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GESTÃO DE RISCOS

EM LOGÍSTICA DE
MEDICAMENTOS

KLEBERSON DE SOUZA

2ª EDIÇÃO
IDENTIDADE ORGANIZACIONAL VALORES
Justiça: Pautar-se estritamente por princípios de justiça,
NEGÓCIO pela verdade e pela lei, com integridade, equidade,
Controle da gestão dos recursos públicos. coerência, impessoalidade e imparcialidade.
Qualidade: Atuar com inovação de forma ágil, tempestiva,
efetiva, eficiente e eficaz, com base em padrões de
MISSÃO
excelência de gestão e de controle.
Controlar a gestão dos recursos públicos do Estado e Profissionalismo: Atuar com base nos princípios
dos municípios de Mato Grosso, mediante orientação, e valores éticos e de forma independente, técnica,
avaliação de desempenho, fiscalização e julgamento, responsável, proativa, leal e comprometida com a
contribuindo para a qualidade e a efetividade dos identidade institucional e com o interesse público.
serviços, no interesse da sociedade. Transparência: Disponibilizar e comunicar
tempestivamente em linguagem clara e de fácil acesso,
as ações, decisões e atos de gestão do TCE-MT, bem
VISÃO como as informações dos fiscalizados sob sua guarda, no
Ser reconhecido como instituição essencial ao regime interesse da sociedade.
democrático, atuando pela melhoria da qualidade Consciência Cidadã: Estimular o exercício da cidadania e
da gestão pública e no combate à corrupção e ao do controle social da gestão pública.
desperdício.

CORPO DELIBERATIVO CONSELHEIROS


Conselheiro Antonio Joaquim Moraes Rodrigues Neto
TRIBUNAL PLENO Conselheiro José Carlos Novelli
Presidente Conselheiro Valter Albano da Silva
Conselheiro Gonçalo Domingos de Campos Neto Conselheiro Waldir Júlio Teis
Conselheiro Sérgio Ricardo de Almeida
Vice-Presidente
Conselheiro Interino Luiz Henrique Moraes de Lima CONSELHEIRO SUBSTITUTO JUNTO À PRESIDÊNCIA
Ronaldo Ribeiro de Oliveira
Corregedor-Geral
Conselheiro Interino Isaias Lopes da Cunha
MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS
Ouvidor-Geral Procurador-Geral
Conselheiro Interino Luiz Carlos Azevedo Costa Pereira Getúlio Velasco Moreira Filho

Integrantes Procurador-Geral Substituto


Conselheira Interina Jaqueline Maria Jacobsen Marques Alisson Carvalho de Alencar
Conselheiro Interino Moises Maciel
Procuradores de Contas
Conselheiro Interino João Batista de Camargo Junior
Gustavo Coelho Deschamps
William de Almeida Brito Júnior
1ª CÂMARA
Presidente
Conselheira Interina Jaqueline Maria Jacobsen Marques

Integrantes
Conselheiro Interino Luiz Henrique Moraes de Lima
Conselheiro Interino Luiz Carlos Azevedo Costa Pereira

2ª CÂMARA
Presidente
Conselheiro Interino Moises Maciel

Integrantes
Conselheiro Interino Isaias Lopes da Cunha
Conselheiro Interino João Batista de Camargo Junior
CORPO TÉCNICO Secretaria de Controle Externo de Administração
Municipal
Secretaria-Geral do Tribunal Pleno Francisney Liberato Batista Siqueira
Ligia Maria Gahyva Daoud Abdallah
Secretaria de Controle Externo de Atos de Pessoal
Secretaria da Primeira Câmara Osiel Mendes de Oliveira
Elizabet Teixeira Sant’anna
Secretaria de Controle Externo de Contratações Públicas
Secretaria da Segunda Câmara Francis Bortoluzzi
Renata Arruda Rosas

Núcleo de Certificação e Controle de Sanções Secretaria de Controle Externo de Educação e


Ana Karina Pena Endo Segurança
Patrícia Leite Lozich
Secretaria-Geral de Controle Externo (Segecex)
Volmar Bucco Júnior Secretaria de Controle Externo de Obras e Infraestrutura
Emerson Augusto de Campos
Secretaria-Geral Adjunta de Controle Externo
Daniel Poletto Chu Secretaria de Controle Externo de Previdência
Secretaria de Métodos e Desenvolvimento do Eduardo Benjoino Ferraz
Controle Externo
Mônica Cristina dos Anjos Acendino Secretaria de Controle Externo de Receita e Governo
Joel Bino do Nascimento Júnior
Secretaria de Gerenciamento de Sistemas Técnicos
Lisandra Ishizuka Hardy Barros
Secretaria de Controle Externo de Saúde e Meio
Secretaria de Informações Estratégicas Ambiente
Victor Augusto Godoy Lidiane Anjos Bortoluzzi
Consultoria Técnica
Gabriel Liberato Lopes Secretaria De Informações Estratégicas
Victor Augusto Godoy
Secretaria de Controle Externo de Administração
Estadual
Carlos Eduardo Amorim França

CORPO DE GESTÃO Secretaria de Comunicação Social


Américo Santos Corrêa
Chefe de Gabinete da Presidência
Escola Superior de Contas
Glauber Silva Tocantins
Marina Bressane Spinelli Maia de Andrade
Secretaria do Sistema de Controle Interno
Secretaria Executiva de Orçamento, Finanças e
Élia Maria Antoniêto Siqueira
Contabilidade
Maurício Marques Júnior
Secretaria de Articulação Institucional e
Desenvolvimento da Cidadania
Secretaria Executiva de Tecnologia da Informação
Cassyra Lúcia Corrêa Barros Vuolo
Gilson Gregório
Secretaria de Apoio às Unidades Gestoras
Secretaria Executiva de Tecnologia da Informação
Naíse Godoy de Campos Silva Freire
Simone Aparecida Pelegrini
Consultoria Jurídica-Geral
Secretaria Executiva de Gestão de Pessoas
Patrícia Maria Paes de Barros
Eneias Viegas da Silva
Secretaria-Geral da Presidência
Secretaria Executiva de Administração
Risodalva Beata de Castro
Carla Cristiny Esteves de Oliveira
Secretaria Executiva da Corregedoria-Geral
Núcleo de Gestão de Contratos, Convênios e
Cristiane Laura de Souza
Parcerias
João Norberto de Barros Mayer
Secretaria Executiva da Ouvidoria-Geral
Marco Aurélio Queiroz de Souza
Núcleo de Patrimônio
Marcelo Catalano Corrêa
Secretaria de Planejamento, Integração e Coordenação
Augustinho Moro
Núcleo de Expediente
Luciano Macaúbas Leite de Campos
Subsecretaria de Planejamento
Julinil Fernandes de Almeida
Núcleo de Cerimonial
Tânia de Cássia Melo Bosaipo
Subsecretaria de Integração e Coordenação
Narda Consuelo Vitório Neiva Silva
EQUIPE

Conteudista
Kleberson Roberto de Souza

Revisão Editorial
Doriane de Abreu Miloch
Assessora Técnica de Publicações da PubliContas

Acompanhamento Pedagógico
Esther de Mello Menezes
Coordenadora do EaD da Escola Superior de Contas - TCE-MT

Edição e Diagramação
Carlos Henrique A. Gontijo
Tatiane Hirata

Escola Superior de Contas


Marina Spinelli
Diretora

Edição dos Vídeoaulas


Agripino Bonilha Neto

Grafismo
Franclim José Santos (Ankh)
GESTÃO DE RISCOS
EM LOGÍSTICA DE
MEDICAMENTOS

KLEBERSON DE SOUZA
2ª EDIÇÃO
Copyright © Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso, 2018.

As informações técnicas são de livre reprodução, total ou parcial, desde que citada a fonte.

