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Nada é impossível para Deus

Kathryn Kuhlman

Publicado em espanhol, com o título: "Nada es imposible para Dios"


Editorial Peniel, Buenos Aires, Argentina
Originalmente publicado em inglês com o título: "Nothing is impossible with God"
by Bridge Publishing,
Copyright © 1974 by The Kathryn Kuhlman Foundation
2ª edição, 2005
Tradução para o espanhol: Virginia Lópes Gradjean
ISBN 087-557-088-5
Impresso na Colômbia

Digitalização: JEm
Tradução para o português: sssuca

Nestas páginas...

...você conhecerá Elaine Saint-Germaine, uma atriz cuja queda


barranco abaixo em um caminho de drogas e satanismo foi detida por
milagre... o Dr. Harold Daebritz, cuja esposa foi curada em segundos de
uma lesão nas costas que tinha resistido a vinte anos de tratamentos em
mãos de especialistas... e muitos, muitos mais. Maravilhosos, autênticos e
imensamente comovedores, estes relatos são testemunhos irrefutáveis da
incrível transformação que Deus pode produzir em qualquer pessoa que o
busque.
Índice

Prefácio - Um tributo a Kathryn Kuhlman............................................................4

Capítulo 1 - O que chegou tarde ............................................................................6

Capítulo 2 - Não há escassez no depósito de Deus ..............................................13

Capítulo 3 - Caminhando nas sombras ...............................................................31

Capítulo 4 - O dia em que a misericórdia de Deus se encarregou ......................44

Capítulo 5 - Quando o céu baixa à Terra..............................................................53

Capítulo 6 - Diga às montanhas ...........................................................................71

Capítulo 7 - Este é um ônibus protestante?.........................................................85

Capítulo 8 - A cura é só o começo .......................................................................96

Capítulo 9 - Um vazio com forma de Deus.........................................................105

Capítulo 10 - A cética do chapéu de pele ............................................................115


Prefácio

Um tributo a Kathryn Kuhlman


Creio que, a esta altura, todos a conhecem. Durante quase um
quarto de século ela foi um vaso de Deus que fez com que a cura e a
restauração fluíssem nas vidas de milhares de seres humanos.
É amada e admirada por milhões de pessoas e difamada somente
por aqueles que não acreditam na cura divina ou por quem não fez
nenhum esforço em compreendê-la ou ao que ela representa. Mas eu a vi,
antes de apresentar-se diante de uma multidão para expressar sua
ilimitada fé em Deus, e a observei cuidadosamente. Uma e outra vez dizia:
"Querido Deus, a menos que me unjas e me toques, eu não sou
nada. Quando a carne se põe no meio do caminho, eu não tenho nenhum
valor. Se não receberes toda a glória, eu não posso ministrar".
E, de repente, sobe à plataforma. É explosivo, quase incrível. Não é
tanto o que diz, porque sempre é tão claro e simples como o estilo de
pregação que o próprio Senhor Jesus usava. Não o compreendo, e ela
também não; mas quando o Espírito começa a mover-se sobre ela, (e se
sente repentinamente movida a desafiar o poder do diabo no nome de
Jesus), começam a acontecer os milagres. Em todo lugar, todos, até os
mais rígidos e dignos, caem prostrados ao chão. Católicos e protestantes
elevam as mãos e adoram a Deus, unidos... tudo decentemente e com
ordem. O poder do Espírito Santo cai sobre as pessoas como as ondas do
oceano.
Os representantes dos meios televisivos logo compreenderam que
ela não era falsa, nenhuma fanática. Conheciam pessoas que tinham sido
tocadas por seu ministério.
Sua sabedoria divina e sua capacidade não têm igual. Não é rica,
nem está obstinadamente agarrada ao materialismo. Eu sei! Ela
pessoalmente reuniu e entregou ao Teen Challenge o dinheiro necessário
para construir em nossa granja um lugar para a reabilitação de viciados.
Suas orações trouxeram o dinheiro necessário para construir igrejas em
países subdesenvolvidos de todo o mundo. Apoiou a educação de meninos
pouco capacitados e também outros jovens superdotados receberam seu
amor e seu cuidado. Entrou comigo nos guetos de Nova Iorque e impôs
suas mãos carinhosas sobre sujos viciados. Nunca duvidou nem voltou
atrás; sua preocupação era genuína.
Qual é a razão por que faço este tributo? Porque o Espírito Santo
me ordenou que o fizesse! Ela não me deve nada, e eu não lhe peço nada
mais que o mesmo amor e respeito que demonstrou por mim durante
anos.
Mas, muitas vezes, damos tributo unicamente aos mortos. Agora,
pois, darei a uma grande mulher de Deus, que tocou tão profundamente
minha vida e as de milhões de pessoas mais: Te amamos, no nome do
Senhor! A história dirá sobre Kathryn Kuhlman: Sua vida e sua morte
deram glória a Deus.

David Wilkerson, autor de A cruz e o punhal.


Capítulo 1

O que chegou tarde

Tom Lewis
Tom Lewis, coronel reformado do Exército, é um dos
produtores de filmes mais conhecidos de Hollywood. Sua
lista de créditos no "Quem é quem na América" ocupa
tanto espaço como as medalhas sobre seu peito. Foi o
produtor fundador do Screen Guild Theatre, fundador do
Serviço de Rádio e Televisão das Forças Armadas
Americanas, do qual foi comandante durante toda a
Segunda Guerra Mundial, e criador e produtor executivo
de "O Show de Loretta Young". Como diretor da
Universidade Loyola, recebeu inúmeros prêmios por
excelência em produções televisivas, tanto no país como
das forças armadas americanas estabelecidas em todo
mundo. Devoto católico-romano, conta-se agora entre o
crescente grupo dos assim chamados "católicos
carismáticos".

No inverno passado, meu filho (jovem diretor de filmes), e um


produtor de mesma idade dele, planejavam realizar um programa especial
de TV sobre o "povo de Jesus" 1. Aceitei escrever a apresentação, mas a
contragosto. Como os "Meninos de Jesus" eram jovens, imaginei que meu
filho e seu sócio deveriam contratar pessoal de idade similar.
Minha investigação preliminar sobre os jovens, a respeito dos
quais desejava saber mais, gerou em mim grande interesse e respeito por
eles. Muitos tinham saído do inferno da dependência de drogas, através
de uma fé renascida em Jesus Cristo. Até esse momento, eu ainda não
tinha estudado a motivação religiosa do movimento. Entretanto, do ponto
de vista humano, não pude me sentir menos do que muito impressionado
por sua sinceridade, assim como assombrado e pasmado diante de sua
maneira tão familiar de falar sobre Jesus, como se Ele estivesse ali mesmo
com eles.

1
"Jesus People", um movimento cristão surgido na década de 70.
Eu sempre tinha me considerado um homem razoavelmente
religioso, que desfrutava da vida sacramental da Igreja Católica Romana.
Eu não saía por aí referindo-me a Jesus Cristo como se me encontrasse
com Ele pessoalmente com freqüência. Na verdade, muito raramente o
mencionava por seu nome. Pensava que era melhor evitar o tratamento
muito pessoal e preferia uma referência mais reservada, como "meu
Senhor", ou "o bom Senhor".
Como parte de minha tarefa, me pediu que estudasse o ministério
de Kathryn Kuhlman. uma pessoa muito estimada pela "gente de Jesus".
A senhorita Kuhlman vinha uma vez por mês ao auditório Shrine
de Los Angeles para realizar um culto de milagres. Pedi dois assentos, na
seção do centro, sobre o corredor, perto da frente. Entretanto,
aparentemente não era assim que se obtinham os ingressos. Teria que
entrar numa fila e arriscar tentar conseguir a localização desejada. A
capacidade do auditório era de 7.500 pessoas, e me disseram que algumas
vezes tentava entrar o dobro dessa quantidade de gente. Isto me deixou
espantado, e essa sensação continuou durante quatro ou cinco meses, já
que foi esse o tempo que tive que esperar até poder chegar a entrar na fila.
O dia em que cheguei a esse lugar era anormalmente quente para
o mês de março, até na ensolarada Califórnia. Saí da rodovia na rua
Hoover para evitar o trânsito da zona próxima ao auditório. Normalmente
essa zona do centro da cidade estaria quase deserta em um domingo. Mas
enquanto me aproximava do estádio, todos os lugares destinados para
estacionar e as ruas estavam ocupadas. Os ônibus chegavam um após o
outro à entrada principal, onde descarregavam seus passageiros. Alguns
tinham placas que diziam "Fretado"; outros revelavam o nome de seus
pontos de origem. Lembro de um de "Santa Bárbara", e outro, de "Las
Vegas". Para meu assombro, havia um, cheio de pó, que tinha uma placa
de "Portland, Oregon"... que "pequena viagem" tinham feito somente para
assistir a um culto de milagres do Kathryn Kuhlman. Me perguntei o que
seria o que a senhorita Kuhlman daria ali dentro. Não podia ser comida;
havia muitas pessoas. Tampouco podia ser um bingo... como gerenciar
7.300 cartões de bingo?
Uma longa fila de pessoas em cadeiras de rodas avançava pela rua
Jeferson para uma entrada lateral, pela qual eram imediatamente
admitidas. Algo similar acontecia com um grande grupo de homens e
mulheres com hinários nas mãos; aparentemente eram os membros do
coro. Também havia muitos com colarinhos romanos e mulheres vestidas
sobriamente. Me perguntei o que estariam fazendo ali todos esses padres
e freiras.
Encontrei um local, onde estacionei meu automóvel, e logo me
juntei aos milhares de pessoas que esperavam diante da entrada principal
do estádio. Meu relógio marcava onze em ponto. As portas seriam abertas
à uma. Normalmente, eu não teria esperado tanto tempo por coisa
alguma, nem sequer pela segunda vinda. Mas logo compreendi que essa
era uma definição apressada.
Começou a reunir-se uma grande quantidade de gente atrás de
mim, e me encontrei perto do centro de uma grande multidão. Isto me
deu uma ligeira sensação de claustrofobia, por isso me concentrei em
tomar notas mentais com as quais construiria minha apresentação:
grande multidão, muito ordenada; vários jovens que respondiam às
características dos "Meninos do Jesus".
Estes jovens tendiam a formar grupos, como ilhas num mar de
corpos. Cantavam enquanto esperavam, não muito forte, não
necessariamente para que outros os ouvissem; nem sequer atuavam como
se tivessem muita consciência da presença de outros. Cantavam de forma
bastante quieta e meditativa. Isso me pareceu estranho, incomum.
Lembrava um grupo de cristãos coptos que vi uma vez em Roma, orando
de forma audível, mas não em uníssono, independentemente de outros,
mas juntos.
Agora a quantidade de gente tinha realmente aumentado muito, e
alguém que estava lá dentro se compadeceu de nós. As portas se abriram
uns vinte minutos antes da uma. As pessoas que estavam atrás de mim se
lançaram para a frente, e me empurraram para além da entrada. Isto me
surpreendeu, porque tinha a mão na carteira, preparado para pagar meu
ingresso.
Uma senhora que estava justo atrás de mim viu, e riu. "Aqui, o
dinheiro não o levará a nenhuma parte", disse. "Mas, se está lhe
queimando no bolso, haverá uma oferta voluntária mais tarde."
Assim todos se comportavam: em ordem, não festiva, como a
multidão que assistiria a uma partida no estádio, bastante quieta, não
muito comunicativos uns com outros, embora amistosos, quando se dava
ocasião para conversar.
Encontrei um assento bastante atrás e para o lado.
A plataforma, brilhante e muito iluminada, estava cheia de
atividade. Homens e mulheres com hinários nas mãos procuravam seus
lugares em uma espécie de arquibancada que ocupava todo o espaço. Em
ambos os lados havia dois grandes pianos. Parecia que havia centenas de
pessoas no coro, mas, assim como entre o resto do povo, não havia
desordem nem confusão. Apesar do constante movimento devido aos que
chegavam tarde, o coro continuava cantando como se estivesse em uma
silenciosa catedral. O diretor, um homem magro, branco e de aspecto
aristocrático, guiava o ensaio com precisão e inquestionável autoridade.
Uma anciã de aspecto encantador se sentou à minha direita. Pela
atenção que me dedicou ou aos milhares de pessoas que a rodeavam, era
como se estivesse sozinha na Capela de Nossa Senhora da Catedral de São
Patrício. Tinha uma Bíblia aberta sobre o regaço, e algumas vezes a lia em
silêncio.
A Bíblia parecia o equipamento comum de muitos dos presentes.
Dois jovens sentados atrás de mim tinham Bíblias, mas não as liam.
Simplesmente cantarolavam ou cantavam as letras dos hinos que o coro
ensaiava na plataforma. Isso eu não gostei. Nunca me agradei dos teatros
ou concertos ou cinemas em que o público participa, sobretudo quando
não lhe foi especialmente solicitado que o fizesse. Mas ia escutar muito
mais destes jovens.
Enquanto isso, as luzes brilhantes sobre a plataforma baixaram
um pouco, e lhes acrescentou cor. As cores pastéis dos vestidos das
mulheres do coro faziam um agradável contraste com o azul do cenário
curvo que rodeava tudo.
Uma vez terminado o ensaio, o coro começou a cantar segundo o
programa. A maioria dos hinos eram conhecidos e muito queridos: "Quão
grande és Tu", "Sublime Graça". Os cantores eram excelentes; mais tarde
soube que provinham de igrejas de todas as denominações da zona de Los
Angeles.
Sem interrupção, o coro começou a cantar "Ele me tocou". Senti
que uma tensa expectativa se apoderava da audiência. A luz de um spot se
concentrou em uma área à direita do público. Todos ficaram de pé e aqui
e acolá algumas pessoas começaram a aplaudir. A senhorita Kuhlman,
uma figura frágil e magra, vestida com um encantador vestido branco,
subiu à plataforma, cantando com o coro. Aproximou-se de um conjunto
de alto-falantes à direita do centro do cenário, tomou um microfone
pendente que colocou ao redor do pescoço, e sem se deter, dirigiu o coral
em "Ele me tocou", energicamente, várias vezes, e finalmente em forma
decrescente. Em seguida, sem explicação nenhuma, continuou com "Ele é
o Salvador de minha alma". O público e Kathryn Kuhlman pareciam
concordar em que estes hinos eram especiais para ela. Sem explicações,
uma vez, mais, começou a orar em voz alta. O público ficou de pé, com as
cabeças inclinadas, seguindo sua oração em silêncio.
Soube então o que era o que tinha sido distinto no canto dessas
"ilhas" de jovens que esperavam fora do auditório; o que era isso tão
especial no canto desse grande coro que estava sobre a plataforma.
Estavam cantando, sim, mas era mais do que cantar. Não estavam
atuando; estavam adorando. E o público reagia de forma diferente. Não
era público, era uma congregação. Cantavam a uma só voz com o coro,
quando lhes indicava. Oravam em uníssono com a senhorita Kuhlman.
Isto não era um show, era uma reunião de oração. Não sei como me senti
nesse momento; provavelmente impressionado, e agradado por ter feito
um descobrimento interessante.
Entretanto, logo descobri outra coisa, que me surpreendeu muito.
Uma e outra vez, os jovens que estavam sentados atrás de mim gritavam
"Amém", e "Louvado seja Deus", aparentemente em resposta a uma
oração ou a uma afirmação. Muitos outros faziam o mesmo. Outros
levantavam as mãos em um gesto de súplica que relacionei com a posição
das figuras bíblicas representadas nos vitrais de igrejas. "Já imagino
aonde terminará tudo isto", pensei, e automaticamente comecei a
procurar a saída mais próxima.
Uma das coisas que mais me incomodava era um jovem que estava
em uma das filas superiores do coro. Esteve quase todo o culto com as
mãos levantadas. Este deve ser "o" milagre do culto de milagres, pensei.
Nenhum sistema circulatório pode suportar a tensão de uma postura
como essa durante muito tempo. Certamente seus braços cairiam como
chumbo em pouco tempo.
Mas depois me esqueci dele; esqueci-me de todos. Como a senhora
que estava sentada a meu lado, era como se estivesse em uma capela
remota, exceto, talvez, por uma Presença que normalmente não se sente
em um auditório tão grande.
Sim, era isso. Havia uma Presença ali, e era por isso que esta
multidão de tantos milhares de pessoas ficava tão calada que, por
momentos, eu podia escutar o som de minha própria respiração. Era por
isso que se perdia a noção do tempo. Havia algo diferente ali; havia amor,
específico e real. Sim, e mais que amor, estava essa Presença. Lembrei das
palavras de uma canção dos Meninos de Jesus: "Saberão que somos
cristãos por nosso amor, por nosso amor. Saberão que somos cristãos por
nosso amor".
Começaram as "curas": duas na fila perto de onde eu estava. Eu os
vi antes que a senhorita Kuhlman os chamasse. Vi a expressão
maravilhada de terem sido curados, depois sua incredulidade, a
compreensão do fato e sua felicidade.
Havia muitas, muitas curas na plataforma nesse momento. Alguns
se levantavam das cadeiras de rodas. Uma freira paralítica caminhou;
fazia anos que não podia fazê-lo. Vi gratidão nos que foram curados, um
agradecimento tão evidente que quase podia ser tocado. Os drogados
eram libertados, e na evidência de seus rostos transformados, luminosos,
vi renascimentos interiores e regenerações morais.
Perdi a conta do que vi, porque, em algum ponto desconhecido
para mim, deixei de ver e comecei a sentir. Senti no mais profundo da
minha consciência.
Compreendi que participava de uma conversa, a mais assombrosa,
nua, honesta conversa de minha vida. Estava falando com Deus. Em
algum lugar no meu interior, estava contando a Deus coisas que nunca
tinha sabido antes, ou que não tinha podido ou querido admitir.
Apesar de toda a evidência de minha carne, dos fatos visíveis e
aparentes de minha ocupada vida, o amor e a companhia de meus filhos e
seus amigos, meus próprios amigos, que eram muitos, meus interesses no
mundo, meus hobbies, apesar de toda essa evidência, estava dizendo a
Deus que estava inquieto e sozinho. Profunda, desesperadamente
solitário. Não de gente, nem de coisas. Tinha muito disso. Disse a Deus
que estava vazio. Então me invadiu a emoção mais forte que jamais havia
experimentado: fome. Uma fome selvagem, rude, primitiva.
Vi que a plataforma e os corredores estavam cheios de gente. A
senhorita Kuhlman convidava aqueles que queriam a Cristo em suas vidas
para que fossem à frente, reconhecessem seus pecados, recebessem a
Jesus como seu Salvador pessoal, e se entregassem completa e
irrevogavelmente a Ele.
Segui-os. Coloquei-me entre eles. Eu, que não participava, que me
tinha feito sozinho, o sofisticado. Eu estava tomando esse compromisso,
surpreendentemente consciente de tudo o que significava e da
responsabilidade que assumia. Pedi a Deus que me livrasse de todo temor.
E Ele o fez.
Essa noite, enquanto voltava, em meu carro, à minha pequena
cidade do Ojai, chorei. Chorei durante todo o caminho. Não me sentia
nem triste nem feliz: sentia-me... limpo.
Durante a noite, despertei e senti que compreendia, instantânea e
plenamente, o que tinha acontecido. Me re-consagrei a Cristo, percebi que
não duvidava e nem temia esse compromisso, e dormi profundamente
uma vez mais, sem sonhar.
Na manhã seguinte, já bem adiantada, fui caminhando desde meu
lar no campo até a pequena cidade do Ojai. Sentia-me bem, descansado e
em paz. As emoções do dia anterior já tinham ficado para trás. Passei
junto à capela a que estava acostumado a freqüentar, uma capelinha de
estilo colonial espanhol, localizada na rua principal. Era a época da
Quaresma. Eram aproximadamente 11:30, e eu sabia que devia estar
sendo celebrada a missa.
Assim era. Cheguei a tempo para a celebração eucarística a que
usualmente chamamos Santa Comunhão. Fui para o altar
automaticamente, e como só havia seis ou oito pessoas presentes,
recebemos ambos os elementos da Santa Eucaristia, pão e vinho. Em vez
de voltar para os fundos da capela, ajoelhei-me no primeiro banco.
Foi bom que o fizesse. O que eu tinha tomado em meu corpo não
era pão e vinho, não era um símbolo, não era uma lembrança. Era o Corpo
e o Sangue de Cristo, e o resultado em mim foi o mais profundo
conhecimento da real presença de Cristo. Foi uma experiência de grande e
inexprimível gozo, e meu corpo estremeceu violentamente devido ao
esforço que realizava para contê-lo.
Jesus, o Cristo, estava ali comigo, e cada célula de meu corpo era
testemunha de que Ele era real. Descansei minha cabeça nos ombros e,
por um momento, o tempo ficou suspenso.
Deus vive. Deus vive verdadeiramente, e se move entre nós, e exala
seu Santo Espírito sobre nós. E por mérito do sangue derramado por nós
por seu divino Filho, Ele nos prepara tudo o que nos espera neste mundo
de dor... e mais à frente.
Louvado seja Deus!
Capítulo 2

Não há escassez no depósito de Deus

Capitão John LeVrier


Lembro a primeira vez que estive cara a cara com o
capitão LeVrier. Um policial e diácono batista. Estava em
uma situação crítica. Desesperado, tinha voado de
Houston até Los Angeles. Mas deixemos que ele mesmo
conte sua história.

