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MORFOLOGIA
URBANA
Revista da Rede Lusófona de Morfologia Urbana
2015
Volume 3
Número 2
Editor: Vítor Oliveira, Universidade do Porto, Portugal, vitorm@fe.up.pt
Os autores são os únicos responsáveis pelas opiniões expressas nos textos publicados na
‘Revista de Morfologia Urbana’. Os Artigos (não deverão exceder as 6 000 palavras, devendo
ainda incluir um resumo com um máximo de 200 palavras), as Perspetivas (não deverão exceder
as 1 000 palavras), os Relatórios e as Notícias referentes a eventos futuros deverão ser enviados
ao Editor. As normas para contributos encontram-se na página 2.
Desenho original da capa - Karl Kropf. Desenho das figuras - Vítor Oliveira
85 E. Barbosa e P. Fernandes
Formas espontâneas e induzidas: comparando São Paulo, Jacarta, Hanoi e Belo
Horizonte
Perspetivas
Relatórios
Notícias
84 Urban Morphology
122 2º Workshop PNUM
137 ISUF Conference 2016: Urban morphology and the resilient city
138 PNUM 2016: Os espaços da morfologia urbana
Normas para contributos para a Revista de Morfologia Urbana
Os textos a submeter à ‘Revista de Morfologia Whitehand, J. W. R. e Larkham, P. J. (eds.)
Urbana’ deverão ser originais, escritos em (1992) Urban landscapes, international
Português, e não deverão estar em apreciação em perspectives (Routledge, Londres).
nenhuma outra revista científica. Os textos serão No caso de publicações com múltiplos
aceites para publicação depois da avaliação autores, todos os nomes devem ser incluídos na
favorável de, pelo menos, dois revisores lista de referências. Apenas as referências citadas
independentes. Os artigos não deverão exceder as devem ser incluídas na lista.
6.000 palavras, devendo ainda incluir um resumo
com um máximo de 200 palavras e até cinco Ilustrações e tabelas
palavras-chave. O título do artigo, o resumo e as Os desenhos e as fotografias deverão ter a
palavras-chave deverão ser bilingue, em dimensão adequada à sua reprodução. Nesse
Português e em Inglês. Como a autoria dos textos sentido, a dimensão das páginas da revista deverá
não é revelada aos revisores, o(s) nome(s) e o(s) ser tida em consideração pelo autor ao desenhar
endereço(s) do(s) autor(es) devem constar de uma as ilustrações. As ilustrações devem ser a preto e
folha em separado. As ‘perspetivas’ (também branco a menos que a cor seja essencial. Devem
sujeitas a ‘revisão por pares’) e os book reviews ser numeradas de forma consecutiva, referidas
não deverão exceder as 1.000 palavras. Os artigos diretamente no texto e submetidas em formato
e as ‘perspetivas’ devem ser formatados em word JPEG ou TIFF. As ilustrações fotográficas
e enviados por e-mail para o Editor deverão ter uma resolução de, pelo menos, 1200
(vitorm@fe.up.pt). Os book reviews deverão ser dpi, e os desenhos de, pelo menos, 600 dpi. Todas
endereçados ao Editor dos Book Review as ilustrações devem ter uma designação. No
(marat.mendes@gmail.com). Os textos deverão final do texto, após a lista de referências, deve ser
ser submetidos em formato de coluna única com incluída uma lista das ilustrações, da seguinte
margens largas. Os autores não deverão tentar forma:
reproduzir o layout da revista. Todas as medições
devem ser expressas no sistema métrico. Figura 1. Análise metrológica de Lower
Os autores são os únicos responsáveis pelas Broad Street, Ludlow
opiniões expressas nos textos publicados na
‘Revista de Morfologia Urbana’. São ainda Deverá ser dedicada uma atenção especial ao
responsáveis por assegurar eventuais permissões layout das tabelas, devendo ser desenhada uma
para reprodução de ilustrações, citações extensas, tabela por página. As tabelas deverão ser
etc. desenhadas com o mínimo recurso a
normalizações quer na vertical quer na horizontal.
Referências Deverão ter margens largas em todos os lados.
Os autores deverão usar o sistema de
referenciação Harvard, no qual o nome do autor Página de título
(sem as iniciais) e a data são apresentados no Numa página em separado deverá ser indicado o
corpo do texto – por exemplo (Whitehand e título do artigo e o nome, a filiação académica
Larkham, 1992). As referências são apresentadas (ou profissional) e o endereço completo
por ordem alfabética no final do texto, sob o (incluindo e-mail) do(s) autor(es).
título ‘Referências’, da seguinte forma:
Títulos
Conzen, M. P. (2012) ‘Urban morphology, ISUF Apenas na primeira letra e nos nomes próprios
and a view forward’, 18th International serão utilizadas maiúsculas. Os títulos deverão
Seminar on Urban Form, Montreal, 26 a 29 de ser justificados à esquerda. Os títulos primários
Agosto. deverão ser a negrito e os secundários em itálico.
Conzen, M. R. G. (1968) ‘The use of town plans
in the study of urban history’, em Dyos, H. J. Números
(ed.) The study of urban history (Edward Deverão ser usados algarismos para todas as
Arnold, Londres) 113-30. unidades de medida, à exceção de quantidades de
Hillier, B. (2008) Space is the machine objetos e pessoas, quando estas se referirem a
(www.spacesyntax.com) consultado em 9 valores compreendidos entre um e vinte. Nesse
Setembro de 2013. caso, os números deverão escritos por extenso.
Kropf, K. S. (1993) ‘An inquiry into the
definition of built form in urban morphology’, Por exemplo: 10 dias, 10 km, 24 habitantes, 6400
Tese de Doutoramento não publicada, m; mas dez pessoas, cinco mapas.
University of Birmingham, Reino Unido.
Moudon, A. V. (1997) ‘Urban morphology as an Provas
emerging interdisciplinary field’, Urban Durante o processo de publicação serão enviadas
Morphology 1, 3-10. provas aos autores. Nesta fase, apenas serão
corrigidos erros de impressão, não sendo
aceitáveis alterações de fundo.
Editorial
Para quem estuda ou intervém sobre a forma valorização do património e de participação ativa
física das cidades, não será nova ou das populações na sua conservação, entre outros),
surpreendente a constatação de que essa mesma a verdade é que mesmo neste caso importa
forma está em permanente mudança. Certos questionar como se delimitam estas áreas. Numa
autores comparam mesmo a cidade a um análise da definição da área que suportou a
organismo vivo. Aliás, a morfologia urbana, classificação da UNESCO da cidade de São
enquanto ciência da forma urbana, tem como Petersburgo, na Rússia, Whitehand (2009)
antecedente disciplinar a ‘morfologia’ (termo sublinha a frágil relação que existe entre a
criado por Johann Wolfgang von Goethe) delimitação que foi proposta pelas autoridades
enquanto abordagem sistemática de observação e locais, eventualmente com base em estudos
classificação da forma dos seres vivos. inadequados, e uma delimitação sugerida por uma
Os processos de mudança da forma física das investigação morfológica detalhada que colocou
cidades têm ritmos diferentes. Por um lado, em evidência um limite mais ‘óbvio’– a cintura
algumas cidades transformam-se mais depressa periférica intermédia da cidade que segue o limite
do que outras. Por outro lado, a história urbana de da área construída em São Petersburgo no final
qualquer cidade é marcada por períodos da Primeira Guerra Mundial. Importa contudo
temporais em que a mudança é mais rápida e por sublinhar que este exemplo da fragilidade na
outros em que a transformação ocorre de modo delimitação concreta das áreas da UNESCO está
mais lento ou em que não há alterações em linha com o modo como estas áreas são
significativas. normalmente definidas pelas autoridades locais
Menos consensual será a ideia de que há quando o propósito é, não a candidatura a uma
vantagens em refletir, previamente e de um modo classificação UNESCO mas, a gestão urbanística
sistemático, sobre como essa transformação deve corrente.
ocorrer e em definir regras para controlar ou, pelo Refletir sobre uma ‘área de conservação’
menos, influenciar essa mudança. O que se implica também perceber aquilo que dentro dessa
conserva e o que se transforma? Quais os área deve ser preservado e aquilo que pode ser
critérios que determinam a preservação de uma transformado. Ao revisitar a ‘lei da persistência
área urbana, de uma rua, de um quarteirão ou de do plano’, de Lavedan, e o conceito de
um edifício (singular ou comum)? Pode, numa palimpsesto, de Giovannoni, Sandra Pinto (pp.
