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MORFOLOGIA
63 Editorial
65 L. Amorim e M. B. Filho
URBANA
Convergência de métodos de descrição da forma urbana: análise de textura de imagens de satélite e análise Revista da Rede Lusófona de Morfologia Urbana
gráfica visual
85 V. Netto, J. V. Meirelles, M. Pinheiro e H. Lorea
Uma geografia temporal do encontro
103 D. Benfatti e V. Tângari 2017
Processo de produção e transformação da forma urbana em cidades costeiras brasileiras Volume 5
Número 2
Perspetivas
125 A análise morfológica urbana: achegas da escola Catalã C. López e M. Carreiro
127 As cidades na história: as ideias e sua influência na forma urbana D. Schirmer
Relatórios
82 Rede Lusófona de Morfologia Urbana (PNUM), 2016-2017 T. Marat-Mendes
83 6ª Conferência da Rede Lusófona de Morfologia Urbana, Vitória, Brasil, 2017 J. Correia
84 3º PNUM Workshop, Setembro de 2017, Corunha V. Oliveira
Notícias
64 Urban Morphology
102 ISUF 2018: Urban form and social context
130 PNUM 2018: A produção do território – formas, processos, desígnios
130 ISUF-H 2018: Ciudad y formas urbanas – perspectivas transversales
Editor: Vítor Oliveira, Universidade do Porto, Portugal, vitorm@fe.up.pt
Os autores são os únicos responsáveis pelas opiniões expressas nos textos publicados na
‘Revista de Morfologia Urbana’. Os Artigos (não deverão exceder as 6 000 palavras, devendo
ainda incluir um resumo com um máximo de 200 palavras), as Perspetivas (não deverão exceder
as 1 000 palavras), os Relatórios e as Notícias referentes a eventos futuros deverão ser enviados
ao Editor. As normas para contributos encontram-se na página 2.
Desenho original da capa - Karl Kropf. Desenho das figuras - Vítor Oliveira
63 Editorial
Perspetivas
Relatórios
Notícias
64 Urban Morphology
102 ISUF 2018: Urban form and social context
130 PNUM 2018: A produção do território – formas, processos, desígnios
130 ISUF-H 2018: Ciudad y formas urbanas – perspectivas transversales
Normas para contributos para a Revista de Morfologia Urbana
Os textos a submeter à ‘Revista de Morfologia Whitehand, J. W. R. e Larkham, P. J. (eds.)
Urbana’ deverão ser originais, escritos em (1992) Urban landscapes, international
Português, e não deverão estar em apreciação em perspectives (Routledge, Londres).
nenhuma outra revista científica. Os textos serão No caso de publicações com múltiplos
aceites para publicação depois da avaliação autores, todos os nomes devem ser incluídos na
favorável de, pelo menos, dois revisores lista de referências. Apenas as referências citadas
independentes. Os artigos não deverão exceder as devem ser incluídas na lista.
6.000 palavras, devendo ainda incluir um resumo
com um máximo de 200 palavras e até cinco Ilustrações e tabelas
palavras-chave. O título do artigo, o resumo e as Os desenhos e as fotografias deverão ter a
palavras-chave deverão ser bilingue, em dimensão adequada à sua reprodução. Nesse
Português e em Inglês. Como a autoria dos textos sentido, a dimensão das páginas da revista deverá
não é revelada aos revisores, o(s) nome(s) e o(s) ser tida em consideração pelo autor ao desenhar
endereço(s) do(s) autor(es) devem constar de uma as ilustrações. As ilustrações devem ser a preto e
folha em separado. As ‘perspetivas’ (também branco a menos que a cor seja essencial. Devem
sujeitas a ‘revisão por pares’) e os book reviews ser numeradas de forma consecutiva, referidas
não deverão exceder as 1.000 palavras. Os artigos diretamente no texto e submetidas em formato
e as ‘perspetivas’ devem ser formatados em word JPEG ou TIFF. As ilustrações fotográficas
e enviados por e-mail para o Editor deverão ter uma resolução de, pelo menos, 1200
(vitorm@fe.up.pt). Os book reviews deverão ser dpi, e os desenhos de, pelo menos, 600 dpi. Todas
endereçados ao Editor dos Book Review as ilustrações devem ter uma designação. No
(marat.mendes@gmail.com). Os textos deverão final do texto, após a lista de referências, deve ser
ser submetidos em formato de coluna única com incluída uma lista das ilustrações, da seguinte
margens largas. Os autores não deverão tentar forma:
reproduzir o layout da revista. Todas as medições
devem ser expressas no sistema métrico. Figura 1. Análise metrológica de Lower
Os autores são os únicos responsáveis pelas Broad Street, Ludlow
opiniões expressas nos textos publicados na
‘Revista de Morfologia Urbana’. São ainda Deverá ser dedicada uma atenção especial ao
responsáveis por assegurar eventuais permissões layout das tabelas, devendo ser desenhada uma
para reprodução de ilustrações, citações extensas, tabela por página. As tabelas deverão ser
etc. desenhadas com o mínimo recurso a
normalizações quer na vertical quer na horizontal.
Referências Deverão ter margens largas em todos os lados.
Os autores deverão usar o sistema de
referenciação Harvard, no qual o nome do autor Página de título
(sem as iniciais) e a data são apresentados no Numa página em separado deverá ser indicado o
corpo do texto – por exemplo (Whitehand e título do artigo e o nome, a filiação académica
Larkham, 1992). As referências são apresentadas (ou profissional) e o endereço completo
por ordem alfabética no final do texto, sob o (incluindo e-mail) do(s) autor(es).
título ‘Referências’, da seguinte forma:
Títulos
Conzen, M. P. (2012) ‘Urban morphology, ISUF Apenas na primeira letra e nos nomes próprios
and a view forward’, 18th International serão utilizadas maiúsculas. Os títulos deverão
Seminar on Urban Form, Montreal, 26 a 29 de ser justificados à esquerda. Os títulos primários
Agosto. deverão ser a negrito e os secundários em itálico.
Conzen, M. R. G. (1968) ‘The use of town plans
in the study of urban history’, em Dyos, H. J. Números
(ed.) The study of urban history (Edward Deverão ser usados algarismos para todas as
Arnold, Londres) 113-30. unidades de medida, à exceção de quantidades de
Hillier, B. (2008) Space is the machine objetos e pessoas, quando estas se referirem a
(www.spacesyntax.com) consultado em 9 valores compreendidos entre um e vinte. Nesse
Setembro de 2013. caso, os números deverão escritos por extenso.
Kropf, K. S. (1993) ‘An inquiry into the
definition of built form in urban morphology’, Por exemplo: 10 dias, 10 km, 24 habitantes, 6400
Tese de Doutoramento não publicada, m; mas dez pessoas, cinco mapas.
University of Birmingham, Reino Unido.
Moudon, A. V. (1997) ‘Urban morphology as an Provas
emerging interdisciplinary field’, Urban Durante o processo de publicação serão enviadas
Morphology 1, 3-10. provas aos autores. Nesta fase, apenas serão
corrigidos erros de impressão, não sendo
aceitáveis alterações de fundo.
Editorial
Revista de Morfologia Urbana (2017) 5(2), 63-4 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
64 Editorial
Urban Morphology
Luiz Amorim
Universidade Federal de Pernambuco, Avenida dos Reitores, s/n, Cidade Universitária,
50741-530 Recife PE, Brasil. E-mail: amorim@ufpe.br
Revista de Morfologia Urbana (2017) 5(2), 65-81 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
66 Convergência de métodos de descrição da forma urbana
(a)
(b)
(c)
(d)
Figura 5. Representação espacial, segundo a sintaxe espacial: (a) planta-baixa; (b) mapa
convexo; (c) mapa de permeabilidade; (d) grafo justificado (fonte: Amorim et al., 2009).
O valor de integração é obtido pelo clássico artigo To take hold of space: isovists
inverso de valor de relativa assimetria real and isovist fields. Define por isovist, ou
(1/RRA). Esta transformação vem sendo isovista, a área visível de determinada
utilizada para permitir a associação entre posição no espaço, representada por um
valores mais altos a espaços centrais e polígono delimitado por barreiras à visão –
integrados e valores baixos a espaços mais superfícies opacas e translúcidas – e linhas
segregados. de oclusão geradas pelas barreiras (Figura 6)
A descrição dos campos visuais foi e, como tal, pode ser descrita segundo suas
introduzida nos estudos do ambiente propriedades geométricas, como área,
construído por Michael Benedickt (1979), no perímetro, compacidade (relação área x
Convergência de métodos de descrição da forma urbana 71
(a)
(b)
Figura 6. Campos visuais: (a) Isovista (Amorim et al., 2009); (b) VGA (fonte: Turner,
2001).
bairro mais populoso e denso do Recife e análise de textura. Este processo altera a
residência das famílias de mais alta renda da estrutura da malha, para ser constituída por
sociedade local. unidades de pixéis de 1.14 m. Isso é cerca de
O bairro do Instituto de Previdência dos 1.62 vezes maior do que o tamanho de pixel
Servidores do Estado de Pernambuco da imagem de satélite, como será visto na
(IPSEP) é resultado de programa oferta de Tabela 2.
habitação subsidiada destinada aos Para permitir uma análise comparativa
funcionários públicos estaduais, idealizado e entre as imagens de satélite e VGA, foi
projetado pelo antigo instituto de habitação necessário considerar que o número de pixéis
do Estado de Pernambuco. Sua concepção, em cada imagem é diferente. Para proceder à
do início dos anos de 1950, é devedora do análise de lacunaridade, utilizou-se o
urbanismo moderno associado aos princípios algoritmo de contagem de caixa diferencial
e recomendações formulados pelos Congrès aplicado às imagens VGA de escala de cinza,
Internationaux d'Architecture Moderne com fundo preto. Foram definidos sete
(CIAM). Construído em etapas sucessivas, tamanhos de caixa (2, 4, 8, 16, 32, 64 e 128)
expressas nas diferentes expressões e o tamanho mínimo da caixa corresponde a
arquitetônicas das unidades habitacionais, 1 pixel e o máximo corresponde a 45% do
individuais ou coletivas, o conjunto tamanho da imagem. As caixas deslizam em
apresenta hoje mudanças substanciais cada pixel nos eixos horizontal e vertical.
introduzidas por seus habitantes ao longo dos Para as imagens de satélite, o tamanho da
anos, tanto na esfera pública (privatização de caixa mínima foi alterado para 2 pixéis e a
espaços abertos públicos), quanto privada caixa deslizando a cada 2 pixéis. Essas
(ampliação das habitações), fenômeno alterações permitiram que o número de
recorrente em diversos conjuntos pixéis de cada imagem considerada na
habitacionais brasileiros (Amorim e análise de lacunaridade fosse próximo um do
Loureiro, 2009; Rigatti, 2000). outro.
