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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS


INSTITUTO DE PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL

BAIXADA FLUMINENSE:

Inovações e Permanências.

Rio de Janeiro

2014
ADRIANNO OLIVEIRA RODRIGUES

BAIXADA FLUMINENSE:
Inovações e Permanências

Tese apresentada ao curso de


Doutorado do Programa de
Pós-Graduação em
Planejamento Urbano e
Regional da Universidade
Federal do Rio de Janeiro
UFRJ, como parte dos
requisitos necessários à
obtenção do grau em Doutor
em Planejamento Urbano e
Regional.

Orientador: Professor Dr.


Alberto de Oliveira.

Rio de Janeiro

2014
Ficha catalográfica
ADRIANNO OLIVEIRA RODRIGUES

BAIXADA FLUMINENSE:
Inovações e Permanências

Tese apresentada ao curso de Doutorado do Programa de


Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional da
Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte
dos requisitos necessários à obtenção do grau em Doutor em
Planejamento Urbano e Regional.

Orientador: Professor Dr. Alberto de Oliveira.

BANCA EXAMINADORA:

Prof. Doutor Alberto de Oliveira (Orientador)


Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional - UFRJ

Prof. Doutor Carlos Antônio Brandão.


Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional – UFRJ

Prof. Doutor Jorge Luis Alves Natal


Fundação Oswaldo Cruz - FIOCRUZ

Prof. Doutor Cezar Augusto Miranda Guedes.


Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. – UFRRJ.

Prof. Doutor Robson Dias da Silva


Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ.
Para Gabriel, com amor.
Agradecimentos.

O momento de agradecer é o momento de refletir e olhar para trás buscando


todos aqueles que passaram por nossas vidas, pois ao ver este trabalho finalizado, o
leitor pode não imaginar o quanto cada uma destas pessoas contribuiu para a
realização deste sonho, portanto, esta tese é o resultado de uma conjunção de
fatores que fizeram com eu chegasse até aqui.

Desta forma, gostaria de agradecer imensamente a todos que de forma direta


ou indireta contribuíram para a execução deste trabalho, com certeza um dos mais
difíceis que já produzi em minha vida dadas as circunstancias.

Deixo aqui meu agradecimento a meus pais, Dalva e José Armando, pelos
ensinamentos na vida e pela educação de qualidade a mim propiciada, esse título é
para vocês, pois sei o quanto lutaram para que eu chegasse até aqui.

Aos meus irmãos pelo companheirismo e pela torcida, mesmo apesar das
distancias geográficas que insistem em nos separar meus pensamentos sempre
estão em vocês! Podem ter certeza disso!

À minha família iguacuana: Silésia, Sr. Gilberto e Nathalie, obrigado por


fazerem parte de minha vida! Esta conquista é de vocês também.

À minha esposa, Fabiane, pela compreensão e carinho dispensados durante


esta trajetória e por cuidar do nosso pequeno Gabriel.

Ao meu filho, Gabriel, que com sua pureza me faz olhar o mundo de outra
forma, reordenar minhas prioridades, por alegrar-se com pequenos gestos e nos
alegrar com sua vida em nossas vidas. Filho, obrigado por colorir ainda mais minha
vida com seu sorriso, te amo!

Ao professor Alberto, pela árdua tarefa de pegar uma orientação em


andamento, e pelo trabalho dedicado em todo processo de construção desta tese.

Seria injusto da minha parte não agradecer profundamente, em função de


toda trajetória que tive com o prof. Jorge Natal, tanto no mestrado quanto no
doutorado, Prof. Jorge é e sempre será um exemplo de conduta acadêmica. Muito
obrigado!!

Ao prof. Cezar Guedes pelo incentivo e por ser um dos responsáveis por eu
estar na carreira acadêmica hoje em dia! Serei eternamente grato pelos seus
ensinamentos e sua amizade.

Não poderia esquecer os professores que passaram por minha vida, obrigado
por fazer da educação um objetivo de vida, por mais desvalorizada que ela seja em
nosso país. Aos professores da antiga Escola Agrotécnica Federal de Colatina (ES),
aos do Departamento de Economia da UFRRJ.

Agradeço a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro pelo apoio na


realização desta tese e a meus colegas de trabalho no Departamento de História e
Economia do Instituto Multidisciplinar.

A meus alunos dos cursos de Economia e Administração da UFRRJ pela


troca de experiências e saberes nas disciplinas de Economia Brasileira l, Economia
Brasileira, Economia Regional e Urbana e Introdução à Macroeconomia.

Meu muito obrigado à Filipe Vieira, Maiara Destri e Caroline Melo pela ajuda
em relação aos mapas, tabelas e fotografias na reta final da tese.

A todos os funcionários e professores do IPPUR pelos anos de convivência


acadêmica de alto nível.

Aos amigos conquistados durante a jornada no IPPUR: Vinicius Fernandes,


Luciana Gennari, Reginaldo. Obrigado por tornar a jornada menos árdua e mais
prazerosa.

Aos amigos Rogério, Andrea, Fábio e Cristiane pelo incentivo, encorajamento


e pela boa companhia.

Finalizando, deixo aqui um agradecimento especial aos amigos Robson Dias,


Claudiana Guedes e Renata Belzunces por não permitirem que eu desistisse
quando nada mais me estimulava a continuar, e pela leitura critica de partes da tese;
sem vocês eu não teria chegado até aqui. Obrigado! Obrigado mesmo!
“Poucos de nós temos consciência do
caráter profundamente anti-humano do
subdesenvolvimento. Quando
compreendermos isto, facilmente
explicamos por que as massas estão
dispostas a tudo fazer para superá-lo”.

Celso Furtado, A pré-Revolução Brasileira.


RESUMO

Esta tese tem como objetivo principal analisar as transformações econômicas


sofridas pela região conhecida como Baixada Fluminense bem como seus efeitos no
território. Para isso, faz primeiramente uma recuperação histórica da formação
urbana da região, a partir das emancipações desencadeadas no município de Nova
Iguaçu, destacando os principais ciclos econômicos, bem como a conformação
urbana dada a partir da decadência destes. Em seguida faz uma análise da
economia nacional e fluminense no pós-guerra, desnudando o processo de
crescimento industrial bem como as crises decorrentes deste processo. E por fim, o
trabalho investiga a dinâmica dos investimentos recentes na Baixada Fluminense,
buscando evidenciar as transformações no território, tendo como pano de fundo
tanto o processo de crescimento econômico do país, quanto da crise econômica
enfrentada nas décadas de 1980, 1990 e 2000 e seus reflexos na economia
fluminense. A análise final é feita no sentido de desvendar, para a Baixada
Fluminense, as inovações decorrentes destes processos e também das
permanências, buscando formas de superá-las.

Palavras-chave: Baixada Fluminense. Industrialização. Inovações. Permanências.


ABSTRACT

The aim of this thesis is to analyse the economic transformations observed on the
region known as Baixada Fluminense and their effects on this territory. To achieve
this goal, at first is made a historical recovery of the region urban formation, with
basis on the emancipating that occurred in Nova Iguaçu city, with highlight for the
main economic cicles, as well as the urban conformation given from decadence of
these cicles. Then, is made a analysis of the national and fluminense economies at
pos-war period, displaying the industrial growth process, as well as the crises as a
consequence of this process. Finally, is investigated the dynamics of the recent
investments on the Baixada Fluminense, trying to show the transformations occurred
on this territory, using as backdrop the Brasil economic growth process and also the
economic crises experienced on the years of 1980, 1990 and 2000, and more their
reflex on the economy of the state of Rio de Janeiro. The final analyse is made in
order to uncloak, for the Baixada Fluminense, all the innovations coming from these
processes as well as the economy remains, looking for ways to overcome them.

Key words: Baixada Fluminense . Industrialization. Inovations. Economy remains.


LISTA DE ILUSTRAÇOES

Mapa 1- Divisão Política-Administrativa da Baixada Fluminense ………………… 23

Mapa 4.3 – Arco Metropolitano do Rio de Janeiro...................................................108

Mapa 4.4 - Investimentos realizados na Baixada Fluminense


Entre 2002 e 2012.................................................................................................111

Mapa 4.5 – Distrito Industrial de Queimados………………………………………..112

Mapa 4.6 – Distrito Industrial de Duque de Caxias……………………………………113

Imagem 4.1 – Processo de verticalização na área central


do município de Nova Iguaçu –………………………………………….…………….114

Mapa 4.7 – Lançamentos Imobiliários na Baixada Fluminense…………………..116

Imagem 4.2 – Vista panorâmica do Mercure Hotel, Nova Iguaçu…………………117


LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS

Tabela 2-1 Produção de laranjas em Nova Iguaçu, no período de 1941 a 1945 (em
caixas). ...................................................................................................................... 38

Tabela 3-1- População residente total, área e densidade demográfica dos


municípios da Baixada Fluminense, 1960, 1970 e 1980. .......................................... 73

Tabela 3-2 - Estado do Rio de Janeiro- participação percentual das regiões o


emprego industrial estadual – 1955-1975 ................................................................. 77

Tabela 3-3 - Indicadores sociais selecionados para a Baixada Fluminense, Rio de


Janeiro e Brasil ,1991-2000....................................................................................... 81

Tabela 3-4 - Indicadores sociais selecionados para Baixada Fluminense, Rio de


Janeiro e Brasil, 1999-2000....................................................................................... 82

Tabela 3-5 - Homicídios na Baixada Fluminense absolutos e por 100 mil habitantes.
.................................................................................................................................. 85

Tabela 4-1 - População Baixada Fluminense, saldo migratório, variação percentual e


Taxa Média Geométrica, 2000-2010. ........................................................................ 88

Tabela 4-2 - Área e densidade demográfica – 2010. ................................................ 89

Tabela 4-3 - Domicílios particulares permanentes e Taxa de crescimento do número


de domicílios – 1991, 2000 e 2010............................................................................ 90

Tabela 4-4 - PIB Municipal a Preços Correntes: 1999 a 2006. ................................. 92

Tabela 4-5 -PIB a preços constantes: 2007 a 2011. ................................................. 93


Tabela 4-6 - Fabricação de Cosméticos, Produtos de Perfumaria e de Higiene
Pessoal, por município do Estado do Rio de Janeiro, 2012. ..................................... 99
Tabela 4-7 - Participação no PIB setorial e estrutura setorial do PIB (2006). ......... 101

Tabela 4-8 - Domicílios particulares permanentes, por existência de água canalizada


e forma de abastecimento de água. ........................................................................ 123

Tabela 4-9 - Domicílios particulares permanentes por número de moradores,


situação do domicílio e tipo de esgotamento sanitário, 2000 – 2010. ..................... 125

Tabela 4-10 - Acesso a serviços básicos, 2000 – 2010. ......................................... 128

Tabela 4-11- Estabelecimentos de serviços de saúde na Baixada Fluminense, 2005-


2009. ....................................................................................................................... 130

Tabela 4-12 - Esperança de vida ao nascer, Mortalidade infantil, Taxa de


fecundidade e Taxa de envelhecimento da Baixada Fluminense, 1991, 2000 e 2010.
................................................................................................................................ 132

Tabela 4-13 - Porcentagem da população com ensino fundamental complete, por


faixa etária. .............................................................................................................. 135

Tabela 4-14- Número de Homicídios dos municípios da Baixada Fluminense e Rio de


Janeiro, Taxa de homicídios por cem mil hab e Ranking estadual.......................... 140
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro


LESTE – Laboratório Estado e Território
IPPUR – Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional
RAIS – Relação Anual de Informações Sociais
MTE – Ministério do Trabalho e Emprego
RMRJ – Região Metropolitana do Rio de Janeiro
FUNDREM – Fundação para o Desenvolvimento da Região Metropolitana do Rio de
Janeiro
UUIO – Unidades Urbanas Integradas do Oeste
EFCB – Estrada de Ferro Central do Brasil
EF – Estrada de Ferro
PND – Plano Nacional de Desenvolvimento
MSI – Modelo de Substituição de Importações
FMI – Fundo Monetário Internacional
BIRD – Banco Interamericano de Reconstrução e Desenvolvimento
IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados
IOF – Imposto sobre Operações financeiras
PAI – Programa de Ação Imediata
FSE – Fundo Social de Emergência
URV – Unidade real de Valor
PIB – Produto Interno Bruto
FHC – Fernando Henrique Cardoso
PAC – Programa de Aceleração do Crescimento
EM – Empresa Multinacional
TVA - Tennesse Valley Authority
PAEG – Programa de Ação Econômica do Governo
FNM – Fabrica Nacional de Motores
REDUC – Refinaria Duque de Caxias
GLP – Gás Liquefeito de Petróleo
USIMECA – Usina Mecânica Carioca
ERJ – Estado do Rio de Janeiro
EM - Extrativa Mineral
IT - Indústria Têxtil
SIUP - Serviços de utilidade pública
CC - Construção Civil
CO - Comércio
SE - Serviços Educacionais
AP - Administração pública
AE - Agropecuária, Extração vegetal e pesca
EM - Extrativa Mineral
PMNM - Produto mineral não metálico
IMET - Indústria Metalúrgica
ECOM - Elétrico e Comunicação
MTRANS - Material de Transporte
MM - Madeira e Mobília
BOR - Borracha, fumos e couros
IQ - Indústria Química
ITEX - Indústria Têxtil
ICAL - Indústria de calçados
ALBEB - Alimentos e Bebidas
SIUP - Serviços de utilidade pública
CC - Construção Civil
COMVAR - Comércio Varejista
COMATA - Comércio Atacadista
INTFIN - Instituição Financeira
ADTEC - Administração Técnica Profissional
TRANCOMU - Transporte e comunicações
ALOCOMU - Alojamento e Comunicação
MEDODOVET - Médicos, Odontológicos e Veterinários.
ENSI - Ensino
AP – Administração Pública
AGRO - Agricultura
EM - Extrativa Mineral
PMNM - Produto Mineral não metálico
IMET - Indústria Metalúrgica
IMEC - Indústria Mecânica
ECOM - Elétrico e Comunicações
MTRANS - Material de Transporte
MM - Madeira e Mobiliário
BOR - Borracha
IQ - Indústria Química
ITEX - Indústria Têxtil
ICAL - Indústria de Calçados
ALBEB - Alimentos e Bebidas
SIUP - Serviços de Utilidade Pública
CC - Construção Civil
COMVAR - Comércio Varejista
COMATA - Comércio Atacadista
INTFIN - Instituição Financeira
ADTEC - Administração Técnica Profissional
TRANCOMU - Transportes e Comunicações
ALOCOMU - Alojamento e Comunicações
MEDODOVET - Médicos, Odontológicos e Veterinários.
ENSI - Ensino
AP - Administração Pública
AGRO - Agricultura
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ..................................................................................................... 19

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 23

CAPÍTULO 2 - A FORMAÇÃO ECONÔMICA DA BAIXADA FLUMINENSE. ............ 26

2.1 - A agricultura canavieira e os primeiros núcleos urbanos ....................... 26

2.2 – A cafeicultura na Baixada da Guanabara: do transporte fluvial às


primeiras ferrovias. ............................................................................................. 30

2.3 – A citricultura: auge e decadência e o loteamento da Baixada


Fluminense. .......................................................................................................... 34

CAPÍTULO 3 - O PAPEL DA BAIXADA FLUMINENSE NA INDUSTRIALIZAÇÃO


BRASILEIRA. ............................................................................................................ 41

3.1. Traços largos sobre a economia brasileira no pós-guerra. ...................... 41

3.2 – A Economia Fluminense: Decadência e Recuperação. ........................... 56

3.3. Baixada Fluminense: ainda cidades-dormitório? ...................................... 69

CAPÍTULO 4 - BAIXADA FLUMINENSE: INOVAÇÕES E PERMANÊNCIAS........... 87

4.1 – Demografia e desenvolvimento urbano na Baixada Fluminense. .......... 87

4.2 – A Economia da Baixada Fluminense no Século XXl................................ 91

4.2.1 Uma Análise do Produto Interno Bruto da Região..................................... 91

4.2.2 – Uma analise dos setores. ....................................................................... 97

4.2.3 – Os investimentos recentes na Baixada Fluminense e seus impactos no


território. ........................................................................................................... 106

4.3 – A questão social na Baixada Fluminense: alguns apontamentos


recentes. ............................................................................................................. 121

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS. ................................................................................ 142

REFERENCIAS....................................................................................................... 152

ANEXOS ................................................................................................................. 159


19

APRESENTAÇÃO

Meu interesse no estudo da Baixada Fluminense vem desde o mestrado em


Planejamento Urbano e Regional que cursei neste mesmo Instituto de Pesquisa.
Naquela época, minha pesquisa se deu com base na análise das transformações
histórico-econômicas experimentadas pelo município de Nova Iguaçu desde sua
fundação até o período do processo de fragmentação territorial sofrido por este
município. Na dissertação, mostrei como o processo de ocupação do território, bem
como a urbanização do mesmo, associado à ineficácia administrativa e a disputas
político-territoriais fez com que o território iguaçuano fosse recortado e a partir dele
fosse constituída a maioria dos municípios que hoje conhecemos pela alcunha de
Baixada Fluminense.
Uma das conclusões alcançadas pelo trabalho anterior foi a da existência de
não apenas “uma” Baixada e sim “várias” Baixadas Fluminense dentro do mesmo
recorte geográfico, explicando: o processo de emancipação evidenciado a partir do
núcleo central, Nova Iguaçu, propiciou a manutenção de ‘feudos’ políticos-
administrativos por parte de uma elite local dominante que não se sustentaria
politicamente no caso da manutenção do espaço sem as separações administrativas
e consequentes criações de outros municípios.
De certa forma, isso possibilitou a formação de municípios com um
determinado dinamismo do ponto de vista econômico, mas também possibilitou a
constituição de lugares sem dinamismo algum, com altos índices de desemprego e
violência, sem equipamentos públicos necessários à vida citadina, tais como
hospitais, escolas, maternidades, etc. fazendo com que os recém-criados municípios
ainda dependessem da estrutura administrativa antiga e as emancipações só
ocorressem do ponto de vista político administrativo, mas não do ponto de vista do
atendimento das necessidades reais da sociedade local.
O exemplo clássico deste processo é a polarização do crescimento
econômico por parte dos municípios de Nova Iguaçu e de Duque de Caxias, estes
concentram na Baixada Fluminense ainda hoje, grande parte do dinamismo
econômico representada na concentração de riqueza e de renda, propiciando a
criação de periferias dentro dos limites desses municípios, ou seja, é a periferia da
periferia metropolitana fluminense.
20

Algumas questões, como os impactos dos novos investimentos industriais na


região na geração de emprego e renda e seus desdobramentos no contexto da
Região Metropolitana e municipio-sede, a cidade do Rio de Janeiro, surgiram no
decorrer da pesquisa, e em certo sentido não foram contempladas ou não puderam
ser analisadas de maneira mais profunda, ou pela questão do tempo necessário
para o aprofundamento da pesquisa, ou pela necessidade de não fugir do escopo da
própria pesquisa.
Desta forma, esta tese parte de uma constatação não analisada em
profundidade na minha dissertação de mestrado, que é a de que a Baixada
Fluminense passou, e ainda passa, por um processo de revalorização do seu
espaço no contexto do crescimento da economia estadual e nacional, e este
processo tem impactos significativos na dinâmica socioeconômica e
consequentemente no mercado de trabalho local.
Esta tese configura-se, em grande parte, na continuação de minhas
pesquisas que venho desenvolvendo como professor do Departamento de História e
Economia do Instituto Multidisciplinar, campus da Universidade Federal Rural do Rio
de Janeiro localizado em Nova Iguaçu, e como pesquisador no Grupo de Pesquisa
Economia, Território e Desenvolvimento na UFRRJ e no Laboratório Estado,
Economia e Território – LESTE no IPPUR e tendo como objeto esta fração do
território fluminense denominado de Baixada Fluminense.
A hipótese central deste trabalho dá conta da existência de um processo de
transformações produtivas no território da Baixada Fluminense, marcado por uma
nova dinâmica econômica, cujos carros-chefes foram novos investimentos industriais
e de infraestrutura, com fortes reflexos no nível da renda e do mundo do trabalho.
Os processos representados pela reestruturação econômico-produtiva, pela
abertura comercial e pela redefinição do papel do Estado Nacional reorganizam
profundamente o território, uma vez que alteram a distribuição espacial da riqueza e
desta forma, cabe perguntar: Há políticas públicas novas (ou não) para a região
tendo em vista esta nova dinâmica? Ainda: Há uma nova dinâmica econômica em
voga na Baixada Fluminense? Visando responder tais questionamentos, além de
outros que no decorrer da tese são levantados.
A abordagem metodológica adotada nesta tese foi de caráter exploratório e
qualitativo, combinando revisão bibliográfica, pesquisa documental e análise de
dados secundários.
21

Para analisar as transformações ocorridas nos municípios da Baixada


Fluminense, tanto no que se refere às questões setoriais e do mercado de trabalho
utilizamos os dados da Relação Anual de Informações Sociais base estatística do
Ministério do Emprego e Trabalho – RAIS/MTE. Comparamos alguns anos da
primeira década do século XXI, destacando algumas variáveis utilizadas como
volume de emprego, porte de estabelecimento e análise setorial e subsetorial.
Identificando a participação da Baixada Fluminense no estado do Rio de Janeiro, em
especial na região Metropolitana do Rio de Janeiro - RMRJ, e mesmo a participação
dos municípios dentro da Baixada. Ademais, utilizamos os dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE para análise do Produto Interno Bruto
dos municípios, além das informações populacionais, saúde e educação.
Esta tese está estruturada em três capítulos, além da introdução e conclusão.
No primeiro capítulo foi realizada uma breve discussão sobre a formação
socioeconômica e urbana da Baixada Fluminense. A análise será feita tendo como
base os três grandes produtos que modificaram a estrutura, tanto econômica, quanto
urbana na Baixada Fluminense, a saber: a produção açucareira, a cafeicultura e a
citricultura. Ademais os objetivos explicitados acima, outros que serão discutidos são
o de evidenciar a formação da Baixada Fluminense a partir dos desmembramentos
do município de Nova Iguaçu; Levantar a importância da dos ciclos agrícolas para a
conformação da região; e Examinar o processo de transformação econômica e do
território.
O segundo capítulo busca analisar o papel da Baixada Fluminense no
processo de industrialização, nesse sentido é feita uma breve recuperação acerca
da economia brasileira no pós-guerra, além da análise da economia fluminense no
mesmo período, destacando o processo de decadência e recuperação econômica
experimentada por este estado, finalizando o capítulo, a Baixada Fluminense será
analisada a partir da ótica do processo de industrialização sofrido pela região entre
as décadas de 1950 e 1980, questionando-se o papel destas cidades como local de
moradia do proletariado da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
O terceiro capítulo da tese faz uma análise na Baixada Fluminense, buscando
evidenciar as transformações do mercado de trabalho industrial na região. A
dinâmica dos investimentos industriais na região nos últimos anos da década de
2000 também será evidenciada, tendo como pano de fundo o processo de
22

industrialização do país, bem como a crise econômica enfrentada durante a década


de 1980 e seus reflexos na economia estadual.
Nas conclusões serão retomadas as questões iniciais aqui destacadas e far-
se-á um balanço acerca do novo período de crescimento econômico experimentado
pela região em tela.
23

1 INTRODUÇÃO

O que é a Baixada Fluminense?

Para fins dessa tese, entendemos a Baixada Fluminense1 sendo a região do


estado do Rio de Janeiro composta pelos seguintes municípios: Nova Iguaçu, Japeri,
Queimados, Belford Roxo, Mesquita, Nilópolis, São João de Meriti e Duque de
Caxias. A região geográfica do estado do Rio de Janeiro conhecida como Baixada
Fluminense deriva de uma matriz comum, ou seja, a maioria dos municípios que a
compõe fizeram parte do município de Nova Iguaçu, e deste foram desmembrados.
Esta região sofreu mudanças significativas ao longo de sua história; mudanças
essas ligadas ao papel exercido por ela em cada momento histórico, mas de certa
forma, muito determinadas no âmbito econômico.
Para Simões (2011), geopoliticamente, a Baixada fluminense é um termo que
cada vez mais se identifica com a área original do antigo município de Iguaçu, atual
Nova Iguaçu. De acordo com o autor, não existe um consenso geral do que seja a
Baixada Fluminense, quais os limites e os municípios que a compõe, a única

1
Mapa 1 Divisão Política-Administrativa da Baixada Fluminense

Fonte: Elaboração própria a partir de dados cartográficos do IBGE.


24

unanimidade acerca desta região é a centralidade exercida pelos municípios de


Nova Iguaçu e Duque de Caxias. A cada trabalho sobre essa região reabre-se o
debate, pois cada autor se coloca de maneira diferenciada com relação à área a ser
delimitada.

Dependendo do ângulo de análise que se faça, as fronteiras da região hoje


em dia denominada Baixada Fluminense ora se estreitam, ora se alargam, e desta
forma a definição pode tomar várias conotações (SOUZA ALVES, 2003: 15);
geograficamente esta região corresponde às planícies entre o litoral e a Serra do
Mar, indo do município de Campos, até Itaguaí. Outro conceito geográfico é o de
Recôncavo da Guanabara, neste conceito os municípios que compõe a Baixada
seriam aqueles restritos ao entorno da Baia de Guanabara.

A FUNDREM – Fundação para o Desenvolvimento da Região Metropolitana


do Rio de Janeiro – criada no governo de Faria Lima, definiu a região utilizando
características tais como o grau de urbanização e densidade populacional, sendo
assim, restringiu-se a Baixada ao que ficou denominado de Unidades Urbanas
Integradas do Oeste (UUIO), este conceito incorpora os municípios de Nova Iguaçu
(e seus distritos não emancipados), Duque de Caxias, Nilópolis e São João de Meriti.

O Instituto de Pesquisas e Análises Históricas e de Ciências Sociais da


Baixada Fluminense – IPAHB – utiliza o conceito de ‘Baixada Histórica’ para definir a
região, este conceito engloba os municípios desmembrados de Nova Iguaçu,
chamado de ‘Grande Iguaçu’, e incorpora os municípios de Magé e Guapimirim.

Partindo do pressuposto que não exista um conceito fechado e nem uma


delimitação única para a Baixada Fluminense, a definição de Baixada a ser utilizada
nesta tese se dará tendo em vista a questão da importância político-econômica para
o estado do Rio de Janeiro dentro das perspectivas de desenvolvimento histórico-
econômico na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, considerando apenas
aqueles municípios que, tiveram Nova Iguaçu, como matriz de emancipação.
Portanto, além de Nova Iguaçu tem-se Japeri, Queimados, Belford Roxo, Mesquita,
Nilópolis, São João de Meriti e Duque de Caxias.

A discussão acerca da definição e/ou delimitação do conceito de Baixada


Fluminense foge ao escopo deste trabalho, todavia, como visto acima, apenas
recuperamos um pouco das visões que se tem sobre a composição desta região no
25

sentido de alertar para as diferentes percepções que buscam dar sentido ao


conjunto de municípios que compõe esta região.

Este território, localizado na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, tem uma


população de aproximadamente três milhões de habitantes que vivem numa área de
1.317,91 km², esta área, é a parte da RMRJ onde se concentram altos índices de
pobreza e baixíssima qualidade de vida. Desta forma, buscar-se-á realizar nesta
tese a análise acerca do processo de inovações, aqui entendida como melhorias
econômicos-sociais na vida da sociedade local, e as permanências que esta região
passou entre o fim do século XX e o inicio do século XXl.
26

CAPÍTULO 2 - A FORMAÇÃO ECONÔMICA DA BAIXADA FLUMINENSE.

2.1 - A agricultura canavieira e os primeiros núcleos urbanos

O ponto em comum que une dos diferentes espaços da Baixada é o seu


passado histórico ligado ao comércio fluvial e aos caminhos que faziam a ligação do
Rio de Janeiro ao interior do país. A ocupação da Baixada da Guanabara2 deu-se
neste contexto, uma vez que esta funcionou como entreposto entre o Rio de Janeiro
e o restante do país, na medida em exerceu durante muito tempo a função de
principal porto de escoamento das mercadorias que tinham como direção final a
metrópole europeia: dessa forma, parte significativa do desenvolvimento econômico
e social da Baixada Fluminense esteve atrelado ao do Rio de Janeiro (RODRIGUES,
2006).

O processo de ocupação da baixada guanabarina inicia-se em meados do


século XVl, sendo que as primeiras sesmarias datam do ano de 1534 e, a partir daí a
região passou a pertencer a Martin Afonso de Souza, no entanto, quem se apropria
de fato da região são os franceses que se estabelecem em 1555 na Ilha de Serigipe
(atual Villegaigon) e dão inicio à ocupação dos arredores da Baía de Guanabara
(SIMÕES, 2007: 61).

Em 1565 é doada uma sesmaria a Cristóvão Monteiro às margens do rio


Iguaçu. A partir daí foram surgindo os engenhos que se dedicavam à atividade
econômica predominante na época, que era o cultivo da cana de açúcar. As vias de
circulação se revelaram de fundamental importância para o escoamento da
produção, tais características naturais foram e ainda são essenciais para a ocupação
desta região. A criação dos primeiros núcleos urbanos sempre esteve atrelada a
existência dessas vias, uma vez serem de suma importância para o êxito do
empreendimento açucareiro.

Essas vias foram à espinha dorsal de toda a ocupação e urbanização da


Baixada da Guanabara, a presença de extensas áreas de topografia plana ou suave,
propicia à atividade e à instalação humana, a inexistência de relevos impedindo as
comunicações terrestres entre o núcleo inicial e principal da metrópole e seu

2
Alguns autores, tais como Lamego (1964), Pereira (1977) e Soares (1960) definem a atual Baixada
Fluminense nos primórdios de sua ocupação como Baixada da Guanabara ou Baixada Guanabarina.
27

recôncavo são alguns dos elementos que possibilitaram a expansão da cidade em


direção à Baixada da Guanabara. (SOARES, 1960, p. 2).

Na primeira fase de ocupação do território da Baixada da Guanabara houve,


segundo a autora, um predomínio da circulação fluvial tendo em vista a existência de
uma rede hidrográfica que se mostrou de grande utilidade na ocupação da região.
As vias fluvio-marítimas contribuíram para que a maioria da produção do Vale do
Paraíba fosse direcionada para um único local, o porto do Rio de Janeiro.

Essas redes hidrográficas eram articuladas com os caminhos que iam em


direção ao interior do país permitindo o seu desbravamento e, dando-se
extraordinária relevância dos rios e dos terrenos não alagados da baixada
guanabarina. De acordo com Lessa (2000: 49), a articulação pelo porto do Rio com
as Geraes era feito através do chamado Caminho Velho, que era uma antiga trilha
aberta pelos índios Guaianases. Este caminho fazia a ligação entre as regiões de
Pindamonhangaba e Rio Verde com Guaratinguetá e Taubaté, desse ponto
descendo a Serra do Mar até Parati. Este caminho foi sobrepujado pelo Caminho
Novo, de Garcia Rodrigues Paes que fazia a ligação entre as Geraes ao fundo da
Baia de Guanabara , passando por Paraíba do Sul e Tinguá (este último, localizado
na Vila de Iguaçu).

Outro caminho utilizado para facilitar o acesso ao interior e que permitiu maior
integração da baixada foi o caminho de Terra Firme; ele se constituiu em opção para
“fugir” das grandes áreas alagadas que eram característica da Baixada da
Guanabara. Esta via foi aberta no sopé da Serra de Madureira que por sua vez,
abrigava uma área de geografia consolidada e que permitia o escoamento da água,
sendo conseqüentemente uma região de terrenos firmes. Foram construídas ainda,
no século XlX, as estradas da Polícia e do Comércio, que articulavam a região de
Iguaçu com Sacra família e Vassouras (LESSA, 2000: 50).

A Estrada Real do Comércio foi a primeira via aberta no Brasil para o


escoamento do café do interior do país; entre os anos de 1819 e 1820, teve sua
abertura determinada pela Junta de Comércio do Rio de Janeiro e seu traçado ia
desde Ouro Preto, em Minas Gerais, atravessava o rio Paraíba do sul chegando a
Paty do Alferes e a partir daí descia a serra do Tinguá chegando até o Porto de
Iguaçu, onde o café era embarcado até o porto do Rio de Janeiro. Ela também foi
essencial para a fundação do município de Iguassú, o que veio a ocorrer em 15 de
28

janeiro de 1833. Esta estrada fazia a ligação entre as comarcas do sul (Vassouras,
Valença e Rio Preto) e a sede do governo Imperial.

De acordo com Soares (op cit, p. 10), “... o itinerário terrestre através da
Baixada foi muito utilizado por pessoas, animais e mercadorias que provinham do
interior ou que para lá demandavam. Assim, nas ligações terrestres entre a cidade
do Rio de Janeiro e o interior, qualquer que fosse o itinerário adotado no planalto e
na serra, pelos caminhos do século XVlll, tinham os viajantes de contornar a orla
pantanosa do Recôncavo, caso desejassem evitar a via fluvial”.

A função primordial desses caminhos e estradas era a de possibilitar o


escoamento de mercadorias que, em um primeiro momento, no início da
colonização, se resumia a culturas de exportação como a cana, o anil e a cochinilha;
depois, na primeira metade do século XlX, a principal mercadoria transportada foi o
café; e entre o final do século XlX e início do século XX, passou a ser a laranja, a
banana e o abacaxi. Essas culturas de exportação contribuíram de maneira decisiva
para o crescimento econômico cidade do Rio de Janeiro e a consequente
importância política, cujo auge ocorreu em 1763, com a elevação desta à condição
de capital da colônia.

Tais caminhos não criaram segundo Simões (2007: 79) grandes


aglomerações na Baixada Fluminense, mas estabeleceram amostras que
determinaram o padrão do processo de ocupação e urbanização posteriores, além
de consolidar a subordinação de tais núcleos urbanos que margeavam esses
caminhos à influência da cidade do Rio de Janeiro.

A falta de ligação entre esses caminhos criou uma rede urbana do tipo
‘dendrítica’ e macrocefálica, em que os núcleos urbanos se relacionam, econômica,
social e politicamente e se comunicam ao longo de eixos e, quase que
diretamente,com o núcleo central, havendo pouquíssimas relações entre si e quase
nenhuma com os núcleos dos outros eixos (SIMÕES, 2007:80).

Para Rodrigues (2006) tal situação permitiu uma integração da cidade do Rio
de Janeiro muito maior com regiões mais longínquas do que com sua própria
hinterlândia. O crescimento econômico da região em evidência se deu com base em
três culturas cultivadas inicialmente na vila de Iguaçu, e que, veio contribuir
29

decisivamente com o desenvolvimento econômico da região, a saber, foram a cana,


o café e a laranja.

Segundo Lamego (1964) foi o açúcar do recôncavo que ergueu a economia


do Rio de Janeiro e com ela deu impulso ao desenvolvimento da cidade. O açúcar
também impulsionou o crescimento demográfico com a crescente entrada de
africanos para as lavouras.

De acordo com Lessa:

O açúcar fluminense antecede de muito ao surto cafeeiro.


Permanece após a morte da cafeicultura e, certamente, é sua
notável vitalidade histórica a principal dimensão a ser
interpretada. As planícies costeiras fluminenses que, a partir do
recôncavo da Guanabara, se alargam até a região de Campos,
são as zonas de ocupação histórica pelo açúcar. Dos subúrbios
do Rio de Janeiro, pela Baixada Fluminense, o açúcar se
desenvolveu em direção à região campista (2000:104).

Deve-se ressaltar que além do cultivo da cana-de-açúcar, as terras da


Baixada também produziam, em menor escala, produtos agrícolas como o feijão, o
arroz, milho, mandioca, legumes entre outros, além do extrativismo madeireiro, que
era usado principalmente na produção de lenha. Tais produtos abasteciam as
fazendas locais, bem como o mercado consumidor do Rio de Janeiro e funcionavam
como forma de internalização dos custos com a produção desses alimentos.

A realização da cana-de-açúcar como produto exportável se concretizava a


milhares de quilômetros de distância, nas cidades européias; e era aí, no percurso
realizado pelo produto, que, segundo Egler (1979: 27), repousava a fonte de lucro do
capital mercantil; sendo que para alcançá-lo foi necessário a montagem de um
sistema de logística sobre a circulação desta mercadoria que, por sua vez, distinguiu
fortemente a evolução das economias coloniais.

O processo de decadência do cultivo açucareiro foi acelerado por motivos


como o rompimento do monopólio português de produção, bem como o sucesso do
plantio nas Antilhas que fizeram com que esta cultura não conseguisse a
competitividade necessária para enfrentar a forte concorrência internacional. De
acordo com Egler (1979: 41), no período compreendido entre 1775 e 1802, a
30

exploração da cana quadruplicou perante o volume e sextuplicou quanto ao valor,


mas segundo o autor, longe deste fato significar uma conquista definitiva, ele marcou
o fim de uma época.

2.2 – A cafeicultura na Baixada da Guanabara: do transporte fluvial às


primeiras ferrovias.

O cultivo do café não chegou a substituir a cana-de-açúcar na Baixada


Fluminense: seu plantio deu-se em terras que se apresentavam cansadas para o
plantio da cana. Ressalva-se que tal cultivo foi mais uma tentativa de sair da falência
do empreendimento açucareiro do que uma opção economicamente viável, tendo
em vista o clima quente e úmido associados às partes alagadiças da Baixada
(SIMÕES, 2007: 80).

O café foi cultivado em Iguaçu principalmente nas vilas de Tinguá, Estrela,


Jaceruba, e Japeri. De acordo com Pereira (1977), o produto não projetou a região
como grande produtora, mas sim como um dos maiores entrepostos do produto no
seu itinerário para a exportação.

Outro efeito positivo trazido pelo cultivo do café foi o surgimento de


aglomerações populacionais situadas no ponto de encontro entre as vias de
circulação aquática e terrestre. Nessas áreas havia grande fluxo de pessoas e de
mercadorias em função da importância econômica exercida pelo café ao longo da
primeira metade do século XlX e que sustentou, com base na lavoura fluminense, as
exportações do Império e ocupou a primazia (60%) da produção mundial (LESSA,
2000:109). Tal pujança reforçou o papel do núcleo da cidade do Rio de Janeiro
como grande centro comercial, de beneficiamento e demais serviços ligados ao café,
restando à Baixada apenas papel secundário neste processo.

O escoamento da produção cafeeira de Iguaçu era feito através das estradas


do Comércio, da Polícia e da Estrela, associado com a navegação fluvial que
apresentava relevância na época. Uma maior centralização no escoamento desse
produto se deu com o advento da construção de estradas de ferro, tais como a
Estrada de Ferro Central do Brasil - EFCB (1858), a EF Leopoldina (1886) e a EF
Melhoramentos, depois linha Auxiliar em 1893.
31

Alguns fatores contribuíram para a não evolução da produção cafeeira em


Iguaçu, assim como em todo o Rio de Janeiro; destaque para a questão da adoção
da chamada “solução” escravista. O trabalho escravo adotado nas fazendas
iguaçuanas, assim como nas fazendas fluminenses em geral, junto a outros fatores
acabou por sufocar e inviabilizar a produção cafeeira, pois o término do tráfico
negreiro, entre 1850 e 1856, fez com que o preço dos escravos se elevasse,
atingindo níveis antieconômicos e reduzindo, em muito, a margem de lucro.
Resultado: os escravos que restaram nas fazendas sofreram um aumento em suas
explorações de modo a “compensar” a falta de novos escravos, impedindo que fosse
possível praticar a reprodução destes (CANO, 2002: 51).

Para Lessa (2000: 118), o café escravagista fluminense gerou lugares sem
dinamismo, cidades débeis, que se esvaziaram com o declínio da cafeicultura.
Nesses locais não se constituíram núcleos comerciais e varejistas diversificados, o
oposto do que ocorreram no estado de São Paulo em cidades como Ribeirão Preto e
Campinas. Mesmo assim, de acordo com o autor, e, contrariamente à opinião de
Cano, gerou-se aqui um complexo cafeeiro, prova disso, seriam as empresas
ferroviárias privadas que foram fundadas e capitalizadas pelo complexo cafeeiro
fluminense.

