Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Inclui bibliografia.
ISBN: 978-65-5637-804-6.
1. Semântica. 401.43
2. Linguística. 410
3. Linguística Aplicada. 468
Copyright © 2023 - Dos organizadores representantes dos colaboradores
Coordenação Editorial: Pontes Editores
Editoração: Eckel Wayne
Capa: Acessa Design
Revisão: Joana Moreira
Conselho Editorial:
Angela B. Kleiman
(Unicamp – Campinas)
Clarissa Menezes Jordão
(UFPR – Curitiba)
Edleise Mendes
(UFBA – Salvador)
Eliana Merlin Deganutti de Barros
(UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná)
Eni Puccinelli Orlandi
(Unicamp – Campinas)
Glaís Sales Cordeiro
(Université de Genève - Suisse)
José Carlos Paes de Almeida Filho
(UnB – Brasília)
Maria Luisa Ortiz Alvarez
(UnB – Brasília)
Rogério Tilio
(UFRJ – Rio de Janeiro)
Suzete Silva
(UEL – Londrina)
Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva
(UFMG – Belo Horizonte)
PONTES EDITORES
Rua Dr. Miguel Penteado, 1038 - Jd. Chapadão
Campinas - SP - 13070-118
Fone 19 3252.6011
ponteseditores@ponteseditores.com.br
www.ponteseditores.com.br
APRESENTAÇÃO......................................................................................................... 9
Mariangela Rios de Oliveira / Monclar Guimarães Lopes
APRESENTAÇÃO
9
funcionalismo linguístico: interfaces
10
funcionalismo linguístico: interfaces
11
funcionalismo linguístico: interfaces
12
funcionalismo linguístico: interfaces
13
funcionalismo linguístico: interfaces
14
funcionalismo linguístico: interfaces
15
funcionalismo linguístico: interfaces
ENTREVISTA COM O
PROFESSOR SEBASTIÃO JOSUÉ VOTRE
17
funcionalismo linguístico: interfaces
Entrevista:
18
funcionalismo linguístico: interfaces
19
funcionalismo linguístico: interfaces
20
funcionalismo linguístico: interfaces
21
funcionalismo linguístico: interfaces
22
funcionalismo linguístico: interfaces
23
funcionalismo linguístico: interfaces
Comentários do entrevistado
24
funcionalismo linguístico: interfaces
25
funcionalismo linguístico: interfaces
Introdução
27
funcionalismo linguístico: interfaces
28
funcionalismo linguístico: interfaces
29
funcionalismo linguístico: interfaces
classificado por ele como “um modelo formal dos dados” (2012, p. 18),
tanto em termos de teoria quanto de metodologia, e apresenta seu modelo
funcionalista de análise linguística, desenvolvido do capítulo 2 em diante.
Na mesma linha, no capítulo introdutório do livro An introduction
to functional grammar, Halliday (1985) argumenta que a oposição funda-
mental que separa as correntes teóricas é a divisão entre aquelas que são
primariamente sintagmáticas, fundamentadas na lógica e na filosofia – as
gramáticas formais, compreendendo o estruturalismo e o gerativismo – e
as que são primariamente paradigmáticas – as funcionalistas, respaldadas
na retórica e na etnografia. Passa, então, a discorrer sobre as falhas do
modelo chomskyano. É oportuno mencionar, entretanto, que se atribui a
Chomsky o começo da era moderna da linguística, tendo sido ele parte
central da Revolução Cognitiva dos anos 1960 (TOMASELLO, 1998).
No Brasil, essa polarização pode ser ilustrada pelo debate empre-
endido entre os funcionalistas Sebastião Votre e Anthony Naro, de um
lado, e o gerativista Milton do Nascimento, do outro. Em seu artigo, com
referência à hipótese de Votre e Naro (1989, p. 169-170) de que “do uso
da língua origina-se a forma da língua”, Nascimento (1990, p. 83) pro-
põe um “diálogo construtivo entre linguistas brasileiros que conduzem
suas pesquisas, utilizando-se de diferentes quadros teóricos”. Convida,
então, os leitores a “repensar a tese de que a ‘abordagem funcionalista’
se contrapõe à ‘abordagem formalista’” (p. 87). O linguista finaliza seu
artigo defendendo uma articulação dos “modelos de análise linguística
que privilegiam as funções com aqueles que privilegiam a forma da lin-
guagem”, levando em conta as especificidades de cada modelo (p. 97).
No final do século XX, o psicolinguista Michael Tomasello (1998)
organiza um livro em cuja introdução recapitula a situação da Linguística
nesse século e rejeita a posição chomskyana de autonomia da sintaxe.
Lista uma família de abordagens teóricas que compartilham essa rejei-
ção e recebem a denominação de Linguística Cognitiva ou Linguística
Funcional. A proposta de Tomasello é que essas duas abordagens se
30
funcionalismo linguístico: interfaces
31
funcionalismo linguístico: interfaces
Mudança linguística
32
funcionalismo linguístico: interfaces
33
funcionalismo linguístico: interfaces
34
funcionalismo linguístico: interfaces
menor, pela palavra jaca. Essa expressão ganhou especial destaque com a
novela “Pé na Jaca”, televisionada em 2006 e 2007”: “beber muito, além
do limite”. Por extensão, é usada também para indicar qualquer tipo de
excesso ou exagero, quer a nível alimentar, quer a nível comportamental.
O discurso é, portanto, o ponto de partida para a gramática e seu
ponto de chegada. Quando algum fenômeno discursivo, em decorrência
da frequência de uso, passa a ocorrer de forma previsível e convencional,
pode entrar na regularidade da gramática (GIVÓN, 1979b). No mesmo
sentido, quando determinado fenômeno que estava na gramática passa
a ter comportamentos não previsíveis e atípicos, em termos de regras
selecionais, podemos dizer que sai da gramática e retorna ao discurso.
É o que se vê em:
(2) pedindo a partitura de uma música… “você tem essa?” “não”… mas
tem… só de ruim ela num… que ela diz que num tem… que ela sabe
que eu vou tocar pelo ouvido … (FURTADO DA CUNHA, 1998, p. 94)
(3) … pela primeira vez eu tive medo de sair de casa… sabe? (FUR-
TADO DA CUNHA, 1998, p. 94)
35
funcionalismo linguístico: interfaces
(4) … e teve uma pessoa que chegou para mim e perguntou… “Gerson…
você aceita ficar no cargo e tudo?”… eu disse… “não… num aceito
não… (FURTADO DA CUNHA, 1998, p. 178)
(5) … ou então você dá o mesmo acorde e fica lá… passando por cima
das notas… isso aí é… como é o nome? sei não… (FURTADO DA
CUNHA, 1998, p. 377)
36
funcionalismo linguístico: interfaces
37
funcionalismo linguístico: interfaces
38
funcionalismo linguístico: interfaces
39
funcionalismo linguístico: interfaces
40
funcionalismo linguístico: interfaces
(7) … eu acho que você já andou de avião e já deve ter visto essas coisa
… já/ já deve ter visto esse fenômeno … (FURTADO DA CUNHA,
1998, p. 96)
41
funcionalismo linguístico: interfaces
42
funcionalismo linguístico: interfaces
43
funcionalismo linguístico: interfaces
44
funcionalismo linguístico: interfaces
Referências
45
funcionalismo linguístico: interfaces
46
funcionalismo linguístico: interfaces
47
funcionalismo linguístico: interfaces
48
funcionalismo linguístico: interfaces
49
funcionalismo linguístico: interfaces
50
funcionalismo linguístico: interfaces
GRAMATICALIZAÇÃO E CONSTRUCIONALIZAÇÃO NA
PESQUISA FUNCIONALISTA
Introdução
51
funcionalismo linguístico: interfaces
3 Como Rosário e Oliveira (2016), assim se rotula o Funcionalismo praticado nas décadas de
60, 70, 80 e 90 do século XX, mais voltado para a pesquisa da mudança de itens específicos,
no trajeto do léxico para a gramática ou do menos para o mais gramatical.
52
funcionalismo linguístico: interfaces
com Heine, Narrog e Long (2016), que GRAM e CONSTR podem ser
tomadas complementarmente, devido a pontos em comum no modo como
concebem a mudança linguística. Por outro lado, não se pode perder
de vista que há aspectos específicos em cada uma dessas perspectivas,
atinentes aos fundamentos teóricos em que são embasadas.
Este capítulo parte de cinco objetivos mais específicos. O intento é:
a) apresentar a perspectiva teórica da GRAM, no viés do Funcionalismo
clássico; b) destacar a perspectiva da CONSTR, tal como assumida na
LFCU; c) identificar os pontos convergentes e também contrastivos entre
GRAM e CONSTR; d) a título de ilustração, demonstrar como GRAM e
CONSTR podem fundamentar a investigação da emergência de intensi-
ficadores de grau no português; e) apontar tendências de pesquisa nessa
área de interseção.
As seções a seguir se ordenam e se organizam a partir dos cinco
objetivos referidos. Assim, a primeira é dedicada às bases teóricas da
GRAM, que continua sendo o viés mais tradicional e amplamente adota-
do na investigação da mudança linguística no Funcionalismo. A seguir,
são apresentados e comentados os pressupostos da LFCU, arcabouço
teórico-metodológico sob o qual se desenvolve a pesquisa da CONSTR.
