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XVIII Conferência Brasileira de Folkcomunicação

Recife-PE, 02 a 05 de maio de 2017 – UFRPE/FACIPE

ASPECTOS DA RURBANIDADE EM RECIFE – PERNAMBUCO NOS


BAIRROS DE PASSARINHOS E DOIS UNIDOS.

*Rafael Ferreira Dantas SANTOS1

*Irenilda LIMA2

Resumo

Resumo: Partindo das concepções de Rurbanidade, que fomentam a ideia de trocas


recíprocas nas formações das cidades e localidades consideradas urbanas, neste trabalho
foi analisado de que forma nos bairros de Passarinhos e de Dois Unidos, na periferia do
Recife – Pernambuco, evidenciam como as formas de vivencias típicas do mundo rural
estão mescladas com as características de urbanidade. Trata-se de uma pesquisa no
paradigma qualitativo com uso de análise documental e observação direta. Nos
resultados iniciais foram observados numa parcela da população a consciência da
importância da conservação ambiental, práticas agrícolas, trocas estabelecidas entre os
seres humanos e a natureza, como aspectos típicos do que ocorre em sociedades rurais.

Palavras-chave

Passarinhos; Ruralidades; ; Agricultura urbana; Desenvolvimento urbano; Preservação


Ambiental.

1. Introdução

A questão ambiental está na pauta geral de instituições governamentais e não


governamentais e torna-se tema de interesse para a sociedade em geral. Neste sentido as
áreas urbanas são apontadas como áreas de natureza poluidoras enquanto o meio rural
ainda preserva o status de contribuir para os processos de preservação. É evidente que
essa relação entre urbano, rural e preservação ambiental segue a linha dos temas de alta
complexidade, inclusive quando se trata do contexto brasileiro.

1
. Rafael Ferreira Dantas Santos é aluno do Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural e
Desenvolvimento Local da Universidade Federal Rural de Pernambuco
2
Irenilda Lima é professora e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural e
Desenvolvimento Local da Universidade Federal Rural de Pernambuco
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Ao afirmar que a problemática da vida rural é bem diferente da urbana, Manoel


Correia de Andrade (1989) se referia também a amplitude das propriedades rurais, as
formas de trabalho, as relações sociais no campo como sendo diferentes das mesmas
questões quando o contexto é urbano. Indica que houve um avanço do sistema capitalista e
desta feita aconteceu uma aceleração dos processos de urbanização e com isso o aumento
o êxodo rural.
Consideramos que, ao migrarem, as pessoas que vieram do campo trazem
consigo os hábitos e os modos peculiares a vida do campo, isso acontece com os adultos
e com todas as gerações que já cresceram no cenário urbano com marcas ancestrais do
meio rural. Isso pode ser evidenciado nos contextos urbanos das periferias das cidades
brasileiras ao observarmos os modos de vida, como a sinalizar um contexto rural a
resistir e existir no mundo urbano. Tal inserção do rural com o urbano foi denominado
por Cimadevila y Carniglia (2009) como Rurbanidade.
Considerando como processos de ruralização estão atrelados ao conceito de
rurbanidade, para o grupo que habitam em meios urbanos e encontram-se em termos de
reprodução social, e formas de resistências, estão próximos do modo de vida camponês.
A complexidade do tema fica bem ilustrada quando Moraes, Àrabe e Silva (2008)
abordam o tema do desenvolvimento agrário em tempos de globalização indicam que
“As cidades cercam os campos”.
Se consideramos que a formação destas periferias urbanas são
predominantemente fruto do êxodo rural, verificamos também que nestes grupos, seria
destacada a consciência da importância da conservação e manejo adequado do meio
ambiente para a manutenção de seu agroecossistema e das trocas estabelecidas entre os
seres humanos e a natureza o que coaduna com o que pensam Caporal e Lima ( 2015).
Para pesquisarmos sobre Rurbanidade, o cenário da investigação aparece em
uma grande cidade como Recife, capital de Pernambuco, algumas áreas de periferias das
cidades. Desta maneira ficou evidenciado que os bairros de Passarinhos e Dois Unidos
poderiam ser estudados pela razão de estarem situados no extremo norte do território do
Recife, já fazendo divisa com os municípios de Olinda e Paulista.
Para escolha do lugar de estudo, consideramos a configuração geográfica, social,
econômica e de presença de arborização e práticas agrícolas, como agricultura urbana
entre os moradores. Esta pesquisa se propõe a analisar a presença de aspectos de
rurbanidade nesses dois lugares na periferia do Recife. Foi ainda pretensão deste
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trabalho analisar de que forma os aspectos de ruralidade estão evidenciados no


