossos contemporâ-

neos. As Sagradas Escrituras é que são lâmpada que iluminam nossos
passos e a luz que clareia nosso caminho”.

Veja, nós não podemos parar de servir esperando Deus falar,

porque Deus já falou. Você está esperando que Deus fale, para poder
falar o Evangelho para alguém? Ele já falou e já ordenou, “vai e pre-
ga”, Ele já ordenou, “ide e fazei discípulos”, Deus já trouxe uma men-
sagem específica e direta para você. Você foi chamado para ele, você
é sacerdócio real, meu querido, você já é um sacerdote e o sacerdócio
universal de todos os crentes está aí para nos dizer que nós somos dele
e que Ele espera de nós que levemos outros para Ele.

Eu gosto muito como Sophia Muller, missionária entre os ín-

dios da Amazônia, escreve justificando a sua ida ao campo missio-
nário: “eu não tenho um chamado, eu li uma ordem e obedeci”. Nós
somos ordenados, irmãos, ordenados à pregação do Evangelho, orde-
nados ao ensino, Deus nos chuta para isso. Essa é a linguagem do Jim
Elliot, Mártir entre os índios aucas no Equador: “nós não precisamos
de uma grande chamada de Deus, o que realmente necessitamos é de
um bom chute no traseiro.”

É disso que nós precisamos, irmãos, de um bom chute no tra-

seiro e Deus dizendo nos dizendo: “vai lá e faz, vai lá e ensina. Se
coloca na brecha e faz alguma coisa”. Entra nessa jornada e prega,
viva a vida em um tipo de utilitarismo doxológico. O utilitarismo é
um fenômeno ético que vem muito ligado a John Stuart Mill no século
XVIII, que fala que a busca máxima do homem deve ser pela felici-
dade, pela maximização das satisfações. O que é certo é o que gera
mais satisfação para as pessoas e nós devemos viver nossa vida em
um tipo de utilitarismo doxológico. O que é certo é aquilo que gera
mais glória ao nome de Deus. Você tem vários ministérios para servir,
o que vai glorificar mais ao nome de Deus nesse momento? Onde você
pode entregar mais glória ao nome do Senhor? Onde o nome de Cristo
pode ser mais louvado? Então você começa a entrar nesse caminho de
entender que não tem um chamado, que você tem uma ordem, uma
comissão que já deve se manifestar na sua vida.

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Quando eu estudava na faculdade de ciências contábeis na Fe-

deral do Ceará, já viajava o país para pregar. Eu estava, por causa do
ministério na internet, sendo reconhecido e queria muito ser pastor e
ir para o seminário. E eu não tinha coragem porque minha igreja não
tinha grana para pagar o seminário, na época, a minha igreja mal tinha
confiança em mim para me mandar para o seminário. Eu era muito re-
cente na igreja, havia acabado de sair do neopentecostalismo. Eu tinha
que passar por um processo muito grande para, então, ser enviado para
o seminário, mas existia um fogo juvenil que fazia com que eu qui-
sesse muito estudar. Eu queria muito largar a universidade e estudar.
Certo dia, eu assisti a um filme secular chamado V de vingança e, em
certa altura, a personagem Evey estava conversando com o terrorista
cujo codinome era V, ela pergunta se ele realmente achava que explo-
dir o Capitólio iria fazer do país um lugar melhor e eu ouvi a voz de
Deus naquele filme quando o V respondeu: “Não existem certezas,
apenas oportunidades”. No momento em que eu ouvi, aquilo falou ao
meu coração como se fosse um versículo bíblico. E essa foi a experi-
ência que me tirou da faculdade e me levou para o seminário, mas eu
não tinha certeza de nada, eu não sabia se teria grana para pagar e eu
não tinha. Um colega meu de ensino médio tirou o dinheiro do bolso
que o pai dele dava para ele se sustentar na faculdade em outra cidade
para poder pagar a matrícula, a Norma Braga e o André Venâncio me
ajudaram a pagar a mensalidade no começo, eu pedi ajuda na internet
para pagar as minhas mensalidades e arrumei um emprego em uma
imobiliária. Eu estava me organizando, eu queria casar, eu queria mui-
to ser missionário.

