Você está na página 1de 34

A

E C O S S I S T E M A S

D E I N O VA Ç Ã O

Inovar para gerar negócios e


transformar a sociedade

s e t e m b r o

2 10 2 2
Ecossistemas

de inovação em
tempos decisivos
Vivemos tempos interessantes, para fazer aqui referência ao título da autobiografia de Eric Hobsbawm.
Nessa obra, o historiador britânico se referia ao século 20, que ele viveu em quase toda a sua extensão e
que descreveu como o “mais terrível e extraordinário da história da Humanidade”. Duas guerras mundiais,
Revolução Russa e o fim do império soviético, crash da Bolsa em 1929, Revolução de Maio de 68,
instabilidade política da América Latina. Tédio não houve, não é?

Pois o século 21, pelo que já se vê até aqui, também não deixa dúvidas de que passaremos longe do tédio
novamente. Mas, talvez diante das grandes questões atuais que cercam a Humanidade, hoje possamos
dizer que vivemos tempos decisivos. O futuro de todos nós depende do que for feito agora – e isso
envolve todo o ecossistema de inovação e negócios, pois as empresas e o setor de venture capital
influenciam diretamente na construção do futuro.

A crise climática, que coloca o planeta na iminência de desastres ambientais irreversíveis, e a necessidade
de rever um modelo de desenvolvimento econômico extrativista e predatório, trazem um sentido de
urgência e responsabilidade para as estratégias corporativas como nunca se viu.

Além disso, a sociedade também vem cobrando, não apenas do poder público, mas das organizações, o
compromisso com temas como equidade de gênero, ações antirracismo, promoção da diversidade e a
solução dos enormes desafios sociais que um país como o Brasil atravessa – isso sem falar numa relação
mais harmoniosa com o meio ambiente.

2
É nesse cenário que o tema do ESG entrou na pauta dos negócios. Isso envolve, por exemplo, a
governança das empresas, seus processos de produção, as relações de trabalho e o perfil de negócios em
que uma companhia investe.

Há pouco mais de um ano, Larry Fink, CEO da BlackRock, uma das mais influentes e poderosas gestoras
de investimento do mundo, deu um ultimato às organizações: as empresas precisam desenvolver
modelos de negócios compatíveis com uma economia neutra em carbono até 2050. Ele alertou que o
“risco climático é um risco de investimento” e que essa preocupação vai influenciar o destino do capital.

E no início deste ano, na carta anual às lideranças empresariais, ele chamou atenção para o poder que
uma corporação tem para moldar a cadeia de negócios organizada em torno dela. Quanto mais uma
empresa colocar propósito na relação com colaboradores, comunidade e clientes, mais duradouros serão
os ganhos para os acionistas.

“Não se trata de política. Não é uma agenda social ou ecológica. Não é justiça social. É o capitalismo,
conduzido por relacionamentos mutuamente benéficos entre você e os funcionários, clientes,
fornecedores e comunidades nos quais sua empresa depende para prosperar. Esse é o poder do
capitalismo”, escreveu o CEO da BlackRock. “Diante desse cenário, empresas inovadoras que procuram
se adaptar têm acesso mais fácil do que nunca ao capital para concretizar suas visões”.

Esse é o pano de fundo que norteia a produção deste ebook especial sobre A Nova Era dos Ecossistemas
de Inovação. Uma era marcada pelo amadurecimento das estratégias de inovação aberta das empresas,
com o uso de um leque mais variado de modalidades de financiamento de negócios inovadores, como o
Corporate Venture Capital (CVC) e o Corporate Venture Builder (CVB). E que também vê, numa camada
mais profunda, o avanço de uma tendência que deve ganhar força nos próximos anos: a ideia de que a
inovação, movida por uma visão ecossistêmica, deve provocar impacto positivo não só nas relações de
negócios, mas em toda a sociedade.

O conceito de Inovação Transformadora, moldado a partir da antropologia, da sociologia e do design e


aplicado a métodos ágeis e tecnologia, surge como caminho para as empresas aperfeiçoarem seus processos
de inovação e promoverem, ao mesmo tempo, transformações de natureza ecossistêmica e cultural.

Este ebook é oferecido ao mercado pela Kyvo e pelo CESAR, parceiros que compartilham da visão de
que a inovação é um instrumento essencial para a transformação positiva dos negócios e da sociedade.

Boa leitura!

Clayton Melo

Editor

3
A NOVA ERA DOS
ECOSSISTEMAS

DE INOVAÇÃO
Diferentes modalidades de investimentos em startups,
como o Corporate Venture Capital (CVC), avançam e
indicam amadurecimento do mercado, ao mesmo tempo
em que desafios globais tornam urgentes processos de
inovação que conciliem ganhos de negócios e
transformação positiva da sociedade.

4
A NOVA ERA DOS ECOSSISTEMAS DE INOVAÇÃO

Se 2021 foi marcado pelas notícias de dinheiro farto jorrando dos fundos de venture capital para
as startups, 2022 será lembrado como o ano de arrumação da casa, com demissões e cobrança
de resultados por parte de investidores. Apenas entre janeiro e setembro, as startups demitiram
mais de duas mil pessoas, segundo o Layoffs Brasil, site criado para medir os cortes realizados no
país. E os investimentos no mercado de tecnologia também despencaram: o volume registrado
foi de US$ 2,92 bilhões nos seis primeiros meses deste ano, pouco mais da metade dos US$
5,26 bilhões do mesmo período de 2021, conforme dados do Distrito.

Esses números, porém, não devem ser observados de forma isolada e não significam um
ambiente de terra arrasada; eles revelam apenas um aspecto da realidade atual – a crise de
liquidez no universo de venture capital, que é motivada, entre outros fatores, por uma
combinação de inflação alta e elevação das taxas de juros, no Brasil e no exterior.

Um olhar mais aprofundado sobre outros dados – e também movimentos dos principais atores
desse mercado – indicam que transformações mais profundas e duradouras estão em curso.
Numa primeira camada, essa transformação é motivada pelo avanço de outras modalidades de
financiamento de negócios inovadores e uma compreensão maior, por parte das empresas, da
importância de estratégias de negócios baseadas em teses de inovação sólidas, que miram o
médio e longo prazos e sejam executadas por gente que entende do riscado, tanto internamente
como por parceiros especialistas na formatação de processos de inovação aberta e
investimentos em startups.

