Você está na página 1de 26

A constituição do mundo

psíquico na concepção
winnicottiana: uma
contribuição à clínica das
psicoses
The constitution of the psychic world in
Winnicott’s conception: a contribution to the
clinical treatment of psychosis
AUTORIASCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

 Resumos
 Text
 Datas de Publicação
 Histórico

Resumos
A importância da obra de Winnicott para a psicanálise vem sendo reafirmada
nos últimos anos, junto ao seu interesse crescente para o campo das psicoses.
O propósito do presente estudo é apresentar as bases teóricas dessa que é
uma das abordagens mais fecundas para a compreensão do fenômeno
psíquico, não apenas em condições patológicas, como em condições normais
de desenvolvimento. Trata-se de um arcabouço conceitual que nos permite
pensar a problemática resultante das organizações não edipianas do aparelho
psíquico, cujas incidências na clínica contemporânea são cada vez mais
freqüentes. Enfoca-se, sobretudo, a gênese da organização psicótica, em suas
relações com a constituição do mundo interno e o papel estruturante do objeto
e da experiência ilusória no desenvolvimento psíquico.

Psicanálise; abordagem winnicottiana; objeto transicional; realidade psíquica;


psicoses
Over the last few years, the importance of Winnicott’s work for psychoanalysis
has been reaffirmed together with its growing interest to the field of psychosis.
The purpose of the present study was to present the theoretical basis of this
approach, which is one of the most fecund for the understanding of the psychic
phenomenon, not only in pathological conditions but also in normal
developmental conditions. This is a conceptual framework that allows us to
reflect about problems resulting from non-oedipal organization of the psychic
apparatus, which incidence in contemporary clinical practice is increasingly
frequent. Major emphasis is placed on the genesis of psychotic organization, on
its relations to the constitution of the inner world and the structuring role played
by the object, and the illusory experience in the psychic development of the
human being.

Psychoanalysis; winnicottian approach; transitional object; psychic reality;


psychosis

A constituição do mundo psíquico na concepção winnicottiana: uma


contribuição à clínica das psicoses

Manoel Antônio dos Santos , 1 2

Universidade de São Paulo

Resumo

A importância da obra de Winnicott para a psicanálise vem sendo reafirmada


nos últimos anos, junto ao seu interesse crescente para o campo das psicoses.
O propósito do presente estudo é apresentar as bases teóricas dessa que é
uma das abordagens mais fecundas para a compreensão do fenômeno
psíquico, não apenas em condições patológicas, como em condições normais
de desenvolvimento. Trata-se de um arcabouço conceitual que nos permite
pensar a problemática resultante das organizações não edipianas do aparelho
psíquico, cujas incidências na clínica contemporânea são cada vez mais
freqüentes. Enfoca-se, sobretudo, a gênese da organização psicótica, em suas
relações com a constituição do mundo interno e o papel estruturante do objeto
e da experiência ilusória no desenvolvimento psíquico.

Palavras-chave: Psicanálise; abordagem winnicottiana; objeto transicional;


realidade psíquica; psicoses.

The constitution of the psychic world in winnicott’s conception: A


contribution to the clinical treatment of psychosis

Abstract

Over the last few years, the importance of Winnicott’s work for psychoanalysis
has been reaffirmed together with its growing interest to the field of psychosis.
The purpose of the present study was to present the theoretical basis of this
approach, which is one of the most fecund for the understanding of the psychic
phenomenon, not only in pathological conditions but also in normal
developmental conditions. This is a conceptual framework that allows us to
reflect about problems resulting from non-oedipal organization of the psychic
apparatus, which incidence in contemporary clinical practice is increasingly
frequent. Major emphasis is placed on the genesis of psychotic organization, on
its relations to the constitution of the inner world and the structuring role played
by the object, and the illusory experience in the psychic development of the
human being.

Keywords: Psychoanalysis, winnicottian approach; transitional object; psychic


reality; psychosis.

As contribuições de Winnicott enriqueceram a concepção psicanalítica sobre as


bases do desenvolvimento emocional precoce (Winnicott, 1945/1978),
principalmente no que concerne ao conceito de fenômenos e objetos
transicionais, produzidos em uma área intermediária situada entre o mundo
interno e o mundo externo. Winnicott formulou uma concepção sobre a
constituição do mundo interno bastante original, afastando-se da doutrina
freudiana à medida que não recorre à teoria pulsional. Se para Freud o objeto é
pensado como objeto da pulsão (Laplanche & Pontalis, 1967/1983), na vertente
winnicottiana o objeto adquire outro estatuto, relacionado à experiência da
transicionalidade e não mais à organização pulsional do sujeito.

A importância da obra de Winnicott para a psicanálise vem sendo reafirmada


nos últimos anos. Seu interesse para o campo das psicoses, em particular para
a investigação da esquizofrenia, tem sido cada vez mais valorizado, à medida
que essa patologia é caracterizada essencialmente pelo transtorno do
pensamento, e a preocupação com o desenvolvimento da capacidade de
pensar por conta própria é um traço distintivo da psicanálise winnicottiana.
Winnicott (1963c/1983) considera a esquizofrenia como resultado de certas
falhas de construção da personalidade, decorrentes de um ambiente que não
pôde ser suficientemente facilitador para ajudar o lactente a atingir várias
metas, tais como a integração, a personalização e o desenvolvimento das
relações objetais. A esquizofrenia faria parte do quadro das doenças mentais
propriamente ditas, isto é, aquelas doenças que não são conseqüência
secundária das patologias cerebrais ou de qualquer outra doença orgânica. O
termo mental é aqui empregado em sua conotação tradicional, ou seja,
excluindo-se as "doenças do cérebro" e as "doenças do corpo".

O presente artigo tem como propósito apresentar a concepção de mundo


interno elaborada por Winnicott e sistematizar suas contribuições no que
concerne à constituição dos fundamentos da organização psicótica. Tendo em
vista esses objetivos, procuraremos ao longo de nossa exposição traçar um
paralelo entre os processos normais de estruturação do psiquismo e as suas
perturbações correlatas observadas na personalidade psicótica. Procuraremos
explicitar, no decorrer de nossa argumentação, o vértice que privilegiamos em
nossa leitura, segundo o qual a psicose está ligada à privação emocional em
um estádio anterior àquele em que o bebê possa perceber essa privação. Isso
acarreta uma interrupção no sentimento de continuidade do existir, que nem
sequer é experimentada como tal, dada a indiferenciação em relação ao
ambiente.

A teoria winnicottiana acentua o papel do ajustamento defeituoso do ambiente


em relação às necessidades da criança, atribuindo um papel secundário à sua
reação. Em nossa exposição, procuraremos demonstrar que essa contribuição
introduz um pensamento original dentro do referencial psicanalítico, cujas
conseqüências tanto conceituais como clínicas necessitam ainda ser pensadas.

Os Primórdios do Desenvolvimento Emocional

No quadro de sua teoria do desenvolvimento emocional, Winnicott (1945/1978)


enfatiza que no princípio o bebê não constitui uma unidade em si mesmo. A
unidade corresponde a uma organização entre o indivíduo e o meio ambiente.
A base da saúde mental é estabelecida nos primórdios da infância pelo
provimento de cuidados dispensados à criança por uma mãe suficientemente
boa. O bebê depende da disponibilidade de um adulto genuinamente
preocupado com os seus cuidados, isto é, que possa contribuir para uma
adaptação ativa e sensível às necessidades da criança, que a princípio são
absolutas. Portanto, a psique só pode ter origem dentro de um
determinado enquadre, dentro do qual a criança pode gradualmente vir a criar
um meio ambiente pessoal, que a capacitará, mais tarde, a se desembaraçar
do mesmo. Para superar esse estado inicial de dependência e atingir a
independência, o meio ambiente criado e subjetivado pela criança transforma-
se em algo suficientemente semelhante ao ambiente percebido. Essa é uma
etapa especialmente delicada do desenvolvimento e de seu sucesso depende
o estabelecimento da saúde ou da psicose.

Winnicott (1952/1978) parte do ponto de vista de que a aquisição saudável da


posição depressiva no desenvolvimento emocional pressupõe, além de um
cuidadoso manejo do desmame, um desenvolvimento anterior adequado. Para
compreender as psicoses, precisamos remeter a esses estádios mais
primordiais da psique. A desilusão, para Winnicott (1952/1978), é um fenômeno
mais amplo que antecede ao desmame. Enquanto o desmame implica uma
alimentação bem-sucedida, a desilusão está relacionada ao fornecimento
adequado de "oportunidades para ilusão". Ou seja, a mãe deve inicialmente
fornecer ao bebê a ilusão de que o que ele cria está mesmo lá para ser
encontrado.
O desenvolvimento saudável está relacionado ao estabelecimento de uma
tendência à redução dos estados esquizóides nos momentos iniciais da vida,
quando o bebê está sendo gradualmente introduzido à realidade externa. Para
Klein (1946/1982), o amor e a compreensão materna são capazes de reduzir
os estados de desintegração que a criança normalmente vivencia. Winnicott
(1952/1978) avança por essa trilha, mostrando a necessidade de uma mãe-
ambiente que exerça uma função altamente especializada no início do
desenvolvimento. A dedicação materna, tanto do ponto de vista físico (através
do holding) como psicológico (através da relação empática e da adaptação
sensível às necessidades do bebê), funciona como uma espécie de membrana
protetora que viabiliza o isolamento primário, fundamental para que se articule
um espaço psíquico.