Sou policial desde que tinha vinte e um anos. Em 1936 comecei no


Departamento de Polícia de Houston, e cheguei a ser capitão da Divisão
de Acidentes. Em todos esses anos jamais estive doente. Mas em
dezembro de 1968 fiz um exame físico, e tudo mudou.
Eu conhecia o doutor Bill Robbins desde que ele era um interno e
eu era um novato em minha profissão. Quando comecei minha carreira,
ele estava acostumado a me acompanhar no automóvel da patrulha. Logo
depois do que eu pensava ser um exame médico de rotina em seu
consultório, no Sanatório Saint Joseph, o doutor Robbins tirou as luvas de
borracha e se sentou na beirada da escrivaninha. Sacudiu a cabeça. "Eu
não gosto do que encontrei, John", disse. "Quero que veja um
especialista."
O olhei de esguelha enquanto terminava de ajustar minha camisa
na calça e segurava meu cinturão com a arma. "Um especialista? Para
que? As costas doem um pouco, mas que policial...?"
Ele não me escutava. "vou encaminhá-lo ao doutor McDonald, um
urologista do sanatório."
Eu sabia que era melhor não discutir. Duas horas depois, logo
depois de um exame ainda mais cuidadoso, escutava outro médico, o
doutor Newton McDonald. Ele não suavizou as coisas. "Quando pode
internar-se, capitão?"
"Me internar?" Detectei um pouco de temor em minha voz.
"Eu não gosto do que encontrei", disse deliberadamente. "Sua
próstata teria que ser do tamanho de uma pequena noz, mas está grande
como um limão. A única forma de averiguar a causa é fazendo uma
biópsia. Não podemos esperar. Você deveria internar-se, no máximo,
amanhã pela manhã."
Fui direto para casa. Logo depois do jantar, Sara Ann mandou as
crianças para a cama. John tinha somente cinco anos; Andrew, cinco, e
Elizabeth, nove. Então lhe dei a notícia.
Ela escutou em silêncio. Tínhamos sido felizes juntos. "Não deixe
para depois, John", disse com voz calma. "Temos muito por que viver."
Apoiando-me na beira da mesa da cozinha, olhei-a. Era tão jovem,
tão bonita. Pensei em nossos três lindos filhos. Ela tinha razão, eu tinha
muito por que viver. Nessa noite liguei para minha filha Loraine, casada
com um pastor batista, em Springfield, Missouri. Prometeu-me que
pediria na sua igreja que orassem por mim.
Três noites depois, logo depois de extensos exames (incluindo a
biópsia), eu estava sentado em minha cama no hospital, comendo o
jantar, quando a porta do quarto se abriu. Era o doutor McDonald com
um dos médicos do hospital. Fecharam a porta e aproximaram duas
cadeiras da minha cama. Eu sabia que os médicos geralmente estão muito
ocupados e não têm tempo para bate-papos sociais, e comecei a sentir que
meu pulso se acelerava.
O doutor McDonald não me deixou especular muito. "Capitão,
temos más notícias." Fez uma pausa. Era difícil para ele pronunciar estas
palavras. Esperei, tratando de manter os olhos fixos em seus lábios. "Você
tem câncer."
Vi como seus lábios se moviam formando a palavra, mas meus
ouvidos se negaram a registrar o som. Repetiu. Eu podia ver como se
formava a palavra em seus lábios. Câncer, assim, simplesmente. Um dia
sou forte como um boi, um veterano com trinta e três anos de serviço na
Polícia. No outro dia, tenho câncer.
Pareceu ter se passado uma eternidade até que pude responder.
"Bem, o que fazemos? Suponho que terá que extirpá-lo."
"Não é tão simples", disse o Dr. McDonald, limpando a garganta.
"É maligno, e está muito avançado para que possamos tratá-lo aqui.
Vamos encaminhá-lo aos médicos do Instituto de Câncer M. D. Anderson.
Eles são famosos em todo o mundo por suas investigações no tratamento
dessa doença. Se alguém pode ajudá-lo, são eles. Mas não está muito bem,
capitão, e mentiríamos se lhe déssemos alguma esperança sobre o futuro."
Ambos os doutores foram muito compassivos. Eu percebi que
estavam comovidos, mas sabiam que eu era um policial veterano, e ia
querer conhecer os fatos. Me fizeram saber isso, francamente, mas com a
maior suavidade possível. Em seguida se foram.
Sentei-me, olhando a comida que esfriava na bandeja. Tudo
parecia sem vida: o café, o bife meio comido, a compota de maçãs. Afastei
tudo de mim e me sentei no lado da cama. Câncer. Sem esperanças.
Caminhei para a janela e olhei para fora, para a cidade de
Houston, que eu conhecia como a palma de minha mão. Ela também
tinha câncer; estava cheia de delitos e enfermidades, como qualquer
grande cidade. Durante um terço de século eu tinha trabalhado, tentando
deter o avanço desse câncer, mas era uma tarefa interminável. O Sol
estava se ocultando, e seus raios moribundos se refletiam nas torres das
Igrejas por sobre os telhados. Nunca tinha notado antes. Houston parecia
estar cheia de Igrejas.
Eu era membro de uma delas, a Primeira Igreja Batista de
Houston. Na verdade, era um ativo diácono de minha igreja, embora
minha fé pessoal não fosse muita. Alguns meus amigos brincavam
dizendo que eu era da mesma classe de batista que Harry Truman: dos
que bebiam, jogavam pôquer e amaldiçoavam. Embora eu tivesse ouvido
o meu pastor pregar poderosos sermões sobre a salvação, nunca tinha tido
nenhuma vitória em minha vida pessoal. Era diácono por minha posição
na comunidade, mais do que por minha qualidade espiritual. Aqui estava
eu agora, cara a cara com a morte, desesperado para encontrar algo a que
me agarrar. Mas ao pôr os pés na água, não havia fundo. Sentia como se
estivesse afundando.
Olhei para baixo, do nono andar, onde estava. Seria fácil saltar
pela janela. Eu tinha visto algumas pessoas morrerem de câncer, com seus
corpos consumidos pela enfermidade. Seria muito mais fácil terminar
com tudo agora. Mas algo que Sara havia dito tinha ficado gravado em
minha mente: "Temos muito por que viver..."
Voltei para a cama e me sentei na beirada, olhando no profundo
dessa grande nuvem cinza e negra que parecia estar se fechando sobre
mim. Como dizer a ela, e aos meninos, que ia morrer?
No dia seguinte vieram os médicos do Instituto M. D. Anderson.
Houve mais exames. O doutor Delclose, que estava encarregado de meu
caso, foi realmente honesto comigo. "A única coisa que posso lhe dizer é
que será melhor que se prepare para ver muitíssimos médicos", disse-me.
"Quanto tempo tenho?", perguntei.
"Não posso lhe dar nenhuma esperança", disse ele francamente.
"Talvez um ano, talvez um ano e meio. O câncer está muito espalhado por
toda a zona inferior do abdômen. A única forma com que podemos tratá-
lo é com grandes doses de radiação, o que significa que, ao mesmo tempo,
mataremos muitos tecidos saudáveis. Mas se quisemos tentar prolongar
sua vida, devemos começar já."
Assinei a autorização, e começaram o tratamento com cobalto
nesse mesmo dia.
Eu acreditava na oração. Na Primeira Igreja Batista, orávamos
todas as quartas-feiras pelos doentes. Mas sempre iniciávamos nossa
oração por cura com as palavras: "Se for da Tua vontade, cura-o..." Era
assim que me tinham ensinado. Eu não sabia nada sobre orar com
autoridade, o tipo de autoridade que tinham Jesus e os discípulos.
Realmente eu acreditava que Deus podia curar as pessoas, mas não
acreditava que Ele fizesse milagres na atualidade.
Portanto, quando fui receber o tratamento com raios, com o corpo
raspado e marcado com um lápis azul como se fosse uma cabeça de gado
pronta para a faca do açougueiro, a única oração que fiz foi: "Senhor, que
esta máquina faça o que deve fazer".
Bem, essa não é uma má oração, já que a máquina fora feita para
matar células cancerosas. Obviamente, os médicos tratavam de evitar que
a radiação afetasse outros órgãos, assim eu estava marcado até os
detalhes em milímetros. O câncer estava na zona da próstata e devia ser
tratado de todos os ângulos. A gigantesca máquina que irradiava cobalto
rodeava a mesa, e a radiação penetrava em meu corpo de todos os
ângulos.
Os tratamentos diários duraram seis semanas. Recebi alta no
hospital e me permitiram voltar ao trabalho, embora devesse retornar
todas as manhãs para receber a dose.
Tinham se passado quatro meses desde que minha doença foi
diagnosticada. Aproximava-se a Páscoa, e Sara comentou que parecia que
ia ser melhor que o Natal. Possivelmente o cobalto tinha obtido seu
objetivo. Ou, melhor ainda, possivelmente os médicos se equivocaram.
Então, cento e vinte dias depois do primeiro diagnóstico, chegou a dor.
Era uma sexta-feira ao meio dia. Eu tinha prometido a Sara que
nos encontraríamos no pequeno restaurante, onde costumávamos nos
reunir para almoçar. Ela já tinha chegado. Eu sorri, apoiei minha boina de
polícia no batente da janela, e me sentei junto a ela. Enquanto o fazia,
senti como se tivesse sido apunhalado. A dor atravessava meu quadril
direito em terríveis espasmos. Não podia falar, só podia olhar para Sara
em muda agonia. Ela segurou meu braço.
"John", sussurrou. "O que está acontecendo?"
A dor se dissipou lentamente, me deixando tão fraco que quase
não podia falar. Contei-lhe. Então, como a maré que retorna à margem, a
dor voltou. Era como fogo nos ossos. Meu rosto brilhava de transpiração;
abri a camisa e afrouxei minha gravata. A garçonete que tinha vindo nos
servir notou que algo estava mal. "Capitão LeVrier," disse, preocupada,
"está você bem?"
"Estarei bem", respondi finalmente. "É que tive uma dor
repentina."
Decidimos não comer. Em vez disso, fomos diretamente ao
hospital, e o doutor Delclose ordenou imediatamente novas radiografias.
Enquanto me preparavam, pus a mão sobre o quadril direito e senti a
fenda. Era do tamanho de uma moeda grande e parecia um oco sob a pele.
Os raios X mostraram o que era: o câncer tinha feito um buraco que
atravessava o quadril. Só a pele cobria a cavidade.
"Sinto muito, capitão", disse o médico. "O câncer está se
espalhando, como esperávamos."
Em seguida, em um tom moderado, concluiu: "Começaremos
novamente as aplicações de cobalto, e faremos tudo o que for possível
para que o tempo que lhe resta seja o menos doloroso possível."
As viagens diárias ao hospital começaram outra vez. Sara
procurava manter-se calma. Ela tinha trabalhado no Departamento de
Polícia antes de nos casarmos, e tinha estado exposta à morte muitas
vezes. Mas isto era diferente. Eu não sabia então, mas os médicos lhe
haviam dito que provavelmente eu não tivesse mais do que seis meses de
vida.
Continuei trabalhando, embora cada vez mais fraco. Era difícil
saber se era devido ao câncer ou ao cobalto. Uma tarde Sara me buscou ao
sair do trabalho e me disse: "John, estive pensando. Faz bastante tempo
que estou fora de circulação. O que diria de eu voltar a trabalhar?"
"Já tem trabalho", disse-lhe, em tom de brincadeira, "somente
cuidando dos meninos. Eu ganharei o pão para esta casa. Ainda faltam
muitas milhas para percorrer."
"Continua sendo o policial durão, não?", disse ela. "Bem, eu
também sou durona. Vou me inscrever na faculdade."
Comecei a compreender o que ela estava fazendo: estava pondo as
coisas em ordem. Era hora de eu fazer o mesmo. Mas antes que pudesse,
houve uma novidade. Cirurgia.
"É a única forma de mantê-lo vivo", disse a cirurgiã. "Este tipo de
câncer se alimenta de hormônios. Vamos ter que redirecionar o curso dos
hormônios em seu corpo por meio da cirurgia. Se não o fizermos,
realmente terá pouco tempo."
Aceitei a operação, mas antes de cento e vinte dias, o câncer
apareceu novamente na superfície, desta vez na coluna.
Numa tarde de domingo, em junho, finalmente a ficha caiu. Sara
tinha levado os meninos a um piquenique da Escola Bíblica de Férias, e eu
estava em casa, cuidando de transplantar uma plantinha num canteiro.
Estava tão fraco que estava difícil me inclinar, mas pensei que o exercício
me faria bem. Tinha cavado uma pequena cova na terra, e quando me
inclinei para pegar a plantinha, uma dor, como se me tivessem aplicado
um raio de mil volts, me paralisou a parte inferior das costas. Caí para a
frente, na terra.
Nunca tinha imaginado que podia existir uma dor tão terrível. Não
havia ninguém próximo para me ajudar, então, me arrastando, um pouco
de quatro, um pouco sobre o estômago, subi os degraus e entrei na casa.
Então, pela primeira vez, me rendi. Jogado ali no piso, na casa vazia,
chorei e gemi descontroladamente. Tinha estado reprimindo-o por Sara e
os meninos, mas essa tarde, com a casa vazia, fiquei ali chorando e
gemendo até que a dor finalmente se dissipou.
Depois disso, seguiu-se uma nova série de aplicações de cobalto, e
mais olhares desesperançados dos médicos. Tinha recebido minha
sentença de morte.
O câncer nos destrói de dentro para fora, e eu não era o único na
família que tinha sofrido desse mal. Os maridos de minhas duas irmãs,
que também viviam em Houston, tinham morrido de câncer. Ambos
tinham aproximadamente cinqüenta anos, como eu. Parecia que agora era
minha vez. Era hora de terminar de pôr minhas coisas em ordem.
Sempre tinha desejado possuir um grande automóvel antigo. Num
impulso de esbanjamento, comprei um Cadillac que só tinha três anos de
uso. Quando terminou o verão, colocamos a toda a família no carro e
partimos, para o que eu acreditei que seriam minhas últimas férias.
Queria que fosse especial para as crianças. Anos antes, tinha viajado pela
costa noroeste do Pacífico, e agora queria que Sara e as crianças
conhecessem essa parte do mundo, que tinha significado tanto para mim:
o curso do rio Columbia, o monte Hood, a costa de Oregon, lago Louise,
Yellowstone e as Montanhas Rochosas. As crianças não sabiam, mas Sara
e eu acreditávamos que seria nosso último verão juntos, como família.
Voltei para Houston para juntar alguns fios soltos. Mas quando a
vida está destruída além de toda possibilidade de conserto, é impossível
recolher os pedaços. A única coisa que se pode fazer é deixá-los soltos e
esperar o final.
Num sábado pela manhã, no começo do outono, entrei em casa e
liguei a tv no canal Nosso Pastor, da Primeira Igreja Batista. John Bisango
tinha um programa chamado "Terras Altas". John estava em Houston,
vindo de Oklahoma, onde sua igreja tinha sido reconhecida como a igreja
mais evangelística da Convenção Batista do Sul. O que tinha acontecido
em Oklahoma estava começando a dar-se também em Houston. Eu estava
muito entusiasmado com seu ministério.
Muito fraco para me levantar, fiquei jogado na cadeira enquanto
terminava esse programa e começava outro. "Eu creio em milagres", disse
a voz de uma mulher. Olhei para a tela. Não me impressionava; poucos
batistas se sentiriam impressionados por uma mulher pregadora. Mas, à
medida que avançava o programa, e esta mulher, Kathryn Kuhlman,
falava de maravilhosos milagres de cura, algo dentro de mim se acendeu.
"Será real isto?", pensei.
O programa terminou, e começaram a passar os créditos na tela.
De repente, vi um nome conhecido: Dick Ross, produtor.
Eu conhecia o Dick; conhecia-o desde 1952, quando ele estava em
Houston, trabalhando com Billy Graham na produção do Oiltown, USA".
Na verdade, eu tinha tido um pequeno papel nesse filme, e, a partir daí,
me tornei amigo de Billy Graham e sua equipe, e cuidava da segurança
toda vez que vinham a Houston. E agora via o nome de Dick Ross
relacionado com esta pregadora que falava de milagres de curas.
Eu tinha me mantido em contato com o Dick através dos anos.
Toda vez que eu ia à Califórnia a trabalho, procurava-o. Tinha-o visitado
na sua casa, e até tinha assistido a sua aula de escola dominical na igreja
presbiteriana. Peguei o telefone e liguei para ele.
"Dick, acabei de assistir o programa de Kathryn Kuhlman. São
verdadeiras essas curas?"
"Sim, John, são de verdade", respondeu Dick. "Mas teria que
assistir a uma dessas reuniões no auditório Shrine para ver por si mesmo.
Por que pergunta?"
Duvidei por um momento, mas, em seguida falei: "Dick, tenho
câncer. Já apareceu em três áreas de meu corpo, e temo que a próxima vez
me matará. Sei que parece que estou tentando me agarrar a algo
impossível, mas isso é o que faz um homem que vai morrer."
"Vou fazer que a senhorita Kuhlman lhe ligue pessoalmente", disse
Dick.
"Oh, não", protestei. "Sei que ela deve ser muito ocupada para
atender um policial de Houston. Só me diga onde posso conseguir seus
livros."
"Eu lhe enviarei seus livros", disse Dick. "Mas também lhe pedirei
que ligue para você, como um favor pessoal a mim."
Em menos de uma semana, ela me ligou. "Sinto como se já o
conhecesse", disse-me, e sua voz soava exatamente igual como no
programa de TV. "Anotamos seu nome na lista de oração, mas não deixe
de vir a alguma das reuniões."
Embora Sara e eu tenhamos lido seus livros e nos convertidos em
ávidos espectadores de seu programa de TV, na verdade eu adiava o
momento de assistir a alguma reunião de Kathryn Kuhlman. "Onde
estivemos durante toda a vida?", perguntava Sara. "Essa mulher é famosa
no mundo todo, mas nunca ouvi falar dela antes."
Como tantos outros batistas, simplesmente não tomávamos
conhecimento de que havia outras coisas acontecendo no Reino de Deus,
além da Convenção Batista do Sul. Agora nossos olhos estavam sendo
abertos, não só a outros ministérios, mas também a outros dons do
Espírito e ao poder de Deus para curar. Era tudo tão novo, tão diferente.
Mas eu compreendia que era bíblico. Apesar da minha ignorância dos
dons sobrenaturais de Deus, tinham-me ensinado a aceitar que a Bíblia é
a Palavra de Deus. Quando começamos a ver todas essas referências ao
poder do Espírito Santo, referências que nunca tínhamos visto antes,
nossos corações começaram a sentir fome, não só de cura, mas também
de receber a plenitude do Espírito Santo.
Em fevereiro, soube que meu tempo estava se esgotando. Sara e as
crianças também sabiam. "Papai", disse-me Elizabeth, "você vai à
Califórnia, e ficaremos em casa orando. Acreditamos que Deus vai curá-
lo".
Olhei para Sara Ann. Com os olhos úmidos, assentiu e disse:
"Creio que Deus o curará."
Na sexta-feira, 19 de fevereiro, voei de Houston até Los Angeles.
Uns velhos amigos de Los Angeles me emprestaram seu carro, e encontrei
um hotel onde ficar em Santa Monica. Como policial e como batista,
queria formar uma idéia sobre a senhorita Kuhlman antes de assistir à
reunião, no domingo.
Soube que ela geralmente vinha de Pittsburgh no dia anterior ao
culto no Shrine. Também fiz algumas perguntas, usando minhas técnicas
de polícia, e averigüei onde se alojava. Logo tive toda a informação de que
precisava.
Na manhã seguinte, cedo, fui ao seu hotel. Como policial que era,
foi fácil para mim contatar os oficiais da segurança e lhes tirar
informações. Pouco depois me disseram o horário em que geralmente a
senhorita Kuhlman chegava.
Sentei-me no saguão do hotel e esperei. Uma hora depois se abriu
a porta, e ela apareceu. Era exatamente como a tinha imaginado.
Descaradamente, a interceptei quando ia para o elevador. "Senhorita
Kuhlman", disse-lhe, "sou aquele capitão da polícia do Texas."
Ela me mostrou um amplo sorriso e exclamou: "Ah, sim! Você veio
para ser curado".
Falamos durante uns instantes. Em seguida lhe disse: "Senhorita
Kuhlman, sou um crente em Jesus Cristo, nascido de novo. Sei que não
tenho que ser curado para ser crente, porque já o sou. Mas você fala de
algo em seus livros, que eu quero tanto quanto a cura física".
"O que é?", perguntou ela, examinando meu rosto.
"Quero ser cheio do Espírito Santo."
"Oh," sorriu docemente, "prometo-lhe que pode ter isso."
"Bom, estou gravemente doente, mas ainda estou forte para ir ao
auditório e esperar na fila. Tenho lido seus livros e conheço a forma como
se conduzem suas reuniões. Me levantarei bem cedo para conseguir um
bom lugar." Despedi-me e comecei a me retirar.
"Espere!", disse ela. "Estou sentindo algo, e tenho que ser
obediente ao Espírito Santo. Venha aqui pela manhã, e iremos juntos até
o auditório. Pode nos seguir em seu automóvel."
Por um instante, duvidei. "Senhorita Kuhlman, faz tanto tempo
que sou polícial, e aproveitei muitas vezes as situações para obter o que
queria mais rapidamente... Desta vez, não quero fazer nada que possa ser
obstáculo para minha cura. Simplesmente irei e me porei na fila com os
outros."
Sua voz soou encolerizada, e seus olhos brilharam. "Agora, deixe
eu lhe dizer algo", disse, marcando cada palavra. "Deus não vai curá-lo
porque você se comporta bem. Ele não vai curá-lo porque você é um
capitão de polícia. E certamente não curá-lo pela forma como chegar à
reunião."
Não foi necessário que dissesse mais nada. Na manhã seguinte, a
segui do hotel até o auditório Shrine. Chegamos às 9.30. Embora a
reunião não começasse até a uma da tarde, a calçada onde estava a
entrada do enorme auditório estava cheia de pessoas, milhares de
pessoas.
Entramos pela parte da plataforma, e a senhorita Kuhlman me
disse: "Agora, sinta-se em liberdade para andar por este lugar, até que
veja que me reúno com os obreiros. Quando isso acontecer, quero que
você esteja comigo."
Aceitei, e andei percorrendo o vasto auditório. Centenas de
obreiros, que tinham viajado muitos quilômetros para colaborar
voluntariamente, estavam ocupados, colocando as cadeiras para o coro de
quinhentas pessoas, preparando a seção onde estariam os que vinham em
cadeiras de rodas, acomodando os que tinham vindo em ônibus fretados,
e arrumando o lugar para o que ia ocorrer.
Eu quase podia sentir a expectativa, enquanto percorria o salão.
Era como eletricidade. Todos sussurravam em voz baixa, como se o
Espírito Santo já estivesse presente. Que diferença das experiências que
tinha tido nos cultos da igreja! Eu também o sentia, e repentinamente, já
não era mais um policial, nem um diácono de uma igreja batista. Era
somente um homem que sofria de câncer, que precisava de um milagre
para viver. Se esse milagre pudesse acontecer, seria nesse lugar.
Um dos homens se apresentou como Walter Bennett. Reconheci
seu nome imediatamente. Tinha lido seu testemunho em "Deus pode
fazê-lo outra vez". Sua esposa Naurine tinha sido curada de uma horrível
enfermidade. Ele me levou para a porta que dava à plataforma, onde ela
montava guarda. O simples fato de vê-la tão radiante, sabendo que tinha
estado a ponto de morrer, deu-me nova esperança e fé. Senti vontade de
chorar.
"John", disse-me Walter, "temos algo em comum. Você é um
diácono batista, e eu fui um diácono batista, também. Vamos tomar uma
xícara de café."
Saímos por uma porta lateral e encontramos um café ali perto.
"Depois que for curado," disse Walter, "é possível que seus
companheiros batistas não queiram ter mais nada a ver com você." Sorriu
como se soubesse. Falava com tal fé, como se estivesse certo de que eu ia
ser curado.
"Não me importa o que pensem os outros sobre mim, se for
curado," falei, "contanto que Deus toque meu corpo."
Walter sorriu. Senti muito amor por este novo amigo.
"Bom, há algo de que podemos estar certos", disse suavemente.
"Deus não o trouxe de tão longe até aqui para nada. Você vai voltar para
Houston sendo um homem novo." O fato de que esse diácono batista
falasse com tanta fé me enchia de entusiasmo. Estava ansioso para que
começasse a reunião.
Ali no auditório, a senhorita Kuhlman se estava reunindo com os
obreiros, para lhes dar as últimas instruções antes que se abrissem as
portas. Me juntei a eles sobre a plataforma.
"Hoje temos aqui conosco um homem que é capitão da polícia de
Houston", disse Kathryn. "Ele tem câncer em todo o corpo, e vou orar por
ele agora. Quero que cada um de vocês, homens, inclinem-se em oração,
enquanto rogo ao Senhor por ele."
Percebi que isso era algo especial. Sabia que o ministério da
senhorita Kuhlman era simplesmente dizer o que Deus fazia à medida que
se desenvolviam os grandes cultos de milagres; que ela não tinha nenhum
dom pessoal de cura, em particular. Fez um sinal para que eu me
aproximasse e esticou suas mãos sobre mim.
Embora esse fosse o momento pelo qual eu tinha esperado,
duvidei. Lembrei o que tinha lido em seus livros, que muitas vezes,
quando ela orava por alguém, a pessoa caía ao chão. Eu achava que isso
de cair estava muito bem para alguns pentecostais, mas não era para um
batista, e muito menos para um capitão da polícia. Mas não tinha opção.
Dei um passo à frente e deixei que orasse por mim.
Apoiando firmemente os pés em minha melhor postura de judô,
esperei, enquanto ela me tocava e orava por minha cura. Não aconteceu
nada, e quando comecei a relaxar, escutei-a dizer: "E enche-o, bendito
Jesus, com o Espírito Santo".
Senti que cambaleava, e pensei: "Não pode ser!" Firmei-me sobre
meus pés, colocando-os um atrás do outro, e a escutei dizer pela segunda
vez: "E enche-o com teu Santo Espírito".
Senti como se alguém tivesse posto suas mãos sobre meus ombros
e me estivesse empurrando para o chão. Não pude resistir, e desabei sobre
a plataforma. Lutei para recobrar a posição vertical, justamente quando a
escutava dizer pela terceira vez: "Enche-o com teu Espírito Santo". E caí
de novo.
Desta vez fiquei no chão durante vários minutos. Sentia como se
estivesse afundando em uma piscina cheia de amor. Alguém me ajudou a
levantar, e escutei que ela me dizia: "Agora, procure um assento. Vamos
abrir este lugar, e em poucos minutos todos os assentos estarão
ocupados".
Deveria havê-la escutado, porque momentos depois se abriram as
portas e o povo entrou correndo pelos corredores como a lava de um
vulcão. Pude subir por um dos corredores, e me detive, olhando uma
seção inteira do auditório cheia de gente em cadeiras de rodas. Não podia
tirar meu olhar de seus rostos. Alguns eram tão jovens e já estavam tão
deformados... senti desejo de chorar novamente. "Oh, Senhor, como sou
tão egoísta para desejar me curar, quando há tantas pessoas aqui,
algumas delas tão jovens?"
Enquanto estava assim parado, olhando-os, pela primeira vez em
minha vida, escutei a voz de Deus em meu interior, que dizia: "Não há
escassez no depósito de Deus".
Com novas forças voltei para a parte detrás, e lenta,
dolorosamente, subi as escadas até encontrar um assento na primeira fila
do mezanino.
Faltava ainda um pouco antes que começasse a reunião. O enorme
coro havia tomado seu lugar na plataforma e fazia os últimos ensaios.
Entretive-me, observando as diferentes pessoas que estavam sentadas ao
meu redor, e me apresentei ao homem que estava sentado junto a mim.
"Sou o doutor Townsend", saudou-me.
"Você é médico?", perguntei-lhe, assombrado de que um médico
estivesse assistindo a um culto de cura.
"Sim", respondeu, tirando seu cartão. "Venho porque sou muito
abençoado. Eu gosto de ver o enorme poder de Deus em ação." Em
seguida, apresentou a sua família. "Trouxe o meu pai, que veio de outro
Estado. Esta é a primeira reunião a que assiste."
Sentado do outro lado do corredor estava um de meus atores
favoritos da TV. "Vejam só.", pensei. "Médicos e estrelas de TV que vêm e
se sentam aqui em cima! Não vieram para ser reconhecidos, mas sim para
participar da reunião." Estava impressionado.
O culto começou. Uma linda jovem, uma modelo cujo rosto eu
tinha visto na capa das revistas femininas que Sara lia, deu um rápido
testemunho sobre o que Jesus Cristo significava em sua vida.
Eu tinha estado em muitas reuniões evangelísticas, mas esta era
incomum. Possivelmente era a expectativa que havia no ambiente,
possivelmente a sensação de maravilha. Fosse o que fosse, era diferente
de qualquer outra reunião a que tivesse assistido.
A senhorita Kuhlman falava da plataforma. "Sabem, pediram-me
que separasse este domingo para os jovens, mas há pessoas que vieram de
tão longe, que não me atrevo a dizer: 'Só para os jovens'. No entanto,
como há tantos jovens aqui hoje, devo lhes falar".
Sua mensagem foi breve e dirigida aos jovens. Falou do amor de
Deus e, em seguida, apresentou um dos apelos mais desafiantes que
jamais escutei. Bem, se há algo que impressiona um batista, são as
quantidades e o movimento. E quando vi quase mil jovens deixarem seus
assentos e irem para a frente, para tomar uma decisão por Cristo, isso me
impressionou. Ao contrário da maioria dos cultos evangelísticos que tinha
assistido, esta reunião não tinha fanfarras, nem testemunhos
lacrimogêneos. Só um simples convite desta mulher alta que havia dito:
"Quer nascer de novo?" Os jovens responderam, muitos deles literalmente
correndo pelos corredores para aceitar esse desafio.
Ela parecia ter esquecido o passar do tempo enquanto os atendia
sobre a plataforma, orando por muitos deles individualmente.
Finalmente, voltaram para seus assentos, mas a congregação estava
percebendo que ia acontecer algo mais.
"Pai", sussurrou a senhorita Kuhlman, em voz tão baixa que eu
quase não podia ouvi-la, "acredito em milagres. Acredito que tu curas no
dia de hoje, como o fazias quando Jesus Cristo estava aqui. Tu conheces
as necessidades das pessoas que estão aqui, neste imenso auditório. Peço-
te isso no nome de Jesus. Amém."
Em seguida houve um silêncio. Eu sentia meu coração batendo
dentro do peito. Tinha consciência de cada célula de meu corpo e quase
podia sentir a batalha espiritual que estava ocorrendo enquanto as forças
do Espírito Santo lutavam contra as forças do mal em meu corpo. "OH,
Deus", orei, em adoração. "OH, Deus."
De repente, a senhorita Kuhlman estava falando outra vez, e sua
voz falava rapidamente à medida que recebia conhecimento do que
acontecia no auditório. "Há um homem no mezanino, no extremo direito
de onde estou, que acaba de ser curado de câncer. Levante-se, senhor, em
nome de Jesus Cristo, e receba a cura."
Olhei. Ela apontava para o lado oposto de onde eu estava. Era
extraordinário. Eu somente podia observar, maravilhado, enquanto sentia
um entusiasmo crescente. Isto era real. Eu sabia.
"Não venha à plataforma a menos que tenha certeza de que Deus o
curou", enfatizava ela.
Olhei ao meu redor e vi os ajudantes caminhando pelos
corredores. Estavam falando com pessoas que acreditavam terem sido
curadas, certificando-se de que só aqueles que verdadeiramente tinham
recebido cura fossem dar testemunho.
A maioria das pessoas curadas que davam testemunho tinham
estado sentadas no mezanino. Foram da direita à esquerda:
"Duas pessoas estão sendo curadas de problemas na vista."
"Uma mulher está sendo curada agora mesmo de artrite. Levante-
se e proclame sua cura."
"Você está sentada na parte do meio do mezanino."
A senhorita Kuhlman dizia: "Você veio hoje para receber cura.
Deus a restaurou. Tire o aparelho de surdez. Pode ouvir perfeitamente."
Olhei. Uma mulher de aproximadamente quarenta anos estava
ficando de pé, tirando os aparelhos de surdez dos dois ouvidos. Um
ajudante, por trás dela lhe sussurrava algo. Pensei que a mulher ia gritar
enquanto levantava as mãos sobre sua cabeça, louvando a Deus. Podia
ouvir. O doutor que estava sentado ao meu lado chorava, dizendo:
"Obrigado, Jesus".
As curas aconteciam em direção a onde eu estava sentado.
"Senhor, que não se acabem", orei. Então lembrei o que Ele me tinha
sussurrado quando estava no corredor, em baixo: "Não há escassez no
depósito de Deus".
Repentinamente vi que a senhorita Kuhlman estava assinalando
para cima e à esquerda, onde eu estava sentado. "Você veio de muito
longe para ser curado de câncer", disse. "Deus o curou. Fique de pé em
nome de Jesus e proclame-o."
Eu estava tão longe da plataforma! Possivelmente ela nem
imaginava que eu estava ali. Mas seu dedo, comprido e magro, apontava
em minha direção.
"OH, Senhor," murmurei, "é óbvio que quero ser curado. Mas,
como saber que isso é para mim?"
Nesse mesmo instante, a mesma voz interior que tinha escutado
em baixo, quando olhava aos cadeirantes, disse-me: "Fique de pé!"
Coloquei-me de pé. Sem sentir nada, simplesmente o fiz em
obediência e fé.
Então eu senti. Era como ser batizado em energia líquida. Nunca
havia sentido uma força assim percorrendo todo meu corpo. Senti que
poderia tomar em minhas mãos a lista telefônica de Houston e parti-la em
pedaços.
Uma mulher se aproximou de mim. "Você foi curado de algo?"
"Sim", declarei, com vontade de saltar e correr ao mesmo tempo.
"Como sabe?"
"Nunca me senti tão gloriosamente bem. Quase não tive forças
para chegar até este assento, e agora, sinto-me tão bem!" Enquanto isso,
eu me esticava e me dobrava, fazendo coisas que não tinha podido fazer
durante mais de um ano. "Sinto que poderia correr mais de um
quilômetro."
"Então corra até a plataforma e testemunhe", disse ela.
Lancei-me a correr. Mas, enquanto o fazia, comecei a me
perguntar: "E se houver aqui alguém de Houston? Vou chegar correndo à
plataforma, e a senhorita Kuhlman vai pôr suas mãos sobre mim e vou
cair no chão. O que pensarão?"
Então percebi que não me importava. Momentos depois, estava
junto à senhorita Kuhlman, na plataforma. Ela caminhou para mim e
disse simplesmente: "Te agradecemos, bendito Pai, por curar este corpo.
Enche-o com teu Espírito Santo".
Bam! No chão outra vez. Mas desta vez, devido à nova energia
curadora que enchia todo meu corpo, levantei-me imediatamente. Na
segunda vez, nem sequer me tocou. Só orou em minha direção, e a ouvi
dizer: "OH, o poder..." E caí de novo no chão.
Desta vez fiquei ali, me regozijando novamente nessa maré de
amor líquido. Mas, mesmo ali, Satanás me atacou. Veio como leão
rugindo. "O que o faz acreditar que foi curado?"
A senhorita Kuhlman já tinha posto sua atenção em outra pessoa.
Rolei e me pus de joelhos, com a cabeça nas mãos, orando: "OH, Pai, me
dê fé para aceitar o que sinceramente creio que me deste".
Durante muitos anos eu tinha recebido muitos estudos bíblicos
batistas. Minha mente tinha sido verdadeiramente exposta à Palavra de
Deus, e nesse momento, um versículo veio à minha mente: "Provai-me
agora, diz o Senhor..."
Pensei em todos esses corpos deformados que tinha visto. "Pai, me
mostre um sinal visível para que minha fé se fortaleça."
Abri os olhos, e vi uma garotinha de nove anos que se aproximava
da plataforma. Nunca vi alguém mais feliz. Estava correndo e saltando,
descalça. Dançava de um lado ao outro em frente à plataforma, junto à
senhorita Kuhlman, que se esticava para tomá-la pela mão, mas não pôde
alcançá-la. Deu a volta e começou outra vez. Novamente a senhorita
Kuhlman quis pegá-la, mas outra vez lhe escapou dançando. Nesse
momento, a mãe da menina já estava sobre a plataforma. Nas mãos tinha
um par de sapatos com rígidas barras de metal.
Sem poder alcançar a garotinha, que continuava saltando e
dançando, a senhorita Kuhlman se voltou para a mãe: "O que temos
aqui?"
"Essa é minha filhinha", soluçava a mãe. "Teve paralisia infantil
quando era bebê e nunca pôde tornar a andar sem estes sapatos especiais.
Mas olhe para ela agora!"
Toda a congregação prorrompeu em estrondosos aplausos.
"Como você soube que Deus a curou?", perguntou Kathryn
Kuhlman.
"Oh, senti o poder curador de Deus percorrendo seu corpo", quase
gritou a mãe. "Tirei-lhe os sapatos ortopédicos, e ela começou a correr."
Atrás dela havia outra mãe, que tinha nos braços uma menina de
dois anos. "O que aconteceu aqui?", perguntou a senhorita Kuhlman.
"Deus acaba de curar o pezinho de minha filhinha." A voz da mãe
tremia tanto que era difícil entender o que dizia.
A senhorita Kuhlman tomou o pezinho da menina. "Era este o pé
prejudicado?"
"Sim, sim, era esse", disse a mãe, sustentando na mão um sapato
especial. "A menina nasceu com pé chato. Sofreu muitas operações. Se
você lhe tivesse massageado o pé antes, como está fazendo agora, teria
gritado de dor."
"Aqui na plataforma há vários médicos", disse a senhorita
Kuhlman. "Eles me conhecem. Há algum médico entre o público que não
me conheça e que não conheça estas meninas? Poderia vir e examiná-las,
por favor?"
Um homem ficou de pé.
"Você é médico?", perguntou a senhorita Kuhlman.
"Sim", respondeu ele.
"Onde exerce?"
"No Hospital St. Luke's, aqui em Los Angeles."
"Poderia nos fazer o favor de vir e examinar estas meninas?"
O médico foi e subiu à plataforma. "A primeira coisa que posso
dizer é que essa garotinha que salta e corre ali, com essas perninhas tão
magras, é um milagre. Se não fosse por um milagre, não poderia estar
parada, e muito menos saltar de gozo." Em seguida, tomou os pezinhos da
menina menor. "Senhorita Kuhlman", disse com voz séria, "não vejo
nenhuma diferença entre os dois pés desta criatura. Creio que sua mãe
pode tirar o sapato ortopédico."
Não precisei de mais provas. Cambaleando, saí pela parte
posterior da plataforma, procurei um telefone público e liguei para Sara,
em Houston. Estava ocupado. Pedi à telefonista que interviesse na
ligação.
"Não posso fazê-lo a menos que seja um assunto de vida ou
morte", disse-me ela.
"É exatamente isso, operadora. E pode ficar na linha a escutar, se
quiser."
Repentinamente, Sara estava ao telefone. Tentei falar, mas só
conseguia soluçar. Nunca chorei tanto em minha vida quanto nesse
momento, com o telefone na mão, detrás da plataforma, no auditório
Shrine. Sara repetia: "John, John, foi curado?"
Finalmente pude lhe dar a mensagem. Estava são. Então ela
começou a chorar. Desejei que a operadora estivesse escutando. Era um
assunto de vida, não de morte.
Voltei para junto da plataforma e observei. Cinco sacerdotes
católicos, um deles um "monsenhor", estavam sentados na primeira fila,
sobre a plataforma. O monsenhor estava sentado na ponta de sua cadeira,
absorvendo tudo. Ao passar, a senhorita Kuhlman olhou para ele e viu a
expressão de ansiedade em seu rosto. "Gostaria de experimentar isto?",
perguntou-lhe.
Ele sabia perfeitamente do que lhe estava falando, já que ficou em
pé, com as dobras de sua batina sacudindo no ar, e disse: "Sim".
Lhe impôs as mãos e disse: "Enche-o com teu Espírito Santo". Ele
caiu ao chão. Ela se voltou para os outros sacerdotes e lhes disse:
"Venham". Cada um deles caiu ao chão como o monsenhor.
Os hippies eram salvos. As extremidades tortas eram endireitadas.
Meu próprio câncer tinha sido curado. Os sacerdotes católicos eram
cheios do Espírito Santo. Saí como se estivesse flutuando em uma nuvem
e voltei para o hotel. Era mais do que eu podia compreender.
No hotel, fiz todo tipo de exercícios: me sentar e me levantar,
empurrar, coisas que não tinha podido fazer durante mais de um ano. E
as fiz sem problemas. Mesmo sem ainda não ter feito um exame médico,
eu sabia que estava curado. Durante essa noite, despertei várias vezes, não
para tomar calmantes (tinha deixado de tomar minha medicação essa
manhã, antes de ir ao culto), mas sim para poder dizer em voz alta, no
meio da escuridão: "Obrigado, Jesus. Bendito seja o Senhor!"
Então chegou o momento de me reunir a Sara e às crianças.
Quando cheguei ao aeroporto de Houston, estavam me esperando. Corri
para eles, e abracei Sara tão forte, que literalmente a levantei do chão.
Minha força a deixou sem fôlego. Em seguida agarrei os meninos,
primeiro Andrew, em seguida, John, levantando-os acima da minha
cabeça. Abracei Elizabeth. Todos falávamos com mesmo tempo.
"Seu rosto, John", dizia Sara. "Está cheio de cor e vida."
"Eu sabia que ia ser curado", dizia Elizabeth. "Orava por você
todos os dias, às nove, às doze, e às seis."
"Nós também, papai", apareceu o pequeno John. "Nós, seus
filhinhos, também orávamos. Sabíamos que Deus o curaria."
Era muito, e este veterano capitão da polícia, parado no meio do
aeroporto de Houston, pôs-se a chorar.
Pouco depois, voltei ao Instituto M. D. Anderson para fazer um
exame físico. Tinha uma entrevista com dois médicos no mesmo dia.
A primeira que me examinou foi a que tinha recomendado a
operação. Dei-lhe um exemplar do livro de Kathryn Kuhlman, "Creio em
milagres". Ela o olhou, escutou o relato de minha história, e em seguida
me olhou como se eu estivesse louco.
"Deixe eu lhe dizer algo", disse. "O único milagre que lhe
aconteceu é um milagre médico. Isso é tudo. O que o está mantendo vivo é
sua medicação. Continue tomando-a, e veremos quanto tempo vive." Eu
sorri. "Bom, não tomei nenhuma medicação desde vinte de fevereiro, já
faz mais de um mês."
Ela se mostrou surpreendida e zangada. "Você fez uma verdadeira
tolice, senhor LeVrier", disse. "Não passará muito tempo, antes que o
câncer apareça em outra parte do seu corpo, e você se irá."
Que atitude tão estranha para uma cientista!, pensei.
Saí dali e fui ao consultório do doutor Lowell Miller, chefe do
Departamento de Terapia de Radiação do Hospital Herman. Esperava que
sua reação fosse mais positiva, mas depois da recente experiência, decidi
não lhe contar nada sobre o milagre. Que o descobrisse por si mesmo.
Sua enfermeira me pediu que fosse ao quarto contiguo e me
preparasse para o exame físico. Então notei algo estranho. Como muitos
policiais veteranos, eu tinha sofrido de varizes nas pernas. Na verdade,
não usava bermuda em público, porque eu não gostava que vissem os
nódulos em minhas pernas. É obvio, quando se está morrendo de câncer,
não nos preocupamos muito com varizes, mas, à brilhante luz do quarto,
olhei minhas pernas, pela primeira vez desde que voltei de Los Angeles. O
Senhor não somente havia me curado de câncer, mas também tinha feito
desaparecer minhas varizes. Minhas pernas estavam lisas e suaves como
as de um adolescente. Quando o Dr. Miller entrou no quarto, eu estava me
regozijado e louvando ao Senhor.
Sentindo saudades de ver um paciente de câncer tão contente, o
Dr. Miller retrocedeu. "Bom! O que é o que lhe aconteceu?"
Isso foi tudo o que precisei para lhe contar toda a história de como
Jesus Cristo tinha curado meu câncer.
"Vejamos", disse o Dr. Miller. "Eu também sou cristão, mas Deus
nos deu suficiente senso comum para que cuidemos de nós mesmos."
"Não vou discutir isso", falei alegremente. "Essa é a razão por que
estou aqui para me submeter a este exame. Me faça todos os exames que
desejar. Mas lhe digo que não encontrará nada mal."
"Ok", disse o médico. "vamos fazer, então." E a seguir me
submeteu ao exame físico mais completo que já me fizeram.
Ao terminar, disse: "Sabe, desejaria que minha próstata estivesse
tão bem como a sua." Em seguida, examinou a coluna, batendo em
vértebra por vértebra. "Notável", repetia. "Notável."
Me enviou a fazer raios X, e disse depois: "Ligarei dentro de um ou
dois dias, logo depois de que tenha tido tempo de comparar estas
radiografias com as anteriores. Mas por todas as indicações que tenho,
você foi curado."
Três dias depois soou o telefone de minha escrivaninha no
segundo andar do Departamento de Polícia de Houston. Era o doutor
Miller. "Capitão", disse, "tenho boas notícias. Não encontrei
absolutamente nenhum traço de câncer. Agora, queria lhe fazer uma
pergunta. Está acostumado a dar palestras?"
"Sobre meu trabalho como policial?", perguntei.
"Não", disse ele, "não sobre isso. Quero que venha à minha igreja e
conte à congregação o que Deus fez por você."
Isso foi o começo. A partir de então, viajo por todo o país,
contando às pessoas que não têm esperança, sobre o Deus que não tem
escassez em seu depósito de milagres.
Capítulo 3

Caminhando nas sombras

Isabel Larios
O Natal é uma época de muito gozo para mim. Recebo
milhares de cartões de amigos queridos de todo o mundo.
Leio cada um deles. Mas os mais preciosos para mim são
os que me escrevem as crianças. Eles são tão abertos, tão
sinceros. Quando uma criança me diz: "Te amo", nunca
duvido de que realmente o sinta. Por isso, quando recebi
um pequeno e singelo cartão, de uma doce garotinha
mexicana-americana que vive na Califórnia, soube que
realmente sentia o que escrevia. Escreveu para me
agradecer por lhe fazer possível viver outro Natal. Lisa
me agradecia porque podia me ver. Mas eu sabia o que
ela queria dizer. E, Deus sabe, não foi Kathryn Kuhlman:
foi Jesus. Lisa Larios estava morrendo de câncer ósseo
até que Jesus a curou no auditório Shrine. A mãe e o pai
adotivos da Lisa, Isabel e Javier Larios, viviam em um
modesto complexo de apartamentos em Panorma City,
Califórnia. Isabel nasceu em Los Angeles, mas foi criada
em Guadalajara, México. Javier, que passa grande parte
de seu tempo trabalhando com seu cavalete de pintor em
seu apartamento, é um respeitado garçom na Casa Vega,
um dos restaurantes mais elegantes do Sherman Oaks.
Além da Lisa, têm mais dois filhos: Albert e Gina.

