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MINISTÉRIO DA ADMINISTRAÇÃO INTERNA

POLÍCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA


DIRECÇÃO NACIONAL
UNIDADE ORGÂNICA DE OPERAÇÕES E SEGURANÇA
Departamento de Investigação Criminal

PSP.PT

COMUNICADO TÉCNICO OPERACIONAL

DIC/NAAT/01//20023
29SET2023

A - ASSUNTO

Esclarecimento e uniformização de procedimentos, no âmbito do tráfico de estupefacientes


concretamente com a entrada em vigor da Lei n.º 55/2023, de 8 de setembro, e as alterações
produzidas no Decreto-Lei n.º 15/93, de 22 de janeiro, que veio classificar o regime sancionatório
relativo à detenção de droga para consumo independentemente da quantidade.

B - REFERENCIAS LEGISLATIVAS.

 Código de Processo Penal


 Decreto-lei n.º 15/93, de 22 de janeiro
 Lei n.º 30/2000, de 29 de novembro
 Lei n.º 55/2023, de 8 de setembro

C - INFORMAÇÃO GENÉRICA

É unanime a vontade clara do legislador de, com a entrada em vigor da Lei n.º 30/2000, de
29 de novembro, descriminalizar as condutas de consumo de droga, revogando o artigo 40.º da DL
n.º 15/93 quanto ao consumo.

Contudo, com a Jurisprudência fixada pelo Acórdão n.º 8/2008, vigorante ao momento, a
aquisição e a detenção de droga, mesmo que para consumo próprio, constitui crime de consumo,

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nos termos do artigo 40.º, n.º 2, do DL n.º 15/93, desde que seja em quantidade superior à necessária
para consumo médio individual durante o período de 10 dias.

Vem agora o legislador clarificar e distinguir as condutas de “Quem, para seu consumo,
cultivar plantas…” e “A aquisição e a detenção para consumo próprio das plantas…”

Assim, o legislador mantém, atualmente, incólume o crime de cultivo para consumo, ainda
que nos termos do n.º 5 o agente possa ser dispensado de pena.

Todavia, a alteração legislativa preconizada pela Lei n.º 55/2023, de 8 de setembro, veio
introduzir alterações relativamente à aquisição e a detenção para consumo, que nos termos da nova
redação do n.º 2 do artigo 40.º do Decreto-Lei n.º 15/93, de 22 de janeiro, configuram uma mera
contraordenação.

D – INFORMAÇÂO ESPECIFICA

Lei n.º 55/2023, de 8 de setembro

Clarifica o regime sancionatório relativo à detenção de droga para consumo,


independentemente da quantidade e estabelece prazos regulares para a atualização das normas
regulamentares, alterando o Decreto-Lei n.º 15/93, de 22 janeiro, e a Lei n.º 30/2000, de 29 de
novembro.

O artigo 2.º da Lei n.º 55/2023, de 8 de setembro, promove alteração ao artigo 40.º do Decreto-
Lei n.º 15/93, de 22 de janeiro, que fica com a redação seguinte:

Artigo 40.º [...]


1 - Quem, para o seu consumo, cultivar plantas, substâncias ou preparações compreendidas nas
tabelas i a iv é punido com pena de prisão até 3 meses ou com pena de multa até 30 dias.
2 - A aquisição e a detenção para consumo próprio das plantas, substâncias ou preparações
referidas no número anterior constituí contraordenação.

