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DOS FATOS
Dirigiu-se, ainda, a requerente à Delegacia de Polícia, onde foi informada de que era perda
de tempo registrar a ocorrência, uma vez que o procedimento de cancelamento dos
cheques já havia sido providenciado, pois as investigações não chegariam à nenhuma
conclusão e apenas tomariam tempo dos agentes.
O Banco tem por controle interno enviar periodicamente para o cliente a confirmação da
contra-ordem dos cheques sustados, o que vem a confirmar o procedimento corretamente
adotado, no qual consta se não houver manifestação do cliente será feita a renovação
automática, mantendo assim, a vigilância de nossos sistemas a serviço de sua
tranqüilidade. Neste caso será debitada da sua conta corrente a tarifa semestral de
renovação, docs. 03 a 07.
Mais uma vez retornou à agência do Banco ....., onde solicitaram que fizesse mais uma
"cartinha informal", a qual dessa vez, diante de uma pressão fortemente exercida pela
requerente, forneceram-lhe uma cópia, doc. 12. Informaram, ainda, que a requerente
poderia ficar tranqüila, visto tratar-se de um engano, pois uma mulher de 27 anos,
portando o número do CPF da requerente, moradora de outro bairro, havia adquirido um
automóvel no bairro ......, o que difere totalmente da requerente, pois a mesma residia na
....... à época, tem 66 anos de idade e jamais possuiu automóvel.
Para intensificar seu sofrimento, ao dirigir-se à agência do Banco ......., para receber sua
pensão, foi surpreendida que a notícia de que a utilização de cheques, bem como cartões
bancários foi suspensa, pois a requerente está com seu crédito negativado junto ao
SERASA. Já em prantos, a requerente questionou como faria para receber sua pensão e
informaram-lhe que entrasse na fila do caixa que seria dada uma autorização especial
para sacar o dinheiro, mas que enquanto não regularizasse sua boa fama creditícia, não
faria jus a talonário de cheques nem a uso de cartão, benefícios concedidos somente para
clientes com nome "limpo".
DO DIREITO
O direito da requerente tem arrimo e está fincado nos dispositivos legais abaixo-
mencionados, sustentáculos desta ação.
Art. 159 – Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano.
Assim, a própria lei civil, estabelece a obrigação de indenizar como conseqüência jurídica
pelo ato ilícito, (arts. 1.518 a 1.533 do CC).
....
X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito de indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa,
tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,
observados os seguintes princípios:
....
V – defesa do consumidor;
O Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078 de 11.09.1190, na Seção II, do capítulo IV,
assegurou, expressamente, a indenização por dano, assim dispondo:
Nota-se, ainda, que outro mandamento contido no art. 39, inciso VII do Código de Defesa
do Consumidor - CDC - foi violado pelo requerido:
Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas:
........
DO DANO E DA RESPONSABILIDADE
Recorrendo a Pontes de Miranda, o homem que causa dano a outrem não prejudica
somente a este, mas à ordem social; a reparação para o ofendido não adapta o culpado à
vida social, nem lhe corrige o defeito de adaptação. O que faz é consolar o prejudicado,
com a prestação do equivalente, ou, o que é mais preciso e exato, com a expectativa
jurídica de reparação. (Manual do Código Civil, XVI, 3ª parte, Direito das Obrigações, "Das
obrigações por atos ilícitos" p. 42).
Não resta a menor dúvida quanto à ilicitude do ato praticado pelo requerido, pois houve
uma invasão da esfera dos direitos que competem à requerente.
Os danos sofridos pela requerente são tanto de ordem moral, como de ordem patrimonial,
pois a suspensão da utilização remessa de talonário de cheques e cartões junto ao
Itaú/Banerj e, ao dirigir-se a agência do Banco do Brasil, e verificar que se encontra nas
mesmas condições referidas anteriormente e, ainda, na perspectiva de obter um
empréstimo, diante da recusa por estar com o crédito negativado, sofreu danos morais,
diante da dor e da vergonha, mas também, sofreu os efeitos futuros do ato danoso,
impedindo e diminuindo o benefício patrimonial que lhe seria deferido, hipótese de lucro
frustrado ou lucrum cessans.
Inolvidável a referência a Aguiar Dias: "No caso de dano causado ao correntista do serviço
bancário, a responsabilidade civil pode ser cobrada aos bancos tanto sob a invocação dos
princípios subjetivos da culpa provada, como com base no princípio do risco profissional
empresarial." (Da Responsabilidade Civil, 10ª ed. Vol I editora Forense, Rio de Janeiro,
1997. p. 333/334)
O mesmo mestre, Aguiar Dias, in Da responsabilidade Civil, ed. Forense, Rio, 6ª ed., Vol II,
pág. 37 nos ensina que a distinção entre dano patrimonial e dano moral só diz respeito
aos efeitos, não à origem do dano, o dano é uno e indivisível.
Citando Caio Mário da Silva Pereira: "Reparação e sujeito passivo compõem o binômio da
responsabilidade civil, que então se enuncia como o princípio que subordina a reparação à
sua incidência na pessoa causadora do dano. Não importa se o fundamento é a culpa, ou
se independente desta. Em qualquer circunstância, onde houver a subordinação de um
sujeito passivo à determinação de um dever de ressarcimento, aí estará a
responsabilidade civil." (Responsabilidade Civil. 8ª ed. Ed. Forense: Rio de Janeiro. 1998.
p. 11)
Ainda com referência à obra citada, do fabuloso autor Caio Mário, são compatíveis os
pedidos de reparação patrimonial e indenização por dano moral. O fato gerador pode ser o
mesmo, porém o efeito pode ser múltiplo. (p.55)
Súmula 37 STF – São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do
mesmo fato.