Num nível mais profundo, para além das mudanças nas estratégias corporativas de investimento,
outro movimento também começa a se formar, aos poucos, e promete ganhar força nos
próximos anos: a ideia que a inovação, movida por uma visão ecossistêmica, deve provocar um
impacto positivo não só nas relações de negócios, mas em toda a sociedade. E que o lucro não é
incompatível com a construção de um legado, a promoção da diversidade e da equidade,
regeneração do meio ambiente e uma relação positiva com o território onde a organização atua.
A Inovação Transformadora, a partir do olhar da antropologia, da sociologia e do design, surge
como caminho para as empresas aperfeiçoarem seus processos de inovação e promoverem, ao
mesmo tempo, impacto de natureza ecossistêmica e cultural.

Essa visão vai ser abordada ao longo deste ebook, que também procura demonstrar, por meio de
entrevistas com diversos especialistas e líderes de empresas, estudos, dados e cases, o estado da
arte hoje nos ecossistemas de inovação no Brasil, com seus avanços, lacunas e desafios.

5
Começando pelo contexto

C o m eça n d o p e lo
co n t e x to
Um bom ponto de partida para as análises é perceber que agora o jogo é de gente grande.
Nesse novo cenário, as corporações assumem um papel cada vez mais ativo no processo,
indicando um amadurecimento dos ecossistemas de inovação. Nessa nova era, o Corporate
Venture Capital (CVC), ou venture capital realizado por corporações, passa a ocupar um lugar
de destaque nas estratégias de inovação de um número cada vez maior de grandes
companhias, ampliando as possibilidades de financiamento para as startups, que vêm sofrendo
com o baque no mercado de venture capital.

CVC no mundo

US$ US$ US$

169 86,9 49,8


BILHÕES BILHÕES
BILHÕES é o quanto os EUA é o total investido em
empresas sediadas na
atraíram de investimentos,
Ásia, com destaque para
foi o total investido em CVC mais que o dobro do
registrado em 2020 a China, Índia e Israel
no mundo em 2021

%
142
foi o índice de expansão
dos investimentos globais
nessa modalidade 61 %
das empresas
80%
dessas empresas
têm sua principal

%
ouvidas para uma operação de CVC
é o quanto representam os
pesquisa da ABVCAP no Brasil
megarounds (rodadas acima
62 de US$ 100 milhões) no
bolo de recursos
afirmam ter uma
iniciativa de CVC

13 x 8
empresas que pertencem
que fundaram CVCs
ao índice do Ibovespa durante todo o ano
fundaram CVCs apenas no de 2021
primeiro semestre de 2022

Fontes: Report State of CVC (CB Insights), com dados referentes a 2021, e Pesquisa Corporate Venture Capital 2021 da ABVCAP

6
Começando pelo contexto

O ano de 2021 é um divisor de águas nessa jornada. Só para dar uma ideia, os
investimentos globais em CVC cresceram 142% no ano passado, alcançando a
marca de US$ 169 bilhões investidos, segundo o relatório State of CVC, da
plataforma americana CB Insights. No Brasil, o total aplicado nessa modalidade
foi de US$ 622 milhões de janeiro a julho do ano passado, o triplo do investido
em 2020, conforme dados do Distrito.

O CVC em números no Brasil 622,1M


Número e valor de deals de corporate venture capital por ano*
Volume de investimento (em milhões de US$) 27 27
Número de deals
22
20
18

11 217,7M
10 198,6M
9
8
7 150,1M

3
46,4M
29,7M 30,4M
5,1M 0,4M 2,6M 10,8M
2000-2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
*Consideradas as rodadas de investimento em sua integridade,
sem discriminar o valor investido por cada player
Fonte: Distrito

7
Começando pelo contexto

Ano de criação da 45%


unidade de CVC

20%
10%
5% 5% 5% 5% 5%

2011 2013 2014 2016 2018 2019 2020 2021


Fonte: Pesquisa Corporate Venture Capital 2021 da ABVCAP

A transformação digital acelerada pela pandemia – aliada a fatores como busca por inovação,
barateamento da tecnologia e farto capital disponível nas organizações – deu um empurrão
nos CVCs, na avaliação de Peter Seiffert, CEO da Valetec, gestora de investimentos
especializada em corporate venture capital. “Caiu a ficha nas empresas brasileiras, do ano
passado pra cá, de que o CVC é mais uma estratégia importante a ser executada em busca de
negócios portadores de futuro”, diz. “O próprio desenvolvimento do ecossistema acelera a
velocidade das inovações, que, por sua vez, aceleram a disrupção e a transformação de
mercados”, afirma. “Em vez de serem vítimas da disrupção, as organizações precisam se
posicionar. E aí o CVC surge como uma estratégia importante. Não é a única, mas é relevante
e anda lado a lado com outras”, argumenta.

“A nova era dos ecossistemas de inovação está realmente pautada na montagem de fundos de
CVC”, reforça Hilton Menezes, CEO da Kyvo, consultoria global de inovação. E, para isso dar
certo, é importante haver players que atuem como conectores com know-how em processos
de inovação. “Só se consegue fazer isso por meio de uma plataforma muito bem orquestrada,
na qual você traz todo mundo para dentro e gera valor para todo o ecossistema”, diz Eduardo
Peixoto, CEO do centro de inovação CESAR.

8
Avanço do
corporate
venture capital
Um olhar panorâmico sobre as movimentações de mercado reforça as análises
de Seiffert, Menezes e Peixoto. Nos últimos meses, empresas como Renner,
Locaweb, Valid, Totvs, B3 e Banco do Brasil, entre outras, lançaram seus veículos
de CVC. O fundo da Renner, o RX Ventures, por exemplo, chegou ao mercado
com R$ 155 milhões de capital para investir em pelo menos 10 novas empresas,
com a previsão de um período de quatro anos de investimento e mais quatro de
desinvestimento. O foco são negócios de moda, lifestyle, comércio eletrônico,
martechs, fintechs e logtechs. Entre os critérios para a destinação dos recursos
está o comprometimento dos empreendedores com boas práticas de ESG. O
primeiro aporte do veículo da Renner foi na Logstore, startup paulista que
desenvolve softwares que melhoram o processo logístico de lojas físicas

– o valor do aporte não foi revelado.

