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NÃO JULGUEIS!

Reunião Pública de 26 de dezembro de 2023 Pontinho de Luz

“Não julgueis, a fim de não


serdes julgados; porquanto
sereis julgados conforme
houverdes julgado os
outros; empregar-se-á
convosco a mesma medida
de que vos tenhais servido
para com os outros”.
(Mateus, 7:1 e 2)

Claudio Mussap
Referência: Evangelho Segundo o Espiritismo (cap. X) // Allan Kardec; Federação Espírita do Paraná
(www.mundoespirita.com.br/materia-nao-julgueis)
NÃO JULGUEIS!

Então, os escribas e os fariseus lhe


trouxeram uma mulher que fora
surpreendida em adultério e, pondo-a de
pé no meio do povo, disseram a Jesus:
“Mestre, esta mulher acaba de ser
surpreendida em adultério; ora, Moisés,
pela lei, ordena que se lapidem as
adúlteras. Qual sobre isso a tua opinião?”

Diziam isto para o tentarem e terem de que o acusar. Jesus, porém,


abaixando-se, entrou a escrever na terra com o dedo. Como continuassem a
interrogá-lo, Ele se levantou e disse: “Aquele dentre vós que estiver sem
pecado, atire a primeira pedra.”
NÃO JULGUEIS!

Em seguida, abaixando-se de novo, continuou a escrever no chão. Quanto aos


que o interrogavam, esses, ouvindo-o falar daquele modo, se retiraram, um
após outro, afastando-se primeiro os velhos. Ficou, pois, Jesus a sós com a
mulher, colocada no meio da praça.

Então, levantando-se, perguntou-


lhe Jesus: “Mulher, onde estão os
que te acusavam? Ninguém te
condenou?” — Ela respondeu:
“Não, Senhor.” — Disse-lhe Jesus:
“Também Eu não te condenarei.
Vai-te e de futuro não tornes a
pecar.”
(João, 8:3 a 11.)
NÃO JULGUEIS!

“Atire-lhe a primeira pedra aquele que estiver


isento de pecado”, disse Jesus. Essa sentença faz
da indulgência um dever para nós outros,
porque ninguém há que não necessite, para si
próprio, de indulgência. Ela nos ensina que não
devemos julgar com mais severidade os outros,
do que nos julgamos a nós mesmos, nem
condenar em outrem aquilo de que nos
absolvemos. Antes de profligarmos a alguém
uma falta, vejamos se a mesma censura não nos
pode ser feita.

Profligar: tentar destruir com argumentos; atacar com palavras;


criticar duramente; verberar, fustigar.
NÃO JULGUEIS!

A reprovação lançada à conduta de outrem


pode obedecer a dois motivos: reprimir o
mal, ou desacreditar a pessoa cujos atos se
criticam. Não tem escusa nunca este último
propósito, porquanto, no caso, então, só há
maledicência e maldade.

O primeiro pode ser louvável e constitui mesmo, em certas ocasiões, um


dever, porque um bem deverá daí resultar, e porque, a não ser assim, jamais, na
sociedade, se reprimiria o mal.

Não cumpre, aliás, ao homem auxiliar o progresso do seu semelhante?


Importa, pois, não se tome em sentido absoluto este princípio: “Não julgueis
se não quiserdes ser julgado”, porquanto a letra mata e o espírito vivifica.
NÃO JULGUEIS!

Não é possível que Jesus haja proibido se profligue o mal, uma vez que Ele
próprio nos deu o exemplo, tendo-o feito, até, em termos enérgicos. O que
quis significar é que a autoridade para censurar está na razão direta da
autoridade moral daquele que censura.

Tornar-se alguém culpado daquilo que


condena em outrem é abdicar dessa
autoridade, é privar-se do direito de
repressão.

A consciência íntima, ademais, nega respeito e submissão voluntária àquele


que, investido de um poder qualquer, viola as leis e os princípios de cuja
aplicação lhe cabe o encargo. Aos olhos de Deus, uma única autoridade legítima
existe: a que se apoia no exemplo que dá do bem. É o que, igualmente, ressalta das
palavras de Jesus.
NÃO JULGUEIS!

A recomendação que Jesus nos fez


costuma ser interpretada como um
alerta para o fato de que, em nosso
grau de evolução não temos condições
de emitir um julgamento de maneira
justa e imparcial, exatamente porque
nosso ponto de vista é, ainda, muito
limitado, ou seja, não estamos de posse
de todos os fatos referentes ao
acontecimento e não possuímos uma
visão real da situação. Assim, para não
cairmos em erro, seria prudente,
então, abstermo-nos de julgar
NÃO JULGUEIS!

