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Monografia apresentada ao
Departamento de Economia da
Universidade Federal Fluminense
de Campos dos Goytacazes, como
requisito parcial para a obtenção
do título de bacharel em Ciências
Econômicas.
Monografia apresentada ao
Departamento de Economia da
Universidade Federal Fluminense
de Campos dos Goytacazes, como
requisito parcial para a obtenção
do título de bacharel em Ciências
Econômicas.
Aprovada em 09 de agosto de 2023
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________
Prof. Dr. Roberto Cezar Rosendo Saraiva da Silva (Orientador)- UFF
_____________________________________________
Profa. Dra. Vanuza da Silva Pereira Ney- UFF
_____________________________________________
Prof. Dr. - José Eduardo Manhães da Silva- UFF
_____________________________________________
Profa. Mestre. Katarina Ribeiro (Membro)
2023
DEDICATÓRIA
Agradeço, primeiramente, a Deus que me deu paz e energia para que este trabalho fosse
concluído. Foram momentos desafiadores, sem Ele nada seria possível.
Aos familiares queridos, minha mãe e meu irmão pelo apoio, compreensão e carinho
durante toda essa jornada.
A todos os meus professores, com especial agradecimento à Profa. Dra. Vanuza Pereira
da Silva Ney e ao Prof. Dr. Roberto Cezar Rosendo, meu orientador, pelo aprendizado,
competência, paciência e dedicação. Gratidão!
Aos membros da Banca, nas pessoas do Profa. Dra. Vanuza Pereira da Silva Ney Prof.
Dr. José Eduardo Manhães da Silva, Profa. Mestre. Katarina Ribeiro pelas contribuições
para o aperfeiçoamento deste trabalho.
Enfim, agradeço a todas as pessoas que fizeram parte desta etapa decisiva da minha vida,
com destaque para os meus familiares, que sempre me apoiaram e contribuíram para que
eu estivesse dentro de uma Universidade Pública Federal. Eles acreditaram em min.
Obrigado!
EPÍGRAFE
O censo do IBGE de 2010 identificou o número de 763 favelas no Rio de Janeiro que
abrigaram 22% da população da cidade. A expansão das favelas e sua urbanização
precária representam grandes desafios para os formuladores de políticas públicas. O
objetivo da pesquisa é analisar as principais políticas públicas voltadas para a urbanização
das favelas do município do Rio de Janeiro, com destaque para o Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC) e as Unidades De Polícia Pacificadora (UPPS), tendo como base
o período de análise 2010 a 2022. Como resultados, a pesquisa indica que houve avanços
consistentes, porém insuficientes, em decorrência das obras do PAC e de programas
habitacionais como o Minha Casa Minha Vida e o Morar Carioca, na urbanização das
favelas do Rio de Janeiro. À exemplo das Unidades de Políticas Pacificadoras e do PAC,
a pesquisa considera que a descontinuados destes programas por questões políticas é um
sério problema. Por fim, a urbanização acelerada e a integração das favelas à economia
de mercado e à cidade são percebidas como o caminho para romper o ciclo vicioso da
pobreza e a discriminação socioespacial inerentes à realidade das favelas cariocas.
The 2010 IBGE census identified the number of 763 favelas in Rio de Janeiro that housed
22% of the city's population. The expansion of favelas and their precarious urbanization
represent major challenges for public policy makers. The objective of the research is to
analyze the main public policies aimed at the urbanization of the favelas in the city of Rio
de Janeiro, with emphasis on the Growth Acceleration Program (PAC) and the Pacifying
Police Units (UPPS), based on the period of analysis from 2010 to 2022. As a result, the
research indicates that there have been consistent but insufficient advances, as a result of
the PAC works and housing programs such as Minha Casa Minha Vida and Morar
Carioca, in the urbanization of the favelas of Rio de Janeiro. Like the Pacification Policies
Units and the PAC, the survey considers that the discontinuation of these programs for
political reasons is a serious problem. Finally, accelerated urbanization and the
integration of favelas into the market economy and the city are perceived as the way to
break the vicious cycle of poverty and socio-spatial discrimination that is typical in Rio
de Janeiro’s favelas.
