Nenhuma parte desta publicação, incluindo o desenho da capa, pode
ser reproduzida, armazenada ou transmitida sob qualquer forma ou por qualquer meio, eletrónico, químico, mecânico, ótico, de gravação, na Internet ou fotocópia, sem a autorização prévia da editora ou do autor. Todos os direitos reservados. Dedico esta obra de ficção ao meu sogro, à minha sogra, à minha esposa e aos seus treze irmãos, que existem de facto. Ángel, o meu sogro, que cuida de nós lá de Cima. Oxalá fosse possível vencer a morte. As personagens são reais, são familiares, vizinhos e amigos. A cidade é descrita tal como ela é, com todas as suas ruas devidamente indicadas. A história do Castelo é clara desde o início, construído no século XI, aquando do reinado do Al-Andaluz.
Hins A-Akila existiu realmente e serviu-me como fonte de inspiração
para a presente obra de ficção, baseada em acontecimentos do século XI.
O início da história é, na verdade, o fim da mesma, deixe-se levar
pelo terror e pelo mistério. Introdução Parte Um
O primeiro indício foi quando membros amputados a mortos
do cemitério começaram a mexer-se. Depois, o padre Martín foi apanhado em flagrante enquanto tirava um morto do caixão. O morto voltou à vida e a infeção, como se uma descarga elétrica se tratasse, espalhou-se por grande parte da cidade de Águlas. As ruas foram tomadas pelos zombies e um grupo de turistas, liderados por dois cunhados que se odeiam, estão retidos no Castelo, que esconde um segredo. Sebastián, a carta
O centenário sentou-se no tamborete frente à mesa de
madeira, suficientemente grande para rececionar outros doze homens, com as mãos apoiadas na mesma, e o olhar perdido, sob a escassa luz dos archotes. Mas não, agora estava sozinho. Sebastián, um homem que sobrevivera a duas pandemias ou, melhor, a duas experiências com os mortos vivos. A primeira vez acontecerá dois meses antes do fim da Guerra Civil Espanhola, quando aquelas malditas bombas libertaram um gás com cheiro a lixivia e que ressuscitou os mortos. Testemunhara o sucedido com os seus olhos. Os que caíram do céu, segundo o pequeno Ángel, uma criança de apenas três anos e uma aceitação assustadora, caminhavam depois com as suas próprias pernas. Se as não tinham, rastejavam de lado com o coração em paragem cardíaca e sem respirarem. Agora, com a cidade de Águilas em quarentena, o sibilo das balas disparadas de diferentes frentes precisamente fora do abrigo onde ele estava, presenciava a mais aterradora e cruel das infeções por si testemunhadas. Nem quando lera o conteúdo do livro do rei Árabe, Hins A-Akila, que afirmava ter erguido dos mortos o seu exército, após ser derrotado pelos berberes. Os olhos cansados de Sebastián fixavam a folha de papel amarelado vazia. Precisava deixar um testemunho do que acontecera na cidade de Águilas. No entanto, preocupava-o mais o que sucederia a seguir.
A sua mão trémula e ossuda moveu-se pela madeira enrugada
da mesa do refúgio do Castelo e os seus dedos encontraram a pena. Com uma passividade imensa, segurou-a e, depois de a contemplar à luz avermelhada dos archotes que brilhavam atrás de si, introduziu a ponta da pena no tinteiro. O seu corpo encurvado mostrava algumas protuberâncias, as suas vértebras, que rangiam sempre que a sua barba branca roçava a folha amarelada. Não se queixava, apenas tossia sempre que falava e cansava-se muito frequentemente. A ponta da pena pousou sobre o papel e os seus dedos pressionaram para que pudesse começar a escrever. E, enquanto as chamas dos archotes desenhavam formas caprichosas na parede e no teto do refúgio, Sebastián começou a escrever:
Os meus olhos leram muito sobre os caminhantes, zombies,
infetados ou mortos vivos. E, infelizmente, conheço-os desde tenra idade. Esta é a segunda vez que tal acontece e, aquele que agora responde pelo nome de Padre Martín, o responsável por tudo isto, era um jovem extrovertido na Guerra Civil Espanhol, quando o soube. Mas, felizmente, ele pouco sabe do rei Hins A-Akila e, certamente, não possui o segundo livro, o que concede a imortalidade. Lembro-me de que Águilas, antes Urci, ostentava um grande cemitério, onde hoje se erguem casas sobre os túmulos. Os restos daqueles mortos que, à noite, choravam sob a terra, clamam agora pelo seu momento de glória. E ainda mais quando os mortos dos dois novos cemitérios voltarem a caminhar. Não obstante serem apenas ossos, reivindicam o seu direito à vida. Será isto viver? Primeira parte A cidade do Zol
Vários helicópteros da Guarda Civil sobrevoavam Águilas,
que estava em quarentena. Em baixo, uma horda de zombies aguardava, vagueando por todo o lado à procura de carne humana. Eram muitos os focos de sobreviventes aglomerados em diferentes pontos estratégicos e de difícil alcance, como o Castelo de San Juan de las Águilas. Era onde estavam cerca de vinte sobreviventes. Os zombies continuavam a avançar, mordendo os que apanhavam. Viam-nos a caminhar, arrastando os pés, mas faziam-no e isso, simplesmente, mergulhava-os num mar de dúvidas. Disparariam contra qualquer coisa num país democrático como a Espanha?