Em outras palavras, através de uma adaptação ativa às necessidades da


criança, o meio ambiente a torna capaz de permanecer em um estado de
isolamento imperturbado, ocupando um espaço em que ela possa desenvolver
sua vida de fantasia – um mundo secreto sentido como só seu, onde mais
tarde vai se alojar um aparelho psíquico e uma organização dos processos de
pensamento. O bebê, que não tem consciência desse suprimento por parte do
objeto, entrega-se à fruição de um movimento espontâneo. Se tudo correr
bem, o meio ambiente é descoberto, sem que haja uma perda do sentido
de self.

Quando, entretanto, ocorre uma adaptação falha às necessidades da criança, e


isso a obriga a reagir a essa experiência – sentida como invasiva –, o sentido
do self se perde. A criança se afunda no não-senso, isto é, na impossibilidade
de atribuir significado, nomear e organizar as experiências sensoriais e o
próprio corpo, devido à fenda profunda que o atravessa. Nesse caso, a criança
reage a essa experiência traumática retornando ao estado inicial de
isolamento.

À medida que se reitera a experiência de uma adaptação não suficientemente


boa, começa a ser produzida uma distorção psicótica da organização meio
ambiente-indivíduo. As relações com os objetos produzem, sucessivamente, a
perda do sentido de integridade do self, de modo que, para recuperá-lo, o
indivíduo é obrigado a recorrer cada vez mais ao retorno ao isolamento
primário. Essa operação vai adquirindo um caráter crescente de organização
defensiva como repúdio à invasão ambiental. O self pode ser esmagado no
espaço da realidade que ele nunca alcança e da subjetividade que carece de
sentido.

O fracasso ambiental nesse ponto do desenvolvimento acirra o potencial


paranóide. O bebê se vê obrigado a se defender de intensas ansiedades
paranóides, e para tanto organiza defesas igualmente vigorosas. Além disso,
recolhe-se para seu próprio mundo interno (introversão patológica), um mundo
que ainda não está bem organizado. Para se livrar da perseguição do
ambiente, deixa de adquirir o status de unidade, "renunciando" ao
compromisso de crescer e conquistar sua própria autonomia.

Essa é a versão pessoal que Winnicott (1952/1978) dá para o conceito de


posição esquizoparanóide descrito por Klein (1946/1982). Nela introduz,
contudo, uma diferença fundamental em relação ao pensamento kleiniano, que
ele não deixa de acentuar: é o fracasso ambiental nos primórdios do
desenvolvimento que leva à edificação dessa organização defensiva, e não um
suposto impulso de auto-aniquilamento, um sadismo destrutivo inato ou
qualquer tendência que possa ser atribuída à hereditariedade (loparic, 1996).
Nesse ponto, podemos detectar a dissensão de Winnicott (1945/1978;
1952/1978) em relação à importância que Klein (1946/1982; 1957/1974) atribui
à herança filogenética, aos precursores do ódio e aos prenúncios da inveja,
como constituintes da matriz de impulsos, defesas e ansiedades primitivas.
Segundo Loparic (1996), para Winnicott esses fenômenos não têm raízes em
profundezas oceânicas, nem são tão inevitáveis assim na história dos seres
humanos. Parafrasendo a famosa frase atribuída ao poeta francês Paul Valéry,
também para Winnicott "o mais profundo é a pele".

Uma Teoria do Amadurecimento Humano

Winnicott (1963c/1983) considera que, para compreendermos as desordens do


tipo da esquizofrenia, é necessário examinarmos os processos de maturação
nos estágios iniciais do desenvolvimento emocional, uma época em que muito
desse desenvolvimento está se iniciando e nenhum processo se completando.
Nesse momento, as tendências básicas correspondem à maturação e
à dependência.

A psicanálise winnicottiana implica uma teoria do amadurecimento humano.


Como vimos, as bases da saúde mental do indivíduo são estabelecidas nos
estádios iniciais do desenvolvimento, e envolvem basicamente os processos de
maturação, que são tendências herdadas, e as condições ambientais
necessárias para que eles se realizem (Winnicott, 1963b/1983). Mas não é o
ambiente que faz o bebê crescer, nem determina o sentido desse crescimento,
mas apenas facilita, quando for suficientemente bom, o processo de
maturação.A única herança admitida por Winnicott é o potencial inato para o
amadurecimento, que ocorre entre dois estados de não-vida 3. Toda a
existência decorre nesse intervalo entre o não-ser e o ser, na luta do indivíduo
para não sucumbir aos estados de dissolução e estender, ao longo do tempo, a
continuidade do seu ser, mediante o funcionamento do processo maturacional.

Essa continuidade não pode ser assegurada pelo indivíduo por si só, mas
depende de um meio ambiente facilitador. Por conseguinte, a falha da provisão
básica inicial perturba os processos de maturação, barrando o crescimento
emocional da criança. Nesse sentido, o que constitui a etiologia das psicoses,
em particular da esquizofrenia, é uma falha do processo de maturação e
integração. "Psicose é uma doença de deficiência do ambiente" (Winnicott,
1963b/1983, p. 231) 4. Isso não deve ser entendido como a presença de
experiências traumáticas severas ou a ocorrência de eventos adversos durante
a primeira infância 5. O ponto central é que essas falhas são imprevisíveis. Elas
não podem ser consideradas pelo bebê como projeções, porque ele ainda não
atingiu um estado tal em que a estrutura de ego torne possível atribuir ao
ambiente a produção desses fracassos, já que não há uma oposição inicial
entre o externo e o interno 6. O resultado mais marcante das falhas ambientais
é um sentimento permanente de aniquilamento e pânico que toma conta do
bebê. A continuidade de sua existência é subitamente interrompida Loparic,
1996).

Winnicott (1963c/1983) chama essas falhas da provisão básica de privação,


opondo esse conceito ao de perda, já que, ao tratar das psicoses, ele não se
refere àqueles casos intermediários, em que a provisão ambiental é boa de
início (logo, há uma mãe que evita esse tipo de deficiência em um primeiro
momento), e depois falha em um estádio em que a criança ainda não foi capaz
de estabelecer um ambiente interno que lhe permita ficar independente. Isso é
uma perda e não leva à psicose. O que mostra que a psicose não pode ser
explicada no quadro da função sexual.

O complexo de Édipo é uma função do amadurecimento, e não o inverso


(Loparic, 1996). E pode ocorrer de ele nem se formar, ou que os efeitos da
situação edípica não incidam sobre o indivíduo, a tal ponto que o complexo
possa ser sentido como tal. Por essa visão, o que especifica a condição
humana não é o fato de sermos, desde o início, um Édipo em
potencial (Loparic, 1996), mas de sermos seres frágeis, finitos, que precisam
de um outro ser humano para continuar existindo. A sofisticada metapsicologia
freudiana, apesar de todo o seu aparato dinâmico e estrutural, tem um poder
limitado para explicar os transtornos nos quais incidem as angústias
impensáveis, que cada vez mais têm se transformado no paradigma da
demanda de tratamento na época contemporânea.

Essa afirmação não se baseia em dados de pesquisa, ainda não disponíveis


nessa área, mas em observações não sistemáticas oriundas da experiência
clínica de psicanalistas como Alvarez (1994) e Zimerman (1999), que têm
constatado que "...a maioria das pessoas que hoje procura análise apresenta
importantes problemas caracterológicos, de baixa auto-estima e de prejuízo do
sentimento de identidade, derivados da permanência de um estado depressivo
subjacente, muitas vezes resultantes das primitivas feridas narcisísticas"
(Zimerman, 1999, p. 312). Como ressalta Loparic (1996), é preciso buscar
novos modelos explicativos para lidar com esses casos que interrogam os
limites da psicanálise, uma vez que a metapsicologia não é capaz de, por si só,
elucidar a essência trágica do homem contemporâneo, com sua existência
fraturada e descontínua.

Desse modo, investigando as particularidades dos fenômenos que têm origem


nesses estádios mais elementares do existir humano, segundo Loparic (1996),
Winnicott rejeita a idéia do conflito edípico como motor do desenvolvimento
psíquico e fonte precoce das neuroses. O que move o bebê, segundo ele, é o
próprio fato de estar vivo. O bebê não deseja incorporar a mãe, e muito menos
castrar o pai (Winnicott, 1987/1990). Tudo o que ele anseia é a presença
reasseguradora da mãe, que lhe inspire uma confiança básica em si mesmo e
no mundo. Somente quando o seu contato com a mãe-ambiente for satisfatório,
o bebê poderá adquirir a capacidade de usar os seus mecanismos mentais.

As Angústias Impensáveis

De acordo com Loparic (1996), Winnicott, em sua obra, reconheceu que nas
psicoses e em outros distúrbios severos correlatos as angústias maciças não
parecem se enquadrar no clássico modelo da regressão aos pontos de fixação
pré-genitais, vinculadas ao conflito edípico mal resolvido (ver também
Winnicott, 1955/1978). Nesses pacientes, não é possível identificar a origem da
problemática em termos de dificuldades de resolução de um complexo de
Édipo plenamente desenvolvido. Ainda que tenha acatado, inicialmente, as
reformulações kleinianas em termos da posição depressiva, Winnicott acabou
se convencendo da existência de problemas iniciais do desenvolvimento
humano que desencadeiam o que ele denominou de angústias impensáveis,
que não podem ser entendidas por meio da concepção edipiana 7.

