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Aos meus filhos, Aquiles e Ulisses, que compreenderam com grande maturidade
minhas ausências, pedidos de silêncio e horas em frente ao computador sem
lhes dar atenção. Obrigada pelos lanchinhos e chocolates, pelos carinhos e por
diversas vezes simplesmente sentarem ao meu lado durante as aulas para eu
não ficar sozinha no escritório.
Aos colegas da Rede Conexão Inovação Pública RJ, por todo conhecimento
compartilhado e auxílio na condução dessa pesquisa. Somos Conexão!
Methodology: The case study was developed through the analysis of the
innovation network's database, carrying out action research with network’s
members to characterize and contextualize it and conducted a focus group for
detailing and framing the network's attributes (genetic mapping), as well as
identification of potentialities and dysfunctions, aiming to propose improvements
to the network. For this study, the Innovation Genome theory was applied.
CDD – 658
“INOVAÇÃO COLABORATIVA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: O CASO REDE CONEXÃO INOVAÇÃO PÚBLICA RJ’’.
DISSERTAÇÃO APRESENTADO(A) AO CURSO DE MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE
MESTRE(A) EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
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LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11
Contextualização............................................................................................................. 11
Importância do tema....................................................................................................... 14
Pergunta de pesquisa ...................................................................................................... 15
Objetivo principal e intermediários ................................................................................. 15
Estrutura da dissertação ................................................................................................. 16
REVISÃO DE LITERATURA......................................................................................... 16
Ecossistemas de inovação ............................................................................................... 16
Inovação aberta & Inteligência coletiva ........................................................................... 18
Redes de Inovação Colaborativas – CoINs (Collaborative Innovation Networks) .............. 31
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ....................................................................... 36
DESCRIÇÃO DO CASO - REDE CONEXÃO INOVAÇÃO PÚBLICA RJ ............................... 43
RESULTADOS ........................................................................................................... 46
DISCUSSÃO .............................................................................................................. 79
CONCLUSÕES ........................................................................................................... 81
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 84
INTRODUÇÃO
Contextualização
1
A inteligência coletiva é descrita por Pierre Lévy (2013) como uma inteligência difusa, que além de estar
distribuída por todos os lugares, sofre constante aprimoramento, produzindo a mobilização de
competências. O autor destaca que a inteligência coletiva propicia benefício mútuo das pessoas,
considerando que todo o conhecimento está na humanidade.
competências diversas, podendo ser caracterizadas como um modelo
intraorganizacional heterogêneo, onde diversos atores agem conjuntamente na
busca por inovação, delimitados pelo contexto econômico, social e geográfico.
As contribuições em rede constituem os ecossistemas de inovação, capazes de
integrar os participantes e o ambiente de forma a propiciar um fluxo de inovação
com potencial de gerar mudanças na sociedade (Sawatani et. al, 2007).
O termo ecossistema de inovação é utilizado aqui de forma análoga ao
conceito de organização em redes dos seres vivos2, de forma que qualquer ação
pode alterar o equilíbrio do sistema (Brunel, 2016). Dessa forma, as instituições
são um componente vivo - parte de um ecossistema que envolve diversas outras
organizações, indivíduos, entidades governamentais e demais agentes -,
atuando simultaneamente em cooperação e competição, e promovendo e se
beneficiando das inovações (Kon, 2016). Assim, os ecossistemas de inovação
proporcionam benefícios mútuos por meio da cooperação de instituições e
indivíduos, os quais atuam em seus próprios nichos, compartilhando, no entanto,
de uma mesma rede de relacionamentos (Kon, 2016).