"São só os dores do crescimento, Lisa", falei enquanto minha filha


de 12 anos se queixava de dor no quadril direito. Eu estava sentada na
beira da cama, na semi-escuridão, lhe esfregando o quadril e as costas
com linimento. Lisa crescia rapidamente. Já tinha o corpo de uma
mocinha de quinze anos e parecia a imagem viva da saúde.
Mas aqui, na penumbra da noite, enquanto esfregava sua pele
suave, senti que essa dor, em particular, era algo mais do que essas dores
musculares normais que as meninas experimentam quando estão
crescendo. Lisa também sentia isso. O medo entrou no quarto, junto com
a dor.
"Mamãe, acenda a luz do quarto quando sair", sussurrou Lisa.
"Não quero ficar aqui sozinha no escuro."
Javier tinha ido trabalhar no restaurante. As outras duas crianças
já estavam dormindo. Lhe dei umas palmadinhas nas costas e lhe arrumei
o pijama. "Não há nada que temer", falei.
"Eu não gosto das sombras", respondeu ela, com sua cabecinha
metida no travesseiro. "Me dão medo."
Acendi a luz do corredor e deixei a porta de seu quarto aberta. Por
um momento me detive na porta, olhando-a. De onde tinha vindo esse
temor repentino? Lisa nunca tinha tido medo antes. Agora eu podia senti-
lo em todo o quarto, como uma rede que descia do teto e cobria toda a
cama. Será que Lisa percebia algo que eu não podia sentir?
O dia seguinte foi um desses estranhos e belos, que às vezes
acontecem na Bacia de Los Angeles. Era o último dia de março, e uma
forte chuva, logo antes do amanhecer, tinha lavado o ar, deixando-o claro
e limpo. O sol brilhava com toda sua força, o céu era azul radiante, e dava
para ver claramente as montanhas cobertas de neve sobre o horizonte, a
leste. Javier se tinha levantado para tomar o café da manhã com as
crianças, antes que fossem à escola. Depois, ele e eu fomos a Van Nuys
fazer compras. Eu procurava um suéter para Lisa, e Javier queria uns
lápis de carvão, para terminar um desenho que estava fazendo em seu
cavalete. Quando voltamos, pouco antes do meio-dia, a porta do
apartamento estava entreaberta. Lisa estava lá dentro, jogada sobre o
sofá, chorando.
Alarmado, Javier se ajoelhou junto dela e suavemente lhe tirou o
cabelo de sobre os olhos. "O que aconteceu, Lisa?", perguntou com
doçura, e o som musical de seu sotaque mexicano soou nos ouvidos da
menina.
"É o quadril, papai", soluçou ela. "Começou a doer muito, assim
que o vizinho foi me buscar e me trouxe da escola."
Lisa me passou um bilhete amassado, de uma das irmãs da escola
Santa Isabel. "Por favor, ocupe-se disto: Lisa tem muita dificuldade para
andar. Acreditamos que deveria consultar um médico."
Javier assentiu. "Ligue para o doutor Kovener", disse. "Não
devemos esperar mais."
O doutor Kovner era um amigo da família. Tinha nos atendido
antes, e sempre dizia que Lisa era sua paciente favorita. Sua secretária nos
agendou para o dia seguinte, à tarde.
O doutor tirou algumas radiografias e realizou um exame
preliminar. Em seguida me recebeu em seu escritório. "Senhora Larios,
isto pode ser uma de várias coisas. Temos que começar com as mais
óbvias e começar a trabalhar nisso. Vou internar Lisa no hospital, onde
poderemos fazer outros exames."
No Hospital Comunitário Van Nuys fizeram novos exames. Lisa
tentava ser valente, mas estar constantemente dolorida, passando a noite
fora de sua casa, em um lugar estranho, rodeada por gente que não
conhecia, não era fácil para ela. Todas as manhãs eu levava as crianças à
escola, e em seguida ia para o hospital, chorando durante todo o caminho,
me perguntando se as pessoas que passavam a meu lado saberiam da
grande dor que eu estava sentindo. No hospital, eu era toda sorrisos, mas
era só uma máscara. Por dentro, estava destroçada.
"É possível que a dor seja causada por um apêndice aumentado
que esteja pressionando um nervo", disse o médico. "Vamos extrair o
apêndice e veremos se isso resolve o problema."
Mas a dor continuou depois que Lisa voltou da operação.
Aparentemente ninguém sabia o que fazer agora. Em 12 de maio voltou
para casa. Só podia andar com muletas. Houve mais visitas ao médico.
"Isto me deixa perplexo", disse o doutor Kovner ao examinar as
radiografias novamente. "Acredito que devemos consultar um
especialista."
O doutor Gettleman, cirurgião, era muito metódico. Mandou tirar
mais radiografias e realizou um novo exame, ele mesmo. "Deve continuar
usando as muletas durante mais uma semana", disse. "Traga-a de novo,
na próxima quinta-feira."
Apesar das muletas, a dor era cada vez mais forte. Como que não
podia ir à escola, Lisa vagava pela casa com as muletas, chorando e
tentando parecer valente. Passava a maior parte do tempo na cama. Ao
final dessa semana, voltou ao hospital, desta vez ao Saint Joseph, de
Burbank.
"Teremos que operar de novo", disse o Dr. Gettleman. "Vimos algo
nas radiografias. Poderia ser uma bolsa de pus que causa pressão. Mas
também poderia ser um tumor. Há dois tipos de tumores, benignos e
malignos. Se for um tumor benigno, não teremos problemas. Se for
maligno, pode ser muito sério."
Embora pertencêssemos a uma igreja católica romana, e nossos
filhos estudassem em uma escola católica, nem Javier nem eu éramos
muito religiosos. Raramente íamos à missa, e quase nunca nos
confessávamos. Mas eu sempre me havia sentido muito próxima de Jesus,
e os cartõezinhos que as coleguinhas da escola da Lisa lhe enviavam,
dizendo que estavam rezando por ela, também ajudaram a me voltar para
Deus, em oração.
Na noite anterior à operação, eu estava em casa, só, com o Albert e
a Gina. Eles se foram se deitar cedo, e eu fui ao meu quarto e me joguei
sobre a cama, no escuro. Parecia que todo meu mundo se tinha feito em
pedaços. Tinha carregado Lisa em meu corpo durante nove meses. Tinha
desejado morrer no parto, para que ela pudesse viver. Tinha cuidado dela,
tinha estado com ela nas noites escuras, tinha rido com ela, tinha
passeado pelo campo com ela, tinha chorado e orado por ela. E agora os
médicos me diziam que possivelmente morreria. Já tinha chorado até não
ter mais lágrimas. Tudo parecia tão inútil, tão fútil.
Enquanto estava assim na cama, olhando as sombras no teto,
comecei a orar. "Querido Senhor, Lisa realmente não é minha. É tua.
Somente nos deixaste tê-la, para criá-la, alimentá-la, educá-la e amá-la.
Um dia ela nos deixará, se casará e criará seus próprios filhos. Se quiseres
levá-la antes que isso aconteça, eu a devolvo a ti, e te agradeço, porque a
deixaste conosco todo esse tempo, para nos abençoar."
Foi uma oração simples, sem grandes emoções. Mas era sincera.
Enquanto continuava olhando as sombras, adormeci.
Sonhei que estava sentada em um pequeno quarto escuro. Javier
estava junto a mim, segurando minha mão. Uma porta se abriu em frente
a nós, e pelo corredor se aproximaram dois homens vestidos com batas,
dessas que os cirurgiões usam. Um dos médicos estava chorando e não
podia falar. O outro parou diante de nós e disse: "Sua filha está muito
doente. Tem câncer".
Despertei, sobressaltada. Passava da meia-noite, e eu ainda estava
jogada na cama sem me deitar. A casa estava em silêncio. Só a luz do
corredor se filtrava no dormitório. Levantei-me e fui ver os meninos.
Dormiam tranqüilamente. Fui para o living e me sentei na beirada do
sofá, na escuridão. Esse sonho era do diabo? Estava tentando me
assustar? Ou era de Deus, para me advertir e me preparar? Como saber?
Quando ouvi os passos de Javier na escada, rapidamente fui para
nosso quarto e me meti na cama antes que ele entrasse. Não queria que
soubesse o quanto eu estava preocupada. Lisa precisaria encontrar nós
dois fortes, para enfrentar a operação, na manhã seguinte.
Javier e eu nos sentamos, de mãos dadas, na pequena sala de
espera junto à sala de operações, no hospital. Era natural que ambos
orássemos, e o fizemos em silêncio. Os médicos entravam para informar
às outras pessoas que também estavam esperando. "Seu pai está muito
bem. Nem sequer precisamos operá-lo..." "Não tem do que se preocupar,
sua esposa está perfeitamente bem." "Pode levar seu filho para casa esta
tarde."
Às duas da tarde olhei, e vi que vinham dois médicos pelo longo
corredor. Um deles era o doutor Kovner. Seu rosto estava cinza. O outro
era o doutor Gettleman. Javier se levantou de um salto e foi ao encontro
deles, mas eu fiquei sentada. Sabia o que aconteceria, e minhas pernas
pareciam de borracha. Era a mesma cena que tinha vivido em meu sonho.
"Encontramos um tumor", disse o doutor Gettleman. "É
inoperável. Se tivéssemos cortado, teríamos que amputar toda a perna."
"É câncer?", perguntou Javier.
"Sinto dizer que sim", respondeu o médico. "Está muito, muito
mal. O osso do seu quadril está como se fosse manteiga. Se tivesse uma
colher, poderia tê-lo tirado todo. A carne que rodeia o osso está como
queijo gruyere, cheia de buracos. O laboratório já fez uma análise, e é o
pior tipo de câncer. A única coisa que pudemos fazer foi costurá-la outra
vez."
"Não houve nada que pudessem fazer?", clamou Javier, com o
rosto macilento e abatido.
"Nada no momento. Depois que se recupere da operação,
começaremos o tratamento com cobalto. Falaremos depois sobre isso."
"Mas ficará boa, não é?", perguntou Javier.
O doutor Gettleman sacudiu a cabeça. "Só posso dizer é que
tentaremos lhe prolongar a vida. Não posso prometer nada mais."
Olhei para o doutor Kovner. Embora não dissesse nada, o seu
rosto expressava tudo. Seus olhos estavam cheios de lágrimas. Lisa estava
morrendo, e nenhum de nós podia fazer nada a respeito. Eu a havia
devolvido a Deus, e ele tinha aceito meu oferecimento.
Os médicos aconselharam que não deveríamos dizer nada a Lisa
sobre seu estado. Duas semanas depois, a trouxemos novamente para
casa, em uma cadeira de rodas, decididos a lhe dar o verão mais feliz de
sua vida.
O doutor Kovner não concordou com nossos planos de levar Lisa
em umas longas férias. "Devemos começar o tratamento de cobalto o mais
rápido possível", disse.
"Se assinarmos a autorização e permitimos fazer o tratamento com
radiação," perguntei, "o que pode nos prometer?"
"Não podemos lhe prometer nada", respondeu ele. "Mas nunca
saberá se ajudará ou não, a menos que o faça."
"O que acontecerá se não permitirmos que lhe faça o tratamento?"
"Não me agrada responder perguntas como essa", disse o doutor
Kovner. "Mas, mesmo com o tratamento, o máximo que podemos estimar
é seis meses. E estará muito, muito, muito mal quando morrer."
Prometi conversar sobre isso com Javier. Ambos sentíamos que
seria cruel que Lisa devesse passar seus últimos meses de vida sujeita a
esse tratamento de radiação.
Em 9 de junho, Lisa foi internada no Hospital Pediátrico de Los
Angeles. Era o terceiro hospital em que entrava em três meses. A doutora
Higgins, que estava encarregada de seu caso, disse que havia três áreas
para onde poderia se espalhar o câncer: fígado, peito ou cérebro.
Qualquer poderia ser fatal. Aparentemente, o câncer se espalha
rapidamente nas crianças em idade de crescimento, e a única forma de
tentar salvar sua vida era por meio do tratamento com cobalto e
quimioterapia.
Finalmente demos nossa autorização para que lhe realizassem o
tratamento preliminar, e começaram a lhe aplicar uma série de injeções.
O organismo de Lisa reagiu violentamente. Eu me sentava com ela
durante toda a noite, enquanto ela vomitava e perguntava: "Mamãe, o que
está acontecendo comigo? por que estou tão doente?"
Era mais do que eu podia suportar. Javier e eu conversamos
novamente e decidimos que seus últimos dias seriam vividos em nosso
lar, conosco, em vez de no hospital. A levaríamos para casa.
O capelão da escola em que Lisa estudava ficou sabendo de sua
doença e a visitava todas as noites, levando a comunhão. Comentamos
com ele nossa decisão de interromper o tratamento de cobalto. Ele
concordou. "Se ela está morrendo, deveria passar os últimos dias de sua
vida o mais feliz que fosse possível."
"Lisa não tem absolutamente nenhuma possibilidade de
recuperação sem a terapia de radiação", objetou a doutora Higgins,
quando lhe comunicamos nossa decisão.
Os outros médicos opinavam igual. "Se ficar no hospital, talvez
possamos aprender algo que possa ajudar alguma outra garotinha dentro
de cinco ou dez anos."
"Não me interessa que minha filha se converta em uma
experiência médica", lhes falei com total honestidade. "Só quero que ela
se cure. Vocês podem me prometer isso?" "Sinto muito, senhora Larios",
disseram os médicos. "A medicina não pode lhe prometer nada."
No dia seguinte, levamos Lisa para casa, para que morresse em
nosso lar.
Passamos o resto do verão tentando fazê-la feliz. Nos endividamos
muito para levá-la a passeio pela costa, comprar as coisas que queria,
como gravador e outros objetos materiais. Mas tudo parecia tão
pateticamente vazio. Não era bom que estivéssemos sentados ao seu
redor, cobrindo-a de presentes, e esperando sua morte.
Numa tarde, em meados de julho, alguém bateu à porta de nosso
apartamento. Abri-a e vi nosso vizinho, um jovem solteiro chamado Bill
Truett, parado no corredor.
"Como está Lisa?", perguntou Bill.
"Não está bem", respondi. "piorou desde que a tiramos do
hospital."
Bill sorriu fracamente e me olhou fixo aos olhos. "Ela ficará bem",
disse com voz confiante.
Encolhi os ombros. "Espero que sim."
"Não, você não me compreendeu", disse seriamente. "Ela vai ficar
bem. Alguma vez você ouviu falar de Kathryn Kuhlman?"
"Bom, a vi umas duas vezes na TV, mas nunca prestei muita
atenção."
"Neste próximo domingo ela vai estar no auditório Shrine de Los
Angeles", disse Bill. "Queria levar Lisa à reunião."
Duvidei por um momento. Realmente não conhecia muito bem o
Bill, e tinha ouvido dizer que as reuniões no Shrine eram muito
prolongadas. Mas ele insistiu tanto, que finalmente concordei em ir junto
com Lisa e ele, só para me livrar dele.
Depois de lhe dizer que iríamos, fechei a porta e me encostei na
mesa da cozinha. Javier estava trabalhando em um desenho junto à
janela, olhando o pátio. Vários de seus desenhos estavam pendurados nas
paredes de nossa casa. Eu sabia que ele estava interessado em
desenvolver seu talento, mas também sabia que a pintura era uma forma
de escape para ele. Quando estava ocupado com seus desenhos, não tinha
tempo para pensar na Lisa. Observei seu rosto, parecia esculpido em
pedra, ali concentrado em seus carvões. Senti minhas unhas cravarem na
palma da mão, ao fechar o punho, tentando deter as lágrimas. Javier
estava perdido em sua arte. Bill sugeria coisas estranhas. Mas eu era a
mãe da Lisa, e tinha que enfrentar a realidade. Não podia me agarrar à
arte para escapar, nem me deixar levar pelas tolices que Bill dizia sobre
milagres. Eu tinha que enfrentar as coisas como elas eram. Lisa ia morrer.
Bill voltou na a manhã seguinte e me lembrou de minha promessa
de ir com ele e Lisa ao auditório. "Bill, não quero apagar seu entusiasmo",
falei, "mas os médicos me disseram que Lisa não pode se curar. Ninguém
pode fazer nada."
"Então vejamos o que Deus pode fazer", disse ele simplesmente.
Quis retroceder. Sentia que Bill me estava pressionando. Além
disso, detestava ter que me levantar cedo num domingo pela manhã e
dirigir por toda a cidade só para esperar numa fila durante horas.
Bill se negava a desanimar. "Sei que ela será curada. Minha mãe é
muito próxima desse ministério. Ela conhece muitas pessoas que foram
curadas."
Eu não tinha fé nenhuma. Só agradecia que Lisa não soubesse o
quão sério era seu estado.
Embora eu não soubesse, Lisa suspeitava de algo. Ao menos sabia
que sua perna não podia suportar seu peso. Poucos dias antes, tinha
visitado uma amiga em um apartamento próximo, do outro lado do
corredor, e tentou andar sem as muletas. Seu quadril se dobrou como
uma esponja molhada, e ela caiu no chão. Embora não soubesse o que era,
podia perceber que tinha algo muito ruim no quadril.
Na tarde do sábado, Bill tornou a bater à porta. "Lembre, amanhã
é o dia. Lisa receberá um milagre."
"Tudo bem, Bill", falei, fechando a porta. Mas por dentro sabia que
não havia como isso acontecer. Já não se produziam milagres, ao menos
não para gente como nós. Se havia milagres, eram para os ricos, os
piedosos, os Santos da igreja. Nós somos somente uns pobres mexicanos
católicos que nem sequer íamos muito à missa. Como podíamos esperar
um milagre?
No dia seguinte, 16 de julho, de manhã muito cedo, Bill bateu à
porta.
"Me deixe terminar o café", gritei. Por dentro, desejava que se
fosse sem nós.
Bill e sua noiva Cindy nos estavam esperando com uma cadeira de
rodas. Ajudaram Lisa a descer as escadas, em seguida rodearam a piscina,
percorreram a calçada estreita e a meteram no automóvel. Pouco depois
saímos da estrada Harbor para o sul, para Los Angeles e o auditório
Shrine.
Lisa estava na cadeira de rodas, enquanto eu esperava apoiada
sobre uma velha manta contra a parede do auditório Shrine, me
perguntando quando abririam as portas. Tudo isto parecia tão estúpido:
passar toda a manhã sentada na calçada, me calcinando sob o Sol,
esperando por nada.
Finalmente abriram as portas. Bill empurrou a cadeira de Lisa
para a seção reservada para cadeiras de rodas e eu me sentei junto a ela.
Ele e Cindy foram se sentar em outra parte do auditório. Eu estava
maravilhada pela quantidade de gente e a cordialidade, a amizade e o
amor que sentia nesse lugar.
A reunião começou com o coro cantando "Ele me tocou". Kathryn
Kuhlman, com um vestido branco vaporoso, apareceu na plataforma. Lisa
tocou meu braço. "Mamãe, se olhar para ela com os olhos entreabertos,
verá um halo ao seu redor." Encolhi os ombros e não fiz nenhuma
tentativa para descobrir o tal halo.
Então a senhorita Kuhlman pregou um breve sermão, ao qual nem
sequer emprestei atenção. Eu sacudia a cabeça. Tudo isto era muito lindo,
mas, por que estávamos perdendo o tempo aqui?
Então, sem aviso prévio, começaram a acontecer coisas. A
senhorita Kuhlman apontava para o balcão. "Há um homem que está
sendo curado de câncer agora. Fique de pé, senhor, e aceite sua cura."
Me virei e tratei de olhar para cima. Mas estava muito longe. Só o
que podia ver eram rostos que se perdiam para trás na escuridão.
Mas ao mesmo tempo, parecia haver luz; não o tipo de luz que
pode ser vista, mas sim a que se sente. Estava em todo o edifício. Luz e
energia, como se houvesse pequenas chaminhas de fogo que dançassem
de uma cabeça a outra. Senti-me eletrizada. A senhorita Kuhlman
continuava apontando outros lugares no auditório onde se estavam
produzindo curas.
Em seguida apontou para a área onde estavam as cadeiras de
rodas, logo onde nós estávamos sentadas. "Há um câncer ali", disse
suavemente. Levante-se e receba sua cura."
Olhei para Lisa, mas ela não se moveu. É obvio. Como saberia que
tinha câncer? Nós não lhe havíamos dito. Se eu lhe dissesse que a
senhorita Kuhlman estava falando com ela, e se ficasse em pé, seu quadril
e sua perna poderiam se torcer. O que deveria fazer?
A senhorita Kuhlman sacudiu a cabeça e se dirigiu a outra seção,
assinalando novas curas em outras partes do auditório. Meu coração
quase parou. Tinha passado a oportunidade da Lisa? Seria muito tarde?
Então a senhorita Kuhlman tornou a olhar para nossa seção,
apontando para o lugar onde estávamos. "Não posso me esquecer disto",
disse. "Alguém ali está sendo curado de câncer. Deve se levantar e aceitar
sua cura."
"Mamãe," disse Lisa, "sinto uma quentura no estômago."
Não tínhamos comido da manhã cedo, e comecei a procurar
alguma guloseima em minha bolsa.
"Não, não é esse tipo de calor", disse Lisa, recusando a guloseima.
A senhorita Kuhlman continuava assinalando em nossa direção.
Olhei ao meu redor.
Não havia ninguém mais de pé em nossa área. Eu sabia que devia
ser Lisa quem estava sendo curada, mas tinha medo. O que aconteceria se
não fosse para ela? O que aconteceria se ficasse de pé e caísse? Ou, o
pior... o que aconteceria se fosse Lisa... e não ficasse em pé?
Quando pensava que morreria de incerteza, de dúvida, Lisa se
inclinou e me sussurrou: "Mamãe, acredito que vou subir à plataforma.
Creio que estou sendo curada."
"Faça o que quiser", falei, me sentindo aliviada de que ela tivesse
decidido por mim. Mas temia por ela, quando tentasse caminhar sem as
muletas.
Um dos ajudantes sentiu que algo estava acontecendo a Lisa e se
aproximou de nós. "Creio que me sinto melhor", disse-lhe Lisa. "Quero
subir à plataforma."
Ele a ajudou a sair da cadeira de rodas. Contive a respiração
enquanto ela se levantava. Por um momento, pensei que desabaria, mas
repentinamente compreendi algo. Esse mesmo fogo que eu havia sentido
que dançava de uma cabeça a outra, estava agora descansando sobre Lisa.
Quase podia ver uma nova força fluindo em seu corpo.
O conselheiro a ajudou a se apoiar nele, e começaram a descer
pelo corredor. Lentamente, a princípio, em seguida com mais segurança,
chegaram junto à plataforma, onde uma mulher trocou algumas palavras
com eles. Bill Truett se uniu a eles ali, e logo depois de uma breve
conversa, subiram Lisa à plataforma.
A senhorita Kuhlman escutou enquanto a mulher lhe dava alguns
detalhes. Em seguida se aproximou de Lisa. Lisa retrocedeu um passo, e
em seguida caiu ao chão. Contive a respiração, pensando que sua perna
tinha cedido. Mas Lisa ficou de pé novamente.
"Dedico desta menina ao Senhor Jesus Cristo", disse a senhorita
Kuhlman, enquanto Lisa permanecia de pé em frente a ela, com o rosto
banhado em lágrimas. "Agora, vejamos como caminha." Lisa começou a
correr de um lado a outro do cenário, e todos começaram a aplaudir,
louvando a Deus. Então, como se fossem anjos cantando, o coro começou
a entoar suavemente "Aleluia, aleluia".
"Quero que esta cura seja verificada", disse a senhorita Kuhlman.
"Quero que torne a ver seu médico e peça que lhe faça um exame
completo. Em seguida, retorne para a próxima reunião e testemunhe o
que Deus fez por você."
Olhei de esguelha para Bill. Estava exultante, como se fosse sua
própria irmã a que tivesse sido curada. Logo, eu aprenderia que na família
de Deus somos verdadeiramente irmãos e irmãs. Mas nesse momento só
conseguia pensar em Lisa. Ela continuava correndo de um lado ao outro
da plataforma, ainda mancando um pouco, mas pisando forte. Mordi o
lábio. Sabia que seu quadril era como manteiga e cederia diante da
mínima pressão... mas não aconteceu. Será? Tinha sido curada?
Eu tinha medo de acreditar. Tinha sofrido uma vez, e tanto,
quando o doutor nos havia dito que não havia esperança. Acreditar agora,
somente para descobrir depois, que era uma falsa esperança, seria mais
do que poderia agüentar. Era mais seguro não acreditar nada.
Javier estava saindo para trabalhar quando chegamos em casa.
Lhe contamos o que tinha ocorrido.
"Então começaremos a ter esperanças", ele disse. "Isso é algo que
não tivemos antes. Tivemos tanto amor por nossa garotinha. Agora temos
esperanças. Cedo ou tarde, possivelmente Deus nos dará a fé para aceitar
a maravilha que está fazendo." Foram as sábias palavras de meu
maravilhoso marido.
Bill e Cindy entraram conosco no apartamento. "Tire as muletas
dela", disse Bill, quando eu as estava dando outra vez a Lisa. "Não
compreende? Ela foi curada."
Durante o resto da noite, Lisa andou coxeando pelo apartamento.
Eu observava cada um de seus passos, temendo que pudesse cair. Mas não
caiu. Na verdade, parecia que ela estava ficando cada vez mais forte bem
diante de meus próprios olhos.
No dia seguinte, a primeira coisa que Javier perguntou foi: "Onde
está Lisa? Como ela está?"
Eu tinha levantado mais cedo, assim levei Javier para a janela.
"Olhe"', falei, apontando para o pátio. Ali estava Lisa, pedalando em sua
bicicleta ao redor da piscina, brincando com outras crianças do edifício.
Quando Javier se afastou da janela, seu rosto estava riscado pelas
lágrimas. Se eu acreditasse ou não, dava no mesmo. Ele sim, acreditava.
Na semana seguinte levei Lisa ao Hospital Infantil. Logo depois de
uma série de exames de sangue e várias radiografias do quadril e do peito,
o radiologista disse: "Ligaremos quando tivermos algo".
Os olhos do Javier dançavam quando abriu a porta do
apartamento para mim. "Bem, o que disseram?"
Expliquei-lhe a situação e falei que teríamos que esperar. Ele
insistiu em que ligasse para a doutora Higgins.
"Estava a ponto de chamá-la", disse-me a doutora, quando
finalmente consegui me comunicar com ela. "Mas estive em consulta com
outros sete médicos sobre o caso da Lisa. Não sei o que lhe dizer."
Engoli a saliva. "Quer dizer que algo está mal?" Será que isto foi só
um truque cruel, que minhas esperanças surgiram só para serem feitas em
pedaços agora?
"Não sei como pôde ter acontecido", continuou a doutora, como se
não me tivesse ouvido. "Todos vemos o mesmo nas radiografias. O tumor
se reduziu muitíssimo em vez de espalhar-se. Há evidências de cura."
É claro, ela não sabia nada sobre a reunião de Katbryn Kuhlman,
mas havia dito "evidências de cura". O que mais seria necessário para que
eu me convencesse de que Deus havia tocado a vida da Lisa?
"Doutora, tem você um minuto?", perguntei. "Quero lhe contar
algo. Sei que achará estranho, mas levamos Lisa a uma reunião de
Kathryn Kuhlman. Desde então, ela anda sem muletas, corre, anda de
bicicleta, nada e se comporta normalmente. Acreditamos que Deus a
curou."
Houve um longo silencio do outro lado da linha.
"Quero compreender bem isto", disse finalmente a doutora. "Você
não esteve lhe dando nenhuma medicação, verdade?"
"Nenhuma", respondi.
"Você recusou que fizesse o tratamento com cobalto e
quimioterapia, verdade?"
"Sim", respondi.
Novamente houve um longo silencio.
"Bom, pode ser que seu corpo esteja armando um certo tipo de
resistência e jogando isso fora, o que não parece natural. Ou poderia ser
sua Kathryn Kuhlman. Seja o que for, o tumor está desaparecendo. E até
onde eu sei, é o primeiro caso na história da medicina em que isso
acontece."
Eu estava chorando. Lembrava de ter lido, fazia tempo, a história
de Tomé, na Bíblia. Ele acreditou que Jesus tinha sido levantado dos
mortos só quando finalmente viu as marcas dos pregos em suas mãos.
Como eu me parecia com ele... Mas, mesmo assim, Deus tinha permitido
que eu visse esse milagre em minha filha.
"Lhe digo algo mais", disse a doutora Higgins suavemente. "Todos
se alegraram muito no hospital pelo que aconteceu a Lisa, porque este é
um caso no qual tínhamos perdido toda esperança."
Lisa retornou à escola no outono, sem muletas. Um mês depois a
levei ao médico. O tumor continuava se reduzindo. Estava se retirando.
Lisa estava quase normal.
"Como se explica isto?", perguntava eu.
"Não temos explicação", disse o médico. "Nunca houve um caso de
cura como este antes. Se lhe tivéssemos dado tratamento com cobalto, e o
tumor tivesse retrocedido, o teríamos considerado como um milagre da
medicina. Mas sem tratamento algum... bem, o que podemos dizer?"
Nosso sacerdote, entretanto, podia dizer algo: "Deus tem muitas
formas de fazer as coisas. Certamente isto vem Dele."
Agora que Lisa está completamente sã, muitos de nossos amigos
perguntam: "por que aconteceu tudo isto?"
Creio que Deus permitiu esta enfermidade em nossas vidas, para
nos aproximarmos mais entre nós e nos aproximarmos mais dEle. Na
Bíblia encontrei um relato que explica tudo. Certo dia Jesus estava
caminhando por uma rua e viu um homem que era cego de nascença. Seus
seguidores lhe perguntaram: "Mestre, por que este homem é cego? É
porque ele pecou, ou porque pecaram seus pais?"
O Mestre respondeu: "Não, nenhuma das duas coisas. Ele é cego
para que Deus possa ser glorificado por meio de sua cura." Então o tocou,
e o cego pôde ver.
Creio que Lisa chegou a ficar tão doente para que Deus pudesse
ser glorificado em sua cura.
Dar a glória a Deus não é algo que se aprenda através dos livros.
Tem que ser aprendido ao andar com Ele pelo vale de sombras. Se a gente
viver no topo da montanha todo o tempo, torna-se duro e insensível, sem
reagir diante das coisas mais delicadas da vida. Somente na sombra do
vale crescem estes tenros pastos.
Estive muitas vezes observando Javier enquanto desenha. Adora
usar carvões e misturar sombras. "O brilho do sol ressalta os detalhes",
diz, "mas são as sombras que fazem ressaltar o caráter."
Só quando caminhamos nas sombras, aprendemos a louvar a Deus
pelas pequenas coisas. Foi então que aprendemos que Lisa não era
realmente nossa, mas sim de Deus. Nos momentos mais obscuros, a
devolvemos ao Pai Celestial. Ali, no vale, descobrimos o segredo da
renúncia. Mas quando a demos, Ele teve a misericórdia de a devolver a
nós curada.
Lisa já não teme as sombras. Como nós, compreendeu que até no
vale, Deus está conosco. Sua vara e seu cajado nos confortam, fazendo que
nossa taça transborde de sua bondade e sua misericórdia.
Capítulo 4

O dia em que a misericórdia de Deus se


encarregou

Richard Owellen, Ph.D., M.D.

O doutor Richard Owellen é um velho amigo. Conheci-o


quando cantava em nosso coro, em Pittsburgh, enquanto
trabalhava para obter seu doutorado em química
orgânica no Carnegie. Depois de dois anos de estudos em
pós-doutorado na Universidade de Stanford, passou à
Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, onde
completou seu doutorado em medicina em três anos.
Depois de um ano como interno e dois de residência em
medicina interna, foi contratado por essa universidade
como professor ajudante de medicina, pelo qual dividiu
seu tempo entre a investigação do câncer, a atenção a
seus pacientes e o ensino.

Enquanto trabalhava para obter o doutorado em química no


Carnegie, comecei a assistir às reuniões de Kathryn Kuhlman, que se
realizavam todas as sextas-feiras no velho auditório Carnegie, ao norte de
Piltsburgh. Ali, pela primeira vez em minha vida, senti o poder de Deus
agindo enquanto as pessoas se reuniam para adorar. Pouco depois, me
ofereci como voluntário para cantar no coro, e ali conheci Rose, que tinha
literalmente crescido dentro do ministério da senhorita Kuhlman.
Rose e eu começamos a sair, nos apaixonamos e, em abril de 1959,
a senhorita Kuhlman celebrou nosso casamento.
Um ano depois, nasceu a pequena Joann. Rose teve uma gravidez
e um parto normal, mas quando levamos a menina para casa, notamos
um grande machucado em uma das nádegas. Perguntei ao doutor o que
era isso, mas nos assegurou que não havia nada que indicasse haver um
problema.
Mas tanto meus pais, como a irmã de Rose, notaram algo estranho
no comportamento da bebê. Era extremamente nervosa; muito, dizia
minha mãe. Chorava e gemia constantemente e não queria alimentar-se,
rejeitava a mamadeira, vomitava e gritava se a movíamos enquanto era
alimentada. Além disso, notamos que uma perna estava sempre dobrada
para o corpo, com o joelho e o pezinho girados para fora, algumas vezes
em um ângulo de até noventa graus. Era impossível fazê-la esticar as duas
perninhas ao mesmo tempo para as pôr direitas.
Quando a levamos novamente ao médico da família, examinou
suas pernas e quadris. "Sim, realmente há algo errado com a perna
direita", disse. '"Não estou certo do que é, neste momento, mas esperemos
um tempo. Algumas vezes essas coisas se arrumam sozinhas."
Esperamos vários meses, mas nada se arrumou. Ao contrário,
ficou pior. Joann continuava sendo muito nervosa, e muitas vezes chorava
quando a tocávamos. Quando tomava sua mamadeira, freqüentemente
parava para chorar. Estes sintomas nos comunicavam que sofria fortes
dores. Mas, o que era? E onde?
Depois dos três meses Joann já deveria ter sido capaz de levantar
sua cabecinha do colchão, mas não o fazia. Cada vez mais preocupados, a
levamos novamente ao médico.
Desta vez, logo depois de examiná-la, o doutor me fez gestos para
que me aproximasse dele. A pequena Joann estava de costas sobre a
maca. O doutor tomou seu pezinho direito em uma mão e pôs a outra sob
seu joelho. Logo começou a dobrar lentamente o pezinho para dentro. A
menina gritou de dor. "A perna não gira nada", disse o doutor. "Agora
olhe isto." Suavemente começou a girar a perninha para fora. Fiquei
boquiaberto e, em seguida, contive a respiração enquanto a perninha da
minha filha girava em sua mão, não só de cima para baixo, mas também
no que foi quase uma rotação completa de 360 graus. Só quando tinha
terminado a rotação a bebê começou a gemer de dor.
O doutor colocou cuidadosamente a perninha em sua posição
original. Depois me apontou as dobras na pele ao longo de sua coxa. "Esta
é uma das coisas que um médico observa", disse-me. "Note que há duas
dobras deste lado, mas só uma na outra perna. Uma criatura normal teria
as mesmas dobras em ambas as pernas. Uma diferença como desta indica
algum tipo de alteração interna, quer dizer, que há algum defeito na
estrutura do quadril, da coluna ou da perna. Neste caso, estou certo de
que se trata do quadril."
Rose tomou a menina e a apertou contra si. "O que está querendo
nos dizer, doutor?", perguntou, com os olhos cheios de lágrimas.
O doutor pôs sua mão sobre o ombro do Rose.
"Não posso dizer com total segurança", respondeu, "por isso quero
que seja examinada por um ortopedista. Ele poderá nos dar um
diagnóstico definitivo. Parece um quadril deslocado."
Rose se sentou na cadeira que estava junto à maca, sustentando
ainda a bebê junto a seu peito. O médico continuou falando, e de forma
muito suave e amável, disse-nos o que podíamos esperar. Joann
possivelmente necessitaria de aparelhos ortopédicos, possivelmente,
inclusive, um colete ortopédico. O tratamento levaria um longo tempo, e
mesmo assim, não havia cem por cento de probabilidades de que se
curasse totalmente. Existia a possibilidade concreta de que fosse uma
aleijada durante toda sua vida, e caminhasse sempre com dificuldades.
Poderia ter uma perna mais curta do que a outra, ou outro tipo de
anomalia.
"Não devem esperar", disse o médico. "Levem-na a um cirurgião-
ortopedista."
"Não entendo", falei para Rose. Ambos estávamos agitados,
sentados em nosso pequeno living. "Aqui estamos, servindo ao Senhor, e
ele deixa que isto nos aconteça."
Rose estava calada; seu belo rosto estava tenso, os lábios tremiam
um pouco. Eu queria parar, cruzar o quarto, tomá-la em meus braços e
consolá-la. Mas estava muito agitado em meu interior. Não tinha nada
para dar.
"Estivemos dizendo a outras pessoas que acreditamos na cura
divina," explodi, "e agora temos uma filha deformada."
"Se Deus permitiu que tivéssemos uma filha deformada," disse
finalmente Rose, "certamente espera que nos ocupemos dela e a
cuidemos."
"Não discuto isso", falei amargamente. "Amo esta menina e farei
tudo o que for possível para que seja curada. Se não se curar, a criaremos
e a amaremos a vida toda. É que não parece justo. O mundo está cheio de
gente que não ama a Deus, que nem sequer o conhece. Muitas destas
pessoas odeiam a Deus, mas têm filhos normais. Por que Nós temos que
ter uma filha deformada?"
Era uma pergunta injusta. Eu sabia que Rose não tinha a resposta,
assim como eu não a tinha. Também sabia que as pessoas que questionam
a Deus estão mostrando sua falta de fé. Estava me dando conta de que não
tinha nenhuma, pelo menos não o tipo de fé que eu achava que era
necessária para que nossa filha se curasse.
Na manhã seguinte, enquanto me vestia para ir para a aula, Rose
se sentou ao lado da cama. Tinha ficado acordada a maior parte da noite,
cuidando da bebê, e seu rosto mostrava os sinais da falta de sono. "Dick",
disse, indecisa, "vimos o Espírito Santo fazer tantas coisas maravilhosas
nos cultos da senhorita Kuhlman. Não crê que deveríamos levar Joann e
ter fé em que Deus vai curá-la?"
Rose se tinha retirado do coro da senhorita Kuhlman pouco antes
do nascimento da bebê, e embora tivéssemos tornado a ir a algumas das
reuniões, tanto em Piltsburgh como em Youngstown, Ohio, a vergonha
tinha feito que não contássemos a ninguém sobre o estado da menina. Só
meus pais e a irmã de Rose sabiam.
Com a pergunta de Rose dando voltas na minha cabeça, detive-me
em frente do espelho durante um longo tempo, brincando com o nó da
minha gravata. Fé? Acabava de perceber que não tinha nenhuma fé, ao
menos, não a que se requeria para que Joann fosse curada. Mas lembrava
de algo que tinha escutado a senhorita Kuhlman dizer muitas vezes: "Faça
tudo o que puder. Então, quando tiver chegado ao fim de seus recursos,
deixe Deus se encarregar".
Tínhamos ido ao médico. Os únicos recursos possíveis eram os
aparelhos ortopédicos e uma possível cirurgia, sem garantia de que a
menina se curasse. Rose tinha razão. Agora era o momento de confiar
completamente em Deus.
Na sexta-feira de manhã saímos do apartamento para levar a
menina ao culto de milagres no auditório Carnegie. Sentados no
automóvel, inclinamos nossas cabeças para orar. "Senhor Jesus, está
escrito em tua Palavra que temos o privilégio de vir diante de ti e te pedir
que, em tua misericórdia, toque o corpo de nossa filhinha. Mas não o
exigimos de ti, Senhor. Nem sequer o reclamamos, porque embora já nos
tenha sido dado, sabemos que ainda depende de tua misericórdia.
Simplesmente lhe pedimos, Senhor Jesus, que cures a nossa pequena
filha."
Foi uma oração muito singela, não do tipo que eu tinha imaginado
muitas vezes que diria. Em minha imaginação eu irrompia diante do
trono da graça e atirava as promessas de Deus na sua cara, exigindo que
as cumprisse. Mas agora, cara a cara com um problema que era maior que
nós, maior que a ciência medica, Rose e eu compreendíamos que o nosso
único descanso era na misericórdia de Deus.
O culto foi similar às centenas de reuniões a que já tínhamos
assistido antes, só que desta vez não estávamos simplesmente como
espectadores. Vínhamos esperar um milagre.
Parecia que era um desses dias em que a pequena Joann estava
especialmente incomodada. Várias vezes gemeu e gritou de dor. Não
queríamos que incomodasse no culto, por isso ficamos na parte de trás do
auditório, enquanto Rose a segurava nos braços. Quando Joann chorava,
Rose a levava ao saguão, e voltava quando a menina se acalmava.
Tínhamos dado nossos assentos a outras pessoas e estávamos apoiados
contra a parede do fundo do grande auditório, enquanto se desenvolvia o
culto de milagres.
Joann estava envolta em uma manta, e, de vez em quando, Rose a
levantava um pouco e olhava. Acreditava que quando Deus começasse a
agir, ela veria algo.
Quase ao final do culto, algo aconteceu. Desde que Joann nasceu,
os dedinhos de seu pé direito tinham estado firmemente dobrados para
baixo. Agora, enquanto estávamos apoiados contra a parede, esses
pequenos dedinhos rosados começaram a relaxar, até se parecerem com
os de qualquer menina saudável de quatro meses de vida.
Rose me acotovelou. Seu rosto estava radiante. "Deus começou a
agir", disse. "Sua presença está sobre a menina. Vou à plataforma." Estava
decidida, e vi que seria inútil tentar detê-la.
Começamos a avançar pelo corredor. Eu esperava que a qualquer
momento algum obreiro nos detivesse, já que tinham estritas ordens de
evitar que qualquer pessoa descesse, a menos que algum conselheiro
tivesse falado com ela antes. Mas não havia nenhum obreiro por perto.
Seguimos descendo pelo corredor. Enquanto caminhávamos, a senhorita
Kuhlman desceu da plataforma e se aproximou de nós. Nos encontramos
no centro do auditório.
"Rose", disse, olhando surpreendida para minha esposa. "Algum
problema com a menina?"
Rose tentou falar, se engasgou, e tentou novamente. "S-s-sim,
senhorita Kuhlman. Ela tem um quadril deslocado desde que nasceu."
A senhorita Kuhlman sacudiu a cabeça, assombrada. "por que não
me disse...?" interrompeu-se e voltando-se para auditório lotado de gente,
disse: "Quero que todos fiquem de pé e comecem a orar. Deus vai curar
esta preciosa criatura."
Rose tirou a manta de Joann e a estendeu para a senhorita
Kuhlman. Em todo o lugar as pessoas estavam de pé, com os olhos
fechados, orando. Eu também orava, mas tinha os olhos abertos. Queria
ver o que acontecia.
Observei cuidadosamente. A senhorita Kuhlman estendeu seus
dedos sensíveis e tocou os dedinhos de Joann muito suavemente. Não os
agarrou. Nem sequer fechou os dedos. Só tocou ligeiramente e começou a
orar. "Maravilhoso Jesus, toque este precioso bebê..."
Eu vi! Eu vi com meus próprios olhos! Essa perninha, torcida tão
grotescamente para a direita, começou a endireitar. Girou lentamente até
que os dedinhos ficaram apontando para cima, como os do outro pé. Tudo
parecia perfeitamente natural. Mas eu sabia que o que estava vendo era
impossível. Alguma força exterior estava movendo essa perna. Mas a
senhorita Kuhlman não o tinha feito. Rose, com os olhos fechados e o
rosto elevado para o céu, não o tinha feito. E é obvio, a pequena Joann
não o tinha feito. Quem podia tê-lo feito, então, a não ser Deus!
Mantive os olhos fixos na perninha que descansava em posição
natural, e soube que a cura era total. "Obrigado, Senhor", não me cansava
de repetir, em silêncio. "Obrigado."
A senhorita Kuhlman parou de orar, e todos se sentaram. Rose
envolveu a menina na manta, e começamos a voltar para a parte de trás
do auditório.
"Você viu?", sussurrei-lhe quando chegamos lá.
"Ver o que?", perguntou Rose. "Estava orando. Você não?"
"Eu também estava orando, mas com os olhos abertos. Não
sentiu?"
"Sentir o que?" Rose me olhava intrigada.
"A perna de Joann, seu pé. Vi como sua perna se moveu.
Endireitou. Eu vi quando foi curada!" Estava tão entusiasmado que quase
não conseguia me controlar para não gritar.
Rose arregalou os olhos, e a alegria se refletiu em seu rosto,
"Jesus!", sussurrou. "Oh, Jesus, obrigado."
Empurramos a porta vaivém e quase corremos para o saguão. Ali
tiramos a manta e observamos as perninhas de Joann. Estavam perfeitas.
A perninha direita já não estava dobrada para dentro como antes. O
pezinho direito já não estava dobrado para fora. Ambas as pernas estavam
retas, e os pés estavam bem colocados.
"Vamos para casa", falei. "Quero passar o resto do dia louvando a
Deus."
Não só passamos o resto do dia louvando ao Senhor, mas também
a maior parte da noite. Depois do jantar, que a bebê tomou sem
problemas, a deitamos de barriga para baixo no berço. Ficamos de mãos
dadas junto ao berço e a observamos. Pela primeira vez em sua vida,
Joann levantou a cabeça do colchão e olhou ao seu redor. Ficamos
acordados até as três da madrugada, observando-a. Dormia, acordava,
fazia gorgolejos, gorjeava e tornava a dormir. Era como se estivesse
compensando o tempo perdido em que sua vida não tinha estado cheia de
gozo.
Na manhã seguinte ainda podíamos ver a perfeita cura operada
em suas pernas. Eu as podia manipular sem problemas. A única ocasião
em que chorou foi quando eu tentei torcê-la para fora, como era possível
fazer até o dia anterior. Nossa Joann estava perfeitamente normal. A
única diferença entre seus perninhas era que uma tinha uma dobra na
pele, e a outras duas... uma lembrança de que tinha tido algo ruim na sua
estrutura.
Na segunda-feira seguinte fomos à consulta com o cirurgião-
ortopedista. Ele olhou a menina e leu o relatório enviado por nosso
médico de família.
"Por que seu médico os enviou para cá?", perguntou enquanto
esticava as pernas de Joann.
"Ele suspeitava que o quadril direito dela estivesse deslocado",
falei.
O médico a examinou cuidadosamente mais uma vez, e sacudiu a
cabeça. "Não entendo. Esta menina não tem nada errado. Sua perna
esquerda se torce um pouco, mas isso não é anormal. Vocês não precisam
de mim. Para mim, esta menina está perfeitamente bem."
Nós estávamos encantados por escutar a confirmação de sua cura
da boca de um médico. E agora Joann comia normalmente; já não parava
para chorar.
Na sexta-feira, uma semana depois de Joann ser curada, voltamos
ao médico da família. Perguntou-nos o que tinha acontecido e por que
havíamos retornado tão rápido. Lhe contamos toda a história, sem omitir
nenhum detalhe.
Durante todo o relato, o doutor nem sequer piscou, mas continuou
examinando Joann e fazendo anotações. Repetimos o que o outro médico
havia dito. Ele girava a perna, para a frente e para trás, para um lado e
para o outro, o mesmo exame que lhe tinha feito na semana anterior.
Com um gesto, indicou a Rose que seu exame estava concluído e
que podia vestir Joann. Em seguida, se sentou e se recostou para trás.
"Bom, as crianças mudam", disse. Mas logo completou; "Mas não tão
rápido. Isso tem que ser de Deus."
Nós estávamos extasiados de gozo. A cura era completa, e até o
medico dava a glória a Deus.
Agora, anos mais tarde, faço parte da equipe de um dos centros
médicos mais importantes do mundo. E, como tal, não vejo nenhum
conflito entre a medicina e a cura divina. O médico não cura. Pode
prescrever um medicamento, mas esse medicamento não troca os órgãos;
só melhora a maneira como eles funcionam. Toda cura vem de Deus. Os
cirurgiões podem cortar os tecidos ou as células doentes, o que algumas
vezes permite que o organismo se cure mais rapidamente. Mas nenhum
cirurgião pode entrar no corpo e curar. Ele só costura o corpo, depois de
terminar seu trabalho. Quem cura é Deus.
Deus nos proveu de uma grande quantidade de medicamentos
maravilhosos, técnicas cirúrgicas, ortopédicas, a capacidade de cuidar dos
doentes... e o cristão tem o benefício adicional de poder ver além do que o
médico pode fazer: ele pode ver o que Deus pode fazer.
Alguns de meus colegas médicos sinceramente acreditam que isto
não é assim. Outros, igualmente sinceros, vão além e negam a existência
de Deus. Mas quando enfrentam o fato de que alguns de seus pacientes
"incuráveis" são curados quando se voltam para Deus, ficam
desconcertados.
Para alguns pode parecer estranho que um homem de ciência,
dedicado a ser intelectualmente honesto, possa ignorar esta maneira de
curar. Mas as coisas do espírito não são como as da mente natural. Na
verdade, a mente natural é inimiga da espiritual. Qualquer pessoa, até um
cientista muito capacitado, que não quer enfrentar o fato de que está em
rebeldia contra Deus e necessita de Jesus Cristo, fará algo para anular a
mensagem da salvação de Deus. O mesmo acontece com o
reconhecimento do poder de Deus para curar. Entretanto, aqueles que
sinceramente desejam chegar ao conhecimento de toda a verdade,
finalmente chegarão a Jesus Cristo, "em quem", diz Paulo, "estão
escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento"
(Colossenses 2:3).
Foi somente nos últimos anos, depois de me unir ao corpo de
professores da Universidade Johns Hopkins como ajudante da cadeira de
medicina, que comecei a apreciar plenamente a grandeza da graça de
Deus ao curar a pequena Joann. Não foi minha fé, nem a de Rose, que fez
isso acontecer. Nenhum de nós tinha o tipo de fé necessária para
"reclamar" a cura. Foi a misericórdia de Deus; seu favor imerecido.
Quando fomos a essa reunião, tínhamos razões para esperar um
milagre. Tínhamos visto muitos outros que foram curados e, é obvio,
sabíamos que Deus ama as crianças. Mas, mesmo assim, não tínhamos a
fé que acreditávamos que era necessária para que um milagre assim se
produzisse. Mas sentimos que tínhamos que lhe dar a Deus a
oportunidade de tocar a nossa filha, deixando-a nas mãos dEle. E quando
a deixamos, a alcançou, a tomou e a curou.
Por meio deste milagre, aprendi a diferença entre a fé em Deus,
que a maioria de nós tem, e a fé de Deus (a mesma classe de fé que Deus
tem), que é um dom do Espírito Santo. A fé em Deus nos permite
acreditar que Deus fará algo maravilhoso. Mas, a menos que tenhamos a
fé de Deus, devemos fazer todo o humanamente possível primeiro,
acreditando que possivelmente Deus queira operar por meio da ciência
médica, e deixar o resto em suas misericordiosas mãos.
Muitas pessoas tentam obrigar Deus a fazer algo, vindo à sua
presença e quase exigindo que opere. Algumas vezes Deus honra tais
demandas, não porque tenha que fazê-lo, mas sim porque o comovemos.
Mas eu me sinto muito mais seguro dependendo de sua graça e de sua
misericórdia para satisfazer todas minhas necessidades.
Muitas vezes me perguntei se muitas das curas que presenciei não
seriam psicossomáticas. A partir de um estudo básico da natureza
humana, sabia que algumas provavelmente o foram. Mas uma bebê de
quatro meses de vida não sabe o suficiente para ter uma cura
psicossomática. O que vimos naquele dia no corredor do auditório
Carnegie, não foi um processo mental; foi puramente físico. E foi
instantâneo. Não há termos médicos que possam descrevê-lo, à exceção
da palavra "milagre".
Constantemente me perguntam: "por que tenho esta imperfeição?
Esta deformidade? Por que Deus permite doenças nas pessoas,
especialmente nos cristãos? Por que Joann teve essa imperfeição?" São
perguntas inquietantes, sobretudo para um médico. Realmente, não
tenho a resposta. Mas, no que concerne a Joann, estou absolutamente
convencido agora, embora não o estivesse então, que Deus permitiu que
sofresse dessa deformação em particular para que sua cura fosse um
testemunho dEle. Sentimos que, se Deus podia nos confiar uma menina
aleijada, tinha algo maior que queria nos confiar: o testemunho de seu
poder para curar.
Capítulo 5

Quando o céu baixa à Terra

Gilben Strackbein

Gilbert e Arlene Strackbein vivem em uma cômoda


casa se localizada entre os pinheiros de Little Rock,
Arkansas. Gilben é um bem-sucedido vendedor de uma
empresa de artigos para escritórios. Têm três lindas
filhas e participam ativamente do movimento do Espírito
Santo que está varrendo a nação. Mas nem sempre foi
assim. Esta é a história de Gil.

