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O relógio de ouro
- Machado de Assis - adaptado por Maísa Aché -

SONOPLASTIA
música animada - atores dançam

SINAL DE GRAVAÇÃO

NARRADORA
E agora: nossos patrocinadores...

SOM
Você já experimentou o novo shampoo de laranja da linha Virtual? A linha Virtual leva a natureza até
você! SOM (de internet) Experimente: shampoo de laranja; seus cabelos irão ficar como os meus...

SONOPLASTA: um bagaço!

música de comercial

NARRADORA
E agora... mais um patrocínio exclusivo do Supermercado ONLINE... SOM
Supermercado ONLINE: onde o seu dinheiro rende muito mais... (som de moedas)

Só no Supermercado ONLINE você encontra INTERNET SEM LIMITES por apenas 1 real...

NARRADOR

O supermercado ONLINE orgulhosamente apresenta: música


“Contos Românticos”.
música...
Um programa dedicado a você

SONOPLASTA Você... você... você

NARRADOR ...querida ouvinte. Hoje com a história: “O relógio de ouro”.

SOM

NARRADORA Clarinha, moça bonita... linda...


Ainda que um tanto pálida... e sem sal, sem graça, sem vida........

SOM livro (páginas)


Está lendo distraidamente, quando entra Luis Negreiros, seu marido.

LUIS
Querida, cheguei!
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NARRADOR
Ela não corresponde ao beijo do marido.

SOM beijoka

LUIS
Estive hoje na casa do desembargador...

NARRADORA
Ela sai SOM

LUIS
Clarinha....

NARRADOR
Ele olha uns papéis que acabou de trazer SOM
quando vê um relógio de ouro em cima da mesa. SOM suspense
Um grande cronômetro, inteiramente novo. Um relógio que não era dele. Ele o examina.

LUIS
Não é de nenhuma pessoa conhecida minha.

SONOPLASTA
Diz ele boquiaberto.

LUIS
Mas o que é isso? Uma charada?

NARRADOR
Ele anda de um lado para o outro. SOM
Gostava de charadas, mas as das folhinhas ou dos jornais.
Ele pega o relógio, se atira sobre uma cadeira e puxa raivosamente os cabelos. SOM
Ele bate os pés no chão SOM e põe o relógio em cima da mesa. SOM
Terminada essa primeira manifestação de furor, ele examina novamente o relógio.
Percebe que, sem uma explicação de Clarinha, seu comportamento histérico é precipitado.

LUIS
Sem uma explicação de Clarinha, todo esse meu procedimento é precipitado. TIRANDO ONDA DA
SONOPLASTA

NARRADOR
Ele a chama.

LUIS
Clarinha!

NARRADOR
Ela entra com um ar indiferente e tranquilo.
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Ele mostra o relógio.

LUIS
O que é isso? (suave e desligado)

SONOPLASTA
Ele está nervoso.

LUIS
O que é isso??? (nervoso)

NARRADOR
Ela morde os beiços e não responde.
Ele põe o relógio em cima da mesa.

LUIS
Vamos... de quem é esse relógio?

NARRADOR
Ela olha para ele e faz o gesto de que não sabe.
Ele tenta se controlar. SOM
Ela vai até a mesa, pega o relógio e examina.
Ele vai até ela, faz que vai esganá-la, mas a segura pelos pulsos. (DE UMA TELA PARA OUTRA TELA)

LUIS Responda-me demônio! Explique-me esse enigma!

NARRADOR
Ela faz uma cara de dor e ele, arrependido, solta-lhe os pulsos.
Ela sai chorando SOM
e ele anda de um lado pro outro tentando se acalmar. SOM

LUIS
Clarinha, venha cá!

NARRADOR
Ela entra, SOM
ainda chorando.
SOM
Ele puxa uma cadeira, para ela se sentar
e senta-se em frente a ela.

LUIS
Estou tranquilo, como você pode ver. Responda-me com a franqueza que sempre usou comigo. Eu não
a acuso e nem suspeito de você. Quero simplesmente saber como foi parar ali aquele relógio.
Foi seu pai que o esqueceu cá?

NARRADOR
Clarinha faz que não com a cabeça.
4

SOM

LUIS
Mas então...

NARRADOR
Ela chora SOM
e ele urra SOM

LUIS
Isso é demais!

NARRADOR
Ele está agitado, querendo atirar-se sobre ela.
Ela fixa os olhos num ponto, sem gesto nenhum.

LUIS
Escuta, eu...

MEIRELES
Ó Luis, seu malandrim... (normal)

NARRADOR
Meireles, o sogro, sobe as escadas gritando.
SOM

MEIRELES
Ó Luis, seu malandrim... (mais alto)

LUIS
Aí vem teu pai... mas logo me pagará...

NARRADOR
Ela sai chorando. SOM
Meireles, um homem alegre, de quem Luis gostava muito, entra animado.

MEIRELES
Luis...

LUIS
Seu Meireles... fez boa viagem?