determinada área urbana, o ‘novo’ ser conservado 127-9) lembra-nos que, por um lado, há
e, em simultâneo, o ‘antigo’ ser transformado? elementos da forma urbana que são mais
Cinco das sete ‘perspetivas’ incluídas neste importantes que outros e que têm uma maior
número da ‘Revista de Morfologia Urbana’ perenidade no ‘plano’ da cidade, e que, por outro
fornecem um conjunto de elementos para uma lado, em cada período temporal da história
melhor compreensão desta temática. urbana de uma cidade, por baixo das formas
A definição de uma ou mais áreas como urbanas visíveis é possível encontrar as diversas
merecedoras de uma atenção especial ao nível da ‘cidades’ anteriores, sobrepostas umas nas outras
conservação da sua forma física é algo comum em diferentes camadas (Giovannoni, 1931;
em muitas cidades. No entanto, o modo como Lavedan, 1926). De modo complementar, e numa
essa área é definida, quais são as suas fronteiras e crítica à abordagem townscape (Cullen, 1961)
quais os elementos que se conservam, é algo que desenvolvida a partir do início dos anos 60 com
deverá merecer uma análise atenta. Um dos uma forte predominância na Grã-Bretanha, Ivor
enfoques do texto de Eneida Mendonça incluído Samuels (pp. 125-7) alerta-nos para a necessidade
neste número (pp. 123-5) é a Lista de Património de irmos além daquilo que é visual e explorarmos
Mundial definido pela UNESCO (neste caso aquilo que é estrutural (e por vezes ‘invisível’
específico, a autora centra-se na recente como é o caso das parcelas urbanas). Marat-
classificação do Rio de Janeiro como Património Mendes (2015) oferece-nos uma classificação de
Cultural da Humanidade, na categoria Paisagem quatro tipos de transformação urbana
Cultural). Apesar de uma série de vantagens correspondente a quatro tipos de resposta das
associadas a esta iniciativa da UNESCO criada formas urbanas que sofrem essa transformação:
nos anos 70 (a conservação de um conjunto de adaptabilidade, continuidade, flexibilidade e
sítios com um valor patrimonial de referência, resiliência.
a generalização de uma atitude de Sobre a possibilidade de conservação do novo
Revista de Morfologia Urbana (2015) 3(2), 83-4 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
84 Editorial
Referências
Urban Morphology
Foi publicado em Outubro o segundo número do conjunto de módulos de estudos urbanos, poucos
volume 19 da revista Urban Morphology são os que se dedicam a um estudo sistemático da
(http://www.urbanform.org/online_public/2015_2 forma urbana, o que se traduz num peso reduzido
.shtml). Este número inclui cinco artigos. da morfologia urbana nos cursos de arquitetura.
No primeiro artigo, Stephan Marshall propõe Este artigo, de algum modo, complementa o
um sistema para representar e analisar o plano de conjunto de ‘perspetivas’ publicadas no último
cidade (enquanto objeto geométrico) baseado no número da Revista de Morfologia Urbana.
conceito de área estrutural. O texto The study of urban form in Japan
Recorrendo à abordagem histórico-geográfica, integra-se num conjunto de artigos inaugurados
Thomas Kolnberger explora a continuidade entre em 1998 por Vilagrasa Ibarz. Shigeru Satoh,
formas rurais e formas urbanas, com um enfoque Kenjirou Matsuura e Satoshi Asano estruturam a
particular nas parcelas. O caso de estudo de sua revisão sobre o estudo da forma urbana no
Phnom Penh, no Cambodja, coloca em evidência Japão em cinco partes distintas, desde o estudo
a persistência de um conjunto de padrões de das tradicionais cidades muralhadas até à
assentamentos rurais num contexto urbano conceção de métodos de desenho e planeamento.
específico. Numa reflexão sobre as origens da morfologia
Borja Ruiz-Apinánez, Eloy Solis e José Ureña urbana, enquanto área de conhecimento, Peter
analisam a presença efectiva da morfologia Larkham analisa o papel do geógrafo Americano
urbana em 33 escolas de arquitetura Espanolas. A John Leighly e em particular do seu livro The
análise revela que apesar desta área do towns of Malardalen in Sweden, publicado em
conhecimento estar aparentemente presente num 1928.
Formas espontâneas e induzidas: comparando São Paulo,
Jacarta, Hanoi e Belo Horizonte
Eliana Barbosa
Universidade Presbiteriana Mackenzie, Rua Caio Prado, 30-ap34, São Paulo
CEP 01303-000, Brasil. University of Leuven, Kasteelpark Arenberg 1 – bus 2431.
Leuven, Bélgica. E-mail: queirozeliana@outlook.com
Patrícia Fernandes
University of Leuven, Kasteelpark Arenberg 1 – bus 2431, Leuven, Bélgica.
E-mail: patricia.capanemaalvaresfernandes@asro.kuleuven.be
Revista de Morfologia Urbana (2015) 3(2), 85-102 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
86 Formas espontâneas e induzidas: comparando São Paulo, Jacarta, Hanoi e Belo Horizonte
Figura 3. Sequência de planos para São Paulo: Plano de Avenidas (1930), Plano Diretor
de 1957 e Plano Diretor de 1961 (fonte: Barbosa et al., 2013).
Figura 4. Sequência de planos para São Paulo: Plano Urbanístico Básico (1965), Plano
Diretor de Desenvolvimento Integrado de 1971, Plano Diretor de 1988 e Plano Diretor de
2002 (fonte: Barbosa et al., 2013).
grandes projetos de restruturação territorial forma final da cidade e os planos dos anos
foram previstos e posteriormente 1960 e 1970 (figuras 5 e 6), podemos afirmar
descartados, tendo como resultado a que essas iniciativas obtiveram certo sucesso
constante expansão da infraestrutura viária, ao confrontar o eixo histórico de
dada a espontânea expansão territorial e o desenvolvimento norte-sul, entretanto em
urbanismo rodoviarista (figuras 3 e 4). uma escala diferente da inicialmente
proposta. Os planos mais recentes de Jacarta
reconhecem que a cidade – assim como nas
Jacarta décadas anteriores – sofre ainda com graves
passivos ambientais, mobilidade ineficiente e
Consecutivas tentativas de descentralização congestão dado o crescente número de
nos sentidos leste e oeste e a construção de veículos. O que mudou com a democracia foi
infraestrutura modal a norte-sul guiaram o a visão acerca do planejamento urbano como
desenvolvimento urbano de Jacarta ao longo uma ferramenta para desenvolvimento social
do século XX (Figura 5). Ao comparar a através de participação popular.
Formas espontâneas e induzidas: comparando São Paulo, Jacarta, Hanoi e Belo Horizonte 89
Figura 6. Sequência de planos para Jacarta: Plano Diretor de 1965-1985, Plano Regional
Jabotabek 1973, Plano estrutural de Jacarta 1985-2005, Plano Regional 1985, Plano
Diretor 2010 (fonte: Barbosa et al., 2013).
Figura 8. Sequência de planos para Hanói: Plano 1956-1960, Plano 1968-1976 , Revisão
1982, Revisão 1992, Revisão 1998 , Plano 2011 (fonte: Barbosa et al. (2013).
município Nova Lima (Costa, 2006; Villaça, fechados a pequenas fábricas e galpões,
2001), apesar das tentativas históricas do aumentando a fragmentação do espaço da
poder municipal de induzir o metrópole contemporânea.
desenvolvimento em direção a outras áreas. Entendendo as dinâmicas que formaram a
A maior parte das atividades comerciais e forma urbana atual, parte-se para a
ligadas ao setor terciário ainda se concentra abordagem dos fragmentos, comparando as
na área central e ao longo das grandes vias, cidades duas a duas.
formando centralidades lineares (Figura 9).
