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Belém – Pa
2018
HIGOR FERNANDO DO NASCIMENTO PONTES
Belém –Pa
2018
I
II
HIGOR FERNANDO DO NASCIMENTO PONTES
Banca examinadora
Belém –Pa
2018
III
Ao meu Senhor Jesus, Porque D’ele e por Ele e para Ele são todas as coisas.
IV
Agradecimentos
Todos na vida sonham, mas somente aqueles que ousam conseguem realizar. É uma
imensa vitória poder concluir esse mestrado. Confesso que não foi fácil, devido a algumas
circuntâncias externas, em alguns momentos pensei em parar, mas graças a Deus fui adiante.
A pressão nos faz superar limites. Essa foi uma frase que me marcou muito no período
de elaboração deste trabalho. Mas finalmente ele foi concluído. E nada mais justo do que usar
esse espaço para agradecer aqueles que direta ou indiretamente fizeram parte desse processo
tão sofrido mas ao mesmo tempo tão prezeroso. Espero que não esqueça de ninguém.
O Salmo 91. 11-12 diz: “ Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te
guardarem em todos os teus caminhos. Eles te sustentarão nas suas mãos, para que não
tropeces com o teu pé em pedra. Bom, posso dizer que encontrei esses anjos no meio da
caminhada. Pessoas com um abraço, um beijo, um sorriso, uma palavra de animo
transmitiram força em meio a fraqueza e cura em meio a dor. Amigos queridos que levarei
sempre no lado esquerdo do peito. Renata Andrade, Helton Xavier, Milena Riemi, Rogger
Mathaus, Ellen Claudinne, Henrique Mascarenhas, meus doutorandos Favoritos Luz Marina e
Felipe Bandeira. Vocês nã imaginam a força que que vocês me passaram em cada encontro
em cada dia desse mestrado. Vocês contribuiram para que os dias de luta fossem dias de
glória e os de tristeza fossem de alegria. Vocês são demais. Amo vocês. Desejo todo o sucesso
e que Deus os prospere em todos os seus caminhos cumprindo o desejo do coração de vocês.
Ao meu orientador, professor Ricardo Bruno. Finalmente, matamos o primo.
Noooossa, não tenho nem palavras pra agradecer, sinceramente... a ajuda, a compreensão, o
cuidado, a responsabilidade, a paciência (algumas vezes vi a ira dele pelo whatsapp- risos) o
café (risos).. Que Deus abençoe o senhor e sua família poderosamente, meu professor. Espero
algum dia poder retribuir toda a ajuda que o senhor me deu.
Ao professor Danilo, também pela compreensão em algumas disciplinas diante de
algumas dificuldade.
Ao meu paistor, Douglas Lisboa e sua esposa e minha amiga querida Cristiane Lisboa
por mais esse apoio, compreensão, conselhos e orações. Amo vocês e ainda pago pra amar.
Quero também agradecer a duas pessoas que me deram uma ajuda imensa: tias Jacira e
tia Claudete. Que Deus lhes abençoe poderosamente. Espero uma dia retribuir-lhes essa
grande ajuda.
V
Também agradeço a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –
CAPES pelo incentivo que dá as universidades com o objetivo de potencializar a pesquisa no
país sempre olhando de maneira humana para as necessidades financeiras dos seus
pesquisadores.
E finalmente ao meu amado Senhor Jesus Cristo a quem dedico toda honra, toda
glória, louvores e aplausos. Ah se não fossem suas misericórdias...Deus é bom o tempo todo e
o tempo todo Deus é bom.
Agora é seguir o caminho do doutorado. Nossa, nem acredito que estou falando isso.
Só Deus mesmo pra fazer isso. Um sonho realizado. A caminhada não é fácil, mas o que será
que Deus não poderá fazer na vida de alguém que se entrega de verdade em suas mãos?
VI
“Nunca me deixes esquecer que tudo o que tenho, tudo o que sou e o que vier a ser
vem de ti, Senhor” (Ana Paula Valadão Bessa).
VII
Resumo
O Estado tem um papel importante na organização social, principalmente no que diz respeito
a elaboração de políticas públicas e ao analisar esse papel dentro de um contexto nacional,
depara-se com a enorme carência que cada região possui e os diversos problemas enfrentados
em decorrência do forte ciclo de armadilha da pobreza. A dinâmica de acumulação e
concentração do sistema capitalista exposta pelas ideias neoliberais contribuiu para o aumento
da desigualdade de renda no Brasil no último quarto do século XX de maneira a conscientizar
as instituições sobre os problemas que a desigualdade pode gerar nos âmbitos político,
econômico e social. Assim nos primeiros quinze anos do século XXI o Brasil passou por uma
série de transformações em todos os aspectos, fruto de uma política de redistribuição de renda
e de uma politica econômica condizente com a realidade. Mecanismos esses que são muito
importantes para o sistema de oportunidades e as liberdades inerentes a cada indivíduo que
está atrelado à elaboração, execução e análise de políticas públicas que contribuam para a
redução da desigualdade de renda como forma de eliminar o ciclo intergeracional da pobreza.
VIII
Abstract
The State plays an important role in social organization, especially in the elaboration of public
policies, and in analyzing this role within a national context, it faces the enormous lack that
each region has and the various problems faced as a result of the strong cycle of poverty trap.
The dynamics of accumulation and concentration of the capitalist system exposed by
neoliberal ideas contributed to the increase of income inequality in Brazil in the last quarter of
the twentieth century in order to make institutions aware of the problems that inequality can
generate in the political, economic and social spheres. Thus in the first fifteen years of the
twenty-first century Brazil underwent a series of transformations in all aspects, the result of a
policy of income redistribution and an economic policy consistent with reality. These
mechanisms are very important for the system of opportunities and freedoms inherent to each
individual that is involved in the elaboration, execution and analysis of public policies that
contribute to the reduction of income inequality as a way of eliminating the intergenerational
cycle of poverty.
IX
Lista de Figuras
X
Lista de Tabelas
Tabela 2 - Proporção de Pobres por Região e Área Metropolitana para os dados da PNAD no
período de 2011-2014. .............................................................................................................. 67
Tabela 3 - Proporção de Pobres nas áreas Urbana e Rural e Regiões Metropolitanas, segundo
os dados da PNAD do período de 2011 -2014. ........................................................................ 68
Tabela 4 - Razão do Hiato de Pobreza para as Regiões do País, Região Metropolitana e Áreas
Urbano e Rural, para os dados da PNAD no período de 2011-2014. ....................................... 69
Tabela 6 Diferença de médias das rendas totais per capita com e sem aposentadoria dos
indivíduos que recebem o benefício do Bolsa-Família pra Amazônia Legal, 2001 à 2014. .... 87
Tabela 7 Diferença de médias das rendas totais com e sem aposentadoria dos indivíduos que
recebem o benefício do do Bolsa-Família pra Amazônia Legal, 2001 à 2014. ....................... 87
Tabela 8 Índice de Gini para grandes regiões e unidades da federação, Brasil 2001 à 2014. .. 91
Tabela 9 Proporção de Pobres nas Grandes Regiões e Unidades da Federação, Brasil 2001 à
2014. ......................................................................................................................................... 93
XI
Tabela 17 Participações dos estados da região Nordeste, em porcentagem, na construção das
unidades sintéticas. Cenário 4. ............................................................................................... 122
XII
Lista de Gráficos
Gráfico 1 Trajetória do índice de Gini entre os estados da Região Norte e Região Norte
sintético. Cenário 1. ................................................................................................................ 101
Gráfico 2 Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos do índice de gini para a região
Norte em relação as unidades da federação do cenário 1. Teste de distribuição de Placebo. 102
Gráfico 3 Trajetória do índice de Gini entre os estados da Região Nordeste e Região Nordeste
sintético. Cenário 1. ................................................................................................................ 105
Gráfico 4 Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos do índice de gini para a região
Nordeste em relação as unidades da federação do cenário 1. Teste de distribuição de Placebo.
................................................................................................................................................ 106
Gráfico 5 Trajetória do índice de Gini entre os estados da Região Sudeste e Região Sudeste
sintético. Cenário 1. ................................................................................................................ 107
Gráfico 6 Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos do índice de gini para a região
Sudeste em relação as unidades da federação do cenário 1. Teste de distribuição de Placebo.
................................................................................................................................................ 108
Gráfico 7 Trajetória do índice de Gini entre os estados da Região Sul e Região Sul sintético.
Cenário 1. ............................................................................................................................... 110
Gráfico 8 Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos do índice de gini para a região
Sul em relação as unidades da federação do cenário 1. Teste de distribuição de Placebo. .... 111
Gráfico 10 Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos do índice de gini para a
região Centro-Oeste em relação as unidades da federação do cenário 1. Teste de distribuição
de Placebo. .............................................................................................................................. 114
Gráfico 12 Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos da proporção de pobres para
a região Norte em relação as unidades da federação do cenário 4. Teste de distribuição de
Placebo. .................................................................................................................................. 120
Gráfico 14 Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos da proporção de pobres para
a região Nordeste em relação as unidades da federação do cenário 4. Teste de distribuição de
Placebo. .................................................................................................................................. 124
XIII
Gráfico 15 Trajetória da proporção de pobres entre os estados da Região Sudeste e Região
Sudeste sintético. Cenário 4. .................................................................................................. 126
Gráfico 16 Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos da proporção de pobres para
a região Sudeste em relação as unidades da federação do cenário 4. Teste de distribuição de
Placebo. .................................................................................................................................. 126
Gráfico 17 Trajetória da proporção de pobres entre os estados da Região Sul e Região Sul
sintético. Cenário 4. ................................................................................................................ 128
Gráfico 18 Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos da proporção de pobres para
a região Sul em relação as unidades da federação do cenário 4. Teste de distribuição de
Placebo. .................................................................................................................................. 129
Gráfico 20 Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos da proporção de pobres para
a região Centro-Oeste em relação as unidades da federação do cenário 4. Teste de distribuição
de Placebo. .............................................................................................................................. 131
XIV
Sumário
1 Introdução .............................................................................................................................. 16
3 Metodologia ........................................................................................................................... 71
XV
1 Introdução
O trabalho de Sen (2002) se baseia que a parte mais vulnerável da sociedade está
exposta aos diversos problemas sociais existentes, de forma que a falta de oportunidades
dificulta a atuação do indivíduo nas diversas áreas sociais que podem lhe promover
mobilidade social, tendo em vista os aspectos uni e multidimensional da pobreza.
Considerando o cenário nacional, quanto mais oportunidades são disponibilizadas ao ser
humano mais chances de mudança lhe são proporcionadas para o desenvolvimento do país. É
importante destacar que as oportunidades e expectativas de uma pessoa dependem
crucialmente das instituições e do modo como elas funcionam, uma vez que o indivíduo atua
em um mundo de instituições. Logo essa avaliação ocorre sistematicamente a realização de
oportunidades, principalmente ponderando sobre uma política de redistribuição de renda.
16
Neste contexto, políticas que têm por objetivo superar a pobreza e a desigualdade têm
muitas vezes sido bloqueadas nas regiões periféricas através dos sistemas de acumulação e
concentração de capital expressos em políticas de austeridade, afetando a sociedade e
impondo dificuldades de sobrevivência às futuras gerações.
As políticas sociais e de transferência de renda contribuíram para esse fim, porém não
de forma tão acentuada, uma vez que a expansão do mercado de trabalho e a valorização do
salário mínimo tiveram maior peso nessa evolução. É importante colocar que o processo de
desenvolvimento social de um indivíduo não depende apenas das oportunidades econômicas,
mas é um sistema complexo que precisa estar interligado com outros determinantes, aonde a
política de redistribuição de renda não seria talvez o mais importante no decurso da redução
da desigualdade, já que esta viabiliza ao indivíduo apenas o uso instrumental da renda, não
proporcionando o exercício de seus direitos constitucionais.
1
dados do Banco Mundial. Disponível em
<http://datos.bancomundial.org/indicador/SI.POV.GINI?end=2014&locations=MX-GT-PY-
BR&start=2014&view=bar>
17
sintomas como subnutrição, baixa escolaridade, falta de acesso a serviços básicos,
desemprego, marginalidade, insuficiência de renda, etc.
A baixa qualidade da educação pública é um problema que deve ser enfrentado com
vontade e diligência visando a melhoria do processo educacional, principalmente nas regiões
mais pobres do país, como o Norte e Nordeste. Profissionais bem preparados, com melhor
nível educacional, aumentam a produtividade na economia e melhoram todos os indicadores
sociais. Todavia, a atuação do Estado na regulação econômica ajuda na diminuição das crises
18
por meio de uma queda da diferença salarial entre os que têm mão-de-obra qualificada e os
que não têm.
19
programas de geração e redistribuição de renda que contemplem ao indivíduo a possibilidade
de mudança na sua perspectiva de vida, o que atrasa a execução de políticas que contribuam
para a redução da desigualdade de forma mais acelerada. Não é defender uma politica
assistencialista, mas criar oportunidades de crescimento e desenvolvimento, geração de
emprego e renda aonde o indivíduo saia da situação de pobreza gerando também outras
oportunidades e cooperando com a dinâmica da cadeia social de mobilidade socioeconômica.
2
Ao se referir a direitos formais, diz-se, segundo Sen (2002), tratar das liberdades sociais básicas de cada
indivíduo expressas pela atuação do poder público. Em outras palavras se tem a defesa de igualdade formal de
oportunidades e direitos de vários tipos.
21
possibilidade de sua obtenção, haja vista sua enorme influência sobre o que se pode ou não
fazer, atuando como um bem primário que possibilita o desenvolvimento das capacidades de
um indivíduo. Para Sen (2002, p.92) bens primários são “meios de uso geral que ajudam
qualquer pessoa a promover seus próprios fins, como “direitos, liberdades e oportunidades,
renda e riqueza e as bases sociais do respeito próprio”.”. Um acúmulo de bens primários
aumenta as vantagens individuais no que se refere a busca de seus objetivos.
No segundo capítulo deste trabalho será analisado o papel das políticas públicas no
atual contexto político e social, contemplando através da sua historicidade, a função do Estado
dentro das principais escolas de pensamento econômico. Em seguida será tratado sobre o
referencial teórico utilizado neste trabalho, baseado em Fiszbein (2009) sobre o papel dos
programas de transferência de renda condicionada (PTRC), em especial a criação do
Programa Bolsa-Família (PBF) e sua atuação sobre a parcela da população economicamente
vulnerável, bem como a ação dos mecanismos de redistribuição de renda como forma de
minorar o problema da desigualdade de renda e encerrando com a discussão sobre o contexto
de pobreza. O terceiro capítulo apresentará a metodologia a ser empregada para a elaboração
dos modelos e análise dos resultados. O quarto capítulo é reservado para a análise dos
resultados gerados pelos modelos para desigualdade e pobreza para controle sintético. O
quinto e último capitulo é reservado para a conclusão.
22
2 Revisão Bibliográfica
3
No século XIX, resultou do direito administrativo norte americano a ideia de que a administração pública
deveria se igualar a organização de uma empresa, tendo como base o sistema de meritocracia, de caráter
apartidário como forma de combate ao nepotismo e ao favoritismo na administração pública.
23
com dinâmica social, isto é, tem um compromisso social e não empresarial, cujo objetivo é
atender ao interesse coletivo.
Na idade média a figura do Estado era representada pela Igreja e pela aristocracia
rural, o poder do clero estabelecia, impunha e regia as relações sociais por uma série de leis
“divinas”. Assim “Essas leis se originaram não apenas de textos religiosos, mas também de
relações econômicas e sociais estabelecidas pelos conquistadores da Europa à medida que
eles substituíram o domínio romano” (CARNOY, 2010, p.21).
Nos séculos XVI e XVII ocorreram mudanças profundas na Europa, dentre elas a
redefinição do estado de natureza do homem, formulando os seus direitos individuais,
substituindo a leis impostas pelo poder do clero como forma de fundamentação das
hierarquias políticas. No final do século XVII e durante o século XVIII houve a defesa do
estado de natureza humana em que prevalecia o comportamento individual em suas relações.
Assim, não se pode desconsiderar que o espaço a doutrina clássica apresenta um caráter
revolucionário, baseada em um novo conceito de homem.
24
Dentre as novas formas de governo, surge a figura do Estado mercantilista, que
apresenta uma contribuição muito frágil pra a ciência econômica uma vez que sua base de
sustentação protecionista impedia o desenvolvimento econômico devido às barreiras impostas
além de encontrar meios pelos quais pudesse proporcionar ouro e prata - considerados como
primeiras riquezas.
A partir do último quarto do século XVIII, não somente o Estado passou por uma
modificação na sua estrutura funcional, mas também a Europa modificou suas condições de
poder político e econômico como forma de facilitar a produção e concorrência na economia.
4
Esse período teve como marco a criação da Economia Política, atual ciência econômica
através da publicação de A Riqueza das Nações por Adam Smith.
De acordo com VIOTTI (1986) A doutrina liberal clássica – delineada entre a primeira
e segunda revolução industrial – defende a restrição das funções do Estado à 1) segurança
nacional, isto é, a defesa da sociedade e soberania nacional frente a violência e invasão por
outras sociedades independentes; 2) a administração da justiça social, ou seja, a proteção de
seus cidadãos que pudessem ser vitimas de indivíduos da mesma sociedade, como forma de
estabelecimento da paz social; 3) criação e manutenção de obras para facilitar a fluidez da
atividade econômica - cuja criação e sustentação não interessam ao indivíduo ou a um
pequeno número deles, devido os ganhos não compensarem os gastos que possam ser
realizados pelos mesmos, ainda que fosse vantajoso para a sociedade de um modo geral - ou
seja, facilitar o comércio da nação e fomentar a instrução do povo.
