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Programa de Iniciação Científica e de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e

Inovação da Universidade de São Paulo

RELATÓRIO PARCIAL PIBITI 2019/2020

INTRODUÇÃO ÀS TECNOLOGIAS CONSTRUTIVAS DE BAIXO

CARBONO (TCBCS) - 5

Orientador: Professor João Marcos de Almeida Lopes - IAUUSP

Co-orientador: Thiago Lopes Ferreira (pós-doutorando IAUUSP)

Bolsista: Tiago da Silva Bento - 9265447/5

Palavras-chave: formação / sustentabilidade / tecnologias construtivas / baixo carbon


SUMÁRIO

RESUMO DO PROJETO 4
1.1. Introdução 4
1.2 Objetivos 6
1.3 Metodologia de Pesquisa 7

PRODUÇÃO COLETIVA 8
2.1 Explicação dos módulos TCBC 9
2.2 Módulo Bambu 9
2.2.1 Preparação do curso Bambu 9
2.2.2 O curso: Módulo bambu 13
2.3 O curso: módulo Infraestrutura Verde 21
2.4 Próximas etapas (coletiva) 26

3. PRODUÇÃO INDIVIDUAL: TEMA INFRAESTRUTURA 26


3.1 Investigação e sistematização de suas características particulares e condições de
produção e uso; 26
3.2 Investigação sobre suas especificidades com relação à gestão e tratamento dos
resíduos, das águas e de energia 31
3.2.1 infraestruturas verdes: água 32
3.2.2 Infraestruturas Verdes: energia 43
3.2.3 infraestruturas verdes: resíduos sólidos 44
3.3 PRÓXIMAS ETAPAS 48
3.4 LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO 49
3.5 BIBLIOGRAFIA E REFERÊNCIAS 50

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Maquete 1:20 do galpão em bambu 11


Figura 2 - Estudo preliminar de meio pórtico 1:3 em bambu 11
Figura 3 - Protótipo de meio pórtico em 1:1 11
Figura 4 - “Trifuso” utilizado para a conexão nos vértices 12
Figura 5 - “Trifuso” utilizado como contraventamento do tetraedro 12
Figura 6 - Fundação e transição para pórtico com chapas metálicas em ‘L’ 12
Figura 7 - Cintamento dos bambus nos pontos de perfuração 12
Figura 8 - Perfuração do bambu 12
Figura 9 - Meia-cana utilizada na cumeeira 12
Figura 10 - Processo de encaixe do pórtico na comeeira 12
Figura 11 - Concretagem in loco das fundações do galpão 13
Figura 12 - Peça metálica concretada (treliça + insert) 13
Figura 13 - Fundação concretada 13
Figura 14 - Ensaio de resistência à compressão com o Prof. Beraldo 15
Figura 15 - Participantes experimentando o tratamento à fogo do bambu 15
Figura 16 - Visita às touceiras de bambu 16
Figura 17 - Aula explicativa do galpão pelo Prof. João Marcos 16
Figura 18 - Corte dos bambus para montagem das peças 16
Figura 19 - Montagem dos tetraedros 16
Figura 20 - Reunião para debate com os participantes ao final do dia 16
Figura 21 - Finalização da estrutura do galpão no dia 07/09/19 16
Figura 22 - Tetraedros finalizados 17
Figura 23 - Instalação das vigas perimetrais 17
Figura 24 - Estrutura do galpão ao final do curso 17
Figura 25 - Páginas da cartilha de teoria do curso de bambu 18
Figura 26 - Páginas da cartilha prática do curso de bambu 19
Figura 27 - Páginas de registro fotográfico da cartilha de bambu 20
Figura 28 - Palestra com a Profa. Luciana Schenk 23
Figura 29 - Novo modelo de viga-vagão em bambu e aço instalada 23
Figura 30 - Capa da cartilha de apoio para a construção do banheiro seco 23
Figura 31 - Página explicativa do projeto da cartilha do módulo ‘Infra Verde’ 24
Figura 32 - Preparação do destorroador de terra para a produção de argamassa 24
Figura 33 - Pré-fabricação dos painéis de estrutura e fechamento do banheiro seco 24
Figura 34 - Betoneira misturando a argamassa de terra 25
Figura 35 - Montagem da estrutura do banheiro seco 25
Figura 36 - Finalização do módulo Infra Verde 25
Figura 37 - Resíduos gerados em uma residência 35
Figura 38 - Substâncias presentes no esgoto de acordo com o efluente 36
Figura 39 - Etapas envolvidas na gestão de efluentes domésticos 37
Figura 40 - Desenho esquemático do tanque de evapotranspiração 38
Figura 41 - Exemplo de TEvap que utiliza da terra ensacada para construção do tanque 39
Figura 42 -Desenho esquemático do evaTAC 40
Figura 43 - Desenhos esquemáticos do banheiro seco 41

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1. RESUMO DO PROJETO

1.1. Introdução

Nas últimas décadas os debates referentes aos princípios, projetos e ações


orientadas ao desenvolvimento tecnológico sustentável vêm questionando o atual
paradigma da cadeia da construção civil no Brasil, ainda pautada por processos de
produção de grande impacto no meio ambiente , com elevado consumo energético,
excessiva emissão de gases do efeito estufa (GEE), uso intensivo de materiais não
renováveis, elevada geração e baixa reutilização de resíduos - além do desrespeito
às culturas, floras, faunas e climas locais, entre outras características.

Assim, novas possibilidades de produção tecnológica vêm sendo exploradas


a partir da adoção de formas de crescimento econômico obtidas através de
processos produtivos comprometidos com a manutenção do equilíbrio ecológico.

É nesse contexto que surge a perspectiva de desenvolvimento das


Tecnologias Construtivas de Baixo Carbono – TCBCs, a partir da aplicação de
materiais que, de acordo com os indicadores de sustentabilidade que avaliam o
potencial nocivo de um Ciclo de Vida, têm baixa emissividade de GEEs, baixo
consumo energético ou até potencial de reuso como fonte energética (no caso da
madeira, por exemplo) e também geram poucos resíduos. Nesse sentido, os
materiais que compartilham dessas características são a terra, a madeira, o bambu
e as fibras vegetais.

Uma vez verificada a importância de se planejar e praticar novos arranjos


produtivos na cadeia da construção civil, estabelecidos por uma base sustentável,
humanista e não concentradora, entende-se melhor como estes processos
produtivos vão se aproximando dos processos formadores na medida em que
fomentam, dentro do trabalho, práticas dialógicas, de participação, de autogestão e
de conscientização.

Desse modo, se por um lado temos à frente a própria formação do


profissional arquiteto ou engenheiro – fazendo-o adentrar em um campo de

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conhecimento construtivo pouco usual (uma vez que se prioriza o ensino do
concreto armado, das alvenarias e do aço) –, por outro lado, esbarramos na
dificuldade de encontrar trabalhadores aptos ou, pelo menos, flexíveis à novidade
dos ‘velhos’ sistemas construtivos. Como consequência, aprofundam-se tanto o
distanciamento dos alunos de Arquitetura e Urbanismo e de Engenharia Civil das
dimensões práticas do ofício, onde impera a ausência do diálogo entre teoria e
prática, quanto o engessamento de uma cultura de trabalho técnico no canteiro de
obras determinada pela utilização dos sistemas construtivos mais usuais.

Neste sentido, torna-se pertinente afirmar que esses dois aspectos devem
ser enfrentados e resolvidos na busca por uma maior flexibilização do trânsito de
conhecimentos e da formação qualificada de trabalhadores na Construção Civil.

1.2 Objetivos
- Compilação e sistematização de dados e informações com o intuito de organizar
e produzir os materiais didático-pedagógicos, técnicos e de sensibilização para o
grande público.

O objetivo geral do projeto consiste na pesquisa, sistematização,


desenvolvimento e difusão de processos produtivos de Tecnologias Construtivas de
Baixo Carbono TCBCs, através de estratégias de pesquisa acadêmica
complementadas por atividades de formação, levadas a termo pelo trabalho de
alunos dos cursos de graduação em Arquitetura e Urbanismo, Engenharias e áreas
afins.

Objetivos específicos:

- Estruturação de uma base de dados e de referência capaz de dar suporte a uma


análise crítica das iniciativas de projeto, de produção e de uso de materiais e
sistemas construtivos sustentáveis e responsáveis por baixas emissões de carbono,
notadamente a madeira, a terra e o bambu;

- Promover a formação complementar de estudantes de Arquitetura e Urbanismo,


visando instrumentalizá-los para a pesquisa e o enfrentamento prático na produção
de inovações construtivas sustentáveis e de baixo carbono;

- Dar suporte para a realização do Curso de Introdução às TCBC´s a ser realizado


em 2019/2020, como estratégia do Grupo de Pesquisa em Habitação e
Sustentabilidade – HABIS, ao qual este projeto está vinculado, de aprofundar a
pesquisa e educação em Tecnologias Construtivas de Baixo Carbono - o que

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permitirá o estabelecimento de processos locais comprometidos com
posicionamentos éticos globais relacionados às políticas de redução de emissão de
gases de efeito estufa (GEE);

- Dar suporte para a elaboração dos materiais didáticos que irão compor o Curso
de Introdução às Tecnologias Construtivas de Baixo Carbono, particularmente as
que utilizam Madeira manejada, Terra e Bambu como materiais construtivos.

