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UFRRJ/RJ
2020
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
UFRRJ/RJ
2020
VIDEIRA, Fernanda Passos.
Políticas para o saneamento básico: o impacto da
privatização no acesso à agua e tratamento de esgoto. Rio de
Janeiro: UFRRJ, 2020-2.
33f.
Por fim, aos meus pais, que sempre estão ao meu lado e incentivaram a seguir
o curso, mesmo quando a dúvida esteve presente.
"Nada se perde, nada se cria, tudo se transforma".
Lavoisier
RESUMO
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 9
1.1. Justificativa ....................................................................................................... 9
1.2. Problema da Pesquisa...................................................................................... 9
1.3. Objetivo Geral ................................................................................................... 9
1.4. Objetivos específicos ........................................................................................ 9
1.5. Metodologia .................................................................................................... 10
2. CONTEXTUALIZAÇÃO ..................................................................................... 11
2.1. Histórico do Saneamento Básico no Brasil ..................................................... 13
2.2. Prestadoras de serviços de saneamento........................................................ 15
2.3. Políticas públicas nos últimos 40 anos ........................................................... 17
3. EXPOSIÇÃO ...................................................................................................... 22
3.1. Privatizar......................................................................................................... 23
3.2. (Re)estatizar ................................................................................................... 25
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 27
5. REFERÊNCIAS ................................................................................................. 29
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1. INTRODUÇÃO
1.1. JUSTIFICATIVA
Segundo o Relatório de 2019 do Sistema Nacional de Informações sobre
Saneamento (SNIS), o acesso ao serviço de tratamento de esgoto no Brasil é
proporcionado a menos de 55% da população e, na última década, estudos apontaram
que a privatização pode não ser a solução mais adequada para se chegar ao desejado
cenário de acesso universal a este serviço que, como será apresentado ao longo do
trabalho, notadamente, tem impacto direto na saúde da comunidade.
Portanto, se faz necessário avaliar essa proposta que consta no novo Marco
Legal do Saneamento Básico, por meio dos estudos científicos que contribuirão para
uma análise crítica, esperando colaborar para o entendimento e na busca do caminho
que seja melhor para a população, com aumento do acesso à água e ao tratamento
de esgoto no país.
1.5. METODOLOGIA
Para isso, a partir da pesquisa de fundamentações teóricas e dados concretos
de experiências análogas, procurar-se-á entender se essa estratégia governamental
será vantajosa ou, quais seriam os contrapontos à privatização de empresas de
Saneamento para a política pública de acesso à água e esgoto no Brasil.
Neste sentido, o desenvolvimento do trabalho estará dividido em dois capítulos,
sendo o primeiro composto pela apresentação de um contexto histórico e, o segundo,
pela exposição dos estudos científicos encontrados sobre o tema e a contraposição
das hipóteses de privatizar ou não as empresas de saneamento.
A primeira parte permitirá uma compreensão histórica e ampla das políticas
públicas para o saneamento a partir da apresentação dos planos e projetos, propostos
pelos governos, desde 1930, para organizar a gestão da água e os respectivos
procedimentos regulatórios e administrativos.
Após este traçado histórico, o trabalho apresentará por meio do arcabouço
referencial os argumentos favoráveis e os desfavoráveis à remunicipalização e à
privatização, que são as duas opçoes frente à hipotese de ser uma vantagem para a
sociedade manter o serviço público.
Portanto, a pequisa bibliográfica será a fonte principal de dados e informações
e serão utilizados os métodos dialético, pois parte-se de um questionamento que
ainda não possui uma resposta absoluta; o indutivo, para para averiguar problemas
que podem influenciar o questionamento proposto e; o hipotético-dedutivo em que
procurar-se-á organizar os fatos encontrados na literatura.
Ou seja, será possível verificar na pesquisa o uso dos procedimentos
comparativo e o monográfico, por meio dos quais os dados e informações encontradas
nas fontes bibliográficas serão diferenciados, relatados e sintetizados para
compreender os reflexos da decisão governamental.
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2. CONTEXTUALIZAÇÃO
A água, bem mais precioso que a humanidade possui, é fonte de vida, sendo
essencial para o desenvolvimento das atividades humanas. Dessa forma, a gestão
dos recursos hídricos não é algo recente, desde a Antiguidade o manejo das águas
foi fator determinante para as civilizações, com a construção de canais para
suprimento de água à população e para a irrigação da agricultura (BACCI E PATACA,
2008; ZOMBINI, 2013).