Segundo Loparic (1996), são angústias relacionadas não à função sexual, mas
às múltiplas ameaças ao sentimento de existir que assolam o bebê, tais como o
temor do retorno a um estado de não-integração (levando ao aniquilamento e à
ruptura da linha de continuidade do ser), o medo da perda de contato com a
realidade e o temor da desorientação no espaço, o pânico do desalojamento do
próprio corpo (o despencar no vazio) e de um ambiente físico imprevisível, etc.
Essas angústias primárias são impensáveis porque não podem ser definidas
em termos de relações pulsionais de objeto, baseadas no modelo
representacional (isto é, relações mediadas por representações de objeto, ou
seja, representações mentais). Ocorre que tais angústias não acedem à
percepção, nem chegam a ter um estatuto de fantasia, e à medida que não
ganham conteúdo representacional, são impedidas de alcançar a simbolização.

Essas angústias eclodem em uma etapa bastante precoce da vida, antes que
tenha sido claramente configurado um sujeito capaz de experimentá-las como
algo interno. Os estados que as originam precedem, portanto, ao início da
atividade dos mecanismos mentais e das forças pulsionais, o que implica que
essas angústias não possam ser compreendidas em termos do conflito gerado
pela situação edípica. Pode-se, então, interrogar sobre sua verdadeira origem.
Essas angústias assaltam a mente do bebê em um estágio do desenvolvimento
primário quando há o encontro com um mundo sentido como incompreensível.

Ou seja, tudo começa com o nascimento, que é um problema


fundamentalmente do bebê, não da mãe (Loparic, 1996). E o bebê, como tal,
não existe no início, segundo a conhecida expressão de Winnicott (1971/1975).
Há apenas uma configuração inicial e indissolúvel, formada pelo bebê e o
ambiente, do qual a criança não se diferencia. Isso porque nenhuma distinção
primordial entre o interno e o externo é pressuposta, como em Melanie Klein. O
que para Klein constitui o bom objeto (seio bom), para Winnicott resume-se tão
somente à maternagem acompanhada da amamentação. Em contrapartida,
não existe algo semelhante a um mau objeto (seio mau), alvo de sucessivos
ataques desferidos pela criança. E, à medida que não há noção de
exterioridade, não se pode falar de mecanismos de projeção ou introjeção
operando desde o nascimento. Só é possível projetar se há um continente para
acolher a projeção. Em uma situação como essa, o bebê não pode sentir ódio
pelo objeto, pois não sabe o que é possuir algo diferente de si mesmo. A
própria capacidade de possuir e de usar o objeto (evolução da "relação de
objeto" para o "uso do objeto") deve ser construída na relação satisfatória com
a mãe-ambiente (Winnicott, 1969/1975a).
Para Klein (1946/1982), a ênfase está posta no interno, enquanto que para
Freud (segundo Pereda, 1997) a angústia é sempre marcada pela carência dos
primórdios e pela perda do objeto (ou nas fantasias de castração). Ou seja, se
em Klein importa a pulsão de morte, em Freud contam as perdas. Já Winnicott
(segundo Pereda, 1997) introduz a importância radical do outro no processo de
estruturação da subjetividade, rompendo com a dicotomia interno-externo.

"O que ele descreve em sua transicionalidade é a perda do objeto para que
surja o sujeito. Objeto que ‘demora’ em sua representação mais autônoma
(disponibilidade da representação), que se encarna nele perdendo-se (metáfora
a meio caminho, que é objeto transicional), mas que finalmente desaparece e
marcará com isto a simbolização mais acabadamente realizada e a
disponibilidade da fantasia" (Pereda, 1997, p. 85).

Talvez o que sobreviva não seja o objeto (que existe para ser "morto"), mas o
sujeito marcado pela perda ou pela destruição do objeto, testemunhando o
aparecimento da fantasia, como uma "metáfora viva" que dá acesso ao
pensamento e à cultura. Winnicott destaca que no estabelecimento da
alteridade algo se perde ao se adquirir essa conquista. Já as falhas e
distorções do brincar (processo simbólico) levam à formação de formações e
divisões que se estruturam em pseudo-identificações, na linha do falso self. As
perturbações ou a detenção do brincar criam condições para o
desenvolvimento de patologias infantis e a base para os transtornos do adulto.

A Experiência Ilusória e o Advento do Objeto Transicional

O êxito do desenvolvimento, que permite avançar no sentido do objeto


percebido como exterior ao self, está intimamente ligado à capacidade da
criança de se sentir real. Essa capacidade tem ainda que se harmonizar com a
noção de se sentir real no mundo e de sentir que o próprio mundo é real. O
esquizofrênico não pode alcançar um sentimento de realidade no mundo
particular das relações que ele mantém com seus objetos subjetivos. Nesse
sentido, os sentimentos de desrealização e a perda do contato com a realidade
compartilhada representam o oposto da tendência maturativa.

No decorrer do desenvolvimento psíquico normal, a adaptação ativa que a mãe


propicia, procurando atender às necessidades que variam de acordo com as
diferentes etapas do desenvolvimento, nutre o potencial criativo da criança.
Isso origina uma prontidão para a alucinação. O amor e a compreensão
proporcionam a identificação da mãe às necessidades do bebê, a ponto de ela
fornecer-lhe algo além do alimento, que é a possibilidade de usar criativamente
seu potencial para alucinar o seio provedor. A repetição dessa experiência
desencadeia a habilidade do bebê de usar o recurso da ilusão, sem a qual é
impossível o contato entre a psique e o meio ambiente. Isso permite que o
bebê construa, nesse espaço de ilusionamento propiciado pela mãe, um objeto
que o console e lhe dê conforto: o objeto transicional (Winnicott, 1951/1978).

Esse objeto pode ser materializado em qualquer suporte da realidade, como o


polegar, a ponta de uma manta, um urso de pelúcia ou uma boneca de pano, já
que o que importa é a função que ele desempenha e não o objeto em si. Desse
modo, entre a realidade externa e a realidade subjetiva, que de início são
incomunicáveis e imissíveis, funda-se um campo intermediário de ilusão. Para
o bebê, significa uma zona de compromisso que não é contestada quanto ao
fato de pertencer ao mundo puramente subjetivo ou ao território da realidade
compartilhada.

É nessa área constituída pelo jogo e pelo fantasiar que a criança pode colocar
em uso o sonho e os seus impulsos de vida e, através desses recursos,
começar a manipular a realidade externa, modelando-a de acordo com suas
necessidades e possibilidades de assimilação8. O fato é que o adulto, porque
intui essa verdade, concede ao bebê licença para que ele exercite à vontade
"essa loucura". Só gradualmente exige que ele discrimine entre a realidade
subjetiva e a realidade compartilhada. Essa indulgência dos pais, uma espécie
de "moratória" do juízo crítico da realidade, prolonga-se na vida adulta, quando
se manifesta no campo cultural sob a forma de arte e religião, por exemplo.
Nessas áreas, de que todos necessitamos, também se observa esse
"descanso do teste de realidade e da aceitação da necessidade" (Winnicott,
1951/1978, p. 382).

As manifestações geralmente reconhecidas como psicóticas nascem de uma


tendência à clivagem básica na organização meio ambiente-indivíduo,
desencadeada como uma reação a experiências de fracasso da adaptação
ativa do ambiente inicial. A extrema clivagem faz com que a vida interior – o
mundo particular de fantasias do indivíduo, contenha poucos elementos
derivados da realidade externa. A vida secreta torna-se, assim, incomunicável.
O indivíduo se deixa levar por uma vida falsa, e essa submissão a um ambiente
sedutor acaba por produzir um falso self, em que as pulsões ficam do lado do
meio ambiente sedutor, traindo a verdadeira natureza humana. Com isso, o
indivíduo não consegue atingir uma autêntica maturidade, que é substituída por
uma pseudomaturidade, em um meio ambiente psicótico.

A impossibilidade de configurar uma área segura para desenvolver o fantasiar


impede o bebê de conviver com o segredo, necessário para que ele se sinta
fortalecido o suficiente para deixar, em segurança, a proteção do isolamento
primário. O campo transicional não se constitui como tal, impedindo que a
criança flutue para dentro e para fora do seu mundo interno, de acordo com
suas necessidades.

Winnicott (1952/1978) chama a atenção para o papel que os processos


intelectuais assumem nessa época. Através deles, os fracassos do meio
ambiente podem ser gradualmente levados em conta e tolerados.
Eles funcionam como um elo de ligação entre a adaptação incompleta e a
completa, permitindo ao indivíduo preencher a lacuna existente entre ambas e
assim obter uma compensação para as falhas ambientais. Desse modo,
através desse mecanismo propiciado pelos processos cognitivos que é o
fantasiar, uma adaptação não suficientemente boa pode se transformar em
uma adaptação suficientemente boa - o que nos remete à descrição de Freud
(1920/1969) sobre o bebê que, através do jogo e da fantasia, encontra um meio
de transformar uma experiência desagradável em uma atividade prazerosa. O
brincar "verdadeiro" permite ampliar a compreensão do processo simbólico e
de sua função, através da representação, conceito essencial também na
formulação freudiana – basta pensar no jogo do carretel, que instala um
fenômeno novo em que imagem e palavra se amalgamam.

