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Rio de Janeiro - RJ
2017
Larissa Vago Santos
Rio de Janeiro – RJ
2017
Ficha catalográfica elaborada por
CRB
Bibliografia: f. xx-xx.
CDU
3
Larissa Vago Santos
__________________________________________________
Profa. D.Sc. Maria Gabriela von Bochkor Podcameni (Orientadora)
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ)
Campus Rio de Janeiro, RJ.
__________________________________________________
Prof. D.Sc. Guilherme Cruz de Mendonça
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ)
Campus Rio de Janeiro, RJ.
__________________________________________________
Prof. M.Sc. Israel Sanches Marcellino
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
__________________________________________________
Rick Barradas Badra
Universidade de São Paulo (USP)
RIO DE JANEIRO
2017
i
AGRADECIMENTOS
ii
me colocar em contato com o Richard Smith, a quem também devo agradecer por
disponibilizar dados importantes que auxiliaram enormemente na produção deste trabalho.
À Cecília Tomassini, agradeço a disponibilidade e colaboração na produção deste
trabalho.
Agradeço ao IFRJ e especialmente ao corpo docente deste Instituto. A cada aula uma
nova inspiração com os professores incríveis, que sempre foram a minha motivação para não
abandonar minha caminhada no IFRJ. Ser aluna dos professores que compõe o curso de
Gestão Ambiental foi uma honra. Que sorte poder contar com o conhecimento e carinho de
vocês na minha trajetória acadêmica. Sem dúvidas o diferencial do IFRJ são vocês. Muito
obrigada.
Ao IFRJ também devo agradecimentos pelas pessoas maravilhosas que lá conheci.
Aos meus amigos Jéssica e Eduardo, agradeço aos momentos especiais que compartilhamos
dentro das salas de aula, pelos corredores e fora do IFRJ. Nossos encontros são garantia de
boas e sinceras risadas. Obrigada também por acreditarem em mim e por estarem ao meu
lado.
iii
SANTOS, Larissa Vago. As articulações no sistema agroecológico no estado do Rio de
Janeiro: um enfoque a partir da capacitação científica. 99p. Trabalho de Conclusão de Curso
(TCC). Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental, Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), Campus Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2017.
RESUMO
iv
SANTOS, Larissa Vago. Agroecological system and its articulations in Rio de Janeiro state:
an approach focused in scientific capacitation. 99p. Work Course Conclusion. Course of
Technology in Environmental Management, Federal Institute of Education, Science and
Technology of Rio de Janeiro (IFRJ), Campus Rio de Janeiro, RJ, Brazil, in 2015.
ABSTRACT
Brasil has a paradigm in his own production system that favors monoculture, mechanized
agriculture, chemical products use and major producers. Otherwise, alternative productions
systems such as agroecological basis are growing all over the country. This way of developing
agriculture, that respect ecological cicles and utilizes familiar agricultures and agrotoxic free
techniques, to keep enhancing and conquest even more consideration needs articulated
strategies between the diferent actors of the production system and inovation associated with
agroecology. In this way, if government develop public politics, research institutes, scientific
development and minor producers assistance with networking and cooperatives, if it is
systematized, provides advances for agroecology. So, this work looks for analyse how those
set of actors are articulating with themselves, principally research groupes based in the state
Rio de Janeiro with local producers.
v
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 10
2 REFERENCIAL TEÓRICO: SISTEMA NACIONAL DE INOVAÇÃO 20
(SNI) E ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS (APLs)
3 AGROECOLOGIA NO CONTEXTO NACIONAL E LOCAL – 25
ESTADO DO RIO DE JANEIRO: HISTÓRICO E CONCEITOS
3.1 AGROECOLOGIA NO BRASIL 25
3.2 AGROECOLOGIA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 26
4 MAPEAMENTO DO SISTEMA AGROECOLÓGICO NO RIO DE 30
JANEIRO
4.1 INTRODUÇÃO 30
4.2 SUBSISTEMA PRODUTIVO LOCAL 30
4.3 SUBSISTEMA DE DEMANDA LOCAL 35
4.4 SUBSISTEMA DE POLÍTICA 40
4.4.1. Políticas nacionais 40
4.4.2 Políticas estaduais – Rio de Janeiro 45
4.5 SUBSISTEMA CIENTÍFICO 47
4.6 PLANO NACIONAL DE AGROECOLOGIA E PRODUÇÃO ORGÂNICA 54
(PLANAPO): ARTICULAÇÃO ENTRE POLÍTICAS PÚBLICAS,
ESTRUTURA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA E AGRICULTORES
4.6.1 Lei de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) 55
4.6.2. Núcleos de Estudos em Agroecologia (NEA’s) 56
4.6.3 Ensino básico, superior e profissionalizante 56
4.6.4 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) 58
5 METODOLOGIA 62
6 MAPEAMENTO DA ESTRUTURA CIENTÍFICA NO ESTADO DO 66
RIO DE JANEIRO
6.1 ANÁLISE DOS GRUPOS DE PESQUISA 66
6.1.1 Evolução temporal 66
6.1.2 Análise das Linhas de pesquisa 68
6.1.3 Classificação por município 69
vi
6.1.4 Classificação por áreas do conhecimento 70
6.1.5 Análise das relações com as instituições parceiras 71
6.2 ANÁLISE DOS PROJETOS DE PESQUISA, EXTENSÃO E 74
DESENVOLVIMENTO
7 CONCLUSÃO 80
REFERÊNCIAS
APÊNDICE
ANEXOS
vii
1. INTRODUÇÃO
5
Por áreas alimentares, concebe uma determinada região geográfica que dispõe de recursos típicos, dieta
habitual baseada em determinados produtos regionais e com seus habitantes refletindo, em suas características
biológicas e sócio-culturais, a influência marcante da dieta. Por área de fome endêmica, concebe uma
determinada área geográfica em que pelo menos metade da população apresenta nítidas manifestações de
carências nutricionais permanentes. Por áreas de fome epidêmica, concebe uma determinada área geográfica em
que pelo menos metade da população apresenta nítidas manifestações nutricionais transitórias. Por áreas de
subnutrição, concebe uma determinada área geográfica em que os desequilíbrios e as carências alimentares,
sejam em suas formas discretas ou manifestas, atingem grupos reduzidos da população. E por mosaico alimentar
brasileiro, concebe a diferenciação regional dos tipos de dieta existentes no país, oriundas das variadas categorias
de recursos naturais (alimentos) e das distintas etnias que constituíram a nação brasileira.
6
É crucial também mencionar a importância histórica do sociólogo Herbert de Souza, mais conhecido
como Betinho, no combate a fome no Brasil. Em 1993, Betinho lançou o programa Ação da Cidadania, tendo
como objetivo a mobilização de todos os segmentos da sociedade brasileira na busca de soluções para as
questões da fome e da miséria. Assim, apesar do problema da fome no Brasil ser histórico, este só se tornou
visível devido à atuação de Josué de Castro, que desnaturalizou a fome, classificando-a como ―flagelo fabricado
pelos homens contra outros homens‖, e Betinho, que associou o direito à alimentação à cidadania. Foge ao
11
ressaltar que Josué de Castro já denunciava os significativos dados sociais, ecológicos e
culturais associados à produção do modelo de monocultura no País.
Aos interesses da sua monocultura intempestiva, destruindo quase que inteiramente
o revestimento vivo, vegetal e animal da região, subvertendo por completo o
equilíbrio ecológico da paisagem e entravando todas as tentativas de cultivo de
outras plantas alimentares no lugar, degradando ao máximo, deste modo, os recursos
alimentares da região [...] Contudo, mais destrutiva do que esta ação direta da cana
sobre o solo é a sua ação indireta, através do sistema de exploração da terra que a
economia açucareira impõe: exploração monocultora e latifundiária (CASTRO,
1982, p. 115-116).
escopo deste trabalhar analisar mais profundamente a questão da fome no Brasil. Para uma leitura mais
aprofundada, recomenda-se Josué de Castro (1982). .
12
assistência técnica e proporcionar maior segurança aos agricultores familiares (FAO, 2014). A
FAO atenta também que a alimentação saudável é um direito da população7 e para tal as
dietas precisam garantir alimentos nutritivos e ricos em proteínas. Quem pode contribuir
bastante para isso são os pequenos produtores, que são responsáveis por mais de 70% dos
alimentos que chegam diariamente às mesas brasileiras (BRASIL, 2015).
Porém, apesar deste importante passo, o cenário agrário brasileiro é complexo.
Atualmente, o País ainda estimula os métodos da RV e estes continuam sendo o paradigma de
produção mais expressivo no território nacional. O Brasil lidera o consumo mundial de
agrotóxico, com mais de um milhão de toneladas por ano (INCA, 2015). Além disso, a
monocultura também prevalece em território nacional, apresentando grande relevância nas
culturas de soja, cana-de-açúcar, café e laranja (BAIN& COMPANY, 2014). A safra de
2015/2016 de soja, por exemplo, permitiu que o Brasil ocupasse a segunda colocação na
produção mundial do grão (95,631 milhões de toneladas), atrás apenas dos Estados Unidos
(106,934 milhões de toneladas). Além disso, a produção de soja ocupou no mesmo período
uma quantidade total de 33,177 milhões de hectares de área plantada, enquanto o maior
produtor mundial totalizou 33,109 milhões de hectares (EMBRAPA, 2016).
Apesar de o País alcançar sucessivos recordes na produção agrícola a cada ano, é
importante salientar que esta produção possui um elevado ônus para a sociedade. A
monocultura de commodities tende a gerar poucos empregos e ter um elevado desgaste sobre
o solo. Ademais, conforme já salientado acima, os expressivos números na produção são
sustentados por políticas públicas que destinam parte dos recursos públicos para incentivar o
paradigma produtivo do País.
Grandes bancos nacionais, como o BNDES, disponibilizam financiamentos para a
aquisição de máquinas, equipamentos, implementos agrícolas e bens de informática e
automação. A exemplo, o financiamento intitulado Inovagro, que disponibiliza verba para a
incorporação de inovações tecnológicas nas propriedades rurais, visando ao aumento da
7
A Constituição Federal (1988) garante no Art. 6º que ―são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação,
o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados‖. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), no artigo 25
declara que:
―1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e à sua família saúde, bem-estar,
inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis e direito à
segurança em caso de desemprego, doença invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de
subsistência em circunstâncias fora de seu controle‖.
13
produtividade e melhoria de gestão (BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO,
2017)8.
Os impactos ambientais, socais e culturais ocasionados pela agricultura da RV, como a
poluição e envenenamento dos recursos naturais, dos alimentos e da saúde humana, a perda da
biodiversidade, a destruição dos solos e o assoreamento e contaminação dos rios e águas
subterrâneas continuam a ocorrer. Além disso, o enfraquecimento das comunidades locais e
tradicionais e suas formas de desenvolver a terra e a agricultura também é fruto do arquétipo
de produção agrícola predominante. Assim, estamos diante de um sistema que causa exaustão
dos recursos naturais, prejudica a saúde dos seres vivos e desestimula os conhecimentos
arcaicos e não é capaz de alimentar a população.
Organizações nacionais como Instituto Nacional de Câncer (INCA), a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) alertam
para os potenciais riscos que o uso expressivo de agrotóxicos pode causar à saúde humana.
Analogamente, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), o Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) bem como o Ministério do Meio Ambiente
(MMA) também enfatizam os prejuízos ambientais que os agrotóxicos podem provocar à
natureza.
Segundo a Segurança Alimentar e Nutricional da presidência da República, o maior
desafio para a segurança alimentar no Brasil é a promoção de um novo modelo de produção
de alimentos, baseado na agroecologia, sem o uso de sementes transgênicas, agrotóxicos e
fertilizantes químicos, em pequenas propriedades familiares, e a regulação do abastecimento e
distribuição (BRASIL, 2013).
Assim, o principal ponto a ser superado é alimentar uma população em crescimento
sem degradar a base de recursos naturais. Segundo Altieri e Nicholls (2012), isto não será
possível sem uma alteração significativa no modelo de agricultura. Estes autores afirmam que
é necessária uma mudança de abordagem e, para isso, é preciso dar maior ênfase para
sistemas mais sustentáveis, como a agroecologia, que proporciona a alternativa teórica e
prática para alcançar este novo modelo.
8
No Brasil, o setor rural costuma receber fortes incentivos econômicos. O Governo Militar, por exemplo, adotou
medidas para consolidar a implantação deste modelo. Nos anos de 1960 e 1970, assumiu-se a prioridade do
subsídio de créditos agrícolas para estimular a produção em larga escala, as esferas agroindustriais, as empresas
de maquinários e de insumos industriais para uso agrícola e a agricultura de exportação. Pode haver alguma
alteração na especificação dos incentivos econômicos, mas a agricultura do agronegócio associada à RV sempre
foi apoiada por incentivos (econômicos e políticos) dados pelo governo. Para um estudo mais aprofundado ver
Moreira (2000), Christoffoli (2006).
