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MORFOLOGIA
3 Editorial
5 S. M. G. Pinto
URBANA
Área non aedificandi em domínio privado. História breve do interstício entre prédios em Portugal Revista da Rede Lusófona de Morfologia Urbana
19 R. L. Rego, T. S. Ribeiro e J. Taube
Ideias clássicas, aspirações modernas: o academicismo e o traçado das cidades novas do norte do Paraná
2015
31 G. Z. F. Neves, R. A. Felício e S. S. Macedo Volume 3
Variação da temperatura de superfície na cota do pedestre na Avenida XV de Novembro, São Carlos-SP, Brasil
Número 1
41 A. V. Moudon
Morfologia urbana como um campo interdisciplinar emergente
Perspetivas
51 A Morfologia Urbana na ESG D. Viana e G. Carlos
54 A Morfologia Urbana como base para a formação urbanística dos arquitetos E. Solís e B. Ruiz-Apilánez
56 Ensino da Morfologia Urbana. A experiência da FAU-UB F. Holanda
57 Didática da Morfologia Urbana G. Cataldi
59 O ensino da Morfologia Urbana na Universidade do Minho J. Correia
61 O ensino da Morfologia Urbana no Curso de Arquitetura e Urbanismo da UEM K. Meneguetti
62 Morfologia Urbana no Líbano L. Bravo e J. Madrigal
66 O ensino da Morfologia Urbana em Itália: balanço e perspetivas M. Maretto
67 Relatos sobre o ensino de Morfologia Urbana na UFMG S. Costa
69 Morfologia Urbana – ensino e pesquisa S. Macedo
72 Projetar nas franjas urbanas. Um ‘processo’ entre escalas, objetos e temas diversos S. Sucena-Garcia
74 O ensino da Morfologia Urbana na FAUP T. Calix, M. Sá
76 Da Morfologia Urbana à análise espaço-funcional T. Heitor
77 O ensino da Morfologia Urbana no ISCTE-IUL T. Marat-Mendes
80 Análise urbana na ETSA da Coruña X. Suarez, C. Lopez, V. Mosquera, A. Revilla e C.Fontan
Relatórios
30 PNUM Workshop 2015, Porto, Julho 2015 V. Oliveira
82 Curso de Extensão em Morfologia Urbana, Belo Horizonte, Junho 2015 V. Oliveira
Notícias
4 Urban Morphology
49 22nd International Seminar on Urban Form
50 5a Conferência da Rede Lusófona de Morfologia Urbana
50 1st Symposium of the Turkish Network of Urban Morphology
Editor: Vítor Oliveira, Universidade do Porto, Portugal, vitorm@fe.up.pt
Editor dos Book Review: Teresa Marat-Mendes, Instituto Universitário de Lisboa, Portugal,
marat.mendes@gmail.com
Os autores são os únicos responsáveis pelas opiniões expressas nos textos publicados na
‘Revista de Morfologia Urbana’. Os Artigos (não deverão exceder as 6 000 palavras, devendo
ainda incluir um resumo com um máximo de 200 palavras), as Perspetivas (não deverão exceder
as 1 000 palavras), os Relatórios e as Notícias referentes a eventos futuros deverão ser enviados
ao Editor. As normas para contributos encontram-se na página 2.
Desenho original da capa - Karl Kropf. Desenho das figuras - Vítor Oliveira
5 S. M. G. Pinto
Área non aedificandi em domínio privado. História breve do interstício entre prédios
em Portugal
41 A. V. Moudon
Morfologia urbana como um campo interdisciplinar emergente
Perspetivas
Relatórios
Notícias
4 Urban Morphology
49 22nd International Seminar on Urban Form
50 5ª Conferência da Rede Lusófona de Morfologia Urbana
50 1st Symposium of the Turkish Network of Urban Morphology
Normas para contributos para a Revista de Morfologia Urbana
Os textos a submeter à ‘Revista de Morfologia Whitehand, J. W. R. e Larkham, P. J. (eds.)
Urbana’ deverão ser originais, escritos em (1992) Urban landscapes, international
Português, e não deverão estar em apreciação em perspectives (Routledge, Londres).
nenhuma outra revista científica. Os textos serão No caso de publicações com múltiplos
aceites para publicação depois da avaliação autores, todos os nomes devem ser incluídos na
favorável de, pelo menos, dois revisores lista de referências. Apenas as referências citadas
independentes. Os artigos não deverão exceder as devem ser incluídas na lista.
6.000 palavras, devendo ainda incluir um resumo
com um máximo de 200 palavras e até cinco Ilustrações e tabelas
palavras-chave. O título do artigo, o resumo e as Os desenhos e as fotografias deverão ter a
palavras-chave deverão ser bilingue, em dimensão adequada à sua reprodução. Nesse
Português e em Inglês. Como a autoria dos textos sentido, a dimensão das páginas da revista deverá
não é revelada aos revisores, o(s) nome(s) e o(s) ser tida em consideração pelo autor ao desenhar
endereço(s) do(s) autor(es) devem constar de uma as ilustrações. As ilustrações devem ser a preto e
folha em separado. As ‘perspetivas’ (também branco a menos que a cor seja essencial. Devem
sujeitas a ‘revisão por pares’) e os book reviews ser numeradas de forma consecutiva, referidas
não deverão exceder as 1.000 palavras. Os artigos diretamente no texto e submetidas em formato
e as ‘perspetivas’ devem ser formatados em word JPEG ou TIFF. As ilustrações fotográficas
e enviados por e-mail para o Editor deverão ter uma resolução de, pelo menos, 1200
(vitorm@fe.up.pt). Os book reviews deverão ser dpi, e os desenhos de, pelo menos, 600 dpi. Todas
endereçados ao Editor dos Book Review as ilustrações devem ter uma designação. No
(marat.mendes@gmail.com). Os textos deverão final do texto, após a lista de referências, deve ser
ser submetidos em formato de coluna única com incluída uma lista das ilustrações, da seguinte
margens largas. Os autores não deverão tentar forma:
reproduzir o layout da revista. Todas as medições
devem ser expressas no sistema métrico. Figura 1. Análise metrológica de Lower
Os autores são os únicos responsáveis pelas Broad Street, Ludlow
opiniões expressas nos textos publicados na
‘Revista de Morfologia Urbana’. São ainda Deverá ser dedicada uma atenção especial ao
responsáveis por assegurar eventuais permissões layout das tabelas, devendo ser desenhada uma
para reprodução de ilustrações, citações extensas, tabela por página. As tabelas deverão ser
etc. desenhadas com o mínimo recurso a
normalizações quer na vertical quer na horizontal.
Referências Deverão ter margens largas em todos os lados.
Os autores deverão usar o sistema de
referenciação Harvard, no qual o nome do autor Página de título
(sem as iniciais) e a data são apresentados no Numa página em separado deverá ser indicado o
corpo do texto – por exemplo (Whitehand e título do artigo e o nome, a filiação académica
Larkham, 1992). As referências são apresentadas (ou profissional) e o endereço completo
por ordem alfabética no final do texto, sob o (incluindo e-mail) do(s) autor(es).
título ‘Referências’, da seguinte forma:
Títulos
Conzen, M. P. (2012) ‘Urban morphology, ISUF Apenas na primeira letra e nos nomes próprios
and a view forward’, 18th International serão utilizadas maiúsculas. Os títulos deverão
Seminar on Urban Form, Montreal, 26 a 29 de ser justificados à esquerda. Os títulos primários
Agosto. deverão ser a negrito e os secundários em itálico.
Conzen, M. R. G. (1968) ‘The use of town plans
in the study of urban history’, em Dyos, H. J. Números
(ed.) The study of urban history (Edward Deverão ser usados algarismos para todas as
Arnold, Londres) 113-30. unidades de medida, à exceção de quantidades de
Hillier, B. (2008) Space is the machine objetos e pessoas, quando estas se referirem a
(www.spacesyntax.com) consultado em 9 valores compreendidos entre um e vinte. Nesse
Setembro de 2013. caso, os números deverão escritos por extenso.
Kropf, K. S. (1993) ‘An inquiry into the
definition of built form in urban morphology’, Por exemplo: 10 dias, 10 km, 24 habitantes, 6400
Tese de Doutoramento não publicada, m; mas dez pessoas, cinco mapas.
University of Birmingham, Reino Unido.
Moudon, A. V. (1997) ‘Urban morphology as an Provas
emerging interdisciplinary field’, Urban Durante o processo de publicação serão enviadas
Morphology 1, 3-10. provas aos autores. Nesta fase, apenas serão
corrigidos erros de impressão, não sendo
aceitáveis alterações de fundo.
Editorial
Apesar de não ser um tema central do debate cidade através do projeto (Cálix e Sá, 2015;
morfológico, a discussão sobre o ensino da Sucena, 2015). Os dois textos escritos por colegas
Morfologia Urbana tem vindo a ganhar destaque espanhóis (Solis e Ruiz-Apilánez, 2015; Suarez et
ao longo dos últimos três anos. As conferências al., 2015) sublinham as vantagens de utilização
do International Seminar on Urban Form / ISUF da cidade como laboratório: o capital acumulado
em Delft (Cavallo et al., 2014) e no Porto por um contínuo estudo de Toledo e da Corunha
(Oliveira et al., 2014) e a conferência da Rede parece permitir um conhecimento cada vez mais
Lusófona de Morfologia Urbana / PNUM em aprofundado sobre as ruas, parcelas e edifícios
Coimbra (Pinto e Almeida, 2013) são um das duas cidades espanholas onde estão inseridas
exemplo disto mesmo. Os parágrafos seguintes as instituições de ensino destes académicos. Se o
constituem uma introdução às Perspetivas, conjunto de textos nos permite perceber a
reunidas neste número da Revista, escritas por presença de um conjunto de ‘clássicos’ da
académicos Brasileiros, Espanhóis, Italianos e Morfologia Urbana nas diferentes listas
Portugueses que constituem uma reflexão sobre o bibliográficas (Cannigia e Maffei, 1979; Castex
ensino da Morfologia Urbana. No curto espaço de et al., 1977; Conzen, 1960; Hillier e Hanson,
um Editorial, pretendemos lançar a discussão 1984; Lynch, 1960), é também revelada alguma
sobre ‘o que’, ‘onde’ e ‘como’ se ensina insatisfação face à desatualização dessas mesmas
Morfologia Urbana e sobre aquilo que se listas (Meneguetti, 2015). Acresce a este facto a
aprende. ausência de manuais em Morfologia Urbana. Este
Uma importante constatação é que não aspeto foi anteriormente sublinhado em Oliveira
parecem existir cursos de ensino superior em (2014) que sustentou a necessidade de preparar
Morfologia Urbana. Para além disso, numa parte manuais que fornecessem ao estudante uma visão
significativa dos cursos de arquitetura, geografia, estruturada dos diferentes elementos da forma
história ou planeamento não existe uma disciplina urbana e dos agentes e processos responsáveis
de Morfologia Urbana, sendo que os conteúdos pela sua transformação, olhando não só para a
referentes ao estudo da forma física das cidades – história – desde a criação das primeiras cidades
e dos agentes e processos responsáveis pela sua há quase 6 milénios – mas também para os
transformação – se repartem por diferentes desafios que se colocam às cidades
disciplinas. A natureza multidisciplinar da contemporâneas, descrevendo as diferentes
Morfologia Urbana e os enfoques mais sectoriais abordagens morfológicas existentes e lançando as
e menos integrados das áreas do conhecimento bases para uma relação sólida entre Morfologia
que têm a cidade como objeto de estudo e/ou Urbana e prática profissional e entre Morfologia
intervenção serão algumas das razões Urbana e outras áreas do conhecimento.