território, enquanto espaço vivido, nos bairros de Passarinho e Dois Unidos em Recife –
Pernambuco.

Trajetória Metodológica:

Em termos metodológico trata-se de uma pesquisa qualitativa, de caráter


exploratório com uso de pesquisa documental, registro fotográfico e observação direta
com uso de caderno de campo, entrevista com roteiro semi-estruturado com 15
moradores. Utilizamos categorias de análise que foram configuradas com roteiro de
pesquisa a descobrir. Indicadores sociais associados, preservação ambiental,
organização popular.
Sobre o cenário da pesquisa: Os bairros de Passarinhos e Dois Unidos, ambos
estão localizados na Zona Especial de Interesse Social (Zeis), possuindo
respectivamente 20.305 e 32.805 habitantes, segundo o Censo do IBGE de 2010.
Verificamos que a média de habitação dos dois bairros é de 3,5 pessoas por residência.
Em ambos os bairros, a proporção de mulheres responsáveis pelo domicílio é superior
aos 40%. Além da condição de baixa renda, ambas as comunidades são marcadas pela
violência urbana, frequentando em algumas amostragens os rankings de homicídios
elaborados pelo Pacto pela Vida, no Recife.

Bases Teóricas
As bases teóricas para este trabalho são especificamente nos conceitos de rurbanidade,
que deriva para áreas como agricultura familiar, agricultura urbana e desenvolvimento.
Assim sendo, trazemos à tona o conceito de Rurbanidades, com sendo a
coexistência do rural e do urbano, em cada um dos meios, mas, em vez de completamente
isolados, as características de ambos os meios são evidenciados de forma conjunta e
agregada, conforme Cimadevilla (2010).
Reforçando a ideia de rurbanidade, encontramos em Cimadevila y Carniglia
(2009) a sinalização de dicotomia e integração destes mundos. E como Rurbanidade.

Desde esa perpectiva, postular la interpenetración de contrarios en


la dicotomia urbano-rural, supone simplesmente afirmar que la
predominancia de un polo sobre el otro no inhibe el proceso
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contrario. Por esa razón, reconocidos los procesos de penetración


de lo urbano sobre lo rural , inclusos como hegemónicos, también
se requiere observar sus procesos opuestos. O lo que puede
designar-se como ruralização de lo urbano y su sínteses rurbana.
(CIMADEVILA Y CARNIGLIA, 2009, P. 16)

