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CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO

UNIDADE DE ENSINO DE AMERICANA

Disciplina de Contabilidade Internacional


Profº Me. Alexandre Godoi

A Origem das Normas Internacionais de Contabilidade e o atual processo de


convergência no Brasil

No início dos anos 70 foi criado o Comitê de Normas Contábeis Internacionais


(da sigla em inglês IASC – International Accounting Standards Committee), sendo um
organismo internacional com o propósito de produzir normas contábeis que não
estivessem sob a ótica de um único país, como era o caso das Normas Americanas de
Contabilidade nos Estados Unidos e seus pronunciamentos emitidos pelo FASB –
Financial Accounting Standards Board que constituem os chamados Princípios Contábeis
Geralmente Aceitos Norte-Americanos (US GAAP – United States Generally Accepted
Accounting Principles).
Como mencionado, o surgimento do IASC foi com a finalidade de ser um
organismo internacional responsável por produzir normas contábeis que não estivessem
sob a ótica de um país em particular, mas sim com a intenção de serem elaboradas
normas genuinamente internacionais, de ampla aplicabilidade no mundo.
O IASC foi responsável pela elaboração de normas internacionais de
contabilidade conhecidas como IAS – Internacional Accounting Standards até o ano de
2001, muitas das quais ainda continuam em vigência conforme quadro a ser apresentado
ao final deste material.
Neste mesmo período do ano de 2001, a partir de um grande consenso na
comunidade empresarial internacional em função da necessidade de dotar de mais
consistência o preparo de Normas Internacionais de Contabilidade, procedeu-se a uma
reforma no mecanismo de funcionamento do IASC, passando a partir deste momento a
denominar-se IASB – International Accounting Standards Board.
O IASB passa então a ser responsável pela emissão das Normas
Internacionais de Relatórios Financeiros, mais conhecidas como IFRS – International
Financial Reporting Standards, abrangendo não apenas questões especificamente
contábeis, mas também temas envolvidos com a divulgação de desempenho operacional
por meio de balanços, demonstrações de resultados, demonstrações de fluxos de caixa e
notas explicativas às demonstrações financeiras.

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Cabe comentar que as Normas Internacionais de Contabilidade inicialmente


emitidas com a sigla de IAS pelo antigo órgão do IASC, e posteriormente como IFRS já na
atual estrutura do IASB, são ainda complementadas por interpretações que foram
elaboradas por estes dois órgãos e emitidas sob as siglas de SIC – Standing
Interpretations Committee e como IFRIC – International Financial Reporting Interpretations
Committee, respectivamente.
O quadro a seguir apresenta a responsabilidade de cada um destes
organismos na emissão de normas contábeis e interpretações, segregados em duas fases
(até o ano de 2001 e após esse período).

Quadro 01: Responsabilidade o IASC e de seu sucessor o IASB na emissão de normas


contábeis e interpretações

Nota: Até o ano de 2001 o IASC – International Accounting Standards Committee era o órgão responsável pela emissão
de normas contábeis internacionais e interpretações, vindo a ser sucedido a partir de 2001 pelo IASB – International
Accounting Standards Board, atual responsável pela emissão de tais normas e interpretações.

Uma característica fundamental das Normas Internacionais de Contabilidade


é a de que elas buscam obedecer a PRINCÍPIOS e evitam serem REGRAS (estas mais
passíveis de burlas, enquanto os princípios não).
Neste sentido, esse conjunto de normas trabalha com diretrizes e princípios,
onde a empresa interpreta determinado evento econômico dentro de sua realidade.
Poderá ainda ser observado ao longo dos estudos que as normas contábeis
internacionais buscam eliminar progressivamente o uso de normas elaboradas que
contenham valores ou percentuais de “pisos” ou “tetos”.