A mobilidade, os padrões de crescimento
desiguais e os diferentes padrões de Comparando São Paulo e Jacarta
densidade foram historicamente questões na
cidade, agravadas pelo seu desenvolvimento Na escala da cidade, São Paulo e Jacarta
ao longo do tempo. De acordo com mostraram processos de desenvolvimento e
PBH/SMURBE (2009) sempre houve um urbanização bem semelhantes. Ambas as
desacordo entre os processos de cidades alternaram períodos de crescimento
parcelamento e ocupação, bem como o econômico intenso, atraindo imigrantes de
desenvolvimento habitacional; criando um outras partes do país, no qual um progressivo
ciclo especulativo contínuo, corroborado espraiamento urbano ocorreu (em São Paulo
pela política urbana, tendo como resultado nas décadas de 1950 e 1960 e em Jacarta
uma metrópole dispersa e de relativa baixa depois da década de 1970) sem a devida
densidade, tendo suas áreas remanescentes oferta de serviços, habitação e infraestrutura,
ocupadas – formal e informalmente – por processo que define sua configuração
processos e tipologias heterogêneos, espacial das cidades até hoje (Barbosa, 2011;
variando desde grandes condomínios Santoso, 2009). Ambas as cidades
Formas espontâneas e induzidas: comparando São Paulo, Jacarta, Hanoi e Belo Horizonte 91
Figura 9. Evolução da mancha urbana de Belo Horizonte (fonte: Barbosa et al., 2013).
Figura 10. Sequência de planos para Belo Horizonte: Plano de Aarão Reis de 1895, Plano
Diretor de 1975, Lei de uso e ocupação do solo de 1976, PDDI de 1996 e Plano Diretor de
2010 (fonte: Barbosa et al., 2013).
Figura 11. Tecido urbano – fragmentos Jardins em São Paulo e Thamrin Boulevard em
Jacarta.
Figura 12. Malha viária – fragmentos Jardins em São Paulo e Thamrin Boulevard, Jacarta.
Amostra formal
1987) que mantém as estruturas do
Apesar das diferenças relacionadas à malha parcelamento original, modificando as
urbana e à escala das tipologias dimensões dos lotes. Já em Jacarta, a
predominantes (figuras 13 e 14), os dois sobreposição tipológica é mais frequente, em
fragmentos se desenvolveram livremente de atuação cumulativa do mercado imobiliário,
acordo com as tendências do mercado densificando um mesmo lote, criando o que é
imobiliário, induzidos pela criação e chamado de superblock (Santoso, 2007).
desenvolvimento da infraestrutura. No caso Apesar de serem ‘formais’, eles não foram
de São Paulo, houve a transformação dos planejados ou projetados, densificaram-se ao
tipos predominantes do início do século XX longo do tempo, tendo hoje excedido sua
(casas e sobrados) em edifícios verticais, em capacidade de carga em termos de
um processo de verticalização (Somekh, infraestrutura urbana.
94 Formas espontâneas e induzidas: comparando São Paulo, Jacarta, Hanoi e Belo Horizonte
Figura 15. Tecido urbano – fragmentos Heliópolis em São Paulo e Kebong Kacang em
Jacarta.
Figura 16. Malha viária – fragmentos Heliópolis em São Paulo e Kebong Kacang em
Jacarta.
Figura 19. Tecido urbano – fragmentos de Lihn Dam em Hanói e de Belvedere III em Belo
Horizonte.
Figura 20. Malha viária – fragmentos de Lihn Dam em Hanói e de Belvedere III em Belo
Horizonte.
Figura 21. Figura-fundo – amostras de Lihn Dam em Hanói e do Belvedere III em Belo
Horizonte.
de mercado que acabaram por manipular Lihn Dam há uma hierarquia de espaços bem
regulações urbanas (figuras 19 e 20). clara, representada por eixos de uso misto,
com atividades comerciais no térreo e torres
corporativas marcando as esquinas. O
Amostra formal Belvedere III concentra principalmente
condomínios fechados com poucas
A escala da amostra evidencia resultados interações e aberturas no nível da rua, exceto
tipológicos semelhantes, uma vez que ambas por um incipiente eixo comercial.
contém edifícios verticais como tipo Os fragmentos informais urbanizados são
predominante (figuras 21 e 22), porém, em representados pelo dinâmico e diversificado
Lihn Dam há uma repetição de escalas bairro ‘Jardim Canadá’ (Região
enquanto no Belvedere III o resultado formal Metropolitana de Belo Horizonte, município
é completamente espontâneo (Figura 21), de Nova Lima) e Van Quan (Hanoi), uma
dadas as diferenças de dimensionamento dos melancólica urban village em Hanoi,
lotes e a multiplicidade de atores, gerando engolida por novos empreendimentos em um
empreendimentos de portes distintos. Em dos eixos de expansão urbana. Ambos foram
98 Formas espontâneas e induzidas: comparando São Paulo, Jacarta, Hanoi e Belo Horizonte
Figura 23. Tecido urbano – fragmentos Van Quan em Hanói e Jardim Canadá em Belo
Horizonte.
Figura 24. Malha viária – fragmentos Van Quan em Hanói e Jardim Canadá em Belo
Horizonte.
Figura 25. Figura-fundo – amostras Van Quan em Hanói e Jardim Canadá em Belo
Horizonte.
Spontaneous and induced urban forms: comparing São Paulo, Jakarta, Hanoi and Belo Horizonte
Abstract. This paper gathers research, developed in 2012/2013, in which urban morphology was used as
an investigating tool to study the relations between urbanization and development, producing a
comparative study of spatial and economic development, planning processes and the resulting urban
forms of four cities: São Paulo and Jakarta, and Hanoi and Belo Horizonte. Planning policies and urban
forms were compared at different scales in these four cities, using the approach proposed by Lamas
(1993). São Paulo and Jakarta were chosen due to their importance and economic relevance on their
respective contexts, Latin America and South East Asia, offering the possibility of comparison aiming at
finding relevant similarities. Hanoi and Belo Horizonte have similar positions regarding their contexts;
both are administrative cities with similar characteristics in terms of demography, economic growth and
rapid urbanization. Despite these similarities, the cities present distinct processes of growth and
urbanization, as well as cultural aspects; both were highlighted in this comparison. This study
investigates the patterns of urban form of these four cities, exploring their urban tissues and building
types, aiming at a better understanding on how these cities have coped with economic processes and how
they work today, opening the possibility of broader discussions on which lessons can be drawn both to
these case studies and to cities in general.
A criação de uma rede Portuguesa (PNUM) Julho de 2014 e Julho de 2015, e uma breve
integrada no International Seminar on Urban consideração sobre futuras atividades.
Form (ISUF) teve lugar em 2010, durante a 17ª O interesse que tem sido depositado na Rede
Conferência do ISUF. A proposta de criação do Lusófona de Morfologia Urbana, inclusive pelos
PNUM (bem como a sua Constituição) foi colegas do Brasil, é muito gratificante. A recente
apresentada no ISUF Council dessa mesma mudança na designação de ‘Rede Portuguesa de
conferência em Agosto de 2010. Morfologia Urbana’ para ‘Rede Lusófona de
No meu primeiro relatório do PNUM, na Morfologia Urbana’, conforme aprovado no
qualidade de Presidente, gostaria de aproveitar a Conselho Científico do PNUM em Julho de 2014,
oportunidade para reconhecer o trabalho e a reforça a aliança Portuguesa-Brasileira construída
energia investida no PNUM pelo presidente ao longo dos últimos anos.
antecessor, Vítor Oliveira. Este relatório é um A quarta edição da conferência promovida
resumo das principais atividades do PNUM, pelo PNUM, ‘Configurações urbanas e os
incluindo a indicação de conferências, workshops desafios da urbanidade’, teve lugar em Brasília,
e publicações realizadas no âmbito da rede, entre Brasil, em Junho último, constituindo a primeira
Relatórios 103
edição da conferência do PNUM fora de Portugal. prefácio escrito por Jeremy Whitehand. Este livro
Esta última conferência contou com a integra um conjunto de perspetivas sobre o estudo
participação de 250 pessoas. da forma urbana, dadas por 14 investigadores
Atualmente, o PNUM integra mais de um portugueses, na sua maioria membros fundadores
milhar de membros oriundos de 15 países: do PNUM.