fundamentais para esta realidade. Se cada exercício de avaliação que realizamos
Face a este contexto tão diversificado será nos dá uma ideia dos conteúdos morfológicos que
possível percebermos o que se ensina nessas o estudante foi capaz de apreender, será mais
disciplinas? Que métodos de ensino se adotam? difícil perceber aquilo que a Morfologia Urbana
Quais os textos de referência? O ensino é lhe forneceu, de facto, para o seu percurso
informado pelos avanços recentes na investigação académico e profissional. No entanto, também
morfológica? aqui este conjunto de textos nos procura dar
O conjunto de textos contido neste número algumas indicações. Costa (2015) e Viana e
descreve-nos contextos de aprendizagem Carlos (2015) descrevem como os seus
extremamente diversificados, desde situações estudantes têm ‘regressado’ à Morfologia Urbana
marcadas por uma abordagem dominante até quando da escolha do tema para as suas
outros em que diferentes professores, que dissertações, anos depois de terem contactado
desenvolvem e aplicam diferentes teorias e pela primeira vez com as questões da forma
conceitos, convergem na educação morfológica urbana. Esta constatação é tanto mais relevante
de cada estudante (ver, por exemplo, Marat- quanto sabemos que a Morfologia Urbana não
Mendes, 2015). São apresentados desde contextos tem nestes cursos um papel central. No entanto,
mais vocacionados para a descrição e a importa também questionarmo-nos, como
explicação morfológica (Costa, 2015) até Meneguetti (2015), se os conteúdos adquiridos
situações em que a análise da forma urbana é em termos de análise morfológica têm um reflexo
indissociável de uma intenção de intervir na posterior nos exercícios de desenho da cidade no
Revista de Morfologia Urbana (2015) 3(1), 3-4 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
4 Editorial
âmbito das outras disciplinas mais voltadas para a Marat-Mendes, T. (2015) ‘O ensino da
prática. Apesar das dificuldades – sentidas tanto morfologia urbana no ISCTE-IUL’, Revista de
por estudantes, como por académicos e Morfologia Urbana 3, 77-80.
profissionais – em passar da análise morfológica Meneguetti, K. (2015) ‘O ensino da morfologia
para a intervenção concreta na paisagem urbana, urbana no curso de arquitetura e urbanismo da
é neste processo que se joga a utilidade da ciência UEM’, Revista de Morfologia Urbana 3, 61-2.
da forma urbana. Oliveira, V. (2014) ‘Manuals for urban
morphology’, Urban Morphology 18, 77-8.
Oliveira, V., Pinho, P., Mendes, L., Patatas, T. e
Referências Monteiro, C. (eds.) (2014) Our common future
in urban morphology (Faculdade de Engenharia
Calix, T. e Sá, M. F. (2015) ‘O ensino da da Universidade do Porto, Porto).
morfologia urbana na FAUP’, Revista de Pinto, N. e Almeida, A. (eds.) (2013) Forma
Morfologia Urbana 3, 74-5. urbana nos territórios de influência portuguesa
Caniggia, G. e Maffei, G. (1979) Composizione (FCTUC, Coimbra).
architettonica e tipologia edilizia: 1. Lettura Solis, E. e Ruiz-Apilánez, B. (2015) ‘A
dell’ edilizia di base (Marsilio, Veneza). morfologia urbana como base para a formação
Castex, J., Depaule, J. e Panerai, P. (1977) urbanística dos arquitectos. A experiencia da
Formes urbaines: de l’ilot à la barre (Dunod, Escola de Arquitetura de Toledo’, Revista de
Paris). Morfologia Urbana 3, 54-6.
Cavallo, R.; Komossa, S.; Marzot, N.; Pont, M. e Suarez, X., Lopez, C., Mosquera, V., Revilla, C.
Kuijper, J. (eds.) (2014) New urban e Fontán, C. (2015) ‘Análise urbana na ETSA
configurations (IOS Press, Amesterdão). da Coruña’, Revista de Morfologia Urbana 3,
Costa, S. (2015) ‘Relatos sobre o ensino de 80-2.
Morfologia Urbana na UFMG’, Revista de Sucena, S. (2015) ‘Projetar nas franjas urbanas.
Morfologia Urbana 3, 67-9. Um processo entre escalas, objetos e temas
Hillier, B. e Hanson, J. (1984) The social logic of diversos’, Revista de Morfologia Urbana 3, 72-
space (Cambridge University Press, 4.
Cambridge). Viana, D. e Carlos, G. (2015) ‘A morfologia
Lynch, K. (1960) The image of the city (MIT urbana na ESG, Revista de Morfologia Urbana
Press, Cambridge). 3, 51-4.
Vítor Oliveira
Urban Morphology
Foi publicado em Abril, o primeiro número do edificado e os usos do solo – no centro histórico
volume 19 da revista Urban Morphology de Guangzhou, China.
(http://www.urbanform.org/online_public/index.s O texto de Eisa Esfanjary analisa a evolução
html). Este número inclui cinco artigos. das formas urbanas – particularmente do sistema
No primeiro artigo, Paul Sanders e Sarah de ruas – de Maibud, uma cidade Iraniana de
Woodward propõem um método para avaliar e média dimensão. O autor identifica três padrões
medir elementos arquitetónicos, com um enfase de rua ligando cada um deles a um período
particular na tridimensionalidade dos edifícios. fundamental da história urbana da cidade.
O artigo de Karin Meneguetti e Stael Pereira Por fim, Vítor Oliveira, Cláudia Monteiro e
Costa explora os limites do conceito Conzeniano Jenni Partanen comparam quatro abordagens
de cintura periférica aplicando-o numa cidade dominantes no estudo da forma urbana: histórico-
Brasileira planeada nos anos quarenta, Maringá. geográfica, tipo-morfológica, sintaxe espacial e
As autoras comparam a importância da análise espacial (com um enfoque nos autómatos
configuração planeada da cidade com a formação celulares). O propósito fundamental do artigo é
de antigas cidades muralhadas no processo de perceber como combinar e coordenar estas
criação das cinturas periféricas interiores. abordagens de modo a melhorar a descrição e
Jian Zhang aplica o método Conzeniano de explicação das formas urbanas existentes e o
análise do plano – relacionando-o com o tecido desenho de novas formas urbanas.
Área non aedificandi em domínio privado.
História breve do interstício entre prédios em Portugal
Sandra M. G. Pinto
Centro de História d’Aquém e d’Além-Mar (FCSH/UNL-UAç) e Centro de
Documentação e Pesquisa dos Domínios Portugueses (XV-XIX) (UFPr), Rua João
Bravo n.º 22 1ºG, 3040-379 Coimbra, Portugal. E-mail: sandramgpinto@gmail.com
Revista de Morfologia Urbana (2015) 3(1), 5-18 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
6 Área non aedificandi em domínio privado. História breve do interstício entre prédios em Portugal
Figura 1. Esquema simplificado da relação entre prédios vizinhos no direito romano pré-
clássico: recuo da respetiva parede desde o limite do prédio.
As frestas que dessem apenas claridade entrada de luz àquele vão. No regulamento
aos compartimentos e não permitissem as de Lisboa esta dimensão era, ‘segundo
vistas ou o arremesso de objetos podiam ser direito comum’, precisamente 5 pés (1.65 m,
abertas, embora também pudessem ser de acordo as antigas unidades de medida
tapadas pelo vizinho quando este erguesse o portuguesas), porém nas Ordenações a
seu edifício. Era ainda possível a construção distância foi reduzida para apenas vara e
de eirados com paredes suficientemente altas quarta (1.375 m), medida que correspondia à
nos limites para impedir os olhares largura de uma azinhaga (Figura 3).
indiscretos. Estas últimas normas traduzem, portanto,
Já as janelas eram tratadas de modo uma perfeita conjugação das influências
diferente. Apesar de estar proibido a abertura islâmica e romana, estando em confronto
de vãos sobre prédio alheio, se alguém os duas proibições distintas, mas relacionadas: a
abrisse e o vizinho afetado estando presente inibição de se devassar a propriedade alheia
não se opusesse durante o prazo de um ano e e a interdição de se retirar a luz das janelas
um dia, então, as janelas, inicialmente existentes.
ilegais, passavam a estar consolidadas A solução encontrada baseava-se no
juridicamente, não podendo mais ser alvo de pressuposto de que os proprietários tinham
discórdia. E se a janela consolidada de defender ativamente os seus bens. A
juridicamente deitasse sobre um quintal ou inação relativamente a um dano provocado
um campo, o dono deste prédio quando pelo vizinho seria interpretada por este e
quisesse construir no seu terreno tinha que pelas justiças como consentimento.
deixar, entre a janela e o seu edifício, um Todavia, as mesmas normas permitem
espaço livre de construções, para garantir a perceber uma outra influência jurídica: a
Área non aedificandi em domínio privado. História breve do interstício entre prédios em Portugal 11
perturbar o exercício dos mesmos direitos dos lotes portugueses, foi escolhido um valor
nos outros. E nem as questões relativas à intermédio entre a medida francesa e a da
devassa da vida privada dos vizinhos ou azinhaga fixada pelas Ordenações (artigo
obstrução de vistas tiveram lugar dentro do 2325º do Codigo Civil Portuguez) (Figura 4).