Segundo Zombini (2013, p.37), as civilizações antigas já compreendiam
intuitivamente a importância do saneamento, ao associar a sujeira decorrente dos
rejeitos orgânicos aos males que acometiam os indivíduos porém, foi somente após o
século XIX, com os resultados de pesquisas sobre as enfermidades transmissiveis, e
a descoberta dos germes causadores, que possibilitou aos governos tomarem as
devidas ações preventivas. “Várias práticas de higiene foram ao longo do tempo
transformadas em medidas e hábitos para posteriormente serem convertidas em
regras e leis, na tentativa de impedir a disseminação de doenças”, constatou o autor.
Além das regras e leis, tais práticas constam inclusive como diretriz de
organizações internacionais, tal como é possível observar no prólogo do Guia para o
Saneamento e Saúde, uma publicação da Organização Mundial da Saúde (OMS) cujo
diretor, Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, destaca a relevância do saneamento para
o desenvolvimento de um país.
água e esgoto era de 586.200 e 270.700 e, em 2018, passou para 662.600 e 325.600,
uma ampliação de aproximados 13% e 20%, respectivamente. O número de ligações
de água e de esgoto, por sua vez, tiveram um aumento de quase 11% e 18%, porém
muito abaixo do que se espera para atingir a meta do Plansab.
Tal fato é observado no Panorama 2020 da ABCON, revelando que, no ritmo
atual, a meta proposta para 2033 não será alcançada, pois há um deficit expressivo
na extensão de rede de esgoto e na população beneficiada, na ordem de 95,7 mil
quilometros e de 53,3 milhões de habitantes.
Apesar deste artigo na Constituição Federal de 1988, tardou 19 anos para que
fosse aprovada a Lei do Saneamento, um processo que, segundo Sousa (2011),
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Este último ficou em evidência com o Planasa e é predominante até hoje, sendo
resposnsável por 72% do mercado. Já entre as administrações municipais e as
empresas privadas, a participação é de 25,7% e 5,2%, respectivamente. (ABCON,
2020; HELLER et al., 2011 e; SOUSA, 2011)
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3. EXPOSIÇÃO
Dela infere-se que cada modalidade tem seus desafios, e não existe uma
‘solução perfeita’ para o problema, como é corroborado no documento da
Confederação Nacional da Indústria (CNI) em 2018 que expressa : “A experiência
internacional sugere que não há um modelo único para o sucesso. Contudo, a parceria
com o setor privado tem sido um fator fundamental para a expansão e aumento da
qualidade dos serviços prestados”.
Logo, o mais prudente seria a liberdade para que o município, região ou estado
se posicionasse, a partir de estudos técnicos e mesmo pela consulta pública, para
receber o modelo que melhor atenda as suas demandas e características. (CNI, 2018)
3.1. PRIVATIZAR
O novo Marco do Saneamento é um dos projetos do atual governo que, até o
momento, possui um vies liberal para a economia, traduzindo-se em ações que
reduzem a interferência do Estado. Com esta lei, o Governo Federal diz que quer
alcançar a universalização até 2033. (Figura 2)
Na opinião de alguns advogados, a flexibilização das regras aplicáveis aos
contratos de concessão e PPP permitirá a ampliação dos investimentos pela iniciativa
privada, sendo um estímulo à livre concorrência e, com isso, aumento da
competitividade de forma a ganhar eficiência e sustentabilidade econômica,
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acreditando assim em uma melhora dos serviços atualmente prestados (sem autor,
2019).
Entre os aspectos sustentados pela Associaçao das Empresas Privadas, está
o impacto do investimento para setores como o da construção civil e de indústria de
máquinas e equipamentos, já que os investimentos necessários para a
universalização do saneamento, cerca de R$ 498 bilhões, tem um efeito multiplicador
de 2,8 na economia. (ABCON, 2020b).
Outro elemento utilizado pelas empresas para justificarem a importância da
iniciativa privada no mercado de saneamento é a quantidade de investimento
aplicado, tendo elas mantido uma média histórica igual à 20% do total realizado pelas
demais operadoras, apesar de corresponderem a menos de 6% do mercado (ABCON,
2020a).
Guimarães (2012) afirma que, apesar de representar a menor participação
entre as modalidades no mercado de saneamento básico brasileiro, as empresas
privadas possuem latente capacidade financeira para ampliar sua participação, uma
vez associadas aos grupos financeiros que também participam de setores como
transporte, energia, comunicação e pavimentação urbana.
Para a ABCON (2020a), a promoção de uma cultura de integridade é um
objetivo compartilhado pelos grupos privados, com destaque para a existência da área
de compliance e mesmo por meio da obtenção de certificados do tipo ISO, que
atestam o compromisso com uma gestão responsável e sustentável.
Entre os casos de sucesso no Brasil, a Associação destaca as cidades do
interior de São Paulo, Limeira e Ribeirão Preto, que foram, há 25 anos, as primeiras a
privatizarem seus serviços.