14
A agroecologia pode ser definida como:
[...] uma nova abordagem que integra os princípios agronômicos, ecológicos e
socioeconômicos à compreensão e avaliação do efeito das tecnologias sobre os
sistemas agrícolas e a sociedade como um todo. [...] Uma abordagem agroecológica
incentiva os pesquisadores a penetrar no conhecimento e nas técnicas dos
agricultores e a desenvolver agroecossistemas com uma dependência mínima de
insumos agroquímicos e energéticos externos. O objetivo é trabalhar com e
alimentar sistemas agrícolas complexos onde as interações ecológicas e sinergismos
entre os componentes biológicos criem, eles próprios, a fertilidade do solo, a
produtividade e a proteção das culturas (ALTIERI, 1987, p.23).
9
Uso de variedades locais e melhoradas de cultivos e animais para aumentar a diversidade genética e melhorar a
adaptação às mudanças nas condições bióticas e do meio ambiente; evitar o uso desnecessário de agrotóxicos e
outras tecnologias que impactam negativamente o meio ambiente e a saúde; utilizar de forma eficiente os
recursos (nutrientes, água, energia, etc.), reduzir o uso de energia não renovável e diminuir a dependência de
insumos externos por parte dos agricultores; usar de forma produtiva o capital humano, combinando
conhecimento científico tradicional para promover inovação; promover a igualdade social através do
reconhecimento da identidade cultural, métodos e redes de agricultores participativas para aumentar a
solidariedade e o intercâmbio de inovações e tecnologias para resolver problemas (KOOHAFKAN et al., 2011
apud ALTIERI e NICHOLLS, 2012).
15
meio ambiente e, consequentemente à segurança alimentar (ALTIERI, 2012). Assim, a
agroecologia tem se revelado como uma nova abordagem competente para conciliar as
necessidades do meio ambiente com as necessidades alimentares.
Entretanto, existem críticas à agroecologia e alguns autores ainda desconfiam do
perigo do uso de agrotóxicos para saúde humana. Estas são temáticas polêmicas e que
possuem correntes distintas. Navarro (2013) critica os sistemas agroecológicos e argumenta
de maneira favorável aos sistemas uniformes de produção moderna (monocultivos) e afirma
também que o desempenho produtivo da agricultura brasileira produz sustentabilidade. Em
resposta, Silva (2013) ressalta que, na natureza, a uniformidade significa vulnerabilidade e
reforça que o modo capitalista global de produção e consumo replicado pelo agronegócio é a
causa profunda da vulnerabilidade do planeta.
Segundo Petersen (2014):
[...] está justamente no arranjo da perspectiva agroecológica a chave para a
compreensão das estratégias locais adotadas para desativar os mecanismos geradores
de dependência impostos pela lógica da mercantilização de parcelas crescentes do
mundo natural e do mundo social. Vem daí também a força social emergente capaz
de contrapor com suas respostas concretas o modelo único de desenvolvimento
propugnado pelos agentes do mercado globalizado em aliança com setores
hegemônicos do estado (ibid, 2014; apud Gollo et al., 2014, p.13).
17
A fim de alcançar os objetivos específicos e confirmar a hipótese, a metodologia
adotada primordialmente foi a análise dos grupos de pesquisa (GP) cadastrados no DGP-
CNPq. Esta base de dados foi utilizada com filtros que delimitaram o escopo da pesquisa ao
ERJ. Nela, foi possível destacar apenas os grupos que possuíam linhas de pesquisa
absolutamente diretas em agroecologia. Assim, embora seja reconhecido que outros temas
estão intimamente relacionados à agroecologia, apenas as palavras-chave ―agroecologia‖ e
―agroecológico‖ e ―agroecossistemas‖ foram consideradas. Posteriormente, verificou-se ainda
o currículo Lattes dos pesquisadores líderes das linhas de pesquisa em agroecologia, a fim de
verificar a interação entre os projetos aos quais estes pesquisadores estavam vinculados e os
agricultores familiares. A partir dos projetos, também foram consideradas as instituições
relacionadas a estes trabalhos.
Por fim, o levantamento deste banco de dados permitiu a elaboração de gráficos, que
revelaram dados quantitativos que possibilitaram, juntamente com outras análises, a
percepção de informações qualitativas.
Além da presente introdução, o trabalho está estruturado em cinco capítulos. O
primeiro apresenta os principais conceitos da teoria de sistema nacional de inovação e
arranjos produtivos locais. Optou-se por este arcabouço teórico por julgar essencial adotar
olhar sistêmico sobre o objeto estudado, isto é, incluir as diversas dimensões associadas à
agroecologia. Sequencialmente, o capítulo seguinte discorre sobre a agroecologia em duas
seções, uma destinada a agroecologia no contexto nacional e outra em relação ao estado do
Rio de Janeiro.
Já o terceiro capítulo tem como objetivo realizar um mapeamento preliminar do
sistema local de agroecologia. Neste trabalho, definiu-se a escala local como o estado do Rio
de Janeiro. O capítulo divide-se em seis seções, são elas: introdução, mapeamento do
subsistema produtivo; mapeamento do subsistema de demanda; mapeamento do subsistema
de política, que neste caso jugou-se necessária a apresentação não apenas das políticas locais,
mas também das políticas nacionais; mapeamento do subsistema científico e, por fim uma
seção destinada a analisar o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica. Esta
última seção foi acrescentada, pois se percebeu que este plano se constituía como o eixo
integrador dos quatro subsistemas identificados e influenciava diretamente elementos
essenciais ao sistema de agroecologia, tais como a Lei de Assistência Técnica e Extensão
Rural, os Núcleos de Estudo em Agroecologia, ensino básico, superior e profissionalizante e a
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.
18
No quarto capítulo é apresentada a metodologia utilizada para realizar o estudo
empírico, que consiste no mapeamento da estrutura científica no estado do Rio de Janeiro. O
quinto capítulo, que apresenta o estudo empírico, é dividido em cinco seções. A primeira se
destina a realização de uma análise temporal, a segunda é voltada a um estudo regional, a
terceira se destina às áreas do conhecimento; a quarta foca nas relações dos grupos de
pesquisa com as instituições parceiras e por fim, uma análise dos projetos de pesquisa,
extensão e desenvolvimento é apresentada. O trabalho finaliza com as conclusões.
19
2. REFERENCIAL TEÓRICO: SISTEMA NACIONAL DE INOVAÇÃO (SNI) E
ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS (APLs)
20
Estes autores também apontam para o caráter sistêmico, interativo e social do processo
de inovação e reforçam a importância que se estabeleça a integração entre as organizações e
instituições que constituem o sistema de inovação.
Recortes espaciais foram conferidos ao SNI, sendo estes nacional, regional e local.
Cassiolato, Lastres e Maciel (2003) enfatizaram os aspectos locais para o desenvolvimento do
SNI. Os sistemas espaciais se diferem em relação às fronteiras geográficas nas quais atuam. O
que aproxima estes sistemas são os processos históricos para o desenvolvimento de
identidades e de construção de vínculos territoriais, a partir de uma base social, cultural,
política e econômica que se assemelham (CASSIOLATO, LASTRES, 2005; apud
PODCAMENI 2014).
Metcalfe (1995) enfatiza que é sobre a estrutura do SNI que os governos elaboram
suas políticas de inovação. Também vale ressaltar que as ―políticas de Estado desempenham
papel-chave para o desenvolvimento das nações, principalmente na indução do
desenvolvimento de seus sistemas de produção e inovação‖ (PODCAMENI, 2014, p.46).
Uma abordagem ampla do SNI inclui subsistemas diversificados e capazes de
interagir, influenciados por diversos aspectos já citados acima. Estes subsistemas são
divididos em quatro frentes e para o desenvolvimento satisfatório do SNI é absolutamente
necessários que elas estejam em constante diálogo. O quadro abaixo apresenta estes
subsistemas.
21
Políticas públicas de ciência, tecnologia e
inovação (CTI),
Políticas públicas industrial e setorial - ditas
Políticas e Financiamento explícitas - e as políticas macroeconômica,
comercial, fiscal - ditas implícitas –
Regulação
Formas de financiamento.
Padrão de distribuição de renda
Estrutura de consumo
Demanda Organização social
Demanda pública, entre outros.
10
A RedeSist já adotava o arcabouço teórico de Sistema Nacional de Inovação, que foi desenvolvimento
inicialmente na Europa e nos EUA. Assim, a utilização deste arcabouço teórico no Brasil não capturava
plenamente as heterogeneidades regionais que o Brasil apresenta. Desta forma, recomenda-se que o arcabouço
teórico do SNI seja complementado com as uma análise regional, a fim de dar conta das heterogeneidades
regionais.
22
O conceito de APL também considera que a produção e as capacitações necessárias à
inovação são sistêmicas e localizadas no território. Estes arranjos são considerados locais
quando algumas características em comum são identificadas, como:
proximidade geográfica, especialização setorial, predominância de pequenas e
médias empresas, estreita colaboração entre firmas, competição entre firmas baseada
na inovação, identidade sócio-cultural com confiança, organizações de apoio ativas
na prestação de serviços comuns, atividades financeiras, etc., além da promoção de
governos regionais e municipais‖ (SCHMITZ, 1999 apud MATOS e
STALLIVIERI, 2016, p.5).
23
Figura 1. O ASPIL e o Subsistema de Produção e Inovação.
Fonte: MATOS el. al., 2017.
24
3. AGROECOLOGIA NO CONTEXTO NACIONAL E LOCAL – ESTADO DO RIO
DE JANEIRO: HISTÓRICO E CONCEITOS
É possível afirmar que foi a partir dos anos de 1970 que as críticas frente à
modernização agrícola, o padrão industrial de desenvolvimento e a relação sociedade-
ambiente passaram a se organizar de forma mais estrutural e a compor um contra movimento
mais organizado no cenário global. A agricultura dita alternativa, que surgiu como um
contraponto ao formato organizativo da agricultura convencional, valoriza a produção
ecologicamente sustentável, socialmente justa, tecnologicamente adequada, economicamente
viável e culturalmente aceita, foi motivada por organizações politicamente engajadas que
tiveram na agricultura ecológica a esperança de uma sociedade democrática e com a
perspectiva de transformação social (BRANDENBURG, 2002).
No Brasil, esse movimento de contestação ganhou força na década seguinte
culminando com a realização de três Encontros Brasileiros de Agricultura Alternativa, em
1981 na cidade de Curitiba, PR, em 1984 em Petrópolis, RJ, e em 1987 em Cuiabá, MT
(ABREU et al., 2009). Foi na década de 1980 que a agroecologia se popularizou, graças aos
trabalhos dos acadêmicos Miguel Altieri e Stephen Gliessman. Esses autores deram um
enfoque científico às pesquisas empreendidas nas comunidades tradicionais campesinas
(ANDRADE, 2014).
A agroecologia é um tema abrangente, multifacetado e interdisciplinar. No ano de
2006 um livro intitulado ―Marco Referencial em Agroecologia‖ foi publicado pela Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) que contou com a colaboração de um grupo
de trabalho das diversas unidades da Embrapa. O trabalho buscou apresentar ideias para o
debate sobre as bases conceituais da agroecologia, no sentido de contribuir para a construção
coletiva de um programa institucional com enfoque agroecológico na Embrapa (Embrapa,
2006). Desta forma, foram compilados diversos conceitos para o termo ―agroecologia‖.
25
Considera-se, para a construção e desenvolvimento do presente trabalho a definição de
agroecologia utilizada por Altieri (1998), na primeira edição do seu livro ―Agroecologia: a
dinâmica produtiva da agricultura sustentável‖. Ele definiu que a agroecologia é:
[...] uma nova abordagem que integra os princípios agronômicos, ecológicos e
socioeconômicos à compreensão e avaliação do efeito das tecnologias sobre os
sistemas agrícolas e a sociedade como um todo (ALTIERI,1998, p.23).
26
tradicional foram a Associação de Agricultores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro
(ABIO), a ONG COONATURA e o Grupo de Agricultura Ecológica (GAE). Neste
movimento também contribuíram as primeiras ocupações de terra que foram se transformando
em assentamentos e experimentando práticas agroecológicas (ARTICULAÇÃO DE
AGROECOLOGIA DO RIO DE JANEIRO, 2017).
O estado também recebeu experiências de âmbito e contribuição nacional para o
tema, como a Agricultura Familiar e Agroecologia (AS-PTA) e a ―Fazendinha
Agroecológica‖ na Embrapa Agrobiologia. Implantada em 1993, esta unidade da Embrapa
merece destaque, pois é responsável pelo desenvolvimento de projetos que contribuem para o
fortalecimento e aprimoramento dos sistemas agroecológicos, além de aproximar agricultores
da região com os pesquisadores da empresa. Vale ressaltar que, apesar de estar localizada no
Rio de Janeiro, a ―Fazendinha‖ produz conhecimento científico que colabora com todo o
território nacional, pois suas conclusões podem ser replicadas em outras regiões.