Consideramos o grau de complexidade que existe ao focarmos o mundo urbano


amalgamado com o rural. E principalmente se a pretensão é fugir de uma visão dualista
e dicotômica. Verificamos que um desses mundo está sempre influenciando no outro. As
atividades típicas do meio urbano também aparecem no meio rural brasileiro
contemporâneo.
Quando pensamos na questão agrária no Brasil, na relação da posse e do uso da
terra e das alternativas de resistência dos agricultores familiares constatamos que o Brasil
agrário passa por mudanças visíveis e como sempre também complexas. Um dos textos
editados pela Embrapa trata de um novo tempo nas relações produtivas no meio rural no
Brasil. Surge então a nova expressão: “novo espaço rural brasileiro”, que na definição de
Graziano da Silva e Del Grossi (1999) apóia-se em pesquisas desenvolvidas em duas fases,
dando ênfase maior à questão da ocupação agrícola e não-agrícola e da pluriatividade 3.
Fruto de um trabalho de pesquisa temático, denominado Projeto Rurbano, a conclusão da
primeira parte do estudo revelou que vem caindo o emprego agrícola desde os meados da
década de 80, mas a população agrícola, ao contrário do que se esperava, vem crescendo no
mesmo período. É como se estivesse havendo uma compensação de perdas de postos de
trabalho no setor agrícola pela criação de inúmeras “novas atividades” não-agrícolas no
meio rural (LIMA, 2002).
Assim, os resultados do projeto Rurbano mostraram que o meio rural brasileiro,
como acontece em outras partes do mundo desenvolvido, mostra uma crescente
diversificação de atividades agrícolas e não-agrícolas. Para Graziano e Del Grossi
(1999), as atividades não–agrícolas são: prestação de serviços (lazer, pessoais e
auxiliares de serviços econômicos), comércio e indústria ou seja, a partir de atividades
que não precisam ser necessariamente agrícolas.
Concordando com este pensamento, Ricardo Abramoway (2000) confirma que o
desenvolvimento rural não se restringe ao crescimento agrícola ou às possibilidades de

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pluriatividade: conjuga as atividades agrícolas com outras não-agrícolas que gerem ganhos monetários
ou não-monetários, independentes de serem atividades agrícolas ou não
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sua expansão. O desenvolvimento agrícola estaria muito mais atrelado a uma densa rede
de relações entre serviços e organizações públicas, iniciativas empresariais urbanas e
rurais, agrícolas e não agrícolas.
O nosso enfoque concentrou-se em verificar principalmente a presença do rural
no meio urbano. Essa indicação veio da inspiração dos estudos de Caporal e Lima
(2015), quando verificaram que há um grau de campesinidade, mesmo em outras formas
de vida no campo e de se fazer agricultura não campesina, como nas formas inerente à
agricultura empresarial e capitalista. Se nas outras formas não tradicionais de fazer
agricultura aparecem as raízes das formas campesinas que estão relacionada às formas
de agricultura tradicional, tal ideia nos inspirou a pensar as questões que nortearam este
trabalho.
Os limites entre o rural e o urbano são questionados em pesquisas sobre a
rurbanização e tem na agricultura urbana e no incentivo às feiras agroecológicas alguns
dos sinais mais materiais do interesse da população da cidade de experimentar um
pouco da dinâmica do campo e dos produtos produzidos pela agricultura de base
familiar e sustentável. E se há um local dentro do perímetro urbano que mais se
aproxima do campo, seja por sua urbanização atrasada ou pelas características do tecido
cultural da sua população, são as periferias.
Portanto, consideramos os territórios rurais não são independentes dos urbanos e
vice versa. Ilustrando a dependência e a complexidade do tema realizamos esta pesquisa
e a concepção de rurbanidade nos motivou a averiguar a relação teoria e prática e
escolher um local onde fosse possível investigar de que forma este conceito aparece na
realidade concreta das cidades.

