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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ECONOMIA
MESTRADO EM ECONOMIA EM DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
REGIONAL

HIGOR FERNANDO DO NASCIMENTO PONTES

DESIGUALDADE DE RENDA E POBREZA: Uma análise dos impactos de


eficácia dos programas de transferência de renda sobre a pobreza e a
desigualdade para as unidades da federação.

Belém – Pa
2018
HIGOR FERNANDO DO NASCIMENTO PONTES

DESIGUALDADE DE RENDA E POBREZA: Uma análise dos impactos de


eficácia dos programas de transferência de renda sobre a pobreza e a
desigualdade para as unidades da federação.

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de


Pós Graduação em Economia do Instituto de Ciência
Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Pará,
como requisito para obtenção do título de mestre em
economia.

Orientador (a): Prof. Dr Ricardo Bruno Nascimento


dos Santos.

Belém –Pa
2018

I
II
HIGOR FERNANDO DO NASCIMENTO PONTES

DESIGUALDADE DE RENDA E POBREZA: Uma análise dos impactos de


eficácia dos programas de transferência de renda sobre a pobreza e a
desigualdade para as unidades da federação.

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de


Pós Graduação em Economia do Instituto de Ciência
Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Pará,
como requisito para obtenção do título de mestre em
economia.

Orientador (a): Prof. Dr Ricardo Bruno Nascimento


dos Santos.

Banca examinadora

Orientador (a): Prof. Dr Ricardo Bruno Nascimento dos Santos.

Examinador (a): Prof. Dr José Nazareno Araújo dos Santos.

Examinador (a): Prof. Dr Sérgio Luiz Medeiros Rivero.

Belém –Pa
2018

III
Ao meu Senhor Jesus, Porque D’ele e por Ele e para Ele são todas as coisas.

IV
Agradecimentos

Todos na vida sonham, mas somente aqueles que ousam conseguem realizar. É uma
imensa vitória poder concluir esse mestrado. Confesso que não foi fácil, devido a algumas
circuntâncias externas, em alguns momentos pensei em parar, mas graças a Deus fui adiante.
A pressão nos faz superar limites. Essa foi uma frase que me marcou muito no período
de elaboração deste trabalho. Mas finalmente ele foi concluído. E nada mais justo do que usar
esse espaço para agradecer aqueles que direta ou indiretamente fizeram parte desse processo
tão sofrido mas ao mesmo tempo tão prezeroso. Espero que não esqueça de ninguém.
O Salmo 91. 11-12 diz: “ Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te
guardarem em todos os teus caminhos. Eles te sustentarão nas suas mãos, para que não
tropeces com o teu pé em pedra. Bom, posso dizer que encontrei esses anjos no meio da
caminhada. Pessoas com um abraço, um beijo, um sorriso, uma palavra de animo
transmitiram força em meio a fraqueza e cura em meio a dor. Amigos queridos que levarei
sempre no lado esquerdo do peito. Renata Andrade, Helton Xavier, Milena Riemi, Rogger
Mathaus, Ellen Claudinne, Henrique Mascarenhas, meus doutorandos Favoritos Luz Marina e
Felipe Bandeira. Vocês nã imaginam a força que que vocês me passaram em cada encontro
em cada dia desse mestrado. Vocês contribuiram para que os dias de luta fossem dias de
glória e os de tristeza fossem de alegria. Vocês são demais. Amo vocês. Desejo todo o sucesso
e que Deus os prospere em todos os seus caminhos cumprindo o desejo do coração de vocês.
Ao meu orientador, professor Ricardo Bruno. Finalmente, matamos o primo.
Noooossa, não tenho nem palavras pra agradecer, sinceramente... a ajuda, a compreensão, o
cuidado, a responsabilidade, a paciência (algumas vezes vi a ira dele pelo whatsapp- risos) o
café (risos).. Que Deus abençoe o senhor e sua família poderosamente, meu professor. Espero
algum dia poder retribuir toda a ajuda que o senhor me deu.
Ao professor Danilo, também pela compreensão em algumas disciplinas diante de
algumas dificuldade.
Ao meu paistor, Douglas Lisboa e sua esposa e minha amiga querida Cristiane Lisboa
por mais esse apoio, compreensão, conselhos e orações. Amo vocês e ainda pago pra amar.
Quero também agradecer a duas pessoas que me deram uma ajuda imensa: tias Jacira e
tia Claudete. Que Deus lhes abençoe poderosamente. Espero uma dia retribuir-lhes essa
grande ajuda.

V
Também agradeço a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –
CAPES pelo incentivo que dá as universidades com o objetivo de potencializar a pesquisa no
país sempre olhando de maneira humana para as necessidades financeiras dos seus
pesquisadores.
E finalmente ao meu amado Senhor Jesus Cristo a quem dedico toda honra, toda
glória, louvores e aplausos. Ah se não fossem suas misericórdias...Deus é bom o tempo todo e
o tempo todo Deus é bom.
Agora é seguir o caminho do doutorado. Nossa, nem acredito que estou falando isso.
Só Deus mesmo pra fazer isso. Um sonho realizado. A caminhada não é fácil, mas o que será
que Deus não poderá fazer na vida de alguém que se entrega de verdade em suas mãos?

VI
“Nunca me deixes esquecer que tudo o que tenho, tudo o que sou e o que vier a ser
vem de ti, Senhor” (Ana Paula Valadão Bessa).

VII
Resumo

O Estado tem um papel importante na organização social, principalmente no que diz respeito
a elaboração de políticas públicas e ao analisar esse papel dentro de um contexto nacional,
depara-se com a enorme carência que cada região possui e os diversos problemas enfrentados
em decorrência do forte ciclo de armadilha da pobreza. A dinâmica de acumulação e
concentração do sistema capitalista exposta pelas ideias neoliberais contribuiu para o aumento
da desigualdade de renda no Brasil no último quarto do século XX de maneira a conscientizar
as instituições sobre os problemas que a desigualdade pode gerar nos âmbitos político,
econômico e social. Assim nos primeiros quinze anos do século XXI o Brasil passou por uma
série de transformações em todos os aspectos, fruto de uma política de redistribuição de renda
e de uma politica econômica condizente com a realidade. Mecanismos esses que são muito
importantes para o sistema de oportunidades e as liberdades inerentes a cada indivíduo que
está atrelado à elaboração, execução e análise de políticas públicas que contribuam para a
redução da desigualdade de renda como forma de eliminar o ciclo intergeracional da pobreza.

Palavras-chave: Políticas Públicas; Desigualdade de Renda; Bolsa-Família.

VIII
Abstract

The State plays an important role in social organization, especially in the elaboration of public
policies, and in analyzing this role within a national context, it faces the enormous lack that
each region has and the various problems faced as a result of the strong cycle of poverty trap.
The dynamics of accumulation and concentration of the capitalist system exposed by
neoliberal ideas contributed to the increase of income inequality in Brazil in the last quarter of
the twentieth century in order to make institutions aware of the problems that inequality can
generate in the political, economic and social spheres. Thus in the first fifteen years of the
twenty-first century Brazil underwent a series of transformations in all aspects, the result of a
policy of income redistribution and an economic policy consistent with reality. These
mechanisms are very important for the system of opportunities and freedoms inherent to each
individual that is involved in the elaboration, execution and analysis of public policies that
contribute to the reduction of income inequality as a way of eliminating the intergenerational
cycle of poverty.

Keywords: Public Policies; Income Inequality; Bolsa-Família.

IX
Lista de Figuras

Figura 1 Escolha de investimento em crianças com mercados de crédito ausentes ..... 46

X
Lista de Tabelas

Tabela 1- Critério de elegibilidade e valores dos benefícios de 2004 à 2014 .......................... 56

Tabela 2 - Proporção de Pobres por Região e Área Metropolitana para os dados da PNAD no
período de 2011-2014. .............................................................................................................. 67

Tabela 3 - Proporção de Pobres nas áreas Urbana e Rural e Regiões Metropolitanas, segundo
os dados da PNAD do período de 2011 -2014. ........................................................................ 68

Tabela 4 - Razão do Hiato de Pobreza para as Regiões do País, Região Metropolitana e Áreas
Urbano e Rural, para os dados da PNAD no período de 2011-2014. ....................................... 69

Tabela 5 - Modelo logit para o cálculo da probabilidade do indivíduo da região da Amazônia


Legal ......................................................................................................................................... 84

Tabela 6 Diferença de médias das rendas totais per capita com e sem aposentadoria dos
indivíduos que recebem o benefício do Bolsa-Família pra Amazônia Legal, 2001 à 2014. .... 87

Tabela 7 Diferença de médias das rendas totais com e sem aposentadoria dos indivíduos que
recebem o benefício do do Bolsa-Família pra Amazônia Legal, 2001 à 2014. ....................... 87

Tabela 8 Índice de Gini para grandes regiões e unidades da federação, Brasil 2001 à 2014. .. 91

Tabela 9 Proporção de Pobres nas Grandes Regiões e Unidades da Federação, Brasil 2001 à
2014. ......................................................................................................................................... 93

Tabela 10 Estimativas do modelos total, tratamento e controle de desigualdade e pobreza para


efeitos fixos. ............................................................................................................................. 97

Tabela 11 Participações dos estados da região Norte, em porcentagem, na construção das


unidades sintéticas. Cenário 1. ................................................................................................. 99

Tabela 12 Participações dos estados da região Nordeste, em porcentagem, na construção das


unidades sintéticas. Cenário 1. ............................................................................................... 104

Tabela 13 Participações dos estados da região Sudeste, em porcentagem, na construção das


unidades sintéticas. Cenário 1. ............................................................................................... 107

Tabela 14 Participações dos estados da região Sul, em porcentagem, na construção das


unidades sintéticas. Cenário 1. ............................................................................................... 109

Tabela 15 Participações dos estados da região Centro-Oeste, em porcentagem, na construção


das unidades sintéticas. Cenário 1. ......................................................................................... 112

Tabela 16 Participações dos estados da região Norte, em porcentagem, na construção das


unidades sintéticas. Cenário 4. ............................................................................................... 117

XI
Tabela 17 Participações dos estados da região Nordeste, em porcentagem, na construção das
unidades sintéticas. Cenário 4. ............................................................................................... 122

Tabela 18 Participações dos estados da região Sudeste, em porcentagem, na construção das


unidades sintéticas. Cenário 4 ................................................................................................ 125

Tabela 19 Participações dos estados da região Sul, em porcentagem, na construção das


unidades sintéticas. Cenário 4. ............................................................................................... 127

Tabela 20 Participações dos estados da região Centro-Oeste, em porcentagem, na construção


das unidades sintéticas. Cenário 4. ......................................................................................... 130

XII
Lista de Gráficos

Gráfico 1 Trajetória do índice de Gini entre os estados da Região Norte e Região Norte
sintético. Cenário 1. ................................................................................................................ 101

Gráfico 2 Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos do índice de gini para a região
Norte em relação as unidades da federação do cenário 1. Teste de distribuição de Placebo. 102

Gráfico 3 Trajetória do índice de Gini entre os estados da Região Nordeste e Região Nordeste
sintético. Cenário 1. ................................................................................................................ 105

Gráfico 4 Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos do índice de gini para a região
Nordeste em relação as unidades da federação do cenário 1. Teste de distribuição de Placebo.
................................................................................................................................................ 106

Gráfico 5 Trajetória do índice de Gini entre os estados da Região Sudeste e Região Sudeste
sintético. Cenário 1. ................................................................................................................ 107

Gráfico 6 Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos do índice de gini para a região
Sudeste em relação as unidades da federação do cenário 1. Teste de distribuição de Placebo.
................................................................................................................................................ 108

Gráfico 7 Trajetória do índice de Gini entre os estados da Região Sul e Região Sul sintético.
Cenário 1. ............................................................................................................................... 110

Gráfico 8 Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos do índice de gini para a região
Sul em relação as unidades da federação do cenário 1. Teste de distribuição de Placebo. .... 111

Gráfico 9 Trajetória do índice de Gini entre os estados da Região Centro-Oeste e Região


Centro-Oeste sintético. Cenário 1. .......................................................................................... 113

Gráfico 10 Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos do índice de gini para a
região Centro-Oeste em relação as unidades da federação do cenário 1. Teste de distribuição
de Placebo. .............................................................................................................................. 114

Gráfico 11 Trajetória da proporção de pobres entre os estados da Região Norte e Região


Norte sintético. Cenário 4. ...................................................................................................... 118

Gráfico 12 Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos da proporção de pobres para
a região Norte em relação as unidades da federação do cenário 4. Teste de distribuição de
Placebo. .................................................................................................................................. 120

Gráfico 13 Trajetória da proporção de pobres entre os estados da Região Nordeste e Região


Nordeste sintético. Cenário 4. ................................................................................................ 123

Gráfico 14 Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos da proporção de pobres para
a região Nordeste em relação as unidades da federação do cenário 4. Teste de distribuição de
Placebo. .................................................................................................................................. 124
XIII
Gráfico 15 Trajetória da proporção de pobres entre os estados da Região Sudeste e Região
Sudeste sintético. Cenário 4. .................................................................................................. 126

Gráfico 16 Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos da proporção de pobres para
a região Sudeste em relação as unidades da federação do cenário 4. Teste de distribuição de
Placebo. .................................................................................................................................. 126

Gráfico 17 Trajetória da proporção de pobres entre os estados da Região Sul e Região Sul
sintético. Cenário 4. ................................................................................................................ 128

Gráfico 18 Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos da proporção de pobres para
a região Sul em relação as unidades da federação do cenário 4. Teste de distribuição de
Placebo. .................................................................................................................................. 129

Gráfico 19 Trajetória da proporção de pobres entre os estados da Região Centro-Oeste e


Região Centro-Oeste sintético. Cenário 4. ............................................................................. 130

Gráfico 20 Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos da proporção de pobres para
a região Centro-Oeste em relação as unidades da federação do cenário 4. Teste de distribuição
de Placebo. .............................................................................................................................. 131

XIV
Sumário
1 Introdução .............................................................................................................................. 16

2 Revisão Bibliográfica ........................................................................................................ 23

2.1 Conceito e funcionamento de Política Pública.................................................... 23

2.2 O Programas de Transferência de Renda Condicionada (PTRC) ....................... 43

2.3 O Programa Bolsa-Família (PBF) como política pública ................................... 48

2.4 Pobreza ................................................................................................................ 60

3 Metodologia ........................................................................................................................... 71

3.1 Decomposição e medição e transformação em uma fonte de renda ................... 71

3.2 A técnica de Propensity Score Matching (PSM) ................................................ 73

4 Resultados Analisados ........................................................................................................... 82

4.1 O modelo logit de efeito marginal ...................................................................... 82

4.2 Análises das Diferenças de Média ...................................................................... 86

4.3 Os determinantes de queda da Desigualdade e Pobreza nas regiões brasileiras


entre 2001 e 2014. ..................................................................................................... 90

4.4 Modelo do Cenário 1: Efeito Fixo desigualdade total. ....................................... 98

4.5 Modelo do Cenário 2:Efeito fixo desigualdade tratados. .................................. 114

4.6 Modelo do Cenário 3: Efeito fico desigualdade controle. ................................ 115

4.7 Modelo do Cenário 4: Efeito Fixo pobreza total............................................... 115

4.8 Modelo do Cenário 5:Efeito fixo pobreza tratamemto. .................................... 132

4.9 Modelo do Cenário 6: Efeito fixo pobreza controle. ........................................ 132

5 Conclusão ............................................................................................................................ 134

Referências Bibliográficas ...................................................................................................... 137

XV
1 Introdução

O desenvolvimento do sistema capitalista permitiu ao mundo ocidental alcançar um


estado de opulência sem precedentes, com mudanças notáveis e constantes na esfera
socioeconômica, política e social ao longo do século XX. No entanto, a política neoliberal,
que tem início no final dos anos 1970 e se mantém até hoje como importante vetor de
influência na elaboração de políticas macroeconômicas em todo o mundo, parece ter nos
levado a um impasse em termos de seus efeitos mais imediatos em relação às condições de
desenvolvimento socioeconômico e melhorias nas condições de vida das populações
residentes em regiões periféricas: como a América Latina. Não obstante, o mundo ainda vive
um sistema de privações e desigualdades, embora o aumento da riqueza mundial
proporcionada pelo sistema capitalista de acumulação.

O processo de desenvolvimento tem como desafio superar esses problemas, dentre


outros que afetam a sociedade atual e que impõem riscos às futuras gerações. Cada indivíduo
na sociedade é um agente de transformação social, no entanto, está limitado à privação de
oportunidades, que não são apenas sociais, mas também políticas e econômicas. Diante disso,
levanta-se o seguinte questionamento: como o processo de redução da pobreza e desigualdade
de renda podem ser eficazes, uma vez que seus agentes de transformação social são privados
de oportunidades? Quem criaria as oportunidades para que os indivíduos na condição de
transformadores da realidade social superassem esses dois problemas?

O trabalho de Sen (2002) se baseia que a parte mais vulnerável da sociedade está
exposta aos diversos problemas sociais existentes, de forma que a falta de oportunidades
dificulta a atuação do indivíduo nas diversas áreas sociais que podem lhe promover
mobilidade social, tendo em vista os aspectos uni e multidimensional da pobreza.
Considerando o cenário nacional, quanto mais oportunidades são disponibilizadas ao ser
humano mais chances de mudança lhe são proporcionadas para o desenvolvimento do país. É
importante destacar que as oportunidades e expectativas de uma pessoa dependem
crucialmente das instituições e do modo como elas funcionam, uma vez que o indivíduo atua
em um mundo de instituições. Logo essa avaliação ocorre sistematicamente a realização de
oportunidades, principalmente ponderando sobre uma política de redistribuição de renda.

16
Neste contexto, políticas que têm por objetivo superar a pobreza e a desigualdade têm
muitas vezes sido bloqueadas nas regiões periféricas através dos sistemas de acumulação e
concentração de capital expressos em políticas de austeridade, afetando a sociedade e
impondo dificuldades de sobrevivência às futuras gerações.

Na primeira década do século XXI, o Brasil experimentou o início de um processo de


desenvolvimento e eliminação da extrema pobreza com a redução - embora pouca - da
desigualdade, fazendo com que o seu processo de redução no país, medido pelo índice de Gini
fosse significativo, caindo de 0,545 em 2004 para 0,514 em 2014.1 Porém, esse é um valor
elevado se comparado aos de outros países como México (0,482) e Guatemala (0,487).

As políticas sociais e de transferência de renda contribuíram para esse fim, porém não
de forma tão acentuada, uma vez que a expansão do mercado de trabalho e a valorização do
salário mínimo tiveram maior peso nessa evolução. É importante colocar que o processo de
desenvolvimento social de um indivíduo não depende apenas das oportunidades econômicas,
mas é um sistema complexo que precisa estar interligado com outros determinantes, aonde a
política de redistribuição de renda não seria talvez o mais importante no decurso da redução
da desigualdade, já que esta viabiliza ao indivíduo apenas o uso instrumental da renda, não
proporcionando o exercício de seus direitos constitucionais.

Este trabalho se concentra no problema da desigualdade de renda e pobreza no âmbito


nacional no período de 2001 a 2014, analisando os impactos de eficácia dos programas de
transferência de renda sobre a pobreza e o índice de Gini, sempre através da integração de
atividades sociais, políticas e econômicas, levando em consideração o papel das instituições
no processo de elaboração e execução de políticas públicas dentro dessa interação.

A justificativa gira em torno da ideia de que teoria econômica tradicional enxerga o


problema da distribuição não como um problema teórico, mas sim político e moral (eficiência
de Pareto). Assim, quando se fala sobre pobreza e desigualdade é preciso observar os
contextos socioeconômicos e culturais, pois cada país tem uma forma de mensurá-las, usando
critérios metodológicos específicos e considerando cada realidade social, ou seja, trata-se de
identificar os traços essenciais da pobreza em determinada sociedade, o que envolve diversos

1
dados do Banco Mundial. Disponível em
<http://datos.bancomundial.org/indicador/SI.POV.GINI?end=2014&locations=MX-GT-PY-
BR&start=2014&view=bar>
17
sintomas como subnutrição, baixa escolaridade, falta de acesso a serviços básicos,
desemprego, marginalidade, insuficiência de renda, etc.

Cada estado da federação brasileira tem um grande potencial de desenvolvimento, no


entanto, devido as suas complexidades territoriais, a atuação do Estado em ações elementares
é de difícil acesso em algumas localidades, o que contribui para a reprodução da pobreza nas
regiões periféricas. Considerando a dificuldade de acesso, a hipótese principal orienta que
melhorias na renda ou a realização de programas sociais, como o Programa Bolsa Família
(PBF) tendem a diminuir a pobreza nessas regiões.

Na sociedade do século XXI, a globalização e a tecnologia ganharam espaço no


cenário mundial, fazendo com que o sistema de precificação atuasse fortemente sobre a
questão da substituição capital-trabalho, causando forte exclusão econômica e social,
mudando a natureza do trabalho e contribuindo fortemente com desemprego estrutural. Em
um país como o Brasil, as dificuldades de superação da pobreza e concentração de renda só
podem ser superadas de maneira sustentável por meio do investimento em qualificação
profissional para reconduzir a parcela desempregada ao mercado de trabalho, adequando-a as
transformações estruturais ocorridas, levando em consideração também uma política
econômica e social adequada para esse fim como os programas de transferência de renda
condicionados (PTRC). Com isso, outra hipótese é destacada: A execução do Programa Bolsa
Família nos últimos anos foi um instrumento eficaz para reduzir a desigualdade de renda e a
pobreza.

Dentro das definições regionais, se pretende como objetivo geral analisar a


configurações de pobreza sobre o aspecto unidimensional e desigualdade de Gini nas
unidades da federação brasileira. Os objetivos específicos giram em torno de rodar modelos
para essas unidades da federação analisando suas dinâmicas de evolução de pobreza e
desigualdade de renda.

A baixa qualidade da educação pública é um problema que deve ser enfrentado com
vontade e diligência visando a melhoria do processo educacional, principalmente nas regiões
mais pobres do país, como o Norte e Nordeste. Profissionais bem preparados, com melhor
nível educacional, aumentam a produtividade na economia e melhoram todos os indicadores
sociais. Todavia, a atuação do Estado na regulação econômica ajuda na diminuição das crises

18
por meio de uma queda da diferença salarial entre os que têm mão-de-obra qualificada e os
que não têm.

Quando não se tem investimento em qualificação profissional, a formação de


empregos em níveis específicos é limitada, impedindo uma maior dispersão salarial entre seus
níveis. Não é apenas preparar o indivíduo para o mercado de trabalho, mas facilitar o acesso
do sistema educacional que é apresentado no mundo globalizado.

Com base na teoria neoclássica o conhecimento é uma forma de capital e a decisão de


investir na capacitação profissional do trabalhador passa a ser uma deliberação individual ou
das partes interessadas em melhorar e/ou aumentar a produtividade na economia.

A falta de habilidades para a garantia de rendimento se enquadra dentro do contexto de


pobreza absoluta, o que configura a ausência de condições para exercer as possíveis
habilidades natas. A dinâmica do processo de desenvolvimento de capital humano orienta a
entender a falta de habilidades e qualificação profissional.

A noção desse termo se afirma na literatura econômica na década de 1950, e, mais


tarde, nas décadas de 1960 e 1970, no campo educacional, a tal ponto de se criar um campo
disciplinar – economia (política) da educação. Essa teoria apregoa que o maior investimento
na educação torna o individuo mais competente para concorrer uma vaga no mercado de
trabalho e garantir mobilidade social.

Os baixos níveis de habilidades do indivíduo configuram-se dentro do contexto de


pobreza relativa, em que as necessidades não são satisfeitas em função de parâmetros sociais
pré-estabelecidos, suscitando o trabalho das instituições para a redução das desigualdades
entre os indivíduos. Dentre outras formas, a pobreza pode ser definida pela falta de condições
para exercício de habilidades ou a falta dessas habilidades ou ainda a baixa habilidade, o que
resulta em uma baixa produtividade e consequentemente baixos rendimentos. Essas
habilidades estão condicionadas as decisões dos indivíduos em adquiri-las e/ou aprimorá-las
por meio do processo educacional.

A dinâmica do capital no século XXI tem contribuido muito para o aumento da


desigualdade de renda, no sentido de que políticas de tributação não estão atingindo a parte
superior da pirâmide social, dificultando o acesso de uma grande parcela da população à

19
programas de geração e redistribuição de renda que contemplem ao indivíduo a possibilidade
de mudança na sua perspectiva de vida, o que atrasa a execução de políticas que contribuam
para a redução da desigualdade de forma mais acelerada. Não é defender uma politica
assistencialista, mas criar oportunidades de crescimento e desenvolvimento, geração de
emprego e renda aonde o indivíduo saia da situação de pobreza gerando também outras
oportunidades e cooperando com a dinâmica da cadeia social de mobilidade socioeconômica.

A estrutura da desigualdade da renda pode ser analisada e entendida em três formas: a


desigualdade da renda do trabalho, a desigualdade da propriedade do capital e das rendas que
dela resultam e a relação existente entre essas duas dimensões. A desigualdade de renda do
trabalho está ligada a falta de investimento em educação e qualificação profissional, o que
está fundamentado nas forças sociais de oferta e demanda.

“No que concerne à desigualdade da renda do trabalho, os mecanismos incluem a


oferta e demanda por qualificações, o estado do sistema educacional, bem como as
diferentes regras e instituições que afetam o funcionamento do mercado de trabalho
e o processo de formação dos salários” (PIKETTY, 2014, p. 239).

Embora os programas sociais de transferência de renda tenham contribuído de forma


significativa para a redução da desigualdade de renda, a maior parte da queda dessa
desigualdade se deu através da política de valorização do salário mínimo, isto é, o salário real
acima da inflação, aumentando a renda e o poder de compra da população mais pobre.

Uma das maneiras de reduzir a desigualdade social é analisando a base informacional


de uma determinada região. Entende-se como base informacional o conjunto de informações
relevantes e específicas que são consideradas decisivas em uma sociedade. Isso permite
suporte para atuar com justiça social e não por meios meritocráticos.

A meritocracia parte-se do princípio de que todos têm as mesmas condições e


capacidades de elevação social, o que é um equívoco, uma vez que impede a mudança nas
condições sociais e de renda dos indivíduos. Para ocorrer o desenvolvimento econômico e
social na atual fase do capitalismo é fundamental a promoção de justiça social para reduzir as
assimetrias sociais que a meritocracia promove, haja vista as diversas implicações sociais
enfrentadas e que se tornam relevantes, apresentadas como informações inclusivas dentro de
20
uma política pública como ação diferencial para melhor atuação do Estado na promoção do
bem-estar.

Dentro da teoria econômica, a meritocracia se encaixa na escola utilitarista, a qual


define utilidade como prazer, felicidade ou satisfação, ou seja, algo que gira em torno de
realizações mentais. A ascensão social de um indivíduo é baseada nas consequências de seus
esforços. Segundo a teoria utilitarista filosófica uma ação só pode ser considerada moralmente
correta se as suas consequências promoverem o bem-estar coletivo. O bem-estar social não
pode ser alcançado pela meritocracia, pois esta exclui informações relevantes e específicas da
sociedade, contribuindo para aumento do hiato da desigualdade, promovido por uma
competitividade desigual. Vale dizer que a teoria utilitarista é indiferente às liberdades
substantivas e de direitos e das liberdades formais2.

Quando um sistema de governo pretende implementar uma política de redistribuição


de renda, por exemplo, o Programa Bolsa Família (PBF), os critérios de elegibilidade giram
em torno da base informacional de cada indivíduo. Lembrando que os beneficiários do PBF
não são beneficiários passivos do programa, como equivocadamente se imagina, mas atuam
dinamicamente na estrutura de consumo, de modo a gerar indução de demanda,
movimentando a economia.

Duas bases informacionais importantes são necessárias para a execução de políticas


públicas como instrumento de redução da desigualdade. A primeira diz respeito a base
informacional utilitária e a segunda, a base informacional libertária, que aqui neste trabalho é
denominado de base informacional de justiça social. A base informacional utilitária diz que o
indivíduo está sempre em busca do prazer gerado pelo seu lado emocional, e em se tratando
de sua atuação social, alcança seu nível de satisfação a partir das oportunidades que lhe são
concedidas, no entanto, é preciso observar que nem todos os indivíduos têm as mesmas
oportunidades, o que poderia levar a ideia de que o prazer e a satisfação são algo restrito,
exclusivo e não abrangente.

A renda como medida de mensuração da desigualdade é uma boa forma de ampliar a


base informacional de um indivíduo, uma vez que a maioria das suas privações passa pela

2
Ao se referir a direitos formais, diz-se, segundo Sen (2002), tratar das liberdades sociais básicas de cada
indivíduo expressas pela atuação do poder público. Em outras palavras se tem a defesa de igualdade formal de
oportunidades e direitos de vários tipos.

21
possibilidade de sua obtenção, haja vista sua enorme influência sobre o que se pode ou não
fazer, atuando como um bem primário que possibilita o desenvolvimento das capacidades de
um indivíduo. Para Sen (2002, p.92) bens primários são “meios de uso geral que ajudam
qualquer pessoa a promover seus próprios fins, como “direitos, liberdades e oportunidades,
renda e riqueza e as bases sociais do respeito próprio”.”. Um acúmulo de bens primários
aumenta as vantagens individuais no que se refere a busca de seus objetivos.

O interesse por parte do Estado nas condições de vida da sociedade referente as


heterogeneidades pessoais, diversidades ambientais, alterações do clima social, etc. atuam na
promoção e aprimoramento da base de bens primários necessária para a redução da
desigualdade.

No segundo capítulo deste trabalho será analisado o papel das políticas públicas no
atual contexto político e social, contemplando através da sua historicidade, a função do Estado
dentro das principais escolas de pensamento econômico. Em seguida será tratado sobre o
referencial teórico utilizado neste trabalho, baseado em Fiszbein (2009) sobre o papel dos
programas de transferência de renda condicionada (PTRC), em especial a criação do
Programa Bolsa-Família (PBF) e sua atuação sobre a parcela da população economicamente
vulnerável, bem como a ação dos mecanismos de redistribuição de renda como forma de
minorar o problema da desigualdade de renda e encerrando com a discussão sobre o contexto
de pobreza. O terceiro capítulo apresentará a metodologia a ser empregada para a elaboração
dos modelos e análise dos resultados. O quarto capítulo é reservado para a análise dos
resultados gerados pelos modelos para desigualdade e pobreza para controle sintético. O
quinto e último capitulo é reservado para a conclusão.

22
2 Revisão Bibliográfica

A partir do que foi proposto, se teve a preocupação de levantar na literatura o material


necessário para se entender o funcionamento do objeto de estudo. Este capítulo tem como
objetivo entender o conceito e o funcionamento empírico das políticas públicas e políticas
sociais, tendo em vista a ótica da falta de oportunidades e o ambiente de pobreza.

No entanto, para que se tenha essa compreensão é preciso considerar a historicidade


do tema, ou seja, para entender o papel e a importância dos mecanismos citados e sua
contextualização é necessário o conhecimento da origem da teoria da política pública e sua
evolução a partir da análise do desenvolvimento do Estado ao longo do tempo, bem como a
visão de diversos autores a respeitos dos programas sociais e sua forma de aplicação na
sociedade.

2.1 Conceito e funcionamento de Política Pública

Diversas perspectivas de pensamento foram importantes para a realização da análise


de funcionamento do Estado, tais como a perspectiva filosófica, a da ciência política, a
sociologia, a jurídica, que influenciaram na criação e evolução das ciências administrativas,
mais que dominou e prevaleceu sobre as realidades estatais. Porém, a evolução das ciências
administrativas desenvolveu enfoques que não eliminaram o pensamento jurídico, mas
permitiu uma coexistência entre o enfoque jurídico legalista e a teorias de administração.
Assim, se o direito procura organizar e orientar a vida social, este é um elemento substantivo
na formulação da regra jurídica e para isso é importante ressaltar que o direito administrativo
(do qual residem as políticas públicas) francês inspirou grande parte das legislações
administrativas do mundo, em especial as da América Latina3, inclusive o direito
administrativo brasileiro.

A questão levantada é que uma administração governamental pode e deve ser


organizada como uma empresa, porém ela não pode agir como uma, já que envolve e trabalha

3
No século XIX, resultou do direito administrativo norte americano a ideia de que a administração pública
deveria se igualar a organização de uma empresa, tendo como base o sistema de meritocracia, de caráter
apartidário como forma de combate ao nepotismo e ao favoritismo na administração pública.
23
com dinâmica social, isto é, tem um compromisso social e não empresarial, cujo objetivo é
atender ao interesse coletivo.

A administração pública representa a figura do Estado na sociedade, que age como


intermediador entre as relações de poder, porém, favorecendo a interesses especiais. Como
este trabalho se embasa no campo das ciências econômicas, para prosseguir no estudo da
política pública é necessário demarcar a atuação do Estado em dois momentos: o primeiro
antes de 1930, onde o papel do Estado é expresso pela ótica dos clássicos e o segundo
momento após 1930, em que o Estado sofre influência keynesiana.

Historicamente, o Estado adquiriu um lugar de primeiro plano na vida econômica, o


que leva a indagação se ele não teve sempre uma manifestação expressiva na economia, uma
vez que sua atuação se dá antes da doutrina liberal. O Estado sempre recolheu impostos,
modificando a estrutura produtiva e lucrativa da produção manufatureira e circuitos privados;
sempre procurou estabelecer o sistema institucional, isto é, as regras do jogo, normas e leis
alfandegárias, em outras palavras, sempre exerceu o arbítrio “porque não pode, por definição
e vocação, ignorar as regras do interesse geral e do bem comum” (BARRE 1978, p.124). No
entanto, ele não deixa de representar interesses de grupos sociais ou políticos que exercem
momentaneamente o poder. Assim, para BARRE (1978, p.126) “O Estado é um agente
econômico que opera em associado com os sujeitos econômicos individuais e com os
grupos”.

Na idade média a figura do Estado era representada pela Igreja e pela aristocracia
rural, o poder do clero estabelecia, impunha e regia as relações sociais por uma série de leis
“divinas”. Assim “Essas leis se originaram não apenas de textos religiosos, mas também de
relações econômicas e sociais estabelecidas pelos conquistadores da Europa à medida que
eles substituíram o domínio romano” (CARNOY, 2010, p.21).