O Rio de Janeiro também foi palco de várias articulações nacionais em prol deste
movimento, como o Encontro Brasileiro de Agricultura Alternativa e o Encontro Nacional de
Comunidades Alternativas, ambos na década de 80 e o Seminário Nacional de Agricultura
Alternativa no início da década de 90 (ARTICULAÇÃO DE AGROECOLOGIA DO RIO DE
JANEIRO, 2017).
A partir de 2006 iniciou-se a trajetória de encontros estaduais de agroecologia
motivada pela necessidade crescente de fomentar uma articulação agroecológica no estado.
Em 2010 houve o segundo encontro e no ano de 2013, o terceiro (SILVA, 2011). Em janeiro
do ano presente, agricultores familiares, movimentos sociais e instituições se uniram para
planejar o próximo evento. O ano de 2017 também marca os 10 anos da Articulação de
Agroecologia do Rio de Janeiro (AARJ), movimento de grande relevância para a
identificação, sistematização e mapeamento de experiências agroecológicas que se articulam
no estado com o objetivo de fortalecer as iniciativas agroecológicas (COMUNICAÇÃO
OBSERVATÓRIO DE TERRITÓRIOS SUSTENTÁVEIS E SAUDAVEIS, 2017).
O Rio de Janeiro é comumente percebido como um estado predominantemente urbano,
o que acaba por esconder a multiplicidade e os distintos grupos sociais envolvidos na
agricultura familiar e também nos processos agroecologicos (PEREIRA et al., 2009).
Segundo Gollo et al.,(2014):
Essas experiências são, no entanto, rurais e urbanas, de produção e de consumo,
agrícolas e não agrícolas. São protagonizadas por atores portadores das mais
variadas identidades socioculturais (agricultores (as) familiares, assentados (as),
quilombolas, caiçaras, agricultores(as) urbanos(as), consumidores(as), etc.) e
27
afiliações institucionais (organizações e movimentos da agricultura familiar e da
reforma agrária, ONGs, cooperativas de serviço e de consumo, instituições oficiais
de ensino, de pesquisa e de extensão rural) (p.10).
28
que tanto se determinam pela proximidade física, quanto pela similaridade dos processos de
construção histórica relacionados à agroecologia e outros processos da terra (GOLLO et al.,
2014).
29
4. MAPEAMENTO DO SISTEMA AGROECOLÓGICO NO RIO DE JANEIRO
4.1. INTRODUÇÃO
O presente capítulo tem como objetivos discorrer sobre os subsistemas que compõe o
Sistema de Inovação de agroecologia, identificados no capítulo 1, apresentar um mapeamento
preliminar destes subsistemas e posteriormente analisar a articulação destes subsistemas
através do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica. O espaço disponível não
permite maior detalhamento de cada um dos subsistemas na sua totalidade espacial, ou seja,
internacional, nacional, regional e local. Para o presente trabalho coube apresentar os
subsistemas locais, restringindo a análise ao território do ERJ, com uma ressalva para o
subsistema de políticas públicas, que foi exposto também no contexto nacional. Esta exceção
foi necessária, pois a política brasileira federal que aborda a agroecologia é bem estruturada e
possui forte influencia sobre a dinâmica local. Seguindo nesta linha, percebeu-se ao longo do
trabalho que o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica possui caráter sistêmico,
que conecta todos os subsistemas do Sistema de Inovação de Agroecologia. Desta forma, foi
dado um destaque especial a este Plano.
30
tendo em vista que não há um levantamento estatístico tão completo quando Censo
Agropecuário do IBGE e levando em consideração uma forte correlação entre a produção
familiar e a agroecologia, estes dados sobre agricultura familiar pode ser considerado uma
proxi importante para a produção agroecológica no ERJ.
Esta forma ecológica de desenvolver a agricultura vem sendo percebida como uma
alternativa para a viabilização econômica e social da agricultura familiar. Desta forma, o
subsistema produtivo da agroecologia abriga conhecimentos tradicionais, desenvolvidos por
pequenos produtores e possui um forte caráter local. Entretanto, não se pode confundir e
associar esta base de conhecimento convencional a um sistema produtivo incapaz e inferior.
―A capacidade inovadora da agricultura familiar agroecológica permite aumentar a produção,
o abastecimento alimentar e a oferta de produtos para o mercado e ainda diminuir os riscos
das mudanças climáticas‖ (SERVIÇO DE ASSESSORIA A ORGANIZAÇÕES
POPULARES RURAIS, 2017).
Outro levantamento importante sobre a produção agroecologia no ERJ foi realizado
pela rede Rio Alimentação Sustentável (RAS), fundada em 2013. Esta rede objetiva fomentar
a cadeia de alimentos saudáveis e sustentáveis no Brasil 11.
Através da articulação entre diversas organizações membros e parceiros da RAS, esta
rede elaborou uma ampla base de dados que compilou uma série de listagens a nível nacional
de: produtores e fornecedores com algum tipo de certificação orgânica ou de bem animal;
produtores presentes no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos (CNPO) do MAPA;
Agroindústrias do Programa Prosperar12 da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
do Rio de Janeiro (Emater-Rio); cooperativas e associações de agricultura familiar enviada
pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS); além de fornecedores de carnes e ovos.
Da mesma forma que nem toda agricultura familiar pode ser considerada de base
agroecológica, nem todo produto orgânico é necessariamente produzido nestas bases.
Entretanto, uma produção agroecológica provavelmente é realizada por agricultores familiares
e fatalmente desenvolve produtos orgânicos (ainda que este não possua o selo nacional de
produto orgânico). Dessa forma, os dados de produção orgânica fornecida pela RAS foram
11
A RAS é uma rede composta por 35 organizações da sociedade civil, governo e instituições de pesquisa, sob
coordenação da WWF- Brasil e da Conservação Internacional (CI-Brasil). A RAS conta com representantes de
ministérios, secretarias do estado e do município do Rio de Janeiro, empresas públicas, academia, organizações
de base comunitária e dos principais selos de certificação. Seu primeiro foco foi a oferta de alimentos para os
Jogos Olímpicos de 2016, que ocorreram na cidade do Rio de Janeiro, e seu legado, em parceria com o Comitê
Rio 2016.
12
Este Programa será apresentado na seção 4.4.2.
31
utilizados neste trabalho como importante proxi para o sistema produtivo agroecológico, pois
dialogam com a estratégia agroecológica13.
Os dados disponibilizados pela RAS apresentam a existência no ERJ de 333
produtores e fornecedores com algum tipo de certificação orgânica. Neste caso, merece
destaque a ABIO com 304 das certificações. Esta associação concede os certificados por meio
do Sistema Participativo de Garantia (SPG) que envolve todos os componentes da rede de
produção orgânica. Agricultores, produtores, extrativistas, comerciantes, consumidores e
técnicos compartilham a responsabilidade pela avaliação da conformidade das unidades de
produção frente aos regulamentos da agricultura orgânica. O Sistema Participativo de
Garantia da ABIO (SPG-ABIO) além de fornecer aos produtores o Certificado de
Conformidade Orgânica, propicia a formação e a capacitação dos agricultores, produtores e
extrativistas, de modo a ajudá-los a incorporar a seus sistemas produtivos os princípios da
agroecologia, que são a base da agricultura orgânica (ASSOCIAÇÃO DE AGRICULTORES
BIOLÓGICOS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, 2016).
Através do Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos (CNPO) também é possível
observar a relação de produtores orgânicos presentes no ERJ. No ultimo levantamento
realizado em maio de 2017, existiam no estado um total de 472 agricultores certificados no
estado.
A Emater-Rio, totaliza 133 produtores ou agroindústrias cadastrados no do Programa
Prosperar. A Emater-Rio é uma importante instituição em relação à agricultura no ERJ.
Dentre outras atribuições, a empresa colabora com o planejamento, a coordenação, a
formalização e execução de programas e projetos de ATER no ERJ, visando à difusão de
conhecimento de natureza técnica, econômica e social, para aumento da produção e da
produtividade agropecuária e a melhoria das condições de vida do meio rural do ERJ, além de
prestar aos produtores rurais serviços necessários à produção agropecuária (EMATER-RIO,
2017).
Além disso, 11 associações e cooperativas de agricultura familiar foram enviadas pelo
MDS. É preciso sublinhar a importância destas instituições no processo de viabilização das
atividades econômicas, possibilitando aos trabalhadores e pequenos proprietários um caminho
efetivo para participar do mercado em melhores condições de concorrência. Os pequenos
produtores, que geralmente possuem dificuldades similares para obter um bom desempenho
econômico, têm na transformação da participação individual e familiar em participação grupal
13
Agradeço à rede RAS pelo apoio na elaboração deste trabalho, em especial Richard Smith.
32
e comunitária uma alavanca. O associativismo é um mecanismo que acrescenta capacidade
produtiva e comercial a todos os membros, colocando-os em melhor situação para viabilizar
suas atividades, além de promover a troca de experiências e a utilização de uma estrutura
comum (AMARAL, 2017).
Além das associações, as cooperativas também são organizações que visam à
cooperação e ajuda mútua, com gestão democrática e participativa, com objetivos econômicos
e sociais comuns. O principal objetivo do cooperativismo é comercializar a produção dos seus
membros, permitindo a geração de renda dos seus cooperados além da possibilidade de
reinvestir parte desses benefícios para o bem comum do grupo (AMARAL, 2017). Desta
forma, quão maior for a união entre os pequenos agricultores familiares, maior a capacidade
de inserção dos produtos agroecológicos no mercado, o que, consequentemente possibilita o
aumento da produção e a geração de renda. Por fim, outro dado disponibilizado pela RAS, é a
presença de 16 produtores, fornecedores ou projetos que produzem ovos orgânicos no ERJ.
O conjunto de estatísticas apresentadas, apesar de não capturar a totalidade de
produção agroecológica no ERJ, são os dados mais atuais e estruturados que este sistema
produtivo possui. A ausência de uma base de dados com este levantamento tem sido apontada
como um dos obstáculos ao desenvolvimento da agroecologia no ERJ. Importantes
instituições governamentais como o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(INCRA) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), assim como
instituições não governamentais, como a Rio Alimentação Sustentável (RAS) já se
posicionaram sobre a necessidade de realizar tal levantamento e estão se articulando no
sentido de iniciar este mapeamento.
Ademais, é importante ressaltar que este levantamento apresentado se restringe apenas
aos produtores e não inclui elementos centrais do subsistema produtivo como as etapas de
transporte, armazenamento e comercialização dos produtos agroecológicos. Há importantes
debates sobre como reduzir os custos nestas etapas da cadeia produtiva. Um aspecto
identificado como essencial para o sistema produtivo conseguir reduzir tais custos é a
necessidade de uma maior aproximação entre consumidores e produtores, isto é, a promoção
de Circuitos Curtos de Comercialização (CCC). Esta discussão será retomada no subsistema
de demanda. Adicionalmente, discute-se a necessidade de existência de armazéns públicos
nos centros urbanos para que os agricultores possam estocar seus produtos, além da
33
necessidade de haver uma promoção de mais espaços para comercialização e feiras de
produtos agroecológicos14.
A AARJ disponibiliza em seu site uma lista que apresenta os locais onde é possível
adquirir produtos agroecológicos. A lista indica algumas associações e cooperativas de
produtores localizadas no Rio de Janeiro e também em outros estados, mas que chegam
através de logística ate os consumidores cariocas. Além disso, são listadas algumas feiras
onde os produtores comercializam seus produtos.
14
Foge ao escopo deste levantamento preliminar aprofundar tais discussões. Recomenda-se como forma de
continuação do presente trabalho que estes elementos do sistema produtivo local do ERJ sejam analisado em
maior profundidade.
34
34. QUILOMBOLAS DO SAPÊ DO NORTE
35. RECA
36. Restaurante Metamorfose
37. Sitio Desiderata
38. Sítio das Graúnas (Antônio Soares Castor)
39. Sitio Pimenta (Assentamento Sol da Manhã)
40. TerraUna – Produtos da Mantiqueira
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da Articulação de Agroecologia do Rio de Janeiro (AARJ).
35
sociais, pesquisadores e formuladores de políticas públicas (NIEDERLE, 2013). Portanto, a
percepção dos consumidores acerca de uma alimentação mais saudável favorece a demanda
por produtos agroecológicos além de fomentar a pesquisa e de dar voz à sociedade civil
articulada a fim de participar no processo de construção, acompanhamento e monitoramento
transparente, e avaliação das políticas públicas (BRASIL, 2013).
