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PROCEDIMENTO ORDINÁRIO?

A ORDEM JURÍDICA POSTA À


PROVA A PARTIR DE UM CASO DE ABSOLVIÇÃO POR
TRÁFICO DE DROGAS

Laís Alves Xavier Ramos1; Érica Babini Lapa do Amaral Machado2

Resumo: O trabalho discute o valor probatório da atividade policial em processos de


tráfico de drogas, considerando que a instrução processual, nesses casos, tem por foco a
legitimidade da narrativa desses atores (Raupp, 2009; Campos, 2015). Por meio de estudo
de caso de um processo que tramitou em uma vara criminal da comarca do Recife, que,
metodologicamente detém “capacidade de servir de via de acesso a outros fenômenos ou
a outros aspectos da realidade” (Pires, 2012, p. 180), busca-se compreender de que forma
o Judiciário apreende narrativas policiais para o desfecho do processo. No presente
trabalho, o caso precedeu à pesquisa (Machado, 2017), mais ampla, em um banco de
dados de aproximadamente 350 processos, dos quais se destacou o processo escolhido.
Primeiro, porque ele trata de ação penal que culminou em absolvição por insuficiência de
provas, não obstante a discussão sobre autoria delitiva partisse de ponto semelhante ao
padrão observado em outros estudos: depoimentos dos policiais condutores da prisão em
flagrante, o que tem se mostrado suficiente para embasar condenações (Raupp; Adorno,
2005; Boiteux, 2009). Segundo, porque a forma de construção do corpo da sentença
revelou uma crítica por parte do juiz à forma como tem se dado o processamento de crimes
de tráfico de drogas, com frágil acervo probatório. Pôs em xeque, portanto, possíveis
dilemas morais enfrentados por magistrados que percebem certa fragilidade probatória
nesses casos, mas, inseridos no contexto da guerra às drogas, sofrem constrangimentos
interinstitucionais quando se mostram avessos ao status quo decisório (Abreu, 2018). Por
essas razões, o caso possibilita discussões fundamentais para a reflexão sobre o contexto
probatório dos processos de tráfico de drogas.

1
Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Mestranda em Direito no
Programa de Pós-Graduação da Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP. E-mail:
laaisxavier@gmail.com.
2
Doutora em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Docente na Universidade Católica
de Pernambuco – UNICAP e na Universidade de Pernambuco – UPE. E-mail: erica.babini@unicap.br.
Palavras-chave: Tráfico de drogas, prova, polícia, prisão em flagrante, estudo de caso.

REFERÊNCIAS

ABREU, João Vitor Freitas Duarte. “Quando é preciso soltar: Os dilemas morais dos
magistrados ao conceder o alvará de soltura numa Central de Audiências de Custódia”.
In: Anais do 42º Encontro Anual da Anpocs, SPG 8 “Dinâmicas do encarceramento
contemporâneo: reflexões sobre a justiça criminal e seus efeitos”, Caxambu-MG, 2018.

BOITEUX, Luciana et al. Tráfico de drogas e constituição: um estudo jurídico-social do


tipo do art. 33 da Lei de Drogas diante dos princípios constitucionais-penais. Rio de
Janeiro/Brasília: Universidade Federal do Rio de Janeiro/Universidade de Brasília,
2009.

CAMPOS, Marcelo da Silveira. Pela metade: as principais implicações da nova lei de


drogas no sistema de justiça criminal em São Paulo. 2015. Tese de Doutorado.
Universidade de São Paulo.

MACHADO, Maíra Rocha. O estudo de caso na pesquisa em direito. pp. 357-390. In:
MACHADO, Maíra Rocha (Org.). Pesquisar empiricamente o direito. São Paulo: Rede
de Estudos Empíricos em Direito, 2017. 428 p

PIRES, Álvaro. Amostragem e pesquisa qualitativa: considerações epistemológicas,


teóricas e metodológicas. p. 215-254. In: POUPART, Jean. A pesquisa qualitativa:
enfoques epistemológicos e metodológicos: 3ª. ed. Petrópolis: Vozes, 2012.

RAUPP, Mariana; ADORNO, Sérgio. O seleto mundo da justiça: análise de processos


penais de tráfico de drogas. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo. 2005.

RAUPP, Mariana. O (in) visível tráfico de drogas: um estudo de sociologia das práticas
jurídicas. Revista brasileira de ciências criminais, n. 80, p. 346-369, 2009.

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