Nos séculos XVI e XVII ocorreram mudanças profundas na Europa, dentre elas a
redefinição do estado de natureza do homem, formulando os seus direitos individuais,
substituindo a leis impostas pelo poder do clero como forma de fundamentação das
hierarquias políticas. No final do século XVII e durante o século XVIII houve a defesa do
estado de natureza humana em que prevalecia o comportamento individual em suas relações.
Assim, não se pode desconsiderar que o espaço a doutrina clássica apresenta um caráter
revolucionário, baseada em um novo conceito de homem.
24
Dentre as novas formas de governo, surge a figura do Estado mercantilista, que
apresenta uma contribuição muito frágil pra a ciência econômica uma vez que sua base de
sustentação protecionista impedia o desenvolvimento econômico devido às barreiras impostas
além de encontrar meios pelos quais pudesse proporcionar ouro e prata - considerados como
primeiras riquezas.

A partir do último quarto do século XVIII, não somente o Estado passou por uma
modificação na sua estrutura funcional, mas também a Europa modificou suas condições de
poder político e econômico como forma de facilitar a produção e concorrência na economia.
4
Esse período teve como marco a criação da Economia Política, atual ciência econômica
através da publicação de A Riqueza das Nações por Adam Smith.

De acordo com VIOTTI (1986) A doutrina liberal clássica – delineada entre a primeira
e segunda revolução industrial – defende a restrição das funções do Estado à 1) segurança
nacional, isto é, a defesa da sociedade e soberania nacional frente a violência e invasão por
outras sociedades independentes; 2) a administração da justiça social, ou seja, a proteção de
seus cidadãos que pudessem ser vitimas de indivíduos da mesma sociedade, como forma de
estabelecimento da paz social; 3) criação e manutenção de obras para facilitar a fluidez da
atividade econômica - cuja criação e sustentação não interessam ao indivíduo ou a um
pequeno número deles, devido os ganhos não compensarem os gastos que possam ser
realizados pelos mesmos, ainda que fosse vantajoso para a sociedade de um modo geral - ou
seja, facilitar o comércio da nação e fomentar a instrução do povo.

Para Smith, o papel reduzido dos mercados provocara a restrição ao livre comércio,
dificultando a divisão do trabalho, necessário para o aumento da produtividade e o pleno
desenvolvimento da riqueza nacional. Com isso a economia política clássica tenta mostrar que
haveria viabilidade social sem os estreitos controles estatais mercantilistas, pois seriam
desnecessários e prejudiciais para favorecer o processo de acumulação de capital e
consolidação da economia capitalista, o que segundo a teoria clássica beneficiaria toda a
nação.

4
O Estado Mercantilista perdia seu espaço para a doutrina clássica, na qual a ação do Estado Liberal
representaria uma forma de redistribuição de renda em benefício da própria classe burguesa, uma vez que o
mercantilismo e os resquícios do feudalismo não correspondiam mais as necessidades do desenvolvimento do
capitalismo inglês.
25
Isso permitiu também a consolidação da classe trabalhadora, que devido à
desapropriação pelo processo de acumulação primitiva, foi obrigada a vender sua força de
trabalho para o capitalista industrial, sendo submetido às formas mais vis e insalubres de
trabalho e sobrevivência. Isso contradiz a dinâmica econômica na época, uma vez que um
comércio ativo e próspero não permitia a melhora das condições de vida social dessa classe,
mas contribuía para o avanço da pobreza e degradação social.

A falta de políticas públicas contribuiu para essa dinâmica social, uma vez que o
caráter nocivo da atividade capitalista, representada pelo Mercado não permitia (e não
permite) a interação entre a complexidade social e atendimento de suas demandas.

Barre (1978) diz que a democracia liberal do século XIX, foi uma democracia de um
pequeno grupo, o dos proprietários de terra, que tinham como objetivo suprimir a
desigualdade, com exceção da má distribuição da riqueza e desigualdade de renda. Em outras
palavras, os interesses econômicos dominantes aproveitavam o poder político, utilizando-o
para os seus próprios fins. 5

Durante o século XIX houve uma crescente atuação da classe trabalhadora contra o
domínio burguês e a doutrina liberal clássica:

“Com o avançar do século XIX, os trabalhadores vão impondo (através de um


processo que se desenvolve em marchas e contramarchas) reformas políticas na
Inglaterra que acabam ampliando substantivamente o direito do voto. Direito que
passa a representar uma ameaça à classe dominante tão mais séria quanto ao
desgaste provocado na doutrina liberal” (VIOTTI, 1986, p.29).

A partir do que Viotti coloca, pode-se dizer que no século XIX já ocorre um ensaio
quanto a surgimento e elaboração de políticas publicas através de uma participação dos
trabalhadores nas decisões do Estado, possibilitando uma mudança em sua natureza, ou seja,
como um agente interventor no domínio econômico e social. Não obstante, a realidade
histórica da propagação das condições insalubres e degradantes de trabalho e sobrevivência e

5
A falácia do Estado Liberal de que a acumulação de capital melhoria toda a sociedade, as condições de vida dos
trabalhadores via aumento salarial e de que o melhor dos mundos seria atingido com a livre luta pelos interesses
individuais terminou não acontecendo, contribuindo para a crise da economia política clássica.
26
a revolta da classe trabalhadora abalaram os fundamentos da escola clássica, comprometendo
a manutenção dos interesses da classe dominante.

Em meados do século XIX, com a revolução marginalista a nova teoria do valor


fundamentada no principio da utilidade marginal substituiu a obsoleta teoria clássica do valor
baseada no custo-trabalho. Esse princípio era “aplicado tanto à regulação da circulação de
bens econômicos quanto a produtividade dos fatores de produção – e por extensão, à
distribuição do produto aos seus proprietários” (VIOTTI, 1986, p.35).

Uma política pública entra na compreensão da utilidade marginal6 quando é


decrescente na medida em que as demandas de um determinado grupo na sociedade são
atendidas, onde a mesma é expressa na eficácia de uma determinada política através da
aplicação matemática em dados estatísticos e modelos econométricos, verificando a
veracidade das informações - paradigma importante utilizado pelos economistas neoclássicos.

A harmonia social e o entendimento da complexidade dos agentes econômicos e


sociais envolvidos em uma política pública também entram na noção de equilíbrio expressa
pela escola marginalista através das funções de oferta e demanda de bens econômicos, fruto
do principio da maximização da utilidade. A efetividade de uma política pública se caracteriza
como o equilíbrio do consumidor.

O Estado restringiu-se as funções clássicas, permanecendo o controle das decisões


econômicas e sociais sob a concorrência perfeita do Mercado, onde o laissez-faire continuaria
sendo a solução ideal ótima para a sociedade capitalista, conduzindo naturalmente à alocação
dos recursos da forma mais eficiente possível, contribuindo para o máximo bem-estar social.
Assim para escola neoclássica:

“[...] o livre jogo das forças de mercado faria com que cada fator recebesse
exatamente sua contribuição marginal ao produto, não poderia haver distribuição
mais natural, justa e harmoniosa. Portanto, qualquer forma de intervenção que se
proponha a alterar a distribuição dada e necessariamente descartada” (VIOTTI,
1986, p.40).

6
Vale lembrar que o termo utilidade é uma mera escala individual de preferências sem nenhum significado
quantitativo.
27
Entretanto, é importante colocar que embora o Estado estivesse dentro do contexto e
domínio liberal, antes de 1930 havia uma diferença entre o pensamento liberal clássico e
neoclássico. Viotti (1986) expõe que o primeiro representou uma forma de assegurar um
rápido crescimento econômico, seja pela forma e nível de distribuição contribuir para a
acumulação de capital, seja pelo fato do aumento da produtividade proporcionar a ampliação
dos mercados. O segundo baseou-se em tornar a economia mais eficiente, transformando as
condições estruturais da sociedade, já que a teoria neoclássica surge após os escritos de Marx,
como forma de contradizer sua teoria do valor. O liberalismo para os neoclássicos assume o
papel de tentar preservar o Estado burguês.

Durante o período neoclássico, precisamente no século XX houve a tentativa de


intervenção do Estado na atividade econômica. Pigou defende essa ideia como forma de
aumentar o bem-estar social. No entanto, como já foi colocado acima, isso reduziria a
eficiência produtiva na economia, em outras palavras, reduziria a soma total dos meios de
satisfação fisicamente disponíveis. Porém, Pigou coloca que um nível de bem-estar máximo
poderia ser atingido “quando os produtos marginais sociais líquidos dos fatores são
igualados em todos os seus diversos usos. A livre concorrência apenas leva em consideração
os produtos marginais privados” (VIOTTI, 1986, p.47).

Igualmente ao liberalismo, o papel do Estado na economia também é visto


distintamente pelas escolas clássica e neoclássica, e Viotti observa isso em dois pontos. No
primeiro, os clássicos resumem em três as funções do Estado – as quais já foram expostas
neste capitulo – e os neoclássicos admitem muito a contragosto a possibilidade do Estado
poder criar e manter algumas obras e instituições, mas se limitando as funções clássicas.

O segundo ponto apresentado por Viotti, é a argumentação de que o mercado seria a


única forma de preservar a liberdade individual, como por exemplo, de produzir, vender e
comprar como requisito para o pleno desenvolvimento de suas potencialidades. Já os
neoclássicos veem isso de maneira contrária, sendo apresentado como um reforço a mais na
restrição do papel do Estado, tanto em seu sentido específico da instância econômica como no
sentido mais amplo que pode representar.

O pensamento neoclássico demonstrou inconsistências em seus pressupostos, em


especial no que tange a tendência inerente da economia de mercado à concorrência perfeita e
ao equilíbrio. Suas teorias de nada serviram para explicar a realidade, reduzindo-se apenas a
28
uma função ideológica7. A chamada revolução keynesiana surge como resposta às
necessidades de explicação dessa realidade.

O objetivo a ser atingido pela economia keynesiana era o pleno emprego, esquecendo
o ótimo econômico da economia neoclássica. O que é relevante para Keynes é a função de
demanda efetiva e não a lei de Say. Logo as variáveis que determinam o nível de demanda
efetiva, e, portanto a renda e o emprego são a propensão marginal a consumir e a escala de
eficiência marginal do capital. Com a crise do liberalismo em 1929, constata-se que a
intervenção do Estado na economia é ampla e se reveste de múltiplas formas. Como bem
colocado por Barros (1978):

1- O Estado fixa as “regras do jogo” econômico, instaurando processo de convenções


coletivas, fixando a duração legal da jornada de trabalho e editando as disposições
relativas aos acordos econômicos. Só uma entidade que fugisse à racionalidade do
capital, ou seja, que não fosse diretamente movida pelo lucro, é que teria condições de
criar situações para aumentar os meios de produção;

2- O Estado intervém diretamente no nível de atividade econômica por meio do imposto


e da despesa pública, do controle da emissão de moeda e da distribuição de crédito.
Muitas formas de financiamentos para investimentos públicos foram levantadas por
Keynes, uma vez que esses investimentos geridos pelo Estado movimentam a
economia. Dentre essas, tem-se, por exemplo, os impostos diretos e indiretos sobre a
renda, no entanto, estes afetariam negativamente os gastos de consumo dos
indivíduos, reduzindo o efeito multiplicador dos gastos adicionais sobre a renda e o
emprego; empréstimos contraídos pelo governo poderiam ser uma alternativa, mas,
embora não afete o consumo, eles provavelmente elevariam a taxa de juros, reduzindo
os investimentos privados. Então, a alternativa mais cabível seria a emissão de papel
moeda. A inflação não é só uma consequência da solução keynesiana para a crise
como também é o processo pelo qual o remédio atuaria por parte do governo. A
moeda estatal é capaz de revolucionar a capacidade produtiva, uma vez que é propícia
pra governar a economia por meio de uma influência simultânea sobre o aumento do

7
Isso é confirmado pela crise que abalou o mundo na década de trinta do século XX, onde os pressupostos do
pensamento econômico predominante foram totalmente abalados por não conseguirem explicar o porquê de
mesmo o mundo econômico seguindo a cartilha do Mercado ao pé da letra, muitas pessoas mesmo querendo
trabalhar por baixos salários, não conseguiam espaço no mercado de trabalho.
29
dispêndio público. Não obstante, a moeda se converte em instrumento de controle e
de redução salarial, tendendo a provocar uma pequena elevação do preço das
mercadorias para os assalariados;
3- O Estado coordena e financia, em grande parte os investimentos. A ideia não é
eliminar o setor privado da atividade econômica - pois o que faz mover a economia é
a expectativa do empresário em produzir e a eficiência marginal do capital - mas sim
compatibiliza-lo com a iniciativa privada. O Estado não pode competir diretamente
com o setor privado, pois provocaria a redução acentuada da eficiência marginal do
capital, assim, o pensamento é que os investimentos públicos não podem expandir a
capacidade de produção da economia, em outras palavras, eles devem ser
improdutivos.8 Isso estimularia a contratação de trabalhadores por parte do setor
privado. Esses gastos seriam qualquer produção dirigida pelo governo em forma de
obras públicas, bem-estar social ou armamentos, que cairiam na esfera de consumo,
impulsionando a produção por parte das empresas;

4- O Estado faz funcionar o setor público de produção. Keynes propõe uma socialização
dos investimentos como forma de assegurar uma situação aproximada de pleno
emprego, o que não implicava a necessidade de excluir os compromissos e fórmulas
de toda a espécie que permitiam ao Estado cooperar com a iniciativa privada. Em
lugar de desenvolver a produção a expensas do consumo, em um processo no qual o
consumo aumenta mais lentamente que a acumulação de capital, o Estado desenvolve
a produção com a ajuda deste, ainda que seja em forma de obras públicas e
armamentos. O Estado em Keynes adota uma racionalidade contrária ao senso comum
neoclássico, e essa racionalidade conduziria o funcionamento estatal supondo que
quanto mais improdutivo fosse o gasto público, melhores seriam os resultados, já que
não provocaria efeitos negativos à iniciativa privada;

5- O Estado controla diretamente os preços e taxa de câmbio. O preço de cada


mercadoria passa a ser o resultado da interação entre oferta e demanda e da
quantidade de moeda9. A inflação não é só uma consequência da solução keynesiana

8
Um trabalho é considerado improdutivo quando não contribui diretamente para a valorização do capital como
um todo, o que pressupõe uma teoria do valor, no caso, a teoria do valor trabalho. Parece que Keynes admitia
uma espécie de teoria do valor trabalho, já que para ele tudo era produzido pelo trabalho.

9
Seria uma relação baseada em um tripé composto pelo consumidor, produtor e Estado capitalista.
30
para crise como também é o processo pelo qual o remédio atua. No entanto, como as
variáveis do modelo keynesiano são definidas no plano monetário, a inflação é
ocultada como forma de expurgar o índice geral de preços. Segundo a ideia
keynesiana, para que haja inflação é necessário que haja uma longa faixa de elevação
dos preços, tornando-se a base de comportamento de todos os atores econômicos,
manipulados facilmente pela ação do Estado via desvalorização cambial;

6- O Estado assegura a redistribuição da renda nacional. Na economia sempre existirá


para um grupo de indivíduos um direito sobre toda a renda real gerada por eles
durante o processo produtivo em função da demanda induzida pelo gasto público.
Com isso, Viotti (1986, p 87) coloca que parte da renda real gerada pelo setor
produtivo “deverá permanentemente estar sendo trocada pela renda monetária
transferida ao setor produtivo por meio de algum mecanismo de transferência de
renda”. A manutenção do gasto público por meio da emissão de papel moeda
estabelece o conflito permanente pela apropriação da renda;

7- O Estado é responsável pela manutenção do pleno emprego e pelo crescimento da


economia. O pleno emprego é o conceito ideológico da Teoria Geral de Keynes, que
preserva o primeiro postulado fundamental da teoria clássica – o salário real é igual à
produtividade marginal do trabalho. É mantido, também o postulado de que os
empresários contratam mais trabalhadores se os salários reais diminuem. Assim,
Viotti diz que “o pleno emprego – o novo ótimo econômico – representa uma
situação em que os salários reais estão no mínimo possível e os lucros são
máximos”(VIOTTI, 1986, p.85). A elevação dos preços, enquanto afeta direta e
essencialmente os trabalhadores, reduz os seus salários reais e amplia o emprego, já
que a demanda de mão-de-obra se vê estimulada pela redução do salário real.

A expansão das funções do Estado tem por objetivo ajustar a propensão marginal a
consumir através da indução ao investimento, tido como gasto improdutivo e preservando as
relações sociais de produção capitalista. Contudo, a teoria de Keynes não pode ser uma
revolução do pensamento econômico, pois não abandona totalmente os fundamentos da teoria

31
neoclássica, entretanto, foi uma verdadeira revolução na sua postura diante da realidade
econômica10.

Assim, a partir de 1930 com o crescimento do aparato estatal, o seu papel de


administrador passou para o de formulador de políticas públicas. Com a segunda guerra
mundial e a crescente interação de indivíduos, bem como a evolução dos sistemas de
comunicação, consequência da expansão da globalização, se fez necessário uma adequação da
administração pública dentro de uma estrutura organizacional. Isso fez com que o campo das
políticas públicas apresentasse uma formidável expansão, ganhando progressivamente, desde
os anos de 1960 até os dias de hoje, sua autonomia como disciplina no interior da Ciência
Política.

Com o abandono da teoria que levava em consideração a atuação do livre jogo das
forças de mercado, a adoção de políticas keynesianas, centradas na ideia de pleno emprego
fez com que os estados nacionais passassem a ampliar o seu volume de intervenções bem
como o caráter regulador, tanto nos aspectos econômicos como na institucionalização dos
sistemas de proteção social.

A bipolarização após a segunda guerra mundial criou a necessidade de estabelecer


novos princípios e pactos nas relações entre capital e trabalho e a crescente presença do
Estado neste campo de atuação serviu de base para os modernos sistemas de proteção social.
A teoria política pluralista11 se tornou a ideologia oficial do sistema capitalista, abandonando
a reivindicação do direito exclusivo da própria democracia. Nessa visão criou-se a ideia de
que o governo tem que atender os interesses da maioria, isto é, estar a serviço do povo que o
elegeu.

A ampliação dos campos de representação política na forma de participação sindical e


partidária mostrou a importância do direito de voto e da participação mais ativa de
movimentos sociais. O Estado agora passa a ser visto como aquele que revela uma forte

10
Keynes não estava preocupado em reconstruir a teoria econômica, mas sim em propor medidas práticas que
tirar a economia capitalista da crise em que se encontrava.

11
Entende-se pluralismo como o reconhecimento de que vários partidos políticos possuem igual direito ao
exercício do poder político segundo procedimentos eleitorais claramente definidos.

32
capacidade de resposta às demandas sociais e não apenas o agente de inclusão de mecanismos
clássicos de representação.

As exigências são colocadas pela sociedade. A rápida mudança na estrutura econômica


e institucional, entre outras mudanças levam a reexaminar constantemente o papel e atuação
do governo na esfera social.

A sociedade é mutável devido a sua complexidade. Por causa disso a política pública
se adequa ao cenário ou é elaborada a partir de uma realidade social. A necessidade de
conhecer a conjuntura e prever a evolução da estrutura socioeconômica tornam
imprescindíveis as técnicas de construção de cenários, fazendo com que o Estado trabalhe
dentro de um planejamento estratégico, assim como as organizações privadas.

Política e administração pública são sinônimas de participação democrática, o que


possibilitou um crescente desejo de participação popular nas discussões e decisões quanto ao
planejamento público, bem como nos benefícios por eles gerados.

Inicialmente, se pode dizer que a política pública apresenta uma natureza de


intervenção na realidade. Ao se tratar de políticas públicas, não existe um consenso conceitual
sobre o tema, uma vez que diversos autores colocam seus pontos de vista sob os mais
diferentes ângulos sociais. No entanto, se pode analisar e construir um conceito mais
compreensivo sob a ótica da sociedade moderna. Segundo Rua (2013), as sociedades
modernas têm como principal característica a diferenciação social, o que significa não apenas
em seus atributos, mas também possuem ideias, valores, interesses e aspirações diferentes,
bem como desempenham papeis distintos em sua existência, o que contribui para a
complexidade social, compreendendo assim a diferentes padrões de interação baseados em
cooperação, competição e conflito.

A partir do conceito de sociedade moderna de Rua (2013), entende-se políticas


públicas como um conjunto de programas elaborados pelo Estado com o objetivo de atender
demandas e transformar as diversas realidades sociais a partir de decisões e discussões
coletivas, ou seja, têm como sentido a inclusão do indivíduo ao seio social, por meio de
programas que de maneira eficiente, possibilite-os a integrar e contribuir para o seu
desenvolvimento.

33
De acordo com as palavras de Saravia e Ferrarezi (2006) política pública é uma
decisão pública cujo objetivo é mudar ou manter uma realidade dependendo dos recursos, isto
é, orçamento e alocação de recursos públicos. Ao se falar de uma decisão pública é preciso
dizer que não está se referindo ao sinônimo de estatal, mas sim do que é coletivo. Política
pública é diferente de política estatal. A política pública é uma solução especifica para um
problema público.

Quando se fala sobre política pública, logo se pensa no atendimento das demandas dos
diversos grupos sociais com agendas distintas a serem assistidas cujo objetivo é a
transformação de sua realidade. O conceito de política pública para Di Giovani (2009) vai
além de uma simples intervenção do Estado em um determinado problema, mas sim uma
forma de exercício contemporâneo do poder nas sociedades democráticas que envolvem a
interação entre Estado e sociedade, de maneira que se chega a um ponto de equilíbrio em sua
curva de contrato, presumindo que essa relação perpassa pelo campo da economia e não
apenas de conceitos das ciências sociais.

Todo sistema econômico enfrenta o mesmo problema básico: a coordenação de


atividades que empregam recursos disponíveis de maneira a aumentar o bem-estar social, de
forma a reduzir os conflitos naturalmente gerados pela atividade econômica.

O autor coloca que para se ter uma concretização da definição desse conceito em uma
sociedade democrática, tal contexto precisa estar alicerçado em três requisitos importantes: 1)
a capacidade mínima de planificação consolidada nos aparelhos estatais seja do ponto de vista
técnico ou do ponto de vista político. Em outras palavras é necessário o equilíbrio das forças
políticas e instituições que regem a sociedade. Crises políticas agem como barreira para a
interação entre o Estado e o complexo sistema social, o que se pode dizer, do ponto de vista
econômico é que existe um equilíbrio eficiente de Pareto; 2) uma estruturação republicana,
isto é, a coexistência independente de poderes e vigência de direitos de cidadania, em outras
palavras, o comprometimento com a coisa pública, agindo para a promoção do Estado de
bem-estar social; 3) a capacidade coletiva de formulação de agendas públicas, isto é, o
exercício pleno da cidadania e uma cultura política compatível.

34
No entanto, um sistema complexo não dá condições de escolha e identificação da
melhor e mais eficiente política, deixando a cargo das instituições essa responsabilidade
através da normalização de suas regras, ou seja, padronização da melhor resposta diante das
diversas possibilidades. Mas isso não garante sua eficiência, devido às limitadas formas de
escolha que levam o indivíduo a sua otimização, haja vista sua racionalidade limitada. As
demandas sociais são infinitas, então, é preciso trabalhar na restrição de possibilidades,
unindo a demanda de um determinado grupo com a possível exequibilidade de uma política,
ceteris paribus outros elementos relevantes durante o processo.

A relação entre as habilidades cognitivas e o ambiente institucional faz com que o


Estado leve em consideração o tamanho da unidade produtiva, o grau de atualização
tecnológica do objeto da política, o volume de capital humano a ser empregado, a qualidade
do que será produzido e a capacidade de produção de P&D. As instituições têm um papel
importante na promoção do desenvolvimento por favorecerem a adoção de novas tecnologias,
fornecendo estruturas de incentivo na economia. De acordo com Becker (1962) a
disseminação da educação e o aumento do investimento em outros tipos de capital humano
foram, em grande parte, induzidos pelo progresso tecnológico.

No que concerne às definições há uma diferença entre política e politica pública. Pode-
se definir política como um conjunto de procedimentos formais e informais que expressam
relações de poder e que se destinam à resolução pacifica de conflitos quanto a bens públicos.
É importante evidenciar a política como a decisão tomada pelo homem para viver e criar o seu
modo de vida, levando em conta as diferentes relações sociais estabelecidas e as distintas
necessidades que compõem a sociedade. Tal decisão tem como fim o melhor estabelecimento
das relações que satisfazem as necessidades sociais e individuais.

Para entender melhor essa distinção, Frey (1999, p.4) apud Rua (2013, p.7) faz um
desmembramento da palavra a partir da sua definição inglesa – devido a uma importante
peculiaridade linguística e cultural, diferentemente do que ocorre com as línguas latinas -
diferenciando três esferas de atuação política, dentre elas a política pública:

1- Para os conteúdos da política, ou para a política pública, o autor utiliza o termo


policy, que se refere aos conteúdos concretos, a configuração de programas
políticos, aos problemas técnicos e ao conteúdo material das decisões políticas. Em

35
outras palavras, refere-se à formulação de propostas, tomada de decisões e
implementação de ações que afetam a coletividade, impactando interesses e
conflitos, o que beira mais ao campo da administração do que ao campo político. A
discussão sobre o sistema de cotas, que possibilitam o acesso de estudantes de
baixa renda, de raça, cor, entre outras às universidades se configura dentro desta
definição, uma vez que coloca em pauta a situação do sistema público de educação
do país e de que maneira se poderia começar a reverter o quadro da baixa
qualidade do ensino público, atuando como agente de justiça e igualdade social, o
que envolve diversas ações estrategicamente relacionadas para que sua
implementação aconteça.

2- O termo “política”, no inglês, politics, faz referência às atividades políticas: o uso


de procedimentos diversos que expressam relações de poder (ou seja, visam a
influenciar o comportamento das pessoas) e se destinam a alcançar ou produzir
uma solução pacífica de conflitos relacionados a decisões públicas. As
manifestações públicas ocorridas atualmente em protesto às diversas reformas
propostas pelo sistema de governo do país poderiam ser usadas para exemplificar
este termo, no entanto, a pauta, embora discutida abertamente com a sociedade,
não parte necessariamente de organizações governamentais, reduzindo os temas a
decisões políticas.

3- Por fim, o termo polity se enquadra ao ambiente institucional relacionado à ordem


no sistema político, regido pelo sistema jurídico e a estrutura do sistema político-
administrativo, a saber, a sociedade política. Como exemplos, têm-se atores
responsáveis pela elaboração de leis constitucionais, as quais são usadas como
parâmetros de ordem social. A perspectiva da política pública integra
adequadamente a dimensão jurídica e esta se auxilia dos insumos que as análises
de políticas lhes provém.

Segundo Aguilar Villanueva apud Saravia e Ferrarezi (2006):

“[...] nossa ‘teoria’ da administração pública ficou presa entre as considerações


jurídico-institucionais (repertórios de leis e regulamentos, âmbitos de competência e
jurisdição, instancias e procedimentos formais) e as considerações administrativas
menores sobre cumprimento de ordens e execuções de decisões prévias. Ao se
36
aproximar a administração pública do processo decisório das políticas e da sua
complexa colocação em prática, seria possível resgatar seu esquecido sentido
clássico de governo, de bom governo, e poder-se-ia reconstruir a visão integral de
seu objeto de estudo”.

As políticas públicas (policies) são o resultado das atividades políticas (politics) que
pela definição inglesa seria o processo político, frequentemente de caráter conflituoso, no que
diz respeito a imposição de objetivos, aos conteúdos e as decisões de distribuição, ou também
as ações e negociações dos representantes da sociedade nas diferentes esferas de poder.

É muito importante diferenciar política pública de decisão politica. Uma política


pública não envolve uma decisão isolada, mas necessita de um conjunto de ações
estrategicamente selecionadas para execução das decisões tomadas. Segundo Rua (2013) a
decisão política corresponde uma escolha entre várias alternativas, segundo a hierarquia das
preferências dos atores envolvidos, expressando – em maior ou menor grau – certa adequação
entre os fins pretendidos e os meios disponíveis no contexto de relações de poder e conflitos.

As políticas públicas são elaboradas para atender a demandas sociais, mas ao mesmo
tempo em que são geradas, automaticamente se cria a necessidade de uma contra demanda,
mais especificamente, um suporte, geralmente direcionado ao grupo ou classe política
governante para que haja resposta aos anseios sociais. Simplificando, isso se assemelha a um
contrato entre os agentes sociais e políticos. As demandas são expressas em tudo que seja do
interesse de determinado grupo, como por exemplo, reivindicações de bens e serviços, como
saúde, educação, estradas, transportes, segurança pública, normas de higiene e controle de
produtos alimentícios, previdência social, etc.

Um exemplo de suporte ou apoio seria a governabilidade recebida por um determinado


grupo, como forma de sustentação governamental expressa na obediência e cumprimento de
leis e regulamentos; atos de participação política, como o simples ato de votar ou apoio a um
partido político, o respeito às autoridades governantes e aos símbolos nacionais; a disposição
ao pagamento de tributos e prestação de serviços, como por exemplo, o serviço militar, etc.

Quanto as demandas, alguns aspectos devem ser considerados. Existem, basicamente,


três tipos de demandas: as demandas novas, as demandas recorrentes e as demandas
reprimidas:

37
1- As demandas novas são aquelas que resultam do surgimento de novos atores
políticos ou de novos problemas. Novos atores são aqueles que já existiam, mas
não eram organizados e aparecem quando passam a se organizar para pressionar o
sistema político. A bancada evangélica, grupos afrodescendentes, grupos de defesa
a mulher, são exemplos de atores que nos últimos anos se organizaram para
reivindicar seus direitos;

2- As demandas recorrentes são aquelas que expressam problemas não resolvidos ou


mal resolvidos, e que estão sempre voltando ao debate político e na agenda
governamental. Como exemplo, têm-se as reformas política e agrária que sofrem
procrastinação a anos;

3- As demandas reprimidas são situações que podem existir durante muito tempo,
incomodando grupos de pessoas e gerando insatisfações sem, entretanto, chegar a
mobilizar as autoridades governamentais. Neste caso, trata-se de um "estado de
12
coisas” que passa a preocupar as autoridades tornando-se uma prioridade na
agenda governamental, passando a ser um "problema político".

As demandas reprimidas envolvem problemas de tomada de não decisão, o que não


significa ausência de decisão, mas sim dificuldade de toma-las, pois ameaçam determinados
interesses ou que contrariam fortes e enraizados valores sociais. Essas demandas encontram
barreiras devido à profunda e intensa transformação que podem causar. Logo não se trata
apenas de um problema político, mas também social. Em outras palavras um estado de coisas
geralmente se transforma em problema político quando mobiliza ação política.

Políticas públicas envolvem atividades políticas com a atuação de diversos agentes,


dependendo da sua área de aplicação, uma vez que sua execução se relaciona a uma série de
interesses particulares, sendo necessária a identificação dos agentes envolvidos. Para isso
existem diversos critérios, entretanto, o mais simples e eficaz é identificar quem tem alguma
coisa em jogo na política, ou seja, quem pode ganhar ou perder com ela, quem tem seus
interesses diretamente afetados pelas decisões e ações que compõem a política em questão.

12
Algo que incomoda, prejudica, gera insatisfação para muitos indivíduos, mas não chega a constituir um item
da agenda governamental, ou seja, não se encontra entre as prioridades dos tomadores de decisão.
38
No meio rural o grupo de latifundiários é um desses agentes, que possui uma bancada política
expressiva de influência na elaboração de políticas públicas para o campo.

A política pública passa por duas abordagens de definição importantes: a


Estatocêntrica e a policêntrica. No conceito Estatocêntrico o termo público se refere aquilo
cuja decisão é revestida da autoridade soberana do Estado. Significa que não depende de uma
demanda social ou um problema que requer resposta, mas de um conjunto de ações que são
executadas e respaldadas pela lei, ou seja, é fundamental para o exercício do poder público.
Em outras palavras, a vertente Estatocêntrica depende de uma estrutura legal de
procedimentos institucionais governamentais. Esta política considera o problema político,
onde os governos são pressionados a responder sobre suas ações para determinado problema.

A abordagem policêntrica é a política não subordinada ao poder do Estado, mas focada


nas atuações pluralistas de diversos atores sociais, representados, por exemplo, por
organizações não governamentais (ONG’s). Isso leva a entender que políticas públicas não se
limitam a ações políticas governamentais, uma vez que o governo não é a única instituição de
serviço da sociedade. Segundo Rua (2013), essa abordagem tem como alvo o problema
público, que a partir do conceito de Secchi (2010, P.7) apud Rua (2013) considera que seria a
diferença entre a situação atual e uma situação ideal possível para a realidade social. Um
problema é considerado público quando causa uma série de implicações a uma parte da
sociedade.

Assim diferem-se políticas públicas governamentais - em que as ações executadas


servem de respaldo para os governos em função da pressão exercida pela sociedade - das
políticas públicas não governamentais - que atendem ao interesse público e não somente se
preocupam em dar respostas, mas também debater as demandas da sociedade com
participação popular. Em outras palavras são propostas formuladas e executadas por
organizações não pertencentes ao Estado.

Dentro do processo de política pública são destacados sete pontos sobre os quais ela
incorre, embora nem sempre siga essa sequência:

1- Agenda - Consiste em uma lista de prioridades pré-estabelecida e pouco


sistematizada pelo governo, que vai agir para a execução das demandas nela
39
contidas. Muitas vezes em busca de apoio político várias reivindicações são
incluídas na agenda política, porém sem a certeza de atendimento, já que o
governo tratará do conjunto de temas que achar mais conveniente, uma vez que a
representação de interesses toma o lugar de certas situações prioritárias para a
sociedade, sendo as atividades e decisões das autoridades públicas influenciadas
por certos atores através de argumentos persuasivos ou coercitivos de tal modo que
sejam favorecidos pelas tomadas de decisões dos atores governamentais13. Isso
impede clareza no que se refere a agenda política em função de diferentes tipos de
agenda incluídas. Entretanto, nesse processo há o reconhecimento de uma situação
ou demanda como um problema político, isto é, há todo um esforço em estudos,
modelos estatísticos e explicitação de um conjunto de processos que fazem com
que certa situação alcance um status de problema público.

