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Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande
Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande
ISSN: 2178-1486 • Volume 3 • Número 9 • março 2013
Edição Especial • Homenageada
PROFESSORA DOUTORA MARIA LUIZA BRAGA
RESUMO: O objetivo deste trabalho é o de apresentar nossas análises a respeito do uso de marcadores
discursivos (doravante MDs) pelos participantes do programa “Manos e Minas” de 20/09/2009 e das
relações desses usos com os tipos de sequências textuais nas quais os MDs estão inseridos. Em nossas
análises, consideramos os estudos sobre os MDs desenvolvidos na perspectiva textual-interativa
(URBANO, 1999; RISSO et al., 2006; GUERRA, 2007; PENHAVEL; 2010). Primeiramente,
observamos que o apresentador do programa faz largo uso de sequências dialogais (ADAM, 2008) e de
MDs interacionais, o que reforça tanto o caráter interativo do programa como o caráter cooperativo e
colaborativo das interações no interior desse evento comunicativo. Os MDs interacionais, além de
estarem presentes de forma significativa na fala do apresentador - que desenvolve sobretudo sequências
descritivas e dialogais – também são usados nas sequências explicativas, argumentativas e narrativas
produzidas pelos convidados do programa. A emergência dos MDs interacionais em outros tipos de
sequências textuais pode ser explicada pelo fato de essas sequências serem desenvolvidas em longos
turnos de fala. Por fim, tanto os MDs interacionais como os sequenciadores parecem desempenhar um
papel fundamental na estruturação dos microtextos do programa. Em muitos momentos, apesar de
ocorrerem no programa mudanças de situação comunicativa e de participantes, o mesmo tópico continua
a ser desenvolvido. Sendo assim, consideramos que tanto a centração em um tópico discursivo (JUBRAN
et al, 2002) como o uso dos MDs auxiliam na construção de uma estrutura composicional para o
programa e também colaboram para a coesão textual.
PALAVRAS-CHAVE: Interação Verbal; Sequências textuais; Marcador discursivo; Programa “Manos e
Minas”.
1. Introdução
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Para isso, serão expostas, ainda que brevemente, as discussões sobre a noção de
texto (BEAUGRANDE E DRESSLER, 1981; BEAUGRANDE, 1997; KOCH, 2002),
de sequências textuais (ADAM, 2008; PASSEGGI et al., 2010) e de MDs (RISSO et
al., 2001; GUERRA, 2007; PENHAVEL, 2010). Além disso, serão evocadas algumas
informações acerca das características e da trajetória do Programa “Manos e Minas”
(GRANATO, 2011), na tentativa de fornecer uma maior contextualização do dado
selecionado.
1
Mariano (2012), no escopo do referido projeto de pesquisa, desenvolveu análises do uso dos MDs por
parte de um sujeito em diferentes situações comunicativas postulando que os MDs constituem um lócus
de manipulação estilística.
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2. Fundamentação teórica
Uma vez norteados por tal compreensão de texto, será possível melhor observar
a complexidade da estruturação composicional ou superestrutural do programa “Manos
e Minas”.
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Ainda que seja possível falarmos de textos formados por uma única sequência,
“a situação mais habitual é o encadeamento de várias sequências, que pode acontecer de
duas formas: entre sequências do mesmo tipo (homogêneas) ou, mais comumente, de
tipos diferentes (heterogêneas)”, apresentando, no entanto, uma composição que se
determina como dominante. Isso faz com que seja possível falarmos de textos
predominantemente narrativos, descritivos, argumentativos, explicativos ou dialogais,
apesar da presença de sequências de vários tipos.
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Sob esse mesmo viés, Martelotta (2004), que dedicou vários anos de pesquisa
aos MDs de um ponto de vista histórico, considera que os MDs apresentam funções
relacionadas a estratégias no processamento de fala no contexto de improviso e também
à indicação dessas estratégias para o ouvinte.
Além de sua função de sequenciador tópico, Risso et al. (2006) levantam outra
função dos MDs: a de orientação da interação. Os autores propõem um núcleo-piloto de
propriedades definidoras dos MDs, segundo o qual os MDs são (i) elementos exteriores
ao conteúdo proposicional à medida que operam no plano da atividade enunciativa e
não no plano do conteúdo; (ii) unidades independentes sintaticamente na estrutura
oracional e (iii) comunicativamente não-autônomos na medida que sofrem uma perda
parcial de sua transparência semântico-referencial.