Finalmente, os valores de lacunaridade de
cada imagem foram correlacionados em
Procedimentos metodológicos relação a cada tamanho de caixa, e uma
curva foi gerada, mostrando o
A Análise Gráfica Visual (VGA) foi comportamento de lacunaridade da imagem
desenvolvida a partir de mapa ao longo das escalas espaciais selecionadas.
georreferenciado elaborado pela Também foi considerada a média dos valores
municipalidade, devidamente simplificado de lacunaridade (Lm) em todos os tamanhos
para representar unicamente os elementos de caixa para permitir uma comparação
urbanos responsáveis por obstruir o direta entre as imagens (Tabela 3).
movimento e os campos visuais nos espaços
urbanos. A dimensão da malha foi definida
para permitir uma compatibilidade com o Resultados de dados VGA
tamanho do pixel da imagem de satélite e,
consequentemente, permitir a comparação As malhas urbanas mais regulares, como Boa
dos resultados obtidos. Cuidado foi tomado Viagem, partes de Brasília Teimosa e do
para garantir que a malha preenchesse todos IPSEP, como esperado, destacam os pontos
os espaços dos fragmentos urbanos da malha situados nos cruzamentos entre as
selecionados, em particular os becos estreitos ruas como sendo os mais conectados e
e tortuosos encontrados em Brasília Teimosa. integrados visualmente, onde os campos
A malha adotada foi de 2.80 x 2.80m. visuais estendem-se em diferentes direções
As imagens resultantes (figuras 8 e 9) são (ver figuras 8 e 9). A distinção entre os
caracterizadas por uma tesselação em tons de diferentes cruzamentos nos fragmentos
cinza sobre um fundo preto que representa as analisados é função do tamanho dos espaços
quadras e as edificações existentes. O abertos – quanto mais larga a rua ou avenida,
arquivo gerado, originalmente vetorial, foi ou quanto maior a praça, maiores são os
transformado em um arquivo tiff, base para a valores obtidos.
Convergência de métodos de descrição da forma urbana 75
Figura 8. Conectividade visual: tons de cinza mais claros correspondem aos pontos mais
conectados.
76 Convergência de métodos de descrição da forma urbana
Figura 9. Integração visual: tons de cinza mais claros correspondem aos pontos mais
integrados.
É importante ressaltar que algumas áreas onde pátios e praças constituem polaridades
estão altamente conectadas localmente, mas urbanas, enquanto as ruas estreitas estão
mal integradas, como é visto nos campos de situadas na parte mais isolada do sistema
futebol no fragmento do IPSEP. Isto ocorre visual global.
porque a área, apesar da dimensão, está A distinção dos fragmentos também é
dissociada das demais áreas do sistema, descrita pela propriedade da inteligibilidade
diferentemente do Pátio do Carmo, no visual, função da correlação entre valores de
fragmento de São José, que está altamente conectividade e de integração visual,
conectado e integrado às áreas urbanas expressos numericamente pelo valor de r2 da
adjacentes e circundantes. linha de regressão. A inteligibilidade revela,
Os valores médios obtidos são relevantes de acordo com Hillier (1996), em que
(ver Tabela 4). O fragmento de Boa Viagem medida é possível inferir localmente aspectos
apresenta o maior valor, devido à estrutura globais da forma urbana. Portanto, quanto
da malha urbana e ao tamanho de suas mais inteligível for um sistema espacial,
avenidas e ruas. Brasília Teimosa, por outro mais fácil será a navegação em seu
lado, é a mais baixa, como consequência da interior.
estreiteza dos espaços urbanos e da falta de O fragmento relativo ao Bairro de Boa
conectividade visual entre partes Viagem é o mais visualmente inteligível,
constituintes da malha. Tal condição também uma vez que a estrutura em forma de malha
é observada no fragmento do IPSEP, onde a regular facilita a apreensão visual do todo,
interrupção constante da malha estabelece enquanto o fragmento do Bairro do IPSEP é
uma hierarquia entre as praças residenciais o menos inteligível, como resultado de sua
de caráter local e as ruas mais integradas. Já configuração de ruas interrompidas e praças
no fragmento de São José ocorre o oposto, isoladas.
Convergência de métodos de descrição da forma urbana 77
0,6
0,5
0,4
0,3
ln Lacunarity (L)
0,2
0,1
0
0 1 2 3 4 5 6
São José
Ipsep
Boa Viagem
Brasilia Teimosa
2,5
1,5
ln Lacunarity (L)
0,5
0
0 1 2 3 4 5 6
(a)
3
2,5
1,5
ln Lacunarity (L)
0,5
0
0 1 2 3 4 5 6
(b)
Figura 12. Valores de lacunaridade: (a) integração; (b) conectividade.
Ipsep Ipsep
(a) (b)
Figure 13. Valores médios de lacunaridade (Lm): (a) integração; (b) conectividade.
Apesar dos resultados promissores, é Brasileiro pela coleta dos dados utilizados neste
necessário explorar uma gama mais ampla de trabalho.
variáveis configuracionais para certificar se
tais propriedades estruturais da malha urbana
também apresentam padrões de textura que Referências
se correlacionam positivamente com as
Ariza-Villaverde, A. B., Jiménez-Hornero, F. J. e
imagens de satélite. Além disso, a exploração
Gutiérrez de Ravé, E. (2013) ‘Multifractal
de outras escalas de tons de cinza para gerar analysis of axial maps applied to the study of
os mapas VGA, observando maior ou menor urban morphology’, Computers, Environment
número de tonalidades, pode levar a and Urban Systems 38, 1-10.
resultados mais relevantes, convergentes Allain, C. e Cloitre, M. (1991) ‘Characterizing
com as variações de tons encontrados nas lacunarity of random and deterministic fractal
imagens de satélite. sets’, Physics Review A 44, 3552-8.
É preciso também ressaltar que os valores Amorim, L. e Loureiro, C. (2009) ‘Can fig trees
de Lm das imagens de satélite são mais bud roses?’ em Lara, F. (ed.) Global
baixos (entre 1.15 e 1.17) do que os apartments: studies in housing homogeneity
(Studio Toró-University of Michigan/Lulu.com,
encontrados nas imagens VGA (entre 3.21 e
Ann Arbor) 42-60.
4.41). A variação dos valores de Lm das Amorim, L., Barros Filho, M. e Cruz, D. (2014)
imagens de satélite é muito superior àquelas ‘Urban texture and space configuration: an
mostradas pelas imagens VGA dos mesmos essay on integrating socio-spatial analytical
fragmentos, revelando mais claramente as techniques’, Cities 39, 58-67.
distinções morfológicas das áreas urbanas Amorim, L., Brasileiro, C. e Ludermir, R. (2009)
selecionadas. ‘Da conservação do espaço da arquitetura: o
Vale destacar ainda que as áreas foram Instituto de Antibióticos’, 8º Seminário
mapeadas de acordo com as barreiras visuais Docomomo Brasil, Rio de Janeiro, 1 a 5 de
existentes, no entanto, não considerou que Setembro.
Barros Filho, M. (2007) ‘A morfologia da
algumas áreas oferecem um certo grau de
habitabilidade intra-urbana: O uso de imagem
transparência, estendendo os campos visuais CBERS-2 na análise de padrões morfológicos
ao interior das propriedades privadas, como no Recife’, XIII Brazilian symposium of remote
por exemplo, quanto à existência de muros sensing, Florianópolis, 21 a 26 de Abril.
baixos ou gradis que permitem a visualização Barros Filho, M. e Amorim, L. (2008) ‘Texturas
do interior dos lotes. Como consequência, os urbanas e diferenciações morfológicas’, II
mapas VGA reproduzem, em certa escala, a Brazilian Symposium of Geodesic Sciences and
geometria dos espaços públicos, que, aliás, Geoinformation Technologies, Recife, 8 a 11 de
parece ser refletida na imagem de satélite, Setembro.
tendo em vista a homogeneidade do material Barros Filho, M. e Amorim, L. (2015)
‘Fragmentos urbanos: procedimento analítico
que a reveste – asfalto e concreto armado.
para a identificação de padrões morfológicos a
Em outras palavras, as ruas, avenidas e partir de texturas de imagens de satélite’, RBC –
largos apresentam padrões de textura Revista Brasileira de Cartografia 67, 655-68.
relevantes que, combinados com o tamanho Barros Filho, M. e Sobreira, F. (2005) ‘Assessing
dos elementos urbanos, contribuem para texture pattern in slum across scales. An
aproximar a distribuição da lacunaridade dos unsupervised approach’ CASA Working
mapas de VGA e da imagem de satélite. Pappers 87, 1-12 (http://www.casa.ucl.ac.uk/
Futuros estudos tentarão superar essas working_papers/paper87.pdf) consultado em 25
limitações. de Julho de 2017.
