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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS DE CAMPOS


BACHARELADO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS

JOSÉ RAFAEL ISAC ALVES

POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A URBANIZAÇÃO DAS FAVELAS CARIOCAS


:2010 a 2022

Campos dos Goytacazes, RJ


2023
JOSÉ RAFAEL ISAC ALVES

POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A URBANIZAÇÃO DAS FAVELAS


CARIOCAS:2010 a 2022

Monografia apresentada ao
Departamento de Economia da
Universidade Federal Fluminense
de Campos dos Goytacazes, como
requisito parcial para a obtenção
do título de bacharel em Ciências
Econômicas.

Orientador: Prof. Dr. Roberto


Cezar Rosendo Saraiva da Silva

Campos dos Goytacazes, RJ


2023
FICHA CATALOGRÁFICA
JOSÉ RAFAEL ISAC ALVES

POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A URBANIZAÇÃO DAS FAVELAS


CARIOCAS: 2010 a 2022

Monografia apresentada ao
Departamento de Economia da
Universidade Federal Fluminense
de Campos dos Goytacazes, como
requisito parcial para a obtenção
do título de bacharel em Ciências
Econômicas.
Aprovada em 09 de agosto de 2023

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________
Prof. Dr. Roberto Cezar Rosendo Saraiva da Silva (Orientador)- UFF

_____________________________________________
Profa. Dra. Vanuza da Silva Pereira Ney- UFF

_____________________________________________
Prof. Dr. - José Eduardo Manhães da Silva- UFF

_____________________________________________
Profa. Mestre. Katarina Ribeiro (Membro)

Campos dos Goytacazes, RJ

2023
DEDICATÓRIA

Dedico esta conquista


especialmente à minha mãe, ao
meu irmão e a todas as pessoas
que contribuíram para esta
jornada desafiadora.
AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus que me deu paz e energia para que este trabalho fosse
concluído. Foram momentos desafiadores, sem Ele nada seria possível.

Aos familiares queridos, minha mãe e meu irmão pelo apoio, compreensão e carinho
durante toda essa jornada.

A todos os meus professores, com especial agradecimento à Profa. Dra. Vanuza Pereira
da Silva Ney e ao Prof. Dr. Roberto Cezar Rosendo, meu orientador, pelo aprendizado,
competência, paciência e dedicação. Gratidão!

À instituição UFF - Universidade Federal Fluminense, meu agradecimento por ter me


transformado como ser humano.

Aos membros da Banca, nas pessoas do Profa. Dra. Vanuza Pereira da Silva Ney Prof.
Dr. José Eduardo Manhães da Silva, Profa. Mestre. Katarina Ribeiro pelas contribuições
para o aperfeiçoamento deste trabalho.

Enfim, agradeço a todas as pessoas que fizeram parte desta etapa decisiva da minha vida,
com destaque para os meus familiares, que sempre me apoiaram e contribuíram para que
eu estivesse dentro de uma Universidade Pública Federal. Eles acreditaram em min.
Obrigado!
EPÍGRAFE

O Rap da felicidade, expressão genuína do funk carioca, retrata a alma e aspirações


básicas de cidadania da população das favelas do Rio de Janeiro:

Eu só quero é ser feliz


Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar
Fé em Deus, DJ
Eu só quero é ser feliz
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar
Mas eu só quero é ser feliz
Feliz, feliz, feliz, feliz onde eu nasci (Han!)
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar
Minha cara autoridade, eu já não sei o que fazer
Com tanta violência eu sinto medo de viver
Pois moro na favela e sou muito desrespeitado
A tristeza e a alegria aqui caminham lado a lado
Eu faço uma oração para uma santa protetora
Mas sou interrompido a tiros de metralhadora
Enquanto os ricos moram numa casa grande e bela
O pobre é humilhado, esculachado na favela
Já não aguento mais essa onda de violência
Só peço à autoridade um pouco mais de competência
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar

Cidinho & Doca


RESUMO

O censo do IBGE de 2010 identificou o número de 763 favelas no Rio de Janeiro que
abrigaram 22% da população da cidade. A expansão das favelas e sua urbanização
precária representam grandes desafios para os formuladores de políticas públicas. O
objetivo da pesquisa é analisar as principais políticas públicas voltadas para a urbanização
das favelas do município do Rio de Janeiro, com destaque para o Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC) e as Unidades De Polícia Pacificadora (UPPS), tendo como base
o período de análise 2010 a 2022. Como resultados, a pesquisa indica que houve avanços
consistentes, porém insuficientes, em decorrência das obras do PAC e de programas
habitacionais como o Minha Casa Minha Vida e o Morar Carioca, na urbanização das
favelas do Rio de Janeiro. À exemplo das Unidades de Políticas Pacificadoras e do PAC,
a pesquisa considera que a descontinuados destes programas por questões políticas é um
sério problema. Por fim, a urbanização acelerada e a integração das favelas à economia
de mercado e à cidade são percebidas como o caminho para romper o ciclo vicioso da
pobreza e a discriminação socioespacial inerentes à realidade das favelas cariocas.

Palavras - chave: Favelas Cariocas; Programa de Aceleração Do Crescimento;


Unidades de Polícia Pacificadoras.
ABSTRACT

The 2010 IBGE census identified the number of 763 favelas in Rio de Janeiro that housed
22% of the city's population. The expansion of favelas and their precarious urbanization
represent major challenges for public policy makers. The objective of the research is to
analyze the main public policies aimed at the urbanization of the favelas in the city of Rio
de Janeiro, with emphasis on the Growth Acceleration Program (PAC) and the Pacifying
Police Units (UPPS), based on the period of analysis from 2010 to 2022. As a result, the
research indicates that there have been consistent but insufficient advances, as a result of
the PAC works and housing programs such as Minha Casa Minha Vida and Morar
Carioca, in the urbanization of the favelas of Rio de Janeiro. Like the Pacification Policies
Units and the PAC, the survey considers that the discontinuation of these programs for
political reasons is a serious problem. Finally, accelerated urbanization and the
integration of favelas into the market economy and the city are perceived as the way to
break the vicious cycle of poverty and socio-spatial discrimination that is typical in Rio
de Janeiro’s favelas.

Keywords: Rio’s favelas; Growth Acceleration Program; Pacifying Police Unit.


Sumário

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11

OBJETIVOS ............................................................................................................... 12

PROBLEMA DE PESQUISA ..................................................................................... 12

HIPÓTESE ................................................................................................................. 13

METODOLOGIA ....................................................................................................... 14

Capítulo 1 - REFERENCIAL TEÓRICO E REVISÃO DA LITERATURA ................ 15

1.1 – As abordagens de Celso Furtado, Milton Santos, Jesse Souza e o Urbanismo ..... 15

1.1.1 Milton Santos e sua abordagem sobre os circuitos Urbanos ................................ 15

1.1.2- Celso Furtado .................................................................................................... 17

1.1.3- Jessé de Souza e a questão da segregação socioespacial na dinâmica urbana. .... 20

1.2- As favelas Cariocas e a reforma Pereira Passos, o passado que explica o presente 22

Capítulo 2: Analise da Política do PAC ....................................................................... 28

2.1- Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) um olhar sobre sua atuação nas
Favelas do Rio De Janeiro ........................................................................................... 28

2.2 O CASO DA ROCINHA - Contextualização e o PAC ........................................... 35

Capítulo 3: Analise de alguns indicadores econômicos, a expansão das favelas e a Política


de segurança de polícia pacificadora (UPP) ................................................................. 38

3.1- Índice de Progresso Social e Índice De Desenvolvimento Social .......................... 38

3.1.2 Reflexões sobre o IPS e análise sobre as políticas públicas - Conclusões IPS. ..... 42

3.2 - Renda per capita dos bairros do Rio de Janeiro.................................................... 43

3.3 Evolução das favelas no Rio de Janeiro ................................................................. 44

Capítulo 4. A política de segurança nas favelas cariocas- o caso das UPPS ................. 50

4.1 O aumento do crime organizado no Rio de Janeiro após o programa de polícia


pacificadora (UPP) ...................................................................................................... 53

Considerações Finais: ................................................................................................. 56

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 59
11

INTRODUÇÃO

O município do Rio de Janeiro foi capital do Brasil no período 1763 a 1960. A


partir de 1960, com a ida da capital nacional para Brasília, tornou-se o estado da
Guanabara e, após a fusão da Guanabara com o antigo estado do Rio de Janeiro,
consolidada em 1975, tornou-se capital do estado fluminense que tem o mesmo nome,
Rio de Janeiro. A capital fluminense ostenta a posição de segunda maior cidade do país,
com uma população de 6,7 milhões de habitantes, contra 12,2 milhões que habitam na
cidade de São Paulo - primeira colocada no ranking nacional (IBGE,2003). De acordo
com o último censo de 2010, o Rio de Janeiro é o município que apresenta o maior número
de pessoas vivendo em favelas no Brasil, a saber, 1,4 milhão de pessoas, seguido por São
Paulo, com 1,28 milhões de pessoas. Ou seja, cerca de 22% da população da capital
fluminense mora em comunidades precarizadas deste tipo.
O processo de urbanização do município do Rio de Janeiro é um caso sui
generis no Brasil e no mundo. Tendo em vista sua topografia acidentada, o Rio de Janeiro
é constituído de áreas planas cercadas por maciços, montes e morros. Desde os primórdios
do processo de urbanização da cidade, que dá a partir da abolição da escravidão no Brasil
em 1888 e ao longo do século XX e XXI, a população mais pauperizada - constituída
majoritariamente de ex-escravizados e seus descendentes, passou a habitar as áreas menos
valorizadas da cidade - os morros cariocas. Os morros cariocas constituem-se em
verdadeiros enclaves populacionais de pobreza e de indigência, em meio a áreas
urbanizadas nobres (em geral planas), onde habitam as classes média e a alta e a burguesia
nas áreas nobres cidade. Os registros históricos revelam que os morros do Castelo e da
Providência - ambos localizados no centro da cidade da então capital federal - foram os
primeiros a serem habitados no município. Por sua vez, as áreas planas e mais valorizadas
- sobretudo as que estão próximas à orla marítima - foram apropriadas e ocupadas pelas
elites econômicas, políticas e por uma emergente classe média que se ampliava, em
compasso com o avanço do capitalismo e da urbanização na então capital da república
brasileira
As intervenções das políticas públicas relacionadas à urbanização da cidade,
envolvendo tanto as áreas mais nobres quanto as áreas periféricas do Rio de Janeiro, têm
como marco a gestão do prefeito Pereira Passos (1902/1906). A urbanização e
modernização da área central da cidade no período Pereira Passos ficou popularmente
12

conhecido como bota abaixo. Um dos marcos das intervenções de Pereira Passos na
cidade foram, respectivamente, a demolição do morro do Castelo, que se localizava
próximo à Praça XV e ao Passo Imperial - ou seja, área de histórica que integrava o centro
-, e do ponto de vista social, a eliminação dos cortiços que integravam a paisagem da
cidade. Os desdobramentos da citada política pública resultaram na remoção da
população do Morro do Castelo e dos cortiços então eliminados, para áreas rurais
afastadas, definindo assim novos contornos para a urbanização da cidade. A visão
higienista e europeizante da elite política e econômica da época, representada por Pereira
Passos, tem caracterizado o processo de urbanização segregado que ocorre até os dias de
hoje na capital fluminense.
Neste contexto, à luz das abordagens de Milton Santos e do estruturalismo
Furtadiano, o processo de urbanização do município do Rio de Janeiro será denominado
de “urbanização periférica”

OBJETIVOS

O objetivo da pesquisa é analisar as principais políticas públicas voltadas para


a urbanização das favelas do município do Rio de Janeiro, com destaque para o Programa
de Aceleração do Crescimento (PAC) e as Unidades De Polícia Pacificadora (UPPS),
tendo como base o período de análise 2010 a 2022. Em termos dos objetivos específicos,
busca-se mapear geograficamente as principais favelas do Rio de Janeiro e analisar seus
indicadores econômicos e sociais, bem como indicadores relacionados à urbanização das
favelas utilizando-se o Índice De Progresso Social (IPS) produzido pela Prefeitura do Rio
de Janeiro.

PROBLEMA DE PESQUISA

A pobreza e a indigência urbanas no município do Rio de Janeiro e sua


manifestação nas favelas cariocas definem o problema de pesquisa a ser abordado neste
trabalho. A opulência e a miséria convivem literalmente lado a lado. O censo do IBGE de
2010 identificou o número de 763 favelas no Rio de Janeiro que abrigaram 22% da
população da cidade. A favela da Rocinha, por exemplo, é considerada a maior favela da
América Latina, com uma população estimada em 2010 de 70.000 pessoas, maior que
muitos municípios brasileiros. Localizada na zona sul da cidade, a Rocinha está cercada
13

pelos bairros que estão entre os mais valorizados do país: Leblon, Ipanema, Lagoa, São
Conrado e Barra da Tijuca. Estes bairros apresentam preços de metro quadrados de
construção e renda per capita entre os mais elevados do país. De acordo com o censo
realizado em 2010 pelo IBGE, a renda per capita estimada dos moradores da Rocinha foi
de R$474,00. Enquanto a renda per capita do bairro de São Conrado foi de RS5.606,00
(11,8 vezes maior). A visível segregação socioespacial na cidade implica o menor alcance
das políticas públicas com vistas às favelas. A concentração de equipamentos urbanos em
áreas “valorizadas” reforça a segregação que atinge centenas de favelas do município pela
escassez ou falta de políticas públicas envolvendo, segurança, transporte, saúde e escolas.
Como resultado deste processo, favelas - que se desenvolvem próximas a
loteamentos e condomínios fechados de luxo - apresentam-se como o paradigma da
segregação socioespacial carioca.