A Sociologia Econômica considera outra perspectiva para o estudo dos mercados que
não a capitalista. Aqui não cabe aprofundar conceitos sobre sociologia econômica, mas
considera-se neste trabalho
os mercados como construção social, onde as relações sociais constituem as formas
de comercialização e, estas não seguem a ordenação estrita dos aspectos
econômicos, agregando as dimensões políticas (ordenamento jurídico-institucional),
sociais (vínculos construídos com base na confiança entre produtor e consumidor) e
culturais (relativos aos valores compartilhados por determinados atores sociais, as
tradições morais e religiosas) (SILVEIRA et al., 2009, p.3).
36
Figura 3. Tipologia de circuitos curtos de comercialização de produtos ecológicos no Brasil.
Fonte: Darolt (2013)
37
Figura 4. Características de propriedades que trabalham com circuitos curtos de comercialização de alimentos
ecológicos.
Fonte: Darolt (2013)
38
agroecológicos/orgânicos, possibilitando a compra desses produtos a preços acessíveis e ainda
apoia as iniciativas desses produtores (REDE ECOLOGICA, 2017).
A experiência da Rede Ecológica aponta para especificidades dos grupos de
consumo, que os diferenciam de outras formas de comercialização de produtos
agroecológicos. Nos grupos de consumidores, a autogestão é um elemento
importante, as definições de compra são compartilhadas e a aproximação com os
produtores se dá enquanto organização coletiva. O acúmulo de conhecimentos e
saberes favorece mudanças nas práticas cotidianas, abrindo caminho para outra
realidade humano-social do sistema alimentar, porque são as escolhas dos
consumidores que constroem essa realidade (CINTRÃO, 2015, p.14).
15
A pesquisa contou com a participação voluntária de 5 grupos de consumo de diferentes regiões do país:
SISCOS em Alta Floresta (MT), Rede Ecológica no Rio de Janeiro (RJ), Rede Moinho em Salvador (BA),
Movimento de Integração Campo-Cidade (MICC) em São Paulo (SP) e Rede Guandu em Piracicaba (SP). Foi
coordenada pela pesquisadora e engenheira agrônoma Morgan e Retière (Rede Guandu / Instituto Terra Mater /
Piracicaba). E foi viabilizada por meio do projeto ―Produção e consumo responsável nas redes territoriais‖,
realizado pelo Instituto Kairós em parceria com a Secretaria Nacional de Economia Solidária do Ministério do
Trabalho e Previdência Social (SENAES/MTPS).
39
de acordo com a pesquisa (KAIRÓS, 2016). Assim, além da mudança de percepção dos
consumidores sobre alimentação, a justa introdução dos produtos agroecológicos no mercado
capaz de atender a demanda, também depende da mudança de paradigma do local onde se
adquire esses alimentos.
O Brasil tem sido citado como referência em ações públicas (GUZMÁN 2002,
MOLINA 2009) direcionadas ao fortalecimento da agricultura familiar com base nos
princípios da agroecologia. No País, estratégias de produção, de comercialização e de acesso à
educação adequada aos agricultores e também políticas de meio ambiente e de saúde para esse
público fazem parte do escopo brasileiro. Desta forma, as estratégias estabelecidas
nacionalmente pretendem integrar um conjunto de ações de apoio a agroecologia não só para
a produção, mas considerando também os agricultores e agricultoras familiares (ARABI,
2015).
As políticas públicas são relevantes na medida em que apontam para a possibilidade
de estabelecimento de um projeto nacional capaz de auxiliar de forma decisiva na transição
agroecológica, percebida como condição primordial para reorientar o modelo de
desenvolvimento rural e agrícola na busca de mais sustentabilidade econômica, ambiental e
social (CAPORAL; PETERSEN, 2012).
A transição de um modelo que degrada e contamina o meio ambiente e a saúde e que é
socialmente excludente, para outro, com características opostas, como sugere a perspectiva
agroecológica, enquadra-se nos objetivos de defesa dos direitos fundamentais previstos como
um marco jurídico na Constituição Federal. Além disso, o art. 6º considera como direitos
sociais ―a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição‖ (BRASIL, 1988), trazendo assim o
reconhecimento do direito à alimentação. Ainda, a Declaração Universal dos Direitos
40
Humanos de 1948, em seu art. XXV, dispõe que ―toda pessoa tem direito a um padrão de vida
capaz de assegurar para si e sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação‖. Assim
posto, estes direitos deveriam ser absolutamente considerados para a formulação de políticas
públicas (CAPORAL; PETERSEN, 2012).
Entidades governamentais e sociedade civil tem se engajado em um debate dirigido
a ampliar o suporte à agroecologia e à produção orgânica. Um marco importante foi
a sanção da Lei nº 10.831, de dezembro de 2003, que dispõe sobre os sistemas
orgânicos de produção e resultou de amplo processo de discussão em torno do tema.
Posteriormente, foi editado o Decreto nº 7.794, de agosto de 2012, que define as
bases institucionais da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica –
Pnapo, estabelecendo as diretrizes da política, os instrumentos de implementação e
as instâncias de gestão (PLANAPO, 2016).
41
movimentos sociais e sindicais de trabalhadores e trabalhadoras rurais, instituições públicas
de ensino, instituições comunitárias de ensino sem fins lucrativos e governos estaduais e
municipais (BRASIL, 2017).
Além do Planapo que trata da articulação agroecológica nacional, o País também
possui políticas de financiamento sobre o tema. A agricultura familiar, a reforma agrária e os
povos e comunidades tradicionais contam com a linha de crédito Pronaf Agroecologia,
dirigida à produção orgânica e de base agroecológica e coordenada pelo Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA). Durante a safra 2014/2015, foi criado o Pronaf Produtivo
Orientado, que também visa estimular o financiamento de sistemas de produção de base
agroecológica ou orgânicos, incluindo-se os custos relativos à implantação e manutenção dos
empreendimentos.
Outras duas linhas especiais voltadas para a produção orgânica e de base
agroecológica no Pronaf são: Pronaf-Eco e Pronaf Floresta. O primeiro disponibiliza
financiamento para investimento na utilização de tecnologias de energia renovável,
tecnologias ambientais, armazenamento hídrico, pequenos aproveitamentos hidroenergéticos,
silvicultura e adoção de práticas conservacionistas e de correção da acidez e fertilidade do
solo, visando sua recuperação e melhoramento da capacidade produtiva.
O Pronaf Floresta é o financiamento de investimentos em projetos para sistemas
agroflorestais; exploração extrativista ecologicamente sustentável, plano de manejo florestal,
recomposição e manutenção de áreas de preservação permanente e reserva legal e recuperação
de áreas degradadas.
A produção das mulheres e dos (as) jovens também conta com apoio financeiro por
meio dos créditos Pronaf Mulher e Pronaf Jovem que é uma linha para o financiamento de
investimentos de propostas de crédito da mulher agricultora e de jovens agricultores e
agricultoras, respectivamente (PLANAPO, 2013).
É indispensável para acesso a políticas públicas como o Pronaf, a Declaração de
Aptidão ao Pronaf (DAP). Este documento é a comprovação de enquadramento do agricultor
como pequeno produtor/agricultor familiar. Em 2016 estavam ativas 4,8 milhões de DAPs no
Brasil (BRASIL, 2016).
Embora o MDA tenha disponibilizado por meio do Pronaf R$ 2,5 bilhões para custeio
e investimento na produção agroecológica e orgânica, a constatação ao final do ciclo 2013-
2015 do PLANAPO foi de que os recursos efetivamente aplicados somaram R$ 63,1 milhões,
distribuídos em 1.973 contratos de crédito. Este número representa apenas 2,5% dos recursos
42
disponibilizados inicialmente, o que revela uma utilização ainda muito discreta do capital
disponível.
A agricultura familiar ainda conta com uma política específica de seguro agrícola
vinculado ao crédito do Pronaf, o Seguro da Agricultura Familiar (Seaf). Representa um
seguro de multirrisco, que resguarda os agricultores das perdas por adversidades climáticas e
doenças fúngicas ou praga ao passo que, reconhece o modo de produzir da agricultura
familiar, admitindo lavouras consorciadas, cultivares tradicionais, locais ou crioulas
(PLANAPO, 2013).
Sob a gestão do Mapa, uma linha de crédito específica do Programa de Agricultura de
Baixo Carbono – Programa ABC, tem como uma de suas finalidades a implantação e o
melhoramento de sistemas orgânicos de produção agropecuária – ABC Orgânico.
As compras governamentais, como as realizadas pelo Programa de Aquisição de
Alimentos (PAA) e pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), têm tido
também um crescimento sistemático da participação de produtos orgânicos e de base
agroecológica. O PAA teve inicio no ano de 2003, e é uma ação de nível Federal que fortalece
a agricultura familiar e, desta forma colabora com o enfrentamento da fome e da pobreza no
País. Para isso, o programa utiliza mecanismos de comercialização que favorecem a aquisição
direta de alimentos produzidos por agricultores familiares, assentados da reforma agrária,
comunidades indígenas e demais povos e comunidades tradicionais, para a formação de
estoques estratégicos e distribuição à população em maior vulnerabilidade social, estimulando
os processos de agregação de valor à produção (BRASIL, 2017).
O PNAE por sua vez, através da Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009, determina que
do total dos recursos financeiros repassados pelo Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação FNDE, no âmbito do PNAE, no mínimo 30% (trinta
por cento) deverão ser utilizados na aquisição de gêneros alimentícios diretamente
da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural ou de suas organizações,
priorizando-se os assentamentos da reforma agrária, as comunidades tradicionais
indígenas e comunidades quilombolas (BRASIL, 2009, p.3).
43
i) o Programa Nacional de Conservação, Manejo e Uso Sustentável da Agrobiodiversidade e o
Programa Nacional de Combate à Desertificação;
ii) os Programas Nacionais de Assistência Técnica e Extensão Rural, de Fortalecimento da
Agricultura Familiar, de Agroindústria e de Reforma Agrária;
iii) o Programa de Organização Produtiva de Mulheres Rurais;
iv) o Programa de Desenvolvimento da Agricultura Orgânica;
v) as linhas de pesquisa e tecnologia relacionadas à agroecologia, desenvolvidas pela
Embrapa, organizações estaduais de pesquisa e universidades;
vi) o ensino formal com enfoque agroecológico fomentado pelo Ministério da Educação;
vii) a Política Geral de Preços Mínimos;
viii) a Política Nacional de Educação Ambiental e Programa de Educação Ambiental e
Agricultura Familiar; e
ix) o Programa Cisternas
Embora existam todas as políticas públicas discorridas ate aqui, autores como Molina
(2009),Caporal e Petersen (2012) consideram que:
as iniciativas de políticas públicas que favoreçam uma transição agroecológica, até o
momento, são pontuais e não respondem ao que poderíamos entender teoricamente
como política pública, mas sim como fragmentos isolados de iniciativas incluídas
em projetos e programas (p.66,).
Apesar dos avanços permitidos pelo Pronaf, por exemplo, é preciso reconhecer e
identificar quais as limitações ou deficiências que devem ser superadas para efetivamente
fortalecer a agricultura familiar agroecológica. Neste sentido, Guadagnin (2010) apontou em
seu trabalho limites e desafios do Programa. O autor destaca que é importante que o crédito
rural sempre seja precedido de um o planejamento, mas este ocorre de maneira eventual.
Da forma como são elaborados atualmente, os projetos de crédito só cumprem a
finalidade de viabilizara obtenção do financiamento, não contribuindo para o
planejamento sistêmico de toda a unidade familiar (GUADAGNIN, 2010, p. 21).
44
Ademais, é importante ressaltar que para a resolução de problemas e limites, seja em
relação ao Pronaf ou mesmo para os demais entraves que possam ser observados em outras
políticas, se faz necessária a articulação com os demais atores envolvidos no processo.
Geralmente estas políticas e programas são amplas e precisam de um olhar particular para o
correto funcionamento e para que os recursos sejam alocados de maneira proveitosa.
A próxima seção tal qual esta, irá discorrer sobre políticas públicas, entretanto com o
enfoque local. Serão analisadas as políticas públicas do ERJ em agroecologia, território que é
objeto deste estudo. Fez-se necessária uma análise nacional previamente, pois as políticas
desenvolvidas localmente estão intimamente relacionadas ao que se produz em âmbito
nacional.
Este projeto teve como abrangência todo o estado, através 72 unidades operacionais
locais, cinco escritórios regionais, três centros de treinamento e sete escritórios de engenharia
rural.
O Programa Prosperar, por sua vez, através da Emater-Rio, prevê a capacitação dos
beneficiários em processamento, adequação às novas legislações e gestão do
46
empreendimento, resultando na inclusão integral das agroindústrias familiares no mercado
formal. Desta forma, o programa esta destinado a produtores rurais, pessoas físicas ou
jurídicas e suas diversas formas de organização, e agroindústrias que adquiram a matéria
prima do Estado do Rio de Janeiro. Estes produtores rurais deverão orientar suas atividades
produtivas respeitando as legislações e normas ambientais. O Prosperar espera que, com a
concessão do crédito, os beneficiários se organizem sob uma forma associativista ou
cooperativista e prevê que associações e cooperativas de produtores possam atuar como
integradora responsável pela comercialização da produção de seus filiados (RIO DE
JANEIRO, 2017).