novo espírito de liberdade e igualdade na Como mais nada ficou estabelecido no
construção (Pinto, 2012). diploma acredita-se que Seabra e a restante
As normas para a atividade construtiva, Comissão Revisória não pretendiam que as
resultantes das relações entre particulares, obras contrárias à lei prescrevessem contra
presentes no Código Civil, determinavam, os vizinhos e, assim, não se criassem
sobretudo, os direitos e deveres dos servidões, procurando diminuir tanto quanto
proprietários nas paredes ou muros comuns, possível todas as restrições ao exercício do
de modo a tornar mais equitativas as ações direito de propriedade. Aliás, numa proposta
de reparação e construção, além de de alteração da redação do artigo, feita por
articularem as obrigações decorrentes das um membro da comissão, aparecia
novas tendências edificatórias que se faziam precisamente a proibição da prescrição
sentir nas grandes cidades, ou seja, o contra o vizinho relativamente a todos os
fracionamento horizontal dos edifícios com tipos de vãos: ‘estas obras [janelas, frestas,
muitos pisos e gestão em compropriedade óculos ou seteiras, bem como eirados ou
das partes comuns. varandas, contanto que não ultrapassem a
Já o escoamento das águas pluviais sobre linha divisória entre o seu prédio e o do
os telhados vizinhos tornou-se proibido, vizinho] porém não prescrevem contra o
levando também à alteração formal das vizinho, o qual poderá a todo tempo edificar
estruturas das coberturas. De facto, ao proibir no seu prédio como melhor lhe convenha’
que os beirados vertessem as águas pluviais (Actas das Sessões…, 358).
para cima dos prédios vizinhos contra a Por isso as normas para a atividade
prática anterior, os planos dos telhados, que construtiva no Código Civil de 1867, dentro
muitas vezes estavam orientados para as do título dos direitos de transformação da
paredes divisórias ou meeiras, tiveram que propriedade imobiliária, eram consideradas
passar a descarregar nas paredes como ‘restrições por utilidade recíproca dos
confrontantes com o espaço exterior. Caso proprietários de prédios vizinhos’. Segundo
contrário, tornava-se obrigatório o recuo dos o autor do diploma, ‘a reciprocidade destes
beirados e o aparecimento de um interstício direitos induz a reciprocidade da sua
mínimo de 0.5 m na própria parede, inviolabilidade, que é o dever social
incomportável em muitas estruturas. correlativo, o laço que prende em si os
Entre prédios contíguos continuava a ser indivíduos’ (Seabra, 1850, 31). Não se pode
permitido construir até à extrema do terreno, esquecer que neste período a propriedade era
mesmo tapando os vãos existentes do entendida como um direito absoluto, daí a
vizinho, e a ser proibido abrir janelas, recusa ideológica por todas as formas de
eirados ou varandas nas paredes condicionamentos externos, fossem eles de
confrontantes. As frestas, seteiras ou óculos natureza pública ou de natureza privada, tal
para a luz não estavam abrangidas pela como acontecia com as servidões (Hespanha,
proibição, podendo ser abertas, embora, por 1986). Na categoria das ‘servidões’
não prescreverem contra o vizinho, podiam contavam-se apenas os direitos relativos à
sempre ser tapadas por este. Mas o passagem e ao aqueduto e escoamento das
proprietário que quisesse abrir janelas, portas águas. As servidões de estilicídio, de vista e
ou varandas nas paredes próximas do limite de luz desapareceram, então, do direito civil
do terreno era obrigado a deixar um intervalo português.
de 1.5 m através do recuo da sua parede. Na Esta questão é importante porque, apesar
primeira versão do diploma o espaço livre de ser este o entendimento dos legisladores
era de 1.9 m, seguindo a medida francesa do primeiro Código Civil, a prática que lhe
para situações similares. Talvez porque a seguiu foi contrária. De tal modo que na
distância proposta fosse demasiado grande, primeira revisão geral do diploma, em 1930,
levando à perda de capacidade construtiva e com objetivo de resolver as controvérsias,
tendo em consideração o tamanho diminuto foi incluído um parágrafo ao artigo 2325.º
Área non aedificandi em domínio privado. História breve do interstício entre prédios em Portugal 13
Figura 4. Esquema simplificado da relação entre prédios vizinhos no Código Civil: (a)
ocupação total do prédio sem abertura de janelas; (b) e (c) recuo obrigatório da parede
desde o limite do próprio prédio para abertura de janelas.
que estabelecia que as janelas executadas em ocupação do terreno alheio (Martins, 1990).
contravenção ao disposto prescreviam contra Mas, na realidade, a razão da existência da
o proprietário vizinho, no prazo de 10 anos, servidão não se prende tanto com o benefício
constituindo-se ‘servidões unicamente de ar do prédio serviente (proteção da devassa),
e luz’. Assim sendo, quando o proprietário mas em benefício do prédio dominante
do prédio serviente quisesse levantar o seu (proteção do ar e luz da janela existente).
edifício tinha de deixar o espaço mínimo de Além disso, no novo código, para a
1.5 m, na extensão das janelas. Na constituição da servidão tomou-se como
explicação da norma afirmava-se que a critério a sua posse por usucapião nos termos
alteração tinha o intuito de ‘regular gerais da lei. Isto significa que o lapso de
expressamente certos casos segundo a tempo para a constituição da servidão ficou
fórmula que a jurisprudência e a prática já maior: 15 anos se a janela tivesse sido aberta
tinham consagrado’ (Reforma do Codigo em boa-fé ou 20 anos, em má-fé, sem
Civil…, 44). qualquer reação impeditiva do vizinho
Se por esta altura, a servidão chamava-se prejudicado. Em todo o caso, o proprietário
‘de ar e luz’ – tal como eram os motivos do prédio serviente não perdia o direito de
invocados no direito romano para a servidão propriedade relativamente ao interstício,
luminis recipiendi –, no novo Código Civil, pois, este espaço apenas se transformava em
de 1966, esta servidão passou a ser área non aedificandi.
conhecida como ‘de vistas’ (artigo 1362.º). Ora, pelas alterações às normas ocorridas
Esta designação levou a objeções pela no século XX compreende-se, curiosamente,
doutrina, por a regra não se referir à uma aproximação ao disposto nas antigas
capacidade prospetiva propriamente dita, normas da almotaçaria. Proximidade que se
mas à devassa visual de prédio alheio por verifica até na possibilidade de se poderem
meio das aberturas, ou até a uma possível constituir servidões de estilicídio, tendo o
14 Área non aedificandi em domínio privado. História breve do interstício entre prédios em Portugal
Figura 6. Esquema simplificado da relação entre edifícios vizinhos no RGEU: (a) recuo
obrigatório da parede desde o edifício vizinho para abertura de janelas, em coincidência
com recuo obrigatório da parede desde o limite do prédio (se a altura da parede não for
superior a 6 m); (b) e (c) recuo obrigatório da parede desde o edifício vizinho para
abertura de janelas, com referência à altura da parede fronteira.
menor que 2.5 m, exceto quando as janelas jurídicos, já no RGEU tal não aconteceu,
nessa parede se destinassem ao arejamento originando-se, então, várias dúvidas a este
de casas de banho, dispensas, vestíbulos, respeito. Com efeito, alguns acórdãos do
corredores, escadas ou compartimentos com Supremo Tribunal Administrativo,
outra iluminação direta, podendo-se, então, proferidos logo depois da entrada em vigor
utilizar a largura determinada no artigo do RGEU, vieram esclarecer que o seu artigo
2325.º do Código Civil. Além disso, quando 73.º não revogava o artigo 2325.º do Código
os corredores e as passagens laterais Civil, pois aquele pressupunha que o recuo
confrontassem com outros espaços idênticos de 1.5 m era devido a cada um dos
existentes nas parcelas vizinhas podia-se proprietários confinantes totalizando os 3 m
utilizar o espaço livre alheio para o cômputo (Amaral, 2002). De facto, pela letra da lei, o
da largura dos interstícios, devendo, contudo, recuo da parede com janelas aplicava-se,
respeitar a distância mínima estabelecida pelo Código, a partir do limite do prédio
pelo direito civil (Figura 5). vizinho, ao passo que pelo Regulamento, a
Também o Edital de 24 de Maio de 1929, partir de qualquer muro ou fachada
modificado pela Proposta de 14 de Julho de confinantes, não necessariamente localizados
1938, da Câmara Municipal do Porto no limite do prédio e não necessariamente
estabeleceu regras idênticas para as relativos a prédios vizinhos (por ter também
‘passagens laterais de iluminação e aplicação no próprio edifício). Todavia, os 3
ventilação’. m era o mínimo permitido, pois o que a regra
Se nestes regulamentos municipais promovia era, sobretudo, uma relação
relacionavam-se os dois dispositivos dimensional, onde a largura do interstício
16 Área non aedificandi em domínio privado. História breve do interstício entre prédios em Portugal
Referências Coimbra).
Khiara, Y. (1993) ‘Propos sur l’urbanisme dans la
Amaral, J. P. (2002) R.G.E.U. Afastamento entre jurisprudence musulmane’, Arqueologia
edificações, Jurisprudência e anotações Medieval 3, 33-46.
(Coimbra Editora, Coimbra). Martins, A. C. (1990) Construções e edificações
Amunátegui Perelló, C. F. (2012) ‘Las relaciones (Coimbra Editora, Coimbra).
de vecindad y la teoría de las inmisiones en el Meira, S. (1986) ‘Aquisição da propriedade pelo
Código Civil’, Revista de Derecho de la usucapião’, Revista da Faculdade de Direito da
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Area non aedificandi in private domain. A brief history of the interstice between buildings in Portugal
Abstract. Starting from the current legal instruments (Portuguese Civil Code and General Regulation of
Urban Construction) and retreating to the old legal influences (roman and islamic), this article seeks to
understand, in the portuguese context, how the interstices between buildings were established over time
by law. The old legal rules of the almotaçaria and contemporary legal rules are contextualized and
analyzed, seeking for innovation and persistence. Finally, it is highlighted the importance of this
knowledge to the study of portuguese urban form.
Keywords: interstice between buildings, restrictions and easements, legal rules, urban from, Portugal
Ideias clássicas, aspirações modernas: o academicismo e o
traçado das cidades novas do norte do Paraná
Revista de Morfologia Urbana (2015) 3(1), 19-29 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
20 Ideias clássicas, aspirações modernas
Figura 4. Centro cívico, Plano de urbanização de Curitiba, Alfred Agache, 1943. Note-se a
arquitetura neoclássica e o conjunto monumental. Fonte: Boletim PMC, Prefeitura
Municipal de Curitiba, 1943.
Classical ideas, progressive aspirations: academicism and the layout of new towns in northern Paraná.