Resultados e discussão

Nas analises documentais e observação direta, nas visitas no tempo amostral de


julho de 2016 a março de 2017, para averiguarmos de que forma as ruralidades se
apresentam formando a Rurbanidade, trouxeram alguns dados: Os bairros de
Passarinhos e Dois Unidos possuem ainda uma vasta área verde preservada, devido à
presença de duas reservas de Mata Atlântica (a Mata de Passarinhos, com 14 hectares; e
a Mata de Dois Unidos, com 52,14 hectares). Além das reservas, os bairros possuem
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ainda muitos sítios urbanos e áreas desocupadas que passaram a receber ocupações
irregulares nos últimos anos com finalidade residencial. Esse processo desordenado e
acelerado, no entanto, além de acrescentar novos desafios sociais para a região, coloca
em risco também o já atacado equilíbrio ambiental. Os dois rios que cortam os bairros
(Rio Beberibe e Rio Morno) estão extremamente poluídos e diariamente novas árvores
são derrubadas na região com a finalidade de abrir novos terrenos para construções.
Além das matas, ocupações consolidadas e em construção, a paisagem do bairro
é desenhada ainda por uma série de morros que circundam as áreas planas desses
bairros, onde estão localizados os comércios e terminais de ônibus. Essas localidades
são alvos constantes de intervenção do poder público municipal devido aos riscos de
desabamento nos períodos de chuvas, além da própria condição de acentuada violência,
visto que devido à morfologia algumas dessas áreas possuem maior dificuldade de
acesso.

Foto: Alto do Maracanã, em Dois Unidos. Andrea Rego Barros/PCR

2. Mobilização Política e o Ocupe Passarinhos

Averiguamos que em 2011, um grupo de pesquisa ligado à UFPE provocou a


formação de um Fórum Popular Permanente no bairro de Dois Unidos, com a proposta
de estimular a participação dos moradores nas temáticas referentes ao bairro e suas
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problemáticas, em primeiro momento, junto às lideranças locais; no segundo momento


com os demais moradores interessados. Apesar de resultados iniciais positivos, uma das
conclusões do projeto era, segundo Barboza, Oliveira e Freitas (2011, p. 14), “a
passividade da comunidade: a falta de uma experiência participativa comunitária
anteriores a este projeto se colocou como um entrave para o avanço da proposta e a
participação dos moradores”. Estes elementos trouxeram indicação de compararmos: de
que maneira esse comportamento social apareceria no contexto rural? Na resposta a essa
questão evidenciamos, como uma marca dos povos do campo é a resistência, No
campesinato, a marca maior é a disposição da luta política e engajamento nas lutas por
conquistas sociais.
Como resultado esperava-se mobilizar a população no intuito de se organizarem
coletivamente para a resolução de suas demandas comunitárias e pessoais. Concluiu-se
que o conflito de interesses dos envolvidos, a dificuldade operacional por parte dos
executores do projeto e a ausência de uma cultura política democrática culminou com o
não alcance dos objetivos propostos no projeto.
Pelas pesquisas foi constatado que em 2014, houve uma fato que provocou uma
mobilização mais intensa nessa região. A possibilidade de remoção de mais de 20 mil
famílias, por uma decisão judicial, atraiu a força de algumas ONGs e movimentos
sociais para a comunidade e mexeu com os moradores, que viram ameaçada a sua
moradia. A luta, que terminou com a declaração do Governador João Lyra de que
tratava-se de uma área de interesse social, é descrita da seguinte forma por Rafael
(2011), trata-se de um cenário que retoma a luta pela reforma urbana, que representaram
a construção de uma ampla articulação de segmentos sociais, resultando em grandes
avanços para a dinâmica de democratização do espaço urbano.
Nas observações de campo, com observação direta, conversas com moradores e
registro fotográficos foi verificado práticas agrícolas e criação de animais. algo que é
típico do contexto rural. E também evidenciamos as trocas solidárias, venda de
pequenas produções originadas dos quintais, o que poderíamos indicar como quintais
produtivos. A caracterização formal da área como urbana indica nessa prática típica de
áreas rurais o que se considera agricultura urbana.
E em 2016 foi iniciado o projeto de Agricultura Urbana. Cerca de 30 mulheres
estão sendo acompanhadas pelo projeto Mulheres Urbanas: Segurança Alimentar e
Consumo Consciente. As mulheres que integram o projeto recebem oficinas e
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assistência técnica para cultivar os quintais produtivos, bem como participam de


discussões e intercâmbios. O projeto é desenvolvido pela Casa da Mulher do Nordeste,
Espaço Mulher, UFPE e UFRPE. A iniciativa tem a proposta da troca de saberes entre o
conhecimento tradicional e o conhecimento cientifico, numa abordagem agroecológica.