Se o ambiente se comporta de modo uniforme, tanto mais fácil será essa tarefa
que a criança tem de estruturar. Já uma adaptação variável (meio ambiente
imprevisível e pouco sensível) tende a ser traumática, anulando o efeito
positivo dos períodos de adaptação adequada. Winnicott (1952/1978) afirma
que uma capacidade intelectual restrita induz maiores dificuldades nessa tarefa
de transformação dos traumas resultantes da adaptação insuficiente às
necessidades. Disso resultam as psicoses comuns nos deficientes mentais.

Por outro lado, também se observa que um indivíduo com uma elevada
potencialidade cognitiva, que o capacita a lidar com sérios fracassos na
adaptação à necessidade, pode desenvolver um tipo de distorção da
personalidade que Winnicott (1960/1983) denomina falso self, juntamente com
uma perversão da atividade mental, à medida que ela é utilizada contra a
psique. A hipertrofia dos processos intelectuais, nesses casos, corresponderia
a uma reação defensiva contra um colapso esquizofrênico potencial. A
atividade de pensamento acaba por se tornar inimiga da psique.

O Verdadeiro e o Falso Self

Mannoni (1970, p. 90) mostra que falso e verdadeiro self não são "dois tipos de
personalidades (...), mas uma bipolaridade em um mesmo indivíduo", sendo
que a função primordial do falso self é precisamente ocultar e proteger
o self verdadeiro. Assim, ambos permanecem como vicissitudes naturais de
expressão da vida psíquica (Pereda, 1997).

Ao formular a questão da constituição do self verdadeiro e falso, Winnicott


(1960/1983) evidencia que o elemento autêntico no self constrói-se sobre a
identificação com o objeto, ali onde se constitui um campo relacional, de onde a
criança vai emergir como sujeito caso se aceite o paradoxo de que o objeto
está ali porque ela o criou magicamente, ao passo que o falso self se constrói
sobre a base do submetimento, quando o gesto espontâneo não pôde ser
acolhido.

Winnicott (1960/1983) inscreve na patologia do falso self um amplo leque de


doenças, como as psicoses, os quadros borderline, a depressão e o suicídio.
De um modo geral, nas enfermidades, incluindo-se aí as neuroses, encontram-
se presentes os aspectos menos autênticos (mais falsos) da personalidade: "O
autêntico fica do lado do verdadeiro: a saúde, a cultura, a criatividade", o que
contrasta com a proposta freudiana de que as mais nobres qualidades
humanas são feitas do mesmo estofo que os vícios" (Pereda, 1997, p. 81).

Por outro lado, o verdadeiro self não surge como resultado do conflito, mas
previamente. É uma área não reativa, talvez primária e livre de conflitos, celeiro
de possibilidades da evolução espontânea na fecunda tessitura da trama
subjetiva. Pode-se fazer uma aproximação entre a noção winnicottiana de que
o self encontra-se situado no corpo com a gênese do ego como um ego
corporal, projeção mental da superfície do corpo, conforme a descrição de
Freud (1923/1969). Mas nunca é demais lembrar que talvez não existam
equivalências possíveis e que a maioria dos conceitos não se harmonizam e
dificilmente podem ser enquadrados na metapsicologia habitual. A propósito, a
elucidação de determinadas noções é lenta e complexa, devido às suas
múltiplas conceituações e usos, e a distintas visões do aparelho psíquico, que
não se harmonizam com as noções conhecidas, como as da metapsicologia
tradicional. Além do que é necessário ter muita cautela quando se faz uma
confrontação de modelos teóricos em psicanálise e respeitar as diferenças
conceituais existentes entre os diversos autores e suas teorias inspiradas em
bases epistemológicas distintas.

O encontro com o objeto é uma potencialidade, como vimos anteriormente, que


dará um sentido ao gesto espontâneo do bebê e validará (ou não) o "ser
verdadeiro em potência" (Winnicott, 1971/1975). A mãe, portanto, é vista
sempre em sua dimensão potencial, "e esta mãe compreendida como entorno
ou como semelhante se afasta dos objetos parciais" (Pereda, 1997, p. 82),
marcando aí um novo contraste entre a teoria winnicottiana e o pensamento
freudiano e kleiniano.

Assim, a fonte do gesto espontâneo – aquele que expressa um impulso


genuíno, expresso através de um gesto, ato ou balbucio – , é o self verdadeiro
potencial, mas também o ser espontâneo representa o ser verdadeiro em ação,
que se dirige ao outro, o qual percebe e dá lugar a que o gesto se realize.
Como diz Pereda (1997, p. 87): "Quase poderíamos dizer que o self verdadeiro
é o resultado de um encontro simbolizado".

A mãe suficientemente boa como função materna, que responde à onipotência


do bebê e de certo modo lhe dá sentido, como diz Winnicott (1971/1975c)
em O brincar e a realidade, tem também uma função simbólica, à medida que
outorga sentidos imaginários e, simultaneamente, tem de se fazer falhante na
sua capacidade de dar resposta, embora deva introduzir a falha de modo
gradual. É necessário que ela suporte profundamente e sustente por um bom
tempo – o tempo suficiente – o gesto através do qual o desejo da criança tenta
se escrever com o corpo.

Winnicott (1971/1975) descreve, em contrapartida, a mãe que não responde ao


gesto espontâneo, mas que, em vez disso, coloca ali seu próprio gesto,
levando à submissão do bebê. Em O Brincar e a Realidade lemos que o que
cobra realidade é o gesto ou a alucinação do bebê e sua capacidade para
utilizar um símbolo é o resultado desse processo. Se o anseio que esse gesto
expressa não pode ser alcançado (alucinação não gratificada), ele é reiterado,
ou aparece o grito, testemunhando uma ausência. O gesto retorna, então,
como símbolo, resultado de uma perda que acontece no encontro materno. E
ali está o paradoxo que existe em torno da criação do objeto e, por fim, na
constituição do self, objeto que é encontrado para ser criado (Pereda, 1997).

A constituição do falso self surge também como uma defesa paradoxal, solução
de continuidade que vem preservar a continuidade do ser no self verdadeiro
ameaçado. Com a organização do falso self, o sujeito almeja proteger
o self verdadeiro de novos ataques. Trata-se de uma estratégia de
sobrevivência baseada na resignação, na qual importa sobreviver em vez de
viver. Proteção contra a regressão a estados de não-integração,
testemunhando o esforço que demanda ao self esta tarefa de unificação, de
manter separado o que é ego do que não é. É a função materna que garantirá
a continuidade do sentimento de existir da criança e evitará a reação que
resultará na dissociação, culminando com a organização de um falso self.

Fundação do Campo Transicional: Os Efeitos do Paradoxo Aceito

Com sua concepção do verdadeiro e falso self, Winnicott (1960/1983) afasta-se


da perspectiva topológica. Contudo, embora a teoria winnicottiana não acate a
noção freudiana de conflito como eixo do funcionamento psíquico, resgata a
importância do papel do outro na constituição subjetiva. O outro como campo
de possibilidade simbólica de organização psíquica.

Winnicott (1951/1978) soube reconhecer o papel necessário e estruturante da


ilusão. O espaço transicional produz um tipo particular de objetos, que são
modelados pelos desejos. Esse espaço obedece a um pensamento paradoxal,
cuja característica essencial é escapar da dicotomia instaurada pela atribuição
do juízo de existência, que opõe o ser e o não-ser sob a primazia do princípio
de realidade. Esses objetos materializam os efeitos de uma suspensão de juízo
em relação à realidade. Do ponto de vista da criança, esses objetos
criados são e não são o que representam. Essa noção introduz algo de novo
no conceito de equivalência que, por exemplo, está subjacente às teorias sobre
a formação do símbolo e da capacidade representacional (por exemplo, a
homologia entre um determinado aspecto da experiência corporal e um
símbolo).

Green (1994) especula que esse conceito talvez acrescente um terceiro tipo de
processo, que viria completar a clássica oposição entre processos primários e
processos secundários, propondo designá-los
como processos terciários. Esses processos serviriam de agentes de ligação
entre os primários e os secundários, que estão sempre em perpétua interação.
No campo cultural, por exemplo, o mito desempenha essa função de ligação
social entre a realidade subjetiva, absolutamente singular e impermeável, e a
realidade exterior, coletiva e compartilhada. Green propõe que pensemos o
mito como um objeto transicional coletivo. Isso nos permite compreender
melhor a noção de transicionalidade.

O mito, tal qual o brincar, coloca em jogo uma forma de lógica que não pode
ser formulada nos termos da lógica da não-contradição, da linguagem binária
dos filósofos. É uma lógica do equívoco e da ambigüidade, em vez da lógica do
sim-ou-não. Um mito é e não é real, pertence à categoria da ilusão. Como todo
objeto transicional, não deve ser interpretado ao pé da letra, mas como
construções as quais não se concede a menor crença, uma vez que elas não a
reivindicam para operarem sua eficácia simbólica e desempenharem sua
função reguladora. Contudo, o consenso lhe concede uma existência inegável,
reconhecendo seu valor intrínseco.