- Elaborar cartilhas técnicas e didáticas que auxiliem na difusão do acúmulo de


conhecimento sobre as Tecnologias Construtivas de Baixo Carbono TCBC, tanto
no campo teórico quanto no prático, contribuindo com a consolidação destas
tecnologias como possibilidades sustentáveis para a produção do edifício, dos
equipamentos e infraestruturas urbanas.

1.3 Metodologia de Pesquisa

Serão adotados tipos diferenciados de procedimentos de pesquisa em função das


etapas do projeto e de suas atividades, a saber:

- Investigação bibliográfica com levantamento de referencial teórico e prático que


servirá tanto para compor o arcabouço teórico e analisar o conjunto dos materiais
estudados (terra, madeira e bambu), quanto para subsidiar e fundamentar o
programa pedagógico dos módulos propostos para o curso;

- Compilação e sistematização de dados e informações com o intuito de organizar


e produzir os materiais didático-pedagógicos, técnicos e de sensibilização para o
grande público.

- Pesquisa-ação - método a ser utilizado de maneira complementar com o intuito de


integrar na construção dos conhecimentos tecnológicos, os conhecimentos teóricos
e práticos. Será utilizado no âmbito das atividades do curso de Introdução às
Tecnologias Construtivas de Baixo Carbono TCBC.

Segundo Khalid Andaloussi (in Thiollent, 2004), “a pesquisa-ação, com


sua presença constante tanto no plano da pesquisa quanto no da ação,
consegue diagnosticar uma situação, iniciar uma ação, acompanhá-la,
observá-la, significá-la e avaliá-la, com a intenção de desencadear novas
ações em seguida. E isso acontece devido, entre outras coisas, à
observação e interação com o contexto cultural local, produzindo
também, novos saberes e novas significações culturais entre todos os
envolvidos na pesquisa-ação.”

Estes métodos de pesquisa e ação serão articulados com uma estratégia


pedagógica que promove a transformação do canteiro de obras em uma plataforma
de ensino e aprendizagem através do trabalho e da produção tecnológica.

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- Canteiro Escola - constitui-se como espaço de apropriação crítica dos saberes
que envolvem o projeto e obra (teoria e prática), possibilitando as análises e o
próprio desenvolvimento do exercício construtivo. Dentro deste espaço a produção
das tecnologias potencializam a aproximação dos processos de trabalho com os
processos de formação e engajamento coletivo, diferenciando-se do canteiro de
obras convencional.

É nesse contexto que será realizado o curso Canteiro Escola: Introdução às


Tecnologias Construtivas de Baixo Carbono TCBC. Seu programa pedagógico
abrange 05 módulos de formação complementar, a saber:

Módulo 1 - Introdução às Tecnologias Construtivas de Baixo Carbono TCBC;

Módulo 2 - Terra;

Módulo 3 - Madeira;

Módulo 4 - Bambu;

Módulo 5 - Infraestrutura;

Com relação à organização dos futuros bolsistas, a pesquisa foi dividida em cinco
frentes de trabalho para elaboração dos relatórios individuais e investigação
aprofundada dos temas. Vale destacar que as frentes de pesquisa se
interseccionam e se articulam, sendo analisadas conjuntamente. Por conseguinte,
diversos processos de pesquisa serão feitos em grupo, também com o
entendimento de que o desenvolvimento do processo de formação é mais eficaz
quando não compartimentado, mas com a aproximação dos fatores que compõem a
construção do conhecimento.

2. PRODUÇÃO COLETIVA

Este tópico trata das produções feitas em conjunto entre os bolsistas,


orientador e co-orientador para o desenvolvimento teórico e prático dos cursos do
canteiro escola que foram e serão executados durante a vigência das bolsas de
iniciação contempladas pelo Programa de Iniciação Científica e de Iniciação em

6
Desenvolvimento Tecnológico e Inovação da Universidade de São Paulo. Portanto,
tudo que neste tópico for citado é de autoria do grupo, sem quaisquer distinções.

2.1 Explicação dos módulos TCBC

Os módulos de Canteiro Escola TCBC (Tecnologias Construtivas de Baixo


Carbono) consistem em um espaço de trabalho onde experimenta-se a conjugação
entre formação e produção. Os processos de conscientização e produção dos
conhecimentos ocorrem de forma complementar e paralela às práticas construtivas
e ao desenvolvimento das tecnologias. Este processo está previsto a ser dividido
em 4 módulos. O primeiro deles, diz respeito ao bambu, o segundo sobre
infraestrutura verde nos âmbitos arquitetônico, urbana e rural, o terceiro sobre a
construção com terra crua e o quarto a madeira.
Todos os módulos serão divididos em duas fases: a primeira compreende a
atividade pedagógica teórica, na qual ocorrem palestras com especialistas nas
diferentes áreas apresentadas. Na segunda fase, designada ao trabalho prático, os
alunos vão ao canteiro e aprendem as diversas técnicas de construção que são
empregadas para cada material utilizado, com a supervisão dos integrantes do
grupo de pesquisa de introdução às TCBCs.

2.2 Módulo Bambu

2.2.1 Preparação do curso Bambu

Antes da realização do 1º módulo referente ao bambu como material de


construção foi desenvolvido dentro do grupo de pesquisa um projeto base da
estrutura do galpão que seria construído do Campus 2 da USP São Carlos. Em
paralelo ao desenvolvimento do projeto foram realizados alguns modelos de
conectores metálicos com o intuito de estudar a viabilidade das conexões entre os
bambus. Os testes começaram em escala reduzida e foram aumentando até chegar
nos modelos com escala 1:1 (figuras 1, 2 e 3). O crescimento gradual da escala dos
modelos foi de grande importância para apreensão do projeto como um todo,
facilitando posteriormente as análises mais detalhadas de cada uma das conexões,
desde a base da estrutura até a cumeeira da mesma.

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Após a colheita do bambu da espécie Bambusa tuldoides, também realizada
pelo grupo, a maior parte foi para o tanque de tratamento com octaborato de sódio
(ácido bórico + bórax), que protege o bambu de pragas que podem comprometer
seu comportamento estrutural, e alguns bambus sem tratamento foram destinados
aos testes com o modelo na escala 1:1. A solução escolhida para a conexão entre
as barras de bambu foram peças metálicas de diferentes tipos: “trifusos” (três barras
roscadas soldadas a 120° - utilizadas entres os bambus) (figuras 4 e 5); chapas
dobradas em “L” (utilizadas na base) (figura 6); meia-cana (utilizadas na cumeeira)
(figura 9 e 10). Nos pontos dos bambus que receberam os furos, utilizou-se uma
cinta metálica inóx para aumentar a resistência e evitar rachaduras na região (figura
7 e 8).

Na preparação do canteiro de obras, foi executada a fundação com os 10


pontos que recebem os 5 pórticos, sendo cada um dos pontos formados por uma
base de concreto onde foi inserida uma treliça metálica e um insert que fica
aparente e se conecta com a base do pórtico (figuras 11, 12 e 13).

Além dos protótipos e da preparação do canteiro de obras foi realizado uma


cartilha prática com os desenhos referentes ao passo-a-passo da montagem dos
pórticos da estrutura proposta. Cabe ressaltar que esta cartilha prática tem como
objetivo guiar o trabalho coletivo durante o curso do canteiro escola, ao passo que
não deve ser encarada como um manual de instruções rígido, mas com olhar crítico,
uma vez que o embate entre o projeto (pensar) e a realidade (fazer) geram
questionamentos valiosos no processo de pedagógico, “estimulando a integração de
conhecimentos e a solução de problemas com autonomia.”(LOTUFO, 2014)

Dessa maneira, após ser confrontada com a realidade e discutida


coletivamente dentro do canteiro escola, a cartilha prática realizada antes do curso
foi modificada e integrada à cartilha completa, que será apresentada juntamente
com o relatório final deste projeto. Essa, será formada por uma Parte Teórica
(produto do acúmulo obtido a partir do levantamento bibliográfico, somado com a
sistematização do conteúdo fornecido pelos palestrantes convidados em cada
módulo), uma Parte Prática (projeto discutido coletivamente no canteiro de obra e
construído durante os diferentes módulos do curso Canteiro Escola) e o Registro
Fotográfico de cada processo durante sua execução. A proposta é que os

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participantes do curso recebam posteriormente todos os materiais compilados,
somando a Teoria, Prática e o Registro Fotográfico.

figuras 1, 2 e 3 - diferentes escalas do modelo de estudo (1:20, 1:3 e 1:1)

figuras 4 e 5 - “trifuso” usado na conexão entre três bambu e no contraventamento do tetraedro.

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figuras 6, 7 e 8 - chapas em “L” da base, fixação da cinta inox e perfuração da cinta inox.

figura 9 e 10 - meia-cana utilizada na cumeeira

figura 11, 12 e 13 - concretagem da fundação, peça metálica (treliça de metal + insert) e base concretada.