Foto: Site da Casa da Mulher do Nordeste

Tem gerado interesse das universidade em incentivar e pesquisar sobre a


ocorrência da agricultura urbana como alternativa para alimentação e renda de
comunidades pauperizadas nas regiões urbanas. Desta forma, encontramos em
Santandreu (2007) a seguinte definição de agricultura urbana:

um conceito multi dimensional que inclui a produção, o agro


extrativismo e a coleta, a transformação e a prestação de serviços, de
forma segura, para gerar produtos agrícolas (hortaliças, frutas, ervas
medicinais, plantas ornamentais, etc.) e pecuários (animais de
pequeno, médio e grande porte) voltados ao auto consumo, trocas e
doações ou comercialização, (re) aproveitando-se, de forma eficiente e
sustentável, os recursos e insumos locais (solo, água, resíduos sólidos,
mão-de-obra, saberes etc.). Essas atividades podem ser praticadas nos
espaços intra-urbanos ou periurbanos, estando vinculadas às
dinâmicas urbanas ou das regiões metropolitanas e articuladas com a
gestão territorial e ambiental das cidades. (SANTANDREU, 2007,
P.8)

A proposta de desenvolver um projeto de agricultura urbana na região poderá


resultar, além da produção de alimentos livres de agrotóxicos, numa maior
conscientização da relevância da terra e do verde na comunidade, que convive com o
constante processo de desmatamento. O despertar de uma vocação rural no bairro, ainda
que já haja a percepção de que são reduzidas as áreas para plantio nos bairros, desperta
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também o potencial da população local de se apropriar não apenas do seu espaço, como
transformá-lo para o seu benefício. O estímulo do uso de áreas comuns ou sem
ocupação, que é uma característica em alguns espaços dos bairros, é outro aspecto que
pode ser explorado.
Além da atuação da ONG, com o projeto de agricultura urbana, um evento de
maior porte tem acontecido anualmente na comunidade, que trata-se do Ocupe
Passarinho, que mobiliza atividades culturais, celebrando o movimento de resistência e
promovendo a capacitação popular. Trata-se de uma ação ativista pela luta do direito
amplo à moradia das famílias que residem nas vilas que tiveram seu território
contestado. Aconteceram duas edições do evento, contando com a participação de
diversos coletivos, grupos culturais, movimentos sociais, além da realização de ua feira
agroecológica e um bingo solidário.

4. Um olhar rural e nas comunidades urbanas

A periferia não tem uma história contada sistematicamente. Os conhecimentos


acerca do processo de ocupação são reduzidos e a autoestima dessas populações é baixa.
A narrativa nos telejornais, rádios e jornais impressos da periferia é um recorte dos seus
indicadores de violência e de pobreza, pouco se apontando os seus aspectos culturais ou
demais ativos, que no caso dessas comunidades em observação possuem relevantes
reservas ambientais para a cidade do Recife.

Fotos: Keila Costa/Ocupe Passarinho


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As iniciativas de resistência da comunidade contribuem para um olhar reflexivo


dessa população de defesa e de valorização do seu espaço. Nos aspectos mais urbanos
verificamos que os bairros possuem potencial para ecológico, na sinalização de que em
alguns lugares jorram água de excelente qualidade. E assim, se instalou ali uma
conhecida indústria de engarrafamento de água mineral (um processo de extração de
água), foto abaixo, e algumas áreas com criações de animais de pequeno e médio porte.
Embora não haja uma pesquisa consolidada sobre o assunto, há uma percepção, fruto de
uma busca exploratória de que há uma expressiva parcela da população de origem rural
(vinda do agreste e sertão do Estado por meio da migração urbana décadas passadas),
sejam os idosos que vieram em busca de oportunidades de trabalho no passado ou de
seus descendentes.