Entretanto, embora as políticas públicas específicas para a agricultura familiar já sejam
acessadas, elas permanecem marginalizadas, apresentando dificuldades como, por exemplo, o
acesso à Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP) e a carência de propostas voltadas ao
desenvolvimento rural, por conta do alto valor das terras e pela falta de iniciativas voltadas ao
desenvolvimento rural pelos poderes públicos locais. No município do Rio de Janeiro, por
exemplo, apesar das iniciativas mencionadas anteriormente, o Plano Diretor de 1992
desconsidera em seu zoneamento a existência de áreas rurais e, nem mesmo a revisão em
2011 modificou este cenário. Não foram sequer preservadas as áreas agrícolas já existentes
(MATTOS et al., 2017).
47
Entretanto, autores já afirmaram que as iniciativas em ensino e educação em
agroecologia ainda são dispersas e precisam de maior suporte e orientação para que os
princípios e diretrizes se consolidem. Isto permitirá o desenvolvimento da matriz
agroecológica nos processos didáticos-pedagógicos, além de auxiliar na formação de redes
que permitirão o intercâmbio e a disseminação de informações e experiências (BIANCHINI e
MEDAETS, 2013).
Um agente de extrema importância para esta consolidação e também para os avanços
científicos e tecnológicos em agroecologia é a Embrapa. Através da unidade Embrapa
Agrobiologia, pesquisas e desenvolvimento estão sendo adicionados à estrutura científica e
tecnológica nacional. A Embrapa Agrobiologia é uma das 47 Unidades Descentralizadas da
Empresa, vinculada ao MAPA. Localizada no município de Seropédica, na Baixada
Fluminense, possui um quadro técnico de aproximadamente 150 colaboradores, entre
assistentes, técnicos, analistas e pesquisadores. As linhas de pesquisa desenvolvidas abrangem
a técnica da fixação biológica de nitrogênio, além de abordar a agroecologia e produção
orgânica, microbiologia e insumos biológicos, recuperação de áreas degradadas, genética
molecular e bioquímica.
A formalização do ingresso da Embrapa Agrobiologia no campo de estudos da
agricultura orgânica se deu em 1993, com a implantação do Sistema Integrado de
Produção Agroecológica (SIPA), mais conhecido como Fazendinha Agroecológica
Km 47, um espaço que foi planejado para ser uma vitrine da produção orgânica,
sendo resultante de uma iniciativa conjunta da Embrapa Agrobiologia, da Empresa
de Pesquisa Agropecuária do ERJ (Pesagro-Rio) e da Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro (UFRRJ)(EMBRAPA, 2017, p.1.).
16
É reconhecido que este levantamento é amplo e as instituições acima também se relacionam com as atividades
produtivas, com as políticas estaduais e nacionais. Dessa forma, estas instituições poderiam ter sido enquadrada
nos subsistema produtivo ou no de política, por exemplo. Entretanto, uma análise mais aprofundada percebeu
que as atividades relacionadas à pesquisa e capacitação, de um modo geral, apareciam com maior frequência.
Desta forma, optou-se por classificar tais associações nesta seção que analisa o subsistema de capacitação,
mesmo reconhecendo tal limitação.
49
8. APOP - Associação de Produtores Orgânicos de Petrópolis
9. Articulação de Agroecologia do Rio de Janeiro
10. Articulação de Agroecologia Serramar
11. AS-PTA - Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa
12. Associação da Feira da Roça de Nova Iguaçu
13. Associação de Agricultores do Assentamento Aldeia Velha
14. Associação dos Agricultores e Agricultoras de Marapicu
15. Associação dos Camponeses de Marapicu
16. Associação Mico-Leão-Dourado
17. Associação Terrapia - Alimentação Viva na promoção da Saúde e Ambiente
18. Associação Unidos Venceremos dos Pequenos Agricultores do Assentamento Cambucaes
19. Banco Rio de Alimentos - SESC Rio
20. Boldinho - Grupo de Agroecologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
21. Capim Limão - Projeto de Educação Ambiental
22. CAPINA cooperação de apoio a projetos de inspiração alternativa
23. Cáritas Diocesana de Nova Iguaçu
24. CEDAC - Centro de Ação Comunitária
25. CEDRO-Cooperativa de Consultoria, Projetos e Serviços em Desenvolvimento Sustentável Ltda.
26. Centro Acadêmico de Agronomia "Seu Juvenal"
27. CILSJ - Consórcio Intermunicipal Lagos São João
28. Colégio Estadual Professora Alcina Rodrigues Lima
29. COMAMP - Conselho Municipal das Associações de Moradores de Paraty
30. Comissão Pastoral da Terra - Nova Iguaçu/RJ
31. Comunidade Ecológica Pedras da Prata
32. Cooperativa de Agricultores Familiares de Macaé
33. Cooperativa de Agricultura Familiar e Produtos Orgânicos – UNIVERDE
34. Cooperativa de Trabalhadores em Agroecologia Floreal
35. COOPERPROCIC Cooperativa de produção e comercialização Ilha Grande e Che Guevara
36. CPT Campos/R J-Comissão Pastoral da Terra
37. CPT Nova Iguaçu/RJ -Comissão Pastoral da Terra
38. Defesa Civil Municipal de Macaé
39. EAPA - Núcleo de Educação Ambiental e Práticas Agroecológicas
40. ecoaba consultoria agrícola e ambiental
41. EMBRAPA Agrobiologia
42. EMBRAPA solos
43. Escola da Mata Atlântica
44. Estação de Educação Ambiental - PUC RIO
45. FASE Educação e solidariedade
46. Fazendinha Agroecológica Km 47
47. FETAG -RJ Federação de Trabalhadores da Agricultura do estado do Rio Janeiro
48. Fundação Natureza
49. Furnas Centrais Elétricas S.A.
50. GAE - Grupo de Agricultura Ecológica
51. Grupo Capim Limão
52. Grupo de Estudos Agroecológicos Agrocrioulo
53. Grupo de Estudos e Trabalhos em Ensino e Reforma Agrária – GETERRRA
50
54. IAS - Instituto Ambientalista Saquarema
55. IBASE - Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas
56. IDACO - Instituto de Desenvolvimento e Ação Comunitária
57. INCRA – RJ
58. Instituto Chico Mendes - Área de Proteção Ambiental da Bacia do Rio São João
59. Instituto Nacional de Tecnologia – INT
60. INSTITUTO ORGÂNICA BRASIL
61. ITEN - Instituto Terra Nova
62. KOINONIA - Presença Ecumênica e Serviço
63. MÃE - Mutirão de Agricultura Ecológica
64. NIA-UFRRJ - Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Extensão Científica e Tecnológica em Agroecologia
65. Núcleo de Alimentação e Saúde Germinal
66. PACS - Instituto de Políticas Alternativas para o Cone Sul
67. Pastoral da Saúde/Nova Iguaçu
68. PESAGRO Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro
69. Prefeitura Municipal de Casimiro de Abreu
70. Prefeitura Municipal de Macaé
71. Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu
72. Prefeitura Municipal de Parati
73. Prefeitura Municipal de Resende
74. PSF - Programa Saúde da Família Loteamento Ana Gonzaga
75. REBAL REDE BRASILEIRA DE AGENDAS 21 LOCAIS
76. Rede Ecológica
77. Rede Fitovida
78. Secretaria Municipal de Agricultura de Teresópolis
79. Secretaria Municipal de Agricultura e Pesca de Casimiro de Abreu
80. Secretaria Municipal de Assistência Social de Casimiro de Abreu
81. Secretaria Municipal de Habitação -Coordenação de Participação Comunitária
82. Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Nova Iguaçu –RJ
83. Sítio São José
84. UENF -Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
85. UFF - Universidade Federal Fluminense
86. UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro
87. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO
88. VPAH-Verdejar Proteção Ambiental e Humanismo
52
A Rede de Pesquisa está estruturada em três linhas temáticas e dez grupos de trabalho
e são constituídos de pesquisadores, extensionistas, professores, produtores e consumidores
do ERJ. A segunda linha temática, Reorientação dos Sistemas Produtivos com Incentivo à
Transição Agroecológica é a que possui maio número de grupos de trabalho, sendo eles:
Grupo de trabalho do Sistema Integrado de Produção Agroecológica em Ambiente de
Montanha (SIPAAM); Grupo de trabalho de Formação em Agroecologia e Novo Modelo de
ATER; Grupo de trabalho de Insumos para Transição Agroecológica; Grupo de trabalho de
Produção de Café Agroecológico; Grupo de trabalho de Produção Animal Agroecológica
(RIO DE JANEIRO, 2017).
Em 2014 existiam 17 pesquisas em andamento, distribuídas em onze municípios:
Itaocara, Quissamã, São João da Barra, Nova Friburgo, Mangaratiba, Itaguaí, Magé, Bom
Jardim, Duas Barras, Sumidouro e São José do Vale do Rio Preto (RIO DE JANEIRO, 2014).
A Pesagro-Rio também possui oito Centros Estaduais de Pesquisa localizados em
diversos municípios. Dentre eles, três unidades possuem temas relacionados à agroecologia,
como o Centro Estadual de Pesquisa em Agricultura Orgânica (CEPAO), em Seropédica;
Centro Estadual de Pesquisa em Desenvolvimento Rural Sustentável, em Macaé (CEPRUS) e
o Centro Estadual de Pesquisa em Agroflorestas (CEPA), em Silva Jardim e em Niterói (RIO
DE JANEIRO, 2017).
O CEPAO possui linhas de pesquisa direcionadas para a agricultura familiar e visam o
desenvolvimento de técnicas para a produção de alimentos de qualidade e sem a degradação
do meio ambiente. O CEPRUS possui uma área total de 140 hectares, sendo 90 hectares de
área preservada de Mata Atlântica, é dedicado a trabalhos científicos e a unidades
demonstrativas de tecnologias aplicadas ao conceito de desenvolvimento sustentável, tanto no
meio rural quanto na sua integração com o ambiente urbano. O CEPA é a unidade destinada a
atender à necessidade de recuperação de áreas degradadas, à implantação de sistemas
agroflorestais e agrossilvopastoris e à revitalização da heveicultura fluminense (RIO DE
JANEIRO, 2017).
Considerando a forte influência da cadeia científica para o processo de aprendizagem e
também para o fortalecimento da agroecologia, a seção 6 será destinada exclusivamente a
uma análise mais detalhada dos grupos de pesquisa em agroecologia no ERJ.
53
4.6. PLANO NACIONAL DE AGROECOLOGIA E PRODUÇÃO ORGÂNICA
(PLANAPO): ARTICULAÇÃO ENTRE POLÍTICAS PÚBLICAS, ESTRUTURA
CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA E AGRICULTORES
A Lei de ATER 12.188, de janeiro de 2010, tem como objetivo melhorar a renda e a
qualidade de vida das famílias rurais possibilitando o aperfeiçoamento de seus trabalhos
através de cursos e recursos oferecidos, revelando novos sistemas de produção sustentáveis
(BRASIL, 2017). Esta assistência está inserida no Planapo em diferentes momentos, mas é no
Eixo três – ―conhecimento‖ através do quarto objetivo que ela ganha destaque, com diversas
estratégias que contam com a ATER para o alcance deste objetivo, que é
ampliar a capacidade de geração e socialização de conhecimentos em sistemas de
produção orgânica e de base agroecológica, por meio da valorização e intercâmbio
do conhecimento e cultura local e da internalização da perspectiva agroecológica nas
instituições e ambientes de ensino, pesquisa e extensão (PLANAPO, 2013).
55
4.6.2. Núcleos de Estudos em Agroecologia (NEA’s)
56
Segundo o coordenador do GWATÁ, NEA localizado no interior do estado de Goiás,
Murilo Mendonça de Souza
os NEA‘s mudam a forma de relação da universidade com a agroecologia e é um
processo democrático que une o conhecimento de todos os envolvidos (professores,
técnicos, alunos, agricultores) e trata como mesmo peso. Então valorizamos a
sabedoria dos camponeses tradicionais também (LISBOA, 2017, p.2).
57
universidades também têm disponibilizado cursos com esse enfoque à comunidade
acadêmica.
É preciso sublinhar a parceria entre o Mapa, o Ministério da Educação (MEC), o
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o Ministério da Pesca e Aquicultura
(MPA) e o MDA, e o suporte aos núcleos de estudo e extensão tecnológica em agroecologia.
Tal colaboração fortalece as estratégias para a formação de professores e alunos, produção
científica de pesquisas, articulação de parcerias e ampliação do debate e acesso a
conhecimentos, tecnologias e materiais didáticos voltados para a produção orgânica e de base
agroecológica. No ano de 2013 foram registrados 80 núcleos constituídos em instituições de
ensino em todas as unidades da federação.