Angola, Austrália, Bélgica, Brasil, Cabo Verde, É desejo do Conselho Científico continuar a
Dinamarca, França, Alemanha, Holanda, Itália, promover as atividades do PNUM junto de todos
Moçambique, Portugal, Espanha, Suíça e aqueles que reconhecem no estudo da forma
Vietnam. O rápido crescimento do PNUM deve- urbana, em Portugal e nos países lusófonos, uma
se sem dúvida à realização das suas conferências característica cultural comum que merece maior
anuais, que têm proporcionado um importante atenção e enfoque. Investigações comuns entre os
espaço de reflexão e de debate para a temática da diferentes países que participam no PNUM serão
morfologia urbana. A quinta conferência do bem-vindas: por exemplo, entre Espanha e
PNUM, terá lugar no próximo ano, em Portugal, cujas origens históricas dotaram a
Guimarães, Portugal, e a sua organização é Península Ibérica de um um sistema regional de
coordenada por Jorge Correia e Miguel Bandeira individualidade marcante, e que marcou
da Universidade do Minho. fortemente um sistema de abertura à comunicação
Foi durante o presente ano que o PNUM com o exterior, conforme defendido pelo notável
testemunhou a organização do seu primeiro geógrafo M. R. G. Conzen (2004).
Workshop, com o tema ‘Diferentes abordagens ao Finalmente, gostaria de convidar todos os
estudo da forma urbana’. Um segundo workshop membros do PNUM e todos aqueles interessados
está a ser preparado para 2016 (p. 122 deste no estudo da forma urbana em Portugal a
número). visitarem o nosso website, em
Para além da organização de conferências e http://pnum.fe.up.pt/, e a enviarem novas
workshops, o PNUM pretende continuar a sugestões de atividades que julguem oportunas
promover o estudo da forma urbana em Portugal serem realizadas pelo PNUM.
também através de publicações. Já no seu quinto
número, a ‘Revista de Morfologia Urbana’,
editada por Vítor Oliveira, constitui um Referência
importante contributo para a publicação de
perspetivas e artigos reportando resultados de Conzen, M. R. G. (2004) ‘The historical
investigação na área da morfologia urbana. A urbanization regions of medieval Europe’, em
inclusão de traduções portuguesas de trabalhos Conzen, M. P. (ed.) Thinking about urban form:
seminais, originalmente publicados em Inglês na papers on urban morphology 1932-1998 (Peter
revista Urban Morphology, constitui outro Lang, Oxford) 197-235.
contributo notável da Revista.
Uma publicação entretanto disponível durante
o ano de 2015 e com interesse para os vários Teresa Marat-Mendes, Instituto Universitário
membros do PNUM e leitores da ‘Revista de de Lisboa ISCTE-IUL, DINÂMIA’CET-IUL,
Morfologia Urbana’ é o livro ‘O estudo da forma Departamento de Arquitectura e Urbanismo, Av.
urbana em Portugal’, editado por Vítor Oliveira, das Forças Armadas, 1649-026 Lisboa, Portugal.
Teresa Marat-Mendes e Paulo Pinho, com E-mail: teresa.marat-mendes@iscte.pt
Revista de Morfologia Urbana (2015) 3(2), 105-20 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
106 Aplicação do conceito de Unidade Morfo-territorial nas escalas metropolitana, intraurbana e local
Figura 2. Base da Região Metropolitana de Campinas (fonte: autor sobre bases dos 20
municípios).
Figura 3. Suporte físico: topografia e sistema hídrico (fonte: modificado e adaptado de IG,
1993, e Yoshinaga e Silva, 1997).
Figura 4. Delimitação de recortes em função do tipo de solo (fonte: IG, 1993, e Yoshinaga e
Silva, 1997).
Figura 6. Valor médio do solo: mapeamento comparativo entre cinco municípios da RMU
(fonte: Silva e Magalhães, 2013).
Figura 10. Delimitação, por meio das linhas a Figura 12. Delimitação, por meio das linhas
cheio, das Unidades Morfo-territoriais vermelhas e violetas, das Unidades Morfo-
considerando a delimitação do limite do territoriais considerando a rede hídrica
perímetro urbano (fonte: autores sobre Silva, superficial e as águas subterrâneas (fonte:
2013). autores sobre Silva, 2013).
Item Sub-item
UP01 Predominância de casarios horizontais com afastamento de um dos lados, onde ocorre um
processo de verticalização. Interessante notar que a verticalização está predominantemente
junto a linha de divisão de sub-bacia, portanto no terreno de cota mais alta.
UP03 Caracteriza-se por ser livre de edificação abrangendo o Parque Taquaral e pelo entorno da
Avenida do Café.
UP04 Prevalece a presença de espaços livres de urbanização com uso institucional e de pesquisa,
onde estão localizadas o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), o Instituto de
Tecnologia de Alimentos (IAL) e a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI),
órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Governo do Estado de São Paulo.
UP08 Caracterizada por edificações soltas no grande lote semelhante a um campus. Ex.: área da
Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL). Unidade 3 da Faculdade Comunitária de
Campinas da Rede Anhanguera Educacional. Esta unidade é cortada pela Rodovia Miguel
Noel Nascimento Burnier que esta alteada em relação às vias locais lindeiras onde se
desenvolve comércios em edificações horizontais com um ou dois afastamentos.
UP10 Assim como a UP02 tem predominância de casarios horizontais com afastamento de um dos
lados. Entretanto o parcelamento, ao seguir o relevo existente, resulta em um desenho de
quadras mais orgânico.
UP11 Casarios grandes, soltos no lote. A dimensão dos lotes e das edificações assim como a
quantidade de vegetação arbórea caracterizam esta unidade.
UP14 Caracteriza-se pela presença de espaços livres de edificação ou pela ocupação irregular
destes espaços.
UP16 Caracteriza-se por glebas urbanizadas como condomínios fechados de forma descontinua.
Os grandes empreendimentos caracterizam a unidade. Ex.: Sansung, Alphaville D. Pedro,
Careffour, Residencial Bouganville, etc. A ETE Anhumas localiza-se nesta unidade.
UP18 Caracteriza-se como glebas não urbanizadas. Área prevista para o Ciatec II (Campinas).
118 Aplicação do conceito de Unidade Morfo-territorial nas escalas metropolitana, intraurbana e local
Tabela 4. Síntese
Grupo
Recorte Unidade Morfo-territorial
e Tipo
U.P. Casarios horizontais e edifícios verticais. Quadra padrão (menor
Grupo I que 100 m). Lotes médios. Pouco espaço livre intraquadra.
Tipo A Processo de verticalização em curso.
U.P. Casarios horizontais. Quadra padrão (menor que 100 m). Lotes
Grupo I pequenos. Pouco espaço livre intraquadra. Processo de ocupação
Tipo B consolidado.
Application of the concept of Morpho-territorial Unit in the metropolitan, intraurban and local scales
Abstract. The urban forms in the Metropolitan Region of Campinas, resulting from urban fragmentation
and dispersion, need further investigation. This paper aims at presenting a method of analysis that relates
different bodies of knowledge: landscape, ecology and morphological studies. The concepts, methods and
techniques presented here are the result of years of discussion within the QUAPA-SEL (Quadro de
Paisagismo – Sistema de Espaços Livres) research network that studies the relationship between the
system of open spaces and the built form. The paper presents the analytical procedures in three different
scales: i) metropolitan area, consisting of 20 cities; ii) neighborhoods, formed by different urban tissues,
and iii) urban block, where both open spaces and built forms create the urban space. In the three scales,
the system of open spaces has the main role. The results show that the method of analysis offers valuable
insights on understanding of the phenomenon of urban dispersion and fragmentation. The method aims at
gathering different analytical techniques from different bodies of knowledge, integrating morphological
procedures and techniques used within ecology and urban landscape studies.