Barros Filho, M. e Sobreira, F. (2007) ‘Urban
textures: A multi-scale analysis of sociospatial
patterns’, X Computer in urban planning and
Agradecimentos urban management, Foz do Iguaçu, 11 a 13 de
Julho.
Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Batty, M. e Longley, P. (1994) Fractal Cities
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Academic Press, Londres)
(CNPq) e à Fundação de Amparo à Ciência e Benedikt, M. (1979) ‘To take hold of space:
Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE) isovists and isovist field’, Environment and
por apoiarem esta investigação e à Carolina Planning B: Planning and Design 6, 47-65.
Convergência de métodos de descrição da forma urbana 81
Convergence of methods of urban form description: analysis of satellite images texture and visual
graphical analysis
Abstract. The paper presents the results of an investigation that aims at integrating different approaches
to the analysis of the urban form. The proposed methodology integrates two lines of investigation: i)
texture analysis of high resolution satellite images using fractal and lacunarity measures to describe the
spatial distribution of pixels with similar grey levels; ii) Visual Graph Analysis (VGA) describing visual
properties of spatial systems. A second order analysis is proposed to describe the texture of VGA maps
and to investigate to what extent the underlying configurational and texture patterns are correlated. The
results reveal how robust the procedures are, particularly in identifying distinct socio-spatial patterns
O presente relatório identifica as principais também apoiada pela agilidade promovida pelas
atividades desenvolvidas pela Rede Lusófona de novas ferramentas como a sintaxe espacial, os
Morfologia Urbana (PNUM) durante o segundo participantes tiveram a oportunidade de testar
semestre de 2016 e o primeiro semestre de 2017. durante o workshop uma série de análises e
Desde a sua fundação que o PNUM se tem compará-las num território em concreto da
dedicado a um conjunto de iniciativas e Corunha.
atividades, que incluem conferências, workshops Relativamente à atividade editorial do
e publicações. Para o período de tempo atrás PNUM, a Revista de Morfologia Urbana, editada
referido, destacam-se aqui um conjunto de por Vítor Oliveira, encontra-se já na sua 9ª edição
atividades. Nomeadamente, a sexta edição de e continua o seu importante papel de divulgação e
conferências promovidas pelo PNUM, o PNUM publicação de artigos e perspetivas no âmbito da
2017, com o título de ‘Morfologia Urbana: morfologia urbana em língua portuguesa. Várias
Território, Paisagem e Planejamento'. traduções portuguesas de obras seminais,
Coordenado pela Professora Eneida Maria Souza originalmente publicadas em inglês na revista
Mendonça e pelo Professor Milton Esteves Urban Morphology, continuam a ser
Júnior, da Universidade Federal do Espírito disponibilizados na Revista de Morfologia
Santo, o PNUM 2017 teve lugar em Vitória, no Urbana.
Brasil, entre os dias 24 e 25 de Agosto e contou Durante os últimos seis anos de existência do
com uma grande afluência de participantes. PNUM é percetível o crescimento desta
Saliente-se ainda que o PNUM 2017 registou pela organização, quer em: i) número dos seus
primeira vez em conferências do PNUM, uma membros; ii) variedade das atividades
elevada frequência de estudantes e jovens promovidas; iii) extensão do contexto geográfico
investigadores não oradores. Porém, este facto em que estas atividades tiveram lugar; e iv)
permite-nos confirmar o interesse que o PNUM número de linhas de abordagem ao estudo da
está manifestando junto da comunidade forma urbana partilhadas no PNUM.
Lusófona, e em particular junto das novas Relativamente a este último ponto, em particular,
gerações de estudiosos da forma urbana. é possível constatarmos os vários contributos
Imediatamente após o PNUM 2017 teve lugar publicados nas várias atas das conferências
entre os dias 4 e 7 de Setembro de 2017, na PNUM e workshops PNUM, que se encontram
Corunha, Espanha, o terceiro workshop disponibilizadas online, na Revista de Morfologia
promovido pelo PNUM, com o titulo de Urbana e no livro ‘O estudo da forma urbana em
Obradoiros de Morfoloxia Urbana. Portugal’ (Oliveira et al., 2015), que no seu
Entusiasticamente coordenado pelo colega Xosé conjunto nos oferecem uma ideia da variedade do
Lois Martinez, da Escola Técnica Superior de legado morfológico que integra hoje o PNUM.
Arquitetura da Universidade da Coruña, este No entanto, são vários os riscos enfrentados
workshop contou com a colaboração de vários por qualquer organização em crescimento, e o
colegas da Galiza, Portugal, Itália e ainda uma mesmo se aplica ao PNUM. E por isso mesmo,
série de convidados. Tal como nas anteriores estes requerem a nossa melhor atenção.
edições de workshops do PNUM, o Obradoiros Uma possível forma de garantir um futuro
de Morfoloxia Urbana constituiu uma saudável e frutífero ao PNUM é garantir que este
oportunidade de reflexão sobre forma urbana e as continue o seu trabalho, através do seu
suas implicações na cidade contemporânea. amadurecimento, sem no entanto deixar de
Um conjunto de conferências teóricas e um garantir também o desenvolvimento dos seus
exercício prático de análise morfológica, aplicado vários contributos e linhas de abordagem, que
numa área específica da Corunha, forneceu a este asseguraram até hoje a sua existência. Esta é,
workshop uma atmosfera crítica e reflexiva sobre porém, uma tarefa exigente que deve contar com
as diversas ferramentas de morfologia urbana a participação de todos os membros da Rede
disponíveis para a leitura e a interpretação do Lusófona de Morfologia Urbana.
tecido urbano contemporâneo. Além disto,
apoiado por uma perspetiva comparativa das
várias escolas de pensamento de morfologia
urbana, debatidas por especialistas nas várias Referências
apresentações teóricas, e que incluíram as
abordagens histórico-geográficas e tipo- Oliveira, V., Marat-Mendes, T. e Pinho, P. (eds.)
morfológicas de diferentes origens, como a (2015) O estudo da forma urbana em Portugal
alemã, a francesa, a catalã e a romana, mas (U. Porto Edições, Porto).
Relatórios 83
Teresa Marat-Mendes, Instituto Universitário de Av. das Forças Armadas, 1649-026 Lisboa,
Lisboa ISCTE-IUL, DINÂMIA’CET-IUL, Portugal. E-mail: teresa.marat-mendes@iscte-
Departamento de Arquitectura e Urbanismo, iul.pt
Vinicius Netto
Universidade Federal Fluminense, Rua Miguel de Frias 9, 24220-900 Niterói, RJ,
Brasil. E-mail: vmnetto@id.uff.br
Maíra Pinheiro
Escola Nacional de Ciência Estatística, Rua André Cavalcanti 106, Bairro de Fátima,
20231-050 Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: mairasoares.arq@hotmail.com
Henrique Lorea
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Avenida Paulo Gama 110, Bairro
Farroupilha, 90040-060 Porto Alegre, RS, Brasil.
E-mail: henriquelorealeite@gmail.com
Revista de Morfologia Urbana (2017) 5(2), 85-101 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
86 Uma geografia temporal do encontro
instituições cuja organização física permite a das redes sociais – e seu oposto, na disjunção
troca de artefatos e informações. Se ligar a dos encontros na segregação;
‘cidade social’ à ‘cidade física’ é um grande ii) explorar o uso metodológico dos dados
desafio nos estudos urbanos, como afirmam de localização das redes sociais digitais para
Batty (2013) e Hillier e Vaughan (2007), o compreender as trajetórias de usuários e
problema de relacionar ‘redes sociais’ com o inferir encontros potenciais entre eles;
ambiente construído enquanto ‘redes iii) aplicar esta estrutura em um estudo
espaciais’ está no seu centro. Em outras empírico de redes de trajetórias e encontros
palavras, se quisermos avançar nossa de pessoas com diferentes níveis de renda no
compreensão da relação entre cidade e Rio de Janeiro, a fim de avaliar níveis de
sociedade, precisamos nos aproximar dos segregação em ‘tempo real’ e de diversidade
elementos fundamentais dessa relação: a social nas ruas; e
cidade como ‘conjuntos de ações, interações iv) avaliar como os encontros são
e transações… padrões de fluxos, de redes de produzidos entre pessoas com diferentes
relações, pertencentes tanto a material físico, níveis de renda, através de uma análise de
bem como os movimentos elusivos’ (Batty, redes de proximidade baseada em encontros
2013, p. 9). Sabemos que redes sociais são potenciais.
formadas através de oportunidades de Comecemos por propor um conceito de
contato, encontro e interação (Freeman, redes socioespaciais capaz de representar
1978) como eventos sociais no tempo e no trajetórias e encontros no tempo e no espaço.