Inversamente a esta visão, Cano (2002) destaca que o processo de expansão


cafeeira adotada na província do Rio de Janeiro, como exemplificado nas relações
sociais vigentes e nas especialidades da comercialização e do financiamento do
café, fez com que não fosse possível a instalação aqui, diferentemente do que
ocorreu Oeste paulista, que ele denomina de complexo cafeeiro.

De acordo com Egler (1979: 103) a cafeicultura no Oeste Paulista deu-se


sobre o chamado regime de colonato, com o fornecimento de mão-de-obra imigrante
diretamente subvencionado pelo Estado, com estrada de ferro garantindo o
escoamento da produção e com um porto especialmente remodelado após 1888,
como é o caso de Santos. Tais fatores permitiram uma importante expansão da
produção cafeeira que, associada a um aprofundamento das relações de produção
baseada no trabalho livre, bem como, aproveitando-se da fertilidade natural dos
solos de “terra roxa” e da mais-valia do trabalhador sobre o colonato, conseguiu, em
pouco tempo, triplicar a oferta de café brasileiro no mercado internacional.
32

A infraestrutura logística de transporte do café foi de suma importância para o


escoamento da produção para o mercado externo. Antes da Revolução Industrial
essa infraestrutura era nucleada pelo porto do Rio; aonde o café chegava até os
embarcadores no fundo da Baia de Guanabara, como Iguaçu, Estrela, Piedade,
Porto das Caixas e Magé, pelos caminhos carroçáveis, ou por trilhas através de
tropas de muares. A partir daí eram transferidos para pequenas embarcações que o
levavam até o porto e de lá eram vendidos ao mercado externo.

Esse tipo de transporte trazia limitações ao escoamento da produção, uma


vez que o volume aumentava cada vez mais e a dependência desses caminhos
carroçáveis bem como das estradas tornava o escoamento um processo
dispendioso e incerto para o comércio cafeeiro.

Com o advento da primeira Revolução Industrial e a conseqüente introdução


da máquina a vapor3 essa infraestrutura de transportes foi radicalmente modificada.
Segundo Soares (1960), já em 1840 foi proposta a construção de uma estrada
ligando o porto de Sarapuí à Vila de Iguassú. Em 1854, o Barão de Mauá inaugura a
Estrada de Ferro Mauá, unindo o fundo da baia de Guanabara (Porto de Piedade) à
Raiz da Serra. Quatro anos depois, em 1858, a Estrada de Ferro Pedro ll completa
seu primeiro trecho, que fazia a ligação entre as estações de Maxambomba e
Queimados, ambos, distritos de Iguassú. Em 1864 essa ferrovia já alcançava o Vale
do Paraíba. Em 1883 é completado o trecho que ligava a estação de Fragoso ao alto
da serra em Petrópolis, e passou a se chamar de Estrada de Ferro Príncipe do Grão-
Pará. E, finalmente em 1886, tem seu percurso finalizado até Areal, chegando em
1900 no município de Três Rios.

Para Egler (1979: 106) o investimento no transporte ferroviário significou as


linhas mestras das transformações que levaram à internalização as relações
capitalistas de produção, permitindo desta forma, a expansão da economia cafeeira.

A nova conformação dos transportes na Baixada da Guanabara teve


profundas conseqüências para as vilas-portos de então, na medida em que elas
tornaram desnecessárias ao crescente avanço capitalista, pois a ferrovia levou ao
abandono da área que antes era valorizada em função da logística de escoamento
da produção cafeeira. Tornou-se mais rápido, mais barato e mais seguro transportar

3
Landes (2005).
33

a produção pelos trilhos, pelo fato de que estes não apresentavam as


inconveniências oriundas do transporte flúvio-marítimo, como a dependência da
maré nos baixos cursos, o baixo nível das águas nos tempos de seca, além do
constante entulhamento dos rios e canais, uma vez que, esses estavam localizados
nas áreas livres de alagamento, mais próximas ao sopé dos morros, assim atraindo
o surgimento de casas ao seu longo. Ademais, as terras e fazendas foram
valorizadas e passaram a atrair o deslocamento populacional que antes se dava
próximo aos rios.

Deve-se ressaltar que a ferrovia não foi à única responsável pela decadência
das vilas-portos da baixada e muito menos gerador de urbanização per si. Segundo
Soares (1960), a Baixada da Guanabara já entrara em decadência antes mesmo do
estabelecimento da estrada de ferro; isso em decorrência da concorrência campista
no que tange à cana-de-açúcar, da concorrência do planalto em relação ao café e,
por fim, do esgotamento das terras que foram utilizadas sem um mínimo de rotação
entre as culturas.

O porto das Caixas, Estrela e Iguaçu entraram então em profunda


decadência. No ano de 1891, a sede municipal foi transferida das margens do rio
Iguassú para as margens da estrada de Ferro Central do Brasil. Logo no ano
seguinte é também transferida a sede da matriz de Santo Antonio de Jacutinga para
as proximidades desta ferrovia, num local denominado Arraial de Maxambomba.

A estrada de ferro agiu como importante agente de expansão da cidade do


Rio de Janeiro em direção à Baixada. Foram se constituindo, dessa forma, núcleos
espontâneos em torno das estações ao longo da ferrovia. De acordo com Soares
(1960, p. 22):

Ao lado de cada estação, casas iam-se dispondo


espontaneamente, algumas lojas surgiam, uma pracinha
tomava forma e aos poucos iam crescendo esses aglomerados
que, de inicio, tinham uma forma longitudinal, alinhando-se às
margens dos trilhos, para só depois crescerem num sentido
transversal à linha férrea.

Em trabalho anterior, Rodrigues (2006) analisou como a geometria da


expansão da Baixada foi polarizada pelas estações e pelas atividades econômicas
ali encampadas. A decadência da produção cafeeira na região se dá em decorrência
34

de fatores como: a falta de mão-de-obra, uma vez que os produtores fluminenses,


diferentemente dos produtores do Oeste paulista, não encontraram uma solução de
curto prazo para substituir a mão-de-obra escrava que rareava cada vez mais e
também se tornara inviável economicamente; o desgaste do solo, que afetou a
agricultura de modo geral; soma-se, ainda o abandono dos rios e canais, que
propiciou o aparecimento do impaludismo.

Para Simões (2007:85) “Com a perda da hegemonia cafeeira para São Paulo
todas as pré-condições que estavam presentes para a industrialização do Rio de
Janeiro no século XlX se transferem para São Paulo”. O inicio do século XX é
marcado pela decadência relativa do Rio de Janeiro e sua nova inserção na
economia nacional, agora subordinada à dinâmica da economia paulista. Com a
derrocada do café, a fruticultura, principalmente a da laranja, assumiu a posição de
principal produto exportável da Baixada, seguindo enquanto tal, no decorrer de
algumas décadas.

2.3 – A citricultura: auge e decadência e o loteamento da Baixada Fluminense.

A decadência da cultura cafeeira no estado do Rio de Janeiro fez com fossem


incentivados a busca de culturas alternativas para minimizar o impacto econômico
negativo ocasionado pela queda nas receitas. Desta forma, com apoio do governo
fluminense, surgiu a citricultura em escala comercial no Rio de Janeiro.

O surgimento da citricultura permitiu valorizar os terrenos com uma cultura


permanente que demandasse relativamente pouca mão-de-obra. Contando
inicialmente com apoio governamental através de saneamento, drenagem de
pântanos e outros, cultivo da laranja encontrou na Baixada solo, clima e relevo
favoráveis, proximidade em relação às cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, os
maiores centros consumidores do país, bem como, facilidades no transporte do
produto até o porto do Rio de Janeiro pelas estradas de ferro existentes que faziam
a ligação com a região de Iguaçu.
35

Para Limonad (1996:120):

De maior peso econômico e com repercussões no crescimento


de algumas cidades, a fruticultura em geral, e a laranja em
particular, prolongaram no território fluminense o modelo
primário exportador. O desenvolvimento da cultura da laranja,
banana e abacaxi está relacionado ao aumento das
exportações após a 1ª Guerra Mundial. Com as restrições às
exportações após a crise mundial de 1929 estas culturas logo
se definharam e quase terminaram com a 2ª Guerra Mundial.
Algumas cidades desenvolveram-se como Nova Iguaçu e São
Gonçalo.

Os locais utilizados para o plantio da laranja em Iguaçu foram os mesmos


utilizados para o café, pois, quando este entrou em decadência fez com que as
fazendas que abrigavam as plantações substituíssem essas culturas por outras de
subsistência, como o feijão, a mandioca e o milho, ou até mesmo fossem
abandonadas. Fatores logísticos como a proximidade com os grandes mercados
consumidores, como o de São Paulo, bem como a proximidade com a estrada de
ferro, que possibilitava o escoamento da produção e o apoio governamental tanto à
produção como à exportação, fez com que a região de Iguaçu fosse considerada
ideal para o cultivo da laranja. Esses fatores de ordem geográfica, infra-estrutural,
natural e, sobretudo, de política econômica que fizeram da área de Nova Iguaçu um
lugar atrativo para o desenvolvimento da citricultura.

Numa primeira fase os laranjais localizaram-se nas zonas dos morros, nos
contrafortes e mesmo nas encostas da Serra de Madureira; porém, com a
valorização do produto, o plantio alastrou-se pelas baixas colinas e planícies onde
estes já se encontravam drenados.

O sucesso do empreendimento citrícola permitiu o enriquecimento do


pequeno grupo que controlava o negócio na região. Este então passou a demandar
os equipamentos responsáveis pela estruturação urbana das localidades ali
existentes. As casas aumentaram de tamanho, estradas foram abertas praças e
hospitais construídos, as instalações de água e esgoto foram reformadas e
ampliadas, as ruas foram iluminadas.
36

O grande prestígio que a citricultura levou para a região pode ser comprovado
pelo fato de que, em 1916, por iniciativa do político Manuel Reis, o nome da
Segunda sede do município de Iguassú, Maxambomba, foi mudado para Nova
Iguassú, onde três anos mais tarde seria construída a sede da prefeitura municipal.
Neste mesmo período, a localidade de São Mateus, distrito de Nova Iguaçu, muda
seu nome para Nilópolis em homenagem à Nilo Peçanha, que foi um grande
incentivador da citricultura na região (Pereira, 1970: 117).

(...) a laranja revolucionou a estrutura social de Nova Iguaçu


sem mudar suas características rurais. O fenômeno social
nascido dos laranjais conservou, por muito tempo, sua
autonomia, sua independência política marcada pela influencia
econômica dos laranjeiros que constituíam uma classe
sucedânea à dos barões da cana e do café (PEREIRA, 1970:
118).

O plantio da laranja em escala comercial exigiu uma infraestrutura própria,


que ia desde a fabricação de caixas, o transporte das frutas, até o tratamento e
acondicionamento destas, fazendo com se gerassem muitos empregos
especializados na região. Nova Iguaçu tornara-se então o novo eldorado, e passou a
atrair gente de todo país. Este curto período da citricultura como principal atividade
comercial consolidou a “captura de grande parte da Baixada Fluminense para sua
órbita de influência e, principalmente, cria condições para a permanência desta
primazia após a decadência e o fim deste ciclo” (SIMÕES, 2007:121).

O espantoso crescimento populacional experimentado no período não veio


acompanhado de nenhum planejamento. É interessante notar que esse crescimento
deu-se em direção à Baixada da Guanabara, uma vez que o município do Rio de
Janeiro, nessa época, ainda possuía grandes áreas rurais a serem ocupadas como
era o caso de Jacarepaguá, Campo Grande, Santa Cruz e Sepetiba; mas foi para o
norte, rumo aos municípios da Baixada que a aglomeração carioca se processou
com maior força e rapidez.

No auge da produção citrícola (Tabela 1.1), Nova Iguaçu produziu


aproximadamente 1,5 milhões de caixas de laranjas, onde, num primeiro momento,
grande parte desse total foi destinada para mercado interno, e mais tarde, era
exportada para países como Inglaterra, Argentina, Holanda, França, Bélgica,
37

Alemanha, Suíça, Chile, Dacar, Noruega, Finlândia e Suécia. Nova Iguaçu também
processava a produção cítrica que provinha de Campo Grande, Santa Cruz e Bangu.

O progresso engendrado pela laranja fez com que o poder público investisse
na abertura, melhoria e construção de estradas para que elas pudessem facilitar a
vazão da produção, bem como o acesso dos moradores à sede do município.

Nesse contexto, da produção voltada basicamente para o mercado externo, a


estrada de ferro continuava sendo de suma importância para a economia local, pois
era através dela que os comerciantes recebiam sua mercadoria, que a indústria
importava sua matéria-prima e enviava a produção, e, finalmente, era através dos
trilhos que a laranja era levada diretamente até o porto do Rio de Janeiro.

Na análise de Soares (1960:74.) até o fim do ciclo da laranja, a cidade de


Nova Iguaçu nada mais foi que duas longas ruas, uma de cada lado da estrada de
ferro, e nelas se alinhavam residências e estabelecimentos comerciais, sendo que
estes, assim como a praça, o cinema, a prefeitura e a matriz, se situavam nas
proximidades da estação.

Abreu (1996) tem uma visão semelhante à de Soares (1960) quando analisa o
processo de ocupação dos subúrbios cariocas, para o autor:

O processo de ocupação dos subúrbios tomou, a princípio, uma


forma tipicamente linear, localizando-se as casas ao longo da
ferrovia e, com maior concentração em torno das estações. Aos
poucos, entretanto, ruas secundárias, perpendiculares à via
férrea, foram sendo abertas pelos proprietários de terras ou por
pequenas companhias loteadoras, dando inicio assim a um
processo de crescimento radial, que se intensificaria cada vez
mais com o passar dos anos. (1996:50).

A Tabela a seguir mostra a produção citrícola de Nova Iguaçu entre os anos


de 1941 e 1945, quando então o comércio internacional da fruta é interrompido.
38

Tabela 2-1 Produção de laranjas em Nova Iguaçu, no período de 1941 a 1945 (em caixas).
ANO MERCADO MERCADO TOTAL VALOR EM
EXTERNO INTERNO Cr$ 1.000
1941 888.844 665.800 1.554.644 38.217
1942 553.173 690.000 1.243.142 22.810
1943 546.173 580.000 1.126.175 23.108
1944 550.161 610.000 1.160.161 22.916
1945 554.147 780.000 1.334.147 29.966
Fonte: Elaboração própria a partir de Pereira, 1977.

A decadência do ciclo da laranja na região começa a partir da década de


1940, entre os fatores que contribuíram para tal, destaca-se a deflagração da
Segunda Guerra Mundial. Com o advento do conflito foi interditada a navegação
comercial face ao perigo dos ataques a essas embarcações; desta maneira, os
navios frigoríficos que levavam a laranja para a Europa não mais aportaram no Rio
de Janeiro, e a produção não pode mais ser escoada.

O aparecimento da mosca do mediterrâneo nos laranjais iguaçuanos trouxe


expressiva queda na produção, pois os frutos tornavam-se impróprios para o
consumo. Os produtores não souberam como atacar esse mal, e nem tiveram o
devido apoio governamental para isso. A queda na produção citrícola beneficiou
diretamente os produtores da Bacia do Prata, uma vez que, estes souberam como
precaver-se ao ataque da praga lançando mão de seu predador natural, que era
importado, do Brasil.

Soares (1960: 77) destaca da situação dos pomares: “Ao findar o conflito
mundial, a situação da citricultura nacional era calamitosa, a produção reduzira-se
de 50% e a qualidade da fruta estava muito prejudicada. Os pomares que haviam
restado, mal tratados e prejudicados pelas pragas, apresentavam rendimento
baixíssimo”.

Outro fator que contribuiu com a crise da citricultura foi a proibição de sua
comercialização ao fim da Segunda Guerra Mundial, justamente quando o comércio
internacional do fruto havia se reanimado oferecendo bons preços ao produto, com o
intuito de atender primeiramente ao mercado interno. Na análise de Simões (2007:
39

120), a última barreira à transformação da terra agrícola em urbana cai, liberando


grandes parcelas de terras para o uso urbano.

Os produtores que conseguiram manter seus pomares em boas condições


durante esse período foram extremamente prejudicados com essa medida e
abandonaram a cultura buscando outros meios de sobrevivência. A crise afetou
profundamente todos os setores da economia iguaçuana, desde os pequenos
comerciantes até a indústria de beneficiamento do produto.

O fim do ciclo da laranja marca o início da transição e transformação do


espaço iguaçuano com consequências para toda Baixada Fluminense, demonstrada
pelo fracionamento das terras que antes eram destinadas ao cultivo da laranja. O
motivo desse fracionamento pode ser credenciado à coincidência do declínio dos
laranjais com um “boom” imobiliário na sede do município. Dessa forma alguns
fazendeiros buscaram no parcelamento da terra em pequenos lotes residenciais
para venda direta ou para a construção e venda ou aluguel de casas, salvar o capital
investido na lavoura (SOARES, 1960: 78; ABREU, 1996: 109).

O período que se estende entre 1940 e 1970 evidencia o processo de


ocupação da região que, posteriormente, viria a ser conhecida como Baixada
Fluminense e mostra que tal ocupação dá-se calcada nos três grandes ciclos
econômicos que influenciaram e promoveram, de certa maneira, este processo.
Tanto o ciclo do café, da cana-de-açúcar e, principalmente, o da laranja,
transformaram o espaço urbano e influenciaram no crescimento econômico e
populacional da região, tendo rebatimentos também no processo de emancipação
de municípios ligados à cidade de Nova Iguaçu, como é o caso das emancipações
de Duque de Caxias, São João de Meriti e Nilópolis, ambos na década de 19404.

A crescente economia da região trouxe progressos como a eletrificação da


EFCB que por sua vez permitiu a melhor locomoção da massa trabalhadora que
para a cidade do Rio de Janeiro se deslocava e também o transporte das

4
De acordo com RODRIGUES (2006: 53): “Em junho de 1947 o distrito de Nilópolis, que por muito
tempo esteve vinculado e fazia parte integrante da vida de São João de Meriti, então 4º distrito de
Nova Iguaçu, teve seu pedido de emancipação solicitado pelo político Manuel Reis, e foi elevado a 7º
distrito de Nova Iguaçu. Com a discussão da Nova Carta Constitucional do estado do Rio de Janeiro,
o deputado Lucas de Andrade Figueira propôs uma emenda, promulgada a 20 de junho,
emancipando Nilópolis. A localidade de São João de Meriti, então distrito de Duque de Caxias,
emancipou-se deste através do mesmo Ato das Disposições transitórias da Constituição do Estado do
Rio de Janeiro que elevou Nilópolis à condição de município fluminense”.
40

mercadorias para o porto, e ao mesmo tempo facilitou o processo de ocupação da


humana da região, onde se encontrava lotes a preços mais baixos do que na capital,
impulsionando o mercado imobiliário local.

Tais acontecimentos reproduzem o comportamento observado no Brasil e no


estado do Rio de Janeiro no período, ou seja, a sociedade brasileira e a fluminense
sofreu intensas transformações estruturais e conheceu taxas elevadas de
desenvolvimento econômico. O país passou de uma sociedade predominantemente
rural, cujo dinamismo era calcado na exportação de produtos primários de base
agrícola, para se conformar numa sociedade urbano-industrial, baseado
principalmente no Processo de Substituição de Importações5. Esse processo será
melhor detalhado no capítulo a seguir.

5
Ver Tavares (1972).
41

CAPÍTULO 3 - O PAPEL DA BAIXADA FLUMINENSE NA INDUSTRIALIZAÇÃO


BRASILEIRA.

3.1. Traços largos sobre a economia brasileira no pós-guerra.

O processo de industrialização nacional, iniciado a partir da década de 1930,


via ruptura engendrada pela Crise de 1929, e consequentemente pela Revolução de
1930 propiciou, como analisado por Furtado (1959), a mudança do centro dinâmico
da economia. Esta passou de um modelo, predominantemente, ‘primário-exportador’
para um modelo baseado no mercado interno e tendo como variável-chave o
investimento interno; tal mudança alterou profundamente as bases do antigo padrão
de acumulação.

Este fato fez com que a economia brasileira passasse por um processo de
expansão e diversificação ao longo do século XX. Para o Brasil o período
representou o marco inicial das transformações no padrão de acumulação
capitalista, que a partir de então, passa a ocorrer em bases urbano-industriais
(SILVA: 2004).

Para Limonad (1996: 118), a crise de 29 e a revolução de 30, que conduziram


Getúlio Vargas ao poder, contribuíram para transformar o padrão de acumulação
vigente e criaram as bases para desenvolver-se uma estrutura produtiva urbano-
industrial de substituição das importações e para alterar a postura do poder público
em relação à indústria.

De acordo com o pensamento desenvolvido entre o final da década de 1970 e


inicio de 1980 pelo Departamento de Economia e Planejamento Econômico da
Universidade Estadual de Campinas as condições para o nascimento da
industrialização brasileira teriam sido gestadas no último quartel do século XlX no
âmbito da chamada economia cafeeira paulista, ou seja, nessa estrutura nucleada
pela atividade cafeeira, teriam sido criadas as condições propicias para o
‘nascimento’ da indústria, ainda que de inicio incipiente (NATAL, 2005).
42

Cabe destacar, segundo Melo e Contreras (1998: 424) apud Silva (2004: 30)
que:

Alguns autores entendem que as ações adotadas pelo governo


brasileiro, em resposta à crise de 1929, beneficiaram de
maneira especial à economia paulista, em virtude do perfil da
política de desenvolvimento industrial concebida ter se apoiado
na produção de bens intermediários e de capital. Para estes, a
região do Rio de Janeiro se encontraria, naquele momento,
“sem condições dinâmicas de incorporar-se ao processo de
industrialização por substituição de importações.

A partir de então, o processo de industrialização, calcado nas substituições de


importações, teve três grandes estratégias industriais, a saber: No governo de
Getúlio Vargas através da instalação da indústria de base; no governo do presidente
Juscelino Kubistchek através do Plano de Metas e a consequente instalação do
setor produtor de bens duráveis, e por fim, no governo do presidente Ernesto Geisel
via ll Plano Nacional de Desenvolvimento – ll PND.

“A partir do ‘nacional desenvolvimentismo’ do Vargas (1950-1954) e do ‘Plano


de Metas’ do governo Kubitscheck (1956-1960) intensificou-se a industrialização,
principalmente após 1956 com a instalação dos setores de ponta, que repercutiu nas
redes urbanas” (LIMONAD, 1996: 129).

O novo padrão de crescimento proporcionou o crescimento do PIB entre a


década de 1930 e 1970 a uma taxa média anual de 6%, bem acima da média de
4,3% ao ano no período 1900-1930; em termos populacionais, houve um
crescimento da ordem de 2,3% no período 1940-1950 e depois para 3% entre 1950-
1970 (CANO, 2011). Este padrão garantiu que um novo patamar de capacidade
produtiva fosse instalado, via introdução da produção interna calcada nas indústrias
básicas e de bens de capital, não obstante o alargamento da base técnica produtiva,
não incorporou ao mercado parcela expressiva da população e consequentemente
falhou na distribuição da renda (MARTINHO, 2009).

O Estado exerceu importante função ao conduzir projetos de desenvolvimento


que resultaram na expansão do produto e do emprego e também na busca para
superar os desequilíbrios espaciais (PIQUET, 2007). Era função deste, compensar
43

as ‘tendências de mercado’ e a ferramenta utilizada para tal foi o planejamento


econômico.

Segundo Silva (2004:31):

De 1930 a 1980, o país construiu um padrão de crescimento


interno marcado pela rápida modernização e urbanização,
quando a industrialização brasileira passou por duas etapas
principais no tocante à capacidade de autodeterminação do
processo. Na primeira, a industrialização foi considerada
restringida, ao passo que na segunda foi caracterizada como
pesada.

O período que compreende os anos entre 1930 e 1955 é o período


denominado por Cardoso de Melo (1998: 117) como Industrialização restringida,
uma vez que neste período, segundo o autor:

As bases técnicas e de acumulação serem insuficientes para


que se implantasse, num golpe, o núcleo fundamental da
indústria de bens de produção, o que permitiria à capacidade
produtiva crescer adiante da demanda, autodeterminando o
processo de desenvolvimento industrial.

Para Silva (2004: 32):

Apenas a partir de 1956, através do Plano de Metas (governo


Kubitscheck, 1956-60) é que o país experimentaria
transformações em sua estrutura industrial capazes de alterar
sua dinâmica e a capacidade relativa de autodeterminação da
demanda. O Brasil entrava, enfim, na etapa pesada de sua
industrialização, através da programação e do planejamento de
inversões industriais e em infraestrutura que almejavam a
eliminação dos chamados ‘pontos de estrangulamento.

Esta etapa, da chamada industrialização pesada, objetivou a instalação de


uma estrutura industrial moderna e complementar em relação à anterior, como
define Silva (2004: 32) “através de investimentos que combinavam maiores riscos,
grande porte e alta densidade de capital. A junção destas três “especificidades”
44

transformou essa empreitada, quase que exclusivamente, responsabilidade dos


capitais privados estrangeiros e estatais, embora não se possa ignorar o papel do
capital privado nacional”.

O período marcado entra as décadas de 1940 e 1970 ficou conhecido como


‘os trinta gloriosos’ do capitalismo mundial, e foi a partir desta expansão capitalista,
principalmente visto da ótica dos países subdesenvolvidos, que ficou demarcada o
que viria a ser denominado de ‘questão regional’, pois o crescimento econômico
mostrou-se se dar de forma ‘desequilibrada’ no território, tanto ao nível dos países,
quanto ao nível das regiões.

A década de 1960, de uma forma geral, representa um marco na adoção de


políticas públicas de desenvolvimento regional (MARTINHO, 2009). Havia um
recrudescimento do conflito agrário, o crescimento econômico era centrado
principalmente nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e de São Paulo, e o
país vivia um processo de crise política e econômica, a primeira do período
industrial.

A ditadura militar, através do Plano de Ação Econômica do Governo – PAEG -


fez algumas reformas, destacando-se a tributária, que propiciou a modernização da
estrutura fiscal do Estado, centralizando neste, a grande maioria dos recursos
arrecadados; outra reforma importante foi a financeiro-monetária que possibilitou a
ampliação dos canais de financiamento, dando base para a expansão do setor
produtor de bens de consumo duráveis e de capital, além de propiciar a
modernização da agricultura de exportação (CANO, 2001).

A expansão do produto acelerada veio no período seguinte e ficou conhecida


como o Milagre Econômico Brasileiro, a expansão da renda entre os anos de 1968 a
1974 representada pelo crescimento do PIB, ficou em torno de 11,3% ao ano, taxa
‘puxada’ pelo setor manufatureiro, que cresceu a taxa média de 12,7%, seguido pelo
setor terciário, com média de 9,8% e pelo setor primário com crescimento médio de
4,6% ao ano.
45

De modo sintético, podemos afirmar que o ciclo expansivo


referente ao ‘milagre’ foi resultante dos seguintes fatos e
medidas: 1) adoção de políticas fiscal e monetária menos
restritivas, o que levou, entre outros efeitos, ao aumento da
liquidez e do crédito na economia; 2) as reformas institucionais
realizadas pela equipe econômica no período 1964-67 – que
culminaram, como visto, em arrefecimento da dinâmica
expansiva naquele período - , auxiliaram na construção das
bases para a recuperação da dinâmica entre 1968-73; 3) A
capacidade ociosa existente no setor industrial permitiu a
rápida retomada do crescimento sem a demanda por níveis
maiores de investimento imediato; 4) o modelo concentrador de
renda atuou beneficiando a expansão de determinados setores,
em especial os de produtos duráveis de consumo; 5) por fim,
havia uma conjuntura internacional favorável à tomada de
empréstimos (SILVA: 2004, 33).

As contradições relativas ao modelo de crescimento adotado no país neste


período foram postas em evidencia com o Milagre Econômico, uma destas, como
destaca Silva (2004), era o crescimento das importações dos chamados bens de
produção, uma vez que o chamado Departamento l6 da economia nacional era
pouco desenvolvido para atender a demanda gerada pela expansão econômica no
período.

Os anos de 1974/1975 marca o arrefecimento das taxas de expansão (9,8% e


5,6% a.a. respectivamente), bem como a aceleração inflacionária e a estratégia
adotada pelo Governo militar do General Ernesto Geisel foi a de manter o processo
de expansão da economia adotando o ll Plano Nacional de Desenvolvimento.

O ll Plano Nacional de Desenvolvimento (1975-1979) – ll PND – marca o


ultimo esforço da industrialização de grande porte no país ao mesmo tempo em que
representou importantes modificações estruturais na economia nacional, além de
almejar levar a cabo a ideia de Brasil-Potencia (LESSA: 1998). Para Silva (op. Cit.)
“Não obstante representar importantes modificações na estrutura produtiva do país,
o II PND não combateu algumas limitações e contradições que não resistiram ao
choque externo de 1979 (nova alta no preço do petróleo) e à alta nas taxas de juros
norte-americanas”.

6
A análise departamental da economia é um instrumental analítico desenvolvido pelo economist
polonês Michel Kalecki , onde o autor busca comprovar as possibilidades de reprodução ampliada no
capitalism. Os setores, ou departamentos na economia são dois: o Departamento l , produtor de bens
de capital e de bens intermediarios, ou seja, aquele em que se encontra a indústria pesada ou de
base, e o Departamento ll, que é o produtor de bens de consumo.
46

O período referente à chamada industrialização pesada, além do processo,


mesmo que inicial, de desconcentração regional e internalização de alguns setores
produtivos é também marcado pela consolidação de São Paulo como centro
industrial do país.

No intervalo 1960-80, São Paulo se consolidou definitivamente


como o epicentro da economia nacional. Através da expansão
e diversificação de sua estrutura produtiva pôde conquistar
mercados pelo território nacional, fazendo com que, de certa
forma, as demais economias regionais se transformassem em
estruturas complementares a si (SILVA: 2004, 36).

O cenário econômico deixado após 21 anos de ditadura militar no Brasil foi


bem heterogêneo, por um lado, questões como elevada dívida externa e déficit
público e altíssimos níveis de inflação eram latentes e necessitavam de uma
resposta à altura, por outro, o país tinha uma situação de superávit comercial, além
de obter uma melhora na sua situação fiscal e alguns investimentos realizados
durante o ll PND estavam em seu período de maturação; e é neste cenário que se
inicia a chamada Nova República.

Na verdade, a fatura da estratégia de desenvolvimento do governo militar à


época do primeiro choque do petróleo, manutenção do crescimento via
endividamento externo, veio ser cobrada no inicio da década de 1980,
principalmente após a crise gerada em função do segundo choque do petróleo em
1979. A elevação unilateral da taxa de juros norte americana fez com que os países
endividados externamente em dólares tivessem suas dívidas duplicadas e até
mesmo triplicadas.

Tal estrangulamento fez com que a capacidade de investimento do Estado


Nacional fosse minada, o que fez com que este período fosse caracterizado pelo
processo de crescimento inflacionário e pela estagnação econômica - com exceção
aos anos de 1984-1986, o primeiro em função do bom desempenho das exportações
e o segundo em função das medidas adotadas a partir do Plano Cruzado - de forma
que esta década foi nomeada como a ‘década perdida’.

A década de 1980 marca um período recessivo para toda economia nacional,


marcado principalmente pela estagnação e pela hiperinflação, diferentemente do
47

período anterior (1930-1980), marcado pelo desenvolvimentismo encabeçado pelo


capital estatal, capital privado nacional e pelo capital privado estrangeiro, a década
que se inicia foi marcada pela crise econômica, social e institucional (NATAL, 2005).

O 2º choque do petróleo acabou resultando na alta internacional dos juros e


afetando de sobremaneira as contas internas além de afastar o país do sistema
financeiro internacional7 (FIORI, 1999). Se, por um lado, a crise afetou em cheio as
contas nacionais no inicio dos anos 1980, por outro o chamado Modelo de
Substituição de Importações (MSI)8, que teve o Estado como indutor do processo de
industrialização, além de gerenciador dos recursos do mesmo, conseguiu que, nesta
época, já tivéssemos uma estrutura industrial completa e integrada.

Para Castro (2005: 136) a “Nova República é, portanto, uma época marcada
pela esperança, pela frustração e pelo aprendizado”.

Para Filgueiras et all (2010: 45):

Do ponto de vista político, a transição da ditadura para a


democracia burguesa representativa no Brasil, que de resto
ocorreu em toda America Latina, não foi capaz de constituir em
um instrumento de transformações econômicos-sociais
importantes para as classes subalternas, em que pese a maior
organização e o crescimento dos movimentos sociais e a
inclusão formal, na Constituição de 1988, de um amplo
conjunto de direitos sociais.

Outra questão que marca o início da Nova República é a questão da inflação,


esta passa a ser vista como um grande problema a ser combatido no inicio da
década de 1990. A origem do processo inflacionário era a de que este estava
intrinsicamente ligado aos desequilíbrios externos da economia, cuja origem está
nos dois choques do petróleo, 1973 e 1979, e no choque dos juros nos EUA no
início da década de 19809, e internos como os choques agrícolas e as alterações

7
Além disso, para Fiori (1999) a ruptura do sistema monetário internacional dólar-ouro e o equilíbrio
de forças consagrado na Guerra Fria, desencadeou um movimento oposto ao desencadeado na
década de 1930, ou seja, houve um retorno à defesa dos mercados desregulados e dos Estados
Mínimos.
8
Ver Tavares (1998)
9
A partir de 1979 o FED adotou uma política monetária restritiva na intenção de conter a
desvalorização do dólar. Para isso, restringiu o crédito e impôs dificuldades ao financiamento por
48

cambiais, além de ter sua propagação alimentada pelos mecanismos formais e


informais de indexação na economia.

A alta dos juros nos EUA precipitou a crise da dívida10 em vários países,
inclusive o Brasil e fez com fosse desencadeada uma espiral inflacionária
realimentada por uma componente inercial ligada ao conflito distributivo de rendas.

Desta forma, a politica econômica da Nova República teve o combate à


inflação como meta primordial, isso se reverberou em numa série de planos
econômicos, entre 1985 e 1992, que tinham a queda do processo de aceleração
inflacionária como meta, além de enfrentar a crise fiscal do Estado, buscar uma
solução para questão da dívida externa e assim, criar um ambiente institucional para
a retomada do crescimento. Para isso, tais planos tinham por base o diagnóstico da
inflação inercial11 e traziam como principal elemento o congelamento de preços.

A conjuntura econômica da Nova República era a de uma economia em


crescimento, balança de pagamentos equilibrada e alta inflação (200% a.a). Mesmo
assim, em função da indefinição política dado o adoecimento do então candidato da
oposição, Tancredo Neves, eleito pelo Colégio Eleitoral, fez com que o ano de 1985
ficasse marcado por uma série de indefinições e mudanças na política econômica.

Com o falecimento do presidente Tancredo Neves, seu vice, José Sarney,


assume a presidência do país e nomeia uma equipe econômica bastante
heterogênea para dar cabo à questão da inflação, tendo Francisco Dornelles como
Ministro da Fazenda, este aplicou uma política econômica de arrocho nas áreas
monetária, fiscal e salarial visando controlar a inflação e manter em dia os
compromissos externos do país, deixando em segundo plano medidas de apoio ao
crescimento do saldo do comércio externo. O Ministro deu lugar a Dilson Funaro no
Ministério da Fazenda em agosto de 1985.

parte do Tesouro americano, isso acabou acarretando a elevação da taxa de juros e a consequente
transformação dos EUA em absorvedor da liquidez mundial (BAER: 1993).
10
A título de esclarecimento, 80% da dívida brasileira no período era do setor público, fruto do
processo de estatização da dívida externa, e a maior parte da geração do superávit se dava no setor
privado.
11
Segundo a teoria da inflação inercial, a manutenção do patamar de inflação se dá em função do
conflito distributivo entre os agentes econômicos, que buscam o aumento dos preços defasada e
alternadamente. As expectativas dos agentes econômicos não podem ser mudadas facilmente, em
função mudanças na politica monetária, porque tais expectativas estão baseadas na inflação
passada, na qual está ancorada o conflito distributivo (BRESSER PEREIRA: xxxx)
49

Funaro optou por combater a inflação via crescimento do mercado interno, tal
estratégia foi consubstanciada no Plano Cruzado, que teve como medida mais
impactante, do ponto de vista midiático, o congelamento dos preços. Ainda foram
lançados o ‘Cruzadinho’, o Plano Cruzado ll, o Plano Bresser e o Plano Verão que
tiveram como característica comum os resultados positivos de combate à inflação no
curto prazo.

As reformas propostas pelo primeiro presidente eleito pelo voto direto desde
1960, Fernando Collor de Mello, introduziram uma ruptura com esse modelo de
crescimento acima descrito. Tais reformas, baseadas nas premissas de
organizações multilaterais como o FMI, o Bird e o Federal Reserve e que ficaram
conhecidas como “Consenso de Washington”12, tiveram como pilares a abertura
comercial e financeira e a privatização, enquanto que a política industrial ficou
subordinada à questão prioritária do combate à inflação.

Os planos Collor l e ll13 tiveram como marcas a tentativa de rompimento com


o processo de indexação da economia bem como o aumento da arrecadação via
criação de novos tributos, aumento do IPI, IOF, redução dos prazos de recolhimento,
suspensão de benefícios fiscais, extinção de autarquias e fundações, além de uma
campanha para demissão de funcionários. Contudo, a medida mais marcante foi o
chamado ‘sequestro’ de liquidez, que foi o bloqueio por 18 meses de todas as
aplicações financeiras que ultrapassassem o limite de NCr$ 50.000,00. Tal confisco
foi a ancora do plano Collor l e resultou num grande impacto no sistema produtivo,
provocando a desestruturação deste14. Ambos os planos fracassaram no combate à
inflação e tiveram como resultado uma severa recessão (CARNEIRO, 2002).

A crise econômica associada à crise política e à precariedade das medidas


adotadas no Plano Collor ll somados ao desgaste do governo frente ao ‘confisco’
adotado no Plano Collor l e às crescentes denuncias de corrupção, impulsionaram o
movimento que pedia o impedimento do presidente. Em 1992, o presidente Collor foi
12
De uma forma geral, as bases do chamado Consenso de Washington foram a disciplina fiscal, a
racionalização dos gastos públicos, a reforma tributária, a liberalização financeira, a reforma cambial,
abertura comercial, a supressão de restrições ao investimento estrangeiro direto, a privatização, a
desregulamentação e, finalmente, o respeito à propriedade intelectual. Esse receituário foi
disseminado por toda a América Latina, numa ‘onda liberalizante’ que varreu o continente nos anos
1990 (FIORI: 1997).
13
Ver Giambiagi (2005) e Carneiro (2002)
14
A desestruturação se mostrou na forma de corte das encomendas, semiparalisia da produção,
demissões, férias coletivas, redução da jornada de trabalho, reduções salariais, deflação, dividas, etc.
50

destituído do poder em razão do processo de impeachment, desta forma seu vice,


Itamar Franco, assume o cargo dando continuidade às reformas.

Tendo Fernando Henrique Cardoso como Ministro da Fazenda, o então


presidente da República anuncia no dia 7 de novembro de 1993 o Plano Real, num
contexto de hiperinflação (2.500% ao ano), o plano conseguiu reduzir esta para
menos de 10% ao ano em menos de doze meses. Tal façanha alçaria FHC a
presidente da República, em outubro de 1994 (GIAMBIAGI et all: 2005).

O plano foi baseado em três fases distintas: i) ajuste fiscal via Programa de
Ação Imediata – PAI e através do Fundo Social de Emergência – FSE; ii) criação da
Unidade Real de Valor – URV, com o intuito de eliminar o componente inercial da
inflação e iii) criação da nova moeda, o Real (GIAMBIAGI et all: 2005).