Para Smith, o papel reduzido dos mercados provocara a restrição ao livre comércio,
dificultando a divisão do trabalho, necessário para o aumento da produtividade e o pleno
desenvolvimento da riqueza nacional. Com isso a economia política clássica tenta mostrar que
haveria viabilidade social sem os estreitos controles estatais mercantilistas, pois seriam
desnecessários e prejudiciais para favorecer o processo de acumulação de capital e
consolidação da economia capitalista, o que segundo a teoria clássica beneficiaria toda a
nação.
4
O Estado Mercantilista perdia seu espaço para a doutrina clássica, na qual a ação do Estado Liberal
representaria uma forma de redistribuição de renda em benefício da própria classe burguesa, uma vez que o
mercantilismo e os resquícios do feudalismo não correspondiam mais as necessidades do desenvolvimento do
capitalismo inglês.
25
Isso permitiu também a consolidação da classe trabalhadora, que devido à
desapropriação pelo processo de acumulação primitiva, foi obrigada a vender sua força de
trabalho para o capitalista industrial, sendo submetido às formas mais vis e insalubres de
trabalho e sobrevivência. Isso contradiz a dinâmica econômica na época, uma vez que um
comércio ativo e próspero não permitia a melhora das condições de vida social dessa classe,
mas contribuía para o avanço da pobreza e degradação social.
A falta de políticas públicas contribuiu para essa dinâmica social, uma vez que o
caráter nocivo da atividade capitalista, representada pelo Mercado não permitia (e não
permite) a interação entre a complexidade social e atendimento de suas demandas.
Barre (1978) diz que a democracia liberal do século XIX, foi uma democracia de um
pequeno grupo, o dos proprietários de terra, que tinham como objetivo suprimir a
desigualdade, com exceção da má distribuição da riqueza e desigualdade de renda. Em outras
palavras, os interesses econômicos dominantes aproveitavam o poder político, utilizando-o
para os seus próprios fins. 5
Durante o século XIX houve uma crescente atuação da classe trabalhadora contra o
domínio burguês e a doutrina liberal clássica:
A partir do que Viotti coloca, pode-se dizer que no século XIX já ocorre um ensaio
quanto a surgimento e elaboração de políticas publicas através de uma participação dos
trabalhadores nas decisões do Estado, possibilitando uma mudança em sua natureza, ou seja,
como um agente interventor no domínio econômico e social. Não obstante, a realidade
histórica da propagação das condições insalubres e degradantes de trabalho e sobrevivência e
5
A falácia do Estado Liberal de que a acumulação de capital melhoria toda a sociedade, as condições de vida dos
trabalhadores via aumento salarial e de que o melhor dos mundos seria atingido com a livre luta pelos interesses
individuais terminou não acontecendo, contribuindo para a crise da economia política clássica.
26
a revolta da classe trabalhadora abalaram os fundamentos da escola clássica, comprometendo
a manutenção dos interesses da classe dominante.
“[...] o livre jogo das forças de mercado faria com que cada fator recebesse
exatamente sua contribuição marginal ao produto, não poderia haver distribuição
mais natural, justa e harmoniosa. Portanto, qualquer forma de intervenção que se
proponha a alterar a distribuição dada e necessariamente descartada” (VIOTTI,
1986, p.40).
6
Vale lembrar que o termo utilidade é uma mera escala individual de preferências sem nenhum significado
quantitativo.
27
Entretanto, é importante colocar que embora o Estado estivesse dentro do contexto e
domínio liberal, antes de 1930 havia uma diferença entre o pensamento liberal clássico e
neoclássico. Viotti (1986) expõe que o primeiro representou uma forma de assegurar um
rápido crescimento econômico, seja pela forma e nível de distribuição contribuir para a
acumulação de capital, seja pelo fato do aumento da produtividade proporcionar a ampliação
dos mercados. O segundo baseou-se em tornar a economia mais eficiente, transformando as
condições estruturais da sociedade, já que a teoria neoclássica surge após os escritos de Marx,
como forma de contradizer sua teoria do valor. O liberalismo para os neoclássicos assume o
papel de tentar preservar o Estado burguês.
O objetivo a ser atingido pela economia keynesiana era o pleno emprego, esquecendo
o ótimo econômico da economia neoclássica. O que é relevante para Keynes é a função de
demanda efetiva e não a lei de Say. Logo as variáveis que determinam o nível de demanda
efetiva, e, portanto a renda e o emprego são a propensão marginal a consumir e a escala de
eficiência marginal do capital. Com a crise do liberalismo em 1929, constata-se que a
intervenção do Estado na economia é ampla e se reveste de múltiplas formas. Como bem
colocado por Barros (1978):
7
Isso é confirmado pela crise que abalou o mundo na década de trinta do século XX, onde os pressupostos do
pensamento econômico predominante foram totalmente abalados por não conseguirem explicar o porquê de
mesmo o mundo econômico seguindo a cartilha do Mercado ao pé da letra, muitas pessoas mesmo querendo
trabalhar por baixos salários, não conseguiam espaço no mercado de trabalho.
29
dispêndio público. Não obstante, a moeda se converte em instrumento de controle e
de redução salarial, tendendo a provocar uma pequena elevação do preço das
mercadorias para os assalariados;
3- O Estado coordena e financia, em grande parte os investimentos. A ideia não é
eliminar o setor privado da atividade econômica - pois o que faz mover a economia é
a expectativa do empresário em produzir e a eficiência marginal do capital - mas sim
compatibiliza-lo com a iniciativa privada. O Estado não pode competir diretamente
com o setor privado, pois provocaria a redução acentuada da eficiência marginal do
capital, assim, o pensamento é que os investimentos públicos não podem expandir a
capacidade de produção da economia, em outras palavras, eles devem ser
improdutivos.8 Isso estimularia a contratação de trabalhadores por parte do setor
privado. Esses gastos seriam qualquer produção dirigida pelo governo em forma de
obras públicas, bem-estar social ou armamentos, que cairiam na esfera de consumo,
impulsionando a produção por parte das empresas;
4- O Estado faz funcionar o setor público de produção. Keynes propõe uma socialização
dos investimentos como forma de assegurar uma situação aproximada de pleno
emprego, o que não implicava a necessidade de excluir os compromissos e fórmulas
de toda a espécie que permitiam ao Estado cooperar com a iniciativa privada. Em
lugar de desenvolver a produção a expensas do consumo, em um processo no qual o
consumo aumenta mais lentamente que a acumulação de capital, o Estado desenvolve
a produção com a ajuda deste, ainda que seja em forma de obras públicas e
armamentos. O Estado em Keynes adota uma racionalidade contrária ao senso comum
neoclássico, e essa racionalidade conduziria o funcionamento estatal supondo que
quanto mais improdutivo fosse o gasto público, melhores seriam os resultados, já que
não provocaria efeitos negativos à iniciativa privada;
8
Um trabalho é considerado improdutivo quando não contribui diretamente para a valorização do capital como
um todo, o que pressupõe uma teoria do valor, no caso, a teoria do valor trabalho. Parece que Keynes admitia
uma espécie de teoria do valor trabalho, já que para ele tudo era produzido pelo trabalho.
9
Seria uma relação baseada em um tripé composto pelo consumidor, produtor e Estado capitalista.
30
para crise como também é o processo pelo qual o remédio atua. No entanto, como as
variáveis do modelo keynesiano são definidas no plano monetário, a inflação é
ocultada como forma de expurgar o índice geral de preços. Segundo a ideia
keynesiana, para que haja inflação é necessário que haja uma longa faixa de elevação
dos preços, tornando-se a base de comportamento de todos os atores econômicos,
manipulados facilmente pela ação do Estado via desvalorização cambial;
A expansão das funções do Estado tem por objetivo ajustar a propensão marginal a
consumir através da indução ao investimento, tido como gasto improdutivo e preservando as
relações sociais de produção capitalista. Contudo, a teoria de Keynes não pode ser uma
revolução do pensamento econômico, pois não abandona totalmente os fundamentos da teoria
31
neoclássica, entretanto, foi uma verdadeira revolução na sua postura diante da realidade
econômica10.
Com o abandono da teoria que levava em consideração a atuação do livre jogo das
forças de mercado, a adoção de políticas keynesianas, centradas na ideia de pleno emprego
fez com que os estados nacionais passassem a ampliar o seu volume de intervenções bem
como o caráter regulador, tanto nos aspectos econômicos como na institucionalização dos
sistemas de proteção social.
10
Keynes não estava preocupado em reconstruir a teoria econômica, mas sim em propor medidas práticas que
tirar a economia capitalista da crise em que se encontrava.
11
Entende-se pluralismo como o reconhecimento de que vários partidos políticos possuem igual direito ao
exercício do poder político segundo procedimentos eleitorais claramente definidos.
32
capacidade de resposta às demandas sociais e não apenas o agente de inclusão de mecanismos
clássicos de representação.
A sociedade é mutável devido a sua complexidade. Por causa disso a política pública
se adequa ao cenário ou é elaborada a partir de uma realidade social. A necessidade de
conhecer a conjuntura e prever a evolução da estrutura socioeconômica tornam
imprescindíveis as técnicas de construção de cenários, fazendo com que o Estado trabalhe
dentro de um planejamento estratégico, assim como as organizações privadas.
33
De acordo com as palavras de Saravia e Ferrarezi (2006) política pública é uma
decisão pública cujo objetivo é mudar ou manter uma realidade dependendo dos recursos, isto
é, orçamento e alocação de recursos públicos. Ao se falar de uma decisão pública é preciso
dizer que não está se referindo ao sinônimo de estatal, mas sim do que é coletivo. Política
pública é diferente de política estatal. A política pública é uma solução especifica para um
problema público.
Quando se fala sobre política pública, logo se pensa no atendimento das demandas dos
diversos grupos sociais com agendas distintas a serem assistidas cujo objetivo é a
transformação de sua realidade. O conceito de política pública para Di Giovani (2009) vai
além de uma simples intervenção do Estado em um determinado problema, mas sim uma
forma de exercício contemporâneo do poder nas sociedades democráticas que envolvem a
interação entre Estado e sociedade, de maneira que se chega a um ponto de equilíbrio em sua
curva de contrato, presumindo que essa relação perpassa pelo campo da economia e não
apenas de conceitos das ciências sociais.
O autor coloca que para se ter uma concretização da definição desse conceito em uma
sociedade democrática, tal contexto precisa estar alicerçado em três requisitos importantes: 1)
a capacidade mínima de planificação consolidada nos aparelhos estatais seja do ponto de vista
técnico ou do ponto de vista político. Em outras palavras é necessário o equilíbrio das forças
políticas e instituições que regem a sociedade. Crises políticas agem como barreira para a
interação entre o Estado e o complexo sistema social, o que se pode dizer, do ponto de vista
econômico é que existe um equilíbrio eficiente de Pareto; 2) uma estruturação republicana,
isto é, a coexistência independente de poderes e vigência de direitos de cidadania, em outras
palavras, o comprometimento com a coisa pública, agindo para a promoção do Estado de
bem-estar social; 3) a capacidade coletiva de formulação de agendas públicas, isto é, o
exercício pleno da cidadania e uma cultura política compatível.
34
No entanto, um sistema complexo não dá condições de escolha e identificação da
melhor e mais eficiente política, deixando a cargo das instituições essa responsabilidade
através da normalização de suas regras, ou seja, padronização da melhor resposta diante das
diversas possibilidades. Mas isso não garante sua eficiência, devido às limitadas formas de
escolha que levam o indivíduo a sua otimização, haja vista sua racionalidade limitada. As
demandas sociais são infinitas, então, é preciso trabalhar na restrição de possibilidades,
unindo a demanda de um determinado grupo com a possível exequibilidade de uma política,
ceteris paribus outros elementos relevantes durante o processo.
No que concerne às definições há uma diferença entre política e politica pública. Pode-
se definir política como um conjunto de procedimentos formais e informais que expressam
relações de poder e que se destinam à resolução pacifica de conflitos quanto a bens públicos.
É importante evidenciar a política como a decisão tomada pelo homem para viver e criar o seu
modo de vida, levando em conta as diferentes relações sociais estabelecidas e as distintas
necessidades que compõem a sociedade. Tal decisão tem como fim o melhor estabelecimento
das relações que satisfazem as necessidades sociais e individuais.
Para entender melhor essa distinção, Frey (1999, p.4) apud Rua (2013, p.7) faz um
desmembramento da palavra a partir da sua definição inglesa – devido a uma importante
peculiaridade linguística e cultural, diferentemente do que ocorre com as línguas latinas -
diferenciando três esferas de atuação política, dentre elas a política pública:
35
outras palavras, refere-se à formulação de propostas, tomada de decisões e
implementação de ações que afetam a coletividade, impactando interesses e
conflitos, o que beira mais ao campo da administração do que ao campo político. A
discussão sobre o sistema de cotas, que possibilitam o acesso de estudantes de
baixa renda, de raça, cor, entre outras às universidades se configura dentro desta
definição, uma vez que coloca em pauta a situação do sistema público de educação
do país e de que maneira se poderia começar a reverter o quadro da baixa
qualidade do ensino público, atuando como agente de justiça e igualdade social, o
que envolve diversas ações estrategicamente relacionadas para que sua
implementação aconteça.
As políticas públicas (policies) são o resultado das atividades políticas (politics) que
pela definição inglesa seria o processo político, frequentemente de caráter conflituoso, no que
diz respeito a imposição de objetivos, aos conteúdos e as decisões de distribuição, ou também
as ações e negociações dos representantes da sociedade nas diferentes esferas de poder.
As políticas públicas são elaboradas para atender a demandas sociais, mas ao mesmo
tempo em que são geradas, automaticamente se cria a necessidade de uma contra demanda,
mais especificamente, um suporte, geralmente direcionado ao grupo ou classe política
governante para que haja resposta aos anseios sociais. Simplificando, isso se assemelha a um
contrato entre os agentes sociais e políticos. As demandas são expressas em tudo que seja do
interesse de determinado grupo, como por exemplo, reivindicações de bens e serviços, como
saúde, educação, estradas, transportes, segurança pública, normas de higiene e controle de
produtos alimentícios, previdência social, etc.
37
1- As demandas novas são aquelas que resultam do surgimento de novos atores
políticos ou de novos problemas. Novos atores são aqueles que já existiam, mas
não eram organizados e aparecem quando passam a se organizar para pressionar o
sistema político. A bancada evangélica, grupos afrodescendentes, grupos de defesa
a mulher, são exemplos de atores que nos últimos anos se organizaram para
reivindicar seus direitos;
3- As demandas reprimidas são situações que podem existir durante muito tempo,
incomodando grupos de pessoas e gerando insatisfações sem, entretanto, chegar a
mobilizar as autoridades governamentais. Neste caso, trata-se de um "estado de
12
coisas” que passa a preocupar as autoridades tornando-se uma prioridade na
agenda governamental, passando a ser um "problema político".
12
Algo que incomoda, prejudica, gera insatisfação para muitos indivíduos, mas não chega a constituir um item
da agenda governamental, ou seja, não se encontra entre as prioridades dos tomadores de decisão.
38
No meio rural o grupo de latifundiários é um desses agentes, que possui uma bancada política
expressiva de influência na elaboração de políticas públicas para o campo.
Dentro do processo de política pública são destacados sete pontos sobre os quais ela
incorre, embora nem sempre siga essa sequência:
Existe uma diferença entre agenda social e agenda governamental. A agenda social
se refere a lista de questões que preocupam as pessoas diariamente, como, por
exemplo, a desigualdade social, problemas de saúde, educação, moradia, etc. a
agenda governamental reúne apenas os problemas que um governo quer tratar, o
que depende muito da sua ideologia, projeto político, mobilização social,
conjuntura econômica, etc. Em outras palavras, uma agenda governamental é
formada por meio das demandas sociais em um determinado tempo.
13
A formação da agenda é influenciada por atores governamentais (políticos eleitos democraticamente ou não,
membros do judiciário, funcionários do legislativo, empresas públicas, etc.) e atores não governamentais
(instituições de pesquisa, acadêmicos, sindicatos, organizações internacionais, empresas privadas, etc.).
40
para os segmentos sociais. Nada é decidido, apenas são apontados diferentes
formas de atuação e seus custos de oportunidade. A questão da discussão pública e
a participação social são centrais para a elaboração de políticas em uma estrutura
democrática.
41
6- Acompanhamento – É um processo sistemático de supervisão das etapas de
execução da política pública. Assim, caso ocorra algum problema, se tem
informações necessárias para as devidas correções ou mesmo estabelecimento de
uma agenda de decisão. Essa agenda consiste em um objeto de deliberação que
surge quase que inesperadamente em resposta a algum tipo de sinistro ou mudança
na conjuntura política, econômica ou social. Na agenda de decisão ocorrem
escolhas cuidadosas, que envolvem continuar ou dirimir processos decisórios
anteriores ou corrigir rumos de políticas já decididas.
A partir da visão de Sen (2002), se pode dizer que a ação pública complementará as
oportunidades individuais para superar as privações impostas ao indivíduo, além de condições
para a participação na vida econômica e política da sociedade. A ausência de políticas
públicas resulta em privação de liberdades, e quando estas se resumem a decisões políticas
ocorre a negação de oportunidades para a sociedade participar de decisões públicas cruciais.