A terceira seção destaca os pontos em comum entre GRAM e CONSTR,
enfatizando a complementaridade de ambas as perspectivas, e também
elenca seus aspectos mais específicos, no que têm de particular e carac-
terístico. A seção que se segue traz um estudo de caso, a trajetória da
mudança linguística que leva à convencionalização da construção inten-
sificadora de grau [[p(a)ra lá de] [Xadj]], em instanciações como “para
lá de bonito” ou “para lá de chique”, conforme se encontra em Paula
(2021) e Oliveira e Paula (2019, 2022); nesses estudos são destacados
vieses complementares e distintos na análise dessa trajetória em termos
da GRAM e da CONSTR. O artigo se encerra com uma reflexão acerca
desse olhar para as duas perspectivas, como resultado mais recente do
caminho construcional da LFCU, apontando contribuições e, de outra
parte, desafios a serem enfrentados.
53
funcionalismo linguístico: interfaces
54
funcionalismo linguístico: interfaces
55
funcionalismo linguístico: interfaces
56
funcionalismo linguístico: interfaces
5 No Funcionalismo clássico, a mudança linguística que motiva novos itens lexicais é nomeada de
“lexicalização”, com pontos comuns e outros distintivos em relação à GRAM, como assumem
Brinton e Traugott (2006).
57
funcionalismo linguístico: interfaces
58
funcionalismo linguístico: interfaces
Fonte: Autoral
59
funcionalismo linguístico: interfaces
60
funcionalismo linguístico: interfaces
61
funcionalismo linguístico: interfaces
7 De acordo com Himmelmann (2004), trata-se da ampliação de um padrão de uso pelo recru-
tamento de novos constituintes para preencher este padrão, tornando-o mais produtivo.
62
funcionalismo linguístico: interfaces
Oposições/
distinções
paradigmáticas Escolhas paradigmá-
IV- Integração para- Contexto com significa- ticas a partir de um
digmática paradigmático dos relacionais esquema construcional
reduzidos, isto abstrato
é, significados
gramaticais
63
funcionalismo linguístico: interfaces
64
funcionalismo linguístico: interfaces
65
funcionalismo linguístico: interfaces
66
funcionalismo linguístico: interfaces
(2) Saiba como ter uma gestação tranquila se você engravidou antes
da hora – Toda garota conhece os riscos e prejuízos que vai acabar
sofrendo se precisar assumir que está grávida antes da hora. E não
são poucos! Mas de uma coisa você pode estar certa: com o apoio
de quem ama e os cuidados essenciais, poderá garantir uma gestação
tranquila e um recomeço mais fácil depois que o bebê chegar. Para
ajudá-la nessa situação pra lá de delicada, a Atrê conversou com duas
especialistas, que estão acostumadas a atender jovens grávidas. […]
(CdP/Web Dialetos, Brasil)
67
funcionalismo linguístico: interfaces
SÉCULO OCORRÊNCIAS
XIV 7
XV 29
XVI 52
XVII 23
XVIII 10
XIX 27
XX 162
XXI 400
TOTAL 710
10 A trajetória de derivação das autoras já parte de contextos de mudança, os atípicos, com base
na ambiguidade semântica, mas Paula (2021) propõe o contexto fonte como origem, o ponto
inicial que deflagra a atipicidade contextual.
68
funcionalismo linguístico: interfaces
(3) E elle tornou a terra a dõ Pero ãçores e elle fezelhe menajen por
ella. E a reynna, cõ despeito por que stava presa, fallou cõ os que ha
guardavã e mãdou a Castella por algûûs e partiose do castelo. Mas os
homës boos da terra nõ lho teverõ por boo recado por que se viinha a
Castela sem prazer de seu marido e tornarõa pera la mui hõrradamëte.
E, proçedëdo pello tëpo en diãte, vio el rey que en në hûa guisa a reÿa
nõ queria seguir seu talãte; trouxea ataa Soyra e partiose della. (CdP:
Crônica Geral de Espanha, de 1344)
(4) Considere Vossa Senhoria que Deus lhe não deu o juízo que tem
para estes empregos, senão para a consideração dos seus atributos, amor
e perfeições. Lembre-se Vossa Senhoria que o fim último para que foi
criado foi a glória e o seu louvor e honra, e estas profanas fadigas não
caminham para lá, pois se encaminham ordinariamente para a glória
própria, para o crédito da Pátria e outros fins caducos. (CdP: Cartas
Espirituais, de Antonio das Chagas, 1665)
69
funcionalismo linguístico: interfaces
70
funcionalismo linguístico: interfaces
(7) […] Sofia enganara todos, paria feito uma gata, não gemia nem
miava, com a exceção dos gêmeos mas, também, cuspir os dois custaria
até às pretas, estas sim, de ancas boas. Lembrou-se então do sogro lhe
propondo casamento: - Desencantando Sofia, tu ganhas uma fazenda
com pra lá de cem alqueires, além de gado leiteiro e oito escravos dos
bons, oferta de qualidade. Escolhi-te para genro por seres homem direito.
Toda Batéia confirma teu gosto de lida brava, teu tento em trabalhar.
Aceita. Minha filha sai ganhando, é menina sem encantos, com risco
de solteirice. (CdP: Onde Andará Dulce Veiga?, de Caio Fernando
Abreu, Séc. XX)
71
funcionalismo linguístico: interfaces
72
funcionalismo linguístico: interfaces
73
funcionalismo linguístico: interfaces
74
funcionalismo linguístico: interfaces
Discussão final
75
funcionalismo linguístico: interfaces
76
funcionalismo linguístico: interfaces
77
funcionalismo linguístico: interfaces
Referências
78
funcionalismo linguístico: interfaces
79
funcionalismo linguístico: interfaces
80
funcionalismo linguístico: interfaces
O PAPEL DA AUTOMATIZAÇÃO E DA
INTERSUBJETIVAÇÃO NA ANÁLISE DA MUDANÇA
LINGUÍSTICA: NOVAS REFLEXÕES PARA A
ABORDAGEM DA CONSTRUCIONALIDADE
Introdução
81
funcionalismo linguístico: interfaces
82
funcionalismo linguístico: interfaces
Foi nessa mesma toada que Rosário e Lopes (2019, 2023) cunharam
o termo construcionalidade. Para isso, empregaram o seguinte raciocí-
nio analógico: assim como as generalizações da gramaticalização – um
fenômeno essencialmente diacrônico – possibilitaram a postulação do
conceito de gramaticalidade, as generalizações da construcionalização
– um fenômeno também essencialmente diacrônico – podem dar origem
à construcionalidade, exatamente para o mesmo fim: possibilitar meios
para reconstruir a trajetória diacrônica das construções linguísticas a
partir das pistas disponíveis em sua gradiência sincrônica.
A proposta seminal da construcionalidade (ROSÁRIO; LOPES,
2019) foi revista recentemente (cf. ROSÁRIO; LOPES, 2023), em um
novo estudo que, além de propor uma revisão para o conceito, conta com
princípios e parâmetros aplicáveis à análise de construções complexas
procedurais nas línguas naturais, cujas propriedades linguísticas indicam-
-nas como sendo o resultado de construcionalização gramatical (cf.
TRAUGOTT; TROUSDALE, 2013). Neste capítulo, por sua vez, nossa
proposta é a de mostrar como a atuação de dois processos cognitivos de
domínio geral, a automatização (cf. DIESSEL, 2019) e a intersubjeti-
vação (cf. TANTUCCI, 2021; TRAUGOTT; DASHER, 2002) também
podem ser empregados como fatores de análise para a investigação da
construcionalidade.
Para esse fim, estruturamos este capítulo em mais três seções: ini-
cialmente, em construcionalidade: conceito e fatores de análise, traçamos
um breve panorama de nossa proposta, com base em nosso texto mais
recente (ROSÁRIO; LOPES, 2023). Em sequência, em automatização,
intersubjetivação e reconfiguração das relações sequenciais, buscamos
mostrar como os dois processos cognitivos supracitados podem servir à
investigação da construcionalidade, a partir da noção de relações sequen-
ciais. Logo após, trazemos alguns exemplos de aplicação dessas catego-
rias, com base no estudo de Rosário e Santos (2022). Por fim, fechamos
o capítulo com as considerações finais e as referências bibliográficas.
83
funcionalismo linguístico: interfaces
84
funcionalismo linguístico: interfaces
Gramaticalização
Parâmetro Processo Gramaticalização forte
fraca
Muitos traços se- Poucos traços semânti-
Integridade mânticos, possivel- Atrição cos, itens possivelmente
Eixo paradigmático
85
funcionalismo linguístico: interfaces
86
funcionalismo linguístico: interfaces
87
funcionalismo linguístico: interfaces
https://www.ovale.com.br/_conteudo/politica/2019/06/80148-tj-julga-
-dia-19-recurso-de-felicio-contra-acao-do-caso-praia-grande.html.
(02) Rio Grande do Sul e Minas Gerais, por exemplo, fazem uso da
lenha, mas têm fogões, lareiras e churrasqueiras de boa qualidade. Sem
contar que a lenha é comercializada nessas regiões. Fonte: https://
www.em.com.br/app/noticia/economia/2019/06/30/internas_econo-
mia,1065968/preco-do-gas-e-desemprego-elevam-uso-da-lenha-para-
-cozinhar-no-brasil.shtml.
