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Resumo: Este artigo pretende analisar a evolução do consumo das famílias brasileiras verificando diversas
dimensões: espaciais, demográficas e socioeconômicas no início e final dos anos 2000. Recorre-se
empiricamente aos dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POFs) do IBGE em dois períodos (2002-03
e 2008-09). O pressuposto teórico assenta-se sobre a importância de diversas medidas tomadas no âmbito
público e sobretudo à retomada do crescimento. Os resultados sugerem a incorporação de parte da população,
anteriormente mantida à margem do consumo de massas e a conseqüente redução da heterogeneidade nas
diversas dimensões, embora ainda persista clara segmentação e desigualdade entre grupos bem definidos das
dimensões estudadas: Nordeste/Sudeste, Urbano/Rural, Idade, Sexo e Raça/Cor do chefe da família.
Abstract: This article intends to analyse the evolution of the Brazilian society consumption based on its
households’ behavior, considering several dimensions such as space, demography, social and economic
factors at the beginning and at the end of the 2000’s decade. The data is used from Pesquisa de Orçamentos
Familiares (POFs) from 2002-03 through 2008-09, collected by IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística). The theoretical assumption builds its foundation on the fact that several public measures
implemented were directly related to the induction of the society performance along with the economic
recovery. The main results point out the expansion of the mass consumption society which incorporate
population kept apart before. Therefore, as a consequence, the heterogeneity among groups falls down along
the period studied, although it remains on the dimensions: Northeast/Southeast, Urban/Rural, Age, Sex and
Race/Color of the Household Head.
1. INTRODUÇÃO
1
Graduada em Administração pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Mestra em
Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Doutoranda em
Econômica Social e do Trabalho pela UNICAMP. Pesquisadora do CESIT/UNICAMP.
mariaalice.pestana@gmail.com.
2
Graduada em Economia pela Universidade Federal Rural do Rio de janeiro – UFRRJ. Mestra em Economia
pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Doutoranda em Demografia pelo NEPO/UNICAMP.
Professora Assistente do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri –URCA e Bolsista
FUNCAP. silvanaqueirozce@yahoo.com.br.
3
Graduado em Economia pela Universidade Regional do Cariri – URCA. Mestre em Economia pela
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Pesquisador do observatório das Metrópoles, núcleo
da UFRN. abeleconomia@hotmail.com.
3. METODOLOGIA
4
De acordo com o conceito do IBGE, o domicílio particular permanente destina-se à habitação de uma ou
mais pessoas, ligadas por laços de parentesco, dependência doméstica ou normas de convivência, sendo todo
ou parte destinado exclusivamente à moradia. (IBGE, 2010, p 17)
5
Representa a família segundo o conceito adotado no IBGE.
Ln( Yi ) = β 0 + Σ kj =1 β j X ij + ei (1)
6
Na Pesquisa de Orçamentos Familiares as Unidades de Consumo são denominadas de famílias.
4. RESULTADOS
a) Por Região
No tocante a renda média percebida pelas famílias brasileiras, entre os dois períodos,
houve uma variação positiva de 9.5%, enquanto o consumo cresceu quase 5.0%. Apesar do
crescimento do consumo das famílias apontado no Sistema de Contas Nacionais (2010) e
mesmo nesta pesquisa domiciliar, observa-se que os rendimentos médios das famílias
elevaram-se com mais vigor do que o consumo. Ou seja, a renda aumenta o consumo
médio, mas não na proporção direta dos rendimentos. Nesse período a renda foi afetada por
diversos fatores, dentre eles a política de valorização do salário mínimo, os programas de
transferência de renda, a estabilidade proporcionada pela geração de empregos formais que
Tabela 1 – Consumo Médio e Renda Média das Famílias por Grandes Regiões: Brasil
- 2002/2003
Tabela 2 – Consumo Médio e Renda Média das Famílias por Grandes Regiões Brasil -
2008/2009
Nº. Var % Var %
Região Nº. Famílias Consumo Renda
Pessoas 2003/2009 2003/2009
Brasil 57.816.604 190.519.297 2.419.77 4.9 2.763.53 9.5
Norte 3.949.838 15.395.472 1.850.21 9.3 2.092.37 18.4
Nordeste 15.099.443 53.655.438 1.578.24 6.1 1.764.64 15.4
Sudeste (MG, ES e RJ) 12.456.321 39.138.535 2.695.62 4.3 3.052.92 7.0
São Paulo 13.035.469 40.866.632 3.107.88 3.3 3.631.00 7.9
Sul 8.898.449 27.624.015 2.723.67 11.0 3.050.87 11.4
Centro Oeste 4.377.084 13.839.206 2.384.61 4.3 2.823.93 12.8
Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados da POF 2008/2009.