9
Ava n ço d o co r p o rat e v e n t u r e ca p i ta l

O fundo de CVC da Totvs, por sua vez, foi criado em novembro do ano passado com um
capital de R$ 300 milhões. A intenção é investir em startups com grande potencial de
crescimento e inovação por meio de aquisições ou participações minoritárias. Os setores de
interesse são varejo, manufatura, saúde, serviços financeiros, agricultura e educação, de
preferência com atuação em desenvolvimento de SaaS ou gestão de dados. Pouco tempo
depois foi a vez da Locaweb entrar no jogo. A companhia lançou um fundo de CVC, com
capital de R$ 100 milhões, de olho em startups de comércio eletrônico. Os aportes serão
feitos ao longo de quatro anos por meio de um fundo de investimento em participações
(FIP) administrado pela Valetec. A intenção é apoiar startups menores que não são
abarcadas nas estratégias de M&A.

Já a B3 lançou, em maio deste ano, um dos maiores fundos de CVC do país. Com capital de
R$ 600 milhões, o L4 Venture Builder pretende investir em negócios com alto potencial de
crescimento em setores como energia, carbono, meios de pagamentos, tokenização de
ativos, carbono, finanças descentralizadas e crowdfunding. “A criação da L4 Venture Builder
dá continuidade à estratégia da B3 de inovação em seu negócio principal e de crescimento
em outras frentes e se soma ao portfólio de novos negócios que está sendo construído, que
já conta com a iniciativa de digital assets e de desenvolvimento de produtos e serviços para
middle e backoffice”, diz a B3 em comunicado.

No caso da Arezzo&Co, o fundo ZZ Ventures, lançado em 2020, tem o objetivo de


encontrar soluções de negócios para as outras empresas do grupo, cujo valor de mercado
supera os R$ 6,29 bilhões. O valor aplicado no fundo não foi revelado, mas apuração do site
NeoFeed indicou que seria de R$ 30 milhões. O primeiro negócio a receber investimento foi
o brechó online Troc, fundado em 2017.

O Banco do Brasil optou por conectar o ESG em sua estratégia de CVC, algo ainda não
muito comum nas iniciativas do setor. O banco anunciou dois fundos de corporate venture
capital, que vão dividir R$ 200 milhões para aplicar em startups. Um deles será voltado
exclusivamente a projetos de impacto socioambiental. Esses são os dois primeiros fundos
em que o banco é o único cotista.

10
Ava n ç o d o c o r p o r at e v e n t u r e c a p i ta l

O número de CVCs no Brasil cresce

rapidamente, especialmente em setores

com muita interação com os consumidores,

como é o caso do serviços financeiros,

varejo e bens de consumo”

Andre Fernandes

sócio da Bain e head global do BIE

A tendência é que o movimento rumo ao corporate

venture capital se acentue no mercado brasileiro,


61
CVCs ATIVOS NO BRASIL
segundo estudo feito pela Bain Innovation Exchange

(BIE). O mapeamento feito pelo braço de inovação da

Bain & Company aponta que existem 61 CVCs ativos +13


no Brasil e mais 13 em desenvolvimento. O crescimento
EM DESENVOLVIMENTO
anual na quantidade desses fundos está na faixa dos

30% nos últimos seis anos. “O número de CVCs no

Brasil cresce rapidamente, especialmente em setores

com muita interação com os consumidores, como é o Expansão nos


caso do serviços financeiros, varejo e bens de consumo,
investimentos
sendo players que têm diversos instrumentos de
de CVC
inovação”, disse Andre Fernandes, sócio da Bain e head

global do BIE, em entrevista ao site IT Fórum.

período analisado:

2015 a 2021
19%
O levantamento também mostra que essa atividade

avança mais rápido no Brasil do que nos EUA: de 2015


12%
a 2021, a expansão nos investimentos de CVCs

brasileiros foi de 19% ao ano, ante um aumento de 12%

no montante aplicado pelas empresas americanas no

mesmo período. Além disso, o valor dos deals

relacionados a CVC no país aumentou 200% entre

2020 e 2021, segundo o Distrito, o que demonstra que


EUA BRASIL
esse tipo de estratégia caiu no gosto por aqui.
Fonte: Bain Innovation Exchange (BIE)

11
Avanço do corporate venture capital

Quem lançou
f u n d o s d e CVC
Veja algumas companhias que abraçaram a estratégia de corporate venture capital no Brasil

O braço de CVC do grupo, que O banco anunciou dois fundos de A empresa iniciou sua jornada com
reúne as marcas Arezzo, Schutz, corporate venture capital, que vão o corporate venture capital em
Anacapri, Alexandre Birman, Fiever, dividir R$ 200 milhões para maio de 2022 com investimento
Alme e Vans, foi lançado em investimentos em startups. Um de US$ 1 milhão, dividido entre
novembro de 2020 com o objetivo desses fundos será voltado três veículos: as brasileiras Solum
de apoiar empreendedores que exclusivamente a projetos de e ACE e o fundo israelense
resolvam problemas das empresas impacto socioambiental. Esses são Maverick (que também tem como
do conglomerado tanto na área do os dois primeiros fundos em que o investidor o banco BV).

varejo como em tecnologia. banco é o único cotista.

Com capital de R$ 600 milhões,


A companhia lançou um fundo de Em março de 2022, a companhia
a B3 lançou o fundo L4 Venture CVC, com capital de R$ 100 milhões, gaúcha lançou o RX Ventures,
Builder, que pretende apostar em de olho em startups de comércio fundo que chega ao mercado com
negócios com alto potencial de eletrônico. Os aportes serão feitos R$ 155 milhões. O foco são os
crescimento em setores como ao longo de quatro anos por meio de segmentos de varejo e moda,
energia, carbono, meios de um fundo de investimento em martechs, comércio eletrônico,
pagamentos, tokenização de ativos, participações (FIP) administrado pela fintechs e logtechs. Além do
carbono, finanças descentralizadas Valetec. A intenção é apoiar startups modelo de negócios, a adoção de
e crowdfunding.
menores que não são abarcadas nas boas práticas em ESG é um dos
estratégias de M&A.
critérios analisados.

A companhia lançou, em agosto A empresa lançou, em novembro Com o valor de R$ 200 milhões,
deste ano, o fundo CVC Suzano de 2021, um veículo de R$ 300 o fundo da Via (antiga Via Varejo)
Ventures, que nasce com US$ 70 milhões com foco em startups de tem o objetivo de apoiar startups
milhões para investimentos em educação, saúde, varejo, ligadas ao core business da
startups com soluções para a manufatura, agricultura e serviços organização, como retailtechs ou
bioeconomia. O alvo são startups no financeiros. Segundo a empresa, a negócios que contemplem toda a
early-stage que atuam nas verticais opção pelo CVC representa uma jornada do consumidor, logística,
de novos materiais derivados de opção a mais de investimento finanças e marketing. O fundo
biomassa do eucalipto, embalagens estratégico e financeiro, num integra o Via Next, programa de
sustentáveis, carbono e agricultura.
modelo diferente do M&A, com o inovação aberta da companhia.

qual a companhia já trabalha.