A Guardia Civil e a Polícia Local de Lorca e Murcia tinham
encerrado os acessos rodoviários à cidade, a partir de Lorca, pelas estradas da Andaluzia e Calabardina. A Polícia Local de Águilas já não existia, tinham-se transformado em zombies. Muitos civis caíram nas suas garras por confiança e ignorância. Os zombies estavam por todo o lado: um com a cabeça aberta e apresentando a massa encefálica, outro com um tronco cravado no peito, um terceiro arrastando-se pelo chão, por as pernas estarem já demasiado decompostas. Uma cena dantesca visível do ar. E os zombies, ainda que cegos mas guiados pelo barulho, olharam furiosamente para cima. I
Javier e Álvaro seguiam caminho, mantendo a distância
entre si. Eram cunhados e, a forma como se olhavam, evidenciava-o. Todavia, este não era o momento para discussões; sob a muralha do Castelo, uma horda de infetados aguardava ansiosamente por um pedaço de carne. De bocas abertas, apontavam para o céu, babando- se e emitindo sons guturais de noite e dia, enquanto caminhavam de um lado para o outro, ou arrastando-se apenas, por os pés já estarem decompostos. Um dos últimos baluartes era o Castelo de San Juan de las Águilas. Outros refúgios ativos, como a Torre de COPE, Los Collados ou, o mais afastado, Los Mayorales, continuavam fortes e seguros. Eram lugares tão dispersos e seguram, que permitiam a um reduzido número de pessoas sobreviver, não obstante os zombies, que aguardavam impassíveis sob a única muralha do Castelo de San Juan de las Águilas. O outro lado da muralha dava para o mar, profundo e distante. O Castelo era o mais castigado e tenso, por estar mais perto do centro da cidade, da Câmara Municipal e da Igreja onde tudo começara.
O Castelo de San Juan localiza-se num outeiro a oitenta e
cinco metros acima do nível do mar, com vista para a cidade de Águilas, na província de Múrcia. Recentemente restaurado, tem eletricidade e um elevador em vidro e metal que permite aos visitantes uma subida cómoda, e um novo miradouro.
Segundo a História, o Castelo é um complexo castrense do
século XVIII, construído sobre a base de duas torres independentes, que datam dos séculos XV e XVI. Ambos denominados a bateria de San Pedro e o forte de San Juan, unidos por um longo corredor ao ar livre e reforçados por muros em ambos os lados. A construção da torre principal obedeceu a um esboço árabe, denominado Hisn A- Akila, onde é visível a forma arredondada do esboço final. O Forte de San Juan é composto por dois andares: a cave em redor do tanque de água, e o piso de acesso em redor do pátio. Presentemente, é possível aceder ao Forte via uma entrada, uma porta e o elevador que conduz diretamente ao pátio. No entanto, a segurança é real, não obstantes os esforços da restauração para o tornarem mais acessível. Com tudo isto e os mantimentos, era possível sobreviver para além da vida prolongada dos infetados, cuja duração variava entre oito horas a vários dias, dependendo do estado de putrefação dos corpos. Mas os zombies chegavam em massa e cheiravam a carne humana amontoada no Castelo. Felizmente, os cerca de vinte sobreviventes que ali viviam asseguravam a sua segurança vinte e quatro horas por dia, em turnos de duas pessoas. A ideia era contatar os outros refúgios, como a torre de COPE, os Collados ou os Mayorales, e saber se havia outros sobreviventes e tornarem-se mais fortes, até a era zombie pasar como uma sombra no meio de uma noite de lua cheia.