Especificamente, os ecossistemas são compostos por redes de atores
que compartilham informações para fins de desenvolvimento de inovações, por
meio da transferência de conhecimento relativo à inovação em produtos e
serviços, pela qual diversas partes interessadas são beneficiadas à medida que
o conhecimento é adequadamente gerido e transferido (Bacon et. al, 2019). Os
atores buscam a construção e uma identidade legitimadora para a rede,
impulsionados pela expansão dos modelos de desenvolvimento dos elos mais
fortes da relação, assim como do desejo dos elos mais fracos em aprender e
colaborar de forma a diminuir a distância cultural, econômica e tecnológica
daqueles (Castells, 2018).
Ao analisar a rede de inovação como um ser vivo pertencente a um
ecossistema, Brunel (2016) observa que a rede é autopoiética3 e dissipa
2
De acordo com o Dicionário Etimológico e Circunstanciado de Biologia (2004, pg. 128), Ecossistema é a
“designação de amplo sentido que vincula o sistema de relações mútuas existente entre as espécies animais
e vegetais que habitam uma região aos fatores físicos e químicos deste ambiente, tais como clima,
luminosidade, temperatura, umidade, pressão, salinidade, pH, etc. Compreende-se assim que todo
ecossistema abrange fatores bióticos (fauna e flora) e fatores abióticos (elementos do meio). Complexo
formado pelas espécies viventes e o meio físico-químico de certa área da biosfera, que se inter-relacionam
formando um todo”.
3
“a própria rede se auto-organiza e se auto-produz através de suas relações cognitivas” Brunel (2016, pg.
1675).
conhecimento entre os atores que a compõem. Para o autor, o componente
ambiente é representado pelo contexto socioeconômico.
Ao se considerar as redes como seres vivos, abre-se a possibilidade de
aprofundar as analogias com as ciências naturais, usando-se a genética e a
biologia molecular na busca pelo detalhamento e compreensão das
características intrínsecas de cada rede. A unidade fundamental da genética é o
gene, que é conceituado pela teoria molecular clássica como uma característica
específica4 que é responsável pela geração de um produto funcional
correspondente (Joaquim e El-Hani, 2010). Dessa forma, os genes são unidades
componentes do DNA, determinantes de características intrínsecas, e que, em
conjunto, formam o genoma do indivíduo (Carneiro et. al, 2000). Analogamente,
o sequenciamento genético (genoma) de uma rede de inovação explicita suas
características e a forma como elas determinam e impactam as inovações
produzidas.
Importância do tema
4
Cada gene é único e possui estrutura, função e localização específicas.
devendo-se também analisar as condições para surgimento de colaboração e de
como esta estimula os processos de inovação. É ainda relevante compreender
como se dá o processo de disseminação das novas ideias e práticas, e qual o
impacto dessa colaboração para o desenvolvimento de uma coletânea de ideias
e soluções que superem a resistência à mudança, ao mesmo tempo em que
permitam o ajuste de práticas inovadoras. Dessa forma, é necessário investigar
como os gestores públicos podem usar suas percepções para remediar os
problemas mais proeminentes da sociedade, por meio da inovação e criação de
valor público (Crosby, Hart e Torfing, 2017).
Pergunta de pesquisa
Estrutura da dissertação
REVISÃO DE LITERATURA
Ecossistemas de inovação
A relevância do estudo dos sistemas foi destacada pelo biólogo austríaco
Karl Ludwig von Bertalanffy (1968), em sua icônica obra “Teoria Geral dos
Sistemas”, ao discorrer sobre a importância de grupos de trabalho com
diversidade de saberes para a solução dos problemas complexos do mundo. O
autor destaca que problemas governamentais urgentes, como poluição,
criminalidade, planejamento urbano etc., requerem a construção de soluções
criativas e promissoras que otimizem eficiência e reduzam custo, desenvolvidas
em uma rede de interações complexas - o sistema. Para Bertalanffy (1968), o
pensamento sistêmico requer uma reorientação do pensamento científico e
diferente dos experimentos laboratoriais em física e química (sistemas
fechados), os organismos vivos são fundamentalmente sistemas abertos que
observam entradas e saídas energéticas em fluxo contínuo, buscando a
manutenção do estado de equilíbrio químico e termodinâmico.