12
Estratégia
de inovação
Quem também abraçou o CVC foi o Banco Carrefour. A empresa iniciou sua jornada com o
corporate venture capital em maio deste ano com investimento de US$ 1 milhão. “Quisemos
participar de fundos que nos ajudassem a diversificar nossas estratégias, tanto do ponto de
vista técnico como de negócios”, afirma Charles Schweitzer, head de inovação do banco.

O movimento representa um passo adiante na estratégia de inovação aberta empreendida


pela instituição, que já atua com o programa de aceleração Be Ocean, desenvolvido pela Liga
Ventures, e o Startup Jam, conduzido pela Kyvo. No primeiro caso, o objetivo é olhar para
desafios estratégicos e novos negócios. No segundo, a intenção é encontrar solução para
problemas enfrentados por squads e áreas corporativas num curto período de testes.

A ampliação das iniciativas com o CVC segue um caminho natural para o banco, tendo em vista
o aprendizado acumulado com as outras experiências, diz Schweitzer. Ele explica que o primeiro
movimento de uma organização no campo da inovação aberta é aprender com as startups,
conhecer os empreendedores e criar uma relação com o ecossistema. O segundo é começar a
trabalhar com elas, entender como os valores da corporação podem se somar ao das startups e
criar valor – para o público interno, clientes e para o ecossistema como um todo.

O terceiro é investir. “Aí naturalmente a gente chega à conclusão de que é o momento de


desenvolver um projeto de corporate venture capital”, diz Schweitzer. “Não se trata de
comprar propriedade intelectual, não é nada disso. É continuar fomentando o ecossistema,
buscando startups que possam criar soluções que sejam boas para a organização e que gerem
valor para o ecossistema. Dessa forma, é uma continuação da disciplina de open innovation.”

13
Estratégia de inovação

A evolução das corporações


passa por deixar os modelos
monolíticos para trás e buscar
modelos mais distribuídos e
descentralizados, baseados em
núcleos e unidades de negócios”
Hilton Menezes

CEO da Kyvo

Nesse contexto, o Corporate Venture Builder (CVB), um modelo em que as corporações


envolvem seus colaboradores em metodologias para desenvolver startups do zero, surge
como mais um instrumento para suportar a estratégia de inovação. “Nós atuamos em duas
frentes. Além do open innovation, também temos uma trilha de intraempreendedorismo,
que busca encontrar, a partir do que o nosso ecossistema já dispõe, novos modelos de
negócio ou fontes de receita”, diz.

Existem diferentes formatos de inovação aberta disponíveis às empresas, dos programas

de aceleração às chamadas públicas, passando pelo CVC e CVB, apenas para citar alguns
exemplos. Diante disso, o que uma empresa deve levar em consideração na hora de
escolher o seu caminho? “A primeira coisa é definir qual é a sua estratégia de inovação”,
afirma Hilton Menezes, da Kyvo. A jornada fica mais clara a partir das definições dos
objetivos de curto, médio e longo prazos da organização, assim como uma análise do grau
de maturidade da empresa.

Outro ponto importante é ter uma estrutura organizacional menos hierarquizada, mais
distribuída, e criar teses de investimento ligadas à estratégia corporativa, e não como fruto
de ações de departamentos isolados, diz Menezes. Isso porque os velhos modelos
organizacionais, estruturados por setores, cada um cuidando do seu quadrado, leva a uma
disputa por verbas que dificulta a colaboração e os processos de inovação. “A montagem de
fundos de CVCs garante a independência do dinheiro em relação às áreas da empresa.

A evolução das corporações passa por deixar os modelos monolíticos para trás e buscar
modelos mais distribuídos e descentralizados, baseados em núcleos e unidades de negócios.
Isso já vem acontecendo”, afirma o CEO da Kyvo. Com diferentes cases de inovação aberta
desde 2017, para clientes como Visa, Petwell e Leroy Merlin, a Kyvo também auxilia as
empresas na estruturação de programas de corporate venture capital e venture builder.

14
E s t r at é g i a d e i n o va ç ã o

O investidor corporativo é um

investidor estratégico. Ele

quer envolvimento, contribuir

com a empresa ou negócio

em que ele investiu”

Renato Ramalho

CEO da gestora de investimentos KPTL

O maior interesse do mercado em modalidades como o CVC indica um amadurecimento na

relação entre corporações e startups – com benefícios para ambos os lados e para o

ecossistema. “O investidor corporativo é um investidor estratégico”, afirma Renato Ramalho,

CEO da gestora de investimentos KPTL, que também estrutura estratégias de CVC para as

empresas, além de contar com investimentos das mesmas em fundos de participações em

startups. “Ele quer envolvimento, contribuir com a empresa ou negócio em que ele investiu.”

Ao longo dos últimos anos, as organizações foram aprendendo, por exemplo, que não dava

para tratar uma startup do mesmo modo que um parceiro comercial de grande porte e que um

empreendedor poderia ser muito mais do que simples fornecedor. “A coisa amadureceu

rapidamente. As empresas começaram a se preparar melhor para gerir essa relação,

entendendo que lidar com uma startup é muito mais do que uma relação cliente e fornecedor,

como se acostumaram a fazer no passado”, diz Eduardo Peixoto, CEO do CESAR, centro de

inovação fundado no Recife, em 1996, que auxilia as empresas com projetos que envolvem

todo o ciclo de inovação, desde pesquisa, formação de pessoas, experimentação e

desenvolvimento de novos modelos de negócios.

Lidar com uma

startup é muito mais

do que uma relação

cliente e fornecedor”

Eduardo Peixoto

CEO do CESAR

15
Estratégia de inovação

Selecionamos essas
startups já pensando que
poderíamos estabelecer um
relacionamento com elas,
seja ele qual fosse”
Denise Pithan

Coordenadora da área de governança


da inovação na BRK

Um sinal do amadurecimento dessa relação é que companhias de setores convencionais,


como o de saneamento, em que há até pouco tempo não era comum haver projetos com
startups, começam a abraçar projetos de inovação aberta. O CESAR, por exemplo,
desenvolveu um programa de aceleração para a BRK, uma das maiores empresas privadas
de saneamento do país, presente em mais de 100 municípios. Com foco em ESG, a
iniciativa – que contou também com a participação da Waterlution, organização não-
governamental canadense voltada a inovações relacionadas à água e mudanças climáticas
– selecionou sete startups. O objetivo era encontrar soluções para desafios como coleta
e tratamento de esgoto, digitalização de dados, eficiência operacional e novas fontes de
energia. “Selecionamos essas startups já pensando que poderíamos estabelecer um
relacionamento com elas, seja ele qual fosse, como adoção de tecnologias, cocriação

ou validação de alguma tendência que estávamos enxergando”, diz Denise Pithan,


coordenadora da área de governança da inovação na BRK.