A inflação foi diagnosticada como tendo sua origem no descontrole do gasto


público e com forte tendência inercial, desta forma, o Plano Real foi arquitetado em
cima de duas colunas: a reforma fiscal e a reforma monetária, apresentando o
binômio ‘inflação-gasto publico’ como faces da mesma moeda.

A queda na taxa de juros internacional objetivando combater a


recessão apresentada em 1990 e 1991 fez com que houvesse
novo momento de liquidez internacional e, desta forma, a taxa
de juros elevada dos países em desenvolvimento acabou por
atrair tais investimentos em busca da rentabilidade maior,
sendo assim, Paulino (2010:294) vaticina O Plano Real,
apoiado no binômio ‘inflação zero-déficit público zero’, surgiu,
então, não para estabilizar a economia em defesa dos
trabalhadores e dos pobres, desprotegidos da inflação, mas
para atender basicamente aos imperativos desses capitais
globalizados.

O impacto imediato do plano foi a rápida queda na taxa de inflação, associada


ao grande crescimento da demanda e da atividade econômica, além da expansão do
crédito e valorização do cambio. A valorização do cambio associada à demanda
aquecida levou ao aparecimento de déficits crescentes na balança comercial, sendo
que os itens que mais apresentavam aumento na balança comercial eram os
automóveis e os bens de consumo, concluindo que boa parte dos capitais que
entraram foi para financiamento do consumo, ou seja, financiamento de itens que
não ampliavam a capacidade futura de pagamento do país.
51

Outra parcela do capital ingressante era composta pelo chamado


investimento de portfólio, destinados a aplicações em ações, fundos de aplicação
financeira, fundos de privatizações, entre outros; tais capitais têm como
característica principal a possibilidade de saírem rapidamente do país em função das
incertezas, queda na taxa de juros interna e/ou aumento na taxa de juros
internacional.

Outros efeitos, não perceptíveis de imediato, foram a perda do controle sobre


o sistema monetário pela supressão da autonomia da moeda nacional frente ao
dólar (ancora cambial); a sobrevalorização cambial associada à abertura comercial
impele o país a captar, cada vez mais, recursos no exterior buscando equilibrar a
balança de pagamentos, e, para garantir a rentabilidade deste capital entrante, tem-
se que oferecer taxas de juros acima das pagas no mercado internacional
(BENJAMIM, 1998).

A elevação da taxa de juros por um grande período de tempo acaba gerando


alguns efeitos perversos na economia, a saber: taxas elevadas de juros são
incompatíveis com o processo de desconcentração de renda, demonstrando um
avanço do capital sobre os rendimentos do trabalho; outra consequência é o avanço
do capital sobre a esfera da valorização financeira em detrimento do investimento
produtivo15; há ainda a questão do sistema bancário, altas taxas de juros acabam
inibindo o crédito e aumentando a inadimplência; e, por ultimo, a alta nas taxas de
juros modificam o perfil do investimento na indústria uma vez que a rentabilidade do
capital tende a ser menor na esfera produtiva do que na financeira, reduzindo assim,
a criação de novas unidades produtivas (BENJAMIN, 1998).

O modelo macroeconômico adotado no Plano Real encontrava sustentação


no crescimento econômico via exportações, desta forma, o esforço do governo se
deu no sentido de expandir e modernizar este setor. Os produtos os quais o país
tornou-se especialista na produção foram as chamadas commodities agrícolas e
minerais (produtos de baixa elasticidade em sua demanda).

15
Na visão de Filgueiras et all (2010: 55): “ Do ponto de vista dos fluxos de capitais, no primeiro
governo FHC (1995-1998) os grandes montantes de investimentos em carteira (aplicações em títulos
da dívida pública e bolsa de valores) e dos investimentos diretos (com destaque para a aquisição de
empresas nacionais e estatais) foram peça-chave para o equilíbrio (instável e precário) do balanço de
pagamentos”.
52

O plano logrou êxito no combate à inflação, apesar dos altos custos como a
piora nas finanças públicas (trajetória ascendente na relação divida pública/PIB), a
vulnerabilidade externa e recorrentes crises no balanço de pagamentos (que fez com
que o país recorresse ao FMI por diversas vezes), baixo padrão de crescimento no
período (média de 2,4% no primeiro governo FHC, e 2,1% no segundo), e,
finalmente, aumento nas taxas de desemprego, dada que a alteração desta se dava
em função da alteração da taxa de crescimento, uma vez que esta ultima se tornou
variável de ajuste para o plano Real16.

a economia brasileira, exposta de forma abrupta à


concorrência internacional, estagnou e se tornou
extremamente instável. As reduzidíssimas taxas de
crescimento e a dramática deterioração do mercado
de trabalho apareceram como um resultado ‘natural’,
num ambiente interno marcado por elevadas taxas
de juros e precárias condições da infraestrutura,
além da mais absoluta ausência de qualquer tipo de
política industrial, agrícola, tecnológica e de
comercio exterior por parte do Estado. Fechando o
circulo deletério, as elevadas taxas de juros e a
enorme dependência externa, além de
comprometerem o crescimento econômico,
fragilizaram também as finanças públicas e
inviabilizaram a ação e os investimentos do Estado
em todas as áreas (Filgueiras et all,2010: 47) .

As duas grandes marcas do Plano Real para o período em questão foram a


estabilização e as reformas, esta última representada pelas privatizações, pelo fim
do monopólio estatal da Petrobrás e das telecomunicações, pela mudança no
tratamento dado ao capital estrangeiro, pelo saneamento do sistema financeiro, pela
reforma parcial da previdência social, pela renegociação das dívidas estaduais, pela
Lei de Responsabilidade Fiscal, pelo ajuste fiscal, pela criação das agencias
reguladoras e, finalmente, pela adoção das metas de inflação – inflacion target.

A década de 1990 pode ser caracterizada por três períodos distintos, o


período que vai de 1991 a 1994 ficou marcado pelo binômio privatização/abertura
16
Quando a vulnerabilidade externa e a deterioração das contas públicas aumentavam, em função da
política de manutenção da estabilidade monetária baseada nas altas taxas de juros e na apreciação
cambial, a resposta do governo era dada na forma de um aperto fiscal e monetário cada vez maior, o
que, por sua vez, derrubava as taxas de crescimento e aumentava as de desemprego.
53

econômica, além de certa modernização do setor privado em função do choque de


competição imposto por esta abertura; os anos compreendidos entre 1995 e 1998
foram os anos de estabilização, nos quais a inflação foi controlada e a concorrência
externa potencializada, isso implicou em graves desequilíbrios, tanto o externo,
quanto o fiscal; e o final dos anos 1990, mais precisamente entre 1999 e 2002
percebe-se que as mudanças dos regimes cambial, fiscal e monetário
transformaram-se em elementos para atacar os desequilíbrios macroeconômicos de
forma integrada (MAGALHÃES: 2010).

Destarte os problemas já elencados acima, pode-se afirmar que a economia


brasileira tornou-se, nos anos 1990, uma economia mais moderna e competitiva do
ponto de vista macroeconômico, além da estabilidade conquistada com o advento do
controle inflacionário.

A estabilidade conquistada nos anos de 1990 deu base aos avanços


conquistados nos anos posteriores, principalmente a partir do governo Lula. A
política econômica adotada durante este governo, se inseriu no âmbito dos planos
implementados historicamente nos séculos XX e XXl (MAGALHAES, 2010).

O primeiro mandato do presidente Luís Inácio Lula da Silva foi dominado pelo
legado econômico deixado pelos oito anos de governo FHC, a saber: Alta dívida
pública, alto déficit em conta corrente, altas taxas de juros nominais, real
desvalorizado e ainda sofreu influencia da moratória argentina no inicio dos anos
2000.

Os ajustes macroeconômicos adotados então, foram de cunho ortodoxo, no


intuito de recuperar a ‘confiança do mercado’ na economia brasileira; os resultados
de tais politicas foram o aumento na taxa de juros, cortes no investimento, aumento
do nível de preços da economia, aumento do desemprego e baixo crescimento
econômico.

Os resultados da implantação desta política veio no ano de 2004, com a


recuperação das exportações brasileiras, basicamente ancorada pelas importações
chinesas de soja e minério de ferro, e o consequente crescimento econômico.

A conjuntura internacional favorável foi decisiva para o melhor desempenho


macroeconômico comparado ao período anterior. Tal conjuntura permitiu além da
redução da restrição externa, a flexibilização das políticas macroeconômicas como a
54

política monetária (redução das taxas de juros e ampliação do crédito) e da política


fiscal, permitindo a realização de maiores investimentos estatais, notadamente
percebidos no Plano de Aceleração do Crescimento – PAC17.

O governo ainda estimulou o consumo interno através de medidas como o


aumento do crédito e a recuperação do poder de compra do salário mínimo, isso
acabou estimulando a economia interna na geração de trabalho e renda.

Vale chamar a atenção para a ausência de um plano nacional de


desenvolvimento industrial no período, como destaca Anderson (2011: 40)

Assim, em vez de um maior avanço industrial, as


consequências para o Brasil da mais recente onda da
Revolução Tecnológica tem sido a migração da acumulação
das fábricas para as transações financeiras e a extração de
recursos naturais, com o crescimento muito rápido do setor
bancário, onde os lucros são maiores, e da mineração e do
agronegócio para exportação.

Para exemplificar a supracitada informação, o autor lembra que entre 2002 e


2009, houve queda na participação dos manufaturados nas exportações brasileiras
de 55% para 44% ao mesmo tempo em que as matérias-primas tiveram aumento na
participação de 28% em 2002 para 41% em 2009. Novamente, destaca-se a
importância da ascensão da economia chinesa para o crescimento econômico
brasileiro no período em voga, uma vez que estes figuravam como nosso principal
mercado consumidor importando principalmente soja e minério de ferro e figurando
como sustentáculo de nossa balança comercial.

A nova fase de desenvolvimento econômico foi denominada por Barbosa e


Souza (2010) como Novo Desenvolvimentismo18 e foi impulsionada basicamente por
três fatores; a retomada da participação do Estado na economia na condução do
processo econômico seja no planejamento, no investimento direto ou via empresas
estatais.

Outro importante fator foi a ampliação do crédito que associada a uma política
de aumento real do salário mínimo e uma política social de inserção de camadas

17
Para informações acerca do PAC ver: http://www.pac.gov.br/
18
Para mais informações Barbosa e Souza (2010).
55

mais pobres via o programa social bolsa-família, propiciando uma maior participação
do mercado interno no crescimento econômico. E por último, como dito
anteriormente, pela reorientação da política externa permitindo uma amplificação e
diversificação das exportações, isso acabou mudando colocando a China como
grande parceiro comercial do Brasil.

Para Filgueiras et all(2010:38)

o ‘retorno’ do Estado à esfera econômica esta recriando, sob


novas circunstancias e de outra maneira, o tripé capital
internacional/Estado/capital nacional, agora sob a hegemonia
do capital financeiro (internacional e nacional) e de sua lógica,
com reforço da internacionalização de grandes grupos
econômicos nacionais.

No entanto, a falta de uma estratégia econômica definida levou, segundo


Magalhaes (2010), o país a evoluir no sentido da especialização da produção de
commodities agrícolas e industriais, que por sua vez possuem baixo valor adicionado
por trabalhador em função das características deste mercado: lento crescimento e
baixo nível tecnológico.

A inexistência desta estratégia orientadora no sentido de criar


competitividade em setores de alto valor adicionado mercados
dinâmicos e tecnologia refinada, permitiu que o mecanismo de
preços (operando livremente) promoveu os setores em que o
país é naturalmente competitivo.

Para Filgueiras e Gonçalves (2007) o que caracteriza o período Lula são a


consolidação e o fortalecimento do Modelo Liberal-Periférico que se constituiu a
partir da crise e esgotamento do Modelo de Substituição de Importações. Houve
substituição do mecanismo de ancora cambial e das privatizações pelas metas de
inflação, superávits primários e cambio flexível no intuito de reduzir a instabilidade
macroeconômica instituída pela abertura comercial e financeira.

Os dois mandados do presidente Lula tiveram como êxito a incorporação


parcial das demandas das massas subalternas; via expansão do crédito, aumento
56

real do salário mínimo e uma politica social centralizada no programa Bolsa Família;
sem ferir os interesses do grande capital.

Essa é a base do ‘novo consenso’, do ‘crescimento com


distribuição’ na era do capital financeiro, que levou à
incorporação marginal de parcelas da população de menor
renda ao consumo, tendo como contrapartida a desmobilização
política dos movimentos sociais e dos sindicatos, a tutela direta
do Estado sobre a parte da população mais pobre, a
despolitização da política, a desqualificação maior ainda dos
partidos e, como resultado disso tudo, o surgimento,
desenvolvimento e consolidação do ‘lulismo’ (FILGUEIRAS et
all, 2010:64)

Dentro deste contexto, de crescimento da economia nacional, analisaremos


abaixo, a evolução da economia fluminense a partir do pós-guerra, passando pelo
processo de perda relativa para a economia paulista e a crise vivenciada na década
de 1980, até o processo de retomada econômica iniciado no inicio da década de
1990.

3.2 – A Economia Fluminense: Decadência e Recuperação.

O período do pós ll Guerra Mundial marca no país, o fim do Estado Novo e a


volta de uma política econômica mais liberal em relação ao período anterior. Este
período, também marca uma nova tentativa de intervenção estatal na economia,
agora com maior participação do capital estrangeiro e uma tendência à concentração
industrial no estado de São Paulo, marca ainda um processo de entrada maciça de
empresas chamadas de transnacionais, bem como um maior processo de integração
nacional, dado a ampliação da malha rodoviária no período em questão.

Neste sentido, a seção que se segue, tem como objetivo analisar, em grandes
linhas, a economia fluminense, seu processo de perda relativa, crise nos anos 1980
e recuperação econômica na década de 1990.

Cabe ressaltar que entre 1960 e 1975 a cidade do Rio de Janeiro passou por
uma experiência político-administrativa singular, na condição de Estado da
Guanabara (Penalva Santos, 2003), criado em função do Rio de Janeiro perder sua
condição de distrito federal, uma vez que este foi transferido para Brasília. A
57

condição de cidade-estado permitiu que o município do Rio de Janeiro arrecadasse


tributos de origem estadual e municipal, permitindo a este a viabilização do
financiamento de uma gama de investimentos em infraestrutura.

Esta barreira institucional criada acabou gerando problemas de toda ordem


entre a cidade do Rio de Janeiro (cidade-estado da Guanabara) e o restante dos
municípios fluminenses, com destaque para a Baixada Fluminense que abrigava a
expansão do crescimento industrial no período, problemas como a falta de
equipamentos públicos para receber o deslocamento das indústrias e da população.

Sobre a situação do gasto público evidenciada nesse período em relação ao


município-sede, Melo e Considera (1988) destacam: “Constitui-se, assim, o gasto
público em componente “autônomo” importante, que fez com que o desenvolvimento
que ocorreu na cidade-capital evoluísse quase que independentemente do resto da
região, possibilitando a expansão industrial da cidade do Rio de Janeiro,
isoladamente do resto da periferia”.

A fusão do dois estados foi feita em 1975, através da Lei Complementar nº 20


de 1º de julho de 1974, sancionada pelo então presidente Ernesto Geisel e foi
justificada, de acordo com Martinho (2009), com base em argumentos de natureza
política, combate ao foco de oposição guanabarina, atrelados a justificativas
econômicas, como o esvaziamento econômico, a questão metropolitana e regional,
as barreiras institucionais que separavam o polo do Rio de Janeiro de sua periferia.

Entre o fim da Segunda Guerra e o inicio da década de 1980, o estado do Rio


de Janeiro se consolida como grande fornecedor de matérias-primas industriais,
tendo em vista, a construção de grandes unidades fabris, de base estatal, em seu
território, a saber: a CSN, a Cia. Nacional de Álcalis e a refinaria Duque de Caxias,
não obstante, tal fato não impediu a perda da produção industrial para o Estado de
São Paulo, como veremos abaixo.

No que tange a dinâmica populacional do estado, entre as décadas de 1940 e


1980 a população fluminense cresceu 2,89% enquanto que a média nacional foi de
2,69%, como pode ser notado no gráfico abaixo.
58

Gráfico 1 -Taxas de Crescimento Demográfico RJ e BR: 1940-80. (% a.a)

4,00

3,50

3,00

2,50

2,00

1,50

1,00

0,50

0,00
1920-40 1940-50 1950-60 1960-70 1970-80 1940-80

BR RJ

Fonte: Silva, 2004

Este crescimento populacional entre as décadas de 1940 e 1980 reforça o


padrão locacional da sociedade fluminense, ou seja, extremamente concentrada na
sua porção metropolitana. Segundo Silva (2004), a concentração populacional neste
recorte do estado fluminense subiu de 62% em 1940 para 77% em 1980.

Neste mesmo período analisado acima, a trajetória de perdas relativas da


economia fluminense frente à paulista continuou ocorrendo. A economia fluminense,
que detinha em 1939, 21% de participação na renda nacional, passa a deter 13%
em 1980 (destaque para a queda na participação industrial de 28% para 13 % no
período); enquanto que a economia paulista aumentou sua participação na renda
nacional de 31,3% em 1939 para 37,8% em 1980.

Foi no bojo deste processo que a indústria fluminense teve sua dinâmica
alterada, perdendo a liderança da produção industrial para o estado de São Paulo. A
queda da participação relativa do Rio de Janeiro no cenário industrial do país foi
acompanhada por uma diversificação na produção local, onde se destacaram as
indústrias metalúrgicas, de minerais não metálicos, química e farmacêutica, bebidas,
editorial e gráfica, além da construção civil.
59

Silva (2004: 36) chama atenção para o fato de que tal perda vinha sendo
desenhada desde o inicio do século XX:

Vale relembrar que entre as primeiras décadas do século e o


período imediatamente posterior à Primeira Guerra Mundial, a
economia paulista assumira, sem embargo, o posto de primeira
economia regional do país, internalizando progressivamente,
as pré-condições para seu espetacular crescimento durante a
industrialização nacional. Durante essas décadas, São Paulo
superou a economia fluminense no tocante à produção
industrial, ou seja, ademais ser o principal centro agrícola,
tornou-se o principal lócus manufatureiro do país.

Egler (1979: 118) também acompanha a mesma linha interpretativa acima,


destacando os efeitos da Crise de 1929 para a perda relativa do Rio de Janeiro
frente a São Paulo:

O Rio de Janeiro sofreu diretamente os efeitos da crise, sua


indústria foi incapaz de acompanhar a expansão do parque
industrial paulista no período entre 1933 e 1939. De ora em
diante, a indústria do Rio de janeiro desenvolveu-se
subordinada ao ritmo de expansão de São Paulo.

A questão da perda relativa da indústria fluminense frente à paulista é


retratada em estudos de Pignaton (1977), Versiani (1993), Melo e Considera (1986)
Cano (1998), Lessa (2000) entre outros, abaixo é apontada, em linhas gerais, as
principais visões acerca da temática da ‘perda relativa’ da indústria fluminense.

Para Pignaton (1977) a superação da indústria paulista frente à fluminense é


decorrente do aumento da capacidade de importar, à entrada de capitais externos e
ainda devido ao aumento das exportações de café e borracha ainda na década de
1910. Para além destes fatos, Versiani chama a atenção para a reforma tributaria de
1900 para a expansão industrial paulista.

Para Cano (1998) a diversificação da indústria fluminense entre os anos 1960


e 1980 demonstrava a existência de múltiplos e frágeis segmentos industriais que
atendiam basicamente o mercado interno, ao contrário do que ocorria na indústria
60

paulista que consolidou um perfil industrial orientado para setores novos e


tecnologicamente mais avançados.

Cabe ressaltar que historicamente o Estado do Rio de Janeiro seguiu um


padrão de desenvolvimento desigual, ou seja, dissociado seu interior em função de
sua separação administrativa descrita acima, o que refletiu, segundo Silva (2007:
21):

Em um baixo grau de integração inter-regional, na ausência de


uma boa rede urbana e no empobrecimento da periferia, que
ficou sujeita aos efeitos negativos da polarização, mas não se
beneficiou dos positivos. A consequência da escolha dessa
trajetória de desenvolvimento econômico regional foi a redução
da competitividade estadual e o declínio econômico.

Para Natal (2005), esse processo de esvaziamento compreende o período


que vai do inicio dos anos 1980 e o final da primeira metade dos aos 1990, e atinge
diversas expressões da vida social: a econômica, a social e a institucional (NATAL,
2005). Dain (1990) sintetiza esse período na expressão ‘Rio de todas as crises’,
justamente em função desta superposição temporal de crises vivenciada pelo
estado.

Dentre as crises, pode se destacar: i) a crise da falta de competitividade da


indústria fluminense, ii) a crise dada em função da redução dos gastos do governo
federal no estado, iii) a crise da questão social, iv) os conflitos de natureza
federativa, e o v) estiolamento ‘moral’ da população fluminense (NATAL, 2005).

De uma maneira geral, o estado sofreu com a obsolescência dos setores


naval e siderúrgico, historicamente, setores que dinamizavam a economia local,
além do fato de o setor produtor de bens de consumo durável estar localizado
notadamente no estado vizinho, São Paulo. Outro fator que chama a atenção no
período é o fato da orientação da economia fluminense ser dada ao mercado
interno, ou seja, esta possuía uma baixa extroversão nacional e internacional, o
reflexo disso é a alta sensibilidade às variações de renda interna da sua própria
economia.
61

O setor terciário fluminense é, historicamente, o que responde pelas maiores


parcelas da renda e do emprego no estado, mas cabe ressaltar, que o mesmo tem
como características o fato de que suas ocupações são dotadas de certa
instabilidade e de baixa remuneração.

De acordo com Natal (2005: 35):

A crise fluminense foi o ponto de chegada de uma


longa história, iniciada com a industrialização
paulista, avançada com a ida da capital para
Brasília, que teve seguimento com a fusão e
alcançou seu auge com a crise dos referidos
padrões fiscais e financeiros, mostrando assim, e aí,
toda sua dependência dos recursos fiscais e
financeiros da União, em larga medida, por sua vez,
dependentes da própria dinâmica econômica
‘puxada’ por São Paulo; e tudo isso sob o ‘manto’ da
reiteração de uma ideologia de expiação e
externalização de culpas que, por sua vez, contribuiu
de maneira significativa para a degradação
societária do estado, como manifesta finalmente no
período 1982-94.

O autor ainda enumera quatro teses ‘escapistas’ acerca da crise fluminense, a


saber:

1. A primeira diz respeito ao fato do estado do Rio de Janeiro possuir uma


vocação ‘natural’ para ser um grande centro financeiro;
2. Outra vocação ‘natural’ do estado estaria voltada para o fato deste ser
considerado um polo turístico;
3. A seguinte refere-se às perdas /compromissos do governo federal para
com o estado;
4. E, por último, a questão da incompetência política dos governos e
lideranças políticas estaduais na defesa dos interesses fluminenses.

Para o autor, tais teses buscam a explicação para a situação econômica


fluminense no período, na demonização do ‘outro’, tendo em vista a hipótese
aventada de que a degradação econômica tem inicio no fim do século XlX e se
explica ,em parte, pela convergência de uma economia e sociedade capitalista a
62

partir do estado de São Paulo, e, desta forma, as ‘perdas’ com a transferência da


capital para Brasília e a fusão dos estados do Rio de Janeiro com o estado da
Guanabara apenas aguçaram as históricas fragilidades da economia fluminense.

A crise da década de 1980, como discutido no item 2.1, fez com que o Estado
brasileiro declarasse moratória de sua dívida em 1982 e permitiu que soluções
liberais/conservadoras ganhassem espaço no debate macroeconômico dominado
pelo mainstream liberal norte americano. As medidas propagadas pelos economistas
liberais ficaram conhecidas como o ‘Consenso de Washington’.

As medidas decorrentes do mainstream neoliberal tiveram grandes impactos


no país e consequentemente no Estado do Rio de Janeiro, segundo Natal (2005), o
perfil produtivo do ERJ, apesar do esforço de modernização, mostrou-se muito
vinculado ao mercado interno e ao consumo de massa, diferentemente da indústria
paulista que possuía seu setor industrial vinculado aos chamados bens duráveis de
consumo e às exportações, o que propiciava impacto expressivo (e a maior) no
Estado do Rio de Janeiro em função da crise econômica da década de 1980.

Esses rebatimentos se traduziram no território fluminense na falta de


competitividade da indústria local, na diminuição dos gastos federais no estado e
consequentemente no agravamento da questão social, representada pelo aumento
do desemprego, crescimento do setor informal da economia e na desigualdade da
distribuição de renda no estado.

A sociedade fluminense apresentou à época, como indicado


pela expressão ‘Rio de todas as crises’, portadora de um
conjunto superposto de crises. Dentre elas, podem ser
destacadas: (i) a pronunciada decadência e a falta de
competitividade da indústria fluminense; (ii) a efetiva redução
dos gastos do governo federal no estado, como também dos
impactos derivados dos anúncios da sua redução; (iii) o
dramático agravamento da chamada questão social; (iv) os
conflitos de natureza federativa, particularmente os
estabelecidos entre os governos estadual e federal; e (v) o
inegável estiolamento ‘moral’ da população fluminense, em
especial da carioca (NATAL, 2005: 28).
63

Os impactos relativos às perdas experimentadas pelo ERJ em relação à


produção nacional perpassaram, segundo análise de Silva (2012), os três grandes
setores, tendo sido mais intensa no setor terciário, que obteve uma queda de 18,2%
para 15,4% entre os anos de 1980 e 1990. A redução do setor primário foi de 2%
para 1,8% muito em decorrência de sua debilidade estrutural associada à expansão
da fronteira agrícola, como analisado pelo autor. No que tange à indústria a baixa na
participação relativa, que passou de 11,9% para 10,5%, é explicada tanto pela
desestruturação de importantes setores da indústria regional, quanto pela
desconcentração produtiva nacional (SILVA, 2012: 59).

O baixo crescimento da economia fluminense, ao longo dos


anos 1980, foi resultado, em parte, do baixo dinamismo
apresentado por sua indústria em geral, cujo desempenho
pode ser explicado, em grande medida, por seu perfil,
caracterizado pela concentração de setores de bens
intermediários que atuavam de modo complementar à estrutura
produtiva nacional e, por conseguinte, fortemente determinada
pela demanda do mercado interno. Por outro lado, o baixo
dinamismo das atividades terciárias contribuiu para este
cenário econômico, tendo em vista sua importância para a
estrutura urbana metropolitana regional, responsável por
grande da renda e do emprego estaduais.

A economia fluminense começa a apresentar, a partir dos anos 1990, após


anos de estagnação econômica, um período eufórico de crescimento econômico. Tal
crescimento vem se dando em função, principalmente, da extração mineral, como o
caso da exploração de petróleo no norte do Estado.

As bases na qual se assentaram tal crescimento econômico recente,


heranças do processo de industrialização fluminense, se deram com forte
participação das empresas estatais e do setor de serviços, com especialização nas
indústrias de base e intermediárias e em atividades de extração mineral (BRANDÃO,
2012).

Esta herança promoveu uma economia marcada por heterogeneidades


setoriais e regionais que resultou numa baixa capacidade de espraiamento e
dinamização do tecido urbano, notadamente dá-se a partir do inicio da década de
1990 na região Metropolitana do Estado. Historicamente, o crescimento se deu
64

concentrado em determinadas cidades/regiões no estado de forma que não fosse


permitido um equilíbrio maior no sentido de distribuição desta riqueza no espaço
fluminense.

A década de 1990 foi marcada na economia fluminense, pelo fato da mesma,


de acordo com Silva (2012), apresentar dados que mostravam o aumento da
produção regional, além do anúncio de diversos investimentos no estado, de forma
que, tanto os números quanto as perspectivas indicavam um cenário melhor do que
as décadas anteriores, especialmente a década de 1980.

Sendo assim, no plano das ideias, o inicio da década de 1990 é marcado pelo
debate acerca da questão da chamada inflexão econômica fluminense. Segundo
Silva (2012) as análises que fazem referência a este processo são fundamentadas
em indicadores que apontariam uma alteração na trajetória da economia estadual
em relação à dinâmica expansiva desta região durante o período de industrialização
nacional.

Cabe destacar que as análises seminais sobre este processo de inflexão


econômica se encontra em Penalva Santos (2003) e Natal (2001, 2004, 2005b,
2011). Estes autores analisaram os impactos das transformações produtivas e
organizacionais do capitalismo e seus rebatimentos no território fluminense.
Questões como vantagens locacionais dinâmicas, como a especialização do
território fluminense no setor terciário e a mão-de-obra qualificada, agiram como
atrativos para a instalação de novos empreendimentos no estado.

Silva (2012) afirma que a relativa estabilização da participação fluminense


resulta da forte expansão relativa sofrida por outras regiões e unidades da federação
no período 2002/2006. Para Fonseca (2006) este crescimento econômico
experimentado pelo estado do Rio de Janeiro foi marcado pela heterogeneidade,
uma vez que tal crescimento não se aplica às diferentes atividades produtivas, pois o
bom desempenho da indústria extrativista mineral, se opõe aos resultados relativos à
indústria da transformação no periodo em tela.

As principais críticas partiram dos trabalhos de Osório (2007, 2008) e Sobral


(2009, 2010, 2013). Para Osório (2008) verifica-se nas ultimas décadas grave perda
de participação do estado do Rio de Janeiro em relação a economia nacional; o
autor avalia que houve perda de empregos formais na indústria de transformação,
65

fazendo com que o ERJ, que ocupava em 1985, a segunda posição entre as
unidades federativas, caiu para a sexta posição em 2011. Para Sobral (2013), o
período marcado pelo que alguns autores denominam como ‘inflexão econômica
positiva’, na verdade marca um processo de desindustrialização relativa, associado
ao risco de se formar o estado uma ‘estrutura oca’, ou seja, uma estrutura com
dificuldades para assegurar um elevado dinamismo de longo prazo e generalizá-lo
na totalidade do território.

O ponto que perpassa as análises sobre a dinâmica fluminense no período é


a centralidade da indústria no processo de retomada da economia estadual,
principalmente a indústria extrativa mineral, com destaque para o petróleo. Como
exposto por Ajara (2001), Natal (2005, 2007), Silva (2004), Sobral (2007), Codin
(2008), Oliveira (2003) e Urani (2008).

Dado que tem cabido à indústria a maior parcela do


crescimento estadual, quaisquer análises acerca da “inflexão”
devem, imperiosamente, contemplar o movimento expansivo
desse setor, bem como os processos de modernização e
“destruição” apresentados em seu interior. E mais: dada a
fragilidade agrícola estadual e a concentração terciária no
recorte metropolitano, os efetivos processos de re-dinamização
regional, no território fluminense, estão, em princípio,
subordinados à lógica expansiva do setor secundário” (SILVA:
2012).

Um dos vetores que orientaram esta trajetória de expansão do produto


fluminense é a questão da ‘reestruturação produtiva regional’ que, de acordo com
Oliveira (2003), seria um processo modernizador que incluiria novos processos e
unidades, impactando tanto as atividades produtivas, quanto alguns ramos dos
serviços.

Outro vetor seria, segundo Silva (2012), o atrelamento da expansão


econômica estadual à trajetória da indústria extrativa mineral que apresentou grande
crescimento no período.

Natal (2005) denomina tal período como sendo uma ‘inflexão econômica
positiva’ da economia fluminense; outras denominações como ‘recuperação’,
66

‘reconstrução’, ‘reestruturação’ e ‘inversão de trajetória’ também são expressões


utilizadas para denominar este período.

De uma maneira geral, tais análises buscavam, de acordo com Silva (2012),
contribuir para o entendimento da realidade que se apresentava no final do século
XX, tendo como fundo a trajetória de percalços e transformações vivenciadas pela
economia fluminense ao longo de décadas, denominada por muitos como um
processo de ‘esvaziamento econômico’.

Consagrando os efeitos do Plano Real no combate à inflação no país. Tais


sinais de recuperação econômica em solo fluminense podem ser observados na
forma de investimentos como a construção do Parque Gráfico de O Globo,
margeando a BR 040 em Duque de Caxias, a instalação da Peugeot-Citroen e da
Volkswagen em Resende, interior do estado, instalação da Guardian em Porto Real,
além da chegada de várias sedes das agências dos serviços públicos privatizados
na capital, isso atraiu um fluxo de investimentos muito importante para o estado.

Dentre as atividades que puxaram este ciclo de crescimento econômico,


destacam-se a Indústria extrativa e de transformação, com 28,7% de participação no
produto e a extração de petróleo, com 16% de participação.

Natal (2005:45) chama a atenção para o fato de que:

Não se está afirmando que a economia fluminense tenha


ingressado a partir de meados dos anos noventa recentes em
uma fase espetacular de crescimento econômico sustentado,
longe disso, e sim que houve uma inflexão econômica positiva
em relação ao período pregresso de degradação(...)

Outros quatro fatores demonstram este processo de inflexão positiva da


econômica fluminense na década de 1990, a saber: i) o aumento no PIB fluminense,
acompanhando a tendência de aumento do produto no país como um todo; ii) um
melhor desempenho na arrecadação do ICMS; iii) um aumento da capacidade
instalada no período em questão e, principalmente pelo iv) avanço no setor de
extração de petróleo.
67

Para Santos, Costa & Vasconcellos:

A nova dinâmica da economia do estado e seu rebatimento


espacial estão ligados à atividade industrial de extração
mineral, mas especificamente o petróleo e gás natural, embora
setores da indústria de transformação, como o automobilismo,
o siderúrgico, o petroquímico e o naval, venham assumindo
papel importante na retomada do crescimento econômico
recente do estado (2011: 399).

Deve-se chamar a atenção que esta dinâmica econômica no período em


questão não deve se descolada do processo macro que acontecia no país no
mesmo período, ou seja, o país também experimentou taxas de crescimento
econômico não desprezível, dada a conjuntura mundial, como afirma Ajara (2006):
“Os efeitos da globalização, das novas formas de organização empresarial e a
crescente urbanização compõem uma nova dinâmica econômica-espacial em
diferentes escalas do espaço nacional”.

Esse período, como frisado anteriormente, foi marcado pelo tripé dado pela
reestruturação econômico-financeira, pela abertura comercial e pela redefinição do
papel do Estado. Uma das principais consequências acerca da utilização deste tripé
pelos estados nacionais é a da reorganização do território, uma vez que a
distribuição da riqueza sofre alteração em função dessas medidas.

De acordo com Silva (2004), as principais alterações no âmbito do


desenvolvimento regional, decorrente da nova dinâmica internacional, no período
foram a inflexão do processo de desconcentração produtiva, a agonia da política de
desenvolvimento regional, o fortalecimento das concepções localistas e o surgimento
de novos arranjos produtivos e organizacionais, resultantes diretos da política
econômica em voga e das novas tecnologias empregadas.

A retomada do crescimento fluminense, como dito anteriormente, é creditada


ao aumento da extração de petróleo e gás, da fabricação de material de transporte e
da instalação de novas montadoras no estado. Segundo Freire, Feijó & Carvalho
(2006) o crescimento da produção não foi acompanhado pelo crescimento do
emprego formal, que por sua vez, apresentou saldo pouco expressivo na
comparação com os demais estados no período.
68

A dinâmica econômica fluminense chama a atenção dada seu grau de


concentração econômica na Região Metropolitana e principalmente na capital
fluminense, onde esta se revela forte concentradora de renda e dos melhores postos
de trabalho, consequentemente com salários médios mais elevados.

Mesmo com tamanha concentração, Freire, Feijó & Carvalho (2006:84)


concluem que o processo de reestruturação produtiva na economia fluminense
aponta no sentido de estarem se desenvolvendo no estado cidades médias no
interior, denominados de ‘capitais regionais’, tais como Volta Redonda e Macaé,
possibilitando redução da concentração econômica na capital do estado.

Durante quase todo século XX, passou por um processo de perdas de


participação relativas na economia nacional, tendo como ápice, a segunda metade
da década de 1980 quando, perde a posição de segunda maior economia do país
para o estado de Minas Gerais. Registra-se o fato de que tais perdas relativas se
deram nos três setores da economia fluminense. Os anos de 1990 assinalam um
período de maior dinamismo econômico, marcado pelo aumento das taxas de
crescimento do PIB fluminense, paralelamente à expansão da capacidade produtiva
em alguns setores, notadamente o setor produtor de commodities minerais. Desta
forma, podemos inferir que a expansão da produção industrial resultou em
mudanças na trajetória econômica fluminense e teve rebatimentos diretos nas
transformações do desenvolvimento regional do estado.

A seguir, será discutida a participação da Baixada Fluminense neste processo


de desenvolvimento do estado do Rio de Janeiro, principalmente no que tange a
questão econômica e seus rebatimentos no território, um dos mais atrasados do
estado em termos socioeconômicos.
69

3.3. Baixada Fluminense: ainda cidades-dormitório?

A concentração populacional na Baixada Fluminense se deu, de acordo com


Simões (2011), ao longo do século XX, produzida, principalmente, pela intensa
migração intermunicipal e interestadual que, aliadas a elevadas taxas de
crescimento vegetativo, provocou um acelerado crescimento demográfico entre a
década de 1940 e 1970.

Entre fins da década de 1960 e inicio de 1970, a cidade do Rio de Janeiro


necessitava de áreas próximas para promover sua expansão. Áreas de terrenos
baratos e servidos de transporte fácil para abrigar a população de trabalhadores que
para ela afluía, e que era atraída pela expansão do mercado de trabalho na capital
(SOARES, 1960). No período anterior, a vitalidade dos laranjais funcionou,
principalmente, no município de Nova Iguaçu, como uma barreira à onda
urbanizadora que se processava ao longo dos trilhos da Central do Brasil e de
outras ferrovias; mas com a crise da citricultura, esta barreira foi derrubada.

De acordo com Simões (2011: 118) :

A proximidade relativa dos distritos limítrofes leva a um


transbordamento das estratégias dos agentes imobiliários para
estes, onde as pré-condições para a urbanização: agricultura
estagnada, terras baratas e acesso a transporte de massa já
estavam presentes. Assim, se inicia a captura desta região a
lógica da urbanização carioca com a redefinição do papel da
Baixada Fluminense na economia do Rio de Janeiro, deixando
de ser um mero local de passagem para definitivamente ser
integrada na condição de espaço urbano periférico subordinado
ao núcleo

A cidade do Rio de Janeiro, novamente, se materializava na conquista e


influência de sua área contígua, esta influência relacionava-se à aceleração do
processo de industrialização que atingiu o país no pós-guerra, consubstanciado na
substituição de importações. Essa estratégia de desenvolvimento consistia na
implantação progressiva das chamadas indústrias de bens de consumo duráveis e
de bens de capital. Nesta estratégia, coube à Região Sudeste, representada
70

principalmente por São Paulo e Rio de Janeiro, papel decisivo, posto que
concentravam grande parte do investimento industrial.

Segundo Simões (2011) no pós-segunda Guerra Mundial, o processo de


instalação de uma infraestrutura, capaz de suportar grandes empreendimentos
industriais, se acelerou com a construção da Avenida Brasil e das rodovias
Presidente Dutra e Washington Luís; tais vias permitiram, no plano nacional, a
articulação com o restante do país de forma que houvesse maior agilidade na
circulação de mercadorias e matérias-primas e, no plano regional, acabaram-se
tornando um ‘leito natural’ para a expansão das atividades industriais.

Neste contexto grande massa de imigrantes teve o Rio de Janeiro como


destino, na busca das vagas oferecidas por esses empreendimentos. Essa massa
populacional instalou-se na periferia imediata da cidade, expulsa pelos altos preços
impostos pelo mercado imobiliário na capital. Isto excluía essa população, na sua
maioria de baixa renda, fazendo com que se dirigissem às cidades da Baixada
Fluminense, transformando-as assim no que ficou conhecido como cidades
dormitório.