Existe uma diferença entre agenda social e agenda governamental. A agenda social
se refere a lista de questões que preocupam as pessoas diariamente, como, por
exemplo, a desigualdade social, problemas de saúde, educação, moradia, etc. a
agenda governamental reúne apenas os problemas que um governo quer tratar, o
que depende muito da sua ideologia, projeto político, mobilização social,
conjuntura econômica, etc. Em outras palavras, uma agenda governamental é
formada por meio das demandas sociais em um determinado tempo.

2- Elaboração – É o processo de identificação e delimitação dos problemas,


proposição de possíveis alternativas, levantamento de custos e resultados de cada
uma e estabelecimento de prioridades. Ele ocorre paulatinamente com todo
cuidado organizacional, pois envolve entre outras coisas as preferências de cada
ator. Esse processo leva em consideração o levantamento estatístico de
informações relevantes de um determinado problema e a análise das preferências
dos atores, pois suas percepções e interesses individuais entram em todos os
estágios descritos, ou seja, todos estão envolvidos e divergem muitas vezes em
suas opiniões. A participação social também é importante, uma vez que várias
opiniões podem servir como base para orientar um caminho de maior satisfação

13
A formação da agenda é influenciada por atores governamentais (políticos eleitos democraticamente ou não,
membros do judiciário, funcionários do legislativo, empresas públicas, etc.) e atores não governamentais
(instituições de pesquisa, acadêmicos, sindicatos, organizações internacionais, empresas privadas, etc.).
40
para os segmentos sociais. Nada é decidido, apenas são apontados diferentes
formas de atuação e seus custos de oportunidade. A questão da discussão pública e
a participação social são centrais para a elaboração de políticas em uma estrutura
democrática.

3- Formulação – Nesse processo ocorre a documentação da melhor alternativa, isto é,


a alternativa mais conveniente na visão governamental, ou seja, as linhas de ação
foram adotadas. Isso pode gerar conflitos entre os atores, pois algumas
reivindicações não serão incorporadas nesse processo, nem no cálculo de
custo/benefício de cada ator, ou seja, as vantagens e desvantagens que cada um
atribui ao meio proposto para solução de um problema, o que não envolve apenas
ganhos financeiros, mas também elementos simbólicos, como prestígio; ou
elementos políticos, como ambições de poder, ganhos ou perdas eleitorais, etc.
Neste ciclo se têm os programas que serão desenvolvidos e as metas a serem
alcançadas, isto é, seus objetivos e o marco jurídico, administrativo e financeiro.

4- Implementação – Esse estágio do ciclo de elaboração de uma política pública é


constituído do planejamento e organização do aparelho administrativo e dos
diversos recursos necessários para a execução da política. O governo não pode e
não age sozinho nessa fase, mas trabalha na criação de uma rede de
relacionamentos necessária com outros atores, órgãos, empresas como forma de
abrir caminho para a execução da decisão tomada. Nas palavras de (Hogwood e
Gunn apud Saravia, 2006, p.34) a “implementação é possível se as circunstâncias
externas ao agente implementador não impõem obstáculos paralisantes” e
também se dispõe de tempo e recursos suficientes.

5- Execução – Segundo Saravia (2006, p.34) seria “o conjunto de ações destinado a


atingir os objetivos estabelecidos pela política. É por em prática efetiva a política,
é a sua realização”. Nesta etapa se tem o estudo das barreiras que surgem para que
o que foi documentado saia do papel, também conhecidas como barreiras
burocráticas. Muitas vezes para que as ações passem pela análise burocrática é
necessário um jogo de negociações político-institucionais para facilitar o processo
de execução.

41
6- Acompanhamento – É um processo sistemático de supervisão das etapas de
execução da política pública. Assim, caso ocorra algum problema, se tem
informações necessárias para as devidas correções ou mesmo estabelecimento de
uma agenda de decisão. Essa agenda consiste em um objeto de deliberação que
surge quase que inesperadamente em resposta a algum tipo de sinistro ou mudança
na conjuntura política, econômica ou social. Na agenda de decisão ocorrem
escolhas cuidadosas, que envolvem continuar ou dirimir processos decisórios
anteriores ou corrigir rumos de políticas já decididas.

7- Avaliação – Diz respeito a análise posteriori à execução da política pública na


sociedade, isto é, a verificação dos resultados obtidos ou não com sua aplicação
sobre determinado problema. Quais as implicações? Efeitos indesejados? Ela foi
eficaz quanto à satisfação das demandas sociais?

A avaliação é uma prestação de contas do avaliador para com a sociedade. Há uma


apreciação das políticas implementadas no que tange aos seus impactos efetivos.
Se nesse processo os objetivos foram alcançados, tal política pode ser suspensa ou
encerrar-se, caso contrário se inicia uma nova fase de identificação e definição dos
problemas existentes. A fase de avaliação é importante, pois contribui para o
desenvolvimento de novas formas de ação na sociedade.

A partir da visão de Sen (2002), se pode dizer que a ação pública complementará as
oportunidades individuais para superar as privações impostas ao indivíduo, além de condições
para a participação na vida econômica e política da sociedade. A ausência de políticas
públicas resulta em privação de liberdades, e quando estas se resumem a decisões políticas
ocorre a negação de oportunidades para a sociedade participar de decisões públicas cruciais.
Contudo, Sen (2002, p.163) orienta que “Mesmo em casos nos quais bons resultados
seriam absolutamente certos, isso não implica necessariamente que as tentativas na forma de
programas de políticas direcionadas a um público alvo produziriam esses resultados”.
Assim, o conceito de políticas públicas é evolutivo, uma vez que a realidade a que se refere se
encaixa em um processo de constantes transformações históricas e sociais nas relações entre

42
Estado e sociedade, a qual transpassa mediações de natureza variada, mas que se referem aos
processos de democratização das sociedades contemporâneas.

Assim o objetivo de tais políticas é aumentar as capacidades humanas e ampliação das


liberdades substantivas inerentes ao desenvolvimento socioeconômico. Fazem parte dessas
liberdades os serviços considerados essenciais para sobrevivência social como saúde,
educação, saneamento básico, etc. Ainda hoje, muitas cidades brasileiras não têm políticas
públicas para atender a maior parte da população que vive em situação de vulnerabilidade
social. Não obstante, as capacidades humanas tendem a impulsionar a execução de novas
políticas, em especial no que concernem as demandas apresentadas neste capítulo. Para Sen
(2002) “o êxito de uma sociedade deve ser avaliado, nesta visão, primordialmente segundo
as liberdades substantivas que os membros dessa sociedade desfrutam” (p.32). Por
conseguinte, diante da realidade social atual, as políticas certas podem ser um investimento
inteligente diante de um mundo incerto.

2.2 O Programas de Transferência de Renda Condicionada (PTRC)

As políticas de transferência de renda são políticas conservadoras baseadas na teoria


neoclássica que não atuam na transformação estrutural, no entanto tem um poder de impacto e
transformação social muito grande. A partir disso, o aporte teórico utilizado neste trabalho
remete a Fiszbein (2009), onde o mesmo trata sobre os Conditional Cash Transfers (CCTs),
que são entendidos como Programas de Transferência de Renda Condicionada (PTRC).
Esta parte do trabalho fornece uma compreensão conceitual dos PTRC, onde os
mesmos são transferências monetárias direcionadas aos pobres e condicionadas a certos
comportamentos dos indivíduos/Famílias receptoras. Mais especificamente, estas
transferências de dinheiro estão condicionadas aos níveis mínimos de uso de serviços de
saúde e educação, geralmente por e em benefício das crianças na casa.
Os governos têm recursos escassos seja para os PTRC, usado para aumentar o uso dos
serviços básicos elementares de saúde e educação ou para competir com outros projetos que
valham a pena, como comprar equipamentos escolares ou atualizar estradas rurais. Indaga-se
em manter crianças na escola ou fazer bom uso de fundos públicos com a compra de mais
livros e suprimentos ou melhorar a formação de professores para aumentar a qualidade da
43
educação prestada nessas escolas. Em outras palavras a interrogação é se vale a pena anexar
condições ao dinheiro?
Alguns economistas assinalam em pelo menos dois tipos de desvantagem associados
com condições fixas para transferências de dinheiro. Primeiro algumas famílias mais
necessitadas podem encontrar condições muito dispendiosas para cumprir com as
condicionalidades, seja porque postos de atendimento a saúde ou escolas são distantes de suas
residências. Segundo, as famílias que optam pelo benefício podem sofrer uma distorção
dispendiosa para o seu próprio comportamento por um pouco de dinheiro extra no curto
prazo, pois veem no trabalho infantil a vantagem de aumentar a renda familiar (considerando
aqui também a zona rural e seus trabalhos de uso da terra e colheita da lavoura) contra
argumentando as deficiências da escola local ou do posto de saúde. Essas assinalações acima
são tratadas como transferência de renda não condicionadas, ou seja, que não dependem do
comportamento condicional das famílias pobres, mas sim do comportamento dos tomadores
de decisões no governo que idealizam agentes racionais informados, governos benevolentes e
mercados em funcionamento.
Em geral, se ouvem dois argumentos contra os PTRC: primeiro, a pobreza é melhor
reduzida pelo crescimento econômico, particularmente nos países mais pobres. Nesses países,
os esforços fiscais e administrativos são de baixa capacidade, e os governos devem se
concentrar em fornecer infraestrutura básica (que poderia incluir estradas e portos, bem como
escolas e clínicas). Nessa vertente, o dinheiro transferido para uma grande maioria pobre é
visto como tendo um menor retorno futuro do que o investimento público em capital. O
segundo argumento contra transferências de dinheiro é que eles fornecem incentivos errados
aos destinatários, como a desutilidade do trabalho, o que poderia gerar baixa produtividade,
desencorajando a oferta de mão-de-obra ou o investimento em capital humano para um futuro
emprego remunerado.
Contra argumentando o que foi colocado acima, primeiro, na maioria dos países em
desenvolvimento, despesa pública em infraestrutura e serviços públicos muitas vezes não
atinge os muito pobres. No Brasil, por exemplo, até 2003, uma boa parte de regiões de zonas
rurais não eram assistidas por energia elétrica até a criação do Programa Luz para Todos,
além de um alto déficit em serviços de atendimentos básicos de saúde, que começou a ser
sanado a partir de 2011 com o Programa Mais Médicos. Em casos assim, as transferências
monetárias podem se mostrar mais direcionados aos pobres de forma mais efetiva do que

44
outras formas de despesa pública, contribuindo para a redução da pobreza de maneira que o
investimento público direto não contribui.
Outra colocação é que os mercados raramente funcionam perfeitamente na prática e às
vezes eles falham em impedir que as pessoas pobres sejam tão produtivas quanto eles
poderiam ser. Como exemplo, tem-se a restrição ao crédito às famílias em uma economia de
mercados de capitais imperfeitos. Uma transferência direta de dinheiro para essas famílias
podem capacitá-los a realizar um projeto eficiente. Assim as transferências condicionadas de
renda são equitativas, por permitirem que as pessoas tenham mobilidade social e eficiente por
ter o capital melhor alocado na economia.
Diante da volatilidade de renda, os PTRC suavizam algumas flutuações, aumentando o
bem-estar doméstico, o que significa dizer que as famílias que não possuem renda fixa ou
renda permanente contam com as transferências do governo que permitem a complementação
da renda auxiliando, principalmente em alimentação.
É preciso colocar que as desigualdades observadas no mundo têm características
herdadas dos pais, as quais os indivíduos não têm controle, como raça ou gênero,
configurando em desigualdade de oportunidades, o que Sen (2002) trata como privação e
liberdade. As transferências de dinheiro podem ser instrumentos adequados para compensar
as famílias, em forma de segurança protetora com o objetivo de garantir institucionalmente o
funcionamento de mecanismos de proteção social à população para que a mesmas não
venham a sucumbir diante da fome, da miséria e até mesmo da morte. Programas sociais
assim como programas de transferência de renda agem como forma de proteção as camadas
da sociedade em situação de extrema vulnerabilidade.

Quanto as idealizações citadas pelos governos, os agentes não são racionais, ou seja,
nem sempre se comportam exatamente como seria de esperar plenamente informados.
Informações privadas sobre a natureza de certos investimentos, ou sobre os retornos
esperados, podem ser imperfeitas e persistentes. O segundo argumento é que os governos
tipicamente não se comportam como voluntários e benevolentes, uma vez que as decisões
políticas geralmente resultam da tomada de decisões e processos que envolvem votação,
lobby, burocracia e negociações que não permitem espaço para as demandas sociais
proeminentes. O terceiro argumento é que o mercado não é perfeito, assim, os níveis de
investimento em capital humano pelos pobres não podem ser socialmente otimizados, por
causa da presença de falhas de mercado, particularmente, externalidades.

45
Musgrave (1959) apud Fiszbein (2009) descreve os chamados bens de mérito que
implicam diretamente na função de bem-estar social em que a sociedade deriva utilidade de
todos os que são educados ou de todos os que têm acessos decentes a habitação ou cuidados
de saúde - além dos benefícios decorrentes de cada indivíduo de seu próprio consumo desses
bens. Esse conceito pode ser usado em um contexto paternalista em favor dos PTRC, onde o
governo age como um impulsor social através das transferências monetárias proporcionando
um incentivo para o consumo adicional dos bens de mérito, argumentando que uma vez que
deixadas para seus próprios dispositivos, as pessoas de alguma forma não são capazes de
escolher o que é de melhor interesse.
Fiszbein (2009) coloca que o modelo de bem-estar individual depende do consumo em
dois períodos - infância e idade adulta, ou seja, envolve um trade off entre o bem-estar
presente e futuro, uma vez que o trabalho exercido na fase infantil, sacrificando o tempo gasto
em aquisição de conhecimento prejudica o consumo e qualidade de vida na fase adulta.

Figura 1 Escolha de investimento em crianças com mercados de crédito


ausentes

Fonte: Fiszbein (2009)

A função de investimento escolar fornece a demanda familiar para a escolaridade,


dada a taxa de salário da criança prevalecente (𝑊𝑚 ) e um conjunto de parâmetros adicionais,
como os retornos esperados para a escolaridade, a taxa de desconto, a qualidade da educação
esperada da escola, e outros rendimentos disponíveis para a família (ponto A). Quando não se
é capaz de enxergar as vantagens dos retornos educacionais (pois é possível que grandes

46
grupos de pessoas acreditem que os retornos para a educação são menores do que realmente
são), a taxa de salário declina para baixo: quanto maior o custo de oportunidade de
comparecer escola, menor o investimento desejado na educação (ponto B), representando
ineficientemente baixo nível de escolaridade.
Mudanças nos argumentos restantes alteram a função para cima ou para baixo neste
espaço, representados pelos pontos C, ou seja, uma transferência de renda não condicionada.
No entanto, um investimento com transferência de renda moveria o indivíduo ao longo da
função de investimento para cima e para a esquerda, para uma posição melhor, adicionando
um efeito de substituição ao efeito de renda, onde permite ao indivíduo escolher o nível de
escolaridade que lhe convir, tendo em vista que mais escolarização, reduz sua renda no
presente, no entanto, pode aumentá-la no futuro, representada nos pontos D e E, implicando
um maior nível de investimento na escolaridade.
O ponto B pode ser identificado como uma desinformação persistente em relação aos
retornos a educação ou até mesmo ao nível de instrução que os pais ou qualquer outro
indivíduo pode ter em relação a diversos assuntos relacionados a saúde e qualidade de vida. O
autor considera, também que dentro do ambiente familiar sempre existe um conflito de
interesses por parte dos pais, onde a mãe está mais alinhada ao interesse da criança do que o
pai, que opta muitas vezes por um consumo imediato, que geralmente se dá através de
empréstimos sem o compromisso com o investimento que este pode auferir. (Thomas 1990;
Hoddinott e Haddad 1995; Lundberg, Pollak e Wales 1997; Quisumbing e Maluccio 2000;
Attanasio e Lechene 2002; Rubalcava, Teruel, e Thomas 2004; Doss 2006; e Schady e Rosero
2008) apud Fiszbein (2009) mostram empiricamente que quando as mães têm maior controle
sobre os recursos, mais recursos são alocados para alimentação e saúde e educação infantil, o
que respalda o seu manuseio do recurso.
Existe também o argumento da economia política sobre os PTRC, onde os tais
precisam ser financiados, logo, os programas de transferência de renda tem caráter
redistributivo, gerado por meio da arrecadação de impostos e mensuração do produto interno
bruto, gerando assim, o que se chama de indução de demanda, permitindo maior competição
no mercado. Com isso, se tem que um PTRC não pode ser visto como uma simples assistência
social, mas sim como parte de um contrato social e elemento propulsor da economia, pelo
qual a sociedade (através do estado) e as famílias pobres se esforçam para melhorar suas
condições de vida.

47
O contrato entre o Estado e os beneficiários se manifestou no uso do termo
corresponsabilidades. A responsabilidade compartilhada e o respeito não são apenas pré-
requisitos para efetivamente combater a pobreza, mas são elementos essenciais de uma
sociedade democrática. Embora o crescimento econômico impulsionado pelo mercado seja
provavelmente o principal motor da redução da pobreza na maioria dos países, os mercados
não podem fazê-lo sozinho. A política pública desempenha um papel central no fornecimento
das fundações dentro das quais os mercados operam no fornecimento de bens públicos, e na
correção das falhas do mercado. Assim, os PTRC funcionam como um instrumento
habilitador, que cria políticas de viabilidade para redistribuição direcionada que atinge
efetivamente os pobres.

2.3 O Programa Bolsa-Família (PBF) como política pública

Os países da America Latina, ao desenvolverem programas de transferência de renda


condicionada, tiveram por objetivo cumprir o plano de desenvolvimento do milenio.14 O
interesse é que tais programas busquem usar o dinheiro para incentivar investimentos
domésticos na educação infantil. Atualmente, praticamente todos os países da America Latina
possuem algum tipo de PTRC, pois é uma forma de reduzir a desigualdade, promovendo
saúde infantil, nutrição e escolaridade. As transferências geralmente foram bem direcionadas
para famílias pobres, elevando os níveis de consumo e reduzindo a pobreza - em uma
quantidade substancial em alguns países. Entre os principais programas desenvolvidos, o
Programa Bolsa Família (PBF) merece destaque neste trabalho.

Desde sua criação, o Programa Bolsa Família (PBF) se tornou objeto de inúmeras
críticas, por ser equiparado, equivocadamente a simples programa assistencialista e não como
uma política capaz de mitigar a pobreza e a desigualdade social. Diante disso, é preciso
esclarecer o que é e como o programa funciona a fim de desfazer mitos que giram em torno

14
As metas do milênio foram estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2000, com o apoio
de 191 países nações. Para maior entendimento segue o link
https://www.unicef.org/brazil/pt/overview_9540.htm

48
dele. Outra questão a ser colocada é a transição pela qual passa o programa, deixando de ser
uma política de governo para ser uma política de Estado.

O PBF está inserido em uma política de redistribuição de renda, assim é preciso


discorrer sobre a historicidade do processo de redistribuição de renda e seguridade social no
Brasil até chegar à atual fase de manutenção do programa, que passou pelo processo de
unificação de outros programas de garantia de renda existentes na realidade brasileira dos
anos de 1990.

Segundo Martinelli (2009) apud Preto (2015) as primeiras iniciativas de construção de


um sistema de proteção social no Brasil remontam aos anos de 1930, período em que ocorre
uma transição da economia, inicialmente baseado em um modelo agroexportador para a
consolidação do processo de industrialização.

Após o golpe militar de 1964 o país passou um processo de modificação política e


social, migrando de um sistema paternalista e populista para um sistema mais centralizado e
tecnocrático. Para atender o modelo econômico adotado pelos militares houve uma política
sincrônica de assistencialismo/ privatismo da seguridade social, que significou o aumento dos
sistemas de previdência e saúde por parte do Estado em decorrência do crescimento do
número de trabalhadores, houve também a privatização da assistência medica social e a
criação da previdência privada complementar.

Na década de 1970, ainda com o milagre econômico, se evidenciou que mesmo casos
bem-sucedidos de crescimento econômico, as taxas adequadas de expansão do produto não
necessariamente se difundiam através da sociedade.

Segundo Pereira (2000, p.144) apud Azevedo (2007, p.69) no contexto de abertura
militar no início da década de 1980 “a política social passou a ser estrategicamente
intensificada, não como respostas conscienciosa às necessidades sócias, mas como uma via
de reaproximação do Estado com a sociedade”. O período de redemocratização rompeu com
a política de seguridade social do governo militar, abrindo espaço para uma nova formulação
de política assistencial que culminaria na constituição de 1988, com uma concepção e
proteção social mais universalista e democrática e um sistema de seguridade social em defesa
do direito de cidadania.

49
Esse novo sistema de seguridade seria, agora dirigido para uma parcela da população
antes desassistida como família, gestantes, crianças, adolescentes, idosos, pessoas portadoras
de deficiência e desempregados afetados em suas necessidades físicas. Isto é, se pode dizer
que o novo contexto social levou a uma formulação de política pública que atendesse um
segmento da sociedade carente de assistência. A política pública é formulada de acordo com a
configuração política, econômica e social de uma sociedade, ou seja, surge da observação e
estudo de um cenário social, visando o atendimento de necessidades ora elementares ora
necessárias para o desenvolvimento.

Dentro do que se trata sobre política pública, o conceito de necessidades orienta a


discussão em torno de programas de transferência de renda mínima. No final da década de
1980 houve a configuração de uma nova dinâmica política e econômica mundial. O consenso
de Washington, em 1989, funcionou como um novo receituário de políticas neoliberais no
mundo, com uma série de recomendações que orientariam o processo de desenvolvimento
econômico mundial sem piorar a distribuição de renda. Esse encontro se baseou em torno de
três ideias principais: abertura econômica e comercial, aplicação da economia de mercado e
controle fiscal macroeconômico. Para Silva et al (2016):

“A falta de políticas públicas de cunho social de forma focalizada em décadas


anteriores a 1990 deve-se, no caso dos países latino-americanos, a problemas
macroeconômicos em que se destacam a contração de empréstimos internacionais
nas décadas de 1960/1970 e a consequente dívida externa. Tendo como marco a
Moratória do México, foi na década de 1980 em que a rolagem e o não pagamento
da dívida impactaram nas contas nacionais, acompanhada de elevada inflação
interna dentre outros problemas que foram sanados na última década do século XX
com planos de estabilização econômica” (MAGRO e REIS, 2011 apud SILVA et al.
2016).

O Brasil foi um dos países que aplicou mais rapidamente a política neoliberal,
permitindo que a reestruturação produtiva do neoliberalismo atingisse particularmente os
sistemas de proteção social brasileiro ao longo dos anos 1990. Nesse período o país passou
por um processo de contradição social no que se refere à relação entre a constituição de 1988
e o projeto neoliberal seguido pelo governo brasileiro. Esse projeto compreende a
desestatização, desregulamentação econômica e social, a privatização do patrimônio e
serviços públicos e a flexibilização do trabalho e da produção. Logo, para Neto (2003, p. 88)

50
apud Azevedo (2007, p.71) “a política social aparece inteiramente subordinada à orientação
macroeconômica que, por sua vez, é estabelecida pelos ditames do grande capital”.

A nova ordem mundial abriu as portas para novas tendências no mercado de trabalho,
contribuindo para o aumento do número de desempregados, aumento da exclusão e
desigualdade social, e da violência, em decorrência da insuficiência de renda da maior parte
da população. A política neoliberal contribui apenas para a reprodução da dinâmica de
desigualdade na sociedade intergeracional, até que se crie uma política capaz de romper com
esse processo.

Ao longo dos anos 90, no Brasil, se teve ensaios de projetos aprovados no senado
federal sobre programas de redistribuição de renda mínima, como por exemplo, um sistema de
imposto de renda progressivo, semelhante ao executado pelo governo norte-americano15, em
que as pessoas que ganham abaixo de um determinando montante recebem pagamento
suplementar do governo em vez de pagar impostos ao mesmo. No entanto, devido, entre
outras coisas, ao sistema meritocrático, se criou o mito de que ao redistribuir renda a pessoas
marginalizadas economicamente, contribuir-se-ia para o desestimulo ao trabalho. Além disso,
argumentos como a insuficiência de recursos fiscais, a dificuldade de fiscalização dos
rendimentos individuais e o problema da corrupção no Brasil, nortearam o definhamento de
tais projetos.

O caso americano analisado por Rothstein (2010), mostra a diferença entre dois
programas de redistribuição de renda que foram importantes e que segundo Saez (2002) apud
Rothstein (2010) seriam pioneiros para os demais programas implementados na América
Latina: o EITC e o NIT. O EITC16 (Earned Income Tax Credit) é um credito reembolsável
para trabalhadores que ganham rendimentos baixos ou moderados e que estimula a
participação da força de trabalho, principalmente entre solteiros.

15
NIT: Negative income tax: um sistema de subsídio de renda através do qual as pessoas com menos de uma
determinada renda anual recebem dinheiro do governo em vez de pagar impostos a ela. Nele, pessoas que
ganham acima de um determinado nível de renda pré-determinado pagariam uma proporção de seus
rendimentos. Para maior conhecimento, acessar o site <
https://www.investopedia.com/terms/n/negativeincometax.asp>

51
Este crédito destina-se a complementar o rendimento que ganhou por meio da redução
de seus impostos. A diferença entre este programa e o NIT (Negative Income Tax) é que o
EITC é destinado a trabalhadores ou famílias com rendimento do trabalho, enquanto que o
NIT é designado a não trabalhadores. Em sua análise de eficiência O EITC induz as mulheres
a fornecer mais mão-de-obra e, portanto, produz um aumento de renda além da transferência
de imposto direto. Em sua simulação, Rothstein estima que os rendimentos das mães de baixa
habilidade aumentariam em US$ 1,39 por cada dólar gasto no programa, enquanto que US$1
investido no NIT produz um aumento de US$0,97 nas rendas após os impostos de mulheres
com filhos e um aumento de US$ 0,42 para mulheres sem filhos. Ou seja, o efeito
multiplicador do EITC é maior que o do NIT.

Diante do cenário de reprodução da dinâmica da desigualdade, a partir de meados dos


anos 90 se abriu espaço para discussões em torno do tema de redistribuição de renda mínima,
tratando do tema, não como um incentivo à ociosidade, mas como um mecanismo de
complementação de renda, diante da histórica dificuldade de elevação dos salários reais e
diante da realidade das famílias brasileiras, objetivando a retirada de crianças e adolescentes
das ruas, combatendo, também o trabalho infantil, que era usado como forma de
complementar a renda familiar, contribuindo para a evasão escolar de criança/adolescente e
expondo a toda sorte de mazelas e influências negativas.

Até outubro de 2003, os programas de transferência condicionada de renda que


iniciaram no Brasil surgiram primeiramente em nível local seguindo a dinâmica de
valorização educacional. Cidades como Belém (PA), Santo André (SP), Camaragibe (PE),
trabalharam na implantação dos programas Bolsa Familiar para a Educação - Bolsa Escola,
Programa Integrado de Inclusão Social e Programa Administração Participativa,
respectivamente.

No início dos anos 2000, a implantação de alguns programas de transferência de renda


a nível federal foi importante para o reforço à renda familiar, no entanto agiam de forma
descentralizada, entre alguns ministérios. Entre eles destacam-se o Programa Nacional de
Renda Mínima vinculada ao Ministério da Educação Bolsa Escola (abril de 2001), Programa
de Renda Mínima vinculada ao Ministério da Saúde, Bolsa-Alimentação (Setembro de 2001),
Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, Programa Agente Jovem; o Programa de
Auxilio Gás, coordenado pelo Ministério de Minas e Energia (Janeiro de 2002), entre outros.

52
Tais programas tiveram como referência programas sociais e de transferência de renda
de grandes resultados na América Latina, a exemplo do Progresa-Oportunidades no México -
que começou com cerca de 300 mil famílias beneficiárias em 1997, abrangendo 5 milhões de
famílias em 2001 - e do Chile Solidário, que trazem similaridades entre si no sentido de
apresentarem soluções quanto ao problema da desigualdade, mas que apresentam
particularidades quanto as suas execuções. Na Colômbia, por exemplo, O objetivo inicial do
Programa Famílias en Acción (PFA) foi de 400 mil famílias, mas se expandiu para 1,5
milhões de famílias beneficiárias até 2007.

Esses e outros programas foram instrumentos importantes para a implementação do


Programa Bolsa Família (PBF), criado com a premissa básica de combate a pobreza e que
vem obtendo expressivo destaque ante as atuais transformações econômicas e sociais pelo
qual o país vem passando nos últimos anos. O programa teve início com bolsas municipais em
Brasília e Campinas, o que levaram à replicação pelos governos locais, seguido da formulação
de programas federais específicos do setor, e depois sua unificação e reforma. Em 201517, o
PBF atingiu 13,7 milhões de famílias, o equivalente a quase 50 milhões de pessoas.

As políticas públicas voltadas para elaboração de programas de transferência de renda


fazem com que essas estejam estruturadas de uma maneira que não desencoraje seus
beneficiários a procurar outras formas de escapar da pobreza. Os PTRC provocam um fluxo
constante de renda, no entanto mesmo o melhor PTRC não pode atender a todas as
necessidades de um sistema de proteção social.

Apesar de ter como base de implementação os programas de transferênncia de renda


de alguns paises como o Mexico, o PBF do Brasil fornece algo de um contraste interessante
com o caso mexicano. Segundo Fiszbein et al.(2009, p.6) “the Brazilian programs did not
explicitly incorporate impact evaluations in their design; as a result, much less is known
about the effect they have had on consumption, poverty, health, nutrition, and education”.
Os PTRC ao serem implementados em um determinado país levam em consideração
sua realidade social. As circunstâncias se diferenciam entre países. Considerando a realidade
brasileira, as heterogeneidades regionais se caracterizam em suas especificidades

17
http://www2.planalto.gov.br/noticias/2015/05/bolsa-familia-repassa-R-2-3-bilhoes-para-quase-50-milhoes-de-
brasileiros

53
circunstanciais. Algumas regiões, como o nordeste recebe uma atenção maior devido a
elevada vulnerabilidade social e econômica provocada, entre outras coisas pelo fenômeno da
seca.

A partir de 2003 passa-se a discutir e a adotar uma política nacional de distribuição de


renda voltada para a redução da pobreza e para o combate a fome. No entanto é preciso
entender que políticas públicas precisam atuar na base de um problema social, pois quando ela
adiciona massa crítica de vários segmentos sociais, sejam profissionais ou não, a orientação é
para reformas estruturais com vista a eliminar as raízes da desigualdade e não apenas reduzir
ou minimizar a exclusão social e o combate a fome e a pobreza. Em outras palavras quando se
trabalha em uma política pública nacional voltada para esse tema, envolve uma ação
coordenada adequada as reais necessidades da população desassistida, requerendo uma forte
intervenção estatal com o intuito de fortalecer a cidadania.

A defesa dos PTRC não está baseada no assistencialismo, mas na criação de


oportunidade de crescimento e desenvolvimento econômico e social, influenciando o
comportamento adulto da família para o que é considerado elementar, como, por exemplo,
investimentos na saúde e educação dos seus membros mais jovens.

Para Rogê (2013) diversos trabalhos têm mostrado como os PTRC, especialmente o
PBF têm contribuído para a redução da desigualdade de renda e da pobreza, além de
promoção e inclusão social com garantias básicas de vida e a elevação do capital humano,
além de também agir sobre o estímulo econômico da região. Cotta (2009, p.98) apud Rogê
(2013) divide os objetivos dos PTRC em: imediatos, mediatos e finais:

“Desta forma, os objetivos imediatos estão voltados à ampliação e disseminação às


famílias pobres ao acesso aos serviços de educação e saúde; os objetivos mediatos
são o desenvolvimento da escolaridade, estado de saúde e nutricional das famílias
pobres e, consequentemente, à melhoria dos indicadores de saúde e educação; e os
objetivos finais se traduzem na ruptura do que a autora definiu como “ciclo
intergeneracional de pobreza” que se dá via inserção positiva dos jovens no mercado
de trabalho” (ROGÊ, 2013, p.4).

Assim, Medeiros (2003) apud Rogê (2013,p 5) define os eixos de políticas públicas
para o combate da pobreza no curto prazo “como políticas compensatórias focalizadas nos

54
grupos excluídos do pacto dominante que ainda são eficientes, segundo a literatura, em
reduzir o grau de concentração de renda, para o caso brasileiro”. Segundo o autor, há
ineficiência no combate à pobreza quando adotada apenas a estratégia de transferência
monetária. Essa transferência precisa ser acompanhada por outras ações do governo que se
traduzem nos mecanismos de longo prazo.

Em se tratando do PBF, é interessante observar o crescimento enorme nos últimos 10


anos de seus beneficiários. Todavia, infelizmente, não houve o cuidado de experimentar
condições que concentrem nos resultados ao invés de apenas nos serviços.

Considerada pedra fundamental, a Medida Provisória n° 132 de outubro de 2003,


instituiu o Programa Bolsa Família (PBF), estabelecendo a unificação de procedimentos e
ações de assistências de vários ministérios, que tinha dentre outros problemas a existência de
hiatos na população econômica e socialmente vulnerável, expressa em determinadas
inadequações no preenchimento dos campos cadastrais do CadÚnico dificultando a
mensuração das informações.

Efetivamente, o PBF foi criado em 09 de janeiro de 2004, através da Lei nº


10.836/2004 e regulamentado pelo Decreto n° 5.209 de 2004, onde são estabelecidas
condicionalidades para o recebimento do benefício, isto é, as condicionalidades devem ser
entendidas como um contrato entre o poder público e as famílias contempladas.

O Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) determina um tripé social, tendo


como eixos de execução: 1- a redução imediata da extrema pobreza; 2- reforço e estímulo ao
acesso de serviços básicos como as áreas de saúde, educação e assistência social, provocando
as famílias a romperem o ciclo da pobreza entre gerações; 3- integração e articulação com
outras ações e programas complementares dos governos em suas três esferas federativas,
como forma de superar a vulnerabilidade econômica e social.