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musicais); (ii) atores sociais na plateia (grupos de ONG‘s, escolas, projetos sociais etc.);
(iii) gêneros multissemióticos e multifuncionais (quadros de entrevistas e de reportagens
cujos temas de interesse do público do programa são trazidos à discussão no auditório
pelo apresentador, quando do término da exibição).
Granato (2011) também afirma que o programa “Manos e Minas” apresenta uma
constituição híbrida, já que é repleto de diferentes formatos elencados como sucessivos
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quadros: reportagens, debates, videoclipes, apresentações, dentre tantos outros. Por fim,
uma das conclusões do trabalho da autora é a de que o “Manos e Minas”, em vista das
temáticas presentes, não se caracteriza por ser apenas um programa televisivo de
entretenimento, tal como assinalam Tinhorão (1981) e Aronchi de Souza (2004), mas
atua, então, como um formador de opinião sobre várias temáticas sociais.
Para dar conta de uma caracterização inicial de aspectos textuais da amostra por
nós selecionada do conjunto de programas que compõem o corpus do projeto “É nós na
fita: a formação de registros e a elaboração de estilos no campo da cultura popular
urbana paulista” – o programa “Manos e Minas” de 20/09/2009 -, observaremos o
desenvolvimento das sequências textuais e o uso dos MDs. Como trabalharemos com
sequências textuais (ADAM, 2008), organizamos a apresentação das análises
considerando os tipos de sequências desenvolvidas ao longo do programa: descritivas 3,
dialogais4, explicativas5, narrativas6 e argumentativas7. Procuraremos, então, não apenas
caracterizar como são desenvolvidas essas sequências, mas também observar quais os
MDs usados e suas funções em cada tipo de sequência. Esse tipo de análise permitirá, a
nosso ver, uma primeira proposta de tipificação do registro do programa em termos
textuais-discursivos.
3
As sequências descritivas estão digitadas em Cambria 10.
4
As sequências dialogais estão digitadas em Courier New 10.
5
As sequências explicativas estão digitadas em Arial Narrow 10.
6
As sequências narrativas estão digitadas em Candara 10.
7
As sequências argumentativas estão digitadas em Garamond 10.
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natural a conversação' (ADAM, 2008, p. 249).” Além das saudações, essas sequências
abrangeriam também intercâmbios de abertura e de fechamento e consequentes
avaliações.
TH e como a gente sabe que a arte sempre tem lutado e ajudado a combatê(r) a violência e a
ignorância em si...um pouco mais de GOG pra todos nós (es)tá certo? agora eu
vô(u) assistí(r) dali... daquele lado... pode sê(r)? posso
chegá(r) até aí? muito obrigado... eu vô(u) ali... certo?9 GOG
com vocês aqui no manos e minas... mas cadê o barulho pra ele
43
[porque ele merece]
43
PL [((palmas, gritos e assobios))]
((GOG começa a cantar “Brasil com P” 45’29’’ – 49’44’’))
TH 44
[grande GOG... poeta GOG no manos e minas...e é o seguinte hein?...
daqui a pouco a gente vai chegá(r) e trocá(r) mais uma idéia... vamo(s) chamá(r) mais
GOG]... e também Ferrez batendo aquele bolão com Juca Kfouri... então não saia
daí que já já a gente volta... vamo(s) que vamo(s)
44
PL [((aplausos, gritos e assobios))] o som não pode pará(r)
TH é bom demais... é isso aí
((vinheta - intervalo))
((vinheta – retorno do programa))
45
TH [muito bem... é: muito bem... manos e minas está de volta no
ar].... depois desse pequeno intervalinho ... a gente continua
se divertindo aqui...não é verdade? não é verdade? não é?
8
A ausência de sequências dialogais se dá apenas nos casos da (i) reportagem de orientação social sobre
o tema “Violência na escola” e da (ii) entrevista com participantes da plateia, repercutindo a reportagem.
9
No trecho dialogal em questão, reconhecemos que a fala do apresentador Thaíde, por envolver o
acompanhamento da ação desempenhada pelo apresentador, aproxima-se também de uma descrição.
Nesse caso, embora a dualidade nos faça pensar sobre os limites entre a caracterização formal dessa
sequência e sua função como um todo, acreditamos destacar-se ainda a função dialogal: isso, tendo em
vista o fato de que, nesse momento, o apresentador aponta para os integrantes da plateia e lhes dirige o
olhar ao longo de sua fala, fazendo com que, a nosso ver, a função interacional – e, portanto, dialogal -
predomine nesse caso.