A missão GAP, que eu participava na época, estava quase fa-

zendo 15 anos e precisava muito de um missionário de tempo integral.
Quanto a missão tinha em caixa? Zero Reais. Era um monte de ado-
lescentes, porque o ministério começou com adolescentes pregando o
Evangelho em suas escolas e hoje tem 20 anos levando o Evangelho
ao perdidos em escolas do Ceará. Não tinha um real para sustentar um
missionário. Eu pensei: “vou ser um desempregado de tempo integral,
acho que vou largar o emprego e evangelizar nas escolas, porque essa
é a necessidade à minha volta. Eu vou arrumar um jeito de pedir di-
nheiro.” Eu pediria dinheiro na internet, essa era a minha solução. Eu
estava com muito medo de largar o emprego, ter que pagar o seminário

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e deixar tudo para ensinar. Então, enquanto eu estava tomando banho,

tinha um notebook da Itautec que eu deixava em cima do vaso sani-
tário tocando música. Nesse momento, estava tocando Engenheiros
do Hawaii, a música era Surfando karmas e DNAs e em um pequeno
trecho da música o Humberto Gessinger canta: “se eu soubesse antes
o que eu sei agora, eu erraria tudo exatamente igual, porque na falta
de algo melhor, nunca nos faltou coragem”. E essa frase “na falta de
algo melhor nunca nos faltou coragem” foi de novo Deus falando no
meu coração. Através de uma música do mundo, olha que loucura,
ele me fez entender que, eu preciso ter coragem e entender que pode
dar errado. Não havia garantias, eu podia não conseguir dinheiro,
eu poderia ter que voltar atrás porque as coisas poderiam dar errado.
Podia não haver um pote de ouro no final do arco-íris, porque muitas
vezes fazemos sacrifícios imaginando que em breve virá a recompensa
do sacrifício, mas poderia não haver nenhuma recompensa. A minha
recompensa poderia ser só no céu. Eu simplesmente poderia não con-
seguir dinheiro, não ter um real, ninguém que me apoiasse e ter que
arrumar outro emprego, tudo era altamente possível.

Eu preferi ter coragem e Deus foi muito gracioso, embora vá-

rios colegas que tiveram a mesma coragem não se deram muito bem.
Alguns largaram tudo e foram para o ministério e hoje estão subem-
pregados, pois a igreja não tinha como sustentá-los. Eles tiveram um
segundo filho, mas não tinham como pagar as contas com a ajuda que
a igreja dava. Acabaram tendo que largar o ministério e voltar para o
mercado de trabalho. Isso é possível para todos nós, e é o que poderia
ter acontecido comigo, mas, na falta de algo melhor, havia coragem
no fato de que o Evangelho nos impulsiona em direção àquilo que
devemos fazer. O que devemos fazer? Servir, pregar, ensinar. Eu não
era um missionário formalmente escolhido pela igreja e enviado pela
comunidade para o serviço, era só um cara que escolheu ficar desem-
pregado e pagava o próprio seminário, que pedia ajuda na internet para
poder pregar o Evangelho nas escolas. Uma situação bem anormal que
eu vivi e, se soubesse antes o que sei agora, eu erraria tudo exatamente
igual, teria feito as coisas do jeito que eu fiz. Na época, eu era juve-
nil, isso tudo me fez queimar muitas etapas e errar de muitas formas
e muito por falta de instrução de pessoas em volta que pudessem me
guiar durante esse processo. Justamente por isso eu quero guiar pesso-

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as próximas de mim nesse processo hoje, porque foi fazendo isso que
eu pude entender onde Deus me queria no seu reino.

Você se sente perdido no chamado e na vocação? Por que você

não faz alguma coisa? Por que você não pega o tema destas aulas e
prega, ensina, e dá discipulado? Vá em uma escola, em um presídio,
em um hospital, em uma praça. Procure os novos convertidos da igre-
ja. Por que você não chama o irmão para conversar, só para ouvir
como está o coração dele e o que ele precisa? Chega para o pastor e
pergunta a ele quais são os ministérios mais necessitados e diz que
quer servir em alguma coisa. Irmão, isso vai te colocar no reino e é daí
que saem pastores, missionários, médicos da comunidade.