O PBF tem como objetivo minorar de imediato a pobreza e, por consequência, a


desigualdade de rendimento, principalmente entre as famílias que vivem em situação de
extrema pobreza, propondo uma solução para a unidimensionalidade da pobreza. O critério de
elegibilidade do programa é centrado na renda familiar, sendo utilizado um limite de renda
para definir os patamares citados: todas as famílias com renda de até R$ 85,00 mensais por
pessoa e famílias com renda entre R$ 85,01 e R$ 170,00 mensais por pessoa, contanto que
55
tenham dependentes de 0 a 17 anos18. No entanto, outros critérios são básicos imprescindíveis
para a inclusão da família no cadastro único para programas sociais (CadÚnico), como a
estrutura urbana de saneamento e de moradia, por exemplo.

Tabela 1- Critério de elegibilidade e valores dos benefícios de 2004 à 2014

Critério de elegibilidade
Quantidade maxima por tipo de benefício Valor do benefício (R$)
Ano (R$) Maximo repassado (R$)
Porbre Extrem. Pobres Básico Variável BV BVJ Básico Variável BV BVJ
2004 100 50 1 3 - - 50 15 - - 95
2005 100 50 1 3 - - 50 15 - - 95
2006 120 60 1 - 3 2 50 - 15 18 131
2007 120 60 1 - 3 2 58 - 18 30 172
2008 137 69 1 - 3 2 62 - 20 30 182
2009 140 70 1 - 3 2 68 - 22 33 200
2010 140 70 1 - 3 2 68 - 22 33 200
2011 140 70 1 - 3 2 68 - 22 33 200
2012 140 70 1 - 5 2 70 - 32 38 306
2013 154 77 1 - 6 3 70 - 32 38 376
2014 154 77 1 - 6 3 77 - 35 42 413
Fonte: Elaboração do autor com base nas informações do MDS

Atualmente, o programa repassa quatro tipos de benefício: Básicos (R$ de 85,00,


pagos apenas a famílias extremamente pobres, com renda per capita igual ou inferior a R$
85,00; Benefício Variável (BV) (de R$ 39,00, pagos por criança de zero a 15 anos, gestantes
e/ou nutrizes, limitado a cinco benefícios por família); Benefício Variável Vinculado ao
Adolescente (BVJ) (de R$ 46,00, pagos por cada jovem de 16 e 17 anos, no limite de até dois
jovens por família); e o Benefício para Superação da Extrema Pobreza de Caráter
Extraordinário (BVCE), cujo valor é calculado caso a caso, em situações de extrema
vulnerabilidade, mas que continuem com renda mensal por pessoa inferior a R$ 85,00.

A desigualdade de renda está inserida dentro das demandas recorrentes, como um


problema mal resolvido e que nunca sai da agenda política. No entanto, é necessário discutir
mecanismos de redistribuição como forma de atender essas demandas, com destaque para
redistribuição direta19, que contribui para a o aumento da desigualdade de renda e

18
Dados atualizados para 2017

19
PIKETTY, Thomas. A Economia da desigualdade/Thomas Piketty; tradução André Telles – 1. Ed.- Rio de
Janeiro: Intrínseca, 2015.

56
redistribuição fiscal20, em que se tem ganho econômico e social como forma de minorar o
problema.

A redistribuição direta diz respeito à incidência de imposto sobre o número de


trabalhadores que uma empresa contrata, em outras palavras, ocorre quando se tem um
aumento do salário mínimo ou aumentos de contribuições sociais paga pelas empresas e por
cada trabalhador, o que faz com que o trabalho encareça em relação ao capital, fazendo com
que as empresas prefiram utilizar mais capital a trabalho, contribuindo para dinâmica do
desemprego. A redistribuição fiscal seria o imposto incidente sobre o lucro das empresas
independentemente do número de trabalhadores, não aumentando o preço do trabalho pago
pelas mesmas, possibilitando financiar transferências sociais, melhorando a redistribuição e
obtendo uma fonte de alocação eficiente de recursos.

Os programas de transferência de renda como o PBF em termos de redistribuição


fiscal amenizam as consequências e efeitos da desigualdade através de medidas sociais que
elevam os padrões de vida para a região amazônica.

Quando se fala de eficiência remete-se a capacidade de produzir o máximo de


resultados com o mínimo de recursos, energia e tempo, em outras palavras, produzir o
máximo com o mínimo de desperdício, associado à racionalidade-produtividade, o que
envolve ação, força de vontade e virtude para produzir. A eficácia mostra a relação entre os
resultados pretendidos e resultados obtidos, o nível em que se alcançam os objetivos e metas
sem levar em consideração os custos para isso. Por vez, a efetividade diz respeito ao resultado
concreto ou as ações oriundas a partir desses resultados, ou seja, os fins, objetivos e metas
desejadas. Estabelece a ação entre o resultado e o objetivo.

Avaliações de impacto de efetividade e eficácia de políticas públicas são importantes


para analisar a objetividade do programa e até mesmo detectar a existência de necessidade de
mais ações públicas para melhorar seus resultados. O PBF não é apenas um programa de
proteção social limitado apenas à transferência monetária, mas um programa onde suas
contrapartidas são consideradas mais importantes, pois incentivam o aumento de capital
humano e conduz a maior segurança alimentar, e sua avaliação eficaz só pode se dá por meio
de uma análise de série temporal.

20
Idem

57
Os programas de transferência de renda como o PBF são uma redistribuição eficiente
de renda entre os que possuem pouca e/ou nenhuma qualificação, já que permite redistribuir
renda sem aumentar o preço do trabalho e, também, o programa mostra a sua eficiência, uma
vez que os recursos utilizados para atender seus beneficiários giram em torno de 0,4% do PIB.
Para ter uma redistribuição de renda eficiente é necessário não encarecer o preço do trabalho,
pois ocorrendo isso, os postos de trabalho sofrerão significativa diminuição para os menos
qualificados, uma vez que a produtividade não compensaria o preço do trabalho.

O PBF em termos de redistribuição fiscal ameniza as consequências e efeitos da


desigualdade através de medidas sociais que elevam os padrões de vida para a sociedade. A
atual dinâmica do mercado de trabalho é influenciada por uma redistribuição fiscal, onde se
permitiu nos últimos anos a inserção ao mercado de trabalho dos pouco qualificados levando
em consideração a não elevação do preço do trabalho e aumento de seu nível educacional.

Entre os diversos trabalhos realizados para analisar a efetividade do programa, se


destacam o de Silva et al (2016), que em seu estudo tem como objetivo principal analisar o
efeito de curto prazo do PBF sobre o mercado de trabalho (horas trabalhadas e renda do
trabalho) das famílias pobres do Brasil. Para isso, o autor utiliza a metodologia do estimador
do Efeito Quantílico do Tratamento (EQT) semiparamétrico e não condicional proposto por
Firpo (2007), que capta, por quantis, o impacto distributivo do programa para o Brasil como
um todo, nas cinco regiões brasileiras e nas zonas rurais e urbanas.

Utilizando os microdados do Censo Demográfico amostral de 2010, constatou-se que a


maior parte dos beneficiados pelo PBF reside na zona urbana (2.057.056 famílias), contra
1.634.652 famílias que residem na zona rural, representando 60% e 37% da população pobre,
respectivamente. Quando analisadas por região de forma isolada, observou-se que a maioria
dos beneficiados do PBF reside no Nordeste brasileiro, representando 60,16% da sua amostra
de 531.461 observações. Para a região Norte, o percentual foi de 43,20% das 122.410
famílias, ao passo que esse percentual no Sul do Brasil foi de 31,60% das 82.192 famílias
residentes. As regiões Sudeste e Centro-Oeste possuem menos de 30% da população
beneficiária do programa.

A análise ainda indica que famílias que possuem o benefício recebem quase R$30,00
per capita a mais em comparação as que não recebem. Por outro lado, possuem renda do

58
trabalho inferior, pois recebem quase R$40,00 per capita a menos, o que segundo o autor pode
estar relacionado a baixa escolaridade do chefe de família.

Avaliando a distribuição apenas pela mediana, o autor verificou os mesmos resultados


encontrados pela maioria dos artigos que avaliam o impacto do Bolsa Família, o de não
impactar no mercado de trabalho. No entanto, quando verificado o efeito esforço para as
famílias que trabalham em média 10h semanais, os beneficiários do PBF trabalham em média
2h a mais em comparação aos não beneficiários, e essa diferença sobe para 3h para as famílias
residentes na zona rural (SILVA, 2016).

O autor ainda verificou o efeito preguiça para os quantis 0,35 e 0,75, isto é, para
aqueles que trabalham 25 e 45 horas semanais, respectivamente. No primeiro caso, os
beneficiados pelo programa trabalham em média 5h a menos em comparação aos não
tratados. No segundo caso, essa diferença é de 3h a menos para o urbano e 1h a menos para o
Brasil. Entretanto, esse resultado pode ter se dado devido a algum viés de seleção ou equivoco
na interpretação dos resultados, pois contradiz o resultado exposto acima. Quando o autor faz
a análise do impacto do programa sobre a renda dos chefes de família, constata-se que os
beneficiários pelo PBF chegam a recebem R$50,00 a menos em comparação àqueles que têm
uma renda do trabalho de R$70,00 per capita, o que evidencia a efetividade do programa.

Quando um policy maker constata determinado problema e implanta uma política


pública, seu objetivo é tentar sanar ou minorar possíveis efeitos negativos para os atores
diretamente envolvidos. Entretanto, no processo de formulação é preciso atentar para
possíveis impactos negativos que tal ação pode provocar. A dificuldade de fiscalização dos
beneficiários do PBF é um efeito negativo, pois muitas pessoas limitam ou falsificam
informações, com o intuito de ser beneficiário, além de más interpretações como, por
exemplo, de que o programa causa uma desutilidade do trabalho, expresso pelo efeito-
preguiça21. A avaliação de um efeito preguiça no PBF é perigosa, pois coloca em risco a
efetividade do programa, com análises equivocadas sobre o perfil dos beneficiários.

De acordo com Fiszbein et al (2009) além de lançar bases para o crescimento


econômico, uma política pública de redistribuição de renda pode complementar os efeitos do

21
Ferro e Nicollea (2007) apud SILVA et al (2016) aponta esse efeito negativo em que é modificado o tempo
dedicado ao trabalho: mães e pais residentes no rural e urbano reduzem as horas trabalhadas quando são
beneficiados por uma renda extra, e assim podem “pagar mais tempo de lazer”.

59
crescimento e reduzir a pobreza e um dos instrumentos que os governos podem usar para esse
fim é uma redistribuição direta de recursos para famílias pobres, já que afetam não apenas o
nível geral de consumo, mas também a sua composição. Há uma grande quantidade de
evidências de que as famílias beneficiarias do PBF gastam mais em alimentos e, dentro da
cesta de alimentos, em fontes de nutrientes de maior qualidade do que domicílios que não
recebem a transferência, mas que sejam comparáveis em níveis gerais de renda ou consumo.

A atuação do PBF está concentrada nas regiões de maior incidência de pessoas na


situação de pobreza. Desta forma, torna-se conveniente a análise regional de tal programa a
fim de uma melhor compreensão de sua dinâmica.

É importante destacar que os PTRC amenizam os problemas existentes e não pode


cumprir todas as necessidades de um sistema abrangente de proteção social, até porque, eles
se encaixam dentro do aspecto unidimensional da pobreza. Para suprir um maior nível de
necessidades é necessária a avaliação de impacto de políticas públicas voltadas para o
combate à pobreza multidimensional.

2.4 Pobreza

No último quarto do século XX a análise sobre a pobreza despertou grande interesse


da literatura, ora pela caracterização das condições de vida, ora pela comparação das
populações, bem como para o direcionamento de políticas públicas as pessoas menos
favorecidas. Os PTRC contribuíram muito para o desenvolvimento de países, em especial da
América Latina porque não focaram apenas na transferência monetária em si, mas agiram
sobre uma série de fatores atenuantes da pobreza, como por exemplo, encorajando pais a
investir na saúde e educação de seus filhos. Embora as transferências monetárias
condicionadas tenham sucesso na redução da pobreza, cada país possui seus conjuntos de
critérios condicionais bem como as bases informacionais que servem de parâmetro para o
atendimento junto a sociedade.

A América Latina é considerada uma das regiões mais desiguais do mundo, em que os
altos níveis de desigualdade têm elevado o grau de pobreza na região. As políticas ortodoxas
podem ter muita relevância no aumento da distância entre ricos e pobres, pois agem como
60
barreiras que impedem o crescimento da renda per capita entre os países. Isso é apoiado pela
ideia de que o poder de decisão político e econômico está concentrado em dado grupo social
que tem forte influência sobre as ações institucionais em favor de interesses individuais, em
detrimento dos interesses e demandas coletivas, repercutindo de maneira desfavorável o justo
e sustentável desenvolvimento econômico.

A pobreza é um fenômeno complexo que genericamente pode ser definido como uma
situação em que as necessidades não são atendidas de forma adequada. Esse conceito pode ter
concepções uni ou multidimensionais interligadas ao mesmo tempo em que divergem quanto
a essência do problema. A concepção unidimensional da pobreza tem sua discussão em torno
de pobreza absoluta versus pobreza relativa. Rocha (2003) atribui valores monetários para que
o indivíduo alcance seu nível de satisfação no que concernem as condições de subsistência.
Assim, para a autora “ser pobre significa não dispor dos meios para operar adequadamente
no grupo social em que se vive” (ROCHA, 2003, p.10).

Cada país tem sua forma de mensurar a pobreza, pois é preciso observar seus
contextos socioeconômicos e culturais, usando critérios metodológicos específicos e
considerando cada realidade social – por exemplo, na União Europeia (EU) as linhas de
pobreza adotadas correspondem a 60% do rendimento mediano em cada país membro,
diferenciando os valores entre eles. A linha de pobreza de Portugal equivale a cerca da metade
do valor da França, o que significa que um indivíduo não pobre em Portugal pode ser
classificado com pobre na França (ROCHA, 2003) – em outras palavras, trata-se de identificar
os traços essenciais da pobreza em determinada sociedade, o que envolve diversos sintomas
como subnutrição, baixa escolaridade, falta de acesso a serviços básicos, desemprego,
marginalidade, insuficiência de renda, etc.

Rocha (2003) coloca que a preocupação com a desigualdade se iniciou nos países
desenvolvidos após as ações do pós-guerra, sendo o motivo de preocupação entre os cientistas
sociais como forma de contrapor o discurso político triunfalista, que não considerava como
importante as questões de privação e sobrevivência diante do cenário que se deixara após a
segunda guerra mundial, levando à ênfase do caráter relativo da pobreza.

Quando se trabalha uma política pública, o objetivo são os resultados operacionais


resultantes, tanto conceitual quanto estatisticamente, assim o intuito é traçar e operacionalizar

61
esses instrumentos visando amenizar seus efeitos nocivos e romper com o ciclo reprodutivo
da pobreza.

A pobreza absoluta é definida e caracterizada como uma condição de grave privação


de necessidades humanas básicas, vinculadas as questões de sobrevivência física, como
alimentação, água potável, instalações sanitárias, saúde, residência, educação, informação,
etc. De forma mais precisa se diz que não depende somente de rendimentos, mas também do
acesso à informação e vinculação ao mínimo vital, denominada como linha de indigência ou
pobreza extrema.

É importante entender esse tipo de pobreza permite um olhar ontológico e não apenas
aparente sobre o assunto. As liberdades substantivas são definidas como direitos básicos
elementares de cada pessoa e cabe ao Estado garantir esse funcionamento mínimo necessário.
As capacidades de uma pessoa são intrinsicamente importantes, ao contrario do elemento
renda, que possui caráter instrumental.

A pobreza relativa, por sua vez, incorpora a ideia de que as necessidades a serem
satisfeitas devem enquadrar os indivíduos em relação ao padrão de vida da sociedade na qual
estão inseridos, ou seja, fígura como medida de identificação da sua posição social em relação
ao padrão médio de consumo da população como um todo, com uma abordagem única e
exclusivamente voltada para a renda, compreendendo a chamada linha de pobreza. Porém
para Lavinas (2002) o conceito de pobreza relativa está voltado unicamente para o Mercado
sem levar em consideração outras variáveis.

Esse tipo de pobreza ocorre quando o indivíduo possui o mínimo necessário para
subsistência, mas não possui o suficiente para viver de acordo com o ambiente no qual está
inserido socialmente, referente a diferença entre o status social. Assim, o conceito de pobreza
relativa assume caráter comparativo, tomado a partir de uma dada referência social e, ao
mesmo tempo permitindo aglutinar implicitamente a problemática da redução da desigualdade
de meios entre indivíduos e eliminação da exclusão social como objetivo social.

O principal argumento teórico utilizado para mensurar o nível de vida em uma


sociedade via fator renda é a correlação entre o nível de renda e os indicadores de bem-estar
físico.

62
É preciso tratar o problema da pobreza como violação dos direitos humanos e
trabalhar em uma visão conjunta de combate a pobreza, não apenas agindo sobre a
insuficiência de renda, mas também sobre indicadores relativos a sobrevivência física. Porém,
dentre os diversos critérios de mensuração, este trabalho se concentrará na renda, que age de
forma indireta na operacionalização das necessidades, estabelecendo um valor monetário que
associe ao custo de assistência das necessidades de uma pessoa em uma determinada realidade
social.

Na pobreza absoluta se tem o grupo formado por dois subgrupos: indigentes e não
indigentes. O primeiro subgrupo se refere a pessoas cuja renda é inferior à necessária para
atender as necessidades elementares de sobrevivência. No segundo subgrupo predomina a
pobreza relativa em que ocorre a separação entre pobres e não pobres, onde pobres são
aqueles cuja renda se situa abaixo do valor estabelecido como linha de pobreza, incapazes de
atender ao conjunto de necessidades consideradas mínimas em seu ambiente social.

A partir da visão de Rocha (2003) é importante relacionar pobreza absoluta como


privação de capacidade com pobreza relativa como restrição de renda, ponderando sobre o
tratamento dado aos seus grupos. Embora a definição de pobreza não se restrinja ao elemento
renda, essa é importante para obter capacidades, contribuindo para o aumento potencial da
produtividade de uma pessoa e em seu nível de auferimento maior.

O desenvolvimento de capacidades se dá pela melhoria do sistema educacional,


assistência de saúde e saneamento básicos, agindo como um vetor de deslocamento em
direção eliminação da pobreza.

O ponto de partida para se medir a pobreza é estabelecer o valor da linha da pobreza,


isto é, a linha demarcatória de renda que separa os pobres dos não pobres. Isso pode ser feito
por dois critérios, um de cunho arbitrário, pois não há garantia de que um valor de referência
sirva realmente como linha demarcatória entre os que possuem e os que não possuem suas
necessidades básicas atendidas. E o outro é a partir da estrutura de consumo da população, ou
seja, a partir de restrições impostas pelo sistema econômico, onde o nível de satisfação não
pode ser atingido, tendo em vista seu nível de restrição orçamentária. Independente dos
requisitos materiais que se estabeleçam a forma de materializar a fronteira entre pobres e não
pobres é feita através da renda do individuo ou mesmo de sua família (domicílio), tomada, em
geral, em termos per capita.
63
A linha de pobreza utilizada internacionalmente é a definida pelo Banco Mundial
desde 1990, de US$ 1,25 dia, per capita, recentemente atualizada para o valor de US$
1,9022dia, preservando o poder de compra real da anterior. A pobreza atinge uma considerável
parcela da população brasileira distribuída desigualmente no território nacional. A incidência
da pobreza absoluta no país decorre da forte desigualdade na distribuição do rendimento.
Assim, a redução da pobreza absoluta depende tanto do crescimento como da melhora
redistributiva da renda. Infere-se que a população com renda familiar per capita de R$ 0,00 a
R$ 85,00 (Oitenta e cinco reais)23 está dentro da linha de pobreza extrema, e a população com
renda per capita de R$ 85,01 a R$ 170,00, dentro do grupo de pobreza.

A linha da pobreza está voltada diretamente ao enfoque da pobreza relativa, na qual a


partir da fixação de padrões para o nível mínimo ou suficiente de necessidades, se definiu um
limite de pobreza e se determinou a porcentagem da população que se encontra abaixo desse
nível. Infelizmente, no início não houve a preocupação de delimitar uma linha de pobreza
relativa compatível com a realidade dos países subdesenvolvidos, levando a uma aplicação
indevida dessa abordagem nesses países, onde há a predominância da noção de pobreza
absoluta.

Assim, se diz que as privações de oportunidades se encaixam dentro da pobreza


absoluta e a desigualdade de renda no contexto da pobreza relativa. Quando se faz um
levantamento das quantidades e preços dos itens para compor uma cesta básica, o enfoque
recai sobre a pobreza absoluta, mas isso é o ponto de partida para estabelecer linhas de
indigência; a pobreza relativa está vinculada dentro do entendimento social de que além do
aumento da riqueza é preciso uma distribuição cada vez mais equitativa dos frutos do
crescimento econômico.

A criação de uma base informacional leva o governo a delimitar adequadamente a


população pobre para fins de política pública de redistribuição de renda. O sistema de
informações estatísticas é fundamental no que se refere a elementos para estabelecer políticas
públicas e monitorar resultados.
22
Valor atualizado para o ano de 2015 e largamente aceita entre os organismos internacionais, inclusive nos
relatórios de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas Pra o Desenvolvimento – PNUD.

23
Valor atualizado para o ano de 2017, linha oficial do Programa Bolsa-Família (PBF) fixada com base na
referência das Nações Unidas para os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – e também válida para os
novos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.

64
A implantação de políticas públicas, visando a realocação de jovens e crianças das más
influências sociais para cursos profissionalizantes ajudando-os na capacitação profissional,
bem como mães de família que passam a ser atendidas por programas sociais de transferência
de renda, recebendo, também qualificação profissional para se tornarem donas de seu próprio
negócio, agem sobre a ascensão da linha de pobreza. Rocha (2003, p.36) diz que “a
mensuração da pobreza como insuficiência de renda e da desigualdade de renda, proxies do
nível e da distribuição do bem-estar, está mais associada a renda familiar...”.

O sistema capitalista, através da mídia incentiva o consumismo expondo o indivíduo a


uma situação desonrosa de pobreza, caso o mesmo não faça uso de um determinado artigo.
Isso gera um sentimento de constrangimento por não o possuir, muitas vezes pela privação
econômica presente em sua estrutura familiar, abrindo portas para uma série de males sociais.
A intensão não é defender o espirito consumista, muito menos fazer apologia ao fetichismo de
um bem sobre o indivíduo, mas sim trazer à luz o poder destruidor que a pobreza causa no
seio da sociedade através da privação da liberdade econômica.

A descrição sociológica de renda, profissão, escolaridade e consumo faz com que


diversos artigos pareçam necessários para a sobrevivência, quando nada mais são do que uma
necessidade criada pelo Mercado, como forma de garantir lucros cada vez maiores além de
mostrar a atuação do sistema capitalista nas camadas sociais desprovidas economicamente,
dificultando o convívio do indivíduo em sociedade, contribuindo mais e mais para a exclusão
e segregação social.

A redução de pobreza pela ótica da renda, se refere a defesa do crescimento


econômico via redistribuição de renda, principalmente para as camadas sociais desassistidas.
O termo crescimento distingue-se de desenvolvimento por significar um aumento quantitativo
da produção, cujas consequências serão o enriquecimento de um país e a elevação do nível de
vida, mas sem a preocupação da melhoria das condições sociais.

Por outro lado, a redução da pobreza pela ótica de privação de capacidades, se refere a
defesa de uma política de desenvolvimento econômico, que repercute sobre a qualidade de
vida das pessoas e sobre o sistema social em geral, como forma de redução da miséria. Vale
dizer que a região da Amazônia Legal é palco de um forte cenário de violência entre jovens
nas periferias, consequência das privações sociais lhes impostas.

65
É preciso considerar uma pessoa tanto extrema quanto relativamente pobre. Por
exemplo, o indivíduo pode possuir um bom nível de renda, mas ser privado em alguma outra
área social. O dinheiro não pode comprar tudo. Se este possui certa quantidade de renda, mas
não possui instrução para utilizá-la, possui uma privação de instrução. Uma pessoa pode ter
um bom nível de renda, mas ser acometido de uma grave enfermidade e não poder arcar com
o tratamento adequado. Outras pessoas podem viver em localidades que lhe sejam privadas o
direito de participação e liberdade política.

Se a pessoa possui um bom nível de renda, mas vive em uma comunidade que não
recebe a devida atenção do poder público quanto ao sistema de saneamento básico, tratamento
de água e esgoto, etc. essa pessoa possui uma privação de elementos substanciais a
sobrevivência que podem levar a morbidez e até mesmo a morte prematura. Podem existir
pessoas com um adequado nível de renda, mas que são pobres quanto a segurança social,
sendo vitimas da reprodução do sistema de desigualdade.

Ainda hoje, em pleno século XXI o coronelismo persiste em muitas localidades do


país, como algumas regiões da Amazônia Legal, impedindo as ações do Estado, como
educação e saúde para o desenvolvimento da região, tudo em nome do poder, sem levar em
conta a carência do coletivo.

O trabalho escravo nas fazendas e carvoarias da Amazônia, assim como as chacinas


que ocorrem no interior de alguns estados prova esse fato tão lamentável. As raízes do
trabalho escravo infantil podem estar na privação econômica das famílias de onde essas
crianças provêm em que os próprios pais estariam em regime de adscrição.

A liberdade de frequentar uma escola é tolhida dessas crianças não apenas pela falta de
programas educacionais na região, mas também pela inexistência de escolha para elas – e
muitas vezes para os pais – sobre o que desejam fazer. No entanto, abolir o trabalho escravo
sem melhorar a situação econômica das famílias envolvidas é lança-los a própria sorte para
enveredaram o perigoso caminho da marginalidade.

O trabalho escravo não pode ser restringido a situações de liberdade, isto é, situações
que impede o ir e vir de uma pessoa. Vale dizer que existem situações em fazendas na região
da Amazônia Legal em que pessoas são submetidas a condições degradantes e insalubres que
vão desde a uma alimentação inadequada, as vezes dividindo comida e água com animais até
66
a submissão à longas jornadas de trabalho. Políticas públicas de resgaste dessas pessoas das
situações de escravidão são muito importantes, pois criam mecanismos de prevenção e
redução da impunidade atacando a desigualdade para dar opção de vida aos indivíduos
envolvidos.

A alta desigualdade de renda é uma característica presente em vários países do mundo,


atingindo em sua forma mais severa os países latino-americanos e a África Subsaariana. Essa
característica também é evidenciada no Brasil. Segundo os dados da PNAD no período de
2011-2014, houve uma evolução na proporção de pobres no país nesse intervalo com
tendência de queda considerável, entretanto, dentre as regiões com maior índice de pobreza
relativa, o Nordeste ocupa o primeiro lugar do país, correspondendo a 21,3% de sua
população total, como apresentado na Tabela 2.

Tabela 2 - Proporção de Pobres por Região e Área Metropolitana para os dados da


PNAD no período de 2011-2014.

Proporção de Pobres % (2011 - 2014)


2011 2012 2013 2014
Norte 0,2433 0,1951 0,1980 0,1737
Nordeste 0,2866 0,2500 0,2386 0,2135
Sudeste 0,1494 0,1324 0,1244 0,1187
Sul 0,0621 0,0477 0,0497 0,0407
Centro-Oeste 0,1640 0,1410 0,1389 0,1171

BRASIL 0,1841 0,1594 0,1533 0,1385

Metropolitano 0,2059 0,1958 0,1783 0,1710


Urbano 0,1618 0,1333 0,1330 0,1176
Rural 0,2142 0,1819 0,1778 0,1507
Fonte: Rocha/PNAD 2011-2014 - Elaboração do autor

Embora o esforço do governo em criar e ampliar programas sociais como Programa


Brasil sem Miséria24 como forma de eliminar a extrema pobreza no país, a região Norte ainda
apresenta uma porcentagem de pobreza significativa em 2014 (17,3%). Esses resultados não

24
O Programa Brasil sem Miséria é um programa criado pelo Governo Federal à partir de 2011 com o objetivo
de superar a extrema pobreza no país, não resumindo a pobreza a uma questão de renda, mas levando em
consideração as liberdades substantivas de uma pessoa.

67
abrangem o total da população pobre, mas somente aquelas pessoas cadastradas no Cadastro
Único (CadÚnico), tendo como passo importante a localização das pessoas que ainda vivem
em situação de extrema pobreza na região. Para isso é necessário a parceria entre as três
unidades da federação – federal, estadual e municipal – para identificação das áreas de difícil
acesso como comunidades ribeirinhas, periferias e o meio rural.

Os resultados da Tabela 2 para as áreas urbana e rural confirmam a tendência de


redução da pobreza para o período com destaque para a área rural que ainda apresenta um
índice significativo de pobres em relação a área urbana e metropolitana na região Nordeste e
em relação a área urbana na região Norte, o que pode significar a dificuldade de acesso e de
identificação de famílias em situação de pobreza. Assim, as desigualdades, em especial a de
renda são resultado da má abrangência de infraestrutura que afeta principalmente as áreas
rurais, resultado das diferenças inter e intra-regionais entre o meio urbano e meio rural que
acompanha o Brasil desde a sua formação, contribuindo para maior concentração de renda.

Tabela 3 - Proporção de Pobres nas áreas Urbana e Rural e Regiões Metropolitanas,


segundo os dados da PNAD do período de 2011 -2014.

Proporção de Pobres % (2011-2014)


2011 2012 2013 2014
Norte
Metropolitano 0,2271 0,2225 0,2361 0,2085
Urbano 0,2663 0,2012 0,2017 0,1758
Rural 0,1955 0,1663 0,1711 0,1501

Nordeste
Metropolitano 0,3002 0,2737 0,2522 0,2334
Urbano 0,2744 0,2317 0,2237 0,2022
Rural 0,3012 0,2691 0,2589 0,2216

Sudeste
Metropolitano 0,2134 0,1951 0,1738 0,1729
Urbano 0,1007 0,0830 0,0858 0,0769
Rural 0,0820 0,0791 0,0838 0,0646

Sul
Metropolitano 0,0784 0,0663 0,0690 0,0524
Urbano 0,0535 0,0393 0,0437 0,0363
Rural 0,0691 0,0491 0,0386 0,0380

Centro-Oeste
Metropolitano 0,2353 0,2168 0,1954 0,1824
Urbano 0,1545 0,1304 0,1319 0,1081
Rural 0,0941 0,0744 0,0846 0,0526
Fonte: Rocha/ PNAD 2011-2014 - Elaboração do autor

68
Pela Tabela 3, se pode dizer que as desigualdades regionais estão acentuadas nos
aspectos físicos, produtivos e socioculturais, fazendo os indivíduos pobres apresentarem
características diversas, de acordo com região e/ou local de residência urbano ou rural em que
vivem. Considerando as regiões metropolitanas, as ações antipobreza são necessariamente
voltadas para a inserção no mercado de trabalho, sendo vinculadas a medidas que acarretam
aumento no nível de escolaridade, de forma geral, e da qualificação para o mercado de
trabalho, de maneira especifica.

O hiato de pobreza é a porcentagem da renda da população necessária para levar todos


os pobres até a linha de pobreza. O hiato médio da linha de pobreza é calculado somando
quanto falta para cada indivíduo atingir essa linha.

Segundo o Ipea (2010), o hiato médio de extrema pobreza é um indicador que soma as
distâncias das rendas dos pobres à linha de pobreza, medidas em proporção do valor da linha,
e divide o resultado pelo total da população. Pode também ser interpretado como o quanto
cada brasileiro - inclusive os extremamente pobres - deveria contribuir para erradicar a
pobreza, desprezando a existência de custos administrativos e dificuldades para a distribuição
dos recursos.

Tabela 4 - Razão do Hiato de Pobreza para as Regiões do País, Região Metropolitana e


Áreas Urbano e Rural, para os dados da PNAD no período de 2011-2014.

Razão do Hiato da Pobreza (2011 - 2014)


2011 2012 2013 2014
Norte 0,4125 0,4180 0,44086 0,39997
Nordeste 0,4437 0,4162 0,43987 0,40893
Sudeste 0,3922 0,3991 0,42874 0,37561
Sul 0,4445 0,4971 0,51014 0,45353
Centro-Oeste 0,3878 0,3841 0,40134 0,35409

BRASIL 0,4192 0,4119 0,43692 0,39454

Metropolitano 0,4603 0,3880 0,41124 0,35584


Urbano 0,4221 0,4223 0,44854 0,41272
Rural 0,3956 0,4355 0,45640 0,43231

Fonte: Rocha/PNAD 2011-2014 - Elaboração do autor

69
Analisando a Tabela 4, percebe-se a queda no hiato de pobreza, o qual é fruto dos
avanços sociais registrados no período de levantamento da PNAD que aparecem em uma
melhor distribuição de renda no país, bem como o crescimento do rendimento médio dos
domicílios como fator importante para esse resultado. Assim de acordo com os dados da
PNAD essa redução foi acompanhada por melhoria em indicadores de educação e acesso a
bens e serviços.

É importante destacar que a queda do hiato de pobreza foi mais relevante na área rural
do que na área urbana, confirmando a análise anterior. Dentre as regiões do país, se diz que é
preciso 39,9% de incremento de renda para alcançar a linha de pobreza na região Norte e
embora ocupe o terceiro lugar entre as cinco regiões, ainda é um resultado significativo, o que
leva a inferir que a desigualdade de renda ainda é elevada na região.

A desigualdade sempre existirá no mundo e talvez ela tenha seus benefícios para o
equilíbrio social, no entanto, para que seja mantida em nível baixo evitando o aumento da
desigualdade de renda as ferramentas a serem utilizadas são a justiça social e redistribuição de
renda, em que as oportunidades serão distribuídas entre aqueles que têm mais privações de
liberdades do que os que não têm e possuem uma estrutura familiar e financeira estabilizada.

Os PTRC aumentam a probabilidade das famílias levarem seus filhos para exames
preventivos de saúde, mas isso não garante sempre a um melhor estado nutricional infantil;
também leva a um aumento das taxas de matriculas nas escolas entre os beneficiários dos
programas, mas há pouca evidência de melhorias nos resultados de aprendizagem. A pobreza
deve ser combatida sob seus dois aspectos, uni e multidimensional. Não basta impor
condições aos programas de transferência de renda se as privações às oportunidades agem
como externalidades a tais programas. Se o Estado não supre a carência e não facilita o acesso
à saúde e educação básica ou não trabalha na elaboração de políticas que melhorem as
condições de habitação de um indivíduo, provavelmente os PTRC não terão o impacto
desejado sobre a pobreza e a desigualdade.