Contudo, Sen (2002, p.163) orienta que “Mesmo em casos nos quais bons resultados
seriam absolutamente certos, isso não implica necessariamente que as tentativas na forma de
programas de políticas direcionadas a um público alvo produziriam esses resultados”.
Assim, o conceito de políticas públicas é evolutivo, uma vez que a realidade a que se refere se
encaixa em um processo de constantes transformações históricas e sociais nas relações entre
42
Estado e sociedade, a qual transpassa mediações de natureza variada, mas que se referem aos
processos de democratização das sociedades contemporâneas.
44
outras formas de despesa pública, contribuindo para a redução da pobreza de maneira que o
investimento público direto não contribui.
Outra colocação é que os mercados raramente funcionam perfeitamente na prática e às
vezes eles falham em impedir que as pessoas pobres sejam tão produtivas quanto eles
poderiam ser. Como exemplo, tem-se a restrição ao crédito às famílias em uma economia de
mercados de capitais imperfeitos. Uma transferência direta de dinheiro para essas famílias
podem capacitá-los a realizar um projeto eficiente. Assim as transferências condicionadas de
renda são equitativas, por permitirem que as pessoas tenham mobilidade social e eficiente por
ter o capital melhor alocado na economia.
Diante da volatilidade de renda, os PTRC suavizam algumas flutuações, aumentando o
bem-estar doméstico, o que significa dizer que as famílias que não possuem renda fixa ou
renda permanente contam com as transferências do governo que permitem a complementação
da renda auxiliando, principalmente em alimentação.
É preciso colocar que as desigualdades observadas no mundo têm características
herdadas dos pais, as quais os indivíduos não têm controle, como raça ou gênero,
configurando em desigualdade de oportunidades, o que Sen (2002) trata como privação e
liberdade. As transferências de dinheiro podem ser instrumentos adequados para compensar
as famílias, em forma de segurança protetora com o objetivo de garantir institucionalmente o
funcionamento de mecanismos de proteção social à população para que a mesmas não
venham a sucumbir diante da fome, da miséria e até mesmo da morte. Programas sociais
assim como programas de transferência de renda agem como forma de proteção as camadas
da sociedade em situação de extrema vulnerabilidade.
Quanto as idealizações citadas pelos governos, os agentes não são racionais, ou seja,
nem sempre se comportam exatamente como seria de esperar plenamente informados.
Informações privadas sobre a natureza de certos investimentos, ou sobre os retornos
esperados, podem ser imperfeitas e persistentes. O segundo argumento é que os governos
tipicamente não se comportam como voluntários e benevolentes, uma vez que as decisões
políticas geralmente resultam da tomada de decisões e processos que envolvem votação,
lobby, burocracia e negociações que não permitem espaço para as demandas sociais
proeminentes. O terceiro argumento é que o mercado não é perfeito, assim, os níveis de
investimento em capital humano pelos pobres não podem ser socialmente otimizados, por
causa da presença de falhas de mercado, particularmente, externalidades.
45
Musgrave (1959) apud Fiszbein (2009) descreve os chamados bens de mérito que
implicam diretamente na função de bem-estar social em que a sociedade deriva utilidade de
todos os que são educados ou de todos os que têm acessos decentes a habitação ou cuidados
de saúde - além dos benefícios decorrentes de cada indivíduo de seu próprio consumo desses
bens. Esse conceito pode ser usado em um contexto paternalista em favor dos PTRC, onde o
governo age como um impulsor social através das transferências monetárias proporcionando
um incentivo para o consumo adicional dos bens de mérito, argumentando que uma vez que
deixadas para seus próprios dispositivos, as pessoas de alguma forma não são capazes de
escolher o que é de melhor interesse.
Fiszbein (2009) coloca que o modelo de bem-estar individual depende do consumo em
dois períodos - infância e idade adulta, ou seja, envolve um trade off entre o bem-estar
presente e futuro, uma vez que o trabalho exercido na fase infantil, sacrificando o tempo gasto
em aquisição de conhecimento prejudica o consumo e qualidade de vida na fase adulta.
46
grupos de pessoas acreditem que os retornos para a educação são menores do que realmente
são), a taxa de salário declina para baixo: quanto maior o custo de oportunidade de
comparecer escola, menor o investimento desejado na educação (ponto B), representando
ineficientemente baixo nível de escolaridade.
Mudanças nos argumentos restantes alteram a função para cima ou para baixo neste
espaço, representados pelos pontos C, ou seja, uma transferência de renda não condicionada.
No entanto, um investimento com transferência de renda moveria o indivíduo ao longo da
função de investimento para cima e para a esquerda, para uma posição melhor, adicionando
um efeito de substituição ao efeito de renda, onde permite ao indivíduo escolher o nível de
escolaridade que lhe convir, tendo em vista que mais escolarização, reduz sua renda no
presente, no entanto, pode aumentá-la no futuro, representada nos pontos D e E, implicando
um maior nível de investimento na escolaridade.
O ponto B pode ser identificado como uma desinformação persistente em relação aos
retornos a educação ou até mesmo ao nível de instrução que os pais ou qualquer outro
indivíduo pode ter em relação a diversos assuntos relacionados a saúde e qualidade de vida. O
autor considera, também que dentro do ambiente familiar sempre existe um conflito de
interesses por parte dos pais, onde a mãe está mais alinhada ao interesse da criança do que o
pai, que opta muitas vezes por um consumo imediato, que geralmente se dá através de
empréstimos sem o compromisso com o investimento que este pode auferir. (Thomas 1990;
Hoddinott e Haddad 1995; Lundberg, Pollak e Wales 1997; Quisumbing e Maluccio 2000;
Attanasio e Lechene 2002; Rubalcava, Teruel, e Thomas 2004; Doss 2006; e Schady e Rosero
2008) apud Fiszbein (2009) mostram empiricamente que quando as mães têm maior controle
sobre os recursos, mais recursos são alocados para alimentação e saúde e educação infantil, o
que respalda o seu manuseio do recurso.
Existe também o argumento da economia política sobre os PTRC, onde os tais
precisam ser financiados, logo, os programas de transferência de renda tem caráter
redistributivo, gerado por meio da arrecadação de impostos e mensuração do produto interno
bruto, gerando assim, o que se chama de indução de demanda, permitindo maior competição
no mercado. Com isso, se tem que um PTRC não pode ser visto como uma simples assistência
social, mas sim como parte de um contrato social e elemento propulsor da economia, pelo
qual a sociedade (através do estado) e as famílias pobres se esforçam para melhorar suas
condições de vida.
47
O contrato entre o Estado e os beneficiários se manifestou no uso do termo
corresponsabilidades. A responsabilidade compartilhada e o respeito não são apenas pré-
requisitos para efetivamente combater a pobreza, mas são elementos essenciais de uma
sociedade democrática. Embora o crescimento econômico impulsionado pelo mercado seja
provavelmente o principal motor da redução da pobreza na maioria dos países, os mercados
não podem fazê-lo sozinho. A política pública desempenha um papel central no fornecimento
das fundações dentro das quais os mercados operam no fornecimento de bens públicos, e na
correção das falhas do mercado. Assim, os PTRC funcionam como um instrumento
habilitador, que cria políticas de viabilidade para redistribuição direcionada que atinge
efetivamente os pobres.
Desde sua criação, o Programa Bolsa Família (PBF) se tornou objeto de inúmeras
críticas, por ser equiparado, equivocadamente a simples programa assistencialista e não como
uma política capaz de mitigar a pobreza e a desigualdade social. Diante disso, é preciso
esclarecer o que é e como o programa funciona a fim de desfazer mitos que giram em torno
14
As metas do milênio foram estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2000, com o apoio
de 191 países nações. Para maior entendimento segue o link
https://www.unicef.org/brazil/pt/overview_9540.htm
48
dele. Outra questão a ser colocada é a transição pela qual passa o programa, deixando de ser
uma política de governo para ser uma política de Estado.
Na década de 1970, ainda com o milagre econômico, se evidenciou que mesmo casos
bem-sucedidos de crescimento econômico, as taxas adequadas de expansão do produto não
necessariamente se difundiam através da sociedade.
Segundo Pereira (2000, p.144) apud Azevedo (2007, p.69) no contexto de abertura
militar no início da década de 1980 “a política social passou a ser estrategicamente
intensificada, não como respostas conscienciosa às necessidades sócias, mas como uma via
de reaproximação do Estado com a sociedade”. O período de redemocratização rompeu com
a política de seguridade social do governo militar, abrindo espaço para uma nova formulação
de política assistencial que culminaria na constituição de 1988, com uma concepção e
proteção social mais universalista e democrática e um sistema de seguridade social em defesa
do direito de cidadania.
49
Esse novo sistema de seguridade seria, agora dirigido para uma parcela da população
antes desassistida como família, gestantes, crianças, adolescentes, idosos, pessoas portadoras
de deficiência e desempregados afetados em suas necessidades físicas. Isto é, se pode dizer
que o novo contexto social levou a uma formulação de política pública que atendesse um
segmento da sociedade carente de assistência. A política pública é formulada de acordo com a
configuração política, econômica e social de uma sociedade, ou seja, surge da observação e
estudo de um cenário social, visando o atendimento de necessidades ora elementares ora
necessárias para o desenvolvimento.
O Brasil foi um dos países que aplicou mais rapidamente a política neoliberal,
permitindo que a reestruturação produtiva do neoliberalismo atingisse particularmente os
sistemas de proteção social brasileiro ao longo dos anos 1990. Nesse período o país passou
por um processo de contradição social no que se refere à relação entre a constituição de 1988
e o projeto neoliberal seguido pelo governo brasileiro. Esse projeto compreende a
desestatização, desregulamentação econômica e social, a privatização do patrimônio e
serviços públicos e a flexibilização do trabalho e da produção. Logo, para Neto (2003, p. 88)
50
apud Azevedo (2007, p.71) “a política social aparece inteiramente subordinada à orientação
macroeconômica que, por sua vez, é estabelecida pelos ditames do grande capital”.
A nova ordem mundial abriu as portas para novas tendências no mercado de trabalho,
contribuindo para o aumento do número de desempregados, aumento da exclusão e
desigualdade social, e da violência, em decorrência da insuficiência de renda da maior parte
da população. A política neoliberal contribui apenas para a reprodução da dinâmica de
desigualdade na sociedade intergeracional, até que se crie uma política capaz de romper com
esse processo.
Ao longo dos anos 90, no Brasil, se teve ensaios de projetos aprovados no senado
federal sobre programas de redistribuição de renda mínima, como por exemplo, um sistema de
imposto de renda progressivo, semelhante ao executado pelo governo norte-americano15, em
que as pessoas que ganham abaixo de um determinando montante recebem pagamento
suplementar do governo em vez de pagar impostos ao mesmo. No entanto, devido, entre
outras coisas, ao sistema meritocrático, se criou o mito de que ao redistribuir renda a pessoas
marginalizadas economicamente, contribuir-se-ia para o desestimulo ao trabalho. Além disso,
argumentos como a insuficiência de recursos fiscais, a dificuldade de fiscalização dos
rendimentos individuais e o problema da corrupção no Brasil, nortearam o definhamento de
tais projetos.
O caso americano analisado por Rothstein (2010), mostra a diferença entre dois
programas de redistribuição de renda que foram importantes e que segundo Saez (2002) apud
Rothstein (2010) seriam pioneiros para os demais programas implementados na América
Latina: o EITC e o NIT. O EITC16 (Earned Income Tax Credit) é um credito reembolsável
para trabalhadores que ganham rendimentos baixos ou moderados e que estimula a
participação da força de trabalho, principalmente entre solteiros.
15
NIT: Negative income tax: um sistema de subsídio de renda através do qual as pessoas com menos de uma
determinada renda anual recebem dinheiro do governo em vez de pagar impostos a ela. Nele, pessoas que
ganham acima de um determinado nível de renda pré-determinado pagariam uma proporção de seus
rendimentos. Para maior conhecimento, acessar o site <
https://www.investopedia.com/terms/n/negativeincometax.asp>
51
Este crédito destina-se a complementar o rendimento que ganhou por meio da redução
de seus impostos. A diferença entre este programa e o NIT (Negative Income Tax) é que o
EITC é destinado a trabalhadores ou famílias com rendimento do trabalho, enquanto que o
NIT é designado a não trabalhadores. Em sua análise de eficiência O EITC induz as mulheres
a fornecer mais mão-de-obra e, portanto, produz um aumento de renda além da transferência
de imposto direto. Em sua simulação, Rothstein estima que os rendimentos das mães de baixa
habilidade aumentariam em US$ 1,39 por cada dólar gasto no programa, enquanto que US$1
investido no NIT produz um aumento de US$0,97 nas rendas após os impostos de mulheres
com filhos e um aumento de US$ 0,42 para mulheres sem filhos. Ou seja, o efeito
multiplicador do EITC é maior que o do NIT.
52
Tais programas tiveram como referência programas sociais e de transferência de renda
de grandes resultados na América Latina, a exemplo do Progresa-Oportunidades no México -
que começou com cerca de 300 mil famílias beneficiárias em 1997, abrangendo 5 milhões de
famílias em 2001 - e do Chile Solidário, que trazem similaridades entre si no sentido de
apresentarem soluções quanto ao problema da desigualdade, mas que apresentam
particularidades quanto as suas execuções. Na Colômbia, por exemplo, O objetivo inicial do
Programa Famílias en Acción (PFA) foi de 400 mil famílias, mas se expandiu para 1,5
milhões de famílias beneficiárias até 2007.
17
http://www2.planalto.gov.br/noticias/2015/05/bolsa-familia-repassa-R-2-3-bilhoes-para-quase-50-milhoes-de-
brasileiros
53
circunstanciais. Algumas regiões, como o nordeste recebe uma atenção maior devido a
elevada vulnerabilidade social e econômica provocada, entre outras coisas pelo fenômeno da
seca.
Para Rogê (2013) diversos trabalhos têm mostrado como os PTRC, especialmente o
PBF têm contribuído para a redução da desigualdade de renda e da pobreza, além de
promoção e inclusão social com garantias básicas de vida e a elevação do capital humano,
além de também agir sobre o estímulo econômico da região. Cotta (2009, p.98) apud Rogê
(2013) divide os objetivos dos PTRC em: imediatos, mediatos e finais:
Assim, Medeiros (2003) apud Rogê (2013,p 5) define os eixos de políticas públicas
para o combate da pobreza no curto prazo “como políticas compensatórias focalizadas nos
54
grupos excluídos do pacto dominante que ainda são eficientes, segundo a literatura, em
reduzir o grau de concentração de renda, para o caso brasileiro”. Segundo o autor, há
ineficiência no combate à pobreza quando adotada apenas a estratégia de transferência
monetária. Essa transferência precisa ser acompanhada por outras ações do governo que se
traduzem nos mecanismos de longo prazo.
Critério de elegibilidade
Quantidade maxima por tipo de benefício Valor do benefício (R$)
Ano (R$) Maximo repassado (R$)
Porbre Extrem. Pobres Básico Variável BV BVJ Básico Variável BV BVJ
2004 100 50 1 3 - - 50 15 - - 95
2005 100 50 1 3 - - 50 15 - - 95
2006 120 60 1 - 3 2 50 - 15 18 131
2007 120 60 1 - 3 2 58 - 18 30 172
2008 137 69 1 - 3 2 62 - 20 30 182
2009 140 70 1 - 3 2 68 - 22 33 200
2010 140 70 1 - 3 2 68 - 22 33 200
2011 140 70 1 - 3 2 68 - 22 33 200
2012 140 70 1 - 5 2 70 - 32 38 306
2013 154 77 1 - 6 3 70 - 32 38 376
2014 154 77 1 - 6 3 77 - 35 42 413
Fonte: Elaboração do autor com base nas informações do MDS
18
Dados atualizados para 2017
19
PIKETTY, Thomas. A Economia da desigualdade/Thomas Piketty; tradução André Telles – 1. Ed.- Rio de
Janeiro: Intrínseca, 2015.
56
redistribuição fiscal20, em que se tem ganho econômico e social como forma de minorar o
problema.
20
Idem
57
Os programas de transferência de renda como o PBF são uma redistribuição eficiente
de renda entre os que possuem pouca e/ou nenhuma qualificação, já que permite redistribuir
renda sem aumentar o preço do trabalho e, também, o programa mostra a sua eficiência, uma
vez que os recursos utilizados para atender seus beneficiários giram em torno de 0,4% do PIB.
Para ter uma redistribuição de renda eficiente é necessário não encarecer o preço do trabalho,
pois ocorrendo isso, os postos de trabalho sofrerão significativa diminuição para os menos
qualificados, uma vez que a produtividade não compensaria o preço do trabalho.
A análise ainda indica que famílias que possuem o benefício recebem quase R$30,00
per capita a mais em comparação as que não recebem. Por outro lado, possuem renda do
58
trabalho inferior, pois recebem quase R$40,00 per capita a menos, o que segundo o autor pode
estar relacionado a baixa escolaridade do chefe de família.
O autor ainda verificou o efeito preguiça para os quantis 0,35 e 0,75, isto é, para
aqueles que trabalham 25 e 45 horas semanais, respectivamente. No primeiro caso, os
beneficiados pelo programa trabalham em média 5h a menos em comparação aos não
tratados. No segundo caso, essa diferença é de 3h a menos para o urbano e 1h a menos para o
Brasil. Entretanto, esse resultado pode ter se dado devido a algum viés de seleção ou equivoco
na interpretação dos resultados, pois contradiz o resultado exposto acima. Quando o autor faz
a análise do impacto do programa sobre a renda dos chefes de família, constata-se que os
beneficiários pelo PBF chegam a recebem R$50,00 a menos em comparação àqueles que têm
uma renda do trabalho de R$70,00 per capita, o que evidencia a efetividade do programa.