A ocupação da Baixada Fluminense nos anos 50 deveu-se à


absorção de amplos contingentes migratórios; e nos anos 60
dada a intensa remoção de favelas na cidade do Rio de
Janeiro, em parte provocada pela valorização do solo urbana
equipado em suas áreas privilegiadas, registrando-se ao final
dos anos 60 o boom da construção civil, quando estas
passaram a ser cobiçadas para as camadas médias e altas da
população (BERNARDES, 1983:47 apud LIMONAD, 1996:126).

Foi nessa conjuntura que se processou o crescimento urbano da Baixada


Fluminense, ou seja, em um quadro de expansão econômica do Brasil e da cidade
do Rio de Janeiro que se deu incorporando núcleos urbanos, e a partir do município
de Nova Iguaçu, após a crise da laranja e o consequente retalhamento das fazendas
em loteamentos, buscou criar condições para a atração das indústrias que se
instalavam na região e, de trabalhadores que nessa indústria eram empregados ou
até mesmo eram utilizados na prestação de serviços na capital da República, e
somente a utilizavam como local de moradia. A Baixada Fluminense foi, durante
71

muito tempo, espaço destinado a acomodação da massa trabalhadora em áreas


predominantemente residenciais, recebendo a alcunha de ‘cidades-dormitórios’

O crescimento da cidade do Rio de Janeiro, restrito por sua


geomorfologia, conjugado à estratificação sócio-espacial e
deslocamento das indústrias para os subúrbios teve por
consequência direta expansão da mancha urbana além dos
limites do Distrito federal com o incremento da distância entre
local de trabalho e residência, mormente para os trabalhadores
e classes de menor poder aquisitivo que buscaram novos
lugares para se localizar, principalmente na Baixada
Fluminense (LIMONAD, 1996: 119).

A região da Baixada Fluminense buscou na industrialização a saída para a


crise provocada pela decadência da laranja. Desta forma, novas áreas foram sendo
ocupadas, beneficiadas em muito pela abertura da moderna rodovia Rio-São Paulo,
a Rodovia Presidente Dutra, que cortava estrategicamente a cidade, ligando as duas
maiores economias do país (RODRIGUES, 2005)19.

Alguns municípios da região passam a assumir o papel de centro industrial e


centro dormitório da população, tal como os casos de Nova Iguaçu e Duque de
Caxias. Isso demonstra, o modo que o uso e a apropriação do espaço foiá
determinado pelo modo em que estava organizada a produção de bens materiais, e
como tal, refletiu os interesses das classes envolvidas na produção e reprodução
social. É a partir desse processo que a Baixada Fluminense passa a exercer papel
de periferia do crescimento metropolitano impulsionado pela cidade do Rio de
Janeiro.

A década de 1970 marca um período de forte expansão demográfica para os


municípios da Baixada Fluminense. Tal processo foi impulsionado principalmente
pela expansão do núcleo central da Região Metropolitana, a cidade do Rio de
Janeiro, e pelos investimentos industriais na Região.

19
Além da BR 116, Rodovia Presidente Dutra, inaugurada em 1951, outro importante vetor de
deslocamento industrial em direção à Baixada Fluminense foi a Avenida Brasil, inaugurada em 1946.
A primeira é considerada a via mais importante do país, não somente pelo fato de ligar as duas
grandes metrópoles nacionais, mas também por cortar uma das regiões mais ricas do país, o Vale do
Paraíba, e também ser a principal fonte de ligação entre o nordeste e o sul do Brasil. A segunda
atravessa 28 bairros fazendo ligações importantes com as rodovias BR 040 (Rio-BH) e a BR 101,
tanto no sentido norte (ES) quanto no sentido sul (Rio-Santos) (RODRIGUES, 2005).
72

Na análise de Lessa (2000:372),

Em 1970, (...) a taxa de crescimento demográfico dos demais


municípios da RMRJ superava em muito o crescimento do Rio
de Janeiro e de Niterói. (…) Trocando em miúdos: na segunda
metade do século XX, a população dos demais municípios da
RMRJ cresceu explosivamente, e os moradores do interior
fluminense tenderam a se deslocar para a RMRJ.

De acordo com Rodrigues (2005), a distância da periferia em relação à


metrópole fez com que os municípios da Baixada se firmassem como pólos de
atração regional, uma vez que, alguns desses municípios, apresentavam um número
significativo de empresas industriais, comerciais e de serviços que atendiam os
carentes municípios vizinhos.

Tal fato pode ser confirmado na Tabela 1.2, esta mostra o aumento da
população residente entre a década de 1960 e 1980. Destaque para o crescimento
populacional dos municípios da Baixada Fluminense como um todo, e evidenciando
a forte atratividade de pessoas que esses municípios exerceram neste período
desempenhando basicamente a função de cidades dormitório.

Outra característica que podemos derivar a partir da análise da tabela é a


centralidade exercida pelos municípios de Nova Iguaçu e de Duque de Caxias. O
primeiro desempenhando uma centralidade funcional sobre os municípios de
Queimados, Nilópolis e São João de Meriti; e o segundo sobre seu Distrito Magé e
parte de São João de Meriti, o que divide centralidade com Nova Iguaçu.

Os dois municípios centrais cresceram 136% e 204% entre a década de 1960


e 1980. O crescimento populacional de Nova Iguaçu foi superior a todos os demais
municípios, incluindo a análise da Baixada Fluminense como um todo, que cresceu
150% no período em tela, enquanto que o município do Rio de Janeiro, 54%. Apesar
do município de São João de Meriti crescer ‘abaixo’ da média da Baixada e dos
municípios de Nova Iguaçu e Duque de Caxias, o adensamento populacional em
São Joao de Meriti foi maior, sendo que já na década de 1980 este caminhava para
o que viria a ser conhecido como o ‘formigueiro das Américas’, com 11.730 pessoas
vivendo por Km².
73

Tabela 3-1- População residente total, área e densidade demográfica dos municípios da
Baixada Fluminense, 1960, 1970 e 1980.
1960 1970 1980

Município Área População Área População Área População Hab/K


Hab/K Hab/Km²
(Km²) total Total (Km²) Total m²
m² (Km²)

Duque 1.302,7
de 442 243.619 551,17 442 431.345 975,89 442 575.814
5
Caxias
9.655, 1.280,9 22 151.588 6.890,3
Nilópolis 10 96.553 22 128.09
30
Nova 1.439,9
776 359.364 463,10 764 727.764 952,45 764 1.094.805
Iguaçu 9

São 11.730,
5.639, 8.914,9 34 398.826
João de 34 191.734 34 303.108 18
24
Meriti
Baixada 1.759,9
Fluminen 1.262 891.270 706,23 1.262 1.475,02 1.168,80 1.262 2.221,03
3
se
Rio de 2.824, 4.347,4
1.171 3.307,163 1.171 4.252,009 3.631,09 1.171 5.090,700
Janeiro 22 1
FONTE — Anuários estatísticos do Brasil, vários. Rio de Janeiro: IBGE.

O crescimento populacional da Baixada Fluminense se deu dentro do


contexto de crescimento da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, a qual faz
parte, ou seja, como uma sub-rede urbana articulada à divisão intra-metropolitana do
trabalho e que teve a cidade do Rio de Janeiro como centro.

Com relação aos motivos que levaram ao deslocamento populacional do


município–sede, bem como de outros Estados para a periferia da cidade do Rio de
Janeiro no período compreendido entre as décadas de 1960 e 1980, Martinho
(2009:26) explica que tal fato acontecia em função do “encarecimento dos solos e
custos dos investimentos no transporte ferroviário de passageiros, os trens, em
direção aos subúrbios e municípios periféricos. Ademais, grande também era o fluxo
migratório advindo de outras regiões e estados, principalmente nordestinos,
expulsos pela fome, pela seca, e em busca de uma vida melhor”.

O perfil populacional da região se configura entre as décadas de 1970 e 1980


como sendo o de uma população majoritariamente jovem, com predominância de
74

pessoas na faixa entre 0 e 24 anos, como pode ser observado na pirâmide etária
abaixo.

Gráfico 2- Distribuição da Baixada Fluminense – 1970 e 1980.

Fonte: IBGE, Censo Demográfico.

A Baixada Fluminense se destacou no período pela instalação de três


grandes projetos industriais, a saber: A Fábrica Nacional de Motores – FNM -
instalada no município de Duque de Caxias, no inicio da década de 1940; a Bayer,
uma multinacional de origem alemã do setor químico, localizada em Nova Iguaçu, no
então distrito de Belford Roxo, na década de 1950; e finalmente a instalação da
75

Refinaria Duque de Caxias - REDUC, no município de mesmo nome no inicio da


década de 1960. Dois desses projetos se deram com forte aparato estatal de
financiamento para sua execução, a FNM e a REDUC.

A ação estatal entre 1939 e 1959, reforçou poucas áreas do


antigo estado do Rio de Janeiro além de Volta Redonda. Na
região metropolitana foram implantadas a Fabrica Nacional de
Motores (FNM), hoje privatizada, e a Refinaria da Petrobrás
(REDUC) no município de Duque de Caxias” (LIMONAD,
1996:130).

Esses empreendimentos industriais mudaram de certa forma o espaço na


Baixada Fluminense, exemplificando: para a instalação da FNM em Duque de
Caxias foi feito um grande projeto de saneamento da região. A FNM foi inaugurada
nos marcos da economia de guerra engendrada pelo Brasil e sua produção inicial foi
de motores de avião, com o termino da Segunda Guerra Mundial a produção
principal passa a ser de motores para tratores.

No caso da Bayer, sua instalação se deu no inicio do século XX com vistas a


fornecer produtos químicos para tratamento dos pomares da região de Nova Iguaçu.
A atual planta industrial da empresa foi inaugurada em 1958 e fazia parte do bloco
de investimentos concebidos pelo Plano de Metas. Suas atividades eram agrupadas
em três departamentos: Produtos inorgânicos, Corantes e produção orgânica
(RODRIGUES, 2006).

Um dos principais exemplos destes investimentos industriais neste período foi


a criação da Refinaria Duque de Caxias – REDUC. Tal refinaria foi criada e
alavancada pelo investimento federal possibilitando a expansão da área industrial
para além do município-sede do Rio de Janeiro. Inaugurada em 1961, com vistas a
produção de óleos básicos para lubrificantes, diesel, gasolina, GLP, querosene de
aviação, parafinas, óleo combustível e aguarrás.

Esses três grandes empreendimentos industriais foram também


impulsionados pela abertura da Rodovia Washington Luís, na década de 1930 e da
Rodovia Presidente Dutra, no inicio da década de 1950, dois grandes vetores de
escoamento da produção industrial ainda hoje. Desta forma, os municípios da
Baixada Fluminense serviram de abrigo para a população de baixa renda, que tinha
76

o município carioca como lócus de trabalho, ao mesmo tempo em que abrigava às


margens da Rodovia Presidente Dutra (BR-116) e da Rodovia Washington Luís, as
indústrias que para a região se deslocava.

Outros empreendimentos industriais, além dos citados acima, também


merecem destaque: Cia. Dirce Industrial, Cia. Mercantil e Industrial Ingá, Cia. de
Canetas Compactor, Forjas Brasileiras S.A., Indústrias Granfino S.A., S. A. Marvin
(parafusos e pregos), Rupturista S.A. (explosivos), USIMECA – Usina Mecânica
Carioca S.A., Fábrica de Tecidos Cachambi, e Fábrica de Cigarros Souza Cruz.

De certo modo, um dos motivos que levaram à instalação dessas indústrias


na região se deu em função do crescimento econômico, que permitiu o
adensamento urbano na cidade do Rio de Janeiro e o consequente espraiamento
para a área mais próxima, principalmente para a Baixada Fluminense, com destaque
para o município de Nova Iguaçu, que na década de 1970 já possuía uma população
de 727.000 habitantes (RODRIGUES, 2006).

Simões (2011) chama a atenção para que “tal como o processo de ocupação
do território da Baixada Fluminense deve ser analisado à luz da expansão urbana da
cidade do Rio de Janeiro, a atual configuração econômica da Baixada deve ser
analisada no contexto do desenvolvimento e reestruturação econômica da metrópole
carioca”.

De acordo com o autor, a partir da década de 1960, inicia-se um processo de


reestruturação econômica e relocalização das plantas industriais, evidenciada pelo
fechamento de fábricas próximas ao núcleo metropolitano, como foi o caso dos
bairros de São Cristóvão, Bonsucesso, Jacaré e o trecho inicial da Avenida Brasil, e
sua implantação em áreas mais distantes, como a rodovia Presidente Dutra e
Washington Luís, e o trecho final da Avenida Brasil, além dos distritos industriais
criados pelo Estado.

A Baixada Fluminense serviu de localização tanto para o crescente número


de indústrias que para lá se deslocavam em função das crescentes deseconomias
de escala de se produzir no município do Rio de Janeiro, quanto do aumento
exponencial do preço do solo urbano neste município, o que encarecia de
sobremaneira o custo da mão-de-obra.
77

A importância da Indústria da Baixada Fluminense pode ser observada por


meio das transformações na distribuição espacial do emprego no Estado do Rio de
Janeiro. Entre 1955 e 1975, a taxa participação da Baixada no total do emprego
industrial triplicou (de 3,0% para 9%), em contrapartida, esse indicador declinou,
principalmente na Grande Niterói e no Norte Fluminense e, em menor intensidade,
na capital, que continuou tendo a primazia do emprego industrial no estado. Além da
Baixada, somente a região do Médio Paraíba observou elevação na participação do
emprego industrial, enquanto na Região Serrana, tal participação se manteve
praticamente inalterada.

Tabela 3-2 - Estado do Rio de Janeiro- participação percentual das regiões o emprego
industrial estadual – 1955-1975
Região 1955 1975
Estado do Rio de Janeiro 100,0 100,0
Baixada Fluminense 3,0 9,0
Capital 66,5 62,3
Grande Niterói 10,5 7,6
Médio Paraíba 4,6 6,8
Região Serrana 6,3 6,7
Norte Fluminense 4,6 2,8
Outros 4,5 4,8
Fontes: IBGE e Ministério do Trabalho e Emprego (RAIS) apud Araujo, 2005.

Como visto nos parágrafos acima, a economia da Baixada Fluminense


cresceu no período analisado, porém, este crescimento não foi acompanhado de
melhorias das condições de vida da população local, ou seja, houve um
descasamento entre o crescimento econômico e as condições de vida da população.
Nos parágrafos abaixo iremos buscar mostrar algumas evidencias acerca deste
descasamento, faremos isso a partir da análise de dados relativos à questão
ambiental, à demografia, habitação, vulnerabilidade social e também da segurança
pública.

Semelhantemente ao observado em quase todas as regiões periféricas


metropolitanas do país, o crescimento econômico observado não se converteu, em
igual medida, em desenvolvimento social, mostrando claramente uma das marcas do
subdesenvolvimento latino-americano: o descolamento entre o ritmo da dinâmica
78

econômica e a capacidade desse processo em ampliar os ganhos sociais e melhoria


de vida no mesmo ritmo expansivo apresentado pelo produto interno bruto.

Cabe aqui fazer uma ressalva, o exercício de se fazer uma análise


socioeconômica mais detida acerca do recorte adotado nesta tese, depende
basicamente de dados elaborados por instituições nacionais e regionais de
pesquisa. No entanto, é sabida a carência de fontes e dados estatísticos no Brasil,
sobretudo quando o recorte geográfico e o período analisado recaem sobre
municípios que não sejam as capitais, sendo assim, constatamos que o país carece
de dados estatísticos que contemplem a dimensão regional da economia. Por outro
lado, é possível identificar alguns elementos que possam auxiliar em nossa análise
sobre a Baixada Fluminense.

A Baixada Fluminense pode ser considerada a verdadeira representação da


tese defendida por Oliveira (1972), a de que a manutenção de mecanismos de
atraso no sistema de produção agrícola acabou por gerar, para os grandes centros
urbanos, um grande contingente de mão-de-obra e, por conseguinte um exército
industrial de reserva. Para Oliveira (1972), o rebaixamento do custo de trabalho foi
complementado com uma urbanização caótica para a classe trabalhadora, com o
objetivo de reduzir o custo de reprodução da força de trabalho. Para o autor, houve,
a partir da década de 1960, uma combinação entre a expansão do capital
monopolista e a recriação de processos típicos da acumulação capitalista no sentido
de utilizar este processo de crescimento urbano caótico para privilegiar os ganhos do
capital.

Neste sentido, cabe analisar os rebatimentos que o processo de


industrialização vivenciado pela região, teve na sociedade local. Para Simões (2011)
os grandes parques e unidades industriais ou comerciais, anunciados como polos de
desenvolvimento, acabaram por produzir poucas sinergias positivas que
efetivamente levam ao desenvolvimento econômico e social das populações locais
da Baixada Fluminense.

O processo de ocupação humana e fabril da Baixada Fluminense gerou uma


série de problemas ambientais, afetando diretamente, grande parte da população.
Um desses problemas, que deste período até os dias atuais pouco mudou, foi a
questão do tratamento do esgoto doméstico, que é pífia ou inexistente na região.
79

A ocupação da região influenciou em muito a existência deste problema, uma


vez que foi permitido que se produzissem loteamentos e bairros inteiros sem a
devida instalação dos equipamentos coletivos necessários ao descarte do esgoto
(SIMÕES: 2011). A ausência do poder público no cumprimento de uma de suas
funções, fez com que a população procurasse algum tipo de solução, que quase
sempre, era a improvisação, através da construção de ‘sumidouros’ e de fossas
sépticas, ou ainda da construção de algum tipo de encanamento que jogasse os
resíduos numa vala de infiltração construída pelos próprios moradores, a chamada
‘vala-negra’.

Isso resultou em um grande passivo ambiental para a região que foi a total
contaminação de todos os cursos de água que por ela passam, ficando preservados
apenas os altos cursos dos rios, aqueles que ficam em áreas preservadas (SIMÕES:
2011).

As indústrias também contribuíram para este processo de degradação


ambiental na região com o descarte irregular de seus resíduos não orgânicos. A
ação do poder público no período evidenciado acima, também foi omissa no que
tange à fiscalização do tratamento de resíduos industriais na região, pois os mesmos
eram descartados de forma irregular junto aos cursos d’agua.

Outra questão ambiental enfrentada na região, que vigora até os dias atuais,
é o problema das enchentes e deslizamentos. A intensa ocupação urbana acabou
gerando um processo de impermeabilização do solo provocando o escoamento
superficial das águas das chuvas; além deste fator, devem-se levar em
consideração, os aterros, os despejos irregulares de lixo, estes, de ordem da
ocupação humana, há ainda a questão de natureza geográfica que também contribui
para o agravamento deste, como é o caso das marés na Baia da Guanabara.

De acordo com Porto (2001) apesar do acelerado processo de urbanização


vivenciado na Baixada Fluminense, percebe-se que entre 1950 e 1970 a região ficou
sem receber investimentos significativos na área de saneamento. Entre as décadas
de 1940 e 1950, os investimentos se concentravam em programas de enxugamento
e controle de enchentes, vinculados aos interesses econômicos que então
vigoravam. Para o autor “a descontinuidade dos investimentos nesse longo intervalo
tem como conseqüência o retorno das graves enchentes que vão assolar a região
entre os anos 60 e 80, desta vez com o agravante de tratar-se de uma região com
80

índices crescentes de ocupação urbana, com um perfil populacional de baixa renda


e migrantes de outras regiões e estados da federação”.

Como destacado acima, os problemas ambientais desde sempre figuram


como uma questão não resolvida para a população da região, outra questão que
estigmatiza a sociedade local é a social, como o alto índice de pobreza, o baixo nível
de saúde e baixo grau de educação.
81

Tabela 3-3 - Indicadores sociais selecionados para a Baixada Fluminense, Rio de Janeiro e Brasil ,1991-2000.
Taxa de Taxa de Taxa de Taxa de
Esperança Esperança Mortalidade Mortalidade analfabetismo analfabetismo analfabetismo analfabetismo
Município de vida ao de vida ao infantil infantil - 11 a 14 anos - 11 a 14 anos - 15 anos ou - 15 anos ou
nascer nascer (1991) (2000) (1991) (2000) mais (1991) mais (2000)
(1991) (2000)
Brasil 64,73 68,61 44,68 30,57 16,08 6,26 20,07 13,63
Rio de
66,42 69,42 29,94 21,21 6,06 2,55 9,72 6,64
Janeiro
Belford Roxo 62,82 67,99 41,52 22,7 8,7 3,67 12,06 8,01
Duque de
65,17 68,54 33,87 21,44 7,93 3,34 11,73 8
Caxias
Japeri 62,56 66,66 42,4 25,9 15,42 4,82 18,89 12,4
Mesquita 66,19 69,51 30,86 19,36 5,25 2,56 8,14 5,19
Nilópolis 66,1 68,43 31,1 21,7 3,87 2,1 5,83 3,76
Nova Iguaçu 65,49 67,99 32,91 22,7 8,53 3,48 11,65 7,65
Queimados 62,82 66,41 41,52 26,51 11,62 4,15 14,79 9,28

São João de 65,17 69,65 33,87 19,06 6 2,66 8,57 5,72


Meriti
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, 2013.
82

Tabela 3-4 - Indicadores sociais selecionados para Baixada Fluminense, Rio de Janeiro e Brasil, 1999-2000.
Município % da % da % da % da
população população população população
em em em em
% de % de % de % de
domicílios domicílios domicílios domicílios IDHM IDHM
extremamente extremamente pobres pobres
com água com água com com (1991) (2000)
pobres (1991) pobres (2000) (1991) (2000)
encanada encanada energia energia
(1991) (2000) elétrica elétrica
(1991) (2000)
Brasil 18,64 12,48 38,16 27,9 71,31 81,79 84,84 93,46 0,493 0,612
Rio de Janeiro 7,24 3,64 22,94 13,65 90,87 92,01 98,26 99,54 0,573 0,664
Belford Roxo 10,42 6,22 33,62 20,88 85,64 83,52 99,82 99,85 0,468 0,57
Duque de Caxias 7,29 5,71 25,84 18,81 86,99 86,34 99,71 99,86 0,506 0,601
Japeri 13,12 11,03 40,11 30,48 69,96 78,75 98,31 99,5 0,419 0,529
Mesquita 6,48 3,53 23,58 13,68 93,13 91,37 99,87 99,95 0,543 0,634
Nilópolis 4,24 2,73 18,04 11,12 96,78 96,07 99,77 99,96 0,565 0,656
Nova Iguaçu 10,26 5,06 30,93 18,52 88,23 89,63 99,63 99,8 0,502 0,597
Queimados 11,82 7,09 34,99 21,7 74,01 79,32 99,63 99,78 0,448 0,55
São João de Meriti
6,47 3,77 24,05 14,39 92,96 93,51 99,89 99,91 0,514 0,62
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, 2013.
83

Quando analisamos alguns índices relativos à questão social na Baixada


Fluminense, percebe-se que houve uma pequena melhora entre os anos de 1991 e
2000, porém, aquém das melhoras obtidas tanto em nível estadual, quanto do país.
Exemplificando: quando a análise recai sobre a expectativa de vida ao nascer,
percebe-se melhora em todos os municípios da Baixada Fluminense, porém, todos
ficaram abaixo dos índices do município do Rio de Janeiro (70,26 anos) e do país
(69,42 anos).

No que diz respeito à mortalidade infantil, houve redução considerável nos


municípios analisados, porém, somente o município de Mesquita possui um índice
de 19,36 crianças mortas a cada mil nascidas vivas, número abaixo da média
estadual, bem como do país. Vale ressaltar que a melhora tanto no índice que mede
a expectativa de vida ao nascer, quanto a mortalidade infantil revela-nos melhoras
nas condições de vida da sociedade local, em termos de oferta de assistência
médico-hospitalar, condições sanitárias, etc.

No que tange à análise acerca da taxa de analfabetismo entre faixas etárias


diferentes, entre 11 a 14 anos e 15 anos ou mais, também houve melhoras
significativas no final da década de 1990 para os municípios da Baixada Fluminense,
novamente os municípios de Mesquita e Nilópolis são os únicos a possuírem taxas
abaixo das taxas estaduais, o demais municípios situam-se entre as médias
estaduais e do país.

Em relação aos dados que mostram a parcela da população extremamente


pobre (com renda domiciliar per capta igual ou inferior a R$70,00 mensais) e
população pobre (renda domiciliar per capta igual ou inferior a R$140,00 mensais),
todos os municípios da Baixada Fluminense, com exceção de Nilópolis e Mesquita,
apresentam dados que demonstram um alto nível de pobreza da população, reflexo
da má distribuição de emprego e renda na região.

Os dados referentes ao acesso dos domicílios permanentes à água encanada


e à energia elétrica também mostram certa melhora para o conjunto da região,
apenas os municípios de Japeri e Queimados apresentaram índices abaixo da média
estadual e nacional, ficando os demais flutuando entre essas duas médias.
84

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH-M) dos municípios da Baixada


Fluminense refletem no período entre os anos 1990 e 2000 as pequenas melhoras
que a sociedade local veem apresentando nesta década, no entanto, todos eles
ficaram abaixo do IDH do estado do Rio de Janeiro (0,664) no período. Apenas os
municípios de Mesquita (0,634) e Nilópolis (0,656) apresentam um IDH acima do
índice nacional (0,612) para o ano de 2000.

Outra questão importante que afeta as condições de vida da população da


Baixada é a violência. O tema é, de forma recorrente, negligenciado na Baixada
Fluminense a ponto de estigmatizar a região como lócus da violência urbana20.
Deve-se pensar aqui no conceito mais amplo de violência, que engloba toda e
qualquer forma de violação dos direitos humanos entendidos como o conjunto dos
direitos políticos, civis, econômicos, sociais e culturais (SOUZA ALVES: 2003).

Na análise de Souza Alves (2003: 98)

Ao longo das três décadas que vão de 1930 até o golpe militar
de 1964, a Baixada Fluminense transformou-se na grande
periferia urbana reincorporada pela cidade do Rio de Janeiro. A
explosão populacional, a febre loteadora, os conflitos por
terras, o fluxo pendular dos trabalhadores em relação à cidade
carioca, o crescimento do comércio e da indústria, o
desmembramento e a formação dos novos municípios, os
movimentos de resistências dos camponeses frente aos
despejos, a reconfiguração do campo político local e a
explosão da revolta popular, são características dessa nova
realidade que emergia. É nesse período, também, que a
violência ganhará dimensões peculiares. Se por um lado ela se
caracterizava como instrumento dos setores dominantes na
obtenção de terras e poder, utilizada que era nos conflitos pela
demarcação e posse de propriedades e na disputa pelo
controle da política local, por outro lado ela será posta em
prática pelos setores populares afim de superarem seus
problemas. Tanto no caso das ocupações de terra por setores
organizados do movimento camponês, como na fúria
depredadora do saque, o que se viu foi o emprego da violência
enquanto estratégia coletiva.

20
Para uma discussão mais detida acerca da violência na Baixada Fluminense, ver trabalho seminal
de Souza Alves, 2003.
85

A região da Baixada Fluminense teve grande destaque na mídia ao longo das


décadas de 1970 e 1980 em função da violência que se processava na região,
chegando a ter um de seus municípios, Belford Roxo, ‘eleito’ como uma das cidades
mais violentas do mundo21. De acordo com Souza Alves (2003) a violência foi
utilizada como recurso na Baixada Fluminense na consolidação do poder local.

A tabela abaixo mostra os números de homicídios na Baixada Fluminense


entre 1984, ano em que se começou a fazer o cálculo somatório dos homicídios no
Estado do Rio de Janeiro, até 1996. Os anos posteriores serão analisados no
capítulo seguinte desta tese.

Tabela 3-5 - Homicídios na Baixada Fluminense absolutos e por 100 mil habitantes.
Ano Total de Homicídios Por 100 mil habitantes
1984 1.224 53,15
1985 1.538 64,89
1986 1.567 65,29

1987 1.779 73,21

1988 1.905 77,44

1989 2.379 95,55

1990 2.367 93,95

1991 1.989 78,02

1992 1.806 69,95

1993 2.040 78,03

1994 1.962 74,13

1995 2.198 82,03

1996 1.881 69,36

Fonte: Polícia Civil, IBGE, CIDE apud Souza Alves (2003)

21
A indicação deste município como um dos mais violentos do mundo refere-se a uma pesquisa
realizada por uma equipe da ONU entre os anos de 1971 a 1976 (SOUZA ALVES: 2003).
86

Na visão de Souza Alves (2003: 171) sobre a região, seu passado e seu
presente:

Da mesma forma que os matadores, ao chegarem ao poder


político, realizam processos de purificação de seus nomes,
apartando-se do passado que lhes deu fama e prestigio, mas
que se torna inconveniente, a Baixada, como um todo, opera
uma mudança de sua imagem, apagando seu passado e seu
presente violento e assumindo a imagem de região que se
projeta para o futuro como a alternativa mais promissora para
investimentos no estado. Por trás da mudança de imagem,
porém os permanentes índices de homicídio prosseguem com
sua funcionalidade política.

Desta forma, este capítulo teve como objetivo analisar a economia brasileira e
fluminense no pós-guerra; buscando no processo de industrialização as explicações
para a expansão econômica engendrada no pós-guerra, bem como a crise
desencadeada no final dos anos 1970. Os rebatimentos no território fluminense
foram também considerados neste capítulo da tese, ou seja, verificando-se o
processo que levou à perda relativa para o estado de São Paulo e também a
recuperação econômica concebida a partir da década de 1990.

Os impactos deste processo de crescimento, estagnação e recuperação


econômica na região da Baixada Fluminense também foi evidenciado como parte da
expansão da metrópole fluminense. Por fim, a questão dos rebatimentos sociais
deste crescimento econômico foi colocada a partir da análise de alguns indicadores
selecionados, que mostraram certas melhoras, porém, aquém das necessidades
históricas pelas quais a região ainda clama.

No capítulo seguinte da tese serão levantadas as questões econômicas


referentes ao novo ciclo expansivo da economia nacional, notadamente dada no
inicio do século XXl, na Baixada Fluminense. Buscando através da análise
econômica, evidenciar os impactos no território da região na forma de inovações e
permanências.
87

CAPÍTULO 4 - BAIXADA FLUMINENSE: INOVAÇÕES E PERMANÊNCIAS

Quando se aprofunda na estrutura econômica, social e espacial do recorte


que utilizamos nesta tese, a Baixada Fluminense, enxerga-se uma complexidade
enorme nesta estrutura, caracterizada pela heterogeneidade entre os munícipios que
deste recorte fazem parte. Nesta mesma região, podem-se notar áreas aonde as
inovações chegaram, como estrutura urbana, dinamismo econômico, comércio e
serviços elaborados, áreas destinadas à especulação imobiliária de alto padrão. Mas
também se podem notar permanências, talvez, herança de um passado nem tão
distante assim, tais permanências podem ser percebidas na existência de bairros
com infraestrutura precária, sem acesso a comércio ou serviço e para isso, os
moradores tem que se deslocar para outra região, ruas sem pavimentação,
esgotamento sanitário, altos índices de pobreza e violência e exclusão social.

Dito isto, este capitulo que ora se inicia tem como objetivo analisar a
economia da região de modo a desnudar as inovações, aqui entendidas como as
mudanças econômicas e sociais propiciadas pelo processo de crescimento
econômico recente em relação a um histórico também de exclusão econômica e
social da região, bem como evidenciar as permanências, que por ventura ora ainda
existem na região em tela.

4.1 – Demografia e desenvolvimento urbano na Baixada Fluminense.

De acordo com Simões (2011) a Baixada Fluminense é, nesse começo de


século XXl, uma região de expansão econômica e que possui importante papel na
economia estadual, apresentando um sem-número de possibilidades de crescimento
em função de possuir elementos infra estruturais e capital humano, muitas vezes
subutilizado.

A região é um dos mais importantes centros da economia fluminense,


conformando com outros municípios, dentro os quais da cidade do Rio de Janeiro, a
segunda maior região metropolitana do Brasil. Assinala-se que essa região (RMRJ)
88

é marcada por uma economia bem diversificada, na qual se destacam setores


ligados ao terciário e alguns ramos da indústria manufatureira.

Um destaque que se deve fazer é em relação ao dinamismo econômico do


município-sede, o Rio de Janeiro. Segundo Simões (2011), o volume de riqueza
produzido na capital é mais que o dobro do que é produzido nos demais municípios
da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, sendo que a segunda maior economia, a
de Duque de Caxias, mal chega a 25% do valor produzido pela cidade do Rio de
Janeiro.

Abaixo, faremos uma análise acerca características da região na atualidade,


como o perfil populacional, a questão da infraestrutura e da economia da Baixada
Fluminense, bem como o acesso aos serviços públicos e ainda a questão da
segurança pública na região.

O dinamismo demográfico da região pode ser usado como um dos


indicadores da expansão da economia da região, como visto no capítulo anterior,
esta sofreu um grande processo migratório entre as décadas de 1960 e 1980,
transformando-a em local de moradia para a massa trabalhadora que buscava
facilidades na construção de moradia, bem como baixo custo de vida. Assim, a
Baixada Fluminense continuou seu ritmo expansivo, menor que em relação aos anos
60 e 90, mas ainda sim crescendo, entre a década de 2000 e 2010 como pode ser
observado na tabla abaixo.
Tabela 4-1 - População Baixada Fluminense, saldo migratório, variação percentual e Taxa
Média Geométrica, 2000-2010.
Saldo
População População Migratório ∆% Taxa Média
Município
2000 2010 (2010- 2000/2010 Geométrica
2000)
Belford Roxo 434474 469332 34858 8,02% 0,77%
Duque de Caxias 775456 855048 79592 10,26% 0,98%
Japeri 83278 95492 12214 14,66% 1,38,%
Mesquita 182.495* 168376 -14119 -7,73% -0,80%
Nilópolis 153712 157425 3713 2,41% 0,24%
Nova Iguaçu 920599 796257 -124342 -13,50% -1,44%
Queimados 121993 137962 15969 13,09% 1,24%
São João de Meriti 449476 458673 9197 2,04% 0,20%
Baixada 3121483 3138565 17082 0,54% 0,05%
Fluminense
Rio de Janeiro 14391282 15989929 1598647 11,10% 1,06%
Brasil 169799170 190755799 20956629 12,34% 1,17,%
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IBGE e Censo Demográfico.
*Dado de 2007
89

Entre as décadas de 2000 e 2010, a Baixada Fluminense cresceu a uma taxa


0,54%, portanto, como pode ser ratificado pela tabela 3.1, abaixo do estado do Rio
de Janeiro (11,10%) e do Brasil (12,34%). No entanto, chama a atenção neste
processo, o crescimento da população do município de Japeri (14,66%) e
Queimados (13,09%), ambos obtiveram resultados acima da taxa de crescimento
populacional do estado e do país; no caso dos dois municípios, tal aumento pode ser
creditado à proximidade da instalação das obras do arco metropolitano, no caso de
Japeri, e da instalação de novas plantas industriais e construção de casas populares
através do programa social do governo federal Minha casa, Minha vida, no caso de
Queimados.

Não podemos deixar de destacar a queda na taxa de crescimento do


município de Nova Iguaçu entre os anos analisados acima, na verdade, um dos
fatores que ajudam a explicar tal queda, foi a emancipação política do então distrito
de Mesquita em 2001, após várias tentativas frustradas de emancipação, o distrito
alçou para status de município através da Lei Estadual n.º 3.253, de 25 de setembro
de 1999, Mesquita é desmembrado de Nova Iguaçu e instalado em 01 de janeiro de
2001.

O crescimento populacional entra os anos 2000 e 2010 permitiu que região


da Baixada fosse densamente povoada, como pode ser observado na tabela abaixo.
Destaque para o município de São João de Meriti, que ainda é o mais densamente
povoado da Baixada Fluminense, e com uma das maiores densidades demográficas
do mundo.

Tabela 4-2 - Área e densidade demográfica – 2010.


Densidade
Área total (Km²) demográfica
(Hab/Km²)
Brasil 8.502.728,3 22,43
Rio de Janeiro 43.780,2 365,23
Baixada Fluminense 1.317,90 2.381,48
Belford Roxo 77,8 6.031,38
Duque de Caxias 467,6 1.828,51
Japeri 81,9 1.166,37
Mesquita 39,1 4.310,48
Nilópolis 19,4 8.117,62
Nova Iguaçu 521,2 1.527,6
Queimados 75,7 1.822,6
São João de Meriti 35,2 13.024,56
Fonte: IBGE, Censo Demográfico.
90

Esse adensamento populacional veio acompanhado por uma queda da taxa


de crescimento do número de domicílios na região, entre 1991 e 2000, esta taxa de
crescimento foi de 27,19% para a Baixada, acima do Rio de Janeiro, que foi de
23,12% no mesmo período. Já entre os anos de 2000 e 2010, houve queda na taxa
crescimento do número de domicílios para a Baixada, esta cresceu 18,32%.

Tabela 4-3 - Domicílios particulares permanentes e Taxa de crescimento do número de


domicílios – 1991, 2000 e 2010.
Domicílios Particulares Permanentes Taxa de crescimento
do número de
domicilios
1991 2000 2010 91-2000 2000-2010
Brasil 34734715 44795101 57324167 28,96% 27,97%
Rio de Janeiro 3454962 4253763 5243011 23,12% 23,26%
Baixada Fluminense 654427 832388 984901 27,19% 18,32%
Belford Roxo 0 121619 145677 - 19,78%
Duque de Caxias 172658 219977 269353 27,41% 22,45%
Japeri 0 22987 28409 - 23,59%
Mesquita 0 0 53103 -
Nilópolis 41989 44428 50514 5,81% 13,70%
Nova Iguaçu 328984 260653 248186 -20,77% -4,78%
Queimados 0 33334 42209 - 26,62%
São João de Meriti 110796 129390 147450 16,78% 13,96%
Fonte: IBGE, Censo Demográfico.

Também há uma leve mudança no perfil de comando das residências, apesar


da maior parte dos domicílios na Baixada Fluminense, assim como no estado do Rio
de Janeiro e no Brasil, serem os homens responsáveis pela manutenção desses
domicílios, as mulheres vêm aumentando sua participação. No caso da Baixada, em
1996, segundo o IBGE, as mulheres eram responsáveis por 24,78% dos domicílios,
e em 2000 as mulheres respondiam por 29,98% dos domicílios; índice abaixo do
estado do Rio de Janeiro, onde 31,25% dos domicílios eram chefiados por mulheres
em 2010.
91

4.2 – A Economia da Baixada Fluminense no Século XXl.

Considerando a região da Baixada Fluminense, percebe-se que há uma nítida


e histórica centralidade de dois municípios perante os demais, Nova Iguaçu e Duque
de Caxias. O primeiro, como visto anteriormente, apresenta uma economia mais
diversificada, com alguns importantes setores da indústria estadual (alimentos,
bebidas, química, cosméticos, por exemplo) e um forte setor terciário, especialmente
marcados pelos chamados serviços à pessoa física. Por outro lado, Duque de
Caxias, é marcado pela densidade econômica apresentada pelos setores de sua
indústria, especialmente liderados pela petroquímica e correlatos.

A Baixada apresenta, dessa forma, dois eixos de desenvolvimento


comandados por esses dois municípios. O primeiro diz respeito ao eixo “Via Dutra”,
no qual Nova Iguaçu tem posição central, o outro, é o eixo “Washington Luís”, no
qual Duque de Caxias exerce centralidade. Esse trabalho não objetiva, de modo
algum, tratar de parâmetros para o estabelecimento de hierarquias de cidades, mas
tão-somente apresentar algumas questões que mostrem a importância de que cada
município dentro do contexto da região, através da análise da estrutura econômica.

4.2.1 Uma Análise do Produto Interno Bruto da Região.

Podemos afirmar que a Baixada Fluminense, de maneira semelhante ao


observado em outros espaços da periferia metropolitana brasileira, vem passando
por um forte processo de mudanças econômicas, marcado, no caso especifico, pelo
aumento do investimento em alguns grandes setores estruturantes da economia
nacional, especialmente ligados à logística, infraestrutura, serviços ao consumidor e
indústria. Os números utilizados neste subitem da tese ajudam a exemplificar os
argumentos acima.