2.2.2 O curso: Módulo bambu

As aulas teóricas ocorreram nos dias 2 e 3 de setembro de 2019, e


abordaram temas como: as principais espécies, morfologias, cultivo, colheita,
secagem, características físicas, químicas e mecânicas, tratamentos, cortes e
encaixes, aplicação e uso na arquitetura e engenharia, entre outros. As práticas
construtivas consistiram na pré-fabricação de pórticos de bambu e a montagem em
canteiro de um espaço de trabalho.
Foram convidados dois especialistas no trabalho com bambu da região,
sendo o primeiro o Prof. Dr. Antônio Ludovico Beraldo, engenheiro agrícola, e
professor titular aposentado da Unicamp, que atualmente atua como professor
colaborador na Faculdade de Tecnologia da Unicamp, e é co-autor do livro “Bambu

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de corpo e Alma”. O segundo convidado foi Luiz Roberto Aleixo, engenheiro civil,
co-autor do livro “Bambu: Características e Aplicações na Construção Civil e
Arquitetura”, juntamente com o Prof. Antônio Ludovico Beraldo.
No primeiro dia de curso tivemos as aulas com o professor Beraldo, que
elucidou inicialmente sobre as características do bambu como planta, suas
diferentes espécies e aplicações cabíveis a cada uma; compartilhou sua experiência
com trabalhos e construções experimentais em bambu dentro da Unicamp; trouxe
amostras de diferentes peças de bambu, com as mais diferentes funções,
construtivas, decorativas, ferramentas entre outros; e fez um ensaio com um corpo
de prova de bambu, para demonstrar sua alta resistência.
No segundo dia de curso, foi a vez do engenheiro Luiz Aleixo conduzir o
grupo em uma visita técnica, onde na parte da manhã os participantes foram
levados para conhecerem touceiras de diferentes espécies de bambus, aprender a
realizar uma colheita, e a diferenciá-las na prática. Na parte da tarde, foram
demonstrados tratamentos possíveis de serem realizados nos colmos de bambu,
em um galpão cuja estrutura de cobertura foi construída em bambu pelo próprio Luiz
Aleixo.
O terceiro dia começou com uma aula teórica ministrada pelo Prof. Dr. João
Marcos Lopes, orientador e coordenador do projeto, sobre tipos de estruturas, e
explicações sobre os pórticos de bambu a serem montados pelos participantes nos
próximos dias. Na parte da tarde houve o início da montagem destes pórticos, de
acordo com a cartilha prática produzida pelos bolsistas do projeto TCBCs. Os
participantes se dividiram em grupos, e os bolsistas rodavam pelos grupos,
auxiliando e instruindo em todas as etapas.
No quarto dia, os tetraedros começavam a tomar forma, mas devido ao
andamento de trabalho diferenciado entre os grupos, somente foi finalizada a etapa
de pré montagem dos tetraedros e vigas-vagão no quinto dia de curso. Nessa etapa
foi percebido um erro na quantidade de bambus que foram entregues para a
construção do galpão, e que estes seriam insuficientes para a produção de todas as
vigas-vagão necessárias para a finalização do galpão ao final do curso.
No sexto dia de curso, e quarto de prática de canteiro, todos os tetraedros
foram levados prontos para o terreno onde seriam montados, na área 2 do campus
da USP. E a primeira semana de trabalho foi finalizada com o levantamento e
travamento de dois dos cinco pórticos que compõe o galpão. Nos dias 21 e 22 de

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setembro, os dois últimos dias de canteiro-escola e do módulo bambu, os outros
três pórticos foram levantados com sucesso, fixados e contraventados.
Durante os dias de prática de canteiro, pudemos observar algumas limitações
na produção das peças, em função da quantidade de ferramentas vs. quantidade de
grupos de alunos para utilizá-las. No primeiro momento, a ferramenta em questão
era a Fusimec, utilizada para cintar os colmos nos locais dos furos. Em um segundo
momento, foi a utilização da furadeira de mesa. Ambos os casos as limitações foram
solucionadas com o empréstimo de ferramentas de terceiros, e serviram de exemplo
para que o grupo ficasse mais atento ao andamento dos passos dos processos de
produção.
Além disso, houveram reuniões com os integrantes do curso, ao fim de cada
dia de trabalho para compartilhar e alinhar os acontecimentos. Dentre os aspectos
abordados tivemos discussões a respeito dos encaixes das peças, da montagem e
da forma das vigas-vagão propostas no momento, do tipo de contraventamento
mais adequado, e de possíveis razões que justificassem a dificuldade dos encaixes
dos trifusos, cujos furos estavam sendo realizados paralelos nos colmos, e ao ser
verificado, deveria conter uma pequena inclinação.
Estes espaços de discussão ao longo do trabalho foram importantes para os
integrantes contribuírem com o projeto, como forma de reafirmar a proposta dos
canteiro-escola, como forma de troca de conhecimento entre os envolvidos, e o
permitir um constante desenvolvimento e amadurecimento do projeto em seus
aspectos construtivos. Vale ressaltar inclusive, que dentre os participantes do curso,
havia um mestre de obras muito experiente, que compareceu por convite do grupo,
e teve muito a contribuir com seu conhecimento empírico construtivo.

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figura 14: ensaio de resistência do bambu com o professor Beraldo;

figura 15: participantes experimentando o método de tratamento do bambu com fogo.

figura 16: visita as touceiras de bambus.

figura 17: aula sobre estruturas e explicação do professor João Marcos sobre a distribuição das forças no pórtico a ser
construído

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figuras 18 e 19: produção dos tetraedros pelos participantes figura 20: reuniões ao final do dia com os integrantes do curso.

figura 21: finalização do dia 07/09/19

figura 22: tetraedros finalizados

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figura 23: instalação das vigas periféricas

figura 24: estrutura do galpão ao final do curso

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figura 25: páginas da cartilha de teoria do curso de bambu

17
18
figura 26: páginas da cartilha prática do curso de bambu

19
20
figura 27: páginas de registro fotográfico da cartilha de bambu

2.3 O curso: módulo Infraestrutura Verde

O segundo módulo de canteiro escola TCBCs ocorreu entre os dias 10 e 15


de fevereiro de 2020. Desta vez, houve um dia e meio de aulas teóricas, com a
participação de três convidados. No primeiro dia, na parte da manhã, a Prof. Dra.
Luciana Bongiovanni M. Schenk, professora de arquitetura da paisagem no Instituto
de Arquitetura e Urbanismo da USP São Carlos, e presidente da Associação
Brasileira de Arquitetos Paisagistas, elucidou os participantes sobre as origens dos
projetos de drenagem urbana, e as razões da forma dos projetos urbanos de hoje
em dia. Ainda na parte da tarde, o mestre arquiteto Tomaz Lotufo, especialista em
permacultura e co-fundador do coletivo Sem Muros, trouxe as mais diversas formas
e aplicações de infraestruturas ecológicas e sustentáveis aplicadas em sua
residência, a “Casa Viva”, localizada em São Paulo, SP, entre outros modelos de
estruturas que reduzem o consumo de recursos naturais advindos da rede pública
de saneamento, e diminuem ou zeram os resíduos, águas pluviais e esgoto das
residências. No segundo dia a arquiteta Cecília Lenzi, doutoranda pelo IAU-USP,
trouxe uma apresentação com as propostas, implicações e discussões do projeto de
reassentamento da comunidade do bairro Piquiá de Baixo, em Açailândia,
Maranhão, realizado pela ONG de assessoria técnica Usina CTAH.
Após as palestras ministradas pelos convidados, houveram quatro dias e
meio de prática de canteiro, destinados a três frentes de trabalho simultâneas. A
finalização da estrutura da cobertura do galpão em bambu construído no módulo
anterior do canteiro-escola TCBC, a preparação da argamassa de terra para o
próximo módulo de canteiro escola, e a construção de um banheiro seco temporário
no terreno destinado aos módulos do canteiro-escola.
Na preparação deste módulo do curso, houve uma revisão do modelo de
viga-vagão que havia sido experimentada em canteiro com a construção do galpão,
adotando um novo modelo de viga e fixação in loco; a discussão e projeto de uma
estrutura provisória de banheiro seco, com quantificação de materiais, e abertura
para os participantes do curso opinarem sobre a forma de uso e gestão dos
resíduos a serem gerados; e a preparação do espaço e maquinário para a
preparação da argamassa de terra para uma futura produção de adobes segundo a

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nova NBR para este tipo de construção. Na parte de projeto para a construção da
estrutura para o banheiro seco, também foi produzida uma cartilha prática, com seu
passo a passo de montagem.
Na preparação da argamassa em terra, foi necessário destorroar a terra
utilizando um destorroador, peneirar seus rejeitos, picar a fibra vegetal (no caso,
feno) com um picador, e misturar esses dois elementos somados a areia e água em
uma betoneira, devido a falta de um misturador mais adequado para terra. Em
seguida essa mistura foi alocada em uma baia de madeira previamente montada
pelo grupo, onde permanecerá fermentando para a fabricação de adobes durante o
próximo módulo de curso previsto para abril. O traço utilizado para a preparação da
argamassa foi de 4:1:5:2,5 (terra:areia:feno:água), e foram produzidos cerca de
1,3m³ de argamassa.
A produção das vigas-vagão constituíram nas seguintes etapas: seleção dos
bambusa tuldóides adequados dentre os tratados que foram obtidos posteriormente
ao módulo 1 do curso, corte dos bambus no tamanho do projeto, realização de um
furo em seu ponto médio para encaixar um montante de bambu mais fino, da
espécie phyllostachys, comumente utilizada para a fabricação de varas de pescar, e
tensionamento da vara de bambu com o auxílio de um cabo de aço e gancho
tensionador.
A estrutura de madeira para o banheiro, teve sua fundação feita em madeira
roliça, e painéis laterais de madeira pré-fabricados. Após a escavação e instalação
da fundação, houve a instalação das tábuas de piso, e de dois painéis, para que se
verifica-se a largura do vão a ser instalado o painel do fundo e o painel de porta.
Ainda foi instalada a estrutura de cobertura, e duas telhas Onduline.

