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Brasília - DF
2013
ILDA APARECIDA XAVIER
Brasília
2013
X3p Xavier, Ilda Aparecida
167f. ; il: 30 cm
CDU 37.012
_____________________________________________
Prof. Dr. Wellington Ferreira Jesus
Orientador
_____________________________________________
Profª. Drª. Jacira da Silva Câmara
Examinadora Interna
_____________________________________________
Profª. Drª. Kelley Cristine Gonçalves Dias Gasque
Examinadora Externa
Brasília
2013
Dedico aos meus: Vander,
Luara e Pedro Victor, minha
família, minha vida.
AGRADECIMENTOS
Eu agradeço:
Profundamente a Deus, meu Tudo. Por que D´Ele e por Ele, e para Ele, são
todas as coisas: glória, pois, a Ele, eternamente.
Aos meus mestres, dos quais levarei lições para o resto de minha vida, em
especial, ao meu orientador: Wellington Ferreira de Jesus, pelo rigor em momento
oportuno e pelas palavras de paz, encorajamento e fé.
Às mulheres de minha vida: Ate, Leza, Ita, Odília e Beatrice (in memoriam),
Lilia, Dadiva, Vírgínia Pina, Nancy de Fátima, Cláudia Princhack, Cláudia Honda,
Kelley, Cláudia Magalhães, Inês, Siomara, Márcia, Marialva, Mariza, Ezi, Francisca,
Andrea, Luciana e Renata, irmãs de alma, anjos sem asas que Deus providenciou
para a exortação, acalanto, firmeza nos passos, alegria e... colo, quando a peleja
beira o insuportável..
Aos meus alunos que foram, aos que são e aos que serão, por todo o sentido
que representam em minha caminhada profissional e humana.
"SEJA FORTE E CORAJOSO! NÃO SE
APAVORE, NEM DESANIME, POIS O
SENHOR, O SEU DEUS, ESTARÁ COM
VOCÊ POR ONDE VOCÊ ANDAR" (Josué
1:9).
RESUMO
Xavier, Ilda Aparecida. Uma proposta inovadora de avaliação: desafios, limites e perspectivas
em uma escola no DF. Dissertação (Mestrado em Educação), Universidade Católica de
Brasília.
AS – Aprendizagem Suficiente.
AI – Aprendizagem Insuficiente.
INTRODUÇÃO
Nesse ano de 2013, a unidade em estudo conta com 2900 alunos matriculados.
Atende a grupos, na sua maioria, com renda superior a dez salários mínimos, com
programa limitado de bolsas para outros segmentos sociais. Separada fisicamente está
a unidade do Ensino Médio. Vinculada a essas duas unidades está uma outra,
localizada na Região Administrativa de Samambaia-DF que atende, gratuitamente, mais
de 450 crianças, de baixo status sócio econômico, daquela região.
fim, analisou como essa proposta de mudança foi percebida, ao longo dos anos, por
cada um desses segmentos, ou como dela eles se apropriaram, inseridos que estão, no
bojo das grandes mudanças histórico-sociais que ocorrem de tempos em tempos.
19
1.1 O PROBLEMA
1.2 JUSTIFICATIVA
Esta pesquisa parece ser igualmente válida para gestores e professores que
pretendem ressignificar seus processos, a partir de uma experiência inovadora, já
que se propõe a ressaltar os hiatos, as rupturas e os avanços, oriundos de uma real
tentativa de mudança, fundamentada teoricamente, mas confrontada com a
realidade a que se pretende mudar. A importância dessa investigação também está
na sua característica de análise do processo, já que abrange um período de duas
décadas de vivência de uma proposta inovadora em educação, e, por assim o ser, a
insere na tessitura das mudanças políticas, econômicas, sociais e culturais que
mexem com as expectativas e representações em relação à educação, à escola e
aos seus atores.
mudam, transformam destinos. Do contrário outros interesses não tão nobres podem
ocupar o lugar.
Ampliando essa visão, Hoffman (2005) afirma que mensurar segue a mesma
linha de outros atos da vida cotidiana que, por ora, se desenha. Vida cotidiana que
nega a vida privada, o reconhecimento do indivíduo. A rotina do dia-a-dia que
coisifica, homogeneíza, manipula. Esse “apressamento” também parece levar à
superficialidade do olhar em avaliação no cotidiano agitado de nossas escolas.
Menos problemático e envolvente, à primeira vista, parece ser o ato de mensurar,
pois mensurar não particulariza, massifica.
A definição proposta por Ralph Tyler (1974), apud Hadji (1994), educador
norte americano que se dedicou à questão de um ensino que fosse eficiente e
introduziu o termo avaliação da aprendizagem, o qual é seguida por Hadji (1994),
quando coloca a segunda perspectiva, a de que avaliar é a operação pela qual se
determina a congruência entre o desempenho e os objetivos. Referendada pela
maioria dos estudiosos, muitos deles mencionados nesse estudo, ela traz, segundo
o autor, alguns inconvenientes, tais como: centralização excessiva da operação de
avaliação nos objetivos, beirando o tecnicismo e enfatizando os resultados finais,
fazendo dos comportamentos o critério último de avaliação. Embora se apregoe a
ênfase no processo, ele acaba ficando em segundo plano. Inconvenientes bem
perceptíveis nas práticas escolares.
que os resultados desse aluno não correspondem àquilo que ele poderia e
deveria fazer, que não exprimem todas as suas possibilidades. Uma análise
da realidade -do ser- efetuada à luz do que parece ser desejável - do dever-
ser- dá origem a um primeiro juízo: é preciso mudar isto. Primeiro juízo de
avaliação, obtido pelo confronto entre um referido (o aluno, compreendido
através dos seus resultados actuais) e um referente (o aluno ideal que
domina a matéria ensinada).
A crítica de Hadji (1994), ao que tudo indica, parece recair não no trabalho de
análise do nível da aprendizagem do aluno, até determinado momento e no seu
impulso pela mudança e superação das dificuldades, já que tal análise diagnostica e
prepara intervenções, mas na suposta previsibilidade da evolução desse aluno,
tendo em vista que o tempo da avaliação é um recorte, é momento singular em que
“se retira do sistema em movimento para se recolher informações sobre o próprio
movimento”, para fins de apreciação quanto aos objetivos finais do projeto em
questão. Nesse sentido, o referido autor cita as análises de Stufflebeam que
explicam esse momento de decisão: se a avaliação é um juízo, ele situa-se num
campo decisional, que prepara e clarifica as decisões, portanto ele é um momento e
espaço de gestão pedagógica.
Sobre essa relação entre aprendiz e objeto de conhecimento, Moreto (1999), por
outro lado, em suas reflexões construtivistas, nos aponta que é falsa a ideia de que o
indivíduo capta a imagem do objeto tal qual ele é e assim o leva ao cérebro. Partindo
dessa ideia, parece pertinente afirmar que se ignora a realidade do objeto como fruto de
construção social e tenta-se eliminar as expectativas, as necessidades ou a ideologia
do observador para alcançar uma observação objetiva, cada vez mais próxima da
verdade. Porém em um processo de construção do conhecimento essa verdade é
relativizada, é colocada em questão, é desmistificada. Hipóteses podem ser levantadas
para contestá-la ou confirmá-la. Está sempre sujeita a mais de um olhar. Essa dita
verdade é contextualizada para ser compreendida, podendo ser a análise do contexto
para o tempo em que foi gerada e para o tempo do agora, relações e paralelos são
estabelecidos. Isso tem um ritmo diferenciado que a educação tradicional limita.
Nesse mesmo sentido, Becker (1998) coloca o empirismo presente nessa
concepção tradicional e a inverte afirmando que, numa relação sujeito-objeto, o mundo
do objeto é determinante do sujeito, e não o contrário. Os referidos autores concordam,
quando negam a concepção ontológica da educação tradicional, mas Moreto (1999)
clareia mais a visão, quando propõe que a lacuna do empirismo tradicional está na
concepção sobre o objeto de conhecimento, de cunho descritivo e fora do contexto e
universo simbólico do observador. Nesse sentido e, ampliando a visão de Becker
(1998), ele afirma que o sujeito age sobre o objeto, mas o objeto, construído
socialmente em um determinado universo simbólico, também age sobre o sujeito,
podendo mudar suas concepções. Sob essa premissa haveria uma relação intrínseca
entre sujeito-objeto-sujeito.
Fosnot (1996, p.11), nessa mesma linha, descreve o conhecimento como
“temporário, em desenvolvimento, não objetivo, internamente construído, social e
culturalmente intermediado”. Isso sugere que todo conhecimento possa ser
ressignificado. A avaliação, nesse cenário, não se esgota em si mesma; é produto e é
processo, é recorte e é continuidade, é momento também de aprendizagem e na visão
de Moreto (1999), é momento privilegiado de estudo e de aprendizagem.
Quadro 1
1.8 METODOLOGIA
Yin (2001) continua afirmando que, para o estudo de caso, o uso concomitante
de mais de um instrumento de coleta de dados tenderá a permitir desenvolver linhas
convergentes de investigação, de modo que tais instrumentos passam a ser
corroborativos em relação ao mesmo fato ou fenômeno.
Coutinho e Chaves (2002) afirmam que quase tudo pode ser um caso: um
indivíduo, um personagem, um pequeno grupo, uma comunidade ou mesmo uma
nação. Entretanto, conforme afirma Yin (2001), devem estar muito claras quais são
30
as ocasiões de seu uso. Esse autor destaca o estudo de caso como sendo aquele
que responderia ao como e porque, onde não se exige o controle sobre eventos
comportamentais e o foco são acontecimentos contemporâneos que, no caso
estudado, foi o percurso da inovação supracitada.