88
funcionalismo linguístico: interfaces
89
funcionalismo linguístico: interfaces
90
funcionalismo linguístico: interfaces
91
funcionalismo linguístico: interfaces
92
funcionalismo linguístico: interfaces
93
funcionalismo linguístico: interfaces
94
funcionalismo linguístico: interfaces
95
funcionalismo linguístico: interfaces
96
funcionalismo linguístico: interfaces
97
funcionalismo linguístico: interfaces
(05) Acho legal essa troca de apresentadores porque faz com que a
galera possa conhecer um outro lado dos artistas. E ter duas mulheres
no comando faz com que as espectadoras de TV se orgulhem. Essa
representatividade é muito boa, sem contar que a música tem várias
caras e estilos – analisa a cantora, de 31 anos. Fonte: https://extra.globo.
com/tv-e-lazer/maiara-apresenta-sotocatop-ao-lado-da-irma-recebe-
-namorado-fernando-no-programa-23773187.html.
98
funcionalismo linguístico: interfaces
99
funcionalismo linguístico: interfaces
100
funcionalismo linguístico: interfaces
Total 150 98
101
funcionalismo linguístico: interfaces
Exemplo da aplicação
102
funcionalismo linguístico: interfaces
Essa ampla rede demonstra que a adição pode estar vinculada a di-
ferentes estratégias morfossintáticas: à justaposição, ao uso de conectores
simples e complexos ou, ainda, à correlação. Além disso, a adição pode
estar também associada a outros domínios, como o da comparação (como
atestam os conectores assim como ou tanto…como) e ao da disjunção
(como indicam os correlatores nem…nem).
A complexidade da rede da adição não se esgota nesse Esquema 1.
As pesquisas baseadas no uso apontam, por exemplo, que esses conectores
também são adjungidos a outros elementos gramaticais, com o propósito
de cumprir outras funções na língua. É o que acontece com os chamados
chunks aditivos de extensão além de tudo, além do mais e além do que.
Vejamos alguns dados de língua em uso:
103
funcionalismo linguístico: interfaces
(08) Muitas pessoas acham que gatos não conseguem ser treinados
para fazer truques tal como os cachorros. Mas isso é um erro, sabia?
Os felinos também podem encantar tutores e visitas com diversas arti-
manhas. Além do mais, isso ainda ajuda a distrair o gato, que muitas
vezes está deprimido ou estressado por estar com excesso de energia
acumulada. Essa é uma ótima oportunidade para brincar com seu ami-
guinho e ter um dia mais tranquilo e feliz com ele. Fonte: https://twitter.
com/havenfilter/status/1305548473354330112.
104
funcionalismo linguístico: interfaces
105
funcionalismo linguístico: interfaces
106
funcionalismo linguístico: interfaces
(11) Deste modo, ainda que o molde integralista perrepista não fosse
uma reprodução do integralismo dos anos 1930, a presença do “Chefe
Nacional” dos integralistas na presidência nacional do PRP consistia
um princípio legitimador da condição integralista do partido, além do
mais forte laço histórico existente entre os integralistas das décadas
de 1940, 50 e 60 e o auge dos camisas-verdes em 1930. Fonte: http://
www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1300671149_ARQUI-
VO_Odilon-ANPUH.pdf.
107
funcionalismo linguístico: interfaces
108
funcionalismo linguístico: interfaces
109
funcionalismo linguístico: interfaces
Considerações finais
110
funcionalismo linguístico: interfaces
111
funcionalismo linguístico: interfaces
Referências
112
funcionalismo linguístico: interfaces
113
funcionalismo linguístico: interfaces
Introdução
115
funcionalismo linguístico: interfaces
A natureza da mudança
116
funcionalismo linguístico: interfaces
117
funcionalismo linguístico: interfaces
118
funcionalismo linguístico: interfaces
119
funcionalismo linguístico: interfaces
120
funcionalismo linguístico: interfaces
A construcionalização de um monte de SN
5 “establishment of a new conventionalised symbolic link between form and meaning which has
been replicated across a network of language users, and which involves an addition to the
construction.”
6 “‘Establishment’ differs from ‘point’ (Flach 2020) because the outcome is interpreted as
the result (however short-lived) of changes involving gradual spread across members of a
community, not innovations.”
121
funcionalismo linguístico: interfaces
122
funcionalismo linguístico: interfaces
(3) Emtam emmadeyram aquella coua por çyma como sobrado com rama E
em cima desta rama deytam hûu grande monte de terra tam alta como hûa
casa / E alli fica elrey com seus criados e molher e nom ha hy memoria mais
deles. (século XVI)
123
funcionalismo linguístico: interfaces
(5) té que na entrada da nau foram os mouros dar com ele, onde aca-
bou sobre o corpo de seu senhor como leal criado e especial cavaleiro,
porque, primeiro que o matassem, fez um monte de corpos mortos,
debaixo dos quais ficou enterrado o de seu senhor e ele sobre eles.
(século XVI 1ª metade)
124
funcionalismo linguístico: interfaces
(6) O mesmo veio, que é rico no princípio, se faz muitas vêzes bem pobre
na sua continuaçao e seguimento; e, pelo contrário, um veio muito pobre
no seu princípio aumenta depois em riqueza; outras vêzes, até se acha
um monte de ouro, como insulado por toda a parte, sem continuaçao
nem seguimento, como se vê muitas vêzes nas minas de Cuiabá. Esta
riqueza tao casual, tao variável e tao caprichosa, assim como faz que
seja sempre vária e inconstante a riqueza do mineiro do ouro, assim
também faz que a riqueza da naçao mineira do ouro seja sempre vária
e inconstante. (século XVIII)
125
funcionalismo linguístico: interfaces
(9) Viveu ali um rei mouro, que deixou numa um monte de oiro, e noutra
um tesouro de diamantes, que chegava pra comprar toda a Cristandade.
– Ena, pai! E porque é que ainda ninguém roubou tamanha riqueza. –
Porque na terceira gruta fechou a alma do dianho uma camada de peste,
capaz de matar inteira a população da Terra! (século XIX)
126
funcionalismo linguístico: interfaces
127
funcionalismo linguístico: interfaces
128
funcionalismo linguístico: interfaces
129
funcionalismo linguístico: interfaces
cada nó na rede pode também ser formado por uma rede de construções. O
surgimento de uma nova construção leva ao rearranjo da rede linguística
da língua, com links diversos com outras construções na rede.
Gonçalves (2020), ao investigar novas criações de construções
lexicais provindas do composto com valor técnico coronavírus, realiza
uma análise construcionista, em que evidencia que essas formações (nos
termos de Traugott e Trousdale, construcionalizações lexicais) se dão a
partir de mecanismos morfológicos existentes na língua. Há criatividade
e subjetividade nos usos, a partir da avaliação do momento político e
social em que as formas surgiram: o governo do então Presidente Jair
Bolsonaro e a crise social e sanitária do ano de 2020. O autor realizou a
pesquisa a partir de 94 construções diferentes (types), retiradas de diversas
redes sociais, sendo alguns dos exemplos as formações coronagado e
coronabozo. O autor objetiva
130
funcionalismo linguístico: interfaces
(14) Mas, depois de ouvir alguns amigos, achou que não era para tan-
to. Mais seguro na profissão, atualmente, ele faz do bom humor sua
estratégia e brinca com a possibilidade de se aventurar na vida real.
“Por que não? Vai que alguém quer companhia para assistir a um filme
ou a uma peça bacana e comer em um restaurante maneiro, acho que
não teria qualquer problema”, brincou. (Corpus do Português, 2021,
grifos nossos)
131
funcionalismo linguístico: interfaces
(17) há uns três, quatro dias, e ele me falou: “vai, [vai] [que você será
muito feliz no Palmeiras]. Eu já não tinha dúvidas” (Corpus do Portu-
guês, 2021, grifos nossos)
132
funcionalismo linguístico: interfaces
ções lexicais, como nos exemplos retirados de Ely e Cezario (2023), sem
sujeito antes das formas verbais:
(18) Gatinha! Olha mais uma aqui… flabv… pegava fácil. Olha a outra
falando abobrinha e xingando o DJ de a boate. Xi, reclamando que não
pegou ninguém ainda. Pelo menos também tá bêbada, hehe. Acho que
vou dar meu celular pra ela. Vai que cola. Ô, loco! O chat de o facebook,
lotado. Essa galera não tem vida social, não? (Corpus do Português,
2021, grifos nossos)
(19) Porem, apesar de achar a idéia ótima, concordo com você que pro-
vavelmente é inviável. Mas, to dando meu apoio pra eles assim mesmo.