Nesse processo de aproximação com as startups, as companhias começaram, ao longo


dos anos, a atuar até mesmo como um player de capital de risco, aplicando um pedaço de
seus investimentos em novas startups, com valores que “muitas vezes são menores do
que se fosse tentar fazer dentro de casa ou tentando comprar uma empresa mais
madura”, continua Eduardo Peixoto. “A relação corporação/startup está mais madura, mas
ainda assim não alcança todas as empresas. Eu diria que ainda hoje uma minoria entende
como isso pode ser feito”, diz o CEO do CESAR, que traz em seu portfólio trabalhos para
empresas como Ambev, Grupo Boticário, Samsung, Magalu, Petrobras e SBT.

16
Estratégia de inovação

Se não estiver conectada


a um ecossistema ou não
criar o seu próprio, a
empresa realmente vai
ter dificuldade em se
manter competitiva”
Bruno Rondani

CEO da 100 Open Startups

É por isso que contar com parceiros especializados em processos de inovação e investimentos
em startups pode encurtar o caminho para as companhias. “Se não estiver conectada a um
ecossistema ou não criar o seu próprio, a empresa realmente vai ter dificuldade em se manter
competitiva”, diz Bruno Rondani, CEO da 100 Open Startups.

Isso também vale para o outro lado da moeda. As startups perceberam que hoje existe uma
oportunidade de trabalhar com ecossistemas criados por grandes corporações, o que tem
levado os empreendedores a se tornarem mais flexíveis. “O empreendedor que vai ganhar o
jogo agora é aquele que sabe colaborar, sabe fazer parcerias. A gente tem visto muitas fusões
de startups e cooperação com empresas mais maduras”, diz. Assim, o importante para quem
entra nesse jogo é entender que existem diversas modalidades disponíveis de investimento
em inovação, do clássico investimento em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D), passando pelo
venture capital, CVB e CVB, entre outras, e que a organização deve analisar qual combinação
faz mais sentido em sua estratégia. “Qual é o desafio atual? É a capacitação. Não dá mais para
entrar nesse jogo sem saber como ele funciona”, afirma Rondani.

17
Teses de
investimento
Num ambiente competitivo e que a todo momento se transforma, a sobrevivência depende
da capacidade de adaptação e de enxergar primeiro as próximas ondas de inovação. Foi
pensando nisso que o Bradesco desenhou o seu próprio ecossistema de inovação. O
Inovabra conecta diversos públicos, como funcionários, clientes, empresas, startups,
parceiros, investidores e mentores. Ele é composto por diferentes frentes, como um hub
físico e digital (Habitat), um laboratório de inovação, programas de intraempreendedorismo
e um fundo de capital proprietário, o Inovabra Ventures.

Essas unidades têm como objetivo colocar em prática as estratégias de inovação aberta do
Bradesco, valendo-se para isso da aproximação com startups e grandes empresas que
podem complementar o leque de produtos e serviços da instituição. O Inovabra Ventures, o
braço de investimentos em startups, busca novos negócios, de diferentes estágios e setores,
com potencial de alcance global. Além dos recursos financeiros, o banco auxilia na
estruturação, desenvolvimento e expansão da operação.

18
Teses de investimento

Valor total alocado ao CVC

acima de de R$50,1M

até R$50M em fase de estudo


R$100M a R$100M

30% 15% 35% 20%


Fontes: Pesquisa Corporate Venture Capital 2021 da ABVCAP

Tíquete médio
aportado pelo CVC 40%
30%
15%
5% 5% 5%

de R$500k
de R$1,01M
de R$5,01M
acima de
até R$500k não respondeu
a R$1M a R$5M a R$10M R$10M

Fonte: Pesquisa Corporate Venture Capital 2021 da ABVCAP

De 2018 até agora, o Inovabra já realizou mais de 250 experimentos focados em novos
modelos de negócio e tecnologias como Inteligência Artificial, blockchain, Internet das
Coisas (IoT), cibersegurança, Realidade Aumentada, Computação Quântica, Metaverso e
computação em nuvem. Essas experimentações geraram mais de 80 projetos que somam
mais de R$ 4,8 bilhões em VPL (Valor Presente Líquido). Foram criadas três verticais para
acelerar a transformação digital do Bradesco, contratação de mais de 50 soluções de
tecnologias de parceiros, 23 startups contratadas e 16 startups investidas. Em 2021, o
banco investiu R$ 6,8 bilhões em tecnologia, dos quais R$ 1,5 bilhão para a área inovação.
Mais de 220 startups fazem parte, de alguma forma, do ecossistema da instituição.

19
Teses de investimento

O Bradesco, ainda que


não tenha uma área com
esse nome, já atua com o
conceito de venture
builder há alguns anos, o
que tem nos ajudado a
criar novos negócios”
Fernando Freitas

Head de inovação do Bradesco

Embora não tenha um time ou projetos estruturados numa divisão só para CVC ou
CVB, o banco já atua, na prática, com essas modalidades, diz Fernando Freitas,
head de inovação do Bradesco. Como exemplo, ele cita a criação do Next, o banco
digital da instituição. “Por volta de 2015 e 2016, o Bradesco separou 200 pessoas
numa área específica e disse ‘vocês serão os responsáveis por criar um novo banco
digital’. O Next surgiu a partir disso. Se formos pensar no conceito, isso é fruto de
um projeto de venture builder”, afirma Freitas.

Outro exemplo é a Ágora Investimentos, corretora controlada pelo banco, que foi
reestruturada como empresa a partir do trabalho de um núcleo interno designado
para isso. “O Bradesco, ainda que não tenha uma área com esse nome, já atua com
o conceito de venture builder há alguns anos, o que tem nos ajudado a criar novos
negócios”, diz o head de inovação do banco.