Segundo o Relatório de Balanço do Planapo 2013-2015 (2016),
em relação à formação técnica em agroecologia, o MEC estabeleceu uma meta
específica de promover a formação de 1.000 agricultores familiares e 3.000 jovens
agricultores (total de 4.000 formandos), de acordo com as demandas regionais. Estas
ações deveriam estar articuladas com as chamadas de ATER, quando possível. O
total de alunos matriculados nos cursos de formação foi de 6.017, sendo 2.004
alunos em 2014 e 4.013 em 2015. Isso representa uma realização 150% acima da
meta inicial (p.63).
Outro ponto que o Plano considera com destaque é a importância da atuação junto aos
órgãos responsáveis pelo fomento científico no Brasil, como a EMBRAPA, a Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e fundações estaduais. Este contato visa
estabelecer critérios de avaliação e decisão que possam priorizar o financiamento de pesquisas
voltadas para o fortalecimento da produção orgânica e de base agroecológica. O Planapo
considera ainda a necessidade de
[...] atuar junto às entidades de pesquisa para a disponibilização dos resultados no
campo da produção orgânica e de base agroecológica para as instituições de Ater e
aos agricultores/as e produtores/as, além de ampliar o diálogo com esses atores
sociais na construção das próprias agendas de pesquisa e na sua implementação
(PLANAPO, 2013, p.38).
59
Além da sua articulação com o Planapo, cabe ainda ressaltar a preocupação constante
que a Embrapa possui com as áreas de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) e de transferência
de tecnologia (TT). A intenção é a de estar permanentemente em contato com o setor
produtivo e seus distintos atores, como forma de manter o fluxo de informações que permite
perceber as preocupações, as necessidades e as demandas dos produtores e estabelecer um
diálogo que permita a busca de soluções às demandas identificadas.
O processo de inovação (soluções) só acontece quando as tecnologias (produtos,
processos e serviços) são apropriadas pela sociedade, coroando um esforço que
envolve todo o nosso processo de produção, trabalhado de forma integrada pelos
macroprocessos de Desenvolvimento Institucional, Pesquisa e Desenvolvimento e
Transferência de Tecnologia, com suporte estratégico transversal de todos os setores
da Empresa (EMBRAPA, 2012, p.5).
60
Seropédica – RJ. Foram duas atuações nacionais, que ocorreram no estado de São Paulo, nas
cidades de Lençóis Paulistas e Ribeirão Preto e uma internacional realizada na Colômbia.
O ultimo relatório, lançado em 2015 apontou um total de 40 ações sendo 15 com a
ótica voltada para os agricultores. Neste ano, as ações locais e regionais ocorreram nas
cidades de Petrópolis, Cachoeira de Macacu, Teresópolis, Seropédica, Araruama, Nova
Friburgo, Paraty, Campos dos Goytacazes, Lumiar e Nova Iguaçu, localizadas no ERJ.
Apenas uma iniciativa teve abrangência nacional e foi realizada na cidade de Lençóis
Paulistas – SP. Esses exercícios mantêm agricultores e as instituições lado a lado construindo
soluções criativas, inusitadas e inteligentes de acordo com as características e enfoques locais.
61
5. METODOLOGIA
Cada GP possui uma ou mais linha de pesquisa (LP), que são temas aglutinadores de
estudo científico que se baseiam em tradição investigativa, de onde se originam projetos cujos
resultados guardam afinidades entre si (PODCAMENI,2014). As LP, bem como os GP, são
constituídos por uma gama de pesquisadores, que são cadastrados no sistema de Currículo
62
Lattes, que também pode ser entendido como uma base de dados, uma vez que dispõe de
informações que caracterizam os pesquisadores e os situam sobre os temas que trabalham.
Para o desenvolvimento deste trabalho, empregou-se como fonte de informação básica
a ―Base corrente‖ do DGP-CNPq, metodologia já desenvolvida por autores como Rapini
(2004) e Podcameni (2014). Esta base dispõe de informações acerca dos grupos de pesquisa
em atividade no País, coletados tanto a partir do cadastro de todos os grupos registrados no
ultimo Censo (2014) quanto através das atualizações permanentes da base de dados, realizada
pelos próprios pesquisadores-líderes de grupo e que podem inclusive incluir novos grupos.
Todas as informações coletadas foram obtidas por meio de consultas online, realizadas
no período de março a maio de 2017.
Para a identificação dos GP com LP dedicadas a atividades em agroecologia no ERJ,
foram utilizadas as palavras-chave ―agroecologia‖, ―agroecológico (a)‖ e ―agroecossistema‖.
É reconhecida que a aplicação de outras palavras-chave poderiam ampliar os GP com LP
relacionadas ao tema, como agricultura familiar, produção orgânica, entre outros. Porém, a
decisão de considerar apenas as palavras-chave expostas acima deu-se pela intenção de
avaliar apenas a agroecologia pura e simplesmente, e não temas que poderiam ser aplicados a
agroecologia, ou não. Uma vez que o objeto desta pesquisa é o ERJ, foram utilizados os
filtros que restringiam a busca pelos GP a região sudeste e, mais ainda, ao ERJ.
Desta forma, um conjunto de GP foi exibido e, a partir deste, iniciou-se uma análise
mais minuciosa, que gerou a produção de dados que organizaram os GP e extraiu deles
diversas informações. Foram observados para este trabalho informações com o nome do GP;
o ano de sua formação; grande área do conhecimento; área do conhecimento; instituição a que
o GP esta vinculado; suas LP; pesquisadores; e instituição parceira (IP). Estes dados
permitiram a elaboração de uma série de análises estatísticas, que possibilitaram, além da
análise quantitativa, o desenho do subsistema científico em agroecologia no ERJ. A seção 6.1
irá apresentar tais análises.
Inicialmente, a fim de alcançar seus objetivos, ou seja, mapear as interações do GP
com as redes agroecológicas, o trabalho pretendeu direcionar o olhar para as IP. Este é um
dado que o DGP-CNPq disponibiliza e ainda expõe variadas informações sobre os padrões de
interação com o setor produtivo, como investem e sua natureza jurídica. Rapini (2004) em seu
trabalho considerou fortemente estas informações sob uma ótica industrial. Paralelamente,
Podcameni (2014) utilizou esta base de dados e também analisou as IP para o seu trabalho em
energia eólica. Porém, para uma análise com enfoque agroecológico, esta base de dados se
63
mostrou insuficiente. Ao tentar utilizá-la como fonte para perceber as interações entre as
instituições parceiras e os grupos de pesquisa notou-se que a base de dados busca identificar o
grau de envolvimento dos grupos com as empresas do setor produtivo, bem como com
entidades jurídicas de outra natureza, públicas ou privadas, desconsiderando desta forma
outras fontes de produção que não empresas.
Como já discutido em seções anteriores, a agroecologia é um sistema que depende
maiormente da agricultura familiar e também das cooperativas e redes formadas por pequenos
produtores. Entretanto, a maneira como o DGP-CNPq pergunta sobre a existência de IP aos
GP, aparentemente não permite que as interações com outros atores que extrapolam as
indústrias e empresas sejam considerados. É verdade que outras instituições de ensino e
pesquisa e, ainda, órgãos governamentais, como ministérios, também são entendidos como IP,
porém, não se podem perceber redes ou cooperativas de agricultores neste nicho. Assim, esta
base de dados mostra-se satisfatória para análises do setor industrial, mas outros sistemas
produtivos acabam não aparecendo como parceiras, o que pode enviesar os resultados de
forma a produzir indicadores equivocados.
Diante deste fato, constatado apenas após o levantamento dos GP em agroecologia no
ERJ, uma segunda etapa foi desenvolvida a fim de tentar desvendar a possível articulação
entre agricultores, redes agroecológicas e cooperativas com os GP.
Para isso, o segundo momento teve como objetivo analisar os projetos de pesquisa,
extensão e desenvolvimento que tivessem como pressuposto a interação com agricultores.
Nesta etapa, foram considerados os pesquisadores das LP em agroecologia no ERJ (já
mapeadas na fase anterior), para então observar os projetos a que estes estavam vinculados.
Esta percepção foi possível através da análise do Currículo Lattes destes pesquisadores, que
conta com uma seção exclusiva para os projetos deste pesquisador. Foi levada em conta a
descrição dos projetos para concluir sobre as articulações entre estes projetos e os
agricultores.
Uma vez listados os projetos em agroecologia que se articulavam com os agricultores,
e tinham como finalidade transmitir conhecimento e gerar ensino, pesquisa e extensão, foi
feito um levantamento sobre a instituição a que o projeto estava vinculado e também quais
seus parceiros. Desta forma, foi possível constatar a existência da articulação existente entre
projetos de pesquisa, desenvolvimento e extensão, ou seja, entre o setor acadêmico e
científico com os agricultores. Além disso, este levantamento permitiu desenhar as conexões
entre as diferentes organizações, como universidades, instituições de pesquisa e governo. Para
64
isso, foi utilizada a ferramenta Gephi que permite esta modelagem. O diagrama abaixo
esclarece a organização existente entre os elementos do DGP-CNPq.
65
6. MAPEAMENTO DA ESTRUTURA CIENTÍFICA NO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO
Esta seção tem como objetivo traçar uma síntese do subsistema científico sobre
agroecologia no ERJ. Como já foi evidenciado, embora tenha sido realizada uma análise
teórica dos subsistemas de produção, demanda, de políticas públicas e ate mesmo do
científico, o levantamento empírico teve como enfoque apenas este último.
A busca através das palavras-chave e dos filtros utilizados alcançou um universo de 21
GP em agroecologia no ERJ. A maioria dos grupos possui apenas uma LP com abordagem
agroecológica, com exceção de três GP que possuem 2 LP, totalizando assim 24 LP em
agroecologia.
Além disso, embora a análise das IP não tenha alcançado o resultado esperado,
também foi considerada e desenvolvida a título de identificação. Desta forma, o levantamento
concluiu que dos 21 GP, apenas 5 grupos possuem alguma instituição parceira.
A seguir, os GP em agroecologia no ERJ serão caracterizados considerando
informações como o ano de formação, o que permite uma análise temporal dos GP; os locais
(instituição) onde se encontram, que possibilita conhecer os municípios dos GP; a grande área
e a área do conhecimento; percebendo quais são os campos que mais desenvolvem pesquisa
em agroecologia. Por fim, serão entendidas as interações entre as IP e os GP.
66
Laboratório De Justiça Ambiental‖ foi o terceiro grupo de pesquisa registrado, apenas no ano
2000.
Nos anos seguintes, 2001 e 2002, foram adicionados um grupo por ano. Já em 2003
surgiram dois novos grupos no mesmo ano. No ano posterior, em 2004, mais um grupo foi
registrado.
Apenas quatro anos depois, em 2008, um novo grupo foi adicionado. Em 2009,
também houve registro de um novo grupo. Já no ano de 2010 e 2011dois grupos foram
inseridos. No período de 2012 a 2015,a cada ano um novo grupo foi incorporado.
Foi no ano de 2016 que houve maior crescimento. Neste ano, três novos grupos foram
inseridos.
A tabela 7 apresenta a quantidade de grupos por ano e a figura 8 expõe estes mesmos
dados graficamente.
67
Figura 8. Quantidade de grupos de pesquisa por ano.
Fonte: elaboração própria com base nos dados do CNPq.
17
Para a classificação destes setores, é utilizada a tabela de Classificação Nacional de Atividades Econômicas -
CNAE.
68
Tabela 8. Relação entre setores de aplicação e quantidade de grupos de pesquisa.
SETOR DE APLICAÇÃO 1 QNT/S.A.
Agricultura, Pecuária e Serviços Relacionados 7
Agricultura, Pecuária, Produção Florestal, Pesca e Aqüicultura 4
Atividades de apoio à agricultura e à pecuária; atividades de pós-colheita 1
Atividades de apoio à educação 2
Atividades profissionais, científicas e técnicas não especificadas anteriormente 2
Educação profissional de nível técnico e tecnológico 1
Educação superior 3
Pecuária 1
Produção de lavouras permanentes 1
Restaurantes e outros serviços de alimentação e bebidas 1
Pesquisa e desenvolvimento experimental em ciências físicas e naturais 1
A capital do estado é o local que mais apresenta grupos de pesquisa, totalizando seis
GP. Na sequência, Niterói, com cinco GP, é a segunda cidade com maior número de GP.
Estes dois municípios somam mais da metade da área com GP em agroecologia. Seropédica é
o terceiro município com maior número de grupos, apresentando três grupos. Cambuci e
Pinheiral totalizam quatro grupos, sendo dois de cada um dos municípios. Campos dos
Goytacazes, São Gonçalo e Três Rios possuem apenas um GP cada uma das cidades. Na
figura 9 pode-se verificar estes dados.
69
Figura 9. Relação entre os municípios de ERJ e a quantidade de grupo de pesquisa.
Fonte: elaboração própria com base nos dados do CNPq.