Considerando os ecossistemas de inovação como sistemas abertos,
pode-se associá-los às ciências naturais, pela constante busca por tornarem-se
sistemas autopoiéticos - isto é, sistemas que possuem a capacidade de se auto-
organizar a partir de suas interações, de forma a minimizar as interferências do
ambiente de entorno (Mendes, 2018).
Porém, o equilíbrio natural pode ser distorcido por fatores externos, que,
a depender da forma e intensidade, podem causar resultados construtivos ou
destrutivos - seja por um novo rearranjo interativo ou pela eliminação de alguns
componentes do antigo sistema (Kon, 2016).
Relevante destacar, para a compreensão da Teoria dos Sistemas, que a
soma das partes componentes de um sistema não representa o seu todo, pois
as interações e interferências externas produzem efeitos que não existem
individualmente, sendo a complexidade do ecossistema definida pelos
elementos e suas relações (Mendes, 2018). São justamente essas relações
coesas de interdependência e mutualidade que diferenciam um conjunto de
partes individuais de um sistema (de Vasconcellos, 2010).
Além das interações entre a partes, os sistemas apresentam fluxos de
entrada (inputs) e saída (outputs), conforme explica Do Vale (2012): cada
elemento que entra é transformado pelo sistema e gera uma saída
correspondente, havendo ainda a possibilidade dos sistemas se
retroalimentarem. O autor destaca ainda que esse fluxo no interior dos sistemas
se dá através dos canais de comunicação, impactando o nível de entropia
observado, ou seja, a distribuição desordenada de energia que se relaciona à
capacidade de realizar trabalho.
Partindo desse conceito biológico, os ecossistemas de inovação são
locais de criação, adaptação e evolução, se assemelhando a um ambiente
natural em constante transformação, sobre o qual é impossível exercer absoluto
controle (Audy, 2017). Ou seja, os ecossistemas de inovação representam locais
impulsionadores da inovação, proporcionando condições favoráveis para o
desenvolvimento das regiões onde estão inseridos (Spinosa et. al, 2018).
De acordo com Ikenami et. al. (2016), as redes de inovação podem ser
analisadas como um ecossistema de inovação, onde atores interdependentes
atuam em prol de um objetivo comum: o desenvolvimento de uma solução ou a
criação de valor a partir das oportunidades que surgem. Para os autores, tanto
os ecossistemas como as redes se assemelham por sofrer influência do
ambiente e buscar constantemente autorregulação e retroalimentação, além de
possuir como principal característica o dinamismo das interações.
No setor público, os ecossistemas de inovação envolvem atores e
recursos para a elaboração colaborativa de soluções que gerem valor público
associado à oferta de serviços e à busca da melhoria da realidade social
(Carneiro, 2021). Essa colaboração (co-criação) na construção de conhecimento
acerca de um problema público sobre o qual as pessoas são impactadas
possibilita objetivamente a produção de inteligência coletiva para seu
enfrentamento (Magalhães et al, 2020).
Impulsionada pelo uso das tecnologias da informação e comunicação, a
produção de inteligência coletiva possibilita a participação cidadã nesse
processo de construção coletiva de solução de desafios públicos e sociais
(Araújo et.al, 2021).
Fase Preceitos
Ideação A geração de ideias deve ser sistemática e pauta em
objetivos claramente definidos, além de estar
conectada às necessidades e expectativas dos
usuários.
Seleção de ideias A abertura dos processos avaliativos e a exploração
da “sabedoria das multidões” são essenciais para a
seleção eficaz das ideias.
Implementação As ideias devem ser implementas e receber ciclos de
feedbacks dos usuários, além de serem
incorporadas ao pensamento estratégico da
instituição.
Disseminação A última etapa do ciclo é difundir a inovação para
toda a organização e seus stakeholders.
Fonte: adaptado de Eggers e Singh (2009, p. 07 e 08).