espaço. A cidade teve historicamente o papel
de produzir tais eventos. Propomos abordar
neste artigo quais são exatamente as O papel dos encontros na formação de
condições materiais para a ‘formação’ dessas redes sociais
redes: as oportunidades do encontro no
espaço e tempo. Como as cidades podem ser parte do modo
Para tanto, vamos examinar as trajetórias como conhecemos outras pessoas e
no espaço urbano de pessoas diferenciadas formamos redes sociais? Uma visão recente
por renda. Próxima a uma tendência recente estabelece com rigor essa leitura ao
em estudos focados no posicionamento dos reconhecer cidades como uma espécie de
agentes no espaço, nossa abordagem explora equilíbrio flutuante entre a ‘densidade’ de
formas em que os encontros potenciais são pessoas e sua ‘conectividade’ (Bettencourt,
moldados pelas trajetórias dos corpos no 2013). A comunicação e a conectividade
espaço urbano. Em outras palavras, vemos entre as pessoas são altamente dependentes
um grande potencial na análise do papel das dos encontros, que por sua vez são uma
trajetórias de diferentes agentes em uma função da ‘distância’ (Allen, 1977) e da
cidade como meio para compreender os ‘mobilidade’ dos atores. Encontros podem
padrões de encontro como as circunstâncias ser dispersos nas ruas ou polarizados em
que permitem a formação das redes sociais. É locais de trabalho, lazer ou consumo, em
claro que esse objetivo envolve entrar em um pontos de ônibus, estações de metrô, edifícios
tecido bastante elusivo dos nossos institucionais e assim por diante. Todos esses
movimentos e encontros. Nossa abordagem fatores podem ter impacto sobre nossos
inclui um método para capturar esse tecido, encontros, como faíscas de uma densa rede
derivando ideias desde Hunt e Walker (1974) de movimentos a partir de locais residenciais.
e Freeman (1978) sobre a segregação como Naturalmente, copresença e encontro
‘restrições sobre contatos’ à geografia podem implicar coisas diferentes em
temporal dos trajetos, de Hägerstrand (1970), diferentes contextos – desde possibilidades
à ideia de ‘segregação em tempo real’ e redes abertas de interação até rejeição e medo.
segregadas atuando na cidade (Netto et al., Seguindo o trabalho de Goffman (1961),
2015; Netto e Krafta, 1999, 2001). Temos Giddens (1984) e Hillier e Hanson (1984),
como objetivos: entendemos a ‘copresença’ como corpos
i) explorar o papel das ‘trajetórias’ posicionados dentro de um campo onde
urbanas na criação de oportunidades de podemos perceber a presença de outra pessoa
encontro, o papel do ‘encontro’ na formação (através da visão ou outros sentidos). Por sua
Uma geografia temporal do encontro 87
vez, o ‘encontro’ pode ser definido como de vinculação – digamos, por compartilharem
estarmos copresentes dentro de uma distância interesses. A tradição em SNA se concentra
onde a interação se torna possível. Por sua na análise de redes variando de relações de
vez, ‘interação’ significa envolver-se em poder à difusão de informação, epidemias em
troca comunicativa por gesto ou larga escala e a conectividade em small
comunicação verbal. Como matéria-prima da worlds ou pequenos mundos. Ela usa a teoria
vida social, a importância do encontro dos grafos para criar representações livres de
dificilmente pode ser exagerada. No entanto, espaço e tempo – um espaço abstrato, sem
não desejamos abordar a passagem do dimensões físicas, de pura topologia. Atores
‘encontro’ à ‘interação’, dado que isso são representados por nós ou vértices e
exigiria observações de pessoas em suas relacionamentos por ligações (Figura 1).
trocas reais, algo que está fora do nosso Não utilizaremos nesta etapa o conceito
interesse substantivo neste artigo. usual em SNA da rede como arranjo de
Se o movimento deixasse traços visíveis, atores e suas ligações. Ao invés dela,
sua trama poderia revelar oportunidades de utilizaremos uma definição de rede social
encontros que se desdobram no tempo e no como um conjunto aberto de pessoas com
espaço. Mapear essa trama é um dos contatos criados em circunstâncias de tempo-
objetivos deste artigo. Isso soa ambicioso, e espaço. Graficamente, não representamos
só vem se tornando possível graças a novas atores por vértices e relacionamentos por
tecnologias da informação e comunicação ligações, como na Figura 1. Em vez disso,
móvel, como veremos. Mas a ideia de invertemos esta representação, vendo os
mapear as trajetórias das pessoas no espaço e atores como ‘linhas de vida’. Assim,
no tempo está longe de ser nova. O trabalho poderemos incluir o fator elementar do
do geógrafo sueco Torsten Hägerstrand foi a tempo. O encontro entre duas pessoas é
primeira tentativa sistemática de captar representado pela ‘intersecção’ das suas
trajetórias e entender as restrições que afetam linhas de vida. Os encontros são os nós. Esta
nossas ações, no que ele chamou ‘geografia representação não usual oferece a
temporal’. A abordagem de Hägerstrand possibilidade de ‘homologia’ com a
(1970), popular no início dos anos 1980, vem dimensão espacial do fenômeno, na qual as
ganhado novamente atenção com o novo foco ‘linhas de vida correspondem a trajetórias
em abordagens espaciais e temporais (Kwan, urbanas’, e as circunstâncias do encontro
2013; Lee e Kwan, 2011; Netto e Krafta, correspondem às posições espaciais das
1999, 2001; Park e Kwan, 2017), fazendo uso convergências das linhas. Lugares de
de tecnologias capazes de registrar o convergência de trajetórias são lugares de
movimento de atores (Gonzáles et al., 2008). potencial encontro e conexão. Esta ideia
Propomos neste artigo adicionar novas busca agregar a dimensão temporal à
camadas a esta ideia, avaliando ‘como as espacial, ambas como ‘inerentes’ à rede
trajetórias das pessoas moldam suas social, algo que simplesmente não ocorre na
oportunidades de encontro’. Essas trajetórias representação usual de redes sociais. Esta
são traços elusivos de nossa presença no representação torna a espacialidade e a
espaço. Se pudéssemos capturar pelo menos temporalidade da rede social intuitivas,
parte dessa trama, poderíamos ter uma ideia permitindo explorar o encontro como um
dos lugares e momentos do encontro – como fator-chave na formação de redes sociais
as pessoas e grupos sociais materializam seus (Figura 2).
potenciais de interação. Uma vez que tenhamos um mapa das
Para reconhecer o potencial social do linhas de vida dos atores como trajetórias
encontro, gostaríamos de explorar uma urbanas, abandonaremos a representação
definição alternativa de ‘redes sociais’. O estática e exclusivamente social das redes.
termo apareceu no cotidiano nos anos 2000, Estamos tratando de redes sociais e
associado com mídias de comunicação digital espaciotemporais. Esta abordagem pode ser
– mas é muito anterior a isso. Ele é usado especialmente útil para detectar diferentes
desde os anos 1950 em uma área chamada potenciais de encontro que possam conduzir
Social Network Analysis (SNA), focada na a uma maior interação entre pessoas ou a
formação de grupos sociais a partir de tipos uma falta sistemática de contato – uma forma
88 Uma geografia temporal do encontro
Figura 1. Rede social de relações pessoais centrada no ‘ego’ (fonte: Mirella Furtado).
Figura 2. A homologia entre redes sociais no tempo (esquerda) e sua tradução no espaço
(centro). À direita, temos a representação das redes sociais no espaço-tempo.
uma cidade (uma rua movimentada, o centro estilo de vida, pode trazer desigualdades na
ou uma centralidade local), bem servidas por capacidade de acesso a determinados lugares
transporte, podem atrair pessoas com e dificuldades para participarmos de
diferentes níveis de renda. Lugares de situações sociais. Diferenças e
atividade podem aumentar o potencial de incompatibilidades em padrões de
encontros entre aqueles que compartilham movimento são formas de ‘disjunção de
interesses e mobilidades semelhantes. A encontros’ (Netto, 2014) – uma maneira de
renda tem um papel neste processo. Pessoas diluir a possibilidade de contatos que de
com orçamentos menores enfrentam mais outra forma poderiam acontecer. A disjunção
restrições na mobilidade. Os dados empíricos dos encontros pode ser mais ativa entre
sobre despesas de transporte no Brasil pessoas socialmente diferentes.
mostram que os grupos de maior renda não Simplificando, haveria uma maior chance de
só gastam mais do que grupos de baixa encontrar e criar redes entre pessoas que
renda, eles o fazem mais do que compartilham níveis de renda semelhantes.
proporcionalmente (POF, 2009). Por sua vez, Em estudos anteriores (Netto et al., 2015;
as limitações na mobilidade aumentam o Netto e Furtado, 2017), propusemos uma
‘localismo’, a dependência da proximidade medida de mobilidade individual.
para produzir relações sociais estáveis Consideramos a dimensão fractal dos
(Fischer e Shavit, 1995). Nesses casos, as caminhos percorridos por centenas de
pessoas tendem a usar lugares na vizinhança entrevistados e o número de atividades
para criar e manter relacionamentos. Outros realizadas por eles ao longo do dia, ambos
estudos empíricos mostraram que a sujeitos a formas de transporte e níveis de
segregação residencial, níveis mais elevados renda. A medida foi capaz de detetar
de homofilia (similaridade nas redes sociais) diferenças significativas: quanto maior a
e diferentes graus de conectividade nas redes renda, maior a mobilidade. Entretanto, essa
pessoais têm correlações consistentes com mobilidade seria capturada de modo frágil
diferenças de renda (Marques, 2012). em um estudo utilizando dados do Twitter,
Por sua vez, as semelhanças nos ‘padrões que acaba se limitando a colher trajetos
de mobilidade e apropriação do espaço’ apenas entre as localizações dos tweets
podem levar ao aumento da densidade de postados, como veremos. O recurso ao
encontros entre pessoas socialmente Twitter permite acessar trajetos parciais de
similares. A renda, a localização residencial e milhares de pessoas, mas sem acesso a
os trajetos das pessoas podem estar modos de transporte e outras informações.
associados em um círculo que leva a Mas se não temos condição de avaliar a
aumentos ou diminuições sistemáticas no mobilidade, ainda temos condição de
potencial para criar, manter e expandir redes verificar as trajetórias parciais de atores
sociais. Mas como podemos verificar se esse socialmente diferentes. Podemos examinar
é ou não o caso? Como ver onde o potencial portanto os graus de ‘segregação’ nesses
de encontro entre os diferentes se trajetos, e as ‘possibilidades de encontro’
materializa? entre pessoas socialmente distintas.
