O cartoon Recarregar é da autoria de Angel Boligán e foi desenhado em 2018.

A
imagem alude de uma forma satírica ao modo de vida nas sociedades
contemporâneas.

Neste cartoon, vemos um homem sentado à beira de numa cama individual do quarto
de uma casa de um meio pouco favorecido economicamente. A figura masculina, que
está de pijama e tem calçados chinelos de quarto, boceja: podemos pressupor que
está a levantar-se da cama ou que vai deitar-se para dormir. Das costas desta
personagem saem dois enormes pinos de uma ficha elétrica. Significativo é o facto de
encontrarmos, embutida no meio da cama, uma enorme tomada elétrica cujas
ranhuras são, pelo tamanho, as entradas para os pinos da ficha. Assim se sugere que
o sono será uma recarga de energias do homem.

O cartoon alude, indiretamente, às condições de vida e de trabalho extenuantes dos

cidadãos do século XXI. O ritmo de vida intenso no local de trabalho, nas cidades e no
seio familiar deixam-nos desgastados. Na verdade, o trabalho, o acompanhamento
dos filhos, as solicitações sociais consomem o nosso tempo e levam-nos ao limite das
nossas forças. Interessante é o modo como o homem contemporâneo é representado:
a ficha elétrica e a tomada referem-se ao facto de ele ver a sua condição reduzida à
de um utensílio dos outros (empregadores, pessoas com poder, familiares, etc.), que o
usam como um aparelho elétrico e o recarregam para voltar a usá-lo.

O uso das cores baças do cartoon revela-se engenhoso, pois sugere a monotonia e o
tédio da existência moderna. Brilhante é a ideia de representar um ser humano como
um utensílio elétrico, com os pinos de uma ficha nas costas. A sátira amarga do
desenho faz-nos esboçar um sorriso; mas desperta também em nós a angústia por
reconhecermos a representação bem conseguida do que é a nossa vida nos dias de
hoje.

O cartoon recorre ao fantástico para nos fazer pensar sobre a realidade e para nos
levar a refletir sobre o que somos e como vivemos. E conclusão a que chegamos
deixa-nos desalentados.