Característica Descrição
Voluntária A automotivação é o impulsionador de uma
colaboração e aprendizagem eficazes.
Não hierárquica Para apoiar a inovação e o pensamento criativo, a
organização horizontal é o melhor cenário para uma
contribuição ativa e aberta.
Heterogênea Diversidade e novidade são fontes de novos
conhecimentos em formação, garantem a adoção de
diferentes perspectivas para adaptação contínua e
adequação ao ambiente externo, assim como para o
crescimento do valor da comunidade.
Coesa A coesão representa a taxa de interação entre os
membros da comunidade. As redes são fortemente
interativas e cada membro pode se conectar com os
demais.
Focada As pessoas que interagem na comunidade consideram
a rede como uma verdadeira organização,
compreendem de forma inequívoca sua proposta de
valor e seus objetivos estratégicos.
Fonte: adaptado de De Maggio e Passiante (2009, p. 393).
I. Atores envolvidos
a. Natureza (vínculo funcional dos membros da rede)
i. empresa
ii. administração pública
iii. instituto de pesquisa
b. Papel do cidadão (relação dos usuários com os problemas
trabalhados pela rede)
i. diretamente afetado (usuário da solução)
ii. indiretamente afetado (responsável ou próximo a um
usuário da solução, p. ex: familiar)
iii. empático não afetado pelo problema (sensível ao problema
por razões ideológicas, filosóficas ou políticas)
c. Número de atores
II. Interações entre os atores
a. Natureza
i. Cooperação (troca de informações e conhecimento –
mecanismo comunicador)
ii. Coordenação (vincula ações e alcança coerência, criando
sinergias e evitando redundâncias – mecanismo regulador)
iii. Colaboração (compromisso duradouro para desenvolver
conjuntamente soluções para problemas compartilhados –
mecanismo operacional)
b. Intensidade (dimensão temporal)
i. Esporádicas e distantes
ii. Intermitentes (curto prazo)
iii. Intensivas (permanentes)
c. Vínculo
i. Formal
ii. Informal
d. Densidade (links entre os diferentes nós da rede, velocidade de
circulação das informações e troca de conhecimentos)
e. Instrumentos (modo como as conexões e trocas ocorrem: redes
sociais, plataformas etc.)
III. Características da inovação realizada pela rede
a. Natureza
i. Tecnológica
ii. Não tecnológica (serviços, processos, entregas, gestão,
reformas, políticas públicas)
b. Processo (como os atores se envolvem nos diferentes estágios)
i. Identificação do problema (atores com diferentes
experiências e habilidades atuando juntos)
ii. Ideação (catalisada pelo confronto de opiniões e diversas
perspectivas dos atores)
iii. Experimentação (impulsionada quando os atores são partes
interessadas na solução)
iv. Implementação (atores não envolvidos nas etapas
anteriores podem se engajar nesta etapa)
v. Disseminação (os atores são embaixadores da inovação co-
criada)
c. Apropriação dos resultados (inovadores das redes desejam que
suas soluções sejam imitadas - quanto mais organizações adotam
a inovação, maior seu sucesso)
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
5
Toolkit é um conjunto de ferramentas e orientações criados para facilitar a
implantação de projetos e métodos de inovação.
A primeira ação realizada pela rede foi uma oficina de demonstração do
método Design Thinking em 06 de julho de 2018. Em janeiro de 2020, com o
crescimento exponencial da rede, surgiu a necessidade de realizar um encontro
presencial para definição do seu planejamento estratégico. Foi utilizado um
método exclusivo desenvolvido por membros da rede, baseado no Design
Thinking. Para essa ação, foi disponibilizado o uso do espaço do Laboratório de
Inovação de um órgão federal com sede no Rio de Janeiro.