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3 - A aquisição e a detenção das plantas, substâncias ou preparações referidas no n.º 1 que exceda
a quantidade necessária para o consumo médio individual durante o período de 10 dias
constituí indício de que o propósito pode não ser o de consumo.
4 - No caso de aquisição ou detenção das substâncias referidas no n.º 1 que exceda a quantidade
prevista no número anterior e desde que fique demonstrado que tal aquisição ou detenção se
destinam exclusivamente ao consumo próprio, a autoridade judiciária competente determina,
consoante a fase do processo, o seu arquivamento, a não pronúncia ou a absolvição e o
encaminhamento para comissão para a dissuasão da toxicodependência.
5 - No caso do n.º 1, o agente pode ser dispensado de pena.
(negrito nosso)

Redação anterior

Artigo 40.º
Consumo
1 - Quem consumir ou, para o seu consumo, cultivar, adquirir ou detiver plantas, substâncias ou
preparações compreendidas nas tabelas I a IV é punido com pena de prisão até 3 meses ou com
pena de multa até 30 dias.
2 - Se a quantidade de plantas, substâncias ou preparações cultivada, detida ou adquirida pelo
agente exceder a necessária para o consumo médio individual durante o período de 3 dias, a pena
é de prisão até 1 ano ou de multa até 120 dias.
3 - No caso do n.º 1, se o agente for consumidor ocasional, pode ser dispensado de pena.

Ainda:

O artigo 2.º da Lei n.º 55/2023, de 08 de setembro, promove alteração ao artigo 2.º da Lei n.º
30/2000, de 29 de novembro, que fica com a redação seguinte:

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1 - [...]
2 - Para efeitos da presente lei, a aquisição e a detenção das plantas, substâncias ou preparações
referidas no número anterior que exceda a quantidade necessária para o consumo médio
individual durante o período de 10 dias constitui indício de que o propósito pode não ser o de
consumo.
3 - No caso de aquisição ou detenção das plantas, substâncias ou preparações referidas no n.º 1 que
exceda a quantidade prevista no número anterior e desde que fique demonstrado que tal
aquisição ou detenção se destinam exclusivamente ao consumo próprio, a autoridade
judiciária competente determina, consoante a fase do processo, o seu arquivamento, a não
pronúncia ou a absolvição e o encaminhamento para comissão para a dissuasão da
toxicodependência..

(negrito nosso)

Redação anterior

Artigo 2.º
Consumo

1 - O consumo, a aquisição e a detenção para consumo próprio de plantas, substâncias ou


preparações compreendidas nas tabelas referidas no artigo anterior constituem contraordenação.
2 - Para efeitos da presente lei, a aquisição e a detenção para consumo próprio das substâncias
referidas no número anterior não poderão exceder a quantidade necessária para o consumo médio
individual durante o período de 10 dias.
Significando que todas as condutas de posse de estupefaciente, ainda que excedam a quantidade
necessária para o consumo médio individual durante o período de 10 dias, desde que se demonstre
que tal quantidade se destina a consumo individual, ou dito de outra maneira, não se demonstrando
o tráfico a Autoridade Judiciária competente determinará o seu arquivamento, não pronúncia ou
absolvição, conforme a fase do processo.
Importa, contudo, salientar que o critério objetivo relacionado com a quantidade necessária para o
consumo médio individual durante o período de 10 dias, expresso na portaria n.º 94/96, de 26 de
março se mantém em vigor, resultando meramente de que a posse de droga acima desse valor
constitui mero indício de que o propósito pode não ser o de consumo.

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Mantendo inalterado o anterior quadro legal quanto à conduta de cultivo de plantar, mesmo
que para consumo, o legislador alterou agora o quadro legal de conduta de aquisição e detenção
para consumo, mesmo nos casos em que as quantidades excedam a consumo médio individual
durante o período de 10 dias, caso em que apenas constitui indício de que o propósito pode não ser
o de consumo.

A dificuldade de interpretação do atual quadro legal residirá na operacionalização das


situações que, no limite, poderão conduzir à detenção em flagrante delito, sobretudo quando em
circunstâncias de quantidade superior ao consumo médio individual durante um período de 10 dias.

Aqui importa distinguir duas situações:


i) Situações em investigação; e
ii) Situações inopinadas.

As situações em investigação têm por base sempre uma conduta criminal em contexto
organizado e, portanto, enquadradas em outros artigos do Decreto-Lei n.º 15/93 que não o artigo 40.º

As situações inopinadas serão aquelas que mais controversa podem gerar.