Para responder a estas perguntas, Uma hipótese surge dessa leitura: a
precisamos examinar as trajetórias de pessoas probabilidade de encontros inclui, mas vai
socialmente diferentes e onde se sobrepõem. ‘além’ da localização e segregação
Estes lugares de sobreposição gerariam as residencial. Ela seria moldada pela renda,
oportunidades do encontro. Mesmo que não pela distribuição de atividades ao longo das
pensemos nisso, nossas trajetórias diárias ruas como canais de acessibilidade, e pelos
constituem a espinha dorsal dos nossos diferentes caminhos das pessoas. Essas ideias
encontros e vida social. Por um lado, pobres começam a retratar o tecido elusivo dos
e ricos podem viver distantes entre si, encontros em uma cidade, uma trama
espacialmente segregados, mas eles se impregnada de formas sutis de ‘segregação
movem e podem até mesmo compartilhar em tempo real’ expressas em trajetórias
espaços públicos. Por outro lado, a distância, diárias. Mas como podemos chegar a uma
associada a diferenças de renda, mobilidade e ‘geografia dos encontros’ no tempo?
90 Uma geografia temporal do encontro
usuários, cujos 20.029 tweets poderiam gerar procedimento de inferir a renda dos usuários
trajetórias espaciais dentro da rede urbana. individuais a partir da média de residentes de
O passo 3 identificou a localização cada setor requer atenção especial, já que
residencial provável dos usuários. envolve riscos de falácia ecológica
Essencialmente, precisávamos inferir a envolvidos. Foi necessária uma análise de
localização residencial para inferir suas sensibilidade sobre a heterogeneidade da
trajetórias prováveis. Avaliamos a repetição renda dentro dos blocos do censo. Avaliamos
da localização do primeiro tweet da manhã (a estatisticamente esse risco verificando o
partir das 5am) durante o período de Coeficiente de Variação da renda (CV)
observação. Optamos pelo primeiro tweet da dentro de cada setor. Dentro da cidade do Rio
manhã, porque tweets produzidos durante a de Janeiro, a unidade do setor tem um
noite trazem limitações para a amostra número médio de 210 famílias e 616
quanto ao comportamento dos usuários habitantes e uma área média de 33.017 m²
(Longley et al., 2015). Como a amostra já (uma variação considerável é encontrada na
havia passado por filtros anteriores, a área). A unidade do setor censitário foi a
localização residencial pôde ser inferida para menor disponível. Vimos que a variação
todos os 2.543 usuários. média da renda dentro de cada setor
O passo 4 identificou os caminhos mais censitário no Rio é baixa, cerca de 9,3 %.
curtos entre as posições dos tweets dos Portanto, podemos dizer que há
usuários dentro da rede de ruas do Rio de homogeneidade suficiente dos valores de
Janeiro. A geração dos caminhos entre renda dos residentes no mesmo setor para
localizações dos tweets é baseada na medida usarmos a renda média no setor como uma
topológica de betweenness centrality proxy da renda individual dos usuários do
(intermediação), também de autoria de Twitter.
Freeman (1978). Considerando a relação O resultado foi termos 2.543 usuários
entre a localização do tweet (geostamp) e a divididos em cinco grupos de renda.
rede real de ruas, nosso método fez uso de Analisamos a distribuição de renda aplicando
software Geographic Information System uma classificação padrão de renda no Brasil
(GIS) para georeferenciar cada tweet dentro proposta por Neri (2010) com base no
de uma precisão de 10 m. Atribuímos uma potencial de consumo, gerando os seguintes
sequência numérica para os tweets de cada níveis: até R$ 750; de R$ 750,01 a R$ 1600;
usuário, de acordo com o timestamp dos de R$ 1600,01 a R$ 2500; de R$ 2500,01 a
tweets. Os primeiros tweets identificados R$ 3400; e R$ 3400,01 acima. Estes valores
foram tomados como origem das trajetórias. foram identificados como faixas baixa,
Conectamos as posições dos tweets postados média-baixa, média, média-alta e alta renda
sequencialmente durante o período sobre o (diferenciadas por cores na Figura 3).
sistema viário do Rio de Janeiro. A geração Usamos um teste estatístico para avaliar o
de caminhos mais curtos é amplamente quão representativos são os usuários do
utilizada como preditora de rotas reais (veja Twitter em relação à população real do Rio
Bovy, 2009; Hillier et al., 1993). Os de Janeiro. De fato, os dados dos
caminhos foram gerados via algoritmo de rendimentos reais coletados da população em
Dijkstra (1959) e o Open Street Maps geral estão contidos nos níveis de renda
(OSM). atribuídos aos usuários através do nosso
No passo 5, diferenciamos os usuários do procedimento. No entanto, o principal risco
Twitter de acordo com a renda per capita. neste estágio era a possibilidade de usuários
Para tanto, analisamos a distribuição da renda do Twitter tenderem a ter rendas mais altas
per capita e atribuímos níveis de renda aos do que a população geral e a viver em setores
usuários através de um procedimento que censitários mais ricos. Isso implicaria uma
exigiu o cruzamento de suas localizações amostra com menor proporção de pessoas de
residenciais com dados econômicos coletados baixa renda, levando a uma distribuição de
naqueles setores. Uma vez que inferimos a renda completamente diferente, longe de uma
localização residencial, atribuímos a renda imagem razoável do cenário de renda do Rio.
média daquele setor aos usuários. O Assim, comparamos o histograma de renda
92 Uma geografia temporal do encontro
Figura 3. Níveis de renda nos setores censitários (azul ao vermelho, acima) e localizações
estimadas dos usuários do Twitter (abaixo). Nos gráficos mais abaixo, temos os
histogramas da renda média per capita na população do Rio (a) e dos usuários do Twitter
(b). Já o gráfico (c) mostra a regressão entre as distribuições dos usuários (Y) e da
população (X) nos setores censitários. As cores dos pontos nesse gráfico se referem à
variação da renda média nos setores, de baixa (azul) à alta (vermelho).
Uma geografia temporal do encontro 93
estimada em nossa amostra com o histograma A primeira coisa que podemos perceber é
de renda da população do Rio. Como a forte influência da ‘segregação residencial’
esperado, o histograma da renda da relacionada com a renda. Os mais pobres
população (na Figura 3, canto inferior tendem a morar mais ao norte e oeste da
esquerdo) mostra uma distribuição cidade, e se espalham mais amplamente
exponencial, com uma longa cauda para sobre a paisagem urbana. Grupos de renda
valores de renda mais alta (mais de R$ baixa e média-baixa mostram mais
10.000 por mês). O mesmo limiar foi sobreposição. As amenidades paisagísticas
observado para a distribuição de renda relacionadas com a proximidade ao mar, a
estimada dos usuários do Twitter. A sul, são um fator na definição de valores da
regressão linear entre as duas distribuições é terra e localização de pessoas de maior renda
de 0,67 (R2 ajustado), mostrando que a no Rio. O relevo aumenta consideravelmente
distribuição de renda dos usuários tem um a complexidade dos padrões de localização
grau razoável de semelhança à distribuição residencial no Rio, ao incluir habitação em
de renda da população em geral (parte áreas não originalmente destinadas para esse
inferior da Figura 3, à direita). Isto sugere fim. As favelas espalhadas no território
que o uso do Twitter não está associado a permitem que pessoas de menor renda
níveis de renda mais altos, confirmando também vivam perto do mar e do centro de
achados anteriores sobre a alta taxa de empregos no extremo leste (Central Business
penetração do Twitter no Brasil (Graham e District / CBD). Essa paisagem urbana
Stephens, 2012). A análise geográfica na incomum enreda as trajetórias, como vemos
Figura 3 mostra a localização residencial da em áreas da zona sul do Rio, aumentando o
população com diferentes níveis de renda (no potencial de encontros entre os diferentes.
alto) e a localização dos usuários (abaixo). Em segundo lugar, os resultados da análise
mostram vestígios de uma segregação
‘dinâmica’ na forma de caminhos
Encontros no espaço e no tempo: um apropriados exclusivamente por grupos de
experimento digital renda específicos. Complexidades
consideradas, temos um padrão geral, com os
O que este experimento digital mostra sobre usuários de renda mais alta movimentando-se
a dinâmica do encontro potencial entre os sobretudo na zona sul e sudoeste, perto do
socialmente diferentes? Contamos o número mar. Uma mudança gradual nos níveis de
e extensão dos trajetos dos usuários do renda dos usuários é visível nos trajetos que
Twitter classificados pelo nível de renda em se distribuem para norte e oeste.