Certa vez, quando eu solicitava um emprego como vendedor, o


psicólogo da companhia me perguntou: "por que quer você este cargo de
vendedor?"
"Bom," respondi, "vender é o que sei fazer, o que sempre fiz."
"Isso é difícil de acreditar, senhor Strackbein", disse o psicólogo,
franzindo o cenho. "Normalmente, um vendedor tem que lhe gostar de
gente; mas segundo seu teste psicológico, você nem sequer gosta de si
mesmo."
Ele tinha razão, é claro. Realmente não me interessava se eu
gostava ou não das pessoas. Como vendedor, só estava interessado em
duas coisas: conseguir um pedido e sair dali em seguida.
Sempre tinha me afastado das pessoas. Meus pais eram alemães,
luteranos, muito rigorosos, do sul do Texas. Aprendi a falar inglês só
quando entrei na escola. Orgulhoso de minha herança, encontrava uma
grande satisfação em acreditar que minha mente alemã podia levar
vantagem em tudo o que fosse, seja mecânica, eletrônica ou lógica. Com o
passar dos anos, cheguei a acreditar que poderia fazer qualquer coisa, por
tão somente me propor a isso. Embora ganhasse a vida como vendedor,
passava todo meu tempo livre na oficina, fazendo coisas como montar
computadores.
Arlene tinha dezenove anos quando nos casamos. Depois que nos
mudamos para a New Orleans, ela começou a sofrer ataques de desmaios
e perdeu grande parte de sua energia. Mas eu simplesmente me neguei a
acreditar que ela estivesse doente.
A enfermidade, para mim, era sinal de fraqueza. Quando nossa
pequena filha, Denise, tinha três anos, decidi que Arlene precisava ter
outro filho. Isto lhe faria tirar da cabeça o que ela chamava "seus
problemas", pensava eu, e lhe daria algo construtivo no que pensar.
Mas a gravidez de Arlene não foi tão simples. Desde o início
surgiram complicações que exigiram muita atenção médica. Seus rins
apresentavam problemas que ameaçavam a ela e também ao bebê. Sofria
horríveis espasmos nas pernas, e para evitar o risco de um aborto
espontâneo, o médico ordenou que guardasse repouso... na cama, durante
sete meses. Irritado por esta demonstração de fraqueza de sua parte,
afastei-me ainda mais, tratando de ter o menor contato possível com ela.
Embora Arlene estivesse na primeira fase de uma terrível doença, eu não
tinha a menor idéia de que minha enfermidade espiritual era ainda pior.
Arlene tinha freqüentado uma Igreja Metodista, em New Orleans.
As senhoras de sua igreja, sabendo que ela tinha que enfrentar seu
problema sozinha, começaram a passar em casa para preparar o almoço,
já que o médico a tinha proibido de se levantar, a não ser para ir ao
banheiro. Se alguém a visitava quando eu estava em casa, eu abria a porta
e desaparecia pelos fundos. Embora detestasse que Arlene estivesse de
cama, me incomodava muito mais que as pessoas de fora interferissem
em nossas vidas tentando ajudar.
A gravidez complicada foi só o começo. Durante os anos seguintes,
sua condição piorou: fraqueza, espasmos musculares, infecções nos rins,
enjôos, visão turva. Melhorava e logo depois piorava novamente. Algumas
vezes, tinha fases em que sofria de falta de coordenação muscular, depois
da qual ficava com ainda menos energia que antes. Os médicos não
conseguiam descobrir o que estava errado, e eu continuava me negando
teimosamente a reconhecer que havia algo funcionando mal.
Numa noite, vim para casa à hora do jantar e encontrei a mesa já
preparada. Algumas senhoras da igreja haviam trazido uma refeição
completa, arrumado a mesa e ido embora. Sabendo como eu me sentia,
Arlene se levantou da cama para sentar-se à mesa comigo. Chegou até a
porta da cozinha e caiu no chão. Não estava inconsciente, mas era como
se todos os músculos de seu corpo tivessem deixado de funcionar ao
mesmo tempo.
Eu estava assustado. Queria fugir, mas sabia que não podia deixá-
la ali sozinha, caída no chão. Levantei-a, chamei uma vizinha para que
cuidasse de nossos dois filhos, e a levei rapidamente ao hospital.
Na sala de emergências, a enfermeira, que tinha trabalhado com
Arlene, começou a gritar: "Doutor, está sem pressão sangüínea!"
Os médicos vieram imediatamente para o seu lado. Foi necessário
um tratamento de emergência para que seu coração voltasse a bater.
Então, compreendi que minha demonstração de força era só uma
máscara. Ao enfrentar uma situação realmente impossível, não tinha
respostas. Odiei Arlene por sua fraqueza, mas me odiei ainda mais, por
ser incapaz de suportar a situação.
Uma noite voltei tarde para casa e encontrei Arlene semi-erguida
na cama, cochilando. Tinha um livro aberto sobre o colo: Creio em
milagres, de Kathryn Kuhlman.
Resmungando, peguei o livro, olhei a capa e vi uma dedicatória
escrita na primeira página por Tom e Judy Kent.
Eu conhecia esse casal: Judy tinha trabalhado no mesmo
escritório que Arlene, enquanto Tom estudava medicina em Tulane.
Agora ele trabalhava como médico na Califórnia.
Arlene acordou e me viu de pé junto à cama. "Tom me enviou
isso", disse sorrindo, apontando o livro com um gesto. "Disse que ele e
Judy estavam orando para que o Senhor fizesse um milagre de cura em
mim."
Sacudi a cabeça e lhe devolvi o livro. "Como é possível que um
médico acredite num lixo como esse?"
"Por favor, Gil", disse Arlene, com os olhos cheios de lágrimas.
"Não me tire minha fé em um Deus que faz milagres, só porque você não
crê. Tenho que acreditar em algo."
"Acredite em si mesma", falei. "É tudo o que tem que fazer para
sair dessa cama."
Mas embora Arlene pudesse se levantar, não conseguia manter-se
em pé. Tentava. Fazia valentes esforços para continuar, mas parecia que
sempre terminava no hospital.
Mudamos para Little Rock, Arkansas, onde comecei a trabalhar
para uma empresa de artigos de escritório. Em meu tempo livre eu fazia o
possível em não pensar na situação de Arlene, que se deteriorava
rapidamente. Me incomodava que, embora não pudessem diagnosticar
qual era seu problema, os médicos a fizessem retornar ao hospital a cada
poucos meses para lhe fazer novos exames e tratamentos.
Depois do nascimento de nossa terceira filha, Lisa, Arlene
começou a assistir a um culto nas noites de quinta-feira, na Igreja
Anglicana de Cristo. Wanda Russel, sua professora da escola dominical na
Igreja Metodista, vinha todas as quintas buscá-la, depois do jantar, e a
levava às reuniões. Eu achava que era uma tolice, mas pensava que Arlene
precisava passar algum tempo fora de casa. Assim, não neguei que fosse...
até uma noite em que voltou mais tarde que de costume.
"Arlene, por que quer ir à reunião de uma Igreja Anglicana?
Temos a Igreja Metodista mais perto."
Arlene caminhou fracamente até o sofá e se sentou. "Essa Igreja
Metodista não acredita na cura divina", disse.
"Está me dizendo que esteve assistindo a cultos de cura?"
Arlene simplesmente assentiu.
"Nenhuma pessoa inteligente acredita nessas coisas", falei
firmemente. "É tudo superstição. E não quero que minha mulher seja
vista com esses charlatães."
Arlene tentou ficar de pé, mas suas pernas se negaram a mover-se.
"Por favor, Gil. Eu preciso. Não me tire isso."
"Ouça", falei com determinação. "Sei tudo sobre essas coisas.
Quando eu era menino, no Texas, havia uma Igreja Pentecostal perto da
minha casa. Íamos ali depois que escurecia, e espiávamos pelas janelas.
Tinham cultos de cura, e gritavam em idiomas estranhos, rolavam pelo
chão, gritavam, corriam pelo templo e caíam na plataforma como se
fossem animais feridos. Não vou deixar que minha esposa se meta em
tolices como essas."
"Oh, Gil", disse Arlene, com os lábios tremendo. "Não é assim. O
pastor Womble diz que ele acredita que Deus vai me curar."
"Me recuso a acreditar nisso de Deus", falei. Estava começando a
me zangar. "Esse assunto das curas não passa de uma tolice e eu a proíbo
de voltar lá."
Arlene se recostou para trás no sofá e fechou os olhos. Pequenas
lágrimas começaram a cair sobre suas bochechas.
"Você conheceu meu pai depois que Jesus entrou em seu coração.
Mas o que eu lembro dele, quando era uma garotinha, não é nada
agradável; ele era alcoólatra. Ficava louco quando estava alcoolizado. Não
tínhamos comida suficiente em casa porque o álcool era mais importante
para ele do que minha mãe ou eu. Mamãe tentou continuar com ele, mas
finalmente se deu por vencida. Quando eu fiz seis anos, nos mudamos
para o outro lado da cidade, e, num ataque de fúria provocado pelo álcool,
meu pai tentou arrombar a porta e me levar com ele. Mamãe e eu nos
abraçamos dentro da casa e ficamos orando e chorando até que ele se foi."
"Quando cresci, pensava que a coisa mais maravilhosa no mundo
seria ter um marido que amasse tanto a Deus como a mim. Para mim, ter
uma família cristã seria o céu. Pensei que tinha realizado esse sonho
quando o conheci, Gil. Mas você foi fazer o serviço, e quando voltou,
odiava a Deus. Não sei o que aconteceu com você."
Eu estava paralisado. "Você tem tudo o que precisa", exclamei.
"Vivemos em uma bela casa, numa boa vizinhança. Tenho um bom salário
e jamais lhe neguei nada, nem sequer cuidados médicos. Não me importa
que vá à igreja aos domingos. Nem mesmo a proíbo de dirigir o coro
infantil."
"Na verdade, não preciso de você, sabe?", me disse Arlene,
olhando diretamente na minha cara. "Quando eu era pequena, sempre
orava para que os anjos do Senhor me protegessem, e sei que o faziam.
Pode me proibir de ir aos cultos de cura, mas não pode me tirar meu
relacionamento com Deus. Ele é tudo de que preciso."
Ardendo de ira, saí da casa e me dirigi à oficina. Quando
finalmente voltei para me deitar, tinha passado da meia-noite. Apesar de
Arlene estar com o rosto enfiado no travesseiro; eu podia ouvir seus
soluços incontidos. Queria acariciá-la, tomá-la em meus braços. Mas ser
terno, doce, chorar... tudo isso seria sinal de fraqueza, e eu tinha sido
criado para ser forte. Na manhã seguinte, me levantei, preparei meu café
da manhã e saí de casa, sem me despedir sequer das meninas. Me odiei
por isso, mas não sabia agir de outra forma.
Embora estivesse ganhando muito dinheiro e ter recebido muitas
promoções, por dentro eu estava me deteriorando ainda mais
rapidamente do que Arlene se deteriorava fisicamente. Arrumava viagens
"de negócios" que duravam vários dias. Arlene suspeitava de minhas
infidelidades, mas eu racionalizava minha conduta permissiva,
justificando que ela não era capaz de satisfazer minhas necessidades. O
álcool tranqüilizava minha consciência, e gradualmente foi se
convertendo em um companheiro constante.
A saúde de Arlene piorou depois do nascimento de Lisa. Ela já
tinha sido internada no hospital mais de vinte vezes, com coisas como
problemas urológicos, mas isto agora era diferente. Sua pressão
sangüínea subiu a mais de vinte, e seu braço esquerdo ficou parcialmente
paralisado; não podia fechar a mão. O médico que a atendia chamou um
neurologista para realizar uma consulta. Disseram que poderia ter um
tumor cerebral.
Três dias depois, no corredor, fora de seu quarto no hospital, o
doutor me disse o que acontecia. "Suspeitamos que pode haver um tumor
no cérebro, senhor Strackbein. Queríamos fazer um arteriograma, mas
Arlene tem apresentado reações alérgicas a todas as tintas que usamos em
radiologia. O próprio exame poderia matá-la. Eu não gosto disso, mas
teremos que esperar para ver o que acontecerá."
Engoli em seco e percebi que não podia encará-lo.
"Faremos o melhor que pudermos e o avisaremos se for necessário
operar."
Não era um tumor cerebral. O diagnóstico final revelou que era
uma enfermidade do sistema nervoso central; podia ser miastenia grave,
esclerose múltipla, ou ambas... e devia estar progredindo já a vários anos.
Permitiram que voltasse para casa, mas lhe recomendaram ficar
na cama a maior parte possível do tempo. Uma noite, enquanto eu assistia
TV na sala, ela apareceu cambaleando do dormitório. Seu rosto estava
macilento.
"Por favor, venha", disse-me. "Meu corpo todo está tremendo."
Quando apoiei minha mão em suas costas, senti os músculos
sacudindo-se em espasmos sob a pele. "Deite e relaxe", falei. "Se sentirá
melhor daqui a pouco."
Ela me olhou e voltou para quarto. Quinze minutos depois a
escutei levantar-se, caminhar para o banheiro... e gritar. Quando cheguei
até ela, estava caída no chão, inconsciente e sem firmeza alguma no corpo.
Quando a levantei, senti os músculos retorcendo-se debaixo da pele.
Então teve a convulsão. Sua coluna ficou rígida, e a cabeça foi
jogada violentamente para trás. Ao mesmo tempo, todo o corpo ficou
rígido e os olhos reviraram. A língua se enrolou para trás, obstruindo sua
garganta.
Consegui levantá-la do chão e repentinamente perdeu força uma
vez mais, ficando como um peso morto em meus braços. Levei-a ao
dormitório e chamei a nossa vizinha, Edna Williamson, para que cuidasse
das meninas enquanto eu levasse Arlene ao Hospital St. Vincent. Quando
terminei de fazer a ligação para o hospital, o corpo inconsciente de Arlene
estava sofrendo uma nova convulsão. O espasmo durou aproximadamente
um minuto e em seguida se acalmou. Momentos depois, começou outra
vez.
Edna chegou quando eu já tinha posto Arlene no automóvel. Foi
internada na UTI do hospital. Dois dias depois, tivemos o diagnóstico
definitivo. Era, sem dúvida alguma, esclerose múltipla, com a
possibilidade de que ter sido complicada por miastenia grave.
Fazia muito tempo eu havia dito a Arlene; "Um dia encontrarei
algo que eu não possa superar sozinho, e quando esse momento chegar,
vou me converter em uma pessoa melhor." Este era o momento. Sempre
tinha podido fazer todo o que quisesse. Se precisava de mais dinheiro,
podia sair e trabalhar seis horas extras por dia, mas o simples fato de ser
forte não curaria Arlene de sua esclerose múltipla. Eu tinha chegado ao
limite.
A trouxe novamente para casa e contratei a uma enfermeira
profissional que passava oito horas diárias com ela. Durante dois anos,
nos mantivemos com grande esforço, pagando US$ 137,50 por semana à
enfermeira, mais os medicamentos que custavam aproximadamente o
mesmo valor, mais as viagens adicionais ao hospital. Finalmente, recebi
uma ligação da companhia de seguros, dizendo que estimavam que sua
obrigação para conosco tinha sido concluída; de agora em diante teríamos
que custear tudo sozinhos.
Enquanto tudo isso acontecia, eu me fechei em mim mesmo
totalmente. Arlene tinha pedido o divórcio e eu, com minha típica lógica
alemã, não quis concedê-lo. Durante muitas noites, desejei poder sair de
mim mesmo e lhe dar o apoio que ela necessitava tão desesperadamente.
Como desejava poder abraçar minhas filhas e as trazer para perto de mim.
Mas não podia. Era forte, obstinado, e a muralha que tinha construído ao
meu redor era tão forte que nem eu podia escapar dessa clausura.
Um dia, ao sair do escritório, Dick Cross, que trabalhava em outra
seção, me deteve no elevador. Dick trabalhava para a divisão de Serviços
Diversos para Investidores, e disse que fazia tempo que queria me falar
sobre o investimento de recursos mútuos. Eu não tive como lhe dizer que,
nesse momento, isso era o que menos me interessava, então acabei me
comprometendo a recebê-lo em casa, na segunda-feira às 19:00. Sabia
que Arlene iria à fisioterapia nessa tarde, e esperava receber Dick, escutar
seu discurso de vendas, e mandá-lo de volta para sua casa.
Quando Dick chegou, expliquei-lhe brevemente qual era nossa
situação. Ele estava de saída, quando Arlene voltou. Depois de alguns
breves comentários, Dick disse de forma bastante direta: "Suponho que
sabe que a esclerose múltipla é incurável".
"Sei", disse Arlene. "Mas creio que Deus pode me curar."
"Eu também creio", disse Dick.
Eles se sentaram e conversaram sobre o poder de Deus para curar,
durante quatro horas.
"Este homem está completamente louco", pensei. "Não se pode
falar de coisas como estas, pelo menos entre pessoas inteligentes." Mas
Dick não era nenhum tolo. Era um bem-sucedido agente de investimentos
que, além disso, acreditava no poder sobrenatural de um Deus pessoal.
Era meu convidado, e embora eu tivesse vontade de expulsá-lo, não pude
fazer outra coisa, a não ser me sentar e escutar.
Arlene perguntou ao Dick sobre sua experiência pessoal, e sua
história foi quase mais do que eu podia compreender: Dick tinha sido
muito parecido comigo, tão imerso em seus negócios, que não tinha
consciência de que seu lar estava se desmoronando. Então, seu pequeno
filho, David, tinha sofrido um sério acidente enquanto andava de
bicicleta, que o deixou num estado muito grave, com um coágulo de
sangue no cérebro. Tiveram que chamar um neurocirurgião para ficar de
prontidão, caso fosse necessária uma cirurgia de emergência. Logo depois
de tirarem algumas radiografias, David sofreu uma série de convulsões e
entrou em coma.
"Sei que você não entenderá", disse Virginia, a esposa do Dick,
"mas chamei alguns amigos e estamos orando. Entregamos David nas
mãos do Senhor."
Dick disse que ele não sabia do que sua mulher estava falando.
Então lembrou que muitos anos antes, Virginia tinha confessado que
tinha ficado a ponto de suicidar-se, mas começou a assistir aos cultos de
cura na Igreja Anglicana, e tinha sido libertada espiritualmente.
Minutos depois de Virginia dizer essas palavras ao marido, o
médico apareceu no hall e disse que, embora David tivesse recuperado a
consciência, ainda seria necessário operar. Entretanto, sua melhoria era
franca e constante. Quarenta e oito horas depois, a crise tinha sido
superada. David tinha sido curado.
A partir desse momento, Dick se tornou crente. Sua fé em Deus
tinha crescido rapidamente, ao ver muitas outras pessoas curadas pelo
mesmo poder da oração.
Se eu não tivesse pessoalmente convidado Dick a vir à minha casa,
teria acreditado que esta conversa tinha sido preparada especialmente
para que eu a escutasse.
Ali, sentado, ouvindo a conversa dos dois, comecei a me dar conta
de que um de meus problemas, durante todos esses anos, tinha sido que
eu sempre tinha "sofrido" de lógica: queria explicar as coisas
cientificamente. Dick, por outro lado, operava sobre uma base totalmente
diferente: uma base de fé. Ele aceitava as coisas em fé, como diziam as
Escrituras. Algo tinha acontecido a Dick Cross. Tinha sido como eu, mas
agora era livre. Na verdade, até amava pessoas que nunca tinha visto
antes, como nós.
Enquanto a conversa entre Dick e Arlene continuava
animadamente, minha mente trabalhava em outras áreas. Estava
tentando definir, logicamente, é claro, quais eram minhas opções. Tinha
chegado ao limite. Ou admitia que não havia nada que eu pudesse fazer, e
me resignava a que Arlene morreria, ou punha minha confiança nos
médicos, ou admitia que havia um Deus que estava interessado nessa
situação. Não podia aceitar o primeiro; tinha comprovado que o segundo
não era suficiente, o que me deixava somente com a terceira opção. O que
eu faria com ela?
Dick Cross era diferente da maioria das pessoas que eu conhecia.
Nem mesmo tinha mencionado qual igreja freqüentava. Não tentava nos
convencer a nos juntarmos a uma organização. Só falava sobre Jesus e
sobre o poder do Espírito Santo. Quando se foi, eu já tinha decidido
iniciar uma honesta investigação sobre o poder de Deus.
Comecei de noite seguinte, depois do jantar, lendo a Bíblia. A
única Bíblia que tinha lido até então, era a versão King James. Mas
alguém tinha dado a Arlene uma versão em paráfrase. Muito depois que
ela tinha ido para a cama, eu continuava lendo suas páginas, tentando
comprovar as coisas que tinha escutado Dick dizer.
No início, pensava somente na cura de Arlene. Mas, quanto mais
lia a Bíblia, mais me apercebia de que também continha a solução para
minhas necessidades pessoais... essas que nunca tinha contado a
ninguém.
Dick e Virginia começaram a vir em casa regularmente. Embora
Dick tivesse se convertido há pouco tempo, esforçava-se por responder a
todas minhas perguntas. Finalmente sugeriu que fôssemos com eles à
aula da Escola Dominical, na Igreja Central da Assembléia de Deus.
Então retrocedi. As cenas que tinha visto naquela igreja em minha
infância ainda estavam vívidas em minha memória. Mas Arlene queria ir,
e finalmente aceitei. Entretanto, falei que se ela caísse no chão como eu
tinha visto acontecer com outros na igreja, eu simplesmente a deixaria lá.
O orgulho continuava ocupando o trono na minha vida.
A igreja da Assembléia de Deus era muito diferente do que eu
esperava. O professor que ensinou essa noite disse coisas que tinham
sentido para mim. Desenhou um pequeno círculo em um quadro-negro,
que conforme disse, representava a vida de um cristão. Nos rodeando,
assinalou, estava o poder de Satanás. À medida que crescemos em Cristo,
nosso círculo cresce, empurrando os poderes da escuridão, estendendo
nossa área e permitindo que conquistemos o terreno que Satanás tinha
dominado por longo tempo. Este terreno, disse o professor, continha
muitas coisas maravilhosas, como uma comunicação pessoal com Deus,
saúde para o corpo físico e limpeza para a alma.
Sempre tinha pensado que era nossa responsabilidade nos sentar
dentro de nosso pequeno círculo e "guardar a fortaleza". Agora via que
Satanás estava na defensiva, e que era nosso privilégio sair e possuir a
terra. Logicamente, tinha sentido. Nem sequer as portas do inferno
poderiam prevalecer contra o poder crescente, em expansão, do circulo.
Ao final do culto, o ministro fez um apelo para receber a Cristo.
Antes de que eu soubesse o que acontecia, Arlene e Virginia caminhavam
para a frente. Virginia ajudava Arlene a caminhar, para evitar que caísse.
Comecei a me sentir incomodado. Em vez de orar para que Arlene fosse
curada, o pastor pôs a mão sobre a cabeça de minha mulher e orou para
que ela fosse cheia do Espírito Santo. Comecei a ir para frente, mas Arlene
parecia estar em outro mundo. Virginia a sustentava (me perguntei se
Arlene tinha comentado com ela o que eu havia dito, sobre deixá-la no
chão se caísse), e da boca de minha esposa saíam palavras pronunciadas
em um estranho e melodioso idioma. Minha lógica venceu outra vez e me
neguei a aceitar o que ouvia. Esperei, e em seguida ajudei Arlene a voltar
para seu assento. O orgulho impediu que lhe perguntasse sobre a
experiência que tinha vivido. Deus ainda tinha que me quebrantar antes
que pudesse escutá-lo por mim mesmo.
Dick e Virginia começaram a nos trazer livros "carismáticos", quer
dizer, livros que falavam de curas, batismo no Espírito Santo, dons do
Espírito e salvação. Um deles foi o livro de Kathryn Kuhlman, Creio em
milagres. Arlene não teve coragem de contar que o tinha lido fazia alguns
anos. Como ela não enxergava bem, tive que lê-lo em voz alta, para ela.
Deus tinha uma linda maneira de quebrar minha dura couraça.
Uma noite, depois de Arlene ter ido para a cama, eu estava
sentado na sala lendo a Bíblia. Era começo de julho, aproximadamente
um mês depois da primeira visita de Dick a nossa casa. O ar condicionado
não funcionava e o calor era sentido em toda a casa... um calor como só
pode fazer no Arkansas. Mas o calor não me importava, só o desespero
que havia em meu coração. Finalmente, deixei de ler e pus o livro sobre
meus joelhos. "Senhor," orei em voz alta, "preciso de ajuda." Foi assim,
simples, mas era a primeira vez que eu orava pedindo ajuda em toda
minha vida. A partir desse momento as coisas começaram a mudar.
Mais dois ataques fizeram Arlene ficar totalmente fora de
circulação. O primeiro foi um bloqueio do coração que quase a matou; em
seguida uma insuficiência coronariana a mandou outra vez ao hospital,
pela segunda vez em menos de um mês. Entretanto, as coisas já tinham
começado a mudar.
Eu estava com Arlene no hospital, num domingo à tarde, em
meados de agosto. Dick e Virginia chegaram, trazendo com eles uma
amiga, Leanne Payne, que tinha sido professora de literatura no Wheaton
College, em Wheaton, Illinois, e agora estudava para outra profissão. Eu
não sabia nesse momento, mas eles tinham vindo para impor as mãos
sobre Arlene e a orar por ela. Como Dick não estava certo sobre como eu
reagiria ao fato de fazerem uma reunião de oração no quarto do hospital,
ele me convidou para tomar uma xícara de café, enquanto as mulheres
ficavam com Arlene, "conversando".
Encontramos uma mesa na cafeteria e quase imediatamente Dick
me contou que tinha sido "batizado no Espírito Santo". Disse-me que
tinha acontecido em um sonho, e depois, novamente, no dia seguinte,
enquanto estava acordado. Desde então, confessou-me, sua vida
transbordava de gozo.
Realmente não entendi o que me dizia. Só o que podia pensar
nesse momento era que Arlene estava lá naquele quarto do hospital, no
quinto andar, e que logo terminaria a hora de visita.
Tomamos o elevador para ir ao quinto andar. A porta do quarto de
Arlene estava fechada. Me detive um instante antes de entrar. Havia uma
estranha quietude. Os sons normais do hospital, os tons suaves das vozes
femininas na sala de enfermeiras, o som dos sapatos de borracha sobre o
chão de cerâmica, o chiado dos carrinhos que as enfermeiras levavam, os
alto-falantes que chamavam os médicos e enfermeiras, os sons das rádios
e televisões em outros quartos, todos tinham sido absorvidos por um
grande vazio de silêncio. Soube que Deus estava detrás dessa porta.
Empurrei-a e abri. Arlene, vestida com sua bata branca do
hospital, estava deitada na cama. Os fios do monitor cardíacos estavam
presos a seu corpo. Virginia, de pé à esquerda da cama, e Leanne à direita.
Tinham posto suas mãos sobre o corpo de Arlene e as três oravam
suavemente em um idioma que não pude entender.
Instantaneamente todos os pelos do meu corpo se arrepiaram.
Olhei meus braços; o pêlo estava arrepiado como os espinhos de um
porco-espinho. Era como se tivesse pisado em um cabo de alta voltagem,
só que não sentia choque nem dor; só uma poderosa corrente de poder
que percorria meu corpo.
As duas mulheres acabaram de orar e as acompanhei até o carro,
em baixo, onde Dick as esperava. Ainda sentia essa fonte de poder dentro
de mim, e continuei sentindo-a até depois de chegar em casa.
Meu primeiro pensamento foi que tinha me contagiado com
alguma doença estranha no hospital. Procurei em todos os dicionários
médicos que pude encontrar, esperando descobrir o que era o que causava
esse formigamento, o que fazia com que meu cabelo se arrepiasse. Não
encontrei nada. Mas, na quarta-feira, o assunto já não me importava,
porque compreendia que durante estes últimos dias me havia sentido
mais feliz do que nunca antes em minha vida. Essa noite, sentado outra
vez na sala lendo a Bíblia, deixei o livro ao lado, e falei em voz alta:
"Senhor, queres me dizer algo? Se for isso, terás que fazê-lo de forma que
eu possa entender".
Dick tinha me contado experiências de pessoas que tinham
"provado" a Deus. Isso era algo novo para mim, mas precisava descobrir.
"Senhor," falei, "sabes que faz dois anos que tenho estas dores na nuca. Se
estás tentando me dizer algo, podes tirar essa dor de mim? Fui para a
cama e, ao acordar na manhã seguinte, a primeira coisa que fiz foi pôr a
mão na nuca. Já não tinha dor alguma. Estava curado. Pela primeira vez
na minha vida, soube, realmente soube, que Deus era real, e que se
importava comigo.
Enquanto me barbeava, me olhando no espelho, também me
ocorreu que se Deus podia curar a dor de minha nuca, também poderia
curar a minha esposa. Foi tão repentino que quase cortei o queixo.
Nessa tarde, enquanto estacionava o carro em frente ao hospital,
os pelos de meu corpo voltaram para sua posição normal. O
formigamento também desapareceu. Isso me aterrorizou, e pensei que
certamente tinha feito algo que tinha desagradado a Deus. Mas, ao
terminar de estacionar, senti algo novo, ainda mais forte que o anterior.
Foi como se tivessem atirado um balde de ar quente em cima de mim.
Não houve trovões nem relâmpagos, e não escutei nada com meus
ouvidos. Mas dentro, muito dentro de mim, onde somente o espírito pode
ouvir, escutei uma voz que dizia: "Arlene ficará bem".
Foi então que soube. Não houve nem um instante de dúvida.
Soube com tanta certeza como se um anjo tivesse aparecido e se sentado
no capô do meu carro. Arlene seria curada.
Embora Arlene tivesse sido muito forte até esse momento, quando
cheguei ao quarto, a encontrei com o pior quadro de depressão que jamais
tinha visto. O médico tinha dado o relatório final. O padrão anormal de
seu eletroencefalograma e a insuficiência coronária não eram causados
pela esclerose múltipla. Voltou a surgir a forte suspeita de que poderia
estar sendo complicada com miastenia grave. Arlene estava mais fraca,
enxergava menos, e lhe era impossível ficar em pé sem ajuda. Mas em
meio a toda essa situação, eu tinha uma fé que não desapareceria. Sabia
que ela seria curada.
Arlene voltou para casa mais doente que nunca; já quase não
podia sair da cama, nem sequer para ir ao banheiro. Até suas amigas, que
tinham sido muito otimistas, pareciam deprimidas. Seu estado piorava
cada vez mais.
Um mês depois, eu estava no escritório e soou o telefone. Era
Arlene. "Gil, Katrhyn Kuhlman estará em St. Louis na terça-feira que vem.
Queria ir."
A lógica me dominou rapidamente e comecei a enumerar as razões
pelas quais era impossível que ela fosse a St. Louis. Estava a 650 km de
distância. Não havia nenhuma cidade grande entre Little Rock e St. Louis,
caso precisasse ir a um hospital. Arlene devia ficar próxima de dois
especialistas que a atendiam aqui, em Little Rock. E se tivéssemos
problemas com o carro e precisássemos nos deter em algum lugar da
rota...?
Quando terminei, só o que escutei do outro lado da linha foi o
suave soluçar de Arlene. "Por favor, Gil, é minha vida..."
Senti que voltava a entrar em minha couraça. Em vez de me irar,
falei simplesmente: "Falaremos sobre isto quando eu chegar em casa."
Essa noite, Arlene na cama e eu sentado em uma cadeira a seu
lado, ela me contou que no começo dessa semana Edna Williamson tinha
ido visitá-la. Ao ver o livro "Creio em milagres" que Arlene tinha, Edna
disse: "Sabe, tenho outro livro de Kathryn Kuhlman, "Deus pode fazê-lo
outra vez". Quer trocar comigo?"
Envergonhada de lhe dizer que ela já não podia ler, Arlene aceitou
a troca. Na manhã seguinte Edna voltou. Ela e Arlene começaram a falar
sobre milagres, e por que estes não aconteciam em Little Rock. Arlene
disse que achava que o fato de ter um ambiente de fé ao redor ajudava
muito. Nem mesmo Jesus pôde realizar milagres em sua cidade natal,
porque as pessoas diziam: "Não, não". Minha esposa disse ainda que ela
também acreditava que jamais estaria em um culto em que todas as
pessoas estivessem em um mesmo espírito, esperando, acreditando que
Deus a tocaria e a curaria.
Nesta manhã, Virginia Cross entrou e despejou a notícia como
uma bomba: "Kathryn Kuhlman vai realizar um culto de milagres na
próxima terça-feira em St. Louis."
Arlene jamais tinha estado em uma dessas reuniões, assim não
tinha a menor idéia de quão difícil seria entrar. Estava decidida a ir.
"Creio que Deus está me dizendo para ir a St. Louis", afirmou.
"É possível que Deus lhe tenha dito que vá," falei, "mas não me
disse que a levasse."
Assim que pronunciei estas palavras, todos os pelos de meu corpo
se arrepiaram outra vez. Tentei falar, mas minha língua se negou a mover-
se. Finalmente, com a boca e os olhos muito abertos, limpei a garganta e
com uma voz que parecia vir do outro extremo da casa, falei: "Está bem,
iremos".
O rosto de Arlene refletia uma mistura de alegria e surpresa. "Oh,
Gil..." Mas eu já estava de pé, e saía cambaleando do quarto.
Já sabia que seria melhor não discutir mais. Estava na presença do
Senhor! Saímos no domingo à noite, depois que voltei do trabalho. Arlene
ia jogada no banco de trás do carro. Passamos a noite em Poplar Bluff,
Missouri, e chegamos a St. Louis aproximadamente ao meio dia de terça-
feira. Eu não conhecia nada da cidade, por isso seguimos a estrada até o
centro da cidade. Saímos na Market Street, e de repente nos encontramos
em frente ao auditório. A reunião começaria às 19:00, mas já havia uma
grande quantidade de gente esperando diante das portas fechadas.
Comecei a temer que nos tivéssemos arrojado a fazer mais do que
podíamos. Mas Deus tinha ido diante de nós. O Hotel Holiday Inn da
Market Street nos deu seu último quarto vago. Minutos depois, Arlene
descansava comodamente, e o gerente do hotel tinha prometido nos levar
em seu carro ao auditório, às 16:30. Era um dia úmido e tremendamente
quente em St. Louis, com uma temperatura de aproximadamente 40°. Eu
havia trazido um par de cadeiras de jardim, mas não foram de grande
ajuda. Arlene tinha estado de cama desde seus primeiros problemas de
coração, em julho, e estávamos a 19 de setembro. Nos últimos dias, não
saía da cama nem para comer, mas aqui estava, a mais de 600 km de casa,
sentada em uma cadeirinha de jardim na calçada, debaixo do sol ardente.
Eu temia que não chegasse a entrar no auditório.
As pessoas que esperavam junto a nós perceberam o estado de
saúde de Arlene. Ao contrário do que costuma acontecer quando há
aglomeração na entrada de um estádio de futebol, ali as pessoas se
alternavam para protegê-la do sol e lhe trazer bebidas geladas. As portas
laterais onde se alinhavam as cadeiras de rodas foram abertas às 18:00.
Fui falar com o ajudante que estava encarregado da entrada e lhe roguei
que deixasse Arlene entrar também. "Lamento, amigo, tenho ordens
estritas. Só quem está em cadeiras de rodas podem entrar agora." E
fechou a porta com firmeza. O desespero e a frustração de antigamente
começaram a crescer dentro de mim outra vez. O estado de Arlene
naturalmente requeria o uso de uma cadeira de rodas, mas seu temor de
tornar-se muito dependente dela tinha evitado que lhe comprasse uma.
Quis fugir. Não podia suportar a visão de todas estas pessoas que sofriam.
Eram como aqueles doentes que se amontoavam junto ao tanque de
Betesda. Mas, apesar de doentes como estavam, cantavam e se ajudavam
mutuamente, cheios de gozo. Voltei para junto de Arlene, decidido a não
sair do seu lado.
Dez minutos depois, as portas se abriram, e a maré humana que
corria para o interior nos arrastou. Eu nunca tinha visto nada como
aquilo. Momentos depois estávamos sentados exatamente no centro do
enorme auditório. Um imenso coro já estava sobre a plataforma,
ensaiando, e até os assentos pareciam ferver de expectativa e poder. A
senhorita Kuhlman, com um vestido branco e vaporoso de mangas largas,
estava parada no centro da plataforma. "O Espírito Santo está aqui",
sussurrou, em voz tão baixa que tive que me esforçar para escutá-la.
Enquanto esperávamos, aconteceu outra vez: esse silêncio que tinha
experimentado no corredor do hospital, pareceu assentar-se sobre o
imenso auditório. Na massa humana que ocupava o lugar deve ter havido
tosses, pés arrastando, ruídos de papéis... mas eu não escutei nada disso.
Estava envolvido por um suave manto de silêncio.
A senhorita Kuhlman estava de pé no centro da plataforma, com a
mão esquerda levantada, seu dedo indicador apontando para o céu. Sua
mão direita descansava suavemente sobre uma velha e gasta Bíblia
apoiada sobre o púlpito. E havia silêncio, um silêncio como o que
certamente haverá no céu depois de ser aberto o sétimo selo.
A senhorita Kuhlman não era absolutamente o que eu tinha
esperado. Era cálida e amigável, informal. Recebeu as pessoas e os fez
sentir à vontade, como em casa. Depois se virou para a lateral e moveu os
braços enquanto apresentava o seu pianista, Dino.
"Sabe quem é?", perguntou Arlene enquanto o arrumado jovem de
cabelos escuros se sentava ao piano. "Certa vez quis escutar boa música de
piano e telefonei à livraria batista. Eles me enviaram algumas gravações
do Dino. Todo este tempo escutei sua música, e nem sequer sabia que
acompanhava Kathryn Kuhlman."
A senhorita Kuhlman começou a pregar, mas não era como
nenhuma outra pregação que eu tivesse escutado antes. Falava sobre o
Espírito Santo como se fosse uma pessoa real. Enquanto escutava,
comecei a compreender que ela não somente o conhecia pessoalmente,
mas também andava com Ele dia a dia. Não era estranho que fosse tão
real para ela; O conhecia melhor do que a qualquer homem no mundo.
De repente, se deteve, com a cabeça inclinada como se estivesse
escutando. Estaria escutando o Espírito Santo? Esforcei-me para ver se eu
também podia ouvi-lo. Então ela levantou o braço e apontou para cima, à
esquerda.
"Há alguém ali em cima, nessa seção, que acaba de ser curado de
câncer no fígado."
Virei-me em meu assento e olhei para cima. Era mesmo o Espírito
Santo quem lhe havia dito isso? Ele fala às pessoas de forma que possam
saber coisas como essas?
Todo isso e as curas acontecia tão rapidamente que minha cabeça
dançava. As pessoas começavam a descer pelos corredores, indo para a
plataforma para testemunhar do que tinham sido curadas. Quando
recebeu o primeiro homem, Kathryn Kuhlman agiu como se tivesse sido o
primeiro milagre que tinha visto em sua vida. Certamente, pensei, esta
mulher viu centenas de milhares de pessoas curadas, mas está tão
entusiasmada como se fosse a primeira vez. É este o segredo de seu
ministério, que não perdeu a capacidade de maravilhar-se?
A senhorita Kuhlman falou com o homem por um momento e em
seguida começou a orar por ele. "Pai Santo...", disse, e o homem caiu no
chão. O mesmo aconteceu com a segunda pessoa que passou à
plataforma. E a seguinte, e outra mais. Tentei compreender todo
logicamente, mas o que acontecia desafiava toda a lógica. Era como se
Deus estivesse me dizendo: "Há algumas coisas que você não pode
compreender, e o poder de meu Espírito Santo é uma delas."
À medida que o culto prosseguia, algo acontecia em meu interior.
Estava me suavizando. Como uma dura esponja colocada debaixo da
água, senti que me tornava muito brando e suave. Meus olhos se
encheram de lágrimas, e comecei a orar por outras pessoas, que eu não
conhecia, no culto. Enquanto orava, senti que fluía o amor. Era uma
experiência nova e magnífica.
A seguir, minhas orações se concentraram em Arlene, que estava
sentada junto a mim, e roguei a Deus que a curasse. Em todos esses anos
de casamento, era a primeira vez que queria orar por ela. Tinha
acreditado que ela seria curada; sabia que Deus nos tinha guiado. Mas
nunca meu coração se abrandou o suficiente para sair de mim mesmo e
pedir ao Senhor que a tocasse e a curasse.
Quase instantaneamente Arlene se apoiou em mim.
"Sente a brisa? Sinto uma brisa", sussurrou ela, "uma brisa suave e
acariciante em todo meu corpo."
Olhei ao meu ao redor, mas não havia lugar algum de onde
pudesse vir a brisa. Deixei de lhe prestar atenção e olhei novamente para
a plataforma. Uma jovem sentada aproximadamente cinco filas de
assentos adiante tinha se virado para nós, e falou com Arlene. "O Senhor
está agindo em você?", perguntou, em voz tão alta que todos a ouviram
claramente.
Um pouco envergonhada, Arlene respondeu em um sussurro:
"Não sei".
A jovem, totalmente desconhecida para nós, perguntou: "Qual é
seu problema?"
"Lhe diga que tenho esclerose múltipla e problemas de coração",
sussurrou Arlene à senhora que estava sentada junto dela.
A jovem não ficou satisfeita com isso. Continuou enviando
mensagens. "Lhe pergunte como se sentia quando entrou."
"Mal tive forças para entrar", disse Arlene.
"Lhe pergunte como se sente agora", disse a jovem, quase
gritando.
Essas interrupções já estavam começando a me incomodar, e me
voltei para pedir a Arlene que se calasse.
Ela olhava suas mãos, atônita. "Os tremores", murmurou com voz
trêmula. "Desapareceram. Já não estou inflamada. Vejo bem. Meus olhos
estão bem outra vez."
A jovem estava muito entusiasmada, inclinando-se sobre as
pessoas da outra fila.
"Tem que ir à frente," gritou, "e aceitar sua cura."
No mesmo momento Arlene ficou de pé, passou por cima de mim,
pisando nos pés dos que estavam no caminho, saindo da fileira de
assentos para o corredor. Quase sem fôlego, eu também compreendi que
ela tinha sido curada.
Segui-a com os olhos enquanto descia pelo corredor para a frente.
Um obreiro a deteve por um instante, e logo lhe fez gestos para que
continuasse. Arlene subiu as escadas até a plataforma como uma mulher
normal. Os espasmos, os tremores, as convulsões tinham desaparecido.
Como o homem junto ao tanque de Betesda, tinha esperado que um anjo
movesse as águas para que ela pudesse entrar... até que finalmente
compreendeu que não precisava do tanque; só precisava de Jesus. Tinha
sido curada por Sua mão.
A plataforma estava cheia de gente e o culto estava para terminar.
Arlene não conseguiu chegar ao púlpito para atestar de sua cura. Mas não
importava. Enquanto o majestoso coro começava a cantar, Arlene parou
na outra extremidade do cenário, apoiada contra o piano, e com o rosto
luminoso, sua voz se uniu às do coro cantando as palavras do velho hino:

"Embora Satanás me sacuda e venham as provas, esta


bendita confiança terei, que Cristo viu meu estado de
angústia e seu sangue verteu por minha alma."

