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Infetados

Claudio Hernández
A cidade do Zol
Hins A-Akila

3ª edição
Primeira edição do e-book: maio, 2017.

Título: Infetados "A Cidade do Zol, Hins A-Akila".

©2017 Claudio Hernández.

©2017 Desenho da capa: Higinia María

©2017 Fotografia da capa: Nomadsoul1 | Dreamstime.com

©2017 Revisão: Tamara López

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Dedico esta obra de ficção ao meu sogro, à minha sogra, à minha
esposa e aos seus treze irmãos, que existem de facto. Ángel, o meu
sogro, que cuida de nós lá de Cima. Oxalá fosse possível vencer a
morte. As personagens são reais, são familiares, vizinhos e amigos.
A cidade é descrita tal como ela é, com todas as suas ruas
devidamente indicadas. A história do Castelo é clara desde o início,
construído no século XI, aquando do reinado do Al-Andaluz.

Hins A-Akila existiu realmente e serviu-me como fonte de inspiração


para a presente obra de ficção, baseada em acontecimentos do
século XI.

O início da história é, na verdade, o fim da mesma, deixe-se levar


pelo terror e pelo mistério.
Introdução
Parte Um

O primeiro indício foi quando membros amputados a mortos


do cemitério começaram a mexer-se. Depois, o padre Martín foi
apanhado em flagrante enquanto tirava um morto do caixão. O morto
voltou à vida e a infeção, como se uma descarga elétrica se tratasse,
espalhou-se por grande parte da cidade de Águlas. As ruas foram
tomadas pelos zombies e um grupo de turistas, liderados por dois
cunhados que se odeiam, estão retidos no Castelo, que esconde um
segredo.
Sebastián, a carta

O centenário sentou-se no tamborete frente à mesa de


madeira, suficientemente grande para rececionar outros doze
homens, com as mãos apoiadas na mesma, e o olhar perdido, sob a
escassa luz dos archotes. Mas não, agora estava sozinho. Sebastián,
um homem que sobrevivera a duas pandemias ou, melhor, a duas
experiências com os mortos vivos. A primeira vez acontecerá dois
meses antes do fim da Guerra Civil Espanhola, quando aquelas
malditas bombas libertaram um gás com cheiro a lixivia e que
ressuscitou os mortos. Testemunhara o sucedido com os seus olhos.
Os que caíram do céu, segundo o pequeno Ángel, uma criança de
apenas três anos e uma aceitação assustadora, caminhavam depois
com as suas próprias pernas. Se as não tinham, rastejavam de lado
com o coração em paragem cardíaca e sem respirarem. Agora, com a
cidade de Águilas em quarentena, o sibilo das balas disparadas de
diferentes frentes precisamente fora do abrigo onde ele estava,
presenciava a mais aterradora e cruel das infeções por si
testemunhadas. Nem quando lera o conteúdo do livro do rei Árabe,
Hins A-Akila, que afirmava ter erguido dos mortos o seu exército,
após ser derrotado pelos berberes. Os olhos cansados de Sebastián
fixavam a folha de papel amarelado vazia. Precisava deixar um
testemunho do que acontecera na cidade de Águilas. No entanto,
preocupava-o mais o que sucederia a seguir.

A sua mão trémula e ossuda moveu-se pela madeira enrugada


da mesa do refúgio do Castelo e os seus dedos encontraram a pena.
Com uma passividade imensa, segurou-a e, depois de a contemplar à
luz avermelhada dos archotes que brilhavam atrás de si, introduziu a
ponta da pena no tinteiro. O seu corpo encurvado mostrava algumas
protuberâncias, as suas vértebras, que rangiam sempre que a sua
barba branca roçava a folha amarelada. Não se queixava, apenas
tossia sempre que falava e cansava-se muito frequentemente. A
ponta da pena pousou sobre o papel e os seus dedos pressionaram
para que pudesse começar a escrever. E, enquanto as chamas dos
archotes desenhavam formas caprichosas na parede e no teto do
refúgio, Sebastián começou a escrever:

Os meus olhos leram muito sobre os caminhantes, zombies,


infetados ou mortos vivos. E, infelizmente, conheço-os desde tenra
idade. Esta é a segunda vez que tal acontece e, aquele que agora
responde pelo nome de Padre Martín, o responsável por tudo isto,
era um jovem extrovertido na Guerra Civil Espanhol, quando o
soube. Mas, felizmente, ele pouco sabe do rei Hins A-Akila e,
certamente, não possui o segundo livro, o que concede a
imortalidade. Lembro-me de que Águilas, antes Urci, ostentava um
grande cemitério, onde hoje se erguem casas sobre os túmulos. Os
restos daqueles mortos que, à noite, choravam sob a terra, clamam
agora pelo seu momento de glória. E ainda mais quando os mortos
dos dois novos cemitérios voltarem a caminhar. Não obstante serem
apenas ossos, reivindicam o seu direito à vida. Será isto viver?
Primeira parte
A cidade do Zol