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PL [((palmas, gritos e assobios))]
TH chega aí...como é que (es)tá? ((Thaíde cumprimenta o trio)) qual o seu nome?
VI é Vitor
(...)
TH (es)tá bom... da onde vocês são... (es)tão representando?
VI (es)tô(u) representan(d)o o 29[Guttemberg aí... Zona Norte é nóis]
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Em relação a esse tipo de sequência que se caracteriza, entre outras coisas, por
ter o enfoque em uma ação - no caso, interacional- e não em um tópico concernente,
nossa hipótese era realmente encontrar um maior número de MDs interacionais que
reforçariam o caráter interacional dessas sequências. Essa hipótese se confirmou quando
quantificamos os MDs. Encontramos um grande número de MDs com função
interacional (73%) sendo usados nas sequências de abertura e fechamento da interação
(ADAM, 2008):
Além das sequências dialogais, outro tipo de sequência bastante usada ao longo
do programa são as descritivas. Caracterizando o “repertório de operações” que gera a
sequência descritiva, Adam (2008a apud PASSEGGI et al, 2010) chama a atenção para
as quatro macro-operações de construção da sequência descritiva: tematização, que se
dá pela demoninação, apresentação do objeto; aspectualização, que consiste na seleção
10
As tabelas contêm o número total dos MDs usados no programa, e não apenas daqueles que podem ser
observados nos exemplos recortados.
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Além de aparecerem nos momentos de apresentação de temas ou de pessoas, essas sequências também
são usadas em um momento de entrevista. O grafiteiro convidado, Ricardo AKN, ao ser questionado
sobre o processo de criação e produção do seu quadro (“como é que foi?”), desenvolve sequências que
descrevem esse processo.
12
A noção de situação comunicativa aqui presente se baseia em Gumperz (1982), para designar os
espaços nos quais os sujeitos mobilizam informações subjetivas (contexto cognitivo) e propriedades
sociais (representações e definições da interação em curso, ou os chamados “enquadres”); tal acepção
carrega a ideia de que os sentidos são sempre negociados e, portanto, situados nas interações. Exemplos
de situações comunicativas no programa são os debates, as apresentações, os videoclipes, as reportagens,
as entrevistas, as interações com a plateia e outros.
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TH [muito bem...muito bem...é assim que tem que sê(r)...]nós
estamos de volta com manos e minas... todo mundo aqui se divertindo...
é ou não é? é ou não é?
PL ((palmas, gritos e assobios))
TH se não não tem graça... bom... é o seguinte...nós estamos em ligação direta com vocês...
com que assiste o manos e minas... e vamo(s)s lê(r) agora alguns emails que vocês
mandaram pra gente aqui... certo? mas vô(u) lê(r) do meu jeito pode sê(r)? muito
obrigado... tem o Daniel Jonathan... ele diz o seguinte... ele é lá do Ceará... –“mando um
salve aí pra galera que (es)tá ligada no programa véi certo?
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Quanto aos MDs textuais, o “então” não é tão produtivo nas sequências
descritivas quanto o é nas dialogais. Os MDs com uso mais expressivo são “e” e “mas”.
Porém, “(...) o mas marcador não explicita relações de contraste entre orações
(adjacentes ou não): as sequências que ele introduz não expressam ideias opostas às de
alguma oração antecedente. Sua atuação se dá somente no sequenciamento e na
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Nesse exemplo de Duque (2008), fica clara a atuação do mas na organização tópica:(172) Isso varia de
prédio pra prédio... né... alguns prédios não usam porteiro durante a noite... então as pessoas usam
chave da portaria.. né?... mas nesse aqui tem porteiro de noite... ele fica ... aliás uma maldade... que a
portaria não está pronta ainda e o velhinho fica em pé a noite inteira encostado aqui nas... nas pilastras
do edifício... dá uma peninha... dá vontade de pegar uma cadeira e dar pro homem sentar... (NURC –
DID 084). O informante, após discorrer sobre o fato de os prédios do Rio de Janeiro possuírem ou não
porteiros, passa a falar especificamente do prédio em que reside, ou seja, não há uma relação de contraste,
mas uma progressão tópica.