Desse modo, o mito se liga tanto à realidade psíquica, pelas relações que
mantém com o sonho e a fantasia (ou seja, com um sentido inconsciente),
como à realidade compartilhada por toda uma sociedade, modulada pelos
desejos coletivos.
Assim, a contribuição que Winnicott (1952/1978; 1962/1983; 1963b/1983)
trouxe à problemática da representação nas psicoses parte da apropriação que
ele faz da noção freudiana de que as origens do mundo psíquico remetem à
construção de um espaço para a fantasia. Não é sem razão que todo o seu
trabalho é atravessado por uma preocupação que remonta às origens da
criatividade. Para desenvolver suas pesquisas, ele construiu um aparato
conceitual bastante engenhoso, que tem sua base na noção de espaço, objeto
e fenômenos transicionais (Winnicott, 1951/1978).

O campo transicional é constituído, como vimos, no desdobramento entre o


subjetivo e o objetivo. Os objetos e fenômenos transicionais pertencem ao
domínio da ilusão, que está na base do início das experiências que marcam o
desenvolvimento emocional precoce. É o campo da experimentação intensa e
da ilusão por excelência, sustentado por um paradoxo que, ao longo do
processo de desenvolvimento da criança, deve ser aceito e respeitado
(Winnicott, 1951/1978). Trata-se da relação da criança com sua primeira
possessão não-eu (objeto transicional), que está ligada tanto ao objeto externo
(seio materno), quanto aos objetos internos (seio magicamente introjetado),
porém é diferente de ambos. Daí seu paradoxo.

O objeto transicional sinaliza a transição do bebê desde um estado de fusão


com a mãe até um estado em que ele está em relação com ela como um objeto
externo e destacado. Mas, para que a criança evolua desse estado de
dependência absoluta, essencial nos estádios mais primitivos, para uma
condição de autonomia possível, é preciso que ela primeiro tenha se certificado
de que pode existir algo que não faz parte dela – o que Winnicott (1951/1978)
chama de primeira possessão não-eu, representada pelo objeto transicional.

Winnicott (1951/1978) diz que os fenômenos transicionais são permissíveis ao


bebê porque os pais reconhecem intuitivamente a tensão inerente à percepção
objetiva, e não contestam o bebê acerca da subjetividade ou da objetividade
desses fenômenos, exatamente neste ponto onde está situado o objeto
transicional. Esse primeiro estádio do desenvolvimento depende, assim, da
capacidade especial da mãe de efetuar as adaptações às necessidades do
bebê, sustentando a ilusão de que aquilo que ele cria realmente existe. Esse
paradoxo não deve ser resolvido. Só assim o bebê estará capacitado a
suportar as situações precoces de separação, de perda e privação, sem o que
o desenvolvimento psíquico fica comprometido, dando margem para a
instalação de algum núcleo patológico.

Assim, o paradoxo aceito pode ter um valor positivo, conduzindo ao


desenvolvimento de uma organização defensiva do Eu (um self verdadeiro). O
adulto psiquicamente saudável seria aquele capaz de extrair prazer desta área
pessoal intermediária, sem reivindicar do outro a aceitação da objetividade de
seus fenômenos subjetivos. Isso porque ele sabe que essa área, de fato, faz
parte de um jogo, o jogo possível com a realidade (Chabert, 1993). Assim, ele
favorece na criança o reconhecimento gradual de suas próprias áreas
intermediárias de experiência. Reconhecimento que exige, a princípio, que elas
não sejam contestadas quanto a pertencer à realidade interna ou externa
(realidade compartilhada), para que a vida imaginativa possa ser fortalecida o
suficiente, antes de começar a ser proporcionado à criança o
"desilusionamento".

Desse modo, na presença de condições favoráveis, à medida que se


desenvolvem os interesses culturais, o objeto transicional do bebê vai sendo
gradualmente desinvestido, embora uma parte desta área intermediária de
experimentação seja conservada na vida adulta no plano das artes, da religião,
das ciências e de todas as manifestações criativas do ser humano (Green,
1978/1988).

A Capacidade para Estar Só e o Jogo Possível com a Realidade

Segundo Winnicott (1958/1983), a capacidade para estar só depende da


criação de um espaço de solidão na presença da mãe, porém como se ela não
estivesse realmente lá. Entretanto, é preciso que ela esteja lá de fato, para que
a criança possa experienciar o sentimento do ausentar-se. É necessário
guardar uma distância ótima da figura materna, o que significa que ela deve
estar suficientemente próxima e suficientemente distante. A criação de um
espaço de solidão torna possível a elaboração fantasmática. Portanto, o
fracasso na constituição dessa área de solidão, seja por excesso de ausência
ou por presença em demasia do objeto materno, produziria uma paralisia na
atividade de pensar. Sabemos que a paralisia do pensamento é uma
característica muito comum dos pacientes psicóticos. Essa estagnação tem sua
origem na falência precoce da organização de um espaço de intimidade
psíquica, que serviria de continente que abrigaria os pensamentos e a própria
atividade do pensar.

A situação do brincar - da qual a situação analítica pode ser vista como uma
variante -, solicita o arranjo de um espaço de solidão, isto é, apela para esta
possibilidade de uma "meditação associativa em presença do outro" - no caso
da situação clínica, o psicólogo ou o psicoterapeuta (Chabert, 1993). Aí se
constitui um campo de experiência, em que podemos observar a capacidade
do sujeito para situar-se em uma área transicional, o que permite apreciar a
qualidade da distância que ele assume em relação ao objeto. Dessa distância
depende, fundamentalmente, a capacidade do sujeito de jogar com o real, isto
é, de manejá-lo de maneira eficiente, através de representações que são
construídas de acordo com as necessidades de seu mundo interno.

As eventuais falhas no uso desse campo transicional nos permitem estimar as


potencialidades do indivíduo, em termos de saber qual é, para ele, o jogo
possível com a realidade, e se esse jogo lhe permite alcançar, ou não, o
pensamento verdadeiramente criativo. O nível de eficácia do funcionamento
psíquico dependeria da medida em que o paciente se mostra capaz de utilizar
esse espaço transicional, no qual possa, simultaneamente, se auto-representar
e representar o objeto. É justamente a perda da possibilidade de pensar
secretamente que está no fundamento da psicose, e é contra suas
conseqüências que o delírio se insurge e tenta lutar.

O equilíbrio psíquico depende da possibilidade de se preservar um prazer em


pensar que derive, primariamente, do puro prazer de criar esse pensamento. A
impossibilidade de constituição segura de um espaço de solidão e de um
espaço transicional, precursores do continente psíquico que abrigaria os
elementos oníricos, tem conseqüências decisivas para o destino do sujeito.
Devido às falhas na capacidade de simbolização decorrentes, o sujeito não
consegue constituir um objeto da realidade psíquica vinculada ao corpo, nem
limitar um espaço pessoal interno que o contenha. Os sonhos passam a ter
apenas uma função evacuatória (Green, 1975/1988). As fantasias são produtos
de uma atividade compulsiva, destinada apenas a preencher maniacamente
um vazio insuportável, decorrente da falta de linearidade do espaço e do tempo
(Winnicott, 1971/1975). Os afetos não adquirem uma função representativa
(Green, 1973). As ações já não mais têm a capacidade de transformar a
realidade, e freqüentemente servem apenas para aliviar o aparelho psíquico de
um quantum intolerável de estímulos e excitações, gerado pela impossibilidade
de reduzir a quantidade maciça de afetos, que não puderam ser elaborados
pelo pensamento.

Implicações para uma Intervenção Psicanalítica nas Psicoses

Discutimos, anteriormente, o desenvolvimento de uma organização defensiva


como repúdio à invasão do meio. Esse tipo de perturbação vai exigir um tipo de
psicoterapia que forneça uma adaptação ativa ao indivíduo, e que respeite a
noção de processo, isto é, que procure atender à necessidade de construção
gradual das diferentes etapas do desenvolvimento. Os psicóticos precisam ser
alimentados em seu potencial criativo, que se origina do contato com a
realidade psíquica e suas necessidades de suprimento.

Com vistas ao tratamento desses casos, Winnicott (1955/1978; 1963/1983a;


1963/1983b) apregoa uma aplicação mais ampla da técnica psicanalítica,
desde que o analista aceite a mudança na teoria da etiologia dos distúrbios,
que por sua vez implica a necessidade de modificação da técnica clássica. O
tratamento pode ter êxito, mas somente se a atuação do analista não ficar
confinada à relação transferencial. A técnica analítica clássica continua sendo
válida, mas sua aplicação deve ser limitada aos casos para os quais ela foi
concebida, "de modo que a interpretação possa ser feita, se o paciente está
preparado para interpretações desse tipo" (Winnicott, 1963/1983b, p. 210). Em
contrapartida, o psicanalista que deseja trabalhar no campo das psicoses deve
saber que sua técnica terapêutica tende a ser inócua nesses casos, a menos
que ele aceite sair de seu papel em momentos apropriados. O analista deveria
efetuar um tal manejo da situação analítica de modo a procurar suprir aquelas
falhas do ambiente que comprometeram o desenvolvimento psíquico,
fornecendo a provisão necessária para a evolução do self e,
conseqüentemente, diminuindo a necessidade do paciente recorrer às defesas
primitivas.