Vai que rola rsrs. Exato, embora seja óbvia a vantagem de poder trocar
partes, é igualmente óbvio que isso pode fazer os celulares dobrarem
de tamanho. (Corpus do Português, 2021, grifos nossos)
133
funcionalismo linguístico: interfaces
134
funcionalismo linguístico: interfaces
Considerações finais
135
funcionalismo linguístico: interfaces
Referências
136
funcionalismo linguístico: interfaces
137
funcionalismo linguístico: interfaces
Introdução
139
funcionalismo linguístico: interfaces
140
funcionalismo linguístico: interfaces
Em suma, nossa escolha pela análise acerca dos diferentes usos da(s)
forma(s) ‘veado ~ viado’ no PB não é aleatória. Assumimos aqui que,
na atual sincronia do PB, olhando tanto para a representação cognitiva
da gramática no âmbito individual, quanto no da comunidade linguística
maior, é possível identificarmos usos de forte base pragmática associados
a ideologias que refletem os preconceitos, as lutas e as relações de poder
(NEVES JR., 2022; PINHEIRO, 2020). Nesse sentido, discutimos como
o funcionamento associativo da mente – refletido na arquitetura grama-
tical – e nossa capacidade refinada de armazenamento de informações
– refletida na memória rica – espelham como os conhecimentos, os sen-
tidos e as ideologias estão cognitivamente interligados e profundamente
entrincheirados na gramática.
141
funcionalismo linguístico: interfaces
Pressupostos teóricos
CONSTRUÇÃO (CxN) > PRAGMÁTICA > IDEOLOGIA > MEMÓRIA > REDE ASSOCIATIVA
142
funcionalismo linguístico: interfaces
143
funcionalismo linguístico: interfaces
Figura 1 – A construção
144
funcionalismo linguístico: interfaces
145
funcionalismo linguístico: interfaces
146
funcionalismo linguístico: interfaces
147
funcionalismo linguístico: interfaces
148
funcionalismo linguístico: interfaces
149
funcionalismo linguístico: interfaces
150
funcionalismo linguístico: interfaces
151
funcionalismo linguístico: interfaces
Fonte: https://observatoriog.bol.uol.com.br/noticias/professora-de-pilates-causa-
apos-tweets-homofobicos
152
funcionalismo linguístico: interfaces
153
funcionalismo linguístico: interfaces
Fonte: https://twitter.com/gabrieelbiondo/status/1280897924889747456
154
funcionalismo linguístico: interfaces
termo ‘viado’ que espelha a relação ‘veado’ > fragilidade > feminino >
homoafetividade já apontada:
Figura 5 – Carga ideológica pejorativa baixa
Fonte: https://twitter.com/23041999c/status/1643428375149551623?s=12&t=X4dp9J
pV1gFJKkoIkJaqgQ
155
funcionalismo linguístico: interfaces
156
funcionalismo linguístico: interfaces
157
funcionalismo linguístico: interfaces
158
funcionalismo linguístico: interfaces
159
funcionalismo linguístico: interfaces
Fonte: Autoral
Considerações finais
160
funcionalismo linguístico: interfaces
Referências
161
funcionalismo linguístico: interfaces
162
funcionalismo linguístico: interfaces
163
funcionalismo linguístico: interfaces
Introdução
165
funcionalismo linguístico: interfaces
(01) Desde que assumi o governo pensei que seria necessário realizar
reformas estruturais na economia italiana. (19Or:Br:Intrv:ISP) TEMPO
(02) Essas conseqüências são previstas desde que eles façam eviden-
temente um um um exame pré-nupcial ou pré-natal (19Or:Br:LF:Recf)
CONDIÇÃO
166
funcionalismo linguístico: interfaces
167
funcionalismo linguístico: interfaces
168
funcionalismo linguístico: interfaces
169
funcionalismo linguístico: interfaces
nó que se liga a outros nós por meio de elos diversos, de tal modo que
a língua pode ser pensada como uma grande rede na qual não existem
construções isoladas, estocadas, mas interligadas direta ou indiretamente,
como se representa na Figura 2, de Langacker:
Figura 2 – Rede conceitual
170
funcionalismo linguístico: interfaces
Fonte: Autoral
171
funcionalismo linguístico: interfaces
172
funcionalismo linguístico: interfaces
(05) … foram dormir tarde né … que a luz do quarto tava acesa e [a mulher]
mandou a menina pro quarto dela e ela foi dormir né … (FURTADO DA
CUNHA, 2017, p. 121)
(06) … o pessoal fala “pega o papel branco” e tal… “prende ele na pranche-
ta…” FURTADO DA CUNHA, 2017, p. 121)
173
funcionalismo linguístico: interfaces
Fonte: Autoral
174
funcionalismo linguístico: interfaces
175
funcionalismo linguístico: interfaces
(07) Para o PAN tampouco será uma vitória, porque ainda que obtenha
uma votação nacional de mais de 30%, perderá no Distrito Federal.
(FONTES, 2016, p. 132)
176
funcionalismo linguístico: interfaces
Universo de análise
177
funcionalismo linguístico: interfaces
Fonte: Autoral
178
funcionalismo linguístico: interfaces
(10) tempo
Na verdade, desde que assumi o governo pensei que seria necessário
realizar reformas estruturais na economia italiana. (19Or:Br:Intrv:ISP)
(11) tempo-causa
Desde que ficamos sozinhos, ele corre perigo (19:Fic:Br:Garcia:Silencio)
(12) condição
Desde que respeitem o limite autorizado pela Justiça, acho que não há
nenhum problema (19N:Br:Cur)
179
funcionalismo linguístico: interfaces
(13) causa
o Benfica até merecia o golo, dado que, nos primeiros minutos foi uma
equipa muito rápida e ofensiva (19N:Pt:Jornal)
(14) condição
dado que aparecessem, os jagunços viriam ao encontro de ainda não
satisfeito anelo. (18:Cunha:Sertões)
(15) concessão
dado que quisesse casar, e queria, nunca estivera mais longe do casa-
mento (18:Machado:Nãocasa)
180
funcionalismo linguístico: interfaces
(16) tempo
Uma vez que o tomaram à sua conta, era pagarem-lhe a pensão inteira
e deixarem-se (18:Azevedo:Coruja)
(17) causa
as vagas nunca vão dar conta da demanda, uma vez que as faculdades
seguem despejando milhares de profissionais no mercado todos os
anos. (19Or:Br:Intrv:Web)
(18) condição
É que o Conselheiro, uma vez que a filha não estivesse resolvida a
acompanhá-lo, voltaria à vida inconstante (18:Azevedo:Homem)
181
funcionalismo linguístico: interfaces
Fonte: Autoral
182
funcionalismo linguístico: interfaces
183
funcionalismo linguístico: interfaces
das microconstruções [desde que], [uma vez que] e [dado que]. Aqui
ilustramos a organização da rede dos conectores em elos metafóricos na
Figura 53, a partir dos diferentes sentidos do subesquema [PREP que],
que assume as subespecificações semânticas de tempo (TEMP), tempo-
-causa (TEMP-CAUS) e condição (COND), e do subesquema [V que],
que especifica os sentidos de causa (Caus), condição (Cond) e concessão
(Conc):
Figura 5 – Elos metafóricos na rede construcional dos conectores adverbiais
Fonte: Autoral
184
funcionalismo linguístico: interfaces
Fonte: Autoral
185
funcionalismo linguístico: interfaces
186
funcionalismo linguístico: interfaces
187
funcionalismo linguístico: interfaces
Considerações finais
188
funcionalismo linguístico: interfaces
189
funcionalismo linguístico: interfaces
Referências
190
funcionalismo linguístico: interfaces
191
funcionalismo linguístico: interfaces
Introdução
193
funcionalismo linguístico: interfaces
194
funcionalismo linguístico: interfaces
195
funcionalismo linguístico: interfaces
196
funcionalismo linguístico: interfaces
197
funcionalismo linguístico: interfaces
198
funcionalismo linguístico: interfaces
199
funcionalismo linguístico: interfaces
efeito-causa)2, entre outras propriedades. Por outro lado, uma vez que, de
acordo com os autores, as relações causais ultrapassam o nível referencial
para constituírem uma estratégia retórica, uma forma de expressar as
intenções argumentativas do falante, então, o nexo causal pode ser usado
para sinalizar o ponto de vista do falante ou até mesmo para persuadir
o interlocutor a ratificar esse ponto de vista (PAIVA; OLIVEIRA, op.
cit., p. 486). Ainda, os autores realizaram uma análise com base no valor
pragmático dos segmentos de causa e efeito ligados por por conta de e
por causa de. Os resultados obtidos mostram que, por esse critério, as
duas construções se afastam, de maneira que há poucos contextos em
que ambos alternam (somente em causa negativa – efeito positivo, causa
negativa – efeito negativo, causa neutra – efeito neutro), enquanto, nos
demais contextos, ocorre exclusivamente por causa de. A distribuição
das ocorrências por contexto pragmático-discursivo mapeado levou os
autores a concluir que por causa de tende a ser usado em eventos com
causa negativa e efeito negativo, o que sugere uma estratégia associada
a eventos concebidos de uma maneira negativa. Assim, concluem que
as duas construções se caracterizam por terem papéis argumentativos
diferentes, embora compartilhem um conjunto de propriedades formais
e semânticas que evidenciam equivalência de significado nesses dois
planos.
De acordo com o Quadro 1 (Anexo A), em Paiva e Oliveira (op.
cit., p. 892), a distribuição das ocorrências de por causa de SN e por
conta de SN foi computada em função do conjunto de dados das três
sincronias (português arcaico, português clássico e português moderno).