Esta classificação possui duas formas distintas para ser analisada: a grande área do
conhecimento e a área do conhecimento. Em termos de grande área do conhecimento as
ciências humanas é a área que aparece com maior frequência. Na sequência, a ciências
agrárias é a grande área mais aparente. Ciências sociais aplicadas juntamente com as ciências
exatas e da terra são a grande área que mais aparece posteriormente. Por fim, ciências
biológicas.
As áreas do conhecimento são mais dispersas e tem maior destaque a área da
agronomia, seguida pela educação, com o mesmo número de grupos nestas áreas. Aparecem
também áreas como direito, ecologia, economia, engenharia agrícola, geociências, geografia,
planejamento urbano e regional, química e sociologia.
As figuras 10 e 11 apresentam estes dados.
70
Figura 10. Relação entre grande área do conhecimento e quantidade de grupos de pesquisa.
Fonte: elaboração própria com base nos dados do CNPq.
71
Estes cinco GP que possuem parcerias são: GT ECOSOCIAL - Laboratório de Justiça
Ambiental (3IP); Laboratório de Gestão do Território – LAGET (2IP); Núcleo de Estudos e
Pesquisas Agroambientais (6 IP); Núcleo de Estudos em Ambiente Território e Sistemas
Agroalimentares (1 IP) e Radioecologia Tropical Experimental (2 IP).
Frequentemente a instituição parceira trata-se de uma universidade (9 de 13). Também
aparecem a Embrapa e a Fiocruz. Assim, a educação superior e o desenvolvimento de
pesquisa são os setores que mais se relacionam com os GP. As demais IP são órgãos públicos
como o Ministério da Justiça, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. O
diagrama abaixo demonstra os GP e as IP com que estes se relacionam.
73
A maioria das relações (48%) é pautada na parceria sem a transferência de recursos de
qualquer espécie envolvendo exclusivamente relacionamento de risco (Rem4). As parcerias
com transferência de recursos de qualquer espécie nos dois sentidos (Rem9) ocorrem em 3
relações, bem como ―outras formas de remuneração que não se enquadrem em nenhuma das
anteriores‖ (REM10), ou seja, nenhuma das formas de remuneração que aparece na tabela
anteriormente. A remuneração de fato monetária, que é a transferência de recursos financeiros
do parceiro para o grupo (Rem1) aparece apenas duas vezes nas relações. A figura 14 expõe
estes valores.
74
agricultor, de maneira que o objetivo dos projetos era transferir o conhecimento gerado por
meio dos estudos e trabalhos para os pequenos produtores familiares.
Os projetos estão sempre vinculados a uma instituição de ensino e pesquisa que por
sua vez possuem uma série de parceiros que contribuem para o desenvolvimento das
pesquisas e auxiliam na promoção da relação entre os projetos e os agricultores. Foi analisado
um universo de 38 projetos, todos estes em agroecologia e com intenções de contato com os
produtores rurais. Este total apresentou 12 instituições diferentes a que os projetos estavam
vinculadas, sendo universidades, institutos e centros de pesquisa. Em geral, cada projeto
possui um parceiro (com exceção de apenas dois projetos), totalizando desta forma 43
instituições parceiras. Neste sentido, algumas instituições merecem destaque por serem as
maiores promotoras dos projetos em agroecologia alinhados com os agricultores familiares.
A Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) possui oito do total de
projetos. Os trabalhos desenvolvidos na universidade buscam a construção do conhecimento
agroecológico, o fortalecimento da agricultura familiar e o apoio às práticas tradicionais. As
pesquisas também estão voltadas para o fortalecimento de rede sociotécnica e a ampliação e
fortalecimento de atividades agroindustriais. Algumas atividades possuem o olhar direcionado
aos jovens rurais e quilombolas. Também existem pesquisas com viés técnico, como o tema
da adubação verde e ainda com o olhar mais subjetivo, tratando da educação ambiental
através do teatro e da dança. A UFRRJ não atende às demandas apenas da área onde esta
localizada (Seropédica), considerando localidades como o Médio Paraíba, a Baixada
Fluminense, a região metropolitana do Rio de Janeiro, a zona oeste da cidade do Rio de
Janeiro, o Maciço da Pedra Branca, além de estudos voltados para o ERJ na sua totalidade.
Paralelamente, o Colégio Técnico da Universidade Rural (CTUR) também se mostra
ativo no sentido da articulação agroecológica, com quatro projetos. Neste caso, os estudos
costumam tratar da agroecologia no contexto local, como o desenvolvimento de um mutirão
no próprio colégio, além da elaboração de atividades de um lago existente no espaço do
CTUR. Atividades que buscam a vivência interdisciplinar em agroecologia também são
presentes no Colégio.
O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, através do
campus de Pinheiral desenvolve sete projetos em agroecologia. Neste caso, a maio parte dos
estudos estão voltados para capacitação, conhecimento e multiplicação da agroecologia,
principalmente através da implantação de Centro Vocacional Tecnológico (CVT) e também
75
de núcleo de estudo e pesquisa. Também são difundidas técnicas sustentáveis para promoção
da agroecologia.
Como já destacado em seções anteriores, ao analisar os 38 projetos, a Embrapa
também mostrou sua força no sentido da agroecologia. De um modo geral, a empresa soma
dez projetos, sendo eles distribuídos pela Embrapa Solos (1) e Embrapa Agrobiologia (5).
Nesta ultima, está inserido o SIPA (4), parte mais importante da Embrapa para agrobiologia.
Na Embrapa Solos o planejamento agroambiental em áreas de Mata Atlântica é o foco dos
estudos em agroecologia que se articula com agricultores no Rio de Janeiro. Já a Embrapa
Agrobiologia possui grandes esforços para o apoio ao desenvolvimento científico e
tecnológico e a socialização dos conhecimentos e das técnicas desenvolvidas em
agroecologia, além de considerar em seus estudos a agroecologia como estratégia para a
segurança alimentar em ambientes de montanha. No SIPA, a maioria dos estudos é de base
tecnológica, tratando da adubação verde e outras técnicas associadas e o repasse do
conhecimento desenvolvido para os agricultores. Também ganha destaque no SIPA o mais
importante Centro Vocacional Tecnológico em Agroecologia e Produção orgânica do estado
do Rio de Janeiro.
A Fiocruz, por meio da Farmanguinhos é uma instituição bastante interessante no
sentido de que associa a agroecologia à saúde por meio do cultivo de plantas medicinais em
bases agroecológicas. Esta instituição possui quatro trabalhos, sendo três relacionados ao
Profito, projeto agroecológico que atende cerca de 100 famílias moradoras do entorno do
Parque Estadual da Pedra Branca. Tem como objetivo estimular o cultivo, beneficiamento e
comercialização de plantas medicinais, oferecendo alternativas de desenvolvimento
sustentável, por meio de capacitação dos agricultores locais e integração deles e de seus
produtos também ao Sistema Único de Saúde (SUS).
As demais instituições e os seus respectivos projetos podem ser verificados no
apêndice A. A figura abaixo demonstra a quantidade de projetos por instituição.
76
Figura 15. Instituições e a quantidade de projetos que possuem.
Fonte: elaboração própria com base na Plataforma Lattes
Além das instituições dos projetos, as instituições parceiras foram analisadas a fim de
entender a rede formada pela união de todas elas. As parcerias foram ainda mais dispersas,
totalizando 43 instituições distintas com diferentes funções ao se relacionar com os projetos.
É importante sublinhar que estas parcerias ocorrem entre as instituições envolvidas e também
diretamente com os projetos. Ou seja, uma parceira pode se relacionar com a instituição do
projeto de uma forma geral como também possuir uma relação direta com determinado
projeto.
Para os projetos analisados, foram identificadas três instituições financiadoras
maiores: Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
(FAPERJ) (5) CNPq (8) e MEC (5), que investiram juntas em 18 projetos. A Embrapa
Agrobiologia apareceu como financiadora de apenas uma pesquisa.
Ainda pode ser notada a Embrapa mais uma vez como um agente importante. Desta
vez, como parceira de alguns projetos aparecem além da Embrapa, outras unidades como a
Embrapa Hortaliças, Embrapa Pecuária Sul, Embrapa Solos, Embrapa Agrobiologia e a SIPA.
Cabe destacar que a SIPA é uma parceria entre a Embrapa Agrobiologia e outras unidades da
empresa, a UFRRJ e a Pesagro-Rio. Desta forma, naturalmente essas três instituições já são
articuladas por conta da essência da formação do SIPA.
77
Por sua vez, a UFRRJ, além de ser uma das instituições que mais abarca projetos,
como já citado anteriormente, ela também estabelece importantes relações de parceria (6). A
Pesagro-Rio também possui notada participação (4) como colaboradora. O Programa Rio
Rural, que é subordinado ao Pesagro-Rio, também faz parte destas articulações.
As universidades e institutos além de desenvolverem projetos são partes-chave para as
pesquisas. É notado que estes atores formam elos no sentido de desenvolver e fomentar a
agroecologia.
Além da já citada UFRRJ, outras universidades localizadas no ERJ como a
Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), a Universidade Federal Fluminense
(UFF), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) fazem parcerias com os projetos,
além do CTUR. Aparece ainda a Universidade Federal do Ceará (UFCE). É interessante notar
também a existência de instituições internacionais como parceiras dos projetos no ERJ. A
exemplos, a Universidade Nacional de Rio Cuarto, na Argentina; as Universidade de
Colônia, Leipzig e Jena,na Alemanha e o Instituto Politécnico de Bragança, em Portugal.
Os institutos como o de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica (IPEMA), no
estado de São Paulo e o Instituto Bélgica, localizado em Nova Friburgo também participam
dos processos de pesquisa e articulação agroecológica. Este último, desenvolve um método
pedagógico que tem como objetivo adequar a educação no campo, nas áreas de agricultura
familiar, onde a compatibilização das atividades escolares com os afazeres da produção
agrícola é essencial.
Algumas associações também colaboraram com projetos como a ABIO, Associação
Brasileira de Reciclagem e Assistência em Homeopatia (ABRAH) e a AS-PTA – Agricultura
Familiar e Agroecologia, que é uma associação de direito civil sem fins lucrativos.
Existem outras instituições que participam destes projetos e juntas formam uma cadeia
que entrelaça pesquisa, ciência, educação, empresas públicas e privadas, e, principalmente,
agricultores e pequenos produtores familiares. Esta grande rede com seus variados atores pode
ser entendida no diagrama abaixo (Figura 16).
78
Figura 16. Instituições envolvidas em pesquisas agroecológicas que se relacionam com os
agricultores familiares
Fonte: Elaboração própria com base Plataforma Lattes18
18
Agradeço a Cecília Tomassini pelo apoio na elaboração deste trabalho.
79
7. CONCLUSÃO
80
envolvidos nos processos agroecológicos. Neste sentido, o Plano considera a produção, o
meio ambiente, a comercialização e consumo, a terra e o território, a sociobiodiversidade, o
conhecimento, e a articulação existente e necessária entre estes agentes.
O SNI e os APLs possuem conceitos que consideram a importância da comunidade
científica, da pesquisa e da proximidade da academia com os produtores locais. Da mesma
forma, o Planapo também valoriza estas articulações e aponta para a influência destas
interações para o fortalecimento da agroecologia. Paralelamente diversos autores, como
Rapini (2004) e Podcameni (2014) já afirmaram e estudaram como estas interações auxiliam
na produção de determinado setor.
Isso posto, o presente trabalho considerou estes arcabouços para o desenvolvimento de
uma seção empírica que buscou avaliar o subsistema científico e suas articulações com os
produtores locais no ERJ. Para isso foi considerado no primeiro momento os grupos de
pesquisa cadastrados no DGP-CNPq. Porém, a partir desta base de dados não ficou
evidenciada a possível articulação entre grupos de pesquisa e os produtores rurais. A fim de
conseguir perceber esta interação, no segundo momento foi analisado o currículo Lattes dos
pesquisadores das LP. Neste caso, foram considerados os projetos aos quais os pesquisadores
estavam vinculados e foi constatada a existência da articulação entre academia e agricultores.
Embora a primeira base de dados não tenha sido uma boa fonte para fazer a análise
pretendida, foi possível extrair dela uma série de outras informações que permitiram entender
de que modo os GP em agroecologia encontram-se no ERJ. A seção 6 desenvolveu esta
análise considerando dados quantitativos produzidos ao observar os GP em agroecologia no
ERJ. Foram levantados para isso: o ano de formação dos GP em agroecologia no ERJ, as LP
no tema, os locais onde estes GP estão instalados, quais as áreas do conhecimento que mais
estudam agroecologia e as instituições parceiras.