Gil (1999, p. 73), colaborando com essa linha, observa que o estudo de caso
vem sendo utilizado com frequência cada vez maior pelos pesquisadores sociais,
visto servir a pesquisas com diferentes propósitos, tais como: “a)explorar situações
da vida real, cujos limites não estão claramente definidos; b)descrever as situações
do contexto em que está sendo feita determinada investigação; e c)explicar as
variáveis causais de determinado fenômeno em situações muito complexas que não
possibilitam a utilização de levantamentos e experimentos”.
Trivinõs (1987, p. 132), outro estudioso do assunto comunga dessa mesma ideia
quando afirma que:
[...] considerando uma série de condições (sujeitos que sejam essenciais,
segundo o ponto de vista do investigador, para o esclarecimento do assunto
em foco; facilidade para se encontrar com as pessoas; tempo dos indivíduos
para as entrevistas etc) [...].
Tais considerações denotam que a escolha dos sujeitos deve ser norteada pela
íntima relação com o tema da pesquisa e o pesquisador deve levar em conta a
praticidade e a disponibilidade como, por exemplo, a facilidade e o tempo dos sujeitos,
elemento cada vez mais fugidio, no cotidiano das grandes cidades.
O critério de seleção dos participantes da pesquisa foi o seu envolvimento com a
escola nos distintos períodos abordados. Assim, a amostragem foi constituída tendo
como critério, profissionais que atuam na gestão e na docência, além de alunos e
representantes das famílias. Todos com vivência nas fases de implementação e após a
implementação da proposta construtivista sócio-interacionista, com ênfase na avaliação
formativa.
Os participantes da pesquisa foram distribuídos e codificados de acordo com
seu papel no processo, conforme mostra o quadro 2:
Quadro 2
Participantes da pesquisa de campo
GESTORES
COD PAPEL
G1 Diretora educacional que vivenciou todo o processo e que permanece como gestora;
G2 Diretor educacional que vivenciou todo o processo e que permanece como gesto;.
PROFESSORES
COD PAPEL
Uma professora recém-contratada na época de apresentação da proposta que vivenciou todo o
P1
processo e que ainda permanece lecionando na escola;
P2 Uma professora antiga na instituição e que foi demitida no ano de 2000;
REPRESENTANTES DE FAMÍLIA
COD PAPEL
RF1 Um representante de uma família que manteve o(s) filho(s) na escola durante todo o processo
RF2 Um representante de uma família que retirou o(s) filho(s) da escola após a implementação da proposta;
RF3 Um representante de uma família que matriculou seu(s) filho(s) nos últimos cinco anos.
ALUNOS
COD PAPEL
AL1 Um (a) aluno (a) que permaneceu matriculado durante o período de implementação da proposta;
AL2 Um (a) aluno (a) que se desligou da escola durante o período de implementação;
AL3 Um (a) aluno (a) matriculado na escola nos últimos cinco anos.
Semidirigida.
e) Relatórios de turma, com ênfase nos alunos com laudos médicos, junto aos
titulares de turma e à assessoria pedagógica: aqui a pesquisa objetivou confirmar o
aumento da entrada de alunos com necessidades especiais, sobretudo nos anos
entre 2004 a 2006, quando a escola foi vista pela comunidade local como de fraca
cobrança e de flexibilidade exagerada, com o propósito de estabelecer a
possibilidade da relação de causa e efeito. Houve o cuidado nessa investigação, em
particular, de evitar especulações deterministas. Mas as indagações recaíram sobre
a possibilidade de uma maior procura da escola pelas famílias com filhos portadores,
sobretudo, de TDA/TDAH, graças às repercussões dessa visão de escola mais fácil
na comunidade local.
um corpo teórico próprio que emergira das práticas bem sucedidas, ou das
antíteses/contradições entre tais práticas e teorias preexistentes.
terceiro passo, que é buscar a concepção desses sujeitos sobre o tema e sua
experiência de vida envolvendo a questão. Nessa instância a pesquisadora tomou o
cuidado de não desviar o foco das opiniões e representações livres em relação ao
fenômeno.
Ainda sob a visão de Flick (2002), na quarta etapa, busca-se o sentido que o
assunto tem com a vida cotidiana do entrevistado, momento aonde a pesquisadora,
pode captar melhor a relação que o entrevistado teve com o fenômeno e o grau de
apropriação e importância deste para aquele.
esfera das ciências da linguagem e passa a estar a serviço das ciências sociais.
Provavelmente isso se deve ao caráter de conhecimento, ideologicamente
manipulável, dessa vertente das Ciências.
Laville e Dionne (1999, p. 215), afirmam que à medida que colhe informações
o pesquisador elabora sua percepção do fenômeno e se deixa guiar pela
especificidade do material selecionado. Parece pertinente afirmar que quaisquer que
sejam as formas de análise escolhidas, ao pesquisador cabem o conhecimento das
mesmas e uma escolha consciente do referencial analítico que será um dos
principais norteadores de sua pesquisa.
como um ganho da avaliação formativa, que será adiante melhor discutida. Como se
trabalhou bastante com as lembranças e a memória vivida na reconstrução dos
fatos, as muitas reticências e pausas nas falas pareceram ser indicativas de
evocação, de busca pelo momento vivido. Assim como a repetição da interjeição:
"né?" pareceu indicar uma tentativa de validação e confirmação da situação
evocada.
O que define de fato o sujeito é o lugar de onde fala. Foucault diz que “não
importa quem fala, mas o que ele diz não é dito de qualquer lugar” (2005, p. 139). Na
pesquisa em questão, O lugar de onde foi proferido o discurso foi preponderante para
sua análise, pois difere os sujeitos e suas interpretações do fenômeno, entendendo
como lugar o âmbito da gestão, da docência, dos alunos e de suas famílias.
Outros teóricos são apontados pela autora, dentre eles Hernandez (2000), o
qual denuncia que as inovações nas escolas têm sido mudanças pensadas de cima
para baixo, são originárias dos marcos gerados nos níveis centrais de ensino,
regulamentando e homogeneizando a inovação. Nessa mesma linha, Fullan (2000)
afirma que inumeráveis propostas inovadoras bombardeiam os professores em
escolas, onde o novo não encontra lugar.
Parece pertinente adequar para essa questão alguns pontos levantados por
Gandin (1995, p.33), como aspectos que devem ser considerados no planejamento
participativo em uma dada instituição, que são: “a realidade global existente, que nos
diz como o grupo percebe a realidade em seus problemas, desafios e expectativas,
sendo isso o seu marco situacional; a desejada que seria a utopia social do grupo ou
marco doutrinal; a realidade desejada no campo das ações, que seria seu marco
operativo”. O grupo, então, confrontando esses aspectos, chegaria ao diagnóstico
das necessidades da instituição. Vasconcellos (2000) reitera as ideias de Gandin
(1995), quando afirma que o Projeto Político Pedagógico obedece a alguns
princípios e deve conter itens, ordenados e interligados, seguindo um roteiro
metodológico: a justificativa; o contexto referencial; o contexto situacional; o contexto
doutrinal; o contexto operacional; a programação, as metas quanto ao corpo
docente, ao corpo discente, aos pais, à comunidade; as ações; a avaliação e a
conclusão. Essa prática da construção coletiva viria a ser legalizada na aprovação
da Lei de Diretrizes e bases para a Educação (Brasil. LDB 9394/96), em seus artigos
12/13, a saber:
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Gadotti (2000, p. 35) afirma que “a crise paradigmática atinge a escola e ela
se pergunta sobre si mesma, sobre seu papel como instituição na era da
globalização da economia, das comunicações, caracterizada pelo pluralismo político,
pela emergência do poder local. Era em que cresce a reivindicação pela autonomia
contra toda forma de uniformização e o desejo de afirmação da singularidade de
cada região, de cada língua, das características de cada povo, onde a
multiculturalidade é a marca mais significativa desse tempo”. Nesse contexto, o
autor indaga o que é o Projeto Político Pedagógico da escola e reforça o que foi
proposto na Lei de Diretrizes e Bases sobre a gestão democrática, afirmando que
essa natureza de gestão escolar é uma exigência de seu Projeto Político
Pedagógico.
Veiga (2001) concorda com os outros autores quanto à sua estrutura, mas
trata da dialética que o envolve, pois tal dialética aglutinará crenças, convicções,
conhecimentos da comunidade escolar, do contexto social e científico, constituindo-
se em compromisso político e pedagógico coletivo. Nessa mesma linha,
Hengemühle (2005) acrescenta a necessidade de uma mudança cultural que
embase a construção coletiva do Projeto Político Pedagógico e da sua presença viva
no cotidiano escolar.
O anúncio da proposta, entretanto, foi feito pelo grupo gestor, bem como
partiu dele o início dos investimentos necessários à sua implementação, incluindo
toda a fundamentação teórica que esta exigia. Entre o anúncio da proposta e a fase
inicial de implementação, propriamente dita, entre 1997 a 2000, decorreram-se,
aproximadamente quatro anos. Este período foi considerado, sob a ótica dessa
pesquisa, como gestacional. A formação continuada em serviço se intensificou. Um
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dentre elas, destacaram, pela análise dos dados, o potencial de risco e a adequação
ao novo de alguns professores em relação aos outros, bem como outras
características idiossincráticas; a descrença pelo novo, graças à vivência anterior de
processos de inovação frustrados; a interpretação distorcida ou simplista da
proposta; a falta de diretrizes mais claras; a ausência de documentos/instrumentos
próprios da instituição que fundamentassem a proposta.