Apesar de se verificar a diferença entre o consumo médio das famílias nas diversas
regiões, durante o período em estudo diminui o gap entre elas. Entre esses anos, a renda foi
afetada por diversos fatores, dentre eles a política de valorização do salário mínimo, os
programas de transferência de renda e a estabilidade proporcionada pela geração de
empregos formais que viabilizaram o crédito e contribuíram para a redução das
desigualdades regionais.
Em 2002, Mac Dowell, Silva e Souza já mostravam que os Programas Sociais do
Governo Federal a partir Transferências Monetárias (Aposentadorias e Pensões do INSS,
Assistência aos Idosos e Deficientes (LOAS, atualmente BPC), Pensões e Rendas
Vitalícias, Programa Seguro Desemprego, Abono Salarial), Serviços Educacionais
b) Por Área
Tabela 3 – Consumo Médio e Renda Média das Famílias por Área Brasil - 2002/2003
Área Nº Famílias Nº Pessoas Consumo Renda
Brasil 48.534.638 175.845.964 2.305.95 2.523.82
Município de Capital 2.743.480 10.130.348 2.577.44 2.883.71
Região Metropolitana 14.719.062 50.949.766 3.146.24 3.478.30
Resto da UF 23.670.660 84.765.688 2.117.82 2.294.75
Rural 7.401.436 30.000.161 1.135.92 1.224.85
Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados da POF 2002/2003.
Tabela 4 – Consumo Médio e Renda Média das Famílias por Área Brasil - 2008/2009
Var % Var %
Área Nº. Famílias Nº. Pessoas Consumo Renda
2003/2009 2003/2009
Brasil 57.816.604 190.519.297 2.419.77 4.9 2.763.53 9.5
Município da Capital 4.061.264 13.521.352 2.963.95 15.0 3.524.85 22.2
Região Metropolitana 17.158.694 54.774.326 3.108.76 -1.2 3.543.52 1.9
Resto da UF 27.589.031 89.783.980 2.278.40 7.6 2.584.79 12.6
Rural 9.007.615 32.439.639 1.294.95 14.0 1.481.93 21.0
Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados da POF 2008/2009.
Ao examinar a Tabela 5, que mostra o consumo médio a renda média das famílias
por grupos etários, observa-se grande heterogeneidade entre elas.
Tabela 5 – Consumo Médio e Renda Média das Famílias por Grupos Etários Brasil -
2002/2003
Grupo Etário Nº Famílias Nº Pessoas Consumo Renda
Brasil 48.534.638 175.845.964 2.305.95 2.523.82
Até 20 anos 592.326 1.727.254 1.277.21 1.087.48
Mais de 20 a 30 anos 7.772.832 25.533.860 1.619.33 1.588.50
Mais de 30 a 40 anos 12.273.891 46.942.790 2.207.92 2.379.83
Mais de 40 a 50 anos 11.030.894 45.057.926 2.850.23 3.083.60
Mais de 50 a 60 anos 7.690.447 28.933.270 2.771.64 3.198.20
Mais de 60 anos 9.174.248 27.650.864 2.040.47 2.363.25
Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados da POF 2002/2003.