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11
OBJETIVOS ............................................................................................................... 12
HIPÓTESE ................................................................................................................. 13
METODOLOGIA ....................................................................................................... 14
1.1 – As abordagens de Celso Furtado, Milton Santos, Jesse Souza e o Urbanismo ..... 15
1.2- As favelas Cariocas e a reforma Pereira Passos, o passado que explica o presente 22
2.1- Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) um olhar sobre sua atuação nas
Favelas do Rio De Janeiro ........................................................................................... 28
3.1.2 Reflexões sobre o IPS e análise sobre as políticas públicas - Conclusões IPS. ..... 42
Capítulo 4. A política de segurança nas favelas cariocas- o caso das UPPS ................. 50
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 59
11
INTRODUÇÃO
conhecido como bota abaixo. Um dos marcos das intervenções de Pereira Passos na
cidade foram, respectivamente, a demolição do morro do Castelo, que se localizava
próximo à Praça XV e ao Passo Imperial - ou seja, área de histórica que integrava o centro
-, e do ponto de vista social, a eliminação dos cortiços que integravam a paisagem da
cidade. Os desdobramentos da citada política pública resultaram na remoção da
população do Morro do Castelo e dos cortiços então eliminados, para áreas rurais
afastadas, definindo assim novos contornos para a urbanização da cidade. A visão
higienista e europeizante da elite política e econômica da época, representada por Pereira
Passos, tem caracterizado o processo de urbanização segregado que ocorre até os dias de
hoje na capital fluminense.
Neste contexto, à luz das abordagens de Milton Santos e do estruturalismo
Furtadiano, o processo de urbanização do município do Rio de Janeiro será denominado
de “urbanização periférica”
OBJETIVOS
PROBLEMA DE PESQUISA
pelos bairros que estão entre os mais valorizados do país: Leblon, Ipanema, Lagoa, São
Conrado e Barra da Tijuca. Estes bairros apresentam preços de metro quadrados de
construção e renda per capita entre os mais elevados do país. De acordo com o censo
realizado em 2010 pelo IBGE, a renda per capita estimada dos moradores da Rocinha foi
de R$474,00. Enquanto a renda per capita do bairro de São Conrado foi de RS5.606,00
(11,8 vezes maior). A visível segregação socioespacial na cidade implica o menor alcance
das políticas públicas com vistas às favelas. A concentração de equipamentos urbanos em
áreas “valorizadas” reforça a segregação que atinge centenas de favelas do município pela
escassez ou falta de políticas públicas envolvendo, segurança, transporte, saúde e escolas.
Como resultado deste processo, favelas - que se desenvolvem próximas a
loteamentos e condomínios fechados de luxo - apresentam-se como o paradigma da
segregação socioespacial carioca.
HIPÓTESE
METODOLOGIA
Milton Santos discorre sobre os dois circuitos, o superior, com uma maior
modernização, consequência de um modelo tecnológico impulsionado por grandes
indústrias e corporações, onde se verifica a difusão de informações e novas formas de
consumo. Do ponto de vista geográfico, este circuito é definido por formas de
organizações do espaço onde a cidade é sempre reformulada através de grandes
empreendimentos voltados para o mercado imobiliário, o capital especulativo, turismo,
gastronomia e outros. Já o circuito inferior forma relações de exclusão onde há uma
dependência do circuito superior, lugar que carece de transformações, transporte,
saneamento básico, equipamentos urbanos a informalidade do emprego e um não
interesse do apoio governamental.