Infelizmente, são escassas as fontes de dados estatísticos e econômicos


sobre os municípios da região em voga. Nem mesmo as prefeituras da região têm
dados sistematizados. Para fins dessa tese, por conta dessa contingência, fizemos
uso de duas fontes básicas: o produto interno bruto dos municípios brasileiros do
IBGE e os dados referentes ao pessoal ocupado presentes na RAIS.
92

O período compreendido entre os anos de 1999 e 2006 marca uma pequena


expansão do PIB da Baixada Fluminense frente aos dados do estado do Rio de
Janeiro, enquanto este teve crescimento negativo de -4,17%, o PIB da Baixada
Fluminense cresceu 1,71% no mesmo período, destacando-se o crescimento do
município de Duque de Caxias, que expandiu seu produto em 39,53%. A maior
queda no produto foi do município de Queimados, -40,55% (Tabela 3.4).

Tabela 4-4 - PIB Municipal a Preços Correntes: 1999 a 2006.


1999
Variação %
Corrigido a preços de 2006 2006
Rio de Janeiro 287.310,21 275.327,13 -4,17%
Belford Roxo 3.902.903,89 2.909.479,00 -25,45%
Duque de Caxias 16.079.184,06 22.435.604,00 39,53%
Japeri 504.147,69 415.373,00 -17,61%
Mesquita* 1.121.599,08 1.078.252,00 -3,86%
Nilópolis 1.552.242,71 1.089.839,00 -29,79%
Nova Iguaçu 8.461.258,72 6.252.678,00 -26,10%
Queimados 1.487.054,22 884.010,00 -40,55%
São João de Meriti 4.218.791,99 2.900.975,00 -31,24
Baixada Fluminense 37.327.464,36 37.966.210,00 1,71%
Fonte: IBGE (2013) e CEPERJ (2013).

Os dados mais recentes referentes ao Produto Interno Bruto dos municípios


da região mostram a evolução entre 2007 e 2011 . O PIB da Baixada, em 2007,
representava 15,2% do PIB fluminense, percentual que caiu para 11,6% em 2011.
Em termos de PIB per capita, somente o PIB de Duque de Caxias supera a média
estadual, o PIB dos demais municípios ficam bem abaixo dessa grandeza. A menor
grandeza dos PIB per capita dos demais municípios da Baixada se deve, em grande
medida, ao alto contingente populacional apresentando por vários destes,
lembrando, como apontado por Silva (2012), que municípios como São João de
Meriti e Nilópolis estão entre os de maior taxa de densidade demográfica da América
Latina.
93

Tabela 4-5 -PIB a preços constantes: 2007 a 2011.


Variação
2007 2011 2011/2007
Corrigido a preços de 2011 %
Rio de Janeiro 384.169,75 462.376,21 20,36%
Belford Roxo - RJ 4.027.057,77 4.925.137,00 22,30%
Duque de Caxias - RJ 36.662.333,75 26.628.610,00 -27,37%
Japeri - RJ 590.445,50 978.211,00 65,67%
Mesquita - RJ 1.534.448,40 1.602.615,00 4,44%
Nilópolis - RJ 1.550.157,31 1.813.485,00 16,99%
Nova Iguaçu - RJ 8.998.442,07 10.245.868,00 13,86%
Queimados - RJ 1.172.093,49 1.880.343,00 60,43%
São João de Meriti - RJ 4.089.943,92 5.840.166,00 42,79%
Baixada Fluminense 58.624.922,21 53.914.435,00 -8,03%
Fonte: IBGE (2013) e CEPERJ (2013).

A redução da participação da Baixada Fluminense no PIB estadual se deve a


dois movimentos. O primeiro diz respeito à própria desconcentração do PIB estadual
em direção ao Norte fluminense, em razão do rápido crescimento da chamada
economia de petróleo. O segundo, como pode ser observado no no gráfico 3.1,
mostra que no período, a economia da Baixada fluminense, apesar das
transformações, apresentou decréscimo do PIB. No intervalo em destaque, ao passo
que o PIB estadual avançou 19,8%, o PIB da Baixada caiu 8,3%, fazendo despencar
sua taxa de participação na economia estadual, como já dito, de 15,2% para 11,6%.

A redução do PIB da Baixada Fluminense se deve em muito ao


comportamento de um de seus maiores municípios, Duque de Caxias,
diferentemente do período analisado anteriormente, onde este cresceu a uma taxa
de 39,53%, no período entre os anos de 2007 e 2011, Duque de Caxias foi
impactado negativamente com reflexos na queda do produto da ordem de -27,37%
(Tabela 3.5).

Tal fato se deve, muito provavelmente devido ao comportamento do setor do


petróleo, uma vez que a REDUC é uma das grandes empresas da cidade. A crise
econômica de 2008 refletiu-se na redução do consumo de petróleo e
consequentemente na produção e refino do mesmo. Associado a isto, em 2009
houve queda no preço internacional do barril do petróleo. Isto gerou impacto
94

negativo na economia caxiense que, assim como o estado do Rio de Janeiro, é


muito dependente da economia do petróleo.

Gráfico 3 - Crescimento do PIB da Baixada Fluminense por Município: 2007/2011 (em %)

Fonte: IBGE (2013)

Essas taxas de expansão, opostas em sentido, entre os municípios da


Baixada Fluminense, resultou em um forte e claro processo de “desconcentração”
produtiva na região, destacando-se a queda no PIB do município de Duque de
Caxias. Em 2007, este município respondia por 62% do produto da Baixada, seguido
de longe por Nova Iguaçu, com seus quase 15% (Gráficos 3.2 e 3.3). Em 2011, o
percentual de Duque de Caxias caiu para 49%, ao passo que o de Nova Iguaçu
alcançou os 19%, registrando-se ainda considerável crescimento das participações
de São João de Meriti (11%) e Belford Roxo (9%), dois municípios com presença de
poucas, mas grandes indústrias, como anotado anteriormente.
95

Gráfico 4 - Participação Municipal no PIB Regional – 2007 (em %).

Fonte: IBGE (2013)

Gráfico 5 - Participação Municipal no PIB Regional – 2011 (em %).

Fonte: IBGE (2013)


96

Em relação processo de desconcentração do Produto Interno Bruto acima


mencionado, cabe anotar que, incialmente deve-se considerar que a taxa regional foi
diretamente atingida pelo desempenho do PIB de Duque de Caxias, tendo em vista
que os demais apresentaram taxas de crescimento expressivas. Como se vê, dada a
alta participação de Duque de Caxias na composição do PIB estadual, seu poder de
“arrasto” é muito alto, fazendo com que taxas muito expressivas, como as de Japeri,
Queimados e São João de Meriti não conseguissem impedir a queda da região.

A economia de Duque de Caxias é fortemente dependente de um setor capital


intensivo (petroquímica) e com alto volume financeiro, contudo, ainda tem contido
seu poder de irradiação para outros setores. Nesse sentido, muito se assemelha a
discussão exposta em Silva (2012), acerca da participação do Norte Fluminense no
PIB estadual e o peso da indústria de petróleo no PIB, na qual, em muito, esse setor
tem gerado alta receitas e impactando o PIB positivamente, mas sem, em igual
dimensão e sentido, gerar riqueza e maiores encadeamentos dinâmicos.

Os estudos sobre as economias da periferia metropolitana brasileira vêm


ganhando projeção nas últimas décadas. Muito possivelmente, as periferias de
nossas grandes metrópoles sejam a expressão máxima dos espaços daquilo que
Anibal Pinto chamara malformações metropolitanas latino-americanas e, dentro
desses, a questão do chamado terciário espúrio ganha evidencia, que pode ser
comprovado pelo fato de que a esmagadora parcela das periferias metropolitanas
brasileiras não se configuram em espaços de terciários modernos, mas, muitas
vezes, receptáculos de atividades que são a mascara do subemprego, do
subdesenvolvimento.

Em meio às mudanças observadas na economia brasileira a partir do começo


da década de 2000, fortes e importantes transformações se observaram na
economia da Baixada Fluminense. A despeito das críticas e limitações do modelo
que vem sendo adotado, alguns traços da dinâmica macroeconômica nacional têm
sido responsáveis por alterações no cotidiano socioeconômico dos municípios da
Baixada.

A seguir, a tese propõe-se a levantar que elementos são esses e, além disso,
será feita uma análise acerca dos setores da Baixada Fluminense e a seguir será
levantada a questão dos investimentos recentes na região, tratando sobre os
impactos na sociedade local.
97

4.2.2 – Uma analise dos setores.

A observação das participações por setor nos permitirá ter uma ideia mais
nítida da dinâmica regional, além do desempenho por setor; desta forma, a análise
que segue abaixo pretende mostrar o desempenho setorial da economia da Baixada
Fluminense.

No que tange ao setor primário da economia da Baixada, nota-se que, assim


como no ERJ como um todo, a agropecuária na RM possui papel pouco relevante na
geração de emprego e renda. No caso da Baixada Fluminense, área densamente
povoada e urbanizada, a falta de terras cultiváveis é um importante fato do baixo
desenvolvimento agrícola na região.

Para Simões (2011: 196) o quadro é tão grave, que várias prefeituras da
Baixada decretaram o fim de suas áreas rurais, com a transformação, via legislação,
de todo o município em área urbana, numa evidente estratégia da expansão de
cobrança do IPTU, para imóveis que realmente não possuem um uso rural.

Mapa 3.1 – Uso do solo na região Metropolitana do Rio de Janeiro, 2004.

Fonte: Fundação CEPERJ apud Simões (2011)


98

Como evidencia o mapa acima, o uso agrícola, através da ocupação do solo


com lavouras permanentes ou temporárias, é muito baixo na Baixada Fluminense,
não chegando a 5% na maioria dos municípios desta região e chegando a total
ausência de cultivos nos munícipios de Belford Roxo, Nilópolis e São João de Meriti,
uma vez que tais municípios já não possuem mais áreas para esse tipo de ocupação
do solo.

Esse quadro denota um desperdício de oportunidades e falta de


uma política agrícola em todas as instancias de governo para
essa região, seja sob a forma propositiva, com investimentos,
financiamentos e apoio técnico, seja sob a forma repressiva,
com uma legislação de uso e ocupação de solo que combata a
subutilização e a especulação nessas áreas (Op. Cit: 2011,197).

Embora seja visível a fragilidade da produção agrícola da região, cabe


destacar o papel de Nova Iguaçu como um dos principais produtores agrícolas da
região, com representatividade na produção de hortaliças, verduras, mandioca e
bananas, quase todas advindas de pequenas propriedades familiares localizadas no
entorno da Reserva Biológica do Tinguá.

Apesar do setor primário ter pequeno peso na riqueza material


da economia metropolitana (e estadual), ele desempenha papel
fundamental no que se refere à sobrevivência e à reprodução
social de expressivo número de pessoas que residem (ou
gravitam) nos espaços rurais e perimetropolitanos (SILVA: 2012,
88).

O setor secundário possui uma importância bem mais acentuada na região


em questão, mostrando bastante diversificada, com destaque para as indústrias
gráficas, alimentos, bebidas, petroquímica, química, farmacêutica, têxtil, autopeças,
cosméticos, máquinas e equipamentos e minerais não-metálicos.

Como já mencionado, há uma nítida concentração industrial em alguns


munícipios da Baixada, cujas estruturas são mais maduras para receber esses
investimentos, como é o caso de Duque de Caxias e o entorno da REDUC, onde
99

acabou se formando uma concentração de empresas ligadas ao setor petroquímico


que, de alguma forma, são nucleadas pela REDUC; como exemplo pode-se citar a
Rio Polímeros- RIOPOL, controlada hoje em dia pela BRASKEM.

Outro município que concentra grande número de plantas industriais é Nova


Iguaçu, com grande proporção de produtores perfumaria, sabões e velas, têxtil,
higiene e limpeza. Destaque para a produção de cosméticos, onde se localiza um
importante polo produtor de cosméticos (Tabela 3.5), através de empresas como a
Nielly Cosméticos, Aroma do Campo, Indústria Química Santo Antônio- INQUISA e o
grupo Suissa. Estas indústrias acabaram por conformar na cidade um polo de
produção de cosméticos e produtos de limpeza, o maior do estado do Rio de Janeiro
e o segundo maior do país, perdendo apenas para o estado de São Paulo.

Tabela 4-6 - Fabricação de Cosméticos, Produtos de Perfumaria e de Higiene Pessoal, por


município do Estado do Rio de Janeiro, 2012.
Município Total %
Aperibe 3 2,7
Araruama 1 0,9
Areal 1 0,9
Bom Jardim 1 0,9
Campos dos Goytacazes 1 0,9
Casimiro de Abreu 1 0,9
Duque de Caxias 10 9
Itaborai 1 0,9
Itaguai 1 0,9
Japeri 3 2,7
Mesquita 4 3,6
Miracema 1 0,9
Nilopolis 3 2,7
Niteroi 1 0,9
Nova Friburgo 3 2,7
Nova Iguacu 12 10,8
Petropolis 1 0,9
Queimados 1 0,9
Rio Bonito 1 0,9
Rio de Janeiro 54 48,6
Sao Goncalo 1 0,9
Sao Joao de Meriti 1 0,9
Sao Jose do Vale do Rio Preto 1 0,9
Saquarema 1 0,9
Seropedica 2 1,8
Teresopolis 1 0,9
Total 111 100
Fonte: RAIS, 2012
100

O município de Queimados também se sobressai pela produção industrial,


tendo em vista que é o único da Baixada Fluminense que possui um Distrito
Industrial já instalado e com infraestrutura. O Distrito Industrial de Queimados possui
uma área total de 2,3 Km² podendo chegar a 9 Km² e está localizado junto a BR-116
e com acesso rápido ao Arco Metropolitano e ao ramal da MRS, este distrito possui
gás canalizado, telefonia digital, subestação de energia elétrica e abastecimento de
água, destaca-se por ser o único já implantado e com 32 empresas já instaladas,
com predominância dos ramos metalúrgicos e da construção civil.
O mapa abaixo mostra a concentração industrial nesses três municípios da
Baixada Fluminense.

Mapa 4.2 – Concentração industrial na Baixada Fluminense.

Fonte: Elaboração própria.

Na Baixada Fluminense, Duque de Caxias perfaz o maior PIB industrial, este,


juntamente com o município do Rio de Janeiro respondem por mais de 80% da
produção regional, vale ressaltar que o município também possui um distrito
Industrial, localizado no Distrito de Xerém, mas este se encontra em fase de
instalação. Os demais municípios da Baixada, como Nova Iguaçu, Belford Roxo e
Queimados, ainda que com significativas unidades produtivas e com
101

representatividade no conjunto do estado do Rio de Janeiro, juntos perfazem apenas


2,5% do produto industrial regional, como pode ser confirmado na tabela 3.6.

Tabela 4-7 - Participação no PIB setorial e estrutura setorial do PIB (2006).


Municípios % PIB ERJ % PIB Interno
Agr. Ind. Ser. Agr. Ind. Ser.
Estado 100,0 100,0 100,0 0,4 49,7 49,9
RMRJ 4,8 34,6 80,8 0,0 29,8 70,1
Rio de Janeiro 0,5 21,0 62,0 0,0 25,2 74,8
Baixada
1,5 11,1 11 - - -
Fluminense
Belford Roxo 0,0 0,8 1,2 0,0 38,4 61,6
D. Caxias 0,2 7,8 4,5 0,0 63,4 36,6
Japeri 0,1 0,0 0,2 0,2 5,7 94,1
Mesquita -- 0,6 0,5 -- 54,6 45,4
Nilópolis -- 0,2 0,4 -- 28,7 71,3
Nova Iguaçu 1,1 0,9 2,5 0,2 25,3 74,5
Queimados 0,1 0,1 0,4 0,1 17,7 82,2
S. João Meriti 0,0 0,7 1,3 0,0 34,3 65,7
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Fundação CIDE 2008 apud Silva (2012).

Sobre a participação do PIB industrial, relativamente alta, dos municípios de


Belford Roxo e Mesquita, cabe lembrar que estes são pequenos munícipios com
algumas poucas e grandes empresas localizadas em seu território, como é o caso
do Parque Industrial da Bayer em Belford Roxo, instalada nos anos de 1950 no
âmbito do Plano de Metas para produção de produtos químicos voltados para a
indústria, e que hoje produz produtos para a agricultura e matérias-primas básicas
para poliuretano. A grande participação industrial no PIB de Mesquita está
diretamente ligada ao fato da cidade ter instalado em seu território a fábrica de
cimento Liz, além do Porto seco, a Balprensa, empresa de reciclagem de resíduos
metálicos e ainda a Belgo Bekaert, todas elas localizadas no trecho entre a Rodovia
Presidente Dutra e o ramal de cargas da linha auxiliar.

No que diz respeito ao setor terciário da região em questão, é amplamente


reconhecida a importância da RMRJ para o terciário fluminense, como assinala Silva
(2012), cerca de 80% do PIB terciário fluminense se concentra nesse recorte, com
especial atenção para a capital estadual, mas com grande participação de
municípios da Baixada, notadamente Nova Iguaçu. Na Baixada Fluminense, com
exceção de Duque de Caxias, todos os demais municípios possuem mais de 80% do
seu PIB produzido pelo setor terciário.
102

As atividades que sustentam esse dinamismo no setor terciário estão ligadas


diretamente ao comércio, transportes, alojamentos, aluguéis, comunicações e
serviços pessoais. Observando-se a tabela 3.6, nota-se que algumas estruturas
municipais estão calcadas nas atividades terciárias e tem nestas, a origem da maior
parte da sua renda, como são os casos dos municípios de Japeri (94,1%),
Queimados (82,2%) e Nova Iguaçu (74,5%).

Cabe aqui destacar que a centralidade do setor de serviços no município de


Nova Iguaçu, está diretamente ligado aos chamados serviços a pessoa, uma vez
que esta centraliza os principais serviços como medicina, odontologia, hospitais de
referencia (públicos e privados), shoppings e comércio varejista; o que acaba
provocando um fluxo de pessoas em direção ao município em função da não
existência desses serviços em outros municípios/bairros da região, ou até mesmo
em busca de melhores condições de compra, atendimento. Outro ramo do setor
terciário que se destaca na cidade são os chamados serviços às empresas, estes,
diretamente ligados à questão da armazenagem, transporte e logística.

Os gráficos a seguir mostram as taxas de participação da Baixada


Fluminense, da Cidade do Rio de Janeiro e dos demais municípios metropolitanos
no total de empregos formal por setor, em 2003 e 2012.

Como já afirmado, as maiores participações são da cidade do Rio de Janeiro,


deixando claro o caráter concentrador desse espaço para a economia fluminense,
em especial a metropolitana. Contudo, nota-se que a Baixada Fluminense tem
grande participação em vários setores e, quase sempre, indicadores maiores que o
apresentado pelo conjunto dos demais municípios metropolitanos fluminenses. Em
2012, por exemplo, sua taxa de participação no emprego formal da RMRJ era de
12,9%, contra 10,3% dos demais municípios periféricos. Essas taxas são maiores
em outros setores: 21,5% para a indústria têxtil, 12,9% para construção civil e 17,8%
para comércio.
103

Gráfico 6 - Participação no Emprego por Setor na Baixada Fluminense e RMRJ22.

Fonte: MTE, 2013

Deve-se observar que, de maneira geral, os números da região em tela


melhoraram no período em questão, tendo em vista que a participação no total geral
de empregos formais, em 2003, era de 11,1% e na Indústria têxtil de 18,5%,
Comércio e Serviços também aumentaram, ao passo que os Serviços Industriais de
Utilidade Pública e Construção Civil tiveram redução na participação.

22
Legenda para as siglas contidas no gráfico 3.4: EM: Extrativa Mineral; IT: Indústria Textil; SIUP:
Serviços de Utilidade Púbica; CC: Construção Civil; CO: Comércio; SE: Serviços Educacionais; AP:
Administração Pública; AE: Agropecuária, Extração Vegetal e pesca.
104

Gráfico 7 - Participação no Emprego por Setor na Baixada Fluminense e RMRJ 200323

Fonte: MTE, 2013.

Analisando detidamente setores da indústria, podemos concluir que a


participação da Baixada Fluminense na indústria da RMRJ se destaca nos seguintes
setores: Indústria Metalúrgica (22,1%), Madeira e Mobiliário (38,6%), Borracha
(13,1%), Indústria Química (25,7%), Indústria Têxtil (17,6%), Indústria de Calçados
(26,8%) e Alimentos e Bebidas (28,5%). Estes estão entre os setores que mais se
expandiram e mais receberam investimentos em nível regional.

23
Legenda para as siglas contidas no gráfico 3.5: EM: Extrativa Mineral; IT: Industria textil; SIUP:
Serviços de Utilidade Pública; CC: Construção Civil; CO: Comércio; SE: Serviços Educacionais; AP:
Administração Pública; AE: Agropecuária, Extração Vegetal e Pesca.
105

Gráfico 8 - Participação no Emprego por Setor Industrial RMRJ 201224.

Fonte: MTE, 2013

A mesma análise para dos dados referentes aos serviços e agricultura mostra
que a Baixada se destaca, dentro da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, em
Comércio Varejista (17,6%), Comércio Atacadista (15,5%), Alojamento e
Comunicação (7,8%) e Administração Pública (7,8%).

24
Legenda para as siglas contidas no Gráfico 3.6: EM: Extrativa Mineral; PMNM: Produto Mineral Não
Metálico; IMET: Indústria Metalurgica; ECOM: Elétrico e Comunicação; MTRANS: Material de
Transporte; MM: Madeira e Mobília; PGRA: Papel e Gráfica; BOR: Borracha, Fumos e Couros; IQ:
Indústria Química; ITEX: Industria Têxtil; ICAL: Indústria de Calçados; ALBEB: Alimentos e Bebidas;
SIUP: Serviços de Utilidade Pública; CC: Cosntrução Civil.
106

Gráfico 9 - Participação no Emprego Serviços e Agricultura RMRJ 201225.

Fonte: MTE, 2013.

O tópico a seguir centra esforços na análise dos investimentos recentes que a


região da Baixada Fluminense vem recebendo a partir dos anos 2000.

4.2.3 – Os investimentos recentes na Baixada Fluminense e seus impactos no


território.

Entre os anos de 2003 e 2008 o país viveu o auge do processo de


crescimento econômico recente e isso se refletiu na sociedade brasileira, como por
exemplo, na queda da taxa desemprego e no aumento da renda real do trabalhador,
basicamente em função da forte valorização do salário mínimo e também dos
programas sociais de esfera federal, o Bolsa–Família é o mais representativo deles.

O aumento do emprego e, por conseguinte, da massa salarial, que tem


culminado na ampliação de setores bens-salário, sensíveis às variações da renda
pessoal, tem como impacto e efeitos desse elemento diretamente sobre setores da

25
Legenda para as siglas contidas no Gráfico 3.7: COMVAR: Comércio Varejista; COMATA:
Comércio Atacadista; INTFIN: Instituição Financeira; ADTEC: Administração Técnica Profissional;
TRANCOMU: Transporte e Comunicações; ALOCOMU: Alojamento e Comunicações; MEDODOVET:
Médicos, Odontológicos e Veterinários; ENSI: Ensino; AP: Administração Pública; AGRO: Agricultura.
107

economia urbana como, por exemplo, no aumento do comércio, serviços ao


consumidor, shopping centers, opções de lazer, etc.

Por fim, há que se destacar a ampliação do investimento público e privado,


com a entrada de novas fábricas, setores, dentre os quais se destacam aqueles
voltados para a produção de produtos consumidos pelas classes menos abastadas,
que por muito estiveram alijadas no mercado de consumo, hoje, chamadas “nova
classe média” e para os setores que se aproveitam de fatores locacionais
claramente presentes na Baixada Fluminense, quase que como vantagens
competitivas, tais como os ramos ligados à logística, como veremos neste item da
tese.

A aliança política entre os partidos governantes em âmbito federal, o PT, e em


âmbito estadual, o PMDB, permitiram uma maior participação do estado do Rio de
Janeiro no processo de crescimento econômico, tendo em vista as ações
governamentais no que tange aos investimentos federais diretamente, e também a
atração de investimentos privados para o estado.

Cabe mencionar que grande parte dos investimentos, públicos e privados, se


deram na produção de estruturas que irão dar apoio aos grandes eventos que a
cidade do Rio de Janeiro irá sediar: alguns jogos da Copa do Mundo em 2014, e os
jogos Olímpicos em 2016, dessa forma, há um reforço no processo de centralidade
do município do Rio frente aos demais. Vale ainda citar a intensificação da
exploração de petróleo e gás natural no norte fluminense, com a realização de
importantes obras de infraestrutura e ampliação da produção, o que trouxe grandes
rebatimentos espaciais na economia do estado. O Estado do Rio de Janeiro viveu,
nesta década, uma onda de inversões, que impactaram de sobremaneira o território
fluminense.

A Baixada Fluminense não ficou alijada deste processo. As perspectivas são


grandes para o crescimento econômico, principalmente em função dos investimentos
públicos e privados previstos e já realizados na região.

Em termos de investimentos públicos podemos citar o exemplo da construção


do Arco Metropolitano26 que ligará Itaboraí a Itaguaí, passando por Nova Iguaçu,

26
O projeto do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro está em estudo desde a década de 70, quando foi definido
o traçado da rodovia RJ-109. Desde então, o projeto vem sofrendo modificações e aperfeiçoamentos sendo
considerado como etapa essencial no desenvolvimento da estrutura viária do Rio de Janeiro. Em 2007, o
108

Duque de Caxias, Guapimirim, Magé, Japeri e Seropédica. A obra é de grande


importância para a logística da economia fluminense e contribuirá para desafogar o
transito na Av. Brasil e na ponte Rio-Niterói. Estudos da FIRJAN afirmam que o
impacto da obra será de 1,8 bilhão de reais, sendo que 65% deste valor concentrado
na construção civil. O mapa a seguir mostra o trajeto da obra do Arco Metropolitano
fluminense.

Mapa 4.3 – Arco Metropolitano do Rio de


Janeiro.

Fonte: Consórcio Arco-Metropolitano

Governo Federal, através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), classificou a interligação entre a
BR-101/NORTE e a BR-101/SUL como obra prioritária para o desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro. Em
acordo realizado entre o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes – DNIT e o Departamento de
Estradas e Rodagem – DER, a implantação do Arco passou a ser de responsabilidade do Governo do Estado do
Rio de Janeiro e do DER. A partir deste acordo, a rodovia passou a ser denominada Arco Metropolitano,
associando a RJ-109 à BR-493. A concepção do “Arco Metropolitano” tem como principal finalidade de fazer a
conexão rodoviária entre a BR-101/NORTE e a BR-101/SUL sem que haja a necessidade de trânsito pelas vias
urbanas da Região Metropolitana, como a Avenida Brasil. Para tal ligação serão utilizadas, além do trecho
correspondente à RJ-109, as BR-493 (Magé - Manilha) e um trecho da BR-116/NORTE, compondo quatro
segmentos distintos: Segmento A: Trecho da Rodovia BR-493/RJ, entre a BR-101, em Manilha (Itaboraí), e o
entroncamento com a BR-116, em Santa Guilhermina (Magé) – Em duplicação. Segmento B: Trecho da Rodovia
BR-101 (Rio – Santos), entre Itacuruçá e a Avenida Brasil. Com duplicação da pista. Segmento C: RJ-109, entre
as rodovias BR-040 (Rio – Juiz de Fora) e a BR-101/SUL. Segmento D: Trecho da BR-116/NORTE, entre a BR-
493/RJ em Santa Guilhermina e a BR-040/RJ em Saracuruna (administrado pela Concessionária CRT da
Rodovia Rio – Teresópolis). Fonte: DNIT (2007)
109

Um levantamento dos investimentos privados previstos para a região a partir


de 2002, segundo estudo da FIRJAN – Decisão Rio - e da Codin – Companhia de
Desenvolvimento Industrial do Rio de Janeiro, vinculada à Secretaria de Estado de
Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços – SEDEIS (ANEXO G),
revela uma concentração dos investimentos no setor de metalurgia, perfazendo um
total de nove grandes investimentos previstos neste setor, sendo cinco localizados
no Distrito Industrial de Queimados e o restante no município de Duque de Caxias,
são eles: Raft Embalagens, Forjas Brasileiras, FertPlant, TWR e TSI do Brasil, todos
estes no município de Queimados, enquanto que em Duque de Caxias os
investimentos em metalurgia são da Ciferal carrocerias, G.B. Criogênio, MetalBasa e
da Falmec.

Outro setor que se sobressai pela quantidade de investimentos previstos é o


de minerais não-metálicos, este, também com forte concentração no Distrito
Industrial de Queimados, onde se instalaram a Duratex, Art. Fergiados, Kreta Rio,
Knauf, Multibloco, Quartzolit e Eságua – Engenharia Sanitária. Fora do referido
distrito, há a instalação da Sano em Nova Iguaçu e a Duque de Caxias Mineração,
em Duque de Caxias.

Os setores de plásticos e indústria química também realizaram grandes


investimentos na região. Os investimentos em química se concentraram no
município de Duque de Caxias, conformando naquela região um polo químico no
entorno da REDUC, esta mesma, de acordo com a FIRJAN, tem previsão de
investimentos da monta de dois bilhões de reais, sendo 800 milhões de reais para o
período de 2012-2014, com vistas à construção de uma nova caldeira para geração
de vapor.

Outra empresa ligada à cadeia petroquímica é a BR Distribuidora, que tem


previsão de investimentos no montante de 173 milhões de reais no triênio
2012/2014. Outros investimentos ligados à cadeia produtiva da petroquímica são a
Poland Química, Polink Indústria Química e a Liarte Metalquimica, que fabrica
resinas acrílicas e poliuretano; todas estas localizadas em Duque de Caxias. Outro
investimento no setor é o das Tintas Águia, localizada no distrito Industrial de
Queimados, visando o aumento de sua capacidade produtiva.

No que tange ao setor de plásticos, os investimentos se dividem novamente


entre Queimados, com a Alcoa Alumínios, e Duque de Caxias, com a CPR Rio e
110

RioPol , esta adquirida recentemente pela Braskem. A unidade industrial da Braskem


no município de Duque de Caxias produz químicos e petroquímicos básicos, além de
resinas termoplásticas.

O setor têxtil e de serviços também tem bastante representatividade nos


investimentos na região da Baixada Fluminense, destacando-se a instalação da
Lartex no município de Duque de Caxias, Sayoart Têxtil em Queimados e da
Bergitex em Nova Iguaçu. No que tange ao setor serviços, a concentração dos
investimentos se dá no município de Duque de Caxias com aportes da Art Frio, da
Lwart, Acqualimp, Lógica Lavanderia e Lutrol. Em Nova Iguaçu, no setor de serviços,
destaca-se a construção do depósito das Lojas Americanas.

Os setores de bebidas, hospedagem, produtos alimentícios, material elétrico,


perfumaria, sabões e velas, concentram-se nos municípios de Nova Iguaçu e Duque
de Caxias, o primeiro por já agrupar, como mencionado anteriormente, grande parte
da produção de cosméticos do estado, nesse sentido os investimentos previstos da
Indústria Química Santo Antônio – INQUISA e do Grupo Suissa, se apresentam no
sentido de aumentar a capacidade produtiva destas empresas. No que tange ao
setor de produtos alimentícios, vale a pena mencionar o investimento feito pela
Sadia na construção de uma fábrica de embutidos em Duque de Caxias.
111

Mapa 4.4 Investimentos realizados na Baixada Fluminense entre 2002 e 2012.

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados de FIRJAN, 2013 e Silva, 2012.

Vale ressaltar que o fato de que, como visto acima, a maioria dessas plantas
industriais estarem localizadas nos municípios de Queimados e Duque de Caxias,
está ligado diretamente à instalação nestes das chamadas Zona Estritamente
Industrial – ZEI, também conhecidas como Distritos Industriais. A instalação destes
distritos industriais está diretamente relacionada com a política fiscal praticada pelo
estado e pelos municípios (em menor parte) na atração de tais investimentos, a
chamada ‘Guerra Fiscal’27. O estado do Rio de Janeiro possui uma política fiscal
bastante agressiva no sentido de atrair novos investimentos direcionando-os para
determinadas áreas de interesse (ANEXO I).

Apesar de ser mais antigo do que o Distrito Industrial de Duque de Caxias, o


distrito de Queimados, inaugurado em 1976, passou por um processo de
estagnação e semi-abandono após várias empresas deixarem o distrito. Nos últimos
anos, vem passando por um processo de reestruturação e atração de novos
empreendimentos, aproveitando o momento econômico vivenciado pelo país e pelo

27
A discussão acerca da chamada ‘guerra fiscal’ foge ao escopo desta tese, para mais informações
sobre o tema ver: Cardoso (2010) e Vieira (2012).
112

estado do Rio de Janeiro. Com localização privilegiada, próximo a RJ 109, que faz a
ligação com a Rio-Santos (BR 101), e às margens da Rodovia Presidente Dutra,
este distrito tem forte apelo locacional, o que será reforçado com a construção do
Arco Metropolitano, além de possuir infraestrutura já instalada.

Mapa 4.5 – Distrito Industrial de Queimados.

Fonte: Codin.

O Distrito industrial de Duque de Caxias tem perfil ligado ao setor de


indústrias e serviços. Também com forte apelo locacional, este distrito está
localizado a 22,5 Km da Linha Vermelha, que faz a interligação da Avenida Brasil
com a rodovia Presidente Dutra, cruzando a Rodovia Washington Luís (BR 040),
desta forma tem fácil acesso a grandes centros consumidores como o estado de São
Paulo, Belo Horizonte, bem como à região serrana e noroeste fluminense.
113

Mapa 4.6 – Distrito Industrial de Duque de Caxias.

Fonte: Codin.

Em relação ao setor de Hospedagem e à Construção Civil, estes merecem


um destaque à parte, em função do grande efeito de encadeamento gerado por eles,
principalmente no caso da construção civil.

Com o advindo do crescimento econômico na década de 2000, um dos


setores ‘reativados’ após anos de estagnação foi o da construção civil, com uma
grande demanda reprimida, além de um grande déficit habitacional, o advento do
programa do Governo Federal Minha Casa Minha Vida, juntamente com o aumento
da renda da população, criando a chamada ‘nova’ classe média, acabou por
alavancar o setor.

Neste sentido, os municípios da Baixada Fluminense receberam importantes


investimentos do governo federal, através da Caixa Econômica Federal, para a
urbanização de assentamentos precários do programa Minha Casa, Minha Vida28.
Em relação à localização destes empreendimentos, chama a atenção para o fato de
haver um claro deslocamento destes empreendimentos, e consequentemente das

28
Foram investidos 28.364,93 milhões de reais entre 2011 e 2014 para o Estado do Rio de Janeiro,
sendo que R$ 4.888,40 diretamente no programa Minha Casa, Minha vida; R$21.570,62 no
financiamento pelo SBPE (Sistema Brasileiro de poupança e Empréstimo) e R$ 1.905,91 na
urbanização de assentamentos precários. Fonte: pac.gov.br
114

familiais para as periferias dos municípios da Baixada Fluminense, locais com baixa
infraestrutura urbana e de transportes, além do distanciamento destes em relação
aos locais de trabalhos destas famílias.

O aumento da renda não ficou restrito às classes mais baixas, extratos de


classes mais altas também tiveram aumento real de renda, sendo que o aumento do
consumo destes extratos fez aquecer o mercado imobiliário local, com a geração de
novos empreendimentos imobiliários voltados para estas camadas de renda.

A segunda metade da década de 2000 marca o inicio de um processo de


crescimento imobiliário na Baixada Fluminense, com destaque para os municípios de
Nova Iguaçu e Duque de Caxias, que concentraram a maior parte dos lançamentos
(Mapa 3.7). A novidade em tais lançamentos imobiliários está em repetir o modo de
vida da Barra da Tijuca, zona oeste do município do Rio de Janeiro, ou seja,
construção de grandes condomínios fechados com oferta de lazer, segurança e alto
padrão de acabamento, iniciando na região um claro processo de verticalização das
moradias.

Imagem 4.1 – Processo de verticalização na área central do município de Nova Iguaçu.


115

A construção desses grandes condomínios associada à especulação


imobiliária, provocou uma alta valorização do dos imóveis na região, principalmente
no entorno das construções, ou seja, nas áreas centrais desses dois municípios –
Nova Iguaçu e Duque de Caxias.

Estas transformações provocaram uma


redistribuição da população pelos segmentos da
área central e suas adjacências, com a
consolidação de um núcleo de alta renda e
migração da classe média para os bairros vizinhos
mais próximos e a consequente expulsão dos mais
pobres para bairros ainda mais distantes, onde
estão sendo construídos vários condomínios
populares com subsídios governamentais,
principalmente pelo ‘Minha Casa, Minha Vida’.
(SIMÕES: 2011, 347).

Como este processo ainda é recente, não há evidências que nos permitam
afirmar a existência de um processo de gentrificação, uma vez que a áreas que
estão sofrendo este processo recente de valorização, são áreas historicamente já
ocupadas pelas classes mais altas desses municípios. O mapa a seguir mostra a
concentração desses novos empreendimentos na Baixada Fluminense, os nomes e
locais desses lançamentos encontram-se no Anexo H da tese.
116

Mapa 4.7 – Lançamentos Imobiliários na Baixada Fluminense.

Fonte: elaboração própria.

Com o processo de especulação imobiliária na região, novas


construtoras/incorporadoras de fora da Baixada Fluminense foram atraídas para a
região, podemos citar, por exemplo, o caso da Rossi, da construtora Tenda, da
Gafisa, da Brookfield, a RJZ e Cyrela e a PDG, todas estas, grandes construtoras
sem histórico de atuação, até entao, na região.

O setor de construção civil também foi alavancado na região em função de


outros empreendimentos, tais como a chegada de grandes redes hoteleiras, como o
hotel Mercure da rede Accor Hospitality (Foto 2), o Rossi Diamond Flat, o Supreme
Nova Iguaçu Business Hotel, além da expansão do Mont Blanc apart hotel, todos
esses localizados em Nova Iguaçu. Há ainda a expansão desse setor em
Queimados com a construção do Premier Flat Apart Hotel, no município de Duque
de Caxias está em andamento a instalação do Supreme Caxias (NEP
Empreendimentos), sendo que outro empreendimento hoteleiro desse mesmo grupo
está sendo construído em São João de Meriti, às margens da Rodovia Presidente
Dutra – o Supreme Dutra. Todos esses empreendimentos ligados a rede hoteleira
117

visam, além de atender à demanda interna da região, o atendimento aos turistas29


que tem os megaeventos na cidade do Rio de Janeiro como destino.

Imagem 4.2 – Vista panorâmica do Mercure Hotel, Nova Iguaçu.

Os efeitos dos investimentos na região já podem ser sentidos pela rede


hoteleira local em termos de ocupação, o município de Nova Iguaçu ficou em 18º
lugar no levantamento feito pelo Hotel Price Index (HPI) como um dos locais mais
procurados pelos turistas estrangeiros no país entre os meses de janeiro e
dezembro de 2013, ficando à frente de locais tradicionalmente turísticos como a
Praia do Forte na Bahia e a Ilha Grande, em Angra dos Reis.