O significado do conceito de regressão na metapsicologia mudou desde Freud


(Winnicott, 1959-64/1983). Ele já não implica um retorno a fases mais precoces
da vida pulsional e a determinados pontos de fixação. Essa visão corresponde
a uma ênfase excessiva que era dada aos elementos pulsionais da criança,
ignorando-se os cuidados ambientais. A partir da observação de crianças em
situação natural, isto é, de uma criança concreta, deve-se incluir a
consideração do ambiente e da dependência. Winnicott propõe restringir o
termo regressão a uma aplicação clínica, em termos de regressão à
dependência. Há uma tendência ao restabelecimento da dependência, e por
isso a natureza e o comportamento do meio devem ser necessariamente
examinados. Mantém-se, por outro lado, a idéia de regressão ao processo
primário.

A tendência à regressão, nesse sentido, deve ser vista como a expressão de


parte da capacidade do paciente de se curar, à medida que funciona como uma
comunicação da parte sadia do indivíduo, que proporciona ao analista a
indicação de como deve se conduzir no processo (conduzir-se no sentido de
criar um ambiente propício à criação de novos significados, mais do
que interpretar, isto é, decodificar sentidos que já estariam presentes ali).
Cremos que é nesse sentido que Winnicott (1959 [1964] /1983), ressalta que "a
regressão representa a esperança do indivíduo psicótico de que certos
aspectos do ambiente que falharam originalmente possam ser revividos, com o
ambiente dessa vez tendo êxito ao invés de falhar na sua função de favorecer
a tendência herdada do indivíduo de se desenvolver e amadurecer." (p. 117)

Assim, Winnicott (1959 [1964]/1983) deduz que não se deve partir do modelo
da neurose para compreender a psicose, como uma espécie de negativo da
neurose (até porque Freud, 1905/1969, já evidenciara que o negativo da
neurose é a perversão). A psicose não é uma espécie de neurose às avessas,
ou uma neurose que ficou a meio caminho e não completou todos os seus
estágios. A neurose pressupõe que o paciente, durante a infância, atingiu um
determinado estágio de desenvolvimento emocional, em que as várias etapas
do complexo edípico foram superadas e organizadas sob a primazia da
genitalidade, de modo que certas defesas contra a ansiedade de castração
puderam ser estabelecidas. A personalidade do indivíduo está intacta, o que,
em termos evolutivos, significa que ela pôde ser construída e mantida,
conservando sua capacidade para as relações objetais.

Quando, pelo contrário, predomina a ansiedade de aniquilamento, então


tendemos a considerar que o quadro se inclina mais para uma psicose. A
questão parece ser a de saber se a ameaça é em termos de parte do objeto, ou
do objeto total. Em todo caso, há pouca semelhança com a neurose, uma vez
que o indivíduo não atingiu ainda o complexo de Édipo, de modo que a
ansiedade de castração ainda não representa uma ameaça maior para a
personalidade. Mas raramente há um movimento irreversível no sentido
contrário ao crescimento pessoal, ou seja, rumo à fragmentação. Se o trabalho
com a neurose leva até o inconsciente reprimido, a psicose leva até os estádios
mais primitivos do desenvolvimento e da organização da mente, quando ainda
não se fixou uma diferença nítida entre o self e o não-self. Ou seja, conduz à
relação de dependência materna, durante a fase de identificação primária,
prévia ao estabelecimento dos mecanismos de projeção e de introjeção.

A psicose está ligada à privação emocional em um estádio anterior àquele em


que o bebê possa perceber essa privação. Além da falha ambiental em si, a
provisão necessária está completamente fora da percepção e da compreensão
do bebê. Nesse caso, não chegou a existir uma provisão sentida como
suficientemente boa e que, em determinado momento, cessou. Em vez de uma
interrupção no sentimento de continuidade da existência, que fazia parte do
ambiente suficientemente bom, o bebê é surpreendido por uma interrupção de
seu existir que não pôde ser atribuída a ninguém e a nada, e que nem sequer é
experimentada como tal, já que ele se encontrava em um estágio evolutivo que
ainda não o capacitava a se diferenciar minimamente do ambiente. Assim, o
ponto de origem da privação é mais precoce e totalmente indeterminado,
ocasionando não propriamente uma perda, total ou parcial, mas uma
incapacidade absoluta de se relacionar com objetos (Loparic, 1996).

Essa é uma visão completamente nova e revolucionária, e não uma mera


rearticulação de conceitos já conhecidos, que aparecem reciclados sob uma
nova roupagem. A ênfase é posta no ajustamento defeituoso do ambiente, e só
secundariamente na reação da criança, o que contrasta vivamente com a
tradição kleiniana, que coloca a fantasia inconsciente como eixo da
organização psíquica, minimizando o papel exercido pelo objeto externo no
processo de constituição dos pilares da subjetividade.

Por outro lado, Winnicott (1959 [1964]/1983) lembra que os mecanismos


primitivos que atuam no psicótico não são privilégio das psicoses. Portanto, o
que tipifica a psicose, na visão winnicottiana, não são os mecanismos
psíquicos, nem o tipo de ansiedade em jogo, mas as defesas primitivas, que
não teriam de ser organizadas nos estágios subseqüentes do desenvolvimento
caso houvesse, nas etapas mais precoces de dependência quase absoluta, a
provisão suficientemente boa. As falhas do ambiente favorável levam a esse
comprometimento da evolução da personalidade e do self do indivíduo, cujo
"resultado é chamado esquizofrenia" (Winnicott (1959-64/1983b, p. 124).

Loparic (1996) sublinha que Winnicott (1951/1978; 1955/1978; 1963/1983c;


1971/1973c; entre outros), trabalha a questão da falta, da ausência, da
expectativa não correspondida, do encontro frustrado, do desejo não
contemplado, o que fica evidente quando ele diferencia o no-thing (ausência de
coisa) do nothing (coisa alguma, ou sua inexistência), que caracteriza a
organização psicótica.

Winnicott é um analista do vazio, para usarmos uma expressão de Green


(1975/1988). Ele aponta para a valorização da dimensão do negativo, isto é, a
necessidade, em primeiro lugar, da análise daquilo que não pôde ser
construído ao longo do processo de desenvolvimento mental, evidenciando-o
nas organizações narcísicas, e, em seguida, na organização psicótica.

A análise nesses casos tem de se dedicar à tarefa de criação de significados –


mais do que de desvendamento e interpretação de sentidos latentes e,
portanto, existentes embora cifrados – , visando levar o indivíduo à
simbolização, que irá permitir que o psiquismo supere suas fraturas e entre em
conexão com o corpo e suas moções pulsionais. À medida que estimulamos o
mundo interno, facultamos ao paciente a possibilidade de desenhar os
contornos de sua subjetividade, através de um processo de amadurecimento
progressivo. A partir daí, a psicanálise pode se defrontar com alguns
fenômenos mais arcaicos, como as angústias impensadas (Winnicott), que nos
permitem meditar sobre a solidão essencial do homem contemporâneo, com
sua natureza essencialmente trágica (Loparic, 1996).
A psicanálise tradicional não comporta o desafio das psicoses e toda uma
ampla gama de patologias que, paradoxalmente, constituem parte significativa
do universo da demanda contemporânea de tratamento (Alvarez, 1994). Nesse
sentido, o pensamento winnicottiano traz um alento para aqueles que
trabalham com situações limítrofes, com os chamados casos borderlines, os
transtornos de caráter e as psicoses em suas diferentes configurações.

Referências

Alvarez, A. (1994). Companhia viva: Psicoterapia psicanalítica com crianças


autísticas, borderline, carentes e maltratadas. Porto Alegre: Artes Médicas.

Chabert, C. (1987). La psychopathologie à l’épreuve du Rorschach. Paris:


Dunod.

Freud, S. (1969) Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Em J. Salomão


(Org.), Edição Standart das Obras Completas de Sigmund Freud — ESB (Vol.
VII, pp. 121-252). Rio de janeiro: Imago. (Original publicado em 1905)

Freud, S. (1969). Formulações sobre os dois princípios do funcionamento


mental. Em Edição Standard das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. XII,
pp. 271-286). Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1911)

Freud, S. (1969). Além do princípio de prazer. Em Edição Standard das Obras


Completas de Sigmund

Freud (Vol. XVIII, pp. 11-85). Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em
1920)

Freud, S. (1969). O ego e o id. Em Edição Standard das Obras Completas de


Sigmund Freud (Vol.XIX, pp. 11-83). Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado
em 1923).

Green, A. (1973). Le discours vivant: La conception psychanalytique de


l’affect. Paris: Presses Université de France.

Green, A. (1988). O analista, a simbolização e a ausência no contexto analítico.


Em Sobre a loucura pessoal (pp. 36-65). Rio de Janeiro: Imago. (Original
publicado em 1975)

Green, A. (1988). O desligamento. Em Sobre a loucura pessoal (pp. 280-299).