As famílias chefiadas por jovens com até 20 anos é o estrato que detém tanto o
menor consumo quanto o menor rendimento médio no período entre 2003/2009. Por sua
vez, em 2003, os maiores gastos com consumo são para aqueles com mais de 40 a 50 anos,
seguido do grupo etário de mais de 50 a 60 anos. Em 2009, a dinâmica se inverte, no qual o
grupo etário de mais de 50 a 60 anos passa a ter o maior gasto com consumo. A explicação
para essa mudança justifica-se pelo decréscimo de 1.6% na renda média do grupo etário de
40 a 50 anos, que ocasionou uma queda de cerca de 4% no consumo desse estrato.
Ao avaliar a evolução geral, observa-se que o grupo etário com até 20 anos e o de
mais de 40 a 50 anos foram os estratos que tiveram variação negativa no consumo no
período em tela, ao passo que o grupo de mais 60 anos detiveram os melhores resultados,
com crescimento de quase 14% no consumo e aumento de 24% no rendimento médio. A
explicação para essa dinâmica deve-se aos ganhos reais do salário mínimo. Nesse sentido,
dado que aposentadorias, pensões e o BPC estão vinculados ao salário mínimo, observa-se
o crescimento da renda média do grupo etário de mais de 60 anos.
Tabela 6 – Consumo Médio e Renda Média das Famílias por Grupos Etários Brasil -
2008/2009
Var % Var %
Grupo Etário Nº. Famílias Nº. Pessoas Consumo Renda
2003/2009 2003/2009
Brasil 57.816.604 190.519.297 2.419.77 4.9 2.763.53 9.5
Até 20 anos 518.250 1.387.024 1.172.87 -8.2 1.116.42 2.7
Mais de 20 a 30 anos 8.069.056 24.557.884 1.724.45 6.5 1.774.47 11.7
Mais de 30 a 40 anos 12.543.234 45.352.317 2.268.89 2.8 2.498.00 5.0
Mais de 40 a 50 anos 13.395.967 49.341.584 2.741.09 -3.8 3.035.53 -1.6
Mais de 50 a 60 anos 10.622.996 35.076.080 2.904.36 4.8 3.369.56 5.4
Mais de 60 anos 12.667.102 34.804.408 2.316.92 13.5 2.928.03 23.9
Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados da POF 2008/2009.
Tabela 7 – Consumo Médio e Renda Média das Famílias por Sexo e Raça/Cor Brasil -
2002/2003
Sexo e Raça Cor Nº Famílias Nº Pessoas Consumo Renda
Brasil 48.534.638 175.845.964 2.305.95 2.523.82
Homem não negro 19.558.523 70.174.982 3.010.14 3.352.96
Mulher não negra 6.696.958 18.884.487 2.623.60 2.709.91
Homem negro 16.135.453 65.472.942 1.641.35 1.778.82
Mulher negra 6.049.284 20.964.283 1.452.46 1.611.99
Ignorado 94.420 349.270 2.163.46 3.306.16
Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados da POF 2002/2003.
Tabela 8 – Consumo Médio e Renda Média das Famílias por Sexo e Raça/Cor Brasil -
2008/2009
Var % Var %
Sexo e Raça/Cor Nº. Famílias Nº. Pessoas Consumo Renda
2003/2009 2003/2009
Brasil 57.816.604 190.519.297 2.419.77 4.9 2.763.53 9.5
Homem não negro 20.081.182 65.920.620 3.315.50 10.1 3.811.37 13.7
Mulher não negra 8.957.598 23.900.708 2.613.19 -0.4 2.980.95 10.0
Homem negro 19.757.546 71.512.378 1.824.99 11.2 2.083.33 17.1
Mulher negra 8.840.959 28.560.958 1.514.25 4.3 1.686.06 4.6
Ignorado 179.320 624.634 2.628.18 21.5 2.629.04 -20.5
Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados da POF 2008/2009.
7
Denominadas “Resto da Unidade da Federação” neste trabalho.
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