Rua Conselheiro Benjamin Duarte Monteiro, nº 1


Centro Político e Administrativo – CEP: 78049-915 – Cuiabá-MT
+55 65 3613-7561 – publicontas@tce.mt.gov.br – www.tce.mt.gov.br
Sumário
1 CONCEITOS BÁSICOS................................................................... 14
1.1 - Objetivos.......................................................................................... 15
1.2 - Riscos............................................................................................... 18
1.3 - Classificação de Risco.......................................................................20
1.4- Controles Internos........................................................................... 21
1.5 - Gestão de Riscos............................................................................... 27
1.6 - Modelos de Referência em Gestão de Riscos....................................... 29
1.6.1 - ISO 31000/2009........................................................................................................................... 30
1.6.2 - COSO ERM (ENTERPRISE RISK MANAGEMENT).........................................................................31
2 PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO.................................................35
2.1 - Contexto........................................................................................... 35
2.2 - Evolução Histórica........................................................................... 36
2.3 - Responsáveis.................................................................................... 45
2.4 - Análise do Contexto (Matriz SWOT) - Farmácia Básica........................48
2.5 - Planejamento da Assistência Farmacêutica.......................................49
2.6 - Organização da Assistência Farmacêutica......................................... 54
2.7 - Identificação dos Riscos................................................................... 56
2.8 - Avaliação dos Riscos......................................................................... 59
3 CICLO DA FARMÁCIA BÁSICA.........................................................65
3.1 - Seleção.............................................................................................66
3.2 - Programação.................................................................................... 71
3.3 - Aquisição.......................................................................................... 79
3.4 - Armazenamento e Distribuição........................................................ 106
3.5 - Dispensação..................................................................................... 117
3.6 - Identificação dos Riscos..................................................................122
3.7 - Avaliação dos Riscos........................................................................125
4 CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE............................................... 130
4.1 - Conceitos Básicos........................................................................... 130
4.2 - Identificação dos Riscos..................................................................138
4.3 - Avaliação dos Riscos........................................................................139
5 TRATAMENTO DOS RISCOS E IMPLANTAÇÃO
DE CONTROLE INTERNO .............................................................. 142
5.1 - Conceitos Básicos............................................................................142
5.2 - Matriz de Riscos e Controle.............................................................145
6 AVALIAÇÃO DE CONTROLES INTERNOS. ....................................... 153
6.1 - Planejamento..................................................................................154
6.2 - Execução.........................................................................................158
6.3 - Relatório........................................................................................159
REFERÊNCIAS............................................................................ 186
SOBRE O AUTOR

Kleberson Roberto de Souza é Especialista em Direito


e Controle Externo da Administração Pública pela FGV
e em Auditoria Contábil e Tributária pela UFMT, com
Certificação Internacional pela International Organization
for Standardization - ISO em Gestão de Riscos (C31000),
Bacharel em Ciências Contábeis pela UFMT, Auditor Federal
de Finanças e Controle - AFFC do Controladoria-Geral da
União (CGU) com mais de 12 anos de experiência; palestrante
na área de auditoria governamental, gerenciamento de
riscos na Administração Pública, fraudes em licitações e
contratos e avaliação de controles internos; coautor dos
Livros Controladoria no Setor Público e Como Combater
à Corrupção em Licitações – Detecção e Prevenção de
Fraudes, ambos lançados pela Editora Fórum em 2016;
Coautor do Livro Como Gerenciar Riscos na Administração
Pública, lançado em 2017 pela Editora Negócios Públicos;
autor dos Livros Gestão de Riscos em Alimentação Escolar
e Avaliação de Controles Internos: Contratações Públicas,
ambos lançados pela Editora Publicontas do TCE/MT em
2017 e autor do Guia de Integridade das Empresas Estatais
Federias, publicado pela CGU em 2015.
INTRODUÇÃO AO CURSO
Olá pessoal, sejam bem-vindos ao Curso EAD de Gestão de Riscos em Logística de
Medicamentos. Meu nome é Kleberson Souza, sou Auditor Federal da Controladoria-
Geral da União (CGU) e autor deste material didático. Este curso faz parte da 3ª etapa
do Programa APRIMORA: Aprimoramento dos Sistemas de Controles Internos dos
Fiscalizados, capitaneado pelo TCE/MT.

Nesta etapa, um dos objetivos é desenvolver cursos de capacitação para os auditores


externos e fiscalizados do TCE/MT, com vista a qualificar todos os atores envolvidos direta
ou indiretamente com a atividade de logística de medicamentos (farmacêuticos, secretários
de saúde, membros do Conselho Municipal de Saúde, auditores e controladores, gestores
e servidores em geral) para que detenham competências e habilidades em gestão de
riscos em logística de medicamentos e subsidiar a implementação de controles internos
eficazes, necessários para a boa e regular execução do Programa, contribuindo para a
melhoria do desempenho da Administração Pública, em benefício da sociedade.

E por que vamos tratar, neste curso, de gestão de riscos em logística de medicamentos?

É triste, mas comum, encontrar notícias de falta de medicamentos para a população, perdas
de medicamentos, prazo de validade vencido, preços exorbitantes, superfaturamento,
fraudes, desvios, propinas, conluio, corrupção.

Nesse sentido, órgãos de controle como a CGU e os Tribunais de Contas têm realizado uma
série de auditorias em medicamentos e apontado diversas falhas, tanto na gestão federal
quanto nas organizações estaduais e municipais, indicando que o Programa apresenta
vulnerabilidades e deficiências significativas em seus controles internos.

Essa convicção é reforçada pelo resultado da auditoria de avaliação dos controles internos
referente à 2ª etapa do Programa APRIMORA realizada pelos Controladores de 127
municípios mato-grossenses, que diagnosticaram falhas graves na gestão da logística de
medicamentos. O resultado indicou que a gestão de riscos no programa é um problema
generalizado.

A descentralização da gestão da aquisição e distribuição de medicamentos permite que


as decisões e o controle estejam próximos da população, contudo, é necessária uma
coordenação das ações dos três entes de forma a garantir uma gestão eficiente.

Para coibir erros e irregularidades na aquisição de medicamentos, a atuação integrada


dos órgãos de controle é fundamental, produzindo resultados mais efetivos no combate à
corrupção e ao desperdício.

Entretanto, os órgãos de controle não podem eliminar todas irregularidades. Mesmo que
possamos (e esperamos de fato que isso aconteça) reduzir a sensação de impunidade,

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aumentar o rigor das ações repressivas, sabe-se que atuar depois que o problema
aconteceu, depois que a irregularidade já está materializada, não é suficiente para impedir
sua repetição.

Dessa forma, é primordial que as instituições públicas se concentrem no campo das


medidas preventivas, reconhecidas inclusive pelas convenções internacionais contra
a corrupção como o caminho mais adequado para atacar as causas do problema da
corrupção e do desperdício.

Entre as ações de prevenção que podem ser adotadas, destacam-se o mapeamento dos
riscos relevantes com consequente implantação e avaliação dos controles internos na
atividade de logística de medicamentos, oferecendo subsídio aos gestores públicos para
implantação de controles internos efetivos, estimulando, assim, o enfrentamento da
corrupção e o aprimoramento da gestão, além de contribuir para a construção de bases
sólidas para o Sistema de Controle Interno da Administração Pública.

Em linhas gerais, o curso está estruturado em 06 (seis) aulas, distribuídas da seguinte


forma:

ESTRUTURA DO CURSO
Aula 1 – Conceitos Básicos Conceito objetivos, riscos e controles, classificação
de riscos, definição de gestão de riscos e modelos de
referência em gestão de riscos.
Aula 2 – Planejamento e Contexto atual da assistência farmacêutica e evolução
Organização da Assistência histórica do programa. Definição de responsável pelo
Farmacêutica programa, principais atividades, planejamento da
assistência farmacêutica, organização, identificação e
avaliação dos principais riscos.
Aula 3 – Ciclo da Principais atividades do ciclo da assistência farmacêutica,
Assistência Farmacêutica tais como seleção, programação, aquisição,
armazenamento, distribuição e dispensação de
medicamentos, identificação e avaliação dos principais
riscos.
Aula 4 – Conselho Composição e estrutura dos Conselhos Municipal de Saúde
Municipal de Saúde - CMS - CMS; funcionamento do CMS, identificação e avaliação
dos principais riscos.
Aula 5 – Tratamento dos Principais riscos identificados na logística de
Riscos e Implantação dos medicamentos, formas de priorização dos riscos, controles
Controles Internos internos sugeridos para gerenciar os riscos relevantes por
meio de uma Matriz de Riscos e Controle – MRC.

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ESTRUTURA DO CURSO
Aula 6 – Avaliação de Definição de avaliação de controles internos na atividade
Controles Internos em de logística de medicamentos, formas, etapas, fases,
Nível de Atividade – ferramentas e instrumentos desenvolvidos para realização
Logística de Medicamentos da auditoria.
(Módulo específico para
Auditores e Controladores)

Ao final dos estudos, esperamos que os participantes tenham condições de:

(i) conhecer detalhadamente a logística de medicamentos e identificar seus principais


riscos;

(ii) implantar uma estrutura eficiente de controles internos, visando evitar a


ocorrência de erros, irregularidade e prática de atos fraudulentos;

(iii) conhecer e realizar auditoria de avaliação de controles internos, em nível de


atividade, com metodologia adequada e ferramentas próprias para esse tipo de
trabalho; e

(iv) fortalecer o exercício do saudável e necessário controle social da gestão pública,


com conhecimento técnico e utilização de ferramentas de apoio (questionários,
procedimentos de auditoria, checklist, roteiros de verificação, extrato de entrevista,
etc.) disponbilizadas no curso aos membros do Conselho Municipal de Saúde - CMS e
demais organizações da sociedade civil.

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Aula 1: Conceitos Básicos
Qual é a relação entre objetivos, riscos e controles?

Qual é o significado de risco?

Como gerenciar riscos na Administração Pública? Qual é a sua importância para a


eficiência das organizações?

Existem modelos que podem ser utilizados como referência para gestão de riscos?

Para responder essas e outras questões, estudaremos, nesta aula, os conceitos básicos do
curso de gestão de riscos em Logística de Medicamentos.