No que diz respeito aos entraves de natureza teórica, eram percebidos nas
diferenças de fundamentação teórica entre os professores, embora esse
investimento fora e continuasse a ser feito, algumas deformações ou más
interpretações da epistemologia da avaliação formativa interferiam na prática e,
entre o risco e a segurança, alguns optaram pela última, mantendo práticas
tradicionais. Aulas dinâmicas, em que o aluno podia perguntar, opinar, debater,
contrastavam com outras em que este mesmo aluno não abria a boca. Fernandes
(2006), em seu artigo sobre a necessidade de uma base teórica sobre a avaliação
formativa mais próxima da realidade, chama a atenção para esses entraves de
natureza teórica e para os obstáculos, nesse sentido, nos contextos, dinâmicas e
ambientes de ensino. Propõe ainda que se descrevam, analisem e interpretem as
realidades da avaliação formativa nas salas de aula, de forma a desenvolver a
investigação empírica e a construção teórica nesta área.
Tais autores ainda ressaltam que as chamadas tarefas flexíveis são regidas
por certas normas e que há um “tempo médio” para as tarefas regulares como
correções e preparação de instrumentos, em função do nível de ensino, dos grupos
de alunos, da matéria ensinada, etc. Que alguns professores fazem, exata e
unicamente, o que é previsto pelas normas oficiais da organização escolar,
enquanto outros se engajam a fundo no trabalho, a ponto de o mesmo invadir sua
vida particular. Situações dessa natureza foram percebidas na escola em questão. O
envolvimento de parte dos professores da escola fazia com que os mesmos
dedicassem suas noites e finais de semana às tarefas extras.
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Nem todos os professores seguiram esse processo, assim como nem todos
assimilaram da mesma maneira os aspectos de fundamentação de suas
decisões curriculares. Alguns por não estarem envolvidos na inovação:
outros, pelas dúvidas que essas referências comportavam na prática; e
outros, pela dificuldade de assumir a mudança de atitude profissional que
traz consigo. Mas essa diversidade faz parte da vida do centro e é um
reflexo de como a idiossincrasia e a biografia de cada docente influi no
trabalho coletivo.
questão, por que tanto aqui como lá, conforme enunciado pelos autores, “o
movimento do currículo, favorecia e impulsionava que os próprios docentes
mediante um processo de formação baseado na pesquisa educativa e na análise
crítica de sua prática, enfrentassem diferentes problemas da educação escolar para
transformá-la, dotando-os de novos sentidos”. No caso analisado, a pesquisa
investigou se, nesse momento, faltara à gestão e ao corpo docente a lucidez sobre a
singularidade dos processos em sala de aula e as adaptações necessárias da
proposta de inovação. Problemas ligados à indisciplina de alguns alunos, na
singularidade de cada turma e até de cada aula, eram particularidades que pareciam
ter carecido de maior cuidado na implementação da proposta. Pela interpretação dos
discursos, evidenciou-se a preocupação dos gestores em avançar, mas fazendo as
justaposições e adequações, para garantir que procedimentos básicos não fossem
afetados.
ADEQUAÇÕES.
A carga emocional que tais demissões trouxeram para os que ficaram foi
enorme. No momento, entre os que ficaram, havia aqueles que julgavam ter sido um
erro tantas demissões. A pesquisa investigou se, sob a ótica do processo, a
quantidade de demitidos, nesse momento, não interferiu negativamente na
efetivação da proposta e tenha sido um equívoco de gestão. Conforme pode ser
constatado mais adiante, pela interpretação dos discursos, percebe-se uma
diferença entre a visão dos gestores, aqui supracitada, e de parte dos docentes em
relação a essa questão.
situações inusitadas envolvendo seus atores, isso é ainda mais evidente. Diante
disso, apesar dos rígidos critérios de seleção impetrados pela escola em estudo, as
novas contratações não resolveram os problemas e muitos deles se agravaram.
Professores desconhecedores ou sem a memória dos entraves do processo
cometeram equívocos similares.
de aula. Funcionava mais como um reforço, nos moldes tradicionais que não atendia
a proposta de inovação. Nesses momentos os alunos poderiam ser avaliados com
instrumentos preparados pelo professor regente e aplicado por outro docente ou
monitor.
Em cinco anos a escola passou a contar com uma ampla sala de professores,
informatizada; um Centro de Recursos de Aprendizagem, visando colaborar com o
processo de construção do conhecimento; laboratórios de informática; sala de
projeção e auditório revitalizados e ampliados e, por último, com um grande
complexo esportivo composto de três pavimentos, contendo: piscinas, salas de
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dança, de música, de teatro e mais oito salas de aula. Isso parece ter repercutido
positivamente nas famílias que podiam deixar seus filhos no mesmo local para
atividades diversas, aumentando o número de matrículas gradativamente. Entre os
professores as representações em relação a essas mudanças foram díspares, mas
parecia haver uma ênfase nos aspectos positivos que tais poderiam trazer.
Entre 2006 e 2009 cresceu a procura por famílias cujos filhos eram portadores
de transtornos de déficits de atenção (TDA- Transtorno de Déficit de Atenção); e
TDAH- (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) confirmados, outros em
vias de se confirmarem e outros casos, colocados sob suspeita pela escola e,
posteriormente, confirmados. Esclarecendo melhor, DuPaul e Stoner (2007, p. 65)
assim nos coloca sobre tais transtornos:
Tais autores nos apontam que cabem aos profissionais da educação criar e
implementar estratégias eficientes de prevenção e intervenção para a melhora do
funcionamento acadêmico. A escola analisada teve de fazer adequações para
atendê-los e investiu bastante no preparo dos titulares de turma, em parceria com as
famílias e com os outros profissionais de fora do âmbito escolar, sob os cuidados
dos quais estavam tais crianças e adolescentes. Apesar do grande aprendizado que
essa situação, em especial, proporcionou à escola por meio da pedagogia da
inclusão, ela também foi reveladora de que a sociedade local já não a via como
escola forte, mexendo com as representações dessa comunidade em relação à
mesma, desestabilizando a crença que se mantinha há gerações.
Quadro 3
"Vamos crescer, vamos nos desenvolver, vamos trazer tudo que tem de ponta, em termos de leitura,
estudo. Vamos trazer e vamos realmente atualizar. Vamos ter uma metodologia inovadora, vamos ter
um trabalho inovador, vamos ser mais coerentes dentro do que nós fazemos, vamos ter um processo
mais qualificado."
“Eu nem vou dizer que a gente tava fazendo, mas que a gente tava investindo, né?”
“É como você arrumar o avião em pleno voo, já acontecendo, mas a gente vai fazendo os ajustes
necessários.”
“A gente nunca saiu sem colocar, para os pais, de forma muito fundamentada aquilo que a gente
acreditava.”
Quadro 4
Quadro 5
Quadro 6
Quadro 7
Categorias de análise
Categoria Categoria molecular
Avaliação e a atitude deliberada pela
1 A Avaliação Formativa sob a ótica da Gestão
Inovação de processos.
A Avaliação, expectativas das famílias e
2 Avaliação Formativa sob a ótica das Famílias demandas externas.
3 Avaliação Formativa sob a ótica Docente A Avaliação e o Trabalho Pedagógico
A Avaliação e a qualidade dos processos
4 A Avaliação Formativa sob a ótica dos alunos
em sala de aula
Fonte: elaboração da autora
A partir da análise dos dados obtidos, alguns pontos ficaram claros no que se
referem às intenções da gestão, por ocasião da implementação da proposta
formativa. Evidenciou-se uma atitude deliberada do grupo gestor pela mudança de
processos. Uma alteração de paradigma acompanhando as mudanças que, por ora,
se desenhavam no cenário nacional e mundial. Foram essas transformações
externas que impulsionaram as lideranças da instituição estudada a impetrar
mudanças internas, que por sua vez, não ocorreram isoladas do contexto da
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Havia uma atitude deliberada e propositiva pela mudança. E ela partiu dos
marcos centrais da mantenedora, entretanto, seguia uma tendência mundial pela
mudança nos parâmetros educacionais que culminaria, pouco tempo depois, no
documento da UNESCO estabelecendo os quatro pilares da educação, sob a
coordenação de Delors (2000, p.89)
Dado que oferecerá meios, nunca antes disponíveis, para circulação e
armazenamento de informações e para a comunicação, o próximo século
submeterá a educação a uma dura obrigação que pode parecer, à primeira
vista, quase contraditória. A educação deve transmitir, de fato, de forma
maciça e eficaz, cada vez mais saberes e saber-fazer evolutivos, adaptados
à civilização cognitiva, pois são as bases das competências do futuro.
Simultaneamente, compete-lhe encontrar e assinalar as referências que
impeçam as pessoas de ficarem submergidas nas ondas de informações,
mais ou menos efêmeras, que invadem os espaços públicos e privados e as
levem a orientar-se para projetos de desenvolvimento individuais e
coletivos.
Para poder dar resposta ao conjunto das suas missões, a educação deve
organizar-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais que, ao longo
de toda vida, serão de algum modo para cada indivíduo, os pilares do
conhecimento: aprender a conhecer, isto é adquirir os instrumentos da
compreensão; aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente;
aprender a viver juntos, a fim de participar e cooperar com os outros em
todas as atividades humanas; finalmente aprender a ser, via essencial que
integra as três precedentes. É claro que estas quatro vias do saber
constituem apenas uma, dado que existem entre elas múltiplos pontos de
contato, de relacionamento e de permuta.