70
3 Metodologia

3.1 Decomposição e medição e transformação em uma fonte de renda

Neste capítulo, será utilizado mais especificamente, um procedimento desenvolvido


por Barros et al. (2006a), dividido em três etapas para decompor a recente queda da
desigualdade. Na primeira etapa a queda da desigualdade é decomposta duas parcelas: uma
que decorre de mudanças na renda do trabalho, e outra proveniente de mudanças na renda não
derivada do trabalho.

Em seguida, abre-se em sete parcelas, a contribuição das mudanças na renda não


derivada do trabalho, ligadas às transformações nos seguintes rendimentos: aluguéis, juros e
dividendos, provenientes de ajuda de não moradores, outras pensões e aposentadorias,
pensões e aposentadorias públicas, Benefício de Prestação Continuada (BPC) e Programa
Bolsa Família e correlatos. Por fim, investiga-se qual foi, exatamente, o caminho percorrido
por cada uma das sete fontes para afetar a desigualdade total.

De fato, toda mudança numa fonte de renda pode afetar a desigualdade total por quatro
caminhos. O primeiro resulta da simples alteração no grau de associação da fonte estudada
com as demais, o que está intimamente relacionado a transformações no grau de focalização.
Um segundo caminho é a expansão da cobertura. Quando mais pessoas passam a ter acesso a
uma determinada fonte de renda tudo mais constante, menor tende a ser a desigualdade
relativa a essa fonte e, assim, menor deve ser a desigualdade de renda total. Logo, elevações
do grau de cobertura de uma fonte tendem a reduzir a desigualdade de renda total.

Mesmo quando a cobertura não se modifica, a desigualdade pode ser afetada por
mudanças na distribuição entre os receptores. Essa, por sua vez, altera-se ou quando muda o
valor médio do benefício/rendimento recebido, ou quando muda a desigualdade com que esse
benefício/rendimento é repartido.

Com vistas em identificar esses quatro tipos básicos de transformação, partimos da


observação de Barros et al. (2006a) de que, em toda população finita, a distribuição conjunta
de duas fontes de renda x e y, isto é, 𝐹𝑥,𝑦 , pode sempre ser obtida a partir das duas
distribuições marginais, 𝐹𝑥 e 𝐹𝑦 , e da função de associação entre elas, 𝐴𝑥−>𝑦 , em que 𝐴𝑥−>𝑦

71
(i)denota a posição, na distribuição de y, ocupada pela pessoa que se encontra na i-ésima
posição na distribuição de x.

Sendo x uma dada fonte de renda, y as demais fontes, e z a renda total, então 𝑧 = 𝑥 +
𝑦 e o grau de desigualdade em z, θ, é determinado pela distribuição conjunta de x e y e,
portanto, pela trinca (𝐹𝑥 , 𝐴𝑥→>𝑦 , 𝐹𝑦 ).

Como θ =  (𝐹𝑧 ) e 𝐹𝑧 = (𝐹𝑥 , 𝐴𝑥→>𝑦 , 𝐹𝑦 ), temos que

θ = (𝐹𝑧 ) ==  ((𝐹𝑥 , 𝐴𝑥→>𝑦 , 𝐹𝑦 ))

Dessa relação, segue que a contribuição de uma fonte de renda para a desigualdade
total depende tanto de sua própria distribuição, 𝐹𝑥 como de sua associação com as demais
fontes de renda, 𝐴𝑥−>𝑦 . Assim, uma fonte de renda contribui para mudanças no nível geral de
desigualdade ou quando muda sua distribuição, ou quando altera sua associação com as
demais fontes.

Vale ressaltar que, enquanto mudanças na distribuição de uma dada fonte de renda
dependem somente de mudanças na própria fonte, a associação pode se alterar sem que a
fonte de renda estudada se modifique. Portanto, enquanto mudanças na distribuição marginal
de uma fonte de renda podem ser associadas, inequivocamente, a mudanças na própria fonte,
modificações na associação requerem interpretação mais cuidadosa, uma vez que podem ter
derivado de mudanças nas demais fontes.

A distribuição de uma dada fonte, 𝐹𝑥 , pode ser obtida, por sua vez, a partir de duas de
suas características básicas: uma que separa os que nada recebem daqueles que recebem algo,
e outra que especifica a distribuição entre aqueles que recebem. Se denotarmos por 𝑞𝑥 a
proporção das pessoas que recebem algo da fonte x, e por 𝐹𝑥+ a distribuição da fonte x apenas
entre os que recebem, então 𝐹𝑥 será determinada pelo par (𝑞𝑥 , 𝐹𝑥+ ). Mais especificamente,
temos que, para todo 𝑡 ≥ 0, 𝐹𝑥 (𝑡) = (1 − 𝑞𝑥 ) + 𝑞𝑥 . 𝐹𝑥+ (𝑡). Dessa forma, a distribuição de
uma dada fonte é alterada se, e somente se, mudar a proporção das pessoas que recebem algo
dessa fonte, ou se mudar a distribuição apenas entre os que a recebem. No que segue,
utilizaremos as seguintes relações entre parâmetros da distribuição entre todos 𝐹𝑥 , e da

72
distribuição entre os que recebem 𝐹𝑥+ : (a)𝜇𝑥 = 𝑞𝑥 𝜇𝑥+ , e (b)𝐺𝑥 = (1 − 𝑞𝑥 ) + 𝑞𝑥 𝐺𝑥+ , em que
G denota o coeficiente de Gini.

Por sua vez, a distribuição da renda proveniente da fonte x entre os que recebem, 𝐹𝑥+ ,
pode ser obtida, assim como qualquer outra distribuição, de sua média, 𝜇𝑥+ , e curva de
Lorenz, 𝐿𝑥+ . Portanto, mudanças em 𝐹𝑥+ ocorrem se, e somente se, o par (𝜇𝑥+ , 𝐿𝑥+ ) for
alterado.

Em suma,

𝐹𝑥 = (𝜇𝑥+ , 𝐿𝑥+ , 𝑞𝑥 )

θ = (𝐹𝑧 ) = (((𝜇𝑥+ , 𝐿𝑥+ , 𝑞𝑥 ), 𝐴𝑥−>𝑦 , 𝐹𝑦 ))

Dessa forma, as quatro transformações básicas que caracterizam qualquer mudança


numa fonte de renda x foram identificadas. Assim, a contribuição de uma fonte de renda para
variações no grau de desigualdade total pode sempre ser decomposta em quatro componentes
em decorrência de: (a) mudanças na sua associação com as demais, 𝐴𝑥−>𝑦 , (b) mudanças na
sua cobertura, 𝑞𝑥 , (c) mudanças no valor médio do benefício/rendimento, 𝜇𝑥+ , e (d) mudanças
na desigualdade entre os que dela recebem, 𝐿𝑥+ .

3.2 A técnica de Propensity Score Matching (PSM)

Para o presente trabalho será utilizado o método de Pareamento pelo Escore de


Propensão (PEP) com o intuito de obter o grupo de crianças e adolescentes que são e os que
não são beneficiários do Programa Bolsa Família (PBF). As estimativas das diferenças de
médias dos indicadores educacionais eleitos entre esses grupos não se basearam no comando
psmatch2 disponível no Stata porque nesse caso não se pode considerar o desenho amostral
estratificado. Diante disso, realizaram-se alguns procedimentos com os dados da PNAD que
são necessários para o cálculo dessas diferenças por meio do comando lincom que nos permite
considerar o desenho amostral como estratificado. É importante observar que a realização de

73
testes de diferenças de médias que considerem o desenho da PNAD como amostra aleatória
simples tem estimativas de erros padrões com viés para baixo.

Em suma, estima o escore de propensão (a probabilidade de se pertencer ao grupo de


tratamento) por meio de uma regressão Logit/Probit, e o Matching pareia as unidades não
tratadas com um propensity score mais aproximado para que a comparação seja a mais
fidedigna possível

Optou-se neste estudo pela metodologia do pareamento pelo escore de propensão, no


intuito de analisar os efeitos do PBF sobre a renda e o atraso escolar. O procedimento permite
a obtenção de um grupo de controle com características observáveis semelhantes àquelas
existentes no grupo de tratamento. Após a obtenção desses grupos, se estimam as diferenças
médias entre os grupos de tratamento e de controle em relação às variáveis de resposta (renda
e atraso escolar).

Um dos problemas que emergem ao se construir o grupo de controle é o denominado


viés de seleção, que resulta das diferenças que podem existir entre suas características
observáveis e não observáveis e aquelas do grupo de tratamento. Nos estudos das ciências
sociais não podemos observar o mesmo indivíduo antes e depois do acesso ao tratamento,
portanto deve-se resolver o viés. Além disso, o PBF não foi distribuído aleatoriamente, mas
obedece a um processo de seleção na medida em que existem critérios de elegibilidade
definidos. Caso a aleatoriedade fosse assegurada, o grupo de controle teria a mesma
distribuição de características do grupo de tratamento. Posto esse desafio, a abordagem do
pareamento pelo escore de propensão (propensity matching), desenvolvido por Rosenbaum e
Rubin (1983), surge como uma possível solução para o problema do viés de seleção. Vários
estudiosos tentaram superar as dificuldades na montagem desses grupos, como Roy (1951) e
Rubin (1974), que propuseram a substituição do grupo de controle pelos indivíduos que
efetivamente não recebem o tratamento. Se introduzirmos uma variável dummy que
estabeleça 1 para os participantes e 0 para os não participantes do programa – Yi (1)
corresponde à variável de resultado para o indivíduo i do grupo de tratamento, enquanto Yi
(0) representa a variável resultado do indivíduo i do grupo de controle – se torna possível,
numa linguagem algébrica, expressar o resultado do tratamento (Y) sobre cada indivíduo (i)
por meio da fórmula:

𝜋𝑖 = 𝑌 (1) − 𝑌𝑖 (0) (1)


74
Por outro lado, a estimação média dos resultados de um programa ou benefício é
representada pela equação:

𝑌𝑖(1) 𝑌𝑖 (0)
𝜋𝑖 = 𝐸 [ = 1] − 𝐸 [ = 1] (2)
𝐷𝑖 𝐷𝑖

A equação anterior fornece o efeito médio do tratamento sobre os beneficiários. Esse


caminho exige que se observem as pessoas antes e após o tratamento, porém, conforme
mencionado acima, em ciências não experimentais somente tem-se a informação do indivíduo
a partir de sua incorporação ao grupo de tratamento. Uma saída, portanto, é a substituição
𝑌(𝑖 )0
desse grupo por pessoas que efetivamente não participam do programa 𝐸 [ = 0]. Nesse
𝐷𝑖

caso, a equação acima se transformaria na seguinte fórmula:

𝑌𝑖 (1) 𝑌𝑖 (0)
𝜋𝑖 = 𝐸 [ = 1] − 𝐸 [ = 0] (3)
𝐷𝑖 𝐷𝑖

Essa substituição fornece uma estimação do impacto do tratamento sobre o grupo de


𝑌(𝑖 )0 𝑌(𝑖 )0
controle, mas com viés, na medida em que existem distinções entre 𝐸[ = 0] e 𝐸[ =
𝐷𝑖 𝐷𝑖

1]. Nesse caso, o viés, portanto, se origina da utilização de um grupo que representaria
aqueles beneficiários no período anterior a sua incorporação ao programa. Heckman et al
(1998) dividem o viés em três componentes. O primeiro resulta da falta de suporte comum
entre beneficiários e não beneficiários, ou seja, existiriam divergências nas características
observáveis, enquanto o segundo componente se deve às diferenças na distribuição dessas
características entre o grupo de tratamento e de controle. Por último, o terceiro viés resultaria
das divergências de resultados que seriam encontradas, ainda que as características
observáveis sejam controladas. Nesse caso, o viés se deve à presença de variáveis não
observadas que influenciam os impactos potenciais e a participação no programa.

O intuito de minimizar o viés introduz uma hipótese de identificação que estabelece


que o processo de seleção se realize por meio das características observáveis dos indivíduos
ou famílias, definidos por X. Em linguagem algébrica tem-se a equação:

𝑌𝑖 (0) 𝑌𝑖 (1)
𝐸 [𝑌𝑖 (0) − 𝑌𝑖 (1)] = 𝐸 [ = 0, 𝑋] − 𝐸 [ = 1, 𝑋] (4)
𝐷𝑖 𝐷𝑖

75
Ou seja, indivíduos ou famílias com características semelhantes têm igual
probabilidade de serem alocados no grupo de tratamento ou de controle. A partir dessas
considerações, se assume que os resultados potenciais independem da participação no
programa, uma vez conhecidas as características observáveis, conforme expressa a igualdade
seguinte:

𝑌𝑖 (1) 𝑌𝑖 (0) 𝑌𝑖 (1)


𝐸 [𝑌𝑖 (0), , 𝑋] 𝑒 𝐸 [ = 0, 𝑋] = 𝐸 [ = 1, 𝑋] (5)
𝐷𝑖 𝐷𝑖 𝐷𝑖

As equações anteriores, na verdade, se baseiam numa hipótese relevante para o


método do pareamento por escore de propensão, denominada de independência condicional
(Caliendo e Kopeinig 2005). O grupo de controle seria identificado a partir das características
observadas. Contudo, esse procedimento esbarra em limites porque, ao se elevar o número de
características consideradas, se torna mais difícil encontrar um grupo de controle com as
mesmas características. Noutras palavras, uma das dificuldades da obtenção de indivíduos
semelhantes se deve à diversidade de características que são consideradas, ou seja, existem
dificuldades em lidar com a dimensionalidade envolvida nesse processo. Rosenbaum e Rubin
(1983) sugerem o uso do escore de propensão para resolver tais dificuldades. Os autores
definem o escore de propensão como a probabilidade de um indivíduo ser incluído num
programa a partir de suas características. Ou seja:

1
𝑃(𝑋) = 𝑃𝑟𝑜𝑏𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 (𝐷 = 𝑋) (6)

O problema da multidimensionalidade se resolve, então, a partir da adoção de um


escalar. Os autores sugerem que P (X) deve substituir X, conforme equação:

𝑌𝑖 (1) 𝑌𝑖 (0) 𝑌𝑖 (1)


𝐸 [𝑌𝑖 (0) − = 1, 𝑃(𝑋)] = 𝐸 [ = 0, 𝑃(𝑋)] − 𝐸 [ = 1, 𝑃(𝑋)] (7)
𝐷𝑖 𝐷𝑖 𝐷𝑖

O pareamento pelo escore de propensão permite a eliminação dos dois componentes


iniciais do viés. O método elimina, portanto, o viés que se origina das características
observáveis, porém aquele oriundo das não observáveis não pode ser controlado. Assim, o
pareamento minimiza, mas não elimina inteiramente o viés de seleção. Na verdade, o
procedimento do pareamento pelo escore de propensão somente pode ser desenvolvido se
duas hipóteses são adotadas.

76
O primeiro pressuposto, mencionado anteriormente, se refere à independência
condicional que estabelece que o grupo de tratamento e os impactos potenciais do programa
são independentes das variáveis de pré-tratamento, ou seja, os resultados potenciais
independem de participações no programa dadas as características das variáveis observadas
(X). Na linguagem algébrica:

𝑌 (0), 𝑌(1) ΠD/X (8)

Onde Π representa independência.

Ou seja, pressupõe-se que a seleção é baseada em características observáveis e que


todas as variáveis capazes de influenciar a participação no programa são controladas pelo
pesquisador. Evidentemente que essa hipótese é bastante forte. Rosenbaum e Rubin (1983)
assumem também que o tratamento e os impactos potenciais são independentes da
probabilidade em receber o tratamento, dado o escore de propensão. Essa suposição poderia
ser expressa como:

𝑌(0), 𝑌(1)/P(x) (10)

Outra hipótese importante para o cálculo do escore de propensão é a do suporte


comum. Essa suposição estabelece que pessoas do grupo tratamento com características X
tenham correspondentes no grupo de controle. Em termos do escore de propensão, a hipótese
estabelece que para cada probabilidade estimada para indivíduos do grupo de tratamento tem-
se uma probabilidade semelhante no grupo de controle. À medida que se assegure a existência
dessas hipóteses, o impacto médio do tratamento (ATT) pode ser expresso pela equação:

𝑌( )0
𝑌(𝑖 ) 1 [ 𝑖 =0,𝑝(𝑥𝑖 )]
𝐷𝑖
𝐴𝑇𝑇 = 𝐸{𝐸 [ = 1, 𝑝(𝑥𝑖 )] − 𝐸 = 1} (11)
𝐷𝑖 𝐷𝑖

Noutras palavras, o efeito médio do tratamento é obtido pela diferença entre o


resultado médio do grupo de tratamento e do grupo de controle. A estimativa do escore de
propensão não permite o cálculo do ATT, porque seria praticamente impossível encontrar
duas pessoas com o mesmo valor do escore de propensão, na medida em que essa variável é
contínua. Alguns algoritmos desenvolvidos tentam solucionar essa dificuldade. Nesse

77
trabalho utilizou-se o método de pareamento pelo vizinho mais próximo, em que a escolha
dos indivíduos do grupo de controle se baseia na proximidade de seus escores de propensão
em relação aos escores das pessoas do grupo de tratamento.

Outro algoritmo é o pareamento pelo vizinho mais próximo com caliper, que exige que
o pareamento seja realizado em um nível máximo de tolerância em relação à distância do
escore de propensão. Por outro lado, o procedimento denominado Mahalanobis se baseia na
distância euclidiana padronizada e agrega também a informação acerca da covariância
existente entre as variáveis. Além disso, a diferença entre as médias das variáveis de
resultados foi estimada via bootstrapping, que corresponde a uma técnica de reamostragem.
Esse procedimento realiza a replicação de inúmeras amostras selecionadas, com reposição da
amostra original e mesmo tamanho n dessa amostra.

Davidson e Mackinnon (2000) recomendam que a estimativa de intervalos de


confiança requeira em torno de 2000 replicações. Uma vantagem da utilização do
bootstrapping é que no caso de amostra complexa esse método procura imitar, para a geração
das novas amostras, o mesmo procedimento adotado na construção da amostra da PNAD.
Nesse caso, a partir da amostra original da PNAD são selecionados os PSUs (primary
sampling unit – unidade primária de amostragem) com reposição e probabilidade proporcional
ao tamanho (Neder, 2008).

3.3 Método de Controle Sintético

O método de controle sintético consiste na estimação do impacto sobre uma


determinada variável de um evento (ou intervenção política ou econômica) que ocorre a nível
agregado, em espaços geográficos ou instituições. Aqui se fará referência a tal evento ou
intervenção como “tratamento".

Para a implementação do método, seleciona-se um grupo de regiões candidatas a


controle, cada uma das quais terá um peso na formação de uma região “sintética",
aproximando-se as características da região sintética no período pré-intervenção às da região
de tratamento. Essas características se referem a valores da variável resultado (cuja evolução é

78
estudada) e de seus preditores. No período após o início da intervenção, os pesos são usados
para formar a trajetória da variável resultado da região sintética a partir dos valores
observados dessa variável nas regiões controle. Tal estimação corresponde à estimação do que
teria ocorrido na região de tratamento caso a intervenção não houvesse acontecido.

Mais precisamente, como descrito em Abadie, Diamond & Hainmueller (2012), é


estabelecido 𝑌𝑖𝑡𝑁 como o resultado que teria sido observado para a região i no tempo t na
ausência da intervenção, para as regiões i=1,..., J +1, e períodos t=1,..., T. Define-se, também
𝑇0 como o número de períodos pré-intervenção, com 1 ≤ 𝑇0 ≤ 𝑇. 𝑌𝑖𝑡𝐼 consiste no resultado
observado para a região i no tempo t se a região i é exposta ao tratamento nos períodos 𝑇0 + 1
a T. O efeito que se quer estimar da intervenção sobre a variável resultado da região i pode ser
escrito como

𝛼𝑖𝑡 = 𝑌𝑖𝑡𝐼 − 𝑌𝑖𝑡𝑁 (12)

para os períodos 𝑇0 + 1 a T.

Portanto, para estimar o impacto 𝛼𝑖𝑡 , antes tem que estimar 𝑌𝑖𝑡𝑁 , pois este não é
observado 𝑇0 deve ser especificado como o primeiro ano em que a intervenção poderia afetar
a variável de interesse para que efeitos de antecipação, caso existentes, sejam considerados.
Logo, antes de 𝑇0 , supõe-se 𝑌𝑖𝑡𝐼 = 𝑌𝑖𝑡𝑁 .

Reescrevemos 3.3.1 como

𝑌𝑖𝑡 = 𝑌𝑖𝑡𝑁 + 𝛼𝑖𝑡 𝐷𝑖𝑡 (13)

onde 𝐷𝑖𝑡 é uma variável dummy assumindo os valores 1 se a unidade i é exposta à


intervenção no tempo t ou 0, caso contrário; e 𝑌𝑖𝑡 é o resultado observado para a unidade i no
tempo t.
Supomos que 𝑌𝑖𝑡𝑁 seja dado por um modelo fatorial

𝑌𝑖𝑡𝑁 = 𝛾𝑡 + 𝛽𝑡 𝑍𝑖 + ∅𝑡 𝜇𝑖 + 𝜀𝑖𝑡 , (14)

sendo 𝛾𝑡 um fator comum desconhecido constante através das unidades;  um vetor (1 × r) de


parâmetros desconhecidos; 𝑍𝑖 um vetor (r × 1) de covariáveis observadas que não são

79
afetadas pela intervenção e podem ou não variar no tempo; ∅𝑡 um vetor (1 × F) de fatores
comuns não-observáveis; 𝜇𝑖 um vetor (F × 1) de fatores regionais específicos e
desconhecidos e eit choques transitórios não-observáveis com média zero (assumimos que são
independentes através das unidades e no tempo).

Define-se então o vetor de pesos 𝑊 = (𝑤2 , 𝑤3 , … , 𝑤𝑗+1 )′ para as regiões i=2,...,J+1.


Supomos que a região i=1 sofreu o tratamento. A fim de reproduzir as características da
região de tratamento (região 1) na região sintética no período pré-intervenção, W deve
satisfazer, ou aproximar, as seguintes condições:

𝑌𝑖𝑡 = ∑𝐽+1 𝐽+1


𝑗=2 𝑤𝑗 𝑌𝑗𝑡 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑇 = 1, … , 𝑇0 𝑒 𝑍1 = ∑𝑗=2 𝑤𝑗 𝑍𝑗 , (15)

onde∑𝐽+1
𝑗=2 𝑤𝑗 = 1 𝑒 𝑤𝑗 ≥ 0. Tais restrições evitam a extrapolação da variável resultado do

modelo. A escolha das regiões candidatas a controle pode ser feita segundo a semelhança com
a unidade tratada, de forma a diminuir o viés.

Consequentemente, o estimador de 3.3.1 será

𝐽+1
𝛼̂1𝑡 = 𝑌1𝑡 − ∑𝑗=2 𝑤𝑗 𝑌𝑗𝑡 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑡 = 𝑇0 + 1, … , 𝑇, (16)

o qual, como provam Abadie, Diamond & Hainmueller (2012), será não-viesado.

Seja 𝑇1 = 𝑇 + 𝑇0 o número de períodos pós-intervenção. Para eles, 𝑌1 será o vetor


(𝑇1 × 1) de valores da variável de interesse para a região tratada e Y0 será a matriz (𝑇1 × 𝐽)
desses valores para as regiões potenciais de controle. Definimos também
𝐾 = (𝑘1 , 𝑘2 , … , 𝑘𝑇0 )′ um vetor (𝑇0 × 1) de pesos, formando alguma combinação linear dos
valores da variável estudada antes da intervenção:

𝑇0

𝑌̅𝑖𝐾 = ∑ 𝑘𝑠 𝑌𝑖𝑠 (17)


𝑠=1

Como exemplificado por Abadie, Diamond & Hainmueller (2012), se 𝑘1 = 𝑘2 = ⋯ =


𝑘𝑇0 = 1⁄𝑇 , 𝑌̅𝑖𝐾 será simplesmente a média da variável nos períodos pré-intervenção
0
(lembrando que 𝑇0 é o número de períodos pré-intervenção).

80
Realiza-se M dessas combinações lineares definidas pelos vetores K1,...,KM. Seja
𝐾 ′ 𝐾
𝑋1 = (𝑍 ′1 , 𝑌̅𝑖 1 , … , 𝑌̅𝑖 𝑀 ) um vetor (𝑘 × 1)de características da região tratada no período pré-
intervenção, com 𝑘 = 𝑟 + 𝑀 (pois r é o número de covariáveis preditoras da variável
resultado que formam o vetor 𝑍1 𝑒 𝑀 é o número de combinações lineares dos valores da
variável resultado). Da mesma forma, 𝑋0 será uma matriz (𝑘 × 𝐽) das mesmas variáveis para
as regiões não afetadas pelo tratamento:

𝑍′2 ⋯ 𝑍′𝐽+1
𝑋0 = [ ⋮ ⋱ ⋮ ] (18)
𝐾 𝐾
𝑌̅𝑖 𝑀 ⋯ 𝑌̅𝐽+1
𝑀

𝐾 𝐾
Onde 𝑌̅𝑖 1 , … , 𝑌̅𝑖 𝑀 poderiam ser apenas os valores da variável de estudo em cada período
𝐾1 𝐾𝑀
antes da intervenção, ou seja 𝑌̅𝑖 = 𝑌𝑖1 , … , 𝑌̅𝑖 = 𝑌𝑖𝑇0 .

O vetor W* (de pesos para as regiões de controle) escolhido é aquele que minimiza a
distância)

‖𝑋1 − 𝑋0 𝑊‖𝑣 = √(𝑋1 − 𝑋0 𝑊)′𝑉(𝑋1 − 𝑋0 𝑊) (19)

onde V é alguma matriz simétrica (𝑘 × 𝑘) e positiva semi-definida. Sua introdução:

permite pesos diferentes para as variáveis de 𝑋0 𝑒 𝑋1 , dependendo do seu poder


preditivo. Uma ótima escolha de V designa pesos que minimizam o erro quadrático
médio do estimador de controle sintético, isto é, a esperança de (𝑌1 − 𝑌0 𝑊)′(𝑌1 −
𝑌0 𝑊)ABADIE; DIAMOND; HAINMUELLER, 2011).

A escolha de V pode ser sujeita ao conhecimento subjetivo sobre o poder preditivo das
variáveis ou ser baseada nos dados. Uma possibilidade, como sugere Abadie, Diamond &
Hainmueller (2012), é determinar V de modo que a região sintética resultante aproxime, ao
máximo, a trajetória da variável de interesse para a região afetada no período anterior à
intervenção.

81
4 Resultados Analisados

Nesta seção são apresentados os resultados do modelo rodado pelo score de propensão
para efeitos marginais, diferenças de média, índice de gini e proporção de pobres. Também é
feita a análise do controle sintético, modelo pooled, efeitos fixo e aleatório. Os dados usados
neste trabalho foram construídos a partir da PNAD, realizada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), referentes ao período de 2001 a 201425. A partir deste
levantamento dos dados foram rodados modelos logits para o período citado.
Para este trabalho, utilizaram-se de uma abordagem microeconomética, utilizada para
estimar a proporção de pobres e rendimento. As linhas de pobreza requeridas foram as linhas
de pobreza calculadas a partir da POF/IBGE e ajustadas a cada ano pela variação dos INPC
regionais em nível de grupos de produtos no período de 2001 a 2014, se balizando em Sonia
Rocha, na metodologia descrita em "Do Consumo Observado à Linha de Pobreza", in
Pesquisa e Planejamento Econômico, 27(2), agosto 1997, p. 313-352.

A partir disso, outra construção da base foi a agregação em domicílios. Este conceito
foi utilizado porque o conceito de família só passou a aparecer na PNAD de 2004. Para
tornar-se coerente com os demais períodos (2001 à 2003) optou-se por esse nível de
agregação, no qual foi realizado o modelo logit para a obtenção do Propensity Score.

Na sequência a base foi agregada por UF’s para rodar o controle sintético (CS), nesse
caso a proporção de pobres e o índice de Gini (que foram utilizadas como variáveis
dependentes do modelo CS) procuraram refletir a situação dos tratados e a situação dos
controles.

4.1 O modelo logit de efeito marginal

A Tabela 5 abaixo apresenta o resultado dos efeitos marginais rodado pelo propensity
score para analisar a efetividade do programa dentro do período em questão. Para essa análise
é preciso considerar dois períodos, o primeiro é o período de 2001 à 2003 que é marcado pela
implementação de diversos programas de transferência de renda condicionados (PTRC) no

25
Com exceção do ano de 2010, pois como se trata de ano de censo, não é realizado o levantamento da PNAD.
82
país a nível federal de forma descentralizada, como o Bolsa-Escola e o Vale Gás, entre outros.
O segundo compreende 2004 até 2014, período de implementação e consolidação do PBF,
não somente como uma política governamental, mas como uma política de Estado. Assim até
o ano de 2003 o padrão de analise será a probabilidade de participação dos potenciais
participantes em programas sociais de maneira geral e a partir de 2003, a atenção será voltada
para a participação no Programa Bolsa Família (PBF).
A partir desses resultados pode-se inferir uma analise uni e da pobreza (no caso deste
trabalho terá enfoque unidimensional) como critérios de participação em programas de
transferência de renda. Sob o ponto de vista da pobreza unidimensional, ao analisar o
coeficiente relacionado ao rendimento familiar, nota-se que quanto maior o nível de renda,
evidenciado pelo aumento da média dos anos de estudo, menor é a chance de uma família
receber o benefício. Semelhantemente, o aspecto multidimensional implica que a carência de
serviços básicos a sobrevivência aumentam as chances de participação nos PTRC.
Inicialmente o modelo logit é utilizado para estimar a probabilidade de participação nesses
programas para as famílias residentes das unidades da federação. Para análise das variáveis
atear-se-á àquelas que se revelaram significativas aos níveis de 1%, 5% e 10%.

No primeiro período, algumas variáveis foram não significativas, sendo as principais,


banheiro utilizado somente pelo domicílio e o destino do lixo inadequado (banhlixo2) e sexo
do chefe da família (sexchef), logo não apresentam relevância em seus resultados. É
importante frisar que essas ou outras variáveis só devem ser eliminadas do modelo caso
tenha-se inteira convicção de sua insignificância para o resultado do mesmo.

As demais variáveis do período são significativas a 1%26 em seus resultados, com


destaque para a variável tipo de família (famtipo) que indica o número de componentes de
uma família. Isso significa que o critério para o recebimento de um benefício social é que uma
família seja constituída por mais de um membro. Na Tabela 5, o resultado nos diz que
famílias com apenas um membro diminuem suas chances de participação em programas
sociais dentro do período.

26
No resultado da PNAD 2002 a variável famílias que não possuem serviço de tratamento de água (aguainad) foi
significativa a 5%.
83
Tabela 5 - Modelo logit para o cálculo da probabilidade do
indivíduo da região da Amazônia Legal

Efeito Marginal
Variáveis
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014
-0,049*** -0,081*** -0,146*** -0,155*** -0,137*** -0,237*** -0,104*** -0,144*** -0,117*** -0,058*** -0,127*** -0,102*** -0,068***
famtipo
(0,002) (0,003) -0,004 (0,004) (0,003) (0,004) (0,003) (0,003) (0,003) (0,002) (0,003) (0,002) (0,002)
-0,003*** -0,005*** -0,007*** -0,008*** -0,008*** -0,015*** -0,006*** -0,009*** -0,007*** -0,003*** -0,008*** -0,006*** -0,005***
anosest
(0,0001) (0,0001) (0,0002) (0,0002) (0,0002) (0,0002) (0,0001) (0,0002) (0,0001) (0,0001) (0,0002) (0,0001) (0,0001)
0,003*** 0,002** -0,0005 -0,002 -0,002 -0,004*** -0,001 -0,001 -0,001 -0,001 -0,003** 0,003*** 0,002**
aguainad
(0,001) (0,001) (0,001) (0,001) (0,001) (0,002) (0,001) (0,001) (0,001) (0,0007) (0,001) (0,001) (0,001)
-0,005*** -0,013*** -0,023*** -0,023*** -0,026*** -0,042*** -0,016*** -0,019*** -0,016*** -0,005*** -0,016*** 0,003 -0,0008
aguacond
(0,001) (0,001) (0,002) (0,002) (0,002) (0,003) (0,001) (0,003) (0,003) (0,001) (0,004) (0,004) (0,003)
0,008*** 0,013*** 0,013*** 0,024*** 0,024*** 0,039*** 0,016*** 0,028*** 0,017*** 0,009*** 0,029*** 0,015*** 0,008*
banheiropart
(0,002) (0,002) (0,003) (0,003) (0,003) (0,005) (0,002) (0,004) (0,003) (0,001) (0,005) (0,004) (0,004)
-0,002 0,002 0,002 0,011*** 0,006* 0,009 0,006*** 0,016*** 0,006** 0,006*** 0,030*** 0,028*** 0,005
banhlixo2
(0,002) (0,002) (0,003) (0,004) (0,004) (0,005) (0,002) (0,004) (0,003) (0,002) (0,006) (0,006) (0,005)
-0,013*** -0,018*** -0,019*** -0,025*** -0,024*** -0,035*** -0,024*** -0,030*** -0,007 -0,006** -0,026*** -0,010 -0,001
banhlixo4
(0,003) (0,004) (0,005) (0,005) (0,005) (0,007) (0,004) (0,006) (0,005) (0,003) (0,009) (0,008) (0,007)
-0,013*** -0,015*** -0,026*** -0,017*** -0,023*** -0,043*** -0,018*** -0,011 -0,012** 0,002 -0,005 0,029* -0,002
banhlixo5
(0,004) (0,003) (0,009) (0,007) (0,005) (0,007) (0,003) (0,007) (0,006) (0,004) (0,011) (0,018) (0,009)
0,018*** 0,015*** 0,019*** 0,006 0,021*** 0,027*** 0,013*** 0,007* 0,008*** 0,0007 -0,008 -0,025*** -0,0006
lixoina
(0,002) (0,002) (0,003) (0,004) (0,003) (0,005) (0,002) (0,004) (0,003) (0,002) (0,006) (0,005) (0,005)
0,017*** 0,035*** 0,054*** 0,060*** 0,061*** 0,099*** 0,046*** 0,060*** 0,047*** 0,014*** 0,062*** 0,048*** 0,036***
maqlav
(0,001) (0,001) (0,001) (0,001) (0,001) (0,002) (0,001) (0,001) (0,001) (0,0008) (0,001) (0,001) (0,001)
-0,001 0,006*** 0,001 -0,0001 0,003 0,011*** 0,006*** 0,006** 0,007*** 0,001 0,0002 0,006** 0,001
paredeina
(0,001) (0,001) (0,002) (0,002) (0,002) (0,003) (0,001) (0,003) (0,002) (0,001) (0,004) (0,003) (0,003)
-0,016*** -0,003 -0,001 -0,006** 0,0005 -0,014*** -0,006*** -0,005 -0,004 0,003*** -0,010*** -0,009*** -0,007***
cobertura
(0,002) (0,002) (0,003) (0,003) (0,002) (0,004) (0,002) (0,003) (0,002) (0,001) (0,003) (0,003) (0,002)
-0,005*** -0,004*** -0,002 0 -0,002 0,0004 0,0002 -0,001 0,0009 0,001** 0,005** 0,005*** 0,004***
racachef
(0,001) (0,001) (0,001) (0,002) (0,001) (0,002) (0,001) (0,001) (0,001) (0,0008) (0,001) (0,001) (0,001)
-0,001 -0,001 -0,0008 0,0014 0,0001 0,004*** -0,001 0,008*** 0,005*** 0,0008 0,010*** 0,008*** 0,008***
sexchef
(0,0009) (0,001) (0,001) (0,001) (0,001) (0,001) (0,0008) (0,001) (0,0009) (0,0005) (0,001) (0,001) (0,001)
Nº de observações 101.136 103.648 105.409 110.090 114.320 116.061 114.847 114.559 117.560 106.195 110.249 110.749 114.734
R2 0,1217 0,1288 0,1254 0,1215 0.1427 0.1652 0.1745 0.1432 0.1516 0.1187 0.1211 0.1011 0.0963
* Significativo a 10%; ** Significativo a 5%; *** Significativo a 1%
Elaboração do autor

84
Outra variável que merece destaque no período é a média de anos de estudo do chefe
da família (anosest). Verifica-se uma relação inversa entre as chances de participação do
programa e essa variável. Um ano a mais de estudo do chefe de família diminui as chances de
participação no programa em 0,003; 0,005 e 0,007 pontos percentuais, respectivamente,
dentro do período ao nível de significância de 1%. Considere-se, por exemplo, uma média de
15%. Com a diminuição em pontos percentuais citados, as chances de recebimento do
benefício em media reduziriam em 14,995 p.p. Isso é coerente, pois quanto maior o grau de
instrução do chefe da família, maiores são as oportunidades que lhe podem ser ofertadas.