A grande cidade é um polo da pobreza, o lugar com mais força para atrair
pessoas com poucos recursos. Há uma grande limitação na capacidade empregatícia por
parte de setores intensivos em capital, pela proliferação da pobreza e de uma gama de
atividades urbanas de baixa produtividade que acolham grande parte da força de trabalho
que se multiplica nas cidades desses países. Esta relação criada a partir de dois circuitos,
superior e inferior, permite a identificação de elementos e das características da economia
global da cidade. “Pode-se afirmar imediatamente que a diferença fundamental entre as
17
atividades dos circuitos superior e inferior está nas diferenças de capital, tecnologia e
organização, entre outra.” (SANTOS,1978, p. 49)
Enfim, o dualismo estrutural definido por Furtado como uma das causas do
subdesenvolvimento de países como o Brasil, onde estruturas atrasadas e com baixo
dinamismo produtivo e tecnológico coexistem lado a lado com estruturas capitalistas
modernas e dinâmicas, manifesta-se, também, em escalas subnacionais, à exemplo das
economias urbanas. Assim, cidades como o Rio de Janeiro materializam a dualidade
estrutural do subdesenvolvimento definido por Furtado por meio das inter-relações que
são estabelecidas entre os espaços urbanos segregados e à margem do sistema capitalista,
“verdadeiras economias de sobrevivência” onde encontram-se as favelas, e os espaços
20
Por trás dos paradoxos envolvendo riqueza e pobreza, áreas nobres e áreas
periféricas da cidade, acesso a bens e serviços e não acesso aos mesmos, enfim, os
conflitos sociais, está a velha luta de classes:
indivíduos pelo acesso a capitais, tudo que funcione como facilitador na competição
social. Tudo vai depender ao privilegiado acesso ou não aos capitais.
1
Apartheid significa segregação. O autor utiliza o termo (apartheid) para relacionar este à separação de classes
sociais. Na Visão de Souza, existe um mercado restrito para classes de privilégio e outro precário para classes
populares, uma separação de classes de serviços em que os que têm mais privilégios têm acesso a serviços
sofisticados, a mercados diversificados enquanto as classes populares têm acesso limitado ao consumo de bens e
serviços na logica capitalista. (SOUZA, 2017, n. p.).
22
“Um dos símbolos das reformas de Pereira Passos foi a inauguração em 1905
da Avenida Central, atual Avenida Rio Branco. Para a construção da atual
Avenida Rio Branco, em 1904, ocorreria a primeira demolição do Morro do
Castelo, passando a ter como limites os fundos da Biblioteca Nacional e a
Escola de Belas Artes (Simas, 2023).”
Fonte: Brasiliana Fotográfica -Apud Augusto Malta. Demolição do Morro do Castelo, 9 de outubro de
1922. Rio de Janeiro, RJ / Acervo IMS
No início do século XX, os jornais, as revistas e nos anos 1920 o rádio eram os
meios de comunicação em massa empregados, o que fortalecia a autoridade e o poder de
persuasão da imprensa da época. Durante o período das reformas urbanas na então capital
federal, grande parte da imprensa recorreu a discursos que enalteciam as mudanças,
minimizando os impactos sociais. (BENCHIMOL, 1992, p. 245).
A expansão urbana da cidade do Rio de Janeiro, desde os primórdios, contou
com a ocupação dos morros nas áreas mais centrais da cidade. Com a abolição da
escravidão em 1888 e a paulatina desarticulação das produções açucareira e cafeeira - a
primeira centralizada no Norte Fluminense e a segunda no Sul Fluminense e na Capital -
seguiu-se a deterioração do setor de subsistências que abrigava parte considerável da mão
de obra que trabalhava nestas culturas. O fim da escravidão e a deterioração das relações
de produção no campo levaram a êxodo rural onde, em busca de empregos e uma melhor
qualidade de vida, boa parte de ex- escravizados e seus descendentes buscaram
estabelecer suas moradias nas áreas centrais da cidade. (BENCHIMOL, 1992, p. 245).
26
Durante o período 2007 a 2014, a cidade do Rio de Janeiro foi uma das mais
beneficiadas com os recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O
programa possibilitou um considerável nível de articulação nos três níveis de governo
(federal, estadual e municipal) e teve como objetivo central o desenvolvimento
econômico e social do Brasil com significativos impactos na rede urbana das cidades,
sobretudo nas áreas mais empobrecidas, as favelas. O programa englobou políticas
voltadas para a melhoria da infraestrutura, saneamento básico, habitação, transportes,
energia e recursos hídricos. A relevância do PAC se dá pelo fato de o Programa ser de
amplitude nacional tendo, entre outros objetivos, a busca pela melhoria da urbanização e
da qualidade de vida dos moradores das favelas brasileiras - algo inusitado no contexto
das políticas públicas realizadas no país até então.