Antecipando a outras escolas no que se refere à efetivação de uma proposta
inovadora que desse conta de uma educação nessas bases, a escola analisada
tomou a decisão pela mudança. Conforme enfatiza o trecho das falas, abaixo, dos
gestores, em evocação a esse momento de decisão, em meados da década de
1990:
Vamos crescer, vamos nos desenvolver, vamos trazer tudo que tem de
ponta, em termos de leitura, estudo. Vamos trazer e vamos realmente
atualizar. Vamos ter uma metodologia inovadora, vamos ter um trabalho
inovador, vamos ser mais coerentes dentro do que nós fazemos, vamos ter
um processo mais qualificado. (G-1)
Santos (1995) afirmava que o mundo, naquele momento, passava por uma
fase de transição paradigmática, da ciência moderna para uma ciência pós-
moderna. Ele denunciava o caráter de imprevisibilidade dos resultados e da duração
dessa fase. De fato, relações e valores mudaram, adquirindo uma característica de
fluidez que permanece até os dias atuais.
Não raras vezes, algumas inovações dessa natureza permitem que tais
intervenções, decisões e processos e a consequente sistematização tenham um
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encaminhamento unilateral. A princípio, isso pareceu estar ocorrendo, uma vez que
a proposta estivesse partindo do grupo gestor em relação ao grupo executor. Mas
acreditou a gestão que a proposta, uma vez compartilhada com o grupo executor,
ganhasse um viés mais participativo e os investimentos na formação do grupo
acabariam inserindo-o no processo.
Refletindo sobre essa questão Arroyo (1999, p.137) faz uma crítica explícita a
essa lógica de inovação educativa:
É significativo que toda mudança educacional tenha como alvo a mudança
de currículos ou a adequação dos conteúdos escolares às mudanças
econômicas, sociais e políticas. Na realidade essa concepção de inovação
não considera o sistema educativo como um todo- sua organização, os
procedimentos, as relações internas, as práticas diversas dos sujeitos da
ação educativa. Tudo isso supõe-se irá adequar-se mecanicamente, por
acréscimo, às mudanças de conteúdos. Com algumas reciclagens e
treinamento, toda a prática escolar mudará por encanto, quando os
professores conhecerem e entenderem os novos conteúdos. Supõe-se que
estes são a síntese da escola e que neles estão todas as virtualidades
inovadoras da instituição escolar.
coletivamente. O modelo a que o gestor se refere seria, portanto, aquele que, na sua
visão fora construído de forma participativa. Mas essa linha divisória entre o término
dessa construção e o treinamento das técnicas corretas para sua aplicação, pela
interpretação dos discursos, foi maleável e sua construção e meios de aplicação
aconteceram, muitas vezes, de forma concomitante e em períodos variáveis,
apresentando retrocessos, avanços e justaposições.
Nessa época a escola contou com uma assessoria muito forte na área de
Língua Portuguesa, pois mudaria totalmente a alfabetização, agora sob a
perspectiva de Emília Ferreiro (1984) que era a da psicogênese da leitura e da
escrita. Tudo iniciaria, portanto, na educação infantil, do 3º período para a 1ª série. E
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esse processo continuaria sucessivamente, ano após ano, até o Ensino Médio. A
análise sobre a avaliação veio em seguida, como o grande mote da mudança.
Primeiro, porque as avaliações tradicionais não eram mais compatíveis com a nova
proposta, depois, conforme já mencionado, porque entenderam que a partir dela
todas as outras práticas seriam tocadas.
Sob essa premissa mexer na forma de avaliar era buscar a inovação por
completo. Inovar dentro de um pensamento crítico implica em escolhas. E no caso
da escola, indicou escolhas de organização do currículo, dos saberes a serem
transmitidos ou compartilhados, das formas de atuação em todas as esferas, da
estrutura física necessária ao tipo de aprendizagem que se pretendia efetivar, do
tipo de aluno que se pretendia formar. Portanto aquela inovação, assim como todas
as outras, não era neutra. Estava carregada de crenças que negavam ou, às vezes,
paradoxalmente, reforçavam o sistema vigente. Inovar ali também pressupôs conflito
entre o que estava e o que se esperava. Era embate político. Era profundamente
intencional.
Mas o grupo gestor tinha é... uma clareza do seguinte: os tempos estão
mudando, nós precisamos ter um novo contexto educacional, no sentido
das relações, um contexto de escola que esteja numa perspectiva
democrática, de participação, de construção. E havia uma preocupação no
sentido de desenvolver ações pedagógicas, é... renovadas.(....) Então a
instituição optou por um caminho, digamos assim, escolheu um mote para
fazer essa mudança, que foi a avaliação. Porque a avaliação, ela foi sempre
utilizada como mecanismo de coerção dos professores. Era por meio da
avaliação que o professor controlava a turma, né? Era por meio da
avaliação que o professor punia ou premiava a turma. Então a instituição
pensou que, trabalhando em uma perspectiva de avaliação formativa, ela ia,
de uma certa forma tirar esse caráter meio que terminal de verificação da
avaliação. E para que mudasse o processo de avaliação, você tinha que
interferir na ação docente, ou seja, no planejamento da aula para que ele
fosse coerente com o que se queria fazer (G3)
específicas. A escola foi, aos poucos, refazendo seu Projeto Político Pedagógico,
tendo como cerne a missão educativa, com seu marco doutrinal e seus referenciais
de ação. Tinha todo um arsenal teórico, a biblioteca contando com um acervo do
que melhor se havia pensado em termos de avaliação até aquele momento. Mas foi
no fazer diário, nas demandas do dia a dia, nos muitos encontros, mesas redondas,
oficinas, congressos, trocas de experiências, nos planejamentos participativos por
eixos temáticos e, mais recentemente, com as videoconferências, proporcionadas
pela comunicação em rede, que tais documentos foram sendo elaborados, até
configurar-se num campo teórico que agregou o que melhor se adaptaria às
realidades dos colégios envolvidos com a mudança.
Ficou evidente nesse estudo, entretanto, que isso não ocorreu com todos os
professores. Para os professores que representaram as forças de preservação, a
ausência de diretrizes muito claras por parte da gestão, nesse momento em
particular, certamente foi um elemento ao qual se agarraram como meio de evitar os
avanços.
entre a formação oferecida e a apropriação desta pelos docentes para melhorar sua
prática. A análise de documentos como relatórios de avaliações de professores
mostrou essa tentativa de acompanhamento.
Como a teoria não recria as realidades, essas teriam que ser vividas. Arroyo
(1999) denuncia que a teoria tem levado os professores a duvidarem de suas
práticas e a apontar a necessidade de destruí-las. Continua afirmando que não é por
acaso, então, que os professores resistem a essa crítica destrutiva de suas práticas,
de suas concepções, de sua cultura escolar e profissional. Sentem-se ameaçados. A
crítica não conseguiu ser construtiva de novas práticas. Não conseguiu ser
inovadora. Esse pareceu ser um erro que o grupo gestor não pretendia cometer, daí
a proposta do fazer conjuntamente, minimizando as resistências e engajando o
professor, de modo que ele adquirisse um sentimento de pertença ao grupo, de
construção coletiva.
uma crença da instituição naquele momento, que era preciso mudar, era
importante inovar. Mas não era de alguns profissionais e que eles também
tinham todos os direitos. Mas nós também tínhamos o direito de não
permanecer com eles, porque aí nós estávamos tendo uma divergência e
uma perda de força que nos fragilizava muito no campo educacional e
pedagógico. Isso teria um impacto mais forte nas famílias e nos alunos,
porque um professor que não acredita, ele discursa dessa maneira, ele
operacionaliza dessa maneira, que seria frontalmente contrário ao que a
escola queria. (G1)
anterior, né? Então assim você não alterna. E também, em nenhum momento,
a ideia era de que a gente ia jogar fora. Ali a gente não entrou no "certo e
errado", mas em dinâmicas diferentes, dinâmicas coerentes e processos mais
coerentes com aquela proposta. Então isso que a gente buscou. (G1)
Tal carga emocional deixada por esse evento afetou também os que
chegaram. Por conta dos vínculos afetivos que havia entre os que ficaram e os que
sofreram o processo da demissão, os novos contratados, não raras vezes, eram
vistos com certa desconfiança e melindre por parte de alguns daqueles que
continuaram na instituição. Eis como isso se evidencia na fala de uma professora
contratada, logo após as demissões, que permanece na escola até os dias de hoje:
Olha, foi uma coisa bem diferenciada assim... Tinha um grupo que aceitava
a gente, os novatos. E tinha um grupo que rejeitava. Teve pessoas que
demoraram mais de um ano para me cumprimentar dentro dessa escola.
Não me davam bom dia, as pessoas que estavam aqui (...) agora tá muito
livre, muito aberto, muito aceitável, na época não era. (P3).
esperava uma certa sintonia de ações. Mas outras análises feitas nesse estudo
acabaram por revelar outras facetas dessa inovação.
