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Anotações do Aluno

Aula Nº 1 – Introdução à
Contabilidade Internacional
Objetivos da aula:
Nesta aula inaugural compreenderemos as recentes mudanças ocorridas
no cenário contábil mundial, especialmente com o fortalecimento dos
padrões internacionais de contabilidade a partir de 2005 e a adoção
desses padrões pela Comunidade Européia, causando forte impacto na
cultura contábil brasileira, tanto que o ano de 2005 ficou marcado por
acontecimentos importantes para a contabilidade nacional. Por esta razão
surge a necessidade de estudar essas Normas e Princípios para o bom
funcionamento da Contabilidade.

Tenha uma ótima aula!

1. Introdução

Aula 01 - Introdução à Contabilidade Internacional


Nesta aula veremos que uma nova cultura de globalização econômica
ajudou o nosso país com a abertura ao mercado internacional, associada
ao aumento do fluxo de capitais internacionais entrando e aumentando
a captação de recursos de empresas brasileiras no mercado de capitais
internacional, visando o aumento da transparência e da segurança das
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informações contábeis divulgadas ao público investidor, possibilitando,


a um custo mais baixo, o acesso das empresas brasileiras às fontes de
financiamento externas.

2. Ruptura Histórica da Contabilidade Brasileira


A contabilidade brasileira vive um momento de ruptura com a sua própria
história, considerando que a primeira lei das sociedades anônimas
editada no Brasil, Lei número 2627 de 1940, era nitidamente influenciada


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pela escola patrimonialista italiana. A segunda lei brasileira das


Sociedades Anônimas, publicada em 1976, Lei número 6404, mudou o foco
brasileiro para a contabilidade norte-americana, tanto que a estrutura
das demonstrações contábeis brasileiras segue a forma norte-americana
de apresentação. Esse fato pode ser caracterizado pela apresentação do
Balanço Patrimonial em ordem decrescente de liquidez para o ativo e de
exigibilidade para o passivo. Com o advento da Deliberação 488 da CVM,
percebe-se novamente uma mudança de foco, sendo que a contabilidade
brasileira passa a ter como base de sustentação os padrões contábeis
do IASB. Portanto, o Brasil vive hoje um momento de nova transição,
que deverá nortear seus rumos contábeis para os próximos anos. Diante
desse cenário histórico, pode-se entender o que a Deliberação 488 da CVM
representa para a contabilidade brasileira, pois não é apenas uma nova lei
que regulará a contabilidade, mas uma ruptura com a própria história
da contabilidade brasileira.

3. Diferenças entre Princípios e Normas Contábeis


Que a contabilidade é um ramo das ciências sociais aplicada com princípios
e métodos definidos, não há que duvidar. Por isso, seus procedimentos,

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nomenclaturas, valores que compõem cada conta e, principalmente, seus
relatórios, deveriam ser entendidos mundialmente sem restrições. Ou
como expressam vários estudiosos da matéria, a contabilidade deveria
ter uma “linguagem padrão”.

No entanto, o que se percebe, pelo menos em escala de uma economia


Contabilidade Internacional

globalizada, é que isso não ocorre. Cada país adota seus próprios
princípios, práticas e métodos com relação à ciência encarregada
da prestação de contas das entidades. Como conseqüência, seus
demonstrativos tornam-se inconsistentes internacionalmente,
prejudicando sua utilidade por parte desses usuários. E isso, parece que o
mundo moderno já não suporta mais.

São vários os fatores que contribuem para que a contabilidade praticada


num determinado país seja diferente de outros. Nas literaturas sobre


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contabilidade internacional, percebemos que a maioria dos autores cita


como principais fatores determinantes das diferenças entre os princípios
e práticas contábeis: os econômicos, sociais, culturais, políticos, legais e
educacionais. Cada qual com seu peso e importância relativa.

Dessa forma, observamos que a contabilidade varia de acordo com o


ambiente em que ela está inserida. Porém, de acordo com YAMAMOTO
e LOPES (2000), as maiores contribuições que explicam as diferenças
entre as normas e práticas contábeis existentes afetando seus
demonstrativos, referem-se à: “regulamentação da Contabilidade;
sistema legal; inflação; crescimento econômico e desenvolvimento;
clima social; sistema político; educação contábil e pesquisa;
desenvolvimento da profissão; tributação; mercados financeiros;
características da atividade empreendedora; fatores ambientais e
culturais”.

Outra importante contribuição com relação às diferenças nos princípios


e normas contábeis e que, conseqüentemente, afetam as demonstrações
contábeis, foi dada por HAUWORTH, citada por POHLMANN (1994):

 A diversidade de enfoques quanto ao propósito das demonstrações

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financeiras;
 Diferenças na extensão em que a profissão contábil tem se
desenvolvido nos vários países;
 A influência da legislação fiscal no reporte financeiro;
 As exigências da lei das sociedades anônimas;
Contabilidade Internacional

 As diferentes realidades econômicas entre os países afetando o


reporte financeiro;
 Diferenças entre os países quanto às práticas recomendadas pela
profissão contábil;
 Desacordo dos pronunciamentos profissionais com a realidade
econômica dos fatos;
 Falta de entidade para forçar a aceitação dos padrões contábeis
internacionais.