De acordo com o Ministério da Gestão, Inovação e Serviços Públicos (MGISP), o
PAC se desdobrou em PAC 1, para o período 2007 a 2010, com planejamento de execução
de quatro anos e um orçamento de RS503,9 bilhões; e o PAC2, para o período 2010 a
2014, e um orçamento de RS1,59 trilhão. O programa abrigava subprogramas com
impactos diretos nas redes urbanas de grande parte das cidades brasileiras e chegava às
áreas rurais: (i) PAC cidade melhor melhorar a qualidade de vida nos grandes centros
urbanos com foco na mobilidade urbana; (ii) PAC comunidade cidadã - buscava aumentar
a oferta de serviços básicos à população de bairros populares e aumentar a presença do
Estado; (iii) PAC Minha Casa, Minha Vida - buscavam reduzir o déficit habitacional da
população mais carente, dinamizar o setor de construção civil e gerar emprego e renda;
(iv) PAC Água e Luz para Todos - buscava universalizar o acesso à agua e luz no país;
(V) PAC Transportes - buscava consolidar e interligar a rede logística no país; (VI) PAC
Energia - garantir a segurança do suprimento; desenvolver as descobertas do Pré-Sal
ampliando a capacidade produtiva do país (MGISP, 2023).
Segundo Cardoso et.al (2018), para fins de planejamento e gestão, a Prefeitura do
Rio de Janeiro divide o município em cinco Áreas de Planejamento (AP), 33 Regiões
29
Visto como uma obra emblemática composta por 6 estações e 3,5 km de extensão
evidencia a sobreposição de interesses da obra colocando a como problemática pois não
está operando sem seu fim para o interesse público.
Cantagalo, Pavão-
Pavãozinho, Babilônia,
AP2 Chapéu-Mangueira,
ZONA SUL E Borel, Morro da Formiga,
12% 15% 20%
GRANDE TIJUCA Tijauçu, Mata Machado,
Parque João Paulo II,
Rocinha
Manguinhos, Alemão,
Chico Mendes, Fernão
AP3
45% Cardim, Guarabu, Vila
ZONA NORTE 11% 64%
Rica de Irajá, Vila
Esperança, Socicon
AP4
BARRA DA TIJUCA Colônia Juliano Moreira,
16% 53% 7%
E JACAREPAGUÁ Jardim do Amanhã 2
AP5
19% Vila Catiri, Areal, Vila
ZONA OESTE 15% 1%
João, Lopes
23%
RIO DE JANEIRO 19% 100%
Fonte: Cardoso et. al 2018, p.110
Há uma clara concentração dos recursos na cidade do Rio de Janeiro que teve 33
operações com investimentos da ordem de RS2,9 bilhões.
No programa Favela Bairro 2 que atuou no Rio de Janeiro a produção de unidades
habitacionais para o reassentamento era limitada diferentemente no PAC não foram
estabelecidos quais eram estabelecidos os percentuais mínimos e máximos de remoções
não foram estabelecidos sendo permitidos maior disponibilidade de recurso tanto para
remoções parciais tanto para remoções totais. O impacto das obras somado a maior
disponibilidade de recursos e negociações fez com que o Poder público tivesse
possibilidades junto aos moradores são elas: 1) Unidades habitacionais reassentamento,
2) Indenização, 3) Compra assistida de outro imóvel.