Abstract. Articulating town planning history and morphological studies, the paper aims to show the
effect of contemporary urbanism in the layout of four Brazilian mid-twentieth century new towns planned
from scratch by civil engineers graduated by the Faculty of Engineering, in Curitiba. At that moment
urbanism underpinned by an academicist approach, resultant from the Beaux-Arts tradition, and
consonant with the planning in the ‘grand manner’, a set of formal ideas drawn from traditional
European planning practice, particularly the French, which was spread throughout North America by the
City Beautiful movement. The Urbanization Plan for Curitiba co-authored by Alfred Agache in 1943 was
an important local reference, especially for the civil engineers regarded in this paper. Thus,
morphological elements such as diagonal avenues, tree-lined boulevards, grand views, and the gathering
of the main public buildings and their ordered, symmetrical organization convey an artistic approach
amid regular, gridiron urban forms, typical of land-speculation enterprises.
Keywords: planning diffusion, planned new towns, Tamboara, Cidade Gaúcha, Ivaiporã
30 Relatório
Figura 1. (a) Sessão de apresentação das Gramáticas da Forma e (b) trabalho de grupo.
Fotografias: Vítor Oliveira.
Variação da temperatura de superfície na cota do pedestre na
Avenida XV de Novembro, São Carlos-SP, Brasil
Revista de Morfologia Urbana (2015) 3(1), 31-40 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
32 Variação da temperatura de superfície na cota do pedestre na Avenida XV de Novembro
Figura 1. Vista aérea parcial (norte-sul) da cidade de São Carlos - Sistemas de Espaços
Livres e Edificados. Fonte: Macedo (2014).
Figura 2. Planta do centro de São Carlos e o padrão de ocupação dos lotes e quadras no
século XIX. Fonte: Marques, 1985, p. 206.
Figura 5. (1 e 3): Esquema dos ângulos de visada; (2): Posições cardeais e colaterais; (A):
Termômetro digital infravermelho; (B): Tripé de alumínio.
Todavia, sua validade está em considerar Estratégica para Planos de Uso e Ocupação do
suas especificidades locais com a existência Solo, Tese de Mestrado não publicada,
de inúmeros micro-climas em um mesmo Universidade de São Paulo, Brasil.
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Variation of the surface temperature at Avenida XV de Novembro, São Carlos - SP, Brazil.
Abstract. This study aimed to determine the variability of long wave energy flows on buildings and land
surface in São Carlos, a tropical city of medium altitude. The methodology is based on the use of an
infrared digital thermometer fixed on a tripod, with the manual measurement of cardinal and side points
in the angles of -10º, 0°, in various classifications of urban land use defined by the Laboratório Quadro
do Paisagismo do Brasil - QUAPÁ. Six trials along a street in the city of São Carlos - SP in
representative climatic episodes of winter were performed. The results show that the surface
temperatures were higher than 50 °C while the higher air temperature was 25,9ºC.
Keywords: urban form, micro-climate, infrared thermometer, urban climate, open spaces
Morfologia urbana como um campo interdisciplinar
emergente
Revista de Morfologia Urbana (2015) 3(1), 41-9 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
42 Morfologia urbana como um campo interdisciplinar emergente
profissional, a verdade é que acabou por mundos Latino e Árabe. No final da década
promover, com sucesso, o retorno aos tipos de 1970, o seu trabalho tinha sido traduzido
edificados tradicionais, potenciando assim para várias línguas europeias e circulava nos
um renovado interesse pela cidade histórica e Estados Unidos para uma possível
promovendo o seu significado na arquitetura. publicação em Inglês – esta tentativa falhou
A mensagem de Rossi teve eco nos e, até à data, este trabalho não está acessível
arquitetos Britânicos, Americanos e a audiências de língua inglesa . A afirmação
Franceses. Estes arquitetos leram também os internacional dos franceses, na morfologia
textos de outro arquiteto Italiano, Carlo urbana, deu-se pela primeira vez em 1986
Aymonino, cujo estudo sobre Pádua e outros através do prestigiado Institut d’Urbanisme
textos que ele designou como ‘tipo- da Universidade de Paris. O Instituto
morfologia’ estimularam o interesse pelo organizou um simpósio sobre morfologia
desenho da cidade. Incidentalmente, mas urbana abordando a questão do fracasso do
com significado para a estrutura do ISUF, modernismo no desenho da nova cidade. A
Rossi e Aymonino vieram a rejeitar a lista de convidados incluiu muitos
morfologia urbana, vendo-a como um campo académicos, planeadores e arquitetos de
que promovia soluções ultrapassadas para os renome, da Europa e América do Norte. No
atuais problemas urbanos e como impotente entanto, nem os membros da Escola de
na resolução de um conjunto de temas da Versalhes, nem qualquer um dos
arquitetura moderna. colaboradores mais próximos das escolas de
No entanto, em retrospetiva, o contributo Birmingham e Muratoriana participaram no
italiano com um carácter mais instrumental simpósio, à exceção de Ivor Samuels, do
na ligação das três principais escolas de Oxford Polytechnic, e Albert Levy, que
morfologia urbana e na criação do ISUF, foi então lecionava em Genebra, na Suíça. No
o programa de reabilitação do centro entanto, pouco depois do simpósio,
histórico de Bolonha, que teve Caniggia estabeleceram-se ligações entre a Escola de
como consultor. A rápida difusão deste Versalhes e o Institut d’Urbanisme, para o
projeto, o seu interessante âmbito e o sucesso estudo da região parisiense, conduzindo
da sua implementação, ajudou a desenvolver Castex e Panerai a lecionar no Instituto.
contactos entre morfologistas em diferentes Também a nova geração de geógrafos
partes do mundo. urbanos franceses tem vindo a desenvolver
Foi neste contexto que Caniggia foi relações de trabalho mais estreitas.
convidado para visitar o Oxford Polytechnic Castex, que havia passado uma
pelo arquiteto e Italianófilo Ivor Samuels no temporada em Nova Iorque no final dos anos
início dos anos 80. Apesar de Caniggia não 1960, ajudou a reforçar o desenvolvimento
ter encontrado os geógrafos de Birmingham de laços com a América do Norte, ao
por altura desta visita, Samuels tinha então retornar em 1988, como Professor Visitante à
começado a colaborar com os seus University of Oregon. Lecionou também
compatriotas. Nos últimos anos de vida, nessa altura, na University of Washington,
Caniggia desenvolveu um extensivo e em Seattle. Eu tinha conhecido Castex e
abrangente programa. Caniggia passou três visitado Versalhes um ano antes, embora
meses na University of Washington, em conhecesse o seu trabalho (e de Panerai) há
Seattle, em 1986, após um encontro comigo uma década, tendo partilhado pensamentos
e com um dos meus colegas, no ano anterior sobre morfologia com Francófilos como M.
em Nápoles, Itália, num seminário em Christine Boyer e o académico da paisagem
homenagem ao trabalho de Kevin Lynch. urbana Paul Groth, estudante de James
Caniggia visitou ainda o Federal Polytechnic Vance. Em 1987, eu tinha planeado dar uma
Institute of Zurich, na Suíça, para apresentar palestra em Roma, como parte de uma
o seu trabalho (em co-autoria com Maffei) tentativa de ‘fechar o círculo’ entre as
sobre Florença que foi traduzido e editado escolas Italiana e Francesa de morfologia
por Sylvain Malfroy. urbana. A súbita morte de Caniggia foi um
Como mencionado anteriormente, a impulso para estabelecer relações com os
Escola de Versalhes manteve contactos nos seus colegas em Florença, Roma e Génova.
Morfologia urbana como um campo interdisciplinar emergente 45
das células, varia de cidade para cidade, mas du projet basée sur les traditions
também se enquadra, de um modo geral, em d’édification de la ville.
ciclos relacionados com a economia e a iii. O estudo da forma urbana para avaliar
cultura. Os ciclos de construção e de o ‘impacto de teorias de desenho do passado
transformação são processos importantes que na construção da cidade’. Este é o domínio
devem ser explorados pelo planeamento da crítica de desenho, que faz a sofisticada
urbano e pelo imobiliário; no entanto, distinção entre ‘teoria do desenho como
raramente são estudados nas cidades ideia’ e ‘teoria do desenho como prática’.
contemporâneas. Estes estudos avaliam as diferenças ou
Alguns estudos também se focam no que semelhanças entre diretivas sobre o que deve
Conzen chama ‘unidade de plano’ e que os ser construído (teorias normativas) e aquilo
Italianos designam por ‘tecido’. Unidades de que é realmente construído. A Escola
plano ou tecidos são conjuntos de edifícios, Francesa tem defendido esta utilização da
espaços abertos, parcelas e ruas, que formam análise morfológica identificando, com
um todo coeso, ou porque foram todos sucesso, as raízes do modernismo no
construídos num mesmo tempo ou com as desenho urbano no século XVIII. No
mesmas condicionantes, ou porque sofreram entanto, este continua a ser um exercício
um mesmo processo de transformação. mental difícil para muitos planeadores, que
Para além disso, e se bem que todas as tendem a não perder tempo a avaliar o
análises morfológicas são desenvolvidas com impacto das suas ações sobre a vida (em
um objetivo de construção de teoria, existem termos de longo prazo) das cidades.
propósitos distintos entre as diferentes
tradições em morfologia urbana que
produzem diferentes tipos de teorias. Cada Questões e potencial
uma das três escolas tem tido diferentes
intenções nos seus esforços de ‘construção Como é frequente quando algo novo está a
de teoria’. Essas intenções são as que se ser proposto, os pontos fortes da inovação
seguem: são também as suas fraquezas. A fundação
i. O estudo da forma urbana com de um campo interdisciplinar de morfologia
propósitos ‘descritivos’ e ‘explicativos’, com urbana cria tensões e oportunidades que o
o objetivo de desenvolver uma ‘teoria de ISUF terá de enfrentar. Discutamos primeiro
construção da cidade’ (théorie de algumas das questões gerais relacionadas
l’édification de la ville). Estes estudos estão com a morfologia urbana e, em seguida,
preocupados com o modo como as cidades algumas das questões específicas sobre o
são construídas e com o porquê. Este é o estado atual do campo.
objetivo principal dos geógrafos, e da Escola A missão do ISUF é ambiciosa e,
de Birmingham em particular. Os cientistas portanto, cheia de potenciais conflitos com
sociais da Escola Francesa também têm este as estruturas existentes nos mundos da
propósito quando desenvolvem estudos investigação e da prática. O ISUF
morfológicos. estabeleceu um domínio que se estende pela
ii. O estudo da forma urbana com geografia, história, arqueologia, arquitetura e
propósitos ‘prescritivos’, com o objetivo de planeamento, e consequentemente pelas
desenvolver uma ‘teoria de desenho da humanidades, ciências sociais e por um
cidade’. Estes estudos centram-se no modo conjunto de profissões; estende-se pelo
como as cidades deveriam ser construídas. estudo e pela ação, pelo conhecimento e pela
Este é o enfoque principal da Escola Italiana decisão, pela descrição e pela prescrição.