Esta foi a primeira edição dessa conferência no comunicações orais dos trabalhos pelos
país, visto que nas versões anteriores foi realizada palestrantes, subdivididos em subtemas descritos
em Portugal. O interesse pelo tema, a seguir. O primeiro denominava-se
‘Configuração urbana e os desafios da ‘Transformações urbanas recentes – novos
urbanidade’, se comprovou pela submissão de impactos, novos desafios’, seguido por
317 resumos no total, sendo 24 de Portugal, 1 da ‘Desigualdade socioespacial das cidades’, como
Espanha e 292 do Brasil. segundo sub tema. O terceiro versava sobre a
Gabriela de Souza Tenorio e Frederico de ‘Configuração urbana e patrimônio cultural’,
Holanda, professores da Universidade Nacional seguido pelo ‘Legado da cidade moderna’.
de Brasília (UNB) foram os responsáveis pela ‘Urbanização total: tendências para a metrópole’
coordenação meticulosa e sucesso desse evento, reuniu comunicações no sub tema 5, sendo o
que ocorreu no Campus Universitário Darcy sexto sobre os ‘Espaços públicos na cidade
Ribeiro, no Instituto Central de Ciências, um contemporânea’, seguido pelas ‘Teorias,
edifício projetado por Oscar Niemeyer conceitos e técnicas morfológicas’ abrigadas no
(Minhocão) cuja qualidade, ao longo dos anos, sub tema 7 e no 8 se discutia a ‘Configuração
foi reforçada pela vegetação profusa e uso urbana e história das cidades’. Todos estes temas
diversificado das suas dependências. contemplaram 156 comunicações e 25 posters
O evento se estruturou por meio de foram selecionados para serem expostos durante
conferências de palestrantes, que aconteciam no o evento.
inicio das sessões, seguidas de debates. Observações durante o evento levam as
No dia 25/06, após a sessão de abertura, seguintes conclusões: i) trabalhos que descrevem
procedeu-se a primeira palestra, por Vítor e analisam processos morfológicos no Brasil
Oliveira, pesquisador da Universidade do Porto baseiam-se, em grande parte, nos conceitos de
(UP), que apresentou o trabalho denominado space syntax; ii) o uso dos métodos tradicionais
‘Comparando diferentes abordagens no estudo da das escolas da morfologia urbana é limitado,
forma física das cidades’. A segunda palestra devido a interpretação equivocada do termo; isto
denominada ‘Costas, ombros e rostos’ foi de contribui para apresentação de trabalhos que
Frederico de Holanda que explorou aspectos descrevem questões urbanas como morfológicas,
relativos à percepção e escalas dos espaços ao invés de incorporar os adequados requisitos
contínuos de uso cotidiano. A terceira palestra, de tridimensionais de um estudo morfológico, ou
autoria de Paulo Afonso Reheingantz, seja, a forma, função e o seu desenvolvimento; e
denominada ‘Politicas ontológicas, conhecimento iii) por outro lado, existem desafios observados
situado e espacialidades’ também abordou em casos brasileiros, que exigem diferentes
aspectos referentes a percepções e avaliações do instrumentos morfológicos para responder aos
espaço urbano. desafios regionais e ambientais, tais como
As três palestras do dia 26/06 foram aqueles apresentados no caso da região
proferidas respectivamente por Maurício Polidori, amazônica ou mesmo na expansão das
denominada ‘Laboratório de Urbanismo: entre megacidades; estes instrumentos, a serem
linhas, células e nós’, da Universidade Federal de desenvolvidos em estudos para aplicação em
Pernambuco (UFPE) e apresentou as atividades escalas de maior dimensão, podem vir a ser
de pesquisa ali desenvolvidas. A palestra de contribuições efetivas do grupo PNUM, pela
Romulo Krafta, discorreu sobre a ‘Forma física– própria existência desses temas contemporâneos
social- cidade’. O professor, da Universidade nos países de língua portuguesa. Estes devem ser
Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), temas, que sugerimos, que devam ser
apresentou instrumentos desenvolvidos para incorporados na próxima conferência a ser
análise e atuação na forma das cidades. A última realizada em Guimarães, na Universidade do
palestra foi do professor Sílvio Soares Macedo, Minho, Portugal.
Universidade de São Paulo (USP), denominada
‘Sistemas de espaços livres e a forma urbana na
cidade contemporânea brasileira – derivações do Staël de Alvarenga Pereira Costa, Departamento
projeto QUAPA-SEL’. Nessa comunicação foram de Urbanismo, Escola de Arquitetura.
apresentadas as diversas características Universidade Federal de Minas Gerais, Rua
encontradas no desenvolvimento dessa pesquisa. Paraíba 697 sala 404c, Bairro dos Funcionários,
A segunda parte do evento ocorria após o Cep 30130140, Belo Horizonte, Brasil. E-mail:
intervalo das palestras matinais e consista nas staelalvarenga@gmail.com
122 Notícia
2º Workshop PNUM
O 2º Workshop PNUM decorrerá na Escola término do Workshop, realizar-se-á um exercício
Superior Gallaecia (ESG), entre 19 e 23 de Julho comparativo entre as diversas abordagens no
de 2016. O incremento da relevância, no Mestrado sentido de evidenciar as potencialidades e as
Integrado em Arquitetura e Urbanismo da ESG, de eventuais fragilidades de cada uma, bem como
problemáticas associadas à forma urbana – e às complementaridades fundamentais tendo em vista
diferentes abordagens possíveis de serem uma utilização integrada.
encetadas para o seu estudo – enquadra-se a partir A Comissão Organizadora do Workshop
de perspetivas comparadas entre vilas e cidades do PNUM 2016 é composta por David Leite Viana
Alto Minho (Portugal) e da Galiza (Espanha). A (coordenação, Escola Superior Gallaecia), Xosé
realização do 2º Workshop PNUM contribuirá Lois Martinez Suárez (Universidad A Coruña),
para aprofundar temáticas morfológicas de âmbito Vítor Oliveira (Universidade do Porto) e Paulo
transfronteiriço. Assim, será central, na segunda Vieira (Câmara Municipal de Viana do Castelo). O
edição do Workshop, a forma urbana e as Conselho Consultivo é constituído por Rui
dinâmicas transfronteiriças entre o Alto Minho e a Florentino (Escola Superior Gallaecia), José Juan
Galiza. Neste contexto, o objetivo do Workshop é González-Cebrián Tello (Universidad A Coruña),
dar a conhecer aos participantes um conjunto de Maria Manuel Oliveira (Universidade do Minho),
teorias, conceitos e métodos de análise da forma Stael Pereira da Costa (Universidade Federal de
urbana das cidades. Para o efeito, ter-se-á Viana do Minas Gerais). Para além destes, o Conselho
Castelo (Alto Minho, Portugal) e Tui (Galiza, Científico do PNUM integra ainda: Teresa Marat-
Espanha) como espaços urbanos a estudar. Mendes (Presidente, ISCTE - Instituto
O Workshop realizar-se-á em Vila Nova de Universitário de Lisboa) Frederico de Holanda
Cerveira, com visitas exploratórias às duas (Universidade de Brasília), Jorge Correia
cidades. Com a duração de uma semana, o (Universidade do Minho), Miguel Bandeira
Workshop destina-se a estudantes, académicos, (Universidade do Minho) e Nuno Norte Pinto (The
investigadores e profissionais nas áreas da University of Manchester).
arquitetura, geografia, planeamento e história. No Os orientadores do Workshop serão: David
primeiro dia serão apresentadas diferentes Leite Viana (assistido por João Pedro Passos),
abordagens morfológicas (Abordagem Histórico- Paulo Vieira, Vítor Oliveira e Xosé Lois Martinez
Geográfica (Escola Conzeniana); Abordagem Suárez. O Workshop PNUM 2016 terá como
Tipológica Processual (Escola Muratoriana); apoios institucionais a Rede Lusófona de
Space Syntax; Sistemas de Informação Geográfica Morfologia Urbana, o Centro de Investigação da
(SIG), entre outras; bem como os casos de estudo, ESG (CIESG), a Câmara Municipal de Viana do
Viana do Castelo e Tui. No final da primeira Castelo e o Concello de Tui. O valor da inscrição
sessão da tarde, cada participante deverá escolher no Workshop PNUM 2016 é de 150 euros (público
uma abordagem morfológica. Seguidamente, serão em geral, técnicos camarários, profissionais
divididos em diferentes grupos de acordo com as liberais) e 100 euros para estudantes de
opções tomadas. Nos dias posteriores, cada grupo licenciatura, mestrado e doutoramento. Em breve
(e respetivo orientador) deverá trabalhar no caso será anunciado o prazo para inscrições e o website
de estudo utilizando a abordagem selecionada. No do 2º Workshop PNUM.