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A título de exemplo podemos mencionar o caso da Depreciação de Ativos


Imobilizados, na qual deixa de se basear em uma tabela de percentuais, passando-se a
utilizar o conceito de vida útil para a entidade para fins de depreciação do Ativo
Imobilizado.
O principal objetivo das Normas Internacionais de Contabilidade é possibilitar a
produção de informações úteis para os stakeholders (acionistas, credores, governo,
empregados e demais usuários interessados na informação contábil), refletindo a
realidade econômica do negócio da empresa nas demonstrações financeiras e como
foram geridos seus resultados. A partir desta informação associada com o histórico da
empresa, é possível principalmente aos potenciais investidores fazer uma análise com
menos chances de equívocos em suas decisões.
No meio acadêmico costumamos dizer que as Normas Internacionais de
Contabilidade buscam privilegiar aos princípios por ela emanados, pondo um fim em
“tabelas de percentuais”, “receitas prontas” ou simplesmente na “aplicação de formas
dispostas em regras”, passando a se valer mais da interpretação do fato econômico e da
análise do profissional de contabilidade responsável por registrar na contabilidade da
empresa determinado evento econômico.
As Normas Internacionais de Contabilidade são repletas de expressões como
“relevante”, “material”, “importante” e o correto enquadramento de determinado fenômeno
econômicos nas IFRSs dependerá do julgamento do profissional responsável pela
elaboração das Demonstrações Financeiras e de seus Auditores. (LEMES; CARVALHO,
2010)
Desde o ano de 2011 mais de 120 países ao redor do mundo tem requerido ou
permitido o uso das normas em IFRS. Maiores informações sobre o processo de
convergência global às Normas Internacionais de Contabilidade, o plano de trabalho do
IASB e entidades ligadas, o processo de desenvolvimento de uma norma contábil, os
assuntos que fazem parte da agenda de elaboração de novas normas internacionais, os
eventos realizados ao redor do mundo e dentre outras informações, podem ser obtidas
por meio do site: www.ifrs.org onde há um rico material disponível em diversos idiomas,
muitos dos quais já traduzidos para o Português.

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No Brasil, o processo de convergência às Normas Internacionais de


Contabilidade teve início a partir do ano de 2007 por meio de uma alteração radical
efetuada em nosso ordenamento contábil pela Lei 11.638/2007 e do acatamento pelas
autoridades reguladoras governamentais tais como a CVM – Comissão de Valores
Mobiliários, o BACEN – Banco Central do Brasil, a ANS – Agência Nacional de Saúde
entre outros órgãos, dos Pronunciamentos emitidos pelo CPC – Comitê de
Pronunciamentos Contábeis, sendo este o organismo responsável em nosso país pelo
estudo, elaboração e emissão de Pronunciamentos Contábeis com vistas ao processo de
Convergência às Normas Internacionais de Contabilidade.
Maiores informações sobre o CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis,
sua agenda de trabalho, os pronunciamentos e interpretações emitidos até o momento
entre outras informações, poderão ser obtidos por meio do site: www.cpc.org.br
Um fato importante ocorrido no Brasil que merece ser destacado deve-se a
implementação por força legal (por exigência da Lei 11.638/2007) das Normas
Internacionais de Contabilidade nos Balanços Individuais das empresas, ao invés de
apenas nos Balanços Consolidados como ocorreu na Europa a partir do ano de 2005.
A adoção das Normas Internacionais nos Balanços Individuais das empresas
no Brasil colocou nosso país na especialíssima condição de sermos um dos únicos,
senão o único, a implementar por força de lei as Normais Internacionais nos Balanços
Individuais.
Desse modo, no Brasil dentre de poucos anos se mantida a postura brasileira
neste processo de convergência, entre nós as expressões Contabilidade Internacional e
Contabilidade Societária terão um único significado. (LEMES; CARVALHO, 2010)
Em reportagem publicada no Jornal Valor Econômico de 31.01.2012, é
abordado que em pouco mais de dois anos de início deste processo de convergência das
empresas brasileiras às normas IFRS, os resultados apresentados são avaliados como
positivo por especialistas do setor. Os números evidenciam a forma até tranquila como
esse processo de convergência tem caminhado.
Das 630 companhias abertas (sociedades anônimas de capital aberto listadas
na Bolsa de Valores) que divulgaram suas informações no padrão IFRS no ano de 2011
(referentes ao 3º trimestre), em apenas cinco casos a CVM – Comissão de Valores
Mobiliários solicitou que fosse refeito ou republicadas as demonstrações financeiras.