Podemos, porém, ampliar essa


interpretação e compreendermos que
Jesus poderia, igualmente, estar nos
alertando para o fato de que não existe,
em realidade, aquilo que costumamos
chamar de juízo de valores, pelo menos
não como o entendemos, ou seja, não
devemos julgar porque o critério que
comumente utilizamos para definir o
que é bem e mal, não está exatamente
de acordo com a realidade, se analisado
do ponto de vista da vida eterna e do
Espírito. Isso porque somos ainda
imperfeitos.
NÃO JULGUEIS!

Outro aspecto a ser considerado na relação


que estabelecemos com o mundo e com outros
seres humanos e que pode influenciar
fortemente nossa visão, refere-se ao que a
psicologia chama de projeção: o sujeito se livra
de conteúdos penosos e incompatíveis,
projetando-os nos outros. Dessa forma, na
eventualidade de emitirmos algum tipo de
julgamento, devemos levar em consideração
também a realidade das projeções que
costumamos fazer, ou seja, é muito provável que
o mal que vemos em nosso semelhante esteja,
primeiramente, em nosso próprio mundo
íntimo, contaminando nosso ponto de vista.
NÃO JULGUEIS!

Assim, a visão do que é realidade, indispensável a qualquer tipo de


julgamento, talvez esteja bem distante de nossa percepção de mundo, em
virtude do grau de evolução em que estamos. Jung afirma que: Da mesma
forma que nos inclinamos a supor que o mundo é tal como o vemos, com igual
ingenuidade supomos que os homens são tais como os figuramos. Infelizmente
ainda não existe, aqui, uma Física que nos mostre a discrepância entre a
percepção e a realidade.
NÃO JULGUEIS!

Parece cada vez mais claro que Jesus


nos dizia, na expressão simples do não
julgueis, que essa faculdade ainda não
nos está disponível, por nos faltar
competência espiritual para tanto. A
mesma recomendação nos apresenta
o Espiritismo: “O homens! quando será
que julgareis os vossos próprios corações,
os vossos próprios pensamentos, os
vossos próprios atos, sem vos ocupardes
com o que fazem vossos irmãos? Quando
só tereis olhares severos sobre vós
mesmos”?
NÃO JULGUEIS!

Mas existem, no entanto, caminhos que poderiam


nos ajudar a ampliar nossa visão, principalmente
no que se refere a entender outras pessoas,
oferecendo-nos maiores condições de
compreender a vida, seus acontecimentos e,
inclusive, o mundo íntimo de nossos semelhantes,
como Jesus era capaz de fazer. Um desses
caminhos é a prática da empatia.

O filósofo e escritor Roman Krznaric, autor de O


poder da empatia: a arte de se colocar no lugar do
outro para transformar o mundo, inaugurou há
alguns anos, em Londres, um Museu da Empatia.
NÃO JULGUEIS!
A exposição convida os visitantes a fazerem um passeio pelo mundo do
outro, sentindo um pouco o que é viver, a partir do ponto de vista de outro
ser humano. À entrada da mostra o visitante se despe de seu calçado e
coloca um par de sapatos usados, de outra pessoa, podendo escolher entre
algumas alternativas. Enquanto caminha pelo museu, com os sapatos velhos
de outra pessoa, escuta, por um mecanismo de áudio, o dono ou dona dos
calçados contar um pouco de si, da vida que viveu, de seus sentimentos,
experiências, pensamentos…
O visitante é convidado a se entregar à
experiência e se imaginar, tanto quanto
consiga, sendo a pessoa que um dia usou
aqueles sapatos. Parece ser uma vivência
literal da expressão em inglês put yourself in
my shoes (em português diríamos coloque-
se no meu lugar)
NÃO JULGUEIS!

O Espiritismo ratifica essa advertência: Para julgarmos de qualquer coisa,


precisamos ver-lhe as consequências. Assim, para bem apreciarmos o que, em
realidade, é ditoso ou inditoso para o homem, precisamos transportar-nos para
além desta vida, porque é lá que as consequências se fazem sentir.

Ao invés de certezas fundamentadas em


julgamentos frágeis, recorramos mais à
prática da empatia, aquela que nos convida a
entrar nos sentimentos dos irmãos de
jornada, experimentando-lhes as dores e as
vivências, sempre conscientes de que existe
mais vantagem em ampliar nossa visão de
vida, abertos às possibilidades, do que em
nos sentirmos como os donos da verdade.
NÃO JULGUEIS!

MUITO OBRIGADO !

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