21
Ferro e Nicollea (2007) apud SILVA et al (2016) aponta esse efeito negativo em que é modificado o tempo
dedicado ao trabalho: mães e pais residentes no rural e urbano reduzem as horas trabalhadas quando são
beneficiados por uma renda extra, e assim podem “pagar mais tempo de lazer”.
59
crescimento e reduzir a pobreza e um dos instrumentos que os governos podem usar para esse
fim é uma redistribuição direta de recursos para famílias pobres, já que afetam não apenas o
nível geral de consumo, mas também a sua composição. Há uma grande quantidade de
evidências de que as famílias beneficiarias do PBF gastam mais em alimentos e, dentro da
cesta de alimentos, em fontes de nutrientes de maior qualidade do que domicílios que não
recebem a transferência, mas que sejam comparáveis em níveis gerais de renda ou consumo.
2.4 Pobreza
A América Latina é considerada uma das regiões mais desiguais do mundo, em que os
altos níveis de desigualdade têm elevado o grau de pobreza na região. As políticas ortodoxas
podem ter muita relevância no aumento da distância entre ricos e pobres, pois agem como
60
barreiras que impedem o crescimento da renda per capita entre os países. Isso é apoiado pela
ideia de que o poder de decisão político e econômico está concentrado em dado grupo social
que tem forte influência sobre as ações institucionais em favor de interesses individuais, em
detrimento dos interesses e demandas coletivas, repercutindo de maneira desfavorável o justo
e sustentável desenvolvimento econômico.
A pobreza é um fenômeno complexo que genericamente pode ser definido como uma
situação em que as necessidades não são atendidas de forma adequada. Esse conceito pode ter
concepções uni ou multidimensionais interligadas ao mesmo tempo em que divergem quanto
a essência do problema. A concepção unidimensional da pobreza tem sua discussão em torno
de pobreza absoluta versus pobreza relativa. Rocha (2003) atribui valores monetários para que
o indivíduo alcance seu nível de satisfação no que concernem as condições de subsistência.
Assim, para a autora “ser pobre significa não dispor dos meios para operar adequadamente
no grupo social em que se vive” (ROCHA, 2003, p.10).
Cada país tem sua forma de mensurar a pobreza, pois é preciso observar seus
contextos socioeconômicos e culturais, usando critérios metodológicos específicos e
considerando cada realidade social – por exemplo, na União Europeia (EU) as linhas de
pobreza adotadas correspondem a 60% do rendimento mediano em cada país membro,
diferenciando os valores entre eles. A linha de pobreza de Portugal equivale a cerca da metade
do valor da França, o que significa que um indivíduo não pobre em Portugal pode ser
classificado com pobre na França (ROCHA, 2003) – em outras palavras, trata-se de identificar
os traços essenciais da pobreza em determinada sociedade, o que envolve diversos sintomas
como subnutrição, baixa escolaridade, falta de acesso a serviços básicos, desemprego,
marginalidade, insuficiência de renda, etc.
Rocha (2003) coloca que a preocupação com a desigualdade se iniciou nos países
desenvolvidos após as ações do pós-guerra, sendo o motivo de preocupação entre os cientistas
sociais como forma de contrapor o discurso político triunfalista, que não considerava como
importante as questões de privação e sobrevivência diante do cenário que se deixara após a
segunda guerra mundial, levando à ênfase do caráter relativo da pobreza.
61
esses instrumentos visando amenizar seus efeitos nocivos e romper com o ciclo reprodutivo
da pobreza.
É importante entender esse tipo de pobreza permite um olhar ontológico e não apenas
aparente sobre o assunto. As liberdades substantivas são definidas como direitos básicos
elementares de cada pessoa e cabe ao Estado garantir esse funcionamento mínimo necessário.
As capacidades de uma pessoa são intrinsicamente importantes, ao contrario do elemento
renda, que possui caráter instrumental.
A pobreza relativa, por sua vez, incorpora a ideia de que as necessidades a serem
satisfeitas devem enquadrar os indivíduos em relação ao padrão de vida da sociedade na qual
estão inseridos, ou seja, fígura como medida de identificação da sua posição social em relação
ao padrão médio de consumo da população como um todo, com uma abordagem única e
exclusivamente voltada para a renda, compreendendo a chamada linha de pobreza. Porém
para Lavinas (2002) o conceito de pobreza relativa está voltado unicamente para o Mercado
sem levar em consideração outras variáveis.
Esse tipo de pobreza ocorre quando o indivíduo possui o mínimo necessário para
subsistência, mas não possui o suficiente para viver de acordo com o ambiente no qual está
inserido socialmente, referente a diferença entre o status social. Assim, o conceito de pobreza
relativa assume caráter comparativo, tomado a partir de uma dada referência social e, ao
mesmo tempo permitindo aglutinar implicitamente a problemática da redução da desigualdade
de meios entre indivíduos e eliminação da exclusão social como objetivo social.
62
É preciso tratar o problema da pobreza como violação dos direitos humanos e
trabalhar em uma visão conjunta de combate a pobreza, não apenas agindo sobre a
insuficiência de renda, mas também sobre indicadores relativos a sobrevivência física. Porém,
dentre os diversos critérios de mensuração, este trabalho se concentrará na renda, que age de
forma indireta na operacionalização das necessidades, estabelecendo um valor monetário que
associe ao custo de assistência das necessidades de uma pessoa em uma determinada realidade
social.
Na pobreza absoluta se tem o grupo formado por dois subgrupos: indigentes e não
indigentes. O primeiro subgrupo se refere a pessoas cuja renda é inferior à necessária para
atender as necessidades elementares de sobrevivência. No segundo subgrupo predomina a
pobreza relativa em que ocorre a separação entre pobres e não pobres, onde pobres são
aqueles cuja renda se situa abaixo do valor estabelecido como linha de pobreza, incapazes de
atender ao conjunto de necessidades consideradas mínimas em seu ambiente social.
23
Valor atualizado para o ano de 2017, linha oficial do Programa Bolsa-Família (PBF) fixada com base na
referência das Nações Unidas para os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – e também válida para os
novos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.
64
A implantação de políticas públicas, visando a realocação de jovens e crianças das más
influências sociais para cursos profissionalizantes ajudando-os na capacitação profissional,
bem como mães de família que passam a ser atendidas por programas sociais de transferência
de renda, recebendo, também qualificação profissional para se tornarem donas de seu próprio
negócio, agem sobre a ascensão da linha de pobreza. Rocha (2003, p.36) diz que “a
mensuração da pobreza como insuficiência de renda e da desigualdade de renda, proxies do
nível e da distribuição do bem-estar, está mais associada a renda familiar...”.
Por outro lado, a redução da pobreza pela ótica de privação de capacidades, se refere a
defesa de uma política de desenvolvimento econômico, que repercute sobre a qualidade de
vida das pessoas e sobre o sistema social em geral, como forma de redução da miséria. Vale
dizer que a região da Amazônia Legal é palco de um forte cenário de violência entre jovens
nas periferias, consequência das privações sociais lhes impostas.
65
É preciso considerar uma pessoa tanto extrema quanto relativamente pobre. Por
exemplo, o indivíduo pode possuir um bom nível de renda, mas ser privado em alguma outra
área social. O dinheiro não pode comprar tudo. Se este possui certa quantidade de renda, mas
não possui instrução para utilizá-la, possui uma privação de instrução. Uma pessoa pode ter
um bom nível de renda, mas ser acometido de uma grave enfermidade e não poder arcar com
o tratamento adequado. Outras pessoas podem viver em localidades que lhe sejam privadas o
direito de participação e liberdade política.
Se a pessoa possui um bom nível de renda, mas vive em uma comunidade que não
recebe a devida atenção do poder público quanto ao sistema de saneamento básico, tratamento
de água e esgoto, etc. essa pessoa possui uma privação de elementos substanciais a
sobrevivência que podem levar a morbidez e até mesmo a morte prematura. Podem existir
pessoas com um adequado nível de renda, mas que são pobres quanto a segurança social,
sendo vitimas da reprodução do sistema de desigualdade.
A liberdade de frequentar uma escola é tolhida dessas crianças não apenas pela falta de
programas educacionais na região, mas também pela inexistência de escolha para elas – e
muitas vezes para os pais – sobre o que desejam fazer. No entanto, abolir o trabalho escravo
sem melhorar a situação econômica das famílias envolvidas é lança-los a própria sorte para
enveredaram o perigoso caminho da marginalidade.
O trabalho escravo não pode ser restringido a situações de liberdade, isto é, situações
que impede o ir e vir de uma pessoa. Vale dizer que existem situações em fazendas na região
da Amazônia Legal em que pessoas são submetidas a condições degradantes e insalubres que
vão desde a uma alimentação inadequada, as vezes dividindo comida e água com animais até
66
a submissão à longas jornadas de trabalho. Políticas públicas de resgaste dessas pessoas das
situações de escravidão são muito importantes, pois criam mecanismos de prevenção e
redução da impunidade atacando a desigualdade para dar opção de vida aos indivíduos
envolvidos.
24
O Programa Brasil sem Miséria é um programa criado pelo Governo Federal à partir de 2011 com o objetivo
de superar a extrema pobreza no país, não resumindo a pobreza a uma questão de renda, mas levando em
consideração as liberdades substantivas de uma pessoa.
67
abrangem o total da população pobre, mas somente aquelas pessoas cadastradas no Cadastro
Único (CadÚnico), tendo como passo importante a localização das pessoas que ainda vivem
em situação de extrema pobreza na região. Para isso é necessário a parceria entre as três
unidades da federação – federal, estadual e municipal – para identificação das áreas de difícil
acesso como comunidades ribeirinhas, periferias e o meio rural.
Nordeste
Metropolitano 0,3002 0,2737 0,2522 0,2334
Urbano 0,2744 0,2317 0,2237 0,2022
Rural 0,3012 0,2691 0,2589 0,2216
Sudeste
Metropolitano 0,2134 0,1951 0,1738 0,1729
Urbano 0,1007 0,0830 0,0858 0,0769
Rural 0,0820 0,0791 0,0838 0,0646
Sul
Metropolitano 0,0784 0,0663 0,0690 0,0524
Urbano 0,0535 0,0393 0,0437 0,0363
Rural 0,0691 0,0491 0,0386 0,0380
Centro-Oeste
Metropolitano 0,2353 0,2168 0,1954 0,1824
Urbano 0,1545 0,1304 0,1319 0,1081
Rural 0,0941 0,0744 0,0846 0,0526
Fonte: Rocha/ PNAD 2011-2014 - Elaboração do autor
68
Pela Tabela 3, se pode dizer que as desigualdades regionais estão acentuadas nos
aspectos físicos, produtivos e socioculturais, fazendo os indivíduos pobres apresentarem
características diversas, de acordo com região e/ou local de residência urbano ou rural em que
vivem. Considerando as regiões metropolitanas, as ações antipobreza são necessariamente
voltadas para a inserção no mercado de trabalho, sendo vinculadas a medidas que acarretam
aumento no nível de escolaridade, de forma geral, e da qualificação para o mercado de
trabalho, de maneira especifica.
Segundo o Ipea (2010), o hiato médio de extrema pobreza é um indicador que soma as
distâncias das rendas dos pobres à linha de pobreza, medidas em proporção do valor da linha,
e divide o resultado pelo total da população. Pode também ser interpretado como o quanto
cada brasileiro - inclusive os extremamente pobres - deveria contribuir para erradicar a
pobreza, desprezando a existência de custos administrativos e dificuldades para a distribuição
dos recursos.
69
Analisando a Tabela 4, percebe-se a queda no hiato de pobreza, o qual é fruto dos
avanços sociais registrados no período de levantamento da PNAD que aparecem em uma
melhor distribuição de renda no país, bem como o crescimento do rendimento médio dos
domicílios como fator importante para esse resultado. Assim de acordo com os dados da
PNAD essa redução foi acompanhada por melhoria em indicadores de educação e acesso a
bens e serviços.
É importante destacar que a queda do hiato de pobreza foi mais relevante na área rural
do que na área urbana, confirmando a análise anterior. Dentre as regiões do país, se diz que é
preciso 39,9% de incremento de renda para alcançar a linha de pobreza na região Norte e
embora ocupe o terceiro lugar entre as cinco regiões, ainda é um resultado significativo, o que
leva a inferir que a desigualdade de renda ainda é elevada na região.
A desigualdade sempre existirá no mundo e talvez ela tenha seus benefícios para o
equilíbrio social, no entanto, para que seja mantida em nível baixo evitando o aumento da
desigualdade de renda as ferramentas a serem utilizadas são a justiça social e redistribuição de
renda, em que as oportunidades serão distribuídas entre aqueles que têm mais privações de
liberdades do que os que não têm e possuem uma estrutura familiar e financeira estabilizada.
Os PTRC aumentam a probabilidade das famílias levarem seus filhos para exames
preventivos de saúde, mas isso não garante sempre a um melhor estado nutricional infantil;
também leva a um aumento das taxas de matriculas nas escolas entre os beneficiários dos
programas, mas há pouca evidência de melhorias nos resultados de aprendizagem. A pobreza
deve ser combatida sob seus dois aspectos, uni e multidimensional. Não basta impor
condições aos programas de transferência de renda se as privações às oportunidades agem
como externalidades a tais programas. Se o Estado não supre a carência e não facilita o acesso
à saúde e educação básica ou não trabalha na elaboração de políticas que melhorem as
condições de habitação de um indivíduo, provavelmente os PTRC não terão o impacto
desejado sobre a pobreza e a desigualdade.
70
3 Metodologia
De fato, toda mudança numa fonte de renda pode afetar a desigualdade total por quatro
caminhos. O primeiro resulta da simples alteração no grau de associação da fonte estudada
com as demais, o que está intimamente relacionado a transformações no grau de focalização.
Um segundo caminho é a expansão da cobertura. Quando mais pessoas passam a ter acesso a
uma determinada fonte de renda tudo mais constante, menor tende a ser a desigualdade
relativa a essa fonte e, assim, menor deve ser a desigualdade de renda total. Logo, elevações
do grau de cobertura de uma fonte tendem a reduzir a desigualdade de renda total.
Mesmo quando a cobertura não se modifica, a desigualdade pode ser afetada por
mudanças na distribuição entre os receptores. Essa, por sua vez, altera-se ou quando muda o
valor médio do benefício/rendimento recebido, ou quando muda a desigualdade com que esse
benefício/rendimento é repartido.
71
(i)denota a posição, na distribuição de y, ocupada pela pessoa que se encontra na i-ésima
posição na distribuição de x.
Sendo x uma dada fonte de renda, y as demais fontes, e z a renda total, então 𝑧 = 𝑥 +
𝑦 e o grau de desigualdade em z, θ, é determinado pela distribuição conjunta de x e y e,
portanto, pela trinca (𝐹𝑥 , 𝐴𝑥→>𝑦 , 𝐹𝑦 ).
Dessa relação, segue que a contribuição de uma fonte de renda para a desigualdade
total depende tanto de sua própria distribuição, 𝐹𝑥 como de sua associação com as demais
fontes de renda, 𝐴𝑥−>𝑦 . Assim, uma fonte de renda contribui para mudanças no nível geral de
desigualdade ou quando muda sua distribuição, ou quando altera sua associação com as
demais fontes.
Vale ressaltar que, enquanto mudanças na distribuição de uma dada fonte de renda
dependem somente de mudanças na própria fonte, a associação pode se alterar sem que a
fonte de renda estudada se modifique. Portanto, enquanto mudanças na distribuição marginal
de uma fonte de renda podem ser associadas, inequivocamente, a mudanças na própria fonte,
modificações na associação requerem interpretação mais cuidadosa, uma vez que podem ter
derivado de mudanças nas demais fontes.
A distribuição de uma dada fonte, 𝐹𝑥 , pode ser obtida, por sua vez, a partir de duas de
suas características básicas: uma que separa os que nada recebem daqueles que recebem algo,
e outra que especifica a distribuição entre aqueles que recebem. Se denotarmos por 𝑞𝑥 a
proporção das pessoas que recebem algo da fonte x, e por 𝐹𝑥+ a distribuição da fonte x apenas
entre os que recebem, então 𝐹𝑥 será determinada pelo par (𝑞𝑥 , 𝐹𝑥+ ). Mais especificamente,
temos que, para todo 𝑡 ≥ 0, 𝐹𝑥 (𝑡) = (1 − 𝑞𝑥 ) + 𝑞𝑥 . 𝐹𝑥+ (𝑡). Dessa forma, a distribuição de
uma dada fonte é alterada se, e somente se, mudar a proporção das pessoas que recebem algo
dessa fonte, ou se mudar a distribuição apenas entre os que a recebem. No que segue,
utilizaremos as seguintes relações entre parâmetros da distribuição entre todos 𝐹𝑥 , e da
72
distribuição entre os que recebem 𝐹𝑥+ : (a)𝜇𝑥 = 𝑞𝑥 𝜇𝑥+ , e (b)𝐺𝑥 = (1 − 𝑞𝑥 ) + 𝑞𝑥 𝐺𝑥+ , em que
G denota o coeficiente de Gini.