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Por outro lado, muito embora ainda possa ser observada na classe contábil
certa resistência quanto à adoção das Normas Internacionais de Contabilidade, em
especial para as pequenas e médias empresas, muitas das quais o fator de resistência
não é causado apenas pelo profissional contábil, mas sim pela própria administração da
empresa, já estamos atualmente em um caminho sem volta, no qual a adoção deste
conjunto de normas contábeis deve ser inserida na pauta de prioridades de toda a alta
direção da empresa, seus gestores e profissionais envolvidos com a área contábil.
O Jornal Valor Econômico aborda ainda na edição de 31.01.2012 que embora
venha crescendo a procura de informação por parte das pequenas e médias empresas
(PMEs) para entender as Normas Internacionais de Contabilidade, o processo de
implantação ainda engatinha nesse segmento empresarial. Os principais fatores
causadores dessa lentidão seriam a escassez de mão de obra capacitada e a crença
de que estar em dia com a área fiscal já é o bastante, além do fato de muitas ainda
acreditarem não ser necessário a adaptação de imediato.
Convém também comentar que até mesmo na Europa depois de mais de cinco
anos utilizando o padrão internacional de normas contábeis, as empresas ainda
continuam a mudar a forma de contabilizar suas operações e o instrumento utilizado para
acompanhar esse dinamismo não é a mudança das regras, mas sim das interpretações
realizadas pelos profissionais, em especial aqueles envolvidos com a contabilidade, daí o
fato das Normas Internacionais de Contabilidade (IASs, IFRSs, SICs e IFRICs) trabalhar
com princípios.
Nas Tabelas “01” e “02” a seguir são apresentadas a relação de Normas
Internacionais de Contabilidade e as Interpretações em vigor no ano de 2011, lembrando
que atualmente os Pronunciamentos emitidos pelo IASB em vigência são compostos por
normas abrangendo tópicos específicos sob as siglas de IFRSs ou IASs e as
Interpretações sobre assuntos contenciosos sob as siglas de SICs ou IFRICs. A relação
completa de normas contábeis internacionais e suas interpretações constam disponíveis
no site www.ifrs.org, sendo recomendado aos alunos o acesso ao site para
familiarização com as expressões técnicas da língua inglesa adotadas nas referidas
normas e interpretações, bem como em outros idiomas.

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Tabela 01 – Normas Internacionais de Contabilidade – IASs e IFRSs em vigor em 2011
IAS 1 Apresentação das Demonstrações Contábeis
IAS 2 Estoques
IAS 7 Demonstração dos Fluxos de Caixa
IAS 8 Políticas Contábeis, Mudanças em Estimativas Contábeis e Erros
IAS 10 Eventos após a data do Balanço
IAS 11 Contratos de Construção
IAS 12 Imposto de Renda
IAS 16 Imobilizado
IAS 17 Leases
IAS 18 Receitas
IAS 19 Benefícios de Empregados
IAS 20 Contabilidade e Divulgação para Benefícios Governamentais
IAS 21 Efeitos de Mudanças de Taxas Cambiais
IAS 23 Custos de Empréstimos
IAS 24 Divulgação de Partes Relacionadas
IAS 26 Contabilidade e Relatórios dos Planos de Benefícios de Aposentadoria
IAS 27 Demonstrações Contábeis Consolidadas e Separadas
IAS 28 Investimentos em Coligadas
IAS 29 Relatórios Contábeis em Economias Hiperinflacionárias
IAS 31 Participações em Joint Ventures
IAS 32 Instrumentos Financeiros: Apresentação
IAS 33 Lucro por Ação
IAS 34 Relatórios Contábeis Intermediários
IAS 36 Impairment de Ativos
IAS 37 Provisões, Passivos Contingentes e Ativos Contingentes
IAS 38 Ativos Intangíveis
IAS 39 Instrumentos Financeiros: Reconhecimento e Mensuração
IAS 40 Propriedades de Investimento
IAS 41 Agricultura
IFRS 1 Adoção pela Primeira vez das Normas Internacionais de Relatórios Financeiros
IFRS 2 Pagamento com Base em Ações
IFRS 3 Combinações de Negócios
IFRS 4 Contratos de Seguros
IFRS 5 Ativos não Correntes mantidos para venda e operações descontinuadas
IFRS 6 Exploração e Avaliação de Recursos Minerais
IFRS 7 Instrumentos Financeiros: Divulgações
IFRS 8 Segmentos Operacionais
IFRS 9 Instrumentos Financeiros