Levando em consideração o aspecto multidimensional da pobreza, famílias que não


dispõem de condições básicas de sobrevivência satisfatórias, como saneamento básico e
condições de higiene como domicílios que partilham o uso de somente um banheiro
(banheiropart), aumentam as chances de participação nesses programas em 0,008; 0,013 e
0,013 pontos percentuais, respectivamente a 1% de significância estatística. Por outro lado
domicílios que possuem tratamento de água (aguacond) contribuem para a não participação
do programa no período.

No segundo período, ocorre a agregação dos programas de transferência de renda


condicionados no PBF, cujos subperíodo de 2004 à 2006 é marcado pela estruturação e
consolidação do programa, reiterando agora de forma mais clara os critérios de participação
através de uma base de dados mais solida no cadastro único (CadÚnico). Assim, alguns
resultados que aparecem com sinal negativo significam que famílias que são atendidas por
alguns serviços ou que não se encaixam dentro de alguns critérios têm suas chances de
participação no programa reduzidas, dentro do critério do efeito marginal.

O aumento na média de anos de estudo (anosest) também contribui para a redução das
chances de recebimento do benefício em todo o período. As variáveis domicílios que possuem
tratamento de água (aguacond) e domicílios que partilham o uso de somente um banheiro
(banheiropart) são relevantes no modelo em todo o período. Elas mostram que famílias que
são atendidas pelo serviço de tratamento de água têm suas chances de participação mitigadas
em 0,023; 0,026 e 0,042, respectivamente e famílias que partilham de banheiro coletivo
aumentam suas chances inclusão ao programa em 0,024; 0,024 e 0,039, respectivamente para
o subperíodo de 2004 à 2006, dentro de um nível de significância de 1%.

85
Para os anos seguintes, outras variáveis apresentam relevância no modelo, como, por
exemplo, famílias que se enquadram no parâmetro banheiro utilizado somente pelo domicílio
e o destino do lixo inadequado (banhlixo2) têm suas chances de inclusão ao programa
aumentadas. Assim também - embora menos relevante - domicílio cujo material da parede é
pouco adequado (paredeina) têm mais probabilidade de participação do PBF.

O PBF tem como critério-mor para recebimento do benefício o fator renda, no entanto
as questões sociais também são consideradas importantes para a efetivação do programa, tudo
porque é feita uma leitura histórico-social com o objetivo de reduzir as desigualdades de
renda e social. Assim, as questões de raça e sexo são importantes critérios de participação,
mesmo com menor relevância em seus resultados dentro do modelo. Núcleos familiares
compostos por responsáveis autodeclarados negros (raçachef) têm maiores chances de
participar do programa do que responsáveis declarados brancos.

A variável sexo do chefe da família (sexchef) indica que famílias que são chefiadas por
mulheres têm sua probabilidade de participação no programa aumentadas, haja vista que o
beneficio é direcionado a família através da mãe, que se torna responsável pelo recebimento e
execução do valor no que considera essencial para o núcleo familiar. Com isso, diz-se que os
resultados do modelo tendem a confirmar a efetividade do programa no período em questão.

4.2 Análises das Diferenças de Média

Foi rodado através do propensity score o modelo de diferenças de média de renda total
e renda total per capita com e sem aposentadoria para o período de 2001 à 2014. Este teste
serve para identificar quanto a renda de uma família que recebe/não recebe o benefício do
Programa Bolsa-Família se distância da renda média geral. Os resultados do teste t são
analisados dentro dos níveis de confiança de 1%, 5% e 10%.
Para chegar aos resultados de diferenças de média, foi necessário encontrar o IPCA
implícito, o que resultou em valores que foram utilizados para deflacionar a renda no período.

86
Tabela 6 Diferença de médias das rendas totais com e sem aposentadoria dos indivíduos
que recebem o benefício do do Bolsa-Família pra Amazônia Legal, 2001 à 2014.

Variáveis 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014
Renda total com aposentadoria Diferença de Médias -40,89 -57,98 -122,34 -131,98 -137,17 -222,50 -271,27 -166,53 -369,49 -363,20 -553,53 -572,95 -614,93
Razão t -3,09 -5,40 -16,82 -12,60 -16,37 -32,16 - -15,74 -47,77 -25,92 -52,33 -44,94 -
Renda total sem aposentadoria Diferença de Médias -49,78 -46,33 -88,71 -96,68 -89,86 -138,53 -184,87 -182,80 -239,99 -226,26 -372,06 -375,41 -380,79
Razão t -4,38 -5,18 -14,54 -12,29 -11,99 -21,98 - -18,79 -35,24 -19,28 -38,01 -31,36 -
2,57 - significativo a 1%; 1,96 - Significativo a 5%; 1,64 - Significativo a 10%
Elaboração do autor

Tabela 7 Diferença de médias das rendas totais per capita com e sem aposentadoria dos
indivíduos que recebem o benefício do Bolsa-Família pra Amazônia Legal, 2001 à 2014.

Variáveis 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014
Diferença de Médias
Renda total per capita com aposentadoria -25,72 -47,87 -70,32 -78,66 -87,71 -120,58 -134,41 -93,03 -168,72 -179,14 -238,11 -256,48 -267,91
Razão t -4,97 -15,57 -30,36 -29,27 -34,41 -57,36 - -29,31 -85,45 -49,99 -51,86 -70,49 -
Diferença de Médias
Renda total per capita sem aposentadoria -19,51 -32,48 -48,26 -51,73 -54,39 -72,21 -84,03 -86,49 -101,21 -106,20 -146,41 -157,30 -153,83
Razão t -4,42 -12,44 -27,45 -23,10 -24,27 -40,24 - -28,66 -58,71 -37,22 -33,59 -45,14 -
2,57 - significativo a 1%; 1,96 - Significativo a 5%; 1,64 - Significativo a 10%
Elaboração do autor

87
Os resultados da Tabela 6 evidencia que ao longo dos anos, tem aumentado a distância
da renda dos que recebem e não recebem o Bolsa Família, isso pode estar ligado sim a
melhoria de distribuição de renda para o extrato mais alto, mas não necessariamente para o
extrato mais baixo. Pode-se concluir que a medida que os anos passam o programa procura
atender a famílias mais necessitadas, o que seria um indicador de melhora da efetividade do
programa ao longo dos anos. A Tabela 7 segue a mesma interpretação.

Destacando os anos de 2001, 2006 e 2014, verifica-se na Tabela 6 para o ano de 2001,
que quem recebe benefício de programas de transferência de renda condicionado do governo
federal tem renda total com aposentadoria de R$ 40,88 menor do que quem não recebe. No
entanto, na Tabela 7, considerando a renda per capita, quem recebe o benefício sem
aposentadoria tem uma renda R$ 19,51 menor do que a media geral em relação a quem não
recebe. As razões t para os parâmetros de ambas as tabelas são significativas em todos os
níveis de confiança propostos.

No que concernem as diferenças de média para o ano de 2006, a renda total sem
aposentadoria é de R$ 138,53 menor que a media geral. Quando a variável aposentadoria é
inserida, a diferença sobe para R$ 222,50, isso porque quando a renda de aposentadoria é
computada, a mesma influencia no complemento da renda, apresentando uma melhor
consolidação financeira. Para entender melhor, considera-se que a renda media geral seja de
R$600,00. Assim quem recebe Bolsa Família tem uma renda média total sem aposentadoria
de R$ 461,47.

Em relação a renda total per capita com aposentadoria, quem recebe o Bolsa-Família
tem uma renda per capita de R$ 72,20 reais menor do que o indivíduo que não está no
programa. Quando é inserido o parâmetro aposentadoria, o valor é de R$ 120,58 menor. Em
ambas as tabelas as razões t são altamente significativas em todos os níveis de confiança.

O ano de 2014 que é o momento analisado onde a diferença de média mais se


intensifica na série estudada pode trazer duas evidências muito claras e importantes nesse
trabalho. A primeira é a importância das aposentadorias na composição da renda total,
enquanto que em 2014 a diferença de renda entre os que não recebiam bolsa e os que
recebiam era de R$ 614,93 em média maior para os que não recebiam o benefício. No entanto
88
quando se tira da análise as aposentadorias, percebe-se que a diferença entre os que não
recebem o benefício que os que recebem bolsa família passa a ser de R$ 380,79. Isso mostra
que, num cenário onde as aposentadorias são omitidas a situação é preocupante,
principalmente no Brasil onde a discussão em pauta é a precarização da mesma.

A previdência é no fundo uma política social, tão logo essa discussão deve vir a luz,
uma vez que as alterações, associadas à precarização do mercado de trabalho tende a provocar
queda no consumo das famílias, impactando de forma negativa o PIB. Uma reforma
previdenciária nos moldes neoliberais subtrai a renda dos indivíduos, uma vez que o cálculo
da aposentadoria passa a ser alterado de forma a aumentar o tempo de contribuição para o
recebimento integral do benefício, o que contribui significativamente para o aumento da
desigualdade de renda, pois afeta a camada mais necessitada da sociedade. Uma vez que as
famílias não têm como consumir, não há demanda para produtos e serviços, afetando
diretamente a atividade econômica.

Em relação a renda total per capita, a diferença de média entre renda com e sem
aposentadoria de quem participa do PBF é menor do que a relação entre as rendas totais com e
sem aposentadoria. Assim, que participa do programa e recebe aposentadoria tem uma renda
per capita de R$ 267,91 menor do que quem não recebe aposentadoria. Embora os resultados
das diferenças de média se mostrem relevantes, as razões t se mostraram não significativas em
todos os parâmetros.

É importante observar que os resultados negativos não significam que as pessoas


lançam mão da desutilidade do trabalho, pelo contrário, significa que sua renda do trabalho é
menor, confirmando a efetividade do programa, que direciona o benefício para quem
necessita, como forma de complementação de renda.

Dentro do que foi exposto, pode-se dizer que o PBF foi efetivo dentro do período
colocado, ou seja, foi direcionado para quem mais precisa, obedecendo aos critérios de
elegibilidade.

89
4.3 Os determinantes de queda da Desigualdade e Pobreza nas regiões brasileiras
entre 2001 e 2014.

O objetivo desta seção é evidenciar as trajetórias do índice de Gini e da proporção de


pobres nas unidades da federação para período de 2001 à 2014. Para isso foram realizados
modelos de dados em painel para seis cenários diferentes, os quais posteriormente originaram
o modelo do controle sintético.

Como já conhecido na literatura, o índice de Gini é uma medida de desigualdade


desenvolvida para ser utilizada no cálculo da desigualdade de distribuição de renda, mas pode
ser usada também para qualquer distribuição, como concentração de terra, riqueza entre outras
e também pode ser usado para ajudar a quantificar as diferenças no bem-estar entre as
sociedades, além de ser usado para comparar as distribuições de renda entre diferentes setores
da população.

Os valores se situam entre 0 e 1, onde quanto mais os valores do coeficiente de Gini,


se afastarem de 0, maior será a desigualdade. A Tabela 8 abaixo reproduz a evolução do
coeficiente de Gini, que mede o grau de desigualdade existente na distribuição de indivíduos
segundo a renda familiar per capita, para a economia brasileira e para grandes regiões e
unidades da federação no período de 2001 a 2014.

A análise por trás do índice de Gini neste trabalho é interrogar a relação entre o índice
e os programas de transferência de renda do governo federal e outros determinantes, isto é, se
eles foram relevantes para redução da desigualdade no período de referência de forma
significativa. É claramente visível que o índice de Gini evoluiu de forma decrescente nesse
espaço de tempo, no entanto depois de verificar essa redução é necessário identificar os
principais determinantes dessa queda. Para isso, será feita a relação da desigualdade com
alguns desses determinantes.

A primeira relação a ser feita é entre a desigualdade de renda e os programas de


transferência de renda. É muito comum pesquisadores consentirem na falta de efetividade de
programas de transferência de renda. No Brasil, por exemplo, alguns autores se valem de
erros interpretativos em seus trabalhos sobre PTRC, como o trabalho de Ribeiro e Cacciamali
(2012) que apontam para a não efetividade do PBF para o ano de 2006. No entanto como foi

90
abordado por Pontes (2016), o período de analise para um ano está voltado para a efetividade
do programa, ou seja, o mesmo está sendo direcionado para quem realmente precisa do
benefício e não está remetido a uma análise de eficácia, que só poderia ocorrer anos após o
início de inclusão ao programa.

Tabela 6 Índice de Gini para grandes regiões e unidades da federação, Brasil 2001 à
2014.
Grandes Regiões e Índice de Gini
Unidades da Federação
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014

Norte
Rondônia 0,559 0,535 0,503 0,535 0,568 0,535 0,506 0,504 0,494 0,502 0,480 0,473 0,477
Acre 0,620 0,628 0,576 0,585 0,570 0,578 0,584 0,625 0,613 0,551 0,552 0,525 0,537
Amazonas 0,597 0,554 0,562 0,541 0,501 0,517 0,559 0,530 0,526 0,560 0,515 0,544 0,534
Roraima 0,575 0,568 0,537 0,578 0,594 0,565 0,507 0,538 0,531 0,536 0,554 0,542 0,515
Pará 0,575 0,581 0,546 0,545 0,540 0,541 0,539 0,526 0,521 0,543 0,513 0,513 0,498
Amapá 0,487 0,565 0,615 0,563 0,520 0,476 0,506 0,504 0,496 0,522 0,530 0,532 0,473
Tocantins 0,602 0,559 0,563 0,569 0,534 0,507 0,539 0,518 0,513 0,512 0,524 0,504 0,493

Nordeste
Maranhão 0,583 0,575 0,591 0,627 0,522 0,610 0,563 0,567 0,556 0,561 0,596 0,574 0,527
Piauí 0,600 0,619 0,592 0,604 0,599 0,585 0,599 0,555 0,545 0,501 0,554 0,519 0,502
Ceará 0,620 0,597 0,582 0,592 0,573 0,546 0,548 0,564 0,555 0,533 0,523 0,524 0,492
Rio Grande do Norte 0,564 0,572 0,558 0,572 0,592 0,561 0,543 0,570 0,561 0,560 0,534 0,543 0,499
Paraíba 0,598 0,619 0,582 0,595 0,580 0,565 0,601 0,605 0,600 0,542 0,547 0,519 0,511
Pernambuco 0,623 0,617 0,605 0,618 0,606 0,592 0,569 0,576 0,567 0,534 0,508 0,504 0,517
Alagoas 0,606 0,609 0,619 0,568 0,572 0,635 0,602 0,564 0,554 0,530 0,525 0,533 0,509
Sergipe 0,551 0,538 0,563 0,558 0,565 0,558 0,528 0,583 0,576 0,554 0,537 0,554 0,483
Bahia 0,619 0,615 0,599 0,572 0,576 0,566 0,574 0,576 0,568 0,565 0,565 0,569 0,536

Sudeste
Minas Gerais 0,562 0,566 0,555 0,544 0,536 0,529 0,524 0,524 0,517 0,517 0,514 0,500 0,491
Espírito Santo 0,608 0,564 0,552 0,556 0,554 0,538 0,524 0,543 0,536 0,495 0,492 0,493 0,476
Rio de Janeiro 0,574 0,555 0,564 0,553 0,560 0,546 0,547 0,547 0,544 0,537 0,532 0,535 0,521
São Paulo 0,553 0,565 0,549 0,530 0,533 0,516 0,507 0,494 0,491 0,495 0,503 0,496 0,503

Sul
Paraná 0,573 0,540 0,553 0,551 0,535 0,519 0,524 0,500 0,496 0,471 0,481 0,476 0,459
Santa Catarina 0,515 0,474 0,479 0,463 0,461 0,461 0,467 0,470 0,467 0,445 0,427 0,432 0,419
Rio Grande do Sul 0,564 0,555 0,539 0,531 0,527 0,526 0,512 0,504 0,500 0,503 0,496 0,500 0,489

Centro-Oeste
Mato Grosso do Sul 0,571 0,567 0,530 0,523 0,522 0,528 0,561 0,528 0,523 0,513 0,483 0,499 0,478
Mato Grosso 0,562 0,577 0,543 0,525 0,519 0,538 0,506 0,512 0,507 0,479 0,520 0,499 0,464
Goiás 0,566 0,545 0,520 0,535 0,554 0,501 0,522 0,503 0,498 0,483 0,483 0,482 0,446
Distrito Federal 0,629 0,625 0,633 0,627 0,608 0,610 0,612 0,625 0,625 0,602 0,580 0,577 0,589
Elaboração do autor

Em seu trabalho, Rasella et al (2013) aponta o efeito dos programas de transferência


de renda como o Bolsa Família na redução da mortalidade infantil, além de outros programas,
como saúde da família para o período de 2004 a 2009. Segundo sua pesquisa o PBF “It
reached all 5565 Brazilian municipalities and enrolled 13.4 million families in 2011, with a
91
total budget of US$11.2 billion”(p.57). seus resultados atestaram que de 2004 à 2009, a taxa
média de mortalidade inferior a 5 anos diminuiu 19,9% em os municípios estudados, com a
maior diminuição associada à desnutrição.

Isso confirma que desde sua criação em 2003, o programa passou uma expansão em
sua cobertura, principalmente até o período analisado. Então, pelos resultados da Tabela 9
acima, pode-se dizer que essa expansão de cobertura do Bolsa Família, dentro de suas
condicionalidades e o aumento em seu orçamento apresentou impacto significativo sobre a
desigualdade de renda.

Outra relação a ser feita é entre a desigualdade de renda e o crescimento econômico. A


desigualdade de renda arrefece o crescimento econômico devido a alta concentração de renda
que geram externalidades negativas, embora dentro da literatura tenham aqueles que pensam a
desigualdade de renda como benéfico para o crescimento e outros que esta não apresente
impacto para este.

Entre 2001 e 2010, o Brasil apresentou taxas de crescimento do PIB satisfatórias que
garantiram mais distribuição de renda para a classe mais desassistida da sociedade, incluindo-
a na economia através da indução de demanda. Com um crescimento econômico satisfatório e
transferência de renda através de programas sociais, as grandes indústrias são induzidas a
produzir mais, garantindo mais emprego e renda, contribuindo para o a redução da pobreza
intergeracional. Aghion e Bolton (1992) apud Araújo e Marinho (2015) afirmam que:

“A desigualdade de renda afeta o crescimento devido às imperfeições no mercado de


capitais que limita o acesso dos agentes mais pobres ao financiamento de atividades
lucrativas. Assim, os indivíduos pobres ficam incapacitados de investirem em capital
humano devido à restrição ao crédito, inibindo o crescimento” (p.568).

O aumento da média de anos de estudo do chefe de família, por exemplo influencia da


queda da desigualdade de renda pelo fato de que com maior nível de instrução, as
oportunidades tendem a se expandir, mas para isso é muito importante uma estrutura
organizada pelo Estado para garantir qualidade no processo de transmissão do conhecimento.
Segundo dados do Banco Mundial pode-se ver que o coeficiente de Gini para o Brasil caiu de
0,593 em 2001 para 0,515 em 2014, o que significou uma redução de 0,078 pontos, ou 13,1%.
Nos últimos anos o grande foco dos estudos de desigualdade no país tem se voltado
para a existência histórica de profundos contrastes sociais nas condições de vida, e
92
principalmente de renda entre os residentes das regiões brasileiras. Assim, se propõe analisar
as contribuições de alguns determinantes para a redução da pobreza dentro do período
proposto. Para isso foi rodado pelo score de propensão dentro do modelo a proporção de
pobres para grandes regiões e unidades da federação para o período de 2001 a 2014 utilizando
como já mencionado as linhas de Pobreza calculadas a partir da POF/IBGE e ajustadas a cada
ano pela variação dos INPC regionais em nível de grupos de produtos no período de 2001 a
2014 que se balizam em Sonia Rocha. É preciso destacar que o que está sendo considerado é
o aspecto unidimensional da pobreza, cujos resultados encontram-se na tabela 9 abaixo.

Tabela 7 - Proporção de Pobres nas Grandes Regiões e Unidades da Federação, Brasil


2001 à 2014.
Grandes Regiões e Proporção de Pobres
Unidades da Federação
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014

Norte
Rondônia 31,3 29,6 28,1 18,5 24,8 18,1 18,3 14,8 14,8 11,9 9,1 10,2 8,4
Acre 36,1 37,1 39,6 35,7 36,3 28,5 32,8 25,1 25,1 23,9 19,0 19,7 18,0
Amazonas 40,1 42,9 42,0 35,3 27,6 26,7 31,3 22,6 22,6 26,6 21,8 21,2 17,1
Roraima 32,3 44,0 36,2 45,0 40,0 30,4 26,9 21,2 21,2 15,3 16,5 13,6 10,1
Pará 43,0 42,4 44,3 36,2 35,4 30,3 27,3 27,7 27,7 23,7 19,4 20,0 18,2
Amapá 19,0 39,3 39,5 36,9 28,5 22,4 24,7 23,2 23,2 25,2 19,9 19,7 11,2
Tocantins 24,3 30,4 27,7 30,3 27,7 25,5 24,3 16,5 16,5 16,5 13,9 13,6 13,3

Nordeste
Maranhão 51,6 51,0 54,5 52,9 46,4 43,6 39,7 32,6 32,6 31,0 28,6 27,1 22,4
Piauí 47,8 47,6 50,2 46,2 44,6 37,4 35,2 27,6 27,6 25,0 19,3 18,0 17,7
Ceará 49,2 47,8 50,7 50,3 43,3 39,6 37,0 30,7 30,7 25,3 22,4 21,8 20,0
Rio Grande do Norte 39,9 39,5 42,4 39,4 35,0 29,0 28,1 23,9 23,9 21,6 15,8 16,2 15,4
Paraíba 48,4 43,1 47,1 44,2 39,4 33,0 35,5 31,3 31,3 21,3 20,6 18,2 16,1
Pernambuco 55,3 54,7 59,0 56,2 52,7 49,6 46,5 40,9 40,9 36,1 30,3 28,1 27,8
Alagoas 52,9 52,8 56,1 52,0 48,6 43,9 40,7 35,1 35,1 29,1 23,4 25,7 22,9
Sergipe 43,8 40,1 41,8 36,4 36,4 34,2 31,1 29,4 29,4 18,2 17,3 16,3 13,9
Bahia 49,0 48,3 52,4 46,1 42,2 37,4 36,9 31,7 31,7 26,5 24,9 22,5 19,4

Sudeste
Minas Gerais 28,0 26,6 28,2 25,5 22,8 19,4 18,7 14,1 14,1 10,8 9,2 8,5 8,4
Espírito Santo 25,9 21,1 23,6 21,1 19,5 15,5 14,2 12,7 12,7 8,4 5,9 8,5 6,6
Rio de Janeiro 28,8 26,2 30,0 28,3 26,7 22,7 21,7 18,6 18,6 18,0 17,8 15,0 14,6
São Paulo 28,7 29,2 30,4 29,6 25,4 21,7 19,7 18,3 18,3 15,3 13,0 12,8 12,0

Sul
Paraná 22,1 18,8 20,1 17,0 16,2 13,9 10,2 8,9 8,9 6,0 5,5 5,1 4,1
Santa Catarina 9,3 8,6 8,5 8,1 5,9 3,9 3,4 2,9 2,9 3,7 2,1 3,1 1,8
Rio Grande do Sul 15,6 16,3 15,8 14,8 13,0 11,3 10,5 8,1 8,1 6,3 4,9 5,2 4,1

Centro-Oeste
Mato Grosso do Sul 36,4 33,9 33,6 33,2 30,3 25,1 24,1 18,8 18,8 12,6 10,3 10,1 8,2
Mato Grosso 33,2 33,8 36,3 28,6 28,8 26,4 25,4 20,2 20,2 12,0 12,4 11,7 7,7
Goiás 37,8 35,9 36,0 31,6 32,2 26,7 23,4 19,2 19,2 15,7 11,9 12,6 10,9
Distrito Federal 39,4 37,3 42,1 41,1 36,1 30,3 29,5 28,7 28,7 22,5 20,7 18,6 17,3
Elaboração do autor

Concernente a pobreza, a Tebela 9 acima apresenta a proporção de pobres para as


unidades da federação no período de 2001 à 2014, onde é possível verificar sua tendência de

93
queda. Como verificado, o Nordeste é a região que apresenta a maior proporção de pobres do
país, embora em todos os estados a redução da pobreza no período tenha sido muito
significativa. O mesmo se pode dizer para a maioria das unidades da federação.

Um dos fatores que contribuíram para a queda da proporção de pobres foi a política
de valorização do salário mínimo no período. Estudos brasileiros como os de Hoffman (2006)
apud Araújo e Marinho (2015) demonstram que a maior parcela na queda da desigualdade de
renda nos últimos anos se deve a mudanças na distribuição dos rendimentos do trabalho.
Segundo esses autores, Hoffmam estimou no período de 2002 a 2005 que a decomposição do
índice de Gini no Brasil é verificada que 69% dessa variação esta associada ao rendimento de
todos os trabalhos e 31,4% associado as transferências feitas pelo governo federal.
O investimento em capital humano também é um determinante muito importante para
os resultados da Tabela 9. No Brasil, a heterogeneidade da educação contribui para a baixa
qualidade do ensino e, por conseguinte da formação e qualificação de mão de obra. Mesmo
assim, entre 2004 e 2014, políticas públicas de inclusão voltadas para o sistema educacional
iniciaram um longo processo de reparo histórico-social da pobreza e desigualdade.
A política de cotas e um bom exemplo, pois ampliam as oportunidades de acesso as
universidades como forma de diminuir as disparidades sociais. Assim, a importância da
educação fica evidente não somente para as diferenças de renda, mas também para a redução
da desigualdade no período.
A economia não cresce somente com capital e produtividade, mas precisa da
participação humana para executar suas atividades, que por sua vez, necessita de educação e
treinamento para adquirir conhecimento. A julgar que o objetivo do Estado é o progresso
econômico, este assume os gastos referentes ao sistema educacional e treinamento para que
no curto prazo induza demanda e no longo prazo eleve a renda e gere crescimento econômico.
Segundo o trabalho de Nakabashi e Figueiredo (2005) o capital humano afeta a taxa de
crescimento da renda do trabalhador de três formas: 1) através da melhora da produtividade
do trabalhador; 2) criação de tecnologia; e 3) difusão de tecnologia.

É possível identificar também a existência de um padrão de crescimento da economia


através do aumento do PIB e o controle da inflação no período, principalmente entre 2003 e
2010, o que permitiu uma melhor distribuição de renda.

94
Em termos de resultados efetivos, o primeiro governo Lula realizou, de 2003 a 2006,
taxas respectivas de crescimento do PIB de 1,1%, 5,8%, 3,2% e 4,0%27, numa conjuntura em
que a economia mundial crescia praticamente o dobro dessas taxas e os emergentes dinâmicos
três vezes mais. Mesmo com a crise econômica mundial em 2008, o PIB diminuiu muito
pouco em 2009, apresentando rápida recuperação em 2010. Outro fator foi a manutenção da
inflação dentro dos limites da meta estabelecida pela Política monetária do Banco Central do
Brasil.
Segundo o IPEA (2015) a reativação do mercado de trabalho foi fator implícito na
forma de crescimento da economia brasileira, se mostrando como um dos principais
determinantes da relativa melhora na condição socioeconômica da população brasileira, uma
vez que o prolongado boom da demanda internacional de commodities favoreceu o
desempenho econômico dos países em desenvolvimento dotados de recursos naturais, em
especial a China, cuja voracidade por matérias-primas beneficiou duplamente o Brasil: pelo
volume exportado e pelos preços valorizados, estimulando o aumento no número de
contratações de trabalhos formais, resultando em declínio das taxas de desemprego no
período.

Embora baixa, mas foi notório o esforço do Estado em qualificar mão de obra e
investir em política educacional no período. A expansão do crédito também impulsionou a
queda da pobreza no período, elemento que ganhou crescente notoriedade nos últimos anos no
Brasil. As ações do Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado (PNMPO),
criado no plano do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) estimularam o aumento da
renda entre as regiões, permitindo a universalização do acesso ao microcrédito a milhares de
pessoas que até então eram excluídas do sistema financeiro tradicional e também gerar,
trabalho, emprego e renda.

Dando prosseguimento a análise dos modelos, serão examinados os modelos de efeito


fixo para desigualdade total, desigualdade de tratamento e desigualdade controle,
considerando as contribuições de cada variável para a evolução da variável dependente no
perído em questão. Os três primeiros cenários utilizam o log natural do índice de Gini como

27
Fundação Getúlio Vargas - Centro de Contas Nacionais - diversas publicações, período 1947 a 1989; IBGE.
Diretoria de Pesquisas. Coordenação de Contas Nacionais. Os valores de PIB per capita de 2000 a 2014 foram
atualizados a partir das Contas Nacionais - Brasil 2010-2014, divulgadas em 17/11/2016.

95
variável dependente e buscam através da técnica do controle sintético demonstrar a trajetória
desta variável em resposta as variáveis log natural renda total com aposentadoria per capita,
log natural da raça do chefe de família, log natural do sexo do chefe da família, log natural do
PIB per capita, log natural da taxa de desemprego, log natural da taxa de mortalidade infantil
e log natural do Bolsa Família.

Os três últimos cenários utilizam a variável proporção de pobres como dependente


para as variáveis preditoras acima descritas. Como o modelo trabalhado compreende análise
de dados de corte transversal combinados com série temporal, isto é, dados em painel, se fez
necessária a aplicação do teste de Hausman com o intuito de verificar qual o modelo de
análise mais adequado entre os tipos de efeito fixo e efeito aleatório, se baseando nas
diferenças encontradas entre os vetores de estimativas destes dois modelos de análise, de tal
maneira que a hipótese nula, compreende que a diferença entre os vetores de estimativas fixos
e aleatórios seja zero, conforme segue:

(20)

A rejeição da hipótese nula implica na opção pela utilização do modelo de efeitos


fixos, os quais foram considerados para análise dos cenários neste trabalho. Para conclusão do
teste, o valor calculado por este precisa ser analisado de acordo com uma tabela de
distribuição 𝑋 2 com 𝐾 − 1 graus de liberdade. Os seis cenários são apresentados na tabela 8
abaixo.