No entanto, o Quadro 1 permite observar a distribuição por sincronia
entre as duas construções, de maneira que por causa de SN em relação a
por conta de SN apresenta os seguintes percentuais por cada sincronia,
respectivamente – 100%, 87%, 85%. Já o Quadro 4 (Anexo C) mostra
que há contextos pragmático-discursivos exclusivos de por causa de,
2 Ver no Anexo B, Quadro 2, como em Paiva e Oliveira (2020, p. 893), os percentuais de distri-
buição de por causa de e por conta de em função das propriedades observadas e mencionadas
neste parágrafo.
200
funcionalismo linguístico: interfaces
201
funcionalismo linguístico: interfaces
202
funcionalismo linguístico: interfaces
A alternância de dativo no PB
4 Chunks são sequências de unidades usadas frequentemente juntas, isto é, sequências formulaicas
ou pré-fabricadas, armazenadas como uma unidade, como dar um tempo, eu acho etc.
203
funcionalismo linguístico: interfaces
(1) She found it hard to look at the Sage’s form for long. The spells
that protected her identity also gave a headache to anyone trying to
determine even her size, the constant bulging and rippling of her form
gaze Sarah vertigo. (http://lair.echidnoyle.org/rpg/log/27.html)
204
funcionalismo linguístico: interfaces
(2) Nothing like heart burn food. “I have the tums.” Nick joked. He
pulled himself a steaming piece of the pie. “Thanks for being here.”
(http://www.realityfanfiction.addr.com/storm3.html)
205
funcionalismo linguístico: interfaces
(3) a) V SN SP
b) V SP SN
c) V SN2 (recipiente) SN1 (entidade)
d) V SN1 (entidade) SN2 (recipiente)
(4) o cara vem do Brasil, um nordestino, pra dar um presente pro Papa
(5) ai dei a ele o jogo / Aí Jesus Cristo deu pra ele uma inteligência
5 “Item mandamos e outorgamos que os mancebos que morarem nas lauoiras e nas casas dos
homens de Terena paguem eles de suas soldadas ateens entruido de uenda de seus vinhos. E
se os maus quiserem teenr emtruido, paguen-nos d’alhur onde quer” (Vasconcelos, 1970, p.
37). “E o caualleyro […] preguntou todollos rreys e todollos primçepes e a todollos homens
de todallas terras como poderia leixar aquell castello a sey salvo, pois que lho elrrey queria
tomar […]” (Vasconcelos, op. cit., p. 42).
206
funcionalismo linguístico: interfaces
207
funcionalismo linguístico: interfaces
208
funcionalismo linguístico: interfaces
209
funcionalismo linguístico: interfaces
210
funcionalismo linguístico: interfaces
211
funcionalismo linguístico: interfaces
Considerações Finais
212
funcionalismo linguístico: interfaces
Referências
213
funcionalismo linguístico: interfaces
214
funcionalismo linguístico: interfaces
215
funcionalismo linguístico: interfaces
216
funcionalismo linguístico: interfaces
217
funcionalismo linguístico: interfaces
ANEXO A
Période Période
CONSTRUCTION Période TOTAL
Ancienne Classique
Moderne
____
POR CAUSA DE SV 6 = 85,7% 1 = 14,3% 7 7
____
POR CONTA DE SN 4 = 28,6% 10 = 71,4% 14
ANEXO B
Tableau 2 – Propriétés de por causa de et por conta de en Portugais moderne/
contemporain
____
POR CONTA DE SN 4 = 28,6% 10 = 71,4% 14
218
funcionalismo linguístico: interfaces
ANEXO C
Tableau 4 – Valeur pragmatique des segments cause et effet liés par por
causa de et por conta de
219
funcionalismo linguístico: interfaces
Palavras iniciais
221
funcionalismo linguístico: interfaces
2 Escrita com a colaboração de seus leitores, a Desciclopédia é “um site de humor debochado e
seu conteúdo não deve ser levado a sério. Todas as nossas regras e políticas convergem para
um só princípio: ser engraçado e não apenas idiota” Disponível em: https://desciclopedia.org/
wiki/P%C3%A1gina_principal. Acesso em: 15 jan. 2023.
222
funcionalismo linguístico: interfaces
O fenômeno
(01)
portunhol (português + espanhol) –“mistura de português e espanhol”
sacolé (saco + picolé) – “picolé em formato de saco”
chafé (chá + café) – “café muito fraco, que se parece com chá”
apertamento (apartamento + aperto) – “apartamento muito pequeno,
apertado”
aborrescente (adolescente + aborrece) – “adolescente que aborrece”
223
funcionalismo linguístico: interfaces
(02)
(a) Cruzamento vocabular (HENRIQUES, 2007; SANDMANN, 1990;
SILVEIRA, 2002);
(b) Palavra-valise (ALVES, 1990);
(c) Mistura (SÂNDALO, 2001);
(d) Portmanteau (ARAÚJO, 2000);
(e) Amálgama (AZEREDO, 2000; MONTEIRO, 1989);
(e) Composição de partes de palavras (STEINBERG, 2003);
(f) Mescla vocabular (ÁLVARO, 2003);
(g) Fusão vocabular – FUVES (BASÍLIO, 2005);
(h) Blend lexical (ALMEIDA, 2005).
224
funcionalismo linguístico: interfaces
225
funcionalismo linguístico: interfaces
Figura 1 – Bolsonero
3 Alusão ao episódio em que o ex-ministro da saúde, depois de reiteradas cobranças pela vacina,
disse que ela chegaria na hora H e no dia D. A imagem o compara a um “pai de santo” fazendo
uma espécie de profecia com os búzios.
4 A formação remete ao episódio da crise hídrica, no qual Bolsonaro falou que a população
deveria defecar dia sim, dia não. A imagem mostra que o então presidente simplesmente ignora
a realidade do país e joga sobre ele suas excrescências.
226
funcionalismo linguístico: interfaces
Outras formações mais antigas são maiores que a palavra de base mais
longa. Tal é a situação dos seguintes exemplos, alguns bem conhecidos:
(03)
crentino (crente + cretino) = “evangélico dissimulado, sonso”
(classe) mérdia (média + merda) = “classe média falida”
pedragogia (pedra + pedagogia) = “pedagogia antiga, da idade da pedra”
paitrocínio (pai + patrocínio) = “patrocínio pelo pai”
showfer (show + chofer) = “motorista (chofer) muito bom, um show”
uisquerda (uísque + esquerda) = “esquerda-caviar; esquerda rica”
227
funcionalismo linguístico: interfaces
(05)
Micheque (Michelle (Bolsonaro)) + cheque = “cheque de Michelle”
Pilantropia (filantropia + pilantra) = “filantropia corrupta”
Prostiputa (prostituta + puta) = “muito prostituta”
Damales (Damares (Alves)) + males = “Damares muito do mal”
(06)
228
funcionalismo linguístico: interfaces
(07)
toboágua (tobogã + água) = “tobogã em que se cai numa piscina”
futevôlei (futebol + vôlei) = “esporte com rede, mas jogado como futebol”
showmício (show + comício) = “comício feito com apresentações musicais”
forrogode (forró + pagode) = “gênero musical que mistura forró e pagode”
lambaeróbica (lambada + aeróbica) = “ginástica feita com a dança lambada”
macuncrente (macumbeiro + crente) = “crente que frequenta umbanda”
psicogélico (psicólogo + evangélico) = “psicólogo evangélico”
vagaranha (vagabunda + piranha) = “muito vulgar; rameira demais”
6 Tradução livre de “resource understood as the deliberate fusion or superposition of two words
into one […]. It is a relatively modern and isolated mechanism in studies of lexicology or word
formation”.
229
funcionalismo linguístico: interfaces
230
funcionalismo linguístico: interfaces
(08)
Francês (CLAS, 1980):
franglais << français, ‘francês’ + anglais, ‘inglês’ = mistura de francês
com inglês
231
funcionalismo linguístico: interfaces
232
funcionalismo linguístico: interfaces
(09)
Fonte:
233
funcionalismo linguístico: interfaces
Fonte:
234
funcionalismo linguístico: interfaces
13 Tradução livre de “There are a number of formations whose taxonomy is difficult to discern.
Some words that function as crossovers keep one of the two bases intact and others do not”.
235
funcionalismo linguístico: interfaces
(11) [[X]x[Y]y]N
236
funcionalismo linguístico: interfaces
(12)
ouver << ouvir + ver = “ver e ouvir ao mesmo tempo”
roubartilhar << roubar + compartilhar = “compartilhar de outrem”
empresdar << emprestar + dar = “dar com a desculpa de empréstimo
de outrem”
enloquepirar << enlouquecer + pirar = “pirar de vez”
curtilhar << curtir + compartilhar = “curtir e compartilhar”
omentir << omitir + mentir = “mentir através da omissão”
estremexer >> estremecer + mexer = “mexer estremecendo”
237
funcionalismo linguístico: interfaces
(14)
S-S: Dhammernaro, BolsoHitler, Bolsolixo, bolsomerda
A-S: chatonaro, bestanaro, bostanaro
S-A: bolsocaro, bolsoimundo, bolsoignaro
A-A: analfaburro, horrorível, Macuncrente
V-S: sofressor, roubanaro
S-V: cartomente, bolsodar
238
funcionalismo linguístico: interfaces
239
funcionalismo linguístico: interfaces
a. Opera com bases que são palavras nem sempre completas, isto é,
cruzamentos geralmente envolvem pedaços (porções não morfêmicas)
de pelo menos uma forma de base. Essa é uma diferença morfológica
bem consistente entre os processos;
240
funcionalismo linguístico: interfaces
241
funcionalismo linguístico: interfaces
Tipos de cruzamento
242
funcionalismo linguístico: interfaces
243
funcionalismo linguístico: interfaces
Figura 9 – Familícia
244
funcionalismo linguístico: interfaces
Figura 10 – Mitoquina
245
funcionalismo linguístico: interfaces
246
funcionalismo linguístico: interfaces
Criações seriais?