Começaremos estudando o conceito de objetivo, risco e controle emitido pelos órgãos de


controle como a Controladoria-Geral da União (CGU) e Tribunal de Contas da União (TCU).
Em seguida, faremos a diferenciação entre risco inerente e risco residual e abordaremos
os objetivos da gestão de riscos no setor público.

Finalizaremos a aula, apresentando os principais modelos de referência em gestão de


riscos que podem ser adotados pela Administração Pública.

Os conceitos trabalhados nesta aula são fundamentais para a compreensão e realização


da gestão de riscos em Logística de Medicamentos que será estudada nas aulas seguintes.

Pronto para começar?

Então, vamos.

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1 CONCEITOS BÁSICOS
Todas as organizações desempenham atividades administrativas para o cumprimento
de seus objetivos institucionais. Essas organizações enfrentam fatores decorrentes dos
ambientes interno e externo que tornam incerto se irão atingir esses objetivos e quando
isso irá ocorrer. O efeito que essa incerteza provoca nos objetivos estratégicos é chamado
de “risco”.

As organizações gerenciam o risco por meio de implantação e aperfeiçoamento dos


controles incidentes sobre seus próprios atos, denominado controle interno da gestão ou
simplesmente “controles internos”. A implantação, o efetivo funcionamento e a avaliação
dos controles internos decorrem de mandamento constitucional.

A finalidade desses controles é garantir que o poder público atue em estrita observância
aos princípios da legalidade, da moralidade e da eficiência, almejando a conformidade
dos atos da gestão, o alcance dos seus objetivos, a melhor qualidade dos serviços públicos
prestados à população e a boa governança pública.

Para entender o funcionamento dos controles internos em qualquer atividade do setor


público e definir critérios específicos para sua adequada avaliação, em conformidade
com os melhores modelos de referência, é preciso primeiro compreender os conceitos de
objetivos, riscos e controles que serão apresentados a seguir.

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1.1 - Objetivos
Em linhas gerais, “objetivo” é um fim que se quer atingir, um propósito que se deseja
alcançar. De acordo com o COSO (Committee of Sponsoring Organizations of the
Treadway Commission) entidade mundialmente reconhecida em Controles Internos:

os objetivos são fixados no âmbito estratégico, estabelecendo-se uma


base para os objetivos operacionais, de comunicações (relatórios) e de
conformidade. Toda organização enfrenta uma variedade de riscos oriundos
de fontes internas e externas, sendo o estabelecimento de objetivos, condição
prévia para a identificação de eventos, avaliação de riscos e resposta a
riscos (COSO, 2006).

A definição de objetivos faz parte de nossas vidas, seja no âmbito pessoal, profissional
ou nas relações sociais. Assim como as pessoas, organizações do setor público possuem
objetivos, normalmente estabelecidos na Constituição Federal ou Estadual, nas leis
orgânicas municipais, ou nas respectivas leis de criação e regulamentos em geral. Esses
objetivos devem ser desdobrados em indicadores e metas, que representam o caminho
que a instituição percorre para atingir suas finalidades.

Por meio do Modelo de Excelência em Gestão Pública, o Ministério do Planejamento


recomenda que “uma gestão pública de excelência deve contemplar processos formais de
formulação e implementação da estratégia, fundamentados no exercício de pensar o futuro
e integrados ao processo decisório” (Brasil, 2014).

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Para o TCU, toda organização deve formular suas estratégias a partir de sua visão de futuro,
da sua missão institucional e da análise dos ambientes interno e externo. As estratégias
devem ser desdobradas em planos de ação. E faz parte do processo acompanhar a
implementação dos planos, “oferecendo os meios necessários ao alcance dos objetivos
institucionais e à maximização dos resultados” (Brasil, 2014).

Nesse sentido, toda organização deve ter clareza de seus objetivos mais elevados. Assim,
todos os colaboradores podem visualizar a contribuição dos resultados de seu trabalho
para o resultado organizacional, bem como compreender de que forma ações de gestão
de riscos, tomadas localmente, podem contribuir para a mitigação de riscos-chave em
nível de entidade.

Quando os objetivos das áreas são estabelecidos de modo a maximizar suas contribuições
para o resultado organizacional, pode-se dizer que conhecer os objetivos e prioridades
da unidade em que se trabalha é tão ou mais importante do que estar informado sobre os
objetivos estratégicos da organização.

Dessa forma, as entidades devem definir objetivos, podendo adotar as seguintes ações:

Além disso, a organização deve acompanhar o cumprimento dos objetivos, dos indicadores,
das metas e dos resultados alcançados, com medidas de aperfeiçoamento eventualmente
estabelecidas para a melhoria dos resultados.
Sobre o último ponto, “padrões de desempenho”, é importante que a entidade divulgue os
indicadores, metas e resultados esperados entre servidores, usuários do serviço público
e sociedade em geral, de modo a propiciar o gerenciamento das ações implementadas e

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estimular o exercício do saudável e necessário controle social.
Ademais, a jurisprudência do TCU é pacífica quanto a importância do planejamento
estratégico (Acórdãos 1.521/2003, 1.558/2003, 2.094/2004, 786/2006, 1.603/2008 e
2.585/2012, todos de Plenário). Como exemplo, transcreve-se trecho do Acórdão
1.233/2012-TCU-Plenário:
(...) 9.1.1 em atenção Decreto-Lei 200/1967, art. 6º, inciso I, e art. 7º, normatize a
obrigatoriedade de que todos os entes sob sua jurisdição estabeleçam processo de
planejamento estratégico institucional, observando as boas práticas sobre o tema, a
exemplo do critério de avaliação 2 do Gespública, contemplando, pelo menos:
9.1.1.1 Elaboração, com participação de representantes dos diversos setores da
organização, de um documento que materialize o plano estratégico institucional de longo
prazo, contemplando, pelo menos, objetivos, indicadores e metas para a organização;
9.1.1.2 Aprovação, pela mais alta autoridade da organização, do plano estratégico
institucional;
9.1.1.3 Desdobramento do plano estratégico pelas unidades executoras;
9.1.1.4 Divulgação do plano estratégico institucional para conhecimento dos cidadãos
brasileiros, exceto nos aspectos formalmente declarados sigilosos ou restritos;
9.1.1.5 Acompanhamento periódico do alcance das metas estabelecidas, para correção de
desvios;
9.1.1.6 Divulgação interna e externa do alcance das metas, ou dos motivos de não as ter
alcançado. (...)
Além da jurisprudência do TCU, diversos normativos estabelecem diretrizes para o
planejamento estratégico e avaliação institucional, tais como a Resolução CNJ 198/2014 e
o Decreto 7.133/2010.
Destaca-se, ainda, que o TCE/MT instituiu em 2012 o Programa de Desenvolvimento
Institucional Integrado – PDI, com objetivo disseminar a cultura de Planejamento
Estratégico nos Jurisdicionados, por meio do fornecimento de ferramentas tecnológicas
e orientação técnica das equipes municipais e estaduais, para a sua elaboração, execução,
acompanhamento e avaliação, estimulando, assim, o desenvolvimento institucional e
melhoria da qualidade dos serviços prestados pelas organizações públicas de Mato Grosso.
Como exemplo de objetivos na atividade de licitação, podemos citar a isonomia, a
proposta mais vantajosa para a Administração e a promoção do desenvolvimento nacional
sustentável (art. 3º, da Lei nº 8.666/93).
Como exemplo de objetivos na atividade de licitação, podemos citar a isonomia, a
proposta mais vantajosa para a Administração e a promoção do desenvolvimento nacional
sustentável (art. 3º, da Lei nº 8.666/93).
Entendi o que é objetivo, mas e o risco, o que é isso?
Vamos conversar sobre isso no próximo tópico.

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1.2 - Riscos
Na obra “Desafio aos Deuses: a fascinante história do risco”, Bernstein (1997) destaca o
fator que distingue a pré-história dos tempos modernos. Para o autor, não é o progresso
da ciência, nem a tecnologia, nem o capitalismo ou a democracia. A verdadeira diferença
estaria na capacidade de administrar os riscos.

A idéia revolucionária que define a fronteira entre os tempos modernos e o


passado é o domínio do risco: a noção que o futuro é mais que um capricho
dos deuses e de que homens e mulheres não são passivos ante a natureza.
Até os seres humanos descobrirem como transpor essa fronteira, o futuro
era um espelho do passado ou o domínio obscuro de oráculos e adivinhos
que detinham o monopólio sobre o conhecimento dos eventos previstos.
(Bernstein, 1997, grifos nossos)

Para Bernstein, economista e professor consagrado de Harvard, ao compreender o risco,


medi-lo e avaliar suas consequências, o homem converteu o ato de correr riscos em um
dos principais catalisadores que impelem a sociedade ocidental moderna.