Todas as ações realizadas pela rede são gratuitas e realizadas
voluntariamente por seus membros, sem percepção de remuneração. A
interação entre os membros ocorre através das redes sociais, grupos de
conversa em plataformas de mensagens, encontros presenciais e eventos on-
line. Importante destacar que a rede não possui sede física e todos os encontros
presenciais já realizados contaram com o apoio das instituições de trabalho dos
membros, com fornecimento de espaço (salas e auditórios) e materiais.
A atuação da rede pode ser subdividida em:
• Produção e disseminação de inovação.
• Desenvolvimento de ferramentas e metodologias de inovação.
• Realização de capacitações e palestras.
• Realização de maratonas.
• Gamificação6 da participação dos membros.
6
A gamificação é o uso de estratégias dos jogos em atividades laborais com o objetivo de
promover maior engajamento dos funcionários.
7
Disponível em: https://oecd-opsi.org/innovations/programa-conexao-para-reconhecimento-
aberto-connection-for-open-recognition-program/
inovação no setor público, transmitido ao vivo pelo Youtube e disponibilizado
para posterior visualização. As treze edições do evento já contaram com mais
de 8.200 visualizações. A definição dos temas e escolha dos palestrantes é
realizada de forma colaborativa e gamificada pelos membros da rede.
Responsável pela internacionalização da rede, o evento iLabthon foi a
primeira maratona do mundo para a criação de laboratórios de inovação no setor
público. Contou com mais de 1.200 inscritos, de vários estados do Brasil, além
de participantes da Guiné Bissau, Moçambique e México.
A segunda maratona conduzida pela rede abordou o tema Regulação.
Denominado Regulathon, o evento foi realizado em duas etapas no mês de julho
de 2021. No primeiro fim de semana foi abordada a análise do impacto
regulatório e no segundo foi realizado o sandbox regulatório (ambiente
experimental). Ainda no ano de 2021, a rede promoveu uma maratona de
Integridade, Integrathon, com foco na elaboração dos planos de integridade das
instituições públicas.
Dentre ações de capacitação, a rede já realizou quatro cursos presenciais
de Design Thinking com foco no setor público, formando 80 facilitadores no
método, servidores de diversos órgãos. Foram também realizados dois cursos
presenciais sobre a metodologia Design Sprint, contando com 35 participantes.
Foi realizada, ainda, uma capacitação em Gamificação para vinte servidores.
Com advento da pandemia de Covid-19, a rede precisou se adaptar à
interação exclusivamente virtual para seus cursos. Foram realizadas três
capacitações sobre o uso da plataforma de quadro-branco infinito – Miro – para
sessenta membros da rede. Além disso, foram também realizados dois cursos
sobre a ferramenta Diagrama de Protótipo, atingindo duzentas pessoas.
Em formato aberto, com transmissão ao vivo, foram realizados os cursos
de Jogos Sérios (para processos de aprendizagem e inovação), Viper
(priorização de entregas), Mapa de Experimento (para aprendizagem), Octalysis
(framework de gamificação), TRIZ – Estrutura Libertadora, Canvas de
Planejamento de Reunião e Matriz de Deliberação. Para esses cursos, todas as
ferramentas e materiais didáticos foram disponibilizados em nuvem.
A rede atua também na frente de premiação e reconhecimento. O Prêmio
Labutantes é voltado para laboratórios, equipes e redes de inovação no setor
público, onde os próprios concorrentes escolhem os vencedores de cada
categoria. Esse prêmio, além de aproximar as instituições, possibilita o
mapeamento e catalogação dos laboratórios, equipes e redes de inovação.
Já o Prêmio UniversInova é um concurso de monografias cujo público
abrange formandos em graduação cujas pesquisas contemplem o tema
inovação no setor público.
A rede criou, de forma colaborativa, um documento dinâmico de lições
aprendidas sobre inovação no setor público, consolidando diversas experiências
relatadas pelos membros.