20
i m pacto s o c i a l
É certo que a aposta numa variedade maior de formatos de investimento e projetos
com as startups indica um amadurecimento do mercado. Um olhar sobre o perfil e os
objetivos dos principais dos fundos de CVC lançados nos últimos tempos, porém,
mostra que ainda há um longo caminho a percorrer até que as demandas da sociedade,
como diversidade, equidade de gêneros e regeneração do meio ambiente, estejam
refletidas de fato nos ecossistemas de inovação.

O ESG, essa sigla tão em voga, surge em desequilíbrio no noticiário, com o mercado
dando bastante peso, até o momento, ao “E”, que remete à sustentabilidade ambiental.
A preocupação com a sustentabilidade é importante, sem dúvida, mas o passo seguinte
é dar mesma ênfase a programas e investimentos em projetos de transformação social,
regeneração urbana, equidade de gênero e ações antirracistas nas teses de
investimento dos fundos de CVC.

21
impacto social

É preciso que as startups,


e todos nós, observemos
qual o impacto que
estamos gerando para a
sociedade como um todo”
Heraldo Ourem

Diretor de inovação e competitividade


empresarial do Porto Digital

Esse descompasso sinaliza que é preciso avançar mais rapidamente para um novo
entendimento sobre a abrangência dos processos de inovação – e isso inclui, claro,

os empreendedores. “Existem sinais de maturidade do mercado, mas as startups


precisam perceber, cada vez mais, que os problemas não são a fila de bar, a academia
de ginástica ou coisas dessa natureza”, diz Heraldo Ourem, diretor de inovação e
competitividade empresarial do Porto Digital, referindo-se ao tipo de solução que a
sociedade espera. “Os empreendedores têm de olhar, por exemplo, para o impacto
[social] do seu negócio. A sociedade tem tantas dificuldades, como questões de meio
ambiente, aquecimento global, inclusão, equidade de gênero e por aí vai. Então é
preciso que as startups, e todos nós, observemos qual o impacto que estamos
gerando para a sociedade como um todo”, afirma.

E quem está no papel de fomentar o sistema, sejam as corporações, sejam players

de inovação, parques tecnológicos ou o poder público, deve estimular a criação de


negócios que gerem não apenas lucro, mas também deixem um legado para a
sociedade. Isso envolve um aspecto que nem sempre entra no radar das companhias
e empreendedores. “Os ecossistemas de inovação precisam se conectar com o seu
território”, diz Heraldo Ourem.

22
impacto social

Divulgação: Porto Digital

O Porto Digital, por exemplo, nasceu dessa visão. Instalado no centro antigo do Recife, o
distrito de inovação foi lançado no ano 2000 como resultado de uma política pública discutida
em conjunto pelo poder público (governo de Pernambuco), academia (Universidade Federal de
Pernambuco, por meio do seu Centro de Informática) e a iniciativa privada.

O plano tinha dois grandes propósitos: numa dimensão macro, a formulação de uma agenda
econômica de inovação para o Estado de Pernambuco, com formação e retenção de
pesquisadores e mão de obra qualificada em tecnologia, e estímulo a negócios inovadores de
TI no Recife. E, na outra frente, a sua utilização como instrumento de política urbana, com o
objetivo de recuperar o centro antigo da capital pernambucana.

Mais de 20 anos depois, o Porto Digital é um dos principais polos de inovação do país,
reconhecido internacionalmente como um case de sucesso na área de negócios e urbanismo.
Em 2021, o faturamento gerado pelas 350 companhias e startups sediadas no parque chegou
a R$ 3,67 bilhões, superior aos R$ 2,86 bilhões registrados em 2020, com cerca de 15 mil
pessoas trabalhando lá. A expansão nos negócios nos últimos três anos foi de 94%, enquanto
o número de colaboradores subiu 56%.

Os ganhos também se refletem em melhoria urbana. A opção por instalar o Porto Digital no
Bairro do Recife, no centro histórico – que na época estava degradado e com patrimônio
arquitetônico em risco – foi para ativar a região e preservá-la. Deu certo. Só na década
passada, os 171 hectares do distrito digital receberam cerca de R$ 90 milhões em projetos de
renovação urbana, como restauro de prédios que ajudam a contar a história da cidade.

24
23
Inovação
Transformadora
A questão da diversidade e inclusão, outra pauta que cresceu na
sociedade nos últimos anos, ainda não figura no centro das teses de
corporate venture capital. Por outro lado, startups e programas de
aceleração voltados a pessoas negras têm avançado e provocado
transformações no mercado profissional. Iniciativas como Pretalab,
Carreira Preta e Pretahub têm contribuído para conectar as
empresas a essa agenda, promovendo transformações de dentro
pra fora ao desenvolver projetos de protagonismo negro nas
organizações. E algumas grandes corporações já perceberam que

a diversidade potencializa a inovação.

24
Inovação Transformadora

A Ambev, por exemplo, desenvolve atualmente o


programa de diversidade racial Dàgbá, que pretende criar
um espaço seguro para o “desenvolvimento étnico-racial
profissional e pessoal” dentro da companhia. Desenhada
e aplicada pela Kyvo, a metodologia – baseada na
antropologia, sociologia e design – procura transformar a
cultura organizacional e impulsionar a inovação por meio
do desenvolvimento pessoal e profissional de
colaboradores negros, além de construir lideranças que
sigam os princípios da diversidade e da colaboração.

Desenhamos um programa
incrível de desenvolvimento,
centrado na pessoa negra, e
que olha para o futuro,
descontruindo ainda mais
nossos vieses”
Michele Salles Villa Franca

Head de Diversidade, Inclusão e Saúde Mental da


Ambev na América do Sul

25
27
Inovação Transformadora

A proposta do Dàgbá
é fazer um letramento
em inovação a partir
da diversidade”
Carol Zatorre