Atualmente com 300 mil habitantes, a cidade de Limeira teve o serviço de água
e esgoto universalizado em 2011 e a empresa responsável, prevê obras como a
duplicação da Estação de Tratamento de Esgoto, a ampliação da Estação de
Tratamento de Água e adutoras, e a substituição de redes antigas. Já Ribeirão Preto
tinha, em 1995, 95% de efluentes domésticos coletados contudo, apenas 4% desse
volume era tratado e, hoje, todo o esgoto doméstico coletado recebe tratamento.
Entre as concessões plenas municipais, o caso de sucesso apresentado é o de
Niterói (RJ), que há 20 anos possui contrato com a iniciativa privada que abastece
100% da população com água tratada e de qualidade além de coletar e tratar e 95%
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do esgoto produzido.
3.2. (RE)ESTATIZAR
Entre as razões defendidas pelos que não apoiam a privatização está o risco
de as empresas privadas concentrem seus esforços na maximização do lucro, o que
tende a prejudicar o foco no desenvolvimento de ações direcionadas ao amplo acesso
(PIGEON et al., 2012).
Neste sentido, Heller (2012, pág. iii) constata que algumas empresas de
saneamento, pelo fato de terem o capital aberto na bolsa, seguem uma estratégia
mercadológica em detrimento da social: “(...) os grupos de empresas privadas e
companhias regionais são marcados pelos maiores índices de hidrometração e
inadimplência, o que pode ser explicado pela lógica empresarial que norteia essas
modalidades”.
Além disso, não se pode ignorar casos como da cidade de Campo de
Goyatacazes, cuja privatização do serviço de saneamento não garantiu ao município a
universalização do acesso à água tratada e, dentre outros motivos temos:
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim, foi possível inferir que os problemas com saneamento no país não são
recentes, existe uma ineficiência histórica da gestão e também uma forma elitista e
regionalista de investimentos, excluindo as populações marginalizadas ao acesso dos
serviços de água e esgoto.
sistema de serviços tais como alimentação e manutenção entre tantos outros, com
aumento de postos de trabalho.
Por fim, cabe comentar que, para uma análise ética e responsável, é preciso
aguardar o período de implementação e de desenvolvimento, para que seja possível
uma comparação dos efeitos decorrentes dessa decisão. Ou seja, o resultado das
decisões tomadas no segundo semestre de 2020 e início de 2021, frutos da aprovação
do Novo Marco do Saneamento, não serão colhidos agora, mas ao longo dos próximos
13 anos, quando chegaremos ao ano estabelecido no Plansab para alcance da meta
de universalização dos serviços. Como estaremos então?
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5. REFERÊNCIAS
______. Governo Federal. Marco Legal do Saneamento Básico - Lei nº 9.984. Brasília,
DF, 2000. Disponível em: <https://bit.ly/3q8ps7N> . Acesso em 15 set. 2020.
CASTRO, Jose Esteban. Urban Water Cycle and Essential Public Services. Publicado
em WATERLAT-GOBACIT Network Working Papers Thematic Area Series. Vol. 3, Nº
7. Dezembro, 2016. Disponível em: http://waterlat.org/WPapers/WGWPVol5No3.pdf
Acesso em 25 mar. 2020
LEONETI, Alexandre Bevilacqua; PRADO, Eliana Leão do; OLIVEIRA, Sonia Valle
Walter Borges de. Saneamento básico no Brasil: considerações sobre investimentos
e sustentabilidade para o século XXI. Rev. Adm. Pública, Rio de Janeiro, v.
45, n.2, p.331-348, Abr. 2011. Disponível em: < shorturl.at/uCX08>. Acesso
em 21 out. 2020.
NAVES, Rubens e Silva, Guilherme Amorim Campos da. Os desafios do novo Marco
Legal do Saneamento Básico. Revista eletrônica Consultor Jurídico, 21/12/2019.
Disponível em: <www.conjur.com.br/2019-dez-21> Acesso em: 15 out. 2020
OLIVEIRA, Thiago Guedes de; LIMA, Sonaly Cristina Rezende Borges de.
“Privatização Das Companhias Estaduais De Saneamento: Uma Análise A Partir Da
Experiência De Minas Gerais”. Ambient. soc., Set 2015, vol.18, no.3, p.253-272.
Disponível em: <shorturl.at/hqsO5> Acesso em: 25 mar. 2020.
SOUSA, Ana Cristina Augusto de; BARROCAS, Paulo Rubens Guimarães. Privatizar
ou não privatizar: eis a questão. A única questão? A reedição da agenda liberal para
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