A literatura foi revisitada nas coordenações de área e uma ênfase maior foi
dada à essa função. Coordenadores das áreas do conhecimento passaram a ser os
sujeitos, que aliados à gestão, seriam os guardiões da inovação, para que os
ganhos não se perdessem. Para tanto, acompanhando a reestruturação dos
serviços da escola que passaram a ter a nomenclatura de Núcleos, a gestão
procurou minimizar as divergências entre este grupo e o grupo gestor. Um trabalho
sistemático de uma psicóloga, contratada pela escola, acompanhou esse grupo
durante o ano de 2007, resultando na diminuição do número de coordenadores,
ficando nessa função apenas aqueles que, segundo o acompanhamento feito,
estavam mais propensos à colaboração com o grupo gestor.
A proposta da nota qualificada, que será tratada mais adiante, entra como
uma adequação da proposta da avaliação formativa, pois tem como um dos seus
objetivos quantificar um processo que se pressupõe de qualidade. E novamente
demonstrou uma atitude de controle da situação, de forma deliberada e intencional
por parte da gestão, levando em conta as demandas das famílias. Esse foi um
momento de menor resistência da comunidade.
Nessa fala o sujeito da entrevista, mãe de aluna, não nega que havia um
esforço da escola em explicar os processos, mas denuncia o que ela considera
subjetivismo da observação. Aqui parece estar explicitada para a família, a leitura
pelo professor do processo pelo qual passava a criança, com todas as suas
possibilidades e todas as suas construções. Entretanto, as interrupções na fala em
momentos de definir ou conceituar as ações pedagógicas: "como é que chamava..." ;
"muito assim..." parece ser um indicativo de desconhecimento da base teórica do
construtivismo sócio-interacionista e de algumas dúvidas quanto ao processo.
96
O que nos chamou a atenção para que os meninos entrassem no colégio foi
o fato de ele ser tradicional e católico.
Tudo que o colégio fez até hoje, nesses anos que a gente está aqui... ao
longo desses anos a gente nunca teve dúvidas de nada. Pois tudo que é
implantado a comunicação chega a tempo. Com os demais fica até muito
mais fácil, né? (RF-3)
Mudanças de expectativas.
No período entre 2002 a 2007, quando a escola foi vista como fraca pela
comunidade local, algumas outras foram surgindo na cidade. Dentre os colégios A,
B, C, D, E e F, referidos no gráfico abaixo, pelo menos dois deles, surgiram na
cidade, nos últimos dez anos e representaram concorrência com a escola analisada,
por oferecer uma proposta conteudística, declaradamente voltada para os exames
vestibulares. A escola analisada perdeu parte de seus alunos para esses colégios. A
tendência de saída, embora não de maneira uniforme, continuou nos anos
subsequentes. O que mostra o gráfico, elaborado no início de 2012, a saber:
Do 2º ao 9º ano
Colégio A
Colégio B
Colégio C
Colégio D
Colégio E
Colégio F
realização, tanto que a partir dali a gente começou a dizer: "a avaliação com
intenção formativa." Mas já não usávamos mais "avaliação formativa",
porque a gente entendia que a gente não vivia todos os processos, a gente
não vivia todas as etapas, né?[...] Não éramos genuinamente fiéis à
concepção que o próprio Hadji colocava. (G1)
da melhor forma possível, seria dar a esse aluno um mapa... um quadro que
ele visse: "isso eu não alcancei, eu tenho clareza do que eu não alcancei."
Eu, hoje, consigo olhar de uma forma inteligente pro meu aluno, não
subestimando e não criando uma repetição desnecessária, mas investindo
exatamente naquilo que é mais frágil nesse momento. Agora, tendo a
certeza de que ainda sim ele vai ser aprovado com pendências. (G1)
A família parece ter entendido esses ajustes, como essa iniciativa da escola
em denominar as avaliações de parciais e globalizantes, com a delimitação de
objetivos mais complexos, recortando momentos mais significativos no processo
para avaliar. Em função disso criou-se uma dinâmica diferenciada na aplicação,
sobretudo das globalizantes, com horários demarcados onde, pelo menos todo um
segmento escolar faria a prova. Havia uma intenção subjacente em formalizar esse
momento: uma maior validação dos instrumentos avaliativos, que vinham caindo em
descrédito pelos alunos.
A prova novamente separada, mitificada, momento ímpar no processo. Isso
parece ter sido um retrocesso enorme, considerando o viés formativo. Mas a escola
entendia que a prática formativa já tinha se inserido o bastante, para que tal
iniciativa significasse um recuo nas intenções. As famílias parecem ter percebido
essa iniciativa como uma forma de fortalecer os processos e, em consequência, a
escola se sentiu também fortalecida. Isso é verbalizado na fala de uma
representante de família fiel, a saber:
O que eu sentia também era a questão da concorrência. Eu acho que o
colégio estava deixando a desejar. Estava um pouquinho, os alunos
estavam passando de ano e estavam... e talvez.... não estivessem
adquirindo conhecimento ou se esforçando tanto. Isso tava muito fácil. Eu
acho que isso também pesou um pouco. E os colegas iam falando, iam
comentando: "Tá fraco, tá isso." Apesar de não ter dito isso claramente, eu
acho que era muito isso. E a avaliação talvez era a forma do próprio colégio
de dizer: "Não, é... realmente a gente tem que forçar um pouco mais". Por
algum tipo de avaliação que o colégio tenha feito. Bem, não sei... Mas eu fui
às reuniões que foram feitas e entendi o que estava acontecendo. Gostei da
forma que aconteceu, o que mudou e as meninas ficaram um pouco
107
ansiosas: "Ah, agora eu tenho prova." E eu falava: "Relaxa filha, você já fez
isso, só que agora tem nome." Dizia do jeito que eles estavam passando.
Então aqui a gente não teve esse problema. (RF-1)
A nota qualificada.
Os autores defendem que tal nota é um símbolo matemático que fornece uma
informação concisa e rápida de uma apreciação feita pelo professor a respeito das
109
Então é... As inquietudes, lógico que você se preocupa. Você sabe: tem a
concorrência, tem o mercado, tem tudo, mas nada assim que a gente
ficasse desesperada, pensar em tirar do colégio. (RF-1)
O discurso das famílias era incisivo sobre o momento em que a escola vivia e
sobre as demandas externas dos exames de ingresso nas universidades. Pela
análise dos dados, fica claro nesses discursos um certo inconformismo de ter de
retirar os filhos de uma escola que eles ‘adoravam’ por que a escola não investia na
obtenção de melhores resultados na concorrência com outras escolas.
Os alunos não eram motivados a fazer o ENEM. Eu falei: "Mas como a
escola não motiva pra fazer o ENEM?" Primeiro, a escola pra mim tinha que
motivar os alunos a fazerem o ENEM. Tinha que ter aquela divulgação de
resultado, de estimulo. Não que virasse... Acho que a escola não queria
113
uma competição, não queria partir, como as outras escolas partiam, que era
a busca de aluno mesmo, né? Eu ficava muito insatisfeita, porque eu via os
outros colégios tentando mostrar o desempenho de seus alunos, que seus
alunos eram os melhores... E a escola que os meus filhos estudavam nem
se posicionava, não era preocupação. (RF-2)
Por mais discutível que seja não é de se estranhar que a família inserida
nessa realidade, com as representações que possui sobre este tempo, deseje
exatamente resultados satisfatórios de seus filhos na passagem da escola à
universidade. A escola tem outros papéis a cumprir e parece não ter se eximido
deles. Entretanto a instituição escolar, certamente, também não pode se isentar da
responsabilidade de responder aos resultados que se esperam dela. Termos como
ajustes, implementação, avaliação, balanço, ganho, apreendidos do discurso em
relação ao olhar da gestão sobre os processos, parecem demonstrar como as
respectivas representações de funcionamento da instituição tem relação com o
funcionamento do mercado. Bonniol e Vial (2001, p.302), críticos do modelo corrente
de avaliação formativa e comparando-a às avaliações das instituições no mercado
produtivo afirmam que: “na linha dos objetivos institucionais há, necessidades
econômicas, imperativos sociais, uma escolha de valores, assim como opções
políticas”.
A escola analisada, resguardadas as especificidades inerentes a uma
instituição dessa natureza, é também uma empresa e, como tal, repensa percursos,
fundamentada na análise dos ganhos e perdas e na satisfação dos clientes/famílias.
Nesse sentido parece estar tentando equacionar as expectativas das famílias, sem
abrir mão da escolha que fez, o que não deixa de ser uma opção política, e que
continua acreditando e defendendo: o processo de avaliação com intenção
formativa. Com isso acredita que esteja atendendo aos imperativos sociais que a
circundam, sem abrir mão dos valores que a fundamentam.
116
Por mais que os processos sejam pensados nas esferas superiores, em seu
sentido macro, como parâmetros educacionais, sob a forma de leis ou
determinações políticas, ou na esfera institucional, gestados sob a égide das
relações de poder, entremeando as suas hierarquias, é, na sala de aula, que tais
processos se efetivam. Mudanças de processos pensados de cima pra baixo podem
até ser exitosas, desde que, como defende Acursio (2004), as determinações sejam
vistas como meios e não como fins. Desde que haja protagonismo dos atores
envolvidos e não mera execução de diretrizes.
Estudos apontam, tomando, por exemplo, os já referenciados nesta pesquisa,
que nenhuma inovação ocorre se não se conta com uma dose enorme de vontade
dos professores, bem como para quem a mudança é pensada: o aluno. Esses dois
sujeitos, em interação constante, profundamente movidos em seus afetos, imersos
em uma dinâmica de conflitos e acordos, é que fazem, de fato, o trabalho acontecer.