Antropóloga e líder de programas de


diversidade e inclusão na Kyvo

“Essa transformação acontece com um ingrediente que não pode faltar: a inovação”, disse
Jean Jereissati, CEO da Ambev, durante evento de lançamento do programa Dágbá.
“Desenhamos um programa incrível de desenvolvimento, centrado na pessoa negra, e que
olha para o futuro, desconstruindo ainda mais nossos vieses”, afirmou no mesmo evento
Michele Salles Villa Franca, head de Diversidade, Inclusão e Saúde Mental da Ambev na
América do Sul. “O programa foi preparado com base no pensamento da direção da Ambev,
que quer inovar a partir das características étnicas e raciais de seus colaboradores, e por isso
a companhia está promovendo a diversidade internamente. A proposta do Dàgbá é fazer um
letramento em inovação a partir da diversidade”, afirma Carol Zatorre, antropóloga e líder de
programas de diversidade e inclusão na Kyvo.
O programa Dàgbá, que em iorubá quer dizer crescer, desenvolver e germinar, é uma aplicação
prática da ideia de Inovação Transformadora. Em resumo, esse conceito significa a inovação
que provoca impacto positivo a partir de uma visão ecossistêmica, ou seja, com impacto em
todos os stakeholders da sociedade. É o oposto da Inovação Vazia, aquela que desconsidera os
efeitos negativos para o ecossistema. Segundo Caio Vassão, visionário residente da Kyvo,
dentre os diversos tipos de inovação, há a inovação “cheia”, ou “transformadora”, na qual há um
comprometimento de quem inova com uma transformação positiva na sociedade; e há uma
inovação “vazia”, na qual a inovação é apenas uma mera oportunidade de incremento de
retorno ao investimento, com pouco ou nenhum comprometimento com o impacto positivo na
sociedade, na diversidade e para o meio ambiente. “A inovação transformadora é aquela que
deixa um legado positivo na sociedade. Ela gera resultados de negócios para a empresa, mas
também se reflete positivamente no ecossistema todo, ou seja, os colaboradores, fornecedores,
meio ambiente e o território onde a empresa atua”, afirma Hilton Menezes, CEO da Kyvo.

29
26
I n ovação T ra n s fo r m a d o ra

Ainda é muito comum assumirmos a


postura colonizada de ficar esperando
que inovações sejam prototipadas
nos países ‘desenvolvidos’ para, só
depois disso, sabermos qual é o
próximo passo de desenvolvimento
que devemos seguir”

Caio Vassão

Doutor em urbanismo pela USP e pesquisador do campo do design

Esse pensamento dialoga diretamente com a ideia de “Inovação pós-colonial”, tal como
elaborada também por Caio Vassão, que além de sua atuação na Kyvo é doutor em
urbanismo pela USP e pesquisador do campo do design. Segundo esse conceito, o novo
ciclo global de inovação começa a deixar pra trás os preceitos da velha economia
industrial - extrativista, baseada na escassez e eurocêntrica, ancorada no padrão de
consumo dos “países desenvolvidos.”

Em seu lugar, começa a emergir um modelo que combina modernas tecnologias com o
conhecimento ancestral e valoriza uma relação mais harmoniosa com o meio ambiente.
Nesse cenário, a criatividade e a inovação virão dos países do Sul Global, de ex-colônias
como Brasil, África e Índia.

“Ainda é muito comum assumirmos a postura colonizada de ficar esperando que


inovações sejam prototipadas nos países ‘desenvolvidos’ para, só depois disso,
sabermos qual é o próximo passo de desenvolvimento que devemos seguir”, escreve
Vassão. “Enquanto isso, incontáveis oportunidades de originalidade batem à nossa
porta, e são enxotadas como um visitante indesejado: novos conceitos que poderiam
ser transformados em inovações disruptivas emergem nos países coloniais e periféricos
o tempo todo, mas as lideranças locais comumente têm dificuldade em reconhecer o
valor dessa criatividade.”

A provocação de Caio Vassão soa como um chamado à realidade – um cenário de


desafios globais enormes, sejam os de ordem climática, sejam os sociais. Nesse novo
ambiente, os ecossistemas de inovação têm um novo papel a cumprir, muito mais
amplo que no passado. “Quem sabe podemos cogitar a possibilidade de sermos, um dia,
uma sociedade capaz de imaginar e realizar o que nenhuma outra imaginou e realizou?”.

27
31
Hubs de
inovação 2.0:

do matchmaking
ao CVC
A pandemia acelerou a transformação de diversos setores da economia – e isso inclui também
os hubs de inovação. Com o longo período de isolamento social obrigatório por conta da
Covid-19, eles tiveram de se reinventar. De espaços físicos criados para aproximar empresas e
startups, que podiam trocar insights no cafezinho, na hora do happy hour ou num evento para
falar de uma nova tecnologia, eles passaram também a ser digitais, funcionando como
plataformas na nuvem conectando corporações e empreendedores que podiam estar em
cidades, estados e até mesmo em países diferentes. Mas as mudanças vão além disso.

De olho nas transformações não apenas do mundo do trabalho, que se tornou híbrido, mas
também na evolução dos ecossistemas de inovação, os hubs vêm experimentando mudanças
em seus modelos de negócios, como a criação de fundos de venture capital e CVC, programas
de ESG e outras verticais de negócios.

28
H u b s d e i n ovação 2 .0 : d o m atc h m a k i n g ao CVC

Com o fundo a gente


completa todo esse
ecossistema que criamos,
que mistura educação,
inovação, tecnologia e
investimento”

Reynaldo Gama

CEO da HSM e CoCeo da SingularityU Brazil

Durante a pandemia surgiu até um player novo nesse mercado. E um player grande.

O Grupo Ânima, por meio da HSM, sua plataforma de educação corporativa, e da


SingularityU Brazil, sua escola de inovação, lançou o Learning Village em novembro de
2020. Instalado em cinco andares de um prédio na Vila Madalena, na capital paulista,

o projeto se posiciona como o primeiro hub de inovação e tecnologia com foco em


desenvolvimento de pessoas da América Latina.

Além de conectar – física e digitalmente – corporações e empreendedores com interesses


na área de desenvolvimento humano, o hub também oferece programas de educação
corporativa, laboratórios de produção de conteúdo para os residentes e uma série de
eventos. Hoje, 54 startups e 18 corporações mantenedoras fazem parte do hub. Entre as
empresas patrocinadoras estão Vibra, Deloitte, Beneficência Portuguesa, Vivo, Hospital
Sírio-Libanês, C&T, BR Angels e a Ânima Educação.

Em maio deste ano, o Grupo Ânima lançou seu primeiro fundo de CVC, o Ânima Ventures,
que tem capital de R$ 150 milhões e se beneficia do amplo acesso a startups inovadoras
do Learning Village. “Com o fundo a gente completa todo esse ecossistema que criamos,
que mistura educação, inovação, tecnologia e investimento”, afirma Reynaldo Gama, CEO
da HSM e CoCeo da SingularityU Brazil. “Lançamos o Learning Village para começar um
relacionamento com esse ecossistema, para ter uma iniciativa de open innovation. O passo
seguinte foi investir em startups”, afirma Gama. A tese de investimentos está baseada em
três pilares: educação (edtechs), experiências educacionais (tecnologias e recursos que
auxiliam nesse processo) e acesso financeiro à educação (fintechs).