247
funcionalismo linguístico: interfaces
(15)
Bolsonazi (https://pt-br.facebook.com/bolsonarofascista)
Bolsoneca (https://twitter.com/hashtag/bolsoneca)
Bolsonicho (sundial.thiagorsantana.com)
Bolsonojo (https://twitter.com/hashtag/bolsonojo)
Bolsonagem (https://www.facebook.comCommunity › Bolsonagem)
Bolsonegador (https://twitter.com/hashtag/bolsonega)
Bolsonada (https://twitter.com/bolsonada)
Bolsonabo (https://www.youtube.com/watch?v=GbhfuVKsNRU)
(16)
Bolsoanta (https://www.youtube.com/watch?v=Ba7KKmW-RaI)
Bolsoasno (https://www.dicionarioinformal.com.br/bolsoasno/)
Bolsobesta (https://twitter.com/hashtag/bolsobesta)
Bolsobosta (https://pt-br.facebook.com › › BolsoBosta)
Bolsoburro (https://twitter.com/hashtag/bolsoburro)
Bolsodemo (geradormemes.com/meme/pcokqg)
Bolsofake (https://pt-br.facebook.com/Bolsofake/)
Bolsofilho (https://twitter.com/hashtag/bolsofilho)
248
funcionalismo linguístico: interfaces
(17)
Bolsoditador (https://twitter.com/hashtag/bolsoditador)
Bolsoestuprador (https://twitter.com/hashtag/BolsoEstupro?src=hash)
Bolsotraficante (https://mobile.twitter.com/maluaires/with_replies)
Bolsoladrão (https://twitter.com/hashtag/bolsoladrão)
Bolsolunático (https://twitter.com/cynaramenezes/status/3)
Bolsominion (https://www.dicionarioinformal.com.br/bolsominion/)
Palavras finais
249
funcionalismo linguístico: interfaces
Referências
250
funcionalismo linguístico: interfaces
251
funcionalismo linguístico: interfaces
252
funcionalismo linguístico: interfaces
253
funcionalismo linguístico: interfaces
254
funcionalismo linguístico: interfaces
255
funcionalismo linguístico: interfaces
Introdução
1 Dedicamos este capítulo aos professores Juliana Soledade (UFBA) e Carlos Alexandre Gon-
çalves (UFRJ), por terem nos inspirado, respectivamente, nos estudos sobre a morfologia do
português arcaico e sobre a (im)produtividade morfológica na língua portuguesa.
257
funcionalismo linguístico: interfaces
258
funcionalismo linguístico: interfaces
259
funcionalismo linguístico: interfaces
260
funcionalismo linguístico: interfaces
3 “[…] the category ‘morpheme’ should not appear on this list because morphemes are not
linguistic signs, i.e. independent pairings of form and meaning. The minimal linguistic is the
word, and the occurrence of the category ‘morpheme’ in this list is to be seen as an infelicitous
remnant of morpheme-based morphology. Instead, bound morphemes form part of morpho-
logical schemas, and their meaning contribution is only accessible through the meaning of
the morphological construction of which they form a part.” (BOOIJ, 2010, p. 15).
261
funcionalismo linguístico: interfaces
262
funcionalismo linguístico: interfaces
5 “Morphological schemas have the following functions: they express predictable properties
of existing complex words, they indicate how new ones can be coined (Jackendoff 1975), and
they give structure to the lexicon since complex words do not form an unstructured list but
are grouped into subsets. This conception of the gramar avoids the well-known rule versus list
fallacy (Langacker 1987), the unwarranted assumption that linguistic constructs are either
generated by rule or listed, and that being listed excludes a linguistic construct from being
linked to a rule at the same time” (BOOIJ, 2010, p. 4, grifo nosso).
6 Refere-se ao modelo proposto por Mark Aronoff, em 1976. Trata-se de um modelo gerativista
baseado em regras. Geert Booij fez a sua tese de doutorado e alguns trabalhos posteriores
usando esse modelo. A MC mantém algumas formulações dessa proposta gerativista, mas se
desvencilha de outras questões, como as apontadas neste texto.
263
funcionalismo linguístico: interfaces
264
funcionalismo linguístico: interfaces
265
funcionalismo linguístico: interfaces
266
funcionalismo linguístico: interfaces
267
funcionalismo linguístico: interfaces
268
funcionalismo linguístico: interfaces
muitos desses casos podem ser relacionados com outros mais regulares.
Assim, considerando que o fenômeno a ser debatido neste capítulo gira
em torno do debate da improdutividade, tanto a MR quanto a MC se
fazem necessárias para a análise empreendida.
A morfologia derivacional do português arcaico e o conceito de
produtividade na morfologia histórica.
Neste trabalho, entende-se o português arcaico nos termos de Mat-
tos e Silva (2008). Trata-se, então, do período da língua portuguesa que
vai do final do século XII, data do documento mais antigo escrito em
português (Notícia dos Fiadores, 1175), até meados da primeira metade
do século XVI, quando começam as primeiras reflexões metalinguísticas
acerca da língua, através da elaboração de gramáticas, tais como as de
Fernão de Oliveira e de João de Barros, datadas de 1536 e 1540, respec-
tivamente. Nessa visão, o português arcaico se divide em duas fases: a
primeira abrange o romance chamado galego-português nos séculos XII,
XIII e XIV, ao passo que a segunda fase já aponta uma diferenciação do
português em relação ao galego e cobre os séculos XV e XVI.
Sobre a morfologia do português arcaico, em especial a morfo-
logia derivacional, as estudiosas Rosa Virgínia Mattos e Silva e Ca-
rolina Michaelis de Vasconcelos, em obras bastante distanciadas no
arco temporal, destacam a ausência de estudos histórico-descritivos
dos processos de formação de palavras no português. Vasconcelos
(1911-1912, p. 45) afirma que “[a] história da sufixação, prefixação
e composição portuguesa está por escrever”, de modo semelhante,
Mattos e Silva (1993, p. 20) declara que “[…] um estudo sistemático
dos processos derivacionais no período arcaico espera um autor”.
Trabalhos como os de Soledade (2001, 2004), Santos (2009) e Lopes
(2013, 2018) buscam preencher as lacunas apontadas por Vasconcelos
(1911-1912) e Mattos e Silva (1993), fornecendo um estudo sistemático
da sufixação, composição e prefixação no período arcaico da língua
portuguesa, respectivamente.
269
funcionalismo linguístico: interfaces
270
funcionalismo linguístico: interfaces
271
funcionalismo linguístico: interfaces
272
funcionalismo linguístico: interfaces
273
funcionalismo linguístico: interfaces
274
funcionalismo linguístico: interfaces
12 Ortografia atualizada.
275
funcionalismo linguístico: interfaces
276
funcionalismo linguístico: interfaces
277
funcionalismo linguístico: interfaces
278
funcionalismo linguístico: interfaces
279
funcionalismo linguístico: interfaces
280
funcionalismo linguístico: interfaces
281
funcionalismo linguístico: interfaces
282
funcionalismo linguístico: interfaces
Fatores de produtividade
Padrões analisados
Frequência Geratividade Extensibilidade
X-edo - - -
X-engo - + -
X-ento - + -
X-ez - + -
X-iça - - -
X-idão - + -
X-isco - + -
X-ismo - - -
X-ista - - -
X-izar - + -
X-ives - - -
X-udo - + -
X-ume - + -
283
funcionalismo linguístico: interfaces
Considerações finais
284
funcionalismo linguístico: interfaces
Referências
285
funcionalismo linguístico: interfaces
286
funcionalismo linguístico: interfaces
287
funcionalismo linguístico: interfaces
288
funcionalismo linguístico: interfaces
289
funcionalismo linguístico: interfaces
291
funcionalismo linguístico: interfaces
sem conhecê-la; e ii) a teoria gramatical que circula nas salas de aula
(notadamente oriunda da Gramática Tradicional) é incompleta e confusa.
Por sua vez, Antunes (2003), ao traçar um panorama da aula de
língua portuguesa e tratar especificamente do trabalho em torno da
gramática, constata que esse trabalho é comumente perpassado por
uma gramática descontextualizada, fragmentada, baseada em questões
irrelevantes e voltada para a classificação e a nomenclatura de unidades
linguísticas. A autora atribui esse tratamento da gramática a uma visão de
língua uniforme e inalterável, bem como a uma tendência essencialmente
prescritiva. Acrescentamos à composição desse cenário o isolamento da
gramática em relação a outras competências do ensino de língua portugue-
sa (leitura, escrita e oralidade); o privilégio de atividades mecanizadas,
com o objetivo de identificar, definir, classificar e substituir elementos
linguísticos, sem a devida reflexão sobre as motivações subjacentes; além
da ausência de uma fundamentação clara para o trabalho com gramática.