Esses dois atores, cada um com seu universo particular, suas vivências, seus
medos, suas expectativas e suas energias é que constituem o centro da dinâmica
escolar. Os outros elementos, por mais imprescindíveis que possam parecer, são
apenas adjacências. Parecem existir, tão somente, para fazer funcionar a sala de
aula, cenário aonde atuam seus protagonistas.
Era de se esperar que, ao propor uma inovação de tamanha magnitude, a
gestão da escola mobilizasse, mutuamente, esses dois sujeitos. Sabia que, ao
mexer com o professor, mexeria inexoravelmente com o aluno. Mas, certamente,
mexer com o aluno também afetaria o trabalho do professor.
A partir de 1990, conforme já referido, começou a configurar-se um período
de profundas mudanças no cenário global e nacional. Nesse momento histórico se
deu a gestação da proposta e o Projeto Político Pedagógico da escola começou a
ser reconstruído, para fazer frente às novas demandas que surgiriam a partir de
tantas alterações políticas, econômicas e sociais. Para tanto, a gestão inseriu
profissionais dos diferentes segmentos da escola. Na tessitura do projeto ia
delineando-se uma nova forma de olhar o aluno, que passaria a ser visto como ativo,
aprendiz pela experimentação, pelas pesquisas em grupo e atividades
117
essa mesma formação prévia foi dada aos profissionais que trabalhavam com os
anos iniciais, concluiu-se que boa parte deles a tiveram, concomitante à
implantação, com o avião em movimento, remetendo-se à metáfora. Daí a gestão
admitir a falta de diretrizes claras para aquele momento, pelo menos, no segmento
do Ensino Fundamental I.
A formação continuada começou com a reconstrução coletiva do Projeto
Político Pedagógico, mantendo os marcos doutrinais e referenciais da instituição,
discutindo-os, ressignificando-os e, baseados em referenciais teóricos, criando
novos princípios que viessem dar conta das mudanças que viriam. Veiga (2004,
p.56) afirma que “a construção do projeto político-pedagógico é um ato deliberado
dos sujeitos envolvidos com o processo educativo da escola, resultado de um
processo complexo de debate, cuja concepção demanda não só tempo, mas
também estudo, reflexão e aprendizagem de trabalho coletivo”.
Ficou bem claro que a gestão, pela análise dos dados das entrevistas, era
sensível ao trabalho que demandaria com a mudança, que isso afetaria as relações
de trabalho dentro da instituição. Parecia necessário, com mais ênfase naquele
momento de construção do novo, que o trabalho fosse coletivo, no sentido próprio
do termo, em benefício da mudança. As horas extras de coordenação, bem como
outros tipos de encontro, deveriam se converter em momentos de debates, de busca
de soluções para os imediatismos do dia-a-dia, surgidos em função das mudanças
propostas. Parecia ser preciso, dentro da proposta participativa, buscar caminhos
reais, já que a escola não tinha a estrutura ideal, que propiciassem as mudanças.
Porque os entraves, na prática, começariam, conforme denuncia parte do discurso
abaixo:
Então, na prática foi que a gente começou a ver se realmente daria certo ou
não, né? Então foi na prática, em uma sala de aula com 45 alunos, aonde
que você tem que, para fazer essa formação continuada valer, desenvolver
a avaliação como um processo, né? Com nada estagnado. (P1)
O primeiro entrave estrutural, de fato, foi a sala de aula com 45 alunos. Como
fazer o devido acompanhamento em turmas cheias? Mas essa não era a única
dúvida. Outras indagações iam surgindo, tais como: de que forma dever-se-ia
registrar os processos individuais? Qual seria a melhor disposição para as carteiras?
120
Como seria a qualidade das aulas expositivas? Essas questões de ordem prática,
mas que faziam toda a diferença, não encontravam respostas satisfatórias na
literatura corrente. Nesse sentido, a escola acreditou que deveria pensar, em
conjunto, as soluções e tais soluções nem sempre seriam definitivas.
Alguns referenciais teóricos, em nível de Gestão, remetiam ao Planejamento
Participativo. No campo pedagógico, as teorias piagetinianas foram revisitadas,
confrontadas com o pensamento vygotskiano da ZDP, bem como os pressupostos
de Hadji (1994), desmitificando a avaliação, foram bastante discutidos e colocados à
luz da realidade. O trabalho pedagógico, que deveria ter sua base epistemológica
bem alicerçada, também se beneficiou do grande acervo bibliográfico que era
disponibilizado aos professores.
Como parte dos professores entendera que a mudança iniciada continuaria
seu curso, começou a buscar a fundamentação teórica para tal, somando o trabalho
individual àquele proposto pela gestão, às iniciativas da escola. A gestão esperava,
naquele momento, já que a mudança não chegara de imediato, no segmento, que
hoje, corresponde de 6º ao 9º ano, que os professores continuassem a
fundamentação sobre os princípios do construtivismo socio-interacionista, com foco
na avaliação formativa. Na mesma medida, estimulava as práticas inovadoras.
Mesmo tolerando as práticas antigas, passou a avaliar, periodicamente, esse
professor, considerado resistente, estabelecendo metas de leitura a serem
cumpridas. No ano 2000, os resultados dessas avaliações periódicas internas
somaram-se aos resultados da avaliação feita pela consultoria externa. Essa
tolerância teve, então, o marco divisor situado nas demissões, ao final do referido
ano. Demissões que envolveram profissionais dos dois segmentos.
No tocante ao trabalho pedagógico havia as diferenças, já mencionadas, e
tais práticas, tanto as inovadoras, quanto as tradicionais, estavam carregadas de
intencionalidades. As primeiras, no sentido de arriscar e as últimas, no sentido de
evitar o risco. Mas parece ter tido entre os demitidos aqueles que não conseguiram
tornar os processos inteligíveis ao nível da prática e, continuaram acreditando que
estavam no caminho esperado. Parecia haver uma divergência de expectativa entre
a gestão e alguns professores em relação ao trabalho pedagógico, a saber:
Porque eu procurava fazer tudo assim, da maneira melhor. Eu dava meu
sangue aqui dentro. Eu gostava demais disso daqui, eu amava dar aula
aqui, entendeu? Embora eu estivesse bastante cansada, mas era tudo... Eu
não faltava, eu procurava entregar tudo certinho, chegar no horário, não
chegava atrasada. Batia o sinal pro professor ir pra sala de aula, eu tava lá
121
No primeiro ano que eu entrei, os alunos não tinham notas e sim menções.
Então foi uma adaptação extremamente difícil, esse primeiro momento. Mas
que por ser muito jovem nesse tempo de mercado, a gente tem uma
maleabilidade extremamente tranquila na hora de se adaptar às situações
adversas, né? Nas situações que são dirigidas pra gente dentro da escola e
dentro da sala de aula. [...] Os novos alunos que nós temos hoje. Alunos
digitais, alunos tecnológicos, alunos que diferem-se daqueles alunos do
passado que simplesmente se contentavam com lápis, papel, caneta,
caderno e um quadro. Os alunos de hoje, não! (P5)
instrumentos; como procede em relação aos erros e acertos; que anotações faz do
rendimento do aluno; como leva em conta as atitudes do aluno.
A autora continua propondo a indagação sobre os conselhos de classe e a
forma de participação de pais e alunos, sobre as decisões de aprovação e
reprovação, sobre os procedimentos pedagógicos decorrentes dos conselhos de
classe; sobre os estudos de recuperação; sobre a participação dos pais na entrega
de resultados e que tipos de arquivos, dossiês ou documentos sobre o aluno são
arquivados na escola e a sua respectiva finalidade.
Olhando sob a perspectiva da autora e traçando relações de comparação
entre suas reflexões e o caso analisado, parece pertinente afirmar que o trabalho
pedagógico da escola, atualmente, avançou bastante nos registros, nos prazos de
devoluções dos instrumentos avaliativos, as retomadas são mais grupais, em função
dos entraves, já mencionados, referentes ao tempo e ao número de alunos, mas o
caminho é aberto para as dúvidas individuais.
Assessorando o professor, a coordenação monta gráficos ou tabelas do
número de alunos em recuperação e respectivos objetivos pendentes, os quais
passam ser parâmetros para o professor fazer as retomadas em sala. Para a
coordenação da escola, tais instrumentos servem para mobilizar estruturas de
acompanhamento desse aluno, tais como as monitorias por objetivo. Sobre essa
relação entre a avaliação por objetivos e a possibilidade que se abre também ao
professor de dar-lhe um feedback sobre seu próprio trabalho como, por exemplo, a
necessidade ou não de retomadas, os discursos docentes, abaixo, verbalizam:
Para eu saber, para... para.. eu me ajudar no meu trabalho, na minha
sistematização. Então se ao longo do processo eu consegui que meu aluno
entendesse a Reforma Protestante, então, ao longo do processo ele atingiu
isso, então isso quer dizer o quê? Que eu consegui executar essa tarefa
né? Então eu acho que a avaliação formativa é isso, é ao longo do
processo! (P1)
[...] um comparativo se eu sei aquilo que meu aluno não sabe, isso é uma
coisa que antes eu não sabia. Então essa coisa do objetivo me faz melhorar
meu trabalho, porque eu faço mais ou menos uma retrospectiva, assim... Eu
faço uma enquete, um feedback pra ver quantos conseguiram, quantos não
conseguiram, qual é a questão que eles não sabem, aonde eu tenho que
aprofundar mais. Essa... Esse tipo de avaliação serviu pra mim, pro meu
trabalho melhorar. E eu uso esse meu trabalho lá no meu outro emprego
que não é assim. Quando eu vejo, eu tô tentando avaliar o menino por
objetivo, mesmo eu não dando por objetivo. (P3)
Wallon (1989) defende que pelo vínculo imediato que se instaura com o
ambiente social, a atividade emocional garante o acesso ao universo simbólico da
cultura, elaborado e acumulado pelos homens ao longo de sua história. O estudioso
apregoa que a mediação social está na base do desenvolvimento e que tal fato
caracteriza o homem como um ser, geneticamente social, dependente dos outros
seres para subsistir e se construir enquanto ser da mesma espécie. A psicogenética
walloniana, quanto à afetividade e à construção do sujeito, defende que o produto
último da elaboração de uma inteligência, concreta, pessoal, corporificada em
alguém, é uma pessoa e que não há nada mais social do que o processo através do
qual o indivíduo se singulariza, constrói a sua unicidade.