MEIRELES
A estrada estava que era puro pó.
*Onde está a minha filha? Eu tenho uma baita* novidade pra ela. Luis, lembra da Mimosa?

LUIS
Mimosa?
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MEIRELES
A vaca!
SOM

LUIS
Ah... a vaquinha da Clarinha?

MEIRELES
Está prenha... A Clarinha vai ficar tão feliz! Elas foram criadas praticamente juntas. Onde ia a Clarinha,
ia também a Mimosa e onde ia a Mimosa, ia também a Clarinha... SOM
Mas que cara é essa? Vocês estavam dormindo?

LUIS
Não senhor, estávamos conversando.

MEIRELES
Conversando? Estavam era de arrufos... é o que há de ser.

LUIS
Vamos justamente jantar. Janta conosco?

MEIRELES
Hoje, não! Janto amanhã. Não me convidaram, mas é o mesmo.

LUIS
Não o convidamos? (som/música de suspense)

MEIRELES
Você faz anos amanhã!

LUIS
Ah, é verdade... (normal)

NARRADOR
Diz ele em tom lúgubre.

LUIS
Ah... é verdade!!! (lúgubre)

NARRADOR
Diz ele descomunalmente alegre.

LUIS
Ah... é verdade!!! (excessivamente alegre)

NARRADOR
O sogro olha espantado.
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MEIRELES
Está maluco!

Narrador: ELE VÊ DONA LEOCÁDIA

MEIRELES: Olá, dona Leocádia... como está

NARRADOR: ELE SAI

Clarinha entra SOM


com os olhos ainda úmidos.

LUIS
Obrigado.

NARRADOR
Ela olha admirada.

LUIS
Obrigado! Obrigado e perdoe-me!

NARRADOR
Ele tenta abraçá-la
e ela, indignada, não deixa.
Tenta lhe fazer um carinho,
e ela, com um gesto nobre, o repele. SOM (TABUF)

LUIS
Você tem razão... mas...

MEIRELES
(ENTRANDO) Clarinha, minha filha... como está? Eu tenho uma baita* novidade. A mimosa tá prenha!
SOM

NARRADOR
Ela suspira. SOM

MEIRELES
Clarinha... eu não entendo. Seu marido está ali tão alegre e você me parece preocupada, tão
abatidinha... Que foi? Conta pro papai.

NARRADOR
Ela suspira novamente. SOM

MEIRELES
(BRAVO) Ah, vocês lá se entendam. Se amanhã, apesar de ser o dia que é, vocês estiverem do mesmo
modo, prometo-lhes que nem a sombra me verão...
7

NARRADOR
Clarinha desata a chorar. SOM

MEIRELES
Vocês lá se entendam ou nem a sombra me verão.

NARRADOR
Ele sai contrariado e Luis o acompanha.
Clarinha fica choramingando. SOM (buás variados...)

LUIS
(DE FORA) Até amanhã!!!

NARRADOR
Assim que ele entra, ela ameaça sair.

LUIS
Clarinha, perdoe-me.

NARRADOR
Ela chora. SOM

LUIS
Já tenho a explicação do tal relógio.
Se seu pai não me fala em vir jantar amanhã, eu não era capaz de adivinhar que o relógio era um
presente de anos que você me fazia!

NARRADOR
Ela olha para ele indignada e chora. SOM Ele a olha sem entender nada.

LUIS
Mas que enigma é esse? Se não é um mimo de anos, que explicação pode ter o tal relógio?

NARRADOR
Ele anda e ela chora... SOM ela chora e ele anda! SOM

LUIS
Clarinha. Esse é um momento solene. SOM **Responda ao que te pergunto desde essa tarde.

NARRADOR
Ela faz que não com a cabeça. SOM

LUIS
Reflita bem, Clarinha. Está em risco a sua vida!

NARRADOR
8

Ela dá de ombros e ele a pega pelo pescoço. SOM

LUIS
Responda-me, demônio, ou eu mato você! SOM

NARRADOR
Ele a segura pelo pescoço e ela grita SOM

CLARINHA
Espere! Mate-me, mas leia isso primeiro. Quando essa carta foi ao seu escritório já não o encontrou
lá. Foi o que o portador me disse.

Narrador: ele abre e lê a carta SOM

LUIS
(LENDO) Meu Nhonhô!

CLARINHA
Nhonhô!

LUIS
Sei que faz anos amanhã.

CLARINHA
...manhã...

LUIS
Mando essa pequena lembrança...

CLARINHA
... (b)rança...

LUIS
sua...
Miloca!

CLARINHA
MILOOOOOCA!!!!
(ELA SAI CORRENDO E CHORANDO)

LUIS
Xiiii. Clarinha, espere.
(ELE SAI ATRÁS DELA)

NARRADOR
E essa foi a história SOM “O relógio de ouro”. SOM
E não percam amanhã, nesse mesmo horário, mais uma história em “Contos Românticos” SOM
Boa noite!

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