Em termos de investimentos privados na construção de Shopping Centers, a


Baixada Fluminense também vive um período de boom neste tipo de
empreendimento. Foi anunciado, no inicio de 2014 a construção de mais um
shopping no município de Nova Iguaçu, um investimento de 300 milhões de reais
capitaneado pela Ancar Ivanhoe . O que diferencia este investimento dos demais é o
fato dele ser um shopping multiuso, uma vez que este tipo de construção está

29
Para realização dos Jogos Olímpicos, o COI exige cota minima de 50 mil quartos entre três e cinco
estrelas. Segundo estimativas da Rio Negócios, a cidade do Rio de Janeiro tem hoje 32,3 mil quartos,
sendo que apenas 16,5 mil quartos atendem às exigencies do COI. Estão em análise, licenciadas ou
sendo construídas, atualmente, 10,2 mil novas unidades habiacionais de três, quatro e cinco estrelas,
o que levaria a oferta total de acomodações de padrão internacional para 26,7 mil unidades. (FIRJAN:
2012: 60)
118

avançando pelo país, principalmente em cidades de porte médio. Este


empreendimento abriga, além do centro de compras, hotéis, escritórios e residências
com a intenção de facilitar a vida de que mora por perto e já vendo um ‘filão’ na
questão da mobilidade urbana que é um grande problema das metrópoles
atualmente. Há ainda no município, a ampliação do Top Shopping, com a construção
de três torres comerciais com 100 lojas satélites e duas ancoras, uma ampliação de
18,6 mil/m² para 34 mil/m² de área.

Em Duque de Caxias, foi inaugurado em 2008 o Caxias Shopping, que hoje


em dia já se configura no principal centro de compras do município, localizado numa
área de 86 mil m² às margens da Rodovia Washington Luís, num empreendimento
da Aliansce Shopping Centers e CAX 100 - Empreendimentos e participações. Outro
empreendimento na área de Shopping Center na região da Baixada Fluminense é a
construção do Shopping Dutra, localizado às margens da Rodovia Presidente Dutra
na altura do município de Mesquita e com inauguração prevista para outubro de
2015, num empreendimento da Incorporadora Sá Cavalcanti.

Os empreendimentos comerciais também passam por um processo de


verticalização na região, mais precisamente no município de Nova Iguaçu, onde está
concentrado este tipo de empreendimento com a construção de grandes edifícios
comerciais como o Metrópolis, o Vitaly, o Top Comerce e o Le monde Office life. Isto
reforça o papel deste município como centralizador dos serviços considerados mais
complexos, como medicina avançada, odontologia, etc.

Cabe lembrar que a grande maioria desses investimentos privados na


Baixada Fluminense tem a participação de capital estatal, seja através de
financiamento direto do BNDES, do Fundo de Desenvolvimento do Estado do Rio de
Janeiro, FUNDES, ou até mesmo através da política de renúncia fiscal estabelecida
pelo governo estadual.

A presença do investimento estatal também se faz presente em obras de


infraestrutura como o já mencionado Arco Metropolitano, além de outros
investimentos como o saneamento básico na Baixada Fluminense, em obras como
implantação, expansão e modernização do sistema, através da Companhia Estadual
de Águas e Esgoto, a CEDAE; da Supervia trens urbanos, no setor de transporte e
logística e ainda a construção do anel viário de campos Elíseos, distrito de Duque de
119

Caxias, apelidado de ‘Arquinho’, uma vez que fará a ligação do Polo Petroquímico
de Duque de Caxias com o Arco Metropolitano.

No que se trata aos investimentos recentes pelos quais a Baixada Fluminense


vem recebendo, a representação da FIRJAN, regional Baixada ll, em entrevista
realizada em 2014, mostra a visão que esta instituição possui sobre as expectativas
para a região:

Após décadas de abandono pelos sucessivos


governos, de ser considerada um conjunto de
cidades-dormitório, a Baixada Fluminense entrou
na rota do desenvolvimento. Mesmo no atual
cenário de incertezas na economia brasileira, a
região tem demonstrado grande capacidade de
crescer. Segundo o estudo Decisão Rio, realizado
pela FIRJAN, somente no período 2012/2014
estavam previstos investimentos de mais de R$ 11
bilhões em toda a Baixada Fluminense, em
projetos grandiosos como o Arco Metropolitano e o
Prosub - Programa de Desenvolvimento de
Submarinos, que está construindo, em Itaguaí, o
primeiro submarino de propulsão nuclear do Brasil
e outros quatro submarinos convencionais. No
futuro está prevista, também em Itaguaí, a
instalação de uma base off-shore da Petrobrás,
que apoiará a exploração do pré-sal e levará toda
uma cadeia de fornecedores e prestadores de
serviços para a região. Mas temos grandes
desafios a serem vencidos. A Baixada Fluminense
precisa se preparar agora para o crescimento
econômico prometido para os próximos 5 a 15
anos. Esses investimentos gerarão muitos
empregos, melhoria na renda e crescimento
econômico, mas aumentarão a demanda de
setores como habitação, educação, qualificação
profissional, saúde, infraestrutura e saneamento.
(Entrevista realizada em 12 de março de 2014).

Cabe aqui mencionar que o fato da região estar recebendo tais investimentos
não está descolado do que ocorre em outras regiões do país, sobretudo a partir da
estratégia adotada pelo governo Luís Inácio Lula da Silva, qual seja, a da escolha
dos ramos/empresas consideradas estratégicas no comércio global, os global
players, ou os chamados campeões nacionais. Neste sentido o estado do Rio de
120

Janeiro, e consequentemente a Baixada Fluminense, foram diretamente afetados em


função deste território abrigar grandes players, como a Petrobrás, as empresas do
Grupo EBX e os setores que caminham a reboque destas empresas, como o setor
químico, petroquímico, metalurgia, maquinas e equipamentos, etc. Além disso, conta
muito a retomada da indústria de construção naval30 no estado, uma vez que os
investimentos neste setor alavancaram o setor de navipeças.

O município de Duque de Caxias abrigará um polo para este setor, o Polo de


Navipeças da Baixada Fluminense (Subsea), um local para instalação de fábricas de
peças e equipamentos para o setor naval e submarino. Este investimento será
parcialmente financiado pelo Governo do Estado com previsão de R$ 250 milhões
de reais para a construção do polo e já conta com o projeto de instalação de uma
fábrica da Rolls-Royce, onde será investido 83 milhões de reais na construção de
uma planta para montagem e testes de produtos do segmento naval, como
propulsores e componentes.

Como visto até aqui, a região da Baixada Fluminense recebeu um alto volume
de investimentos, seja visando a instalação de novas plantas industriais, seja para o
aumento da capacidade produtiva das fábricas já existentes na região. Além disso, a
especulação imobiliária passou a fazer parte do cotidiano da região, principalmente
nos dois municípios que mais receberam investimentos na construção civil, Nova
Iguaçu e Duque de Caxias. A seguir será analisado os rebatimentos dessas
mudanças recentes na questão social, por muito tempo negligenciada na região.

30
Para informações sobre a retomada da Indústria naval ver Jesus (2013).
121

4.3 – A questão social na Baixada Fluminense: alguns apontamentos recentes.

Como vimos nas seções anteriores, a Baixada Fluminense vem passando,


desde os anos 2000, por um processo de crescimento econômico, tendo em vista os
investimentos públicos e privados, destinados para a região e as consequentes
alterações no seu território.

O objetivo desta seção é analisar os rebatimentos destes investimentos na


estrutura social da região, através da análise de alguns indicadores que possa nos
permitir fazer algumas inferências sobre o desenvolvimento da Baixada Fluminense,
destacando as inovações e as permanências no sentido mais amplo deste processo.

A realidade social da Baixada Fluminense, não difere muito da realidade das


demais periferias metropolitanas, segundo Patarra e Oliveira (2006: 350):

O elevado grau de concentração populacional


ocorrido nas metrópoles criou uma demanda por
oferta de emprego, habitação, transporte,
saneamento básico, etc. O não atendimento desse
conjunto de necessidades contribuiu para o
acirramento do nível de tensão política e social
preexistentes.

A expansão da metrópole fluminense acabou acirrando os problemas relativos


à questão da infraestrutura urbana, principalmente as referentes às classes menos
abastadas. A Baixada Fluminense se inseriu de forma desigual e contraditória nesse
processo de expansão da metrópole, uma vez que figura como produto direto da
desigualdade social inerente à sociedade hierarquizada.

Para Patarra e Oliveira (2006: 352) ‘a alocação dos recursos públicos


voltados à criação de infraestrutura aos serviços urbanos foi orientado pela lógica do
capital investido de modo a privilegiar os locais mais valorizados do espaço
metropolitano’. Neste sentido, a região da periferia metropolitana, mais detidamente
a Baixada Fluminense, historicamente, foi alijada de políticas públicas voltadas para
o fornecimento de infraestrutura urbana, tais como água, esgoto, escolas, hospitais,
bens culturais, etc.
122

Desta forma, faz-se necessário uma análise qualitativa de alguns indicadores


socioeconômicos selecionados no intuito de desvelar as desigualdades
sócioespaciais existentes na Baixada Fluminense.

A começar pela renda per capta, percebe-se que houve um avanço em


relação ao inicio da década de 1990 acompanhando o aumento da renda per capta
nacional, os municípios da Baixada Fluminense obtiveram relativo aumento na renda
de seus habitantes. Mesmo com o advento desse acréscimo da renda, chama a
atenção o fato da renda per capta de todos os municípios da região se posicionarem
abaixo da renda per capta nacional, que é de R$ 793, 87 em 2010, e o município
que tem a maior renda per capta da região é Nilópolis, perfazendo um total de R$
755,26 por habitante, a menor média, fica com Japeri, com R$ 420, 15 por habitante.

Gráfico 10 - Renda per capta dos municípios da Baixada Fluminense, 1991, 2000 e 2010.

800
700
600
500
400
199
300
200
200
201
100
0

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, 2013.

No que tange à oferta de serviços públicos considerados essenciais, como


água canalizada, os impactos da falta deste serviço são grandes por se tratar de
uma região densamente povoada.
123

Tabela 4-8 - Domicílios particulares permanentes, por existência de água canalizada e forma de abastecimento de água.
2000 2010
Domicílios particulares Domicílios Domicílios particulares
Domicílios particulares
Permanentes particulares permanentes
permanentes (Unidades)
(Percentual) permanentes (Unidades) (Percentual)
Total 121650 100 145667 100
Tinham - em pelo menos um cômodo
Belford Roxo 84158 69,18 104419 71,68
- rede geral de distribuição
Não tinham água canalizada 10956 9,01 10009 6,87
Total 219876 100 269284 100
Tinham - em pelo menos um cômodo –
Duque de Caxias 144509 65,72 163402 60,68
rede geral de distribuição
Não tinham água canalizada 13683 6,22 19393 7,2
Total 23029 100 28424 100
Tinham - em pelo menos um cômodo –
Japeri 13385 58,12 23125 81,36
rede geral de distribuição
Não tinham água canalizada 2685 11,66 823 2,9
Total 53108 100
Tinham - em pelo menos um cômodo –
Mesquita 48306 90,96
rede geral de distribuição
Não tinham água canalizada 734 1,38
Total 44407 100 50496 100
Tinham - em pelo menos um cômodo –
Nilópolis 41815 94,16 45615 90,33
rede geral de distribuição
Não tinham água canalizada 407 0,92 504 1
Total 260594 100 248092 100
Tinham - em pelo menos um cômodo –
Nova Iguaçu 203133 77,95 184498 74,37
rede geral de distribuição
Não tinham água canalizada 10741 4,12 12904 5,2
Total 33352 100 42230 100
Tinham - em pelo menos um cômodo –
Queimados 20486 61,42 34271 81,15
rede geral de distribuição
Não tinham água canalizada 3828 11,48 1912 4,53
Total 129323 100 147435 100
Tinham - em pelo menos um cômodo –
São João de Meriti - 118088 91,31 133843 90,78
rede geral de distribuição
Não tinham água canalizada 1429 1,11 1889 1,28

Fonte: IBGE, Censo Demográfico.


124

Apesar de todos os municípios analisados possuírem mais de 60% de suas


residências com pelo menos um cômodo ligado à rede geral de distribuição, houve
queda considerável neste tipo de serviço nos municípios de Duque de Caxias,
Nilópolis, Nova Iguaçu e São João de Meriti. O município de Duque de Caxias, um
dos mais ricos do estado, e consequentemente, da região, possuiu a pior cobertura
deste tipo de serviço público, com apenas 60,68% das residências com acesso à
água canalizada, além de 7,2% dos domicílios permanentes de Duque de Caxias
não possuem água canalizada.

Vale a pena lembrar aqui, que o fato da residência estar ligada a uma rede de
fornecimento de água, não garante a esta, o fornecimento deste bem, pois,
historicamente, a região da Baixada Fluminense sofre com a falta de abastecimento
de água, apesar de 90% da água que abastece o município de Rio de Janeiro sair
dos reservatórios localizados na Baixada.

Em relação à rede de esgoto na região, houve considerável melhora no


período 2000-2010, aumentando a cobertura de áreas com coleta de esgoto, isso se
deu em função dos investimentos estatais advindos do Programa de Aceleração do
Crescimento – PAC1 e PAC2, que destinaram verbas para a melhoria do sistema de
esgotamento sanitário na região. O município de Nilópolis destaca-se frente aos
demais com 96,09% de suas residências ligadas à rede geral de esgoto, índice
superior ao do país (55.45%) e ao do município do Rio de Janeiro (76,59%).

A heterogeneidade entre os municípios da região fica evidenciada com a


disparidade entre eles no que tange à rede coletora de esgoto, enquanto Nilópolis
possui a melhor cobertura, Belford Roxo (72,75%), Japeri (60,24%) e Queimados
(68,74%) possuem índices abaixo da média estadual (76,59%).
125

Tabela 4-9 - Domicílios particulares permanentes por número de moradores, situação do


domicílio e tipo de esgotamento sanitário, 2000 – 2010.
Domicílios (Unidades) Domicílios (Percentual)
2000 2010 2000 2010
Total 44795101 57324167 100,00% 100,00%
Rede geral de 47,24% 55,45%
21160735 31786866
esgoto ou pluvial
Fossa séptica 6699715 6653417 14,96% 11,61%
Fossa rudimentar 10594752 14020630 23,65% 24,46%
Brasil Vala 1154910 1397566 2,58% 2,44%
Rio, lago ou mar 1110021 1192841 2,48% 2,08%
Outro escoadouro 369660 757855 0,83% 1,32%
Não tinham 8,27% 2,64%
banheiro ou 3705308 1514992
sanitário
Total 4253763 5243011 100,00% 100,00%
Rede geral de 62,51% 76,59%
2659082 4015702
esgoto ou pluvial
Fossa séptica 920540 503123 21,64% 9,60%
Fossa rudimentar 209221 298652 4,92% 5,70%
Rio de Janeiro Vala 262080 245005 6,16% 4,67%
Rio, lago ou mar 139953 150145 3,29% 2,86%
Outro escoadouro 24556 23670 0,58% 0,45%
Não tinham 0,90% 0,13%
banheiro ou 38331 6714
sanitário
Total 832388 984901 100,00% 100,00%
Rede geral de 55,54% 79,35%
462335 781522
esgoto ou pluvial
Fossa séptica 215244 72094 25,86% 7,32%
Fossa rudimentar 29144 35088 3,50% 3,56%
Baixada Fluminense Vala 90427 68996 10,86% 7,01%
Rio, lago ou mar 20738 20492 2,49% 2,08%
Outro escoadouro 6036 5293 0,73% 0,54%
Não tinham 1,02% 0,14%
banheiro ou 8464 1416
sanitário
Total 121619 145677 100,00% 100,00%
Rede geral de 53,46% 72,75%
65019 105973
esgoto ou pluvial
Fossa séptica 30907 13538 25,41% 9,29%
Fossa rudimentar 5299 10669 4,36% 7,32%
Belford Roxo Vala 16308 12138 13,41% 8,33%
Rio, lago ou mar 1477 1927 1,21% 1,32%
Outro escoadouro 1124 1190 0,92% 0,82%
Não tinham 1,22% 0,17%
banheiro ou 1485 242
sanitário
Total 219977 269353 100,00% 100,00%
Rede geral de 56,38% 77,15%
124030 207814
esgoto ou pluvial
Fossa séptica 45488 24062 20,68% 8,93%
Duque de Caxias Fossa rudimentar 9415 10704 4,28% 3,97%
Vala 28599 18375 13,00% 6,82%
Rio, lago ou mar 7640 6735 3,47% 2,50%
Outro escoadouro 2181 1267 0,99% 0,47%
Não tinham 2624 396 1,19% 0,15%
126

banheiro ou
sanitário
Total 22987 28409 100,00% 100,00%
Rede geral de 27,49% 60,24%
6320 17113
esgoto ou pluvial
Fossa séptica 7501 2487 32,63% 8,75%
Fossa rudimentar 1915 2667 8,33% 9,39%
Japeri Vala 5631 4837 24,50% 17,03%
Rio, lago ou mar 768 993 3,34% 3,50%
Outro escoadouro 322 228 1,40% 0,80%
Não tinham 2,31% 0,30%
banheiro ou 530 84
sanitário
Total 0 53103 100,00%
Rede geral de 87,47%
0 46448
esgoto ou pluvial
Fossa séptica 0 3333 6,28%
Fossa rudimentar 0 484 0,91%
Mesquita Vala 0 1422 2,68%
Rio, lago ou mar 0 1145 2,16%
Outro escoadouro 0 190 0,36%
Não tinham 0,15%
banheiro ou 0 81
sanitário
Total 44428 50514 100,00% 100,00%
Rede geral de 79,48% 96,09%
35310 48537
esgoto ou pluvial
Fossa séptica 7646 1321 17,21% 2,62%
Fossa rudimentar 265 142 0,60% 0,28%
Nilópolis Vala 101 43 0,23% 0,09%
Rio, lago ou mar 917 399 2,06% 0,79%
Outro escoadouro 26 31 0,06% 0,06%
Não tinham 0,37% 0,08%
banheiro ou 163 41
sanitário
Total 260653 248186 100,00% 100,00%
Rede geral de 51,35% 77,97%
133855 193521
esgoto ou pluvial
Fossa séptica 75619 14683 29,01% 5,92%
Fossa rudimentar 8805 7078 3,38% 2,85%
Nova Iguaçu Vala 31756 25690 12,18% 10,35%
Rio, lago ou mar 6692 5553 2,57% 2,24%
Outro escoadouro 1545 1335 0,59% 0,54%
Não tinham 0,91% 0,13%
banheiro ou 2381 326
sanitário
Total 33334 42209 100,00% 100,00%
Rede geral de 34,55% 68,74%
11517 29013
esgoto ou pluvial
Fossa séptica 15567 6518 46,70% 15,44%
Fossa rudimentar 1416 1659 4,25% 3,93%
Queimados Vala 3334 3552 10,00% 8,42%
Rio, lago ou mar 822 1157 2,47% 2,74%
Outro escoadouro 188 236 0,56% 0,56%
Não tinham 1,47% 0,18%
banheiro ou 490 74
sanitário
127

Total 129390 147450 100,00% 100,00%


Rede geral de 66,69% 90,27%
86284 133103
esgoto ou pluvial
Fossa séptica 32516 6152 25,13% 4,17%
Fossa rudimentar 2029 1685 1,57% 1,14%
São João de Meriti Vala 4698 2939 3,63% 1,99%
Rio, lago ou mar 2422 2583 1,87% 1,75%
Outro escoadouro 650 816 0,50% 0,55%
Não tinham 0,61% 0,12%
banheiro ou 791 172
sanitário
Fonte: IBGE, Censo demográfico.

Ainda há muito que melhorar em termos de saneamento na Baixada


Fluminense, um ser viço público, historicamente negligenciado pelas autoridades
locais, em função de tal negligenciamento, em torno de 20% do esgoto da região e
despejado de forma irregular na natureza, seja em fossas, valas rio, etc.

Há uma relação direta entre a questão econômica e o saneamento básico, a


falta deste reduz a produtividade do trabalhador, causa impactos negativos no
aprendizado de crianças e jovens como um todo, além de afastar o interesse
turístico de regiões que sofrem com esse problema. A deficiência deste tipo de
infraestrutura, afeta diretamente os índices de desenvolvimento da região e se
configura como um gargalo a ser enfrentado, como lembra a representação da
FIRJAN, regional Baixada ll.

Algumas infraestruturas produtivas


(Telecomunicação – banda larga e telefonia;
Saneamento ambiental – coleta e tratamento de
lixo, abastecimento de água, coleta e tratamento
de esgoto; Saúde – unidades de pronto
atendimento e hospitais; Educação –
universidades, mais escolas de Ensino Médio;
Transporte – melhoria e ampliação do sistema de
trens e reestruturação do sistema de ônibus;
Segurança – maior policiamento ostensivo; e
Habitação – áreas residenciais dotadas de
infraestruturas adequadas e planejadas para
reduzir o deslocamento entre casa-trabalho-
escola-hospitais) não são vistas como insumos
industriais, mas são importantes para garantir o
melhor desempenho da indústria,
consequentemente da economia regional e a
melhoria da qualidade de vida. (Entrevista
realizada em 12 de março de 2014)
128

Tabela 4-10 - Acesso a serviços básicos, 2000 – 2010.


% da % da
% da % da populaç populaç
% da % da % da % da
populaç populaç ão em ão em
populaç populaç populaç populaç
ão em ão em domicíli domicíli
ão em ão em ão em ão em
domicíli domicíli os com os com
domicíli domicíli domicíli domicíli
Município os com os com banheir banheir
os com os com os com os com
água água oe oe
coleta coleta energia energia
encana encana água água
de lixo de lixo elétrica elétrica
da da encana encana
(2000) (2010) (2000) (2010)
(2000) (2010) da da
(2000) (2010)
Brasil 81,79 92,72 76,72 87,16 91,12 97,02 93,46 98,58
Belford Roxo 83,52 94,35 82,96 88,53 87,74 88,07 99,85 99,89
Duque de
86,34 94,78 85,94 88,87 88,5 95,44 99,86 99,95
Caxias
Japeri 78,75 95,7 76,77 93,19 57,02 84,86 99,5 99,92
Mesquita 91,37 96,45 91,74 96,73 95,7 98,67 99,95 99,95
Nilópolis 96,07 98,61 95,04 96,98 98,72 99,56 99,96 99,83
Nova Iguaçu 89,63 96,48 89,55 91,29 86,12 95,39 99,8 99,9
Queimados 79,32 97,97 78,38 92,38 86,16 93,32 99,78 99,83
São João de
93,51 97,73 93,26 95,46 97,36 97,82 99,91 99,94
Meriti
Fonte: Atlas do desenvolvimento humano no Brasil, 2013.

Na tabela 3.9, nota-se a melhora na oferta de serviços básicos relacionados à


água encanada, domicílios com banheiro, coleta de lixo e fornecimento de energia
elétrica. Em relação a este último serviço, por se tratar de uma região metropolitana,
há quase que total cobertura na oferta deste serviço, com pouca variação entre as
décadas analisadas. No que tange a população que moram em domicílios com água
encanada, todos os municípios da Baixada Fluminense ultrapassam a média
nacional, o que não ocorre quando a variável analisada é a coleta de lixo.

Os municípios De Belford Roxo, Duque de Caxias, Japeri, Nova Iguaçu e


Queimados tem menor índice de coleta de lixo em domicilio do que a média
nacional. Até pouco tempo atrás, em 2012, Duque de Caxias possuía o maior lixão
da América Latina, o lixão de Jardim Gramacho, este tinha uma área de 1,3 milhões
de metros quadrados às margens da Baia de Guanabara e recebia, além de todo
resíduo do município, também recebia a totalidade dos resíduos do município do Rio
de Janeiro. Nova Iguaçu, por outro lado, possui o primeiro Centro de Tratamento de
resíduos – CTR – licenciado pelo Estado do Rio de Janeiro, e a primeira do mundo
em possuir um projeto de mitigação dos gases do efeito estuda e venda de crédito
129

de carbono, aprovada pelo Mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL) da ONU.


Este CTR atende os municípios de Nova Iguaçu, Mesquita, Nilópolis, Queimados,
São João de Meriti. Como se percebe, os dois lados de uma mesma moeda na
mesma região.

No que diz respeito à questão da saúde na região, utilizamos dados acerca do


número de estabelecimentos desse setor para mostrar a evolução deste tipo de
atendimento à população da Baixada Fluminense. Com exceção de Duque de
Caxias, todos os demais municípios da região apresentaram crescimento do número
de estabelecimentos voltados para serviços de saúde.

Houve crescimento de estabelecimentos públicos e privados na região, com


destaque para o aumento deste último no município de Nova Iguaçu, que, aliás, é o
que concentra o maior número total de estabelecimentos de saúde da Baixada
Fluminense, firmando-se como um polo de saúde da região. O único hospital federal
da região, o hospital da Posse, em Nova Iguaçu, foi municipalizado, ou seja, passou
para a administração da prefeitura local.
130

Tabela 4-11- Estabelecimentos de serviços de saúde na Baixada Fluminense, 2005-2009.


Duque de São João de
Belford Roxo Japeri Mesquita Nilópolis Nova Iguaçu Queimados
Caxias Meriti
Serviços de Saúde 2005 2009 2005 2009 2005 2009 2005 2009 2005 2009 2005 2009 2005 2009 2005 2009
Estabelecimentos
26 77 212 194 12 18 17 23 28 54 107 242 17 22 72 102
de Saúde total
Estabelecimentos
de Saúde público 11 41 64 60 10 12 16 16 10 11 26 64 9 9 20 17
total
Estabelecimentos
de Saúde público 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0
federal
Estabelecimentos
de Saúde público 0 1 1 1 0 0 0 0 1 2 1 1 0 0 0 0
estadual
Estabelecimentos
de Saúde público 11 40 63 59 10 12 16 16 9 9 24 63 9 9 20 17
municipal
Estabelecimentos
de Saúde privado 15 36 148 134 2 6 1 7 18 43 81 178 8 13 52 85
total
Fonte: IBGE, Assistência Médica Sanitária.
131

A melhora no atendimento de saúde afeta diretamente a expectativa de vida


da população local, uma vez que o atendimento e encaminhamento correto as
demandas de saúde da população, levam a diminuição nos índices de mortalidade.
Neste sentido, acompanhando as melhoras em nível nacional e estadual, o índice de
esperança de vida ao nascer está aumentando na Baixada Fluminense como pode
confirmar na tabela abaixo.

Outro índice afetado diretamente pelas melhores condições de saúde é a


mortalidade infantil, esta vem diminuindo no país como um todo, e a Baixada
Fluminense acompanha o índice nacional.

Alguns municípios da Baixada Fluminense mostram uma queda na taxa de


fecundidade abaixo da média nacional (1,89), com exceção de Belford Roxo, Japeri,
Mesquita e Nilópolis, mas ao mesmo tempo, todos os municípios da região possuem
taxa de fecundidade superior à media estadual (1,68). A taxa de fecundidade baixa,
associada à uma taxa de envelhecimento maior, mostra que a população local
caminha para, num futuro próximo, configurar-se numa população envelhecida.

O envelhecimento da população é uma das características de países de


economia avançada, o perfil etário da população da Baixada Fluminense
caracteriza-se como uma população majoritariamente formada por jovens e adultos,
ou seja, com uma grande População Economicamente Ativa - PEA, como podemos
ver na pirâmide etária da região.

A pirâmide etária da Baixada Fluminense também permite inferir acerca de


políticas públicas necessárias, agora e num futuro próximo, para a sociedade local,
tais como uma política educacional consistente para melhor qualificar esta PEA,
além, de num futuro, de políticas voltadas para a saúde dos idosos, uma vez que
esta população esta se encaminhando para se configurar numa população de idosos
no futuro.
132

Tabela 4-12 - Esperança de vida ao nascer, Mortalidade infantil, Taxa de fecundidade e Taxa de envelhecimento da Baixada Fluminense, 1991, 2000
e 2010.
Lugar Esperanç Esperança Esperança Mortalid Mortalid Mortalid Taxa de Taxa de Taxa de Taxa de Taxa Taxa
a de vida de vida ao de vida ao ade ade ade fecundid fecundid fecundid envelhe de de
ao nascer nascer infantil infantil infantil ade total ade total ade total cimento envelh envelhe
nascer (2000) (2010) (1991) (2000) (2010) (1991) (2000) (2010) (1991) ecime cimento
(1991) nto (2010)
(2000)
Brasil 64,73 68,61 73,94 44,68 30,57 16,7 2,88 2,37 1,89 4,83 5,83 7,36
Rio de 66,42 69,42 75,1 29,94 21,21 14,15 2,1 2,06 1,68 5,95 7,43 8,91
Janeiro
Belford 62,82 67,99 73,5 41,52 22,7 16,54 2,57 2,32 2,08 3,47 4,72 6,18
Roxo
Duque de 65,17 68,54 75 33,87 21,44 14,07 2,42 2,41 1,73 3,88 5,17 6,61
Caxias
Japeri 62,56 66,66 73,51 42,4 25,9 16,2 2,97 2,57 2,14 4,08 4,95 5,64
Mesquita 66,19 69,51 75,31 30,86 19,36 13,97 2,4 2,2 2,05 4,37 5,79 7,71
Nilópolis 66,1 68,43 73,99 31,1 21,7 15,75 1,99 1,95 1,92 5,31 7,28 8,97
Nova 65,49 67,99 74,08 32,91 22,7 15,35 2,35 2,17 1,8 4,1 5,3 6,96
Iguaçu
Queimad 62,82 66,41 73,58 41,52 26,51 16,67 2,74 2,51 2,29 3,95 4,92 6,16
os
São João 65,17 69,65 74,87 33,87 19,06 14,56 2,35 2,27 1,89 4,23 5,75 7,47
de Meriti
Fonte: Atlas do desenvolvimento humano no Brasil, 2013.
133

Gráfico 11- Pirâmide Etária da Baixada Fluminense, 2000-2010.

Fonte: IBGE, Censo demográfico.


134

No que diz respeito à política educacional na Baixada Fluminense, 95,67% da


população local é alfabetizada, número superior à média nacional (90,98%) e
próxima à média fluminense (95,92%). Tal índice pode ser corroborado quando
analisado conjuntamente com a inserção e permanência dos jovens em período
escolar matriculados na rede educacional da região.

Como podemos ver na tabela 3.12, a relação da população com 18 anos ou


mais que concluiu o ensino fundamental tem aumentado desde o censo de 1991, o
mesmo ocorre com relação à população que tem entre 18 e 20 com ensino médio
completo e também a população de 15 a 17 anos com ensino fundamental completo.

A porcentagem da população entre 18 e 20 anos com ensino médio completo


mostra a população apta a entrar no ensino universitário, portanto, políticas públicas
voltadas para a expansão do ensino universitário, como as que vêm sendo feitas
pelo governo federal, permitem o acesso desta parte da população ao ensino
superior.

No caso da Baixada Fluminense, a região foi contemplada, no âmbito do


Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades
Federais (Reuni), com um campus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,
este abriga atualmente 10 cursos de graduação presenciais com cerca de 3000
alunos, sendo que mais de 90% deles moradores da região, e um curso à distancia,
com aproximadamente 1000 alunos.

Analisando a importância de um campus na Baixada Fluminense, o diretor do


campus, Prof. Dr. Alexandre Fortes, faz a seguinte reflexão: ‘A existência de um
campus de uma universidade federal representa uma grande oportunidade para
construção de um modelo de desenvolvimento regional que supere as marcas da
desigualdade e da exclusão, tão fortes no caso da Baixada’ (Entrevista realizada em
20 de março de 2014).

Em Xerém, distrito de Duque de Caxias, foi instalado em 2008 um Polo


avançado da UFRJ, em parceria com o Instituto Nacional de Metrologia e Qualidade
Industrial (INMETRO), a Prefeitura local e a Fundação para o Desenvolvimento
Tecnológico e Políticas Sociais – FUNDEC.
135

Tabela 4-13 - Porcentagem da população com ensino fundamental complete, por faixa etária.
Lugar % de 18 % de 18 % de 18 % de 18 % de 18 % de 18 % de 15 a % de 15 a % de 15 a 17
anos ou anos ou anos ou a 20 anos a 20 anos a 20 17 anos 17 anos anos com
mais com mais com mais com com com anos com com fundamental
ensino ensino ensino médio médio com fundamental fundamental completo
fundamental fundamental fundamental completo completo médio completo completo (2010)
completo completo completo (1991) (2000) completo (1991) (2000)
(1991) (2000) (2010) (2010)
Brasil 30,09 39,76 54,92 12,98 24,82 41,01 20,01 39,72 57,24
Rio de Janeiro 44,57 51,13 64,65 20,45 28,66 42,93 29,36 44,36 55,7
Belford Roxo 30,63 37,74 54,9 11,41 18,25 32,06 21,93 32,36 47,96
Duque de 34,67 42,33 58,41 13,07 24,38 38,3 25,04 38,04 51,33
Caxias
Japeri 22,81 29,13 47,18 11,24 16,78 32,38 15,89 27,91 42,43
Mesquita 42,54 49,39 66,24 14,67 25,48 42,87 27,21 43,3 53,16
Nilópolis 46,28 56,76 71,47 20,27 30,41 49,76 28,31 45,46 58,2
Nova Iguaçu 35,45 43,63 60,37 14,55 22,15 38,81 23,76 36,36 53,25
Queimados 28,64 37,15 53,57 13,33 16,66 33,41 20,4 26,86 46,51
São João de 37,11 46,48 61,42 13,93 24,7 40,87 24,61 40,71 52,59
Meriti
Fonte: Atlas do desenvolvimento Humano no Brasil, 2013.
136

A melhora ao acesso da população ao ensino superior já pode ser notada


quando se analisa o percentual de pessoa com o nível superior concluído em
relação ao ano de 2000.

A Baixada Fluminense passou de 1,67% da população com nível superior


concluído em 2000, para 3,61%, um número ainda muito abaixo da média estadual,
que é de 9,48% e do país, que é de 7,06% da população com nível superior
completo (IBGE: 2012).

A melhora nos índices de renda, saúde e educação na Baixada Fluminense,


propiciou uma melhora no Índice de Desenvolvimento Humano da região, o IDH-M.
Desta forma, cinco, dos oito municípios da Baixada Fluminense, estão alocados na
faixa de desenvolvimento humano considerado alto (IDH-M entre 0,7 e 0,799), a
saber: Duque de Caxias (0,711), Mesquita (0,737), Nilópolis (0,753), Nova Iguaçu
(0,7113) e São João de Meriti (0,719).

Destarte não estar alocado entre os municípios na faixa de IDH alto, Japeri foi
o município da Baixada Fluminense que obteve maior incremento no IDH entre os
anos de 1991 e 2010, 57,28%, seguido por Queimados (51,79%) e Belford Roxo
(46,15%).

Gráfico 12 - Índice de Desenvolvimento Humano para municípios da Baixada Fluminense,


1991, 2000 e 2010.

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano, 2013.


137

Destarte o avanço, mesmo que ainda tímido, em alguns índices que indicam
melhoras na questão social na Baixada Fluminense, a região ainda sofre com a falta
de ação pública no setor de segurança pública, pois a mesma se destaca quando no
que diz respeito ao número de homicídios. O aumento da violência na região está
diretamente ligado à política de segurança púbica aplicada pelo estado e que
prioriza a ocupação de favelas na capital através das Unidades de Polícia
Pacificadoras, as UPPs, como destaca o Professor José Claudio de Souza Alves,
especialista no estuda da violência na Baixada Fluminense.

Os índices da violência, notadamente os homicídios


dolosos, conheceram um crescimento vertiginoso
desde os anos 70 até meados dos anos 2000. A
partir de 2005, conheceram uma pequena redução,
após a chacina de 29 de março deste ano, que
vitimou 29 pessoas. No entanto, a partir de 2012,
não só os índices de homicídios, mas todos os
demais indicadores: lesão corporal, roubo de carro,
roubo de carga, roubo ao comércio, autor de
resistência, desaparecidos, passaram a conhecer
um crescimento significativo. Logo, a última década
conheceu uma leve redução, para logo depois sentir
um crescimento acelerado. Este fato reflete
diretamente a política de segurança adotado no
estado do Rio de Janeiro. Privilegiando áreas de
interesse do capital e dos ganhos políticos, a política
de UPPs ignora a existência de uma região
metropolitana. Enquanto põe 1 policial para atender
a cada grupo 40 habitantes, em regiões da Zona Sul,
Tijuca e centro da cidade do Rio de Janeiro,
conforme os projetos voltados para os mega
eventos: Copa do Mundo e Olimpíadas, determina
para a Baixada Fluminense 1 policial para cada
grupo de 1.900 habitantes, numa absurda
discrepância. Isto numa lógica de que colocar
policiais, armados e com veículo significasse
redução da violência, o que não é algo consensual.
A perda de rentabilidade do crime organizado na
cidade do Rio reconfigura a geopolítica deste crime,
tornando a Baixada Fluminense uma nova fronteira
para recomposição do capital criminoso e a
introdução de novas modalidades de crime, numa
velocidade e intensidade suficiente para compensar
as perdas.
(Entrevista concedida em 09 de março de 2014).
138

Para Souza Alves, a relação entre os investimentos recebidos pela região e a


melhora no quadro social da mesma não se confirma, como ele explicita:

Não. Estes investimentos ou são pífios, diante da


magnitude dos problemas sociais, ou pelo contrário,
provocam o aumento desta desigualdade. Alguns
exemplos. A destinação do lixo da cidade do Rio de
Janeiro e de cidades da BF para serem depositados
no CTR Santa Rosa, em Seropédica, evidencia a
junção da política pública e do capital privado na
implementação de um dos maiores crimes
ambientais da região. O governo estadual, através
de projeto da Secretaria Estadual de Meio Ambiente,
em parceria com a Hastec/Serbe/Ciclus enterram 9
mil toneladas de lixo por dia em cima do segundo
maior aquífero de água potável do estado, o aquífero
Piranema. Sem centro de tratamento do chorume, a
contaminação do solo e água já vem ocorrendo,
juntamente com a contaminação do ar pelos gazes,
poeira do chorume e odor. Assim, 8 mil famílias que
moram no bairro Chaperó vêm tendo um sobre-
sofrimento além daqueles relativos à deteriorada
infraestrutura urbana na qual vivem. Outro exemplo
é o do arco-metropolitano. Apenas na cidade de
Nova Iguaçu, foram arrancadas 80 mil árvores, sem
que qualquer compensação ambiental fosse feita.
Some-se a isto o futuro fluxo de veículos nesta
imensa rodovia não-pedagiada e você terá uma das
realidades mais degradadas e poluídas do estado,
impactando mais uma vez, população pobre e
periférica. A justificativa de que o arco trará
empresas e empregos é desmentido com os baixos
níveis de escolaridade dos moradores da região.
Empregados, quando o são, na fase da construção
das indústrias, terminam excluídos dos empregos
melhor remunerados e permanentes, quando do
funcionamento destas unidades. O arco prevê a
ligação entre dois extremos, a Companhia
Siderúrgica do Atlântic – CSA, em Santa Cruz e o
Comperj, em Itaboraí. Entre as duas modalidades
mais poluidoras e contaminadoras de indústria do
mundo, a siderúrgica e a petroquímica. A CSA há
anos vem contaminando a população com limalha
de ferro que lança ao ar. O Comperj irá consumir
importantes recursos hídricos da região serrana e
jogará os dejetos no mar em Maricá. Em, ambas a
empregabilidade é reduzida em função da tecnologia
139

adotada. As empresas que virão para este eixo


acompanharão o mesmo padrão poluente e de baixa
empregabilidade. Os exemplos aqui apresentados
são apenas dois de vários outros, menores. Eles
revelam uma lógica mais ampla e dominante: um
modelo industrial, poluidor, segregador e injusto, que
privilegia interesses econômicos e políticos distintos
daquele da maioria da população da região que
arcará com o sofrimento diário da vida em áreas
degradadas, contaminadas, pobres e desassistidas
das mais fundamentais políticas sociais.
(entrevista concedida em 09 de março de 2014).

Os dados do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro corroboram a


análise de Souza Alves. Entre os aos de 2008 e 2013 foram mortas mais de 15 mil
pessoas na Baixada Fluminense, número digno de uma guerra civil.

Gráfico 13 - Número de homicídios totais na Baixada Fluminense entre 2008-2013.

Fonte: ISP/RJ, 2014.