Sem domínio da teoria das probabilidades e outros instrumentos de gestão do risco, os


engenheiros jamais teriam projetado grandes pontes, os lares ainda seriam aquecidos por
lareiras ou fogareiros, as usinas elétricas não existiriam, não haveria aviões e as viagens
espaciais seriam apenas um sonho. Sem os seguros em sua múltiplas variedades, a morte
do pai de família reduziria os filhos jovens à penúria
ou caridade, a assistência médica seria possível a
RISCO: OPÇÃO OU
um número reduzido de pessoas e somente os ricos
DESTINO?
teriam casa própria. Se os agricultores não pudessem
vender suas safras a um preço estabelecido antes
A palavra “risco” deriva do
da colheita, produziriam muito menos alimento
italiano risicare, que significa
(Bernstein, 1997).
“ousar”. Nesse contexto,
risco é uma opção e não um
Assim, riscos são eventos inesperados, ocorridos
destino (Bernstein, 1997).
na prática da operação das organizações e que
impactam seus objetivos e não qualquer coisa que
pode dar errado.

Podem ser destacados como riscos no setor público situações como falta de medicamentos,
falhas nos serviços prestados, diminuição do crescimento econômico, demanda de
serviço maior que a oferta, atraso nos cronogramas dos projetos, queda na arrecadação,
descontinuidade administrativa, restrição indevida de uma licitação, pagamento por
serviços não prestados, desvios de recursos, sobrepreço, superfaturamento, conluio
entre licitantes, fraudes, evasão escolar, etc. Eventos incertos, porém mensuráveis, que
merecem tratamento.

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Por outro lado, eventos de ocorrência improvável, ainda que possível, como tsunamis,
terremotos, guerras, atentados terroristas e epidemias, devem ser foco de técnicas com
melhor poder preditivo e não objeto específico de gerenciamento de riscos.

Com base nessa perspectiva, estabeleceu-se uma definição formal para risco. Para a ISO
31000/2009, por exemplo, “risco é o efeito da incerteza nos objetivos”.

No Brasil, o Tribunal de Contas da União definiu risco como “a possibilidade de algo


acontecer e ter impacto nos objetivos, sendo medido em termos de consequências e
probabilidades” (Art. 1º, V, da Instrução Normativa TCU nº 63/2010).

De modo similar, a Instrução Normativa Conjunta CGU/MP nº 01/2016 conceitua risco


como “possibilidade de ocorrência de um evento que venha a ter impacto no cumprimento
dos objetivos. O risco é medido em termos de impacto e probabilidade”.

RISCO é a possibilidade de que um evento ocorrerá e afetará negativamente a


realização dos objetivos (COSO, 2006).

Em face do exposto, podemos concluir que os riscos permeiam toda a nossa vida e
enfrentamos riscos o tempo todo, em qualquer atividade na vida pessoal, profissional
ou no dia a dia das organizações.

E qual é a principal classificação de risco definida pelos modelos de referência?

É isso que veremos a seguir.


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1.3 - Classificação de Risco
Para o modelo de referência COSO ERM (Gerenciamento de Riscos Corporativos), há dois
tipos de riscos: inerente e residual. Risco inerente é o que existe independentemente
de controles para sua mitigação. Residual é o risco que permanece após a resposta da
administração (COSO, 2006).

Fonte: Elaboração própria

O entendimento conceitual dessa classificação é fundamental para o adequado


gerenciamento de riscos. Quando se deseja medir a efetividade da estrutura de controle
existente, realiza-se a avaliação do risco inerente e residual, permitindo a identificação de
possíveis falhas ou excessos na estrutura de controles internos.

Por exemplo, se existem muitos controles para mitigar um risco que inerentemente
já é baixo ou se o controle existente não está funcionando efetivamente para mitigar
determinado risco priorizado (Souza; Santos, 2017).

E por falar em controles internos, vamos conhecer as principais definições apresentadas


para esse tema.

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1.4- Controles Internos
Para o Instituto Americano de Contadores Públicos Certificados, por meio de Relatório
Especial da Comissão de Procedimentos de Auditoria, controles internos é definido como:
o plano da organização e todos os métodos e medidas coordenados,
aplicados a uma empresa, a fim de proteger seus bens, conferir a exatidão
e a fidelidade de seus dados contábeis, promover a eficiência e estimular a
obediência às diretrizes administrativas estabelecidas.
Com a publicação do Modelo COSO I – Controle Interno – Estrutura Integrada, em 1992,
o nível de abrangência dos controles internos foi ampliado, constituindo um processo,
implementado pela alta administração, envolvendo diretores, gerentes e funcionários,
com a finalidade de prover razoável garantia quanto à realização dos objetivos, nas
seguintes categorias: conceder efetividade e eficiência às operações; obter confiabilidade
no processo de comunicação, especialmente por meio das demonstrações contábeis; e
assegurar a conformidade com as leis e os regulamentos.
Na mesma linha, as Diretrizes Internacionais para as Normas de Controle Interno do Setor
Público, adotaram definição similar:
Controle Interno é um processo integrado efetuado pela direção e corpo
de funcionários, estruturado para enfrentar os riscos e fornecer razoável
segurança de que na consecução da missão da entidade os seguintes objetivos
gerais serão alcançados: - execução ordenada, ética, econômica, eficiente
e eficaz das operações; - cumprimento das obrigações de accountability; -
cumprimento das leis e regulamentos aplicáveis; - salvaguarda dos recursos
para evitar perdas, mau uso e dano. (INTOSAI, 2004)
De igual modo, o TCU, em suas Normas de Auditoria, reviu sua definição de Controle
Interno, adotando a seguinte definição:
processo efetuado pela administração e por todo o corpo funcional,
integrado ao processo de gestão em todas as áreas e todos os níveis de
órgãos e entidades públicos, estruturado para enfrentar riscos e fornecer
razoável segurança de que, na consecução da missão, dos objetivos e
das metas institucionais, os princípios constitucionais da administração
pública serão obedecidos e os seguintes objetivos gerais de controle
serão atendidos: - eficiência, eficácia e efetividade operacional, mediante
execução ordenada, ética e econômica das operações; - integridade
e confiabilidade da informação produzida e sua disponibilidade
para a tomada de decisões e para o cumprimento de obrigações de
accountability; - conformidade com leis e regulamentos aplicáveis,
incluindo normas, políticas, programas, planos e procedimentos de
governo e da própria instituição; - adequada salvaguarda e proteção
de bens, ativos e recursos públicos contra desperdício, perda, mau uso,
dano, utilização não autorizada ou apropriação indevida.

21
Ainda está muito teórico. Como essa definição pode ser melhor explicada?
Vamos lá.
Suponha que a Prefeitura hipotética de Pantanal do Norte/MT tenha realizado licitação
para aquisição medicamentos para distribuição à população. As atividades desenvolvidas
seriam as seguintes:

Etapa 01 – Prefeitura faz pregão para registro de preços de


medicamentos. Ao final, vencedores assinam a Ata de Registro
de Preços com as condições pré-definidas.

Etapa 02 – Para repor os estoques, o farmacêutico, responsável


pelo Almoxarifado Central, envia memorando à Secretaria de
Saúde, encarregada pelo gerenciamento da Ata, com a relação
de produtos necessários.

Etapa 03 –- Servidor responsável pelo gerenciamento da Ata


envia “Ordem de Fornecimento” ou “Nota de Empenho” para
o fornecedor, com a quantidade pretendida e condições de
entrega.

Etapa 04 – Fornecedor envia os medicamentos demandados,


sendo recebidos por comissão de servidores designados para
a atividade. Após conferência de quantidades, especificações,
marca, validade e outros fatores, comissão “atesta” o
recebimento, mediante carimbo e assinatura na Nota Fiscal.

Etapa 05 – Fornecedor encaminha Nota Fiscal atestada à


Secretaria de Saúde. Com a requisição, ordem de fornecimento,
empenho e nota fiscal, abre-se um processo de pagamento.
Consulta-se a regularidade fiscal da empresa e anexa-se o
resultado ao processo de pagamento.

Etapa 06 – Se tudo estiver bem, o pagamento é autorizado


pelo gestor financeiro e pelo ordenador de despesa, emitindo
a ordem de pagamento para quitação da obrigação.

Com esse exemplo, vamos agora explicar cada parte da definição de controles internos.

PROCESSO INTEGRADO
O controle interno não é apenas um documento, uma norma, um sistema, um registro,
um fato ou circunstância isolada. É um conjunto de ações interligadas que permeiam
todas as atividades, todas operações, de modo contínuo e coerente (Brasil, 2012).
Diversos procedimentos integrados de controle foram executados em nosso exemplo,
dos quais podemos destacar: a solicitação pelo almoxarifado central; a notificação da

22
empresa para entrega dos medicamentos; o recebimento dos produtos pela comissão,
conferindo as condições de entrega; a conferência da regularidade fiscal e processamento
do pagamento.