HIPÓTESE

Concebe-se que a desigualdade social e econômica leva à “favelização


urbana”, marcas registradas na teoria do dualismo estrutural de Celso Furtado, onde
estruturas atrasadas se integram à estruturas dinâmicas, caracterizando o
subdesenvolvimento. Trazendo o dualismo estrutural para a lógica das cidades, à Luz de
Milton Santos, dois circuitos se formam: o circuito inferior e o circuito superior. O
circuito inferior está representado pelas comunidades “periferizadas” nas áreas urbanas
(favelas). Nestas áreas, as relações de produção e de mercado são precárias e o acesso às
políticas públicas muito limitado. Já o circuito superior está inserido no mercado
capitalista e se integra ao mercado internacional e desfruta de um amplo leque de políticas
públicas. Considera-se que a tipologia proposta por Gilberto Freire, reformulada por
Jessé de Souza, se traveste com uma nova roupagem no capitalismo periférico brasileiro
do século XXI. Nesta perspectiva, coexistem de forma integrada as relações sociais e de
produção características da casa grande e da senzala, que na contemporaneidade se
expressam nas relações entre a favela/morro e o asfalto - na linguagem popular carioca.
Enfim, romper com esta lógica do atraso passa por incorporar social e economicamente
as favelas e seus moradores ao mercado e à cidade, por meio de investimentos públicos
robustos em educação e urbanização.
14

METODOLOGIA

O método a ser adotado será o histórico-estruturalista, para dar conta da análise


do processo de urbanização periférica envolvendo as favelas do município do Rio de
Janeiro – com ênfase no período 2010 a 2022. Como referenciais teóricos, os seguintes
autores são adotados: Celso Furtado (desenvolvimento e subdesenvolvimento), Milton
Santos (a geografia urbana e a tese dos dois circuitos) e Jessé de Souza (abordagem
sociológica da desigualdade). Empregam-se dados de fontes oficiais secundárias tais
como: dados do Instituto Pereira Passos, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), dados da Pesquisa Nacional Por Amostras De Domicílios (PNAD),
dentre outros. O trabalho é assim desenvolvido: além da introdução, a pesquisa está
dívida em quatro Capítulos mais as considerações finais. A Capitulo 1 é dedicada ao
referencial teórico e revisão da literatura. O Capitulo 2 discorre sobre uma breve revisão
da literatura sobre a urbanização do município do Rio de Janeiro e da formação de suas
principais favelas. O Capitulo 3 é dedicado à análise das intervenções do PAC nas favelas
cariocas. Neste Capitulo, discute-se ainda os resultados do Índice de Progresso Social
elaborado pela prefeitura do Rio de Janeiro, que espelha as políticas que chegaram nas
favelas. No Capitulo 4 realiza-se a análise da política de segurança pública para as favelas
cariocas, denominada Unidade De Polícia Pacificadora (UPPS).
15

Capítulo 1 - REFERENCIAL TEÓRICO E REVISÃO DA LITERATURA

1.1 – As abordagens de Celso Furtado, Milton Santos, Jesse Souza e o


Urbanismo
As aglomerações de moradias informais - popularmente chamadas de favelas -
que surgem em meio aos grandes centros urbanos no país são um fenômeno complexo e
relativamente pouco estudado no Brasil.
Como referenciais teóricos para tratar da questão que envolve as favelas nos
grandes centros urbanos, os seguintes autores são abordados: Milton Santos, Celso
Furtado e Jessé de Souza. Os recortes teóricos destes autores se complementam e
contribuem para dar conta da problemática que envolve estas comunidades em seus
aspectos urbano, econômico e sociológico. Em Milton Santos, destaca-se o recorte dos
dois circuitos urbanos. Milton Santos argumenta que a economia urbana não pode ser
estudada de forma monolítica, deve levar em conta as contradições que lhes são
peculiares. Já a abordagem de Celso Furtado ressalta o dualismo estrutural que permeia
as economias subdesenvolvidas, perspectiva que se traduz também nas economias
urbanas. Jessé de Souza traz uma visão institucional e sociológica das hierarquias sociais
brasileiras, marcada por séculos de escravidão no Brasil. Neste contexto, as relações
hierárquicas e sociais estabelecidas entre a casa grande e a senzala, se transmutam na
lógica capitalista que permeia o espaço urbano de cidades como o Rio de Janeiro, e se
materializam simbolicamente na expressão de condomínios de luxo que coexistem ao
lado de favelas.

1.1.1 Milton Santos e sua abordagem sobre os circuitos Urbanos

Segundo Milton Santos, a pobreza e a urbanização estão intrinsicamente ligadas


sugerindo um enfoque que leve em conta a existência de uma economia urbana, a partir
de dois circuitos interdependentes, mas hierarquicamente organizados: o circuito superior
e o circuito inferior. Milton Santos inicia sua análise contrastando o conceito marxista de
exército industrial de reserva à realidade do progresso técnico em economias
subdesenvolvidas e seus efeitos sobre a economia urbana das cidades.
16

O progresso técnico atual muda profundamente a composição técnica do


capital e reduz rápida e drasticamente a demanda de mão de obra,
principalmente nos setores mais afetados pela modernização. Se a clássica
ideia de um exército industrial de reserva não modificada levando em conta
novas realidades, perdera o sentido quando aplicada a países
subdesenvolvidos. De qualquer maneira quem permanecer fora do mundo do
emprego permanente não está perdido para a economia corno um todo. Assim,
a economia urbana deve ser estudada corno um sistema único, mas composto
de dois subsistemas. Nós chamamos esses dois subsistemas de "circuito
superior" e "circuito inferior". A cidade não pode mais ser estudada como um
todo maciço” (SANTOS,1978, p.43).

A modernização e as novas formas de consumo constituem a explicação, no


âmbito geográfico, que geram ao mesmo tempo dispersão e concentração. Em que uma
parte da população é excluída do mercado capital intensivo, com implicações para o nível
de renda e deterioração do mercado de trabalho. A renda divide a sociedade entre aqueles
que podem ter acesso a mercadorias e aqueles que “não estão em situação de adquiri-las”.
(SANTOS,1978, p.43).

Milton Santos discorre sobre os dois circuitos, o superior, com uma maior
modernização, consequência de um modelo tecnológico impulsionado por grandes
indústrias e corporações, onde se verifica a difusão de informações e novas formas de
consumo. Do ponto de vista geográfico, este circuito é definido por formas de
organizações do espaço onde a cidade é sempre reformulada através de grandes
empreendimentos voltados para o mercado imobiliário, o capital especulativo, turismo,
gastronomia e outros. Já o circuito inferior forma relações de exclusão onde há uma
dependência do circuito superior, lugar que carece de transformações, transporte,
saneamento básico, equipamentos urbanos a informalidade do emprego e um não
interesse do apoio governamental.
A grande cidade é um polo da pobreza, o lugar com mais força para atrair
pessoas com poucos recursos. Há uma grande limitação na capacidade empregatícia por
parte de setores intensivos em capital, pela proliferação da pobreza e de uma gama de
atividades urbanas de baixa produtividade que acolham grande parte da força de trabalho
que se multiplica nas cidades desses países. Esta relação criada a partir de dois circuitos,
superior e inferior, permite a identificação de elementos e das características da economia
global da cidade. “Pode-se afirmar imediatamente que a diferença fundamental entre as
17

atividades dos circuitos superior e inferior está nas diferenças de capital, tecnologia e
organização, entre outra.” (SANTOS,1978, p. 49)

Há ainda um setor informal onde a população de baixa renda se encontra dada


as relações do setor inferior como a informalidade e as relações de dependência que se
criam de uma forma diferente.
É importante destacar que no caso da maior parte das metrópoles brasileiras, e,
em especial, no caso do município do Rio de Janeiro, as favelas permeiam o tecido urbano
e estão literalmente ao lado de áreas mais dinâmicas, modernas e abastadas. Em áreas
privilegiadas da cidade, estas estruturas dinâmicas que a integram são chamadas na
linguagem coloquial carioca de “asfalto”. Na perspectiva de Milton Santos, este espaço
permeado por relações capitalistas avançadas define o (circuito superior). Por sua vez, as
áreas dinâmicas das cidades articulam-se e complementam-se às suas estruturas menos
dinâmicas e empobrecidas, as comunidades e/ou favelas (circuito inferior). Esta
articulação se dá, por exemplo, por meio da mão de obra com baixa qualificação e,
portanto, “barata” proveniente das favelas, que é empregada, em geral, em atividades
braçais e de baixa remuneração em áreas privilegiadas da cidade. Assim, grande parte das
empregadas domésticas, zeladores, faxineiras, auxiliares de serviços gerais, dentre outras
profissões mais vinculadas a serviços que exigem menor qualificação profissional,
residem em comunidades.

1.1.2- Celso Furtado

Em Formação Econômica do Brasil Celso Furtado apresenta o modelo que


constitui a estrutura econômica do país desde os primórdios de sua colonização no início
do século XVI: o modelo constitui-se de um setor exportador tecnologicamente avançado
e dinâmico ligado ao exterior, e um setor de subsistência, tecnologicamente atrasado e
voltado para o mercado interno. Atuando nos dois setores a mão de obra escrava
constituía-se no motor da economia à época. Assim, o dualismo estrutural como causa do
subdesenvolvimento brasileiro já era apontado por Furtado:

O que conceituamos como subdesenvolvimento é, entretanto, menos a


existência de uma economia fundamentalmente agrária – teríamos nesse caso
tão-somente uma economia atrasada – do que a ocorrência de um dualismo
estrutural. Este tem origem quando numa economia agrícola atrasada,
determinadas condições históricas propiciam a introdução de uma cunha de
18

economia tipicamente capitalista, criando-se um desequilíbrio ao nível dos


fatores – na linguagem dos economistas – com reflexos em toda a estrutura
social. As condições criadas pelo dualismo estrutural dificilmente podem
explicar-se em termos de um modelo de equilíbrio estável. O esquema
dinâmico de causação cumulativa, elaborado por Myrdal, é de muito maior
eficácia explicativa neste caso. Dada a existência de duas formas de
remuneração do trabalho, e duas tecnologias de níveis extremamente diversos,
de suas concepções de organização da produção, a economia dual é
intrinsecamente instável (FURTADO, 1964, p.79).

Celso Furtado faz uma análise da economia mineira e da economia açucareira,


destacando as questões estruturais que envolvem estas atividades e seus efeitos na
formação do país. A economia mineira detinha proporções distintas de trabalhadores:
trabalhadores livres e escravos e um promissor fluxo monetário. Parte das pessoas livres
recebia renda, o que lhes possibilitava desenvolver atividades comerciais, diversificando
a economia e criando uma sinergia com a mineração. Tal fato possibilita a expansão de
vilas que mais tarde se tornariam cidades nas regiões das minas gerais. No caso da
economia açucareira, típica do Nordeste e de parte do sudeste brasileiro, a atividade se
caracterizou por ser pouco diversificada e concentradora de renda. A característica-chave
apresentada por Furtado é que seja na economia mineira, seja na economia açucareira, os
setores de subsistência e exportador estão articulados à mão de obra escrava.
A formação econômica e social do Brasil manterá estreita relação com o setor
mais atrasado da economia, o setor de subsistência. Quando as atividades mais dinâmicas
ligadas ao comércio exterior entravam em declínio, formavam-se núcleos populacionais
ligados às atividades de subsistência. Estes núcleos dariam lugar a pequenos vilarejos e
posteriormente à pequenas cidades com baixa articulação às economias monetárias. Esta
foi uma característica comum às atividades açucareira, mineira e cafeeira fundamentadas
na mão de obra escrava. Em alusão à Minas Gerais, Furtado comenta:

Uns poucos decênios foi o suficiente para que se desarticulasse toda a


economia da mineração, decaindo os núcleos urbanos e dispersando-se grande
parte de seus elementos numa economia de subsistência, espalhados por uma
vasta região em que eram difíceis as comunicações, isolando-se os pequenos
grupos uns dos outros. Essa população relativamente numerosa encontrará
espaço para expandir-se dentro de um regime de subsistência e virá a constituir
um dos principais núcleos demográficos do país. Nesse caso, como no da
economia pecuária do Nordeste, a expansão demográfica se prolongará num
processo de atrofiamento da economia monetária (FURTADO, 1976, p. 85).
19