O culto tinha terminado, Kathryn Kuhlman já saía da plataforma,


mas ao passar junto a Arlene se voltou ligeiramente e esticou a mão em
um gesto de oração. Instantaneamente Arlene caiu no chão. Mas desta vez
eu sabia que não era pela esclerose múltipla, mas sim pelo poder de Deus.
O auditório estava cheio de música. Milhares de pessoas entoavam
uma e outra vez "Aleluia", com as mãos levantadas. Nunca tinha visto
ninguém elevar as mãos assim, mas, antes que pudesse entender, minhas
mãos também estavam no alto, fazendo o mesmo que eles faziam: louvar
ao Senhor.
Finalmente Arlene conseguiu voltar para seu assento. Parecia que
ninguém queria ir embora. As poucas vezes que eu tinha ido a igrejas, mal
o pastor dizia "Amém", as pessoas saíam correndo para a porta. Mas essa
gente não queria ir. Queriam ficar, abraçar-se e cantar. Pessoas que eu
absolutamente não conhecia vinham e me abraçavam. Todos diziam:
"Louvado seja o Senhor!", e "Aleluia!"
Estávamos a sete quadras de distância do hotel, e o gerente tinha
prometido vir nos buscar se o chamássemos por telefone. Arlene sorriu.
"Vamos caminhando", disse. E fizemos isso.
Ao voltar para o quarto, lembrei-a que devia tomar seu remédio
anti-convulsivo. Se não o fizesse, poderia sofrer convulsões que a
matariam antes da noite chegar.
"Creio que Deus verdadeiramente me curou", disse, olhando os
frascos de remédios, "e não preciso mais disso."
"Isso é entre você e o Senhor, querida", falei.
Não tomou o remédio... e não voltou mais a tomá-los.
Uma semana depois Arlene literalmente irrompeu no consultório
de seu neurologista. Na semana anterior quase tivemos de levá-la de
maca. O médico a olhou e exclamou: "Algo lhe aconteceu! O que foi?"
"Fui curada, doutor", disse ela. "Fui a um culto de milagres em St.
Louis. Sabia que você me proibiria isso, assim fui ao Chefe Máximo, e
perguntei a Ele."
O médico reconheceu que tinha acontecido algo maravilhoso.
Examinou os reflexos de Arlene, sua visão, até a fez saltar pelo consultório
para observar sua coordenação. Finalmente voltou para seus papéis
sacudindo a cabeça.
"Em meus vinte e cinco anos de prática da medicina, vi só três
casos que não tinham explicação médica. Sei que há possibilidade de
remissão da esclerose múltipla, mas isto é outra coisa. Tem que ser de
Deus."
Juntos riram alegremente.
"Não sei o que fez você, ou o que está fazendo", adicionou ele.
"Mas seja o que for, continue fazendo. E não esqueça de agradecer a Deus
todas as noites."
Parecia que a cura de Arlene seria o clímax de nossas vidas. Mas
foi só o começo. Três meses depois, entrei na plena dimensão do poder do
Espírito Santo. Estava em uma pequena reunião doméstica de oração, e o
líder falou sobre a ocasião em que Pedro, impulsionado pelo Senhor,
caminhou sobre as águas. Em seguida disse: "Todos temos duas opções.
Ou ficamos tranqüilos em nosso bote, ou saltamos à água e vamos para
Jesus. Se não o tiver feito antes, este é o momento de saltar."
E eu saltei. Literalmente! Saltei de meu assento, e aterrissei com
ambos os pés no centro do aposento.
"Eu quero", falei. "Quero agora." E o dizia a sério.
Alguém trouxe uma cadeira. Sentei-me, e em seguida todos
ficaram ao meu redor e impuseram suas mãos sobre mim. Um pastor
batista, de voz suave e cabelos brancos, começou a orar, e nesse momento
minha vida deu uma reviravolta total. Ao contrário daquelas primeiras
experiências em que o Espírito Santo veio sobre mim, fazendo que todos
os pelos do meu corpo se arrepiassem, desta vez Ele veio dentro de mim...
e a mudança foi permanente.
Em outra noite, sentados à mesa antes do jantar, em família,
tivemos nosso tempo de oração costumeiro. Cada um leu um versículo da
Bíblia, demos as mãos, e em seguida, um por vez, oramos de forma
individual. Ao terminar, vi que Arlene tinha lágrimas nos olhos.
"Faz muito tempo, Gil," disse-me suavemente, enquanto nossas
filhas escutavam, "eu lhe falei que, para mim, ter uma família cristã, com
o pai como sacerdote do lar, seria o céu. Mesmo que não tivesse sido
curada, só o fato de fazer parte desta maravilhosa família teria valido a
pena. Realmente o céu baixou à Terra."
Arlene tem razão. O céu baixou à Terra. Cada reunião da família se
converte em um culto de adoração. Arlene e eu nos alternamos para
ensinar em uma classe bíblica em nossa Igreja Metodista, e cada vez vêm
mais gente. Creio que estão como nós estávamos, desejosos de ouvir falar
sobre o poder do Espírito Santo, que não só cura corpos doentes, mas
também maridos doentes.
Capítulo 6

Diga às montanhas

Linda Forrester

Linda e John (Woody) Forrester vivem em Milpitas,


uma zona residencial ao sudeste da Baía de São
Francisco, na Califórnia, ao pé do Monument Peak.
Woody é programador de computadores na vizinha
cidade de San Jose. Têm duas filhas, Teresa e Nanci.

A montanha sempre esteve ali. Ergue-se como um monumento


solitário, oitocentos metros acima da bacia da Baía de São Francisco. No
inverno, às vezes está coberta de neve; no verão, uma grama amarronzada
cobre alguns setores. Está a menos de 16 km de nossa casa, em terreno
plano, e muitas vezes as nuvens ou o smog a cobrem parcialmente, mas
sempre está ali, perfilando-se ameaçadora diante de nós.
Os nascidos ao sul da baía aparentemente não lhe dão
importância. A chuva a erode. O Sol faz brilhar seus perfis nus. Algumas
poucas almas valorosas sobem até seu cume. Simplesmente está ali, e
sempre estará. Nada pode tirá-la. É como a doença. Desde que Adão
pecou, a doença esteve sempre conosco. O homem aprendeu a viver com
ela. Alguns tentam escondê-la, fingindo que não está ali, ensinando que a
doença não existe. Outros a ignoram, com a esperança de que não tocará
sua casa. Muitos tentaram conquistá-la por meio da medicina e das
pesquisas. Quase todos a aceitam, entretanto, como aceitam a montanha
que domina a paisagem e que desafia a quem tenta lançá-la ao mar.
Eu era um dos que temiam a doença e tentava ignorá-la. Em nossa
família não se adoecia com freqüência. Se alguém adoecia, encontrávamos
alguma injeção ou um comprimido que o curava, até que Nanci adoeceu.
Desta vez, as coisas foram diferentes.
Nanci, nossa filhinha de quinze meses, tinha sido muito ativa
desde que começou a andar. Na verdade, nunca caminhava; ela corria.
Mas ultimamente tinha começado a agir de forma estranha. Caía com
freqüência, e de cada tombo ficavam feios hematomas. Chegou a ficar
coberta de hematomas, como se a tivessem espancado.
Em uma segunda-feira de manhã, em 1970, Nanci acordou com
uma febre muito alta. Comecei a lhe dar aspirina infantil, mas no segundo
dia a temperatura tinha subido a mais de 40° e não baixava. Liguei para
Woody em seu escritório, em San Jose, e me disse que a levasse ao
Hospital Kaiser, em Santa Clara. Nanci tinha nascido ali, e conhecíamos
vários médicos e enfermeiras.
Um jovem médico a examinou na sala de emergências. Encontrou
uma infecção nos ouvidos e na garganta, prescreveu alguns medicamentos
e nos enviou de volta para casa. Dois dias depois, a febre não tinha
baixado e a levei novamente ao hospital. Antes, sempre tínhamos
conseguido superar as doenças com remédios. Mas desta vez, a doença
parecia erguer-se diante de nós, inconquistável.
Durante a semana notei algo mais. Nancy tinha uma pequena
bolha de sangue na virilha. No primeiro dia em que a vi, tinha o tamanho
de uma cabeça de alfinete. Agora tinha crescido até ser do tamanho da
unha de meu dedo mindinho. O médico a observou, disse que
provavelmente seria um furúnculo que logo ficaria maduro, deu-nos mais
medicamentos e nos enviou novamente para casa.
Na manhã de sábado eu estava à beira do pânico. Apesar de toda a
medicação, Nanci estava pior que antes.
"Temos que levá-la outra vez ao hospital", disse Woody.
Teresa se sentou no banco traseiro e eu levei Nanci no colo até
chegarmos a Santa Clara. Ela sempre tinha sido inquieta e agitada. Desta
vez ficou em meus braços quase sem se mover, fraca demais até para
choramingar. Seu corpo ardia em febre.
O doutor Feldman a examinou brevemente com olhar preocupado.
"Este medicamento deveria ter controlado a febre. Também não gosto do
aspecto desse furúnculo. Leve-a ao andar superior para coleta de sangue,
depois voltem aqui e aguardem."
Depois de receber o resultado da análise, o doutor Feldman
apareceu novamente. Notei preocupação em seu rosto.
"Nanci tem uma anemia aguda", disse. "Quero que seja internada."
Isso me aliviou. Tinha temido que lhe dessem outra quantidade de
pílulas e xaropes e a mandassem de volta para casa. Achei que anemia não
era algo muito grave, e eu estava contente de que cuidassem dela no
hospital. A responsabilidade de cuidar sozinha de alguém muito doente
me assustava.
A médica de plantão na pediatria era a doutora Cathleen O'Brien,
que tinha atendido Nanci desde o nascimento.
"De tarde faremos um exame físico completo nela", disse. "Não
quero que fiquem aqui. Podem voltar às seis da tarde e então a verão."
Deixamos Teresa com uma vizinha e voltamos ao hospital ao
entardecer. Ao entrar no quarto de Nanci, tive um choque. Estava deitada
de costas no berço, com tubos espetados nos dois braços. Tinha os olhos
fechados.
A doutora O'Brien apareceu na porta.
"Linda, quero ver você e Woody em meu consultório. Temos
alguns resultados dos exames."
Senti meu coração dando pulos no peito enquanto a seguíamos
pelo corredor. A doutora O'Brien nos indicou duas cadeiras. Quando a
olhei e vi lágrimas em seus olhos, meu próprio temor quase se converteu
num grito.
"Esta tarde, depois de que vocês foram embora, Nanci perdeu
sangue pelo nariz, e depois evacuou duas vezes com sangue. Ainda não
fechamos o diagnóstico, mas há duas possibilidades: um tumor canceroso
tão expandido que é intratável, ou leucemia."
Woody prendeu a respiração e trincou os dentes. Segurei sua mão
e senti que começava a tremer.
"Oh, não", gaguejou. "Oh, por favor, não."
Eu queria chorar, mas Woody já tinha desmoronado. Eu sabia que
um de nós teria que manter um pouco de controle. Olhei para a doutora
O'Brien.
"Todos os sinais apontam para leucemia", disse. "Daqui a pouco
vamos fazer um exame de medula, mas se quiserem, podem vê-la
primeiro."
Voltei-me para Woody.
"Por favor, ligue para o pastor Langhoff. Pergunte se ele pode vir."
É estranho como as pessoas, assim como nós, vivem como se Deus
não existisse. Mas quando estamos frente a frente com a morte,
procuramos ajuda espiritual.
Eu tinha sido criada como católica romana. Quando conheci
Woody, depois de me divorciar, concordamos em adotar um meio termo
entre minha fé católica e sua fé evangélica, e nos unimos a uma Igreja
Luterana, em Milpitas. Mas raramente assistíamos aos cultos. Não
sabíamos quase nada de Deus. Nunca líamos a Bíblia nem orávamos. Mas,
ao enfrentar a morte, chamamos a única pessoa que conhecíamos que
supostamente conhecia Deus: o pastor Langhoff, da Igreja Luterana
Reformada.
O pastor Langhoff, que já era idoso, tinha estado muito doente. Na
verdade, saiu da cama para vir ao hospital essa noite. Nos ministrou como
um pai ministraria a seus filhos, e estava conosco quando a enfermeira
veio buscar Nanci e levá-la para fazer o exame de medula.
Eu sabia o que iriam fazer. Tinha visto a longa agulha que
inseririam no seu quadril para extrair um pouco de medula. Fiquei no
quarto, estremecendo ao ouvir seus gritos de dor.
Woody e o pastor tinham ido conversar no corredor. Eu estava
sozinha no quarto. De repente, pela primeira vez em minha vida, tive
consciência de uma presença espiritual, uma sensação de que o Filho de
Deus estava ali. Eu não conhecia a Jesus Cristo. Só tinha ouvido falar dele,
e não muito. Mas, por um momento, Jesus esteve naquele quarto comigo.
Meia hora depois, a doutora O'Brien voltou.
"Sinto muito", disse. "Definitivamente, é leucemia."
Caí no choro, mas quando notei a agonia de Woody, me recompus.
Não tinha ninguém a quem me agarrar. A doutora O'Brien disse que
poderíamos ficar todo o tempo que quiséssemos, mas eu tinha a horrível
sensação de que Nanci morreria naquela noite, e não queria estar ali
quando acontecesse. Queria fugir. Mas, para onde fugir quando a
montanha me rodeava por toda parte?
Saímos do hospital e fomos para casa. A lua estava saindo por
cima do Monument Peak, que se levanta sobre nossa casa, a leste. A
doença de Nanci era como essa sólida montanha. Podíamos gritar com
ela, chutá-la, cavá-la, pôr dinamite. Mas ali estava ela, irremovível.
Nossa vizinha nos ligou assim que chegamos.
"Como está Nanci?", Perguntou alegremente. "Espero que tudo
esteja bem."
"Não!" Gritei pelo telefone. "Ela tem leucemia."
Houve uma longa pausa; e em seguida, uma suave voz do outro
lado da linha me perguntou: "Quer que eu vá até aí?"
"Não", falei, recobrando o controle. "Precisamos ficar sós. Se
puder ficar com Teresa esta noite, a veremos de manhã."
Passamos a noite em casa, juntos mas solitários. Queríamos nos
aproximar um do outro, mas, despojados de toda superficialidade,
descobrimos que não nos conhecíamos. Éramos dois solitários mortais,
enfrentando uma situação impossível, deslizando lentamente pelo ralo.
Andei de quarto em quarto pela casa na semi-penumbra. Durante
longos momentos me detive na porta do quarto de Teresa, olhando sua
caminha branca apoiada contra a parede cor de lavanda. Será que Deus
me castigava por ter me divorciado? Teresa era filha de meu primeiro
casamento. Deus ia levar Nanci para me castigar? "Por que, Deus? Por
quê?", chorei. "Por que fez isso com minha filhinha? Ela é tão pequena,
tão indefesa. Por que é tão cruel e nos tortura dessa maneira?"
Voltei ao quarto de Nanci. A Lua se refletia por detrás do topo da
montanha no quarto pintado de amarelo brilhante, agora tão quieto e
desolado. A cama ainda estava desfeita. Me agachei e recolhi um patinho
de borracha do chão. Apertei-o, e assobiou. Mentalmente, lembrei as
centenas de vezes que Nanci o tinha apertado enquanto eu lhe dava
banho, e o patinho fazia borbulhas debaixo da água. Suavemente,
coloquei o patinho de borracha em uma prateleira e peguei o porquinho
de pele cor-de-rosa. Dei-lhe corda e começaram a soar umas singelas
notas: "Quando o ramo se quebrar, o berço cairá... Venha, neném..."
Comecei a gritar às paredes e saí do quarto para a cozinha. Woody
estava sentado à mesa, com o olhar perdido na escuridão. Eram quase três
da madrugada, e era impossível dormir.
"Temos que armar um plano de ação", disse Woody. Suas palavras
soavam ocas e mecânicas. "Temos que ser positivos. Não podemos deixar
que nossa atitude mental afete Nanci. Mesmo que por dentro estejamos
destroçados, temos que sorrir diante dela."
Que vazio, pensei. Que falso. Mas não tínhamos nada mais.
Concordamos que seria isso que faríamos.
Na manhã seguinte (era domingo), voltamos ao hospital.
"Está muito mal", admitiu a doutora O'Brien. "Mas é pequena, e
isso conta a seu favor. Deveremos conseguir que a doença retroceda logo.
Ainda assim, não devem abrigar esperanças."
"Quanto tempo ela tem?", eu quis saber. A pergunta soou
melodramática como num filme ruim.
"Se pudermos fazer com que a doença retroceda imediatamente,
poderia durar dois anos", disse a doutora O'Brien, esperançosa. "Mas
essas crianças duram um ano com a doença controlada e depois decaem
rapidamente."
Fomos ver Nanci. Estavam lhe dando uma transfusão de sangue.
Um hematologista viria de Stanford para ajudar a dar um diagnóstico
final. Nos disseram o que podíamos esperar: mais exames de medula,
muitas mais transfusões de sangue.
"Como morrem?", sussurrei.
Enquanto formulava a pergunta, percebi que mentalmente já tinha
transformado Nanci em um objeto, uma terceira pessoa que estava se
preparando para desaparecer.
A doutora O'Brien foi muito suave: "Geralmente, quando uma
criança pequena morre de leucemia, é devido a um ataque. Pode sofrer
um pouco, mas não será por muito tempo."
Woody e eu tínhamos freqüentado reuniões de Encontro
Matrimonial em nossa vizinhança. Nosso casamento tinha sido difícil, e
tínhamos chegado nesse nível de humanismo para tentar encontrar ajuda.
Um dos casais do Encontro ficou sabendo o que estava acontecendo com
Nancy e nos ligaram. Sua pequena filhinha acabara de morrer de
leucemia, e queriam vir para nos contar suas experiências.
Foi horrível, mas dissemos a nós mesmos que precisávamos saber,
para estarmos preparados para quando chegasse a morte. Contaram-nos
todos os detalhes: como as drogas tinham feito com que sua filhinha
inchasse, como tinha perdido o cabelo, sua intensa agonia, sua morte.
Contaram-nos o que podíamos esperar de nossas relações mútuas e com
nossa família. Em nenhum momento disseram algo que pudesse projetar
alguma esperança.
Os médicos tinham conseguido controlar a leucemia de Nanci. Na
segunda semana, estava em estado de remissão temporária, e as drogas a
manteriam assim até que se produzisse o ataque final, fatal, furioso. Mas a
bolha de sangue, que agora chamavam de úlcera de sangue, tinha crescido
até cobrir todo um lado da virilha da menina. Os médicos diziam que era
um "efeito secundário" da leucemia, e que continha uma bactéria que
poderia matá-la. Ironicamente, o único medicamento que poderia curá-la
era mortal para a maioria dos pacientes de leucemia.
Uma noite, depois de que Teresa fora dormir, Woody e eu nos
sentamos à mesa da cozinha. Tínhamos chorado até ficar sem lágrimas.
Finalmente, falei: "Woody, vamos fazer prova com Deus".
"Está querendo que a levemos a um desses que curam por fé?",
disse com desaprovação na voz.
"Claro que não", exclamei. "Essas pessoas não passam de
charlatães."
Woody estava perplexo.
"Pensei que havia dito que queria provar com Deus."
"Quero dizer que oremos", falei.
"Mas eu não sei como orar."
"Eu também não", falei, "mas temos que fazer algo."
Ele assentiu. Eu tomei sua mão e murmurei umas poucas palavras.
"Deus, por favor, que encontrem algo com que possam tratá-la."
Foi um começo tão fraco... como atirar pedras na montanha, com
a esperança de que ela se levantasse e fugisse. Mas era um começo, e na
manhã seguinte, quando chegamos ao hospital, a doutora O'Brien sorria
pela primeira vez.
"Boas notícias", disse. "Em Stanford descobriram uma droga para
tratar a úlcera. É um pequeno milagre."
O cirurgião do Kaiser abriu a úlcera, e a isto seguiram meses de
dolorosos tratamentos. Entretanto, Nanci melhorava.
O primeiro encontro com a oração me convenceu de que havia
mais poder ao meu alcance do que tinha imaginado. Comecei a orar
diariamente antes de visitar Nanci.
Então aconteceu algo. Uma de nossas vizinhas estava na mesma
associação de pais e mestres que eu. Uma tarde, depois de falar dos
assuntos da associação, ela me disse: "Sabe, Linda, Deus a ama, e ama a
Nanci".
Isso me tocou. Ninguém nunca havia dito isso de mim, e nem de
Nanci. Era um conceito novo e maravilhoso. Deus me amava, como
pessoa. E amava Nanci.
"A Bíblia está cheia de relatos de Jesus curando pessoas",
continuou dizendo ela. "A igreja em que vou não acredita que Jesus
continue curando hoje, mas eu acredito. Creio que se Deus te ama,
também pode te curar." Suas palavras foram como uma luz num quarto
escuro. Então comecei a abrir caminho para essa luz.
Muitos anos antes, durante a tramitação do meu divorcio, eu tinha
comprado uma Bíblia. Naquela ocasião eu achava que ter uma bíblia em
casa poderia me dar sorte. Agora compreendia que a Bíblia era muito
mais que um amuleto de boa sorte. Abri a gaveta de meu armário,
encontrei-a, e prometi a mim mesma que leria um capítulo por dia,
começando com o evangelho de Lucas.
Quase imediatamente, de meu subconsciente, um versículo do
passado me veio à mente. Não sabia onde buscá-lo, nem mesmo se estava
na Bíblia. Mas repetidamente, dia após dia, ele ressoava em minha mente:
" o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora".
Comecei a passar mais tempo em oração. Visitava Nanci no
hospital todas as manhãs, e logo depois do almoço, lia um capítulo da
Bíblia e orava, antes de Teresa voltar da escola. Aquele tempo se tornou
uma parte do dia muito importante para mim.
Certa tarde, minha vizinha me perguntou se já tinha ouvido falar
de Kathryn Kuhlman.
"Ela acredita em milagres", disse-me.
Encarei-a.
"Não me diga que você crê na cura pela fé", lhe falei cheia de
sarcasmo.
Sorriu docemente.
"Antes de julgar, por que não sintoniza seu rádio na KFAX?"
Confiei nela, e no dia seguinte voltei do hospital com tempo
suficiente para escutar a transmissão das 11:00. Gostei do que ouvi. A
senhorita Kuhlman falava de uma experiência que ela chamou "novo
nascimento". Embora eu não tivesse idéia do que ela estava falando, de
alguma maneira soava certo. Eu gostei especialmente de sua maneira
positiva e feliz de falar. Muitos de meus amigos eram negativos. Um
pastor com quem tínhamos falado no hospital até nos tinha sugerido que
"a morte é a melhor cura de todas". Eu precisava ouvir uma voz positiva,
que apontasse para a luz em vez das trevas.
Um dia, depois de escutar o programa, que durava meia hora, abri
a Bíblia para ler um capítulo de Lucas. Casualmente, era o relato da
crucificação de Jesus Cristo. Enquanto lia, fui inundada pela compreensão
profunda da verdade. Jesus tinha morrido por mim. Foram meus pecados
que o tinham levado à cruz. Ele tinha morrido porque me amava. Comecei
a soluçar. "Oh, Deus, lamento que tenha tido que morrer por mim."
Mas ao mesmo tempo que o dizia, um gozo e uma sensação de
bem-estar me inundavam interiormente. Era a sensação de ter tomado
um bom vinho, mas não estava em meu estômago, mas sim em meu
espírito. Então soube o que era. Eu tinha nascido de novo. Sentada na
poltrona verde da sala, gritando, chorando e rindo ao mesmo tempo, falei:
"Obrigada, Deus, por me salvar. Te amo! Durante anos soube que tinha
morrido por causa dos meus pecados. Agora sei que morreu por mim."
Nesse momento voltei à vida. Era uma nova criatura. Tudo em
mim tinha mudado. Ao mesmo tempo, a cura de Nanci se tornou algo
mais do que uma luzinha no fim do túnel; agora era como o Sol, uma
gigantesca bola de luz que inundava todo meu ser. Era possível. Deus
podia curá-la.
Nos dias seguintes terminei de ler o evangelho de Lucas e comecei
o de João. Certo meio-dia, depois de ouvir o programa da senhorita
Kuhlman na rádio e de orar, peguei a Bíblia e li o sexto capítulo de João.
Ali estava: "...o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora."
Junto com ele, veio outra revelação, tão assombrosa que eu estava
certa de que ninguém a tinha compreendido antes. Em nenhum lugar do
Novo Testamento se dizia que um doente tivesse ido a Jesus e Ele o
tivesse recusado. Ele curava a todos!
Parecia tão impossível... os médicos especialistas, meus amigos
que tinham perdido o seu filhinho, todos diziam que Nanci morreria. Não
havia esperança. Mas dentro de mim havia uma fé que surgia como uma
fonte no desolador deserto de minha vida. Era pequena como um grão de
mostarda, mas estava ali. Eu sabia que era tão impossível para mim achar
que Nanci seria curaria, como falar com a montanha e lhe ordenar que se
lançasse à Baía de São Francisco. Mas, a Bíblia não dizia que todas as
coisas são possíveis para Deus? Me agarrei a isso.
Tomei a decisão de confiar nele, embora não o entendesse, embora
não fizesse sentido. Deus teria de lhe dar novo sangue e uma nova medula
para seus ossos. Mas decidi confiar em sua Palavra, sem me importar com
o que os outros dissessem.
"Pai." orei. "Tu prometeste que o que vem a ti, não o jogarás fora.
Venho a ti com esta necessidade. Creio que serás fiel a tua Palavra." Foi
simples assim. Agora, só tinha que esperar.
Após cinco semanas os médicos nos deixaram levar Nanci para
casa.
"Ela não está bem", advertiram. "E não vai melhorar. Se tiverem
muita sorte, é possível que consiga viver mais um ano e meio. Mas depois
disso, a leucemia será mais forte que as drogas."
Os primeiros dias de Nanci fora do hospital foram terríveis. Dois
dias depois de trazê-la para casa surgiram úlceras nos lábios, que logo se
estenderam a toda a boca, gengivas e garganta. Os médicos
diagnosticaram escarlatina, complicada pelas drogas que estava tomando,
que provocavam sintomas parecidos. A úlcera (do tamanho de uma mão)
na virilha estava secando, mas tínhamos que limpá-la três vezes por dia
com água oxigenada. Logo depois da limpeza, devíamos prender as mãos
e os pés de Nanci às laterais do berço, e colocar uma lâmpada elétrica
acesa a curta distância da úlcera, para secá-la.
Uma enfermeira vinha duas vezes por semana para ajudar. As
coisas começaram a melhorar. Depois de seis semanas Nanci pôde mover-
se de forma um pouco mais independente, mas continuava sendo uma
garotinha doente.
Para Woody a situação era muito difícil de suportar. Ele via a
grande transformação ocorrida em mim, e não a compreendia. "Querida,
tem que controlar isto", me advertiu. "Não pode ficar se enganando dessa
forma. Quando Nanci morrer, isso vai deixá-la totalmente arrasada."
"Você não entende", eu lhe dizia. "Pela primeira vez sei que
poderei aceitar sua morte, se acontecer. Sei que Deus está com ela, e
comigo. Porém, creio que Deus a curará."
"Queria poder acreditar nisso", disse Woody, com os olhos cheios
de lágrimas. "Queria poder acreditar."
Certa tarde minha vizinha me ligou para me contar que Kathryn
Kuhlman estaria em Los Angeles para realizar um culto de milagres.
Também me deu um telefone onde poderia pedir informações.
A atendente da agência de viagens nos informou que a passagem
de avião ida e volta a Los Angeles custaria setenta dólares. Eu não tinha
esse dinheiro, mas ela disse que incluiria nossas reservas na lista de
junho, o mês seguinte, para o caso de conseguirmos reunir o dinheiro.
Janet, uma adolescente que vivia próximo, tinha sido babá de
Nanci desde que ela era um bebezinho. Um grupo, chamado Vida Jovem,
se reunia em sua casa às terças-feiras de noite. Quando souberam que
levaríamos Nanci ao culto de Kathryn Kuhlman, quiseram nos apoiar em
oração. Na terça-feira seguinte levei Nanci à casa de Janet, onde estavam
reunidos mais de cem jovens para participar do estudo bíblico.
Combinaram que, no domingo em que nós iríamos a Los Angeles, eles se
reuniriam na casa de Janet para orar e jejuar. Eles também criam que
Deus a curaria.
Na semana anterior à nossa partida para Los Angeles, fui a uma
livraria cristã em Fremont. Uma amiga me tinha recomendado vários
livros que queria que eu lesse, incluindo dois de Kathryn Kuhlman: Creio
em milagres e Deus pode fazê-lo outra vez. Enquanto estava ali olhei
alguns marcadores de páginas plásticos, procurando algum para usar em
minha Bíblia. Me chamou a atenção um deles, até que o comprei, sem
atentar ao versículo bíblico que estava impresso na parte de trás.
A caminho de casa, indo para o sul pela auto-estrada Nimitz,
repentinamente fui invadida por uma sensação desencorajadora. Que tipo
de tola eu era? Todos diziam que Nanci era incurável, mas aqui estava sua
mãe, comprando livros, juntando dinheiro para comprar passagens de
avião, pensando em levá-la até Los Angeles para assistir a um culto de
milagres de uma mulher que eu jamais tinha visto. Pus-me a chorar.
Saí da auto-estrada em Dixon Landing, e olhei para cima. Ali
estava a montanha, erguendo-se ameaçadora diante de mim. Era mais do
que eu podia suportar. Saí da rua, chorando.
Quando finalmente consegui controlar o choro, estiquei a mão
para o outro assento, procurando um lenço de papel. Ao fazê-lo, o cordão
do marcador que havia comprado enganchou em minha mão. Então li o
versículo que estava impresso. Não pude acreditar no que via. "Se tiverdes
fé como um grão de mostarda direis a este monte: Passa daqui para acolá,
e ele há de passar; e nada vos será impossível." (Mateus 17:20).
Olhei para a montanha e sorri em meio às lágrimas. "Saia do meu
caminho, montanha. Nanci vai ser curada."
Eu quase não podia abranger a imensa multidão que esperava no
auditório Shrine. Nos guiaram até uns assentos na parte de baixo. Fazia
calor quando chegamos, então tirei os sapatinhos de Nanci e pedi a
Woody que os segurasse. Nanci tinha ficado muito inquieta no avião. Não
tinha dormido nem um minuto e se dobrava e se retorcia enquanto
ocupávamos nossos assentos. Woody também estava incomodado.
"Você ficará muito bem" disse ele: "mas não vou agüentar ficar
sentado em um culto que dure quatro horas."
A reunião começou, e o magnífico coro começou a cantar. Então a
senhorita Kuhlman apresentou Dino. Eu adoro música, e esse elegante
jovem grego que acariciava o piano como se fosse um anjo acariciando
uma harpa, me fascinou.
Mas para Nanci nada disso interessava. Continuou se retorcendo e
gemendo. Durante os momentos mais quietos, quando Dino acariciava as
teclas do piano como com uma pluma, Nanci se pôs a chorar.
Imediatamente vi um obreiro parado no corredor, que se inclinava para
nós. "Senhora, terá que levar a menina para fora. Está atrapalhando as
outras pessoas."
"Levá-la para fora?" exclamei indignada. "estivemos
economizando dinheiro durante dois meses para vir até aqui, e você me
diz para sair!"
Olhei para Woody. Ele assentiu. "por que não a leva para caminhar
um pouco?", sugeriu. "Depois pode trazê-la de volta."
A ponto de gritar de raiva, mordi os lábios e saí cambaleando entre
as pessoas que estavam sentadas perto de nós, até chegar ao corredor.
Com uma mistura de vergonha e irritação, saí para o saguão.
Nanci já tinha quase dois anos de idade e era bastante pesada para
carregá-la, mas caminhei de um lado a outro com ela nos braços até que
se acalmou. Então voltei para meu assento. Minutos depois começou a
choramingar de novo. O obreiro apareceu novamente. Dessa vez não foi
muito amistoso. "Senhora," disse, "muitas destas pessoas fizeram muitos
sacrifícios e vieram de muito longe para chegar a esta reunião. Terá que
levar a menina para fora."
Bem, eu também tinha vindo de muito longe. Estive a ponto de
discutir, mas o obreiro fez um gesto direto com seu indicador, como
dizendo: "Fora!" Não quis fazer um escândalo, então peguei Nanci, e saí
pisando em pés e me chocando com os joelhos das demais pessoas, e me
dirigi novamente para o saguão. Estava furiosa.
"Esta é uma reunião cristã", resmunguei diante de um homem que
estava parado junto à porta. "Nem sequer se pode assistir a um culto de
cura com uma menina doente sem que a expulsem. Linda reunião!"
Caminhei pelo hall com Nanci nos braços. Woody estava com os
seus sapatinhos, e eu não queria que minha menina pisasse no chão sujo.
Fui para o banheiro. Continuei caminhando de um lado para o outro do
saguão. Quanto mais eu andava, mais furiosa ficava e mais Nanci gritava e
se retorcia. Não era justo. Nós tínhamos economizado dinheiro. Mas era
eu que queria ver Kathryn Kuhlman. E Woody, que nem sequer queria
estar aqui, estava confortavelmente sentado na reunião, enquanto eu
estava aqui fora.
Finalmente me sentei nos degraus.
"Bem, Deus", murmurei entre dentes, "se vais curá-la, certamente
será em outro dia, porque estando aqui fora, no saguão, nem mesmo
poderá nos ver." E me dei por vencida.
Pelo movimento que percebia do auditório, notei que certamente
já havia começado a parte das curas no culto. Nesse momento uma
senhora de meia-idade cruzou o saguão. Estava radiante de alegria. "O
que necessita?", perguntou-me.
Fiz um gesto apontando para Nanci, que se retorcia e reclamava
em meus braços. "Ela tem leucemia", falei. "E não posso entrar na reunião
porque grita e incomoda os outros."
O rosto da mulher se iluminou. "Querido Jesus, reclamamos a
cura desta criatura." A seguir, começou a agradecer a Deus. "Obrigado,
Senhor, por curar esta menina. Te louvo por curá-la. Te dou toda a
glória."
Oh, Senhor, pensei, este lugar está cheio de loucos. Mas não podia
negar o gozo e o amor que brotavam dessa mulher. Ela tinha fé suficiente
para acreditar que Nanci se curaria. Lentamente, minha amargura e
ressentimento começaram a dissipar-se, e enquanto ela estava ali, com
suas mãos ao alto, louvando a Deus, minha própria semente de mostarda
de fé começou a surgir outra vez.
"Sabe, há muita atividade lá dentro", disse ela. "por que não vem e
fica junto dessa porta? Dessa forma poderá ver, e se a menina começar a
queixar-se outra vez, pode voltar para o saguão."
Eu quase não podia acreditar no que via. Havia uma longa fila de
gente que subia por ambos os lados da plataforma. Todos atestavam que
haviam sido curados.
Nanci, que tinha estado lutando e revirando-se em meus braços,
aquietou-se. Começou a dizer repetidamente: "Aleluia!"
Aleluia? De onde ela tinha tirado essa palavra? De nossa casa,
certamente não. E eu não tinha ouvido ninguém dizê-la na reunião. Até
então, o vocabulário de Nanci tinha se limitado a "mamãe", "papai",
"queima", e "não".
"Vou voltar para meu assento", falei à mulher que estava ao meu
lado. Minhas costas doíam de carregar Nanci, e estava cansada de que
toda montanha que se interpunha em meu caminho me sacudisse a seu
bel prazer. Outra vez mais passei por sobre pés e joelhos e aterrissei junto
a Woody.
Minutos depois Nanci estava adormecida em meu colo. Escutei
enquanto a senhorita Kuhlman anunciava as curas que se produziam em
todas as partes do auditório.
"Um quadril. Alguém está sendo curado de uma séria afecção no
quadril."
"Alguém na parte alta do auditório está sendo curado de um
problema de coluna."
"Leucemia..."
Leucemia! As distrações quase me tinham feito esquecer o motivo
principal por que estávamos ali.
"Leucemia. Alguém está sendo curado de leucemia neste
momento", repetia a senhorita Kuhlman.
Então eu soube. Era Nanci. Comecei a chorar.
Não queria chorar. Tinha prometido a mim mesma que não teria
reações emocionais, mesmo que Nanci fosse curada. Mas não podia
evitar. Olhei para Woody. Estava com o olhar fixo para frente, mas por
baixo das lentes de seus óculos, podia ver as lágrimas.
Repentinamente, sem aviso prévio, Nanci me deu um chute no
estômago. Muito forte. Tinha a cabeça apoiada no meu braço esquerdo e
seu corpo estava colado ao meu. Estiquei a mão e segurei seus pés para
que não me pegasse de novo, mas então o senti outra vez. Desta vez notei
que seus pés não se moveram. A pancada havia partido do interior de seu
corpo. Foi um poderoso golpe de dentro dela que havia sentido contra
meu estômago.
Olhei seu rosto, geralmente muito pálido. Estava vermelha, febril,
coberta de suor. Algo estava acontecendo dentro de seu corpo. Ao mesmo
tempo, senti um calor e uma cócega que me percorria por inteiro. Já não
pude me conter mais. "Oh, obrigado, Jesus. Obrigado."
No caminho de volta ao aeroporto, só o que podíamos fazer era
chorar. Woody me advertiu de que não me entusiasmasse muito. "Se ela
está curada, só o tempo dirá", disse sabiamente. Eu sabia que tinha razão,
mas não havia como deter minhas lágrimas de alegria.
Na terça-feira seguinte fomos ver a doutora O'Brien para que
examinasse Nanci como vinha fazendo com regularidade. Contei-lhe tudo.
Ela escutou pacientemente, e notei que seus olhos se enchiam de
lágrimas.
"O que foi?", perguntei.
"Bom", disse ela com voz duvidosa, "o lugar que você me
descreveu, de onde veio a pancada, é onde se localiza o baço, um órgão
vital que tem um papel muito importante em sua doença."
"Você acredita que ela foi curada?", eu quis saber.
"Oh", disse ela, segurando meu braço, "queria acreditar de todo
coração."
"Por que não acredita, então?", perguntei.
"Porque nunca vi isso acontecer", respondeu. "É tão difícil
acreditar em algo quando nunca o vimos antes. Você entende, não é?"
É claro que entendia. Mas agora eu tinha olhos para ver o que não
tinha visto antes. Ao ficar de pé para sair, lhe falei: "No entanto,
aconteceu. O fato de que você nunca tenha visto uma montanha se mover,
não significa que não possa ocorrer."
A doutora O'Brien apalpou as costas de Nanci. "Não há exame que
possa comprová-lo agora. Só o tempo dirá se a cura é real ou não."
O tempo provou que era real. Dia após dia, a cor de Nanci
melhorou. Recuperou a vitalidade e o apetite. Deixamos de lhe
administrar as drogas. Todos os exames realizados nos últimos quatro
anos tiveram resultados negativos. Não há rastros da enfermidade em seu
corpo.
Embora a cura de Nanci tenha sido maravilhosa, a cura operada
em nosso lar e em nossas vidas foi ainda mais milagrosa. Falando de
montanhas que deviam ser movidas do caminho... A situação em nosso lar
era como uma cadeia montanhosa; dura, rochosa. Mas desde que Nanci
foi curada. Woody recebeu Cristo como seu Salvador pessoal e ambos
fomos batizados no Espírito Santo. Nosso lar, que certa vez esteve a ponto
de ser destruído pelo divórcio, agora recuperou a ordem divina.
Uma montanha de milagres! E tudo começou com uma fé tão
pequena como uma semente de mostarda.
Capítulo 7

Este é um ônibus protestante?