Revista de Morfologia Urbana (2015) 3(2), 123-37 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
124 Perspetivas
genius loci, como o significado do lugar, no sudeste do Brasil (Vitória, 2012). O método
sintetizando esta desejada associação. parte da importância de identificar referenciais da
Ao longo da segunda metade do século XX, paisagem (elemento isolado ou conjunto,
foi frequente também, o processo de decadência construído ou não) e orientar a forma futura de
arquitetônica, urbanística, econômica, sucedido ocupação urbana, por meio de simulação gráfica e
pelo de requalificação, de centros urbanos de instrumentos urbanísticos, de modo a manter a
diversas cidades no mundo. A decadência é visibilidade e o acesso a esses referenciais.
atribuída por Villaça (1998) ao distanciamento Sem dúvida, o aspecto mais complexo do
das elites em relação aos centros urbanos. Quanto estudo se refere à identificação dos referenciais da
à estratégia de requalificação, Arantes (1998) paisagem e à decisão sobre o que e quanto
critica a prática da restauração de edificação permitir transformar e exigir conservar,
específica, acompanhada de atribuição de uso admitindo-se a paisagem como algo dinâmico.
cultural destinado ao turismo internacional, em Pesquisa envolvendo a história auxilia a
detrimento da elaboração de políticas públicas compreensão da evolução no tempo, quanto à
integradas em escala, e direcionadas ao interesse importância destas formas urbanas. Fontes como
social local. Mesmo considerando que os relatos, desenhos e fotografias de viajantes,
resultados alcançados variem bastante em termos projetos urbanísticos e seus memoriais e estudos
de sucesso (Vargas, 2009), o processo vem comparativos destes com imagens e projetos mais
exigindo reflexões acerca de como reintegrar o recentes contribuem para esta abordagem.
obsoleto à dinâmica social, econômica e Literatura, crônicas e registros jornalísticos
urbanística contemporânea e de como distinguir o permitem também constatar as transformações
que deve se transformar e o que deve permanecer. ocorridas, bem como as críticas às mesmas. O
Primordial no âmbito destas reflexões é a entendimento sobre a importância contemporânea
ampliação do olhar para o conjunto do ambiente destes referenciais da paisagem pode ser
urbano em detrimento de olhares direcionados constatado a partir de depoimentos de pessoas
estritamente a determinados edifícios e a busca chave, seja pela antiguidade de permanência no
pela associação entre o saber técnico e o local, seja pela participação na transformação do
sentimento da população em relação ao ambiente mesmo. A compreensão do sentimento da
em foco. Neste sentido, o debate e a difusão do população em relação às formas urbanas e à
conceito de paisagem vêm favorecendo a paisagem contribui acrescentando aspectos que
formulação de políticas públicas mais abrangentes escapam ao olhar técnico, surpreendendo quanto
em termos de escala territorial e da identificação ao interesse em conservar o ‘novo’, e alertando
de bens materiais e imateriais a serem mantidos. sobre a necessidade de transformar o ‘antigo’ para
Besse (2006) auxilia esta compreensão abordando viabilizar o uso.
a percepção da paisagem diante de um panorama A complexidade da questão exige então, que a
histórico. Roger (2000) desafia a ideia de decisão final, institucional sobre a transformação
paisagem contemporânea, admitindo nesta, a e permanência das formas urbanas, possa
inserção da tecnologia, des-romantizando a considerar o saber técnico e o popular, sendo vital
questão, ao mesmo tempo em que mantém o inserir sobre a abordagem histórica, reflexão
conceito associado à estética. A surpresa no sobre os valores da cultura contemporânea.
âmbito institucional foi a recente titulação do Rio
de Janeiro, pela UNESCO, como Patrimônio
Cultural da Humanidade, na categoria Paisagem Referências
Cultural, sendo o primeiro ambiente urbano a
receber tal título. A área envolve parte da cidade, Arantes, O. B. F. (1998) Urbanismo em fim de
da baía de Guanabara e da cidade vizinha de linha (EDUSP, São Paulo).
Niterói, sendo ampla o bastante para favorecer a Besse, J. M. (2006) Ver a terra: seis ensaios
inclusão de elementos e conjuntos arquitetônicos, sobre a paisagem e a geografia (Perspectiva,
urbanísticos e paisagísticos de importância, como São Paulo).
também para tornar mais complexa a Cullen, G. (1983 [1961]) Paisagem urbana
identificação do que pode se transformar e do que (Martins Fontes, São Paulo).
deve permanecer. Harvey, D. (2008) O neoliberalismo: história e
Uma contribuição à questão sobre a implicações (Edições Loyola, São Paulo).
transformação e permanência de formas urbanas, Lynch, K. (1980 [1960]) A imagem da cidade
pode ser encontrada em estudo que se propôs a (Martins Fontes, São Paulo).
estruturar um método de análise e construção da Mendonça, E. M. S. (2005) ‘Instrumentos para
paisagem (Mendonça, 2005), recentemente ocupação urbana em favor dos referenciais da
adotado no Plano de Preservação da Paisagem da paisagem’, XI Encontro Nacional da
Área Central de Vitória, capital do Espírito Santo, Associação Nacional de Pós-graduação e
Perspetivas 125
Referências
Johann Wolfgang von Goethe criou o termo das plantas (Goethe, 1993 [1790]) –, o método
‘morfologia’ para designar a ciência ou doutrina morfológico continha em si uma relativa
da observação da forma. Mas porque as formas, autonomia científica, tendo a capacidade de ser
em especial as formas orgânicas, nunca se aplicável em várias áreas disciplinares, caso da
encontram paradas ou terminadas, estando em biologia, da geologia, ou mesmo da linguística.
permanente movimento incessante, na Por via da geografia, a morfologia chegou aos
morfologia, a forma devia ser tomada ‘apenas estudos das formas produzidas pelos seres
como ideia, como conceito ou uma coisa humanos no espaço físico. A análise promovida
identificada na experiência unicamente por um sobre as formas geológicas seria adaptada às
instante’, interessando, pois, a dimensão dinâmica formas construídas. Ademais, ao considerar os
das ações de formação e de transformação espaços urbanos (as cidades) como ‘organismos’,
(Goethe, 1993 [1817], pp. 68-69). como ‘seres vivos’ em estreita simbiose com o ser
Ainda que o mote inicial tenha sido a forma humano, as formas urbanas encaixavam-se
dos seres vivos, em especial os da botânica – perfeitamente no objeto morfológico ‘goethiano’.
consequência do trabalho sobre a metamorfose Logo, para se estudar a forma dos espaços
128 Perspetivas
urbanos ter-se-ia que fazer o exame da forma da expressão de Frederic William Maitland (1889,
existente confrontando-a com a(s) forma(s) p. 235), os documentos cartográficos tornavam-se
precedente(s). O cotejo dos dados históricos e the most wonderful of all palimpsests.
cartográficos levou à constatação de um No texto fundamental, Vecchie città ed
fenómeno particular: algumas marcas do passado edilizia nuova, Gustavo Giovannoni não deixou
eram visíveis nas plantas urbanas recentes. Com a de ratificar a ‘lei’ de Lavedan. Contudo, o
proliferação dos eventos observados, este conhecimento aprofundado do desenvolvimento
fenómeno converteu-se em paradigma disciplinar. urbano da cidade de Roma, fomentado pelos
Deve-se, contudo, a Pierre Lavedan a vários estudos históricos e arqueológicos
enunciação da loi de persistance du plan, existentes, levou-o a fazer uma outra ilação. Com
estabelecida na sua tese complementar de os seus vinte e sete séculos de vida, Roma tinha
doutoramento defendida em 1926, a qual saiu sofrido várias transformações formais, onde as
publicada no mesmo ano em duas edições em diversas ‘cidades’ anteriores estariam sobrepostas
tudo iguais ainda que com títulos diferentes: umas nas outras, como camadas, por baixo da
Introduction a une histoire de l’architecture ‘cidade’ atual. Roma constituía-se, então, como
urbaine e Qu’est-ce que l’urbanisme (Lavedan, um vero palinsesto (Giovannoni, 1931, p. 49).
1926a; 1926b). Para Lavedan, a sua ‘lei Daí que para Giovannoni a metáfora aplicava-se
científica’ era, senão universal e absoluta, pelo não à representação, mas ao próprio objeto de
menos aplicável à maioria dos casos, mas cuja estudo: a cidade.