Em outra análise, Furtado (1966) explica sobre as formas que se definem


estruturas desenvolvidas e subdesenvolvidas. Estruturas subdesenvolvidas se formam
pela expansão espacial de economias industrializadas em direção a regiões com sistemas
econômicos seculares de vários tipos de natureza pré-capitalista, dando origem a
estruturas hibridas. Como descreve Furtado (1966), “estaríamos diante de estruturas
híbridas, uma delas com a tendência de se comportar como uma economia capitalista e, a
outra, de se manter no plano das estruturas tradicionais”.
Para Furtado (1976) há um choque entre economias industrializadas e sistemas
econômicos seculares. A interação entre estes modos de produção resulta em uma
estrutura híbrida em que uma se comporta como um sistema capitalista e outra como
sistema pré-existente. Segundo o autor, o subdesenvolvimento está atrelado às restrições
ao progresso técnico. Um dos desdobramentos relacionados à limitação do progresso
técnico que se reflete no subdesenvolvimento tem a ver com os baixos níveis de
produtividade que se traduzem em quantidades menores de bens e serviços
disponibilizados para a população. Em outras palavras, Furtado (1976) ressalta que o
subdesenvolvimento se traduz no desequilíbrio relacionado à capacidade de se assimilar
ou incorporar tecnologias no âmbito do capitalismo industrial que favoreçam à inovação
e se traduzam no aumento da riqueza e da acessibilidade desta para a população.
O subdesenvolvimento é um desequilíbrio na assimilação dos avanços
tecnológicos produzidos pelo capitalismo industrial a favor das inovações que
incidem diretamente sobre o estilo de vida. Essa proclividade à absorção de
inovações nos padrões de consumo tem como contrapartida atraso na adoção
de métodos produtivos mais eficazes. É que os dois processos de penetração
de novas técnicas se apoiam no mesmo vetor que é a acumulação. Nas
economias desenvolvidas existe um paralelismo entre a acumulação nas forças
produtivas e diretamente nos objetos de consumo. O crescimento de uma
requer o avanço da outra. A raiz do subdesenvolvimento reside na
desarticulação entre esses dois processos causada pela modernização.”
(FURTADO,1992, p.8).

Enfim, o dualismo estrutural definido por Furtado como uma das causas do
subdesenvolvimento de países como o Brasil, onde estruturas atrasadas e com baixo
dinamismo produtivo e tecnológico coexistem lado a lado com estruturas capitalistas
modernas e dinâmicas, manifesta-se, também, em escalas subnacionais, à exemplo das
economias urbanas. Assim, cidades como o Rio de Janeiro materializam a dualidade
estrutural do subdesenvolvimento definido por Furtado por meio das inter-relações que
são estabelecidas entre os espaços urbanos segregados e à margem do sistema capitalista,
“verdadeiras economias de sobrevivência” onde encontram-se as favelas, e os espaços
20

urbanos dinâmicos produtiva e tecnologicamente integrados aos mercados nacional e


internacional, definidos pelas áreas centrais da cidade e seus bairros mais elitizados.

1.1.3- Jessé de Souza e a questão da segregação socioespacial na dinâmica


urbana.

Segundo Souza (2017), a escravidão criou uma singularidade excludente e


perversa, tendo produzido uma sociedade onde as disputas por privilégios e distinções
forjaram alianças e preconceitos que se manifestam nas lutas políticas do Brasil
contemporâneo.
Segundo o autor, o conflito de classes é substituído por um falso conflito entre
Estado corrupto e patrimonial e mercado virtuoso. Em todas as sociedades há os
privilegiados. Quem tem privilégios determina os meios intelectuais dominantes. Ocorre
uma separação entre seres humanos de primeira classe e seres humanos de segunda classe
e dentro do racismo essa separação ontológica entre os seres humanos, separação de raça
daqueles que (possuem espírito) e os que não possuem espírito.

Com a maior urbanização, a hierarquia social passa a oposição entre valores


europeus e burgueses. O privatismo marca essa relação como sobrados e
mucambos o sobrado sendo a casa do senhor rural na cidade marcando a sua
personalidade e a rua uma espécie arquetípica e primitiva de desprezo
atestando. “a rua é o lixo da casa” (SOUZA, 2017, n.p).

Por trás dos paradoxos envolvendo riqueza e pobreza, áreas nobres e áreas
periféricas da cidade, acesso a bens e serviços e não acesso aos mesmos, enfim, os
conflitos sociais, está a velha luta de classes:

Segundo Jesse “as contradições e os conflitos centrais de uma sociedade são


sempre relação de dominação entre classes sociais, desde que não utilizaremos
do mote da corrupção para esconder a verdade nem reduzamos as classes à
mera dimensão econômica” (SOUZA,2017, n.p.).

O abandono secular das classes estigmatizadas, humilhadas e perseguidas, a


dinâmica de classes e suas lutas é a chave para a compreensão de classes interesses e suas
lutas. As classes só podem ser percebidas antes de tudo como fenômeno sociocultural. O
mundo moderno capitalista cria uma nova hierarquia social e dentro disso está a luta de
21

indivíduos pelo acesso a capitais, tudo que funcione como facilitador na competição
social. Tudo vai depender ao privilegiado acesso ou não aos capitais.

“O capital cultural, por exemplo, que significa basicamente incorporação pelo


individuo de conhecimento útil ou de prestígio, é outra capital fundamental
para as chances de sucesso de qualquer um no mundo moderno” (SOUZA
Jesse, 2017, n. p.).

Segundo o autor, o apartheid 1de classes ocorre quando se há a orientação de


mercados restritos para as classes do privilégio e outro pior para as classes populares.
Além de serviços hierarquizados, o estado institucionaliza essa separação, escola de
classe média, escola para pobres, hospital de classe média, hospital para pobres e assim
por diante.
Enfim, em uma perspectiva sociológica e institucional, Jessé de Souza joga luz
a respeito das relações sociais marcadas pela escravidão no Brasil ao longo de séculos,
com reflexos negativos até os dias atuais. No decurso da formação social brasileira, estas
relações hierarquizadas e de subordinação são simbolicamente representadas pelo autor
por meio do sistema da Casa Grande e Senzala, pelo sistema de sobrados e mocambos
predominantes no período da velha república, e, atualmente, pelos condomínios e bairros
burgueses que convivem lado a lado com as favelas. A despeito da miscigenação que
define a população brasileira, Jessé de Souza destaca ainda que as relações de
subordinação encontram relação direta com o fenótipo da classe burguesa,
embranquecida, e a classe proletária, mais enegrecida, constituída predominantemente de
pretos e pardos. Não por acaso, as favelas cariocas são constituídas majoritariamente por
negros. (Ipea, 2011).

1
Apartheid significa segregação. O autor utiliza o termo (apartheid) para relacionar este à separação de classes
sociais. Na Visão de Souza, existe um mercado restrito para classes de privilégio e outro precário para classes
populares, uma separação de classes de serviços em que os que têm mais privilégios têm acesso a serviços
sofisticados, a mercados diversificados enquanto as classes populares têm acesso limitado ao consumo de bens e
serviços na logica capitalista. (SOUZA, 2017, n. p.).
22

1.2- As favelas Cariocas e a reforma Pereira Passos, o passado que explica o


presente

Formado na França, o engenheiro Pereira Passos promoveu profundas reformas


na paisagem urbana da antiga capital federal, no período 1902 a 1906. O intuito era tornar
o Rio de Janeiro o portão de entrada para o Brasil. A modernização da cidade buscava
sinalizar para o restante do mundo que o Brasil abraçara o capitalismo e que suas elites
haviam ingressado em uma nova ordem social e econômica à altura dos países europeus.
Os projetos arquitetônicos e urbanístico que definiram a remodelação da cidade
buscavam, sobretudo, inspiração na cultura europeia, representada pela Belle Époque, na
tentativa de romper com a secular imagem de atraso do país por conta de uma sociedade
formada a partir da escravidão (Documentário Palácio Tiradentes, 2023). Pereira Passos
inspirou-se nas reformas realizadas pelo Barão Geoges-Eugène Haussmann, em Paris, no
século XIX, com a construção de largas avenidas e uma visão higienista da cidade.
(Simas, 2023)
O Morro do Castelo foi o berço da cidade do Rio de Janeiro. Em 1567, por
questões estratégicas, os portugueses transferiram a cidade para o citado morro, pois
podiam avistar de lá os índios Tamoios ou os franceses estabelecidos na cidade por conta
do projeto França - Antártida. (BENCHIMOL, 1992).
Visto por parte da elite política e econômica da época como um empecilho ao
crescimento urbano já que era um local percebido como insalubre e propagador de
doenças. Acreditava-se que o morro dificultava a circulação do ar no centro da cidade
além de disseminar epidemias que ocorriam naquele espaço. (BENCHIMOL, 1992).
23

Figura 1 - Antigo morro do Castelo

Fonte: Rio Memórias -Apud Morro do Castelo – Biblioteca Nacional 2023

“Um dos símbolos das reformas de Pereira Passos foi a inauguração em 1905
da Avenida Central, atual Avenida Rio Branco. Para a construção da atual
Avenida Rio Branco, em 1904, ocorreria a primeira demolição do Morro do
Castelo, passando a ter como limites os fundos da Biblioteca Nacional e a
Escola de Belas Artes (Simas, 2023).”

A reforma Pereira Passos pretendia modernizar e embelezar a capital,


modificando a imagem que se tinha do país no exterior através de uma visão higienista a
reforma poria o fim as habitações populares que se concentravam no centro da cidade
chamadas de cortiços, entre outras habitações.

As políticas urbanistas empregadas à luz da visão higienista reformaria ruas e


ampliaria para uma maior circulação dos ventos e poria fim às habitações populares,
consideradas insalubres, como medidas de saneamento e de prevenção de doenças, dentre
outras medidas.

“Dissemos que as avenidas projetadas atendiam a dois objetivos


complementares, mas de natureza diferente. O primeiro dizia a respeito a
circulação urbana, associada aos melhoramentos que, de modo geral,
contribuíam para o processo em curso de estratificação social do espaço urbano
Carioca. Com raras exceções, beneficiavam e valorizavam as áreas de moradia
24

de classes dominantes ou atendiam aos interesses das companhias particulares


de transporte, loteamento ou construção, envolvidas na especulação com o solo
urbano” (BENCHIMOL ,1992, p .245)

Nos espaços destinados aos cortiços, moradores sofriam com as limitações do


saneamento básico e com a precariedade dos hábitos de higiene que causavam várias
doenças. A situação continuou com a imigração para essas áreas sem saneamento básico
ou qualquer outro auxílio do governo.
“Aqui me parece, reside o “nó górdio” da renovação urbana: expropriação ou
segregação de um conjunto socialmente diferenciado de ocupantes de um
espaço determinado da cidade – modificando pela ação do Estado – e sua
apropriação por outras frações de classe. Essa “transferência” realizou – se por
intermédio de mecanismos de expropriação e valorização acionados
diretamente pelo estado.” (BENCHIMOL, 1992, P. 245)

A segunda e definitiva demolição, ocorreria entre 1920 e 1922. Nesta segunda


etapa, o Morro do Castelo, com suas mais de 404 casas e edifícios, foi completamente
demolido, servindo para aterrar o futuro aeroporto Santos Dumont, o Parque do Flamengo
até a Glória, a Urca e a Lagoa Rodrigo de Freitas. A famílias que ali residiam foram
desabrigadas. Segundo Oliveira:

“A destruição do morro deixou muitas pessoas desabrigadas e


impossibilitadas de encontrar outras residências tendo em vista o preço alto
dos alugueis na cidade. O destino desta população desabrigada e
desempregada eram os morros (que ainda estavam de pé), ou o subúrbio
carioca mais afastado que possuía pouca ou nenhuma regra de construção e
preços mais vantajosos, no entanto, um custo de vida mais caro graças ao
valor pago pelo deslocamento” (Oliveira, 2023, p.2288)

Uma cidade desapareceu para surgir outra, a população menos favorecida


foi expulsa de suas habitações pois não tinha outra opção a não ser construir casebres nos
morros próximos, se por um lado o governo federal deu andamento as modernizações,
por outro lado efeitos excludentes nefastos e duradouros para seus habitantes mais
necessitados.
“O plano de melhoramento atingiu, de maneira desigual, as áreas
cuidadosamente selecionadas do Centro, onde se radicava a trama de relações
econômicas e sociais, cuja permanência, ali, se tornara a incompatível com a
cidade requerida pelo grande capital e com a capital requerida pelo Estado
republicano” (BENCHIMOL, 1992, p. 245).
25

Figura 2 - Demolição do Castelo, no centro do Rio de Janeiro

Fonte: Brasiliana Fotográfica -Apud Augusto Malta. Demolição do Morro do Castelo, 9 de outubro de
1922. Rio de Janeiro, RJ / Acervo IMS