A análise da evolução temporal constatou que o primeiro GP registrado no DGP-
CNPq no ERJ foi em 1987, apenas uma década depois que as primeiras manifestações da
agricultura dita alternativa no Rio de Janeiro foram registradas. É preciso sublinhar ainda que
o ano de registro do GP não necessariamente é o mesmo em que se iniciou a LP em
agroecologia. Assim, os primeiros estudos de cunho agroecológico podem ter sido ainda mais
tarde como também mais cedo, se considerada outras fontes. A quantidade de novos grupos a
cada ano nunca tinha superado a marca de dois GP, salvo no ano de 2016 que três novos
grupos foram registrados.
81
A quantidade de LP em agroecologia ainda é pequena, tendo em vista que os 21 GP
totalizam 24 LP, ou seja, com exceção de três GP, apenas uma LP é registrada por grupo.
Outro dado que foi possível perceber ao analisar as LP, é que o SA das pesquisas em sua
maioria pretende ser aplicada a novas pesquisas, além do setor de educação, o que corrobora
com a importância destes setores para a agroecologia, bastante destacado e discutido neste
trabalho.
Em relação aos locais das instituições a que os GP estão vinculados, a capital do
estado e a cidade de Niterói foram as que mais apresentaram registros. É comum a capital de
determinado estado possuir maior desenvolvimento, inclusive em termos de ensino, pesquisa
e extensão. Porém, no caso da agroecologia, chama a atenção o município de Seropédica
apresentar apenas três GP, uma vez que é neste local que estão instaladas o SIPA e a UFRRJ,
instituições fortemente marcadas pelos estudos em agroecologia, como discutido ao longo
deste trabalho.
A grande área do conhecimento mais frequente foi a ―ciências humanas‖ seguida pela
―ciências agrárias‖. Uma vez que a agroecologia é uma forma de desenvolver a agricultura
que valoriza não apenas a produtividade, mas considera princípios da ecológica, como a
manutenção ou melhoria da qualidade dos recursos naturais e das relações ecológicas de cada
ecossistema, é de se esperar que estas áreas do conhecimento sejam mais aparentes. Assim,
agronomia, ecologia, geografia e educação são as áreas que mais contribuem com os GP
analisados.
Deve-se considerar que na base de dados, o item ―instituições parceiras‖, que foi
analisada para tentar perceber a articulação GP-agricultores, objetiva levantar o grau de
envolvimento dos grupos com as empresas do setor produtivo, bem como com entidades
jurídicas de outra natureza, públicas ou privadas. Desta forma, a agricultura familiar e as redes
agroecológicas não aparecem no DGP-CNPq como parte integrante do setor produtivo.
Assim, no DGP-CNPq foi observada a relação que as universidades mantêm com outras
instituições de ensino e pesquisa. Esta interação também é importante para o fomento da
pesquisa no País, porém não se mostra suficientemente capaz de entender as demandas
daqueles que vivenciam diariamente o campo e promovem a agricultura de base
agroecológica.
As análises destas interações permitiram observar que metade das relações é do tipo
―pesquisa científica sem considerações de uso imediato dos resultados‖. Assim, percebe-se o
caráter experimental dos estudos. Em termos de remuneração, considerando que as relações
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são estabelecidas por entidades que possuem características similares, uma vez que se trata de
uma relação equivalente, entre universidades, a remuneração é praticamente nula. Desta
forma, a parceria é mantida sem a transferência de recursos de qualquer espécie envolvendo
exclusivamente relacionamento de risco.
A segunda análise empírica deste trabalho, a fim de desvendar a interação que já era
conhecida existência, constatada através da revisão bibliográfica, considerou no currículo
Lattes dos pesquisadores vinculados às LP em agroecologia, a seção destinada aos projetos
que estes membros participam. A seção 6.2 mostrou a existência de uma rede de instituições
baseadas na agroecologia no ERJ que articulam pesquisa e agricultores.
Os projetos, com suas respectivas instituições, juntamente com as suas parceiras,
formam uma rede de interações. As trocas mútuas permitem o fomento da pesquisa, a
realização de projetos e o desenvolvimento de tecnologias, que possibilitam a ampliação da
estrutura científica. Entretanto, é importante salientar que de pouco valeria a construção do
conhecimento não fosse o repasse deste para os agentes que precisam destas informações.
Desta forma, o desenvolvimento da ciência e tecnologia alinhadas com os agricultores
familiares, as redes e cooperativas de pequenos produtores, é uma importante estratégia para o
avanço da agroecologia em qualquer território.
Paralelo a isto, a academia, uma vez articulada com os produtores rurais, consegue
perceber as reais demandas de quem vivência o campo diariamente. Assim, esta via de mão
dupla beneficia todos os envolvidos, auxilia na promoção de ensino direcionado e
transferência de conhecimento legítimo. Além disso, fortalece a agroecologia como sistema,
envolvendo as esferas sociais, ambientais, econômicas e políticas.
As expressões da agricultura familiar e da agroecologia podem ser entendidas como
movimentos de resistência às raízes históricas de exclusão e de embate frente às diferentes
institucionalidades que restringem a sua expressão e favorecem o processo de expansão
urbana hoje. ―Trata-se de um movimento pelo reconhecimento dos seus modos de vida, das
relações de interdependência com o ambiente natural, da sua importância no abastecimento de
alimentos e da sua identidade definida pela ancestralidade‖ (MATTOS et al., 2017).
Desta forma, a agroecologia relaciona-se com um cenário plural, que considera além
da produção de alimentos. Valoriza o meio ambiente como fonte de riqueza não apenas para a
resolução da questão da fome, mas também como ambiente capaz de desenvolver
conhecimento, cultura e participação.
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A agroecologia vem sendo cada vez mais percebida como um sistema que apresenta
grande potencial ambiental, social e produtivo. Frente a esta percepção, o governo federal se
articulou com outras esferas, como a do conhecimento, do setor produtivo e da demanda.
Desta forma, a partir do Planapo, o País esta fomentando a agroecologia em território
nacional, concebendo estratégias e abrindo espaço para esta forma diferenciada de cultivar e
de consumir. Para isso, políticas públicas que estimulam a produção de base agroecológica
são percebidas tanto em contexto nacional como local, considerando as particularidades das
regiões que desenvolvem a agroecologia.
Outras entidades também possuem forte influência sobre o desenvolvimento da
agroecologia. É o caso da Embrapa, que por meio do SIPA, é um dos maiores exemplos neste
sentido. Esta unidade da Embrapa é absolutamente alinhada com os diversos agentes da
agroecologia: produtores, pesquisadores, consumidores e órgãos governamentais. Diante dos
levantamentos realizados neste trabalho, constatou-se que para o estudo da agroecologia, a
Embrapa é indissociável. Ela é uma instituição sistêmica, que atua de maneira articulada e
para o ERJ, ela é central para o desenvolvimento de um sistema agroecológico. Ela aparece
como instituição que desenvolve pesquisa, como parceira de outras instituições, como agente
de ensino e capacitação em agroecologia, através de CVT e NEA‘s, além de financiar projetos
em agroecologia.
Diante das análises realizadas, percebe-se que a construção coletiva do conhecimento
agroecológico, catalisada pelas interações entre os atores agroecológicos, ou seja, os agentes
envolvidos nos sistemas produtivos, de demanda, de políticas públicas e a comunidade
científica é fundamental para a consolidação da agroecologia. No ERJ, o levantamento teórico
juntamente com o trabalho empírico permitiram perceber que a necessidade da articulação na
agroecologia é reconhecido pelas instituições que a fomentam. No estado, os grupos de
pesquisa, as linhas de pesquisa, os projetos de extensão e desenvolvimento, de uma forma
geral, buscam o alinhamento com os pequenos produtores, o que têm permitido o
desenvolvimento orientado dos estudos.
É importante destacar que além das universidades, institutos de pesquisa e governo,
que já são instituições consolidadas, a agroecologia não seria possível sem a participação e
contribuição dos conhecimentos desenvolvidos pelos agricultores familiares. Estes agentes
têm na agroecologia uma forma de resistência da sabedoria tradicional e de permanência no
campo. Entretanto, embora existam políticas públicas que buscam apoiar estes produtores,
elas ainda possuem limitações quanto ao acesso, dificultando a cadeia agroecológica. O
84
PNAE, por exemplo, que é um Programa com grande influência no sistema de demanda,
ainda possui seu potencial abaixo do exigido. Desta forma, esta política, que poderia ser uma
grande articuladora e fomentadora do sistema produtivo, através do aumento da demanda,
ainda esta marginalizada.
A agroecologia é um sistema que vai além da questão alimentar. Ela perpassa pela
questão ambiental, por ser um sistema que respeita os ciclos ecológicos; pela questão social,
ao envolver a agricultura familiar, a juventude no campo e a atuação das mulheres na
agricultura; pela economia, apresentando-se como um sistema com alto potencial produtivo
de alimentos livres de agrotóxicos, o que passa pela questão da saúde também; pela política,
que precisa enxergar na agroecologia uma alternativa ao modelo convencional de produção;
pela comunidade científica, com o desenvolvimento de pesquisas que frutificam os
conhecimentos gerados no campo, através da capacitação e troca de saberes com os
agricultores. Assim, os sistemas agroecológicos podem ser percebidos como um novo modelo
de produção que, por agregar tantos atores, pode ser visto como uma alternativa que assegura
não só a segurança alimentar, mas também a segurança social, econômica, da saúde, do meio
ambiente e de tantos outros contextos que direta ou indiretamente podem ser influenciados
pela agroecologia. Este definitivamente é um sistema que precisa ser cada vez mais
reconhecido e para isso, considera-se que a comunidade científica possui papel fundamental,
influenciando em todos os sistemas que envolvem a agroecologia.
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8. REFERÊNCIAS
86
ARTICULAÇÃO DE AGROECOLOGIA DO RIO DE JANEIRO (Rio de Janeiro). Quem
somos. 2017. Disponível em: <https://aarj.wordpress.com/about/>. Acesso em: 12 maio 2017.
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responsabilização no sistema agroalimentar. Agriculturas, Rio de Janeiro, v. 10, n. 2, p.4-7,
jun. 2013. Disponível em: <http://aspta.org.br/revista/v10-n2-construcao-social-dos-
mercados/construcao-social-de-mercados-e-novos-regimes-de-responsabilizacao-no-sistema-
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PETERSEN, Paulo (Ed.). Prefácio. In: GOMES, João Carlos Costa; ASSIS, William Santos
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15. Disponível em: <http://aao.org.br/aao/pdfs/publicacoes/agroecologia-principios-e-
reflexoes-conceituais-Joao-Carlos-Costa-Gomes-Embrapa.pdf>. Acesso em: 31 maio 2017.
PODCAMENI, Maria Gabriela von Bochkor. SISTEMAS DE INOVAÇÃO E ENERGIA
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Economia, Ufrj, Rio de Janeiro, 2014. Cap. 7. Disponível em:
<http://www.ie.ufrj.br/images/pos-
graducao/pped/dissertacoes_e_teses/maria_gabriela_podcameni2014d.pdf>. Acesso em: 01
maio 2017.
93
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Governo do Rio de Janeiro. Técnicos da EMATER-RIO são capacitados em agroecologia.
2015. Disponível em: <http://www.emater.rj.gov.br/detalhe_noticia.asp?ident=960>. Acesso
em: 07 jun. 2017.
SILVA, José de Souza. A hybris do ‗ponto zero‘ e o ‗autismo científico‘. 2013. Disponível
em: <http://antigo.mst.org.br/node/15454>. Acesso em: 10 jun. 2016
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Extensão Rural. Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário. Disponível em:
<http://www.mda.gov.br/sitemda/agroecologia-uma-oportunidade-para-extensão-rural>.
Acesso em: 10 abr. 2017.
94
ZIMMERMANN, Cirlene Luiza. MONOCULTURA E TRANSGENIA: IMPACTOS
AMBIENTAIS E INSEGURANÇA ALIMENTAR. Veredas do Direito, Belo Horizonte, v. 6,
n. 12, p.79-100, 2009. Disponível em:
<http://www.domhelder.edu.br/revista/index.php/veredas/article/view/21>. Acesso em: 18
jun. 2016.
95
APÊNDICE A – Lista de projetos e suas respectivas instituições
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ANEXO A – Tipos de relações do grupo de pesquisa com o setor produtivo
Fonte: PODCAMENI, Maria Gabriela von Bochkor. SISTEMAS DE INOVAÇÃO E ENERGIA EÓLICA: A
EXPERIÊNCIA BRASILEIRA. 2014. 364 p. Tese (Doutorado) - Curso de Economia, Ufrj, Rio de Janeiro,
2014. Cap. 7, p.223
98
ANEXO B – Tipos de remuneração do grupo de pesquisa com o setor produtivo
Fonte: PODCAMENI, Maria Gabriela von Bochkor. SISTEMAS DE INOVAÇÃO E ENERGIA EÓLICA: A
EXPERIÊNCIA BRASILEIRA. 2014. 364 p. Tese (Doutorado) - Curso de Economia, Ufrj, Rio de Janeiro,
2014. Cap. 7, p.225.
99