29
Hubs de inovação 2.0: do matchmaking ao CVC

C o n e c ta d o à
e s t r at é g i a
c o r p o r at i va
O Habitat, espaço de inovação lançado pelo Bradesco em 2018 na Rua da Consolação,
perto da Avenida Paulista, cumpre o papel de irrigar o ecossistema de negócios do banco,
atraindo startups com inovações em áreas consideradas estratégicas, como serviços
financeiros, atendimento, blockchain e Inteligência Artificial.

Além disso, grandes empresas parceiras também participam, como Google, IBM e
Microsoft. “O Habitat é nosso veículo de open innovation”, diz Fernando Freitas, head de
inovação do Bradesco. “Quando pensamos na criação do Habitat, vimos que ele teria, de
um lado, a demanda por inovação e de outro a oferta. Então percebemos que só o poder
de compra do Bradesco não seria suficiente para atrair as melhores startups. Por isso
decidimos convidar nossos clientes corporativos para cá também”, afirma.

Com a pandemia, o hub apostou num modelo híbrido. Pelo sistema, a operação da
startup residente pode se dar também no ambiente digital, com direito a um hotdesk e
possibilidade de realizar reuniões e visitas ao espaço, o que pode atrair especialmente
empresas que ficam fora de São Paulo.

30
Hubs de inovação 2.0: do matchmaking ao CVC

Novas verticais
de negócios
O Cubo Itaú, lançado em 2015 pelo Itaú Unibanco e pelo fundo Redpoint Ventures, também
adotou o modelo híbrido com a pandemia. As novidades do hub nesse período também
envolvem a criação de programas voltados a segmentos específicos de mercado, como ESG e
mobilidade. Em janeiro deste ano foi criado o Smart Mobility, núcleo que pretende estimular a
cocriação de soluções inovadoras para a área de mobilidade urbana. O banco incluiu no projeto
seus serviços nesse segmento: o Bike Itaú, de aluguel de bicicletas; a ConectCar, empresa de
pagamento de pedágios e estacionamentos; o Vec Itaú, de compartilhamentos de carros
elétricos; e o iCarros, marketplace para venda de veículo.

Só para dar um exemplo de projetos em andamento, o iCarros está desenvolvendo uma


tecnologia de recomendação de compra ou uso do carro baseada na necessidade do cliente.

A TIM e a Stellantis são parceiras no projeto. A operadora de telecom vai permitir que as startups
façam testes usando 5G, enquanto a Stellantis vai facilitar parcerias com o setor automotivo.

Em junho foi a vez do Cubo ESG. Além de apoiar empresas já existentes, o projeto quer
fomentar novos empreendedores com soluções escaláveis para redução de carbono. “As
ineficiências estruturais são evidências do enorme potencial que a inovação tecnológica tem

a longo prazo no segmento”, afirma Pedro Prates, executivo do Cubo Itaú, em comunicado.

A iniciativa será organizada por meio de núcleos. O primeiro é o Net Zero, que tem o objetivo

de resolver os desafios da descarbonização em setores como agropecuária, construção civil,


petróleo & gás e siderurgia. “O hub quer reunir empresas, indivíduos, startups, tech companies

e demais agentes para transformar a região por meio de empreendedorismo tecnológico”,


complementa Prates. A iniciativa está em linha com a estratégia do Itaú Unibanco, que pretende
se posicionar no segmento de ESG.

31
H u b s d e i n ovação 2 .0 : d o m atc h m a k i n g ao CVC

F l o r i pa
i n o va d o r a
Estado com um dos ecossistemas de inovação mais desenvolvidos do país, Santa Catarina
tem espaços de coinovação conectados a programas de estímulo à interação e à geração
de novos negócios. Um player que cumpre papel central nesse processo é a Associação
Catarinense de Tecnologia (ACATE).

Com 1,2 mil associados distribuídos por 13 polos de inovação e tecnologia de Santa
Catarina, a entidade gerencia uma rede de Centros de Inovação em Florianópolis, além de
manter escritórios em São Paulo e em Boston (EUA).

Um de seus principais projetos é o programa de inovação aberta Linklab, que acontece em


três hubs físicos: o Centro de Inovação ACATE Primavera, em Florianópolis; o CIA São
José, na cidade São José; e no Ágora TechPark, em Joinville. Nesses ambientes, ocorrem
eventos de networking, workshops, treinamentos, pitches e mentorias. Além de ter acesso
a salas, espaços de coworking e áreas de descanso, as startups contam com apoio em
diversos campos, como jurídico, RH, contábil, marketing e branding.

32
Hubs de inovação 2.0: do matchmaking ao CVC

A ACATE não tem projetos


estruturados de CVCs,
mas o Linklab, que é bem
relevante pra gente,
conecta as corporações
às startups ou empresas
de tecnologias em
diversos projetos”
Paula Lunardelli

Vice-presidente de ecossistema da ACATE

Desde 2017, o programa já apoiou mais de 60 negócios entre startups e corporações, com
uma taxa de sucesso de 53%. No total, mais de 30 grandes empresas nacionais e
multinacionais fizeram parte da iniciativa, como WEG, Ambev, Whirlpool, Schulz e Governo
do Estado de Santa Catarina, entre outras. “A ACATE não tem projetos estruturados de
CVCs, mas o Linklab, que é bem relevante pra gente, conecta as corporações às startups ou
empresas de tecnologias em diversos projetos”, diz Paula Lunardelli, vice-presidente de
ecossistema da associação. “O Linklab aproxima startups de tecnologia das empresas, seja
com objetivo de compra de produto, de desenvolvimento ou até mesmo investimento”, diz.

Embora não tenha projetos estruturados de CVCs acoplados ao programa, a entidade


participa de fundos de venture capital. A associação lançou no fim de 2020, em parceria com
a gestora Invisto, o Fundo Invisto, que pretende destinar R$ 100 milhões para 12 startups
iniciantes. Segundo a associação, este é o primeiro fundo de venture capital exclusivo para
empresas de tecnologia B2B do Sul do Brasil.

33
EQUIPE TÉCNICA

GUILHERME CLAYTON MELO


YUKA YAMADA
Paula Maria Cazé
Gilberto Junior

MANECHINI
editor designer visual Marques
de Almeida
produtor audiovisual
supervisor editorial coordenadora coordenadora

39

Você também pode gostar