96
Tabela 8 - Estimativas do modelos total, tratamento e controle de desigualdade e
pobreza para efeitos fixos.
Desigualdade Pobreza
Cenario 1 Cenário 2 Cenário 3 Cenário 4 Cenário 5 Cenário 6
Efeito fixo Efeito Fixo Efeito Fixo Efeito Fixo Efeito Efeito Fixo
Coeficientes Desigualdade Desigualdade Desigualdade Pobreza FixoPobreza Pobreza
Total tratamento controle Total tratamento controle

-0,448*** -0,107** 0,035 0,673* 0,566** -0,402*


lanosest
(-5,20) (-2,89) -1,12 -2,07 -3,03 (-2,28)

0,131*** -0,0212 -0,016 -0,912*** -0,460*** -0,436***


lrendcapc
-5,19 (-1,82) (-1,19) (-9,56) (-7,85) (-5,71)

-0,0122 0,00428 -0,00442 0,00529 0,0284 0,0289


lracachef
(-1,28) -0,85 (-0,82) -0,15 -1,11 -0,95

0,00786 -0,00445 0,000128 0,0909 -0,0268 -0,0504


lsexchef
-0,41 (-0,78) -0,02 -1,26 (-0,94) (-1,30)

-0,156*** -0,0740*** -0,110*** -0,324*** -0,798*** -0,516***


lpibpc
(-7,89) (-3,82) (-5,54) (-4,33) (-8,20) (-4,58)

0,0296* 0,0243 0,00266 0,188*** 0,192** 0,198**


ltxdes
-2,5 -1,82 -0,21 -4,21 -2,84 -2,83

0,0847*** 0,0131 0,0521* -0,0262 0,0231 -0,108


ltxmort
-3,43 -0,5 -2,1 (-0,28) -0,17 (-0,77)

-0,00235*** -0,00117 -0,00105 0,00776*** -0,000939 0,00708


lbolsafam
(-3,99) (-1,66) (-1,48) -3,49 (-0,26) -1,77

-0,444** -0,199 -0,431*** 2,742*** 2,346*** 3,572***


Constant
(-2,75) (-1,63) (-3,62) -4,49 -3,83 -5,31

Observações 351 351 351 351 351 351


24.65 12.18 18.06 63.92 14.06 17.97
Estatística F
(0.00) (0.00) (0.00) (0.00) (0.00) (0.00)

0.34 1.25 0.20 50.56 1.25 7.52


Teste de Heterocedasticidade
(0.56) (0.26) (0.65) (0.00) (0.26) (0.0061)

63.81 55.88 2869.15 27.28 61.38 -24.54


Teste de Hausman
(0.00) (0.00) (0.00) (0.0003) (0.00) (0.00)
Fonte: Elaboração do autor a partir dos dados da PNADS 2001-2014
Estatística t entre parênteses
* p<0,05, ** p<0,01, *** p<0,001

A seguir serão apresentados os resultados dos modelos de controle sintético para a


desigualdade e pobreza, os quais tiveram suas amostras extraídas das PNADs do período de
2001 a 2014.

97
4.4 Modelo do Cenário 1: Efeito Fixo desigualdade total.

O modelo do cenário 1 se refere ao modelo total de desigualdade para efeito fixo.


Utilizou-se 351 observações, referentes as vinte e sete unidades da federação para cada ano do
período de 2001 a 2014.

𝑙𝑔𝑖𝑛𝑖 = −0,444 − 0,448𝑙𝑎𝑛𝑜𝑠𝑒𝑠𝑡 + 0,131𝑙𝑟𝑒𝑛𝑑𝑎𝑐𝑎𝑝𝑐 − 0,0122𝑙𝑟𝑎𝑐𝑎𝑐ℎ𝑒𝑓 + 0,00786𝑙𝑠𝑒𝑥𝑐ℎ𝑒𝑓


− 0,156𝑙𝑝𝑖𝑏𝑝𝑐 + 0,0296𝑙𝑡𝑥𝑑𝑒𝑠 + 0,0847𝑙𝑡𝑥𝑚𝑜𝑟𝑡 − 0,00235𝑙𝑏𝑜𝑙𝑠𝑓𝑎𝑚.

O modelo acima mostra que por não serem significativos, o fato de o chefe de família
ser negro, ou mulher, não faz diferença na determinação da desigualdade ou da pobreza ao
longo dos anos. O coeficiente 𝑙𝑡𝑥𝑑𝑒𝑠 foi significativo a 10% e os demais coeficientes,
significativos a 1%.

Conforme esperado, coeficientes importantes para a determinação do índice de Gini se


mostraram negativos. Por exemplo, o aumento de 10 % na média de anos de estudo ajuda a
reduzir a desigualdade em 4,4%, da mesma forma o aumento do PIB per capita em 10% reduz
a desigualdade de renda em 1,5%. Dentre as variáveis de comportamento negativo a que
causou menos impacto na redução do índice de Gini foi o 𝑙𝑏𝑜𝑙𝑠𝑓𝑎𝑚, porém mesmo com
baixo impacto, a política se mostra importante na redução da desigualdade. O que se percebe
é que se dobrarmos o volume de recursos do Programa Bolsa Família a desigualdade irá
reduzir em 2,35%. É possível que o custo monetário desse volume de investimento tenda a
trazer grande benefícios sociais à longo prazo.

Em relação a renda com aposentadoria per capita (𝑙𝑟𝑒𝑛𝑑𝑎𝑐𝑎𝑝𝑐), o modelo diz que o
aumento de um 10% nessa variável aumenta a desigualdade de renda em 1,3%. A explicação
pode ser a mesma usada para a análise das diferenças de média, em que a renda da
aposentadoria computada influencia no complemento da renda, apresentando uma melhor
consolidação financeira.

Nos estudos das ciências sociais não se pode observar o mesmo indivíduo antes e
depois do acesso ao tratamento, portanto deve-se resolver o viés de seleção existente. Além
disso, considerando que o Programa Bolsa Família é uma das variáveis que compõem a
determinação do índice de Gini neste trabalho, o mesmo não foi distribuído aleatoriamente,

98
mas obedece a um processo de seleção na medida em que existem critérios de elegibilidade
definidos. Caso a aleatoriedade fosse assegurada, o grupo de controle teria a mesma
distribuição de características do grupo de tratamento.

As análises a seguir serão realizadas agrupando as unidades da federação por região. A


região Norte será a primeira a ser analisada através o modelo do controle sintético para o
cenário 1 no intuito de evidenciar a dinâmica de evolução da variável de interesse em relação
a sua trajetória. As tabelas abaixo apresentam as participações dos estados, em porcentagem,
na construção da unidade sintética onde os pesos contribuem a explicação para os
comportamentos da trajetória sintética.

Tabela 9 Participações dos estados da região Norte, em porcentagem, na construção das


unidades sintéticas. Cenário 1.
Amapá Acre Roraima
Unidade de Controle Unidade de peso Unidade de Controle Unidade de Peso Unidade de Controle Unidade de Peso
13 0,442 11 0,79 16 0,565
14 0,513 16 0,158 17 0,347
53 0,46 22 0,052 42 0,088
RMSPE 0,1003 RMSPE 0,1007 RMSPE 0,0839
Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

Rondonia Amazonas Tocantins


Unidade de Controle Unidade de peso Unidade de Controle Unidade de peso Unidade de Controle Unidade de peso
12 0,388 14 0,148 11 0,128
15 0,044
15 0,233 14 0,202
16 0,027
16 0,361 15 0,05
17 0,292
21 0,008 26 0,178 22 0,416
42 0,073 35 0,035 42 0,041
51 0,169 53 0,045 51 0,163
RMSPE 0,0718 RMSPE 0,0678 RMSPE 0,0405
Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

Pará
Unidade de Controle Unidade de Peso
13 0,162
16 0,039
23 0,445
26 0,25
43 0,105
RMSPE 0,0497
Fonte: Elaboração do autor

As Tabelas acima apresentam a média para o período pré-tratamento das variáveis


analisadas referente as unidades da federação tratado e sintético. Assim, é possível comparar a
precisão da técnica em reproduzir as médias pré-tratamento das variáveis, observando-se um
bom ajustamento do modelo.
99
O estado do Acre apresentou a maior raiz do erro previsto quadrático médio (RMSPE)
da série sintética em relação à série original durante o período de pré-tratamento 0,1007
pontos. Os desempenhos dos estados do Amapá e Rondônia foram significativos para esse
resultado. O estado do Tocantins apresentou o menor RMSPE (0,0405%), onde Roraima e
Piauí contribuíram com maiores pesos, 0,202 e 0,416 pontos, respectivamente.

Todavia, todos os RMSPE estão dentro do critério do erro quadrático médio o que
demonstra o potencial do modelo em explicar tais variações, fazendo uma boa previsão da
série tratada para o período de pré-tratamento. É importante dizer que todas as raízes do erro
previsto quadrático médio (RMSPE) da série sintética em relação à série original durante o
período de pré-tratamento apresentaram excelentes resultados, pois a recomendação para um
modelo bem ajustado é de que esse indicador seja menor que 1,5.

Os gráficos abaixo apresentam a trajetória do índice de Gini para os estados da região


Norte e seus sintéticos. Para que a série sintética demonstre ser um bom contra factual da série
verdadeira, é importante que ela consiga prever satisfatoriamente a trajetória do índice de Gini
das unidades da federação até o inicio de 2006, ano que os programas sociais, como o Bolsa
Família ganham mais estruturação.

100
Gráfico 1 - Trajetória do índice de Gini entre os estados da Região Norte e Região
Norte sintético. Cenário 1.

Amapá Acre Rondônia

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

Amazonas Roraima Pará

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

Tocantins

Fonte: Elaboração do autor

Dentre os estados da região Norte, os que tiveram melhor e pior desempenho foram o
Amapá e Acre, respectivamente. É importante destacar que no ano de 2006, o Amapá sofreu
uma queda muito acentuada, obtendo o segundo melhor desempenho do país, conforme pode
ser visto nos gráficos do teste de placebo abaixo. Entre os indicadores pesquisados, o que
melhor explica a queda acentuada da desigualdade no estado do Amapá em 2006 é a menor
taxa de desemprego da região (6,7%), segundo as informações do IPEADATA. Segundo o
censo de 2010 o Amapá ocupa a décima quinta posição no rendimento nominal mensal
domiciliar per capita e a terceira posição de melhor rendimento médio do trabalho do país28,
bem como apresentando o melhor IDH da região Norte, o que mostra que os esforços para a
redução da pobreza foram eficazes durante o período de 2001 à 2014.29

28
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ap/panorama.
29
http://www.ipeadata.gov.br/Default.aspx
101
Por outro lado, o Acre apresentou durante o período uma visível discrepância em suas
trajetórias, colocando-o com o segundo pior desempenho a nível nacional. A complexidade
regional da região Norte também explica o resultado da maioria das trajetórias acima.
O teste de distribuição de placebo tem como função fazer com que o tratamento do
grupo de controle seja igual ao grupo experimental em tudo, menos na causa pesquisada. Os
testes para a região Norte são apresentados nos gráficos a seguir.

Gráfico 2 Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos do índice de gini para a
região Norte em relação as unidades da federação do cenário 1. Teste de distribuição de
Placebo.

Amapá Acre Rondônia


.2

.2
.2

.1

.1
.1

0
0

-.1

-.1
-.1

-.2
-.2

-.2
2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015
ano ano ano

Treated Donors Treated Donors Treated Donors

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

Amazonas Roraima Pará


.2

.2
.2

.1

.1
.1

0
0

0
-.1

-.1

-.1
-.2

-.2

-.2

2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015
ano ano ano
Treated Donors Treated Donors Treated Donors

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

Tocantins
.2
.1
0
-.1
-.2

2000 2005 2010 2015


ano

Treated Donors

Fonte: Elaboração do autor

102
Os gráficos acima, por sua vez, demonstram os resultados do teste anteriormente
descrito. Pode-se observar que até 2003, o Amapá chegou a ser o segundo estado mais
desigual do Brasil, entretanto, entre 2003 e 2009, o estado chegou a reduzir a desigualdade
social em 18,4%, segundo o relatório de vulnerabilidade das famílias levantado pela Pesquisa
nacional por amostra de domicilio e divulgado pelo IPEA (2012)30.
Assim, devido aos esforços de gestão ocorridos, o mesmo terminou o período como o
segundo estado menos desigual do país, como pode ser observado na trajetória, localizando-se
constantemente abaixo da maioria dos placebos. Por outro lado, o Acre não apresentou o
desempenho esperado para o período entre os estado da região. Segundo o IPEA (2012) os
resultados de baixa vulnerabilidade familiar na região Norte se deve entre outras coisas a
dificuldade na capacidade de gestão nos estados, restringido o acesso a áreas mais próximas
aos centros administrativos ou regiões metropolitanas, não identificando as realidades nos
lugares mais distantes nos referidos estados.

De acordo com o IBGE, em 2001, 37% dos domicílios nordestinos, tinham uma renda
domiciliar per capita de até meio salário mínimo contra 12% dos do Sudeste e Sul. Havia
saneamento adequado em apenas 38,2% dos domicílios com este rendimento, contra os 86,1%
daqueles com mais de cinco salários mínimos per capita.

Os índices de desigualdade no Brasil cresceram de maneira contínua a partir dos anos


1960, com um aprofundamento expressivo durante o período da ditadura militar. A partir de
2003 os benefícios gerados por programas sociais como o Bolsa Família propiciaram um
período de queda na concentração de renda, no entanto na região Nordeste se concentra uma
luta no campo da concentração de renda.

As tabelas abaixo apresentam os pesos que cada unidade da federação da região


Nordeste para explicar o comportamento das trajetórias sintéticas desses estados entre 2001 e
2014.

30
Para saber mais, acessar o arquivo: https://www.econstor.eu/bitstream/10419/91040/1/718563921.pdf

103
Tabela 10 - Participações dos estados da região Nordeste, em porcentagem, na construção
das unidades sintéticas. Cenário 1.

Maranhão Piaui Alagoas


Unidade de Controle Unidade de peso Unidade de Controle Unidade de peso Unidade de Controle Unidade de peso
22 0,627 17 0,013
21 0,552
23 0,104 21 0,955
25 0,448
27 0,269 42 0,031
RMSPE 0,0684 RMSPE 0,0751 RMSPE 0,0488
Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

Ceará Paraiba Pernambuco


Unidade de Controle Unidade de peso Unidade de Controle Unidade de peso Unidade de Controle Unidade de peso
15 0,629 12 0,167 15 0,225
22 0,169 16 0,132
21 0,124
26 0,138 23 0,025
22 0,116 27 0,446 29 0,567
29 0,131 29 0,078 35 0,051
RMSPE 0,0415 RMSPE 0,0208 RMSPE 0,065
Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

Sergipe Rio grande do Norte Bahia


Unidade de Controle Unidade de peso Unidade de Controle Unidade de peso Unidade de Controle Unidade de peso
13 0,223 13 0,398
14 0,121
21 0,059
16 0,191
25 0,105 22 0,301 26 0,698
26 0,105 23 0,014 27 0,106
27 0,342 25 0,036 31 0,136
53 0,034 27 0,13
RMSPE 0,0431
RMSPE 0,0263
RMSPE 0,0573
Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

As raízes do erro previsto quadrático médio (RMSPE) da série sintética em relação à


série original durante o período de pré-tratamento estão dentro do limite exigido, demostrando
o potencial do modelo em explicar tais variações e fazendo uma boa previsão da série tratada
para o período de pré-tratamento. O estado do Piauí apresenta o maior valor de RMSPE
(0,0751pontos), onde o estado do Maranhão teve maior relevância nesse resultado.

Os gráficos a seguir apresentam a trajetória do índice de Gini para os estados dessa


região e seus sintéticos. Percebe-se que na maioria dos estados as séries sintéticas
demonstram melhor desempenho até o ano de 2006, quando ocorre a estruturação do PBF. No
entanto, embora a desigualdade reduzida durante o período, a mesma teve um desempenho
menor no grupo de tratados em relação ao grupo dos sintéticos, o que mostra que a
desigualdade não tem sido combatida na sua estrutura histórica.

104
Gráfico 3 - Trajetória do índice de Gini entre os estados da Região Nordeste e
Região Nordeste sintético. Cenário 1.

Maranhão Piauí Ceará

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

Rio Grande do Norte Paraíba Pernambuco

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

Alagoas Sergipe Bahia

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

Para ocorrer uma melhora no índice de Gini, as pessoas com rendimento mais baixo
precisariam ter aumentos superiores aos das populações mais ricas. Não é o que se observa na
maioria dos estados até o ano de corte, e mesmo após 2006, essa assimetria de renda começa a
reduzir a partir de 2010 em alguns estados como o Ceará, Pernambuco e Piauí.

De acordo com o censo do IBGE, em 2010, o estado do Maranhão apresenta o menor


rendimento nominal mensal domiciliar per capita do país (R$597,00), além de ser o estado
com maior número de registros de trabalho escravo, onde se estima que entre 2003 e 2010,
aproximadamente oito mil pessoas foram resgatadas dessas condições. Segundo o
Observatório Digital do Trabalho Escravo, em 2010, esse estado tinha a maior proporção de
105
pobres e extremamente pobres do Brasil31. É importante destacar a diferença no nível
educacional existente no Nordeste, a falta de estrutura mínima nas escolas do Maranhão
contribui para a evasão escolar, reproduzindo uma dinâmica de violência nas cidades, e de
trabalho escravo no campo.

O gráfico de distribuição de placebo evidenciam os resultados descritos acima, onde a


maioria dos estados encontra-se em posições medianas entre as diferenças dos demais estados
da maioria dos placebos, em que o Piauí e o Maranhão se mostram como o melhor e pior
estado do país em termos de redução da desigualdade. Vale lembrar que nesta situação,
quanto mais abaixo estivar um estado em relação aos demais, melhor é o resultado das
políticas públicas de redução da desigualdade de renda.

Gráfico 4 Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos do índice de gini para a
região Nordeste em relação as unidades da federação do cenário 1. Teste de distribuição de
Placebo.

Maranhão Piauí Ceará


.2

.2
.2

.1

.1
.1

0
0

-.1

-.1
-.1

-.2

-.2
-.2

2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015
ano ano ano

Treated Donors Treated Donors Treated Donors

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

Rio Grande do Norte Paraíba Pernambuco


.2
.2
.2

.1
.1
.1

0
0
0

-.1
-.1
-.1

-.2

-.2
-.2

2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015
ano ano ano

Treated Donors Treated Donors Treated Donors

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

Alagoas Sergipe Bahia


.2

.2

.2
.1

.1

.1
0

0
-.1

-.1

-.1
-.2

-.2

-.2

2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015


ano 2000 2005 2010 2015
ano ano
Treated Donors Treated Donors Treated Donors

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor


31
https://observatorioescravo.mpt.mp.br/

106
Seguindo a linha de raciocínio, as tabelas a seguir mostram os pesos que cada unidade
da federação obteve em explicar o comportamento da trajetória sintética da região Sudeste.

Tabela 11 Participações dos estados da região Sudeste, em porcentagem, na construção


das unidades sintéticas. Cenário 1.
Espírito Santo Rio de Janeiro
Minas Gerais São Paulo
Unidade de Controle Unidade de Peso Unidade de Controle Unidade de Peso
Unidade de Controle Unidade de Peso Unidade de Controle Unidade de Peso 13 0,019 16 0,059
29 0,51 33 0,851 14 0,26
29 0,067
35 0,302 21 0,214
43 0,119 35 0,734
35 0,168
42 0,08 43 0,004
43 0,108
53 0,029 42 0,097
53 0,243 53 0,136
RMSPE 0,0241 RMSPE 0,0342 RMSPE 0,0308 RMSPE 0,0227
Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

As raízes do erro previsto quadrático médio (RMSPE) da série sintética em relação à


série original durante o período de pré-tratamento demostram o potencial do modelo em
explicar tais variações e fazendo uma boa previsão da série tratada para o período de pré-
tratamento. A referida a série sintética prevê de forma satisfatória a trajetória do índice de
Gini dos estados da região Sudeste durante o período, exceto para o estado do Rio de Janeiro,
como pode ser verificado nos gráfico abaixo.

Gráfico 5 Trajetória do índice de Gini entre os estados da Região Sudeste e Região


Sudeste sintético. Cenário 1.

Minas Gerais Espírito Santo Rio de Janeiro São Paulo

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

Dentre os estados, o que apresentou melhor desempenho foi o Espírito Santo e o pior
desempenho ficou para o Rio de Janeiro, como pode ser visto nas distribuições de placebo
abaixo, evidenciando os resultados descritos acima, mostrando que houve aumento em todas as
faixas de rendimento, exceto na mais baixa. Pode-se observar que antes e após o corte temporal
realizado em 2006, as diferenças da trajetória do Espírito Santo e sua réplica sintética se
mostravam em uma posição abaixo entre as diferenças dos demais estados da maioria dos

107
placebos, enquanto o Rio de Janeiro se mostrou em posição elevada durante o período. Essa
desigualdade de rendimento acarreta e exibe muitos outros problemas que assolam o estado,
como a falta de saneamento adequado, o aumento do emprego informal, a assimetria
habitacional expressa nos morros e favelas, entre outros que culminam em estado de violência
na sociedade, equivocando a visão do poder público em agir em segurança pelo âmbito da
repressão, quando na verdade é preciso uma ação na estrutura da desigualdade no país.

A tendência de queda da desigualdade de renda vista em São Paulo a partir de 2002


expressa que o rendimento seguiu crescendo para as camadas menos favorecidas da sociedade,
embora a alta tenha perdido fôlego a partir de 2009, talvez em decorrência de efeitos da crise
internacional, deflagrada em 2008.

Gráfico 6 Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos do índice de gini para a
região Sudeste em relação as unidades da federação do cenário 1. Teste de distribuição
de Placebo.

Minas Gerais Espírito Santo Rio de Janeiro São Paulo


.2

.2
.2

.2
.1

.1
.1

.1
0

0
0

-.1
-.1
-.1

-.1

-.2
-.2

-.2

-.2

2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015
ano ano ano ano

Treated Donors Treated Donors Treated Donors Treated Donors

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

A síntese de indicadores do IBGE em 2002 apontava que negros e pardos recebiam


metade do rendimento de brancos em todos os estados (sobretudo nas regiões metropolitanas
de Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba) e nem o aumento do nível educacional era
suficiente para superar a desigualdade de rendimentos. O relatório apontava ainda, que a
desigualdade por cor era mais forte que por gênero, pois os homens negros e pardos
ganhavam, em 2001, 30% a menos que as mulheres brancas. Do total de pessoas que faziam
parte do 1% mais rico da população, 88% eram de cor branca, enquanto que entre os 10%
mais pobres, quase 70% se declararam de cor preta ou parda.

Embora a região Sul seja a região a de menor índice de pobreza e desigualdade do


Brasil, esses problemas ainda norteiam o interesse e preocupação de pesquisadores da região.
por exemplo, Bernardini et al (2015) norteia seu trabalho em torno das desigualdades
108
regionais dentro do estado do Rio Grande do Sul, cujo tema é de interesse antigo. A
investigação histórica dos padrões de desigualdade dentro desse estado é por conta das
diferentes estruturas econômicas das suas áreas mais ao norte.

Uma análise regional do PBF permite obter detalhes da incidência do programa que
não seriam possíveis em uma análise nacional. Para tanto, o trabalho de Rogê (2013)
apresenta o comportamento do programa na região sul do Brasil, na qual se constata um dos
menores percentuais de pessoas abaixo da linha de pobreza e um dos melhores indicadores
sociais do país. Os resultados evidenciaram a heterogeneidade da incidência do PBF no valor
médio das transferências do programa apresentada na renda média da região, evidenciando
ainda para elevada e ascendente cobertura do programa, mostrando eficiência na seleção das
famílias mais vulneráveis.

Embora esta região seja a de menor incidência de pobreza do país, ela contribuiu para
a tendência nacional de redução da pobreza desde 2004. Dos três estados que compõe a
região, Santa Catarina é a que apresenta menor percentual de pobreza, 6,36% para o ano de
2009, o equivalente à metade do percentual observado no Paraná e no Rio Grande do Sul com
12,37% e 13,71%, respectivamente, também para o mesmo ano.

Abaixo, são apresntados os pesos que cada unidade da federação da região Sul obteve
em explicar o comportamento das trajetórias sintéticas.

Tabela 12 Participações dos estados da região Sul, em porcentagem, na


construção das unidades sintéticas. Cenário 1.

Santa Catarina Paraná Rio Grande do Sul


Unidade de Controle Unidade de peso
Unidade de Controle Unidade de Peso 12 0,092 Unidade de Controle Unidade de Peso
23 0,117 35 0,58
43 0,583
35 0,249
51 0,417 42 0,291 42 0,42
43 0,25 RMSPE 0,0509
RMSPE 0,1316
RMSPE 0,0362
Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

A raiz do erro previsto quadrático médio (RMSPE) da série sintética em relação à série
original durante o período de pré-tratamento é de 0,1316, 0,0362 e 0,0509 pontos, para os
estados de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, respectivamente, demostrando o
potencial do modelo em explicar tais variações e fazendo uma boa previsão da série tratada
109
para o período de pré-tratamento. O RMSPE estado do Paraná teve maior influência do
Estado de Santa Catarina, o que impactou na comparação com a séria sintética.

Gráfico 7 Trajetória do índice de Gini entre os estados da Região Sul e Região Sul
sintético. Cenário 1.
Paraná Santa Catarina Rio Grande do Sul

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

A referida série sintética prevê de forma muito satisfatória a trajetória do índice de


Gini de Santa Catarina durante todo o período colocado. Uma das ações que permitiram o
grande desempenho de Santa Catarina está relacionado a criação das Secretarias Regionais de
Desenvolvimento (SDRs), a partir de 2003, que permitiu a descentralização político
administrativa do estado e que de acordo com Dollabrida (2011), atuou de forma revisada,
mas não perdendo a essência dos antigos Fóruns de Desenvolvimento Regional Integrado
(FDRIs) que era de “levantar demandas regionais para a formulação de diretivas que
permitissem a construção do desenvolvimento integrado e sustentável”(DOLABRIDA. 2011,
p.9). O objetivo foi ampliar a participação regional da sociedade civil nos processos
decisórios.

Dentre os testes de placebos, os gráficos abaixo apresentam a distribuição devida para


os três estados da região Sul, onde Santa Catarina evidencia os melhores resultados do
modelo se mostrando em uma posição abaixo entre as diferenças dos demais estados da
maioria dos placebos e o Rio Grande do Sul o pior resultado. O estado do Paraná se encontra
em uma posição de média em relação as demais unidades federativas, apresentando alguns
movimentos cíclicos.

110
Gráfico 8 Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos do índice de gini para a
região Sul em relação as unidades da federação do cenário 1. Teste de distribuição de
Placebo.

Paraná Santa Catarina Rio Grande do Sul

.2
.2
.2

.1
.1
.1

0
0
0

-.1
-.1
-.1

-.2
-.2
-.2

2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015
ano ano ano

Treated Donors Treated Donors Treated Donors

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

No Rio Grande do Sul também experimento-se um processo de descentralização


administrativa através dos Conselhos Regionais de Desenvolvimento (COREDES)32. No
entanto, diferente dos SDRs de Santa Catarina, os COREDES não agiram de maneira a
aglutinar parcerias interinstitucionais. Bernardini et al (2015) expõe em seu trabalho que de
acordo com os seus cálculos para 2010, a desigualdade dentro dos COREDES contribui com
66,9% dessa desigualdade entre as regiões do estado, isso devido que alguns coredes,
influenciados por alguma forma de arbitrariedade reúne alguns municípios mas exclui outras
localidades.

Em 2010, o Rio Grande do Sul apresentou maior elevação no número de famílias


atendidas pelo programa se comparado aos estados de Santa Catarina e Paraná. Isso permite
visualizar a importância na distribuição da renda a favor das camadas mais pobres (ROGÊ,
2013).

Analisando a heterogeneidade da Região Sul, a variação percentual na relação da renda


média com o valor médio das transferências do PBF foi superior a 10%, porém quando analisada
cada unidade federativa separadamente observa-se certa heterogeneidade em tal relação. Santa
Catarina foi a única a apresentar redução na variação percentual, além de possuir a menor relação
média, o que se deve a maior renda média no estado e a menor variação positiva das
transferências do Bolsa Família, o que significa dizer que dentre os três estados da região Sul,
Santa Catarina é o menos desigual.

32
São fóruns regionais de discussão sobre estratégias, políticas e ações que visam o desenvolvimento regional,
constituídos como pessoas jurídicas de direito privado, organizados sob a forma de associações civis sem fins
lucrativos.
111
Rezende (2001) apud Corrêa e Figueiredo (2006) coloca que devido a dinâmica
agrícola, no último quarto do século XX a região dos cerrados foi a que mais expandiu. A
diferença da região Centro-Oeste pras outras regiões do país está no fato de que sempre se
destinou grande parcela do crédito aos investimentos e menor parcela a comercialização. As
tabelas abaixo apresentam os pesos que cada estado da região Centro-Oeste obteve em
explicar o comportamento das trajetórias sintética dessa região.

Tabela 13 Participações dos estados da região Centro-Oeste, em porcentagem, na


construção das unidades sintéticas. Cenário 1.

Mato Grosso do Sul Mato Grosso


Unidade de Controle Unidade de peso Distrito Federal
Unidade de Controle Unidade de peso
12 0,162
14 0,19 Unidade de Controle Unidade de Peso 17 0,296
16 0,036 22 0,08
42 0,078 33 0,617 27 0,121
43 0,03
51 0,189
35 0,383 29 0,008
42 0,329
52 0,246
53 0,07
RMSPE 0,1185 53 0,166
RMSPE 0,0349 RMSPE 0,0309
Fonte: Elaboração do autor
Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

Dentro das raízes do erro previsto quadrático médio (RMSPE) da série sintética em
relação à série original o Distrito Federal apresenta o maior valor de RMSPE (0,1185pontos),
contribuindo para esse resultado os pesos dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo.

A maior parte do dinamismo da agricultura do Centro-Oeste em anos recentes é


creditada ao avanço da soja nessa região, resultado da demanda externa, onde o estado tem
apoiado o desenvolvimento tecnológico na região, além de gozar do acesso ao crédito rural,
financiado com recursos federais.

Os gráficos a seguir mostram a previsão da série sintética para as quatro unidades da


federação, onde se percebe de forma satisfatória a trajetória do índice de Gini para os estados
de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. No entanto, o Distrito Federal apresenta a
trajetória mais discrepante, evidenciando o estado de maior desigualdade.

112
Gráfico 9 - Trajetória do índice de Gini entre os estados da Região Centro-Oeste e
Região Centro-Oeste sintético. Cenário 1.

Mato Grosso do Sul Mato Grosso Goiás Distrito Federal

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

O centro- Oeste é marcado muito pela dinâmica agropecuária. De acordo com Corrêa e
Figueiredo (2006) Dentre os estados do Centro-Oeste, Mato Grosso do Sul apresentou maior
expansão do PIB do país em 2001; o peso da agropecuária no valor adicionado desse estado
passou de 28,4% em 2000 para 32% em 2001. Mato Grosso, o maior produtor de soja do
Brasil, experimentou crescimento do PIB da ordem de 6,5% no mesmo período.

Embora ocupe a primeira posição em renda domiciliar per capita segundo o censo de
2010, o Distrito Federal ocupava o vigésimo primeiro lugar no número de alunos
matriculados no ensino público em 2012, entre os estados brasileiros. Isso talvez explique a
forte desigualdade existente, uma vez que a evasão escolar não permite o auferimento de
renda devido para suprir as necessidades.

Com o processo de estabilização da economia seguindo uma agenda neoliberal durante


os anos de 1990, o país caracterizou-se pelas altas taxas de desemprego e redução do PIB. No
entanto, isso são fatores de natureza urbana, pois se considerar o meio rural, o agronegócio
sustentou o produto interno bruto dos estados da região. Os gráficos a seguir, mostram os
resultados dos testes de placebo para os estados dessa região com destaque para Goiás e
Distrito Federal como o menos e mais desigual entre os estados da região, respectivamente.

113
Gráfico 10 - Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos do índice de gini para a
região Centro-Oeste em relação as unidades da federação do cenário 1. Teste de
distribuição de Placebo.

Mato Grosso do Sul Mato Grosso Goiás Distrito Federal

.2
.2

.2
.2
.1

.1
.1
.1
0

0
0
0
-.1

-.1
-.1

-.1
-.2

-.2
-.2

-.2
2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015
ano 2000 2005 2010 2015
ano ano ano
Treated Donors Treated Donors Treated Donors
Treated Donors

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

Ainda de acordo com os placebos, percebe-se que a desigualdade da distribuição de


rendimentos é muito forte na região no período analisado, onde o processo de concentração
que se observava com a modernização da agricultura na região, não se reverteu. Portanto, é
provável que o crescimento da agropecuária na região, ao mesmo tempo em que gera riqueza
e favorece investimentos em formação de capital, tecnologia e pesquisa, não tem sido capaz
de equacionar o viés concentrador de rendimentos do modelo de desenvolvimento que
caracteriza o crescimento do setor no Centro-Oeste.

4.5 Modelo do Cenário 2:Efeito fixo desigualdade tratados.

Com o objetivo de expandir a análise, realizou-se a construção de um cenário de


tratamento para a desigualdade.

lginit= -0,199 - 0,107 lanosest - 0,021 lrendacapc + 0,004 lraçachef - 0,004 lsexchef
– 0,074 lpibpc + 0,024 ltxdes + 0,013 ltxmort – 0,001 lbolsfam

O cenário 2 se refere ao modelo de tratamento de desigualdade para efeitos fixos, onde


enquadram o grupo de pessoas que estão dentro dos critérios de elegibilidade. Neste verifica-
se que os coeficientes lanosest e lpibpc influenciam de maneira significativa o modelo. Pelos

114
resultados, o aumento de 10% na média de anos de estudo e no PIB per capita reduz a
desigualdade, respectivamente em 10,7% e 7,4%.

Para efeito de tratamento diferente do cenário anterior não é possível observar a


significância de variáveis importantes como a taxa de desemprego e de mortalidade infantil, o
que leva a crer que as mesmas não são determinantes para a variável dependente neste
cenário.

4.6 Modelo do Cenário 3: Efeito fico desigualdade controle.

lginic= - 0,431 + 0,035 lanosest - 0,016 lrendacapc - 0,004 lraçachef + 0,0001


lsexchef – 0,110 lpibpc + 0,002 ltxdes + 0,052 ltxmort – 0,001 lbolsfam

Este cenário previu a utilização de um critério populacional para seleção das unidades
de controle. Pelo cenário 3 o modelo de controle da desigualdade para efeitos fixos mostra
que somente os coeficientes lpibpc e ltxmort têm efeito sobre a determinação da variável de
interesse. As demais variáveis foram não significativas. É importante destacar que este
cenário se refere ao grupo de pessoas que não se enquadram dentro dos critérios de
elegibilidade de programas sociais.