Os reassentamentos foram a produção de unidades habitacionais que atenderam
50 % da demanda em média 5.154 unidades habitacionais para 10.260 situações de
remoções para a prefeitura foram 57 % dos casos foram atendidos no Governo do Estado
foram 48 %.Na Rocinha 23 % das unidades habitacionais foram produzidas ,Indenização
41% e compra assistida 34 % das situações .A Colônia Juliano Moreira e Cantagalo foram
as que mais reassentaram 74% e 83% respectivamente apartamentos foram oferecidos
nessas negociações com 2 quartos entre 40 m e 50 m ,em casos que não poderiam ser
atendidas por não atender as relação a casa anterior e o perfil familiar foram aderidas as
Modalidades de Indenização e compra assistida que ocorreram em 98 % das situações em
comunidades pois não foram identificadas intervenções nessas regiões. As indenizações
foram repassadas as famílias como espécie de aluguel social. A aquisição de imóveis que
foram a oportunidade de moradores se inscreverem no programa minha Casa minha vida.
2
“Assentamentos Populares (Proap), que incluía a urbanização de favelas e a regularização/urbanização de
loteamentos irregulares e clandestinos. O Proap-I (1997-2000) atendeu a 54 assentamentos e o Proap-II
(2000-2004) alcançou 89 assentamentos (CARDOSO, 2007). Vale ressaltar ainda a criação do Programa
Grandes Favelas (para favelas de grande porte que não estavam cobertas pelo escopo do Programa Favela-
Bairro) e do Programa Bairrinho (para as favelas com até 500 domicílios) na segunda metade da década de
90, o que veio a ampliar o escopo de atuação da Prefeitura.” (CARDOSO, 2007).
33
Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,732 ficando atrás de bairros como Gávea (0,970),
São Conrado (0,873) e Vidigal (0,873) que são bairros também localizados na zona sul.
A origem da Rocinha remonta de uma antiga chácara produtora de café chamada
“Fazenda Quebra-Cangalha” atuando até a década de 1930 como centro fornecedor de
produtos hortifrutigranjeiros para a zona sul da cidade. Seu nome ficou conhecido pela
indicação de moradores próximos que compravam produtos advindos da “rocinha”.
Dentre as obras emblemáticas do PAC, conforme a figura 6 na Rocinha, destaca-
se o Viaduto Niemeyer, um dos projetos de urbanização implementados no bairro dado
seu investimento vultuoso enquanto outras demandas essenciais como saneamento básico
tornou- se uma bandeira de luta na comunidade.
O objetivo desta seção é avaliar em que medida as políticas públicas voltadas para
a urbanização das favelas cariocas, com destaque para o PAC, contribuíram para a
melhoria da qualidade de vida e do bem-estar social das favelas do Rio de Janeiro e bairros
da periferia da cidade. Para realizar a análise, utiliza-se o índice desenvolvido pela
prefeitura do município do Rio de Janeiro a partir de experiências internacionais,
denominado Índice de Progresso Social (IPS), calculado desde 2016.
Quadro 5 - DESEMPENHO GERAL do Rio de janeiro IPS – Comparações entre os anos 2022 em
relação à 2016
2022 2016
Dimensão 1 Necessidades humanas básicas 85,04 75,84
Complexo do Alemão passa de 40,51 para 58,08 e a Maré salta de 50,53 para 60,57. Essas
melhorias nos indicadores no IPS refletem não apenas as obras do PAC mais também
outras obras de infraestrutura básica no âmbito municipal, estadual e Federal nas favelas
do Rio de Janeiro. Corroborando este fato observa-se que houve também aumento do IPS
em outras favelas importantes no Rio de Janeiro como as favelas Cidade de Deus e
Jacarezinho.