Marguerite Bergeron

Não pude conter as lágrimas ao contemplar o precioso


bordado que esta mulher do Canadá me havia entregado.
Cada ponto era um ato de amor, porque tinha sido feito
por mãos que certa vez estiveram dobradas e deformadas
pela artrite. A senhora Bergeron, que vive em Ottawa,
Canadá, era uma católica romana de sessenta e oito anos
de idade que nunca tinha entrado em uma igreja
protestante. Durante vinte e dois anos tinha sofrido de
artrite paralisante, tão grave que não podia manter-se
em pé durante mais de dez minutos. Seu marido,
incapacitado por uma afecção cardíaca, é o orgulhoso
possuidor de uma medalha que lhe fora entregue pelo
Primeiro-ministro do Canadá por ocasião de sua
aposentadoria, depois de servir durante cinqüenta e um
anos no serviço postal de seu país. Marguerite e seu
marido têm cinco filhos e vinte e três netos.

Em nosso pequeno apartamento no subúrbio de Ottawa tocou o


telefone. "Querida Maria, Mãe de Deus," rezei, "que não deixe de tocar
antes que eu chegue."
Fiz um esforço para sair da cadeira de balanço e me apoiei na
parede para obter equilíbrio, caminhando com dificuldade até a mesinha
do telefone. Cada passo me provocava espasmos de dor nos joelhos e nos
quadris. Fazia vinte e dois anos que sofria de artrite paralisante, e esse
inverno tinha sido o pior de todos. Não tinha podido sair de casa. O
intenso frio canadense tinha endurecido minhas articulações de tal forma,
que quase não podia andar. Até o simples ato de cruzar a sala para
atender ao telefone era mais do que podia agüentar.
Peguei o rosário e finalmente cheguei ao telefone. Meu filho Guy,
que vivia em Brockville, Ontario, disse: "Mamãe, conhece Roma Moss?"
Eu conhecia bem o senhor Moss. Estava muito doente de artrite,
como eu. Os médicos tinham soldado vários discos de sua coluna. Não
podia agachar-se, assim também não podia sentar-se. "Aconteceu algo
ruim?", perguntei-lhe, temendo o pior. Até falei em voz alta: "Está
morto?"
É estranho, agora que penso nisso. Nunca imaginei que pudessem
ser boas notícias. Eu sempre esperava más notícias. Depois de anos
ouvindo o médico dizer: "Você não vai melhorar; só ficará pior",
acreditava que todos os doentes pioravam automaticamente cada vez
mais, até morrer.
"Não, mamãe", disse entusiasmado Guy. "O senhor Moss não
morreu. Foi curado! Pode caminhar! Pode agachar-se! Já não sofre mais
de artrite!"
"Como é?", perguntei secamente. Em vez de me alegrar, me sentia
ameaçada. Por que ele se curava enquanto o resto de nós tinha que
continuar vivendo na dor?
"Ele foi a Pittsburgh, mamãe", a voz do Guy soou feliz no telefone.
"Foi a um culto de Kathryn Kuhlman. Enquanto estava lá, foi curado. Por
que você não vai a Pittsburgh também? Quem sabe poderá ser curada."
Eu tinha ouvido falar de Kathryn Kuhlman e até tinha visto seu
programa de TV, mas sempre tinha pensado que a cura era para outros,
não para mim.
"Oh, eu estou muito doente para sair de casa", falei. "Como
poderia fazer essa viagem tão longa até Pittsburgh?"
Guy me contou sobre um ônibus especialmente fretado que fazia a
viagem entre Brockville e Pittsburgh todas as semanas. "Me deixe ligar
para eles e reservar um lugar para você", rogou.
Eu não me sentia bem. Só o fato de estar de pé junto ao telefone
falando com Guy me fazia sentir fraca. Meu corpo estava deformado e
inchado pela artrite fazia muito tempo.
Lembrava que, a alguns anos, tinha brincado com meus netos
durante o aniversário de um deles. Tinham amarrado um lenço ao redor
dos olhos de um garotinho, que tinha que ir por todo o lugar tocando as
mãos das pessoas e adivinhando quem era cada um. Ele me identificou
imediatamente porque as articulações estavam terrivelmente inchadas e
os dedos dobrados, como garras.
E que era isso que dizia da cura? Por acaso Guy achava que sabia
mais do que os médicos, que haviam dito que eu não tinha possibilidade
de cura? Sacudi a cabeça, sem esperanças.
"Não, Guy, não faça nenhuma reserva", suspirei. "Falarei com seu
pai e responderei amanhã à noite."
Desliguei e voltei com dificuldade até minha cadeira. Durante um
longo momento estive ali, sentada na penumbra do quarto, chorando,
porque era velha e a dor era muito forte. Tentei recordar dos tempos em
que meu corpo era jovem e ágil, e formoso. Lembrava quando Paul e eu
nos apaixonamos. Fomos tão corretos; ele, criado em um ambiente
católico francês e eu, com minha família católica escocesa. Em uma noite,
ele tocou timidamente as costas da minha mão, e lentamente entrelaçou
seus dedos com os meus. Gostava de acariciar minhas mãos suavemente,
com doçura, de uma forma que me chegava ao coração.
Agora eu não suportava que Paul me tocasse as mãos. Doía muito.
Estava velha e cheia de nós, como um velho carvalho no topo de uma
montanha rochosa. Já não lembrava de nenhum momento em que não
estivesse sofrendo de dores. Essa dor tornava quase impossível que
alguém me chegasse ao coração.
Nessa noite contei a Paul sobre a ligação de Guy. Desde que meu
marido se aposentou do serviço postal, seu coração tinha ficado rodeado
de líquido. Isto lhe afetava as pernas, por isso estava parcialmente
paralisado. Mas Paul me estimulou para que fosse a Pittsburgh, e até disse
que queria ir comigo.
"Não podemos perder nenhuma oportunidade", disse.
"Mas são quase mil quilômetros", protestei. "Não sei se poderei
suportar todos os buracos e problemas do caminho."
Paul assentiu. Era tão compreensivo... Mas algo nele continuou
insistindo. Finalmente concordei em ir, e no dia seguinte liguei para o
Guy.
"Seu pai irá comigo", falei. "Mas antes de que nos reserve lugar,
quero ver o senhor Moss. Quero ver com meus próprios olhos que está
curado."
Guy estava feliz, e disse que arrumaria todo para que eu pudesse
falar com o senhor Moss, que vivia perto.
No dia seguinte, enquanto escutava o senhor Moss, quase não
podia acreditar no que ouvia. Era a história mais fantástica que jamais me
contaram. Uma senhora chamada Maudie Phillips lhe tinha reservado um
lugar para que ele pudesse viajar de Brockville a Pittsburgh. Ali havia
assistido ao culto de Kathryn Kuhlman na Primeira Igreja Presbiteriana, e
tinha sido curado. Para prová-lo, parou no meio do quarto, inclinou-se e
tocou o chão. Correu, saltou e girou as costas em todas as direções para
me mostrar que seus ossos e articulações estavam como novos.
Para mim, o mais incrível era que tinha sido curado em uma igreja
protestante. Eu tinha sido católica durante toda minha vida. No Canadá,
quando eu era menina, as relações entre católicos e protestantes eram tão
tensas que às vezes parecia que iriam entrar em guerra. Desde que eu era
pequena me tinham ensinado que entrar em uma igreja protestante podia
me fazer perder a salvação, e sempre que passava em frente a uma,
prendia a respiração.
Em meus sessenta e oito anos de vida, nunca tinha entrado em um
desses lugares. E agora o senhor Moss me dizia que tinha sido curado em
uma igreja presbiteriana. Só pensar nisso era quase mais do que eu podia
suportar.
"Querida Maria, isso pode ser verdade? Deus ama aos
protestantes, também?" Só a idéia já me fazia estremecer. Mas não havia
como negar o que tinha acontecido ao senhor Moss. Antes, tinha estado
obviamente doente; mas agora estava perfeitamente saudável. Engoli
saliva, apertei os dentes e assenti diante de meu marido. Iríamos a
Pittsburgh.
Guy fez as reservas. O ônibus partiria na quinta-feira pela manhã.
"Acha que devemos contar ao padre?", perguntou-me Paul.
"Oh, não", protestei decididamente. "Já é bastante ruim que Deus
saiba que estamos indo a uma igreja protestante, para que também o
padre saiba."
Isto pesava muito em minha consciência. O que aconteceria
quando nossos amigos católicos soubessem o que tínhamos feito? Mas
mesmo assim, estava convencida de que deveríamos ir.
Na quinta-feira pela manhã Paul se levantou cedo. Mas quando
tentei me levantar, gritei de dor. Geralmente a dor da artrite aparecia em
um lado ou no outro. Mas nessa manhã, a dor era intensa em todo o
corpo. Cada articulação ardia. Só o que pude fazer foi me recostar
novamente na cama e chorar.
Paul saiu do banho e se aproximou da cama, sem saber o que
fazer. Quando me doía o pé ou o joelho, às vezes me fazia massagens para
aliviar a dor. Mas nessa manhã, qualquer movimento, qualquer contato,
fazia que sentisse como fogo líquido correndo por meus ossos. Nunca a
dor tinha sido tão extrema. Com minhas lágrimas molhei o travesseiro, e
nem sequer podia secá-las por causa da intensidade da dor nas mãos.
Minhas mãos estavam dobradas e rígidas sobre o monte de lenços de
papel que tinha segurado na noite anterior, tentando que não se
fechassem totalmente. Nenhuma oração poderia fazer que se abrissem.
Nesse momento desejei morrer.
"Não posso ir", solucei. "Deus não quer que eu vá a essa igreja.
Isso é um castigo dele por ter pensado em fazê-lo."
"Não é assim, mamãe", disse Paul, quase com firmeza. "Deus quer
que se cure. Ele não lhe faria algo assim. Tem que se levantar."
"Não posso ir. Não posso caminhar. Nem sequer posso sair da
cama. Não posso fazer nada. Até viver me dói."
"Deve se levantar, mamãe", rogou Paul. "Deus não quer que se
deixe morrer aqui. Tente. Por favor, tente."
Mover cada articulação era como romper gelo em uma corrente.
Cada movimento fazia ranger algo que estava solto. A dor era
insuportável, mas movi as articulações de um lado ao outro até que
finalmente consegui tirar as pernas da cama. Com a ajuda de Paul, fiquei
em pé. Em seguida lutamos para abrir minhas mãos.
"Agora ponha o vestido, mamãe", disse Paul. "Não devemos chegar
tarde para pegar o ônibus."
Vestir foi terrivelmente difícil... e pôr a cinta, quase impossível.
Comecei a chorar outra vez.
"Continue tentando, mamãe", dizia Paul. "Continue tentando. Esta
pode ser sua última oportunidade de ser curada."
"Acha que irei sem minha cinta?", chorei. "Seria indecente."
Mas Paul continuou me incentivando, e finalmente fiquei pronta
para sair... sem vestir a cinta. Chegamos ao carro e fomos para o lugar de
onde sairia o ônibus.
No estacionamento, a esposa de Guy nos apresentou à senhora
Maudie Phillips, representante de Kathryn Kuhlman em Ottawa. A
senhora Phillips era cálida, amistosa, extrovertida, e me estendeu a mão.
"Sinto muito", falei, retrocedendo, "mas não posso dar a mão a ninguém.
Se me tocarem, a dor me faria desmaiar."
Ela sorriu, e senti que me entendia. Isso me ajudou muito. Mas o
temor de me misturar com os protestantes estava voltando a apoderar-se
de mim.
Voltei-me para o Paul. "Deveríamos ter ido primeiro à igreja.
Tinha que confessar este grande pecado ao padre. Assim não me sentiria
tão mal."
Guy me escutou e disse: "Mamãe, nem que tenha que levá-la no
colo, vai subir nesse ônibus."
Finalmente cedi, e a senhora Phillips, junto com o motorista do
ônibus, me ajudaram a subir. Cada passo, cada contato, me fazia chorar
de dor, mas cheguei até o assento junto a Paul. Tínhamos uma viagem de
quase mil quilômetros pela frente.
Quando o ônibus partiu, a senhora Phillips começou a ir de uma
ponta à outra do corredor, falando, respondendo perguntas, ministrando
às pessoas, como um pastor que cuida de suas ovelhas. Cada vez que
passava perto de mim, eu a detinha. Tinha muitas perguntas.
Muitas das pessoas que estavam no ônibus já tinham feito essa
viagem antes. Logo começaram a cantar. Eu nunca tinha ouvido cantar
assim. Era como uma igreja com rodas percorrendo o campo, mas uma
igreja diferente de qualquer uma das que eu conhecia. Me preocupei, e a
próxima vez que a senhora Phillips passou por mim, segurei-a pelo braço.
"Este é um ônibus protestante?", sussurrei.
"Não", riu ela. "É um ônibus de Jesus. Costumamos levar alguns
sacerdotes católicos. Às vezes até nos dirigem no canto."
"Sacerdotes católicos em um ônibus protestante?", perguntei.
"Como pode ser?"
A senhora Phillips sorriu. "Ao ônibus não importa se você for
protestante ou católica. A Jesus também não."
"Mas estamos indo a uma igreja protestante em Pittsburgh",
protestei. Como rezarão? Como eu devo rezar? Posso rezar como em
minha igreja?"
A senhora Phillips era tão doce, tão paciente, tão compreensiva.
Depois de chamá-la seis ou sete vezes para lhe perguntar coisas como
essas, ajoelhou-se junto a mim. "Senhora Bergeron." disse, "você crê que
há um só Deus para todos?"
Senti que meus olhos se enchiam de lágrimas. Não queria
desonrar a minha fé, a minha igreja, os meus padres. Todos eles tinham
significado muito para mim. Mas, como explicar a essa mulher que
transmitia tanto amor? "Oh, sim", respondi. "Creio que há um só Deus
para todos nós. Eu rezo a Maria, mas amo a Deus. Sei que só Deus pode
me curar."
"Então simplesmente confie nele", disse ela. "Deus a ama, mas Ele
não pode fazer muito por você se continuar fazendo tantas perguntas. Por
que não se recosta em seu assento e deixa que o Espírito Santo lhe
ministre?"
Comecei a relaxar um pouco, embora não estivesse segura de
quem era o Espírito Santo. Depois de cruzar a fronteira e entrar nos
Estados Unidos, dormi.
Não sei por quanto tempo dormi. Ainda estava meio adormecida
quando, ao me mover, vi meus pés. De alguma forma, enquanto dormia,
tinha posto um pé em cima do outro. Não podia ser! Fazia anos que não
podia cruzar as pernas. Pisquei e olhei outra vez. Tinha os tornozelos
cruzados. E o mais notável... não sentia nenhuma dor.
"O que está acontecendo?", exclamei.
Paul me olhou, com uma estranha expressão no rosto. Eu estava
muito entusiasmada para notar que também lhe ocorria algo.
"O que disse?", gaguejou.
Então olhei minhas mãos. Os dedos, que tinham estado rígidos e
dobrados, estavam se endireitando. Já não sentia dor ali tampouco.
"O que está acontecendo?", repeti.
"Algo errado, mamãe?", perguntou Paul.
"Ouça", sussurrei. "Mas não diga a ninguém. Vão pensar que estou
imaginando."
"Imaginando o que?", perguntou Paul.
"Olhe meus pés", sussurrei. "Viu, os tornozelos estão cruzados. E
não doem. E olhe meus dedos. Já não me doem as mãos, e os dedos se
estão endireitando como os de uma menina. Estou me curando antes de
chegar a Pittsburgh! Estou me curando neste ônibus protestante!"
Paul tirou os óculos. Tinha os olhos cheios de lágrimas. No início
pensei que chorava por mim, mas depois notei que havia algo mais.
"O que está acontecendo com você?", perguntei.
"Algo me acontece", disse, atropelando-se ao falar. "Enquanto
você dormia, eu estava sonolento. Quando despertei, senti algo quente,
como uma onda de calor, que percorria meu peito e chegava até as pernas.
Foi tão forte que durante um minuto não pude ver nada. Estava cego.
Então você acordou. Recuperei a vista. E creio que estou me curando."
Nesse momento o ônibus saiu da estrada para deter-se em um
lugar de descanso. A senhora Phillips voltou a nos ver. "Vamos parar para
tomar um café", disse. "Me deixe ajudá-la com seus pés."
"Não preciso de ajuda", falei, rindo alegremente e sem me
preocupar que me ouvissem. "Posso caminhar! Posso subir e descer
sozinha esses degraus."
Me levantei e desci pelo corredor, com meu marido atrás de mim.
Desci os degraus e saí no estacionamento. Todos se aglomeraram ao meu
redor. "Senhora Bergeron", perguntavam, "o que lhe aconteceu?"
"Não sei o que aconteceu", falei, sentindo-me transbordar de
alegria. "Mas faz vinte e dois anos que não me sinto tão bem."
Passamos a noite de quinta-feira em um hotel em Pittsburgh. No
mês anterior eu tinha ido ver meu médico, lhe rogando que me desse
algum calmante para a dor. "Olhe meus joelhos", lhe havia dito. "Olhe
meus dedos. Doem tanto que não consigo dormir de noite."
Ele tinha sido amável, mas firme. "Senhora Bergeron, não há nada
que possamos fazer. Minha própria mãe morreu dessa doença. Os
médicos não podem fazer nada mais do que lhe dar comprimidos que
aliviem a dor." E me tinha dado comprimidos. Comprimidos para tomar
de manhã, comprimidos para tomar depois das refeições, comprimidos
para tomar de noite. E cada vez que engolia um comprimido, engolia onze
centavos.
Nessa noite, em Pittsburgh, deixei os comprimidos em minha
bolsa. Não tomei nem um, e no mesmo instante em que apoiei minha
cabeça sobre o travesseiro, dormi. Nunca tinha dormido tão bem. Durante
mais de vinte anos só tinha conseguido dormir de costas ou de bruços,
mas essa noite dormi de lado, dobrada como um bebê.
Às quatro da manhã estava completamente acordada. O quarto do
hotel estava ainda às escuras quando saí da cama, me sentindo mais
jovem e saudável do que tinha estado em muitos anos. Não via a hora de
ir ao culto de milagres... embora fosse em uma igreja protestante.
Na noite anterior, a senhora Phillips me havia dito que sentia que
eu tinha sido curada no ônibus quando falei: "Amo a Deus e sei que só ele
pode me curar." Ela me citou um versículo da Bíblia: "E eles o venceram
pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho" (Apocalipse
12:11). Mas não importava quando tinha ocorrido. Só o que sabia era que,
como o senhor Moss, eu não era mais a pessoa que tinha sido até então. E
nem Paul. Suas dores de coração tinham desaparecido e se sentia como
novo. Estávamos muito bem.
Haviam nos dito que esperava-se por horas fora da igreja até que
se abrissem as portas. Eu tinha temido que minhas pernas não resistiriam
se tivesse que ficar de pé tanto tempo, por isso havia trazido um
banquinho para me sentar. Mas afinal não precisei dele. Estive de pé
durante três horas e meia às portas da Primeira Igreja Presbiteriana de
Pittsburgh, desejando encontrar alguém a quem pudesse dar o
banquinho. Fazia anos que não podia ficar de pé mais do que dez
minutos; agora estava parada durante horas, desfrutando de cada
momento, com o banquinho na mão.
Finalmente as portas se abriram e as pessoas se aglomeraram na
entrada. A senhorita Kuhlman subiu à plataforma e o culto começou a
desenvolver-se em meio de uma música gloriosa. Poucos minutos depois
ela parou os cantos e disse: "Entendo que há aqui uma senhora que vem
de Ottawa e que foi curada no ônibus".
Estava falando de mim. Paul e eu aceitamos seu convite de subir à
plataforma. Eu esqueci que estava em uma igreja protestante. Esqueci que
estava em frente a duas mil e quinhentas pessoas. Senti esse amor
especial de Kathryn Kuhlman por todas as pessoas, pessoas como eu, e
antes que me desse conta, respondi-lhe, saltando, batendo palmas e me
dobrando para tocar o chão... diante de todas essas pessoas.
Como eu fui a primeira a subir à plataforma, não sabia o que
acontecia algumas vezes quando Kathryn Kuhlman orava por alguém. Ela
esticou sua mão e me tocou no ombro, e repentinamente senti que caía.
"Oh, não", pensei. "O que faz uma mulher grande como eu aqui, caindo ao
chão diante de toda essa gente?"
Mas não pude evitar. Era como se os céus tivessem se aberto e o
próprio Deus me tivesse tocado. Alegrei-me de que houvesse um homem
forte que me sustentou antes que me desabasse sobre o chão... se ele não
tivesse estado aí, creio que teria atravessado a plataforma até acabar no
subsolo. Em seguida me colocou suavemente sobre o chão.
Pus-me de pé, surpreendida de não sentir nenhuma dor.
"Obrigada", falei à senhorita Kuhlman, entre lágrimas. "Obrigada, muito
obrigada."
"Não me agradeça por isso", riu ela. "Eu não tive nada a ver com
sua cura. Nem sequer a conheço. Você foi curada antes mesmo de vir aqui.
Eu não tenho poder. Só Deus o tem. Agradeça a Ele."
Voltei para meu assento e comecei a agradecer a Deus. As pessoas
cantavam, como no ônibus. Mas desta vez não me importava que fossem
protestantes. Eu também queria cantar. Como não conhecia a letra das
canções, pus-me a escutar a mulher que cantava junto a mim e a repetir o
que ela dizia. Sei que soava horrível, porque estava atrasada um verso em
relação a todos os outros, mas não podia evitá-lo... e não me importava!
Estava tão feliz... Quando os que me rodeavam levantavam as mãos para
louvar a Deus, eu também o fazia. Pela primeira vez em vinte e dois anos
podia levantar os braços, e o fazia em adoração. Assim continuei
cantando, (um verso depois que todos os outros), levantando as mãos,
chorando e louvando a Deus por minha cura.
Eram duas da manhã quando chegamos de volta a Brockville. Guy
estava à porta de sua casa quando viramos para entrar em nossa rua.
"Mamãe, está bem?", perguntou, quando saí do automóvel que
havia nos trazido do lugar onde o ônibus nos deixara.
Todos seus amigos, que estavam esperando em sua casa, se
juntaram ao seu redor. "Não lhe pergunte, apenas olhe para ela!",
gritaram. "Olha para ela! Está curada! Deus a curou!" A essa hora da noite
me pus a dançar no meio da sala.
"Oh, mamãe!", disse Guy, me tomando em seus braços. Estava
chorando. Todos choravam, menos eu, que continuava dançando de um
lado ao outro.
Assim que cheguei em casa, acredito que por volta das três da
madrugada, liguei para minha filha Jeanne. "Estou curada!", gritei pelo
telefone. "Fui curada!"
"Mamãe?", respondeu Jeanne, com voz sonolenta. "O que está
dizendo?"
"Já não sofro mais de artrite", lhe falei, rindo. "Ligue para todos e
lhes conte. Já não estou mais doente."
Quando finalmente me deitei, eram cinco da manhã. Tinha estado
em pé durante vinte e quatro horas, mas me sentia cheia de vitalidade e
força. E Paul também. No dia seguinte meu marido foi ao campo de golfe
com Guy e o acompanhou num percurso de cinco buracos. Oh, Deus! O
Senhor foi tão bom conosco.
No domingo de tarde, Pierre, outro de nossos filhos, veio com sua
esposa e seus três filhos à casa de Guy, para ver se eu tinha sido realmente
curada. O rosto de Pierre refletia um enorme sorriso enquanto caminhava
ao meu ao redor, me observando de todos os ângulos. "Mamãe, está
curada. Agora chegará a ser anciã, a menos que um caminhão passe por
cima de você. E mesmo que isso acontecesse, acho que temeria mais pelo
caminhão que pela senhora."
Uma de minhas netas, a pequena Michelle, apareceu: "Mamãe,
quando esteve em Pittsburgh, eu fui à escola católica, levantei as mãos e
falei: 'Jesus, cure a minha avozinha'. E Ele o fez."
Então apareceu meu netinho de sete anos. "Agora, vovó, já não
precisará caminhar como um pingüim."
Deus estava fazendo algo mais. Não só havia curado meu corpo,
mas, além disso, também estava agindo em minhas atitudes. Como
muitas outras pessoas que vivem constantemente sob uma intensa dor, eu
havia me tornado resmungona e difícil de suportar. Não sabia disso até
que ouvi minha nora falando com Jeanne pelo telefone. "Houve outro
milagre", dizia. "Não só foi curada da artrite. Já não encrenca mais. Algo
maravilhoso aconteceu em seu interior."
No domingo seguinte fiz que toda minha família fosse comigo,
caminhando, até a Igreja do Sagrado Coração. Quando cheguei lá, falei ao
sacerdote: "Padre, Deus me curou de minha artrite."
Eu queria que ele compreendesse o que realmente tinha
acontecido, assim, no domingo seguinte, levei a todos os sacerdotes um
exemplar dos livros de Kathryn Kuhlman.
Duas semanas depois fui ver meu médico. Quando entrei
caminhando no consultório, a enfermeira me disse: "Senhora Bergeron, o
que aconteceu? Parece estar muito bem."
Minutos depois o médico entrou na sala de espera. "Ei doutor," lhe
falei, "não tenho mais artrite. Olhe minhas mãos. Olhe os joelhos. Olhe!
Estou caminhando."
O médico parou no meio da sala, me olhando caminhar por todo
lado. Logo tomou minhas mãos e examinou os pulsos e os dedos.
"Sei o que está pensando", lhe falei. "Está pensando: "Bom, a
senhora Bergeron já não sofre de artrite... agora está louca."
Riu e me fez gestos de que entrasse outra vez no consultório. "Não,
não creio que esteja louca", disse com voz séria. "Seu estado era
irreversível, incurável. Agora você está curada. Não entendo."
Peguei minha bolsa e lhe passei um dos livros de Kathryn
Kuhlman. "Leia isto, doutor. Terá que enviar todos seus pacientes a
Pittsburgh... e depois terá que procurar outro emprego."
Riu outra vez, pegou o livro e me abraçou. "Isso me converteria no
homem mais feliz do mundo... ver todos meus pacientes tão bem como
você."
No mês seguinte, Paul e eu subimos novamente ao ônibus que ia a
Pittsburgh. Desta vez, dezessete membros de nossa família nos
acompanhavam, e também alguns amigos. Um jovem sacerdote católico ia
conosco. Durante todo o caminho a Pittsburgh, fomos cantando e
louvando a Deus.
Uma mulher me perguntou: "Você trabalha para Kathryn
Kuhlman?"
"Não", respondi. "Trabalho para Deus."
Antes, sempre que tinha que pedir algo a Deus, eu tinha medo. Por
isso, em vez de ir a Jesus, ia a Maria, para lhe pedir que intercedesse por
mim. Agora compreendo que Deus me ama tanto que não tenho por que
temê-lo. Quando oro, digo: "Deus, sou eu, a senhora Bergeron." E Ele
para tudo o que está fazendo e me escuta. Assim é Deus.
Capítulo 8

A cura é só o começo

Dorothy Day Otis

Entre as pessoas que vêm como convidadas ao meu


programa semanal de televisão, Creio em milagres,
encontram-se médicos e barmans, famosos educadores e
crianças, modelos e donas de casa. Todos foram tocados
por Jesus de uma forma especial e atestam a mudança
produzida em suas vidas. Entretanto, poucos convidados
me emocionam tanto como os representantes do mundo
do espetáculo, tanto televisivo como teatral, que deixam
de lado toda sua capacidade de atuação e, com sinceras
lágrimas de agradecimento, contam ao mundo o que
Jesus fez por eles. Este foi o caso de Dorothy e Dom Otis,
que apareceram no programa que eu gravava nos
estúdios da CBS em Los Angeles. Dorothy Day Otis dirige
uma das agências de artistas mais bem-sucedidas.
Representa artistas muito importantes da TV, do cinema
e do teatro. Dom tem uma florescente agencia de
publicidade. Ambos são bem conhecidos e muito
respeitados por todos os artistas de Hollywood. "Faz anos
que Dom e eu estamos na TV", disse Dorothy, "mas a
única aparição verdadeiramente importante foi a que
fizemos no programa de Kathryn Kuhlman." Disse isso
porque essa aparição foi completamente dedicada a
Jesus.

