Você está na página 1de 10

TEORIA DA

CONTABILIDADE

Aline Alves
Revisão técnica:

Lilian Martins
Cientista contábil
Especialista em Controladoria e Planejamento Tributário
Professora de Curso de Graduação em Ciências Contábeis

A474t Alves, Aline.


Teoria da contabilidade [recurso eletrônico] / Aline
Alves; [revisão técnica: Lilian Martins.]. – Porto Alegre:
SAGAH, 2017.

Editado também como livro impresso em 2017.


ISBN 978-85-9502-280-5

1. Contabilidade. I.Título.

CDU 657

Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB -10/2147


Contabilidade internacional
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Explicar de que forma os administradores e os investidores influenciam


na condução da ciência contábil.
„„ Explicar a importância da harmonização contábil.
„„ Identificar as vantagens e desvantagens da harmonização contábil.

Introdução
Você saberia responder qual é a relevância da adoção das normas
internacionais de contabilidade? A adoção de normas internacionais
de contabilidade em diversas jurisdições (países) resultou em uma
maior padronização das práticas contábeis, fazendo com que as
demonstrações financeiras de empresas em diversos países se
tornassem mais comparáveis. Isso facilita as decisões de alocação de
capital de investidores que têm a alternativa de investir em diversos
países, seja por meio da aquisição de ações de empresas ou pela
aquisição de títulos de dívida emitidos pelas empresas.
Neste capítulo, você vai estudar as vantagens e as desvantagens
da harmonização contábil, a sua relevância para a contabilidade e
para os usuários, e a influência de administradores e investidores na
contabilidade.
2 Contabilidade internacional

Investidores e o seu reflexo direto na contabilidade


Em países desenvolvidos, é importante a presença do mercado de
capitais como fonte de financiamento das empresas. Assim, o investidor que
participa do mercado de capitais passa a ser um dos principais usuários das
informações contábeis, influenciando a forma que as empresas preparam
essas demonstrações contábeis.
No contexto das empresas brasileiras, os investidores historicamente não
tinham influência relevante na contabilidade da maior parte das empresas.
Isso ocorre pois no Brasil, antes de 2007, quando foram adotadas as normas
internacionais de contabilidade, havia pouquíssimas empresas de capital
aberto (aproximadamente 400 empresas). Mesmo nessas empresas de capital
aberto, havia uma significativa presença de empresas com controle
concentrado, nas quais os acionistas controladores exerciam
discricionariedade na elaboração das demonstrações contábeis da empresa.
Nas empresas de capital fechado brasileiras, cujas ações não são negociadas
em bolsa de valores, as demonstrações contábeis eram fortemente
influenciadas por regras de natureza tributária.
Os potenciais investidores, que podem tomar decisões de investir em
ações de empresas ou em conceder crédito por meio da aquisição de títulos
de dívida, têm interesse primário na contabilidade, já que ela auxilia no
processo de tomada de decisão, que pode refletir sobre seus investimentos.
Os potenciais investidores, por sua vez, têm interesse na contabilidade, já
que ela auxilia no processo de tomada de decisão, que pode refletir sobre seus
investimentos. Cabe um questionamento: será que a contabilidade pode ser
importante para essa questão? Considerando uma visão geral, as pesquisas
efetuadas nessa área têm focado na reação do mercado acionário à publicação
das demonstrações contábeis, pois elas são significativas no processo de decisão.
Contabilidade internacional 3

Investidores e o seu reflexo indireto na contabilidade


Quanto aos investidores que não têm participação na administração da entidade,
por serem acionistas não controladores, alguns podem influenciar as decisões da
entidade, particularmente se detém parcela significativa das ações da empresa
mesmo que essa parcela não lhes conceda controle. Nesse caso, a indicação de
conselheiros de administração ou conselheiros fiscais pode de alguma forma
influenciar a qualidade das demonstrações contábeis da empresa. Para acionistas não
controladores com parcela pequena das ações da empresa, é muito mais difícil
influenciar a qualidade das demonstrações contábeis.
Para proteger os interesses dos acionistas não controladores, mas também
objetivando a melhora do papel do mercado de capitais em alocar de forma eficiente
o dinheiro dos investidores em empresas que tem boas oportunidades de
investimento, reguladores e formuladores de normas contábeis buscam incentivar a
transparência das informações contábeis.
Se o grau de transparência das demonstrações contábeis é avaliado como não
satisfatório pelos investidores que negociam frequentemente no mercado, esses
investidores tendem a avaliar o investimento na empresa como de risco elevado.
Como consequência, os investidores passam a exigir uma expectativa de retorno
mais elevada sobre o investimento realizado, o que se reflete em um aumento no
custo de capital da empresa. Ou seja, quanto menos transparentes forem as
informações contábeis da entidade, maior será o custo incorrido pela empresa na
captação de recursos, e para empresas que disponham de projetos de investimento
de igual retorno esperado, uma empresa menos transparente arrecadará menos
recursos para investir do que uma empresa com transparência mais elevada.