No início do século XX, os jornais, as revistas e nos anos 1920 o rádio eram os
meios de comunicação em massa empregados, o que fortalecia a autoridade e o poder de
persuasão da imprensa da época. Durante o período das reformas urbanas na então capital
federal, grande parte da imprensa recorreu a discursos que enalteciam as mudanças,
minimizando os impactos sociais. (BENCHIMOL, 1992, p. 245).
A expansão urbana da cidade do Rio de Janeiro, desde os primórdios, contou
com a ocupação dos morros nas áreas mais centrais da cidade. Com a abolição da
escravidão em 1888 e a paulatina desarticulação das produções açucareira e cafeeira - a
primeira centralizada no Norte Fluminense e a segunda no Sul Fluminense e na Capital -
seguiu-se a deterioração do setor de subsistências que abrigava parte considerável da mão
de obra que trabalhava nestas culturas. O fim da escravidão e a deterioração das relações
de produção no campo levaram a êxodo rural onde, em busca de empregos e uma melhor
qualidade de vida, boa parte de ex- escravizados e seus descendentes buscaram
estabelecer suas moradias nas áreas centrais da cidade. (BENCHIMOL, 1992, p. 245).
26

A proliferação de residências coletivas que abrigavam a população de baixa renda


(cortiços) e a proliferação de habitações informais nos morros remetem a história da
origem das favelas cariocas. (BENCHIMOL, 1992, p. 245).
O então chamado Morro da Favela, cujo nome é Providência, localizado no
bairro da Gamboa - centro do Rio de Janeiro, foi a primeira favela carioca e uma das
primeiras do Brasil. Foi constituído por negros que combateram em Canudos e pessoas
desalojadas dos cortiços das áreas centrais da cidade. A história do morro da Providência
está relacionada à demolição de um antigo cortiço chamado de Cabeça de Porco um dos
maiores da cidade Carioca
A origem da palavra favela, que passou a denominar os aglomerados de
habitações precarizadas e informais no país, tem origem com o retorno da Guerra de
Canudos, quando ex-soldados negros e mulatos começaram a habitar o Morro da
Providência. Durante o conflito, a tropa governista havia se alojado na região próxima a
um morro chamado "Favella", o nome de uma planta resistente da família Euphorbiaceae,
que causava irritação quando entrava em contato com a pele humana e que era comum na
região. A planta era da espécie Cnidoscolus quercifolius, chamada de árvore "faveleira".
Por ter abrigado pessoas que haviam lutado naquele conflito, o Morro da Providência
recebeu o apelido de "Morro da Favela". O nome ficou popular e, a partir da década de
1920, os morros cobertos por barracos e casebres passaram a ser chamados de favelas.
(Museu do Amanhã, 2023).

Enfim, o passado escravocrata brasileiro, a precariedade de políticas públicas


para a definição de uma expansão urbana ordenada que contemplasse a população de
baixa renda e o fato de o Rio de Janeiro ter sido, até o ano de 1960, a capital do país,
gozando de amplo prestígio econômico e político, implicou a forte expansão das favelas
cariocas. A figura 3 traz uma foto emblemática em que há dois espaços diferentes
habitando e existindo em uma mesma cidade, esse é o reflexo histórico e social do Rio de
Janeiro que mostra a precariedade das políticas públicas, exclusão. Segundo o Censo de
2010 do IBGE, o município contava com 763 favelas que abrigava cerca de 22% da
população total, a saber: 1.393.314 moradores (IBGE, 2010).
27

Figura 3: Imagem da Rocinha e São Conrado - desigualdade territorial.

Fonte: Summit mobilidade Estadão, ano 2021

A Figura 3 apresenta a desigualdade socioespacial que caracteriza o município do


Rop de janeiro. Observa-se a favela da Rocinha, a maior favela da América Latina ao lado
do Bairro de São Conrado, onde reside parte da elite carioca, bairro que apresenta uma
das maiores rendas per capitas do Brasil. A imagem retrata a exclusão e a pobreza urbanas
representadas pela favela que está cercada por condomínios luxuosos em um bairro
dotado de amplos equipamentos urbanos.
28

Capítulo 2: Analise da Política do PAC

2.1- Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) um olhar sobre sua atuação


nas Favelas do Rio De Janeiro

Durante o período 2007 a 2014, a cidade do Rio de Janeiro foi uma das mais
beneficiadas com os recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O
programa possibilitou um considerável nível de articulação nos três níveis de governo
(federal, estadual e municipal) e teve como objetivo central o desenvolvimento
econômico e social do Brasil com significativos impactos na rede urbana das cidades,
sobretudo nas áreas mais empobrecidas, as favelas. O programa englobou políticas
voltadas para a melhoria da infraestrutura, saneamento básico, habitação, transportes,
energia e recursos hídricos. A relevância do PAC se dá pelo fato de o Programa ser de
amplitude nacional tendo, entre outros objetivos, a busca pela melhoria da urbanização e
da qualidade de vida dos moradores das favelas brasileiras - algo inusitado no contexto
das políticas públicas realizadas no país até então.
De acordo com o Ministério da Gestão, Inovação e Serviços Públicos (MGISP), o
PAC se desdobrou em PAC 1, para o período 2007 a 2010, com planejamento de execução
de quatro anos e um orçamento de RS503,9 bilhões; e o PAC2, para o período 2010 a
2014, e um orçamento de RS1,59 trilhão. O programa abrigava subprogramas com
impactos diretos nas redes urbanas de grande parte das cidades brasileiras e chegava às
áreas rurais: (i) PAC cidade melhor melhorar a qualidade de vida nos grandes centros
urbanos com foco na mobilidade urbana; (ii) PAC comunidade cidadã - buscava aumentar
a oferta de serviços básicos à população de bairros populares e aumentar a presença do
Estado; (iii) PAC Minha Casa, Minha Vida - buscavam reduzir o déficit habitacional da
população mais carente, dinamizar o setor de construção civil e gerar emprego e renda;
(iv) PAC Água e Luz para Todos - buscava universalizar o acesso à agua e luz no país;
(V) PAC Transportes - buscava consolidar e interligar a rede logística no país; (VI) PAC
Energia - garantir a segurança do suprimento; desenvolver as descobertas do Pré-Sal
ampliando a capacidade produtiva do país (MGISP, 2023).
Segundo Cardoso et.al (2018), para fins de planejamento e gestão, a Prefeitura do
Rio de Janeiro divide o município em cinco Áreas de Planejamento (AP), 33 Regiões
29

Administrativas e 160 bairros. A Área de Planejamento 1 (AP1) corresponde aos bairros


da área central e região portuária; a Área de Planejamento 2 (AP2) corresponde ao bairros
da faixa litorânea da Zona Sul - principal área de interesse turístico e de maior valor
imobiliário da cidade - e da região da Grande Tijuca; a Área de Planejamento 3 (AP3)
corresponde aos bairros da zona norte ou subúrbio; a Área de Planejamento 4 (AP4)
corresponde a região da Barra da Tijuca e Baixada de Jacarepaguá que se consolidaram
na última década como principal frente de expansão do mercado imobiliário na cidade; a
Área de Planejamento 5 (AP5) corresponde aos bairros da zona oeste (Cardoso et. All,
2018. 109).
Pela ordem de investimentos do PAC, a Área de Planejamento 3 recebeu 64% dos
investimentos totais, com foco nas favelas de Manguinhos, Alemão, Chico Mendes,
Fernão Cardim, Guarabu, Vila Rica de Irajá, Vila Esperança, Soeicon. Em segundo lugar
ficou a Área de Planejamento 2 -Zona Sul, Tijuca e Grande Tijuca -com 20% do total,
abrangendo as favelas: Cantagalo, Pavão/Pavãozinho, Babilônia, Chapéu-Mangueira,
Borel, Morro da Formiga, Tijuaçu, Mata Machado, Parque João Paulo II, Rocinha e em
3º lugar a Área de Planejamento 1- Centro e Região Portuária que integra as favelas São
Carlos, Azevedo lima, Santos Rodrigues, Turano, Parque Alegra, Morro da Coroa e Morro
da Providência.
A figura 4 mostra a intervenção emblemática do governo federal relacionada
à construção do teleférico do Morro do Alemão que segundo com (Cardoso ,2018) não
estavam alinhadas as necessidades da população.

Figura 4 - PAC- Obra do Teleférico no morro do Alemão- RJ

Fonte: O Globo -Apud Pablo Jacob / Agência O Globo Ano 2015


30

Visto como uma obra emblemática composta por 6 estações e 3,5 km de extensão
evidencia a sobreposição de interesses da obra colocando a como problemática pois não
está operando sem seu fim para o interesse público.

Quadro 1- Domicílios em assentamentos precários e volume de recursos investidos


pelo PAC em urbanização de favelas na cidade do Rio de Janeiro por Área de
Planejamento
% da % de
Crescimento da
população recursos
Área de Planejamento população em favela
em favelas investidos Favelas atendidas
entre 2000 e 2010
na cidade pelo PAC
São Carlos, Azevedo
Lima, Santos Rodrigues,
AP1
Turano, Parque Alegria,
CENTRO E REGIÃO
7% 28% 8% Morro da Coroa, Morro
PORTUÁRIA
da Providência

Cantagalo, Pavão-
Pavãozinho, Babilônia,
AP2 Chapéu-Mangueira,
ZONA SUL E Borel, Morro da Formiga,
12% 15% 20%
GRANDE TIJUCA Tijauçu, Mata Machado,
Parque João Paulo II,
Rocinha
Manguinhos, Alemão,
Chico Mendes, Fernão
AP3
45% Cardim, Guarabu, Vila
ZONA NORTE 11% 64%
Rica de Irajá, Vila
Esperança, Socicon
AP4
BARRA DA TIJUCA Colônia Juliano Moreira,
16% 53% 7%
E JACAREPAGUÁ Jardim do Amanhã 2
AP5
19% Vila Catiri, Areal, Vila
ZONA OESTE 15% 1%
João, Lopes
23%
RIO DE JANEIRO 19% 100%
Fonte: Cardoso et. al 2018, p.110

De acordo com Cardoso et. al (2018), o PAC realizou investimentos no estado do


Rio de Janeiro (ERJ) em um total de 110 operações. No âmbito do estado a Região
Metropolitana ocupou posição de destaque nos planos regional e nacional. Foram 70
operações, em 16 municípios, que totalizaram cerca de R$ 3,9 bilhões em investimentos.
No programa Favela Bairro que ocorreu no Rio de Janeiro, a produção de unidades
habitacionais para o reassentamento era limitada. No PAC, diferentemente, não foram
estabelecidos os percentuais mínimos e máximos de remoções. Para tal, não foi
disponibilizado uma maior quantidade de recursos, tanto para remoções parciais quanto
31

para remoções totais. Em função da limitada participação da população interessada e dos


recursos o poder público definiu as prioridades em grande parte as obras prioritárias
possibilidades junto aos moradores são elas: 1) Unidades habitacionais reassentamento,
2) Indenização, 3) Compra assistida de outro imóvel.

Quadro 2 - Quantitativos de Remoções e Reassentamentos


Aguardando Total de
Unidades Compra
Assentamento Indenização em aluguel remoções
Habitacionais assistida
Social reassentamentos
Alemão 1.484 54% 0 0% 0 0% 1.266 46% 2.750
(Estado)
Alemão 867 73% 75 6% 208 18% 30 3% 1.180
(Prefeitura)
Alemão 2.351 60% 75 2% 208 5% 1.296 33% 3.930
SUBTOTAL
Manguinhos 1.930 46% 234 6% 894 21% 1.083 26% 4.185
(Estado)
Manguinhos 0 0% 88 25% 255 73% 8 2% 351
(prefeitura)
Manguinhos 1.930 43% 322 7% 1.149 25% 1.091 24% 4.536
(subtotal)
Rocinha 144 23% 255 41% 213 34% 5 1% 621
(Estado)
Cantagalo 163 83% 8 4% 6 3%% 13 7% 197
(Estado)
Complexo da
Tijuca 213 52% 23 6% 175 43% 0 0% 411
Prefeitura
Complexo do
Turano 0 0% 27 31% 58 67% 2 2% 87
(prefeitura)
Colônia Juliano
Moreira 353 74% 55 12% 62 13% 8 2% 478
(prefeitura)
Prefeitura 1.433 57% 268 11% 758 30% 48 2% 2.507
Governo do
Estado 3.721 48% 497 6% 1.113 14% 2.367 31% 7.753
Prefeitura
Total recorte de
dados 5.154 50% 765 7% 1.871 18% 2.145 24% 10.260
disponíveis
Fonte: Prefeitura do Rio-Apud Cardoso et. Al 2013

De acordo com Cardoso et. al (2018), o PAC realizou investimentos no estado do


Rio de Janeiro em um total de 110 operações. No âmbito do estado a Região
Metropolitana ocupou posição de destaque nos planos regional e nacional. Foram 70
operações, em 16 municípios, que totalizaram cerca de R$ 3,9 bilhões em investimentos.
32

Há uma clara concentração dos recursos na cidade do Rio de Janeiro que teve 33
operações com investimentos da ordem de RS2,9 bilhões.
No programa Favela Bairro 2 que atuou no Rio de Janeiro a produção de unidades
habitacionais para o reassentamento era limitada diferentemente no PAC não foram
estabelecidos quais eram estabelecidos os percentuais mínimos e máximos de remoções
não foram estabelecidos sendo permitidos maior disponibilidade de recurso tanto para
remoções parciais tanto para remoções totais. O impacto das obras somado a maior
disponibilidade de recursos e negociações fez com que o Poder público tivesse
possibilidades junto aos moradores são elas: 1) Unidades habitacionais reassentamento,
2) Indenização, 3) Compra assistida de outro imóvel.
Os reassentamentos foram a produção de unidades habitacionais que atenderam
50 % da demanda em média 5.154 unidades habitacionais para 10.260 situações de
remoções para a prefeitura foram 57 % dos casos foram atendidos no Governo do Estado
foram 48 %.Na Rocinha 23 % das unidades habitacionais foram produzidas ,Indenização
41% e compra assistida 34 % das situações .A Colônia Juliano Moreira e Cantagalo foram
as que mais reassentaram 74% e 83% respectivamente apartamentos foram oferecidos
nessas negociações com 2 quartos entre 40 m e 50 m ,em casos que não poderiam ser
atendidas por não atender as relação a casa anterior e o perfil familiar foram aderidas as
Modalidades de Indenização e compra assistida que ocorreram em 98 % das situações em
comunidades pois não foram identificadas intervenções nessas regiões. As indenizações
foram repassadas as famílias como espécie de aluguel social. A aquisição de imóveis que
foram a oportunidade de moradores se inscreverem no programa minha Casa minha vida.