Eu pensava que era normal sentir-se mal. Nunca me senti


realmente bem, e fazia anos que sabia que minha saúde estava se
deteriorando. Ficava cansada facilmente e tinha constantes dores nas
costas, que tentava ignorar. Mas não podia ignorar o meu estômago, que
reagia violentamente a quase tudo que eu comia. Vivia me alimentando
com grandes quantidades de queijo cottage, pudins e geléias, e só de olhar
para comida comum me causava repulsa.
Quando a dor se tornou insuportável, fui ver os médicos. Vários
clínicos me observaram e deram o mesmo diagnóstico: "um grave
problema estomacal", doença que parece ser companheira constante de
muitos dos que se deixam apanhar pelo redemoinho de Hollywood. Os
médicos prescreveram comprimidos, que comecei a tomar tal como me
tinham indicado, mas não melhorei.
Durante anos arrastei dores nas costas, uma nuca rígida, uma total
falta de energia e apetite. Passava a maioria dos finais de semana na
cama. Algumas vezes me perguntava em voz alta se meus problemas
estomacais estariam relacionados com minhas dores nas costas, minha
forma estranha de caminhar e o fato de que meus sapatos se gastavam de
forma desigual. Mas os médicos simplesmente me olhavam, sacudiam a
cabeça... e me mandavam à farmácia a comprar mais comprimidos.
Eu tinha me formado no curso de teatro na universidade, e depois
disso iniciei minha carreira na moda e na televisão. Vivi durante dois anos
em São Francisco, conduzindo meu próprio programa de entrevistas e de
cozinha na TV e atuando como apresentadora de filmes aos sábados de
tarde. Depois mudei para Los Angeles, onde continuei minha carreira
como modelo e atuando na TV.
Todas as manhãs levantava às 05:30 para chegar a tempo para
passar pela maquiadora e a cabeleireira. O dia todo estava sob as luzes,
frente a uma câmara ou trabalhando com pessoas. À noite, muito tarde,
literalmente desabava sobre a cama. Com minha exigente agenda, não
achava que fosse estranho que sofresse dores constantes e me sentisse
completamente exausta todo o tempo. Além disso, aparentemente todos
os outros que me rodeavam se sentiam igual.
Seis meses depois de chegar a Los Angeles, conheci Don Otis. Sua
história era similar à minha: atuava em TV e rádio, era disc jóquei, diretor
de programas, e agora era dono de uma agência de publicidade.
Eu tinha ido ao escritório de Don para uma entrevista para um
comercial de TV. Quando saí, ele disse a um colaborador: "Essa é a garota
com quem vou me casar.
"Sério?", perguntou seu amigo. "Qual é o nome dela?"
Don não sabia, e teve que ir a outro escritório para perguntar a
uma secretária. Ao voltar, sorriu. "Seu nome é Dorothy Day, e continuo
pensando em me casar com ela."
Um ano mais tarde eu continuava doente, como de costume... mas
já estávamos casados. Don teve que fazer todos os acertos, inclusive
conseguir autorização para utilizar o belo Mission Inn de Riverside para
nossa cerimônia de casamento.
Nessa época eu era presbiteriana, e ia à igreja só ocasionalmente.
Don era metodista, mas nunca ia à igreja. "Cristãos nominais" é a
expressão que eu usava para nos descrever. Don, que é mais franco, diz
que fomos "cristãos péssimos".
Apesar de minha saúde ruim e nossa total falta de espiritualidade,
ambos tínhamos muito sucesso nas carreiras que tínhamos escolhido. A
agência de Don crescia a passos largos, e eu aparecia com muita
freqüência na TV. Então, logo quando achava que estava aprendendo a
conviver com meus problemas físicos, a saúde de Don começou a decair.
Meu marido fumava muito desde que tinha quinze anos.
Repentinamente, depois de todos esses anos, começou a ter problemas
respiratórios. Só conseguia respirar de forma entrecortada, e pouco a
pouco teve que reduzir toda sua atividade física. Sequer podia subir a
colina que estava atrás de nossa casa.
Um exame físico nos permitiu descobrir uma doença temível:
enfisema pulmonar. Não havia cura. Don estava tão desanimado que nem
sequer pensou em deixar de fumar. Já que não tinha solução, deixar de
fumar não faria diferença.
Em 1966, Harold Chiles, um importante representante de
Hollywood, ofereceu-me trabalho como agente de crianças para
interpretações e comerciais de TV. Ele e Don acreditavam que os anos que
eu tinha passado na TV me capacitavam para a tarefa. Significava entrar
em um campo completamente novo em minha profissão, e a idéia me
fascinou. Quando Chiles morreu, comprei sua agência dos sucessores, e
repentinamente me vi dentro do negócio, comandando uma das agências
mais bem-sucedidas de Hollywood.
Então minha própria saúde começou a piorar. Eu media 1,75m,
por isso meu peso normal era cerca de 65 kg. Mas comecei a perder peso.
Comecei a evitar todas as comidas, até o queijo cottage, e rapidamente
baixei a 55 kg. Parecia um esqueleto, e tornei a visitar os consultórios dos
médicos. Nenhum podia me ajudar. Eu me obrigava a ir trabalhar,
embora me sentisse muito mal. Só meu amor pelo trabalho me mantinha
em pé.
Uma amiga próxima andava assistindo aos cultos de Kathryn
Kuhlman. Ela nos animou a ir, certa de que, se fossemos, seríamos
curados. A idéia de Deus não me interessava muito, mas mesmo assim
comprei os livros de Kathryn Kuhlman e os li. Don também os leu. Eram
muito interessantes, e até me fizeram chorar. Mas quando se
aproximavam os finais de semana, era mais fácil cair na cama o que
assistir às reuniões.
"Um dia desses iremos ao Shrine", eu repetia à minha
entusiasmada amiga. Mas se passaram três anos antes de cumprirmos
essa promessa.
Don e eu assistimos ao primeiro culto de milagres em janeiro de
1971. Mesmo agora ainda é difícil descrever o que eu sentia enquanto
esperava que as portas do auditório se abrissem. Milhares de pessoas
rodeavam as portas, mas eu não as sentia como estranhas, mas sim como
amigos que não tinha conhecido antes. Era como uma grande reunião
familiar. Havia tal amor mútuo, tal compaixão pelos doentes... Todos
falavam e compartilhavam com alegria enquanto esperavam. Antes de que
se abrissem as portas, Don e eu já sabíamos que Deus estava lá.
Voltamos no mês seguinte. Ali, sentada no auditório, chorei ao ver
as curas, orando pelos doentes que me rodeavam. Pela primeira vez em
minha vida senti a presença de um Deus de amor que se preocupava tanto
que queria tocar essas pessoas imersas em uma terrível situação e as curar
por completo.
Mas eu não era curada. Minhas dores nas costas ficaram piores. E
ainda pior; a nuca estava tão rígida que não podia virar a cabeça sem virar
o tronco junto. Olhava e caminhava como as múmias dos filmes de terror.
Em março de 1971 fui consultar um médico traumatologista, o
doutor Larry Hirsch. Ele me fez um exame preliminar e me encaminhou a
fazer radiografias da coluna.
Quando voltei a vê-lo, vários dias depois, mostrou-me a
radiografia.
"Olhe isto", disse-me. Até para meu olho inexperiente, era óbvio
que minha coluna não era normal. O doutor Hirsch descobriu que os
grandes depósitos de cálcio em cada vértebra eram indicadores de uma
artrite em desenvolvimento. Como se isto fosse pouco, meu quadril estava
torcido, pelo qual a perna direita ficava dois centímetros e meio mais
acima que a esquerda.
Isso explicava alguns dos meus problemas: porque meus sapatos
se gastavam de maneira desigual, porque tinha a nuca rígida, e por que
sempre doía a parte inferior das costas. O doutor Hirsch também me disse
que meus problemas estomacais possivelmente se deviam à pressão sobre
os nervos.
Lembrei que quando estudava na Universidade de Iowa, certa vez
tinha levado um tombo, caindo pesadamente sobre o gelo. A enfermeira
da universidade me tinha enfaixado as costas, mas a dor tinha
permanecido durante muito tempo depois disso. O doutor Hirsch disse
que provavelmente esse acontecimento tivesse dado origem aos meus
problemas atuais.
"Deveria estar de cama", disse-me. "A maioria das pessoas que
estão em sua situação nem sequer podem caminhar."
Mediu minhas pernas e inseriu uma palmilha em meu sapato
direito. "Se não houver alguma melhora notável até a próxima semana",
disse, "será melhor que consulte um especialista."
Isso foi em uma sexta-feira. Deixei o consultório muito
desanimada, com o compromisso de voltar na segunda-feira para que me
fizesse outro exame.
No domingo, Don e eu fomos a Los Angeles para assistir ao culto
no auditório Shrine. Depois de ficar de pé em frente à porta durante mais
de duas horas, tentamos nos mover rapidamente para conseguir assentos.
Entre a respiração ofegante de Don e meu andar lento, só conseguimos
dois assentos na parte de cima, a cinco filas da parede. "A vantagem de
estar aqui em cima" disse Don, com respiração arfante, "é que estamos
mais perto do céu."
Desde o começo do culto comecei a contar a Deus todas as coisas
que estavam erradas comigo, como se Ele não soubesse. Em alguns
momentos, enquanto Kathryn Kuhlman pregava, eu voltava a orar. Então
escutei que ela dizia: "Alguém na parte superior do auditório foi curado de
um mal-estar estomacal. Você não come a muito tempo."
Senti que minha respiração se tornava agitada, como se me
faltasse o ar. "Além disso, alguém está sendo curado de uma afecção na
coluna", adicionou a senhorita Kuhlman.
Minha respiração se acelerou a tal ponto que já não podia
controlá-la. Estava sem fôlego, e ao mesmo tempo comecei a chorar com
todas minhas forças. Sabia que estava atraindo a atenção de todos, mas
não podia evitar. Em meio a tudo isso, um grande calor se apoderou de
mim, como uma manta em um dia frio.
Meus soluços violentos sobressaltaram Don. Tentou me ajudar,
mas eu não podia falar. Não podia lhe contar o que acontecia. Ele me
passou um lenço, e quando me virei para pegá-lo, quase gritou: "Você
virou a cabeça! Olha pra mim, Dorothy! Você virou a cabeça!"
Era mesmo. Sem que eu tivesse percebido, a nuca destravou e se
movia livremente. Com a respiração ainda entrecortada e soluçando,
comecei a virar a cabeça de um lado para o outro, da frente para trás. Não
havia dor. Saí cambaleando e me aproximei de uma obreira.
"Fui curada", falei soluçando.
A mulher me olhou com grande calma. "Como sabe?"
Eu estava quase histérica, sacudindo a cabeça e tentando
desesperadamente conseguir ar. "Posso virar o pescoço", falei com
dificuldade. "E meu estômago também foi curado."
"Seu estômago?", perguntou. "Como pode saber que se curou do
estomago?"
Não sabia. Nem sequer tinha pensado nisso. As palavras saíram
aos borbotões. "Eu sei", insisti. "Se posso mover a cabeça, sei que Deus me
curou do estômago também."
A mulher sorriu, convencida. Pegou-me pelo braço e me ajudou a
descer. Havia uma longa fila na plataforma, esperando para testemunhar
sobre suas curas. Fiquei na fila, ainda soluçando.
"Onde está Don?", me perguntei, repentinamente. Olhei para o
mar de rostos, tentando achá-lo. Então o vi, descendo junto com um
obreiro. Ele também chorava. Ao me ver, começou a rir. Nos abraçamos.
"Eu também fui curado, Dorothy", disse-me. "Quando você
desceu, uma sensação de calor me envolveu. Caí no choro. Então notei
que podia respirar normalmente. Veja!", continuou. "Pela primeira vez em
oito anos não tenho que me esforçar para respirar." Ria e chorava ao
mesmo tempo... mas respirava bem.
Então Kathryn Kuhlman nos chamou para que subíssemos à
plataforma. Algo tinha acontecido no íntimo de meu marido. Não só em
seus pulmões, mas também em sua alma. Notei ao vê-lo em frente ao
microfone, respirando profundamente, com a alegria lhe inundando a
face. A senhorita Kuhlman queria lhe fazer perguntas, mas só o que ele
dizia era: "Olhem! Posso respirar".
Compreendendo que não poderia obter muita informação de
nenhum de nós, em nosso estado de agitação, ela pôs as mãos sobre
nossos ombros e começou a orar. Senti que Don pegava em minha mão, e
a seguir, só soube que estávamos ambos no chão. Eu não escutava nada.
Não sentia nada definido, só uma maravilhosa calidez e uma paz que nos
envolvia. Lembro vagamente da voz de Kathryn Kuhlman dizendo: "Isto é
só o começo. A partir de agora, suas vidas serão totalmente
transformadas".
Oh, como tinha razão!
Compreendo agora, olhando para trás, que a mão de Deus fez
muito mais do que curar meu corpo. Mas como a cura física tinha sido tão
sensacional, levou algum tempo até que pude compreender a mudança,
mais profunda, que se tinha produzido em meu interior,
simultaneamente.
Quando chegamos em casa, essa noite, toda a dor de minhas
costas tinha desaparecido. A primeira coisa que fiz foi tirar a palmilha do
sapato. Don estava tão feliz com seus "novos" pulmões, que saiu correndo
para subir a colina de trás de nossa casa. Depois saímos para jantar fora.
Comemos bifes. Eram os primeiros que eu comia depois de muito tempo.
Na manhã seguinte fui à consulta com o doutor Hirsch. Assim que
me viu, perguntou: "O que aconteceu?"
Eu não conhecia muito bem o médico e fiquei em dúvida se devia
lhe contar tudo.
"Quero que você me diga", respondi.
Foi fácil para ele perceber que os músculos de meu estômago
estavam relaxados, mas quando examinou minha coluna, realmente
soube que tinha acontecido algo.
"Esta não é a mesma coluna que eu examinei na sexta-feira", disse.
"Você tem um minuto, doutor?", perguntei, mais animada para lhe
contar todo. Ele assentiu, e me lancei a relatar em detalhes o que tinha
acontecido na reunião de Kathryn Kuhlman, no dia anterior.
"Se houve alguma mudança, Dorothy," disse ele, "as radiografias
mostrarão."
Tirou uma série de chapas e me disse que voltasse em dois dias.
Nessa noite, entretanto, lembrei que não lhe havia contado que tinha
tirado a palmilha de meu sapato, e liguei para a sua casa para dizer-lhe.
"Oh, não", protestou o doutor. "Volte a pô-la. Se não o fizer,
perderá todo o benefício que ganhou. Embora Deus haja curado seu
estômago, sua perna direita sempre será mais curta que a esquerda." Mas,
quando coloquei a palmilha, me senti desequilibrada. Sabia que agora,
ambas as pernas tinham o mesmo comprimento.
Dois dias depois voltei ao consultório. Don foi comigo. A primeira
coisa que o doutor Hirsch fez, foi medir minhas pernas. Em seguida,
tornou a medi-las. Tinha um olhar estranho quando finalmente disse:
"Têm o mesmo comprimento".
Comecei a chorar. "Eu sabia", falei. "Só queria que você também
soubesse."
O doutor Hirsch não tinha tido tempo de examinar as chapas,
então as examinamos os três juntos. O médico ficou mudo. Minha coluna
estava perfeitamente direita. A curvatura em "L" de minha última
vértebra tinha desaparecido. Todos os depósitos de cálcio tinham
desaparecido. Minha nuca estava perfeitamente alinhada com a coluna e o
crânio. O mais surpreendente era que a bacia tinha girado notavelmente e
estava na posição correta.
O medico exclamou: "Eu diria que você teve um transplante
completo de coluna, se isso fosse possível".
Então me deu os dois conjuntos de radiografias, tirados com uma
semana de diferença. Eu os guardo em meu escritório e os mostro a toda
pessoa que me visita. São mais preciosos para mim do que um Picasso.
Don estava menos preocupado do que eu em obter uma prova de
sua cura. O simples fato de que podia respirar era evidência suficiente
para ele. Na verdade, foi imediatamente se matricular na academia de
Beverly Hills, e começou a fazer quatro horas por dia. Também deixou de
fumar, como agradecimento ao Senhor. Também tinha mudado por
dentro.
Nove meses mais tarde voltou ao seu médico. Depois de um exame
clínico completo, o doutor começou a lhe dizer ele estava em ótimo
estado. Don pensou que ele estava tentando fugir do assunto, então lhe
perguntou diretamente: "Bem, doutor, e como está meu enfisema?"
O médico pigarreou: "Bem. Don, você sabe que enfisema é
incurável. Uma melhora de um por cento seria algo verdadeiramente
chamativo."
"E eu tenho uma melhora de um por cento, ou não?"
"Não tem nenhum problema nos pulmões", disse o médico. "É só o
que posso lhe dizer."
O maior milagre, entretanto, foi muito além do que a cura da
coluna ou os pulmões. Kathryn Kuhlman tinha razão. Quando o Espírito
Santo entrou em nossas vidas, tudo mudou. Don e eu agora freqüentamos
uma igreja dinâmica, onde se ensina a Bíblia, em Burbank. Don se tornou
membro da Associação Cristã de Homens de Negócios, e ambos demos
muitas vezes nossos testemunhos para grandes audiências. Sabemos que
Jesus está vivo, não só porque curou nossos corpos, mas também porque
mudou nossa forma de ver a vida. Embora estejamos mais ocupados do
que nunca em nossos respectivos trabalhos, ambos sentimos que somos
missionários que testemunham do Senhor Jesus Cristo e da gloriosa
experiência de nascer de novo... e ser cheios do Espírito Santo.
Meus colaboradores e meus clientes dizem que meu local de
trabalho é "o escritório feliz". Sei que isso não se deve ao brilhante papel
amarelo que cobre as paredes, mas sim a que o Espírito Santo enche esse
escritório com sua alegria e me dirige no trabalho. Eu oro por meus
clientes e vejo acontecerem coisas, em suas profissões e em suas vidas,
coisas que só Deus pode fazer. É maravilhoso.
Mas o mais maravilhoso é isto: sabemos que isto é só o começo do
que Deus tem reservado para nós:

"Coisas que olhos não viram, nem ouvidos ouviram,


nem penetraram o coração do homem, são as que Deus
preparou para os que o amam. Porque Deus no-las
revelou pelo seu Espírito." (1 Coríntios 2:9-10).
14 de abril de 1972

A quem possa interessar:

Em 3 de março de 1971 a senhora Dorothy Otis se apresentou


neste consultório com queixa de dores em múltiplas zonas da coluna
vertebral, pelo qual tirou uma extensa série de radiografias (desde a
primeira até a última vértebra de sua coluna). Estas radiografias
mostraram uma dupla escoliose com um encurtamento da perna direita
de aproximadamente 2,54 cm, e uma compressão de nervos ao longo dos
intestinos.
A senhora Otis começou um tratamento ao qual respondia com
lentos progressos. Cinco dias depois assistiu ao culto de milagres de
Katrhyn Kuhlman. No dia seguinte, ao submeter-se a um novo exame, era
como se lhe tivessem implantado uma nova coluna e uma nova bacia, em
substituição das anteriores, e a perna direita tinha o comprimento
normal. Também o trato intestinal estava completamente relaxado e havia
tornado a funcionar normalmente.
Tiramos novas chapas radiográficas da coluna da senhora Otis
nessa mesma semana e desta forma confirmamos que a curvatura tinha
sido eliminada totalmente. A coluna está direita e não há zonas de
pressão.
Em meus vinte anos de prática profissional, nunca encontrei este
tipo de resultados que não fosse resultado de um extenso tratamento.
Houve uma milagrosa mudança de estruturas.

Respeitosamente,
Dr. Larry Hirsch
Médico traumatologista
Capítulo 9

Um vazio com forma de Deus

Elaine Saint-Germaine

Eliza Elaine Saint-Germaine, cujo nome artístico em


Holywood era Elaine Edwards, foi uma vez proclamada
uma das mais brilhantes jovens estrelas da indústria da
TV e do cinema. Mas Elaine, como muitos apanhados no
enlouquecedor redemoinho da fama e a fortuna, sem
perceber, começou a procurar a felicidade em Satanás,
em vez de procurá-la em Cristo.

Santo Agostinho disse certa vez que dentro de cada pessoa há um


vazio com forma de Deus. Um jovem drogado o descreveu como um "oco
de solidão" no mais profundo da alma de cada criatura. Podemos tentar
preenchê-lo com todos os tipos de amores pervertidos, mas esse oco, esse
vazio, foi feito para o amor de Cristo. Nenhuma outra coisa pode
verdadeiramente preenchê-lo.
Quando olho para trás e vejo minha infância, acho que meus pais
tentavam agradar a Deus. Sempre iam à igreja. Meus primeiros passos
aconteceram entre os bancos de uma Igreja Batista do Sul, em Dearbon,
Michigan. Mas tudo isso era somente uma "religião dos domingos". Meus
pais não tinham nenhuma fonte de poder pessoal que os ajudasse a
transportar os princípios que aprendiam na igreja para suas vidas ou seu
lar. Papai tinha problemas com bebida, e mamãe sempre pensava
negativamente. Cresci pensando que Deus era igual a infelicidade.
Em minha casa, demonstrações de amor não eram costumeiras, e
meu coração clamava por ser cheio de amor. Visto que em minha casa,
isso me era negado, busquei-o em outras partes, e aos quinze anos me
casei com um marinheiro e fui com ele para a Califórnia. Depois que meu
jovem marido partiu em uma viagem pelo oceano, descobri que estava
grávida. Eu não queria sofrer o processo de me adaptar em um novo lugar
e de criar um filho ao mesmo tempo, então fui a Michigan e fiz um aborto.
Ao voltar para São Francisco conheci outro homem, um atraente
capitão de corveta das Forças Armadas, que estava a serviço de um
submarino fora de função. Ainda procurando desesperadamente por
amor, me deixei arrastar... e me casei com ele, embora já tivesse um
marido.
A Segunda Guerra Mundial estava em pleno desenvolvimento, e
pouco depois meu segundo marido foi convocado a embarcar. Em seguida
meu primeiro marido retornou. Encontrei-me com ele e lhe pedi o
divórcio. Ele se sentiu profundamente magoado, mas vendo que eu estava
totalmente decidida, concedeu.
Passou-se quase um ano até que meu segundo marido voltasse de
sua viagem. Me encontrei com ele em Nova Iorque, e em nossa primeira
noite juntos decidi lhe confessar toda a verdade, esperando que
pudéssemos começar todo de novo, limpamente. Em vez de ouvir minha
confissão e mostrar que me amava, rejeitou-me. Enlouquecido, pediu a
anulação de nosso casamento.
Eu continuava em minha desesperada busca por amor. O segui até
Washington, e roguei que voltasse. Ele se negou a me receber. Em
Washington conheci um homem dez anos mais velho do que eu. Houve
outro tórrido romance, e seis meses depois estava casada pela terceira vez.
Aos dezessete anos já tinha vivido uma vida inteira. Tinha
cometido bigamia, feito um aborto, me divorciado duas vezes e estava
casada outra vez.
Meu terceiro marido estava interessado em interpretação. Eu
tinha trabalhado como modelo e me ofereci ajudar a nos mantermos, se
ele quisesse estudar. Nos mudamos para Los Angeles, onde ele começou a
ter aulas de interpretação, em Pasadena.
Ele era ator por natureza, e logo foi contratado como protagonista
de uma bem-sucedida série de TV. Nosso casamento começou a ter
problemas quase imediatamente, porque ele começou a fazer turnês por
todo o país, em apresentações pessoais. Eu continuava precisando de
amor... e de aceitação. Estando ele fora a maior parte do tempo, a solidão
me pesava. Dessa vez tentei procurar satisfação em uma carreira. Me
matriculei para estudar teatro em Pasadena.
Tal como meu marido, eu era atriz por natureza. Ao terminar os
estudos em Pasadena continuei minha carreira no teatro. Fui uma estrela
desde o início. Finalmente achei que tinha encontrado o que me daria
satisfação, aquilo que encheria o vazio que havia em meu interior.
Durante um tempo, tudo parecia se encaminhar. Em 1954 ganhei
o papel de protagonista da peça Bernardine, em sua estréia na costa oeste.
Na noite da estréia atuei para mais de duas mil pessoas que se
amontoaram no belo teatro. Foi um enorme sucesso. Quando eu estava
em cena, as pessoas não conseguiam tirar os olhos de cima de mim.
Patterson Greene, o renomado crítico, escreveu sobre a peça, dizendo que
era "incrível".
Eu representava o papel de Bernardine com perfeição. Mas
Bernardine, como eu mesma, não era mais do que uma ilusão. Não
existia. De pé sobre o cenário, ouvindo a ovação da multidão que me
aplaudia e dava vivas à minha atuação, me sentia irreal, como se não
estivesse ali. Mas de qualquer maneira, eu gostava disso, e bebia os
aplausos, as adulações, o reconhecimento e a aceitação com que meus fãs
me brindavam. Desfrutava e absorvia tudo. Para mim, ser amada e
admirada por fãs de todo o país era o máximo que podia desejar.
A seguir passei a outro tipo de ilusões. Assinei contrato com
Edward Small para protagonizar filmes. Ele disse que estava me
preparando para ser a maior estrela de Hollywood. Fui protagonista de
alguns filmes de Allied Artists, e alguns para a TV. Atuei no Playhouse 90
e O milionário, e fui co-protagonista de Chuck Conners, em alguns de
seus primeiros espetáculos. Eu não tinha problemas em trabalhar o dia
todo no set de filmagem e depois pegar um avião para ir trabalhar em
alguma peça de noite. Estava na crista de uma incrível onda de sucesso.
Mas as ondas finalmente se desfaziam em espuma e borbulhas... e
sempre voltavam para o mar. Eu continuava vazia.
Numa manhã de outubro saí cedo de casa. Ed e eu tínhamos
comprado uma bela mansão ao pé das colinas, em La Crescenta.
Enquanto dirigia meu próprio Cadillac, a caminho do estúdio em
Hollywood, comecei a me perguntar: "Para que tudo isto? por que faço
isto?" Essas perguntas existenciais provinham do profundo vazio que
havia em minha vida. Tinha todo: fama, dinheiro, um belo lar, um marido
atraente e famoso... Mas me sentia muito infeliz. Então lembrei de
algumas palavras de "Tam O'Shanter", de Robert Burn:

"Mas os prazeres são como um campo de papoulas;


colhida a flor, sua beleza se desvanece; ou como a neve
que cai no rio, branca por um momento, antes de fundir-
se para sempre".

Eu tinha me rodeado de todos os prazeres que meus sentidos


podiam apreciar. Tinha transformado a busca da felicidade em um
negócio. Nesse dia, enquanto ia para o estúdio, decidi traçar uma linha
debaixo de tudo que tinha, e fazer a soma. O resultado era zero. Lembrei
de um versículo de meus dias de escola dominical, na infância: "Tudo é
vaidade, como apanhar o vento". Desse dia em diante comecei a buscar
verdades espirituais. Mas eu não sabia que há duas fontes diferentes de
energia e poder espiritual. Em minha ignorância, fui em direção à
escuridão.
Comecei a freqüentar um grupo de oração que se reunia todas as
semanas em uma casa próxima. Mas ali nunca acontecia nada. Era tão
carente de poder como tinha sido a religião de minha infância. Como eu,
todos os outros estavam procurando, mas nenhum tinha encontrado
nada. Passávamos as noites analisando intelectualmente a oração.
Quando nos púnhamos a orar, não era real, e nunca houve respostas.
Tudo era vazio, sem significado algum.
Então tentei a Ciência Cristã, e daí passei a um pequeno grupo que
estudava religiões orientais. O sul de Califórnia está cheio de pessoas
vazias que correm atrás de algo que lhes ofereça esperança. Um vazio,
ainda que tenha forma de Deus, atrai tudo que não esteja amarrado...
especialmente os espíritos malignos.
Ed ficava fora de casa durante dias inteiros, e eu caí em uma
profunda depressão. Nem queria sair da cama. Estava perdendo o
interesse em minha carreira, e logo me encontrei balbuciando até quando
estava no set de filmagem.
"Algo está errado", falei a minha psiquiatra em certo dia de
setembro de 1959. "Minha carreira já não me faz feliz. Meu casamento
não me satisfaz. Sinto-me culpada por ter todas estas coisas que deveriam
me fazer feliz e, no entanto estou tão mal."
Ela me escutou com atenção e comentou sobre um novo método
de psicanálise com drogas que o doutor Sidney Cohen estava
experimentando na UCLA. Era uma nova droga, bastante controversa,
que, se tomada de forma controlada, aparentemente acelerava o processo
de análise: cinco sessões com a droga eram equivalentes a uma terapia
completa, que geralmente levava anos. Aceitei imediatamente
experimentar essa nova terapia, na qual deveria tomar uma dose por
semana. O nome da droga era ácido lisérgico: LSD.
Eu tinha acabado de protagonizar, junto com Agnes Moorehead e
Vincent Price, o filme O vampiro, inspirado em um livro de Agatha
Cristhie. Embora nesse momento não acreditasse em espíritos malignos,
agora compreendia que meu papel nesse filme tinha me preparado para
as "viagens" de LSD que estava por empreender.
Em 19 de setembro ingressei em uma instituição privada como
paciente ambulatorial. Minha psiquiatra, entusiasmada com o projeto,
assegurou-me que a droga faria com que minha mente se expandisse,
aprofundaria meu estado de consciência e seria a resposta a todos meus
problemas. Também assegurou que viria com freqüência me ver, para
tomar notas e fazer perguntas, enquanto eu estivesse sob a influência da
droga.
Naturalmente, acreditei nela. Mas foi um engano terrível e trágico.
Em vez de liberdade, encontrei uma escravidão pior do que todas as que
tinha conhecido até então. Em vez de cinco sessões com o LSD, tive 65:
uma por semana durante um ano e meio. A única maneira de me libertar
do LSD era tomar outras drogas, ou beber álcool. Comecei a tomar
mescalina (outro alucinógeno), e logo comecei a desmoronar.
A seguir, nos "graduamos", passando de viagens individuais com o
LSD a terapias de grupo. Sob a supervisão dos psiquiatras da UCLA,
aproximadamente doze pacientes nos reuníamos de manhã cedo aos
sábados e passávamos o dia, até tarde na noite, "viajando" com o LSD.
Nós psico-analizávamos uns aos outros, falávamos sobre nossos ódios e
nos contaminávamos mutuamente com nossos problemas. Em pouco
tempo adotei todos os sintomas de outros pacientes do grupo, para deleite
dos psiquiatras, que cada vez estavam mais convencidos de que
finalmente tínhamos encontrado a realidade.
Durante uma dessas viagens com o LSD revivi um acidente
automobilístico muito traumático que tinha sofrido quando tinha três
anos de idade. Todo terror que havia sentido então, voltou para mim.
Minha psiquiatra estava encantada: "Oh, por fim está chegando à última
peça de seu quebra-cabeças. Finalmente conseguirá arrumar sua vida".
Mas em vez de se arrumar, minha vida estava se amarrando em
um nó de confusão que não havia como desatar. Durante um ano e meio
de puro terror, as drogas desataram todas as forças malignas e
demoníacas que já tinham entrado em minha mente. Meu cérebro não
parava de funcionar em alta velocidade, e cada dia sofria visões como
efeitos da droga. Comecei a engolir todo tipo de narcóticos que pudessem
me fazer "descer" dos "picos" que o LSD produzia. Assim, fui apanhada
em um vício que duraria doze longos anos.
Mal conseguia trabalhar no set de filmagem: tinha inexplicáveis
ataques de ira, resistia a obedecer ordens e aparecia tão drogada que nem
sequer podia ler meus scripts. "Elaine," me disse Edward Small, "você
poderia chegar a ser uma das maiores atrizes no cenário artístico, mas
está arruinando sua vida. Saia disso!"
Eu já não tinha controle sobre mim mesma. Força extremas, muito
mais poderosas do que a minha força de vontade, se instalaram em meu
interior. Já não era dona de mim mesma.
Em 1961 quase fui protagonista, junto com Mickey Rooney, da
série televisiva The Seven Little Foys. Mas quase não conseguia me
arrastar pelo set e finalmente desabei no chão. Então soube que meus dias
como atriz estavam contados.
Minha última experiência como atriz teve estranhos toques
sobrenaturais. Uma diretora com quem tinha trabalhado anteriormente,
me ligou de Albuquerque, Novo México.
"Elaine, temos um problema", disse-me. "Faltam só dois dias para
a estréia de Dulcie, e Jean Cagney, que faz o papel principal, adoeceu.
Pode tomar o lugar dela?"
"Sem problema", falei. "Posso fazê-lo. Irei esta noite de avião."
Depois de desligar, comecei a me perguntar por que tinha
aceitado. Eu nunca tinha feito comédias. Demorava muito a decorar as
falas, geralmente semanas. Dulcie estava em cartaz durante toda a
temporada, e eu nem mesmo tinha lido o script. Isso era ridículo.
Tinha uma sessão de LSD programada para essa tarde, a qual
participei, como estava agendado. Quando tomei a droga, tive uma visão.
Vi um tremendo raio de luz, e no meio dessa luz havia um homem que me
dizia que saísse das sombras e fosse para ele. Me deu medo, mas sempre
tinha achado que a luz não podia ser algo ruim. Quando saí da sombra e
entrei na luz, senti uma grande corrente de poder e energia. Era como se
pudesse fazer qualquer coisa, quase como se fosse o próprio Deus.
Saí daquele lugar ainda sentindo essa grande energia, nova para
mim. Passei pelo escritório da diretora, em Los Angeles, peguei uma cópia
do script do Dulcie, e o li de cabo a rabo durante o vôo a Albuquerque.
Sabia que o tinha dominado.
Estavam me esperando no aeroporto, e me levaram ao teatro para
ensaiar. A diretora caminhava de um lado ao outro, meditando.
"Não poderá fazê-lo, Elaine", disse-me. "É impossível. Tem que
ficar em cena durante duas horas e meia."
Mas eu tinha uma confiança sobre-humana. Começamos o ensaio.
"Não está anotando seus blocos", dizia-me a diretora. Os "blocos"
incluem todos os movimentos sobre o cenário, e geralmente, para uma
obra como essa, demoraria pelo menos três semanas para aprendê-los.
"Não preciso anotá-los", sorri misteriosamente.
Nunca havia sentido uma energia e um poder tão fortes em toda
minha vida.
Essa noite fui ao hotel e estudei minhas falas durante umas duas
horas. No dia seguinte, no ensaio com figurino, tinha tudo perfeitamente
aprendido.
Era a obra mais importante já encenada em Albuquerque. Os
críticos ficaram loucos. "É como uma luz quando ela está em cena",
escreveu um deles. "Literalmente, domina o resto do elenco e faz que a
sigam."
A peça foi apresentada durante duas semanas e atraiu mais gente
do que qualquer outra já representada ali. Durante esse tempo, fiz coisas
que jamais tinha sonhado fazer, como dar várias aulas de representação
na Universidade de Novo México. Parecia que eu estava flutuando no
poder daquela tremenda energia... sem imaginar, nem por um segundo,
que poderia provir de Satanás.
Meu marido veio para me assistir na última apresentação, e logo
depois dela terminar, desabou o inferno. Acabou comigo. Eu nunca tinha
visto tanto ódio e tanta ira em um ser humano. Embora eu já suspeitasse
que ele estava com ciúme de meu sucesso, não pude suportar a violência
de seu ataque. Perdi toda minha coragem, e quando voltamos para Los
Angeles, todo o poder e a energia que havia sentido, tinham desaparecido
por completo. Me sentia como Cinderela ao chegar a meia-noite. Tornei a
cair numa profunda depressão. As trevas se instalaram novamente em
mim, tão espessas que não podia rompê-las. Soube que nunca voltaria a
atuar.
Voltei para o LSD. Drogas de manhã, drogas de tarde, drogas de
noite. Caia cada vez mais baixo.
O produtor de meu marido o convenceu a ir a Nova Iorque para
protagonizar uma novela. Não somente ganhou o papel principal, mas
também começou um relacionamento romântico com a protagonista
feminina. Nosso casamento, que tinha durado dezenove anos, estava
condenado a morrer. Ele pediu e obteve o divórcio e se casou com sua
protagonista. Eu fiquei na Califórnia, abandonada emocionalmente e com
o espírito destroçado.
Comecei a visitar um psicólogo que estava fazendo experiências
com o ocultismo. Ele acreditava que podiam ser ativadas certas energias
do "exterior" que formariam "triângulos protetores de luz" ao meu redor.
Chamava-os de "vértices de energia", que entrariam em meu corpo e
abririam minha mente para novos e mais elevados níveis de
conhecimento. Tudo estava relacionado com Shakti, a energia feminina
do deus hindu Shiva.
Comecei a freqüentar duas vezes por semana às sessões, em uma
tentativa desesperada para encontrar a verdade para minha vida
destroçada. No entanto, só o que fazia era me afundar cada vez mais nas
trevas. Isso me levou a cursos de astrologia, espiritismo, e de ondas alfa
de energia mental. Eu ainda não tinha pensado que a energia e o poder
podiam vir de fontes que não fossem boas.
Em nossa terapia de grupo, meu psicólogo nos fazia invocar certos
"mestres ascendidos", espíritos que viriam nos ministrar conhecimento.
Ele insistia que eu invocasse um, especialmente, chamado "o Tibetano",
que poderia me dar uma grande sabedoria. Nessa época, eu já estava tão
metida no mundo do ocultismo, que parecia que nunca poderia
desenredar o matagal retorcido que era minha vida.
A antiga busca do amor reapareceu. Me relacionei com um ator e
diretor divorciado, com o qual vivi durante dois anos. Esse homem
abusava de mim, e várias vezes tentou me matar. Era um pesadelo. Em
um louco intento de escapar dele, fugi no meio da noite. Duas semanas
depois, ele me achou. Se eu não tivesse concordado em voltar a viver com
ele, ele teria me matado.
Meses depois, ele adoeceu gravemente. Então pude escapar e fui
viver em um velho apartamento em Havenhurst, na saída do Sunset
Boulevard. Era o mesmo apartamento em que Carole Lombard morara
antes de ser assassinada. John Barrymore tinha morado bem em frente.
Meus amigos ocultistas estavam entusiasmadíssimos com o lugar, e
diziam que podiam sentir toda classe de espíritos que habitavam ali.
Insistiam para que eu entrasse em contato com eles, mas eu tinha medo.
Tornei a me refugiar em meu mundo de drogas e solidão.
Um de meus amigos era um famoso astrólogo judeu, amigo
pessoal de um colunista de uma revista de Toronto, Canadá, que tinha
preparado as sessões do Bispo Pike. Esse colunista tinha entrevistado
Kathryn Kuhlman, e meu amigo judeu me leu os relatos do seu ministério.
Pela primeira vez, senti um indicio de esperança. Seria possível que,
apesar do mundo enlouquecedor dos demônios e das trevas, houvesse
uma verdadeira luz, não poluída pelos poderes do mundo subterrâneo?
Fascinada por essa esperança, comecei a assistir às reuniões mensais de
Kathryn Kuhlman no auditório Shrine de Los Angeles.
Várias vezes a ouvi falar contra as coisas das quais eu participava:
astrologia, espiritismo, ocultismo. Parecia que sabia do que estava
falando. Falava com autoridade, não como os psiquiatras, psicólogos e
psicanalistas que eu tinha consultado. Em vez de fazer perguntas, ela dava
respostas. E quando orava, tinha resultados. Decidi que me esforçaria
para me libertar de todas essas ataduras.
Comecei orando por cura, pedindo a Deus que me tirasse a
necessidade de drogas. E decidi exorcizar meu apartamento, limpá-lo de
todos os espíritos malignos. Não sabia nada sobre as técnicas de
exorcismo, então perguntei aos meus amigos espíritas. "Quero fazer como
diz na Bíblia", lhes falei.
Eles me deram todo tipo de sugestões, e uma delas foi queimar
incenso e mirra (isso sim, estava na Bíblia). Parecia uma boa idéia para
expulsar os espíritos malignos. Decidi adicionar "pó de sangue de dragão"
à mistura, para fazê-la mais potente.
Uma noite, enchi o apartamento de incenso e caminhei por todos
os cômodos, repetindo o salmo 91, para ter boa sorte e ganhar coragem.
Depois queimei incenso e mirra, coloquei-os num prato, polvilhei o "pó de
sangue de dragão" sobre ele, e pus o prato perto de minha cama, sobre o
chão.
Mal virei as costas, ouvi uma pancada e senti um cheiro diferente
de fumaça. Me virei, e vi que o prato tinha se virado sobre o chão. A parte
de baixo da minha cama estava em chamas!
Corri para o banheiro, enchi um copo de água e fui para a cama.
De joelhos, levantei o colchão para jogar a água no fogo.
Repentinamente, senti uma força sobre-humana que atirava o
colchão para baixo, esmagando minha mão entre o elástico e o colchão.
Nesse momento, o fogo literalmente explodiu da cama.
Tentei libertar a mão. Estava presa. Estava como que pregada à
cama que se incendiava. As chamas se espalharam pelo quarto, subindo
pela cortina e paredes. "Deus, me ajude!", gritei. Então dei um último
puxão, consegui soltar minha mão, e saí cambaleando do quarto para o
corredor.
Quando os bombeiros chegaram, o apartamento estava totalmente
destruído. Depois que as cinzas esfriaram, entrei. O dormitório era um
monte de carvões, como o interior de um forno crematório. Eu tinha
perdido tudo, exceto a vida.
Em fevereiro de 1972 voltei ao auditório Shrine. Depois de ter
estado tão perto da morte, esperava ansiosamente o momento de voltar
ali para estar na presença do Espírito Santo. Nessa tarde de domingo,
sentada atrás, na parte de baixo, comecei a orar pelas pessoas que me
rodeavam. Repentinamente tomei consciência das trevas em que tantas
pessoas andavam. Quantos outros, milhares, milhões, estariam
tropeçando no caminho, como eu, tentando libertar-se das garras do
maligno?
Enquanto orava, senti uma Presença à minha volta e sobre mim.
Soube imediatamente quem era. Nunca o tinha conhecido, mas não
precisávamos ser apresentados. Eu estivera buscando-o por toda minha
vida, e de repente, estava ali. Jesus estava ali.
Senti um grande calor em todo o corpo, e comecei a chorar.
Algumas vezes eu ia acompanhada a esses cultos, mas dessa vez tinha ido
sozinha. Me alegrei de não ter que explicar a ninguém o que me acontecia.
Jesus estava ali, me envolvendo com seu amor. E nesse momento, soube
que era amada, com um amor muito maior do que o que qualquer homem
poderia me dar. Estava nos braços do Pai. Era como se em todos aqueles
anos tivesse havido um buraco vazio em meu coração, com um cartaz
dizendo: "Reservado para Jesus Cristo". Agora Ele tinha chegado, e todas
as minhas necessidades de amor estavam satisfeitas.
Soube que nunca mais voltaria a precisar das drogas. Foi assim:
simples, definitivo, absoluto. Estava curada.
Depois que terminou o culto, saí rapidamente. Esperava
ansiosamente o momento de ficar sozinha. Antes, sempre tinha
necessidade de ter gente ao meu redor, multidões de pessoas que me
admirassem. Agora já não queria nem necessitava de mais ninguém. Era
suficiente estar com Ele.
Jantei tranqüila em um pequeno restaurante fora do ambiente
mais cheio, e voltei para meu pequeno apartamento de um cômodo. Fui
ao banheiro e esvaziei o conteúdo de todos os frascos e das caixas de
medicamentos na privada. Nunca mais voltaria a ser escrava das drogas.
Fui até o sofá-cama. Foi tão natural me ajoelhar para orar, para agradecer
a Deus pelo que tinha feito.
Nessa noite, pela primeira vez em anos, dormi pacificamente. Sem
drogas, sem pesadelos, sem insônia. Compreendi então o significado do
versículo: "Em paz me deitarei e dormirei, porque só tu, Senhor, me fazes
habitar em segurança." (Salmo 4:8).
Meus problemas não se acabaram por completo com a experiência
dessa noite. Houve momentos de desalento e solidão. A maioria de meus
antigos "amigos" se afastaram de mim, e tenho que criar novas amizades
com crentes. Ainda há momentos de tristeza e tentação, mas agora sei que
não estou sozinha. Jesus me ama. E estou aprendendo a deixar que Ele
lute em meu lugar.
Algumas vezes, de noite, depois de apagar a luz, sinto forças
malignas à minha volta. Já não repito rituais de exorcismo, nem mesmo
falo com os espíritos. Simplesmente oro: "Jesus, preciso de tua ajuda. Eles
voltaram. Podes vir e mandá-los embora?" E Ele sempre responde minha
oração.
Capítulo 10

A cética do chapéu de pele

Jo Gummelt

A senhora Jo Gummelt, esposa de um ex-pastor batista,


era reconhecida como uma das colaboradoras mais
importantes do Congresso, em Capitol Bill (Washington
D.C.). Nasceu em Mobile, Alabama, estudou na
Universidade Baylor e depois se mudou para Fort Worth,
Texas, junto com seu marido Walter, que fez pós-
graduação no Seminário Teológico Batista dessa cidade.
Desde 1958, os Gummelt vivem em District Heights,
Maryland, onde Walter ocupou vários cargos
importantes dentro de sua denominação.