A importância da harmonização contábil


A contabilidade apresenta as demonstrações contábeis, que têm por
finalidade auxiliar os seus usuários por intermédio da informação prestada,
sendo usadas como base para compreensão da posição econômico-financeira
da organiza-ção, independentemente do seu porte, e também sendo uma
ferramenta para tomada de decisão.
4 Contabilidade internacional

A harmonização contábil corresponde ao método no qual diversos países, em con-


cordância, adotam padrões macros nos seus procedimentos e normascontábeis. No
entanto, são feitas adaptações que atendem às características de cada localidade.

A harmonização das demonstrações contábeis para as normas


internacionais busca reduzir as divergências existentes nos sistemas
contábeis de países diferentes. Essas diferenças entre as práticas contábeis
são decorrentes de leis e regras existentes em cada país. Assim, a
harmonização permite que os usuários externos tenham um entendimento
mais claro e preciso sobre as informações prestadas pela contabilidade,
independentemente do país no qual a empresa divulga suas demonstrações
contábeis.
Com o processo de harmonização das regras locais com as regras
internacionais, as demonstrações contábeis permitem ao investidor uma
maior comparabilidade entre empresas de diversos países, fazendo com que
o investidor possa ter um melhor entendimento sobre a situação financeira
da empresa avaliada. Assim, acredita-se que as empresas também terão mais
facilidade em atrair investidores de países diferentes, aumentando as
potenciais fontes de financiamento para seus projetos de investimento.

As normas internacionais foram regulamentadas no Brasil pela Lei nº. 11.638, de 28 de


dezembro de 2007 (BRASIL, 2007).
Contabilidade internacional 5

As vantagens e as desvantagens
da harmonização contábil
A harmonização de práticas contábeis pode fazer com que as
demonstrações contábeis sejam interpretáveis de uma mesma forma,
indiferentemente da localização. No entanto, vale destacar que o processo de
harmonização no caso de alguns países resulta em uma mudança significativa
em relação às normas contábeis adotadas anteriormente. Alguns mercados já
tinham sua contabilidade mais fortemente orientada para o mercado de
capitais (por exemplo o Reino Unido), em outros a contabilidade tinha forte
influência da legislação tributária (por exemplo o Brasil). Como consequência,
o processo de harmonização pode ter vantagens e desvantagens. As principais
vantagens esperadas a partir da harmonização são as seguintes:

 maior facilidade com relação ao acesso das organizações a


recursos financeiros internacionais;
 redução do custo de capital das empresas em decorrência da
melhoria do ambiente de informações no qual a empresa se insere;
 aumento da liquidez e do volume de negociações das ações em
bolsa de valores, em decorrência da atração de investidores
internacionais;
 maior facilidade de utilização de informações contábeis em
contratos de dívida e de transações de fusões e aquisições de
empresas;
 maior facilidade para investidores e analistas na interpretação das
demonstrações contábeis de fora do seu país de domicílio;
 facilita e aprimora as tarefas de auditoria interna e externa no
contexto de organizações multinacionais;
 favorece a comparação das empresas que estão inseridas no
mercado estrangeiro e as estratégias de cada uma elas;
 favorece o ensino da contabilidade, pois sua harmonização facilita
o seu entendimento, independentemente da região;
 favorece a mobilidade internacional de profissionais contábeis.

As principais desvantagens esperadas do processo de harmonização são


as seguintes:
6 Contabilidade internacional

 Pode haver um significativo custo para os países que


optarem pela adoção das normas internacionais,
particularmente se as normas locais são muito diferentes das
internacionais;
 É necessário investir na qualificação dos profissionais que
preparam e auditam as demonstrações contábeis, bem como
na qualificação dos analistas de investimentos para que
compreendam o impacto das mudanças normativas no
processo de avaliação de empresas.
 Há o risco de aumentos de carga tributária em decorrência
da mudança de normas contábeis, o que estará sujeito a
processos políticos de alteração de normas tributárias para
reconhecer as mudanças no lucro e patrimônio contábil,
dependentes da harmonização.
 a adoção pode facilitar o não reconhecimento de que países
diferentes necessitam de normas modificadas em
conformidade com as suas particularidades culturais, regulares
e econômicas;

Com base nas informações citadas, é possível perceber que se espera


muito mais vantagens do que desvantagens no processo de harmonização
contábil.

Referência

BRASIL. Lei nº. 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Altera e revoga dispositivos da Lei
no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e da Lei no 6.385, de 7 de dezembro de 1976,
e estende às sociedades de grande porte disposições relativas à elaboração e divul-
gação de demonstrações financeiras. Brasília, DF, 2007. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.htm>. Acesso em: 26 out. 2017.

Leituras recomendadas
LUZ, E. E. Teoria da contabilidade. Curitiba: InterSaberes, 2015.
NIYAMA, J. K.; SILVA, C. A. Teoria da contabilidade. São Paulo: Atlas, 2009.
SÁ, A. L. Teoria da contabilidade. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
SÁNTOS, J. L. D. Teoria da contabilidade. São Paulo: Pearson, 2009.
Conteúdo:

Você também pode gostar