Por sua vez, a distribuição da renda proveniente da fonte x entre os que recebem, 𝐹𝑥+ ,
pode ser obtida, assim como qualquer outra distribuição, de sua média, 𝜇𝑥+ , e curva de
Lorenz, 𝐿𝑥+ . Portanto, mudanças em 𝐹𝑥+ ocorrem se, e somente se, o par (𝜇𝑥+ , 𝐿𝑥+ ) for
alterado.
Em suma,
𝐹𝑥 = (𝜇𝑥+ , 𝐿𝑥+ , 𝑞𝑥 )
73
testes de diferenças de médias que considerem o desenho da PNAD como amostra aleatória
simples tem estimativas de erros padrões com viés para baixo.
𝑌𝑖(1) 𝑌𝑖 (0)
𝜋𝑖 = 𝐸 [ = 1] − 𝐸 [ = 1] (2)
𝐷𝑖 𝐷𝑖
𝑌𝑖 (1) 𝑌𝑖 (0)
𝜋𝑖 = 𝐸 [ = 1] − 𝐸 [ = 0] (3)
𝐷𝑖 𝐷𝑖
1]. Nesse caso, o viés, portanto, se origina da utilização de um grupo que representaria
aqueles beneficiários no período anterior a sua incorporação ao programa. Heckman et al
(1998) dividem o viés em três componentes. O primeiro resulta da falta de suporte comum
entre beneficiários e não beneficiários, ou seja, existiriam divergências nas características
observáveis, enquanto o segundo componente se deve às diferenças na distribuição dessas
características entre o grupo de tratamento e de controle. Por último, o terceiro viés resultaria
das divergências de resultados que seriam encontradas, ainda que as características
observáveis sejam controladas. Nesse caso, o viés se deve à presença de variáveis não
observadas que influenciam os impactos potenciais e a participação no programa.
𝑌𝑖 (0) 𝑌𝑖 (1)
𝐸 [𝑌𝑖 (0) − 𝑌𝑖 (1)] = 𝐸 [ = 0, 𝑋] − 𝐸 [ = 1, 𝑋] (4)
𝐷𝑖 𝐷𝑖
75
Ou seja, indivíduos ou famílias com características semelhantes têm igual
probabilidade de serem alocados no grupo de tratamento ou de controle. A partir dessas
considerações, se assume que os resultados potenciais independem da participação no
programa, uma vez conhecidas as características observáveis, conforme expressa a igualdade
seguinte:
1
𝑃(𝑋) = 𝑃𝑟𝑜𝑏𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 (𝐷 = 𝑋) (6)
76
O primeiro pressuposto, mencionado anteriormente, se refere à independência
condicional que estabelece que o grupo de tratamento e os impactos potenciais do programa
são independentes das variáveis de pré-tratamento, ou seja, os resultados potenciais
independem de participações no programa dadas as características das variáveis observadas
(X). Na linguagem algébrica:
𝑌( )0
𝑌(𝑖 ) 1 [ 𝑖 =0,𝑝(𝑥𝑖 )]
𝐷𝑖
𝐴𝑇𝑇 = 𝐸{𝐸 [ = 1, 𝑝(𝑥𝑖 )] − 𝐸 = 1} (11)
𝐷𝑖 𝐷𝑖
77
trabalho utilizou-se o método de pareamento pelo vizinho mais próximo, em que a escolha
dos indivíduos do grupo de controle se baseia na proximidade de seus escores de propensão
em relação aos escores das pessoas do grupo de tratamento.
Outro algoritmo é o pareamento pelo vizinho mais próximo com caliper, que exige que
o pareamento seja realizado em um nível máximo de tolerância em relação à distância do
escore de propensão. Por outro lado, o procedimento denominado Mahalanobis se baseia na
distância euclidiana padronizada e agrega também a informação acerca da covariância
existente entre as variáveis. Além disso, a diferença entre as médias das variáveis de
resultados foi estimada via bootstrapping, que corresponde a uma técnica de reamostragem.
Esse procedimento realiza a replicação de inúmeras amostras selecionadas, com reposição da
amostra original e mesmo tamanho n dessa amostra.
78
estudada) e de seus preditores. No período após o início da intervenção, os pesos são usados
para formar a trajetória da variável resultado da região sintética a partir dos valores
observados dessa variável nas regiões controle. Tal estimação corresponde à estimação do que
teria ocorrido na região de tratamento caso a intervenção não houvesse acontecido.
para os períodos 𝑇0 + 1 a T.
Portanto, para estimar o impacto 𝛼𝑖𝑡 , antes tem que estimar 𝑌𝑖𝑡𝑁 , pois este não é
observado 𝑇0 deve ser especificado como o primeiro ano em que a intervenção poderia afetar
a variável de interesse para que efeitos de antecipação, caso existentes, sejam considerados.
Logo, antes de 𝑇0 , supõe-se 𝑌𝑖𝑡𝐼 = 𝑌𝑖𝑡𝑁 .
79
afetadas pela intervenção e podem ou não variar no tempo; ∅𝑡 um vetor (1 × F) de fatores
comuns não-observáveis; 𝜇𝑖 um vetor (F × 1) de fatores regionais específicos e
desconhecidos e eit choques transitórios não-observáveis com média zero (assumimos que são
independentes através das unidades e no tempo).
onde∑𝐽+1
𝑗=2 𝑤𝑗 = 1 𝑒 𝑤𝑗 ≥ 0. Tais restrições evitam a extrapolação da variável resultado do
modelo. A escolha das regiões candidatas a controle pode ser feita segundo a semelhança com
a unidade tratada, de forma a diminuir o viés.
𝐽+1
𝛼̂1𝑡 = 𝑌1𝑡 − ∑𝑗=2 𝑤𝑗 𝑌𝑗𝑡 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑡 = 𝑇0 + 1, … , 𝑇, (16)
o qual, como provam Abadie, Diamond & Hainmueller (2012), será não-viesado.
𝑇0
80
Realiza-se M dessas combinações lineares definidas pelos vetores K1,...,KM. Seja
𝐾 ′ 𝐾
𝑋1 = (𝑍 ′1 , 𝑌̅𝑖 1 , … , 𝑌̅𝑖 𝑀 ) um vetor (𝑘 × 1)de características da região tratada no período pré-
intervenção, com 𝑘 = 𝑟 + 𝑀 (pois r é o número de covariáveis preditoras da variável
resultado que formam o vetor 𝑍1 𝑒 𝑀 é o número de combinações lineares dos valores da
variável resultado). Da mesma forma, 𝑋0 será uma matriz (𝑘 × 𝐽) das mesmas variáveis para
as regiões não afetadas pelo tratamento:
𝑍′2 ⋯ 𝑍′𝐽+1
𝑋0 = [ ⋮ ⋱ ⋮ ] (18)
𝐾 𝐾
𝑌̅𝑖 𝑀 ⋯ 𝑌̅𝐽+1
𝑀
𝐾 𝐾
Onde 𝑌̅𝑖 1 , … , 𝑌̅𝑖 𝑀 poderiam ser apenas os valores da variável de estudo em cada período
𝐾1 𝐾𝑀
antes da intervenção, ou seja 𝑌̅𝑖 = 𝑌𝑖1 , … , 𝑌̅𝑖 = 𝑌𝑖𝑇0 .
O vetor W* (de pesos para as regiões de controle) escolhido é aquele que minimiza a
distância)
A escolha de V pode ser sujeita ao conhecimento subjetivo sobre o poder preditivo das
variáveis ou ser baseada nos dados. Uma possibilidade, como sugere Abadie, Diamond &
Hainmueller (2012), é determinar V de modo que a região sintética resultante aproxime, ao
máximo, a trajetória da variável de interesse para a região afetada no período anterior à
intervenção.
81
4 Resultados Analisados
Nesta seção são apresentados os resultados do modelo rodado pelo score de propensão
para efeitos marginais, diferenças de média, índice de gini e proporção de pobres. Também é
feita a análise do controle sintético, modelo pooled, efeitos fixo e aleatório. Os dados usados
neste trabalho foram construídos a partir da PNAD, realizada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), referentes ao período de 2001 a 201425. A partir deste
levantamento dos dados foram rodados modelos logits para o período citado.
Para este trabalho, utilizaram-se de uma abordagem microeconomética, utilizada para
estimar a proporção de pobres e rendimento. As linhas de pobreza requeridas foram as linhas
de pobreza calculadas a partir da POF/IBGE e ajustadas a cada ano pela variação dos INPC
regionais em nível de grupos de produtos no período de 2001 a 2014, se balizando em Sonia
Rocha, na metodologia descrita em "Do Consumo Observado à Linha de Pobreza", in
Pesquisa e Planejamento Econômico, 27(2), agosto 1997, p. 313-352.
A partir disso, outra construção da base foi a agregação em domicílios. Este conceito
foi utilizado porque o conceito de família só passou a aparecer na PNAD de 2004. Para
tornar-se coerente com os demais períodos (2001 à 2003) optou-se por esse nível de
agregação, no qual foi realizado o modelo logit para a obtenção do Propensity Score.
Na sequência a base foi agregada por UF’s para rodar o controle sintético (CS), nesse
caso a proporção de pobres e o índice de Gini (que foram utilizadas como variáveis
dependentes do modelo CS) procuraram refletir a situação dos tratados e a situação dos
controles.
A Tabela 5 abaixo apresenta o resultado dos efeitos marginais rodado pelo propensity
score para analisar a efetividade do programa dentro do período em questão. Para essa análise
é preciso considerar dois períodos, o primeiro é o período de 2001 à 2003 que é marcado pela
implementação de diversos programas de transferência de renda condicionados (PTRC) no
25
Com exceção do ano de 2010, pois como se trata de ano de censo, não é realizado o levantamento da PNAD.
82
país a nível federal de forma descentralizada, como o Bolsa-Escola e o Vale Gás, entre outros.
O segundo compreende 2004 até 2014, período de implementação e consolidação do PBF,
não somente como uma política governamental, mas como uma política de Estado. Assim até
o ano de 2003 o padrão de analise será a probabilidade de participação dos potenciais
participantes em programas sociais de maneira geral e a partir de 2003, a atenção será voltada
para a participação no Programa Bolsa Família (PBF).
A partir desses resultados pode-se inferir uma analise uni e da pobreza (no caso deste
trabalho terá enfoque unidimensional) como critérios de participação em programas de
transferência de renda. Sob o ponto de vista da pobreza unidimensional, ao analisar o
coeficiente relacionado ao rendimento familiar, nota-se que quanto maior o nível de renda,
evidenciado pelo aumento da média dos anos de estudo, menor é a chance de uma família
receber o benefício. Semelhantemente, o aspecto multidimensional implica que a carência de
serviços básicos a sobrevivência aumentam as chances de participação nos PTRC.
Inicialmente o modelo logit é utilizado para estimar a probabilidade de participação nesses
programas para as famílias residentes das unidades da federação. Para análise das variáveis
atear-se-á àquelas que se revelaram significativas aos níveis de 1%, 5% e 10%.
26
No resultado da PNAD 2002 a variável famílias que não possuem serviço de tratamento de água (aguainad) foi
significativa a 5%.
83
Tabela 5 - Modelo logit para o cálculo da probabilidade do
indivíduo da região da Amazônia Legal
Efeito Marginal
Variáveis
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014
-0,049*** -0,081*** -0,146*** -0,155*** -0,137*** -0,237*** -0,104*** -0,144*** -0,117*** -0,058*** -0,127*** -0,102*** -0,068***
famtipo
(0,002) (0,003) -0,004 (0,004) (0,003) (0,004) (0,003) (0,003) (0,003) (0,002) (0,003) (0,002) (0,002)
-0,003*** -0,005*** -0,007*** -0,008*** -0,008*** -0,015*** -0,006*** -0,009*** -0,007*** -0,003*** -0,008*** -0,006*** -0,005***
anosest
(0,0001) (0,0001) (0,0002) (0,0002) (0,0002) (0,0002) (0,0001) (0,0002) (0,0001) (0,0001) (0,0002) (0,0001) (0,0001)
0,003*** 0,002** -0,0005 -0,002 -0,002 -0,004*** -0,001 -0,001 -0,001 -0,001 -0,003** 0,003*** 0,002**
aguainad
(0,001) (0,001) (0,001) (0,001) (0,001) (0,002) (0,001) (0,001) (0,001) (0,0007) (0,001) (0,001) (0,001)
-0,005*** -0,013*** -0,023*** -0,023*** -0,026*** -0,042*** -0,016*** -0,019*** -0,016*** -0,005*** -0,016*** 0,003 -0,0008
aguacond
(0,001) (0,001) (0,002) (0,002) (0,002) (0,003) (0,001) (0,003) (0,003) (0,001) (0,004) (0,004) (0,003)
0,008*** 0,013*** 0,013*** 0,024*** 0,024*** 0,039*** 0,016*** 0,028*** 0,017*** 0,009*** 0,029*** 0,015*** 0,008*
banheiropart
(0,002) (0,002) (0,003) (0,003) (0,003) (0,005) (0,002) (0,004) (0,003) (0,001) (0,005) (0,004) (0,004)
-0,002 0,002 0,002 0,011*** 0,006* 0,009 0,006*** 0,016*** 0,006** 0,006*** 0,030*** 0,028*** 0,005
banhlixo2
(0,002) (0,002) (0,003) (0,004) (0,004) (0,005) (0,002) (0,004) (0,003) (0,002) (0,006) (0,006) (0,005)
-0,013*** -0,018*** -0,019*** -0,025*** -0,024*** -0,035*** -0,024*** -0,030*** -0,007 -0,006** -0,026*** -0,010 -0,001
banhlixo4
(0,003) (0,004) (0,005) (0,005) (0,005) (0,007) (0,004) (0,006) (0,005) (0,003) (0,009) (0,008) (0,007)
-0,013*** -0,015*** -0,026*** -0,017*** -0,023*** -0,043*** -0,018*** -0,011 -0,012** 0,002 -0,005 0,029* -0,002
banhlixo5
(0,004) (0,003) (0,009) (0,007) (0,005) (0,007) (0,003) (0,007) (0,006) (0,004) (0,011) (0,018) (0,009)
0,018*** 0,015*** 0,019*** 0,006 0,021*** 0,027*** 0,013*** 0,007* 0,008*** 0,0007 -0,008 -0,025*** -0,0006
lixoina
(0,002) (0,002) (0,003) (0,004) (0,003) (0,005) (0,002) (0,004) (0,003) (0,002) (0,006) (0,005) (0,005)
0,017*** 0,035*** 0,054*** 0,060*** 0,061*** 0,099*** 0,046*** 0,060*** 0,047*** 0,014*** 0,062*** 0,048*** 0,036***
maqlav
(0,001) (0,001) (0,001) (0,001) (0,001) (0,002) (0,001) (0,001) (0,001) (0,0008) (0,001) (0,001) (0,001)
-0,001 0,006*** 0,001 -0,0001 0,003 0,011*** 0,006*** 0,006** 0,007*** 0,001 0,0002 0,006** 0,001
paredeina
(0,001) (0,001) (0,002) (0,002) (0,002) (0,003) (0,001) (0,003) (0,002) (0,001) (0,004) (0,003) (0,003)
-0,016*** -0,003 -0,001 -0,006** 0,0005 -0,014*** -0,006*** -0,005 -0,004 0,003*** -0,010*** -0,009*** -0,007***
cobertura
(0,002) (0,002) (0,003) (0,003) (0,002) (0,004) (0,002) (0,003) (0,002) (0,001) (0,003) (0,003) (0,002)
-0,005*** -0,004*** -0,002 0 -0,002 0,0004 0,0002 -0,001 0,0009 0,001** 0,005** 0,005*** 0,004***
racachef
(0,001) (0,001) (0,001) (0,002) (0,001) (0,002) (0,001) (0,001) (0,001) (0,0008) (0,001) (0,001) (0,001)
-0,001 -0,001 -0,0008 0,0014 0,0001 0,004*** -0,001 0,008*** 0,005*** 0,0008 0,010*** 0,008*** 0,008***
sexchef
(0,0009) (0,001) (0,001) (0,001) (0,001) (0,001) (0,0008) (0,001) (0,0009) (0,0005) (0,001) (0,001) (0,001)
Nº de observações 101.136 103.648 105.409 110.090 114.320 116.061 114.847 114.559 117.560 106.195 110.249 110.749 114.734
R2 0,1217 0,1288 0,1254 0,1215 0.1427 0.1652 0.1745 0.1432 0.1516 0.1187 0.1211 0.1011 0.0963
* Significativo a 10%; ** Significativo a 5%; *** Significativo a 1%
Elaboração do autor
84
Outra variável que merece destaque no período é a média de anos de estudo do chefe
da família (anosest). Verifica-se uma relação inversa entre as chances de participação do
programa e essa variável. Um ano a mais de estudo do chefe de família diminui as chances de
participação no programa em 0,003; 0,005 e 0,007 pontos percentuais, respectivamente,
dentro do período ao nível de significância de 1%. Considere-se, por exemplo, uma média de
15%. Com a diminuição em pontos percentuais citados, as chances de recebimento do
benefício em media reduziriam em 14,995 p.p. Isso é coerente, pois quanto maior o grau de
instrução do chefe da família, maiores são as oportunidades que lhe podem ser ofertadas.