"Em face do art. 5º , inciso V, da Constituição da República, não há tergiversar se o dano
moral é ou não indenizável e se este pode coexistir juntamente com o dano material" (TJSP – 7ª
C. Férias "F" – Ap. – Rel. Benini Cabral – j. 21.10.93 – JTJ-LEX 152/88).
Ao julgar a AC nº 7.066/96, a 4ª Câmara Cível do tribunal apreciou o caso de um homem que teve
seu nome inscrito no SPC em razão de suposta dívida de cartão de crédito. Como nunca tivesse
contratado com a empresa que administra o cartão, e não sendo legítimo o lançamento de seu
nome no rol de devedores inadimplentes, o tribunal deferiu em seu favor uma soma equivalente a
100 (cem) salários mínimos, a título de reparação pelos danos extrapatrimoniais que sofreu.
(TJRJ – 4ª CC – AC nº 70.66/96 – Rel.: Des. Gustavo leite – Partes : Cartão nacional Ltda e
Jorge Rosa da Silva – 26.11.96 – Ementa 31 no AU – S/P).
AC nº 1.842, onde ficou registrado que "o protesto cambiário indevido provoca malefícios que
se espargem progressivamente, na esfera de vivência do prejudicado, afetando a honra, o
caráter e a personalidade, de pronto, destruindo seu conceito demorada e custosamente formado,
e, influindo negativamente no patrimônio cuja prova do decréscimo é despicienda na pretensão
ressarcitória". (TJSC – Rel.: Des. Dionízio Jenczak – AC nº 1.842 – 16/10/95 – Ementa 95 no AU
– S/P).
O Pretório catarinense, através de sua 1ª Câmara Cível asseverou que "o indevido e ilícito
lançamento do nome de alguém no Serviço de Proteção ao Crédito, conseqüenciando um efetivo
abalo de crédito para o inscrito, lança profundas implicações na vida comercial do negativado,
irradiando, ao mesmo tempo, drásticos reflexos patrimoniais, acarretando-lhe vexames sociais e
atentando, concomitantemente, contra os princípios de dignidade e de credibilidade, inerentes,
de regra, a todo ser humano". Condenou em 200 (duzentos) s.m. o quantum devido a título de
ressarcimento pelo dano extrapatrimonial experimentado. (TJSC – 1ª CC – AC nº 49.415 – Re.:
Des. Trindade dos Santos – Apte.: Gelson Pedro Fortunato e Banco do Estado de Santa Catarina
S/A – apdo.: os mesmos – 27/02/96 – Ementa 52 no AU – S/P).
DA TUTELA ANTECIPADA
A Lei Processual Civil, no seu art. 273, permite ao Juiz, que, provocado por requerimento,
antecipe a tutela, observadas determinadas exigências, ou seja, deve haver prova
inequívoca dos fatos na inicial e em seguida, entra a dose de verossimilhança das
alegações das partes.
O poder geral da cautela, alicerce desse pedido, tem arrimo nos preceitos estabelecidos
no § 3º do art. 461 do Código de Processo Civil, in verbis:
Art. 461. ...
O motivo embasador do pedido de tutela antecipada, justifica-se pelo fato de que restou
provada a injustiça sofrida pela requerente ao ter seu bom nome incluído no rol de
devedores do SPC e SERASA, indevido o protesto junto ao 2º ofício de Protesto de
Títulos, bem como o registro das multas em seu nome junto ao Detran/RJ.
CONCLUSÃO
Conclui-se que o crédito é um elemento personalíssimo, que tem como base a confiança,
que deriva da própria etimologia da palavra. Ao sofrer um abalo de crédito, a pessoa além
de sofrer os danos de ordem materiais, vê, também a sua boa fama eliminada, merecendo,
então uma reparação através de um valor compensatório e satisfatório para que possa
abrasar a dor moral suportada.
O requerido cometeu o erro por não ter observado o cancelamento efetuado pelos 24
(vinte e quatro) cheques e, ao que parece, ignorou completamente o procedimento de
verificação de assinatura, pois certamente, serão grosseiras. Não bastasse ignorou, a
vigilância de seus sistemas, com relação aos dados pessoais da requerente, pois como é
de conhecimento público, quando uma pessoa se apresenta para compor um crédito, junto
a uma financeira, é feita uma investigação sobre a mesma, e o banco onde é correntista
possui todos os dados pessoais para confirmação. Como se explica o fato de uma
financeira que pertence ao próprio banco detentor de todas as informações verídicas de
uma pessoa, aceite o crédito com informações pessoais, tais como, endereço, idade e
quiçá nomes dos pais, totalmente diversas àquelas contidas em cadastros?
O descaso com que vem sendo tratada pelo Banco ....... é simplesmente inadmissível, pois
a instituição se auto intitula possuidora de certificados de excelência em qualidade no
tratamento aos consumidores.
Sem mencionar o fato de ser uma senhora idosa, a qual sem ter nenhuma
responsabilidade pelos erros e desatenções da instituição bancária, vê-se numa situação
humilhante, vexatória, extremamente dolorosa, ouvindo de várias pessoas diferentes que
seu nome está "sujo", o que causa, inclusive a perda da tranqüilidade e, até mesmo, o
prazer de viver.
b) a citação do requerido para, querendo, responder nos termos da presente ação, sob
pena de revelia e confissão;
N. Termos,
P. Deferimento.
Rio de Janeiro,...............