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figura 28: palestra com a professora Luciana Schenk
figura 29: novo modelo de viga-vagão em bambu e aço instalado na estrutura do galpão

Figura 30: capa da


cartilha de apoio para
construção do
banheiro seco

Figura 31: Página da


cartilha do módulo ”Infra Verde” com dimensões dos
painéis pré fabricados

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figura 32: preparação para utilizar o destorroador de terra e produção da argamassa

figura 33: pré-fabricação dos painéis de estrutura e fechamento do banheiro seco

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figura 34: betoneira fazendo a mistura de argamassa em terra figura 35: montagem da estrutura para banheiro seco no
canteiro de obras

Figura 36: finalização do módulo Infra


Verde do Canteiro Escola TCBC

2.4 Próximas etapas


(coletiva)

Para além da execução do primeiro e segundo módulos do Canteiro Escola


TCBC, está previsto para Abril a realização do módulo referente à Terra que utilizará
a argamassa produzida tanto durante o segundo módulo assim como a que for
produzida pelo grupo durante a preparação do módulo Terra, e possivelmente para
Julho do módulo referente à Madeira. Ambos apresentarão o mesmo processo de
preparação que os dois primeiros (Bambu e Infraestrutura Verde), baseando-se na
pesquisa prévia para a montagem do curso em si e da cartilha prévia, e a
complementação posterior à execução com as adições teóricas e práticas para o
aprimoramento do curso.

Paralelamente aos cursos, serão desenvolvidas tanto as cartilhas de cada


módulo do Canteiro Escola, com posterior unificação em uma cartilha didática
completa - contendo a pesquisa e o desenvolvimento prático realizado em cada
módulo, como também será realizada a sistematização de um quadro orçamentário
comparativo das TCBCs contidas no escopo dos cursos, surgindo como uma
possível medida comparativa quanto a sustentabilidade econômica dos materiais,

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dentro de seus diversos aspectos, e que dê suporte às discussões teórica e aos
projetos.

3. PRODUÇÃO INDIVIDUAL: TEMA INFRAESTRUTURA

3.1 Investigação e sistematização de suas características


particulares e condições de produção e uso;

Dentro da discussão das Tecnologias Construtivas de Baixo Carbono, e das questões que
alicerçam esse debate, faz-se a aproximação das bases teóricas que conceituam infraestrutura
urbana de uma forma mais sistêmica que as infraestruturas urbanas cinzas. Uma forma que
busca tecer relações sustentáveis entre a ocupação no território e o ambiente natural pré
existente, a partir de aprofundadas leituras geográficas, morfológicas, dos ciclos de vida, em
diversas escalas, permitindo o gerenciamento eficaz dos recursos no território. Assim,
aproxima-se do que é conhecido por Infraestruturas Verde.

a. Conceito de Infraestrutura verde

O termo “infraestrutura verde” foi usado pela primeira vez, em 1994, na


Flórida, em um relatório dirigido ao governo americano sobre estratégias de
conservação do meio ambiente, cuja intenção era refletir a ideia de que os sistemas
naturais são importantes tanto quanto os componentes da infraestrutura
convencional (cinza) ao funcionamento e desenvolvimento de uma comunidade.

26
Pode-se dizer que o planejamento e projeto da infraestrutura verde têm como
objeto as inter-relações do homem com a natureza, com enfoque à cidade-natureza.
As preocupações com o meio ambiente e com as pessoas impulsionaram a
formulação do conceito da infraestrutura verde. A atenção para a inter-relação
cidade-natureza foi aumentando e alterando o seu foco de atuação, na medida em
que a percepção ambiental e os conhecimentos dela decorrentes foram evoluindo.
Assim, a infraestrutura verde surge como instrumento para guiar o desenvolvimento
das cidades e a conservação da natureza de forma simultânea. (BENEDICT;
MCMAHON, 2006)

As primeiras idéias e propostas voltadas para a relação cidade-natureza


giravam em torno da preocupação com a preservação da natureza em contraponto
ao avanço das cidades, a partir da segunda metade do século XIX. Um marco disso
foi a criação do primeiro Parque Nacional do mundo, o Yellowstone, em 1872, nos
Estados Unidos. Outros dois marcos foram: o Plano Emerald Necklace, do arquiteto-
paisagista Frederick Law Olmsted, em Boston – primeiro projeto paisagístico de
cunho ambiental e estruturador do desenvolvimento da cidade; e as “cidades-
jardins” de Ebenezer Howard, cuja concepção buscava estabelecer limites físicos e
demográficos aliados aos espaços livres verdes. (VALLEJO, 2003; BENEDICT;
MCMAHON, 2006; TARDIN, 2008; HERZOG,2009; HERZOG; ROSA, 2010)

A introdução da natureza nas cidades através de seus respectivos planos, foi


acontecendo de forma diferente ao longo do tempo. Os planos urbanos do final do
século XIX até a década de 1970, como o Plano de Albercrombie para a Grande
Londres (1943), o Copenhagen Finger Plan (1947) e o Plano Regional de Estocolmo
(1967), já traziam o espaço verde como elemento estruturador do espaço urbano,
seja na forma de “cinturões verdes”, “dedos verdes” ou “parkways”. Contudo, a
preocupação dos planos girava apenas em torno da introdução da natureza na
cidade como meio de oferecê-la ao aproveitamento e para atender aos objetivos de
embelezamento. (TARDIN, 2008)

Somente na década de 1970, com os problemas decorrentes do rápido


crescimento das cidades, como perda da qualidade de vida, degradação dos
espaços livres e a distribuição urbana pelo território, foi que começou a se introduzir
a preocupação de carácter ecológico aos planos urbanos. A partir disso, a cidade

27
deixa de ser apenas uma questão social e passa a conter a questão ambiental. A
sociedade deixa de ser objeto central da ação e passa a estar inserida no contexto
da natureza, em um sistema global. Um marco na introdução da preocupação com a
ecologia no planejamento urbano é a publicação do urbanista e paisagista Ian
McHarg “Design With Nature”, em 1969, na qual defende a análise dos aspectos
abióticos, bióticos e culturais como a base do planejamento urbano. (TARDIN, 2008;
HERZOG, 2009)

A preocupação com a ecologia nos planos urbanos é impulsionada pela


formulação dos termos “ecologia da paisagem” , “planejamento da paisagem” e
“planejamento ecológico”, e pelo entendimento de que apenas preservar áreas
naturais não é o suficiente para proteger a biodiversidade e os ecossistemas, sendo
necessário promover a ligação entre áreas naturais. (BENEDICT; MCMAHON,
2006)

É somente na década de 1990, com a evolução das preocupações com o


meio ambiente e com os recursos naturais, e com a oficialização do termo
“desenvolvimento sustentável”, em 1987, pelo relatório “Nosso Futuro Comum”, que
se passa a incorporar a busca pela sustentabilidade como parâmetro urbanístico.
Planos como o de Paris, Berlim e Barcelona buscam integrar a ocupação urbana e o
respeito aos recursos do território a partir de sistemas de espaços livre, não apenas
como um mecanismo de ordenação, mas como garantia da sustentabilidade da
paisagem. (SANTOS, 2004; TARDIN, 2008).

A infraestrutura verde, portanto, visa a conservação da biodiversidade ao


reforçar a coerência e resiliência dos ecossistemas, contribuindo simultaneamente
para a adaptação às alterações climáticas e reduzindo a vulnerabilidade da
ocorrência de catástrofes naturais. O conceito de infra-estrutura verde também
contribui para a criação de uma economia sustentável ao manter os serviços dos
ecossistemas e ao suavizar os efeitos adversos das infra-estruturas do transporte e
energia, e do desenvolvimento económico em geral.

É uma estratégia de implantação de espaços abertos urbanos,


paisagisticamente modificados para serem muito mais do que meras ações de
embelezamento urbano, mas também para desempenharem funções infra-

28
estruturais relacionadas ao manejo das águas urbanas, conforto ambiental,
biodiversidade, alternativas de circulação, acessibilidades e imagem local.

Existem diversas tipologias de projetos paisagísticos – como jardins de


chuva, biovaletas e grades verdes – as quais fazem parte desta abordagem que
incorpora essas funções aos espaços abertos urbanos, ao adotarem tecnologias de
alto desempenho, que seguem esse exemplo e se adaptam, aos projetos, os
processos e ciclos ocorridos na natureza. Essa rede de espaços interconectados,
pode ser vista como uma “infra-estrutura verde”, composta de áreas naturais e
outros tipos de espaços abertos que conservam os valores dos ecossistemas
naturais e suas funções como mananciais, controle ambiental, regulação climática,
recreação e lazer, provendo uma ampla gama de benefícios para a sociedade.