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RA, como especialista que é, elabora um breve panorama inicial, versando sobre
a existência do problema da “violência nas escolas”, para em seguida, com a ajuda da
pergunta instaurada pela repórter CG, produzir informações subsequentes que são
construídas como possíveis causas para o problema (“quando você não coíbe essas
pequenas violência... e isso as nossas pesquisas mostram... elas vão se desdobrando em
violências cada vez mais graves”); ao final, o especialista esboça possíveis soluções
para a questão (“você monitorando e você ensinando essa criança a lidar com
conflito”).
Esse uso equilibrado dos MDs ocorre, a nosso ver, em função do fato dos MDs
sequenciadores serem fundamentais para dar prosseguimento ao panorama que requer
explicação e esclarecimento sobre o assunto.
Além disso, vemos que durante a utilização dessas sequências, não ocorrem
tantas alternâncias de turnos de fala, sendo estes mais extensos, de modo que o emprego
de MDs interacionais apenas do tipo checking e não dos outros tipos, conforme é
possível visualizar na tabela, pode estar relacionado ao fato de os falantes desejarem se
sentir “habilitados para dar prosseguimento a seu discurso”. (GUERRA, 2007, p. 62).
Ainda de acordo com a autora, “
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No que diz respeito às sequências narrativas, Passeggi et al. (2010) lembram sua
função de expor um fato estruturado como “evento” ou “ação” e afirmam que “as
diferentes formas de construção da narrativa dependem de seu grau de 'narrativização',
ou seja, de sua complexidade narrativa”. Assim, o mais alto grau de narrativização
expressaria 5 macro-proposições que podem ser entendidas como: uma situação inicial
de orientação; um nó desencadeador; uma re-ação ou avaliação; um desenlace ou
resolução e uma situação final.
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Além dos MDs com função sequenciadora, podemos observar também que os
participantes do programa fazem um uso significativo de MDs com função interacional,
principalmente aqueles com função checking. Isso ocorre, a nosso ver, pelo fato das
sequências narrativas serem desenvolvidas em longos turnos pelos falantes, assim como
ocorre no caso das explicativas.
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povo da periferia”. Isto se confirma a partir do momento em que esses convidados têm a
possibilidade de relatar suas experiências vividas, como pode ser visto no exemplo
apresentado.
14
Como descreve Granato (2011), o quadro Interferência é exibido quinzenalmente no programa e “é
apresentado pelo escritor Ferréz, morador da região do Capão Redondo, [que] entrevista artistas,
escritores e representantes de comunidades da cidade; apontando tendências e discutindo temas atuais
concernentes à política, à diferença social, ao preconceito, dentre outros” (p. 93).
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FE essa coisa da copa da CBF aqui no Brasil... quem que vai ganhá(r) com essa copa
da CBF?
JK ah:: ... vão ganhá(r) com a copa os cartolas que (es)tão organizando... os empreiteiros... algumas
agências de propaganda... essa gente que vai ganhá(r)... e evidentemente nós vamo(s)(s) pagá(r)...
eles dizem que tudo vai sê(r) feito por iniciativa privada... que não vai entrá(r) um tostão do
dinheiro público pra fazê(r) estádio... só que aí acontece como aconteceu nos jogos pan-
americanos do Rio de Janeiro... começa a atrasar... começa a atrasar... começa atrasar... enfia a faca
no peito do governo... diz –“o:: vai sê(r) uma vergonha... nós vamo(s) ter que desistí(r)”... aí a
viúva paga... vão tomá(r) o nosso dinheiro pra fazê(r) a copa...vão fica(r) mais ricos... e o povão
não vai vê(r) a copa a não sê(r) na televisão
FH copa do mundo é caríssima é?