Quadro 6 -Ranking e nota do IPS anos (2016-2022)
RANKING
Região IPS Ranking IPS RANKING NOTA
2016 a
administrativa 2016 2016 2022 2022 2022/2016
2022
Botafogo 87,12 1 75,14 10 -11,98 -9
Copacabana 82,93 3 76,69 7 -6,24 -4
Lagoa 84,94 2 77,40 3 -7,54 -1
Vila Isabel 74,12 5 69,77 30 -4,35 -25
Tijuca 78,13 4 72,15 18 -5,98 -14
Barra da tijuca 71,03 6 79,29 1 8,26 5
Meier 67,05 7 67,80 44 0,75 - 37
Irajá 61,94 9 66,22 61 4,28 -52
Santa Tereza 60,52 12 59,84 124 0,68 -112
Ilha do
65,01 8 70,00 29 4,99 -21
Governador
Jacarepaguá 60,74 11 66,10 64 5,36 -51
Campo Grande 58,64 14 65,48 70 6,84 -51,48
Ramos 57,91 15 64,26 86 6,33 -71
Penha 60,28 13 61,14 115 0,86 -102
Inhaúma 60,84 10 62,73 97 1,89 -87
Realengo 54,41 19 63,25 94 8,84 -75
Anchieta 57,09 17 59,55 129 2,46 -112
Madureira 54,12 20 60,18 122 6,06 -102
Centro 57,75 16 60,48 120 2,73 -108
Rio Comprido 52,43 22 62,94 102 10,51 -80
Vigário Geral 53,31 21 59,91 123 6,6 -101
Rocinha 44,78 29 60,20 121 15,42 -82
São Cristóvão 50,72 23 56,84 144 6,12 -121
Bangu 54,47 18 61,11 116 6,64 -98
Santa Cruz 47,84 25 59,84 124 12 -99
Cidade de
45,44 26 53,35 152 7,91 -126
Deus
Maré 50,53 24 60,57 119 10,04 -95
Jacarezinho 43,82 30 55,18 147 11,36 117
Complexo do
40,51 32 58,08 138 17,57 -106
Alemão
Guaratiba 45,27 28 54,94 148 9,67 -120
Pavuna 41,10 31 59,36 131 18,26 -100
Portuária 45,33 27 52,61 - 7,28 -
Rio de Janeiro 60,77 - 64,34 - -
Fonte: Prefeitura do Rio de Janeiro, IPS (2018, 2020)
42
3.1.2 Reflexões sobre o IPS e análise sobre as políticas públicas - Conclusões IPS.
O estudo do índice de progresso social feito com dados do censo de 2010 foi
realizado pela data rio, os dados trazem consigo informações sobre o desenvolvimento
social segundo aos bairros e favelas do Rio de Janeiro. A pesquisa foi feita de acordo com
as áreas de planejamento do Rio de Janeiro. Essas áreas mostram uma considerável
diferença entre os bairros de acordo com o apresentado abaixo.
O baixo índice de progresso do desenvolvimento de algumas regiões como
Rocinha, Complexo do Alemão, Cidade de Deus se reflete no limitado acesso a direitos
básicos como água, saneamento, esgoto, saúde e educação. Pode se concluir que embora
o PAC e outros programas como Morar Carioca tenha atuado nessas regiões ainda há
muito o que se fazer e investir dado a falta de infraestrutura indicada pelo IPS.
Por outro lado, as políticas públicas Morar Carioca e PAC não atenderam de
forma suficiente as demandas das comunidades. É notório que algumas áreas bairros que
abrigam favelas estão com grande déficit de apoio por parte das políticas públicas para o
seu desenvolvimento.
43
Os dados coletados mostram uma grande diferença entre renda per capita em
reais de alguns bairros a Rocinha é um exemplo com renda per capita de 408 reais mesmo
estando na zona sul e lagoa que também encontra se na zona sul com renda per capita de
5635 reais, isso nos mostra que além do rendimento em reais a uma diferença entre os
bairros, como citado acima no IPS estudo do instituto pereira passos sobre a desigualdade
de renda sendo visível no Rio de Janeiro. A renda é um indicador de desenvolvimento,
quanto maior a renda, mais desenvolvido é o bairro. O IPS dos bairros com melhores
infraestrutura se encontram na Zona Sul bairros com maiores rendas, maiores
equipamentos urbanos, como, tratado também por Milton Santos.
A concentração é dada por pessoas que vivem com renda superior à de outros
moradores, como visto acima a uma clara diferença mesmo que estando no mesmo bairro
da Rocinha que se encontra na zona Sul e que é considerada bairro com outros bairros
também presentes na zona sul Lagoa (5635), Leblon (4702), Ipanema (4513) e São
Conrado (4609) todos os rendimentos em reais.