Definição
Infraestrutura verde é um termo que aparece com cada vez mais frequência,
em todo o mundo, nas discussões sobre conservação e desenvolvimento, mas que
vai além das estratégias tradicionais de conservação. Sua abordagem sobre
conservação da terra e proteção dos recursos naturais leva em consideração a
conservação associada ao planejamento da infraestrutura, do desenvolvimento e
esforços de crescimento inteligente, e não de maneira isolada. A rede de
infraestrutura verde promove tanto a conservação quanto o desenvolvimento.
(BENEDICT; MCMAHON, 2006)
A infraestrutura verde pode ser definida como uma rede interconectada
estrategicamente planejada e gerida de áreas naturais, paisagens rurais e outras
áreas livres que conserva os valores e funções dos ecossistemas naturais, mantêm
o ar e a água limpos, e proporciona um grande leque de benefícios para o homem e
a vida silvestre. (BENEDICT; MCMAHON, 2006)
O conceito da infraestrutura verde explica a necessidade de se implementar
planos sustentáveis de uso do solo nos bairros, cidades e estados em que vivemos.
A infraestrutura verde fornece um processo para trazer diversos interesses em
conjunto para identificar os valores e objetivos comuns que podem ser usados para
orientar a tomada de decisão sobre o uso da terra. Ela encoraja as pessoas a focar
no benefício de um planejamento abrangente do uso do solo e enfatiza a integração
dos objetivos ambientais e econômicos.

29
A teoria da infraestrutura verde defende o argumento de que a conservação,
restauração e manutenção do funcionamento dos sistemas naturais não apenas
protegem os valores e as funções ecológicas, mas também promovem diversos
benefícios econômicos, sociais e culturais. (BENEDICT; MCMAHON, 2006;
HERZOG, 2009)
Assim, a infraestrutura verde é a estrutura ecológica para a saúde ambiental,
social e econômica, é o sistema de suporte da vida natural – uma rede
interconectada de rios, córregos, áreas alagadas, mangues, pântanos, florestas,
habitats da vida selvagem e outras áreas naturais; áreas verdes, parques, praças,
corredores verdes, reservas naturais e outras áreas de conservação (públicas ou
privadas); fazendas, sítios, ranchos e outras terras cultiváveis com valor de
conservação; desertos e outras áreas livres que dão suporte para espécies nativas,
mantêm os processos ecológicos naturais, conservam o ar e os recursos hídricos
limpos e contribuem para a saúde e a qualidade de vida das comunidades.
(BENEDICT; MCMAHON, 2006)

b. Condições de produção e uso

Como as infraestruturas verdes são sistemas que podem ser implantados


tanto em escala urbana como em escala residencial, e se utilizam de várias
ferramentas que compõem esses sistemas, devem respeitar as normas da ABNT,
sobre: drenagem urbana, tratamento de esgoto, instalações hidráulicas, elétricas e
etc. Nem todas as tecnologias que são consideradas infraestruturas verdes são
inteiramente normatizadas quanto as condições de produção e uso, por isso no
Brasil, apesar de já haver estudos sobre dimensionamento seguro dessas
tecnologias, ainda há um caminho a se percorrer para que se concretize como
normas nacionais e possam ser replicadas em largas escalas.

30
3.2 Investigação sobre suas especificidades com relação à
gestão e tratamento dos resíduos, das águas e de energia

Introduzindo o item (2) da pesquisa, partimos de que uma mesma


infraestrutura verde pode conter estratégias de diversos focos diferentes, mas para
uma análise ligada aos focos específicos, separa-se nas frentes de: água, energia e
tratamento de resíduos sólidos.

3.2.1 infraestruturas verdes: água

A. Drenagem

A drenagem é um fator importantíssimo nas cidades e nas residências,


principalmente no meio urbano, sendo considerada um fator que faz parte do
saneamento básico nas cidades, segundo a lei federal N. 11.445/2007.
A ideia central de uma drenagem sustentável é a renaturalização do balanço
hídrico das bacias urbanas como eram em seu período pré urbanização. Ou seja, as
bacias hídricas devem receber em seus cursos d’água e lençóis freáticos a mesma
quantidade de água que receberiam sem a influência das construções humanas.
Para que isso seja alcançado nos meios urbanos, é preciso aumentar o tempo de
retenção e concentração das águas, e a diminuição de seu pico de vazão,
decorrente das chuvas. Dois fatores importantes para que isso ocorra, são manter a
taxa de permeabilidade dos solos elevada, e a preservação dos fundos de vale e de
APAs/APPs.
Para efeitos comparativos, em uma floresta tropical, cerca de 10mm de chuva
ficam retidos nas folhas das árvores, para chegarem ao solo mais lentamente ou já
sofrerem seu processo de evaporação e retorno a atmosfera a partir deste ponto.
Outros cerca de 30mm de chuva ficam retidos a cada 10cm de serapilheira no solo
das florestas, dessa forma o escoamento superficial das águas da floresta é mínimo,

31
ocorrendo somente a partir de um volume pluviométrico muito elevado, e
entremeando o solo e as raízes, de maneira muito lenta (informação verbal) 1.
O conceito de drenagem urbana por si só engloba o conceito de minimizar os
efeitos da urbanização intensa e os riscos de inundação os quais a população é
sujeita. E a má drenagem causa as inundações que vemos acontecer nos centros
urbanos, pois estas não são desastres naturais, mas causas naturais que estão
desequilibradas pelas ações do homem (aquecimento global e formação de ilhas de
calor) somadas as causas antrópicas de mau planejamento urbano. O escoamento
superficial cresce proporcionalmente ao aumento da impermeabilização do solo nas
cidades, pois bloqueia a área de infiltração das águas para os lençóis freáticos,
destinando estas águas exclusiva e rapidamente para as valas, bueiros e rios, que
acabam sobrecarregados e transbordam de seus limites.
Além do papel do desenho urbano e administração política das cidades no
papel de uma drenagem urbana sustentável, também pode-se avaliar a importância
da permeabilidade dos lotes urbanos privados, que em muitos casos jogam toda a
água pluvial que cai em sua área na rede pública de drenagem, quando poderiam
utilizar-se de áreas ajardinadas e outros dispositivos para resolver essa questão
dentro de seus limites (informação verbal)².
A ONU, colocou em pauta nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável,
itens que englobam a drenagem urbana, sendo o 6. Água Limpa e Saneamento, 11.
Cidades e Comunidades Sustentáveis e 13. Combate às Mudanças Climáticas. E
como medidas, nos países desenvolvidos estão sendo criadas técnicas sustentáveis
de drenagem, baseados no tripé quantidade, qualidade e amenidade/biodiversidade,
que são soluções alternativas e viáveis de serem implantadas para o sistema de
drenagem tradicional existente. Estes sistemas são conhecidos pelas siglas BMP
(Best Management Practices), LID (Low Impact Development), SUDS (Sustain2able
Urban Drainage systems), WSUD (Water Sensitive Urban Design) e GI (Green
Infrastructure).
Estes sistemas tratam de implementação de ações na bacia que atenuam os
problemas da urbanização, se precavendo quanto a quantidade e a qualidade da

1 Aula teórica leccionada pela Prof. Drª. Luciana Schenk e pelo Prof. Me. Tomaz Lotufo
realizada na 6ª edição do Canteiro Escola do Habis - 2º Módulo: Infraverde, 10/02/2020
2 Aula teórica leccionada pela Prof. Drª. Luciana Schenk e pelo Prof. Me. Tomaz Lotufo
realizada na 6ª edição do Canteiro Escola do Habis - 2º Módulo: Infraverde, 10/02/2020

32
água (BMP), elementos vegetais implantados nas cidades que filtram, retém,
infiltram, transportam ou armazenam a água da chuva (SUDS), criar um paisagismo
funcional, com similaridades de infiltração e armazenamento da bacia hidrográfica
natural (LID) e para alcançar estes objetivos recomendam alguns dispositivos a
serem implantados, apresentados a seguir.

- Telhados verdes: consistem na utilização de substratos e plantas em


coberturas planas ou inclinadas, podendo ser total ou parcialmente cobertos.
Tem uma capacidade limitada de absorção de água, por isso é necessário
escoar o excedente para outro sistema de drenagem, residencial, ou a rede
urbana. Pode ser um jardim acessível para a circulação de pessoas ou não.
- Microrreservatórios: faz a drenagem de águas pluviais residencial,
armazenando as águas que incidem sobre as partes impermeabilizadas do
lote em um microrreservatório ligado a rede pública de drenagem. O cano de
entrada do reservatório tem seção maior do que o cano de saída, o que
proporciona um menor pico de vazão de água na macrodrenagem urbana, a
fim de não sobrecarregá-la.
- Pavimentações permeáveis: são pisos com pequenos espaços livres em sua
estrutura onde permite que a água da chuva infiltre. O escoamento pode
ocorrer diretamente no solo, ou em um sistema secundário de drenagem. Por
ocorrer a infiltração assim que as águas encostam no solo, elas entram
menos em contato com a poluição e carregam menos poluição aos rios (tanto
de sujeiras, quanto lixos arrastados pela força d’água)
- Jardim de chuva (ou biorretenção): consistem em áreas escavadas,
preenchidas com solo altamente permeável, e plantas que auxiliam no
tratamento das águas captadas. Absorvem e drenam as águas de
escoamento superficial das áreas impermeabilizadas de suas redondezas.
- Faixas gramadas: faixas de vegetação (grama) distribuídas para aumentar as
áreas permeáveis de uma cidade e reduzir o volume de escoamento
superficial das águas que chegam aos bueiros.
- Valas de infiltração: geralmente dispostos paralelos a ruas, calçadas etc,
consistem em grandes valas cobertas com vegetação para que ocorra
infiltração das águas no solo e lençol freático em todo o seu comprimento,
agregando as águas das áreas impermeabilizadas em seu entorno. Por ser

33
um sistema que consiste em uma infiltração lenta, devem ser dimensionadas
com capacidade suficiente para não alegarem em períodos chuvosos
- Trincheiras de infiltração: estreitas e compridas, são dispositivos superficiais
para controle da drenagem urbana, que podem ser subterrâneos, e podem
ser preenchidos com brita ou até entulho de construções civil. Coletam,
armazenam e infiltram as águas oriundas das áreas impermeabilizadas ao
seu redor. Quando são superficiais, ao preenchê-la com brita, torna-se mais
segura e útil para os pedestres e outros fins.