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Todos os fatores acima mencionados têm feito com que as


empresas que operam em outros mercados, ou destinem seus
demonstrativos contábeis para fora do seu país, seja para qual for
a utilidade, apresente-os preparados de acordo com os princípios
de contabilidade aceitos nos países onde radicam tais mercados,
ou pelo menos, que as demonstrações contábeis efetuadas de acordo
com os princípios de contabilidade de seus respectivos países de origem,
sejam acompanhadas de uma conciliação dos resultados, como se tais
demonstrações tivessem sido preparadas de acordo com os princípios
contábeis do país de destino.

4. International Accounting Standards Committee


A contabilidade não é uma ciência exata, o que pressupõe que seus
resultados nunca são iguais. Mesmo que por hipótese, se tivermos dois
contadores processando simultaneamente a contabilidade de uma mesma
empresa, que ambos façam parte da mesma cultura, mesmas regras legais
e fiscais, com a mesma educação contábil, os resultados poderão ser
divergentes. Contudo, essas divergências não seriam tão grandes quanto
as provocadas pela falta de harmonização internacional da contabilidade.

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Com isso, percebemos que a ciência da contabilidade necessita de uma
única base, consistente em nível nacional e internacional, para poder
realmente cumprir com alguns de seus principais objetivos: servir como
poderoso instrumento de fonte de informações gerenciais e também
facilitar a prestação de contas das entidades por ela controlada.
Contabilidade Internacional

E como sabemos, fomentar uma base sólida de informações e excitar o


ato de prestação de contas exige, acima de tudo, simplicidade nos seus
resultados finais. Somente conseguindo isso a contabilidade atinge os
seus objetivos, pois, se tais relatórios forem complicados e de difícil
entendimento, de nada serviria, porque na grande maioria das vezes, as
Demonstrações Contábeis são utilizadas pelos “leigos em contabilidade”.

E essa simplicidade que as demonstrações contábeis devem proporcionar


aos seus usuários está preconizada nas características qualitativas das


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Normas Internacionais de Contabilidade emitidas pelo IASC, que são:


Compreensibilidade; Relevância; Confiabilidade e Comparabilidade.

Como percebemos, por um lado falamos de unificação nos princípios


e práticas contábeis internacionais; por outro, de simplicidade no
cumprimento de seus objetivos. Será que essas duas coisas podem ser
atingidas simultaneamente?

Para isso, recorremos ao exposto por SANTISO (1996), dizendo que


“realmente, com critério pragmático é quase impossível sustentar que, em
nível mundial, todos os países aceitem unir-se a um modelo único: com
diferentes realidades políticas e marcos institucionais, com diversas condições
da economia e com normas legais desiguais em cada um deles, converte uma
idéia desse tipo em quase utópica”.

Continua expressando: “No entanto, se pensa que se tomarmos algum


modelo bem fundamentado em nível teórico, é possível introduzir variantes e
aliviar rigidez que possibilitem, passo a passo, avançar em um processo rumo
à uniformidade”.

5. Harmonização e Normalização das Normas

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Internacionais
Na contabilidade internacional, muitas vezes nos deparamos com outras
terminologias como padronização e normalização, além dos anteriormente
Contabilidade Internacional

citados. Na realidade, todos eles podem ser resumidos em apenas dois


conceitos, harmonização e normalização, sendo que cada um deles possui
seu próprio significado.

Dependendo do enfoque que se pretende dar ao processo de diminuição


ou eliminação das assimetrias hoje existentes nos princípios e normas
contábeis ao redor do mundo, devemos utilizar a terminologia correta,
que melhor reflita o enfoque a ser adotado.


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LAÍNEZ GADEA (1993), diz que é importante distinguir esses dois termos,
que muito confundem e até mesmo parecem meros sinônimos, mas
não são, quando se estuda a contabilidade internacional. Dessa forma,
expressa:

“A normalização é um processo que trata de impor uma


uniformidade nos métodos e práticas contábeis de todos
os países que participam no processo. A harmonização, por
contra, implica um processo de conciliação de diferentes
pontos de vista e, portanto, da diversidade de práticas
existentes, estabelecendo limites a seu grau de variação.
Ambos os termos, no entanto, não são estados antagônicos,
senão implicam processos que podem convergir quando o
processo de harmonização se aproxima à uniformidade.”

Dessa forma, notamos que a normalização contábil posiciona-se num


extremo de total igualdade nos procedimentos contábeis, isto é, visa a
padronização dos princípios e normas. Pode ser aplicada, no máximo,
em nível nacional, já que internacionalmente isso ainda nos parece estar
muito longe de acontecer.