cada segmento de rua onde houve passagem Mas onde estão os espaços
de usuários. Esta informação foi registrada compartilhados pelos diferentes grupos
para cada usuário e acumulado em sua sociais? Grupos de menor renda (GR1 x
respectiva faixa de renda. Em seguida, GR2) compartilham muito mais espaços
calculamos a sobreposição de trajetos dos entre si, principalmente no norte e oeste do
grupos de renda, usando o número de atores Rio (Figura 5, à esquerda). Já a sobreposição
de cada grupo passando por cada segmento entre os mais pobres e os ricos (GR1 x GR5)
de rua. Os mapas na Figura 4 mostram o mostra baixíssimo potencial de contato
grupo de renda dominante nas ruas que (Figura 5, à direita).
compõem suas trajetórias. O critério para Essas sobreposições visuais entre grupos
determinar visualmente a presença dominante de renda podem também ser avaliadas
de um grupo ao longo de um segmento de rua quantitativamente, assim como o quão
é ‘o grupo com proporcionalmente o maior isolada é a presença de um único grupo nas
número de caminhos sobrepostos em um ruas e a proporção dos grupos de renda nos
segmento de rua determina a cor para esse caminhos compartilhados (Tabela 1). Os
segmento’. Uma vez que consideramos a grupos de renda menor (GR1 e GR2) são
proporção de grupos de renda em números mais segregados em seus movimentos na
reais, quando um grupo tem um ou mais cidade, respetivamente com 19,2 % e 29,9 %
usuários acima desse percentual, tem de suas trajetórias ocorrendo em ruas não
presença dominante. compartilhadas. Seus trajetos também
94 Uma geografia temporal do encontro
Figura 4. Redes segregadas: grupos azul (renda baixa), verde (média-baixa), amarelo
(média), laranja (média-alta) e vermelho (alta). O mapa maior mostra a rede de classe
dominante.
Figura 5. Potencial contato entre grupos de renda baixa (GR1xGR2) e grupos de baixa e
alta rendas (GR1xGR5).
Uma geografia temporal do encontro 95
Tabela 1. Matriz de proporção de ruas (em renda média (GR3) se mostra o mais
relação ao total de ruas) apropriadas distribuído em diferentes setores ao longo de
exclusivamente por um grupo de renda seus movimentos na cidade.
individual (itálico), e a proporção de ruas Onde os diferentes grupos de renda
compartilhadas por diferentes grupos de
convergem mais intensamente? Quais são as
renda.
ruas com mais diversidade social?
Mensuramos a diversidade social nas ruas,
GR1 GR2 GR3 GR4 GR5 examinando o nível de sobreposição de
GR1 19.2% 10.4% 0.5% 0.5% 0.8% trajetórias. Para tanto, usamos a fórmula da
GR2 29.9% 1.5% 1.7% 1.2% entropia da informação de Shannon (1948)
GR3 4.3% 0.2% 0.3% para calcular a participação de cada classe
GR4 4.3% 0.7% sobre o número total de atores em cada
GR5 4.6% segmento de rua. Os espaços com a presença
de todos os grupos de renda em proporções
iguais contêm a diversidade mais alta.
mostram menos diversidade social: eles são Associamos os níveis de diversidade com
facilmente o grupo dominante (isto é, sua cores diferentes de cinza para vermelho
presença está acima da sua proporção no (Figura 6). A diversidade foi calculada para
número total de atores). Eles compartilham cada segmento de rua. Intervalos de
mais espaços entre si que outros pares de proporção entre rendas foram definidos
grupos (10,4 %). O GR2 mostra um estatisticamente através de natural breaks.
comportamento espacial menos segregado –
mas também tem uma participação maior de
usuários (46,7 %). O fato de que o GR1 Diversidade = − ∑ 𝑃𝑖 𝑙𝑜𝑔2 (𝑃𝑖 /𝑃𝑡)
consiste em 23,6 % do total dos usuários e 𝑖
são dominantes em 30,5 % das ruas por onde
passam sugere que eles são mais segregados onde Pi é o número total de usuários com
do que os outros grupos em seus renda e Pt é o número total de usuários
movimentos. Finalmente, os mais pobres e os passando em cada um dos segmentos da rua
mais ricos (GR1 e GR5) compartilham
apenas 0,8 % dos seus caminhos. A Figura 6 mostra uma rede de ruas de
Considerando agora a relação entre alta acessibilidade capazes de convergir
segregação ‘residencial’ e segregação diferentes grupos de renda – uma
‘dinâmica’, aquela que se manifesta sobre as sobreposição de trajetos ao redor da zona sul
pessoas e suas trajetórias (Netto e Krafta, (Copacabana e Ipanema) e do centro de
1999; Netto et al., 2015), o quanto diferentes empregos (mais a leste). Espaços de
grupos de renda passam por áreas convergência social são mais encontrados
residencialmente segregadas? Avaliamos nessas áreas, ou em centralidades como a
essa relação cruzando a renda média nos Tijuca e Jacarepaguá, um pouco mais ao
setores censitários com a renda média do norte.
grupo dominante passando nessas áreas A configuração urbana é ativa nesses
(Tabela 2). Mesmo que possam estar trajetos convergentes. Isso é inerente à
presentes em setores mais ricos, os grupos própria modelagem do problema. A geração
mais pobres (GR1 e GR2) são fortemente dos caminhos entre as localizações dos tweets
concentrados nas áreas mais pobres: 72,1 % é baseada na acessibilidade interna ao
das trajetórias GR1 acontecem em setores de sistema viário a partir dos caminhos mais
renda baixa-média (S2). Os usuários mais curtos entre segmentos de rua, apresentada
ricos (GR4 e GR5) tendem a se mover mais no passo 4 do método. Dado que a seleção de
nos seus próprios setores de origem (S5): usuários do Twitter foi aleatória, sua
58,58 % dos trajetos do GR5 acontecem em distribuição residencial é representativa da
áreas S5. Por sua vez, os setores de renda distribuição da população do Rio e seus
média e média-alta (S3 e S4) estão abertos a tweets tendem a se distribuir pela estrutura
grupos de renda mais diversos. O grupo de urbana, os trajetos entre tweets emergem da
96 Uma geografia temporal do encontro
usuários mais pobres. Os encontros mais renda), e avaliar o seu papel nas trajetórias
prováveis ficam evidenciados como sendo inferidas de pessoas no espaço urbano. Ela
entre pessoas socialmente ‘semelhantes’. mostra que padrões de localização residencial
e de trajetórias divergentes levam a menos
oportunidades de encontro, como vimos entre
Conclusão: espaço, tempo e segregação na os usuários mais ricos e os mais pobres do
geografia do encontro Twitter. Se Freeman (1978) tem razão ao
afirmar que a segregação opera através de
Neste trabalho, exploramos o papel das restrições do contato, a falta de espaços
trajetórias urbanas na criação de públicos compartilhados é uma parte
oportunidades de encontro – e seu oposto, na essencial da ‘experiência’ e da ‘reprodução’
disjunção de encontros em uma forma de da segregação.
‘segregação em tempo real’. Fizemos isso Um estudo baseado em dados do Twitter
explorando dados de localização das redes seria suficiente para chegarmos a esse
sociais para compreender as trajetórias dos cenário? Este experimento não está sujeito à
usuários do Twitter e inferir encontros validação dos achados, uma vez que isso
potenciais entre eles. Aplicamos essa exigiria acesso pessoal aos usuários para
abordagem em um estudo empírico incluindo obter informações sobre seus níveis reais de
pessoas com diferentes níveis de renda no renda, seus modos de transporte e suas
Rio de Janeiro. Avaliamos níveis de trajetórias reais na cidade, itens que não
segregação e diversidade social nas ruas e podem ser incluídos devido ao anonimato dos
desenvolvemos uma análise de ‘redes de usuários do Twitter e por envolverem outros
proximidade’ baseadas em encontros recursos de pesquisa – muito mais custosos.
potenciais. Devido à dificuldade de generalizar
Nossa abordagem oferece uma mudança conclusões a partir de amostras de usuários,
do foco das redes sociais centradas em atores procedimentos de atribuição de localização e
para as redes de proximidade geradas a partir de renda aos usuários devem ser vistos como
de uma ‘geografia temporal do encontro’. uma aproximação em vez de um cenário real,
Nossa hipótese foi que a probabilidade de como insistimos. Como uma proxy para o
encontros entre grupos em larga escala inclui, cenário de encontro e segregação potenciais,
mas vai além da localização residencial e da este experimento com base em dados de
segregação espacial. Seria moldado pela localização do Twitter pode mostrar apenas
renda, pela distribuição de atividades, ‘tendências’ nas trajetórias de um grande
padrões de acessibilidade e pelas trajetórias número de atores. Ainda assim, os resultados
das pessoas. Nossa análise das sequências encontrados encontram fortes convergências
espaciais e temporais de encontros potenciais com estudos empíricos conduzidos no Rio de
nos permitiu trazer à tona uma face sutil de Janeiro a partir de entrevistas com 240
segregação como ‘disjunção de encontros’, pessoas (Netto e Furtado, 2017), e em
perto da definição seminal de Freeman Niterói, com 121 pessoas (Netto et al., 2015)
(1978) de segregação como ‘restrições do de rendas distintas. É interessante perceber
contato’. Nesse estudo, os caminhos inferidos que, mesmo que forneçam confiabilidade na
dos usuários do Twitter mostram maior medida em que entrevistados forneçam
superposição entre aqueles socialmente corretamente suas rendas e trajetórias, estes
similares. dois estudos não oferecem uma ‘geografia
Naturalmente, uma série de perguntas temporal dos encontros’, pela imprecisão do
podem ser feitas: trajetórias pouco dado de tempo associado às atividades e
sobrepostas podem ser interpretadas como percursos dos entrevistados.