‘demonstração’ suportou-se apenas pelo A analogia seria, portanto, direta: a forma da
raciocínio abdutivo de algumas evidências planta urbana era considerada como um texto,
observadas no terreno, ao mesmo tempo que sendo o seu suporte o espaço físico do terreno tal
apresentava a sua proposta metodológica de como o pergaminho era para o texto; e tal como o
utilizar os documentos cartográficos no estudo texto original, que tinha sido apagado ou raspado
retrospetivo da forma da planta urbana. Note-se e substituído por outro, também as
que, para Lavedan, o objeto de estudo da art transformações urbanas apagavam a forma da
urbain era, fundamentalmente, o desenho planta urbana original substituindo-a por outra; os
planimétrico das cidades. vestígios deixados no suporte possibilitavam,
A ‘lei’ fundamentava-se nos seguintes então, o conhecimento e, por vezes, a leitura
argumentos: sempre que numa cidade não parcial dos textos ou das formas planimétricas
existissem ações urbanísticas sistemáticas e destruídas. Por definição, a continuidade formal
dirigidas por forças maiores, a continuidade da da planta urbana seria interrompida, pois, tal
vida urbana ou a reconstrução espontânea não como num palimpsesto, os diferentes textos não
originava modificações significativas na forma da se liam sincronicamente, nem o texto antigo tinha
planta urbana, podendo-se, assim, utilizar os qualquer correspondência ou influenciava o texto
documentos cartográficos recentes ou antigos recente.
como fonte de pesquisa para o conhecimento das Com efeito, se as evidências materiais
formas das plantas urbanas passadas; se, pelo provindas das escavações arqueológicas
contrário, as intervenções produzissem confirmavam muitas vezes a manutenção das
transformações radicais na forma da planta formas indeléveis ao longo do tempo (Pinon,
urbana, a data dos eventos seria utilizada para 2001), não deixaram também de corroborar, em
validar a informação dada pelo documento muitos outros casos, a completa alteração das
cartográfico. Teoria e método entrecruzavam-se. plantas urbanas (Hurst, 1971). O palimpsesto
Tal como o ‘princípio ou lei da continuidade’ urbano tornava-se, identicamente, num paradigma
firmado na expressão latina natura non facit disciplinar. Os estudos arqueológicos que
saltus, largamente presente no vocabulário da utilizavam como fonte de inquirição a fotografia
filosofia e da ciência ocidental e base de reflexão aérea (oblíqua ou vertical) – por recuperar
de diferentes teorias, também a ‘lei da numerosos detalhes formais perdidos na
persistência do plano’ tornou-se num processo representação cartográfica e cuja potencialidade
heurístico da morfologia urbana de vertente era claramente extensível às formas urbanas
histórica. Rapidamente, a ‘persistência’ passou a (Chevallier, 1970) –, contribuíram largamente
ser considerada como a característica fundamental para esta posição. E tal ficou-se a dever ao
das formas urbanas planimétricas e a tarefa de método utilizado na datação das formas
descobrir as ‘formas antigas’ numa das mais planimétricas. Inspirado diretamente na
ativas. A potencialidade deste conhecimento era cronoestratigrafia da geologia, o exame às
dupla: identificar as ideias urbanísticas originais e relações espaciais de sobreposição ou
desenhar esquemas ou reconstituições hipotéticas dependência das formas permitia obter uma
da ocupação inicial / planeada. Regressivamente, cronologia relativa e a inserção de elementos
pela planta atual chegava-se à planta primordial. datados naquela possibilitava a sua conversão em
Assim, e como lembrou Lavedan, ao socorrer-se cronologia absoluta. A metáfora do palimpsesto
Perspetivas 129
As cidades europeias fazem face à urgência de através da possibilidade destes, através de uma
reabilitar o seu edificado, processo esse que exige ferramenta computacional, poderem personalizar
uma intervenção adequada devido quer à idade de a sua solução de projeto (Eloy e Vermaas, 2014).
construção dos edifícios quer à necessidade de Dada a grande dimensão do parque edificado
rever o seu uso fazendo-os responder às existente e a necessidade de o reabilitar para estes
necessidades atuais. Neste artigo irei referir-me novos grupos da sociedade, é aqui argumentado
em particular à problemática das cidades que que o uso de sistemas gerativos de projeto,
tiveram grandes desenvolvimentos urbanos nos nomeadamente gramáticas de forma, permitem a
séculos XIX e XX e que, durante esses períodos, elaboração de propostas de intervenção
construíram largas extensões de edificado urbano, personalizadas de acordo com o cliente /
nomeadamente habitação que, fazendo parte do utilizador e fazem-no de modo eficaz, rápido e
parque edificado regular ou de acompanhamento, com custos reduzidos para este.
não constituem geralmente, por si, casos eruditos A utilização de gramáticas da forma enquanto
de arquitetura. Pela sua idade e consequente sistema de projeto de arquitetura num contexto de
estado de construção, assim como com o intuito reabilitação habitacional permite a definição de
de responder às exigências técnicas e padrões de propostas de transformação dos apartamentos de
vida atuais, é necessária uma intervenção nestes modo a ir de encontro às necessidades de cada
edifícios que pode ir desde a demolição à sua habitante, cumprindo princípios de projeto
reabilitação. A reabilitação do edificado traz comuns. As gramáticas da forma são sistemas de
grandes vantagens à cidade, quer em termos de geração que se baseiam na aplicação sucessiva de
sustentabilidade ecológica, já que menos recursos regras de forma, de modo a criar um grande
são consumidos, quer social, visto que permite número de soluções de desenho (Figura 1). Uma
combater a gentrificação e manter a população gramática contém regras de forma, um
residente criando ainda maior diversificação na vocabulário de formas e relações espaciais entre
oferta (Semes, 2009). elas e inicia-se pela aplicação de uma regra a uma
Simultaneamente ao envelhecimento dos forma inicial. As gramáticas de transformação
edifícios assistimos a grandes alterações direcionam este processo de geração para a
demográficas como o próprio envelhecer da transformação de formas existentes em vez de
população europeia que levará num futuro formas novas. Numa gramática de transformação
próximo à necessidade de criar mecanismos que do edificado existente, parte-se de um
permitam que os idosos permaneçam nas suas apartamento existente (por exemplo, de uma
casas a viver autonomamente sem necessitar de planta do apartamento) e aplicam-se
optar por residências especializadas. Por outro sucessivamente regras de forma para que seja
lado, a estrutura tradicional da família que incluía definida uma ou mais soluções que cumpram os
um homem, uma mulher e filhos não é aquela que critérios definidos inicialmente.
hoje mais representa as cidades. A nova realidade Cidades como a de Lisboa tiveram diversos
de coabitação é muito diferente daquela para a períodos de extensa construção de edifícios de
qual a maioria do parque habitacional existente habitação e que agora são identificados como
foi projetado e construído, e esta diferença tem tipos. Em outras cidades europeias o fenómeno de
grandes consequências na dinâmica dos bairros. construção foi idêntico e estas detêm também
O foco deste artigo é a reabilitação desse grandes conjuntos de habitação multifamiliar,
conjunto de edifícios comuns de habitação que definidos como tipos, que as caracterizam.
surgem em grande número em cidades como Exemplos disso são, em Londres os blocos de
Lisboa. Propõe-se uma abordagem para a casas Victorianas, em Amesterdão e Roterdão os
renovação das cidades europeias através da edifícios de apartamentos de Berlage e em Paris
reabilitação do seu parque habitacional usando as os de Haussman (Firley e Stahl, 2009). Estes tipos
gramáticas da forma. Esta abordagem apresenta- têm características próprias que os definem como
se como um modo economicamente viável de tal. Uma gramática de transformação é geral no
reabilitar as cidades mantendo o seu tecido social sentido em que define princípios de
e permitindo dar algum poder aos habitantes transformação gerais para todo o edificado da
Perspetivas 131
à ausência de alterações. Isto é, o Tempo permite- nos numa breve análise às ‘regras’ e às
nos perceber o período decorrido entre dois ou ‘propriedades’ da forma urbana, procurando
mais momentos de um determinado facto, contribuir para um melhor entendimento dos
permitindo-nos assim ordenar de forma processos de transformação e permanência das
sequencial os processos de transformação da formas urbanas. A análise que aqui se resume
forma urbana, possibilitando uma cronologia para resulta dos resultados obtidos de uma
os factos registados. O uso do tempo permite-nos investigação sobre forma urbana, realizada pela
enriquecer o conhecimento sobre os processos de autora desta ‘perspetiva’, nomeadamente na sua
transformação e de permanência das formas Tese de Doutoramento em Arquitetura com o
urbanas, uma vez que nos permite exercícios de título The sustainable urban form. A comparative
análises comparativas entre o antes e o depois, study in Lisbon, Edinburgh and Barcelona
entre o hoje e aquilo que já foi, mas também entre (Marat-Mendes, 2002) na School of the Built
distintas ações que possam ter ocorrido num Environment da University of Nottingham, sob a
mesmo período temporal. A grandeza física que orientação de Ernie Scoffham.