Essas considerações fazem-nos perceber que o ensino de gramática
ou o trabalho com tópicos gramaticais na sala de aula de língua portu-
guesa tem sido alvo de amplo debate. Há muito, advoga-se, no campo do
ensino de língua, que a atividade de produção e compreensão de textos
e o desenvolvimento da competência comunicativa sejam os elementos
centrais da aula de língua portuguesa.
A centralidade do texto no ensino de LP é uma premissa que foi
incorporada às orientações curriculares oficiais de nosso país há bastante
tempo, desde os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (BRASIL,
1998). Esse documento traz, de forma muito clara, a ideia de que “a
linguagem se realiza na interação” (BRASIL, 1998, p. 25) e que a uni-
dade básica de estudo da língua é o texto, e sua função comunicativa é
a razão do ato linguístico. Uma vez que o texto é compreendido como
lugar da interlocução entre sujeitos e produto da atividade discursiva,
a compreensão e a produção de textos constituem os reais objetos de
ensino de língua.
292
funcionalismo linguístico: interfaces
293
funcionalismo linguístico: interfaces
294
funcionalismo linguístico: interfaces
295
funcionalismo linguístico: interfaces
296
funcionalismo linguístico: interfaces
297
funcionalismo linguístico: interfaces
298
funcionalismo linguístico: interfaces
299
funcionalismo linguístico: interfaces
2 Trata-se do modo de codificação, na BNCC, das habilidades a serem desenvolvidas pelos alu-
nos: as letras iniciais designam a etapa da Educação Básica, no caso, Ensino Fundamental; os
dois dígitos intermediários referem-se às séries/anos (6º ao 9º ano); LP codifica o componente
curricular Língua Portuguesa; já os dígitos finais dizem respeito à sequência do conjunto total
de habilidades (habilidade 20).
3 A escolha dessas obras deve-se às pesquisas referidas na nota 1.
300
funcionalismo linguístico: interfaces
301
funcionalismo linguístico: interfaces
302
funcionalismo linguístico: interfaces
303
funcionalismo linguístico: interfaces
304
funcionalismo linguístico: interfaces
305
funcionalismo linguístico: interfaces
306
funcionalismo linguístico: interfaces
307
funcionalismo linguístico: interfaces
No município em que ele mora, diz Isaac, não há muitas coisas legais
para se fazer na rua. A casa onde ele vive com os pais fica em Francisco
Morato, a cerca de 30 quilômetros do centro de São Paulo.
“Aqui não tem muito lugar pra ir, não tem livraria, parque. Sou
filho único e nas casas do lado não tem crianças da minha idade, então
eu tenho que usar muito a imaginação aqui em casa pra brincar”, explica.
Ele diz que é “bem criativo” e até inventa seus próprios jogos, além
de gostar muito de ler. Mas, mesmo assim, a tentação do eletrônico tem
sido grande nas férias da escola. Isaac não tem um aparelho próprio, e
pega emprestado o da sua mãe, Luciana.
[…]
Recentemente, ele leu “Desligue e Abra” (editora Moderna), do
escritor Ilan Brenman. O autor conta que teve a ideia de fazer este livro
enquanto caminhava despretensiosamente, e imaginou como seria a vida
se ele fosse, em vez de humano, um livro.
Ilan foi ainda mais longe na viagem: se ele se transformasse nesse
tal livro, o que ele diria? “Eu ia querer dizer para as crianças que eu sou
melhor que o celular, e que eu posso provar isso”, fantasia ele.
[…]
“Desligue e Abra” segue a ideia original de Ilan, e “fala” com o
leitor como se o livro estivesse realmente ali trocando uma ideia. Nisso
surgem propostas de brincadeiras que vão desde cantar com voz fininha
e depois bem grave, até arremessar o exemplar para o alto, sem dó.
“Por mais que ele tenha ficado um pouquinho arrebentado depois
que eu li, eu amei esse livro. Ficou assim porque ele pedia pra jogar ele
pro alto e bater palma três vezes, e eu tentei umas 24 vezes e ele caiu no
chão. Coitado dele. Mas vou informar aqui rapidinho que o livro passa
bem, ele está na estante”, brinca Isaac.
308
funcionalismo linguístico: interfaces
Sofia C. tem 13 anos e também acha que, nas férias, vem usando
mais o celular. “Tô usando bem mais do que quando estava indo pro
colégio. Uso Tik Tok, Instagram e eu também edito imagens”, conta.
[…]
“Minha família até pede pra eu ficar sem celular, mas, infelizmen-
te, às vezes eu não consigo sair dele, pois ou estou assistindo vídeos
engraçados no Tik Tok, tipo meme, ou estou entediado, ou ainda estou
jogando Fifa 23 mobile”, diz Théo C., de 13 anos.
“A criança não vai pôr limites, quem põe limite é a família. É ela
quem tem que saber que o celular está dando problemas na coluna das
crianças, nos olhos, problemas cognitivos e de ansiedade”, defende Ilan
Brenman.
Nas primeiras páginas de “Desligue e Abra”, o livro deixa claro
que “sabe” o quanto é difícil deixar o celular de lado, que é preciso se
esforçar para resistir à vontade de ficar com ele.
[…]
E, antes que alguém pense que Ilan estaria sugerindo que todo mundo
viva sem celular, ele explica que não é exatamente isso. “Eu também
uso o meu celular, óbvio, mas a questão é que temos que ter bom senso
e parcimônia”, fala.
[…]
Para Ilan, essa parte é realmente importante: ainda que o celular
ocupe uma parte do dia a dia das crianças, ninguém esqueça como é
que se brinca. “Na história do Peter Pan, ele esquece como era ser
criança. E é triste pensar que as crianças de hoje, quando crescerem,
podem não ter mais lembranças de que brincavam quando pequenas”,
imagina o escritor.
“Se você não fabricar lembranças, se ficar só nas telas, pode ter
consequências desastrosas. Eu acho que no futuro o celular vai vir com
309
funcionalismo linguístico: interfaces
310
funcionalismo linguístico: interfaces
311
funcionalismo linguístico: interfaces
312
funcionalismo linguístico: interfaces
313
funcionalismo linguístico: interfaces
outros valores semânticos: modo (com voz fininha, sem dó, no 8º pará-
grafo), direção (para o alto, no 8º parágrafo), reforço/confirmação (re-
almente, no 8º e no penúltimo parágrafos) e avaliação (infelizmente, no
11º parágrafo). Destacamos que alguns desses valores merecem análise
específica, uma vez que, por exemplo, não são contemplados em livros
didáticos nem nos compêndios gramaticais mais tradicionais, além de
alguns elementos que os codificam não representarem necessariamente
adjuntos adverbiais. Mais adiante, faremos considerações a respeito.
Cabe lembrar que o encaminhamento aqui proposto é o de sempre
analisar com os alunos a funcionalidade dos fatos linguísticos estudados.
Assim, também vale para os elementos referidos no parágrafo anterior
discutir o papel que cumprem no texto: explicitar, por exemplo, que
com voz fininha, sem dó e para o alto estão relacionados às formas de
interação com a obra Desligue e Abra sugeridas ao leitor. Também é
oportuno dizer que a concepção desse livro tem relação direta com o
tema discutido na reportagem.
Ainda na esteira da diversidade de elementos adverbiais presentes no
texto e de circunstâncias a eles relacionadas, propomos que o professor
também discuta com a turma o emprego de um mesmo elemento com
valores semânticos distintos. Nesse sentido, sugerimos que os alunos
sejam instados a cotejar os usos de aqui no quarto parágrafo (Aqui não
tem muito lugar pra ir) e no primeiro (Um videozinho engraçado aqui).
De igual modo, é oportuno instigar a turma a confrontar a ocorrência
de bem no quinto parágrafo (bem criativo) e no nono parágrafo (o livro
passa bem). A ideia é que seja oportunizada uma discussão, em grupos,
de modo que os alunos consigam perceber que, no primeiro uso, aqui
remete a um lugar concreto (o município de Francisco Morato, em São
Paulo). Na outra situação, contudo, não há referência a um espaço físico.
Esse termo é empregado, em conjunto com o ali, para a organização
sequencial (temporal) de atividades feitas ao celular, as quais tomam
muito tempo do usuário: assistir a um vídeo engraçado; depois, a “uma
thread polêmica”; em seguida, a “um post de terror” etc. No que diz
314
funcionalismo linguístico: interfaces
315
funcionalismo linguístico: interfaces
316
funcionalismo linguístico: interfaces
317
funcionalismo linguístico: interfaces
cidade onde o garoto Isaac mora: no município em que ele mora (con-
junto de palavras, incluindo verbo), em Francisco Morato (mais de
uma palavra, mas sem verbo) e aqui (uma só palavra). Seguindo essa
identificação, o professor discute com os alunos a natureza categorial
das formas de representação dessas relações circunstanciais (advérbio,
locução adverbial e oração). Nesse momento, é oportuno ao professor
retomar, caso os alunos tenham estudado em séries anteriores, a cate-
goria do advérbio, seus valores semânticos e expressões formadas por
preposição + Sintagma Nominal com valor circunstancial (as chama-
das locuções adverbiais). Também sugerimos que seja solicitado aos
alunos identificar mais elementos circunstanciais presentes no texto,
observando o modo de codificação.