segregadas? Seria ‘compartilhar espaço’ o Por sua vez, o presente estudo sugere que
suficiente para produzir integração social? os dados oferecidos pelo Twitter são um
Ao contrário da maioria dos trabalhos meio para identificar padrões de
disponíveis na literatura, nossa abordagem é movimentação de atores, abrindo fortes
voltada para rastrear o movimento das possibilidades para a compreensão de
pessoas, relacioná-lo com padrões de condições de reprodução da integração e
diferenciação social (neste caso, baseada na segregação social. Os dados do Twitter não
100 Uma geografia temporal do encontro
permitem inferir trajetos completamente – genesis of groups’, Theory and Society 14, 723-
mas as análises gráficas e quantitativas da 44.
sobreposição dos trajetos que inferimos Bovy, P. H. L. (2009) ‘On modelling route choice
sets in transportation networks: a synthesis’,
oferecem possibilidades de compreensão da
Transport Reviews 1, 43-68.
segregação para além dos mapas estáticos de Dijkstra, E. W. (1959) ‘A note on two problems
localização residencial ou de atividade. Este of connexion with graphs’, Numerische
é um dos propósitos da nossa abordagem: nos Mathematik 1, 269-71.
aproximarmos de uma leitura das redes Fischer C. e Shavit Y. (1995) ‘National
segregadas de movimentação – assim como differences in network density: Israel and the
dos espaços públicos com diferentes United States’, Social Networks 17, 129-45.
potenciais de sobreposição. Esses Freeman, L. (1978) ‘Segregation in social
movimentos segregados e o potencial para a networks’, Sociological Methods and Research
sobreposição de redes sociais não podem ser 6, 411-29.
Getis, A. e Ord, J. K. (1992) ‘The analysis of
inferidos somente a partir da renda, atividade
spatial association by use of distance statistics’,
ou distribuição residencial. Geographical Analysis 24, 189-206.
As mídias digitais oferecem uma Giddens, A. (1984) The constitution of society
possibilidade extraordinária de pesquisa: são (Polity Press, Cambridge).
uma fonte para entendermos a geografia Goffman, E. (1961) Encounters (Bobbs-Merrill,
elusiva dos encontros de milhares de pessoas, Indianapolis).
aqui introduzida, no melhor do nosso Gonzales, M., Hidalgo, C. e Barabási, A-L (2008)
conhecimento, pela primeira vez na ‘Understanding individual human mobility
literatura. Isso parecia praticamente patterns’, Nature 453, 479-82.
impossível antes dos dados locacionais Graham, M, Stephens, M. (2012) ‘A geography of
Twitter’ (www.oii.ox.ac.uk/vis/?id=4fe09570)
oferecidos em tempo real por usuários de
consultado em 9 de Setembro de 2017.
redes digitais e dispositivos móveis de Hägerstrand, T. (1970) ‘What about people in
comunicação. Nossa abordagem sugere que a regional science?’, Papers of the Regional
probabilidade de encontro está impregnada Science Association 24, 6-21.
de espacialidade, interagindo ativamente com Hillier, B. e Hanson, J. (1984) The social logic of
a configuração urbana para gerar potenciais space (Cambridge University Press,
de convergência e copresença de grupos Cambridge).
sociais. As chances de encontrar ‘o outro’ se Hillier, B. e Vaughan, L. (2007) ‘The city as one
mostram distribuídas de acordo com essa thing’, Progress in Planning 67, 205-30.
estrutura espacial e temporal da ação dentro Hillier, B., Penn, A., Hanson, J., Grajewski, T. e
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Abstract. The integration between spatial and social networks is fundamental to new approaches on
cities as systems of interaction. In this paper, we focus on the spatial and temporal conditions of
encounters as a key condition for the formation of social networks. Drawing on classic approaches such
as Freeman’s concept of segregation as ‘restriction on contact’, Hägerstrand’s time-geography, and
recent explorations of social media locational data, we analysed the space-time structure of potential
encounters latent in the urban trajectories of people with different income levels in Rio de Janeiro, Brazil.
This approach allows us to estimate trajectories examining spatiotemporal positions in tweets, and assess
spaces of potential encounter and levels of social diversity on the streets. Finally, we discuss the utility
and limitations of an approach developed to grasp how clusters of encounters between groups with
different income levels are produced.
Figura 1. Krasnoyarsk.
Processo de produção e transformação da forma urbana em
cidades costeiras brasileiras
Denio Benfatti
Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Pq. das Universidades Campinas,
13086-900 Curitiba SP. E-mail: deniobenfatti@puc-campinas.edu.br
Vera Tângari
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Av. Pedro Calmon 550 4º andar, Cidade
Universitária, 21941-901 Rio de Janeiro RJ. E-mail: vtangari@uol.com.br
Revista de Morfologia Urbana (2017) 5(2), 103-24 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
104 Processo de produção e transformação da forma urbana em cidades costeiras brasileiras
Vitória
Recife
transformação como nas áreas de expansão morros em áreas mais distantes do centro e
urbana observa-se a verticalização a partir de da orla. Os novos conjuntos habitacionais uni
edificações isoladas, entretanto, é cada vez e multifamiliares aparecem aumentando a
mais visível a presença de conjuntos de pressão sobre as áreas de preservação e
edifícios com 25 andares ou mais associados descolados da continuidade urbana (Figura
às novas estruturas de mobilidade. As 12).
ocupações de baixa renda ocuparam Quanto aos tipos elencados: i) quadras
tradicionalmente as partes mais altas dos com ocupação e forma urbana vertical
Processo de produção e transformação da forma urbana em cidades costeiras brasileiras 113
heterogênea com e sem recuo; prédios mais verticalização mais recente, em geral, com
antigos situados na parte de formação edifícios implantados com recuos, isolados
tradicional da cidade, variando entre cinco e ou em conjuntos, com mais de 25 andares; ii)
dez andares, em geral sem recuos e definindo grandes superfícies de uso comercial e de
alinhamentos contínuos e regulares; serviços, contenedores; iii) quadras com
114 Processo de produção e transformação da forma urbana em cidades costeiras brasileiras
serviços; iv) terra urbana de oferta restrita quadras com residências horizontais e
em função das características do sítio – recuos; e v) ocupação da orla tradicional da
insular / continental e áreas protegidas – e cidade como um bom exemplo de espaço
alta valorização do solo urbano; v) estruturas público e verticalização (Figura 15).
ambientais – a característica insular / Quanto ao processo de produção: i) terra
continental é forte condicionadora da urbana de oferta restrita devido à ocupação
ocupação urbana, pois o afloramento de consolidada e às características do sítio (ilha,
morros isolados e mais especificamente o mangues e morros), impondo elevados
maciço central despontam como um dos valores para o solo urbano; ii) investimentos
principais elementos estruturadores da do Governo Estadual e Governo Municipal
paisagem e da ocupação; vi) observa-se forte para ampliação das redes de infraestrutura e
pressão sobre as estruturas ambientais, seja de transporte; iii) articulação viária
por parte do mercado formal, seja por parte metropolitana com dois túneis: Túnel Maciço
do mercado informal; vii) quanto aos morros Central – Santos / São Vicente (Governo
isolados, um elemento forte na paisagem Estadual) – e Túnel Submerso – Santos /
local, alguns foram parcialmente destruídos e Guarujá / Vicente de Carvalho (Governo
utilizados para aterramento de outras áreas, Estadual) – que transforma a acessibilidade
outros estão em processo de envelopamento de várias áreas da cidade situadas na área de
pelas edificações verticais em seu entorno; influência dessa nova infraestrutura; iv)
viii) a cidade sobe os morros tanto com implantação do sistema de trem VLT
edificações do setor imobiliário formal, (Governo do Estado) traz, do ponto de vista
quanto com ocupações informais; ix) as da acessibilidade peatonal, possibilidades
planícies inundáveis, apesar de em boa parte bastante concretas de se trabalhar com o
protegidas pela legislação, também estão sob adensamento das áreas do entorno; v)
pressão de ocupação; x) ocorre baixa investimentos em gás e petróleo geram nova
incidência de Habitação de Interesse Social dinâmica urbana e novas demandas de área
(MCMV) com população de baixa renda construída para habitação e comércio; vi)
deslocada para os morros e outras cidades da estruturas ambientais – em função da
região metropolitana; e xi) verticalização ocupação quase total da ilha e de sua parte
recente e aumento do coeficiente de continental, além da orla e dos morros
aproveitamento devido a mudanças na isolados – são de pouca expressividade
legislação urbanística. quando comparadas a outras cidades
costeiras; vii) a pressão de ocupação foi em
parte exportada para outras cidades da região
Santos metropolitana e, em parte, está se
expandindo para algumas áreas de terrain
Quanto aos padrões morfológicos, trata-se de vague e transformando o edificado original
um tecido densamente ocupado, com edifícios de maior altura e maior
verticalizado e contínuo, definido pelo seu coeficiente de aproveitamento em áreas onde
caráter insular e pelas estruturas ambientais a legislação tornou essa mudança possível;
(mangue e morros): i) quadras oriundas do viii) decorrente da restrição de terras e do
Plano de Saturnino de Brito, de 1914, a partir alto valor do solo, praticamente inexistem
de traçado com canais de drenagem e ações concretas construídas ou previstas
definição de quadras e lotes; ii) quadras da destinadas à Habitação de Interesse Social
orla marítima, ocupação tradicional, (MCMV) e a população de baixa renda se
homogêneas em sua verticalização – doze a desloca para os morros e outras cidades da
quinze andares; iii) quadras nas partes região metropolitana; ix) verticalização e
internas da ilha: verticalização recente e adensamento em áreas de interesse do
heterogênea, prédios com cinco, doze a mercado; e x) aumento do coeficiente de
quinze e com mais de 25 andares; iv) aproveitamento aprovado em 2005.