2
“Assentamentos Populares (Proap), que incluía a urbanização de favelas e a regularização/urbanização de
loteamentos irregulares e clandestinos. O Proap-I (1997-2000) atendeu a 54 assentamentos e o Proap-II
(2000-2004) alcançou 89 assentamentos (CARDOSO, 2007). Vale ressaltar ainda a criação do Programa
Grandes Favelas (para favelas de grande porte que não estavam cobertas pelo escopo do Programa Favela-
Bairro) e do Programa Bairrinho (para as favelas com até 500 domicílios) na segunda metade da década de
90, o que veio a ampliar o escopo de atuação da Prefeitura.” (CARDOSO, 2007).
33

A figura 5 apresenta as intervenções do PAC nas favelas do Rio de Janeiro


indicando as obras emblemáticas, específicas, integrada, parcial, às áreas das favelas,
mancha urbana, áreas de planejamento, Município do Rio de Janeiro.

Figura 5- Intervenções do PAC nas favelas do Rio de Janeiro

Fonte: Observatório das Metrópoles - Apud Cardoso et. al (2018)

O PAC desenvolveu atividades articuladas aos governos estaduais e municipais.


No caso do Rio de Janeiro participaram do processo a Empresa Municipal de Obras
Públicas e Serviços (EMOP) - empresa pública que ficou responsável por grandes obras
e a Companhia Estadual de Habitação (CEHAB). O PAC dividiu suas atribuições com o
governo Estadual que atuou em grandes áreas como Manguinhos onde tinham grande
complexos industriais e a prefeitura coube o interior das favelas e onde já havia projetos
consolidados.
No âmbito do governo do Estado, a questão da urbanização das favelas do Rio
de Janeiro em uma perspectiva integrada tem suas primeiras ações no Governo de Leonel
Brizola. Seguiram-se outros projetos voltados para urbanização de favelas com destaque
para o Projeto Mutirão, de Rosinha Garotinho, atendeu à baixada fluminense. No âmbito
do município do RJ articularam-se no ao PAC nos anos 2000 os Programas Favela Bairro,
na Gestão do ex-prefeito Cesar Maia, e o Programa Morar Carioca na gestão do prefeito
Eduardo Paes. Os citados programas tinham por finalidade urbanizar as favelas e integrá-
las à rede urbana do município.
34

De acordo com a Prefeitura do Município do Rio de Janeiro, o Programa morar


Carioca atingiu 500 mil moradores envolvendo a criação de infraestruturas básicas,
habitações e creches.

Quadro 3 - Resultados do Programa Morar Carioca- município do Rio de Janeiro ano


2015
 380 mil metros de extensão de pavimentação (o equivalente a 957.992,20m² de
pavimentação)
 284 mil metros de redes de água potável
 48.309 mil ligações domiciliares de água
 13 elevatórias de água (8 prontas, 3 em construção e 2 a iniciar)
 305 mil metros redes de esgoto
 42.182 ligações domiciliares de esgoto
 12 elevatórias de esgoto (7 prontas, 3 em construção e 2 a iniciar)
 190 mil metros de redes de drenagem
 6.938 pontos de iluminação pública
 98.676 metros quadrados de contenção de encostas
 2.567 novos pontos de coleta de lixo
 40 Espaços de Desenvolvimento Infantil (EDIs), sendo 38 concluídas e 2 em
construção ,4 creches (3 concluídas e 1 em construção)
 6 escolas, sendo 4 prontas e 2 em construção
 833 novas moradias
 Reservatórios totalizando 4,55 milhões de litros de água
 357 praças e áreas de lazer.
Fonte: (Prefeitura do Rio), Morar Carioca 2015

A implementação de tais intervenções foram amparadas por ações/programas


do governo municipal articuladas ao Ministério das Cidades, com suporte financeiro
da Caixa Econômica Federal, da União, do Estado e do município.
O PAC trouxe esperanças para parte dos moradores mais desfavorecidos da
cidade do Rio de Janeiro, a partir de investimentos do Governo Federal em parceria com
investimentos dos governos do Estado e do Município do Rio de Janeiro.
Cardoso et.al (2018) propuseram uma tipologia que classifica as intervenções do
PAC realizadas pelo Governo Federal em associação aos governos do estado e do
município do Rio de Janeiro em quatro tipos: Intervenções Emblemáticas - ocorridas no
Alemão, Manguinhos e Rocinha. Estas intervenções têm caráter mais midiático em
detrimento de itens que poderiam atender as necessidades básicas dos moradores
(saneamento e infraestrutura); 2- Urbanizações Integradas- intervenções que levam em
consideração as necessidades básicas dos moradores a partir de algum tipo de escuta à
comunidade, apesar do baixo controle social (Comunidade Chico Mendes); 3-
35

Urbanizações Parciais- intervenções empregadas para complementar obras avançadas


mas inacabadas, que representavam importantes camadas de urbanização ( São Carlos,
Borel, Formiga); 4- Modelos específicos - intervenções que não se enquadram nos
modelos anteriores.

Quadro 4 - Investimentos por modelo de intervenção PAC município do RJ


Repasse
Nº de Contrapartida
Modelos de Investimento total do
territórios Município/Est
Intervenção Mil RS % Governo
atendidos ado
Federal
Intervenções
6 RS2.258.879.261,00 77,2% 54% 46%
Emblemáticas
Urbanizações
2 RS158.013.046,00 5,4% 58% 42%
Integradas
Urbanizações
13 R$323.348.619,00 11.1% 84% 16%
Parciais
Intervenções
2 R$185.428.085,00 6,3% 71% 29%
Específicas
Total 23 R$2.925.669.011,00 100% 59% 41%
Fonte: Cardoso et.al. (2018)

Como ponto positivo dos investimentos do PAC em associação aos governos do


estado e do município do RJ, destaca-se a sinergia que se estabeleceu entre os entes
federativos para mitigar a limitação e o alcance das políticas públicas para a resolução de
problemas fundamentais das favelas cariocas, envolvendo questões relacionadas ao
saneamento básico, habitação, segurança, educação, transportes e outras questões ligadas
à urbanização. Como ponto negativo destaca-se que, de acordo com a Tabela 1, 77,2 %
dos investimentos do PAC foram empregadas em intervenções emblemáticas, isto é,
segundo a tipologia de Cardoso et.al (2018), foram empregadas em obras midiáticas.
Neste sentido, argumentam os autores: no Alemão, houve a construção do teleférico e em
Manguinhos a elevação da linha do trem, na Rocinha.

2.2 O CASO DA ROCINHA - Contextualização e o PAC


A favela da Rocinha chama atenção por sua grande extensão. Se trata de uma
das maiores favelas da América Latina. Possui 877.575 m² de área ocupada. Localizada
na zona sul do Rio de Janeiro, fica entre os bairros da Gávea, São Conrado e Vidigal.
Segundo ao censo de 2010 sua população era de 70 mil habitantes. Em 1995, através da
lei de 18 de julho de 1993, a Rocinha foi transformada em bairro. Seu Indice De
36

Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,732 ficando atrás de bairros como Gávea (0,970),
São Conrado (0,873) e Vidigal (0,873) que são bairros também localizados na zona sul.
A origem da Rocinha remonta de uma antiga chácara produtora de café chamada
“Fazenda Quebra-Cangalha” atuando até a década de 1930 como centro fornecedor de
produtos hortifrutigranjeiros para a zona sul da cidade. Seu nome ficou conhecido pela
indicação de moradores próximos que compravam produtos advindos da “rocinha”.
Dentre as obras emblemáticas do PAC, conforme a figura 6 na Rocinha, destaca-
se o Viaduto Niemeyer, um dos projetos de urbanização implementados no bairro dado
seu investimento vultuoso enquanto outras demandas essenciais como saneamento básico
tornou- se uma bandeira de luta na comunidade.

Figura 6 - Passarela na Rocinha

Fonte: G1. Globo – Apud Tássia Thum ,2010.

O PAC desempenhou um papel relevante no processo em andamento da


urbanização da Rocinha, conforme apresentado na Tabela 2. Ressalta-se que os
investimentos realizados na Rocinha com recursos do PAC decorreram da parceria do
governo do Estado do Rio de Janeiro com o Governo Federal.
37

Tabela 2 Investimentos do PAC na Rocinha: ano 2010


• Proponente: Governo do Estado do Rio de Janeiro
• Famílias beneficiadas: 30.000
• Principais serviços:• Produção de 144 unidades habitacionais;
• Aquisição de 603 unidades habitacionais;
• Melhoria de 2.661 unidades habitacionais;
• Infraestrutura compreendendo abastecimento de
água, esgotamento sanitário, drenagem pluvial, iluminação
pública, pavimentação e obras viárias;
• Proteção, contenção e estabilização de encostas;
• Recuperação de áreas degradadas;
• Construção do Planos Inclinados I com 03 estações
e do Plano Inclinado II com 02 estações;
• Equipamentos comunitários: Creche, centro de
integração, centro integrado de atenção à saúde –
CIAS, centro de convivência, cultura e cidadania –
C4, centro de judô e mercado público.
Fonte: Urbanização de Favelas :A Experiência do PAC 2010

Como se observa na tabela 2, foram beneficiadas 30.000 famílias com destaque


para os seguintes serviços: aquisição de 603 unidades habitacionais, melhoria de 2.661
unidades habitacionais, aquisição de 603 unidades habitacionais.
38

Capítulo 3: Analise de alguns indicadores econômicos, a expansão das favelas e a


Política de segurança de polícia pacificadora (UPP)

O objetivo desta seção é avaliar em que medida as políticas públicas voltadas para
a urbanização das favelas cariocas, com destaque para o PAC, contribuíram para a
melhoria da qualidade de vida e do bem-estar social das favelas do Rio de Janeiro e bairros
da periferia da cidade. Para realizar a análise, utiliza-se o índice desenvolvido pela
prefeitura do município do Rio de Janeiro a partir de experiências internacionais,
denominado Índice de Progresso Social (IPS), calculado desde 2016.

3.1- Índice de Progresso Social e Índice De Desenvolvimento Social

Aglomerados urbanos ou assentamentos precários são uma realidade do estado


do Rio de Janeiro e de todo o Brasil. Estima-se que há cerca de 763 comunidades ou
favelas no Rio de Janeiro (IBGE, 2010). A favela tornou-se fonte de estudos e muitos
deles se relacionam à pobreza.
O Instituto Pereira Passos baseando-se em critérios adotados em outros
países, criou o Índice de Progresso Social (IPS). O IPS articula dimensões, componentes
e indicadores, utilizando dados com a menor periodicidade possível. Busca medir o
desenvolvimento parametrizando variáveis como serviços disponíveis, indicadores de
saúde, acessibilidade, direitos humanos, dentre outros, possibilitando a tomada de ação e
o planejamento menos desigual entre regiões. O estudo realizado está baseado em três
dimensões: Pode - se observar abaixo o estudo realizado por meio do quadro 3 IPS 2022
Datafolha
A Dimensão 1 Necessidades humanas básicas buscam responder em que
grau as necessidades essenciais da população são atendidas, e tem como componentes:
nutrição, saúde básica, acesso à água potável, esgotamento sanitário apropriado, acesso à
moradia digna e segurança social.
A Dimensão 2 Fundamentos do Bem-Estar levam em conta em que medida
as estruturas sociais garantem a manutenção dos níveis de bem-estar e sua constante
melhora. A Dimensão inclui acesso à educação básica sua qualidade o acesso as
tecnologias da informação e comunicação, fatores de risco, doenças crônicas
39

A Dimensão 3 Oportunidades tratam de oportunidades relacionadas à


mobilidade social e direitos fundamentais tem como componentes: Direitos individuais,
Liberdade Individual e de escolha, Tolerância e Inclusão, Acesso à Educação Superior.