Comparando os dados com o estado do Rio de Janeiro, a Baixada


Fluminense possui cinco municípios (Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Japeri, Belford
Roxo e Nilópolis) entre os quinze mais violentos do estado, sendo que Duque de
Caxias é o que possui maior índice de homicídios do estado, 60,3 pessoas por cem
mil habitantes, como pode ser confirmado na tabela 3.13.
140

Tabela 4-14- Número de Homicídios dos municípios da Baixada Fluminense e Rio de Janeiro,
Taxa de homicídios por cem mil hab e Ranking estadual.
População Nº. Homicídios Taxa Posição
Município
2011 2009 2010 2011 2011 Estad. Nac.
Belford Roxo 472.008 67 173 165 35,0 14 351
Duque de Caxias 861.158 582 576 519 60,3 1 88
Japeri 96.430 8 56 40 41,5 10 265
Mesquita 168.966 23 49 27 16,0 45 888
Nilópolis 157.710 21 58 52 33,0 15 397
Nova Iguaçu 799.047 277 411 374 46,8 5 206
Queimados 139.188 19 52 45 32,3 19 413
São João de Meriti 459.379 115 157 111 24,2 29 626
Rio de Janeiro 6.355.949 1.952 1.764 1.467 23,1 30 662
Fonte: Mapa da Violência-Centro Brasileiro de Estudos Latino Americanos –CEBELA, 2013

Para Souza Alves a Baixada Fluminense constitui-se numa


particularidade/totalidade da sociedade brasileira quando o assunto é a questão
social.

A projeção no tempo (história) e no espaço


(geografia) da questão social na BF, acompanha,
com sua peculiaridade, a questão social do país. Ela
está diretamente relacionada à desigualdade, à
concentração de dinheiro e poder, à reprodução do
patrimonialismo e do poder oligárquico, à
perpetuação de grupos na dominação econômica e
política, à segregação sócio-espacial-política de
grandes grupos sociais a partir do não acesso aos
equipamentos urbanos, às políticas públicas e aos
serviços de qualidade que pudessem alterar este
quadro. Na Baixada Fluminense, este quadro é
recoberto pelo elevado padrão da violência e o seu
uso como perpetuador desta estrutura social. A
violência encaminha-se como um mediador universal
que referenda a desigualdade, a concentração de
capital e poder, a segregação social, a dominação
intensa e intransponível dos que se beneficial com
toda esta desigualdade, violência e segregação.
Acredito que cada região do país traz a sua
peculiaridade, e que cada peculiaridade ajuda a
compreender como se processa, nos seus detalhes,
esta estrutura de dominação e desigualdade. A
Baixada Fluminense, constituiu-se para mim como
uma particularidade/totalidade da sociedade
brasileira.
(Entrevista concedida em 09 de março de 2014).
141

Os municípios da Baixada Fluminense, que durante anos foram classificados


de cidades-dormitórios, passa, neste inicio de século, por um processo de
transformação econômica, que, de alguma forma, traz reverberações no âmbito
social, não recuperando o passivo histórico da região, mas, de alguma forma,
trazendo melhoras nas condições de vida da sociedade local. Tais cidades
hodiernamente, já não podem mais serem classificadas como apenas dormitório
para a massa trabalhadora, uma vez que estas passam a exercer a função não só
de dormitório, mas também de local de trabalho.
142

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.

A exposição feita ao longo desta tese buscou destacar o papel de uma região
historicamente alijada do progresso econômico e que serviu como local de moradia
para os trabalhadores que se deslocavam diariamente para seu local de trabalho, a
cidade do Rio de Janeiro. A Baixada Fluminense foi, durante muitos anos, marcada
sob o manto da violência e exclusão social, passa atualmente por um processo de
mudanças econômicas, com reflexos, ainda que baixos, no nível social.

Na introdução, buscamos delimitar o conceito de Baixada Fluminense


utilizado nesta tese, lembrando que há várias definições, dependendo do ângulo de
análise, acerca do que venha a ser delimitado como Baixada Fluminense. A
delimitação utilizada nesta tese partiu do pressuposto de que a região que compõe a
Baixada Fluminense é aquela composta pelos municípios que tiveram Nova Iguaçu
como matriz comum, ou seja, foram emancipados deste município.

No capítulo 1 mostramos o processo de ocupação da região, elencando a


importância das vias de acesso da região para o desenvolvimento econômico da
mesma. A questão dos ciclos agrícolas também foi discutida neste capítulo,
destacando o papel dos ciclos da cana, do café e da laranja para a formação urbana
da região. Mostrou-se que foi, a partir da decadência da citricultura, associado ao
processo de expansão e valorização imobiliária do município-sede, que a Baixada
Fluminense funcionou como área estanque para receber a massa de trabalhadores
imigrantes que para o estado do Rio de Janeiro viria nos anos de 1940. Foi também
discutido a questão da falta do planejamento urbano para receber esta população,
faltando infraestrutura adequada no que tange aos serviços básicos necessários ao
bem estar desta.

Ficou evidenciado neste capítulo que a Baixada Fluminense serviu como


receptáculo de uma onda de migração no Brasil entre os anos 1940 e 1960, grande
parte dessas pessoas vieram da região norte/nordeste do país, basicamente em
função das secas que assolaram a região no período e associado ao fato da
abertura de importantes rodovias como a Rio-Bahia, por exemplo. Mas também
vieram pessoas de MG e do ES.
143

Em relação à estrutura urbana, foi justamente a falta dela que fazia com que
os preços dos loteamentos fossem mais baratos aqui do que na capital. Outro ponto
é a expansão da indústria na capital federal, a falta de áreas e o encarecimento
destas para destinação à moradia, associada ao processo de crise nos laranjais
iguacuanos no inicio da década de 1940, isso contribuiu de sobremaneira para a
expansão dos loteamentos na região. Outro fator importante, que não pode ser
deixado de lado, foram os transportes: a instalação da tarifa única para a EFCB em
direção ao subúrbio e à Baixada Fluminense contribuiu enormemente para o
barateamento desta força de trabalho que aqui se localizava. A linha de ferro tem
importante parcela de contribuição na expansão da região.

Desta forma podemos concluir que o processo de ocupação e expansão da


malha urbana da Baixada Fluminense configurou-se, como analisado por Santos,
Rahy et all (2013), numa estrutura marcada pela desigualdade sócioespacial, o que
acabou dificultando a gestão do território.

No capitulo 2 da tese faz uma análise sobre a economia nacional e


fluminense no pós-guerra. Para isso, faz-se um breve retrospecto do processo de
industrialização brasileira, passando pelos períodos chamados de industrialização
restringida e pesada da economia. Nesta análise, foi mostrado que o período de
crescimento desencadeado no período do pós-guerra, acabou truncado na década
de 1970 em função da chamada crise da dívida, fazendo com que o país entrasse
num período de recessão econômica severa tendo no processo de aceleração
inflacionária sua reverberação direta. Desta forma, foi realizada neste capítulo uma
recuperação histórica acerca dos planos de combate à inflação no período.

Ainda no segundo capítulo da tese, foi evidenciado o processo de


decadência da economia fluminense no período pós-guerra, bem como seu
processo de recuperação no inicio da década de 1990, como mostrado pelos
autores aludidos no capítulo. Foi colocado que houve por parte da economia
fluminense, um processo de perda econômica, ainda que relativa, para a economia
paulista. Cabe ainda ressaltar a alusão à experiência político-administrativa
vivenciada pelo estado do Rio de Janeiro, enquanto Estado da Guanabara e seu
processo de fusão.
144

Entre as décadas de 1940 e 1940 o estado do Rio de Janeiro consolidou-se,


como visto no segundo capitulo, num grande fornecedor de matérias-primas
industriais, mas isto não impediu o contínuo processo de esvaziamento econômico
vivenciado pelo estado, que acabou culminando num processo de crise que atingiu
diversas expressões da vida da sociedade fluminense, como nominado por Natal
(2005), a expressão econômica, a social e a institucional.

A chamada retomada do crescimento econômico fluminense, como visto


neste capítulo, deu-se a partir do inicio da década de 1990 e como evidenciado foi
calcado no aumento da extração de petróleo e gás na Bacia de Campos, associado
a este processo tivemos, como destacado por Silva (2004), um processo de
desconcentração produtiva a nível regional no estado do Rio de Janeiro, bem como
o abandono de uma política de desenvolvimento regional, além do fortalecimento
das chamadas concepções localistas e por fim, o surgimento de novos arranjos
produtivos e organizacionais dado o emprego de novas tecnologias no processo
produtivo.

Por fim, foi analisado os rebatimentos deste processo de crescimento,


estagnação e recuperação econômica fluminense na região da Baixada Fluminense.
Foi colocado que a expansão desta região deu-se no contexto de expansão da
metrópole carioca, que acabou incorporando sua área Peri urbana para
assentamento da população trabalhadora, que serviu nas palavras de Francisco de
Oliveira, como um verdadeiro exército industrial de reserva e servindo como
verdadeiras cidades-dormitório.

O processo de expansão industrial na região da Baixada Fluminense,


associado ao fato de se encontrar terrenos baratos e transporte fácil, também
contribuiu para o crescimento demográfico entre os anos de 1960 e 1980, uma vez
que a questão locacional serviu como atrativo para as empresas e população se
instalarem na região. Entre essas duas décadas, a Baixada Fluminense viu sua
população aumentar em 150%, enquanto que o município do Rio de Janeiro cresceu
54% no mesmo período. Neste contexto, os municípios de Duque de Caxias e Nova
Iguaçu, passam a exercer a função de centro industrial e dormitório desta população
que para a Baixada se deslocava.
145

Não obstante, vimos que tal expansão do setor industrial, acabou por produzir
poucas sinergias positivas na região, em termos de desenvolvimento econômico e
social da região. Tal fato comprova-se quando se vê um descolamento entre o
crescimento econômico do período e as condições de vida da população local, esta
acabou apenas servindo, concordando com a análise de Oliveira (2003), como
exército industrial de reserva, ou seja, como forma de baixar os custos de oferta da
força de trabalho permitindo maior acumulação de capital por parte dos detentores
dos meios de produção.

A infraestrutura na região continuou precária, isso acabou se refletindo na


baixa qualidade de vida da sociedade local. Além disso, outra questão que chama a
atenção da Baixada Fluminense no período em tela é a violência na região; como
visto o ápice se deu no final dos anos de 1980, com uma média de 95,55 homicídios
por cem mil habitantes.

De certa forma podemos concluir, a partir da leitura do capítulo 2 desta tese,


que a integração dos processos que redefiniram a economia e o território entre o
final da Segunda Guerra e o inicio da década de 1990, tornou o espaço da
metrópole fluminense a localização preferencial para o processo de expansão de
sua indústria e, associada a esta, uma gama de serviços ao produtor, como os
transportes, a armazenagem, as comunicações, as atividades imobiliárias, os
serviços prestados às empresas e uma gama de outros segmentos. No entanto, isso
não se refletiu em melhoras na qualidade de vida da população local neste período,
uma vez que a marca da desigualdade, exclusão social e violência traduziam o
significado de Baixada Fluminense para boa parte dos moradores e não-moradores
da região.

No terceiro e último capítulo da tese, foi analisado a estrutura econômica,


social e espacial dos municípios da Baixada Fluminense, neste sentido, foram
levantadas questões relativas à demografia recente da região, ao produto, aos
setores da economia, bem como os investimentos recebidos pela região a partir dos
anos 2000 e por último, a questão social, destacando alguns apontamentos recentes
para a região em tela.

A estrutura socioeconômica dos municípios da Baixada Fluminense revela-se


complexa e heterogênea, de forma que a análise feita a partir dos dados explicitados
146

neste capítulo mostra que o crescimento econômico experimentado pela região nos
últimos anos, notadamente a década de 2000, foi absorvido de forma
completamente diversa entre estes municípios, exemplificando: Duque de Caxias foi
um dos municípios da região, e do país, que mais receberam investimentos tanto
públicos quanto privados, e isso se reflete no PIB per capta do município, um dos
mais altos do estado do Rio de Janeiro. Quando a análise pousa sobre a questão
social, a exclusão social ainda marca fortemente este município, e a violência reflete
este processo de tal modo que a cidade figura em primeiro lugar no ranking das
cidades mais violentas do estado do Rio de Janeiro, com 60,3 mortes por cada
grupo de cem mil habitantes.

No que tange ao crescimento demográfico da Baixada Fluminense, esta


cresceu 0,05% entre 2000 e 2010, portanto, abaixo da taxa do estado do Rio de
Janeiro e do Brasil, 1,06% e 1,17% respectivamente. Os municípios que mais
cresceram na região foram Japeri (1,38%) e Queimados (1,24%), ambos acima da
taxa estadual e do país. Tal crescimento verificou-se em consonância com o
crescimento da economia destes dois municípios, que tiveram grande expansão do
produto na segunda metade da década de 2000, como verificado na tabela 3.5 deste
capítulo.

Destarte o baixo crescimento populacional no período analisado, a Baixada


Fluminense ainda revelou-se densamente povoada, com uma média de 2.380
habitantes por km², com destaque para o adensamento de São João de Meriti, com
mais de 13.000 habitantes por km², um dos maiores do mundo.

Quando analisamos o produto da Baixada Fluminense, optamos por dividir


esta análise em dois períodos distintos, o primeiro entre os anos de 1999 a 2006 e o
segundo entre os anos de 2007 e 2011, na tentativa de identificarmos alguma
tendência em relação ao produto na região e também da mudança de metodologia
no cálculo do produto engendrada pelo IBGE. Desta forma, verificou-se no primeiro
período analisado que, quando analisado em conjunto, os municípios da Baixada
Fluminense tiveram crescimento de 1,71% entre 1999 e 2006, média acima do
estado do Rio de Janeiro que obteve queda de -4,17% do PIB no período. Quando a
análise é feita por município, verifica-se que este crescimento se dá em função do
excelente desempenho do município de Duque de Caxias que teve crescimento do
147

produto da ordem de 39,53%, alavancado basicamente pelos investimentos no ramo


petrolífero na região. Os demais municípios da Baixada tiveram desempenho
negativo do produto.

Quando analisamos o segundo período, 2007 a 2011, verificamos uma queda


no desempenho do produto da Baixada Fluminense da ordem de -8,03%; enquanto
que o estado do Rio de Janeiro registrou crescimento de 20,36% no mesmo período.
Novamente, quando analisamos o produto por município, verificamos o oposto do
ocorrido no período anterior: ou seja, todos os municípios da Baixada registraram
crescimento do produto, com destaque para Japeri e Queimados, com exceção de
Duque de Caxias que registrou queda de -27,37% do PIB no período analisado.

O fato de a economia caxiense estar diretamente ligada ao setor de petróleo,


o que a propiciou crescimento no período anteriormente analisado, também foi muito
provavelmente um dos culpados pela queda no produto entre 2007 e 2011,
basicamente em função da crise mundial registrada em 2008, que fez com que a
demanda por esta commoditie diminuísse ao mesmo tempo em que o preço da
mesma sofreu forte queda; impactando diretamente as receitas do município em
tela.

A análise dos setores também foi feita neste capítulo 3 da tese, concluindo
que a região da Baixada Fluminense reproduz o comportamento das demais regiões
metropolitanas do país no sentido em que há grande peso do terciário e do setor
secundário. O setor primário é muito reduzido nas cidades da Baixada Fluminense e
com pouca representatividade na formação do produto, o que levou a alguns
municípios declararem seus territórios como totalmente urbanos.

O setor terciário responde pela dinamização de núcleos urbanos como Nova


Iguaçu e Duque de Caxias, o que acabou criando novos eixos de deslocamentos
interurbanos além do tradicional centro-periferia, como analisado por Santos, Rahy
ett all (2013).

O dinamismo dado pelo setor de comercio e serviços na região, bem como a


revitalização de atividades ligadas a setores tradicionais como a indústria naval, e a
implantação de novos empreendimentos ligados a siderurgia, petroquímica e
infraestrutura viária fazem surgir na Baixada Fluminense novas centralidades, além
do já consolidado eixo Nova Iguaçu-Duque de Caxias, como é o caso do
148

crescimento robusto do produto experimentado pelo município de Queimados nos


últimos anos.

Os investimentos realizados na Baixada Fluminense no inicio do século XXl


foi alvo de análise neste capítulo, verificando-se a necessidade de se distinguir entre
os investimentos industriais, seja na construção de novas plantas industriais, seja na
compra de maquinas e equipamentos visando o aumento da capacidade produtiva
de empresas já instaladas; e os investimentos na construção civil.

Em relação aos primeiros, foi constatada a concentração destes nos


municípios de Queimados, Duque de Caxias e Nova Iguaçu, uma vez que estes
receberam a maioria dos investimentos industriais na região da Baixada Fluminense,
basicamente por já possuírem uma infraestrutura logística e locacional para
instalação das mesmas, como o caso dos Distritos Industriais de Queimados e
Duque de Caxias. No que diz respeito ao segundo grupo, os investimentos em
construção civil, nota-se grande concentração em Nova Iguaçu e Duque de Caxias,
especificamente na região central destes dois municípios, conformando um processo
de grande expansão imobiliária em ambos, com grande valorização destas áreas
centrais. Cabe ainda lembrar os investimentos públicos na construção de casas
populares através do programa do governo federal Minha Casa, Minha vida. Estes
seguiram o padrão histórico de construção de moradias populares, ou seja,
localizadas nas periferias, longe das áreas de oferta de emprego, com pouca oferta
de transporte público, pouca infraestrutura social (escolas, hospitais, lazer, etc) e
poucas condições de expansão.

Os investimentos públicos também foram alvo de análise no terceiro capítulo


da tese, estes se fizeram presentes principalmente a partir de iniciativas diretas do
governo federal, possibilitado pela aliança política PT-PMDB, com destaque para as
obras de construção do Arco Metropolitano, da expansão da REDUC, e do
financiamento de obras voltadas para o saneamento básico na região. Vale lembrar
que a ação federal verificou-se de forma indireta através do financiamento da
expansão industrial via BNDES.

Chama a atenção o fato de grande parte dos investimentos, mais


especificamente os realizados na área de química e petroquímica, são investimentos
intensivos em capital, ou seja, com pouco rebatimento na geração de empregos em
149

relação ao montante investido. Um exemplo que mostra bem esta situação é a


instalação de uma fábrica da Rolls-Royce no município de Duque de Caxias, com
previsão de investimentos da ordem de 83 milhões de reais e com a geração de 24
empregos diretos depois de terminada a construção da fábrica, ou seja,
provavelmente empregos que exigem uma alta especialização produtiva que, o
município anda não tem capacidade de ofertar este tipo de mão-de-obra.

Em relação à questão social, vimos que a expansão da metrópole fluminense


em direção à Baixada acabou por acirrar os problemas relativos à infraestrutura
urbana, principalmente aquelas que atingem diretamente às classes menos
abastadas. Isso se dá em função de que a alocação dos recursos públicos voltados
para este tipo de infraestrutura foi orientado pela lógica do capital, no sentido de
privilegiar as áreas mais valorizadas do espaço da região, ou seja, as áreas centrais.

Os investimentos recebidos pela região a partir do inicio do século XXl


permitiram que algumas inovações fossem geradas, mas apesar destes, algumas
permanências ainda existem na região, uma vez que, apesar da melhoria dos
investimentos (uma inovação em relação aos anos 1990 e 1980) não houve
melhorias significativas ainda na questão social e a região ainda é muito marcada
pela pobreza, pela falta de infraestrutura urbana e segurança; e isso significa uma
permanência com o padrão vivido nos anos 1980 e 1990. Assim, a Baixada
Fluminense pode ser considerada um caso clássico de crescimento periférico que
não apresenta desenvolvimento, tal como observado em varias regiões
metropolitanas da América latina.

Abaixo, listamos alguns pontos, que ao nosso entendimento configuram


inovações e permanências na Baixada Fluminense.
150

Inovações Permanências
Construção de Habitações Populares Altos índices de Violência
Aumento da Renda Falta de tratamento do Esgoto
Investimentos em novos setores Sub-moradias
Ampliação do número de escolas e ensino
Exclusão Social
técnico e superior
Ampliação do mercado imobiliário Segregação espacial
Alta informalidade Econômica de serviços
informais.

Baixa qualidade no ensino fundamental


Incapacidade na alteração do déficit
habitacional
Ausência de aparelhos públicos e privados
para cultura e lazer
(I)Mobilidade urbana

A Baixada Fluminense, como periferia do núcleo metropolitano, tem como


característica ser bastante populosa e, portanto, fornecedora de mão-de-obra para a
capital, e também ainda concentra altos níveis de pobreza e baixa qualidade dos
serviços públicos, nesse sentido vemos a necessidade cada vez maior de um
processo de gestão que evolva todos os municípios da região, para que o
planejamento e as ações territoriais sejam orientados a partir de uma visão integrada
do arranjo metropolitano, nos moldes do que foi a FUNDREM na década de 1970
(SANTOS, RAHY et all, 2013).

A necessidade de uma gestão integrada se mostra, na medida em que grande


parte dos problemas comuns entre os municípios da região são de difícil solução se
tomada de forma isolada, como se apresenta o caso do saneamento ambiental; do
uso sustentável dos recursos naturais e hídricos, da questão da mobilidade urbana,
da habitação, da logística e da infraestrutura e por fim, da segurança pública.

Finalizando, entendemos que a Baixada Fluminense vem passando por


transformações socioeconômicas a partir do século XXl, notadamente alavancada
pela política de investimentos públicos, diretos e indiretos, em vários setores chave
da economia; não obstante, tais transformações estão longe de recuperar o passivo
histórico de uma região que, por tanto tempo, foi relegada ao segundo plano quando
o assunto era políticas públicas.

A realidade da Baixada Fluminense é diferente da observada nos anos 1970 e


1980, uma vez que constatamos um quadro de transformações, mas ainda sim, é
151

muito cedo para falarmos de modificações estruturais e, por enquanto, os


investimentos apontados não foram capazes de recuperar o passivo histórico, uma
vez que não foi identificado um processo de integração entre os projetos analisados,
e ainda há uma insuficiência de políticas públicas voltadas para o social.

.
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VIEIRA. D. J. Um estudo sobre a Guerra Fiscal no Brasil. Tese de Doutorado


defendida no Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas.
Campinas: 2012.
159

ANEXOS

Anexo A – Mapa Político do Estado do Rio de Janeiro


160

Anexo B - Entrevista FIRJAN Regional Baixada – Área l – concedida em 18 de


março de 2014.

1. Gostaria, primeiramente, que elaborasse uma pequena descrição sobre sua


atuação profissional, elencando, se julgar necessário, as contribuições na sua
área para a Baixada Fluminense.
O SISTEMA FIRJAN, constituído pela FIRJAN, CIRJ,SESI,SENAI e IEL, é uma
organização prestadora de serviços, cuja missão é promover a competitividade
empresarial, a educação e a qualidade de vida do trabalhador e da sociedade,
contribuindo para o desenvolvimento sustentável do estado do Rio de Janeiro. As
Representações Regionais são peças chaves na mobilização de empresários para
apoiar as ações institucionais do SISTEMA FIRJAN em defesa dos interesses dos
seus associados em nível municipal, estadual e federal. Especificamente, A
Representação Regional da Baixada Área I, tem abrangência em nove municípios:
Nova Iguaçu, Nilópolis, Mesquita, Queimados, Japeri, Paracambi, Seropédica,
Itaguaí e Mangaratiba.

2. A Baixada Fluminense tem sido receptáculo de diversos investimentos


públicos e privados, principalmente na segunda metade da década de 2000.
Tais investimentos, em sua opinião, impactaram de que forma região em
questão.
Após décadas de abandono pelos sucessivos governos, de ser considerada um
conjunto de cidades-dormitório, a Baixada Fluminense entrou na rota do
161

desenvolvimento. Mesmo no atual cenário de incertezas na economia brasileira, a


região tem demonstrado grande capacidade de crescer. Segundo o estudo Decisão
Rio, realizado pela FIRJAN, somente no período 2012/2014 estavam previstos
investimentos de mais de R$ 11 bilhões em toda a Baixada Fluminense, em projetos
grandiosos como o Arco Metropolitano e o Prosub - Programa de Desenvolvimento
de Submarinos, que está construindo, em Itaguaí, o primeiro submarino de
propulsão nuclear do Brasil e outros quatro submarinos convencionais. No futuro
está prevista, também em Itaguaí, a instalação de uma base off-shore da Petrobrás,
que apoiará a exploração do pré-sal e levará toda uma cadeia de fornecedores e
prestadores de serviços para a região. Mas temos grandes desafios a serem
vencidos. A Baixada Fluminense precisa se preparar agora para o crescimento
econômico prometido para os próximos 5 a 15 anos. Esses investimentos gerarão
muitos empregos, melhoria na renda e crescimento econômico, mas aumentarão a
demanda de setores como habitação, educação, qualificação profissional, saúde,
infraestrutura e saneamento.

3. Quais os principais gargalos existentes na região para a realização de novos


investimentos.
Atrasos no planejamento urbano, entraves com o licenciamento ambiental,
excesso de burocracia e problemas de infraestrutura atrasam o desenvolvimento da
região. A mobilidade urbana se tornou uma dor de cabeça para os empresários com
a rodovia Presidente Dutra saturada, assim como o serviço deficiente prestado por
concessionárias de fornecimento de energia, água, gás natural e telefonia/banda
larga.

4. Fala-se muito na vocação logística da região; na sua opinião esta vocação é


real? Há possibilidades da região transformar-se num Hub logístico?
Sim, essa é uma possibilidade real. A Baixada concentra o maior estoque de
infraestruturas logísticas do estado e um dos maiores do país, com destaque para o
Porto de Itaguaí, a Rodovia Presidente Dutra e a malha ferroviária da MRS (que liga
Minas Gerais e São Paulo aos portos de Itaguaí e do Rio de Janeiro). E aguardamos
ansiosamente a conclusão do Arco Metropolitano, que terá um grande impacto sobre
a região nos próximos anos. Estamos localizados em uma posição privilegiada, no
caminho entre as duas maiores metrópoles e mercados consumidores do Brasil. E
162

novas iniciativas prometem confirmar essa “vocação logística” Em 2013 a prefeitura


do município de Queimados apresentou o projeto de um Terminal Logístico
Ferroviário, o primeiro “porto seco” do tipo no estado. E o porto de Itaguaí, o 4º mais
importante do Brasil, está recebendo maciços investimentos para aumentar a sua
capacidade, hoje correspondente a aproximadamente 18% de todo o volume
movimentado em portos no país.

5. Os investimentos públicos na região atendem as demandas do empresariado


local?
Trabalhamos em parceria com o poder público, mas os investimentos estão longe
de acompanhar a crescente demanda das indústrias e da população. No momento,
está sendo articulado os primeiros entendimentos oficiais para a criação do Polo
Industrial da cidade de Nova Iguaçu. O projeto deve ocupar uma área de 805 mil
metros quadrados, de propriedade de Furnas, localizada à margem da Via Dutra,
próximo à fábrica de Manilhas Artsul. O desfecho do projeto, ainda depende de uma
permuta entre o município de Nova Iguaçu e Furnas, que será negociada pelo
Governo do Estado. A empresa de geração e transmissão de energia pleiteia, em
troca, uma área na divisa de Nova Iguaçu com Japeri.

6. Na sua visão, quais outros investimentos seriam necessários para dinamizar o


crescimento econômico na região?
A minha visão é a visão de todo o Sistema FIRJAN, explícita no documento
Visões de Futuro, que elencou propostas para “desatar os nós” que impedem um
crescimento mais pujante da economia do estado. Dentre as propostas para a região
destaco a construção do novo trecho da Via Light, a conclusão das obras do Arco
Metropolitano, a ligação do Polo Gás-Químico de Caxias com o Arco Metropolitano
através do “Arquinho”, a adequação dos serviços das concessionárias de água,
energia, telefonia e gás natural e a elaboração de um Plano Diretor Integrado para
os municípios da região metropolitana que garanta a ocupação ordenada do
território devido à expansão populacional prevista e a criação de novos distritos
industriais, preservando e adequando os já instalados.
163

Anexo C – Entrevista FIRJAN – Regional Baixada l l - concedida em 12 de


março de 2014.

1. Gostaria, primeiramente, que elaborasse uma pequena descrição sobre sua


atuação profissional, elencando, se julgar necessário, as contribuições na sua área
para a Baixada Fluminense.

Nossa Representação Regional da FIRJAN na Baixada Fluminense – Área II tem


atuação nos seguintes municípios da Baixada: Duque de Caxias, Belford Roxo, São
João de Meriti, Magé e Guapimirim. Com foco no meio empresarial, a articulação se
faz junto aos empresários, poder público municipal (atuando junto aos Prefeitos e
seu staff) na busca por melhorias que facilitem a vida do empresariado e por
consequência a sociedade como um todo. Demais autoridades civis e militares,
dentro do âmbito municipal, também fazem parte da nossa área de atuação na
busca pela melhoria da qualidade de vida dos munícipes.

2. A Baixada Fluminense tem sido receptáculo de diversos investimentos


públicos e privados, principalmente na segunda metade da década de 2000. Tais
investimentos, em sua opinião, impactaram de que forma região em questão.

A Baixada Fluminense tem sido objeto de atrações de novos empreendimentos,


principalmente no que diz respeito à atração de novas indústrias. Visando fomentar
a atração das mesmas, realizamos estudos que comprovam essa tendência. Os
164

municípios de Duque de Caxias, Magé, Guapimirim e Belford Roxo, possuem áreas


que fortalecem essa tendência. Por outro lado, com a vinda de novas empresas e o
crescimento populacional, há necessidade do poder público tomar medidas que
venham a mitigar as dificuldades que esse crescimento desencadeia. Nossa
Representação, através da nossa área técnica, vem buscando assessorar os
gestores municipais de medidas e providências que necessitam de maior atenção.

3. Quais os principais gargalos existentes na região para a realização de novos


investimentos.

A infraestrutura e logística existente, não estão acompanhando as necessidades


das empresas existentes, bem como as que vieram a fazer parte do parque
industrial. Pontos chaves como: Fornecimento de água, telefonia, banda larga são
fatores que merecem um cuidado especial pelos gestores municipais. Não se pode
deixar de citar a burocracia existente nos órgãos municipais, aquém das
necessidades empresariais. Outro ponto de grande importância, refere-se às vias de
acesso aos municípios, bem como o arruamento existente, que são incompatíveis
com o aumento do tráfego, bem como o suporte necessário das rodovias que não
estão condizente com os tipos de veículos pesados que circulam pelos municípios.

4. Fala-se muito na vocação logística da região; na sua opinião esta vocação é


real? Há possibilidades da região transformar-se num Hub logístico?

Positivo, principalmente pelas rodovias (Rodovia Washington Luiz e Dutra) que


cortam os principais municípios de Duque de Caxias, Belford Roxo, São João de
Meriti e Nova Iguaçu. Destaca-se que o Arco Metropolitano irá criar um corredor de
perfil logístico-fabril, garantindo acesso a novas áreas para instalação de indústrias
com excelentes condições de acessibilidade.

5. Os investimentos públicos na região atendem as demandas do empresariado


local?

O ritmo dos investimentos públicos é mais lento do que a velocidade de


crescimento da demanda por novas infraestruturas, sejam logísticas ou sociais
(escolas, habitação, creches, segurança), o que faz com que as necessidades do
165

empresariado e da população em geral seja sempre maior do que o volume


investido. Citamos o caso da Via light que entrou em fase de licenciamento –
atendendo aos municípios de Nova Iguaçú, Queimados e etc. No caso específico de
Duque de Caxias, existe uma pendência há mais de 15 anos, ou seja, a situação de
precariedade do Polo Petroquímico de Campos Elíseos, onde a única via existente –
Av. Fabor – construída em 1960 não suporta o tráfego atual, bem como ao aumento
expressivo de veículos de cargas que por ela trafegam. Independente do desejo do
Governo do Estado da construção do Arquinho (apêndice que se interligará ao Arco
Metropolitano), há necessidade urgente de reconstrução e ampliação das faixas da
Av. Fabor e Av. Actura como alternativa de rota de fuga.

6. Na sua visão, quais outros investimentos seriam necessários para dinamizar o


crescimento econômico na região?

Maior incentivo por parte do Governo do Estado em harmonia com os governos


municipais de incentivos fiscais, buscando atração de novas empresas e criação e
melhorias dos polos industriais existentes. Algumas infraestruturas produtivas
(Telecomunicação – banda larga e telefonia; Saneamento ambiental – coleta e
tratamento de lixo, abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto; Saúde –
unidades de pronto atendimento e hospitais; Educação – universidades, mais
escolas de Ensino Médio; Transporte – melhoria e ampliação do sistema de trens e
reestruturação do sistema de ônibus; Segurança – maior policiamento ostensivo; e
Habitação – áreas residenciais dotadas de infraestruturas adequadas e planejadas
para reduzir o deslocamento entre casa-trabalho-escola-hospitais) não são vistas
como insumos industriais, mas são importantes para garantir o melhor desempenho
da indústria, consequentemente da economia regional e a melhoria da qualidade de
vida.
166

Anexo D – Entrevista Dr. José Claudio de Souza Alves – entrevista concedida


dia 6 de março de 2014.

1. Gostaria, primeiramente, que elaborasse uma pequena descrição sobre sua


atuação profissional, elencando, se julgar necessário, sua ligação e/ou contribuições
na sua área para a Baixada Fluminense.

R: Passei a conhecer a Baixada Fluminense – BF, desde 1984, quando passei a


atuar na Federação das Associações de Moradores de Duque de Caxias – MUB,
acompanhando os movimentos sociais na área da educação, saúde e formação
política. Em 1985, torno-me professor do estado, lecionando em uma escola pública
em Xerém, quarto distrito de Caxias. Meu mestrado tratou de analisar a relação da
Igreja Católica e os movimentos sociais em uma paróquia católica de Duque de
Caxias. Em 1992, torno-me professor da Rural, em Seropédica. Em 1998, defendo a
tese de doutorado sobre a violência na BF. Desde então, nos mais diferentes
espaços: igrejas católicas e evangélicas, religiões afro-descentes, escolas públicas e
privadas, partidos políticos, movimentos sociais, universidades públicas e privadas
realizo debates e discussões sobre a questão da violência, da educação, da história,
da política da BF. Recentemente, participo do Fórum Grita Baixada e na construção
do Observatório da Violência na BF.
167

2. Historicamente, a Baixada Fluminense é marcada pela pobreza e violência.


Qual sua percepção quanto a evolução destes índices na última década?

R. Os índices da violência, notadamente os homicídios dolosos, conheceram


uma crescimento vertiginoso desde os anos 70 até meados dos anos 2000. A partir
de 2005, conheceram uma pequena redução, após a chacina de 29 de março deste
ano, que vitimou 29 pessoas. No entanto, a partir de 2012, não só os índices de
homicídios, mas todos os demais indicadores: lesão corporal, roubo de carro, roubo
de carga, roubo ao comércio, autor de resistência, desaparecidos, passaram a
conhecer um crescimento significativo. Logo, a última década conheceu uma leve
redução, para logo depois sentir um crescimento acelerado. Este fato reflete
diretamente a política de segurança adotado no estado do Rio de Janeiro.
Privilegiando áreas de interesse do capital e dos ganhos políticos, a política de
UPPs ignora a existência de uma região metropolitana. Enquanto põe 1 policial para
atender a cada grupo 40 habitantes, em regiões da Zona Sul, Tijuca e centro da
cidade do Rio de Janeiro, conforme os projetos voltados para os mega eventos:
Copa do Mundo e Olimpíadas, determina para a BF 1 policial para cada grupo de
1.900 habitantes, numa absurda discrepância. Isto numa lógica de que colocar
policiais, armados e com veículo significasse redução da violência, o que não é algo
consensual. A perda de rentabilidade do crime organizado na cidade do Rio
reconfigura a geopolítica deste crime, tornando a BF uma nova fronteira para
recomposição do capital criminoso e a introdução de novas modalidades de crime,
numa velocidade e intensidade suficiente para compensar as perdas.

3. Os investimentos públicos e privados aplicados na região na ultima década


contribuíram, na sua visão, para aumentar/diminuir as desigualdades sociais na
Baixada Fluminense?

R. Não. Estes investimentos ou são pífios, diante da magnitude dos problemas


sociais, ou pelo contrário, provocam o aumento desta desigualdade. Alguns
exemplos. A destinação do lixo da cidade do Rio de Janeiro e de cidades da BF para
serem depositados no CTR Santa Rosa, em Seropédica, evidencia a junção da
política pública e do capital privado na implementação de um dos maiores crimes
ambientais da região. O governo estadual, através de projeto da Secretaria Estadual
168

de Meio Ambiente, em parceria com a Hastec/Serbe/Ciclus enterram 9 mil toneladas


de lixo por dia em cima do segundo maior aquífero de água potável do estado, o
aquífero Piranema. Sem centro de tratamento do chorume, a contaminação do solo
e água já vem ocorrendo, juntamente com a contaminação do ar pelos gazes, poeira
do chorume e odor. Assim, 8 mil famílias que moram no bairro Chaperó vêm tendo
um sobre-sofrimento além daqueles relativos à deteriorada infraestrutura urbana na
qual vivem. Outro exemplo é o do arco-metropolitano. Apenas na cidade de Nova
Iguaçu, foram arrancadas 80 mil árvores, sem que qualquer compensação ambiental
fosse feita. Some-se a isto o futuro fluxo de veículos nesta imensa rodovia não-
pedagiada e você terá uma das realidades mais degradadas e poluídas do estado,
impactando mais uma vez, população pobre e periférica. A justificativa de que o arco
trará empresas e empregos é desmentido com os baixos níveis de escolaridade dos
moradores da região. Empregados, quando o são, na fase da construção das
indústrias, terminam excluídos dos empregos melhor remunerados e permanentes,
quando do funcionamento destas unidades. O arco prevê a ligação entre dois
extremos, a Companhia Siderúrgica do Atlântic – CSA, em Santa Cruz e o Comperj,
em Itaboraí. Entre as duas modalidades mais poluidoras e contaminadoras de
indústria do mundo, a siderúrgica e a petroquímica. A CSA há anos vem
contaminando a população com limalha de ferro que lança ao ar. O Comperj irá
consumir importantes recursos hídricos da região serrana e jogará os dejetos no mar
em Maricá. Em, ambas a empregabilidade é reduzida em função da tecnologia
adotada. As empresas que virão para este eixo acompanharão o mesmo padrão
poluente e de baixa empregabilidade. Os exemplos aqui apresentados são apenas
dois de vários outros, menores. Eles revelam uma lógica mais ampla e dominante:
um modelo industrial, poluidor, segregador e injusto, que privilegia interesses
econômicos e políticos distintos daquele da maioria da população da região que
arcará com o sofrimento diário da vida em áreas degradadas, contaminadas, pobres
e desassistidas das mais fundamentais políticas sociais.

4. Em sua opinião, há relação entre a politica de segurança publica aplicada na


capital e o aumento dos índices de violência na região nos últimos anos?