“Yago, como eu sei então que eu sou chamado para ser pastor?
Ou missionário? Ou outras coisas mais próprias do reino?” Primeiro,
você se vê como chamado para Deus? Você está vivendo uma vida
firme com o Senhor? Vive em intimidade com Ele? Em segundo lugar,
você vive o chamado que é dado a todo crente? Por que eu não acredi-
to em quem diz que quer ser pastor e não cuida do coração do colega
do lado? Quem diz que quer ser missionário e não evangeliza no pró-
prio bairro? Quem quer ser mestre e não faz um discipulado com um
novo convertido? Você está vivendo a vida da fé? Porque é daí que
você se prepara, treina e é experimentado para o serviço missionário,
para o serviço pastoral, e é assim que surge esse chamado. “Yago,
como eu sei que eu posso ir para o ministério?” Eu costumo dar três
caminhos para isso.

O primeiro deles é o desejo. Você quer isso? Você quer ser pas-
tor? Muitos teólogos do passado, baseados em uma linguagem poética
e um tanto motivacional, acabam dizendo que você deve ser pastor se
não conseguir ser mais nada além disso. Você não tem que ser pas-
tor querendo esse ministério, mas quando é arrastado por Deus até
ele. No entanto, quando eu leio Paulo escrevendo a Timóteo, ele diz:
“quem deseja o episcopado, boa coisa deseja.” Episcopado no texto é
o serviço ministerial, como pastor ou presbítero. Eu acredito que você
tem que desejar o ministério para poder ser um ministro. Em algum
momento no seu coração, deve abrir uma vontade, pois ser pastor já
é muito difícil, e ser pastor sem querer é mais difícil ainda. Primeiro,

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você tem que ter um chamamento interno. O chamado para o serviço

pastoral e para o serviço missionário de tempo integral, é um chamado
que tem que está em seu coração, você tem que querer isso. Alguém
poderia dizer: “Pastor, Deus falou ao meu coração, Deus falou comi-
go e me chamou para ser pastor” e, geralmente, fala dessa vontade
interna. Contudo, essa vontade interna precisa ser confirmada por evi-
dências externas, uma vez que a fé sem obras é morta. Existem frutos
que confirmam a fé e alguns são plenamente convictos de que Deus
os chamou ao ministério, mas, como sabemos que isso é chamado de
Deus ou que isso é só um impulso emocional interior de vontade hu-
mana e talvez até carnal? Através de atos externos.

A segunda pergunta é: Você é apto para isso? Quando lemos

Paulo falando sobre as características do presbítero e do diácono, ele
diz, por exemplo, que eles são aptos para ensinar. Você é apto para o
ensino? Você é apto para o ministério que deseja desenvolver? Se não,
você busca essa aptidão? “Eu sinto que sou chamado ao ministério
pastoral”, o que você está fazendo para se preparar? Você está treinan-
do, ajudando o seu pastor nas atividades pastorais? “Deus me chamou
para ser um mestre”, você está estudando, lendo os livros, assistindo
às aulas, procurando os mestres, tentando se aprofundar, indo para a
faculdade? “Eu sei que eu quero ser missionário”, você está ouvindo
as conferências missionárias, aprendendo sobre missões, lendo sobre
antropologia, sobre evangelismo, sobre pregação? Veja, você precisa
ser apto ao ministério e ser apto fala sobre a capacidade sobre aquele
serviço. Eu conheci muitas pessoas que afirmavam que Deus lhes ha-
via chamado para fazer tal coisa e quando faziam aquilo era horrível.
“Deus me chamou para o louvor”, quando cantava, era horroroso e a
pessoa ficava acreditando em um milagre que Deus um dia realiza-
ria. Uma jovem uma vez me disse: “Yago, Deus me chamou para ser
médica. Eu estava em um culto, um profeta colocou a mão sobre a
minha cabeça e disse que eu faria medicina”, eu perguntei, “É mesmo,
irmã? Como estão suas notas no Enem?” Com as notas dela, ela não
passaria em cursos muito inferiores. Ela tentava ano após anos e não
conseguia, mas poderia ser uma ótima pessoa em outros cursos, mas
colocaram na cabeça dela que ela tinha que ser médica. O chamado
interior, convicção e vontade, não são o bastante se você não for apto
para aquilo. Se hoje você não é apto, busque sê-lo; se essa é a sua von-