3.1.1- Síntese da metodologia do IPS (Metodologia)

O cálculo do índice foi construído através de variáveis selecionadas, pois para


fazer os tratamentos dos dados pra se fazer a análise fatorial que é sensível a valores
outliers. Primeiramente para cálculo do Índice de progresso social são definidos os
valores de utopia e distopia depois eles são vetorizados e normalizado para que sejam
comparados em escala. A análise de componentes é usada para agregar componentes
principais para agregar indicadores numa pontuação para que os pesos sejam definidos
pelas cargas fatoriais. Por fim é calculado as pontuações das dimensões e do índice de
progresso social global.
São realizadas também análises de consistência interna entre os indicadores de
Alpha de Cronbach, a robustez é analisada pelo Kaiser Meyer – Olkin (kMO) de
adequação amostral.
O cálculo dos componentes é definido pela multiplicação dos indicadores com
seu respectivo peso normalizado – IPS 2022 Para converter os valores de 0 a 100 é usado
uma fórmula de ponderação dos dados utilizando os valores de Utopia e distopia.
O cálculo de dimensões corresponde à média aritmética dos quatro componentes
que compõem a dimensão é calculada pelo índice de progresso social das três dimensões.
O quadro 5 apresenta um desempenho geral do município do Rio de Janeiro com
relação ao Índice de Progresso Social (IPS), para os anos 2016 e 2022.
40

Quadro 5 - DESEMPENHO GERAL do Rio de janeiro IPS – Comparações entre os anos 2022 em
relação à 2016
2022 2016
Dimensão 1 Necessidades humanas básicas 85,04 75,84

Nutrição e cuidados Médicos Básicas 62,70 70,19


Água e Saneamento 93,95 83,68
Componentes
Moradia 91,26 78,18
Segurança pessoal 92,25 71,34

Dimensão 2 Fundamentos do Bem-estar 50,45 53,28


Acesso ao conhecimento Básico 27,39 49,96
Acesso à informação e comunicação 16,01 50,89
Componentes Saúde e Bem- estar 82,41 62,03
Qualidade do meio ambiente 50,07 50,26
Dimensão 3 Oportunidades 64,01 53,20
Direitos individuais 67,64 61,46
Liberdade Individual e de escolha 94,26 54,82
Componentes Tolerância e Inclusão 76,15 64,14
Acesso à Educação Superior 17,99 32,36
Fonte: Instituto Pereira Passos IPS (2022).

A metodologia do (IPS) representada no quadro 5 abarca 158 bairros da Região


Metropolitana do Rio de Janeiro. O quadro 5 apresenta o Desempenho Geral do (IPS)
para os anos de 2016 e 2022.Em relação a dimensão 1 – Necessidades Humanas básicas,
por exemplo, houve um aumento do (IPS) do ano de 2016 75,84 para 85,04 em 2022. -
2022). Esta informação é relevante porque expressa melhoria em Nutrição e cuidados
Médicos Básicas, Água e Saneamento, Moradia, Segurança pessoal. O que reflete
impactos positivos das políticas públicas com vistas a urbanização de áreas periféricas da
cidade incluindo as favelas.
O quadro 6 apresenta o ranking do IPS de bairros selecionados da região
metropolitana do Rio de Janeiro, para os anos de 2016 e 2022. Observa-se que os bairros
de Botafogo, Copacabana e Lagoa, ou seja, bairros com maior renda per capita do Rio de
Janeiro, apresentaram quedas em seus respectivos IPS entre 2016 e 2022. Já os bairros
que são definidos como favelas: Rocinha, Complexo do Alemão e Maré apresentaram
aumento no IPS no período 2016 e 2022. A Rocinha passa de 44,78 para 60,20, o
41

Complexo do Alemão passa de 40,51 para 58,08 e a Maré salta de 50,53 para 60,57. Essas
melhorias nos indicadores no IPS refletem não apenas as obras do PAC mais também
outras obras de infraestrutura básica no âmbito municipal, estadual e Federal nas favelas
do Rio de Janeiro. Corroborando este fato observa-se que houve também aumento do IPS
em outras favelas importantes no Rio de Janeiro como as favelas Cidade de Deus e
Jacarezinho.
Quadro 6 -Ranking e nota do IPS anos (2016-2022)

RANKING
Região IPS Ranking IPS RANKING NOTA
2016 a
administrativa 2016 2016 2022 2022 2022/2016
2022
Botafogo 87,12 1 75,14 10 -11,98 -9
Copacabana 82,93 3 76,69 7 -6,24 -4
Lagoa 84,94 2 77,40 3 -7,54 -1
Vila Isabel 74,12 5 69,77 30 -4,35 -25
Tijuca 78,13 4 72,15 18 -5,98 -14
Barra da tijuca 71,03 6 79,29 1 8,26 5
Meier 67,05 7 67,80 44 0,75 - 37
Irajá 61,94 9 66,22 61 4,28 -52
Santa Tereza 60,52 12 59,84 124 0,68 -112
Ilha do
65,01 8 70,00 29 4,99 -21
Governador
Jacarepaguá 60,74 11 66,10 64 5,36 -51
Campo Grande 58,64 14 65,48 70 6,84 -51,48
Ramos 57,91 15 64,26 86 6,33 -71
Penha 60,28 13 61,14 115 0,86 -102
Inhaúma 60,84 10 62,73 97 1,89 -87
Realengo 54,41 19 63,25 94 8,84 -75
Anchieta 57,09 17 59,55 129 2,46 -112
Madureira 54,12 20 60,18 122 6,06 -102
Centro 57,75 16 60,48 120 2,73 -108
Rio Comprido 52,43 22 62,94 102 10,51 -80
Vigário Geral 53,31 21 59,91 123 6,6 -101
Rocinha 44,78 29 60,20 121 15,42 -82
São Cristóvão 50,72 23 56,84 144 6,12 -121
Bangu 54,47 18 61,11 116 6,64 -98
Santa Cruz 47,84 25 59,84 124 12 -99
Cidade de
45,44 26 53,35 152 7,91 -126
Deus
Maré 50,53 24 60,57 119 10,04 -95
Jacarezinho 43,82 30 55,18 147 11,36 117
Complexo do
40,51 32 58,08 138 17,57 -106
Alemão
Guaratiba 45,27 28 54,94 148 9,67 -120
Pavuna 41,10 31 59,36 131 18,26 -100
Portuária 45,33 27 52,61 - 7,28 -
Rio de Janeiro 60,77 - 64,34 - -
Fonte: Prefeitura do Rio de Janeiro, IPS (2018, 2020)
42

3.1.2 Reflexões sobre o IPS e análise sobre as políticas públicas - Conclusões IPS.

O estudo do índice de progresso social feito com dados do censo de 2010 foi
realizado pela data rio, os dados trazem consigo informações sobre o desenvolvimento
social segundo aos bairros e favelas do Rio de Janeiro. A pesquisa foi feita de acordo com
as áreas de planejamento do Rio de Janeiro. Essas áreas mostram uma considerável
diferença entre os bairros de acordo com o apresentado abaixo.
O baixo índice de progresso do desenvolvimento de algumas regiões como
Rocinha, Complexo do Alemão, Cidade de Deus se reflete no limitado acesso a direitos
básicos como água, saneamento, esgoto, saúde e educação. Pode se concluir que embora
o PAC e outros programas como Morar Carioca tenha atuado nessas regiões ainda há
muito o que se fazer e investir dado a falta de infraestrutura indicada pelo IPS.
Por outro lado, as políticas públicas Morar Carioca e PAC não atenderam de
forma suficiente as demandas das comunidades. É notório que algumas áreas bairros que
abrigam favelas estão com grande déficit de apoio por parte das políticas públicas para o
seu desenvolvimento.
43

3.2 - Renda per capita dos bairros do Rio de Janeiro

A tabela 3 apresenta renda per capita de bairros selecionados no Rio de Janeiro


para o ano de 2010.

Tabela 3 - Renda per capita 2010

Bairro Região Renda per capita em R$


Lagoa Zona Sul 5.635 R$
Leblon Zona Sul 4.702 R$
Ipanema Zona Sul 4.513 R$
São Conrado Zona Sul 4.609 R$
Barra da Tijuca Zona Sul 4.373 R$
Jardim Botânico Zona Sul 4.015 R$
Gávea Zona Sul 3.595 R$
Flamengo Zona Sul 3.540 R$
Laranjeiras Zona Sul 3.594 R$
Copacabana Zona Sul 3.032 R$
Botafogo Zona Sul 3.014 R$
Recreio dos Bandeirantes Zona Oeste 2.324 R$
Tijuca Zona Norte 2.314 R$
Centro Zona Central 1.356 R$
Rocinha Zona Sul 408 R$
Fonte: FGV Social/CPS a partir dos Microdados do Censo 2010

Os dados coletados mostram uma grande diferença entre renda per capita em
reais de alguns bairros a Rocinha é um exemplo com renda per capita de 408 reais mesmo
estando na zona sul e lagoa que também encontra se na zona sul com renda per capita de
5635 reais, isso nos mostra que além do rendimento em reais a uma diferença entre os
bairros, como citado acima no IPS estudo do instituto pereira passos sobre a desigualdade
de renda sendo visível no Rio de Janeiro. A renda é um indicador de desenvolvimento,
quanto maior a renda, mais desenvolvido é o bairro. O IPS dos bairros com melhores
infraestrutura se encontram na Zona Sul bairros com maiores rendas, maiores
equipamentos urbanos, como, tratado também por Milton Santos.
A concentração é dada por pessoas que vivem com renda superior à de outros
moradores, como visto acima a uma clara diferença mesmo que estando no mesmo bairro
da Rocinha que se encontra na zona Sul e que é considerada bairro com outros bairros
também presentes na zona sul Lagoa (5635), Leblon (4702), Ipanema (4513) e São
Conrado (4609) todos os rendimentos em reais.
44

Para a confecção da Tabela 4, foram selecionados bairros que possuem os maiores


IDHs em contraposição aos bairros-favela Rocinha, Jacarezinho, Maré e Complexo do
Alemão.

Tabela 4 - IDH - Bairros cariocas com maiores e menores IDH - 2018


Cinco Taxa Índice Índice de
Espera Taxa de Renda Índice Indice
maiores e bruta de de desenvolvi
nça de alfabetiz per de de
cinco frequên educaç mento
vida ao ação em capita longevid Renda
menores cia ão humano
nascer adultos em (R$ ade (IDH-
Bairros escolar (IDH- municipal
(anos) (%) de 2000) (idhl) R)
cariocas (%) E) (IDH)
Gávea 80,45 98,08 118,13 2139,56 0,987 0,987 1,000 0,970
Leblon 79,47 99,01 105,18 2441,28 0,908 0,993 1,000 0,967
Ipanema 78,68 98,78 107,98 2465,45 0,895 0,992 1,000 0,962
Lagoa 77,91 99,46 115,26 2995,29 0,882 0,996 1,000 0,959
Flamengo 77,91 99,46 115,26 2955,29 0,882 0,996 1,000 0,959
Rocinha 67,33 87,90 69,50 219,95 0,706 0,818 0,673 0,732
Jacarezinho 66,30 92,20 75,68 177,98 0,688 0,867 0,638 0,731
Maré 66,58 89,46 68,76 187,25 0,693 0,826 0,646 0,722
Complexo
64,79 89,07 72,04 177,31 0,663 0,834 0,637 0,711
do Alemão
Fonte :Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro 2018

A Tabela 4 apresenta as claras diferenças entre os bairros mais ricos do Rio de


Janeiro e as favelas da cidade. A começar pela expectativa de vida de seus moradores.
Bairros como Gávea, Ipanema e Leblon têm uma expectativa de vida superior ao dos
bairros favelados, que varia entre 10 e 15 anos. Quando se compara a renda per capita,
por exemplo, as discrepâncias são evidentes. Para o ano de 2000, enquanto a renda per
capita dos moradores do Morro do Alemão era R$177,31, a dos moradores da Gávea era
RS2.139,56, ou seja, 12 vezes superior. O IDH da Gávea é 0,970 e do Leblon de 0,967.
São IDHs superiores à de países como a Suíça, (0,962) e a Suécia (0,961) respectivamente
países que apresentaram o primeiro e segundo IDH do mundo no ano de 2021.