Estes dispositivos amenizam os problemas de drenagem das cidades


diminuindo as enchentes, e trazem elementos paisagísticos contemplativos para a
cidade. Além disso, ao alterar a paisagem urbana trazendo elementos vegetativos,
melhoram a qualidade do ar das cidades, e reduzem os efeitos das ilhas de calor,
melhorando o microclima urbano e a incidência de chuvas torrenciais.(informação
verbal)³.

B. Tratamento de águas cinzas e escuras

Saneamento Focado em Recursos

Ao se tratar de saneamento atrelado aos princípios que se busca pautar a


discussão global das TCBCs (Tecnologias Construtivas de Baixo Carbono),
aproxima-se do debate acerca do Saneamento Focado em Recurso. Esse modelo
objetiva observar os recursos no território como fonte valiosa, pensando nos
diversos ciclos, criando estratégias de minimizar o impacto no ambiente para cada
etapa desses ciclos. Com esse processo, pode-se operar os recursos de uma
residência, de uma comunidade, a fim de manter o ambiente saudável, eliminando o
potencial contaminante e poluidor dos efluentes. No tratamento das águas, é
importante separar os tipos de efluentes de acordo com a matéria orgânica,
nutrientes ou produtos químicos que estão presentes em seu conteúdo, para que
cada tipo de composto receba o tratamento específico e a água possa fechar o ciclo

34
completo. Como destino final dos produtos do saneamento, mesmo depois de
tratados, a terra é em muitos casos mais adequada do que os cursos d'água pois no
solo há uma variedade bem maior de organismos decompositores de matéria
orgânica, além de poder conter uma diversidade de plantas que também aproveitam
muitos desses nutrientes para o processo de fotossíntese. (PAULO; GALBIATI;
FILHO, 201

Figura 37: resíduos gerados em uma


residência fonte (CATALOSAN, 2018)

35
Composição do esgoto doméstico e etapas da gestão dos efluentes

O esgoto doméstico, ou seja, a somatória de todos os efluentes da residência


contém: água, fezes, urina, sabões, produtos químicos, gorduras, restos de
alimentos e outros tipos de materiais, fibras têxteis e cabelos, nutrientes, coliformes
termotolerantes, vermes, bactérias e outros. Pode-se observar na tabela abaixo,
quais dessas substâncias aparecem em cada tipo de efluente.

Figura 38: substâncias presentes no esgoto de acordo com o efluente

fonte: (CATALOSAN, 2018, p.14)

36
Figura 39: etapas envolvidas na gestão de efluentes domésticos

fonte: (CATALOSAN, 2018, p.15)

Entender as etapas na gestão de efluentes domésticos é importante para a


escolha dos arranjos ( combinações de tecnologias) que focam em cada etapa, ou
num conjunto de etapas. Como exemplo de gestão de águas negras (urina e fezes),
tem-se: (1) a bacia sanitária que faz a interface; (2) as instalações hidráulicas de
esgoto que fazem o transporte e uma caixa de passagem que armazena e direciona
para a próxima etapa; (4 e 5) um tanque de evapotranspiração que digere a matéria
orgânica, faz uso de nutrientes e reduz os patógenos; (6) a vala de infiltração que
recebe uma parcela do efluente não absorvido no Tevap e completa o ciclo com a
infiltração como destino final, ou é reutilizada. (PAULO; GALBIATI; FILHO, 2018)

Tecnologias

Há diversas tecnologias que podem ser utilizadas para resolver cada etapa da
gestão dos efluentes, e algumas delas representam sistemas mais completos. Em
se tratando destas, tem-se três exemplos mais conhecidos:

- Tanque de evapotranspiração - TEvap (Bacia de evapotranspiração/canteiro


biosséptico/ fossa verde)

37
Figura 40: desenho esquemático do tanque de evapotranspiração
Fonte: CATALOSAN, 2018, p.44)

O TEvap é basicamente uma câmara de recepção e digestão, filtro anaeróbio e


zona de raízes de fluxo subsuperficial, em um único sistema, instalado em um
tanque impermeabilizado. . Há diversos, materiais e técnicas construtivas que
podem ser utilizadas para sua construção, dependendo do acesso à recursos que
os usuários têm à disposição, variando de um custo médio ou alto. O
dimensionamento do tanque é calculado para ter em média entre 1 m e 1,20 m de
profundidade e área de 2m² por usuário, no caso de residências. Se construído
corretamente, com todas as camadas fundamentais e dimensionamento adequado,
a manutenção necessária é apenas do jardim e colheita dos frutos que podem ser
consumidos. (PAULO; GALBIATI; FILHO, 2018)

38
Figura 41: exemplo de TEvap que utiliza da terra ensacada para construção do
tanque. fonte: página Preservar e Existir3

- Evapotranspiração e tratamento de água cinza clara - EvaTAC

3 https://www.preservareresistir.org/single-post/2016/10/26/Tecnologia-social-e-sustent
%C3%A1vel-saiba-mais-sobre-a-obra-do-Saneamento-Ecol%C3%B3gico-da-praia-do-Sono,
acessado em 6/12/2019)

39
Figura 42: desenho esquemático do evaTAC
fonte:( CATALOSAN,2018)

O EvaTAC é formado pela combinação de um Tevap adaptado, com um


wetland construído (CW) de fluxo horizontal subsuperficial. Funciona como um
sistema para tratamento de água cinza clara, sem necessidade da etapa de
sedimentação, ou tanque séptico, já que nesse sistema já contém uma câmara de
digestão anaeróbica horizontal acoplada em seu interior. (PAULO; GALBIATI;
FILHO, 2018)

Cada tanque deve ter no mínimo 1 metro de largura e


pode ser instalado ao longo de muros e paredes. A CEvaT
deve ter no mínimo 1,20 metro de profundidade com altura do
leito em 1,0 m. O wetland construído, altura mínima de 0,7 m
com altura do leito de 0,5 m. A princípio, em relação ao volume
útil do EvaTAC, segue-se o dimensionamento como para um
wetland construído de fluxo horizontal tratando esgoto
doméstico, adaptando o comprimento do sistema, mantendo a
largura e profundidades aqui indicadas para cada tanque.
(PAULO; GALBIATI; FILHO, 2018)

40
Em relação a manutenção, é necessário dar os cuidados necessários para as
plantas, e fazer a remoção periódica do lodo e a escuma sedimentados para não
ocorrer o entupimento. A água tratada pode ser utilizada para irrigação de jardim ou
infiltração no solo como destino final.

- Sanitário seco compostável

Figura 43: desenhos esquemáticos do banheiro seco fonte: (CATALOSAN,


2018)

Esse sistema é bastante conhecido e utilizado, por exemplo em áreas rurais


onde não há coleta e tratamento de esgoto. O sistema consiste em uma bacia
sanitária sem descarga, e uma câmara para armazenamento, desidratação e
compostagem das fezes, urina e material secante. Pode ter uma ou duas câmaras
para isolar uma delas quando estiver cheia. Nesse caso, o material fica em repouso
por no mínimo 6 meses, antes de poder ser utilizado como adubo orgânico. A cada
utilização do sanitário se utiliza material secante, como a serragem, para que reduza
a umidade do efluente, além da circulação de ar que também promove a
desidratação do material e neutralização dos patógenos. A cada ano é necessária a
retirada do conteúdo das câmaras que pode ser utilizado como adubo ou

41
descartado sem perigo de contaminação. É um sistema com um custo médio alto,
dependendo dos materiais utilizados. (PAULO; GALBIATI; FILHO, 2018)

3.2.2 Infraestruturas Verdes: energia

Recursos energéticos

A utilização de recursos energéticos paralelos à utilização (com a


possibilidade de completa substituição e até retorno à rede) tem se popularizado,
seja nos meio urbanos ou rurais. A capacidade de independência da rede de
sistema elétrico regional permite ao usuário um desprendimento das origens não
sustentáveis (termelétricas, principalmente as que usam combustíveis fósseis),
tornando o consumo energético menos poluente, principalmente com o uso de
fontes renováveis e capazes de aproveitamento de resíduos que seriam
descartados. Dentre as fontes energéticas mais comuns para a geração de energia
elétrica estão a termica, a solar, a eólica e a hidrelétrica.
A energia solar tem crescido substancialmente no panorama nacional, com
uma performance cada vez melhor devido o avanço tecnológico. Mas este método
apresenta um entrave que muitas vezes impede ela de ser aplicada: alto
investimento inicial. Porém, não necessariamente precisa-se produzir energia
elétrica a partir da solar. O uso de aquecedores solares já é bem difundido, e cada
vez mais o calor solar é aproveitado como por exemplo para desidratadores solares
de baixo custo para preservação de alimentos.
Tem se popularizado também a utilização de biodigestores para a produção
de biogás a partir de matéria orgânica para o uso em fogões e fornos. É uma das
maneiras de se aproveitar do Ciclo de Vida do material, extraindo energia do
mesmo.