Conclusões
Atendendo aos objetivos deste trabalho foi possível analisar de que forma nos
bairros de Passarinhos e de Dois Unidos, na periferia do Recife – Pernambuco, se
evidenciam as formas de vivências típicas do mundo rural e como elas estão mescladas
com as características de urbanidade. Partindo das concepções de Rurbanidade, fica
fortalecida a ideia de trocas recíprocas entre rural e urbano nas formações das cidades e
localidades consideradas urbanas.
Numa pesquisa de caráter exploratório, através das vivências de campo na
convivência nos dois bairros, utilizamos as observações diretas, registro fotográfico,
conversas informais e entrevistas com 15 moradores. Na pesquisa documental foi
possível consultar os dados sobre o lugar e os projetos de instituições públicas e de
ONGs que apoiam o desenvolvimento humano e do lugar.
Este trabalho registra parte de uma pesquisa maior sobre o tema Rurbanidades.
Nos resultados inciais foram observados a consciência da importância da conservação
ambiental, práticas agrícolas urbanas, quintais produtivos, trocas estabelecidas entre as
pessoas e a natureza, como aspectos típicos do que ocorre em sociedades rurais.
A intervenção das organizações sociais tem o potencial de construir com essa
população um olhar mais atencioso ao espaço urbano público e à preservação ambiental
que está a sua volta. A proposta de desenvolvimento da agricultura urbana sinaliza para
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ruralização de uma comunidade que caminhou por um processo de urbanização


depredatória nas últimas décadas, que segue ainda em vigor.
O primeiro aspecto nesse processo seria de fazer a população enxergar o seu
local como produtivo e valorizar o verde, que ainda é vasto na região. Um estudo sobre
os valores culturais dos bairros e da sua história é outro aspecto relevante e pendente a
ser realizado.

Referências

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Brasil: situação em 2000 e 2010. Rio de Janeiro: IBGE, [2012].

ABRAMOVAY, Ricardo. O capital social dos territórios: repensando o desenvolvimento


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BARBOZA, Vanessa Maria Gomes. OLIVEIRA, Waneska Andressa Viana de.


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primeiros passos de uma caminhada rumo à participação política. XI Congresso
Iberoamericado de Extensão Universitária. Santa Fé, Argentina, 2011.

CAPORAL, Ladjane de Fátima Ramos. LIMA, Irenilda de Souza. Considerações sobre


o campesinato no Século XXI: graus de campesinidade e agroindustrialização na
comunidade de Sítio Palmeiras, Chã Grande – Pernambuco. Extensão Rural, Santa
Maria, V. 22, n. 2, 2015.

CORREIA, Manuel de Andrade. Lutas Camponesas no Nordeste. 2ª ed. São Paulo.


Ática. 1989.

CIMADEVIILA, Gustavo Y CARNIGLIA, Edgardo. Relatos sobre La Rurbanidad.


Argentina. Rio Cuarto: Universidad Nacional de Rio Cuarto, 2009.

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Disponível em: http://migre.me/wrb6g

GRAZIANO DA SILVA, José; DEL GROSSI, Mauro E. Evolução da renda nas


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Universidade de São Paulo. São Paulo. 2002.
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PERNAMBUCO. Dados do bairro de Dois Unidos. Acesso em 25 de junho de 2016.


Disponível em: <http://www2.recife.pe.gov.br/servico/dois-unidos>

RAFAEL, Rud. O canto do Passarinho: um novo Pinheirinho foi evitado no Recife.


Carta Maior. Editoria de Cidades. Publicado em 12 de novembro de 2014. Disponível
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SANTANDREU, Alain. LOVO, Ivana Cristina. Panorama da agricultura urbana e


periurbana no brasil e diretrizes políticas para sua promoção. Documento referencial
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8. Anexos

Fotos: Francisco Cunha/Açude da Água Mineral Santa Clara

Fotos: Keila Costa/Comunidade de Passarinhos

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