que deu a este propósito uma direção Este domínio é atualmente constituído por
particular, o desenvolvimento de uma teoria um vasto mosaico de territórios intelectuais,
de desenho do edificado assente nas ajustando lentamente os seus limites por
tradições históricas de construção da cidade. entre as habituais disputas sobre poder e
Alguns investigadores Franceses têm tido ideias, sendo tudo isto representado em
intenções semelhantes nas suas análises inúmeras revistas, jornais, livros,
morfológicas, tendo como propósito do seu organizações com as suas conferências
trabalho o desenvolvimento de uma théorie associadas, páginas web, etc. Do lado
Morfologia urbana como um campo interdisciplinar emergente 47
positivo, o ISUF está a criar um domínio que de teoria por parte da morfologia urbana vêm
reúne peças de todos estes territórios para se de dois lados opostos. Por um lado, os
focar num fenómeno real: James Vance positivistas questionam o modo empírico e
designa este fenómeno real como indutivo de investigar a cidade e apontam a
‘construção da cidade’, de modo a incluir as fraca capacidade de previsão de uma teoria
formas físicas e todos os processos de construção da cidade. No entanto, a
relacionados com o ato de fazer cidade. Isto própria capacidade de previsão da
significa que a morfologia urbana pode virar investigação positivista tem sido alvo de
costas às lutas internas pelo poder que estão crítica, porque a natureza reducionista desta
a ocorrer dentro da geografia e transcender abordagem não tem sido eficaz no
as contendas adolescentes que assolam o tratamento das questões relativas ao
planeamento, a arquitetura, o imobiliário e a comportamento humano. Por outro lado, os
construção. Significa ainda que a morfologia grupos artísticos e literários desconfiam do
urbana poderá preencher um vazio que enfoque único da morfologia urbana na
atualmente debilita tanto a investigação realidade física da cidade. No entanto, a
como a prática de ‘construção da cidade’. crítica relacionada com o que pode ser
Consequentemente, o ISUF é uma interpretado como o determinismo físico da
oportunidade para estabelecer um fórum de morfologia urbana pode também ser
pensamento e ação sobre como moldar e silenciada: a morfologia urbana aborda a
gerir os nossos habitats – um assunto cidade não como um artefacto, mas como
oportuno neste momento da história da organismo, onde o mundo físico é
civilização. Todavia, por mais excitante que inseparável dos processos de transformação a
seja a oportunidade e por mais nobre que que está sujeito. O enfoque está no mundo
seja o objetivo, o caminho futuro do ISUF físico enquanto ‘resultado’ de forças sociais
será provavelmente árduo, por um conjunto e económicas com uma natureza dinâmica. O
de razões. desafio do ISUF é demonstrar os processos
Primeiro, ao contrário, por exemplo, da correntes que suportam o modo como as
engenharia e da medicina, a arquitetura e o cidades são construídas e transformadas,
planeamento têm ainda que desenvolver, definir e ilustrar os princípios de
isoladamente ou em conjunto, uma base de transformação em diferentes contextos – por
conhecimento partilhada. Ambas são exemplo, como é que os quarteirões são
profissões que prosperam na ação e no alterados, dependendo de como são
projetar de futuros possíveis, mas que implantados numa fase inicial e do tipo e da
deixam pouco espaço para a investigação e intensidade de desenvolvimento em seu
para a avaliação. São profissões que não redor; ou como diferentes condições
seguiram outras no desenvolvimento de uma definirão se uma determinada área é sujeita a
abordagem sistemática e empírica de um desenvolvimento de densificação ou a
aprendizagem e construção de uma base de um completo re-desenvolvimento.
conhecimento. São profissões que têm Segundo, o material de investigação que o
poucos – se é que têm algum – mecanismos ISUF oferece a este mundo agora mais
para relacionar estudo e ação. Quaisquer que alargado tem as suas próprias fragilidades.
sejam as razões para a existência de uma Uma parte significativa da investigação em
abordagem artística no que se refere à morfologia urbana tem-se centrado em
tomada de decisão em arquitetura e cidades Europeias históricas, uma dupla
planeamento, este estado de coisas significa limitação que pode parecer dificultar
que os morfologistas irão percorrer, com aplicações práticas no mundo atual. Existe
estas profissões, territórios desconhecidos, uma necessidade de a investigação abordar a
tendo de captar a atenção destas profissões, expansão sem precedentes das cidades ao
para demonstrar a validade e a eficácia da longo deste século, e uma necessidade de
abordagem morfológica na identificação de dirigir esta investigação para cidades que
relações de causa-efeito. cresceram em culturas não-Europeias.
Do ponto de vista das ciências sociais, as Significativamente, no entanto, um conjunto
dúvidas sobre as capacidades de construção de estudos recentes sobre as cidades do
48 Morfologia urbana como um campo interdisciplinar emergente
ii
Para uma discussão sobre o papel da morfologia arquitetura, e respetivas referências, ver
urbana na geografia, e referências sobre este Panerai, P., Depaule, J. C., Demorgon, M. e
papel, ver Conzen, M. P. (1978) ‘Analytical Veyrenche, M. (1980) Eléments d’analyse
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and Germany (Cambridge University Press, foi entretanto adaptada e traduzida para Inglês -
Cambridge) 285-96. Panerai, P., Castex, J., Depaule, J.-C. e Samuels,
iii
Para uma discussão sobre o papel da I. (2004) Urban forms, the death and life of the
morfologia urbana no desenho urbano e na urban block (Architectural Press, Oxford).
Abstract. The forces and events leading to the formation of the International Seminar on Urban Form
(ISUF) are identified. ISUF is expanding the field of urban morphology beyond its original confines in
geography, particularly into the domains of architecture and planning. Three schools of urban
morphology, in England, Italy and France, are coming together, following seminal work by two
morphologists, M. R. G. Conzen and Saverio Muratori. The bringing together of these schools provides
the basis for an interdisciplinary field and the opportunity to establish common theoretical foundations
for the growing number of urban morphologists in many parts of the world. ISUF’s ambitious mission is
to address real and timely issues concerning city building by providing a forum for thought and action
which includes related disciplines and professions in different cultures. The potential of an
interdisciplinary urban morphology to contribute to the understanding and management of urban
development in a period of unprecedented change is discussed.
Tradução
Este texto foi traduzido por Vítor Oliveira, que agradece a Anne Vernez Moudon a disponibilidade
permanente para esclarecer todas as questões relacionadas com este processo.
Revista de Morfologia Urbana (2015) 3(1), 51-82 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
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Em 2010, a Escola de Arquitetura da UCLM abre estudantes tomem consciência que os fenómenos
as suas portas em Toledo. O ensino do urbanismo urbanos têm duas componentes fundamentais,
está presente nos cinco anos do curso de uma física e outra social, que são
arquitetura vinculando-se sempre a um atelier de interdependentes. Os arquitetos e urbanistas, ao
grupo. O curso tem uma forte componente definirem a primeira condicionam a segunda e,
prática, que nos dois primeiros anos é portanto, é importante conhecer e estudar as
fundamentalmente analítica. relações existentes entre ambas. É por isso que o
Consideramos fundamental conseguir que os estudo da forma urbana constituí a base da
Perspetivas 55
leitura obrigatória sobre cada forma urbana. Vítor Oliveira e Cláudia Monteiro, que
agradecem a Borja Ruiz-Apilánez a
Tradução disponibilidade permanente ao longo deste
processo.
O texto original foi traduzido para Português por
Este texto centra-se na minha experiência de existem – que eu saiba – cátedras nesta área do
ensino em Morfologia Urbana. Começo por dizer conhecimento. O ensino da Morfologia Urbana é,
que esta disciplina não é ainda plenamente portanto, deixado à iniciativa de professores que,
reconhecida nas universidades italianas, onde não como eu, reconhecem a sua utilidade sob o ponto
58 Perspetivas
O ‘fenómeno urbano’ aparece diretamente assunto passível de recurso ou matéria para áreas
abordado em diversas unidades curriculares tão diferentes como a gestão ou o direito, a
ministradas na Universidade do Minho. A sua sociologia ou as ciências políticas.
abrangência pluridisciplinar coloca-o como Tradicionalmente, porém, é nos campos da
60 Perspetivas
entanto, têm se apoiado em textos clássicos e em Lang, J. (1987) Creating architectural theory: the
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evolutivo de forma urbana, com a transição entre UNESCO, sendo que a cidade de Byblos, a
kasaba, atfa, zoqak, darb e a existência da antiga moderna Jbeil, é hoje parte integrante do
saha, a praça pública de menor dimensão património mundial da humanidade.
reservada às comunidades que vivem na sua Um dos principais objetivos da disciplina de
envolvente. Estúdio de Desenho VI é fomentar a capacidade
de analisar as origens culturais, no que diz
respeito aos antecedentes históricos articulando a
Lebanese American University. O ensino do estética do desenho com o contexto histórico
Estúdio de Desenho VI. social. A primeira abordagem consistiu na análise
da forma urbana existente, relacionada com o
A School of Architecture and Design da Lebanese percurso Romano, o souk e o sítio arqueológico.
American University está localizada em Byblos, Enquanto a cidade compacta antiga é hoje
uma das cidades mais antigas do planeta: habitada atrativa, o que existe no seu seguimento
desde o período neolítico, está intimamente ligada corresponde a uma extensão fragmentada e que
à história da região mediterrânica. Sobrevivendo, ocupa uma grande quantidade de solo, com
adaptando-se e crescendo no meio da destruição e valores urbanos pobres e sem qualquer interesse
reconstrução de pelo menos oito civilizações urbano específico, à exceção da necessidade de
diferentes, ao longo de 8 000 anos, o seu voltar a unir o legado do passado e a sociedade
extraordinário valor foi reconhecido pela contemporânea.
Perspetivas 65
Foi conferida aos estudantes uma tarefa um grande conjunto de estudos sobre o passado, o
específica: a atualização do mapa da cidade presente e o futuro destas comunidades.
histórica, atribuindo um significado a cada Estudos urbanos, através de levantamentos
edifício, em termos de uso público ou privado, e a físicos sistemáticos, podem implementar uma
cada espaço, como parte do património abordagem das arquiteturas locais por parte dos
contemporâneo. estudantes, equilibrando a atual, por vezes
Num contexto de terras progressivamente excessiva, atitude de desenho virtual que existe na
privatizadas, onde o uso do carro mudou maioria das escolas de arquitetura. Isto poderia
completamente a perceção urbana, o significado promover um regresso aos estudos tipológicos
de ‘público’ e ‘pedonal’ é uma questão bastante como forma de reflexão sobre as suas próprias
complexa. Os estudantes, como futuros arquitetos, identidades, num campo interdisciplinar de ação,
experienciam o ambiente urbano de um modo devidamente relacionado com o espírito da
completamente da perspetiva europeia. A abordagem morfológica (Moudon, 1997) e com a
elaboração de um mapa de base morfológica rica diversidade da região do Médio Oriente.