R. Falei um pouco disto em resposta anterior, aqui vou aprofundar.


Primeiramente, as dimensões da violência e do crime organizado no Rio de Janeiro:
169

tráfico de armas, tráfico de drogas, roubo, sequestro, jogo-do-bicho, etc só podem


ser compreendidas, nas suas reais proporções e funcionamento ao longo do tempo
se partirmos da premissa de que a estrutura da segurança pública, ela mesma, está
diretamente envolvida na sua existência e funcionamento. Assim, o aparato policial,
a estrutura militarizada deste aparato, os interesses políticos que os orienta, a
estrutura judicial à qual está associada encontram-se diretamente vinculados à
organização desta estrutura criminosa. A política de UPPs, voltada para a
reincorporação urbana de áreas não rentáveis ao capital e aos grupos políticos:
favelas, áreas urbanas degradas, etc primou pela redução dos confrontos abertos
entre traficantes/policiais/outros grupos de traficantes que implicou no aumento da
sensação de segurança, redução de homicídios, valorização dos capitais urbanos:
imobiliário, comércio, serviços, etc. A redução dos ganhos do crime, pela redução do
comércio de drogas, de armas, de roubo, etc afeta diretamente a composição do
capital criminoso que sempre associou o meliante/canalha e o policial/agente legal.
Esta estrutura se recompõe para recompor sua perda incorporando, à lógica do
crime, áreas ainda não tão intensamente incorporadas. Aqui entra a Baixada
Fluminense. Extensão da área metropolitana, interligada por toda a estrutura urbana,
densamente povoada, desde sempre abandonada pelas políticas públicas, com um
histórico de segregação e estigmatização, ela torna-se o novo palco para a
recomposição deste capital. O confronto entre as estruturas criminosas que pré-
existiam, mais uma vez tráfico/polícia, nas suas mais variadas formas: dos
comandos do tráfico às milícias composta por policiais, vão se movimentar neste
tabuleiro, em busca da maximização dos seus ganhos, gerando, inevitavelmente, o
aumento da violência, com destaque para os homicídios e o consumo de drogas
antes impensáveis, como o crack, comparado a um trailer de esquina, frente ao
restaurante, representado pela cocaína. Assim, a BF é atingida de cheio por esta
onda, agravando ainda mais, todo o quadro social da região. Aprofundando o
sofrimento, a injustiça, a desigualdade e a esperança de mudanças na direção da
redução dos problemas sociais.

5. Qual sua avaliação quanto à questão social na Baixada Fluminense

R. A projeção no tempo (história) e no espaço (geografia) da questão social na


BF, acompanha, com sua peculiaridade, a questão social do país. Ela está
170

diretamente relacionada à desigualdade, à concentração de dinheiro e poder, à


reprodução do patrimonialismo e do poder oligárquico, à perpetuação de grupos na
dominação econômica e política, à segregação sócio-espacial-política de grandes
grupos sociais a partir do não acesso aos equipamentos urbanos, às políticas
públicas e aos serviços de qualidade que pudessem alterar este quadro. Na BF, este
quadro é recoberto pelo elevado padrão da violência e o seu uso como perpetuador
desta estrutura social. A violência encaminha-se como um mediador universal que
referenda a desigualdade, a concentração de capital e poder, a segregação social, a
dominação intensa e intransponível dos que se beneficial com toda esta
desigualdade, violência e segregação. Acredito que cada região do país traz a sua
peculiaridade, e que cada peculiaridade ajuda a compreender como se processa,
nos seus detalhes, esta estrutura de dominação e desigualdade. A BF, constituiu-se
para mim como uma particularidade/totalidade da sociedade brasileira.

6. Você acha que houve algum marco na historia de resistência ou organização


civil contra a violência na baixada?

R. No plano macrossocial, movimentos sociais sempre trouxeram a questão da


violência como grande temática. As associações de moradores, igrejas, partidos,
sindicatos etc sempre estiveram presentes. Claro que mais pontualmente, em cima
de casos como a da chacina dos 29, em 2005, os 6 de Nilópolis, em 2009, a chacina
da Via Show, etc. Alguns movimentos se instituíram a partir destes casos, como o
Fórum Reage Baixada, após a chacina dos 29, e agora o Fórum Grita Baixada, que
congrega as dioceses de Nova Iguaçu e Duque de Caxias.

Há, porém, uma resistência que se dá na dimensão microssocial. Está no âmbito


do cotidiano, das formas de se relacionar com esta estrutura de poder, de
dominação, de controle estabelecido pela violência. Formas veladas de silêncio, de
apoio, de suporte, de tergiversação, de escamoteamento, de negação, de confronto,
de solidariedade, de compaixão, de suporte e comunhão. Há um universo,
desconhecido, “invisível”, micro, imperceptível, a miúdo de práticas, ações,
sentimentos, valores, projetos, que se contrapõe à estrutura de dominação calcada
na violência. Acredito que neste plano microssocial está a maior fonte, a maior
origem de uma resistência que impede que a estrutura se aprofunde e gere ainda
171

mais poder e desigualdade. É neste campo que se trava diariamente o confronto


entre a dominação e a resistência. Por ser menos visível e menos percebível
costumamos subestimar esta resistência, mas é ela que alimenta uma rede capilar
de negação e resposta à violência.

7. Você credita o baixo desenvolvimento humano (social e econômico) a fatores


ligados à violência ou se a violência é fruto desse baixo desenvolvimento humano ou
estas variáveis se interagem?

R. É a história do ovo e da galinha, quem vem primeiro. Acho que estão


intrinsicamente relacionados, um gerando o outro. A violência vai perpassando cada
dimensão da desigualdade, dado as suas cores sombrias, reforçando padrões,
estabelecendo possíveis resistências. A desigualdade, igualmente, se revela em
cada ato de violência, nos ganhos de quem age, nas perdas das vítimas, no acesso
à segurança, no acesso à corrupção do sistema, no beneficiamento por parte da
(in)justiça e do funcionamento do sistema judicial. Um trabalho muito bom seria ir
percebendo esta mútua retroalimentação a cada passo da violência/desigualdade.
Normalmente, presos num padrão meritocrático, próprio das classes médias que
compõe o mundo acadêmico, tendemos a imbricar no indivíduo a ausência de
princípios e valores que o levaram ao mundo do crime. É neste padrão que, em
última instância, se cola a lógica dominante do “bandido bom é bandido morto” ou
“como um sem princípios pode tirar-me o que levei a vida, com mérito próprio, para
conseguir”. Desconstruir esta opção individual pelo crime em uma trajetória marcada
pela desigualdade e pelas estruturas criminosas, ligadas aos grupos dominantes, é o
trabalho de desmontar esta crônica de uma morte anunciada, esta profecia auto-
cumprida. Mas, o grande inimigo sempre continuará sendo o medo. A violência, na
forma como ela se desenhou em nossa sociedade, é a resposta mais forte acessada
pelo medo, que bloqueia qualquer reflexão, qualquer sensibilidade, qualquer
compaixão e determina a eliminação pura e simples como solução. A meu ver, é na
geração do medo, sua mistificação, a sua alimentação pela ignorância, ou pelos que
querem manter padrões de consumo de informações, idéias e bens voltados para
uma sociedade tão desigual como a nossa que está o centro desta violência cada
vez mais presente e estimulada.
172

8. Deixo este espaço para, caso queira, colocar alguma questão que por ventura
não foi explicitada acima e que queira fazer menção .

R. Não, acho que já falei até demais. Agradeço a você por me permitir este
diálogo, esta reflexão, esta sensibilização sobre o tema. Abraço.

Anexo E – Entrevista Sr. Rogério Rocha, ex-secretário adjunto de trabalho e


emprego no governo Lindberg Farias (Nova Iguaçu) – entrevista concedida dia 11 de
março de 2014.

1. Gostaria, primeiramente, que elaborasse uma pequena descrição sobre sua


atuação profissional, elencando, se julgar necessário, sua ligação e/ou
contribuições para a Baixada Fluminense.

Tenho atuado como professor do ensino superior há pelo menos 15 anos na


Cidade do Rio com as Universidades da Cidade, São Camilo, UGF e PUC e nos
últimos dois anos estou atuando na Estácio nos campi de Nova Iguaçu e
Queimados, e me deixa bem feliz, pois estou atuando com alunos da nossa Baixada.

Já fiz muita coisa por aqui no âmbito político e social, já militei no PT e cheguei a
ser vice-presidente municipal, cheguei a disputar a presidência do PT, fui gestor de
juventude no PT, na Igreja católica, atuei em várias frentes, estudei Teologia
Pastoral.
173

Estive a frente de um pré vestibular para pessoas carentes(PVNC) por alguns


anos na Igreja Católica, na Catedral de Santo Antônio e na Palhada.

Ainda hoje faço parte da direção do IPAC(Instituto de Pesquisa e Ação


Comunitária) que atua em várias frentes na Baixada, e eu atualmente estou na
direção do projeto de Incubadora de Empreendimento Populares, mas no Rio já
tivemos na Baixada no Governo Lindbergh Farias, mas hoje a atuação é na cidade
do Rio, mas tem muitos empreendedores da Baixada.

2. A Baixada Fluminense tem sido palco de diversos investimentos públicos e


privados, principalmente na segunda metade da década de 2000. Tais
investimentos, em sua opinião, impactaram de que forma região em questão.

Pois é, acredito que com a vinda do Lindbergh Farias pra Nova Iguaçu em 2003 e
com a sua eleição em 2004, a Cidade de Nova Iguaçu recebeu muitos olhares de
fora e entrou na mídia, a consequência disso foram os investimentos, isso em minha
opinião. Acho que descobriram que Nova Iguaçu não era apenas aos olhos de quem
vem de fora, uma cidade de pobres e de bandidos, enfim, é por aí...

No âmbito da Baixada em geral, podemos destacar também Caxias muito


embora a Refinaria da Petrobrás já atraía muitos investimentos.

Na atualidade vejo a Cidade de Queimados surfando nessa onda por conta do


Arco Metropolitano, mas ainda falta muito, não gosto de ficar falando nisso apenas
por questões políticas, mas sim pela importância que tem.

3. Os investimentos recebidos pela região no período contribuíram para a


diminuição das desigualdades sociais na Baixada Fluminense?

Sim, não tenho a menor dúvida disso.

Mas espero que além dos investimentos privados, venham também os


investimentos públicos e sobretudo na Educação, saúde e segurança, não é clichê,
isso não, é a realidade, digo isso, pq eu ando na minha Cidade, ando nos arredores
e conheço muita gente que precisa acordar antes das quatro horas da manhã para
chegar ao trabalho as 8h e isso é inadmissível.
174

Mas com toda a minha crítica, acredito que em alguma coisa a desigualdade
diminuiu, mas se os investimentos fruto das promessas política vierem mesmo aí sim
melhorará muito mais.

Mas não posso deixar de falar o meu velho discurso de que quem é pobre
continua e quem é rico está cada vez mais, o negócio do rico é o pobre.

Precisamos fazer alguma coisa do ponto de vista da organização social


envolvendo a universidade na discussão, não é nada de black bloc e muito menos
plebiscito, é atuar em busca de soluções e não brincar de fazer política e no final da
discussão pegar seu carro e ir embora, falo de ação, para diminuir a desigualdade
na nossa Baixada.

4. Quais os municípios, em sua visão, que se destacaram economicamente e


com avanços sociais no período em questão (segunda metade da década de 2000)

Na minha opinião no início Nova Iguaçu, Duque de Caxias e Itaguaí e agora vejo
que Queimados tem entrado no rol dos municípios que estão se aproveitando muito
bem da situação, mas lembro que crescimento não é tudo, é preciso desenvolver,
senão teremos cidade com riqueza e povo na pobreza.

5. Há, em algum nível de governo, alguma discussão coletiva sobre as questões


em comum que envolve os municípios da Baixada Fluminense?

Não tenho participado de nenhuma discussão na atualidade a respeito das


questões políticas e sociais da Baixada fluminense, estou apenas trabalhando em
outras frentes, tais como a sala de aula e a consultoria em empresas.

6. Na sua opinião qual a importância do planejamento, como política pública,


para a região da Baixada Fluminense.

Essa é uma questão fundamental e que precisa ser levada a sério, a minha
crítica pesada é que mesmo na época em que eu ocupava cargo no governo
municipal em Nova Iguaçu, havia muito planejamento e pouca ação, ou muita ação e
pouco planejamento se é que me entende, coisa da política.
175

Mas, precisamos sim de muito planejamento para que as políticas públicas sejam
concretizadas e que elas possam servir para a sociedade e não para que sejam
construídas elefantes brancos sem utilidade.

7. Há, algum tipo de política publica que passe por algum tipo de planejamento
regional?

Então Adrianno, hoje não estou mais trabalhando nessa área, mas vou voltar em
breve.

Na época em que eu estava afrente da secretaria de trabalho e emprego, havia


sim muito planejamento que era disparado pela Secretaria Estadual para que os
recursos fossem bem alocados, mas éramos nós em Nova Iguaçu que dávamos a
palavra final, afinal nós tínhamos o domínio do território local.

8. Na sua visão, os problemas sociais históricos da Baixada Fluminense,


aumentaram, diminuíram ou permaneceram no mesmo patamar na última década.

Acredito que houve sim uma grande diminuição, nós deixamos de ser um pouco
conhecida como Cidade Dormitório, muito investimentos por aqui abriram muitas
frentes de trabalho, a iniciativa popular trouxe uma universidade pública pra Nova
Iguaçu, a violência histórica na Baixada diminuiu e agora volta pelas questões
atuais, tais como as UPPs na Cidade do Rio e aí, acuados os bandidos vieram pra
Baixada.

9. Deixo este espaço para, caso queira, colocar alguma questão que por ventura
não foi explicitada acima e que queira fazer menção .

Nada mais a declarar, estou a disposição para ajudá-lo no que precisar, desculpe
a demora, mas a vida de um professor do ensino superior nas universidades
privadas não me deixa tempo e ainda duas crianças ... Mas graças a Deus estou
176

Anexo F - Entrevista Prof. Dr. Alexandre Fortes – Diretor do Instituto


Multidisciplinar – Campus Nova Iguaçu - da UFRRJ. Entrevista realizada em 20 de
março de 20141

1. Gostaria, primeiramente, que elaborasse uma pequena descrição sobre sua


atuação profissional, elencando, se julgar necessário, sua ligação e/ou contribuições
na sua área para a Baixada Fluminense.

a. Sou professor de História Contemporânea no Instituto Multidisciplinar da


UFRRJ em Nova Iguaçu desde 2006. Atualmente sou o Diretor do Instituto. Tenho
orientado diversos projetos de pesquisa de alunos sobre a história da Baixada
Fluminense e trabalhado na organização de um Centro de Documentação e
Imagem, no nosso instituto, dedicado a preservar e aumentar o acesso a fontes
relevantes para a pesquisa sobre a história da região.

2. Qual a trajetória do Instituto Multidisciplinar no município de Nova Iguaçu?

a. O IM foi criado em 2006 e funcionou provisoriamente numa escola municipal e


em outros espaços até a inauguração do nosso campus em 2010. Atualmente
possui 10 cursos de graduação presencial (totalizando 3000 alunos), um a distância
177

(cerca de 1000 alunos) e realiza um grande volume de trabalho de pesquisa,


extensão e pós-graduação

3. Qual a importância para a região de um campus da UFRRJ?

a. A existência de um campus de uma universidade federal representa uma


grande oportunidade para construção de um modelo de desenvolvimento regional
que supere as marcas da desigualdade e da exclusão, tão fortes no caso da
Baixada.

4. Qual a porcentagem de estudantes que são originários da Baixada


Fluminense que estudam no Instituto?

a. Mais de 90%.

5. Há, atualmente, algum tipo de política de aproximação e/ou projetos em


conjunto com os governos locais? Se sim, quais?

a. Todos os nossos cursos (História, Economia, Pedagogia, Geografia,


Matemática, Letras, Computação, Administração, Turismo, Direito e Letras)
desenvolvem algum tipo de atividade em parceria com o poder público local. A
grande limitação até hoje é que em geral essas ações são desarticuladas. Nossa
intenção é, sempre que possível, integrá-las em programas coordenados no âmbito
da Direção do Instituto, de modo a aumentar o seu impacto.

6. Há projetos de expansão do campus? Criação de novos cursos? Aumento


das vagas?

a. Protocolamos junto à Secretaria do Patrimônio da União a solicitação para


expansão da área do campus, que já conta com um parecer favorável. Planejamos
criar ao menos dois novos mestrados até 2015 (economia e computação) e estamos
estudando o projeto de criação de um curso de Educação Física, que ajudaria a
viabilizar a incorporação de uma Vila Olímpica construída pela prefeitura em área
contígua à do campus. Temos o projeto de construção de uma biblioteca comunitária
e estamos desencadeado o debate sobre a elaboração de um Plano Direto do
178

Campus, visando incorporar toda a área federal no nosso entorno e definir uma
pauta de projetos de expansão de médio e longo prazo.

7. Como você analisa a importância da questão da qualificação da mão-de-obra


face aos investimentos públicos e privados realizados na região na ultima década.

a. Tenho pouca informação sobre os investimentos privados recentes na


Baixada. É algo que precisaríamos estudar melhor, até para debater que cursos
novos devemos criar. No caso do IM, temo contribuído fortemente para a
qualificação do ensino fundamental e médio, com os docentes formados pelas
nossas cinco licenciaturas. Formamos também economistas, advogados e
administradores capacitados para atuar tanto no setor público quanto no privado. Já
os cursos de Turismo e Computação visam contribuir para a expansão e
qualificação, no âmbito da Baixada, de segmentos que respondem por parcelas
crescentes da atividade econômica global, e que exercem forte atração sobre a
juventude contemporânea.

8. Deixo este espaço para, caso queira, colocar alguma questão que por ventura
não foi explicitada acima e que queira fazer menção

a. Agradeço pela oportunidade de sistematizar essas reflexões.


179

ANEXO G - INVESTIMENTOS – DECISAO RIO 2012-2014 (BAIXADA FLUMINENSE)

EMPREENDEDOR MUNICIPIO INVESTIMENTOS SETOR DESCRIÇÃO


PREVISTOS (EM
MILHOES)
Duratex SA Queimados 128,0 Minerais não-metálicos
RAFT Embalagens Queimados 25,0 Metalurgia
Niely Cosméticos Nova Iguaçu 50,0 Higiene e Limpeza Construção de nova planta de 25
mil m²
Supreme Caxias Duque de Caxias 60,0 Hospedagem Construção de um complexo
comercial/residencial
Supreme Dutra São João de Meriti 22,0 Hospedagem Condominio/hotel
RUHRPUMPEN Duque de Caxias 31,7 Maquinas e equipamentos Fabrica de bombas hidráulicas
para indústria petroquímica
Turbomeca Duque de Caxias 12,0 Material de transporte Fábrica de turbinas para
helicópteros
CPR Duque de Caxias 80,0 Plásticos Produção de resina reciclada e
fabricação de produtos finais de
artefatos plásticos
INMETRO Duque de Caxias 7,0 Parque industrial ão-cientifico
BR Distribuidora Duque de Caxias 173,0 Petroquímica Aumento da capacidade produtiva
da fábrica de 27 mil litros/ano para
42 mil litros/ano
REDUC Duque de Caxias 2 bilhões Petroquímica Construção de nova caldeira para
aumento de geração de vapor
Anel Viário de Campos Duque de Caxias 181,3 Transporte/logística Anel viário no distrito industrial
Elíseos fazendo a ligação com o arco
metropolitano
Via Light Rio de Janeiro/Nilópolis/ 314,4 Transporte/logística Prolongamento da rodovia RJ-081
Mesquita/Nova Iguaçu até a avenida Brasil e depois até
Madureira
BR- 116 São João de Meriti/Belford 201,0 Transporte/logística Construção de 11,2 Km de
Roxo/Mesquita/Nova Iguaçu rodovias marginais
e Rio de Janeiro
Top Shopping Nova Iguaçu 90,0 Construção civil Construção de três torres
180

comerciais com 100 lojas satélites


e duas ancoras.
(ampliação de 18,6 mil/m² para 34
mil/m²
Cia de canetas Compactor Nova Iguaçu 8,5 Outros Ampliação da área fabril em 20%
Tintas Águia Queimados 10,2 Indústria química Ampliação da fábrica para
aumento da capacidade de
produção de 4,4 mil litros/ano para
9 mil litros/ano
DURATEX Queimados 128,0 Minerais não-metálicos Construção/aquisição de
equipamentos para fabricação e
expedição de louças sanitárias
DECA.
Bayer Belford Roxo 90,0 Indústria química Ampliação/modernização das
unidades CropScience (BCS) e
MaterialScience (BMS)

RJ – 115 Miguel Pereira – Nova 55,0 Transporte/logistica Pavimentação de 22 Km de


Iguaçu estrada entre os municípios de
Miguel Pereira e Nova Iguaçu
(Tinguá)
Shopping Dutra Construção civil
Shopping Nova Iguaçu Nova Iguaçu 300,0 Construção civil Será o primeiro conceito multiuso
na Baixada e terá, além do espaço
físico normal de um shopping, a
integração com torres comerciais
e um hotel, criando uma espécie
de mini-cidade,
Art Fergiados* Queimados 236 Minerais não metálicos Nichos e catacumbas
Kreta Rio* Queimados 564 Minerais não metálicos Vidros p/lampião
Lartex* Duque de Caxias 2,9 Têxtil Tecidos
Sayoart* Queimados 3,86 Têxtil Tecidos
Zenith* Duque de Caxias 34,0 Material elétrico /telecom Televisão
Alcoa Aluminio* Queimados 12,5 Plástico Garrafas PET
Bergitex Nova Iguaçu 30.000 Têxtil
181

Ciferal Duque de Caxias 7.000 Metalúrgico Carrocerias


Forjas Brasieleiras Queimados 17.200 Metalúrgico Peças para veiculos
Generalli Refrigerantes Queimados 37.000 Bebidas Refrigerantes
Iriquimica Queimados 476 Químico Cloreto de Aluminio
Kaiser Queimados 50.000 Bebidas Cerveja
Liarte Metalquimica Duque de Caxias 750 Químico Verniz
O Globo Duque de Caxias 150.000 Editora e Gráfica Jornal
RioPolimeros Duque de Caxias 1.179.000 Plástico Polietileno
Ar Frio Queimados 4.900 Serviços Sorvete
Fertplant Queimados 1.200 Metalúrgico Metais ferrosos
Knauf Queimaods 20.000 Minerais não-metálicos Placas de gesso
Casa & Video Duque de Caxias 18.000 Diversos Depósito
Cys Duque de Caxias 18.000 Materiais elétricos e Torres e antenas
comunicação
Engene Queimados 200 Tecnologia farmacêutica remédios
G.B. Criogenio Duque de Caxias 1.240 Metalúrgico Tanques
Multibloco Queimados 280 Minerais não-metálicos Blocos de concreto
TWR Queimados 7.300 Metalúrgico Torres
Vibraço Duque de Caxias 3.000 Plásticos Potes
Inquisa Nova Iguaçu 200 Perfumaria, sabões e velas Detergentes e tensoativos
Lojas Americanas Nova Iguaçu 20.000 Serviços Depósito
Quartzolit Queimados 18.000 Minerais não-metálicos Argamassas
Sadia Duque de Caxias 39.000 Produtos alimentícios Embutidos
Suissa Nova Iguaçu 300 Perfumaria, sabões e velas Perfumes, etc
Alcoa Aluminio ll Queimados 8.683 Plásticos Garrafas PET
CIPA Duque de Caxias 3.712 Produtos alimentícios Biscoitos
Eságua Queimados 1.300 Minerais não-metálicos Tanques para tratamento de
esgoto
MetalBasa (Quinan) Duque de Caxias 2.000 Metalúrgico Embalagens
Nicho Tecnologia Duque de Caxias 750 Químico Aditivos
Nortec Duque de Caxias 9.850 Farmo-químico Farmo-químico
Polink Duque de Caxias 200 Químico Resinas
182

TSI do Brasil Queimados 14.800 Metalúrgico Vinil, chapas e perfis


Inbox Queimados 800 Papel/papelão Guardanapos
Lwart Duque de Caxias O Serviços Depósito De óleo
Sano Nova Iguaçu 22.042 Minerais não-metálicos Telhas onduladas
Falmec Duque de Caxias 4.000 Metalúrgico Coifas para cozinha
Solintec l / SAPOTEC Duque de Caxias 2.000 Diversos Estação de tratamento do solo
Duque de Caxias Mineração Duque de Caxias 42.571 Minerais não-metálicos Indústria mineral
Poland Duque de Caxias 4.500 Químico Detergentes e tensoativos.
Polibrasil Duque de Caxias 71.750 Material plástico Polipropileno
Sanes Queimados 2.500 Comércio Central de distribuição
MVC Duque de Caxias 5000 Material plástico Componentes plásticos
Acqualimp Duque de Caxias 5.922 Serviços Lavanderia
Lógica Lavanderia Duque de Caxias 2.450 Serviços Lavanderia industrial
Lutrol Duque de Caxias 4.154 Serviços Distribuidora de óleo
Miller Duque de Caxias 3.900 Farmacêutico Remédios
Fonte: Elaboração própria a partir de dados de FIRJAN, 2013 e Silva 2012.
183

ANEXO H- Empreendimentos Imobiliários na Baixada Fluminense.

Valor
Construtora/Incorporado Unidades/Apartamentos/
Empreendimento Tipo Localização médio
ra casas
(R$)/m²
Rua Min. Lafaiete de
Ágora Nova Iguaçu Residencial Living Construtora 711 2.500,00
Andrade -Nova Iguaçu
Av. Getúlio Vargas,121 -
Metropolis Comercial MDL/Reality 210 e 5 lojas 10.270,00
Nova Iguaçu
Alto Nilópolis Rua João Moraes
Residencial MEGA18 Construtora 136 4.600,00
residências Cardoso, Nº 2 - Nilópolis
NovaNil
Aldeia do Porto Residencial Caonze – Nova Iguaçu Não foi NI
Empreendimentos
Av. Dr Mário Guimarães n° NovaNil
Vitaly Comercial 121 5.718,00
318 Centro – Nova Iguaçu Empreendimentos
Av. João de Moraes
San Matheus NovaNil
Residencial Cardoso -Centro – 60 4.500,00
Residence Empreendimentos
Nilopolis
San Marino Apart
Residencial Av. Dr Mário Guimarães n° NovaNil
Hotel/Mercure 156 6.763,00
(Apart-hotel) 520 – Nova Iguaçu Empreendimentos
Apartaments
Aquamarina – Nova NovaNil
Residencial Centro – Nova Iguaçu 80 7.000,00
Iguaçu Empreendimentos
Av. Dr Mário Guimarães n° NovaNil
Residencial Ilha Bela Residencial 40 NI
104 - Nova Iguaçu Empreendimentos
Rua Dr. Carvalhães -
Portal do Sol Residencial Tenda 1.000 2.000,00
Belford Roxo
Top Commerce Comercial Nova Iguaçu CHL 365 4.800,00
Rua Eustáquio de Azevedo
Vida Boa Caxias Residencial – Parque Santa Lúcia - CHL 483 NI
Duque de Caxias
Visione
Residências Castel Rua Alberto Soares, 74 –
Residencial Empreendimentos 32 6.000,00
del Monte Centro -Nova Iguaçu
Imobiliários
184

Rua Ana Neri, 150 – Bairro


Celebrare residencial Residencial 25 de agosto – Duque de Masterplan 188 4.500,00
Caxias
Vale do Tinguá – Estrada Federal de Tinguá,
Nicon Engenharia/
Condomínio LOTE Nº 10.520, Tinguá – Nova 180 1.500,00
TriArq Construções ltda
Ecológico Iguaçu
Av. Abílio Augusto Távora,
Acqua Residencial Residencial Gafisa 440 4.200,00
150
Residencial Via Light – Centro – Nova
Rossi Diamond Flat Rossi 156 8.000,00
(Flat) Iguaçu
Supreme Nova Residencial Rua Itacuruça – Centro – Atlantica Hotels
154 NI
Iguaçu Bussines hotel (Hotel) Nova Iguaçu International
Residências da Rua Floresta Miranda –
Residencial Visione 34 6.000,00
Floresta Centro – Nova Iguaçu
Residencial
Alvorá Parque Novo CIPASA Urbanismo 1000 250,00
(loteamento)
Av. Abilio Augusto Távora
Completo Nova
Residencial – Jardim Alvorada – Nova Cury Construtora S.A. 400 2.500,00
Iguaçu
Iguaçu
Rua Carolina Ferreira, 192
Doce Lar Conquista Residencial Brookfield NI NI
– Belford Roxo
Rua Prefeito Jorge Júlio
Líber Belford Roxo Residencial Costa dos Santos – Living 800 2.000,00
Belford Roxo
Rua Mauro de Almeida
Rossi Exclusivo Residencial Rossi NI 6.500,00
Flores, 7 – Nova Iguaçu
Avenida Doutor Manoel
Vitória Caxias Residencial Telles, 1500 – Duque de MDL 497 3.500,00
Caxias
Rua Doutor Barros Junior,
Vitória Nova Iguaçu Residencial MDL 354 3.500,00
1911 – Nova Iguaçu
Spazio Mario Rua Dr. Mário Guimarães,
Residencial Sá Cavalcanti 96 6.000,00
Guimarães 863 – Nova Iguaçu
Via Oficce Comercial Rua Iracema Soares Rossi NI 5.000,00
185

Pereira Junqueira, lote 42


– Nova Iguaçu
Av. Vereador Marinho
Premier Flat Apart Residencial
Hemetério de Oliveira – Zoneng Engenharia 130 8.800,00
Hotel (Flat)
Queimados
Rua Dr. Barros Júnior –
Mais + Parque Iguaçu Residencial Rossi 194 5.400,00
Nova Iguaçu
Rua Ana Neri, 102 –
Elegance residencial Residencial Carmo e Calçada NI
Duque de Caxias
Av. Abilio Augusto Távora
Springs Nova Iguaçu Residencial Imobiliária RJ 240 7.000,00
– Nova Iguaçu
Estrada Mato Grosso, 800
Cidade Paradiso Residencial CR2 900 2.000,00
– Nova Iguaçu
Av. Dr. Mario Guimarães,
Le Monde Office Life Comercial RJZ e Cyrela 310 6.000,00
408 – Nova Iguaçu
Av. dr. Mario Guimarães,
Florae Nova Iguaçu Residencial PDG 150 5.000,00
1118 – Nova Iguaçu
Gran Vista Nova Av. Francisco baroni, 777
Residencial Concal Não foi NI
Iguaçu – Nova Iguaçu
Avant Duque de Rua General Mitre, 690 –
Residencial PDG NI 5.500,00
Caxias Duque de Caxias
Rua Rangel Pestana, 256
Prime Nova Iguaçu Residencial CHL 120 6.500,00
– Nova Iguaçu

Fonte: Elaboração própria.


186

ANEXO I – Leis de incentivos fiscais selecionadas do estado do Rio de Janeiro.

LEI Nº OBJETIVOS BENEFÍCIO


As empresas beneficiadas contarão
Criar um regime especial de tributação com o regime especial de
Lei 5.636 para estimular a recuperação recolhimento do ICMS com alíquota
econômica dos 51 municípios. de 2% (dois por cento) sobre o
faturamento do mês em referência.
A alíquota de ICMS para
importação foi reduzida para 16% e,
Incentivar as operações de importação
se a importação for realizada por
no Rio de Janeiro, a fim de recuperar
Lei 4.383 as atividades dos portos e aeroportos
aeroportos internacionais, a
alíquota passa a ser de 14% – cabe
do estado.
lembrar que essas alíquotas já
incluem 1% do Fundo da Pobreza
As empresas receberão
financiamento para o capital de giro.
Este financiamento terá o valor de
Conceder descontos tributários 150% para grandes empresas e
(diminuição da alíquota de ICMS) e 200% para pequenas e
financiamentos com recursos do microempresas, em relação ao
Fundo de Desenvolvimento investimento fixo a ser realizado. A
Econômico liberação deste recurso ocorrerá em
Lei 4.344 - RioGraf e Social, o Fundes, para empresas do parcelas mensais de, no máximo,
setor gráfico localizadas no Estado do 9% do faturamento apurado no mês
Rio de Janeiro que almejam aumentar anterior a cada liberação. O prazo
as suas instalações e para empresas de utilização, carência e
do mesmo setor que desejam instalar- amortização será de até 84 meses.
se no Rio de Janeiro. O juros de tal financiamento será de
6% ao ano. As empresas terão as
alíquotas de ICMS estabelecidas a
12% nas operações internas.
Conceder incentivos fiscais a Os incentivos de que trata esta lei
empresas fluminenses de forma a estão relacionados à redução da
proporcionar o crescimento da base de cálculo, concessão de
Lei 4.321 economia e garantir a competitividade crédito presumido, diferimento e
do Estado do Rio de Janeiro com isenção de ICMS.
relação a outros estados.
Serão concedidos financiamentos
para o capital de giro. O valor do
financiamento será de 100% do
valor da UFIR’s-RJ em investimento
fixo
Conceder financiamento com recursos a ser realizado. A liberação deste
do Fundes para empresas do setor recurso ocorrerá em parcelas
Lei 4.187 – RioMetal metal-mecânico localizadas no Estado mensais equivalentes a, no
do Rio de Janeiro. máximo, 9% do faturamento
apurado no mês anterior a cada
liberação. Os prazos de carência,
utilização e amortização serão de
até 60 meses. Os juros de tal
financiamento serão de 6% ao ano.
As empresas receberão
financiamento para o capital de giro.
Estesfinanciamentos serão de
Conceder financiamentos com 100% em relação ao investimento
recursos do Fundes para a realização fixo a ser realizado. A liberação
Lei 4.186 - RioInfra de projetos de infraestrutura a serem deste recurso ocorrerá em parcelas
realizados no Estado do Rio de mensais de, no máximo, 9% do
Janeiro. faturamento apurado no mês
anterior a cada liberação.
O prazo de utilização, carência e
amortização será de até 60 meses.
187

Os juros de tal financiamento serão


de 6% ao ano.
As empresas receberão
financiamento para o capital de giro.
Estes financiamentos serão de
150% em relação ao investimento
Conceder financiamento com recursos fixo a ser realizado. A liberação
do Fundes para empresas que deste recurso ocorrerá em parcelas
Lei 4.185 – Pró-Sepetiba instalarem ou ampliarem suas mensais de, no máximo, 9% do
unidades na região de influência do faturamento apurado no mês
Porto de Sepetiba. anterior a cada liberação. O prazo
de utilização, carência e
amortização será de até 84 meses.
Os juros de tal financiamento serão
de 6% ao ano.
I - Alíquotas de 2,5% (dois por
cento) de ICMS sobre o valor do
faturamento;
II - Diferimento do pagamento de
ICMS, nas operações de
importação de insumos destinados
ao processamento industrial, desde
que realizadas pelos portos ou
Conceder benefício fiscal pelo período
aeroportos do Estado do Rio de
de dez anos para empresas do setor
Janeiro e desembaraçadas no
têxtil que se instalarem
Lei 4.182 preferencialmente em polos
estado; aquisição interna de
matérias-primas, embalagens e
específicos do Estado do Rio de
demais insumos, além de materiais
Janeiro.
secundários pelos quais a indústria,
na qualidade de responsável
tributário, recolherá o ICMS
incidente sobre a operação de
saída do remetente; transferências
internas de mercadorias realizadas
entre estabelecimentos industriais
vinculados a um mesmo CNPJ.
I - Crédito presumido sobre o ICMS
correspondente ao valor da alíquota
incidente sobre operação nas
saídas de produtos reciclados;
Conceder benefícios fiscais a II - Diferimento do ICMS incidente
empresas de reciclagem localizadas sobre a importação de máquinas,
Lei 4.178 no Estado do Rio de Janeiro e equipamentos, peças, partes e
empresas do setor metal-mecânico de acessórios destinados a integrar o
Nova Friburgo. ativo fixo das empresas;
III - Alíquotas de 12% de ICMS nas
operações de saídas internas das
empresas do setor metal-mecânico
de Nova Friburgo.
Às empresas enquadradas no
RioLog será concedido, a título de
ressarcimento com despesas de
frete, os seguintes benefícios:
I - quando se tratar de operações
de saída interestaduais: crédito
presumido do ICMS correspondente
Atrair novas empresas de comércio a 2% do valor de venda das
atacadista e centrais de distribuição e mercadorias comercializadas;
Lei 4.173 – RioLog estimular a expansão das já existentes II - quando se tratar de operações
no Estado do Rio de Janeiro. de entrada interestaduais: crédito
presumido do ICMS correspondente
a 2% do valor de compra das
mercadorias comercializadas;
III - quando se tratar de operações
de entrada por transferência de
mercadorias de estabelecimento
industrial localizado em outro
188

estado da
Federação: crédito presumido do
ICMS correspondente a 2% do valor
da transferência;
IV - quando se tratar de operações
internas de entrada dos produtos a
seguir relacionados, crédito
presumido do ICMS de 2% sobre o
valor de compra: alimentos
industrializados; produtos para
limpeza em geral; bebidas
alcoólicas quentes (conhaques,
aguardentes, vinhos, uísques,
vodcas, dentre outras); produtos
industrializados derivados do trigo
(biscoitos, pães, torradas, bolos,
dentre outras); balas, bombons,
chocolates e produtos correlatos;
produtos para higiene pessoal;
bazar; cosméticos.
I - As empresas enquadradas no
Pró-Emprego receberão
financiamento para o capital de giro
com recurso do Fundes. Esse
financiamento será de 100% do
valor do investimento a ser
Contribuir para a revitalização das
realizado em ativo fixo e/ou
indústrias que estejam passando por
saneamento financeiro da empresa.
situações econômicas, financeiras,
Lei 4.165 – Pró-Emprego gerenciais e tecnológicas adversas e
A liberação deste recurso será em
parcelas mensais equivalentes a
que se encontrem em situação de pré-
10% do incremento do faturamento.
insolvência.
Os
juros de tal financiamento serão de
6%;
II - Concessão de parcelamento de
até 60 meses do débito do ICMS da
empresa a ser revitalizada.
189

ANEXO J - Valor adicionado bruto por atividade econômica, Produto Interno Bruto, Produto Interno Bruto per capita e Impostos sobre
produtos, segundo as Regiões de Governo e municípios.
Estado do Rio de Janeiro - 2011

Regiões de Governo Valor (1000 R$) PIB per


e Valor adicionado bruto Impostos PIB a preços capita
municípios Total Agropecuária Indústria Serviços (1) Administração sobre de mercado (R$)
Pública produtos
Estado 344.405.425 1.449.018 96.617.936 246.338.471 64.438.535 62.717.369 407.122.794 25.455
Região 223.251.952 217.436 39.431.400 183.603.117 46.784.823 51.937.513 275.189.465 23.245
Metropolitana
Rio de Janeiro 147.725.431 59.037 22.461.765 125.204.629 26.013.040 42.523.612 190.249.043 30.088
Belford Roxo 4.160.474 2.357 974.480 3.183.638 1.702.875 307.081 4.467.555 9.520
Duque de Caxias 23.385.796 7.923 8.456.113 14.921.760 3.434.869 3.111.049 26.496.845 30.989
Japeri 856.779 2.585 85.351 768.842 353.681 60.105 916.884 9.612
Mesquita 1.444.429 365 183.186 1.260.877 598.263 88.936 1.533.364 9.105
Nilópolis 1.573.875 0 176.785 1.397.090 585.061 95.085 1.668.960 10.598
Nova Iguaçu 8.577.247 8.321 1.246.947 7.321.979 2.893.927 919.413 9.496.660 11.942
Queimados 1.515.589 2.967 463.179 1.049.443 513.858 154.952 1.670.541 12.111
São João de Meriti 4.448.482 908 433.225 4.014.349 1.620.412 377.730 4.826.212 10.506
190

ANEXO K –

FUNDAÇÃO CEPERJ - ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - 2013


Evolução dos municípios da Baixada Fluminense, por legislação de criação, data de instalação e origem, Estado do Rio de
Janeiro - 1565/2011

Municípios Legislação de criação Instalação Origem

Nova Iguaçu (5) Dec. de 15/01/1833 29/07/1833 Rio de Janeiro


Duque de Caxias Dec.Lei 1.055 de 31/12/1943 01/01/1944 Nova Iguaçu
Nilópolis Ato das Disp. Transit. da 22/08/1947 Nova Iguaçu
Constituição
do Est. do Rio de Janeiro de
20/06/1947
São João de Meriti Ato das Disp. Transit. da 22/08/1947 Duque de Caxias
Constituição
do Est. do Rio de Janeiro de
20/06/1947
Belford Roxo Lei Est. 1.640 de 03/04/1990 01/01/1993 Nova Iguaçu
Queimados Lei Est. 1.773 de 21/12/1990 01/01/1993 Nova Iguaçu
Japeri Lei Est. 1.902 de 02/12/1991 01/01/1993 Nova Iguaçu
Mesquita Lei Est. 3.253 de 25/09/1999 01/01/2001 Nova Iguaçu

Fonte: CEPERJ
191

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