Até as aulas de DAPS, porque assim você podia formar uma visão crítica,
porque fugia um pouco dos conhecimentos acadêmicos e ia mais pro
cotidiano, pros desejos, pras metas, pros objetivos da vida. Então o que
aconteceu? Me ajudou nas redações, por exemplo. É, eu acho que o que
me ajudou muito o colégio foi escrever, porque pra escola que eu fui não
tinha muito... Assim... você já tinha que ter em mente como fazer uma boa
redação. Então eu acho que o colégio me ajudou muito a ter uma visão
crítica.(Al-2)
Essa visão mais crítica da realidade, mobilizada pela aprendizagem por meio
de situações problematizadas, era um diferencial dos alunos oriundos das turmas do
construtivismo ou os filhos do construtivismo, como ficaram sendo chamados. Por
terem enfrentado desafios diferenciados nos primeiros tempos da inovação,
parecem ter se tornado aprendizes diferentes, aqueles que pressionariam no sentido
da continuidade da mudança. A escola, como um novo espaço de construção de
saberes deveria, na visão da gestão, como já enunciado, dar conta das demandas
que criou. Estes alunos, necessariamente, apresentariam demandas outras, em
relação aos seus pares de outros contextos.
A educação tradicional era tida como aquela que causava desestímulo nos
alunos, pois concebia tais como seres passivos diante do conhecimento pronto, de
verdades universais e inquestionáveis. Por mais que movimentos por mudanças já
tivessem se insinuado sobre a educação e sobre as práticas escolares, de tempos
em tempos, incluindo a própria proposta construtivista, que não era nova, parecia
haver, naquele momento, imperativos sociais, econômicos e políticos, indicadores
de que os paradigmas postos não conseguiriam abarcar essa totalidade de
mudanças.
133
sentido, permitir a fala do aluno desocuparia o professor para dar sua brilhante aula;
b) A aula modernosa, quando a fala do professor é substituída por um programa de
computador ou vídeo, camuflando a aula, propriamente dita; c) as aulas
construtivistas aparentes, com carteiras em círculo, com espaço físico diferenciado,
mas ainda centradas na fala do professor; d) os seminários, geralmente em grupos,
aonde os alunos dão aula no lugar do professor. e) o esvaziamento de conteúdo que
seria o caso daquele professor que vai para o outro extremo da pedagogia
tradicional, com aulas repletas de criatividade, mas quase que vazias de conteúdo.
[...] Mas o que que acontece, se tem esse ganho por um lado, por outro,
acaba que tem uma perda na parte acadêmica, porque não tem uma
pressão sobre o aluno, isso pode gerar uma certa acomodação.
aulas, sobretudo no segmento aonde a mudança, propriamente dita, ainda não tinha
chegado. Tais equívocos de interpretação parecem ter sido pouco a pouco diluídos,
pela permanência da formação continuada, pelos referenciais teóricos que os
expunham e abriam outras possibilidades de trabalho. Obras como as do próprio
autor supracitado, que, em pessoa, esteve em contato com os educadores da
escola, discutindo todas essas questões, além de outros estudiosos, já mencionados
nesse estudo, que lá também estiveram em semanas pedagógicas. Visitas
financiadas pela escola, dentro do seu investimento na formação continuada para a
mudança.
Quando eu passei pra 5ª serie mudou tudo! Era um professor pra casa
matéria. No começo eu ficava perdida, era muito professor, muito caderno
(risos). O nome "prova" apareceu, era muita coisa pra decorar e aprender,
me sentia uma mocinha já (risos). A gente continuava a fazer trabalhos em
grupo e individuais e os professores ajudavam bastante em tudo. (Al-1)
137
Levando em conta que esse sujeito da pesquisa é uma aluna que foi
alfabetizada, sob a égide da proposta inovadora, parece ser dedutível que ela teve
um tempo preponderante de mediação bem sucedida. Entretanto essa mesma visão
não é compartilhada por outro sujeito: uma aluna matriculada na escola nos últimos
cinco anos, a saber:
Eu acho que varia muito de professor pra professor! Porque têm uns
que realmente buscam, que procuram... É, digamos assim, orientar
cada um. Mas eu acho que está faltando um pouco isso na maioria
dos professores, de perceber a dificuldade de casa um. Porque têm
muitos tímidos que não gostam de se manifestar e assim vão mal nas
138
Pela análise dos dados e a observação in loco ficou perceptível como é feito o
trabalho com os alunos em dificuldades, já revelado anteriormente. Mas esse
trabalho de resgate desse aluno parece não ser percebido ou validado pelos seus
pares, conforme a fala do sujeito acima. Nadal e Papi (2007) afirmam que a
mediação está presente quando o professor faz perguntas, dá devoluções aos
alunos sobre suas colocações e produções, problematiza o conteúdo com o objetivo
de mobilizar o pensamento deste aluno, permite o diálogo dele com seus pares
sobre as atividades desenvolvidas; quando o professor substitui as perguntas: o quê
ensinar, o como ensinar por: quais os conteúdos são prioritários? Como sei se estão
compreendendo? Quais as expectativas desses alunos em relação às aulas?
Iniciativas docentes, nesse sentido, podem preparar regulações e controles muito
mais efetivos.
criado pela pedagogia tradicional, era o medo da prova, medo que parece ter
conseguido driblarem muito bem quando perceberam que a avaliação globalizante
valia mais. Conforme já trabalhado em análise anterior, a cultura quantitativa
permeava os processos, por mais que se quisesse apenas qualificá-los. A escola
então, pressionada pelas demandas externas, também já analisadas, entendeu ser
possível a coexistência da proposta formativa com avaliações mais pontuais.
Nos últimos cinco anos a escola tem perseguido essa qualidade e tentado
mudar essa imagem, conforme demonstra a análise de um fragmento de discurso da
aluna, matriculada dentro desse período:
Eu, na avaliação também, eu senti um pouco de dificuldade de... No
estudo... Era um novo tipo de estudo, porque antes eu estudava... Eu
lia um pouco e já tava preparada para a prova no outro colégio onde
eu estudava. Agora aqui não, aqui eu comecei a estudar com a minha
mãe e logo peguei e já estudo sozinha desde o 6° ano mesmo. Que...
É uma maneira diferente mesmo, aqui a gente precisa ler, reler,
repetir e fazer exercício pra pegar mesmo, porque a matéria... Ela
não é... É uma matéria mais... É uma... Um processo mais complexo
que a gente enfrenta, porque a avaliação é uma... É como se fosse o
final de todo o processo, então não é aquilo que você vê durante o
processo como no outro colégio, que a gente via o que tinha na prova
e era exatamente aquilo que a gente via (risos). Como acontece em
algumas questões fáceis aqui. (Al-3)
mais complexo que a gente enfrenta”. As pausas, percebidas na fala desse sujeito,
que não o foram no discurso do sujeito anterior, parecem indicar uma falta de
familiaridade com a nomenclatura, que aquele já possuía, dado ao tempo de
convivência com o discurso gestor e docente, envolvendo o processo formativo.
Outro dado analisado é a concepção de avaliação do sujeito acima, que
embora não desconsidere o processo, a vê como sendo mais pontual, de final de
percurso, de produto acabado, do tipo somativa, dado revelado na frase: “É como se
fosse o final de todo o processo”. Mudança significativa em relação ao discurso
anterior, analisado na expressão: “Tudo era avaliado”. Isso parece indicar que
concepções discentes, não raras vezes, refletem as concepções da gestão e dos
docentes.
Essa mudança no teor dos discursos discentes parece ser um demonstrativo
das adequações que a escola teve que fazer para que, mantendo a essência da
avaliação formativa, sistematizasse melhor os processos. Uma vez que precisava
atender aos imperativos externos já mencionados. Esses imperativos aparecem
também no discurso discente. O imperativo da concorrência, do vestibular que
aparece no discurso da família descontente com a proposta, aparece também na
fala discente. As falas do sujeito abaixo, aluna que se desligou da instituição, no
período em que a escola foi vista como de fraca cobrança, são demonstrativas dos
imperativos mencionados, a saber:
Eu mudei de escola mais pela questão do vestibular, porque assim...
eu gostava muito da escola. Só que como... Por conta da
propaganda, né? Das outras escolas, pela busca de passar no PAS.
Aí eu mudei. Foi o que mais influenciou.