(Figura 2) foi o resultado de um processo, onde os A melhoria do conhecimento sobre o
alunos descobriram algo em que não estavam urbanismo local poderia reforçar uma perspetiva
inicialmente interessados, mesmo como cidadãos de sustentabilidade, através de um modo original
ou visitantes locais. Património, morfologia e de interpretar as novas tendências na arquitetura
paisagem parecem ser termos utilizados por eles, contemporânea. Além disso, a documentação da
mas sem um significado profundo. O que é uma arquitetura e do património moderno é uma tarefa
praça? O que é um espaço público? Na maioria urgente, de acordo com o que foi claramente
das vezes estas são perguntas sem uma resposta afirmado pelo Arab Centre for Architecture em
adequada. Beirute: o recente desenvolvimento da arquitetura
no mundo Árabe carece de uma plataforma para
debater questões relativas ao ambiente construído.
Conclusão Este é um contexto, feito de guerras e conflitos,
em que património e formas urbanas podem
O rico património cultural do Médio Oriente não repentinamente desaparecer e ser substituídos por
é uma propriedade comum na mente da maioria algo ‘novo’ que nada tenha em comum com os
das pessoas locais (Mateo e Ivanisin, 2013). As recursos naturais e as raízes locais.
cidades e ambientes construídos têm ainda de ser
analisados numa perspetiva morfológica. Uma
cuidadosa e ampla abordagem, longe de qualquer Bibliografia
imposição ou subestimação do grande potencial
deste território, poderia ser a chave para gerar Guarrasi, V. (2007) Ibridi urbani. Città
uma autoconsciência, criando assim a base para mediterranee alla ricerca di nuove identità em
66 Perspetivas
Existe uma longa tradição de ensino da (ECTS) e com a substituição das disciplinas
Morfologia Urbana nas faculdades de arquitetura ‘normais’ de Arquitetura e Desenho Urbano pelos
italianas. Esta tradição começou no início dos Estúdios de Arquitetura e Desenho Urbano (120
anos cinquenta com os cursos de Caratteri horas / 12 ECTS). Neste último, a disciplina
Distributivi degli Edifici e atingiu a maturidade, principal, ‘Arquitetura e Desenho Urbano’ (80
no final dos anos setenta, com a abertura dos horas / 8 ECTS) é quase sempre suportada por
cursos Caratteri Tipologici degli Edifici uma outra de ‘Características Morfológicas /
(primeiramente) e Caratteri Morfologici degli Tipológicas da Arquitetura e da Cidade’, sendo
Edifici (anos mais tarde). Graças à experiência que ambas pertencem à mesma área científica
pioneira de Saverio Muratori, e da sua Escola, e (ICAR 14). Passada a experiência dos anos 80 e
ao trabalho da Tendenza (Aldo Rossi, Carlo 90, a atenção sobre a escala arquitetónica e
Aymonino, Vittorio Gregotti, etc.) as questões tipológica parece voltar a ser dominante, o que
morfológicas começaram a ser consideradas à tem vindo a conduzir a uma perda parcial (exceto
escala da cidade, sendo a esta escala que a em algumas escolas) do contributo fundamental
arquitetura, a tipologia e a morfologia encontram que a arquitetura italiana vinha a desenvolver até
a necessária e completa realização. Desde o início esse momento. Este regresso à investigação
que o ensino da morfologia urbana está tipológica à custa das suas referências urbanas
intimamente relacionado com o ensino da será talvez uma das razões que levou, a que na
arquitetura e do desenho urbano, sendo uma última década, se assistisse a um enfraquecimento
prerrogativa quase exclusiva de arquitetos. Este do ensino morfológico nas escolas de arquitetura
facto é ainda mais relevante no início do século italianas. De facto, este processo desvaneceu a
XXI, com a introdução do Sistema Europeu de rica ‘época tipológica’, passando o enfoque para
Acumulação e Transferência de Créditos outras questões e outros problemas. Pode dizer-se
Perspetivas 67
que é a renúncia da escala urbana por parte da da Universidade de Parma confirma estas
arquitetura italiana, uma renúncia que coincide afirmações. Nas aulas do mestrado, a Morfologia
com a saída gradual da Itália do centro do debate é colocada na base da experiência de desenho,
internacional. Numa altura em que os desafios da levando os estudantes a resultados muito
globalização requerem abordagens sistémicas às interessantes. A abordagem morfológica tem, de
escalas urbana e territorial, numa altura em que o facto, provado ser uma ferramenta valiosa, tanto
desenho urbano (talvez mais do que no passado) na leitura como no desenho da cidade, permitindo
se torna uma das principais ferramentas para desenvolver uma metodologia de desenho atenta,
transformar a cidade, renunciar à escala urbana aberta e dinâmica, adequada (na nossa
significa colocar-se de lado relativamente ao experiência) às mais diferentes realidades
debate global. Existem atualmente em Itália urbanas. Com esta base, organizamos mestrados e
poucos professores que lidem com a Morfologia workshops internacionais.
Urbana, e menos ainda são as Escolas de Morfologia, Desenho Urbano e
Arquitetura que colocam o ensino morfológico no Sustentabilidade são as palavras-chave em torno
centro da sua oferta educativa. Muito poucos são das quais o trabalho do grupo de investigação
aqueles que fazem da investigação morfológica Researches in Architecture and Urban
um instrumento científico de desenho urbano. Em Morphology / RAM (www.r-a-m.it) se foca numa
muitos casos, encontramos apenas uma prática troca mútua entre ensino e investigação.
classificatória (que vai atrás quase um século) ou A cidade contemporânea é de facto um
simplesmente a ausência da dimensão conjunto dinâmico de redes (sociais, económicas,
morfológica. Pelo contrário, as ferramentas da culturais, tecnológicas) no qual a Morfologia
Morfologia Urbana surgem hoje com uma grande Urbana pode constituir um útil plug-in na
relevância face aos desafios da cidade construção da cidade do século XXI.
contemporânea (sustentável, inteligente,
inclusiva, etc.) devido à natureza sistémica dos Tradução
seus temas, à sua capacidade de formar ‘tecidos’ e
estabelecer relações dinâmicas entre eles. A O texto original foi traduzido para Português por
minha experiência como professor no Mestrado Vítor Oliveira e Mafalda Silva, que agradecem a
de Arquitetura (em língua inglesa) Marco Maretto a disponibilidade permanente.
para que o aluno de pós-graduação seja capaz de paisagem urbana, as transformações tipológicas e
identificar mosaicos na forma urbana das cidades expansões urbanas advindas das políticas públicas
brasileiras com ênfase nos programas urbanos de e as questões ambientais.
maior complexidade funcional e impactos na Nesta etapa, busca-se motivar os alunos para a
estrutura tradicional da paisagem urbana. É investigação de aspectos anômalos por meio das
desejável que o aluno seja capaz de lidar com análises morfológicas, como por exemplo, em
conceitos e intervenções em conjuntos urbanos de Ouro Preto, a existência de lotes similares aos
preservação cultural. Da mesma forma, espera-se lotes burgueses, ou o porquê da matriz do Pilar
a apresentação de suas estratégias e ideias para não estar no eixo da perspectiva centtral, a
propostas de intervenção de forma clara, objetiva identificação do tipo básico e suas derivações,
e criativa. como também a formação territorial que ocorre na
encosta e não na crista, como advoga a escola
italiana .
A estruturação do curso iii. Conclusões e apresentações. Na terceira
etapa, posterior ao trabalho de campo, prevê
Os procedimentos para o exercício da disciplina discussões sobre os aspectos investigados, a
preveem um curso estruturado em três etapas, por definição dos temas a serem desenvolvidos e
meio de aula semanal de quatro horas, num total apresentados numa oficina intermediária e
de 30 horas. posteriormente no trabalho final.
i. Na primeira parte os conteúdos teóricos
são transmitidos em aulas expositivas, contendo
as principais linhas conceituais e métodos de Os resultados obtidos no ensino da Morfologia
análise da forma urbana. As informações sobre as Urbana
duas escolas tradicionais, a inglesa e a italiana e
suas características, como também as principais Como se observa os conteúdos e a dinâmica do
atividades, o cronograma do curso e o sistema de curso visam apresentar de forma sucinta, os
avaliação do aprendizado, são apresentadas. métodos das escolas tradicionais de Morfologia
Após esta aula inicial os temas se dividem – Urbana e fomentar o interesse na sua aplicação.
há uma visão geral do assunto e a discussão de Alunos que se interessam em aprofundar no tema
dois textos de Moudon, o primeiro encontrado no têm possibilidade de participar de pesquisas
primeiro volume do Urban Morphology aprofundados sobre a Morfologia Urbana, no
(Moudon, 1997) e outro numa entrevista a Laboratório da Paisagem. Muitos deles escolhem
professores (Rosaneli e Pinsly, 2009), como o método como a linha mestra de investigação de
exercício comparativo sobre reflexões dessa suas dissertações de mestrado. A excelência das
professora num intervalo de doze anos. dissertações e premiações obtidas pelos trabalhos
Os seminários seguintes são sobre a Escola desenvolvidas pelos mestrandos sinalizam que a
Inglesa de Morfologia Urbana, nos quais os oferta do curso é a melhor forma de divulgação da
alunos discutem alguns textos clássicos, sobre as Morfologia Urbana, pela abrangência de temas e
bases conceituais dessa escola (Whitehand, 2001), possibilidades de investigações em cidades
fringe belts (Conzen, 2008) e um de M. R. G contemporâneas.