Em relação à gestão do conhecimento, a rede desenvolve kits de
ferramentas, as quais são registradas na Creative Commons8 de forma a
possibilitar a disseminação gratuita do conteúdo. Foi ainda realizada a tradução
e atualização para a língua portuguesa do Landscape of Innovation Approaches
criado pela Nesta. Esse documento reúne 118 métodos, metodologias,
ferramentas, tecnologias e práticas para inovação.
A rede também é colaboradora nos eventos Café com Ideias, Lições
Aprendidas das Semanas de Inovação, Encontros Participativos e Olhares sobre
Educação. Tais eventos objetivam a troca de experiências e percepções dos
membros das diversas redes de inovação no setor público.
A Conexão Inovação Pública RJ atua no apoio aos diversos Laboratórios
de Inovação Pública de órgãos Federais e Estaduais de diversas localidades do
Brasil.
RESULTADOS
8
Creative Commons é uma organização não governamental estadunidense que fornece
licenças de domínio público para o registro de obras para qualquer pessoa ou organização
de forma gratuita.
quadros norteadores do estudo. Os quatro participantes foram identificados por
siglas, como forma de preservar suas identidades9, de acordo com a seguinte
descrição:
9
A caracterização dos membros não observa o gênero dos participantes.
10
Número de participantes do grupo de mensagens na data da pesquisa.
• Núcleo: de formação orgânica e flexível, é composto por
aproximadamente 10 a 15 pessoas por vez, que estão ativamente
desenvolvendo alguma ação da rede.
“Eu acho que tem uma reflexão interessante sobre isso. Eu acho
que tem um nível intermediário aí. Porque o que acontece, desde
que a Conexão foi criada que a gente tem uma regra de entrar no
grupo do WhatsApp: só quem participou de pelo menos uma ação
da Conexão é que recebe um convite para entrar. Muita gente me
pede o convite, mas essa regra é um ritual de iniciação, por assim
dizer. Eu acho que o nível periférico são todas as pessoas que nos
seguem nas redes sociais. Tem o grupo do WhatsApp e tem um
grupo muito mais reduzido que participa ativamente, nos eventos,
cursos... Então se a gente discutir aqui, existem três níveis: tem o
nível periférico que é quem nos segue, temos um nível
intermediário das pessoas pelo menos assistiram ou palestraram
em um evento, e temos um grupo menor que puxa e organiza as
ações da rede... Eu acho que umas 10-15 pessoas que sempre
estão botando a mão na massa para organizar alguma coisa.”
“Dentro desta questão do núcleo ... a gente sabe que tem ali como
se fossem uns early adopters que vão puxando, incentivando
também. E assim eu acho que é inegável que a gente tenha na
figura de PA1 um certo olhar de liderança. Então por mais que isso
não seja escrito, não seja incentivado, que ele não se coloque
dessa forma, eu percebo que mesmo que as pessoas proponham,
elas esperam aval dele. Então eu acho que assim no dia a dia é
uma função de liderança. É aquela liderança que não foi imposta ...
mas aquela liderança conquistada pelo papel que as pessoas
enxergam. ... É uma liderança de confiança. A gente vê PA1 como
líder, mas um líder que você confia por causa da experiência.”
11
Realizado na plataforma Miro pelos entrevistados.
Figura 3: Caracterização dos atores envolvidos na rede.
12
Quadros orientadores de reuniões e oficinas, elaborados pelos membros da rede. Os canvas podem ser
utilizados de forma impressa em encontros presenciais ou de forma digital nas plataformas de quadro-
branco virtual.
Figura 4: Caracterização da interação entre os atores
“... fica aquela coisa de que inovação tem que ter aplicativo e esse
não é o nosso caso. Ela pode acontecer por meios tecnológicos,
mas ela não precisa ser.”
“Engraçado que são umas coisas que a gente não para pra pensar.
Como é que funciona?” (PA2).
13
Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica.
conhecimentos, atualmente a rede atende os preceitos de uma Rede
Colaborativa de Inovação.