EXECUTADO POR PESSOAS


Controle interno não se refere apenas a implantar manual de políticas e procedimentos,
sistemas e formulários, mas diz respeito, principalmente, às pessoas e às ações que
elas tomam em cada nível da organização para executar suas tarefas. Nenhum manual,
checklist ou sistema informatizado substitui as pessoas (Brasil, 2012).
No exemplo, quem emite a demanda (etapa 2), notifica o fornecedor (etapa 3), recebe os
produtos (etapa 4) e efetua o pagamento (etapa 6) são servidores da prefeitura. Dessa
forma, todos em uma organização executam controles internos, implicando que esses
controles são diretamente afetados pela natureza humana.

AUXILIA O ALCANCE DOS OBJETIVOS


Já vimos que controles internos são conduzidos para atingir objetivos em uma ou
mais categorias – operacional, comunicação e conformidade (COSO, 2013), podendo ser
objetivos fixados para toda a organização ou estabelecidos para atividades, processos ou
operações específicas.
Em nosso exemplo, os controles internos auxiliam, dentre outros, os seguintes objetivos
da atividade de aquisição de medicamentos:
a) Assegurar que as demandas sejam elaboradas após estudos técnicos preliminares
e analisadas e aprovadas pela autoridade competente;
b) Garantir que o fornecedor tenha sido selecionado, respeitando a isonomia e a
proposta mais vantajosa;
c) Permitir que o pedido de compra seja adequado às necessidades;
d) Garantir que o fornecedor atenda ao pedido de compra no tempo e conforme as
condições esperadas; e
e) Assegurar que o fornecedor receba o pagamento no prazo acordado, desde que
tenha cumprido suas obrigações.

OFERECE SEGURANÇA RAZOÁVEL


O controle interno é capaz de proporcionar segurança razoável, mas nunca absoluta,
para a estrutura de governança e alta administração de uma entidade governamental.
Não importa quão bem planejado ou executado seja, o controle interno não pode dar
segurança ilimitada à organização, em relação ao alcance dos objetivos e a mitigação de
todos os riscos existentes nas atividades (Brasil, 2012).
A nova definição adotada pelo TCU, alinhada ao conceito do COSO, apresenta alguns
elementos fundamentais para o controle interno, mencionando tanto a “segurança

23
razoável” quanto a consecução dos objetivos.
A segurança razoável reflete a noção sobre a incerteza e os riscos futuros que não podem
ser previstos e controlados de forma absoluta. Existem fatores que estão fora do controle ou
da influência da organização e que podem afetar sua capacidade de alcançar os objetivos.
As limitações decorrem também do julgamento humano, passível de erro ou engano;
ninguém é capaz de prever, com exatidão, o futuro; a administração lida com incertezas
que, nem sempre, estão sob seu controle; controles podem ser suprimidos por agentes
mal intencionados, geralmente em conluio; gestores, com objetivos obscuros, podem
anular controles; descuido, cansaço físico, distração.
Essas limitações impedem que a alta administração, servidores e sociedade em geral
tenham certeza sobre o alcance dos objetivos (Brasil, 2012).
Um exemplo bem claro disso aconteceu com a Petrobras. Mesmo tendo um dos mais
elevados níveis de governança, a operação Lava-Jato, iniciada em 2014, revelou fraquezas
materiais que evidenciaram que os controles internos sobre os relatórios financeiros
não foram efetivos, levando a empresa de auditoria PricewaterhouseCoopers (PwC) a se
recusar a assinar o Balanço Patrimonial da Companhia referente ao ano de 2014.
Dessa forma, para implementar controles internos em uma organização é preciso primeiro
estabelecer objetivos, identificar e avaliar os riscos e tratá-los, definindo quais devem
ser modificados por alguma forma de controle.
A figura a seguir demonstra melhor a relação existente entre os conceitos de objetivos,
riscos e controles:
Esses passos fazem parte de um processo maior, chamado Gestão de Riscos, que nós
veremos a seguir.

24
Além disso, para destacar importância dos controles internos para uma organização,
em pesquisa realizada pela KPMG sobre “A Fraude no Brasil”, foi constatado que o fator
facilitador preponderante para a perpetração do ato fraudulento foi à insuficiência de
sistemas de controles internos (64%).

Por consequência, vinculada ao temor de que uma fraude permaneça sem detecção, a
preocupação das organizações com medidas tomadas denota que, fundamentalmente,
a melhoria dos controles internos é primordial (93%), seguido de um manual de
comportamento profissional (57%) e treinamento dos funcionários (50%), conforme
apresentado a seguir:

Fonte: KPMG, 2009

Esses resultados nos levam a uma conclusão: tanto no setor privado quanto no setor
público, para se combater efetivamente as fraudes, é preciso fortalecer seus controles
internos, ou seja, suas linhas de defesa.

Nesse sentido, a estrutura de três linhas de defesa, muito disseminada pelo Instituto
dos Auditores Internos (IIA), entidade internacional de padronização das atividades dos
auditores, é um bom referencial para isso.

O modelo de Três Linhas de Defesa é uma forma simples e eficaz de melhorar a comunicação
do gerenciamento de riscos e controle de uma organização, por meio do esclarecimento
dos papéis e responsabilidades essenciais.

O modelo apresenta um novo ponto de vista sobre as operações, ajudando a garantir o


sucesso continuo das iniciativas de gerenciamento de riscos, inclusive riscos de fraudes
e corrupção, e é aplicável a qualquer organização – não importando seu tamanho ou
complexidade (IIA, 2013).

25
Esse modelo foi adaptado pelo Tribunal de Contas da União e pode ser representado
conforme a figura a seguir:

O primeiro combate, ou seja, a primeira linha de defesa, a barreira mais ampla aos riscos é a
defesa realizada pelos gestores operacionais, que definem, estabelece e mantém controles
internos incorporados à rotina diária. São os agentes responsáveis pela execução.

Em um processo de contratação, por exemplo, esse papel é desempenhado pelos


demandantes, orçamentistas, pregoeiros e equipe de apoio, membros da comissão
permanente de licitação – cpl, gestores e executores de logística do setor público. É por
isso que esses agentes têm a capacidade de identificar primeiro os problemas na execução
das atividades e de responder a esses problemas.

Essa estrutura nem sempre é suficiente. Aí entram em campo mecanismos adicionais para
ajudar a desenvolver e monitorar os controles da primeira linha. Aqui fica o Comitê de
Gestão de Riscos, por exemplo. Há entidades com áreas de Compliance ou de Integridade,
para ajudar com riscos relacionados a fraudes e corrupção. Setores de supervisão de
controle interno também são comuns. A principal finalidade é de supervisão.

Na terceira linha de defesa temos a auditoria ou controladoria interna, fornecendo ao órgão


de governança e à alta administração (Por exemplo: Governador e Secretários, no Estado;
Prefeito e Secretários Municipais, no município), avaliações abrangentes baseadas no
maior nível de independência e objetividade dentro da organização. A função primordial
da terceira linha de defesa é de avaliação.

26
Temos ainda os profissionais que atuam na supervisão das compras públicas, tais
como auditores externos à organização (CGU, TCU, Tribunais de Contas), promotores,
procuradores, delegados, organizações não governamentais, conselhos de políticas
públicas e cidadão em geral, como uma linha adicional ou quarta linha de defesa.

Entretanto, é importante deixar claro: os órgãos de controle (CGU, TCU) não são
responsáveis pela implantação e funcionamento das linhas de defesa no setor público!!

Essa responsabilidade é dos agentes incumbidos da governança da entidade. Assim,


é importante que esses responsáveis enfatizem a prevenção de erros, irregularidade,
fraudes, a fim de reduzir as oportunidades de sua ocorrência, e discutam sobre a fraude e
as principais irregularidades, com vistas a aumentar a probabilidade de detecção e a efetiva
punição da mesma. O art. 17, do Decreto Federal 9.203/2017 reforça essa orientação.

1.5 - Gestão de Riscos


Qualquer organização, seja ela pública ou privada, existe para atender às necessidades
e expectativas das partes interessadas, ou seja, todas as pessoas afetadas, direta ou
indiretamente, pelas atividades da organização (Souza; Santos, 2017).

No caso do setor público, atender expectativas de servidores públicos, organizações


públicas, instituições privadas, cidadãos, grupos de interesse, associações e a sociedade
como um todo visa aprimorar relações de qualidade e assegurar o desenvolvimento da
organização.

Todas as organizações enfrentam incertezas e o desafio de seus administradores é


determinar até que ponto aceitar essa incerteza, assim como definir como essa incerteza
pode interferir no esforço para gerar valor às partes interessadas (COSO, 2006).

A gestão de riscos diz respeito aos riscos e às oportunidades de criar ou preservar valor, e
é definida pelo COSO da seguinte forma:

O gerenciamento de riscos corporativos é o processo conduzido em uma


organização pelo Conselho de Administração, pela diretoria executiva e
pelos demais funcionários, aplicado no estabelecimento de estratégias
formuladas para identificar, em toda a organização, eventos em potencial,
capazes de afetar a referida organização, e administrar os riscos para mantê-
los compatíveis com o seu apetite a risco e possibilitar garantia razoável de
cumprimento dos objetivos da entidade (COSO, 2006).