Conzen (Conzen, 1981) com exemplos dos
problemas de Geografia Aplicada, em cidades
britânicas. Este texto é objeto de um estudo Referências
dirigido, no qual são elaboradas questões sobre
aspectos a serem pesquisados no trabalho de Caniggia, G. e Maffei G. L. (2001) Architectural
campo. composition and basic building (Alinea Editrice,
O mesmo procedimento se repete com relação Florença).
aos conceitos da Escola Italiana de Morfologia Cataldi, G., Maffei G. L. e Vaccaro P. (2002)
Urbana. Os temas introdutórios estão no texto de ‘Saverio Muratori and the Italian school of
Cataldi et al. (2002), outro sobre o processo planning typology, Urban Morphology 6, 3-21.
tipológico (Corsini, 1997). E o estudo dirigido Corsini, M. G. (1997) ‘Residential buildings types
formula questões sobre a formação territorial e as in Italy before 1930: the significance of local
escalas de análise dessa escola (Caniggia e typological process’, Urban Morphology 1, 34-
Maffei, 2002). 49.
ii. A segunda parte do curso propõe a Conzen, M.R.G. (1981) Historical townscapes in
aplicação dos métodos numa cidade, pela Britain: A Problem of applied Geography em
investigação de aspectos das escolas de Whitehand, J. W. R. (ed.) The urban landscape:
morfologia urbana. Os temas são distribuídos em historical development and management -
eixos temáticos, sobre a evolução, formação da papers by M.R.G. Conzen (Academic Press,
Perspetivas 69
Figura 1. Exercício típico da disciplina AUP Figura 2. Croquis que buscam desenvolver
650. Fotografia: Silvio Macedo. padrões morfológicos em exercício da
disciplina AUP652 em 2014.
Fotografia: Silvio Macedo.
O ensino da Morfologia Urbana no MIAU da espaço efetivo de proposta por parte dos
Universidade Fernando Pessoa assenta estudantes. No seu interior haverá elementos de
essencialmente na disciplina de Projeto (presente restrição ou sensibilidade especial – e.g.
nos 5 anos do curso) e estrutura-se em torno da arborização, topografia acidentada, linha de água
complexidade crescente do objeto de estudo, – e eventualmente algum edifício(s) ‘perdido’, no
partindo da unidade mais elementar de presente sem impacto organizador. Nos seus
organização entre as peças urbanas – a casa e o limites externos, linhas de grande irregularidade
lote – para gradualmente começar a questionar a geométrica, o ‘fragmento’ será a palavra de
cidade, primeiro a consolidada, a da forma (mais) ordem – tecidos (aparentemente) interrompidos,
estável, e, no 4º ano, a cidade não consolidada, marcados pela diversidade morfológica; o edifício
instável pelo que nos mostra – as formas que se isolado e único, porque tipológica ou
contrapõem – e por aquilo que poderá vir a ser. funcionalmente distinto dos restantes; as vias que,
Neste penúltimo ano do Curso, na disciplina de estruturando os ‘pedaços’ de tecido, nem sempre
Projeto de Intervenção Urbanística, aquela que constituem rede, ou concretizam-na em tramos de
finalmente foca o trabalho na cidade, conferindo o configuração diversa e desigual quanto à
protagonismo ao tecido urbano e já não ao capacidade de servir e ao grau de urbanidade
edifício enquanto objeto preponderante do representada. Ainda os usos, edificados ou não,
desenho, o tema é a reorganização de uma parte variados na agregação possível, e que, embora
urbana de média dimensão. sejam maioritariamente habitacionais, admitem
O contexto. Os casos de estudo localizam-se outros – comerciais, de serviços, eventualmente
nas ‘franjas da cidade’, no limite do que industriais.
vulgarmente se poderá designar ‘periferia’, em O programa. Sendo livre, o programa de
contextos espaciais dominantemente não intervenção é orientado para a resolução de
consolidados. Aí, onde o tempo foi depositando alguns dos problemas diagnosticados na área
os mais variados objetos (em temas e escalas) e através da operação dominantemente
estabeleceu as mais diversas e, com frequência, morfológica. O exercício foca essencialmente e
inesperadas ligações, as áreas são complexas; prioritariamente a estabilização “formal” do lugar
exatamente por essa mistura. Lado-a-lado por recurso à leitura (análise) dos diversos tecidos
encontram-se (muito) diferentes tipologias e usos aí presentes – os supra referidos ‘fragmentos’ de
– a casa unifamiliar isolada, geminada ou em diversa dimensão e diversa temporalidade – e por
banda, os edifícios multifamiliares de média um projeto que os articule, inter-relacione e cosa,
altura, os edifícios de maior porte, correntemente proporcionando-lhes sentidos não antes tidos, ou
fábricas (mais e menos modernas), algumas perdidos.
(quase) abandonadas; mas também espaços O processo. O trabalho desenvolve-se, numa
comerciais e alguns equipamentos (e.g. a igreja, o primeira fase, em grupo de 3-5 estudantes de
cemitério, etc.). modo a, por um lado, minimizar o impacto
O sítio. Uma área dominantemente ‘livre’ de perante o contexto de projeto menos familiar,
edificação e de grande dimensão constitui o promovendo a discussão sobre ele; e, por outro,
Perspetivas 73
suportar a organização da análise temática que se imobilidade. Ou, talvez pior, a intervenção
distribui e articula entre os vários alunos. O egocêntrica, que domina esses ambientes; ato de
estudo centra-se especialmente na compreensão indiferença, com frequência resultado de não
dos tecidos urbanos presentes, decompondo os saber como lidar com a(s) preexistência(s). A
elementos que os constituem, através de leituras a questão de difícil resposta que se coloca é a de
várias escalas, e raciocinando sobre os papéis que como dar coerência ao todo (Secchi, 2006
em cada uma desempenham. Após a etapa [2000])? Como (contribuir para) fazer cidade
analítica, as fases seguintes do trabalho – dessas peças soltas?
definição de estratégia e sua concretização a O modo como o aluno dá os primeiros passos
escalas diversas – são individuais. neste novo ambiente de projeto é, exatamente,
Na sequência do trabalho desenvolvido nos prova da sua pertinência académica. A reação de
anos anteriores, nos quais o tecido coeso e bloqueio inicial e a sensação de desorientação,
morfologicamente estável da cidade tradicional como se não tivesse na sua bagagem formativa
constitui o cenário para enquadramento e meios de compreender e operar sobre os espaços
justificação das peças arquitetónicas que se propostos, são a constante que revela a
projetam, cujos programas diversos criam e necessidade, para não dizer dever, de ensinar a
exploram distintas relações com a cidade, o agir nesses ambientes; mas é também nessa
penúltimo ano do Curso reflete a abertura aos constante que se funda igualmente o desafio para
desafios da cidade contemporânea. As ‘franjas da o docente. O ano letivo estrutura-se, então, na
cidade’ são situações de transição onde interpretação daquela realidade, desmontando
permanece um determinado grau de coesão entre alguma da sua complexidade (que
as peças que fazem tecido(s) urbano, mas onde inevitavelmente haverá que simplificar),
coexiste também um certo grau de desagregação, identificando os instrumentos operativos, os
no seu conjunto conformando espacialidades onde conceitos, os atributos de desenho que a propósito
se testam e se reinterpretam conceitos e dela importa repensar.
instrumentos. A leitura dos tecidos urbanos presentes
A ‘repetição’ de ‘unidades’, que não sendo permite revisitar as noções que distinguem os
exatamente as mesmas parecem sê-lo, constrói a elementos morfológicos urbanos, ajustando os
imagem de alguma monotonia; em simultâneo, entendimentos estabilizados a escalas de trabalho
exaltando a ‘diferença’ (Secchi, 2006 [2000]). A diferentes, agora (mais) macro. As ruas, os
coexistência de modos de intervenção planeados e edifícios e as parcelas, os elementos que Panerai
não planeados em localizações (aparentemente) et al. (1999) identificam como base da
aleatórias, que permite identificar a casa ou o constituição do tecido, são reinterpretados em
edifício individual, mas também os conjuntos novas dimensões; tal como o quarteirão. Do
volumétricos decorrentes de processos de mesmo modo, o tecido é apreendido nas variantes
loteamento, concretiza a imagem de que resultam das diferentes agregações dos
desorganização, esta agravada pela interrupção elementos anteriormente referidos e dos processos
súbita e incompreensível de frentes edificadas, ou que os suportam (Solà-Morales, 1997),
pela irregularidade viária (de traçado, de perfil) e enriquecendo-se com a mais lata interpretação de
o frequente cul-de-sac. Acresce a essa diversidade ‘bairro’ e a contribuição dos restantes elementos
edificada, a presença de algumas áreas vazias de que, segundo Lynch (1982 [1960]), estruturam a
construção ou de uso evidente, de distinta ‘imagem da cidade’. A concentração de diversos
dimensão e em localização intermédia. E acresce tecidos de reduzida extensão em áreas
ainda a presença do tempo, dos diversos relativamente contidas permitem ainda
momentos e lógicas de implantação e organização operacionalizar as noções de fragmento(s), assim
espacial. como a (procura) da ‘distância adequada’ entre
É desta matéria que se constrói o território objetos (Secchi, 2006 [2000], p. 95) e também a
urbanizado em estudo – a ‘escritura da cidade das relações formais complementares e
nota por nota’, como diz Secchi (2006 [2000], p. indissociáveis entre ‘cheio’ e ‘vazio’,
73) comparando-a com a música – numa clara e excelentemente traduzida por Távora (1996
(já) clássica contraposição com a urbe dita [1962], p. 12) – ‘a de que o espaço que separa – e
consolidada; e é com ela que se pretende liga – as formas também é forma’.
confrontar o estudante. Habituado a projetar em Torna-se, portanto, hoje, fundamental preparar
ambientes de cidade mais estáveis, a passagem os jovens candidatos a arquitetos para agir em
para esta outra realidade, ‘de franja’, é abrupta e o âmbitos de projeto que ganharam preponderância
choque expectável. Ainda assim, são também nos últimos anos / décadas na relação com a
estes os contextos onde o arquiteto tem de operar enorme expansão da urbanização verificada
e a Universidade tem obrigação de lhe fornecer mundialmente, ajustando o saber aos cenários
ferramentas e pensamento organizado para que a específicos do nosso tempo. Embora espaços de
reação, mais tarde, não seja o recuo ou a interpretação menos (ou pouco) consensuais e
74 Perspetivas
O meu primeiro contacto com um modelo Para Hillier, a leitura do espaço construído,
estruturado de ensino da morfologia urbana fosse à escala da cidade, fosse à escala da
ocorreu nos anos de 1983-84, quando frequentei o edificação, teria que passar inevitavelmente pela
Mestrado em Desenho Urbano no Joint Centre for análise do modo como este fora modelado em
Urban Design em Oxford, atualmente integrado função do contexto e das solicitações sociais do
na Oxford Brookes University. momento. Implícito, estava o conceito de espaço
Sob a batuta de Ivor Samuels fui então construído enquanto entidade cognoscível, com
confrontada com os modos de abordar a forma leis e convenções sociais que se apresentam sob a
urbana desenvolvidos pelas designadas ‘escolas’ forma edificada, em resposta a diversos contextos.