No que diz respeito ao segundo fator de ordem morfossintá-
tica que mencionamos, cabe ao professor analisar com os alunos
a que elementos do texto os termos de ordem circunstancial estão
vinculados/relacionados. A ideia é que o professor oriente a turma
a observar os usos desses termos e a perceber sobre que conteúdo
recai a circunstância/conteúdo expressa/o. Assim, por exemplo, no
caso de “eu tenho usado mais o celular” (2º parágrafo), o intensifi-
cador mais incide sobre o conteúdo do verbo usar; em “Ele diz que é
‘bem criativo’” (5º parágrafo), a intensificação de bem recai sobre a
semântica do adjetivo criativo; no trecho “Ilan foi ainda mais longe
na viagem” (7º parágrafo), o advérbio mais intensifica o conteúdo
do advérbio longe; já em “[…] mas, infelizmente, às vezes eu não
consigo sair dele […]” (11º parágrafo), o conteúdo de infelizmente
incide sobre a oração “às vezes eu não consigo sair dele”. Com esse
procedimento, o docente oportuniza aos alunos conhecer diferen-
tes possibilidades de escopo dos elementos de natureza adverbial,
expandindo a abordagem da perspectiva adotada por compêndios
gramaticais mais conservadores e por livros didáticos ao considerar
o adjunto de sentença (MARTELOTTA, 2012; CASTILHO, 2010)6.
6 Destacamos que alguns termos técnicos aqui mencionados, a exemplo de intensificador e
318
funcionalismo linguístico: interfaces
evento, são dirigidos ao profissional docente, podendo ou não ser utilizados para os alunos,
conforme o nível de compreensão da turma. Sugerimos o uso da metalinguagem corriqueira
e conhecida dos alunos, como é o caso da categoria gramatical advérbio.
319
funcionalismo linguístico: interfaces
320
funcionalismo linguístico: interfaces
321
funcionalismo linguístico: interfaces
Conclusões
O tratamento de tópicos gramaticais realizado no espaço escolar
ainda requer bastante atenção, dada a complexidade envolvida. Os docu-
mentos de orientação curricular nas duas últimas décadas têm proposto
que o estudo da gramática se dê por meio de práticas de análise e refle-
xão da língua, as quais estão diretamente relacionadas às atividades de
leitura/escuta e produção de textos. Essa proposição tem causado, desde
o início, uma confusão entre docentes, provocando questionamentos
acerca da necessidade ou não das chamadas aulas de gramática, entre
outros, e dúvidas quanto à abordagem a ser feita aos tópicos gramaticais
em turmas da Educação Básica.
Nesse contexto, discutimos o tratamento de tópico da morfossintaxe
do português em turma do EF, a saber, elementos de natureza adverbial.
Para tanto, analisamos o que a BNCC propõe quanto a tais elementos e
como ele é abordado em livros didáticos adotados em escolas da rede
pública potiguar. Em seguida, apresentamos proposta de tratamento do
tópico focalizado sob a perspectiva da Linguística Funcional em asso-
ciação às orientações curriculares nacionais.
Baseados na premissa de que o trabalho com fenômenos grama-
ticais no espaço escolar deve considerar seu funcionamento em textos
autênticos, nossa proposta prioriza aspectos semânticos e pragmáticos de
elementos adverbiais. Nessa direção, sugerimos que o docente explore os
usos desses elementos, buscando identificar, primeiramente, a sua fun-
cionalidade para o conteúdo temático e para os fins comunicativos do(s)
texto(s) em que ocorrem. Também recomendamos ao professor explorar
a interface sintaxe-morfologia por meio da observação das formas de
representação do adjunto adverbial, além do papel textual-discursivo de
alguns elementos adverbiais presentes no texto de referência.
322
funcionalismo linguístico: interfaces
Referências
323
funcionalismo linguístico: interfaces
324
funcionalismo linguístico: interfaces
325
funcionalismo linguístico: interfaces
326
funcionalismo linguístico: interfaces
Dennis Castanheira
(UFF)
Introdução
327
funcionalismo linguístico: interfaces
328
funcionalismo linguístico: interfaces
329
funcionalismo linguístico: interfaces
330
funcionalismo linguístico: interfaces
porém, é preciso que haja alguns parâmetros de trabalho, visto que tal
incursão deve ser bem fundamentada e organizada, sem perder a essência
da concepção funcionalista da linguagem.
Como afirma Castanheira (2022a, p. 214),
331
funcionalismo linguístico: interfaces
332
funcionalismo linguístico: interfaces
333
funcionalismo linguístico: interfaces
334
funcionalismo linguístico: interfaces
335
funcionalismo linguístico: interfaces
336
funcionalismo linguístico: interfaces
Propostas de interface
337
funcionalismo linguístico: interfaces
338
funcionalismo linguístico: interfaces
339
funcionalismo linguístico: interfaces
ii) o uso de textos escritos antigos reais para que os discentes conheçam
usos pretéritos das formas que originam os atuais pronomes pessoais
com função de sujeito “você” e “a gente”;
iii) o uso de textos orais e/ou escritos reais e atuais para que seja sis-
tematizado o atual quadro pronominal do Português do Brasil com os
alunos, em comparação à abordagem da tradição gramatical.
B. Pronomes demonstrativos
340
funcionalismo linguístico: interfaces
i) o uso de textos orais e/ou escritos reais para que sejam observados
padrões fóricos dos pronomes demonstrativos indo além da classifica-
ção “anáfora x catáfora” por meio da observação de sua complexidade
textual e das suas motivações discursivas;
ii) o uso de textos orais e/ou escritos reais para que seja discutida a
marcação de subjetividade desses elementos, mesmo em contextos
tidos como neutros para que as intencionalidades pragmáticas sejam
mapeadas;
341
funcionalismo linguístico: interfaces
iii) o uso de textos escritos reais para que as funções coesiva e subjetiva
dos pronomes demonstrativos sejam discutidas em prol de produção
textual pautada na leitura e na gramática, inclusive da redação modelo
ENEM.
C. Conjunções adversativas
342
funcionalismo linguístico: interfaces
ii) o uso de textos reais orais e/ou escritos para que os efeitos de sentido
sejam sistematizados por meio do caráter polissêmico das conjunções;
iii) o uso de textos reais escritos para que o papel semântico, discur-
sivo, coesivo e sequencial das conjunções seja observado e mapeado
em prol do ensino de produção textual, como, por exemplo, a redação
de vestibular.
343
funcionalismo linguístico: interfaces
344
funcionalismo linguístico: interfaces
i) o uso de textos orais e/ou escritos reais para que os alunos reconhe-
çam a mobilidade posicional dos advérbios de tempo e lugar e as suas
motivações discursivas ligadas à referenciação;
ii) o uso de textos orais e/ou escritos reais para que discentes reconhe-
çam o papel coesivo de sequenciação dos advérbios com circunstância
de tempo e lugar;
345
funcionalismo linguístico: interfaces
iii) o uso de textos escritos reais para que os alunos observem e consi-
gam usar os advérbios de tempo e lugar na tessitura de textos formais
por meio de seu papel referencial e sequencial, inclusive em redações
modelo ENEM.
Considerações finais
346
funcionalismo linguístico: interfaces
Referências
347
funcionalismo linguístico: interfaces
348
funcionalismo linguístico: interfaces
349
funcionalismo linguístico: interfaces
350
funcionalismo linguístico: interfaces
SOBRE OS AUTORES
351
funcionalismo linguístico: interfaces
Dennis Castanheira
Graduado em Licenciatura em Letras (Português e Literaturas), com dignidade
acadêmica Magna Cum Laude, Mestre em Linguística e Doutor em Língua
Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. É Professor Adjunto
de Língua Portuguesa do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da
Universidade Federal Fluminense, onde lidera projetos de pesquisa e extensão
e atua na Graduação e na Pós-Graduação Lato Sensu de Língua Portuguesa
e de Língua Portuguesa para Estrangeiros. Pesquisador do Grupo de Estudos
Discurso & Gramática (UFF) e Vice-líder do Grupo de Pesquisa em Linguís-
tica de Texto (UFRJ). Lidera a iniciativa didático-científica Educação ao rés
do chão, em parceria com Aline Menezes, do Colégio Pedro II. Publica suas
investigações em revistas científicas e em livros técnicos. É membro do corpo
editorial e parecerista de periódicos especializados do Brasil e do exterior.
Atuou no ensino básico nos níveis fundamental e médio. Áreas de atuação/
interesse: Funcionalismo norte-americano; Linguística de Texto; Sociofun-
cionalismo; Ensino de língua portuguesa.
352
funcionalismo linguístico: interfaces
353
funcionalismo linguístico: interfaces
354
funcionalismo linguístico: interfaces
355
funcionalismo linguístico: interfaces
356
funcionalismo linguístico: interfaces
357