Processo de produção e transformação da forma urbana em cidades costeiras brasileiras 117
Figura 16. Recife – ocupação informal e verticalização descolada das principais estruturas
de mobilidade (fonte: QUAPÁ-SEL, 2014).
mais, sendo que várias destas operações tecido urbano alargado é reproduzido e
recentes estão associadas aos contenedores ampliado tanto pelas ações do Estado como
comerciais e de serviços. pelo setor imobiliário formal. Fora do
Recife, a seu modo, responde a essas programa MCMV a população de baixa
transformações associadas aos sistemas de renda vem ocupando as grotas deixadas pela
mobilidade com uma das verticalizações urbanização como vazios de interesse
mais extravagantes do Brasil, seja de ambiental.
edifícios isolados, seja de conjuntos de As cidades de Santos e Vitória, por
edifícios associados aos contenedores estarem em parte contidas em ilhas ou
comerciais e de serviços (Figura 17). envolvidas por mangues e áreas de interesse
Também no tecido urbano alargado, Recife portuário, apresentam oferta de terras
oferece exemplos tanto de expansão bastante restrita para novas ocupações.
horizontal, como de verticalização periférica. Devido a esse fato têm exportado sua
Maceió, em menor escala, também vem população mais pobre para os morros e para
promovendo uma ocupação nos topos dos as outras cidades de suas respectivas regiões
tabuleiros e estendendo a área urbanizada metropolitanas.
nas partes menos acidentadas. Neste caso, Nestas duas cidades, mesmo os
até mesmo em função da escala da cidade, os empreendimentos do programa MCMV tem
empreendimentos do MCMV são mais influência muito restrita em função do valor
visíveis, e sua localização é autônoma até do solo e da dimensão dos terrenos
mesmo em relação às infraestruturas. disponíveis. Por ser a mais densa e
A avaliação deste programa realizado verticalizada das cidades analisadas, em
pela Rede Cidade e Moradia afirma que ‘se o Santos as transformações intra-urbanas são
programa passou a atingir camada da de menor incidência e visibilidade (Figura
população historicamente não atendida na 18). Já em Vitória a dinâmica de
área habitacional, não interferiu no seu lugar transformação é mais forte e a pressão sobre
histórico nas cidades, reproduzindo o padrão as estruturas ambientais é bem mais visível.
periférico’ (Jornal Valor Econômico, A cidade sobe os morros tanto através de
10/02/15). Esta avaliação do programa edificações do mercado formal quanto das
reforça a ideia de que o padrão periférico do ocupações informais (Figura 19).
Processo de produção e transformação da forma urbana em cidades costeiras brasileiras 121
The process of production and transformation of urban form in Brazilian coastal cities
Abstract. The universe of the national research, sponsored by FAPESP through the thematic project
‘Open spaces and urban form’ coordinated by QUAPÁ-SEL laboratory, in FAUUSP, encompasses 35
cities, among state capitals and medium-sized cities in Brazil. It is based on procedures that include:
individual and group network surveys; workshops held in the cities studied; annual research
colloquiums; presentations in national and international scientific events. This paper focuses on five
cities located on the coast of Brazil where workshops have already taken place in 2014 and 2015, and
have made possible the analysis of some results through comparative approach: Vitória, Salvador,
Maceió, Santos and Recife. The text includes reflections and comparisons between cities and concludes
by indicating for discussion some criteria of intervention in the studied cities that could generate urban
quality, safeguarding the particular socio-environmental situations. In this paper, instead of discussing
all the research issues, proposed for the workshops carried out by the QUAPÁ-SEL network, we have
decided to focus only in some of them that have in common the fact they relate to the location along the
Brazilian coast. The reflection was based basically on the results of the workshops, which brings to this
analysis a simplification and, at the same time, a difficulty. The workshops and their reports are
presented in a very heterogeneous and uneven manner. However, the discussions were always based on
the same lines of research, ensuring, on the other hand, homogeneity in our approach.
Revista de Morfologia Urbana (2017) 5(2), 125-9 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
126 Perspetivas
edificação (Solà-Morales, 1997). Em tudo isto, do edificado com os traçados urbanos, face às
por outro lado, deve ser incorporada a topografia, respostas que mantêm a dicotomia plano-projeto.
a acessibilidade, propriedade, a coexistência de
diferentes formas e o tempo, o principal material Referências
de construção da cidade.
Aymonino, C. (1966) ‘La formazione di un
moderno concetto di tipología edilizia’ em
Conclusões Fabbri, G. (ed.) Rapporti tra la morfologia
urbana e la tipologia edilizia: Documenti del
Em síntese, as contribuições que a escola Catalã corso di caratteri distributivi degli edifici. Anno
incorpora no processo analítico do facto urbano academico 1965-1966 (CLUVA, Veneza).
concretizam-se nos seguintes aspetos: i) considera Norberg-Schulz, C. (1979) Intenciones en
a intervenção do arquiteto urbanista face ao Arquitectura (Gustavo Gili, Barcelona).
planeador técnico; ii) opta pela autonomia dos Panerai, P., Depaule, J. C., Demorgón e M.,
ramos do conhecimento, com especialização e Veyrenche, (1983) Elementos de análisis
profundidade em cada campo de modo singular, urbano (IEAL, Madrid).
face à interdisciplinaridade; iii) propõe uma Portas, N. (1997) ‘Presentación a la edición en
explicação do micro (económico e urbanística da castellano’, em Solá-Morales i Rubió, M. Las
realidade local), face a uma explicação macro formas de crecimiento urbano (Edicions UPC,
(cadeia industrialização-migração-crescimento); Barcelona).
iv) distingue as formas do parcelamento e as Rossi, A. (1982[1966]) La arquitectura de la
formas infraestruturais na morfologia, e incorpora ciudad (Gustavo Gili, Barcelona).
no parcelamento e na edificação uma categoria Solá-Morales i Rubió, M. (1974) Las formas del
adicional, que completa a compreensão da cidade: crecimiento urbano. Programa de Urbanística
a urbanização, face à dualidade morfo-tipológica, I, Laboratorio de Urbanismo, Monografía nº 6.
como explicação do fenómeno urbano; v) 17 (ETSAB, Barcelona).
incorpora a variável tempo no processo de gestão Solá-Morales i Rubió, M. (1987) ‘La segunda
da urbanização, face à omissão da gestão historia del proyecto urbano’, Revista UR, 5, 21-
temporal; vi) aborda as três categorias ou níveis 7.
das formas urbanas, parcelamento, urbanização e Solá-Morales i Rubió, M. (1997) Las formas del
edificação, mediante seis unidades de forma, crecimiento urbano (Edicións UPC, Barcelona).
através de uma série de descritores, face à Suárez, X. L., Lopez, C., Mosquera, V., Revilla,
informação urbanística de ‘dados’; e, por fim, vii) A. e Fontan, C. (2015) ‘Análise urbana na
propõe a ideia do projeto urbano como a solução ETSA da Coruña’, Revista de Morfologia
mais apropriada, relacionando a construção Urbana 3, 80-2.
As cidades, ao longo da história, foram podendo ser considerada um dos traços mais
adquirindo singularidades no que diz respeito ao importantes da história cultural, intelectual,
perfil de conformação da forma urbana de cada científica e tecnológica (Scazzieri e Simili, 2008),
local. Esse processo pode ocorrer de modo destacando-se também na história das cidades.
planejado ou espontâneo, onde o dinamismo do As ideias, no contexto da gestão e
desenvolvimento e do crescimento são constantes. planejamento urbanos, viajam por meio de
Reflexos da experiência de determinadas cidades culturas, tempo e espaço. Fluem de um local para
frequentemente servem de influência para outras, outro e com isso carregam conceitos, técnicas e
sendo esse fenômeno denominado circulação de instrumentos (Healey, 2011) ora mantendo a sua
ideias. integridade original, sendo apenas replicadas em
A circulação de ideias é um dos aspectos outros espaços, ora adaptando-se às novas áreas
centrais no estabelecimento da comunicação, de destino (Healey e Upton, 2010), em
128 Perspetivas
Figura 1. Porto.
Conselho Científico
65 L. Amorim e M. B. Filho
Convergência de métodos de descrição da forma urbana: análise de textura de imagens de satélite e análise
gráfica visual
85 V. Netto, J. V. Meirelles, M. Pinheiro e H. Lorea
Uma geografia temporal do encontro
103 D. Benfatti e V. Tângari
Processo de produção e transformação da forma urbana em cidades costeiras brasileiras
Perspetivas
125 A análise morfológica urbana: achegas da escola Catalã C. López e M. Carreiro
127 As cidades na história: as ideias e sua influência na forma urbana D. Schirmer
Relatórios
82 Rede Lusófona de Morfologia Urbana (PNUM), 2016-2017 T. Marat-Mendes
83 6ª Conferência da Rede Lusófona de Morfologia Urbana, Vitória, Brasil, 2017 J. Correia
84 3º PNUM Workshop, Setembro de 2017, Corunha V. Oliveira
Notícias
64 Urban Morphology
102 ISUF 2018: Urban form and social context
130 PNUM 2018: A produção do território – formas, processos, desígnios
130 ISUF-H 2018: Ciudad y formas urbanas – perspectivas transversales