italiana, britânica e francesa, emergindo em A tese central é de que se alguma relação existe
autores como Muratori, Aymonino, Rossi, entre atributos sociais e espaciais, esta não se
Conzen, Castex e Penerai e nas suas metodologias revela ou se esclarece apenas através da ordem
de descrição e análise espacial. Isto já para não visível, ou seja dos aspetos aparentes ou
falar do inesquecível encontro com Italo Calvino simbólicos, ou da função exercida, mas encontra-
(1972) feito a partir da leitura das Cidades se subjacente na estrutura espacial da forma
Invisíveis. física. Do mesmo modo, abordar a sociedade,
Tais abordagens eram entendidas como exigia também reportar à forma da sua realização
‘elementos de leitura privilegiada da forma e organização no espaço.
urbana’, e utilizadas para analisar as alterações e O propósito da sintaxe espacial seria portanto
as permanências ocorridas no tempo, conduzindo estudar o espaço construído e, através da sua
à consciência de que a forma urbana só poderia descrição e análise, interpretar a lógica da sua
ser compreendida quando interligada com os organização e composição, identificar as suas
fenómenos sociais que lhe deram origem. A propriedades estruturantes e avaliar as suas
decomposição dos elementos morfológicos em condições de uso e implicações funcionais. Para
categorias analíticas não faria pois qualquer Hillier o espaço construído também tinha ‘leis
sentido se fosse feita de forma descontextualizada próprias’, o que obrigava a entendê-lo
e sobretudo se desvalorizasse os ‘acontecimentos’ simultaneamente como variável dependente e
que estiveram presentes nos vários momentos da independente: dependente porque resultava de um
sua formação. processo social; independente porque também
Certo é que as reflexões sobre a forma urbana produzia efeitos.
então propostas pelo coletivo de Oxford estavam A partir destas abordagens, e já no Técnico,
muito centradas na relação entre o Homem e o não esquecendo o suporte teórico de Mário
Ambiente Construído, colocando o homem Kruger, abriu-se-me um novo campo de
(biológico, cognitivo e social) como centro do investigação, posteriormente conjugado com o
planeamento e do desenho urbano. O livro ensino, que mais tarde designaria por Estudos
Responsive Environments: A Manual for Designers Espaço-Funcionais. A ênfase foi então colocada
(Bentley et al., 1985) para o qual todos nas implicações funcionais do espaço construído.
contribuíamos empenhadamente naquele tempo, Tanto à escala da cidade como da edificação, o
ilustra bem as orientações seguidas. E foi neste espaço construído é abordado não apenas
ambiente, fortemente estimulante, que tomei enquanto instrumento de aquisição de valores
contacto com a obra magistral de Amos Rapoport conjeturais ou simbólicos que representa ou
(1977) Human Aspects of Urban Form, e que Bill reproduz uma determinada realidade social mas
Hillier, ainda com The Social Logic of Space também na sua capacidade de constituir essa
(Hillier e Hanson, 1984) no prelo, nos visitou para mesma realidade, promovendo diferentes formas
dar a conhecer a teoria da sintaxe espacial e falar de fruição.
sobre o trabalho de investigação do seu grupo do Conjugando uma visão integradora das fases
University College London, insistindo na de produção / conceção e ocupação / uso do
necessidade de compreender a ligação entre espaço construído, o foco foi orientado para a
Homem-Ambiente e dar uma resposta análise do uso – enquanto fator que possibilita a
tendencialmente mais científica às relações de transformação de ‘espaços em lugares’ – e para a
causalidade espaço-sociedade. valorização do ponto de vista do utilizador, seu
Perspetivas 77
bacias, vales; elementos construídos como instrumentos de controlo da forma urbana e com
infraestruturas, assentamentos, e áreas de ela das dinâmicas e processos sociais
produção primária agrícola e florestal. desencadeados pelas forças políticas emergentes.
O trabalho realizado permitirá localizar e ‘ler’, A prévia leitura crítica da cidade europeia de
à escala territorial, a área em que se vão origem medieval e a identificação dos elementos
desenvolver os exercícios de Urbanística I e urbanos que a constituem (parcela, tipo
Projetos IV. edificatório, quarteirão, rua, praça ...) ajuda-nos a
A partir desta primeira leitura, e identificados perceber as mudanças e as transformações, com
os principais itens da escala territorial, os tentativas de controlo da forma urbana a partir de
trabalhos de Análise centram-se nas diferentes uma nova disciplina: a urbanística. As técnicas
Fases de implementação da Cidade como dos alinhamentos, da reforma interior, e das
Organismo, neste caso centrados numa cidade expansões de povoações em que se materializa a
europeia de origem medieval. ideia do grande mercado de solo em que a cidade
industrial se constitui sob a conceção da
burguesia. A racionalização dos diferentes
Análise urbana dos tecidos de origem medieval elementos constituintes dos tecidos urbanos da
cidade de origem medieval, a sua codificação para
A aproximação à leitura dos diferentes tecidos a adaptação aos requisitos da grande máquina do
pertencentes à cidade de origem medieval passa mercado imobiliário e para a melhor eficiência do
pelo entendimento da cidade como parte seu funcionamento com o pretendido objetivo de
fundamental de um Processo, em que o momento resolução dos problemas da mobilidade, do
atual (materializado na planta) é um ‘fotograma’ transporte ou do alojamento de dezenas, centenas
de um filme de uma multiplicidade de guiões que de milhares, ou milhões de pessoas torna-se o
se apresenta cheio de complexidade. leiv-motif das práticas desenvolvidas na ‘cidade
A identificação dos ‘Elementos de Análise do capital’.
Urbana’ e das Relações entre Elementos, em que O Plano Regulador ou Plano Geral de
opera o profissional da arquitetura ou de Ordenação Urbana é a referência fundamental da
urbanismo, exige-nos o conhecimento prévio da cidade Fordista que na sua conceção de ‘máquina’
sequência cartográfica ou dos relatos das nos permite compreender o papel regulador de
descrições históricas que nos possam ajudar a todo o instrumental do planeamento urbanístico
perceber outras leituras, outros olhares ao longo nos processos de urbanização na cidade da
do tempo. segunda revolução industrial durante a primeira
Situámo-nos dentro de um cenário a modificar metade do século XX .
para se adaptar aos requisitos coletivos ou A análise dos elementos urbanos
individuais, um cenário do qual fazemos parte, e fundamentais que servem de referência para os
que se visualiza no solo e nas suas formas de uso traçados da grande maioria dos tecidos urbanos
e apropriação, nas ruas (matrizes, de implantação põe em evidência o reducionismo dos enfoques
do edificado, de união), nas parcelas, nos tipos mecanicistas e economicistas e a ausência, na
edificatórios (básicos ou especializados), na maioria das vezes, de uma leitura que estabeleça
forma de agregação dos tipos (ilhas em fila, ligações de conexão com a natureza e com a
simples ou duplas, ilhas compactas, com pátio ou história sobre as quais toda cidade se constrói.
em bloco) e nos espaços livres de uso público
(praças nas suas diversas formulações mercantis,
religiosas, institucionais ...). Análise urbana dos bairros residenciais
(promoção de grande escala)
Análise das extensões urbanas: a cidade Após a Segunda Guerra Mundial as práticas
aberta, dos ensanches aos planos gerais urbanísticas enquadram-se numa ideia de
‘zoneamento funcional’ e de incorporação nos
Identificar no tempo e no espaço os inovadores e novos tecidos urbanos dos ‘protótipos
intensos movimentos demográficos induzidos edificatórios’ teorizados e ensaiados em pequena
pela primeira revolução industrial (a fábrica como escala na época de ‘entre-guerras’.
local de concentração da mão de obra) e a Os bairros residenciais são áreas que
consequente revolução urbana num país permitem ler na cidade do último terço do século
esmagadoramente rural, permite-nos confrontar XX, as tentativas de padronização e produção em
com os ‘tempos’ das lentas e pausadas dinâmicas massa para grupos de população cada vez mais
da ‘urbanização’ e com o corolário de técnicas numerosos.
próprias da Urbanística, que a partir da segunda Esta é uma etapa que coincide na Galiza com
metade do século XVIII até a segunda metade do a fase mais intensa de urbanização.
século XX, vão servir de A ‘parametrização’ da urbanística induz à
82 Perspetivas
Conselho Científico
5 S. M. G. Pinto
URBANA
Área non aedificandi em domínio privado. História breve do interstício entre prédios em Portugal Revista da Rede Lusófona de Morfologia Urbana
19 R. L. Rego, T. S. Ribeiro e J. Taube
Ideias clássicas, aspirações modernas: o academicismo e o traçado das cidades novas do norte do Paraná
2015
31 G. Z. F. Neves, R. A. Felício e S. S. Macedo Volume 3
Variação da temperatura de superfície na cota do pedestre na Avenida XV de Novembro, São Carlos-SP, Brasil
Número 1
41 A. V. Moudon
Morfologia urbana como um campo interdisciplinar emergente
Perspetivas
51 A Morfologia Urbana na ESG D. Viana e G. Carlos
54 A Morfologia Urbana como base para a formação urbanística dos arquitetos E. Solís e B. Ruiz-Apilánez
56 Ensino da Morfologia Urbana. A experiência da FAU-UB F. Holanda
57 Didática da Morfologia Urbana G. Cataldi
59 O ensino da Morfologia Urbana na Universidade do Minho J. Correia
61 O ensino da Morfologia Urbana no Curso de Arquitetura e Urbanismo da UEM K. Meneguetti
62 Morfologia Urbana no Líbano L. Bravo e J. Madrigal
66 O ensino da Morfologia Urbana em Itália: balanço e perspetivas M. Maretto
67 Relatos sobre o ensino de Morfologia Urbana na UFMG S. Costa
69 Morfologia Urbana – ensino e pesquisa S. Macedo
72 Projetar nas franjas urbanas. Um ‘processo’ entre escalas, objetos e temas diversos S. Sucena-Garcia
74 O ensino da Morfologia Urbana na FAUP T. Calix, M. Sá
76 Da Morfologia Urbana à análise espaço-funcional T. Heitor
77 O ensino da Morfologia Urbana no ISCTE-IUL T. Marat-Mendes
80 Análise urbana na ETSA da Coruña X. Suarez, C. Lopez, V. Mosquera, A. Revilla e C.Fontan
Relatórios
30 PNUM Workshop 2015, Porto, Julho 2015 V. Oliveira
82 Curso de Extensão em Morfologia Urbana, Belo Horizonte, Junho 2015 V. Oliveira
Notícias
4 Urban Morphology
49 22nd International Seminar on Urban Form
50 5a Conferência da Rede Lusófona de Morfologia Urbana
50 1st Symposium of the Turkish Network of Urban Morphology