42
Quanto à energia eólica, apresenta uma eficácia um pouco menor quando em
locais que não litorâneos. Os litorais, devido aos regimes de vento contra e a favor
do mar, apresentam grandes capacidades de produção elétrica.
A água que atravessa seu território também deve ser visto como uma
energia. A possibilidade de acesso e reuso dela garante um consumo menor (sendo
necessário menor energia para o abastecimento de uma residência) e
consequentemente uma dispersão menor, gerando menos esgoto . A energia
hidrelétrica é muito eficiente, e se feita da forma e no local adequado, seu
funcionamento é ininterrupto, porém sua instalação é limitada à corpos d'água e
rios. Pode ser utilizada para a produção elétrica ou para trabalhos mecânicos.

3.2.3 infraestruturas verdes: resíduos sólidos

Resíduos sólidos

Diferindo um pouco da linguagem popular que se refere ao lixo como resíduo


sólido, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010) define resíduos
sólidos como todo material, substância, objeto ou bem que seja descartado como
resultado de atividades humanas em sociedade. Do ponto de vista histórico, no
período da revolução industrial é quando surge um crescimento substancial na
produção destes resíduos aliado ao crescimento populacional. Posteriormente, no
século XX, com o uso não apenas energético do petróleo (uso de polímeros
sintéticos) que a descartabilidade e não reparabilidade gera um excedente de
resíduos sólidos em uma proporção antes desconhecida.
Pouco se fez para tal excedente, havendo apenas descarte, sem que o
material proporcione seu aproveitamento pleno com a reciclagem. É só no século
XXI que surgem medidas que pretendem reduzir e melhor aproveitar os resíduos.
Na Diretiva 2008/98/CE do Parlamento Europeu, na secção de “Hierarquia dos
resíduos” há uma sistematização de medidas para em hierarquia para proteção
ambiental desses resíduos:

43
prevenção, preparação para a reutilização, reciclagem, revalorização (energética,
reutilização para bens de consumo, etc…) e a adequada eliminação.
Surge também, na cultura, alguns apetrechos como tentativa de redução de
produção dos resíduos como os vários “R’s” da reciclagem: repensar, recusar,
reduzir, reparar, reutilizar, reintegrar.

Tipos de resíduos sólidos

Resíduo sólido urbano: resíduos domiciliares, resíduos de limpeza urbana e


resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços.
Resíduos domiciliares: São constituídos por três frações distintas, os
recicláveis, os orgânicos biodegradáveis e os rejeitos. No Brasil, em média, mais de
50% dos resíduos domiciliares são compostos por materiais orgânicos, estes que se
inseridos no processo correto de gestão, passam de resíduos para uma fonte de
recursos. (FRÉSCA, F. R. Estudo da geração de resíduos domiciliares no município
de São Carlos SP a partir da caracterização física. 2007. 133 p. Dissertação
(Mestrado em Engenharia Ambiental) – Escola de Engenharia de São Carlos,
Universidade de São Paulo, São Carlos, 2007.)
Resíduos orgânicos: todos materiais que se decompõe na natureza, podendo
passar por processos de aceleração da degradação ou não. (Gestão de resíduos
sólidos/Sebrae - 2.ed. - Cuiabá: Sebrae,2015.)
A problemática urbana: a mistura da porção orgânica com a não orgânica e o
não reaproveitamento da porção orgânica. Gerador de diversos problemas como a
decomposição anaeróbica das matérias orgânicas, gerando mau cheiro e assim
atraindo diversos vetores, além da possibilidade de proliferação de microorganismos
patogênicos.
Resíduos inorgânicos: são resíduos compostos por produtos manufaturados,
como cortiças, espumas, metais, polímeros e tecidos. (Gestão de resíduos
sólidos/Sebrae - 2.ed. - Cuiabá: Sebrae,2015.)
Resíduos especiais: são aqueles que são classificados pelos riscos que
representam ao meio ambiente e à saúde pública. Devem ser tratados, mas que não
apresentam um panorama de reaproveitamento viável.

44
Resíduo industrial: resíduos que podem estar nos estados sólido, semi sólido
ou líquido. São caracterizados como contaminantes e altamente prejudiciais ao meio
ambiente e à saúde. Não devem ser lançados na rede pública de esgotos ou corpos
d'água. Idealmente deveriam ser tratados pelos próprios que o produzem, reduzindo
ao máximo a possibilidade de atingir a natureza e a população. (Gestão de resíduos
sólidos/Sebrae - 2.ed. - Cuiabá: Sebrae,2015.)
Resíduos hospitalares: aqueles que são produzidos dentro de hospitais. Pela
possibilidade de conter agentes causadores de doenças, é um rejeito que é
dispensado separadamente e não é reaproveitado.
Resíduos de construção civil: popularmente chamado de entulho, estes
resíduos são provenientes de obras civis; construções, reformas, ampliações, etc…
Podem ser reutilizados com outras funções, mas normalmente estes resíduos, como
o concreto, apresentam uma constituição material não reversível, ou seja,
diferentemente da cal e da terra, não pode ser reaproveitado para a mesma função.
Resíduos nucleares: composto por resíduos altamente radioativos, como
restos de combustíveis nucleares, produtos hospitalares que entraram em contato
com radioatividade.
Resíduos agrossilvopastoris: aqueles que são gerados por atividades na
agricultura, silvicultura ou pecuária.
Resíduos portuários, aeroportuários e outras áreas alfandegárias: resíduos
provenientes provenientes de outros países podem ser considerados perigosos por
sua capacidade de transmissão de agentes contaminantes e pela possibilidade de
serem vetores de doenças endêmicas.

Gestão dos resíduos sólidos

Aterros sanitários: São considerados uma solução prática e relativamente


barata para a disposição de resíduos urbanos e industriais. Porém demandam
grandes áreas, onde o lixo é depositado. Após seu esgotamento, estas áreas
podem passar por um processo de descontaminação para assumir outras
finalidades. Porém, o aterro deve ser devidamente impermeabilizado e utilizado.
Caso contrário, poderá haver poluição ambiental, contaminação do solo e das águas

45
subterrâneas. Este tipo de gestão gera grandes quantidades de chorume e biogás,
além de outros componentes tóxicos.
Lixões: também conhecido como descarga a céu aberto, é um método de
descarte totalmente inadequado, pela falta de medidas de proteção ao meio
ambiente e à saúde pública. Não há controle sobre o que é depositado e nem como,
além de não haver controle de acesso, gerando problemas à saúde pública pela
presença de catadores.
Incineradores: A partir da combustão, reduzem em torno de 90% o volume
dos resíduos. É especialmente usado quando se trata de lixo hospitalar.
Compostagem: É um método controlado e aeróbico para a decomposição de
substâncias orgânicas biodegradáveis de origens vegetal e animal. (uso da
compostagem em sistemas agrícolas orgânicos4. É capaz de gerar um produto final
muito estável com a possibilidade de reaproveitamento como composto fertilizante,
sem a produção de metano. Tem grande importância na permacultura e nos
sistemas agrícolas orgânicos..( KIEHL, E.J. Fertilizantes orgânicos. São Paulo:
Agronômica Ceres. 492 p., 1985. )

Vermicompostagem: Apresenta a mesma importância da compostagem,


porém com o uso intenso de minhocas como aceleradoras do processo.. Assim
como a compostagem, também se mostra capaz de se aproveitar do ciclo de vida
dos resíduos
Vermifiltragem: Consiste na utilização de minhocas para a degradação da
parte sólida das águas escuras com a separação da porção líquida que é
fermentada, podendo passar por uma fossa séptica e um círculo de bananeira para
o seu tratamento já como água cinza.
Reciclagem: Deve ser, idealmente, o principal destino dos resíduos sólidos
orgânicos ou inorgânico. Este método tem incrível potencial de diminuir a produção
elevada de rejeitos, uma vez que estimula a diminuição da produção pela
diminuição do consumo de insumos com matéria prima não reciclada, além de
reutilizar materiais que já foram extraídos e utilizados, dando uma nova destinação.
Tem a capacidade de grande geração de empregos, porém pode ser

4 Uso da compostagem em sistemas agrícolas orgânicos. / Francisco Nelsieudes


Sombra Oliveira, Hermínio José Moreira Lima, João Paulo Cajazeira. - Fortaleza :
Embrapa Agroindústria Tropical, 2004.