Afigura-se que a melhor interpretação será considerar que todas as situações inopinadas de
aquisição e detenção das plantas, substâncias ou preparações referidas no n.º 1 do artigo 40.º do
Decreto-Lei n.º 15/93, ainda que excedam o tal limite da quantidade necessária para o consumo
médio individual durante o período de 10 dias, só podem conduzir a uma detenção quando
existam factos que permitam afastar, com algum grau de certeza, que as referidas plantas,
substâncias ou preparações não se destinam a consumo individual.

E – CONCLUSÃO

i) Em caso de aquisição e detenção de plantas, substâncias ou preparações referidas no n.º


1 do artigo 40.º do Decreto-Lei n.º 15/93, não excedendo a quantidade necessária para o
consumo médio individual durante o período de 10 dias, tal constitui indício de que o

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propósito é o consumo, pelo que, nos termos do n.º 2, a contrario, do artigo 40.º do mesmo
diploma, o detentor deverá ser identificado, elaborado o Auto de Ocorrência e remetido
à Comissão de Dissuasão da Toxicodependência, com notificação para comparência.

ii) Em caso de aquisição e detenção de plantas, substâncias ou preparações referidas no n.º


1 do artigo 40.º do Decreto-Lei n.º 15/93, não excedendo a quantidade necessária para o
consumo médio individual durante o período de 10 dias, e existindo indícios de que o
propósito poderá não ser o consumo (como por exemplo, deter igualmente uma relevante
quantidade de notas de baixo valor indiciando pagamentos de terceiros), o detentor deverá
ser identificado (não dever ser detido), elaborado o Auto de Notícia com NUIPC e
remetido ao Ministério.

iii) Em caso de aquisição e detenção de plantas, substâncias ou preparações referidas no n.º


1 do artigo 40.º do Decreto-Lei n.º 15/93, que exceda a quantidade necessária para o
consumo médio individual durante o período de 10 dias, tal constitui indício de que o
propósito pode não ser o consumo, pelo que, nos termos do n.º 2, do artigo 40.º do mesmo
diploma, o detentor deverá ser identificado (não dever ser detido), elaborado o Auto de
Notícia com NUIPC e remetido ao Ministério.

iv) Em caso de aquisição e detenção de plantas, substâncias ou preparações referidas no n.º


1 do artigo 40.º do Decreto-Lei n.º 15/93, que exceda a quantidade necessária para o
consumo médio individual durante o período de 10 dias, e existindo indícios de que o
propósito poderá não ser o consumo (como por exemplo, deter igualmente uma relevante
quantidade de notas de baixo valor indiciando pagamentos de terceiros), o detentor deverá
ser detido, elaborado o Auto de Detenção com NUIPC e remetido ao Ministério,
operacionalizando-se a detenção nos moldes habituais.

Ficam excluídas do âmbito deste CTO as situações enquadráveis como tráfico de


estupefaciente.
Salvaguardam-se as situações de entendimentos diferenciados das Autoridades
Judiciárias locais, os quais devem prevalecer sobre este CTO.

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F - EFEITOS EXPECTÁVEIS

1. Uniformização de procedimentos nas matérias abrangidas pelo presente CTO;


2. Melhoria da qualidade de serviço prestado por parte da PSP e consequentemente uma
mais-valia na tarefa de auxílio de administração da justiça.

G - DETERMINAÇÕES OPERACIONAIS

Pelo que fica exposto, determina-se o cumprimento do presente CTO, com efeitos ao dia 1
de outubro de 2023.

Os Comandantes Metropolitanos, Regionais e Distritais da Polícia de Segurança Pública


monitorizam pela sua aplicação.

O Diretor Nacional-Adjunto Unidade Orgânica Operações e Segurança

Paulo Manuel Pereira Lucas


2023.09.29 20:18:24 +01'00'
_______________________________________________________
Paulo Manuel Pereira Lucas
Superintendente-Chefe

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