44
Na raiz dos problemas que ajudam a explicar a expansão das favelas cariocas está
o elevado índice de fecundidade das moradoras destes aglomerados populacionais, cuja
média de filhos por mulher é 30% maior que a média do Rio de Janeiro. Este fato é
explicado por Soares (2010) pela pobreza e desinformação que predomina nas favelas
cariocas. Cerca de 25% das jovens entre 15 e 19 anos de idade já têm pelos menos um
filho, cinco vezes a média da cidade, segundo estudos da Fundação Getúlio Vargas,
mencionados por Soares (2010):
um filho – cinco vezes a média da cidade. Dado espantoso que não deixa
dúvidas: a maternidade precoce é um potente motor para a explosão
populacional nos morros do Rio de Janeiro. Soares (2010).
Providencia 102.424 102. 424 102. 424 101. 693 102. 205 103. 689 105. 702
Santa
53.744 53.754 54.419 54.554 54.820 55 .381 57. 815
Marta
Nova
6.167 73. 926 89.757 90. 067 95 .450 103 .412 113. 835
Brasília
das áreas no entorno das favelas. Como se observa na Figura 10, o número de mortes
violentas nas favelas caiu drasticamente após a instalação das UPPs, passando de 185 no
segundo semestre de 2007, para 34 no primeiro semestre de 2013.
Figura 8 – Letalidade violenta em áreas com UPP no Rio de Janeiro por semestre: 2007-2015
política pública das UPPS foi muito reduzido. O que resultou no fim do programa em
2008. Ver quadro 6.
Área total do grande Rio sob controle de cada grupo Armado (2006 a
300
2021)
256.28
250
215.64 219.08 211.04 218.68
212.36
208.15 209.2 206.53
199.19 193.73
200 186.77
170.48
155.42 156.44 151.25
145.96
150 131.21 138.88 143.64 138.01 138.96
126.84 125.13
115.83 117.98
97.8
100
52.6
50 35.97 41.53
20.03 26.62 28.9 28.42 28.08 23.08 23.89
18.09 21.76
19.7 21.49 16.79 17.63 22.08 20.76 20.06 20.54 21.18 18.56
17.14 20.8 20.36
16.13 14.11 9.43
5.63
0
Fonte: Adaptado de GENI/UFF e Fogo Cruzado, Mapa histórico dos grupos armados do Rio de
Janeiro,2022.
pelos grupos armados e pelas incursões truculentas da polícia. Muitos moradores são
obrigados a pagar pedágio, a consumir produtos e serviços comercializados pelas facções
criminosas, com destaque para as milícias, a conviver com o tráfico de drogas e a guerra
entre traficantes, milicianos e policiais. Os moradores das favelas cotidianamente se veem
no meio de tiroteios onde são empregadas armas de guerra.
Estes fatos demonstram a falência das políticas de segurança pública para as
favelas, para o município do Rio de Janeiro e para o estado. Ou seja, o estado deixa de
atuar como agente público garantidor da segurança dentro das favelas e volta a fazer
incursões pontuais com elevado índice de letalidade.
56
Considerações Finais:
saúde e segurança pública. No que tange à urbanização das mesmas e o papel do estado,
este, quando atua, ainda o faz de forma muito tímida e, não raro, equivocada. Entretanto,
as obras do Programa de Aceleração do Crescimento PAC I e II do governo Federal,
realizadas em parceria com o estado e com o município do Rio de Janeiro, revelaram que
um esforço integrado das três esferas de governo pode mudar a realidade das favelas
cariocas. Bastando boa vontade política, pois o país dispões de recursos para a realização
de investimentos desta natureza dentro do orçamento dos governos. As obras do PAC
atestam a afirmação acima, foram desenvolvidas nos governos Lula 1 e 2 (2003 a 2010)
e no Governo Dilma (2010-2015). Entretanto, ressalta-se que, como ponto negativo das
obras do PAC nas favelas do Rio de Janeiro, parte substancial dos recursos aplicados nas
favelas cariocas foram de cunho eleitoreiro, isto é, nas chamadas obras emblemáticas,
com pouca utilidade prática para os moradores, à exemplo do teleférico do Morro do
Alemão. O PAC não fugiu à prática da cultura política brasileira. Foi descontinuado nos
governos Temer (2016-2019) e Bolsonaro (2019 a 2022).