Por sua vez, a INTOSAI destaca a importância da gestão de riscos para contar com serviços
eficientes:

O objetivo da gestão de riscos nas entidades é permitir a administração lidar


de modo eficaz com a incerteza e seus riscos e oportunidades associados,
reforçando a capacidade de criar valor, para oferecer serviços mais

27
eficientes, eficazes e econômicos, e para orientá-las tendo em conta valores
como equidade e justiça. (INTOSAI, 2007).

Na esteira dessas definições legais, a gestão de risco, em qualquer dos modelos adotados
nos setores público e privado, nacional e internacional (COSO ERM, ISO 31000/2009,
Modelo Britânico), é abordagem que privilegia o alcance de resultados.

Ao buscar-se o gerenciamento dos riscos, por meio de controles internos adequados,


proporcionais aos riscos, o efeito será maior certeza de que os resultados serão atingidos,
o que significa maior eficácia da atuação do gestor governamental.

Em alguns países, a gestão de riscos já é prática consolidada no setor público há bastante


tempo. A Secretaria do Tesouro do Canadá adotou oficialmente modelo de gestão de riscos
em 2001, o qual vinha sendo a referência na administração direta daquele país. Em 2010,
promoveu revisão ampla do tema, e editou novos documentos de referência (Framework
for the Management of Risk), mas mantendo a continuidade da adoção da gestão de riscos
no setor público canadense (Acórdão TCU nº 2467/2013 – Plenário).

O Reino Unido também tem adotado gestão de riscos no setor público há alguns anos, por
meio da ferramenta voltada para a avaliação da gestão de risco nos diversos setores do
governo (Risk Management assessment framework: a tool for departments).

Nos EUA, o Escritório de Accountability Governamental publicou a Ferramenta de


Gestão e Avaliação de Controle Interno (GAO, 2001), com o objetivo de auxiliar os órgãos
governamentais daquele país a manter e implementar um controle interno efetivo e,
quando necessário, ajudá-los a determinar o que, onde e como melhorias podem ser
implementadas. Embora seja voltado para controle interno, esta é uma das principais
formas de gerenciar riscos (Brasil, 2013). Entidades como o Banco Mundial, BID e Intosai
adotam o modelo COSO com referencial para gestão de riscos.

No Brasil, até maio de 2016, não havia aplicação de uma abordagem de gestão de riscos
de forma estruturada, sistemática e disciplinada na Administração Pública. A edição da
Instrução Normativa Conjunta MP/CGU nº 01/2016 veio suprir essa lacuna. Na esteira
desse regulamento, foi definido que o modelo de gestão de riscos a ser implantado na
Administração Pública Federal deve ter como base os seguintes componentes: ambiente
de controle, fixação de objetivos, identificação de eventos, avaliação de riscos, atividades
de controles internos, informação e comunicação e monitoramento (Art. 16).

Essa necessidade de a Alta Administração manter, monitorar e aprimorar sistema de gestão


de riscos e controles internos com vistas à identificação, à avaliação, ao tratamento, ao
monitoramento e à análise crítica de riscos que possam impactar a implementação da
estratégia e a consecução dos objetivos da organização no cumprimento da sua missão
institucional passou a ser uma obrigação para a Administração Pública Federal por meio
do Decreto nº 9.203/2017.

Embora essa normatização seja de aplicação imediata e obrigatória apenas ao Poder


Executivo Federal, os entes subnacionais (Estados, DF e Municípios) e outros poderes

28
federais passam a dispor de um modelo referencial para implantação e avaliação de gestão
de riscos e controles internos em suas unidades.

No próximo tópico, aprofundaremos o nosso conhecimento sobre o tema, estudando os


modelos reconhecidos internacionalmente como referência para implementação da
gestão de riscos nas organizações.

Fonte: Elaboração própria

1.6 - Modelos de Referência em Gestão de Riscos


Os “modelos de referência” são mundialmente conhecidos como estruturas, padrões
ou frameworks. Estas nomenclaturas são comumente utilizadas para fazer alusão às
construções teóricas realizadas por diversas organizações internacionais, sobretudo
na área de gestão de riscos e controles internos que as entidades podem adotar para
implantação e avaliação de gestão de riscos (Souza; Santos, 2017).

Esses frameworks de gestão de riscos consolidam um conjunto de técnicas, atividades


e boas práticas que efetivamente contribuem para o processo de gestão de riscos,
contemplando as atividades de identificação, avaliação, tratamento e monitoramento dos
riscos corporativos.

Como já foi abordado neste capítulo, o principal instrumento de tratamento dos riscos
decorre da implantação de controles internos. Entretanto, se essa implantação não
observar as orientações presentes nos modelos de referência consagrados mundialmente,
pode levar às organizações a estruturarem um conjunto de controles puramente formais,
burocráticos, cujo custo seja evidentemente superior ao risco, passando a impressão
da existência de um eficaz sistema de gerenciamento de riscos, quando na verdade não
garantem efetivamente os benefícios esperados, resultando, assim, em desperdício de
tempo e recursos.

29
Dessa forma, os principais modelos de referência em gestão de riscos utilizados pelas
organizações são: ISO 31000/2009 e COSO ERM (Enterprise Risk Management).

Fonte: Elaboração própria

Apresentamos a seguir as principais características de cada modelo:

1.6.1 - ISO 31000/2009


A abordagem descrita na ISO 31000/2009 propõe-se a fornecer princípios e diretrizes para
gerenciar qualquer forma de risco de uma maneira sistemática, transparente e confiável,
dentro de qualquer escopo e contexto.

A norma indica que convém que o processo de gestão de riscos seja parte integrante da
gestão, seja incorporado na cultura e nas práticas da organização, e seja adaptado aos
processos de negócio.

Dentre outros benefícios, o referencial tem por finalidade ajudar a organização a aumentar
a probabilidade de atingir seus objetivos, melhorar sua governança e estabelecer base
confiável para tomada de decisões.

A figura a seguir, sintetiza o processo de gestão de riscos preconizado pela ISO 31000/2009.

30
Fonte: Elaboração própria a partir dos preceitos da ISO 31000/2009

Em 2018, a ISO 31000/2009 foi atualizada. A revisão da norma mantém a mesma arquitetura
de gestão de riscos (princípios, estrutura e processo), mas oferece um guia mais claro, mais
curto e mais conciso que ajudará as organizações a usar os princípios de gerenciamento
de risco para melhorar o planejamento e tomar melhores decisões.
1.6.2 - COSO ERM (ENTERPRISE RISK MANAGEMENT)
Trata-se do modelo de gestão de riscos predominante no cenário corporativo
internacional, especialmente na América do Norte. COSO é a sigla de Committee of
Sponsoring Organizations da National Commission on Fraudlent Financial Reporting,
também conhecida como Treadway Comission.
Criada em 1985, nos Estados Unidos, constitui uma entidade do setor privado, sem fins
lucrativos, voltada para o aperfeiçoamento da qualidade de relatórios financeiros
por meio de éticas profissionais, implementação de controles internos e governança
corporativa (Brasil, 2013).
Em 1992, o COSO publicou a obra Controle Interno – Estrutura Integrada (Internal Control
– Integrated Framework), que obteve grande aceitação em todo o mundo e tem sido
aplicada amplamente. É reconhecida como uma estrutura modelo para desenvolvimento,

31
implementação e condução do controle interno, bem como para a avaliação de sua
eficácia.
Embora tenha havido ampla adesão ao modelo COSO I, isso não foi suficiente para
evitar escândalos econômico-financeiros e contábeis envolvendo entidades de grande
porte. O COSO, então, intensificou a preocupação com gerenciamento de riscos – em
decorrência de uma série de escândalos e quebras de negócios de grande repercussão – e
o desenvolvimento de uma estratégia de fácil utilização pelas organizações para avaliar e
melhorar o próprio gerenciamento de riscos.
O resultado foi a publicação, em 2004, do modelo Gerenciamento de Riscos Corporativos
– Estrutura Integrada, também conhecida como COSO ERM ou COSO II (Brasil, 2013),
conforme apresentado na figura a seguir:

Fonte: COSO ERM

Os objetivos da organização são representados pelas colunas verticais, enquanto os oito


componentes são mostrados nas linhas horizontais. Na terceira dimensão aparecem as
unidades da organização, demonstrando que o gerenciamento de riscos abrange todos os
níveis organizacionais (em nível setorial: divisão, unidade, departamento, projeto, seção
ou em nível de atividades: macroprocessos, processos, subprocessos, atividades).
Como já comentado, a Instrução Normativa MP/CGU nº 01/2016 definiu que o modelo
de gestão de riscos a ser implementado na Administração Pública Federal tem os mesmos
componentes do modelo COSO.
Além disso, o TCU vem recomendando aos órgãos e entidades da Administração Pública
Federal que realizem ações visando ao aprimoramento dos controles internos da gestão,
com a devida avaliação de riscos, para adoção de procedimentos de forma a minimizar
os problemas enfrentados, utilizando como referência modelos consagrados, a exemplo
do COSO ERM, com vistas a mitigar os impactos negativos de eventos potencialmente