46
economicamente inviável. Por este e outros motivos que a reciclagem no Brasil se
mantém baixa, em torno de 3% em 2015 sendo que há a possibilidade de se chegar
a 30%.5
Dentro da gestão de resíduos, para além do que se fazer com aquilo que é
produzido, deve-se pensar também em como reduzir as quantidades de lixo
produzido. O incentivo ao reaproveitamento na indústria e em empresas privadas
pode gerar um significativo decréscimo na produção destes resíduos. Para além das
empresas, o estímulo à uma cultura anti consumista e reparadora deve ser
preservada.

3.3 PRÓXIMAS ETAPAS

Para os próximos meses da pesquisa individual está previsto a


complementação dos itens 1 e 2 descritos no projeto (indicados abaixo), os quais já
foram majoritariamente contemplados nesse estágio da pesquisa, bem como a
sistematização dos itens 3 e 4 que referem-se ao ciclo de vida e as possibilidades
de pré-fabricação de elementos e componentes construtivos.

(1) Investigação e sistematização de suas características particulares e condições de


produção e uso;
(2) Investigação sobre suas especificidades com relação à gestão e tratamento dos
resíduos, das águas e de energia;
(3) Sistematização de seus processos de Ciclos de Vida (CV);
(4) Sistematização sobre suas possibilidades de pré-fabricação de elementos e
componentes;

5 PAIVA, Roberto. Apenas 3% de todo o lixo produzido no Brasil é reciclado. G1,


2015. Disponível em: <http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2015/04/apenas-3-
de-todo-o-lixo-produzido-no-brasil-e-reciclado.html>. Acesso em: 05/01/2020.

47
3.4 LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO

- ABREU-HARBICH, L. V.; LABAKI, L. C. ; MATZARAKIS, A. . Effect of tree


planting design and tree species on human thermal comfort in the tropics.
Landscape and Urban Planning, v. 1, 2015.
- ABREU-HARBICH, L. V.; LABAKI, LUCILA C. ; MATZARAKIS, ANDREAS .
Thermal bioclimate in idealized urban street canyons in Campinas, Brazil.
Theoretical and Applied Climatology, v. 115, 2014.
- ABREU-HARBICH, L. V.;LABAKI, LUCILA C. ; MATZARAKIS, ANDREAS .
Thermal bioclimate as a factor in urban and architectural planning in tropical
climates-The case of Campinas, Brazil. Urban Ecosystems JCR, v. 16, 2014.
- FRISCHENBRUDER, M.; PELLEGRINO, P. Using Greenways to reclaim
nature in Brazilian cities. Landscape and Urban Planning, Amsterdam,
Elsevier.v.76, 2006.
- GIRLING, Cynthia & KELLET, Ronald. Skinny Streets and Green
Neighborhoods: design for environment and community. Washington D.C.:
Island Press, 2005. MOURA, N. Biorretenção:TECNOLOGIA AMBIENTAL
URBANA PARA MANEJO DAS ÁGUAS DE CHUVA. Tese de Doutorado,
FAU USP, 2013.
- MOURA, Newton; PELLEGRINO, Paulo; MARTINS, J. R. S. Transição Em
Infraestruturas Urbanas De Controle Pluvial: Uma Estratégia Paisagística De
Adaptação Às Mudanças Climáticas. Paisagem e Ambiente, v. 34, 2014.
- NOVOTNY, Vladimir. Water Quality: Diffuse Pollution and Watershed
Management. New Jersey: Wiley & Sons, 2003. NOVOTNY, Vladimir;
AHERN, Jack & BROWN, Paul. Water Centric Sustainable Communities:
planning, retrofitting, and building the next urban environment. New Jersey:
John Wiley & Sons, Inc. 2010.
- PELLEGRINO, P ; AHERN, J. ; BECKER, N. . Green Infrastructure:
performance, appearance, economy and working method. In: Daniel
Czechowski, Thomas Hauck, Georg Hausladen. (Org.). Revising Green
Infrastructure: Concepts Between Nature and Design. 1a.ed.Boca Raton,
EUA: CRC Press, 2015.
- PELLEGRINO, P. R. M. . O Projeto da Paisagem e a Sustentabilidade das
Cidades. In: Arlindo Philippi Jr.; Marcelo de Andrade Romero; Gilda Collet
Bruna. (Org.). Curso de Gestão Ambiental. 2a.ed.Barueri: Editora Manole
Ltda., 2014.
- PELLEGRINO, P, Becker, Newton M. (org.) Estratégias para uma
infraestrutura verde. Barueri, SP: manole, 2017.
- PELLEGRINO, P et al, A Paisagem da Borda: uma estratégia para a
condução das águas, da biodiversidade e das pessoas. In COSTA, Lucia M.
S. A. (org.) RIOS E PAISAGEM URBANA EM CIDADES BRASILEIRAS. Rio
de Janeiro: Viana & Mosley Editora/Editora PROURB, 2006.

48
- WILBY, R. L. “A Review of Climate Change Impacts on the Built
Environment”. In: Built Environment. Vol. 33. N. 01, 2007.
- WATSON, Donald & ADAMS, Michele. Design for Flooding. Architecture,
Landscape, and Urban Design for Resilience to Climate Change. New Jersey:
Wiley & Sons, 2011.
- RILEY, A. Restoring streams in cities: a guide for planners, policy makers and
citizens. Washington D.C.: Island Press, 1998. SCHUTZER, J. Cidade e meio
ambiente: a apropriação do relevo no desenho ambiental urbano. São Paulo:
Edusp, 2012.

3.5 BIBLIOGRAFIA E REFERÊNCIAS

- CORMIER, Nathaniel S.; PELLEGRINO, Paulo Renato Mesquita. Infra-estrutura


verde: uma estratégia paisagistica para a água urbana. Paisagem Ambiente:
ensaios. n. 25. São Paulo. p. 125-142. 2008.
- FRÉSCA, F. R. Estudo da geração de resíduos domiciliares no município de São
Carlos SP a partir da caracterização física. 2007. 133 p. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Ambiental) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São
Paulo, São Carlos, 2007.)
- HERZOG, Cecilia Polacow; ROSA, Lourdes Zunino .Infraestrutura verde:
sustentabilidade e resiliência para a paisagem urbana. Revista LabVerde. Edição 01.
Outubro 2010. Artigo 5. Pág 92-115.
- PAULO, P. L.; GALBIATI, A. F.; FILHO, F. J. C. M. AdBrasil. Ministério da Saúde.
Fundação Nacional de Saúde. CataloSan: catálogo de soluções sustentáveis de
saneamento - gestão de efluentes domésticos / Ministério da Saúde, Fundação
Nacional de Saúde. – Campo Grande : UFMS, 2018.
- KIEHL, E.J. Fertilizantes orgânicos. São Paulo: Agronômica Ceres. 492 p., 1985.
- OLIVEIRA, F. N. S.; LIMA, H. J. M; CAJAZEIRA, J. P.. Uso da compostagem em
sistemas agrícolas orgânicos.- Fortaleza : Embrapa Agroindústria Tropical, 2004.
- Gestão de resíduos sólidos/Sebrae - 2.ed. - Cuiabá: Sebrae,2015. 36 p.:il. Color.
- TUCCI, C. E. M. Água no meio urbano. Capítulo 14 do Livro Água Doce. UFRGS.
1997

REFERÊNCIAS

- DIGE, Gorm. Artigo: Infraestrutura verde: viver melhor graças a soluções baseadas
na natureza. Eea, setembro de 2015. Disponivel em:

49
<https://www.eea.europa.eu/pt/articles/infraestrutura-verde-viver-melhor-
gracas>Acesso em 07/01/2020.
- FEIJÓ, João Manuel Linck. Infraestrutura verde e a qualidade de vida.
Disponível em:: <http://www.forumdaconstrucao.com.br/conteudo.php?
a=23&Cod=1614> Acesso em 07/01/ 2020.
- Fontes de energia. Epe, 2020. Disponível em:
<http://www.epe.gov.br/pt/abcdenergia/fontes-de-energia>. Acesso em:
06/11/2019
- GUTIERREZ, Adriana; RAMOS, Ivanete. Drenagem urbana sustentável para a
concretização de metas de ODS/ONU. Archdaily, 2019. Disponível em:
<https://www.archdaily.com.br/br/920314/drenagem-urbana-sustentavel-para-a-
concretizacao-de-metas-de-ods-onu >. Acesso em: 30/01/2020

- Green Infrastructure Plans. Conservationfund, 2020. Disponível em:


<https://www.conservationfund.org/our-work/cities-program/our-
projects/green-infrastructure-plans>. Acesso em: 10/12/2019
- PAIVA, Roberto. Apenas 3% de todo o lixo produzido no Brasil é reciclado.
G1, 2015. Disponível em: <http://g1.globo.com/jornal-
hoje/noticia/2015/04/apenas-3-de-todo-o-lixo-produzido-no-brasil-e-
reciclado.html>. Acesso em: 05/01/2020.

- MATHIESEN, B. V et al.Applied Energy 145 Smart Energy Systems for coherent


100% renewable energy and transport solutions em Applied Science. Elsevier, 2015.
p. 139-154. Disponível em: <https://www.journals.elsevier.com/applied-energy>.
Acessado em: 17/01/2020

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