Como a maioria dos batistas, eu acreditava que a Bíblia é o registro


inspirado da revelação de Deus à humanidade, e agradecia a Deus pela
maneira como tinha falado aos profetas e aos apóstolos. Acreditava que
quando Jesus tocava em alguém, essa pessoa era curada. Acreditava que
logo depois dele subir ao céu, aqueles cento e vinte crentes que estavam
no cenáculo durante a celebração do Pentecostes, e muitos outros na
igreja primitiva, receberam o poder do Espírito Santo. Acreditava que
esses homens e mulheres tinham falado em línguas, realizado milagres e
tinham visto a recuperação dos doentes depois de impor as mãos sobre
eles. Mas por alguma razão, não compreendia que Deus podia derramar
seu Espírito em mim, hoje, da mesma maneira.
Não é que não quisesse receber seu Espírito, sentir seu poder ou
manifestar os dons do Espírito. Sim, desejava todo isto. Na verdade, eu
estava dirigindo um estudo bíblico sobre o Espírito Santo, para mulheres.
É que pensava que Pentecostes era algo que tinha acontecido em um
tempo muito longínquo. Tive que chegar a estar perto da morte para
descobrir a verdade de que podia receber a vida de Deus hoje.
Em 1949, depois de me formar na escola secundária em Mobile,
Alabama, meu pai me presenteou com uma viagem a Washington D.C.
Apesar de ter estado doente durante quase tantos anos como os que eu
tinha de vida, papai tinha economizado o suficiente para comprar duas
passagens de ônibus e poder visitar meu irmão mais velho, que trabalhava
na biblioteca da Suprema Corte.
Meu irmão conhecia Truman Ward, um importante funcionário da
Câmara de Deputados. O senhor Ward me ofereceu um emprego, e assim
me tornei a mais jovem estenografa do Capitol Hill. Três dias depois, o
senador Spessard Holland, da Florida, ofereceu-me um emprego como
sua secretária por três mil dólares por ano. Isso era mais do que meu pai
jamais havia ganhado em Mobile. Então soube que ficaria em
Washington.
Logo me encontrei submersa no fascinante mundo da política, e
passei a trabalhar para outro congressista, com um salário ainda maior.
Nesse momento o casamento não me atraía. Meu constante esforço por
obter eficiência e perfeição me transformara na colaboradora ideal... e eu
adorava sê-lo. Dormia três horas por noite, e uma sesta de quinze minutos
depois de comer uma salsicha de quinze centavos. Isso era só o que
necessitava. Mas já estava criando padrões de vida e de trabalho que
quase me levariam à destruição antes de completar os quarenta anos.
Durante aqueles primeiros anos em Washington, conheci um
grupo de jovens da Igreja Batista Metropolitana, que eram diferentes de
tudo o que eu tinha conhecido antes. Em sua alegria e testemunho
constantes, podia ver que tinham algo que me faltava. Aqueles jovens de
Washington me motivaram a ter uma sede nova: a de ser como Jesus, e
entregar toda minha vida a Ele para servi-lo em tempo integral. O gasto
de tempo "mais completo" que eu podia conceber naquele momento era
ser médica missionária. Talvez porque papai estava sempre doente; talvez
pelo que tinha lido sobre o Jesus que impunha suas mãos sobre os
doentes e os curava. Fosse pelo que fosse, eu queria ver as pessoas
curadas, e ser médica missionária era a única forma que eu conhecia de
obtê-lo.
Matriculei-me na Universidade Baylor, em Waco, Texas. Meu
chefe, o deputado Prince Preston, da Georgia, ajudou-me
financeiramente, e me disse que, quando ficasse com o dinheiro curto,
poderia voltar para Washington, e que meu emprego sempre estaria me
esperando. Aproveitei seu oferecimento e, alternando entre Washington e
Waco, finalmente terminei meus estudos, depois de seis anos.
Enquanto estava em Baylor, conheci Walter Gummelt, um jovem
muito atraente, loiro, de cabelo ondulado e físico atlético. Walter se
formou antes de mim, e em seguida se mudou para Fort Worth, onde se
matriculou no Seminário Batista. Nos casamos logo após eu terminar
meus estudos. Meu desejo de ser médica missionária tinha sido
substituído por outro: o de ser esposa de um pastor. Depois de Walter se
formar no seminário, voltamos para Washington. Voltei a trabalhar, e
Walter aceitou o convite para ser pastor da Igreja Batista Parkway, uma
congregação nova em District Heights, Maryland.
Imediatamente voltei para meu antigo estilo de vida: trabalhava
até horas incríveis, comia mal, e tudo o que empreendia, concluía com
perfeita precisão. Conservei minha boa saúde durante os primeiros anos.
Mas logo, gradualmente, as pressões de ser esposa de pastor, além das
incríveis pressões de trabalhar no Congresso, começaram a se fazer sentir.
Perdi peso.
Em algumas manhãs, me levantava mais exausta do que ao me
deitar. Sofri vários abortos espontâneos, e quando finalmente consegui
chegar ao final de uma gravidez, trabalhei até que o pequeno Gordon
nasceu. Logo depois de um breve recesso, voltei a trabalhar. Havia me
tornado viciada em trabalho.
Quando meu chefe perdeu a reeleição, Walter sugeriu que poderia
ser um sinal de Deus para que eu deixasse de trabalhar. Mas antes de ter
tempo de considerar seu conselho, ofereceram-me um dos cargos mais
importantes: um congressista do Texas me pediu que fosse sua assistente
administrativa, o cargo mais importante dentro do gabinete de um
congressista.
O emprego exigia alguém perfeccionista, e eu tinha ganhado a
reputação de ser exatamente isso: motivada, eficiente, leal. Aceitei o posto
e comecei com um trabalho que me desgastava sem misericórdia,
administrando o escritório, dirigindo o pessoal, escrevendo discursos e
fazendo pesquisas sobre leis até muito depois do horário de encerramento
do expediente. Noite após noite, me arrastava para casa, muito depois de
escurecer, e me sentava no banco do piano, com papéis ao meu redor:
trabalhava até a madrugada.
Continuei perdendo peso. Sofri outros três abortos espontâneos, e
me surgiram três úlceras hemorrágicas, características de quem trabalha
no Congresso, conseqüências inevitáveis dos conflitos internos do
gabinete e da perseguição dos empregados homens, que invejavam minha
posição. Eu trabalhava setenta horas por semana, dormia menos de
quatro horas por noite e continuava tentando estar presente na igreja
junto ao Walter.
Então começaram as dores de cabeça. As enxaquecas começavam
como uma dor surda na parte de trás e em uma lateral da cabeça. Quando
começava, a dor era como um fogo que me incendiava o cérebro. Era
como ter o crânio em um torno gigante que o apertava tão forte que
parecia que ia explodir. Junto com a dor vinham as náuseas, em ondas,
enquanto meu corpo se convulsionava em agonia.
O médico disse que eu sofria de uma "clássica enxaqueca de
personalidade", e me receitou drogas. Comecei a tomar grandes doses de
Darvon composto. Disseram-me que não causava vício, mas logo me dei
conta de que psicologicamente já tinha sido apanhada. À medida que as
enxaquecas se faziam mais e mais intensas e freqüentes, fui aumentando a
dose. Então, como se estivesse em uma comédia de horror, meu cabelo
começou a cair. Coloquei a culpa nos abortos espontâneos e no fato de
que estava começando a envelhecer, mas a perspectiva de me tornar calva
não era nada divertida. Comprei uma peruca.
Num dia de primavera, muito ventoso, saí cedo de meu trabalho.
Nossos escritórios ficavam no edifício Sam Rayburn, e ao sair pela porta
principal, vi, estacionadas na rua circular, as grandes limusines pretas dos
membros do Gabinete. Cada uma, com seu motorista parado ao lado da
porta. Eu sabia que estava acontecendo uma audiência especial, e não
pensei muito mais no assunto, até que saí da área protegida. Então, o
vento me arrancou a peruca e a fez voar até um espaço aberto, no meio de
todos esses motoristas uniformizados.
Gritei pedindo ajuda, mas ninguém se moveu. Os seguranças e os
motoristas ficaram parados, com as bocas abertas, olhando como minha
peruca dava voltas pelo gramado até "aterrissar" sobre um pé de tulipas.
Então prorromperam em gargalhadas. Eu imaginei os congressistas,
correndo até as janelas e me vendo correr atrás da minha peruca.
Finalmente a peguei, coloquei-a apressadamente na cabeça, e me dirigi ao
estacionamento. Para os homens fôra muito engraçado, mas eu tinha
vontade de chorar. Por que tinha que usar uma peruca? Por que não podia
ser normal? Sentada no carro, desatei a chorar.
Certa manhã, vários meses depois, levantei-me da cama, fraca e
cambaleante, para preparar o café da manhã para o Walter. Ali, inclinada
sobre o fogão, comecei a chorar. Minhas lágrimas caíam sobre o óleo
quente da frigideira e provocavam pequenas nuvens de fumaça. "Já não
tenho um lar", pensei. "E Walter não tem esposa, porque eu estou casada
com meu trabalho. Mas ele nunca se queixa. Ele é como o penhasco de
Gibraltar, enquanto eu estou me partindo pela base." O simples
pensamento de enfrentar outro dia no escritório me fazia tremer.
Senti o braço do Walter me rodeando a cintura por trás, seu rosto
contra meu pescoço, e o perfume de sua loção de barba. Quanto tempo
fazia que eu não ficava olhando ele se barbear? Antes, quando
batalhávamos juntos, na época em que estudávamos no seminário, eu
tinha tempo para isso.
Lembrei dos primeiros anos de casamento. Nosso pequeno duplex
na rua Stanley, perto do Seminary Hill, no cruzamento com a Wichita
Falls, onde Walter pregava aos finais de semana. Não tínhamos dinheiro,
mas caminhávamos pelas ruas desertas do centro de Fort Worth, muito
tarde na noite, e olhávamos as vitrines. Algumas noites, para me distrair,
ia com ele à biblioteca do seminário e ficava olhando ele pesquisar nos
livros, preparando-se para um exame. Ou simplesmente caminhávamos
ao redor do saguão central, de mãos dadas, olhando os retratos dos
antigos reitores do seminário. Agora não tinha tempo para coisas assim,
para me sentar e olhar para ele. Não tinha tempo para caminhar com ele
de mãos dadas. Não tinha tempo para lhe passar colônia depois de haver
se barbeado e sorrir, fazendo-lhe cócegas no nariz. Continuei chorando.
"Não vale a pena, Jo", me disse Walter, suavemente. Ele sempre
foi tão gentil, tão amável. "Deixe o trabalho. Não precisamos de dinheiro
extra. Deixe-o antes que a mate."
Ele tinha razão, mas já era muito tarde. Fui ao médico. Me olhou e
sacudiu a cabeça. Ulceras hemorrágicas e enxaquecas! Anotou em minha
ficha: incapacidade total permanente. "Descanse muito", advertiu-me, "ou
lhe acontecerá algo drástico." Ele não sabia, e nem eu, mas já tinha
começado a acontecer algo drástico. Eu tinha começado a morrer.
Walter pensou que seria bom pegar o trailer e sair por uma
semana, de férias às montanhas Allegheny. Eu não tinha vontade de fazer
camping. Gordon tinha seis anos e muita energia. Mas fui, decidida a
aproveitar o máximo possível.
Deixamos o trailer em um camping no Parque Estatal Allegheny,
ao sul do Estado de Nova Iorque, e seguimos de automóvel até a fronteira
com o Canadá, para visitar as cataratas do Niágara. Foi um dia cansativo.
Passeamos pelos caminhos de concreto, subimos as escadas e pegamos o
bote até a base das cataratas. No retorno, a caminho do trailer, enquanto
Gordon dormia no banco traseiro, comecei a me sentir mal como nunca
antes. Sentia uma tremenda pressão em ambos os lados da parte de baixo
da coluna, como se tivesse toda a água do rio Niágara fazendo pressão
contra um dique. Quando tentei girar o corpo no assento, a dor aumentou.
A via pela qual trafegávamos estava em obras, e a cada solavanco, um
espasmo agônico percorria meu corpo.
Então, lentamente, notei algo mais: uma paralisia que se estendia
por minha coluna. Ofegando, agarrei Walter, lhe cravando as unhas no
braço.
"O que foi, Jo?", perguntou ele, alarmado. "Está branca como
papel."
"Não sei", respondi com dificuldade. "Mas tenho medo. Estou
perdendo a sensibilidade nas costas." Isso não era uma simples úlcera ou
uma dor de cabeça. A dor se estendia pelas costas e enchia o estômago. As
ondas de náuseas me faziam ter desejos de vomitar. Pela primeira vez em
minha vida, soube o que era sentir as garras da morte sobre mim.
Quando chegamos ao trailer, já tinha escurecido. Atirei-me na
cama enquanto Walter foi procurar um hospital, levando Gordon com ele.
Quando voltou, disse-me que o mais próximo estava a quilômetros de
distância. Mordi os lábios. "Talvez, se descansar, me sentirei melhor."
Walter estava preocupado, mas eu insisti em esperar até de manhã. Mas à
medida que a noite avançava, eu me sentia pior. Sentia que meu corpo se
estava destroçando por dentro.
De manhã cedo, levantei para ir ao banheiro. Pude eliminar algo
de meu organismo, e me senti um pouco melhor. Cambaleando, voltei
para a cama, e enquanto o Sol nascia sobre as árvores, adormeci.
Quando despertei, a manhã já estava avançada. Ouvia as vozes de
Walter e Gordon lá fora. Quando tentei me levantar, percebi que estava no
meio de uma poça de sangue.
Walter queria me levar ao hospital, mas outra vez tratei de
acalmá-lo e o convenci a não fazê-lo. "Somente me leve para casa. Se me
deitar em minha cama, ficarei bem."
Mas não melhorei, e Walter me levou, finalmente, a um médico.
Logo que descrevi meus sintomas, pude ver o olhar de alarme no rosto do
profissional.
"Não se pode ignorar este tipo de hemorragia, senhora Gummelt",
disse.
Depois de tirar algumas radiografias, disse-me com voz severa: "A
espero esta tarde no hospital".
Percebi que algo estava terrivelmente mal.
"O que é?", perguntei.
"Saberemos melhor em poucos dias. Mas neste momento, parece
como se literalmente estivesse expulsando pedaços de seus rins.
O diagnóstico: uma variante de necrose papilar renal, uma doença
muito rara e grave, que causa a deterioração do interior do rim. O
urologista me explicou que meus rins eram como duas esponjas podres, as
quais poderiam ser atacadas por qualquer bactéria insignificante que
entrasse em meu sistema, causando ainda mais deterioração. Quase a
metade dos dois rins já tinha se desprendido e sido eliminada de meu
sistema. Estava morrendo.
Walter enviou uma carta à congregação, pedindo que orassem por
mim. Embora a oração pelos doentes (a oração da fé, com autoridade),
fosse algo estranho para a maioria deles, houve um grupo de mulheres
que compreenderam que Deus as havia preparado para esse momento e
esse lugar, para orar por minha cura.
Aproximadamente um ano antes, algumas jovens donas de casa da
igreja, tinham vindo me pedir que as ensinasse. Elas queriam uma relação
mais profunda com o Senhor, mas não sabiam como obtê-la.
Aparentemente sentiam que, apesar de meus nervos destroçados e meu
corpo doente, eu podia lhes indicar a direção correta.
Muitos anos antes, quando estudava em Baylor, tinha me
acontecido algo. Uma tarde, enquanto atravessava a rua Ocho, em Waco,
repentinamente recebi a revelação de que o Espírito Santo habitava em
mim. Meus olhos se encheram de lágrimas, e mal consegui chegar ao
outro lado da calçada. "Que assustador, mas maravilhoso, ao mesmo
tempo!", murmurei. "Levo o Espírito Santo a todo lugar que vou!"
A partir desse momento o Espírito Santo se converteu em uma
pessoa para mim, alguém que escutava todas as minhas palavras,
conhecia todos os meus pensamentos, via tudo o que eu fazia. Durante
semanas, caminhei pelos edifícios da universidade completamente alheia
a qualquer problema, inundada pelo Espírito Santo, apaixonada pelo
Senhor. Comecei a dar o dízimo, não só de meu dinheiro, mas também de
meu tempo, em estudo bíblico e oração. Ao final desse período passava
aproximadamente cinco horas por dia em comunhão com o Senhor. Mas
não havia durado muito. Foi uma relação passageira, não algo para toda a
vida. Mas embora meu "amor" pelo Espírito Santo tivesse se desvanecido,
eu continuava consciente de seu poder.
Portanto, quando essas jovens vieram me pedir que as ensinasse a
andar mais próximas do Senhor, era natural que começasse por lhes
ensinar o que a Bíblia dizia sobre o Espírito Santo. Sabia que eu mesma
era uma aprendiz. E suspeitava que embora falasse todas as palavras
corretas, não compreendia realmente o que estava dizendo.
"Pentecostes não é tempo passado", eu havia dito.
"Se a Bíblia é verdadeira, então, por que não podemos tomá-la
literalmente?", tinham perguntado minhas alunas. "por que não podemos
esperar milagres e curas, agora?"
Como batistas que éramos, acreditávamos que a Bíblia era a
Palavra inspirada de Deus, e fazer esse tipo de perguntas sempre
provocava grandes frustrações. Eu queria ser intelectualmente honesta,
mas como nunca tinha visto um milagre, nunca tinha visto uma
demonstração física do poder de Deus, me custava acreditar.
Aprofundamos mais nosso estudo da Palavra, tentando encontrar
respostas. De alguma forma, sabíamos que esse caminhar mais perto de
Deus tinha a ver diretamente com a doutrina do Espírito Santo. Mas o que
esperávamos e necessitávamos desesperadamente era uma demonstração
do poder de Deus, e não apenas palavras sobre Ele. Essa demonstração se
produziria no sábado de manhã, uma semana após eu ter dado entrada no
hospital.
Nesse dia eu completava trinta e sete anos. As mulheres do grupo
de estudo bíblico tinham vindo ao hospital me visitar, e estavam rodeando
minha cama. Ao olhar para elas, soube que algo tinha acontecido.
"Como se sente?", perguntou Pat Vandeventer. O marido de Pat
era da Marinha, e eles tinham começado a freqüentar nossa igreja, não
porque fossem batistas tradicionais, mas sim porque o Senhor lhes tinha
indicado que o fizessem. Poucas pessoas se aproximavam de nossa igreja
porque o Senhor lhes ordenava, mas com Pat e seu marido foi assim.
Eu estava fraca, muito fraca e muito sedada, mas me esforcei em
responder com um ligeiro sorriso: "um pouco melhor. Não tenho tanta
hemorragia".
"Louvado seja o Senhor!", disse Pat, suavemente, e piscou o olho
para uma das mulheres que estava do outro lado da cama. Essa, por sua
vez, sorriu e piscou para outra. Em seguida, todas começaram a assentir
com a cabeça e sorrir, como se soubessem algo que eu não sabia. E assim
era... mas só fiquei sabendo várias semanas depois.
Então, uma tarde, quando estava sozinha no quarto do hospital,
Pat veio me visitar e contou o que tinha acontecido naquele sábado.
"Quando recebemos a carta do pastor", disse-me, "todas do grupo de
oração soubemos que estava morrendo. Também sabíamos que esse era o
momento de provar se o que tínhamos estudado com você era verdade.
Ou Deus cura, ou não cura. É simples assim."
"Parece que é como colocar Deus à prova", falei.
"Não, não é isso", disse Pat, aproximando sua cadeira de minha
cama. "Simplesmente decidimos nos juntar e confiar nele para sua cura.
Talvez Deus tenha nos posto à prova, para ver se acreditamos no que Ele
diz em sua Palavra. As oito integrantes do grupo nos reunimos aquele
sábado para ter uma reunião de oração ao amanhecer, num canto do
parque municipal."
Esperei em silêncio enquanto Pat fazia uma pausa. Seus olhos
começaram a umedecer-se. "Foi um momento muito precioso e sagrado
para cada uma de nós. Enquanto esperávamos em Deus, cada uma, de
forma pessoal, recebeu uma demonstração do poder do Senhor. Todas
soubemos que seria curada milagrosamente."
"Não entendo", interrompi-a. "Sei que estou melhor, mas isso é
porque estou no hospital, e estão me enchendo de medicamentos. Mas o
doutor diz que meus rins desapareceram."
"Já sabemos", disse Pat, sorrindo uma vez mais. "Mas também
sabemos que Deus demonstrou seu poder, o poder de que temos lido na
Bíblia. Sabemos que será curada."
"Diz que demonstrou seu poder? Como?"
Pat ficou em pé e foi para a janela. Falava com suavidade, como se
estivesse revivendo aqueles momentos no parque. "Cada uma o sentiu ao
mesmo tempo, mas de maneiras diferentes. Eu estava sentada no banco,
com a cabeça apoiada em minhas mãos, e repentinamente senti como se
meu coração se partisse. Todas começamos a sentir um amor por você,
tão profundo como nunca o havíamos sentido antes. E parecia que íamos
perdê-la. Começamos a orar por você, mas quando o sol começou a
nascer, ficamos sem palavras. Já não podíamos orar mais, e ficamos
sentadas, chorando em silêncio. Então, do fundo do meu coração, surgiu
como um manto de paz, como a neve fresca que cai sobre a paisagem
cinza e a cobre de branco puro. Eu soube, Jo. Soube que Deus a havia
curado. Não houve foguetes, nem terremotos; só a profunda certeza
interior de que estava sendo curada... e quando Deus o dispuser, saberá."
Pat se voltou da janela e me olhou. Continuou o relato: "Levantei a
vista, e todas as outras mulheres do grupo estavam sorrindo através das
lágrimas. Elas tinham recebido a mesma mensagem que eu, ao mesmo
tempo. Saímos do parque com essa segurança, e depois disso todas as
dúvidas se dissiparam."
"Mas não estou curada", falei.
"Oh, sim, claro que está", disse Pat com firmeza. Seus olhos
faiscavam, cheios de decisão e fé.
"Sabemos que os médicos disseram ao pastor Gummelt que sua
enfermidade é incurável; mas lembre, nosso Deus é o Deus do
impossível."
Eu sabia que estava muito doente. Mas... incurável? Esqueci todo
o resto que Pat havia dito. Essa palavra ficou ressoando em minha mente.
Muitos, muitos especialistas vieram me examinar durante as
semanas seguintes. Na região de Washington, eu era a única, até então,
em quem tinha sido diagnosticado esse tipo de doença de rins, em
particular. Um dos urologistas comentou que na Suécia havia sido feito
um estudo com cento e vinte e cinco pessoas que tinham sintomas
similares aos meus e estavam em iguais condições. Mas quando lhe
perguntei sobre os resultados do estudo, respondeu com evasivas. O que
pude deduzir foi que todas elas tinham morrido. O único alento que recebi
dos médicos foi a esperança de que pudessem estabilizar meus rins e
possivelmente deter o processo de deterioração. Eu sabia que não havia
medicina capaz de me curar.
Finalmente, me deram alta do hospital, recomendando que ficasse
de doze a quatorze horas por dia na cama. A advertência não era
necessária. Eu estava completamente sem forças. Antes sempre tinha
conseguido extrair de mim mesma um pouco mais de energia ou força
para completar uma tarefa. Mas dessa vez, quando procurei em meu
interior, somente encontrei vazio.
Na segunda manhã em casa, esperei até que Walter fosse
trabalhar. Então me levantei para abrir a janela do quarto. A simples
tarefa de andar até o outro lado do quarto e tentar abrir a janela consumiu
toda minha energia, como se tivesse andado mais de três quilômetros.
Desabei novamente sobre a cama, ofegando de cansaço, sem ter
conseguido abrir a janela. Podia sentir meus rins inchados, se esmagando
contra minhas costas.
Minhas energias de reserva, esse pequeno "extra" que evita que
uma pessoa morra quando chega ao final de suas forças, esgotaram-se. O
médico havia dito: "Uma pequena bactéria, que possa contrair, por
exemplo, de água não muita limpa, a colocará em perigo iminente de
morte".
Havia outras pressões acumulando-se ao mesmo tempo. O médico
me havia dito que quando me sentisse bem, poderia voltar para a igreja,
mas não mais de uma vez por semana. Antes de entrar no hospital eu
pesava aproximadamente cinqüenta quilos. Mas quando me deram alta,
meu corpo começou a reter líquidos, e fiquei muito inchada. Não queria
que me vissem assim.
Passei o ano seguinte entrando e saindo do hospital. Tinha que ir
constantemente ao médico para que me fizesse exames, análises e
cultivos. À medida que meu corpo se auto-imunizava contra uma droga, o
médico me dava outra, e com a mudança, vinha toda uma nova série de
exames para comprovar se essa droga me mataria, em vez de me fazer
bem. Parecia que estava todo tempo no consultório do médico, fazendo
uma radiografia atrás da outra. Para combater as infecções internas que
sempre surgiam, constantemente devia tomar diversos antibióticos. As
despesas com remédios subiam sem parar.
Preparar-se para a morte é uma experiência psicológica
aterradora. Todo meu estilo de vida mudou. Eu sabia que morreria, e era
muito difícil me adaptar a esse fato enquanto ainda estava viva. O médico
da família me sugeriu consultar um psiquiatra. "Talvez ele possa ajudá-la
um pouco com essas enxaquecas", disse. Isso era o que esperava. Minha
oração era que pudesse jazer em paz e acabar com esse processo de
morrer.
Já não podia funcionar como esposa ou mãe. Não podia fazer
nenhuma tarefa caseira. Ouvia quando Gordon voltava da escola e
passava pelo corredor nas pontas dos pés sem entrar no meu quarto, para
não me incomodar. Me fazia lembrar de quando eu era menina e meu
papai estava sempre doente. As crianças deviam andar sempre nas pontas
dos pés em casa, para não despertá-lo. Agora tudo isso tornava a
acontecer. Sentia-me terrivelmente culpada. Isso será a única coisa que
meu filho lembrará de sua mãe, pensava. Doente, na cama, atrás de uma
porta fechada. Será que esse horror vai continuar de geração em geração?
Então começaram a acontecer coisas. Tudo começou com uma
carta de minha irmã mais nova, que soube que minha doença era terminal
e me sugeriu que lesse o livro de Kathryn Kuhlman, Creio em milagres.
Dois dias depois, eu estava na cama, ouvindo um programa em uma rádio
local, e escutei o anúncio de uma convenção da Associação Internacional
de Homens de Negócios do Evangelho Pleno, que aconteceria no Hotel
Hilton de Washington. O anúncio não teve grande importância para mim,
até que ouvi o nome de Kathryn Kuhlman. Ela falaria em uma reunião
vespertina da convenção. Era estranho que escutasse esse nome duas
vezes seguidas em uma semana.
Deus ainda não tinha terminado. Na manhã seguinte, Pat
Vandeventer veio me ver. "Jo, vamos à Convenção de Homens de
Negócios do Evangelho Pleno. Kathryn Kuhlman vai falar lá na quinta-
feira à tarde."
Três vezes seguidas em uma semana não podiam ser coincidência.
Entretanto, resisti. "Sinto muito, Pat, mas não me convence o fato de uma
mulher pregando", respondi.
"Pensei que fosse mais aberta", sorriu Pat, com os olhos
brilhantes. "Você não é aberta, é batista."
Foi um golpe no meu ponto fraco, e eu soube que ela tinha razão.
Eu estava julgando essa mulher, apoiada em que não tinha visto seu nome
impresso em nenhuma publicação de nossa Convenção Batista do Sul. Eu
lia todas elas, e nunca tinha visto seu nome em nenhuma delas. Até
duvidava se seria do Senhor, já que os batistas do Sul pareciam não
reconhecê-la.
Olhei para Pat. "Está bem, tem razão. Meu coração tem tanta fome
da plenitude do Espírito como o seu. E se podemos aprender algo a
respeito de Deus de alguém que não seja batista do Sul, estou preparada."
Pat foi me buscar na quarta-feira de noite e cruzamos a cidade até
chegar ao Hilton, na noite de abertura da convenção. Eu tinha estado em
muitas, muitas reuniões batistas, desde reuniões de associações até as
imensas convenções anuais. Mas esta não era como nenhuma outra
reunião que já houvesse freqüentado. As palavras-chaves eram a alegria e
a liberdade. Mais de três mil pessoas estavam sentadas ali, no luxuoso
salão, e todas pareciam estalar de gozo. Jamais tinha visto tantos rostos
sorridentes.
Imediatamente suspeitei de algo. Nas reuniões batistas que eu
havia freqüentado, ninguém sorria assim. Na verdade, não sorriam assim
nem em nossa igreja.
Eu havia trazido um gravador para poder captar tudo o que o
orador pudesse dizer, mas não tinha adiantado nada. O homem sentado à
minha frente estava tão feliz que ficou o tempo todo falando ao mesmo
tempo que o orador. A cada frase, esse homem respondia gritando:
"Louvado seja o Senhor!" ou "Obrigado, Jesus".
Eu tinha escutado alguns "Amém" no Baylor, e nos cultos do
seminário, mas nunca nada como isto. Estava irritada. "Por que não se
cala?", protestei intimamente.
Saí da reunião muito confusa. Seria real tudo isso? Toda essa
gente era genuinamente feliz, ou eram simplesmente desequilibrados
mentais? Quanto a mim, sentia que estava se aproximando uma
enxaqueca, e pedi a Pat que fosse mais rápido.
Ao despertar ao dia seguinte, a enxaqueca continuava me
incomodando. O psiquiatra me havia prescrito uma série de drogas, um
comprimido a cada trinta minutos durante três horas. As drogas me
reviravam terrivelmente o estômago, mas acalmavam a dor de cabeça.
Quando tomava o quinto comprimido, a dor já se estava acalmando, mas
tinha que ficar de cama por causa de meu estômago. Sabia que Pat teria
que ir sozinha à reunião de Kathryn Kuhlman.
Mas dessa vez foi diferente. Era estranho, mas a dor de cabeça
desapareceu, e meu corpo parecia mais forte do que antes. Depois de
tudo, poderia ir ao culto de milagres.
Nesse ano Walter era presidente da Conferência de Pastores
Batistas de Washington D.C. Nesse dia teriam um almoço. Pouco antes do
meio-dia, Walter me ligou para saber como estava. Contei-lhe que Pat e
eu iríamos ao culto de Katrhyn Kuhlman.
Walter sorriu maliciosamente. "Vários pastores da cidade estão
pensando em ir", disse. "A maioria são curiosos, e é capaz de levantarem
as lapelas de seus casacos para esconder o rosto, para que ninguém os
reconheça." Eu não tive coragem de lhe contar que acabara de pegar meu
grande chapéu de pele, que podia abaixar as abas até me cobrirem as
orelhas, e que pensava em usá-lo, para que ninguém me reconhecesse
também.
Foi uma tarde verdadeiramente estranha. Chegamos ao hotel uma
hora e meia atrasadas, mas encontramos um lugar para estacionar bem
em frente... sem nos apercebermos de que todos os lugares para
estacionar estavam ocupados em um raio de quatro quadras ao redor.
Aceleramos rumo ao salão, que estava lotado de gente, esperando
encontrar assentos perto da saída, onde pudéssemos nos sentar e
observar. Quando já pensávamos que teríamos que ficar de pé junto à
porta, duas senhoras que estavam perto da primeira fila se levantaram e
deixaram seus assentos vazios. Pat e eu nos sentamos quase
imediatamente. Meu chapéu estava enfiado o mais baixo possível na
cabeça. Mal conseguia espiar algo de debaixo da aba.
Kathryn Kuhlman estava falando. Havia uma quietude tão
dinâmica na sala que eu quase podia escutar os batimentos de meu
coração. Sua voz era suave, tão suave que algumas vezes não conseguia
distinguir o que dizia. Tinha que me esforçar para escutar cada palavra.
Não estava dizendo nada novo nem diferente. Tudo o que ela dizia, eu já
tinha escutado Walter dizer umas cem vezes do púlpito de nossa igreja.
Mas havia um espírito diferente nela e nesse lugar. As pessoas tinham
vindo esperando algo, e ela falava com autoridade. Embora isso tenha me
comovido profundamente, eu continuava sendo cética.
Havia uma garotinha cega sentada atrás de mim, e comecei a orar
por ela. "Senhor, toque essa garotinha." Senti que meus olhos fechados se
enchiam de lágrimas. Repentinamente todos nos pusemos de pé e
Kathryn Kuhlman começou a cantar:

Senhor, eu recebo.
Senhor, eu recebo.
Todas as coisas são possíveis;
Senhor, eu recebo.

"Levante seus braços", dizia ela. "Levante seus braços e receba o


Espírito Santo."
Levantar meus braços? De repente voltei a ser uma esposa de
pastor batista do Sul, muito decorosa. O que aconteceria se alguém me
visse? E se algum pastor batista amigo do Walter me visse? Algum
membro de nossa igreja? Mas não pude evitar. Minhas mãos já estavam
levantadas, e era como se estivessem sendo puxadas por fios para cima.
Para cima, para cima... eu não podia controlá-las. Sentia como se
estivessem me esticando até que tivesse que ficar nas pontas dos pés.
Nunca tinha me esticado tanto nem tinha chegado tão alto. Quando
minhas mãos já estavam completamente levantadas, senti que as palmas
se viravam para cima e, ao mesmo tempo, minha cabeça caía. Nunca
havia sentido tal humildade em toda minha vida. Esqueci por completo de
mim mesma, de quem era, de onde estava, e só sabia que Deus estava me
tocando literalmente, fisicamente. Senti como se me estivessem
derramando água morna da cabeça aos pés.
Então escutei uma voz que vinha do corredor. "Oh, Deus, sua
glória sobre esta." Era Kathryn Kuhlman. Eu nem tinha percebido que ela
havia descido da plataforma.
Ela tocou meu pulso muito suavemente. Me senti totalmente sem
peso. Parecia que estava flutuado no espaço e dando voltas ao redor do
teto nos braços de Jesus. Um homem, atrás de mim dizia: "me deixe
ajudá-la a levantar-se".
Mas eu o ignorei, ao mesmo tempo que me perguntava o que esse
homem estava fazendo no teto, comigo. Eu só queria ficar onde estava,
mas ele não queria ir. Sua voz ressoava em meus ouvidos. "Me deixe
ajudá-la a levantar-se. Me deixe ajudá-la a levantar-se."
Pensei: "O que ele quer dizer com "levantar-se"? Não posso ir mais
acima do que estou, aqui no teto. Finalmente abri os olhos. Estava
estendida de costas no corredor, com as mãos esticadas para cima. Meus
lábios repetiam seguidamente: "Louvado seja o Senhor! Louvado seja o
Senhor!" Não me importava quem me visse ou me escutasse.
A caminho de casa, Pat e eu revivemos cada momento da reunião.
Em nenhum momento me ocorreu que pudesse ter sido curada. De
qualquer modo, não tinha ido por isso. Só o que sabia era que Deus me
havia tocado e que no mais íntimo de mim, eu era diferente agora.
"Melhor não contar a nossos maridos." disse Pat. "Acho que não
compreenderiam." Concordei. Mas eu sabia que em algum momento que
Deus prepararia, Walter estaria disposto a escutar e compreender.
O momento chegou uma semana depois. Walter tinha se levantado
cedo para participar de um café da manhã de pastores com um
evangelista batista, o doutor Paul Rader. Também estaria lá o doutor
George Schuler, autor de Overshadowed.* Walter, como presidente da
Conferência de Pastores, seria o moderador.
Nesse sábado dormi quase até o meio-dia e fui despertada pelo
toque do telefone. Quando Walter chegou, eu estava sentada a um lado da
cama, falando ao telefone. Olhei para ele, quando entrou no quarto. Ele
fez uma pausa e saiu. Mas continuou entrando e saindo, até que
finalmente me interrompeu. "Quando terminar de falar ao telefone, tenho
algo que quero lhe contar."
Walter nunca me interrompia assim, por isso compreendi que
precisava falar comigo... e logo. De modo que cortei a comunicação e
quase o levei aos empurrões à cozinha. Nos sentamos à mesa e esperei,
impaciente, que ele começasse a falar. "Preciso compartilhar algo com
você", disse. "Esta manhã aconteceu algo."
Tentava falar, mas percebi que estava explodindo por dentro.
Nunca o tinha visto assim. Walter era sólido, estável, muito confiável.
Raramente mostrava alguma emoção. Mas agora, cada vez que abria a
boca para falar, seus olhos se enchiam de lágrimas. Finalmente estendeu o
braço, pegou minha mão, e ficou ali sentado, olhando através da janela da
cozinha, esperando que suas emoções se acalmassem. Finalmente,
quando pôde falar, começou a fazê-lo lentamente, fazendo longas pausas
entre as frases, lutando para controlar a voz.
"O salão estava cheio de pastores", disse suavemente, "e o
presidente do comitê de planejamento da campanha estava falando.
Então entrou esse homem alto, de cabelo branco, o doutor Schuler. Tinha
o cabelo parecendo crina, muito desordenado, lhe rodeando a cabeça
como um halo. Mas havia algo mais nele... como uma aura, um halo.
Todos os pastores deixaram de falar quando ele entrou. Produziu-se um
silêncio absoluto. Todos e cada um de nós soubemos que o Espírito Santo
tinha entrado com esse homem. Finalmente, eu levantei a voz e falei: "por
que não nos ajoelhamos e oramos?"
"Imediatamente, todos nós caímos de joelhos. Não sei o que estava
acontecendo. Foi como se algo na atmosfera daquele lugar nos obrigasse a
adorar. Nunca tinha sentido a presença de Deus com um poder tão
avassalador."
Walter deixou de falar. Era óbvio que ainda estava profundamente
comovido pela experiência. Era minha vez. Com a maior suavidade
possível, contei-lhe o que me havia acontecido uma semana antes. Ele
ficou sentado, me escutando solenemente e em silêncio. Eu continuei
falando, lhe contando como as mulheres do grupo tinham orado, lhe

**
Overshadowed – Ofuscado (Nota da tradutora).
contando sobre a reunião, e finalmente o que tinha vivido no Hilton,
quando Kathryn Kuhlman me tocou o pulso.
Ele simplesmente me escutava, assentindo, como se soubesse tudo
de antemão. Eu podia ver que Deus o tinha preparado essa manhã, ao
visitar esses ministros com uma experiência tão comovedora, e que
dissesse eu o que dissesse, Walter estava preparado para recebê-lo como
do Senhor.
"Foi curada?", perguntou.
"Não sei", respondi, sorrindo. "Não pensei muito nisso. Só sei é
que já não tenho depressão. A necessidade de ser perfeita também
desapareceu. A incapacidade de aceitar a mim mesma como imperfeita no
corpo e na alma, também desapareceu. Sou livre."
"Mas, como se sente fisicamente?", insistiu Walter.
"Maravilhosamente", falei. "deixei que tomar as drogas e os
antibióticos. Pela primeira vez em anos, tenho força e energia."
"Creio que foi curada", disse Walter, com os olhos novamente
cheios de lágrimas. "Acho que tem que voltar ao médico e pedir que a
examine, para ter certeza."
Na semana seguinte voltei ao consultório do médico, que tirou
radiografias e fez outros exames.
Dois dias depois voltei a me sentar na frente dele, no consultório.
"O que lhe aconteceu, senhora Gummelt?", perguntou.
"Estava esperando que me perguntasse isso", sorri. E lhe contei,
detalhadamente, exatamente o que tinha acontecido.
O doutor ficou olhando a parede onde estavam seus diplomas
durante um longo momento. Finalmente pegou a pasta que continha meu
histórico médico.
"Vou fechar seu caso", disse-me. "Você está completamente
curada. Não há evidências de nenhum problema renal; só tecidos com
lesões leves por danos anteriores. Se alguma vez tiver problemas com os
rins, será algo completamente distinto."
Eu queria dançar de alegria, e pude fazê-lo mais tarde. Chega de
drogas, de inchaços, de hemorragias, de fraqueza! Agora podia viver uma
vida saudável e normal como mãe e como esposa. Então soube como
Lázaro se havia sentido ao sair da tumba para o sol, pestanejando. Minha
vida tinha sido restaurada. Glórias a Deus!
Nos três meses seguintes, meu peso subiu de cinqüenta até quase
oitenta quilos. Pela primeira vez em minha vida tive que fazer regime.
Mas aconteceu algo mais. Ao receber o Espírito Santo em minha
vida, pude aceitar também a mim mesma, tal como era. A tensão foi
substituída por louvor. As enxaquecas desapareceram. Não só meu corpo
tinha sido restaurado, mas também minha mente tinha sido renovada.
Aleluia!
Seis meses depois pude voltar a trabalhar. A Jo Gummelt que
entrou no edifício Sam Rayburn nesse dia não era a mesma de antes. Eu
tinha prometido ao Senhor que, se me deixasse voltar a trabalhar, lhe
daria a maior parte do que fizesse. Fui trabalhar com um congressista de
Kentucky, livre da compulsão de ser a número um, de ser perfeita. Pouco
tempo depois, todas as mocinhas que trabalhavam no escritório tinham
aceitado a Jesus como seu Salvador, e a metade tinha sido batizada no
Espírito Santo. Eu nunca tinha estado tão consciente do poder do Espírito
Santo para testemunhar de Jesus.
Pouco tempo depois que eu voltei a trabalhar, Walter, Gordon e eu
tiramos umas curtas férias. Na primeira noite que estávamos fora, fui ao
banheiro para lavar o cabelo. Walter e Gordon ficaram no quarto,
assistindo TV. Enquanto passava a mão por meus cabelos, notei uma
textura diferente. Levantei a cabeça, tirei o sabão dos olhos, e pude ver
que os cabelos que nasciam ao redor de meu rosto eram novos, fortes.
Poderia guardar a peruca.
Pessoas começaram a se aproximar de mim para que as
aconselhasse. Antes, eu sempre estava muito fraca para as ajudar. Mas
agora podia compartilhar com elas minha experiência pessoal com um
Deus que demonstra seu poder e seu amor. Comecei a passar várias horas
de joelhos, orando e com a Bíblia aberta na minha frente. No lugar onde
me ajoelhava para orar, literalmente ficaram buracos no tapete. O Senhor
me ensinava e me dava uma nova linguagem, maravilhosa, para orar.
Na primavera, aproximadamente um ano depois de ter sido
curada, tive uma ligeira infecção urinária. Eu sabia que quando Deus
cura, a cura permanece. Mas o velho temor voltou, rugindo, e corri ao
médico.
Ele me examinou e em seguida parou com as mãos na cintura, me
olhando seriamente. "Você tem uma ligeira infecção na bexiga", disse. "A
última vez que esteve aqui, lhe falei que se tivesse algum problema renal,
seria algo totalmente distinto. Você foi curada."
Saí do consultório, agradecida, apesar da reprimenda. Washington
nunca me pareceu tão formosa. As cerejeiras ao redor da fonte estavam
em flor. A grama do parque era luxuriosamente verde. Até as tulipas
haviam tornado a florescer no edifício Sam Rayburn. A cúpula branca do
Capitólio brilhava contra o céu azul. As pessoas corriam para seus
escritórios. Soavam as buzinas. O trânsito era terrível. Era igual a sempre.
Mas eu era diferente. Pentecostes tinha chegado à minha vida!

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