32
danosos à sua gestão (Acórdão nº 2.754/2014 – Plenário).
Nesse mesmo sentido são os Acórdãos nº 7.128/2013 e 2.429/2015, ambos da 2ª Câmara,
nº 1.062/2014, 4.599/2016 e 5.169/2016, todos da 1ª Câmara.
No caso de medicamentos, objeto de nosso curso, o gerenciamento de riscos será realizado
com base nas prescrições desse consagrado referencial, levando em conta, também,
os elementos relevantes da ISO 31000/2009, tendo em vista a complementariedade de
ambos os modelos.
A sequência do processo de gestão de riscos em logística de medicamentos adotada neste
curso leva em conta as seguintes etapas:
(i) Estabelecimento do Contexto;
(ii) Identificação de Riscos;
(iii) Análise e avaliação de Riscos;
(iv) Tratamento dos Riscos e estabelecimento de controles internos (Matriz de Riscos e
Controle);
(v) Monitoramento.
A etapa de monitoramento será estudada na aula 06, aplicável apenas aos auditores e
controladores. Nos capítulos seguintes, veremos, com detalhes, cada uma dessas etapas.
SÍNTESE
Nesta aula, vimos que risco é a possibilidade de algo acontecer e afetar negativamente o
alcance dos objetivos de uma organização e que o papel do controle interno é oferecer
razoável segurança contra esses riscos, prevenindo sua ocorrência ou detectando sua
materialização.
Vimos que para implementar controles internos em uma organização é preciso, primeiro,
estabelecer objetivos (da entidade ou das atividades, processos, operações, setores,
etc.), identificar e avaliar os riscos e tratá-los, definindo quais devem ser modificados
por alguma forma de controle, evidenciando uma clara relação entre objetivos, riscos e
controles.
Também aprendemos que a gestão de riscos contribui para a boa governança corporativa
ao aumentar a chance de que os resultados pretendidos sejam atingidos, o que significa
maior eficácia da atuação do gestor governamental.
Finalmente, estudamos os modelos de referência mais reconhecidos internacionalmente
para a gestão de riscos em uma organização. Percebemos que esses modelos são o ponto
de partida para auxiliar na definição de estruturas customizadas para o estabelecimento
de controles internos, evitando que se adote um conjunto descoordenado de controles,
que não garantam efetivamente os benefícios esperados.
Na próxima aula, aprofundaremos nossso conhecimento sobre o contexto e evolução
histórica da logística de medicamentos e as principais ações de planejamento e organização
da atividade.

33
Aula 2: Planejamento e
Organização da Farmácia Básica
Como surgiu o programa Farmácia Básica? Quais são seus objetivos?

Quais são os instrumentos básicos do Sistema de Planejamento do SUS?

De que forma deve ser organizada a farmácia básica?

Para responder estas perguntas estudaremos, nesta aula, o planejamento e a organização


do programa farmácia básica.

Veremos que a saúde é um direito de todos e um dever do Estado previsto na Constituição


Federal de 1988, garantido por meio de políticas sociais e econômicas que visem à redução
do risco de doença e de outros agravos.

Estudaremos, ainda, a evolução histórica do programa farmácia básica para entendermos


a atual organização e normatização e compreendermos as melhorias que já foram
incorporadas no programa.

Finalizaremos a aula conhecendo os detalhes do Sistema de Planejamento do SUS,


instrumentalizados por meio do Plano de Ação, Programação Anual de Saúde e Relatório
de Gestão, e os principais critérios para organização da assistência farmacêutica no
município.

Todos prontos?

Então, vamos começar.

34
2 PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO
2.1 - Contexto
Toda política pública envolve algum tipo de operação logística de suprimentos. O sucesso
das políticas, em termos de eficiência e de eficácia, depende da superação de problemas
como a demora nos processos de aquisição (especialmente no caso em que há necessidade
de licitação); elevados custos de aquisição; aquisição de produtos e serviços inadequados;
e perdas e faltas de materiais de estoque. (Vaz e Lotta, 2011)

Na logística de medicamentos não é diferente. Desde a criação do SUS em 1990, essa área
vem se incorporando efetivamente às políticas de saúde, passando a ser um indicador
da qualidade de assistência à saúde.

Os números a seguir indicam a importância da assistência farmacêutica no contexto das


políticas públicas de saúde:

Fonte: CFF, 2015

A Farmácia Básica preza pelo uso Racional dos Medicamentos levando a melhor qualidade
de vida. São inúmeros os problemas sanitários em razão da utilização inadequada de
medicamentos.

Nesse contexto, decidiu-se por contemplar o processo organizacional de logística


de medicamentos e insumos de saúde no Programa Aprimora – Aperfeiçoamento
dos Controles Internos dos Fiscalizados do TCE/MT, em razão das deficiências
reiteradamente identificadas pelos órgãos de controle e noticiadas pela mídia, como,

35
por exemplo, a aquisição de medicamentos próximo do vencimento, sobrepreço, desvio,
desabastecimento crônico, falta de controles, superfaturamento.

Para implementar controles e avaliar sua efetividade é preciso conhecer. Por isso,
trataremos aqui de detalhar os principais aspectos da logística de medicamentos, com o
objetivo de subsidiar a implantação e o efetivo funcionamento dos controles internos da
atividade1.

2.2 - Evolução Histórica


A assistência farmacêutica na atenção básica compreende um conjunto de atividades
relacionadas ao acesso e ao uso racional de medicamentos e é destinada a complementar
e apoiar as ações de atenção básica à saúde.

O Sistema Único de Saúde (SUS) está baseado no direito ao acesso da população a todos
os níveis de atenção à saúde, inclusive aos de Assistência Farmacêutica.

O uso racional de medicamentos compreende medidas que visam oferecer ao paciente


a medicação adequada a suas necessidades clínicas, nas doses correspondentes, por
tempo adequado e ao menor custo possível para si e para a comunidade.

O modelo adotado para a assistência farmacêutica é o da gestão descentralizada,


em que cabe aos municípios a aquisição e dispensação dos medicamentos, sob a
coordenação dos estados. O Programa é operacionalizado pelo governo federal por
meio de transferência fundo a fundo a estados e municípios.

Tem caráter sistêmico e multidisciplinar e representa atividade de grande impacto


financeiro no âmbito do SUS, em razão da crescente demanda por medicamentos.

O mercado farmacêutico no Brasil é enorme. Em 2017, este segmento movimentou R$


87 bilhões, segundo a IMS-Health. É o 7º mercado mundial. Existem 300 indústrias, mais
de 82 mil farmácias, quase 4.000 distribuidoras, vendendo quase 9.000 produtos em 22 mil
apresentações.

1 Por conveniência, neste curso serão tratados como sinônimos de logistíca de medicamentos os termos
farmácia básica e assistência farmacêutica.

36
Os gastos do governo nessa área têm crescido a taxas elevadas, conforme o Gráfico
apresentado a seguir. Mesmo assim, muita gente compra o próprio medicamento,
geralmente por falta no setor público (Boing, Bertoldi e Peres, 2011).

37
O país tem avançado na consolidação da Assistência Farmacêutica, mas a desigualdade
no acesso a medicamentos, em especial os destinados à atenção primária, ainda é uma
característica da realidade brasileira.

A trajetória da Farmácia Básica pode ser sintetizada na figura apresentada a seguir:

Fonte: Elaboração própria a partir de SES/PR (2012)

A Assistência Farmacêutica, como política pública, teve início em 1971 com a instituição
da Central de Medicamentos (Ceme), que tinha como missão o fornecimento de
medicamentos à população sem condições econômicas para adquiri-los (BRASIL, 1971) e
se caracterizava por manter uma política centralizada de aquisição e de distribuição de
medicamentos.

Mudanças de princípios foram introduzidas com a promulgação da Constituição Federal


em 1988 (CF88). Esta estabeleceu a saúde como direito social (Art. 6o) e o seu cuidado
como competência comum da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios
(Art. 23). O Art. 196 determina:

“A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas


sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação”.

A regulamentação da Constituição Federal, específica para a área da saúde, foi estabelecida


pela Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8080/90) que em seu Artigo 6 determina como campo de
atuação do SUS, a “formulação da política de medicamentos (...)” e atribui ao setor saúde
a responsabilidade pela “execução de ações de assistência terapêutica integral, inclusive
farmacêutica.” (BRASIL, 1990).

38
Essa época, de 1971 a 1997, em que a Central de Medicamentos – CEME centralizava a política
de Farmácia Básica, foi marcada por pouca utilização da Rename pelos prescritores,
pouco conhecimento do perfil epidemiológico das populações atendidas, dificuldades
de logística, grandes perdas por validade vencida, desarticulação e irregularidade no
abastecimento, que levaram ao fim da CEME em 1997 (Bruns et al, 2014).

Em 2004, a Operação Vampiro, uma das primeiras parcerias da CGU com a Polícia Federal,
apontou desvios de R$ 120 milhões em hemoderivados, que começaram na CEME em
19972.