Vários helicópteros da Guarda Civil sobrevoavam Águilas,


que estava em quarentena. Em baixo, uma horda de zombies
aguardava, vagueando por todo o lado à procura de carne humana.
Eram muitos os focos de sobreviventes aglomerados em diferentes
pontos estratégicos e de difícil alcance, como o Castelo de San Juan
de las Águilas. Era onde estavam cerca de vinte sobreviventes. Os
zombies continuavam a avançar, mordendo os que apanhavam.
Viam-nos a caminhar, arrastando os pés, mas faziam-no e isso,
simplesmente, mergulhava-os num mar de dúvidas. Disparariam
contra qualquer coisa num país democrático como a Espanha?

A Guardia Civil e a Polícia Local de Lorca e Murcia tinham


encerrado os acessos rodoviários à cidade, a partir de Lorca, pelas
estradas da Andaluzia e Calabardina. A Polícia Local de Águilas já
não existia, tinham-se transformado em zombies. Muitos civis
caíram nas suas garras por confiança e ignorância. Os zombies
estavam por todo o lado: um com a cabeça aberta e apresentando a
massa encefálica, outro com um tronco cravado no peito, um terceiro
arrastando-se pelo chão, por as pernas estarem já demasiado
decompostas. Uma cena dantesca visível do ar. E os zombies, ainda
que cegos mas guiados pelo barulho, olharam furiosamente para
cima.
I

Javier e Álvaro seguiam caminho, mantendo a distância


entre si. Eram cunhados e, a forma como se olhavam, evidenciava-o.
Todavia, este não era o momento para discussões; sob a muralha do
Castelo, uma horda de infetados aguardava ansiosamente por um
pedaço de carne. De bocas abertas, apontavam para o céu, babando-
se e emitindo sons guturais de noite e dia, enquanto caminhavam de
um lado para o outro, ou arrastando-se apenas, por os pés já estarem
decompostos. Um dos últimos baluartes era o Castelo de San Juan de
las Águilas. Outros refúgios ativos, como a Torre de COPE, Los
Collados ou, o mais afastado, Los Mayorales, continuavam fortes e
seguros. Eram lugares tão dispersos e seguram, que permitiam a um
reduzido número de pessoas sobreviver, não obstante os zombies,
que aguardavam impassíveis sob a única muralha do Castelo de San
Juan de las Águilas. O outro lado da muralha dava para o mar,
profundo e distante. O Castelo era o mais castigado e tenso, por estar
mais perto do centro da cidade, da Câmara Municipal e da Igreja
onde tudo começara.

O Castelo de San Juan localiza-se num outeiro a oitenta e


cinco metros acima do nível do mar, com vista para a cidade de
Águilas, na província de Múrcia. Recentemente restaurado, tem
eletricidade e um elevador em vidro e metal que permite aos
visitantes uma subida cómoda, e um novo miradouro.

Segundo a História, o Castelo é um complexo castrense do


século XVIII, construído sobre a base de duas torres independentes,
que datam dos séculos XV e XVI. Ambos denominados a bateria de
San Pedro e o forte de San Juan, unidos por um longo corredor ao ar
livre e reforçados por muros em ambos os lados. A construção da
torre principal obedeceu a um esboço árabe, denominado Hisn A-
Akila, onde é visível a forma arredondada do esboço final. O Forte
de San Juan é composto por dois andares: a cave em redor do tanque
de água, e o piso de acesso em redor do pátio. Presentemente, é
possível aceder ao Forte via uma entrada, uma porta e o elevador que
conduz diretamente ao pátio. No entanto, a segurança é real, não
obstantes os esforços da restauração para o tornarem mais acessível.
Com tudo isto e os mantimentos, era possível sobreviver para além
da vida prolongada dos infetados, cuja duração variava entre oito
horas a vários dias, dependendo do estado de putrefação dos corpos.
Mas os zombies chegavam em massa e cheiravam a carne humana
amontoada no Castelo. Felizmente, os cerca de vinte sobreviventes
que ali viviam asseguravam a sua segurança vinte e quatro horas por
dia, em turnos de duas pessoas. A ideia era contatar os outros
refúgios, como a torre de COPE, os Collados ou os Mayorales, e
saber se havia outros sobreviventes e tornarem-se mais fortes, até a
era zombie pasar como uma sombra no meio de uma noite de lua
cheia.

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