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Tabela 02 – Interpretações - SICs e IFRICs em vigor em 2011
SIC 7 Introdução ao EURO
SIC 10 Benefícios Governamentais – Nenhuma relação específica com as atividades
operacionais
SIC 12 Consolidação – Entidades de Propósitos Especiais
SIC 13 Entidades Controladas Conjuntamente – Contribuições Não Monetárias dos Investidores
SIC 15 Leases Operacionais – Incentivos
SIC 25 Imposto de Renda – Mudanças no Status Fiscal de uma Entidade ou de seus Acionistas
SIC 27 Avaliação da essência de transações envolvendo a forma legal de um Lease
SIC 29 Acordos de Concessão de Serviços – Divulgações
SIC 31 Receita – Transações de Troca envolvendo Serviços de Publicidade
SIC 32 Ativos Intangíveis – Custos de Website
IFRIC 1 Mudança nas Obrigações de Desativar, Restaurar e Passivos Similares
IFRIC 2 Participações em Cooperativas e Instrumentos Similares
IFRIC 4 Determinando se um acordo contém um Lease
IFRIC 5 Participações em Fundos para Desativação, Restauração e Recuperação Ambiental
IFRIC 6 Passivos originados de Participação em um Mercado Específico – Refugos de
Equipamentos Eletrônico e Elétrico
IFRIC 7 Aplicando a abordagem de Restabelecimento de Acordo com a IAS 29
IFRIC 10 Relatórios Financeiros Intermediários e Impairment
IFRIC 12 Acordos de Concessão de Serviços
IFRIC 13 Programas de Fidelidades de Clientes
IFRIC 14 IAS 19 – Limite sobre um Ativo de Benefício Definido, Exigências de Recursos Mínimos e
sua Interação
IFRIC 15 Contratos para a Construção de Imóveis
IFRIC 16 Hedges de um Investimento Líquido em uma Operação Estrangeira
IFRIC 17 Distribuições de Ativos Não Financeiros em uma Operação Estrangeira
IFRIC 18 Transferência de Ativos de Clientes
IFRIC 19 Extinção de Passivos Financeiros com Instrumentos Patrimoniais

Legenda para as Tabelas:


IAS – International Accounting Standards
IFRS – International Financial Reporting Standards
SIC – Standing Interpretations Committee
IFRIC – International Financial Reporting Interpretations Committee

Por fim, um elemento indispensável para o entendimento deste conjunto de


normas contábeis que estudaremos trata-se da “Estrutura Conceitual para a
Preparação e Apresentação de Relatórios Financeiros” (conhecida como Framework)
a qual apresenta definições mais abrangentes para Ativos, Passivos, Patrimônio Líquido,
Receitas, Despesas e as características qualitativas da informação contábil.

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BIBLIOGRAFIA

CPC – COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Index. Disponível em: <


http://www.cpc.org.br/index.php>. Acesso em 07 fev. 2012.

LEMES, S.; CARVALHO, L. N. Contabilidade Internacional para Graduação. São


Paulo: Atlas, 2010.

IASB – INTERNATIONAL ACCOUNTING STANDARDS BOARD. Normas Internacionais


de Relatório Financeiro (IFRSs): Pronunciamentos oficiais emitidos até 1º de janeiro de
2011, volumes 1 e 2, Tradução: IBRACON, São Paulo, 2011.

IASB – INTERNATIONAL ACCOUNTING STANDARDS BOARD. Standards (IFRSs)


Access the unaccompanied standards and their technical summaries. Disponível em:
< http://www.ifrs.org/IFRSs/IFRS.htm>. Acesso em 07 fev. 2012.

JORNAL VALOR ECONÔMICO. Convergência Positiva. Valor Econômico, São Paulo,


31 jan. 2012. Disponível em: <http://www.cfc.org.br/conteudo.aspx?codMenu=67&
codConteudo=6188>. Acesso em: 07 fev. 2012.

JORNAL VALOR ECONÔMICO. PME ainda patina na adoção do processo. Valor


Econômico, São Paulo, 31 jan. 2012. Disponível em:
<http://www.cfc.org.br/conteudo.aspx?codMenu=67&codConteudo=6194>. Acesso em: 07
fev. 2012.

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