O aumento na média de anos de estudo (anosest) também contribui para a redução das
chances de recebimento do benefício em todo o período. As variáveis domicílios que possuem
tratamento de água (aguacond) e domicílios que partilham o uso de somente um banheiro
(banheiropart) são relevantes no modelo em todo o período. Elas mostram que famílias que
são atendidas pelo serviço de tratamento de água têm suas chances de participação mitigadas
em 0,023; 0,026 e 0,042, respectivamente e famílias que partilham de banheiro coletivo
aumentam suas chances inclusão ao programa em 0,024; 0,024 e 0,039, respectivamente para
o subperíodo de 2004 à 2006, dentro de um nível de significância de 1%.
85
Para os anos seguintes, outras variáveis apresentam relevância no modelo, como, por
exemplo, famílias que se enquadram no parâmetro banheiro utilizado somente pelo domicílio
e o destino do lixo inadequado (banhlixo2) têm suas chances de inclusão ao programa
aumentadas. Assim também - embora menos relevante - domicílio cujo material da parede é
pouco adequado (paredeina) têm mais probabilidade de participação do PBF.
O PBF tem como critério-mor para recebimento do benefício o fator renda, no entanto
as questões sociais também são consideradas importantes para a efetivação do programa, tudo
porque é feita uma leitura histórico-social com o objetivo de reduzir as desigualdades de
renda e social. Assim, as questões de raça e sexo são importantes critérios de participação,
mesmo com menor relevância em seus resultados dentro do modelo. Núcleos familiares
compostos por responsáveis autodeclarados negros (raçachef) têm maiores chances de
participar do programa do que responsáveis declarados brancos.
A variável sexo do chefe da família (sexchef) indica que famílias que são chefiadas por
mulheres têm sua probabilidade de participação no programa aumentadas, haja vista que o
beneficio é direcionado a família através da mãe, que se torna responsável pelo recebimento e
execução do valor no que considera essencial para o núcleo familiar. Com isso, diz-se que os
resultados do modelo tendem a confirmar a efetividade do programa no período em questão.
Foi rodado através do propensity score o modelo de diferenças de média de renda total
e renda total per capita com e sem aposentadoria para o período de 2001 à 2014. Este teste
serve para identificar quanto a renda de uma família que recebe/não recebe o benefício do
Programa Bolsa-Família se distância da renda média geral. Os resultados do teste t são
analisados dentro dos níveis de confiança de 1%, 5% e 10%.
Para chegar aos resultados de diferenças de média, foi necessário encontrar o IPCA
implícito, o que resultou em valores que foram utilizados para deflacionar a renda no período.
86
Tabela 6 Diferença de médias das rendas totais com e sem aposentadoria dos indivíduos
que recebem o benefício do do Bolsa-Família pra Amazônia Legal, 2001 à 2014.
Variáveis 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014
Renda total com aposentadoria Diferença de Médias -40,89 -57,98 -122,34 -131,98 -137,17 -222,50 -271,27 -166,53 -369,49 -363,20 -553,53 -572,95 -614,93
Razão t -3,09 -5,40 -16,82 -12,60 -16,37 -32,16 - -15,74 -47,77 -25,92 -52,33 -44,94 -
Renda total sem aposentadoria Diferença de Médias -49,78 -46,33 -88,71 -96,68 -89,86 -138,53 -184,87 -182,80 -239,99 -226,26 -372,06 -375,41 -380,79
Razão t -4,38 -5,18 -14,54 -12,29 -11,99 -21,98 - -18,79 -35,24 -19,28 -38,01 -31,36 -
2,57 - significativo a 1%; 1,96 - Significativo a 5%; 1,64 - Significativo a 10%
Elaboração do autor
Tabela 7 Diferença de médias das rendas totais per capita com e sem aposentadoria dos
indivíduos que recebem o benefício do Bolsa-Família pra Amazônia Legal, 2001 à 2014.
Variáveis 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014
Diferença de Médias
Renda total per capita com aposentadoria -25,72 -47,87 -70,32 -78,66 -87,71 -120,58 -134,41 -93,03 -168,72 -179,14 -238,11 -256,48 -267,91
Razão t -4,97 -15,57 -30,36 -29,27 -34,41 -57,36 - -29,31 -85,45 -49,99 -51,86 -70,49 -
Diferença de Médias
Renda total per capita sem aposentadoria -19,51 -32,48 -48,26 -51,73 -54,39 -72,21 -84,03 -86,49 -101,21 -106,20 -146,41 -157,30 -153,83
Razão t -4,42 -12,44 -27,45 -23,10 -24,27 -40,24 - -28,66 -58,71 -37,22 -33,59 -45,14 -
2,57 - significativo a 1%; 1,96 - Significativo a 5%; 1,64 - Significativo a 10%
Elaboração do autor
87
Os resultados da Tabela 6 evidencia que ao longo dos anos, tem aumentado a distância
da renda dos que recebem e não recebem o Bolsa Família, isso pode estar ligado sim a
melhoria de distribuição de renda para o extrato mais alto, mas não necessariamente para o
extrato mais baixo. Pode-se concluir que a medida que os anos passam o programa procura
atender a famílias mais necessitadas, o que seria um indicador de melhora da efetividade do
programa ao longo dos anos. A Tabela 7 segue a mesma interpretação.
Destacando os anos de 2001, 2006 e 2014, verifica-se na Tabela 6 para o ano de 2001,
que quem recebe benefício de programas de transferência de renda condicionado do governo
federal tem renda total com aposentadoria de R$ 40,88 menor do que quem não recebe. No
entanto, na Tabela 7, considerando a renda per capita, quem recebe o benefício sem
aposentadoria tem uma renda R$ 19,51 menor do que a media geral em relação a quem não
recebe. As razões t para os parâmetros de ambas as tabelas são significativas em todos os
níveis de confiança propostos.
No que concernem as diferenças de média para o ano de 2006, a renda total sem
aposentadoria é de R$ 138,53 menor que a media geral. Quando a variável aposentadoria é
inserida, a diferença sobe para R$ 222,50, isso porque quando a renda de aposentadoria é
computada, a mesma influencia no complemento da renda, apresentando uma melhor
consolidação financeira. Para entender melhor, considera-se que a renda media geral seja de
R$600,00. Assim quem recebe Bolsa Família tem uma renda média total sem aposentadoria
de R$ 461,47.
Em relação a renda total per capita com aposentadoria, quem recebe o Bolsa-Família
tem uma renda per capita de R$ 72,20 reais menor do que o indivíduo que não está no
programa. Quando é inserido o parâmetro aposentadoria, o valor é de R$ 120,58 menor. Em
ambas as tabelas as razões t são altamente significativas em todos os níveis de confiança.
A previdência é no fundo uma política social, tão logo essa discussão deve vir a luz,
uma vez que as alterações, associadas à precarização do mercado de trabalho tende a provocar
queda no consumo das famílias, impactando de forma negativa o PIB. Uma reforma
previdenciária nos moldes neoliberais subtrai a renda dos indivíduos, uma vez que o cálculo
da aposentadoria passa a ser alterado de forma a aumentar o tempo de contribuição para o
recebimento integral do benefício, o que contribui significativamente para o aumento da
desigualdade de renda, pois afeta a camada mais necessitada da sociedade. Uma vez que as
famílias não têm como consumir, não há demanda para produtos e serviços, afetando
diretamente a atividade econômica.
Em relação a renda total per capita, a diferença de média entre renda com e sem
aposentadoria de quem participa do PBF é menor do que a relação entre as rendas totais com e
sem aposentadoria. Assim, que participa do programa e recebe aposentadoria tem uma renda
per capita de R$ 267,91 menor do que quem não recebe aposentadoria. Embora os resultados
das diferenças de média se mostrem relevantes, as razões t se mostraram não significativas em
todos os parâmetros.
Dentro do que foi exposto, pode-se dizer que o PBF foi efetivo dentro do período
colocado, ou seja, foi direcionado para quem mais precisa, obedecendo aos critérios de
elegibilidade.
89
4.3 Os determinantes de queda da Desigualdade e Pobreza nas regiões brasileiras
entre 2001 e 2014.
A análise por trás do índice de Gini neste trabalho é interrogar a relação entre o índice
e os programas de transferência de renda do governo federal e outros determinantes, isto é, se
eles foram relevantes para redução da desigualdade no período de referência de forma
significativa. É claramente visível que o índice de Gini evoluiu de forma decrescente nesse
espaço de tempo, no entanto depois de verificar essa redução é necessário identificar os
principais determinantes dessa queda. Para isso, será feita a relação da desigualdade com
alguns desses determinantes.
90
abordado por Pontes (2016), o período de analise para um ano está voltado para a efetividade
do programa, ou seja, o mesmo está sendo direcionado para quem realmente precisa do
benefício e não está remetido a uma análise de eficácia, que só poderia ocorrer anos após o
início de inclusão ao programa.
Tabela 6 Índice de Gini para grandes regiões e unidades da federação, Brasil 2001 à
2014.
Grandes Regiões e Índice de Gini
Unidades da Federação
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014
Norte
Rondônia 0,559 0,535 0,503 0,535 0,568 0,535 0,506 0,504 0,494 0,502 0,480 0,473 0,477
Acre 0,620 0,628 0,576 0,585 0,570 0,578 0,584 0,625 0,613 0,551 0,552 0,525 0,537
Amazonas 0,597 0,554 0,562 0,541 0,501 0,517 0,559 0,530 0,526 0,560 0,515 0,544 0,534
Roraima 0,575 0,568 0,537 0,578 0,594 0,565 0,507 0,538 0,531 0,536 0,554 0,542 0,515
Pará 0,575 0,581 0,546 0,545 0,540 0,541 0,539 0,526 0,521 0,543 0,513 0,513 0,498
Amapá 0,487 0,565 0,615 0,563 0,520 0,476 0,506 0,504 0,496 0,522 0,530 0,532 0,473
Tocantins 0,602 0,559 0,563 0,569 0,534 0,507 0,539 0,518 0,513 0,512 0,524 0,504 0,493
Nordeste
Maranhão 0,583 0,575 0,591 0,627 0,522 0,610 0,563 0,567 0,556 0,561 0,596 0,574 0,527
Piauí 0,600 0,619 0,592 0,604 0,599 0,585 0,599 0,555 0,545 0,501 0,554 0,519 0,502
Ceará 0,620 0,597 0,582 0,592 0,573 0,546 0,548 0,564 0,555 0,533 0,523 0,524 0,492
Rio Grande do Norte 0,564 0,572 0,558 0,572 0,592 0,561 0,543 0,570 0,561 0,560 0,534 0,543 0,499
Paraíba 0,598 0,619 0,582 0,595 0,580 0,565 0,601 0,605 0,600 0,542 0,547 0,519 0,511
Pernambuco 0,623 0,617 0,605 0,618 0,606 0,592 0,569 0,576 0,567 0,534 0,508 0,504 0,517
Alagoas 0,606 0,609 0,619 0,568 0,572 0,635 0,602 0,564 0,554 0,530 0,525 0,533 0,509
Sergipe 0,551 0,538 0,563 0,558 0,565 0,558 0,528 0,583 0,576 0,554 0,537 0,554 0,483
Bahia 0,619 0,615 0,599 0,572 0,576 0,566 0,574 0,576 0,568 0,565 0,565 0,569 0,536
Sudeste
Minas Gerais 0,562 0,566 0,555 0,544 0,536 0,529 0,524 0,524 0,517 0,517 0,514 0,500 0,491
Espírito Santo 0,608 0,564 0,552 0,556 0,554 0,538 0,524 0,543 0,536 0,495 0,492 0,493 0,476
Rio de Janeiro 0,574 0,555 0,564 0,553 0,560 0,546 0,547 0,547 0,544 0,537 0,532 0,535 0,521
São Paulo 0,553 0,565 0,549 0,530 0,533 0,516 0,507 0,494 0,491 0,495 0,503 0,496 0,503
Sul
Paraná 0,573 0,540 0,553 0,551 0,535 0,519 0,524 0,500 0,496 0,471 0,481 0,476 0,459
Santa Catarina 0,515 0,474 0,479 0,463 0,461 0,461 0,467 0,470 0,467 0,445 0,427 0,432 0,419
Rio Grande do Sul 0,564 0,555 0,539 0,531 0,527 0,526 0,512 0,504 0,500 0,503 0,496 0,500 0,489
Centro-Oeste
Mato Grosso do Sul 0,571 0,567 0,530 0,523 0,522 0,528 0,561 0,528 0,523 0,513 0,483 0,499 0,478
Mato Grosso 0,562 0,577 0,543 0,525 0,519 0,538 0,506 0,512 0,507 0,479 0,520 0,499 0,464
Goiás 0,566 0,545 0,520 0,535 0,554 0,501 0,522 0,503 0,498 0,483 0,483 0,482 0,446
Distrito Federal 0,629 0,625 0,633 0,627 0,608 0,610 0,612 0,625 0,625 0,602 0,580 0,577 0,589
Elaboração do autor
Isso confirma que desde sua criação em 2003, o programa passou uma expansão em
sua cobertura, principalmente até o período analisado. Então, pelos resultados da Tabela 9
acima, pode-se dizer que essa expansão de cobertura do Bolsa Família, dentro de suas
condicionalidades e o aumento em seu orçamento apresentou impacto significativo sobre a
desigualdade de renda.
Entre 2001 e 2010, o Brasil apresentou taxas de crescimento do PIB satisfatórias que
garantiram mais distribuição de renda para a classe mais desassistida da sociedade, incluindo-
a na economia através da indução de demanda. Com um crescimento econômico satisfatório e
transferência de renda através de programas sociais, as grandes indústrias são induzidas a
produzir mais, garantindo mais emprego e renda, contribuindo para o a redução da pobreza
intergeracional. Aghion e Bolton (1992) apud Araújo e Marinho (2015) afirmam que:
Norte
Rondônia 31,3 29,6 28,1 18,5 24,8 18,1 18,3 14,8 14,8 11,9 9,1 10,2 8,4
Acre 36,1 37,1 39,6 35,7 36,3 28,5 32,8 25,1 25,1 23,9 19,0 19,7 18,0
Amazonas 40,1 42,9 42,0 35,3 27,6 26,7 31,3 22,6 22,6 26,6 21,8 21,2 17,1
Roraima 32,3 44,0 36,2 45,0 40,0 30,4 26,9 21,2 21,2 15,3 16,5 13,6 10,1
Pará 43,0 42,4 44,3 36,2 35,4 30,3 27,3 27,7 27,7 23,7 19,4 20,0 18,2
Amapá 19,0 39,3 39,5 36,9 28,5 22,4 24,7 23,2 23,2 25,2 19,9 19,7 11,2
Tocantins 24,3 30,4 27,7 30,3 27,7 25,5 24,3 16,5 16,5 16,5 13,9 13,6 13,3
Nordeste
Maranhão 51,6 51,0 54,5 52,9 46,4 43,6 39,7 32,6 32,6 31,0 28,6 27,1 22,4
Piauí 47,8 47,6 50,2 46,2 44,6 37,4 35,2 27,6 27,6 25,0 19,3 18,0 17,7
Ceará 49,2 47,8 50,7 50,3 43,3 39,6 37,0 30,7 30,7 25,3 22,4 21,8 20,0
Rio Grande do Norte 39,9 39,5 42,4 39,4 35,0 29,0 28,1 23,9 23,9 21,6 15,8 16,2 15,4
Paraíba 48,4 43,1 47,1 44,2 39,4 33,0 35,5 31,3 31,3 21,3 20,6 18,2 16,1
Pernambuco 55,3 54,7 59,0 56,2 52,7 49,6 46,5 40,9 40,9 36,1 30,3 28,1 27,8
Alagoas 52,9 52,8 56,1 52,0 48,6 43,9 40,7 35,1 35,1 29,1 23,4 25,7 22,9
Sergipe 43,8 40,1 41,8 36,4 36,4 34,2 31,1 29,4 29,4 18,2 17,3 16,3 13,9
Bahia 49,0 48,3 52,4 46,1 42,2 37,4 36,9 31,7 31,7 26,5 24,9 22,5 19,4
Sudeste
Minas Gerais 28,0 26,6 28,2 25,5 22,8 19,4 18,7 14,1 14,1 10,8 9,2 8,5 8,4
Espírito Santo 25,9 21,1 23,6 21,1 19,5 15,5 14,2 12,7 12,7 8,4 5,9 8,5 6,6
Rio de Janeiro 28,8 26,2 30,0 28,3 26,7 22,7 21,7 18,6 18,6 18,0 17,8 15,0 14,6
São Paulo 28,7 29,2 30,4 29,6 25,4 21,7 19,7 18,3 18,3 15,3 13,0 12,8 12,0
Sul
Paraná 22,1 18,8 20,1 17,0 16,2 13,9 10,2 8,9 8,9 6,0 5,5 5,1 4,1
Santa Catarina 9,3 8,6 8,5 8,1 5,9 3,9 3,4 2,9 2,9 3,7 2,1 3,1 1,8
Rio Grande do Sul 15,6 16,3 15,8 14,8 13,0 11,3 10,5 8,1 8,1 6,3 4,9 5,2 4,1
Centro-Oeste
Mato Grosso do Sul 36,4 33,9 33,6 33,2 30,3 25,1 24,1 18,8 18,8 12,6 10,3 10,1 8,2
Mato Grosso 33,2 33,8 36,3 28,6 28,8 26,4 25,4 20,2 20,2 12,0 12,4 11,7 7,7
Goiás 37,8 35,9 36,0 31,6 32,2 26,7 23,4 19,2 19,2 15,7 11,9 12,6 10,9
Distrito Federal 39,4 37,3 42,1 41,1 36,1 30,3 29,5 28,7 28,7 22,5 20,7 18,6 17,3
Elaboração do autor
93
queda. Como verificado, o Nordeste é a região que apresenta a maior proporção de pobres do
país, embora em todos os estados a redução da pobreza no período tenha sido muito
significativa. O mesmo se pode dizer para a maioria das unidades da federação.