Rio de Janeiro: Imago.(Original publicado em 1978)

Green, A. (1994). O mito: Um objeto transicional coletivo. Em O desligamento:


Psicanálise, antropologia e literatura (pp. 117-141). Rio de Janeiro: Imago.
Klein, M. (1974). Inveja e gratidão: Um estudo das fontes inconscientes. (José
O. A. Abreu, Trad.), Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1957)

Klein, M. (1981). A importância da formação de símbolos no desenvolvimento


do ego. Em Contribuições à psicanálise (2ª ed. pp. 295-313). São Paulo:
Mestre Jou (Original publicado em 1930)

Klein, M. (1981). Uma contribuição à teoria da inibição intelectual.


Em Contribuições à psicanálise (2 ª ed. pp. 319-333). São Paulo: Mestre Jou,
1981 (Original publicado em 1931)

Klein, M. (1982). Notas sobre alguns mecanismos esquizóides. Em Os


progressos da psicanálise (pp.313-343). Rio de Janeiro: Zahar. (Original
publicado em 1946)

Laplanche, J. & Pontalis, J.-B. (1967/1983). Vocabulário da psicanálise. São


Paulo: Martins Fontes.

Loparic, Z. (1996). Édipo pós-Freud. Trabalho apresentado no I Encontro do


Grupo de Estudos de Psicanálise de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto, SP.

Mannoni, O. (1970). Freud: El descubrimiento del inconsciente. Buenos Aires:


Galerna.

Pereda, M. C. (1997). Existem equivalentes ao falso self em Freud e Klein? Em


J. Outeiral & S. Abadi (Orgs.), Donald Winnicott na América Latina: Teoria e
clínica psicanalítica (pp. 79-89). Rio de Janeiro: Revinter.

Santos, M. A. (1996). A representação de si e do outro na esquizofrenia: Um


estudo através do exame de Rorschach. Tese de doutorado não publicada.
Curso de Pós-Graduação em Psicologia Clínica, Instituto de Psicologia,
Universidade de São Paulo, São Paulo.

Winnicott, D. W. (1975a). O uso de um objeto e relacionamento através de


identificações. Em: O brincar e a realidade. (pp. 121-131). Rio de Janeiro:
Imago. (Original publicado em 1969) >

Winnicott, D. W. (1975b). A criatividade e suas origens. Em O brincar e a


realidade. (pp. 95-120). Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1971)

Winnicott, D. W. (1975c). O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago.


(Original publicado em 1971)

Winnicott, D. W. (1978). Desenvolvimento emocional primitivo. Em D. W.


Winnicott (Org.), Textos selecionados: Da pediatria à psicanálise (2ª ed. pp.
269-285). Rio de Janeiro: Francisco Alves. (Original publicado em 1945)

Winnicott, D. W. (1978). Aspectos clínicos e metapsicológicos da regressão


dentro do setting psicana-lítico. Em D. W. Winnicott (Org.), Textos
selecionados: Da pediatria à psicanálise (pp. 459-481). Rio de Janeiro:
Francisco Alves. (Original publicado em 1955)
Winnicott, D. W. (1978). Objetos transicionais e fenômenos transicionais. Em D.
W. Winnicott (Org.), Textos selecionados: Da pediatria à psicanálise (2ª ed.pp.
389-408). Rio de Janeiro: Francisco Alves(Original publiscado em 1951).

Winnicott, D. W. (1978). Psicose e cuidados maternos. Em D. W. Winnicott


(Org.), Textos selecionados: Da pediatria à psicanálise (2ª ed. pp. 375-387).
Rio de Janeiro: Francisco Alves (Original publicado em 1952).

Winnicott, D. W. (1983). A capacidade para estar só. Em D.W. Winnicott


(Org.), O ambiente e os processos de maturação: Estudos sobre a teoria do
desenvolvimento emocional (pp. 31-37). Porto Alegre: Artes Médicas (Original
publicado em 1958).

Winnicott, D. W. (1983). Classificação: Existe uma contribuição psicanalítica à


classificação psiquiátrica? Em D. W. Winnicott (Org.), O ambiente e os
processos de maturação: Estudos sobre a teoria do desenvolvimento
emocional (pp. 114-127). Porto Alegre: Artes Médicas (Original publicado em
1959 e 1964)

Winnicott, D. W. (1983). Distorção do ego em termos de falso e verdadeiro self.


Em D. W. Winnicott (Org.), O ambiente e os processos de maturação: Estudos
sobre a teoria do desenvolvimento emocional (pp. 128-139). Porto Alegre: Artes
Médicas (Original publicado em 1960)

Winnicott, D. W. (1983). Enfoque pessoal da contribuição kleiniana. Em D. W.


Winnicott (Org.), O ambiente e os processos de maturação: Estudos sobre a
teoria do desenvolvimento emocional (pp. 156-162). Porto Alegre: Artes
Médicas (Original publicado em 1962)

Winnicott, D. W. (1983). Os doentes mentais na prática clínica. Em D. W.


Winnicott (Org.),O ambiente e os processos de maturação: Estudos sobre a
teoria do desenvolvimento emocional (pp. 196-206). Porto Alegre: Artes
Médicas (Original publicado em 1963a)

Winnicott, D. W. (1983). Distúrbios psiquiátricos e processos de maturação


infantil. Em D. W. Winni-cott (Org.), O ambiente e os processos de maturação:
Estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional (pp. 207-217). Porto
Alegre: Artes Médicas (Original publicado em 1963b)

Winnicott, D. W. (1983). Dependência no cuidado do lactente, no cuidado da


criança e na situação psicanalítica. Em D. W. Winnicott (Org.), O ambiente e os
processos de maturação: Estudos sobre a teoria do desenvolvimento
emocional (pp. 225-233). Porto Alegre: Artes Médicas (Original publicado em
1963c).

Winnicott, D. W. (1990). O gesto espontâneo. São Paulo: Martins Fontes.


(Original publicado em 1987)

Zimerman, D. E. (1999). Fundamentos psicanalíticos: Teoria, técnica e clínica


– Uma abordagem didática. Porto Alegre: Artmed.
Recebido em 15.01.99

Revisado em 12.06.99

Aceito em 15.06.99

Sobre o autor:

Manoel Antônio dos Santos é psicólogo, Doutor em Psicologia Clínica pelo


Instituto de Psicologia da USP e Professor do Curso de Pós-Graduação em
Psicologia do Departamento de Psicologia e Educação da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.

Coordena o Núcleo de Ensino e Psicologia Clínica (NEPP).

 Alvarez, A. (1994). Companhia viva: Psicoterapia psicanalítica com crianças


autísticas, borderline, carentes e maltratadas. Porto Alegre: Artes Médicas.
 Chabert, C. (1987). La psychopathologie ŕ lépreuve du Rorschach. Paris:
Dunod.
 Freud, S. (1969) Tręs ensaios sobre a teoria da sexualidade. Em J. Salomăo
(Org.), Ediçăo Standart das Obras Completas de Sigmund Freud ESB (Vol.
VII, pp. 121-252). Rio de janeiro: Imago. (Original publicado em 1905)
 Freud, S. (1969). Formulaçőes sobre os dois princípios do funcionamento
mental. Em Ediçăo Standard das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol.
XII, pp. 271-286). Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1911)