“Acho que tem uma palavra, acho que você ser uma autoridade não
formal, né, porque o aspecto de autoridade, ela pode estar
envolvida com liderança mesmo, mas ela pode estar ligada a uma
coisa mais formal... acho que ela não é uma hierarquia formal, mas
tem uma diferenciação de papel que não tá escrito, mas que você
percebe nas falas. É um pouco do caso que você tem naquela
empresa de calçados, que ficou muito famosa pelas experiências
de relação com o cliente, e o seu criador adotava um sentido de
holacracia, que é justamente uma estrutura bem horizontal onde
você não tem uma formalidade, mas ainda que ele tivesse essa
preocupação de ter uma estrutura horizontal, como ele era uma
pessoa carismática, na prática as relações de poder orbitavam
naturalmente em torno do fundador, ainda que você não tivesse o
aspecto formal.” (GF1)
“Eu fui no amor direto, óbvio, mas aí quando eu fui ver os outros,
eu também concordo que tem uma coisa de dever cívico. Na
verdade, tem elementos de todos os outros, mas talvez a descrição
seja mais dura e rígida e não condiz tanto com o motor da Conexão,
que eu acho que é o amor, né. Eu vou falar pela minha relação ...
a rede toda age de forma voluntária, e com um grau de entrega e
doação como eu nunca vi, isso pra mim é um movimento amoroso
e inspirador. Eu acho que no fundo também tem a ver com o que
ouvi no último curso “ah, eu acordo de madrugada quando meus
filhos estão dormindo porque eu tenho um propósito”, então eu
acho que no fundo do propósito dele, que é levar inovação, tem um
dever cívico colado. Mas não é o que dá o tom, assim, mas tem
elementos disso... É lógico que tem o interesse de trocar com
pessoas que são referência, não é hipocrisia, isso é uma coisa de
engrandecimento, tipo, eu não tenho como investir financeiramente
nesse aspecto da minha carreira, não tenho tempo e ali as ações
me fazem dar saltos quânticos assim, então tem esse interesse
pessoal de trocar com gente qualificada, que tá no propósito, então
eu vejo que tem vários elementos, mas o DNA, a marca mesmo,
pra mim é o amor.”
Por fim, como pode ser observado na Figura 14, todos concordaram que
o principal gene motivador é o AMOR, tratando-se de um gene HABILITADOR,
não sendo necessária, portanto, a mutação no mesmo, conforme pontua GF3:
“Acho que porque é o que a gente falou lá no começo, “por que o
Conexão não está tendo uma baixa? Por que está sempre
crescendo?” Porque o amor ele só expande, né? Eu acredito nisso,
que o amor se retroalimenta e expande.”
14
Nome omitido para preservar a identidade do membro da rede.
Figura 16: Como as decisões coletivas são tomadas na rede.
O grupo concluiu que, para esse gene, a melhor tradução do termo seria
relacionamento social e não rede social, pois o último pode gerar confusão de
entendimento com aplicativos online de interação como Facebook, Instagram e
LinkedIn. O registro da escolha do grupo pode ser observado na Figura 17.
Figura 17: Como a participação na rede exerce influência sobre as escolhas
individuais dos membros
“É, pensando numa autocrítica, eu acho que eu não sei fazer isso,
não sei começar. Como que começa uma maratona? Eu não sei
realmente.” (GF2)
Fechando o trabalho com o grupo focal, GF1 trouxe uma reflexão sobre a
rede estudada:
DISCUSSÃO
15
Conceito pesquisado e sintetizado pelos participantes do grupo focal.
16
Escolher apenas uma resposta para cada questão.
Dessa forma, a mutação genética proposta para a rede Conexão Inovação
Pública RJ indica a troca do gene multidão pelo gene holacracia, conforme a
Figura 20.
Figura 20: Mutação genética proposta para a rede Conexão Inovação Pública
RJ
CONCLUSÕES
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