Um dos fatores que contribuíram para a queda da proporção de pobres foi a política
de valorização do salário mínimo no período. Estudos brasileiros como os de Hoffman (2006)
apud Araújo e Marinho (2015) demonstram que a maior parcela na queda da desigualdade de
renda nos últimos anos se deve a mudanças na distribuição dos rendimentos do trabalho.
Segundo esses autores, Hoffmam estimou no período de 2002 a 2005 que a decomposição do
índice de Gini no Brasil é verificada que 69% dessa variação esta associada ao rendimento de
todos os trabalhos e 31,4% associado as transferências feitas pelo governo federal.
O investimento em capital humano também é um determinante muito importante para
os resultados da Tabela 9. No Brasil, a heterogeneidade da educação contribui para a baixa
qualidade do ensino e, por conseguinte da formação e qualificação de mão de obra. Mesmo
assim, entre 2004 e 2014, políticas públicas de inclusão voltadas para o sistema educacional
iniciaram um longo processo de reparo histórico-social da pobreza e desigualdade.
A política de cotas e um bom exemplo, pois ampliam as oportunidades de acesso as
universidades como forma de diminuir as disparidades sociais. Assim, a importância da
educação fica evidente não somente para as diferenças de renda, mas também para a redução
da desigualdade no período.
A economia não cresce somente com capital e produtividade, mas precisa da
participação humana para executar suas atividades, que por sua vez, necessita de educação e
treinamento para adquirir conhecimento. A julgar que o objetivo do Estado é o progresso
econômico, este assume os gastos referentes ao sistema educacional e treinamento para que
no curto prazo induza demanda e no longo prazo eleve a renda e gere crescimento econômico.
Segundo o trabalho de Nakabashi e Figueiredo (2005) o capital humano afeta a taxa de
crescimento da renda do trabalhador de três formas: 1) através da melhora da produtividade
do trabalhador; 2) criação de tecnologia; e 3) difusão de tecnologia.
94
Em termos de resultados efetivos, o primeiro governo Lula realizou, de 2003 a 2006,
taxas respectivas de crescimento do PIB de 1,1%, 5,8%, 3,2% e 4,0%27, numa conjuntura em
que a economia mundial crescia praticamente o dobro dessas taxas e os emergentes dinâmicos
três vezes mais. Mesmo com a crise econômica mundial em 2008, o PIB diminuiu muito
pouco em 2009, apresentando rápida recuperação em 2010. Outro fator foi a manutenção da
inflação dentro dos limites da meta estabelecida pela Política monetária do Banco Central do
Brasil.
Segundo o IPEA (2015) a reativação do mercado de trabalho foi fator implícito na
forma de crescimento da economia brasileira, se mostrando como um dos principais
determinantes da relativa melhora na condição socioeconômica da população brasileira, uma
vez que o prolongado boom da demanda internacional de commodities favoreceu o
desempenho econômico dos países em desenvolvimento dotados de recursos naturais, em
especial a China, cuja voracidade por matérias-primas beneficiou duplamente o Brasil: pelo
volume exportado e pelos preços valorizados, estimulando o aumento no número de
contratações de trabalhos formais, resultando em declínio das taxas de desemprego no
período.
Embora baixa, mas foi notório o esforço do Estado em qualificar mão de obra e
investir em política educacional no período. A expansão do crédito também impulsionou a
queda da pobreza no período, elemento que ganhou crescente notoriedade nos últimos anos no
Brasil. As ações do Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado (PNMPO),
criado no plano do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) estimularam o aumento da
renda entre as regiões, permitindo a universalização do acesso ao microcrédito a milhares de
pessoas que até então eram excluídas do sistema financeiro tradicional e também gerar,
trabalho, emprego e renda.
27
Fundação Getúlio Vargas - Centro de Contas Nacionais - diversas publicações, período 1947 a 1989; IBGE.
Diretoria de Pesquisas. Coordenação de Contas Nacionais. Os valores de PIB per capita de 2000 a 2014 foram
atualizados a partir das Contas Nacionais - Brasil 2010-2014, divulgadas em 17/11/2016.
95
variável dependente e buscam através da técnica do controle sintético demonstrar a trajetória
desta variável em resposta as variáveis log natural renda total com aposentadoria per capita,
log natural da raça do chefe de família, log natural do sexo do chefe da família, log natural do
PIB per capita, log natural da taxa de desemprego, log natural da taxa de mortalidade infantil
e log natural do Bolsa Família.
(20)
96
Tabela 8 - Estimativas do modelos total, tratamento e controle de desigualdade e
pobreza para efeitos fixos.
Desigualdade Pobreza
Cenario 1 Cenário 2 Cenário 3 Cenário 4 Cenário 5 Cenário 6
Efeito fixo Efeito Fixo Efeito Fixo Efeito Fixo Efeito Efeito Fixo
Coeficientes Desigualdade Desigualdade Desigualdade Pobreza FixoPobreza Pobreza
Total tratamento controle Total tratamento controle
97
4.4 Modelo do Cenário 1: Efeito Fixo desigualdade total.
O modelo acima mostra que por não serem significativos, o fato de o chefe de família
ser negro, ou mulher, não faz diferença na determinação da desigualdade ou da pobreza ao
longo dos anos. O coeficiente 𝑙𝑡𝑥𝑑𝑒𝑠 foi significativo a 10% e os demais coeficientes,
significativos a 1%.
Em relação a renda com aposentadoria per capita (𝑙𝑟𝑒𝑛𝑑𝑎𝑐𝑎𝑝𝑐), o modelo diz que o
aumento de um 10% nessa variável aumenta a desigualdade de renda em 1,3%. A explicação
pode ser a mesma usada para a análise das diferenças de média, em que a renda da
aposentadoria computada influencia no complemento da renda, apresentando uma melhor
consolidação financeira.
Nos estudos das ciências sociais não se pode observar o mesmo indivíduo antes e
depois do acesso ao tratamento, portanto deve-se resolver o viés de seleção existente. Além
disso, considerando que o Programa Bolsa Família é uma das variáveis que compõem a
determinação do índice de Gini neste trabalho, o mesmo não foi distribuído aleatoriamente,
98
mas obedece a um processo de seleção na medida em que existem critérios de elegibilidade
definidos. Caso a aleatoriedade fosse assegurada, o grupo de controle teria a mesma
distribuição de características do grupo de tratamento.
Pará
Unidade de Controle Unidade de Peso
13 0,162
16 0,039
23 0,445
26 0,25
43 0,105
RMSPE 0,0497
Fonte: Elaboração do autor
Todavia, todos os RMSPE estão dentro do critério do erro quadrático médio o que
demonstra o potencial do modelo em explicar tais variações, fazendo uma boa previsão da
série tratada para o período de pré-tratamento. É importante dizer que todas as raízes do erro
previsto quadrático médio (RMSPE) da série sintética em relação à série original durante o
período de pré-tratamento apresentaram excelentes resultados, pois a recomendação para um
modelo bem ajustado é de que esse indicador seja menor que 1,5.
100
Gráfico 1 - Trajetória do índice de Gini entre os estados da Região Norte e Região
Norte sintético. Cenário 1.
Tocantins
Dentre os estados da região Norte, os que tiveram melhor e pior desempenho foram o
Amapá e Acre, respectivamente. É importante destacar que no ano de 2006, o Amapá sofreu
uma queda muito acentuada, obtendo o segundo melhor desempenho do país, conforme pode
ser visto nos gráficos do teste de placebo abaixo. Entre os indicadores pesquisados, o que
melhor explica a queda acentuada da desigualdade no estado do Amapá em 2006 é a menor
taxa de desemprego da região (6,7%), segundo as informações do IPEADATA. Segundo o
censo de 2010 o Amapá ocupa a décima quinta posição no rendimento nominal mensal
domiciliar per capita e a terceira posição de melhor rendimento médio do trabalho do país28,
bem como apresentando o melhor IDH da região Norte, o que mostra que os esforços para a
redução da pobreza foram eficazes durante o período de 2001 à 2014.29
28
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ap/panorama.
29
http://www.ipeadata.gov.br/Default.aspx
101
Por outro lado, o Acre apresentou durante o período uma visível discrepância em suas
trajetórias, colocando-o com o segundo pior desempenho a nível nacional. A complexidade
regional da região Norte também explica o resultado da maioria das trajetórias acima.
O teste de distribuição de placebo tem como função fazer com que o tratamento do
grupo de controle seja igual ao grupo experimental em tudo, menos na causa pesquisada. Os
testes para a região Norte são apresentados nos gráficos a seguir.
Gráfico 2 Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos do índice de gini para a
região Norte em relação as unidades da federação do cenário 1. Teste de distribuição de
Placebo.
.2
.2
.1
.1
.1
0
0
-.1
-.1
-.1
-.2
-.2
-.2
2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015
ano ano ano
.2
.2
.1
.1
.1
0
0
0
-.1
-.1
-.1
-.2
-.2
-.2
2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015
ano ano ano
Treated Donors Treated Donors Treated Donors
Tocantins
.2
.1
0
-.1
-.2
Treated Donors
102
Os gráficos acima, por sua vez, demonstram os resultados do teste anteriormente
descrito. Pode-se observar que até 2003, o Amapá chegou a ser o segundo estado mais
desigual do Brasil, entretanto, entre 2003 e 2009, o estado chegou a reduzir a desigualdade
social em 18,4%, segundo o relatório de vulnerabilidade das famílias levantado pela Pesquisa
nacional por amostra de domicilio e divulgado pelo IPEA (2012)30.
Assim, devido aos esforços de gestão ocorridos, o mesmo terminou o período como o
segundo estado menos desigual do país, como pode ser observado na trajetória, localizando-se
constantemente abaixo da maioria dos placebos. Por outro lado, o Acre não apresentou o
desempenho esperado para o período entre os estado da região. Segundo o IPEA (2012) os
resultados de baixa vulnerabilidade familiar na região Norte se deve entre outras coisas a
dificuldade na capacidade de gestão nos estados, restringido o acesso a áreas mais próximas
aos centros administrativos ou regiões metropolitanas, não identificando as realidades nos
lugares mais distantes nos referidos estados.
De acordo com o IBGE, em 2001, 37% dos domicílios nordestinos, tinham uma renda
domiciliar per capita de até meio salário mínimo contra 12% dos do Sudeste e Sul. Havia
saneamento adequado em apenas 38,2% dos domicílios com este rendimento, contra os 86,1%
daqueles com mais de cinco salários mínimos per capita.
30
Para saber mais, acessar o arquivo: https://www.econstor.eu/bitstream/10419/91040/1/718563921.pdf
103
Tabela 10 - Participações dos estados da região Nordeste, em porcentagem, na construção
das unidades sintéticas. Cenário 1.
104
Gráfico 3 - Trajetória do índice de Gini entre os estados da Região Nordeste e
Região Nordeste sintético. Cenário 1.
Para ocorrer uma melhora no índice de Gini, as pessoas com rendimento mais baixo
precisariam ter aumentos superiores aos das populações mais ricas. Não é o que se observa na
maioria dos estados até o ano de corte, e mesmo após 2006, essa assimetria de renda começa a
reduzir a partir de 2010 em alguns estados como o Ceará, Pernambuco e Piauí.
Gráfico 4 Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos do índice de gini para a
região Nordeste em relação as unidades da federação do cenário 1. Teste de distribuição de
Placebo.
.2
.2
.1
.1
.1
0
0
-.1
-.1
-.1
-.2
-.2
-.2
2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015
ano ano ano
.1
.1
.1
0
0
0
-.1
-.1
-.1
-.2
-.2
-.2
2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015
ano ano ano
.2
.2
.1
.1
.1
0
0
-.1
-.1
-.1
-.2
-.2
-.2
106
Seguindo a linha de raciocínio, as tabelas a seguir mostram os pesos que cada unidade
da federação obteve em explicar o comportamento da trajetória sintética da região Sudeste.
Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor
Dentre os estados, o que apresentou melhor desempenho foi o Espírito Santo e o pior
desempenho ficou para o Rio de Janeiro, como pode ser visto nas distribuições de placebo
abaixo, evidenciando os resultados descritos acima, mostrando que houve aumento em todas as
faixas de rendimento, exceto na mais baixa. Pode-se observar que antes e após o corte temporal
realizado em 2006, as diferenças da trajetória do Espírito Santo e sua réplica sintética se
mostravam em uma posição abaixo entre as diferenças dos demais estados da maioria dos
107
placebos, enquanto o Rio de Janeiro se mostrou em posição elevada durante o período. Essa
desigualdade de rendimento acarreta e exibe muitos outros problemas que assolam o estado,
como a falta de saneamento adequado, o aumento do emprego informal, a assimetria
habitacional expressa nos morros e favelas, entre outros que culminam em estado de violência
na sociedade, equivocando a visão do poder público em agir em segurança pelo âmbito da
repressão, quando na verdade é preciso uma ação na estrutura da desigualdade no país.
Gráfico 6 Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos do índice de gini para a
região Sudeste em relação as unidades da federação do cenário 1. Teste de distribuição
de Placebo.
.2
.2
.2
.1
.1
.1
.1
0
0
0
-.1
-.1
-.1
-.1
-.2
-.2
-.2
-.2
2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015
ano ano ano ano
Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor
Uma análise regional do PBF permite obter detalhes da incidência do programa que
não seriam possíveis em uma análise nacional. Para tanto, o trabalho de Rogê (2013)
apresenta o comportamento do programa na região sul do Brasil, na qual se constata um dos
menores percentuais de pessoas abaixo da linha de pobreza e um dos melhores indicadores
sociais do país. Os resultados evidenciaram a heterogeneidade da incidência do PBF no valor
médio das transferências do programa apresentada na renda média da região, evidenciando
ainda para elevada e ascendente cobertura do programa, mostrando eficiência na seleção das
famílias mais vulneráveis.
Embora esta região seja a de menor incidência de pobreza do país, ela contribuiu para
a tendência nacional de redução da pobreza desde 2004. Dos três estados que compõe a
região, Santa Catarina é a que apresenta menor percentual de pobreza, 6,36% para o ano de
2009, o equivalente à metade do percentual observado no Paraná e no Rio Grande do Sul com
12,37% e 13,71%, respectivamente, também para o mesmo ano.
Abaixo, são apresntados os pesos que cada unidade da federação da região Sul obteve
em explicar o comportamento das trajetórias sintéticas.
A raiz do erro previsto quadrático médio (RMSPE) da série sintética em relação à série
original durante o período de pré-tratamento é de 0,1316, 0,0362 e 0,0509 pontos, para os
estados de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, respectivamente, demostrando o
potencial do modelo em explicar tais variações e fazendo uma boa previsão da série tratada
109
para o período de pré-tratamento. O RMSPE estado do Paraná teve maior influência do
Estado de Santa Catarina, o que impactou na comparação com a séria sintética.
Gráfico 7 Trajetória do índice de Gini entre os estados da Região Sul e Região Sul
sintético. Cenário 1.
Paraná Santa Catarina Rio Grande do Sul
110
Gráfico 8 Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos do índice de gini para a
região Sul em relação as unidades da federação do cenário 1. Teste de distribuição de
Placebo.
.2
.2
.2
.1
.1
.1
0
0
0
-.1
-.1
-.1
-.2
-.2
-.2
2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015
ano ano ano
32
São fóruns regionais de discussão sobre estratégias, políticas e ações que visam o desenvolvimento regional,
constituídos como pessoas jurídicas de direito privado, organizados sob a forma de associações civis sem fins
lucrativos.
111
Rezende (2001) apud Corrêa e Figueiredo (2006) coloca que devido a dinâmica
agrícola, no último quarto do século XX a região dos cerrados foi a que mais expandiu. A
diferença da região Centro-Oeste pras outras regiões do país está no fato de que sempre se
destinou grande parcela do crédito aos investimentos e menor parcela a comercialização. As
tabelas abaixo apresentam os pesos que cada estado da região Centro-Oeste obteve em
explicar o comportamento das trajetórias sintética dessa região.
Dentro das raízes do erro previsto quadrático médio (RMSPE) da série sintética em
relação à série original o Distrito Federal apresenta o maior valor de RMSPE (0,1185pontos),
contribuindo para esse resultado os pesos dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo.
112
Gráfico 9 - Trajetória do índice de Gini entre os estados da Região Centro-Oeste e
Região Centro-Oeste sintético. Cenário 1.
Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor
O centro- Oeste é marcado muito pela dinâmica agropecuária. De acordo com Corrêa e
Figueiredo (2006) Dentre os estados do Centro-Oeste, Mato Grosso do Sul apresentou maior
expansão do PIB do país em 2001; o peso da agropecuária no valor adicionado desse estado
passou de 28,4% em 2000 para 32% em 2001. Mato Grosso, o maior produtor de soja do
Brasil, experimentou crescimento do PIB da ordem de 6,5% no mesmo período.
Embora ocupe a primeira posição em renda domiciliar per capita segundo o censo de
2010, o Distrito Federal ocupava o vigésimo primeiro lugar no número de alunos
matriculados no ensino público em 2012, entre os estados brasileiros. Isso talvez explique a
forte desigualdade existente, uma vez que a evasão escolar não permite o auferimento de
renda devido para suprir as necessidades.