3.3 Evolução das favelas no Rio de Janeiro

O Instituto Pereira Passos vem há trinta anos fazendo o monitoramento em


assentamentos de baixa renda na cidade do Rio de Janeiro. Em 1982 foi então IPLANRIO,
implantado o primeiro cadastro das favelas, com a introdução gradativa de melhorias e
novos recursos tecnológicos transformando se no SABREN – Assentamentos de baixa
renda disponível no DATA.RIO para toda a prefeitura e sociedade civil.
45

Esse monitoramento tem por objetivo mensurar a variação horizontal das


favelas da cidade do Rio de Janeiro através de ortofotos ou imagens de satélites que
permitiram a comparação dos limites desses assentamentos /ou e favelas definidas como
“área predominantemente habitacional, caracterizada por ocupação clandestina e de baixa
renda, precariedade da infraestrutura urbana e de serviços públicos, vias estreitas e
alinhamento irregular, ausência de parcelamento formal e vínculos de propriedade, e
construções não licenciadas, em desacordo com os padrões legais vigentes.” (Lei
complementar nº 111 de 1/2/2011 - Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano
Sustentável do Município do Rio de Janeiro, artigo 234, inciso 3º).
O número total de favelas diminuiu entre 2018 e 2019, no período de 1999/2019
houve um crescimento de 11,05%: A tabela 5 apresenta o crescimento do número de
favelas no município do Rio de Janeiro.

Tabela 5 aumento do número de favelas


Favelas no Rio de Janeiro
Número Total de Favelas:
Em 1999 – 1.010
Em 2018 – 1.075
Em 2019 – 1.074
Área Total ocupada por Favelas:
Em 1999 – 43.864.592,83 m²
Em 2018 – 48.567.353,50 m²
Em 2019 – 48.712.485,87 m
Variação por Período: Período 2018 / 2019 – Crescimento de 145.132,37 m²,
correspondendo a 0,29%
Período 1999 / 2019 – Crescimento de 4.847.893,04 m², correspondendo a 11,05%.
(DATA.RIO)

A equipe técnica desse estudo disponível no DATA.RIO comparou através de


fotointerpretação a imagens de satélites e/ou ortofotos dos anos 1999, 2004, 2008, 2009,
2010, 2011, 2012, 2013, 2015, 2016, 2017, 2018 e 2019. A metodologia usou o cálculo
da variação horizontal mais não o da variação vertical construção de novos andares) e o
adensamento do lote (construção de novas edificações em um lote já ocupado. Os
resultados obtidos constituem uma valiosa informação sobre a dinâmica dos
46

assentamentos de baixa renda da cidade do Rio de Janeiro contribuindo para a


compreensão dessas realidades.
A tabela 6 apresenta as áreas ocupadas em m2 ao longo dos anos e a variação
percentual da ocupação. Houve crescimento e decrescimento de algumas favelas, no
período de 1999 a 2019.

Tabela 6 – Crescimento das favelas no período 1999 a 2019


Variação da Variação da
Anos Área ocupada em m²
área em m² área em %
(favelas) (Favelas)
(Favelas) (Favelas)
1999 43.864.592,83 - -
2004 46.668.022,79 2.803.429,96 6,39
2008 47.678.159,66 1.010.136,87 2,16
2009 47.902.594,03 224.434,37 0,47
2010 47.606.541,59 -296.052,44 -0,62
2011 47.365.449,18 -241.092,41 -0,51
2012 47.292.668,31 -72.780,87 -0,15
2013 47.355.286,01 62.617,70 0,13
2015 47.688.990,35 333.704,34 0,70
2016 47.842.420,65 153.430,30 0,32
2017 48.277.720,30 435.299,64 0,91
2018 43.864.592,83 289.633,21 0,60
2019 46.668.022,79 145.132,37 0,30
Fonte: Data. Rio-Apud Gerência de Estudos Habitacionais e Urbanos, CTIC/IPP, 2019

Na raiz dos problemas que ajudam a explicar a expansão das favelas cariocas está
o elevado índice de fecundidade das moradoras destes aglomerados populacionais, cuja
média de filhos por mulher é 30% maior que a média do Rio de Janeiro. Este fato é
explicado por Soares (2010) pela pobreza e desinformação que predomina nas favelas
cariocas. Cerca de 25% das jovens entre 15 e 19 anos de idade já têm pelos menos um
filho, cinco vezes a média da cidade, segundo estudos da Fundação Getúlio Vargas,
mencionados por Soares (2010):

Os elevados índices de fertilidade nas favelas cariocas – onde a média de filhos


por mulher é de 2,5, 30% maior que a do Rio como um todo – se explicam, em
parte, por razões comuns a outros lugares do Brasil em que grassa a pobreza.
Na base de tudo está o baixo nível de escolaridade, fator diretamente associado
à proliferação de famílias numerosas. Para se ter uma ideia, mulheres
brasileiras que não frequentaram a escola têm até o triplo de filhos do que
aquelas que concluíram uma universidade, segundo dados do IBGE. Além da
própria desinformação sobre os métodos contraceptivos, a ausência de estudo
desencadeia um ciclo vicioso que se percebe, talvez com mais nitidez, nas
favelas do Rio. Diz a especialista Rosiska Darcy de Oliveira, doutora em
educação: “Bem cedo, as meninas ali fracassam na escola e, sem nenhum
projeto de vida, preenchem o vazio com a gravidez”. Um novo levantamento
da Fundação Getúlio Vargas (FGV) revela a extensão do problema: nas
favelas, 25% das adolescentes entre 15 e 19 anos de idade já têm pelo menos
47

um filho – cinco vezes a média da cidade. Dado espantoso que não deixa
dúvidas: a maternidade precoce é um potente motor para a explosão
populacional nos morros do Rio de Janeiro. Soares (2010).

Com as áreas de planejamento apresentadas é observado que nos anos de 2018


e 2019 houve pequenos crescimentos em 1999 há 2019 verificou-se um crescimento de
11,05%. As “fotointerpretações” mostram que tem sido possível acompanhar a ocupação
do solo urbano dada a presença das favelas em solo carioca, os resultados informam as
reais dimensões, contribuindo para o monitoramento de políticas públicas e prestações de
conta para com a cidadania (Data Rio, 2021).
A figura 7 apresenta a expansão das favelas da Rocinha, Santa Marta e Nova
Brasília entre os anos 2018 e 2019. A cor azul denota os limites das respectivas favelas
no ano de 2018, enquanto a cor vermelha os limites das mesmas no ano de 2019.

Figura 7- Expansão das favelas da Rocinha, Dona Marta e Nova Brasília-2018/2019


48

Fonte: DATA.RIO, 2021

Com as áreas de planejamento apresentadas é observado que nos anos de 2018


e 2019 houve pequenos crescimentos em 1999 há 2019 verificou-se um crescimento de
11,05%. As “fotointerpretações” mostram que tem sido possível acompanhar a ocupação
do solo urbano dada a presença das favelas em solo carioca, os resultados informam as
reais dimensões, contribuindo para o monitoramento de políticas públicas e prestações de
conta para com a cidadania (Data Rio, 2021).
49

Tabela 6 :Crescimento das favelas mencionadas durante os anos

1999 2011 2013 2019


Favelas 2008 2015 2017
Área mil Área Área Área
estudadas Área (m²) Área (m²) Área (m²)
(m²) (m²) (m²) (m²)
Rocinha 837.596 841.760 836.944 834. 349 834. 952 838 .657 844. 481

Providencia 102.424 102. 424 102. 424 101. 693 102. 205 103. 689 105. 702
Santa
53.744 53.754 54.419 54.554 54.820 55 .381 57. 815
Marta
Nova
6.167 73. 926 89.757 90. 067 95 .450 103 .412 113. 835
Brasília

Fonte: Data. RIO 2021

O número de favelas no município do Rio de Janeiro vem crescendo é seus


moradores representam uma parcela cada vez maior da população da cidade. De acordo
com o IBGE a população do município do Rio de Janeiro que vive favelas era de 896.000
habitantes em 1991 (quando 1 de cada 6 moradores morava em favela), já em 2010 passou
para 1.300.000 habitantes (1 em cada 5 moradores morava em favelas, sendo que as
estimativas para o censo de 2022 é que fique próxima a 1.500.000 habitantes (o que
representará 1 para 4 moradores da cidade vivendo em favelas).
O município do Rio de Janeiro apresenta uma topografia com muitos relevos e
morros. Nas áreas nobres e centrais da cidade, as favelas se constituíram, sobretudo, nos
morros. O crescimento das favelas é um grande desafio social e urbano, pois traz impactos
negativos, sob muitos aspectos, não apenas para seus moradores, mas também para os
moradores de áreas nobres próximas as favelas:

Um estudo da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário


(Ademi) mostra que nos prédios colados às favelas da Zona Sul,a mais nobre
da cidade, o preço dos apartamentos caiu 50%. “Mansões lindas na minha rua
ficam até cinco anos com a placa de vende-se e são repassadas por valor
irrisório”, diz o advogado Luiz Fernando Penna, 61 anos, que mora próximo à
Rocinha e às casas do cirurgião Ivo Pitanguy e do compositor João Bosco.
Perto dele também funciona, à luz do dia, um ponto de venda de drogas, para
o qual alguns moradores têm vista Soares (2010).
50

Capítulo 4. A política de segurança nas favelas cariocas- o caso das UPPS

O Programa de polícia pacificadora (UPP) foi implantado no Rio de Janeiro


em 2008 no governo de Sérgio Cabral, com a intenção de combater o tráfico de drogas, a
violência e estabelecer maior interseção entre o estado, a polícia militar e as comunidades.
A primeira UPP foi instalada no morro Santa Marta em Botafogo, zona sul
do Rio de Janeiro em 2008, tornando-se referência e indicando os caminhos para a nova
política, as UPPs - unidades de polícia pacificadoras - prometiam levar segurança às
favelas e ocupar áreas até então em poder de traficantes de drogas, garantindo assim a
presença do estado nestas localidades, levando segurança e, paralelamente, projetos de
desenvolvimento social.
Nota-se na tabela 7 que a política de segurança para as favelas do Rio de
Janeiro resultou na instalação de 39 Unidades Pacificadoras em 39 favelas do município
a partir do ano de 2008.

Tabela 7 - Comunidades que foram ocupadas pela (UPP)


Santa Marta Nova Brasília
Cidade de Deus Fazendinha
Batam Adeus
Chapéu mangueira / Babilônia Alemão
Pavão – Pavãozinho Chatuba
Tabajaras Fé Sereno
Providência Parque Proletário
Borel Vila Cruzeiro
Formiga Rocinha
Andaraí Jacarezinho
Salgueiro Manguinhos
Turano Barreira do Vasco
São João /Matriz /Queto Caju
Coroa /Fallet /Fogueteiro Cerro – Corá
Escondidinho/Prazeres Arará/Madalena
São Lins
Mangueira Camarista Meier
Macacos Mangueirinha
Vidigal Vila Kennedy
Fonte: ISP (2018)

Com a implementação das UPPS houve uma queda substancial no número de


homicídios nas favelas cariocas bem como houve considerável queda no número de furtos
e roubos nos bairros próximos a estas comunidades e, como consequência, valorização
51

das áreas no entorno das favelas. Como se observa na Figura 10, o número de mortes
violentas nas favelas caiu drasticamente após a instalação das UPPs, passando de 185 no
segundo semestre de 2007, para 34 no primeiro semestre de 2013.

Figura 8 – Letalidade violenta em áreas com UPP no Rio de Janeiro por semestre: 2007-2015

Letalidade Violenta em Upp por semestre


200 185
176 179
180
160
140 126
120 105 104
100 84
73
80 63 65
53 55 50 50
60 42 47
34
40
20
0

Fonte: Adaptado de ISP, 2015

Conforme apresentado na Figura 11, nota-se que com as UPPS as vítimas de


homicídios por intervenção policial nas favelas cariocas sofreram forte queda, chegando
em 2011 a 3,5 vítimas/ 100 mil habitantes, queda de 88,4% no período. Mas é importante
ressaltar que houve queda significativa também nas vítimas de homicídios por
intervenção policial para o conjunto da cidade, que passa de 1,8/mil habitantes em 2007,
para 3,1/mil habitantes em 2013, queda de 79%.
52

Figura 9 – Vítimas de homicídios por intervenção Policial

Vítimas de homicídios por intervenção policial por 100 mil


habitantes
50
30.3
45
40 25.2
35
19.8
30
25
20
14.8 6.7
15 11.2 10.4
3.5 4.4
10 7.7 3.5 3.7
4.5 4.6 3.8
3.1
5
0
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Múnicipio do Rj Áreas de UPP

Fonte: Adaptado de ISP – Ana Carolina Malvão,2015

No ano de 2018, quando as UPPS completavam dez anos, os deputados da


Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) aprovaram (sem declaração de votos)
um projeto de lei de autoria do Deputado Rosenverg Reis (MDB), que previa o fim das
UPPs . O autor do projeto argumentava que não via sentido em ver “oito mil policiais
confinados em containers” (Resende, 2019)
A Universidade Cândido Mendes fez uma entrevista com os moradores destas
comunidades. Perguntados se as UPP é um projeto falido, 66,1% concordaram, 17,1%
discordaram e 16,8% não opinaram. No entanto, surpreendentemente, apesar da visão
crítica dos moradores quanto às UPPS, quando perguntados se preferiam que as UPPs
acabassem, 60% responderam que preferiam que ficassem (Agência Brasil, 2023).
Alguns especialistas em segurança pública destacaram que a baixa interação dos
policiais com as populações das favelas teria sido uma das principais causas para o
fracasso das UPPS. Paralelamente, as guarnições das UPPS passaram a ser atacadas pelo
tráfico e a revidar aos ataques, por sua vez, houve sistemáticas reclamações de crimes
cometidos por policiais contra moradores e, fundamentalmente, o suporte financeiro à
53

política pública das UPPS foi muito reduzido. O que resultou no fim do programa em
2008. Ver quadro 6.