4.7 Modelo do Cenário 4: Efeito Fixo pobreza total.

O cenário 4 evidencia o modelo acima apresentando como variável dependente a


proporção de pobres total para efeitos fixos. Utilizou-se 351 observações, referentes as vinte e
sete unidades da federação para cada ano do período de 2001 a 2014.

lppobre= 2,742 + 0,673 lanosest - 0,912 lrendacapc + 0,005 lraçachef + 0,090


lsexchef – 0,324 lpibpc + 0,188 ltxdes - 0,026 ltxmort + 0,007 lbolsfam

115
Ao analisar este cenário verifica-se que os coeficientes lracachef, lsexchef e ltxmort
foram não significativas para o modelo, não afetando a determinação da variável dependente.
A variável lanosest foi significativa a 10% e as demais variáveis, significativas a 1%.
Embora esta variável apresente significância estatística, parece não estar coerente com
o modelo, no entanto é preciso destacar que o modelo de pobreza trabalhado é de pobreza de
renda, logo variáveis que estejam ligadas ao aspecto multidimensional da pobreza podem ser
não significativas ou apresentar algum nível de significância mas não estar coerente com o
modelo.
Por outro lado a variável lrendacapc diz que o aumento em 10% da renda total com
aposentadoria per capita, ajuda a reduzir a pobreza em 9,12%. A mesma interpretação é feita
para a variável lpibpc, que influencia para redução da pobreza em 3,24%.

Para melhor visualização dos resultados foram também gerados gráficos para as cinco
regiões analisadas, onde suas tendências confirmam a tendência de declínio de pobreza no
país.

As tabelas abaixo apresentam as participações dos estados, em porcentagem, na


construção da unidade sintética onde os pesos contribuem a explicação para os
comportamentos da trajetória sintética da proporção de pobres para a região Norte.

Dos erros previstos quadráticos médios (RMSPE), o estado do Amapá apresentou o


maior valor da série sintética em relação à série original durante o período de pré-tratamento
(0,2986 pontos), onde o desempenhos dos estados do Amazonas, Roraima e Distrito Federal
foram significativos para esse resultado.

116
Tabela 14 - Participações dos estados da região Norte, em porcentagem, na construção
das unidades sintéticas. Cenário 4.
Rondonia
Unidade de Controle Unidade de Peso Acre Amazonas
12 0,314 Unidade de Controle Unidade de Peso Unidade de Controle Unidade de Peso
13 0,023 11 0,17 15 0,088
15 0,006 14 0,371 16 0,441
16 0,043 16 0,085 24 0,168
17 0,312 17 0,255 26 0,039
21 0,022 22 0,12 35 0,264
42 0,072 RMSPE 0,1162 RMSPE 0,1975
51 0,209 Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor
RMSPE 0,2258
Fonte: Elaboração do autor

Pará
Roraima Unidade de Controle Unidade de Peso Amapá
Unidade de Controle Unidade de Peso 13 0,155 Unidade de Controle Unidade de Peso
12 0,467 16 0,093 13 0,172
16 0,461 23 0,356 14 0,724
42 0,072 26 0,047 53 0,104
RMSPE 0,2684 29 0,171 RMSPE 0,2986
Fonte: Elaboração do autor 43 0,178 Fonte: Elaboração do autor
RMSPE 0,1188
Fonte: Elaboração do autor

Tocantins
Unidade de Controle Unidade de Peso
11 0,704
12 0,027
22 0,269
RMSPE 0,2169
Fonte: Elaboração do autor

O estado do Acre apresentou o menor RMSPE (0,1162 pontos) onde 4 estados da


região Norte e um estado da região Nordeste impactaram nesse resultado. Uma vez que todos
os RMSPEs estão dentro do critério do erro quadrático médio é demonstrado o potencial do
modelo para explicar tais variações, fazendo uma boa previsão da série tratada para o período
de pré-tratamento.

Os gráficos abaixo apresentam a trajetória da proporção de pobres para os estados da


região Norte e seus sintéticos. É sempre bom lembrar que para a série sintética demonstrar ser
um bom contrafactual da série verdadeira, é importante que ela consiga prever
satisfatoriamente a trajetória da proporção de pobres das unidades da federação até o inicio de
2006, final do primeiro mandato do governo Lula, em que se pode fazer uma análise sobre as
políticas de distribuição e redistribuição de renda no país.

117
Gráfico 11 - Trajetória da proporção de pobres entre os estados da Região Norte e
Região Norte sintético. Cenário 4.

Rondônia Acre Amazonas

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

Roraima Pará Amapá

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

Tocantins

Fonte: Elaboração do autor

Dentre os estados da região Norte, os que tiveram melhor e pior desempenho foram
o Rondônia e Acre, respectivamente. O resultado se deve a uma melhora nas condições do
PIB, onde a região Norte elevou em 0,4 pontos percentuais sua participação no PIB do País. A
economia do estado de Rondônia tem como principais atividades a agricultura, a pecuária,
a indústria alimentícia e o extrativismo vegetal e mineral. De acordo com Franco e Anunciato
(2016) entre 1995 e 2008 o estado de Rondônia reduziu o número de pobres em mais de 40%,
classificando o estado como 15º estado com menor número de pessoas em situação de
pobreza. No entando, de acordo com o IPEA (2010),embora o desemprego estivesse em 7,7%
em 2006 era necessario gerar mais empregos e desenvolver melhor seus projetos sociais para
a erradicação da pobreza.
118
É importante destacar que a trajetória sintética mostrada acima se deve aos esforços
realizados pelas três esferas de poder, que conseguiram colocar o estado na quarta melhor
posição de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), bem como a segunda maior taxa de
alfabetização e a terceira menor taxa de analfabetismo entre todos os estados das
regiões Norte e Nordeste do país. Rondônia possui ainda a menor incidência de pobreza e
também a segunda melhor distribuição de renda e o terceiro menor índice de desemprego em
2006 (7,7%). Por outro lado, o Acre apresenta durante o período uma visível discrepância em
suas trajetórias, o que pode ser explicaso pela complexidade regional da região Norte também.
No entanto, a taxa de crescimento promedio do PIB do Acre foi maior que as taxas de
crescimento do PIB nacional e da Região Norte na última década. De 2002 a 2010, o Estado
do Acre cresceu, em média, 5,8%, contra a média nacional de 3,9%. Enquanto o Brasil
apresentou um crescimento acumulado de 37% de 2002 a 2010 e a Região Norte de 56%, o
Acre chegou a 59%.33

O teste de distribuição de placebo tem como função fazer com que o tratamento do
grupo de controle seja igual ao grupo experimental em tudo, menos na causa pesquisada. Os
testes para a região Norte são apresentados nos gráficos a seguir.

33
https://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/37245/S1420296_pt.pdf?sequence=1

119
Gráfico 12 - Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos da proporção de
pobres para a região Norte em relação as unidades da federação do cenário 4. Teste de
distribuição de Placebo.

Rondônia Acre Amazonas

.5
.5

.5
0
0

0
-.5
-.5

-.5
-1
-1

-1
-1.5
-1.5

-1.5
2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015
ano ano 2000 2005 2010 2015
ano
Treated Donors Treated Donors
Treated Donors

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

Roraima Pará Amapá


.5

.5
.5

0
0

-.5

-.5
-.5

-1
-1
-1

-1.5
-1.5
-1.5

2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015
ano ano ano

Treated Donors Treated Donors Treated Donors

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

Tocantins
.5
0
-.5
-1
-1.5

2000 2005 2010 2015


ano

Treated Donors

Fonte: Elaboração do autor

No gráfico referente a região Norte percebe-se um distanciamento do estado de


Rondônia em relação aos demais estados da região, terminando o período com a menor taxa
de proporção de pobres (8,4%). Por outro lado, o Acre é apresentado como o de maior
proporção de pobres no período, embora os esforços para o crescimento econômico. A
dinâmica do trabalho extrativo ainda é apresentado como um fator de baixa renda para os que
nele trabalham. Na área econômica podem ser destacados três grandes problemas, muito
interrelacionados entre si: i) a grande dependência do estado de financiamento externo e do

120
governo federal; ii) embora tenha diminuido nos últimos anos, persiste o peso da
administração pública na economia do estado; iii) pouco desenvolvimento do setor privado
(fragilidade do setor privado local e dificuldade de atrair setor privado externo).

O fato mais marcante na evolução da pobreza entre 2004 e 2014, nas regiões Norte e
Nordeste do país, é a expressiva queda da extrema pobreza e da pobreza entre as famílias
agrícolas. Soares et al (2016)colocam que:

“O período 2004-2013 foi muito bom para a redução da pobreza no Brasil. A


extrema pobreza caiu por um fator de quase dois, de 7,6 por cento dos brasileiros em
2004 para 4,0 por cento em 2013; a pobreza diminuiu por um fator de 2,5 no mesmo
período, de 22,4 por cento para 8,9 por cento. No entanto, mais impressionante que a
queda da pobreza no país na sua totalidade é a queda da pobreza entre os domicílios
agrícolas. Basta dizer que, em 2004, a extrema pobreza agrícola era quase três vezes
a extrema pobreza geral e, em 2013, ambas as taxas praticamente se igualaram”
(SOARES et al, 2016, p.4).

As tabelas abaixo apresentam os pesos que cada unidade da federação da região


Nordeste para explicar o comportamento das trajetórias sintéticas desses estados entre 2001 e
2014.

121
Tabela 15 Participações dos estados da região Nordeste, em porcentagem, na
construção das unidades sintéticas. Cenário 4.

Maranhão Ceará
Unidade de Controle Unidade de Peso Unidade de Controle Unidade de Peso
22 0,652 Piaui 22 0,251
25 0,243 Unidade de Controle Unidade de Peso 26 0,343
27 0,034 21 1 29 0,205
29 0,071 RMSPE 0,0861 43 0,202
RMSPE 0,0955 Fonte: Elaboração do autor RMSPE 0,1957
Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

Rio grande do Norte Paraiba Pernambuco


Unidade de Controle Unidade de Peso Unidade de Controle Unidade de Peso Unidade de Controle Unidade de Peso
13 0,406 12 0,047 13 0,213
14 0,101 21 0,219 15 0,225
21 0,242 22 0,031 16 0,016
22 0,153 24 0,096 23 0,048
27 0,097 26 0,143 29 0,611
RMSPE 0,1065 27 0,436 35 0,111
Fonte: Elaboração do autor 35 0,029 RMSPE 0,2788
RMSPE 0,1132 Fonte: Elaboração do autor
Fonte: Elaboração do autor

Alagoas Sergipe Bahia


Unidade de Controle Unidade de Peso Unidade de Controle Unidade de Peso Unidade de Controle Unidade de Peso
22 0,26 13 0,357 26 0,484
25 0,74 16 0,148 27 0,131
RMSPE 0,1535 25 0,044 31 0,385
Fonte: Elaboração do autor 26 0,061 RMSPE 0,142
27 0,371 Fonte: Elaboração do autor
29 0,02
RMSPE 0,1192
Fonte: Elaboração do autor

O estado de Pernambuco apresenta o maior valor de RMSPE (0,2788 pontos), onde


três estados da região Norte, dois estados da região Nordeste e um estado da região Sudeste
contribuem para essa dinâmica. Os gráficos a seguir apresentam a trajetória da proporção de
pobres para os estados dessa região e seus sintéticos.

122
Gráfico 13 - Trajetória da proporção de pobres entre os estados da Região Nordeste e
Região Nordeste sintético. Cenário 4.

Sergipe Pernambuco Maranhão

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

Piauí Ceará Rio Grande do Norte

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

Paraíba Alagoas Bahia

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

É notável que em todos os estados as séries sintéticas demonstram bom desempenho


até o ano de 2006, seguindo essa dinâmica de queda até o final do período em questão. No
entanto, embora a pobreza tenha se reduzido mais no Nordeste do que em outras regiões, esta
teve melhor desempenho no grupo de sintéticos do que no grupo dos tratados, o que evidencia
que grande parte do declínio da pobreza se deu através de programas de transferência de
renda.

Entre 2003 e 2009, o Nordeste cresceu proporcionalmente mais do que a economia


nacional, e sobreviveu à crise econômica mundial com melhor desempenho do que o país

123
como um todo. Assim se percebe pelas trajetórias acima que os estado de Sergipe e
Pernambuco tiveram o melhor e o pior resultado do período. De acordo com Leão et al (2016)
A região Nordeste em 2004, o PBF concentrava a maior quantidade de benefícios pagos pelo
PBF, equivalente a 50,53% do total em 2004, com mais de 3,32 milhões de famílias atendidas
em 2004e em 2011, esse número era de 51,12%, onde os números evoluíram para 6,83
milhões de famílias.
Os gráficos de distribuição de placebo evidenciam os resultados descritos acima, onde
a maioria dos estados encontra-se em posições medianas entre as diferenças dos demais
estados da maioria dos placebos, confirmando as posições que Sergipe e Pernambuco ocupam
nos resultados. É importante lembrar que quanto mais abaixo estivar um estado em relação
aos demais, melhor é o resultado das políticas públicas e econômicas para a redução da
pobreza.
Gráfico 14 - Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos da
proporção de pobres para a região Nordeste em relação as unidades da
federação do cenário 4. Teste de distribuição de Placebo.

Maranhão Piauí Ceará


.5

.5
.5
0

0
0
-.5

-.5

-.5
-1
-1

-1
-1.5
-1.5

-1.5

2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015


ano 2000 2005 2010 2015
ano ano
Treated Donors Treated Donors Treated Donors

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

Rio Grande do Norte Paraíba Pernambuco


.5

.5

1
.5
0

0
-.5

-.5

-.5
-1

-1

-1
-1.5

-1.5

-1.5

2000 2005 2010 2015


ano 2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015
ano ano
Treated Donors
Treated Donors Treated Donors

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

Alagoas Sergipe Bahia


.5

1
.5

.5
0

0
-.5

-.5

-.5
-1

-1

-1
-1.5

-1.5
-1.5

2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015


ano 2000 2005 2010 2015
ano ano
Treated Donors Treated Donors
Treated Donors

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

124
Embora ocupe a principal posição entre as regiões com maior predominância de
pobres, a região Nordeste apresentou queda muito significativa na proporção de pobres
durante o período. Em muitos estados do Nordeste a concentração de renda permite que sejam
geradas externalidades que contribuem para o elevado grau de pobreza na região. Pernambuco
apresentou a maior proporção e pobres ao final do período (27,8%), não somente na região,
mas também entre as unidades da federação, e o estado do Sergipe aparece com a menor
proporção (13,9%).

Seguindo a linha de raciocínio, a tabela a seguir mostram os pesos que cada unidade
da federação obteve em explicar o comportamento da trajetória sintética da região Sudeste.

Tabela 16 - Participações dos estados da região Sudeste, em porcentagem, na


construção das unidades sintéticas. Cenário 4
Minas Gerais Espírito Santo Rio de Janeiro São Paulo
Unidade de Controle Unidade de Peso Unidade de Controle Unidade de Peso Unidade de Controle Unidade de Peso Unidade de Controle Unidade de Peso
23 0,003 14 0,237 29 0,159 31 0,099
29 0,512 21 0,242 35 0,503 33 0,789
35 0,224 35 0,136 43 0,018 43 0,113
41 0,081 42 0,098 53 0,32 RMSPE 0,1072
43 0,18 53 0,287 RMSPE 0,1964 Fonte: Elaboração do autor
RMSPE 0,2016 RMSPE 0,4475 Fonte: Elaboração do autor
Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

As raízes do erro previsto quadrático médio (RMSPE) da série sintética em relação à


série original durante o período de pré-tratamento demostrando o potencial do modelo em
explicar tais variações e fazendo uma boa previsão da série tratada para o período de pré-
tratamento, onde o Espírito Santo apresenta o maior RMSPE, contribuindo para isso dois
estados das cinco regiões do país. A referida a série sintética a seguir prevê de forma
satisfatória a trajetória da proporção de pobres dos estados da região sudeste durante o
período, exceto para os estados do Rio de Janeiro e São paulo, como pode ser verificado nos
gráfico abaixo.

125
Gráfico 15 - Trajetória da proporção de pobres entre os estados da Região Sudeste
e Região Sudeste sintético. Cenário 4.
Espírito Santo Rio de Janeiro Minas Gerais São Paulo

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

A acentuada queda na pobreza alcançada pelo Espírito Santo durante as duas décadas
em análise deve-se, em parte, ao crescimento econômico e, em parte, à queda na
desigualdade. Dentro da literatura, a renda per capita tem sido aceito como o melhor indicador
do processo de desenvolvimento de uma economia. Por conseguinte, de acordo com o
levantamento do IPEA (2010) entre 1988 e 2008 a renda per capita do estado cresceu, em
média, 2,2% ao ano. Para que a mesma queda na pobreza fosse alcançada sem redução na
desigualdade, seria necessário um crescimento da renda per capita de 4,5%. Assim, a queda
na desigualdade possibilitou uma redução na pobreza que, sem ela, só poderia ser alcançada
com uma taxa de crescimento duas vezes maior.
De acordo com o IBGE, a falta de indústria extrativista e uma indústria de transformação
estagnada e tendo nos serviços o suporte da economia, bem como o alto preço das commodities
minerais em 2010 fizeram com que Rio de Janeiro e São Paulo perdessem lugar na participação do
PIB nacional em relação a 2009.

Gráfico 16 - Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos da proporção de


pobres para a região Sudeste em relação as unidades da federação do cenário 4. Teste de
distribuição de Placebo.
Espírito Santo Rio de Janeiro Minas Gerais São Paulo
.5
.5

.5
.5

0
0

0
0

-.5
-.5

-.5
-.5

-1
-1

-1
-1

-1.5
-1.5

-1.5

-1.5

2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015


2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015 ano
ano ano ano
Treated Donors Treated Donors
Treated Donors Treated Donors

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

126
As distribuições de placebo nos gráficos sobre a região Sudeste acima mostram o
estado do Rio de Janeiro com a maior proporção de pobres no fim do período (14,6%), o que
chama a atenção, pois este estado passa de segundo no início do ano de 2001 para primeiro
em 2014. O estado do Espírito Santo é o que apresenta a menor proporção (6,6%). Com isso,
pode-se dizer que o dinamismo da indústria na região Sudeste, embora possa ser um elemento
preponderante nesse cenário de queda, parece que não foi suficiente para atenuar mais a
pobreza, principalmente entre os estados de Rio de Janeiro e São Paulo, que chegam a
apresentar valores de proporção de pobres bem próximos a de estados da região Nordeste.

O Sul do Brasil apresenta indicadores sociais, em geral, melhores que outras regiões
brasileiras, inclusive o Sudeste, a regiãi mais rica do país. Porém, isso não significa que os
três estados da região Sul não apresentem bolsões de pobreza e de atraso. Abaixo, são
apresentados os pesos que cada unidade da federação da região Sul obteve em explicar o
comportamento das trajetórias sintéticas.

Tabela 17 - Participações dos estados da região Sul, em porcentagem, na


construção das unidades sintéticas. Cenário 4.
Paraná Santa Catarina Rio Grande do Sul
Unidade de Controle Unidade de Peso Unidade de Controle Unidade de Peso Unidade de Controle Unidade de Peso
23 0,191 41 0,141 31 0,028
24 0,004 43 0,32 35 0,601
35 0,376 51 0,539 42 0,371
42 0,43 RMSPE 1,073 RMSPE 0,1686
RMSPE 0,0783 Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor
Fonte: Elaboração do autor

As raízes do erro previsto quadrático médio (RMSPE) da série sintética em relação à


série original durante o período de pré-tratamento é de 0,0783, 1,073 e 0,1686 pontos, para os
estados de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, respectivamente. Assim como na
análise da desigualdade, o RMSPE do Paraná teve maior influência do Estado de Santa
Catarina, o que impactou na comparação com a séria sintética.

127
Gráfico 17 - Trajetória da proporção de pobres entre os estados da Região Sul e
Região Sul sintético. Cenário 4.

Santa Catarina Paraná Rio Grande do Sul

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

Considerando o ano de 2006, não é possível verificar uma diferença entre tratados e e
sinéticos no Rio Grande do Sul. Apesar de sustentar bons índices de desenvolvimento o Rio
Grande do Sul apresenta uma considerável proporção de pobres, haja vista as desigualdades
regionais existentes no estado. Segundo Silva et al (2015), estudos do IPEA constatam que de
2007 a 2014, a taxa de extrema pobreza caiu 62,29% no estado, sendo o segundo da região
Sul que menos reduziu pobreza, em comparação a Santa Catarina e Paraná que também
apresentaram redução, respectivamente de 38,70% e 62,65%.

Dentre os testes de placebos, os gráficos abaixo apresentam as devidas distribuições


para os três estados da região Sul, onde Santa Catarina evidencia os melhores resultados do
modelo se mostrando em uma posição abaixo entre as diferenças dos demais estados da
maioria dos placebos e o Rio Grande do Sul o pior resultado. O estado do Paraná se encontra
em uma posição de média em relação as demais unidades federativas, apresentando alguns
movimentos cíclicos.

128
Gráfico 18 - Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos da proporção de
pobres para a região Sul em relação as unidades da federação do cenário 4. Teste de
distribuição de Placebo.

Paraná Santa Catarina Rio Grande do Sul

.5
.5

.5
0

0
-.5

-.5

-.5
-1

-1

-1
-1.5

-1.5

-1.5
2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015
ano ano ano
Treated Donors Treated Donors Treated Donors

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

A região sul é a que apresenta a menor proporção e pobres dentre as regiões, com
destaque para o estado de Santa Catarina, que no final do período apresentou a menor
proporção de pobres do país (1,8%). Entre os fatores que contribuíram para esse resultado,
está o grande investimento em educação, fazendo com que o aumento na média de anos de
estudo de um indivíduo gere um melhor retorno salarial. Isso permitiu que as transferências
assistenciais do governo fossem pequenas em relações as demais unidades da federação.

A renda do Centro-Oeste é mediana se comparada a média brasileira. Segundo o


IBGE, em 2011, a pobreza era maior nas cidades que na zona rural. A zona urbana do Estado
abrigava 167 mil pessoas em situação de miséria, enquanto no campo o número chega a cerca
de 48 mil. Os estados que compõem o Centro-Oeste brasileiro, com exceção do Distrito
Federal, tem no agronegócio, um forte propulsor de geração de renda. As tabelas abaixo
apresentam os pesos que cada estado da região Centro-Oeste obteve em explicar o
comportamento das trajetórias sintética dessa região.

129
Tabela 18 - Participações dos estados da região Centro-Oeste, em porcentagem,
na construção das unidades sintéticas. Cenário 4.

Mato Grosso do Sul Mato Grosso Goias


Unidade de Controle Unidade de Peso Unidade de Controle Unidade de Peso Unidade de Controle Unidade de Peso Distrito Federal
12 0,117 11 0,072 17 0,077 Unidade de Controle Unidade de Peso
14 0,167 17 0,492 27 0,221 16 0,22
16 0,036 29 0,06 29 0,064 33 0,78
17 0,158 32 0,078 43 0,446 RMSPE 0,3138
42 0,115 42 0,236 50 0,171 Fonte: Elaboração do autor
51 0,047 53 0,61 RMSPE 0,3016
52 0,24 RMSPE 0,4068 Fonte: Elaboração do autor
53 0,12 Fonte: Elaboração do autor
RMSPE 0,1433
Fonte: Elaboração do autor

Em relação as raízes do erro previsto quadrático médio (RMSPE) da série sintética em


relação à série original o estado do Mato Grosso apresenta o maior valor de RMSPE
(0,4068pontos), contribuindo para esse resultado os pesos de estados de todas as regiões do
país.

Os gráficos a seguir mostram a previsão da série sintética para as quatro estados do


Centro-Oeste, onde se percebe de forma satisfatória a trajetória da proporção de pobres para
os referidos estados. No entanto, igualmente a trajetória de desigualdade de Gini o Distrito
Federal apresenta a trajetória mais discrepante, evidenciando o estado com maior proporção
de pobres.

Gráfico 19 - Trajetória da proporção de pobres entre os estados da Região Centro-Oeste


e Região Centro-Oeste sintético. Cenário 4.

Mato Grosso do Sul Distrito Federal Mato Grosso Goiás

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

130
Os gráficos a seguir, mostram os resultados dos testes de placebo para os estados dessa
região com destaque para Goiás e Distrito Federal como o menos e mais desigual entre os
estados da região, respectivamente. Um ponto a ser considerado no comportamento da
pobreza da região é o seu próprio crescimento e dinamismo na constituição do Produto
Interno Bruto (PIB) do Brasil.

Gráfico 20 - Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos da proporção de


pobres para a região Centro-Oeste em relação as unidades da federação do cenário 4.
Teste de distribuição de Placebo.

Mato Grosso do Sul Mato Grosso Goiás Distrito Federal

1
.5

.5

.5

.5
0

0
-.5

-.5

-.5

-.5
-1

-1

-1

-1
-1.5
-1.5

-1.5

-1.5

2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015
ano ano ano ano
Treated Donors Treated Donors Treated Donors Treated Donors

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

Para o estado do Mato Grosso tem-se resultados cíclicos ao longo do período em


questão. A princípio, no período 2004 à 2006 as estimativas apontam para um aumento da
pobreza, ao passo que entre 2006 e 2008 o cenário sugere um crescimento não pró-pobre,
sendo seguido no período entre 2009 à 2014 por um crescimento favorável aos mais pobres.

O gráfico para a região Centro-Oeste mostra que o Distrito Federal apresenta a maior
proporção de pobres da região (17,3%) e o Mato Grosso apresenta o menor resultado (7,7%).
No entanto, todos os estados da região apresentaram redução bastante significativa durante o
período, o que mostra que elementos macro econômicos repercutiram muito para esses
resultados, isto é, a política econômica se mostrou eficaz ante a realidade nacional. O
agronegócio impulsionou a região ter uma expansão acima da média nacional, algo que
resulta de uma atividade econômica aquecida através de investimentos, em especial
privadogernado aumento no nível de emprego, em impactos positivos na renda local.

131
4.8 Modelo do Cenário 5:Efeito fixo pobreza tratamemto.

lppobre= 2,346 + 0,566 lanosest - 0,460 lrendacapc + 0,028 lraçachef - 0,026


lsexchef – 0,798 lpibpc + 0,192 ltxdes + 0,023 ltxmort - 0,0009 lbolsfam

O modelo do cenário 5 de pobreza de tratamento para efeitos fixos mostra que as


variáveis lracachef, lsexchef, ltxmort e lbolsafam, não afetando a determinação da proporção
de pobres. As variáveis lanosest e ltxdes se mostraram significativas a 5% e as demais,
significativas a 1%. Neste cenário a taxa de desemprego, juntamente como a renda total com
aposentadoria per capita e o PIB per capita contribuem para a redução da proporção de pobre
no país em 1,92%, 4,60% e 7,98%, respectivamente.

4.9 Modelo do Cenário 6: Efeito fixo pobreza controle.

lppobre= 3,572 - 0,402 lanosest - 0,436 lrendacapc + 0,028 lraçachef - 0,050 lsexchef
– 0,516 lpibpc + 0,198 ltxdes - 0,108 ltxmort + 0,007 lbolsfam

O cenário 6 se refere ao modelo de pobreza de controle para efeitos fixos mostra,


como nos modelos anteriores que as variáveis lracachef, lsexchef, ltxmort não influenciam no
modelo de pobreza para nenhum dos cenários, com exceção da variável lbolsafam que foi
significativa a 1% no modelo 4. Neste grupo de controle, a média de anos de estudo influencia
no modelo a 10% de significância, mostrando que o aumento de 10% na media de anos de
estudo diminui a pobreza em 4,02%.

Considerando os cenários rodados acima, chegasse a confirmação das hipóteses deste


trabalho. Verificou-se por meio dos resultados expostos que melhorias na renda ou a
realização do Programa Bolsa Família (PBF) diminuíram a pobreza na regiões brasileiras, em
espacial as áreas de difícil acesso como as zonas rurais. Entretanto ainda existem lugares que
estão fora da cobertura do programa devido a ausência do poder público nessas localidades.

Quanto a efecácia do programa, conclui-se que o mesmo é eficaz na redução da


desigualdade e da pobreza uma vez que a redistribuição de renda contribui entre outras coisas
para o aumento da renda per capita, que por sua vez contribui para a redução da proporção de

132
pobres, o que ficou evidenciado no período em questão. embora o governo não disponha de
uma ferramenta de análise de eficácia e nem que haja uma mensuração da mesma nas
PNADs, cabe a academia o esforço em contribuir para esse debate e avanço das políticas
públicas de mitigação da pobreza e desigualdade de renda.

133
5 Conclusão

A persistência da pobreza tem contribuído para que antigos e novos problemas


convivam sem uma perspectiva de solução. A partir da última década do século XX e inicio
do século XXI, governos do mundo inteiro agiram para eliminar a pobreza e reduzir a
desigualdade social, a partir da atenuação da desigualdade de renda, haja vista que esta é uma
boa forma de ampliar a base informacional de um indivíduo, uma vez que a maioria das suas
privações passa pela possibilidade de sua obtenção.
Para isso se faz necessária a interação entre diversos agentes sociais na elaboração e
políticas públicas que atendam de fato as demandas iminentes. Dentro da abrangência
nacional este trabalho teve por objetivo analisar a dinâmica da desigualdade na unidades da
federação brasileira debruçando-se sobre o funcionamento dos programas de transferência de
renda condicionada (PTRC) no período de 2001 a 2014. Embora o Programa Bolsa Família
tenha sido criado em 2003 e iniciado em 2004, optou-se pela linha de corte o ano de 2006,
tendo em vista que neste ano o programa se encontra mais estruturado com melhor análise de
efetividade. Assim dentro dos modelos rodados pelo score de propensão do stata se permite
fazer a analise da eficácia do programa na dinâmica de redução da pobreza e desigualdade de
renda no Brasil.
Ações de cunho macroeconômico dentro de um contexto nacional influenciados por
fatores internacionais no período permitiram um política de distribuição e redistribuição de
renda. Fatores que elevaram o país a sexta economia do mundo, e sendo modelo no combate a
fome e a desigualdade, mesmo que de forma conjuntural. Pode-se dizer que essa política é
efetiva, pois é direcionada para quem realmente precisa, no entanto verificou-se durante os
anos que não se criou um mecanismo de fiscalização e acompanhamento dos programas
sociais cujo objetivo seria a análise de eficácia dessas políticas, uma vez que, por exemplo, o
PBF passou de uma política de governo para uma política de Estado.
Para essa avaliação se utilizou métodos microeconométricos e de dados em painel,
baseados no método dos valores típicos onde é possível inferir sobre os critérios e variáveis
determinantes para a participação das pessoas nos programas sociais expressos pelo efeitos
marginal dessas variáveis para cada ano. Para isso construiu-se a base com a agregação em
domicílios, devido o conceito de família passar a aparecer a partir da PNAD de 2004. Para
tornar-se coerente com os demais períodos (2001 a 2003) optou-se por esse nível de
agregação. Nesse nível de agregação que foi realizado o modelo logit e o Propensity Score.

134
Também foram analisadas as diferenças de media onde se verificou que ao longo dos
anos, aumentou a distância da renda dos que recebem e não recebem o Bolsa Família, o que
pode estar ligado a melhoria de distribuição de renda para o extrato mais alto, mas não
necessariamente para o extrato mais baixo. Não obstante, Concluiu-se que dentro do período
em questão as políticas públicas expressas em programas de transferência de renda
condicionada (PTRC), em especial o Programa Bolsa-Família (PBF) contribuíram como
importante vetor para redução da proporção de pobres e a desigualdade de renda expresso
pelo índice de Gini em todos os estados da federação, confirmando a hipótese principal deste
trabalho.

Este trabalho se emprenhou na análise unidimensional da pobreza onde se verificou


que as zonas rurais tiveram efeito redutor da pobreza de maneira significativa durante o
período não somente pela ação do PBF, mas também de programas elementares que
permitiram a inclusão ao sistema urbano-social. Assim, a analise da proporção de pobres
mostrou que Santa Catarina passou por uma redução (que já era baixa em 2001) muito
significativa na proporção de pobres no período, chegando a um patamar de 1,8% em 2014.
Por outro lado, o estado de Pernambuco se mostrou não apenas o estado de maior proporção
de pobres da região nordeste, mas de todo o Brasil entre 2001 e 2014.

No que concerne a analise da desigualdade pelo índice de gini, verificou-se segundo


dados do Banco Mundial o coeficiente de Gini para o Brasil caiu de 0,593 em 2001 para 0,515
em 2014, o que significou uma redução de 0,078 pontos, ou 13,1%, onde o estado de Santa
Catarina teve o melhor desempenho entre os estados, evidenciado pelo teste de distribuição e
placebo dentro do período. Confirmando que no Brasil, entre 2001 e 2014, políticas públicas
de inclusão voltadas para o sistema educacional e redistribuição de renda iniciaram um longo
processo de reparo histórico-social da pobreza e desigualdade que mostrou a constante
trajetória de queda. Por outro lado o Distrito Federal aparece neste cenário como o mais
desigual entre as unidades da federação, caracterizando uma situação de elevada concentração
de renda onde as políticas sociais e política econômica não foram relevantes para este estado
dentro do período.

Os resultados apresentados nos modelos são surpreendentes, levando a conclusão


sobre a eficácia do PBF para o Brasil no Período, embora dentre as variáveis de
comportamento negativo no modelo de efeitos fixos a que causou menos impacto na redução

135
do índice de Gini foi o 𝑙𝑏𝑜𝑙𝑠𝑓𝑎𝑚, porém mesmo com baixo impacto, a política se mostra
importante na redução da desigualdade, sendo colocado que se o volume de recursos for
dobrado a desigualdade irá reduzir em 2,35%. É possível que o custo monetário desse volume
de investimento tenda a trazer grande benefícios sociais à longo prazo, o que está dentro da
lógica do programa.

Espera-se que este trabalho contribua de forma significativa para o avanço das
políticas sociais, despertando ainda mais o interesse ao aprofundamento da pesquisa em
relação ao tema. Ainda se tem uma grande parcela da população não alcançada pelos
programas sociais, onde é necessário ação das três esferas federativas para se identificar e
trabalhar a redução da pobreza nas regiões brasileiras e para isso é preciso desenvolver
mecanismos de análise e fiscalização eficiente e eficazes capazes de interferir e modificar a
dinâmica social, através de políticas públicas de participação social.

Por fim, a desigualdade e a pobreza precisam ser combatidades estruturalmente e não


apenas de forma conjuntural. Assim, cabe a acadêmia se esforçar para acompanhar a
dinâmica de execução do PBF e redistribuição de renda nesse período de difuculdade na
estrutura institucuinal democrática a fim de contribuir nas formas de combate para a redução
da pobreza.

136
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