Tem pai que sabe muito sobre os objetivos e ele chega "Nesse
objetivo meu filho tirou 9,5 mas tem esse objetivo aqui que eu vou
batalhar com ele, eu vou estudar com ele" Então eu acho isso muito
legal, muito importante. (P3)
O mesmo autor defende que a metacognição parece cada vez mais suscetível
de ser "educável" ou ainda "pedagogizável", além do fato de ela desenvolver-se com
a idade. Tais estudiosos falam em "consciência metacognitiva" ou em "tomada de
consciência de seu funcionamento". Consciência essa passível de se tornar objeto
de treinamento e de ações pedagógicas. Em suma, esse autor conclui que a
autoavaliação, a responsabilidade de suas aprendizagens e de sua progressão e, no
melhor dos casos, a possibilidade de o próprio aluno elaborar suas próprias ações
de regulações é, sem dúvida, a apropriação mais significativa.
A explicitação para as famílias dos objetivos a serem trabalhados e
perseguidos, ao longo do ano letivo, somada à metacognição do aluno sobre seu
processo, parecem ter deposto a favor da proposta formativa, uma vez que,
certamente, a família percebeu uma prática inusitada, mas que foi se adequando e
se sedimentando ao longo dos anos, que mobilizava o estudante para a
aprendizagem, e que também o colocava como partícipe do processo, a saber:
É interessante a avaliação, porque é diferente dos demais colégios. Eu
conhecia aquela avaliação que era avaliada de 1 a 10 e não por objetivo.
Você tinha 10 questões, você não sabia em que que o aluno estava
deficiente. Ou seja, em matemática, por exemplo, pode ser que ele não
tinha dificuldade em matemática, mas tivesse em um assunto né? Da
matéria... Então o interessante é isso, porque você foca a dificuldade do
aluno (RF-2)
A qualidade dos processos em sala de aula, sob o ponto de vista dos alunos,
parece entrar em consonância direta com a interação dos mesmos com os seus
próprios processos. Isso pressupõe a autorregulação. Entretanto na escola
analisada percebeu-se que, algumas vezes, o conhecimento daquilo que já se sabia
e a perseguição daquilo que ainda não se sabia, considerando os indicadores do
objetivo definido, a priori, se enviesa para os resultados, numa possível
demonstração da pedagogia do sucesso, ranço da pedagogia tradicional,
quantitativa e excludente, que parece ignorar todos os processos mentais no
decorrer do percurso, conforme demonstra o fragmento abaixo do discurso discente:
Foi a melhor coisa do mundo!Você não precisava fazer a prova daquilo que
já sabia. Mas precisava fazer a prova no objetivo pendente. Mas no Ensino
147
Médio você fazia a média da matéria e tinha a opção de não fazer a prova
das pendências. Al-1
Uma das questões dessa pesquisa diz respeito aos impactos causados no
espaço escolar analisado e em seus atores. Parece ser necessário enfatizar que
eles foram sutis, mas persistentes. E nessa sutileza foi transformando, pouco a
pouco, a prática. A inovação, deliberadamente proposta e perseguida, parece ter
mudado o olhar da escola sobre sua existência, sua base filosófica, seus marcos
referenciais. A princípio, de cima para baixo, mas, no decorrer dos acontecimentos,
tal proposta parece ter forçado várias outras mudanças da base para o topo,
desvelando o conteúdo político e carregado de intencionalidades das relações
hierárquicas. Representou impacto, pela análise dos dados, quando a pretensa
inovação mexeu com as concepções dos docentes envolvidos, fê-los repensar suas
práticas educacionais e expôs processos arraigados e obsoletos. Da mesma forma,
parece ter aberto meios melhores de protagonismo dos alunos.
Apesar das concepções teóricas que fundamentaram, epistemologicamente, a
inovação nos seus primeiros tempos não terem ganhado corpo de forma efetiva, a
tentativa de implementá-las parece ter aberto reais possibilidades de entendimento
do papel da gestão, da realidade da sala de aula, do papel do professor, do aluno e
de sua família. Parecem ter conseguido tirar do lugar oculto os planos de ensino e
os colocado em seu devido lugar, pela feitura e tantas releituras de seus objetivos e
melhora nas estratégias de aprendizagem. O retrocesso na prática avaliativa, aos
moldes tradicionais, na visão dos professores, parece estar no campo das
impossibilidades. E isso parece ter constituído um impacto da proposta sobre a
cultura curricular, por mais que ela não tenha sido mudada por inteiro.
Aquilo que foi possível efetivar na prática, somado a todas as outras
contribuições teóricas que foram surgindo no campo educacional, incluindo aquelas
que repensaram e ressignificaram as primeiras teorias sobre a prática formativa,
parecem ter mudado a escola. Na busca de implementação da referida proposta
inovadora a escola foi se vendo sob todos os ângulos. Por dentro, dissecou-se sob o
olhar da gestão, dos docentes, dos alunos; por fora, revelou-se ante o olhar das
famílias e da sociedade local. Exposta, desvelada, questionada, a escola, recuando
às vezes para avançar, pareceu buscar meios de construir seu próprio caminho.
Constituiu impacto da inovação na escola e em seus atores, quando, em
função da proposta inovadora, ela percebeu seus campos de fragilidade e de força,
e como instituição, hoje reticular, colaborou para a produção de seu próprio currículo
em movimento, corpo teórico que tenta abarcar as realidades escolares da rede de
154
colégios da qual faz parte a escola analisada, trazendo uma teoria própria, tecida
sobre a reflexão das práticas escolares, do planejamento, do trabalho pedagógico,
da avaliação e do ofício do aluno.
A escola, hoje, se insere na pós-modernidade, tempo marcado pelo
multiculturalismo, pelo conhecimento em rede, mas também por uma grande crise
de sentido. Tempo em que o suposto triunfo do capital, que parecia marcar o fim da
história, naqueles primeiros anos da gestação da proposta, dá sinais de
esgotamento nos múltiplos problemas ambientais, econômicos e humanos em
âmbito planetário, com ênfase nos grandes centros do sistema.
Quando o estudo se propôs a investigar o processo de implementação e pós-
implementação de uma proposta educacional inovadora na escola analisada, em um
período que abarcava quase duas décadas, havia a hipótese de que sua aplicação,
de acordo com as teorias vigentes, naquele momento, ainda em fase de ebulição,
não teria sido possível, tendo em vista, os impactos dessas mudanças nos sujeitos e
nos processos educacionais da referida realidade escolar.
A pesquisa investigou e confirmou tal impossibilidade da aplicação, pura e
simples, da referida teoria nas práticas escolares, desvelando as visões dos sujeitos
diretamente envolvidos com o processo de inovação. Entretanto, também conseguiu
vislumbrar as muitas possibilidades que se abriram para a escola analisada,
estimulada pelas mudanças internas gradativas e persistentes que foram ocorrendo
ao longo dos anos. Essas mudanças gradativas parecem ter impactado,
positivamente, a escola e seus agentes, pois implicou em mudança de mentalidade
sobre os processos educacionais, sobre o aluno e suas particularidades e sobre o
papel da escola na sociedade.
Novas questões, passíveis de análise, relacionadas ao tema dessa pesquisa,
certamente ainda se abrirão sobre essa e outras realidades escolares. Questões,
tais como: atribuições da escola e da família ao acompanhamento dos processos do
aluno; o processo formativo e os calendários escolares; tarefas de casa significativas
e processo formativo; a gestão da aula e o processo formativo; aula expositiva como
espaço de interações e de construção do conhecimento; construção do
conhecimento e sistematização dos processos; as novas tecnologias e o processo
formativo, dentre outras.
Certamente, os novos tempos e os novos cenários, que se configuram,
continuarão a exigir da escola o enfrentamento de grandes desafios. Para o bem dos
155
indivíduos e da sociedade como um todo, parece ser salutar que ela permaneça
pensando sobre si mesma. Em se tratando de questões de natureza educacional
parece haver sempre necessidade de novas investigações.
156
REFERÊNCIAS
DU PAUL, George J.; STONER, Gary. TDAH nas escolas. São Paulo: M. Book. do
Brasil Editora 2007.
FLICK, Uwe. Introdução à pesquisa qualitativa. 2 ed. São Paulo: ARTMED, 2002.
158
FRANCO, Maria Laura Puglisi Barbosa. Análise de Conteúdo. Brasília: Líber Livro
Editora, 2008.
HERNANDEZ, Fernando et. al. Aprendendo com as inovações nas escolas. Trad.
Ernani Rosa- Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
SOUTO, Ana Lucia C.F et al. Diretrizes para implementação : nota qualificada.
São Paulo: FTD, 2011.
APÊNDICE A
ENTREVISTA nº 1
ENTREVISTA nº 2
ENTREVISTA nº 3
ENTREVISTA nº 4
ENTREVISTA nº 5
2. Qual a percepção que você teve do grupo de professores logo que entrou?
ENTREVISTA nº 6
1. Fale um pouco das suas impressões sobre a prática avaliativa da escola quando
foi contratado. Encontrou dificuldades. Sim/Não. Quais?
2. Você poderia falar um pouco de como as mudanças na estrutura física da
escola, iniciadas antes de você entrar e concluídas depois, interferiram nos
processos de ensino-aprendizagem?
3. Fale um pouco das dificuldades e ganhos apresentados em sala de aula com a
condução dos processos, considerando os novos perfis de aluno (conectados).
E também fale um pouco de como é o trabalho com os alunos portadores de
patologias (hiperatividade, TDA, TDH)
4. Como você percebeu as últimas mudanças no sistema avaliativo da escola? E
como titular de turma, como você percebeu a receptividade das famílias em
relação a isso?
ENTREVISTA nº 7
APÊNDICE B
Brasília, _______/__________/________
Assinatura:______________________________________________________