 Freud, S. (1969). O ego e o id. Em Ediçăo Standard das Obras Completas de
Sigmund Freud (Vol.XIX, pp. 11-83). Rio de Janeiro: Imago. (Original
publicado em 1923).
 Green, A. (1973). Le discours vivant: La conception psychanalytique de
laffect. Paris: Presses Université de France.
 Green, A. (1988). O analista, a simbolizaçăo e a ausęncia no contexto
analítico. Em Sobre a loucura pessoal (pp. 36-65). Rio de Janeiro: Imago.
(Original publicado em 1975)
 Green, A. (1988). O desligamento. Em Sobre a loucura pessoal (pp. 280-
299). Rio de Janeiro: Imago.(Original publicado em 1978)
 Green, A. (1994). O mito: Um objeto transicional coletivo. Em O
desligamento: Psicanálise, antropologia e literatura (pp. 117-141). Rio de
Janeiro: Imago.
 Klein, M. (1974). Inveja e gratidăo: Um estudo das fontes
inconscientes. (José O. A. Abreu, Trad.), Rio de Janeiro: Imago. (Original
publicado em 1957)
 Klein, M. (1981). A importância da formaçăo de símbolos no
desenvolvimento do ego. Em Contribuiçőes ŕ psicanálise (2Ş ed. pp. 295-
313). Săo Paulo: Mestre Jou (Original publicado em 1930)
 Klein, M. (1981). Uma contribuiçăo ŕ teoria da inibiçăo intelectual.
Em Contribuiçőes ŕ psicanálise (2 Ş ed. pp. 319-333). Săo Paulo: Mestre
Jou, 1981 (Original publicado em 1931)
 Klein, M. (1982). Notas sobre alguns mecanismos esquizóides. Em Os
progressos da psicanálise (pp.313-343). Rio de Janeiro: Zahar. (Original
publicado em 1946)
 Laplanche, J. & Pontalis, J.-B. (1967/1983). Vocabulário da psicanálise Săo
Paulo: Martins Fontes.
 Loparic, Z. (1996). Édipo pós-Freud Trabalho apresentado no I Encontro do
Grupo de Estudos de Psicanálise de Ribeirăo Preto, Ribeirăo Preto, SP.
 Mannoni, O. (1970). Freud: El descubrimiento del inconsciente. Buenos
Aires: Galerna.
 Pereda, M. C. (1997). Existem equivalentes ao falso self em Freud e Klein?
Em J. Outeiral & S. Abadi (Orgs.), Donald Winnicott na América Latina:
Teoria e clínica psicanalítica (pp. 79-89). Rio de Janeiro: Revinter.
 Santos, M. A. (1996). A representaçăo de si e do outro na esquizofrenia: Um
estudo através do exame de Rorschach. Tese de doutorado năo publicada.
Curso de Pós-Graduaçăo em Psicologia Clínica, Instituto de Psicologia,
Universidade de Săo Paulo, Săo Paulo.
 Winnicott, D. W. (1975a). O uso de um objeto e relacionamento através de
identificaçőes. Em: O brincar e a realidade. (pp. 121-131). Rio de Janeiro:
Imago. (Original publicado em 1969)
 Winnicott, D. W. (1975b). A criatividade e suas origens. Em O brincar e a
realidade. (pp. 95-120). Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1971)
 Winnicott, D. W. (1975c). O brincar e a realidade Rio de Janeiro: Imago.
(Original publicado em 1971)
 Winnicott, D. W. (1978). Desenvolvimento emocional primitivo. Em D. W.
Winnicott (Org.), Textos selecionados: Da pediatria ŕ psicanálise (2Ş ed. pp.
269-285). Rio de Janeiro: Francisco Alves. (Original publicado em 1945)
 Winnicott, D. W. (1978). Aspectos clínicos e metapsicológicos da regressăo
dentro do setting psicana-lítico. Em D. W. Winnicott (Org.), Textos
selecionados: Da pediatria ŕ psicanálise (pp. 459-481). Rio de Janeiro:
Francisco Alves. (Original publicado em 1955)
 Winnicott, D. W. (1978). Objetos transicionais e fenômenos transicionais. Em
D. W. Winnicott (Org.), Textos selecionados: Da pediatria ŕ psicanálise (2Ş
ed.pp. 389-408). Rio de Janeiro: Francisco Alves(Original publiscado em
1951).
 Winnicott, D. W. (1978). Psicose e cuidados maternos. Em D. W. Winnicott
(Org.), Textos selecionados: Da pediatria ŕ psicanálise (2Ş ed. pp. 375-387).
Rio de Janeiro: Francisco Alves (Original publicado em 1952).
 Winnicott, D. W. (1983). A capacidade para estar só. Em D.W. Winnicott
(Org.), O ambiente e os processos de maturaçăo: Estudos sobre a teoria do
desenvolvimento emocional (pp. 31-37). Porto Alegre: Artes Médicas
(Original publicado em 1958).
 Winnicott, D. W. (1983). Classificaçăo: Existe uma contribuiçăo psicanalítica ŕ
classificaçăo psiquiátrica? Em D. W. Winnicott (Org.), O ambiente e os
processos de maturaçăo: Estudos sobre a teoria do desenvolvimento
emocional (pp. 114-127). Porto Alegre: Artes Médicas (Original publicado em
1959 e 1964)
 Winnicott, D. W. (1983). Distorçăo do ego em termos de falso e
verdadeiro self Em D. W. Winnicott (Org.), O ambiente e os processos de
maturaçăo: Estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional (pp. 128-
139). Porto Alegre: Artes Médicas (Original publicado em 1960)
 Winnicott, D. W. (1983). Enfoque pessoal da contribuiçăo kleiniana. Em D.
W. Winnicott (Org.), O ambiente e os processos de maturaçăo: Estudos
sobre a teoria do desenvolvimento emocional (pp. 156-162). Porto Alegre:
Artes Médicas (Original publicado em 1962)
 Winnicott, D. W. (1983). Os doentes mentais na prática clínica. Em D. W.
Winnicott (Org.),O ambiente e os processos de maturaçăo: Estudos sobre a
teoria do desenvolvimento emocional (pp. 196-206). Porto Alegre: Artes
Médicas (Original publicado em 1963a)
 Winnicott, D. W. (1983). Distúrbios psiquiátricos e processos de maturaçăo
infantil. Em D. W. Winni-cott (Org.), O ambiente e os processos de
maturaçăo: Estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional (pp. 207-
217). Porto Alegre: Artes Médicas (Original publicado em 1963b)
 Winnicott, D. W. (1983). Dependęncia no cuidado do lactente, no cuidado da
criança e na situaçăo psicanalítica. Em D. W. Winnicott (Org.), O ambiente e
os processos de maturaçăo: Estudos sobre a teoria do desenvolvimento
emocional (pp. 225-233). Porto Alegre: Artes Médicas (Original publicado em
1963c).
 Winnicott, D. W. (1990). O gesto espontâneo. Săo Paulo: Martins Fontes.
(Original publicado em 1987)
 Zimerman, D. E. (1999). Fundamentos psicanalíticos: Teoria, técnica e
clínica Uma abordagem didática. Porto Alegre: Artmed.
 1
Texto apresentado no Grupo de Trabalho "Psicanálise Contemporânea:
Convergências e Divergências". VII Simpósio de Pesquisa e Intercâmbio
Científico da ANPEPP, Gramado, maio de 1998. Artigo baseado na Tese de
Doutorado (Santos, 1996). Projeto de pesquisa financiado pela CAPES/PICD.
 2
Endereço para correspondência: Av. Bandeirantes, 3900, 14040-901, Ribeirão
Preto, SP. Fone: (16) 602-3645 Fax: (16) 602 3632.
E-mail:
masantos@ffclrp.usp.br
 3
Essa capacidade para o crescimento não é, contudo, biológica, e tampouco um
mecanismo mental, mas uma função a ser desenvolvida. Não se baseia em
uma herança filogenética, constituída ao longo da história da espécie humana.
Isso porque "o homem winnicottiano não faz parte da natureza física, ele é uma
pessoa, não uma coisa, ele não é efeito de um processo natural, mas de um
acontecer resultante da temporalização da natureza humana, concebida sem
qualquer recurso ao momento biológico do homem" (Loparic, 1996, p. 13).
Portanto, não há na teoria winnicottiana qualquer paralelismo com as
protofantasias de Melanie Klein, nem com as
preconcepções inatas de Bion.
 4
"...na psicose há
defesas muito primitivas que são trazidas à ação e organizadas,
por causa de anormalidades ambientais" (Winnicott, 1959 [1964]/1983).
 5
Por vezes, o fator ambiental não é um trauma específico e isolado, mas um
padrão de influências distorcidas, que se mantêm por um período de tempo
suficientemente prolongado, forçando o estabelecimento de defesas primitivas
para a proteção do
self, antes que a realidade psíquica pudesse ser localizada em seu interior. Isto
é o oposto do que Winnicott denomina de ambiente favorável, isto é, aquele
que permite a maturação da criança.
 6
A noção de externalidade é uma construção posterior do bebê, quando ele
aprende a usar o objeto. Por esse prisma, o bebê de início não internaliza, nem
projeta o objeto; não o ama, nem o odeia, nem lhe é indiferente, mas sobretudo
depende do objeto (Loparic, 1996). Nessa etapa da vida, o amor é uma mera
questão de dependência física; nesse sentido, a mãe inicialmente não seria um
objeto libidinal, mas uma mãe-ambiente da qual ele necessita de maneira
absoluta para não despencar no vazio. Se a mãe falhar, ele entra em colapso,
porque é sensível a
algo em
algum lugar, mas esse lugar não é nem dentro, nem fora. Não é um objeto
interno, e tampouco um objeto externo.
 7
Além disso, Winnicott (1962) reputa como "contribuições duvidosas" de Melanie
Klein a manutenção do uso da teoria da pulsão de vida e da pulsão de morte,
formulada por Freud, bem como sua tentativa de considerar a destrutividade do
bebê como um aspecto hereditário ou como produto da inveja (Loparic, 1996).
Em sua opinião, o conceito de pulsão de morte não é necessário, já que a
agressividade é vista mais como uma evidência de vida, à medida que
expressa a tentativa de separação e individuação em relação ao objeto
(Winnicott, 1959 [1964]/1983).
 8
Talvez o dramaturgo irlandês Bernard Shaw (1856-1950) tivesse essa idéia em
mente ao escrever que:
"O homem razoável se adapta ao mundo. Aquele que não é razoável persiste
em querer adaptar o mundo a si próprio. Por isso, qualquer progresso depende
do homem não razoável."

Datas de Publicação
 Publicação nesta coleção
02 Fev 2000

 Data do Fascículo
1999

Histórico
 Aceito
15 Jun 1999

 Recebido
15 Jan 1999

 Revisado
12 Jun 1999

This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International


License.

Curso de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do


SulRua Ramiro Barcelos, 2600 - sala 110, 90035-003 Porto Alegre RS - Brazil, Tel.:
+55 51 3308-5691 - Porto Alegre - RS - Brazil
E-mail: prc@springeropen.com
Acompanhe os números deste periódico no seu leitor de RSS

SciELO - Scientific Electronic Library Online

Rua Dr. Diogo de Faria, 1087 – 9º andar – Vila Clementino 04037-003 São Paulo/SP - Brasil

E-mail: scielo@scielo.org

Leia a Declaração de Acesso Aberto

Você também pode gostar