113
Gráfico 10 - Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos do índice de gini para a
região Centro-Oeste em relação as unidades da federação do cenário 1. Teste de
distribuição de Placebo.
.2
.2
.2
.2
.1
.1
.1
.1
0
0
0
0
-.1
-.1
-.1
-.1
-.2
-.2
-.2
-.2
2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015
ano 2000 2005 2010 2015
ano ano ano
Treated Donors Treated Donors Treated Donors
Treated Donors
Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor
lginit= -0,199 - 0,107 lanosest - 0,021 lrendacapc + 0,004 lraçachef - 0,004 lsexchef
– 0,074 lpibpc + 0,024 ltxdes + 0,013 ltxmort – 0,001 lbolsfam
114
resultados, o aumento de 10% na média de anos de estudo e no PIB per capita reduz a
desigualdade, respectivamente em 10,7% e 7,4%.
Este cenário previu a utilização de um critério populacional para seleção das unidades
de controle. Pelo cenário 3 o modelo de controle da desigualdade para efeitos fixos mostra
que somente os coeficientes lpibpc e ltxmort têm efeito sobre a determinação da variável de
interesse. As demais variáveis foram não significativas. É importante destacar que este
cenário se refere ao grupo de pessoas que não se enquadram dentro dos critérios de
elegibilidade de programas sociais.
115
Ao analisar este cenário verifica-se que os coeficientes lracachef, lsexchef e ltxmort
foram não significativas para o modelo, não afetando a determinação da variável dependente.
A variável lanosest foi significativa a 10% e as demais variáveis, significativas a 1%.
Embora esta variável apresente significância estatística, parece não estar coerente com
o modelo, no entanto é preciso destacar que o modelo de pobreza trabalhado é de pobreza de
renda, logo variáveis que estejam ligadas ao aspecto multidimensional da pobreza podem ser
não significativas ou apresentar algum nível de significância mas não estar coerente com o
modelo.
Por outro lado a variável lrendacapc diz que o aumento em 10% da renda total com
aposentadoria per capita, ajuda a reduzir a pobreza em 9,12%. A mesma interpretação é feita
para a variável lpibpc, que influencia para redução da pobreza em 3,24%.
Para melhor visualização dos resultados foram também gerados gráficos para as cinco
regiões analisadas, onde suas tendências confirmam a tendência de declínio de pobreza no
país.
116
Tabela 14 - Participações dos estados da região Norte, em porcentagem, na construção
das unidades sintéticas. Cenário 4.
Rondonia
Unidade de Controle Unidade de Peso Acre Amazonas
12 0,314 Unidade de Controle Unidade de Peso Unidade de Controle Unidade de Peso
13 0,023 11 0,17 15 0,088
15 0,006 14 0,371 16 0,441
16 0,043 16 0,085 24 0,168
17 0,312 17 0,255 26 0,039
21 0,022 22 0,12 35 0,264
42 0,072 RMSPE 0,1162 RMSPE 0,1975
51 0,209 Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor
RMSPE 0,2258
Fonte: Elaboração do autor
Pará
Roraima Unidade de Controle Unidade de Peso Amapá
Unidade de Controle Unidade de Peso 13 0,155 Unidade de Controle Unidade de Peso
12 0,467 16 0,093 13 0,172
16 0,461 23 0,356 14 0,724
42 0,072 26 0,047 53 0,104
RMSPE 0,2684 29 0,171 RMSPE 0,2986
Fonte: Elaboração do autor 43 0,178 Fonte: Elaboração do autor
RMSPE 0,1188
Fonte: Elaboração do autor
Tocantins
Unidade de Controle Unidade de Peso
11 0,704
12 0,027
22 0,269
RMSPE 0,2169
Fonte: Elaboração do autor
117
Gráfico 11 - Trajetória da proporção de pobres entre os estados da Região Norte e
Região Norte sintético. Cenário 4.
Tocantins
Dentre os estados da região Norte, os que tiveram melhor e pior desempenho foram
o Rondônia e Acre, respectivamente. O resultado se deve a uma melhora nas condições do
PIB, onde a região Norte elevou em 0,4 pontos percentuais sua participação no PIB do País. A
economia do estado de Rondônia tem como principais atividades a agricultura, a pecuária,
a indústria alimentícia e o extrativismo vegetal e mineral. De acordo com Franco e Anunciato
(2016) entre 1995 e 2008 o estado de Rondônia reduziu o número de pobres em mais de 40%,
classificando o estado como 15º estado com menor número de pessoas em situação de
pobreza. No entando, de acordo com o IPEA (2010),embora o desemprego estivesse em 7,7%
em 2006 era necessario gerar mais empregos e desenvolver melhor seus projetos sociais para
a erradicação da pobreza.
118
É importante destacar que a trajetória sintética mostrada acima se deve aos esforços
realizados pelas três esferas de poder, que conseguiram colocar o estado na quarta melhor
posição de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), bem como a segunda maior taxa de
alfabetização e a terceira menor taxa de analfabetismo entre todos os estados das
regiões Norte e Nordeste do país. Rondônia possui ainda a menor incidência de pobreza e
também a segunda melhor distribuição de renda e o terceiro menor índice de desemprego em
2006 (7,7%). Por outro lado, o Acre apresenta durante o período uma visível discrepância em
suas trajetórias, o que pode ser explicaso pela complexidade regional da região Norte também.
No entanto, a taxa de crescimento promedio do PIB do Acre foi maior que as taxas de
crescimento do PIB nacional e da Região Norte na última década. De 2002 a 2010, o Estado
do Acre cresceu, em média, 5,8%, contra a média nacional de 3,9%. Enquanto o Brasil
apresentou um crescimento acumulado de 37% de 2002 a 2010 e a Região Norte de 56%, o
Acre chegou a 59%.33
O teste de distribuição de placebo tem como função fazer com que o tratamento do
grupo de controle seja igual ao grupo experimental em tudo, menos na causa pesquisada. Os
testes para a região Norte são apresentados nos gráficos a seguir.
33
https://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/37245/S1420296_pt.pdf?sequence=1
119
Gráfico 12 - Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos da proporção de
pobres para a região Norte em relação as unidades da federação do cenário 4. Teste de
distribuição de Placebo.
.5
.5
.5
0
0
0
-.5
-.5
-.5
-1
-1
-1
-1.5
-1.5
-1.5
2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015
ano ano 2000 2005 2010 2015
ano
Treated Donors Treated Donors
Treated Donors
.5
.5
0
0
-.5
-.5
-.5
-1
-1
-1
-1.5
-1.5
-1.5
2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015
ano ano ano
Tocantins
.5
0
-.5
-1
-1.5
Treated Donors
120
governo federal; ii) embora tenha diminuido nos últimos anos, persiste o peso da
administração pública na economia do estado; iii) pouco desenvolvimento do setor privado
(fragilidade do setor privado local e dificuldade de atrair setor privado externo).
O fato mais marcante na evolução da pobreza entre 2004 e 2014, nas regiões Norte e
Nordeste do país, é a expressiva queda da extrema pobreza e da pobreza entre as famílias
agrícolas. Soares et al (2016)colocam que:
121
Tabela 15 Participações dos estados da região Nordeste, em porcentagem, na
construção das unidades sintéticas. Cenário 4.
Maranhão Ceará
Unidade de Controle Unidade de Peso Unidade de Controle Unidade de Peso
22 0,652 Piaui 22 0,251
25 0,243 Unidade de Controle Unidade de Peso 26 0,343
27 0,034 21 1 29 0,205
29 0,071 RMSPE 0,0861 43 0,202
RMSPE 0,0955 Fonte: Elaboração do autor RMSPE 0,1957
Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor
122
Gráfico 13 - Trajetória da proporção de pobres entre os estados da Região Nordeste e
Região Nordeste sintético. Cenário 4.
123
como um todo. Assim se percebe pelas trajetórias acima que os estado de Sergipe e
Pernambuco tiveram o melhor e o pior resultado do período. De acordo com Leão et al (2016)
A região Nordeste em 2004, o PBF concentrava a maior quantidade de benefícios pagos pelo
PBF, equivalente a 50,53% do total em 2004, com mais de 3,32 milhões de famílias atendidas
em 2004e em 2011, esse número era de 51,12%, onde os números evoluíram para 6,83
milhões de famílias.
Os gráficos de distribuição de placebo evidenciam os resultados descritos acima, onde
a maioria dos estados encontra-se em posições medianas entre as diferenças dos demais
estados da maioria dos placebos, confirmando as posições que Sergipe e Pernambuco ocupam
nos resultados. É importante lembrar que quanto mais abaixo estivar um estado em relação
aos demais, melhor é o resultado das políticas públicas e econômicas para a redução da
pobreza.
Gráfico 14 - Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos da
proporção de pobres para a região Nordeste em relação as unidades da
federação do cenário 4. Teste de distribuição de Placebo.
.5
.5
0
0
0
-.5
-.5
-.5
-1
-1
-1
-1.5
-1.5
-1.5
.5
1
.5
0
0
-.5
-.5
-.5
-1
-1
-1
-1.5
-1.5
-1.5
1
.5
.5
0
0
-.5
-.5
-.5
-1
-1
-1
-1.5
-1.5
-1.5
124
Embora ocupe a principal posição entre as regiões com maior predominância de
pobres, a região Nordeste apresentou queda muito significativa na proporção de pobres
durante o período. Em muitos estados do Nordeste a concentração de renda permite que sejam
geradas externalidades que contribuem para o elevado grau de pobreza na região. Pernambuco
apresentou a maior proporção e pobres ao final do período (27,8%), não somente na região,
mas também entre as unidades da federação, e o estado do Sergipe aparece com a menor
proporção (13,9%).
Seguindo a linha de raciocínio, a tabela a seguir mostram os pesos que cada unidade
da federação obteve em explicar o comportamento da trajetória sintética da região Sudeste.
125
Gráfico 15 - Trajetória da proporção de pobres entre os estados da Região Sudeste
e Região Sudeste sintético. Cenário 4.
Espírito Santo Rio de Janeiro Minas Gerais São Paulo
Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor
A acentuada queda na pobreza alcançada pelo Espírito Santo durante as duas décadas
em análise deve-se, em parte, ao crescimento econômico e, em parte, à queda na
desigualdade. Dentro da literatura, a renda per capita tem sido aceito como o melhor indicador
do processo de desenvolvimento de uma economia. Por conseguinte, de acordo com o
levantamento do IPEA (2010) entre 1988 e 2008 a renda per capita do estado cresceu, em
média, 2,2% ao ano. Para que a mesma queda na pobreza fosse alcançada sem redução na
desigualdade, seria necessário um crescimento da renda per capita de 4,5%. Assim, a queda
na desigualdade possibilitou uma redução na pobreza que, sem ela, só poderia ser alcançada
com uma taxa de crescimento duas vezes maior.
De acordo com o IBGE, a falta de indústria extrativista e uma indústria de transformação
estagnada e tendo nos serviços o suporte da economia, bem como o alto preço das commodities
minerais em 2010 fizeram com que Rio de Janeiro e São Paulo perdessem lugar na participação do
PIB nacional em relação a 2009.
.5
.5
0
0
0
0
-.5
-.5
-.5
-.5
-1
-1
-1
-1
-1.5
-1.5
-1.5
-1.5
Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor
126
As distribuições de placebo nos gráficos sobre a região Sudeste acima mostram o
estado do Rio de Janeiro com a maior proporção de pobres no fim do período (14,6%), o que
chama a atenção, pois este estado passa de segundo no início do ano de 2001 para primeiro
em 2014. O estado do Espírito Santo é o que apresenta a menor proporção (6,6%). Com isso,
pode-se dizer que o dinamismo da indústria na região Sudeste, embora possa ser um elemento
preponderante nesse cenário de queda, parece que não foi suficiente para atenuar mais a
pobreza, principalmente entre os estados de Rio de Janeiro e São Paulo, que chegam a
apresentar valores de proporção de pobres bem próximos a de estados da região Nordeste.
O Sul do Brasil apresenta indicadores sociais, em geral, melhores que outras regiões
brasileiras, inclusive o Sudeste, a regiãi mais rica do país. Porém, isso não significa que os
três estados da região Sul não apresentem bolsões de pobreza e de atraso. Abaixo, são
apresentados os pesos que cada unidade da federação da região Sul obteve em explicar o
comportamento das trajetórias sintéticas.
127
Gráfico 17 - Trajetória da proporção de pobres entre os estados da Região Sul e
Região Sul sintético. Cenário 4.
Considerando o ano de 2006, não é possível verificar uma diferença entre tratados e e
sinéticos no Rio Grande do Sul. Apesar de sustentar bons índices de desenvolvimento o Rio
Grande do Sul apresenta uma considerável proporção de pobres, haja vista as desigualdades
regionais existentes no estado. Segundo Silva et al (2015), estudos do IPEA constatam que de
2007 a 2014, a taxa de extrema pobreza caiu 62,29% no estado, sendo o segundo da região
Sul que menos reduziu pobreza, em comparação a Santa Catarina e Paraná que também
apresentaram redução, respectivamente de 38,70% e 62,65%.
128
Gráfico 18 - Distribuição das diferenças entre tratatos e sintéticos da proporção de
pobres para a região Sul em relação as unidades da federação do cenário 4. Teste de
distribuição de Placebo.
.5
.5
.5
0
0
-.5
-.5
-.5
-1
-1
-1
-1.5
-1.5
-1.5
2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015
ano ano ano
Treated Donors Treated Donors Treated Donors
A região sul é a que apresenta a menor proporção e pobres dentre as regiões, com
destaque para o estado de Santa Catarina, que no final do período apresentou a menor
proporção de pobres do país (1,8%). Entre os fatores que contribuíram para esse resultado,
está o grande investimento em educação, fazendo com que o aumento na média de anos de
estudo de um indivíduo gere um melhor retorno salarial. Isso permitiu que as transferências
assistenciais do governo fossem pequenas em relações as demais unidades da federação.
129
Tabela 18 - Participações dos estados da região Centro-Oeste, em porcentagem,
na construção das unidades sintéticas. Cenário 4.
Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor
130
Os gráficos a seguir, mostram os resultados dos testes de placebo para os estados dessa
região com destaque para Goiás e Distrito Federal como o menos e mais desigual entre os
estados da região, respectivamente. Um ponto a ser considerado no comportamento da
pobreza da região é o seu próprio crescimento e dinamismo na constituição do Produto
Interno Bruto (PIB) do Brasil.
1
.5
.5
.5
.5
0
0
-.5
-.5
-.5
-.5
-1
-1
-1
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-1.5
-1.5
2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015 2000 2005 2010 2015
ano ano ano ano
Treated Donors Treated Donors Treated Donors Treated Donors
Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor
O gráfico para a região Centro-Oeste mostra que o Distrito Federal apresenta a maior
proporção de pobres da região (17,3%) e o Mato Grosso apresenta o menor resultado (7,7%).
No entanto, todos os estados da região apresentaram redução bastante significativa durante o
período, o que mostra que elementos macro econômicos repercutiram muito para esses
resultados, isto é, a política econômica se mostrou eficaz ante a realidade nacional. O
agronegócio impulsionou a região ter uma expansão acima da média nacional, algo que
resulta de uma atividade econômica aquecida através de investimentos, em especial
privadogernado aumento no nível de emprego, em impactos positivos na renda local.
131
4.8 Modelo do Cenário 5:Efeito fixo pobreza tratamemto.
lppobre= 3,572 - 0,402 lanosest - 0,436 lrendacapc + 0,028 lraçachef - 0,050 lsexchef
– 0,516 lpibpc + 0,198 ltxdes - 0,108 ltxmort + 0,007 lbolsfam
132
pobres, o que ficou evidenciado no período em questão. embora o governo não disponha de
uma ferramenta de análise de eficácia e nem que haja uma mensuração da mesma nas
PNADs, cabe a academia o esforço em contribuir para esse debate e avanço das políticas
públicas de mitigação da pobreza e desigualdade de renda.
133
5 Conclusão
134
Também foram analisadas as diferenças de media onde se verificou que ao longo dos
anos, aumentou a distância da renda dos que recebem e não recebem o Bolsa Família, o que
pode estar ligado a melhoria de distribuição de renda para o extrato mais alto, mas não
necessariamente para o extrato mais baixo. Não obstante, Concluiu-se que dentro do período
em questão as políticas públicas expressas em programas de transferência de renda
condicionada (PTRC), em especial o Programa Bolsa-Família (PBF) contribuíram como
importante vetor para redução da proporção de pobres e a desigualdade de renda expresso
pelo índice de Gini em todos os estados da federação, confirmando a hipótese principal deste
trabalho.
135
do índice de Gini foi o 𝑙𝑏𝑜𝑙𝑠𝑓𝑎𝑚, porém mesmo com baixo impacto, a política se mostra
importante na redução da desigualdade, sendo colocado que se o volume de recursos for
dobrado a desigualdade irá reduzir em 2,35%. É possível que o custo monetário desse volume
de investimento tenda a trazer grande benefícios sociais à longo prazo, o que está dentro da
lógica do programa.
Espera-se que este trabalho contribua de forma significativa para o avanço das
políticas sociais, despertando ainda mais o interesse ao aprofundamento da pesquisa em
relação ao tema. Ainda se tem uma grande parcela da população não alcançada pelos
programas sociais, onde é necessário ação das três esferas federativas para se identificar e
trabalhar a redução da pobreza nas regiões brasileiras e para isso é preciso desenvolver
mecanismos de análise e fiscalização eficiente e eficazes capazes de interferir e modificar a
dinâmica social, através de políticas públicas de participação social.
136
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