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Harmonização, termo com significado completamente diferente do
anterior, entendemos ser o caminho mais indicado numa primeira
etapa de diminuição das assimetrias existentes. Posiciona-se num ponto
intermediário entre a total igualdade de procedimentos e a total liberdade
de trabalhar a contabilidade.
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O problema que podemos encontrar em ambos os enfoques é que, por


um lado, a normalização supranacional parece-nos difícil de ser alcançada
até mesmo em grupos de integração regional, como é o caso do Mercosul
e a União Européia. De outro lado, a harmonização, por ser apenas a
eliminação da total liberdade de procedimento, deve contemplar a escolha
de algumas ou várias alternativas para o tratamento de um mesmo fato
contábil. E isso, ainda está longe de um ideal que resolva definitivamente
o problema de comparabilidade de resultados.


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6. Diferenças nas Demonstrações Contábeis


causadas pela falta de Harmonização
Como podemos observar, o ponto central dessa questão terá efeito direto
nas demonstrações contábeis, principalmente no balanço patrimonial e
na demonstração do resultado. O balanço patrimonial demonstra a
situação financeira e patrimonial da empresa, ou seja, seus bens,
direitos e obrigações numa data específica. A demonstração de
resultado, por sua vez, evidencia e confronta a composição das receitas
e despesas no período compreendido entre o exercício social atual e
anterior.

Essas duas demonstrações constituem as ferramentas básicas para que os


interessados conheçam detalhadamente a situação da empresa analisada.
Por isso, elas devem estar revestidas de características qualitativas que
as tornem compreensíveis, confiáveis, relevantes e que possam ser
comparáveis, tanto ao longo dos exercícios sociais quanto entre as demais
empresas, porque elas poderão influenciar nas decisões a serem tomadas
por essas pessoas.

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Diante do exposto até o momento, as diferenças ambientais de onde se
processam as informações contábeis as tornarão inconsistentes para
serem entendidas em nível mundial. Com relação a isso, concordamos
com YAMAMOTO e LOPES (2000) quando expressa que “como os usuários
estão cada vez mais dispersos pelo mundo e seus interesses mais
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divergentes, mais complexa é a tarefa de atendê-los. Ainda que os usuários


tivessem os mesmos interesses, existe a hipótese de que as informações
contábeis não estejam perfeitamente adaptadas à sua própria cultura e
forma de ver o mundo”.

Mas afinal, quais são especificamente as diferenças que a falta de


harmonização entre os princípios, normas e procedimentos contábeis
podem afetar nessas demonstrações?

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Para responder a essa questão, vamos expor a situação que seria ideal,
porém, ao mesmo tempo consiste numa utopia diante dos diferentes
ambientes que a contabilidade se insere. As demonstrações contábeis
deveriam transmitir as mesmas coisas, da mesma forma, no mesmo
idioma, na mesma unidade monetária e elaborada sob os mesmos
prismas, porém percebemos que é impossível.

No entanto, as conseqüências não são apenas essas, embora, todas


girem em torno dos princípios e critérios contábeis observados em seu
processamento. Além do formato e do seu grau de revelação (disclosure),
as demonstrações contábeis trazem outros problemas para quem irá
analisá-las em outro país.

Síntese
Através desta aula conseguimos visualizar os problemas que a
contabilidade brasileira passa por conta das diferenças de princípios e
normas. Essa discussão gera um envolvimento de todas as disciplinas
estudadas no curso de Ciências Contábeis, pois precisamos de
adequações para usar a mesma linguagem contábil no mundo.

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Na próxima aula estudaremos os organismos internacionais de
contabilidade utilizados pelas empresas no mundo.
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Referências
CONSELHO REGIONAL DE CONTABILIDADE DO ESTADO DE SÃO PAULO.
Contabilidade no Contexto Internacional. São Paulo: Atlas, 1997.

IBRACON. Normas Internacionais de Contabilidade. São Paulo: IBRACON,


1998.

LAÍNEZ GADEA, José Antonio. Comparabilidad Internacional de la


Información Financiera. Madrid: ICAC, 1993.

LAWRENCE, Steve. International Accounting. London: International


Thomson Business Press, 1996.

PEREZ JR., José Hernandez. Conversão das Demonstrações Contábeis


para Moeda Estrangeira. São Paulo : Atlas, 1997.

POHLMANN, Marcelo Coletto. Harmonização Contábil no Mercosul:


A Profissão Contábil e o Processo de Emissão de Normas – Uma
Contribuição. Dissertação [Mestrado em Contabilidade] – Faculdade

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de Economia, Administração e Atuária – Universidade de São Paulo, São
Paulo, 1994.

SÁ, Antonio Lopes de. Conceitos em Contabilidade e Harmonização


para Globalização. Revista Brasileira de Contabilidade, Brasília, n. 110, p.
78-81, mar./abr. 1998.
Contabilidade Internacional

SANTISO, Horácio López. Un Modelo Contable Globalizador: El Modelo


de Valor Economico – Contable. Revista Brasileira de Contabilidade.
Brasília, n. 100, p. 69-78, jul./ago. 1996.

YAMAMOTO, Marina Mitiyo; LOPES, Alexsandro Broedel. Normas


Contábeis, Uma Babel Internacional. Mercado de Capitais, [s.l.], n. 66, p.30-
33, [s.d.].2000.

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