JK claro... copa do mundo é pra elite... copa do mundo não é pro torcedor comum... que
vai ao Pacaembu... (mostra alguém falando –“(es)tá feia a situação né meu?”))...o futebol
é um negócio caro... jogador ganha o que ganha... treinador ganha o que ganha... você
tem aí os Luxemburgo da vida que (es)tá ganhando quinhentos... seiscentos... setecentos
pau por mês o que é um absurdo ((mostra alguém falando –“todo mundo quer saber
quanto eu ganho né?”))... se você pensar... um moleque que sai duma favela e que vira
ídolo do Barcelona... que passava fome e que passa a ganhar um milhão de euros por
mês né?... esse cara... se não tiver uma baita de uma estrutura esse cara vai... esse cara vai
pirá... porque não segura a cabeça
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5. Conclusão
Até aqui, foi possível observar, por exemplo, a convergência existente entre o
emprego de certas sequências textuais e os objetivos do programa, do modo como estes
últimos foram descritos por Granato (2011). Isso porque, como mostraram as análises
desenvolvidas, essas sequências são responsáveis por dar acesso a experiências e
trajetórias pessoais dos sujeitos (como ocorre nos momentos de emprego das
narrativas), por acompanhar os sujeitos na própria temporalidade de suas práticas e
ações culturais (no caso das sequências descritivas), por fornecer panoramas de
orientação e conscientização sobre temas problemáticos (como o fazem as explicativas),
por demonstrar suas perspectivas, sejam estas pessoais ou culturais, sobre assuntos
atinentes à realidade da periferia como um todo (como ocorre nos usos das
argumentativas) e por lhes permitir estabelecer intercâmbios de abertura e fechamento
da conversação nos quais se reconhecem como participantes do mesmo grupo (como
ocorre com o uso das sequências dialogais). Todas essas ações representam, portanto, o
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modo pelo qual os sujeitos dão voz, legitimam, reafirmam e, mais do que isso, exaltam
a cultura da periferia.
MDs interacionais
Sequências MDs
Fático
Textuais Checking Feedback Iniciador Total sequenciadores
exclam.
20
15 3 38
ocorrências 14 ocorrências
Dialogais ocorrências ocorrências 0 ocorrências
6 tipos 5 tipos
5 tipos 2 tipos 13 tipos
11 5 2 4 22
20 ocorrências
Descritivas ocorrências ocorrências ocorrências ocorrências ocorrências
5 tipos
3 tipos 1 tipo 1 tipo 2 tipos 7 tipos
7 7
6 ocorrências
Explicativas ocorrências 0 0 0 ocorrências
3 tipos
2 tipos 2 tipos
12 4 17
1 36 ocorrências
Narrativas ocorrências ocorrências 0 ocorrências
ocorrência 6 tipos
2 tipos 4 tipos 7 tipos
12 3 2 18
1 21 ocorrências
Argumentativas ocorrências ocorrências ocorrências ocorrências
ocorrência 8 tipos
4 tipos 3 tipos 1 tipo 9 tipos
Tabela 6: Tabela Comparativa do Uso dos MDs nas sequências textuais
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A segunda relação a que podemos chegar por meio de nossas análises é entre o
uso dos MDs sequenciadores e as sequências narrativas. Quanto ao tipo de MD usado, é
interessante destacar que tanto nas narrativas, como nas demais sequências textuais, o
MD sequenciador aí (7 vezes) é menos usado que o MD então (14 vezes). Partindo da
conclusão de Braga (2003) a respeito do maior uso do aí em relação ao então como
organizador tópico na fala dos cariocas, pode-se ter em mente que, ao reconhecer a
cristalização e o traço de informalidade atribuídos ao MD aí, o sujeitos empregam o MD
então, na tentativa de neutralidade de seu uso, quando pensamos no continuum formal-
informal.
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Para finalizar as conclusões formuladas até aqui a respeito da relação entre o uso
dos MDs e o desenvolvimento das sequências textuais, ressaltamos o fato dos MDs
serem responsáveis pelo encadeamento de diferentes sequências textuais, tal como
expusemos no caso do uso do MD bom. Como expusemos inicialmente, é comum que,
mesmo havendo mudança de situação comunicativa, o mesmo supertópico continue
sendo desenvolvido. Consideramos, portanto, que tanto a centração em um tópico
discursivo (JUBRAN et al, 20012) como o uso dos MDs auxiliam na construção de uma
estrutura composicional (ADAM, 2008) para o programa e também colaboram para a
coesão textual. Assim, as análises desenvolvidas demonstram que a noção de texto por
nós assumida consegue dar conta dos processos que estão na base da produção
discursiva do programa “Manos e Minas”: o programa se caracteriza por um conjunto
heterogêneo de ações sociais que constituem e, ao mesmo tempo, são constituídas pelas
ações textuais que estão na base da mobilização das diferentes sequências textuais e de
recursos linguísticos específicos que auxiliam nos processos de progressão textual.
Além disso, as análises articularam duas categorias analíticas importantes nos estudos
textuais, mostrando que a textualidade constitutiva de toda produção discursiva é
plasmada pelas relações sociais estabelecidas entre os interactantes, possibilitando a (re)
construção conjunta dos sentidos sociais produzidos por esse produto midiático.
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