Por sua vez, Programas habitacionais como Minha Casa Minha Vida (federal),
Favela Bairro e o Morar Carioca (municipais) reforçaram a ideia de que é possível realizar
políticas de urbanização nas favelas de modo a integrá-las ao conjunto urbano da cidade.
Enquanto esforço de gestão, o Índice de Progresso Social (IPS) criado pelo governo do
município do Rio de Janeiro foi um passo importante dado no sentido de avaliar os
resultados das políticas públicas com vistas à urbanização, sobretudo, das favelas e áreas
periféricas do Rio de Janeiro. Por exemplo, os bairros da Rocinha e do Complexo do
Alemão aumentaram respectivamente seus IPS entre 2016 e 2022 de 44.78 para 60,2 e de
40,51 para 58,08, refletindo positivamente as políticas públicas que chegaram a estas
favelas. As políticas não resolveram todos os problemas das comunidades mais houveram
parcerias, do resultado de 2016 reflete em grande parte o fruto dos investimentos que
formam feitos nas áreas mais carentes principalmente graças ao PAC a 2022
As políticas são sempre interrompidas embora o Governo Lula pensa se numa
política que não fosse apenas para o governo no Rio de Janeiro mais para o Brasil todo.
Oque atesta que essas políticas foram bem sucedidas são o considerável o aumento do
IPS nada melhor que o IPS para mostrar a qualidade das políticas públicas que ocorreram
em 20016 e refletiram em 2022 o PAC teve resultado positivo, porém insuficientes. Um
dos mais graves problemas que afetam as favelas e o município do Rio de Janeiro é a
violência urbana. A implementação da política das UPPS no período de 2007 a 2018
apresentou resultados substanciais com vistas à redução de mortes, de conflitos armados
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e da letalidade policial tanto nas favelas cariocas quanto na cidade como um todo
(“asfalto”) valorizando, inclusive, os imóveis dos bairros próximos às favelas. É certo que
uma política de segurança da envergadura das UPPS apresentará problemas. Como visto,
o encerramento da política das UPPS implicou a fortíssima expansão territorial das
milícias e das facções criminosas no Rio de Janeiro, com o aumento dos conflitos armados
por disputas territoriais, mortes por armas de fogo de inocentes, sobretudo nas favelas, e
retorno ao padrão de incursões truculentas da polícia do estado nas favelas. Mas fica a
pergunta: por que um programa que alcançou resultados tão significativos foi extinto? A
política das UPPS não merecia ser aperfeiçoada e suas falhas corrigidas? Em síntese, por
que o estado não consegue atuar de forma continuada e eficiente fazendo-se presente por
meio de políticas públicas nas favelas no Rio de Janeiro? A resposta a estas perguntas
corroboram a hipótese desta pesquisa, a saber, a de que as relações entre a Casa Grande e
a Senzala - tipificadas no século XXI pelas favelas e pelas áreas nobres da cidade do Rio
de Janeiro, onde reside a elite carioca permanecem sob novas roupagens. Como bem
elucidou Jessé de Souza, além do racismo institucional e estrutural, estas novas relações
se manifestam na forma da discriminação socioespacial. Por sua vez, como propõe Milton
Santos, a desigualdade social e econômica leva a um ciclo vicioso onde o sistema mantém
e reproduz áreas periféricas e menos dinâmicas da cidade (favelas) as quais se articulam
às áreas mais dinâmicas ligadas ao capitalismo avançado. Furtado argumenta que um
sistema socioeconômico que tem seu dinamismo fundamentado em estruturas atrasadas
que se integram a estruturas dinâmicas caracteriza o dualismo estrutural que tipifica o
subdesenvolvimento. Romper com esta lógica do atraso passa por incorporar social e
economicamente as favelas e seus moradores ao mercado e à cidade, por meio de
investimentos públicos robustos em educação e urbanização que lhes garantam o direito
à urbanidade e cidadania.
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REFERÊNCIAS
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