Quadro 6 – Extinção de algumas UPPS listadas pelo e seu início: ISP


UPP Data de ocupação Data de instalação Data de Extinção
Cidade de Deus 11/11/2008 16/02/2009 Jul-18
Batam 12/07/2008 18/02/2009 Jun-18
Coroa/Fallet/Fogueteiro 06/01/2011 25/02/2011 Dez-18
São Carlos 06/012011 25/02/2011 Dez- 18
Caju 03/03/2013 12/04/2013 Dez-18
Cerro -Corá 29/04/2013 03/06/2013 Dez -18
Camarista Méier 06/10/2013 02/12/2013 Dez -18
Mangueirinha 05/08/2013 07/02/2014 Jun-18
Vila Kennedy 13/03/2014 23/05/2014 Jun-18
Fonte :ISP, 2018

Volta ao Rio de Janeiro a velha política pública de intervenções pontuais nas


favelas cariocas com elevado grau de letalidade. Mais que isto, surgem novas facções e
grupos armados que disputam o domínio dos espaços urbanos da cidade deixando os
moradores reféns do medo e da insegurança.

4.1 O aumento do crime organizado no Rio de Janeiro após o programa de


polícia pacificadora (UPP)

Os gráficos apresentados a seguir mostram dados do Mapa Histórico dos grupos


Armados do Rio de Janeiro. A Figura 12 apresentada o gráfico da evolução dos territórios
dominados por facções criminosas em Km2 e o números de habitantes das áreas
controladas por estes grupos armados. Dentre as facções criminosas armadas estão as
milícias, o comando vermelho, o terceiro comando puro (TCP) e o grupo armado amigos
dos amigos (ADA)
54

Figura 1 - Área de controle do grupo Armado

Área total do grande Rio sob controle de cada grupo Armado (2006 a
300
2021)

256.28
250
215.64 219.08 211.04 218.68
212.36
208.15 209.2 206.53
199.19 193.73
200 186.77
170.48
155.42 156.44 151.25
145.96
150 131.21 138.88 143.64 138.01 138.96
126.84 125.13
115.83 117.98
97.8
100

52.6
50 35.97 41.53
20.03 26.62 28.9 28.42 28.08 23.08 23.89
18.09 21.76
19.7 21.49 16.79 17.63 22.08 20.76 20.06 20.54 21.18 18.56
17.14 20.8 20.36
16.13 14.11 9.43
5.63
0

Milicia CV TCP ADA

Fonte: Adaptado de GENI/UFF e Fogo Cruzado, Mapa histórico dos grupos armados do Rio de
Janeiro,2022.

Dois fenômenos se destacam na análise da Figura 12; i) observa-se que todos os


grupos armados já estavam atuando no Rio de Janeiro quando ainda vigorava a política
das UPPS. Entretanto, após o fim da política das UPPS é possível observar o rápido
crescimento das duas maiores facções criminosas do RJ: o Comando Vermelho, que
detinha no período 2005 a 2007 o domínio territorial de 131,210 Km2 e a milícia, na
segunda posição, com o domínio territorial de 52.600km2 entre 2005 e 2007; ii) a partir
de 2008, o Comando Vermelho avança no domínio territorial da cidade atingindo
212.000km2 ; iii) Fato curioso é que a milícia estabilizou seu domínio territorial variando
entre 138.000km2 e 117.000km2 no período 2007 a 2017. Contudo, a partir do ano de
2018, há um súbito crescimento do domínio territorial das milícias no Rio de Janeiro,
superando em 2019 em extensão de domínio territorial do Comando Vermelho, atingindo
a marca de 256.280km2 de território.
O vertiginoso crescimento dos grupos armados e a ampliação do domínio
territorial dos mesmos, que abrange sobretudo as favelas e áreas periféricas do Rio de
Janeiro, tornou a população destes lugares reféns da violência e do medo a eles impostos
55

pelos grupos armados e pelas incursões truculentas da polícia. Muitos moradores são
obrigados a pagar pedágio, a consumir produtos e serviços comercializados pelas facções
criminosas, com destaque para as milícias, a conviver com o tráfico de drogas e a guerra
entre traficantes, milicianos e policiais. Os moradores das favelas cotidianamente se veem
no meio de tiroteios onde são empregadas armas de guerra.
Estes fatos demonstram a falência das políticas de segurança pública para as
favelas, para o município do Rio de Janeiro e para o estado. Ou seja, o estado deixa de
atuar como agente público garantidor da segurança dentro das favelas e volta a fazer
incursões pontuais com elevado índice de letalidade.
56

Considerações Finais:

Estudar a Urbanização das favelas do Rio de Janeiro é de suma importância e um


grande desafio. Refletir sobre a urbanização nas favelas cariocas é pensar sobre inclusão,
sobre se as pessoas se as políticas públicas se concretizam e beneficiam as pessoas menos
favorecidas ou não. Refletir sobre a urbanização das favelas cariocas nos ajuda a entender
o porquê de esses espaços e as pessoas que neles residem serem historicamente tão
discriminados, abandonados e excluídos. As abordagens apresentadas neste estudo, a
saber, dos dois circuitos do geógrafo Milton Santos, do dualismo estrutural do economista
Celso Furtado e das teses que explicam a segregação sócio - espacial de Jessé de Souza,
iluminam nossa compreensão sobre estas questões.
As favelas cariocas surgem nas encostas e nos morros da cidade, inicialmente com
a ocupação de ex- escravizados e seus descendentes e depois com a vida de migrantes de
outras regiões e estados do país. Desde o seu nascedouro, as favelas e seus moradores
foram discriminados pelas elites dominantes, que tinham as favelas como lugar de
marginais e de desocupados. As favelas cariocas são vítimas do racismo e da segregação
socioespacial desde a sua formação até os dias atuais. Este é o caso, por exemplo, do
Morro da Providência, localizado no centro do Rio de Janeiro, que é definido como a
primeira ocupação desta natureza no Brasil, sendo responsável por popularizar o termo
favela, que passou a ser amplamente empregado para denominar aglomerações urbanas
informais no país. Mas também foi o caso do Morro do Castelo, que foi demolido e sua
população desalojada como parte das reformas urbanas e higienistas de Pereira Passos no
início do século XX.
As favelas cariocas, ao mesmo tempo que integram a paisagem da cidade,
inclusive de áreas nobres como a zona Sul do Rio de Janeiro, à exemplo da Rocinha e
Dona Marta, apresentam indicadores que espelham a pobreza e a indigência urbanas. As
estimativas são a de que os moradores das favelas cariocas atinjam a marca de 1,5 milhão
de pessoas em 2022, o que significa que 1 em cada quatro moradores cariocas estará
residindo em favelas. O município do Rio de Janeiro é o que possui o maior número de
favelas no Brasil e a maior quantidade de habitantes que nelas residem. A taxa de
natalidade das favelas cariocas é 30% maior que a média do Rio de Janeiro, fato que
impulsiona o seu crescimento, o que torna premente sua urbanização. Falta quase tudo
nas favelas cariocas: habitações dignas, saneamento básico (água e esgotamento
sanitário), transportes, pavimentação de ruas, áreas de lazer, escolas, creches, postos de
57

saúde e segurança pública. No que tange à urbanização das mesmas e o papel do estado,
este, quando atua, ainda o faz de forma muito tímida e, não raro, equivocada. Entretanto,
as obras do Programa de Aceleração do Crescimento PAC I e II do governo Federal,
realizadas em parceria com o estado e com o município do Rio de Janeiro, revelaram que
um esforço integrado das três esferas de governo pode mudar a realidade das favelas
cariocas. Bastando boa vontade política, pois o país dispões de recursos para a realização
de investimentos desta natureza dentro do orçamento dos governos. As obras do PAC
atestam a afirmação acima, foram desenvolvidas nos governos Lula 1 e 2 (2003 a 2010)
e no Governo Dilma (2010-2015). Entretanto, ressalta-se que, como ponto negativo das
obras do PAC nas favelas do Rio de Janeiro, parte substancial dos recursos aplicados nas
favelas cariocas foram de cunho eleitoreiro, isto é, nas chamadas obras emblemáticas,
com pouca utilidade prática para os moradores, à exemplo do teleférico do Morro do
Alemão. O PAC não fugiu à prática da cultura política brasileira. Foi descontinuado nos
governos Temer (2016-2019) e Bolsonaro (2019 a 2022).
Por sua vez, Programas habitacionais como Minha Casa Minha Vida (federal),
Favela Bairro e o Morar Carioca (municipais) reforçaram a ideia de que é possível realizar
políticas de urbanização nas favelas de modo a integrá-las ao conjunto urbano da cidade.
Enquanto esforço de gestão, o Índice de Progresso Social (IPS) criado pelo governo do
município do Rio de Janeiro foi um passo importante dado no sentido de avaliar os
resultados das políticas públicas com vistas à urbanização, sobretudo, das favelas e áreas
periféricas do Rio de Janeiro. Por exemplo, os bairros da Rocinha e do Complexo do
Alemão aumentaram respectivamente seus IPS entre 2016 e 2022 de 44.78 para 60,2 e de
40,51 para 58,08, refletindo positivamente as políticas públicas que chegaram a estas
favelas. As políticas não resolveram todos os problemas das comunidades mais houveram
parcerias, do resultado de 2016 reflete em grande parte o fruto dos investimentos que
formam feitos nas áreas mais carentes principalmente graças ao PAC a 2022
As políticas são sempre interrompidas embora o Governo Lula pensa se numa
política que não fosse apenas para o governo no Rio de Janeiro mais para o Brasil todo.
Oque atesta que essas políticas foram bem sucedidas são o considerável o aumento do
IPS nada melhor que o IPS para mostrar a qualidade das políticas públicas que ocorreram
em 20016 e refletiram em 2022 o PAC teve resultado positivo, porém insuficientes. Um
dos mais graves problemas que afetam as favelas e o município do Rio de Janeiro é a
violência urbana. A implementação da política das UPPS no período de 2007 a 2018
apresentou resultados substanciais com vistas à redução de mortes, de conflitos armados
58

e da letalidade policial tanto nas favelas cariocas quanto na cidade como um todo
(“asfalto”) valorizando, inclusive, os imóveis dos bairros próximos às favelas. É certo que
uma política de segurança da envergadura das UPPS apresentará problemas. Como visto,
o encerramento da política das UPPS implicou a fortíssima expansão territorial das
milícias e das facções criminosas no Rio de Janeiro, com o aumento dos conflitos armados
por disputas territoriais, mortes por armas de fogo de inocentes, sobretudo nas favelas, e
retorno ao padrão de incursões truculentas da polícia do estado nas favelas. Mas fica a
pergunta: por que um programa que alcançou resultados tão significativos foi extinto? A
política das UPPS não merecia ser aperfeiçoada e suas falhas corrigidas? Em síntese, por
que o estado não consegue atuar de forma continuada e eficiente fazendo-se presente por
meio de políticas públicas nas favelas no Rio de Janeiro? A resposta a estas perguntas
corroboram a hipótese desta pesquisa, a saber, a de que as relações entre a Casa Grande e
a Senzala - tipificadas no século XXI pelas favelas e pelas áreas nobres da cidade do Rio
de Janeiro, onde reside a elite carioca permanecem sob novas roupagens. Como bem
elucidou Jessé de Souza, além do racismo institucional e estrutural, estas novas relações
se manifestam na forma da discriminação socioespacial. Por sua vez, como propõe Milton
Santos, a desigualdade social e econômica leva a um ciclo vicioso onde o sistema mantém
e reproduz áreas periféricas e menos dinâmicas da cidade (favelas) as quais se articulam
às áreas mais dinâmicas ligadas ao capitalismo avançado. Furtado argumenta que um
sistema socioeconômico que tem seu dinamismo fundamentado em estruturas atrasadas
que se integram a estruturas dinâmicas caracteriza o dualismo estrutural que tipifica o
subdesenvolvimento. Romper com esta lógica do atraso passa por incorporar social e
economicamente as favelas e seus moradores ao mercado e à cidade, por meio de
investimentos públicos robustos em educação e urbanização que lhes garantam o direito
à urbanidade e cidadania.
59

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