mede o tempo pode variar entre o segundo, as Vejamos em seguida o significado das regras e
horas, os dias, os anos, os séculos ou até os das propriedades da forma urbana, às quais se
milénios, sendo primordialmente determinada atribui aqui uma importância estratégica para o
pelo interesse específico da análise dos factos estudo do comportamento da forma urbana e que
urbanos em questão. por conseguinte julgamos ter repercussão direta
Feito este breve enquadramento sobre a no entendimento dos próprios processos de
importância da História para a leitura dos transformação e permanência das formas urbanas.
processos de transformação e de permanência das Entenda-se por regras da forma urbana os
formas urbanas, não podemos todavia deixar de princípios ou as normas que determinam as
registar duas obras de referência para o assunto propriedades físicas da forma urbana. Isto é, são
em análise, nomeadamente, as obras The city as regras que determinam os elementos físicos da
shaped. Urban patterns and meanings through forma urbana. Incluem-se nestas regras as opções
history e The city assembled. The elements of de desenho impostas à forma urbana e que
urban form through history, de Spiro Kostof integram o seu dimensionamento, a sua área, o
(1991, 1992) que nos permitem, de uma forma seu perímetro, a sua materialidade e o seu
abrangente, elucidar acerca dos processos de desenho ou aspeto formal. Estas regras são
transformação da forma urbana, desde a sua determinadas por aqueles que tem um papel
evolução aos dias de hoje, para diferentes direto: i) na solução do desenho dessa forma
momentos temporais e espaços geográficos urbana (solução de forma urbana por via da
diferenciados. Complementarmente, estas obras faculdade criativa do desenho); e ii) nas
oferecem-nos uma apreciação do autor acerca dos orientações legais, políticas ou económicas que
diversos elementos que foram compondo as geram o próprio planeamento urbano e que
diversas formas urbanas em análise, ao longo do determinam legalmente os regulamentos que
Tempo. Seguramente, várias outras publicações condicionam os tecidos urbanos (solução de
nos permitirão exercícios de análise semelhantes forma urbana por via de mecanismos legais mas
ou até complementares, no entanto a abordagem omissa do ato criativo do desenho).
histórico-cronológica oferecida por estes dois Entenda-se por propriedade da forma urbana
trabalhos enaltece seguramente a mensagem que uma qualidade intrínseca à forma urbana que
aqui procuramos transmitir. determina o ‘tipo’ de transformação que ocorre
Identificado também o Tempo como um dos nessa mesma forma urbana. A forma urbana
principais elementos de suporte à identificação responde a processos de transformação que não
dos processos de transformação e permanência são sempre idênticos entre si. Detalhemos de
das formas urbanas, torna-se agora necessário seguida que propriedades das formas urbanas nos
focar a nossa atenção nos próprios processos de permitem então ler de forma sistematizada esses
transformação da forma urbana. Isto é, para além diferentes ‘tipos’ de transformação.
do reconhecimento da existência desses processos Conforme referido por Marat-Mendes (2002)
de transformação interessa também perceber de são quatro as propriedades possíveis para avaliar
que forma é que essas mesmas transformações ou o comportamento da forma urbana em termos
permanências da forma urbana ocorrem. da sua transformação, nomeadamente a
Tomemos agora a forma urbana como o objeto ‘adaptabilidade’, a ‘continuidade’, a
de estudo central da presente análise. Procuremos ‘flexibilidade’ e a ‘resiliência’. Cada uma destas
agora focar a nossa atenção nas propriedades propriedades incorpora distintos comportamentos
específicas que a forma urbana incorpora em si e ou tipos de transformação da forma urbana, que
que proporcionam a ocorrência de determinados podem não ser necessariamente de ordem física
processos de transformação ao longo do Tempo. (onde se inclui o desenho, a forma e a
Nesse sentido, convidamos o leitor a acompanhar- materialidade) mas que podem também integrar
134 Perspetivas
Indicadores visuais
Anastássios Perdicoúlis, CITTA, Centro de Investigação do Território, Transportes e
Ambiente, Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto, Rua Dr. Roberto Frias,
4200-465 Porto, Portugal; Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Apartado
1013, 5001-801Vila Real, Portugal. E-mail: tasso@fe.up.pt, http://systemsplanning.org
processar), comparar, ou ‘validar cientificamente’ atribuidas e quais são os caminhos causais? Tudo
mantendo toda a sua essência. isso contrasta com a utilização de fotografias de
Mesmo assim, eventualmente, nenhum casas fechadas, com janelas bloqueadas, mas sem
cientista iria rejeitar diretamente a evidência querer provocar emoções – se tal for possível. Os
visual por não seguir exatamente as normas do cientistas não podem imaginar, mas podem
paradigma científico. Verdadeiramente, não é formular hipóteses, que é um outro tipo de
fácil desenhar experiências científicas, completas liberdade. Mesmo assim, é muito difícil encontrar
com cidades ou bairros de controlo (control modelos mentais em trabalhos científicos
groups), baseadas nas indicações visuais explicitamente apresentados – por exemplo, o
recolhidas – mesmo se as trajetórias dos percursos raciocínio usado na formulação de uma hipótese.
fossem metodicamente tracejadas, seguindo No paradigma científico corrente só a examinação
critérios rigorosos sobre a aleatoriedade das da hipótese tem valor (Popper, 2002).
amostras e sobre a necessidade de obter um De qualquer modo, observações visuais e
grande número de amostras. É difícil ‘provar’ indicadores constituem uma realidade sui generis,
algo cientificamente, meramente com base na que é frequentemente vinculada num domínio
evidência visual. Mas existem formas de usar os diferente, devido à separação centenária entre
indicadores visuais para obter dados ciência e arte (Rashdall, 1895). A íntima
cientificamente válidos – por exemplo, contagens colaboração entre os paradigmas baseados em
de observações, áreas de amostragem – por dados numéricos versus evidência visual é uma
seleção ou conversão, mesmo que isso reduza, ou consideração a resolver no futuro – talvez tão
até elimine, o significado da informação. importante como a transparência dos modelos
É geralmente aceite que não há uma obrigação mentais e da formulação de hipóteses.
científica de os cientistas partilharem os seus
modelos mentais. Seria uma grande desilusão
criar expectativas e ver explicitamente, ou
verificar, o modo como as indicações visuais são Referências
convertidas ou usadas na sua versão numérica.
Por exemplo, qual é o grau de ‘realidade’ que é Perdicoúlis, A. e Glasson, J. (2011) ‘The use of
transmitida por ‘30% das residências uni- indicators in planning – effectiveness and risks’,
familiares têm janelas bloqueadas’ ao grupo de Planning Practice & Research 26, 349-67.
estudo científico sobre o declínio urbano, e Popper, K. (2002) The logic of scientific
exatamente em que sentido? Quais são as discovery (Routledge, Londres).
implicações a extrair e qual é o raciocínio Rashdall, H. (1895) The universities of Europe in
envolvido nesse processo? Quais são as causas the Middle Ages (Clarendon Press, Oxford).
Conselho Científico
85 E. Barbosa e P. Fernandes
Formas espontâneas e induzidas: comparando São Paulo, Jacarta, Hanoi e Belo Horizonte
Perspetivas
123 Transformação e permanência de formas urbanas: uma contribuição metodológica E. M. N. Mendonça
125 Porque importa a morfologia urbana? I. Samuels
127 Persistências, ruturas, dinâmicas: paradigmas dos estudos históricos de forma urbana S. M. G. Pinto
130 Estratégias para a renovação do edificado através das Gramáticas de Forma S. Eloy
132 Adaptabilidade, continuidade, flexibilidade e resiliência. Algumas considerações sobre as propriedades das
formas urbanas T. Marat-Mendes
134 A forma física das cidades – uma análise do contributo luso-brasileiro para o debate internacional
C. Monteiro
136 Indicadores Visuais A. Perdicoúlis
Relatórios
102 Rede Lusófona de Morfologia Urbana (PNUM), 2014-15 T. Marat-Mendes
103 1st Symposium of the Turkish Network of Urban Morphology, Istambul, 2015 T. Ünlü
121 4ª Conferência da Rede Lusófona de Morfologia Urbana, Brasília, 2015 S. A. P.Costa
Notícias
84 Urban Morphology
122 2º Workshop PNUM
137 ISUF Conference 2016: Urban morphology and the resilient city
138 PNUM 2016: Os espaços da morfologia urbana