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tade, mas não encontra uma aptidão, você pode caminhar em direção à
aptidão. Se você diz que Deus lhe chamou para ser músico e toca mal,
faça um curso; se para ser um pregador, mas não sabe falar direito, se
expressar, estude. Você acha que foi realmente Deus que te tocou, tor-
ne-se alguém apto. Alcançar a aptidão será uma das formas que Deus
vai confirmar que esse chamamento interno é realmente importante.
Claro que Deus pode fazer coisas sobrenaturais, mas você está dispos-
to a fazer apostas muito altas em algo que Deus ainda não manifestou?
Se você não cantar bem no ensaio, Deus não vai fazer um milagre no
culto. Se você não pregar direito, ou não evangelizar na vida comum,
não vai ser na grande conferência que você caiu de paraquedas que vai
fazer um milagre. Deus normalmente faz as coisas em um caminho de
aperfeiçoamento pessoal, Deus vai te ensinar. O próprio Jesus crescia
em graça e em conhecimento e em estatura e é isso que Deus espera
de nós. Comece dando aula para as crianças, discipule os novos con-
vertidos e encontre a aptidão.

Uma terceira coisa, que talvez seja das fundamentais: você tem
o caráter necessário para o ministério? Quando Paulo escreve sobre
as características de um presbítero e de um diácono, o que ele faz é
descrever um cristão maduro: não é dado a muito vinho, é amoroso,
não é ganancioso, não tem lucros desonestos, ele é hospitaleiro, ele
é marido de uma só mulher e os filhos são bem criados. Você é uma
pessoa que tem uma vida de fé exemplar? Ou você é alguém que,
de vez em quando, bebe demais, passa da conta? Você é alguém que
ainda arruma um jeitinho de ganhar dinheiro, ou é muito apegado aos
recursos que tem? Você gosta de uma vida reclusa, isolada, ou você
abre as portas da sua casa para receber a quem precisa? Você é violen-
to? Você xinga no trânsito? Os seus filhos fazem o que querem e você
não consegue ensiná-los no caminho da Palavra? Você flerta por aí?
Veja, a vida do serviço ministerial é uma vida de homens a quem Deus
confere maturidade para o serviço. A vida missionária é um caminho
de homens e mulheres que Deus prepara para que sejam um exemplo.
Se você não tem isso ainda, mas tem uma convicção interna, perceba
que o que está interno não condiz com o externo. O que vai provar que
existe realmente algo interno é que há uma confirmação externa. Você
procura aptidão, você procura a vida que corresponde a esse chama-
mento, você encontra a Deus.

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Mas como julgar isso? É uma pergunta muito honesta. Eu te-

nho um chamado interior, onde sei que sou apto? Como eu vou sa-
ber se tenho um caráter pronto? A resposta é muito simples. Aqui eu
cito diretamente o Heber Carlos de Campos Júnior que para mim é
quem melhor descreve isso: “Deus chama homens e mulheres para o
ministério através da igreja”. Deus chama através de uma igreja que
chama, tendo em vista que a igreja que escolhe os seus presbíteros. É
o presbitério que aponta outros presbíteros. Geralmente, o processo de
você ser encontrado como parte de uma obra missionária, como parte
da obra de ensino de uma comunidade, vem da comunidade reconhe-
cendo isso em você. Você saberá que foi chamado para o ministério
porque sua igreja pode chamá-lo para o ministério. Você deixa claro
que deseja o episcopado como uma coisa boa, que está no seu coração
e as pessoas à sua volta vão reconhecer isso, o seu pastor vai poder ver
isso em você. Parte de ser um pastor é ajudar as pessoas a chegarem
mais longe, mais rápido e melhor naquilo que Deus projetou para elas.
É a sua igreja que vai abrir o caminho para que você seja chamado o
ministério, pois isso não é uma coisa que você compra para si, mas sim
algo que Deus prepara e entrega através da sua comunidade, ou seja,
você não vai chegar muito longe se desejar servir no ministério sozi-
nho. Somos chamados para Deus e somos chamados como um povo.
Somos enviados por Deus, mas somos enviados como povo, como
comunidade do reino.

Sendo assim, nós lidamos com três chamados nesta aula: Pri-
meiro vem o nosso chamado a Deus, porque somos todos chamados
para o Senhor. O segundo chamamento é para a vida da fé, que in-
clui: pregar, evangelizar, ensinar e todos nós estamos nisso. E então,
um terceiro chamado que seria um chamado que não é para todos os
crentes, mas para alguns, como pastores, mestres, e são pessoas que
Deus separa para fazer o que todo cristão já faz, só que agora por mais
tempo, melhor, e com mais intensidade, guiando os outros a fazerem
o mesmo. É assim que encontramos o nosso lugar no reino e vivemos
contentes com isso.

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