A desarticulação da Assistência Farmacêutica no país, em descompasso com as mudanças


que vinham ocorrendo na área da saúde, especialmente em relação ao processo de
descentralização das ações do SUS e a irregularidade no abastecimento de medicamentos
destinados à rede ambulatorial, entre eles, os medicamentos para atenção básica,
contribuíram para a formulação de novas diretrizes na área de medicamentos.

Esse processo levou ao estabelecimento da Política Nacional de Medicamentos - PNM,


publicada por meio da Portaria GM/MS nº 3916, de 30 de outubro de 1998 (BRASIL, 2002a).

Com a Política Nacional de Medicamentos (PNM), procurou-se romper com o foco exclusivo
na aquisição e distribuição de medicamentos que se mostrava insuficiente (Mayorga et al,
2004). A lógica, agora, buscava a gestão e financiamento compartilhado entre os entes
federados e a normatização do setor farmacêutico.

A construção de uma nova gestão de Assistência Farmacêutica no SUS fundamentou-se na


implementação das diretrizes estabelecidas na PNM nos estados e municípios, entre elas,
a reorientação da Assistência Farmacêutica. (BRASIL, 2002a, p. 14)

Essas diretrizes comportam um conjunto de prioridades, das quais se destaca a


descentralização da Assistência Farmacêutica. A aquisição e a distribuição, pelo Ministério,
dos produtos componentes da assistência farmacêutica básica deveriam ser substituídas
pela transferência regular e automática, fundo a fundo, dos recursos federais, sob a
forma de incentivo agregado ao Piso da Atenção Básica. Esses recursos seriam utilizados
prioritariamente para a aquisição, pelos municípios e sob a coordenação dos estados, dos
medicamentos necessários à atenção básica à saúde de suas populações. (BRASIL, 2002a,
p.22)

Com a publicação da Política Nacional de Medicamentos e os diversos debates ocorridos


na época, levaram o governo federal à elaboração de uma nova proposta para a área,
que resultou na publicação da Portaria GM/MS nº 176, de 08 de março de 1999, que
estabeleceu critérios e requisitos para a qualificação dos municípios e estados ao Incentivo
à Assistência Farmacêutica Básica (IAFAB), passo inicial para sua descentralização, com
responsabilidades pactuadas entre as três instâncias gestoras do SUS (BRASIL, 1999a).

2 http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u81977.shtml

39
A descentralização da Assistência Farmacêutica Básica (AFB) aos municípios vinculou
o repasse financeiro à implementação das atividades relacionadas à reorientação da
mesma, entre elas, a de ampliar o acesso dos usuários do SUS aos medicamentos básicos,
promovendo seu uso racional.

Depois vieram a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), em 1999; a Lei dos
genéricos (Lei nº 9.787/1999); o Departamento de Farmácia Básica e Insumos Estratégicos
(2003) do Ministério da Saúde; e em 2004 a Política Nacional de Assistência Farmacêutica
– PNAF (Resolução nº 338/2004), como parte integrante da Política Nacional de Saúde
(PNS).

A PNAF explicitou a necessidade de qualificação dos serviços e dos recursos humanos, a


descentralização das ações, o acesso e a promoção do uso racional de medicamentos
como seus principais eixos estratégicos.

No Pacto pela Saúde (Portaria GM/MS nº 399) de 2006, foi reforçado o financiamento
compartilhado, contemplando a aquisição de medicamentos e também insumos da
saúde, bem como a execução das ações necessárias à operacionalização da AF.

Em 2007, a Portaria GM/MS nº 204, de 29/1/2007, definiu que o financiamento das ações e
dos serviços de saúde é de responsabilidade das três esferas de gestão do SUS.

Além disso, estabeleceu que a transferência de recursos federais para o respectivo custeio
ocorrerá na forma de blocos de financiamento, na modalidade fundo a fundo.

Os referidos blocos são os seguintes:


a) Atenção básica;
b) Atenção de média e alta complexidade ambulatorial e hospitalar;
c) Vigilância em saúde;
d) Assistência farmacêutica;
e) Gestão do SUS;
f) Investimentos na rede de serviços de saúde.

O bloco de financiamento da Assistência Farmacêutica é constituído por três componentes:


• Básico;
• Estratégico;
• Excepcional – hoje. Especializado (Portaria GM/MS nº 2.981/2009).

A AF ficou, então, organizada conforme sintetizado na figura a seguir.

40
Fonte: Elaboração própria

Destaca-se que no bloco estratégico encontra-se o controle de endemias como


tuberculose, hanseníase, malária, leishmaniose, chagas e outras doenças endêmicas
de abrangência nacional ou regional.

Em 2011 a Lei nº 12.401 regulamentou a assistência terapêutica e a incorporação de


tecnologias em saúde no âmbito do SUS.

No mesmo ano, o Decreto nº 7.508 regulamentou a Lei nº 8.080/1990. Sobre a AF, redefiniu
a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais – RENAME, o Formulário Terapêutico
Nacional e os PCDT - Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas.

A Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME), segundo estabelecido na


PNM, é base para a organização das listas estaduais e municipal e é utilizada como forma
de racionalizar as ações no âmbito da assistência farmacêutica (BRASIL, 1998).

A lista é um instrumento norteador da prática, servindo para orientar e subsidiar os


municípios, na elaboração das suas respectivas relações de medicamentos, e objetiva
promover disponibilidade, acesso, sustentabilidade, qualidade e uso racional de
medicamentos (WANNMACHER, 2006).

41
Mas o que são medicamentos essenciais? Segundo a Organização Mundial de Saúde -
OMS:

Medicamentos essenciais são aqueles que satisfazem às necessidades prioritárias de


saúde da população. Eles são selecionados considerando a relevância para a saúde
pública, evidências de eficácia e segurança, e a análise de custo-efetividade (WHO,
2002).”

O formulário terapêutico tem por objetivo orientar as escolhas terapêuticas para o uso de
medicamentos e deve apresentar informações embasadas em evidências científicas, como
indicação, contraindicação, precauções, efeitos adversos, interações medicamentosas,
armazenamento e orientações específicas direcionadas aos profissionais de saúde.

Já os protocolos de tratamento disponibilizam as informações essenciais de como


manejar as patologias, e são, particularmente, importantes quando abordam enfermidades
tratadas de maneira muito variada, possibilitando a minimização da variabilidade da
prescrição de medicamentos.

Em 2013, a Portaria nº 1.555 atualizou o regulamento do Componente Básico da AF e


definiu os novos valores mínimos per capita anuais de cada ente federativo. Como se vê,
tem havido esforço considerável na organização e normatização da AF.

Entretanto, essa é uma área cujo desempenho de gestão ainda é bastante deficiente:

A gestão da Assistência Farmacêutica se constitui em um dos maiores


desafios de governo, na área da saúde, devido ao seu alto custo e grau de
complexidade, que envolve aspectos assistenciais, técnicos, logísticos e
tecnológicos, aspectos culturais, políticos, econômicos e sociais, bem como
baixa qualificação dos serviços farmacêuticos, falhas nos componentes
constitutivos do Ciclo da Farmácia Básica, aumento crescente da demanda
de medicamentos pela população, escassez e má gestão dos recursos
públicos. (Bruns et al, 2014)

Um dos elementos que pode auxiliar no desenvolvimento da gestão da AF é a logística


de suprimentos. A logística adequada pode influenciar positivamente o acesso aos
medicamentos e insumos, melhorar a eficiência, o controle e o desempenho dos serviços
públicos de saúde (Vaz e Lotta, 2011).

A necessidade de melhorar a assistência farmacêutica pode ser evidenciado por diversos


estudos relacionados ao tema. A Organização Pan-Americana da Saúde, por exemplo,
avaliou a Assistência Fârmacêutica no Brasil e evidenciou a falta generalizada de

42
medicamentos nas unidades de saúde e almoxarifados centrais, falhas graves nos
controles de estoque, pela ausência de registros. (OPAS, 2005).

Outro estudo utilizou relatórios da CGU de 2004 a 2006 e verificou que 71% dos municípios
apresentaram “controle de estoque ausente ou deficiente”; 39% tinham “condições
inadequadas de armazenamento” e 23% não tinham medicamentos. (Vieira, 2008)

Pesquisa de Bruns e colaboradores (2014) analisou a Farmácia Básica de municípios da


Paraíba a partir de relatórios da CGU de 2003 a 2010. O Gráfico a seguir sintetiza os achados.

Situação similar foi evidenciada por Oliveira, Assis e Barboni (2010) em outro estudo.
Faltam medicamentos essenciais em muitos municípios brasileiros; a dispensação é feita
por servidores sem qualificação; a qualidade dos medicamentos é comprometida pelas
condições inadequadas de armazenamento.

Na mesma linha, o Banco Mundial avaliou a governança no SUS, afirmando que a


logística de medicamentos consome 20% dos recursos da saúde, podendo ser a causa
principal de ineficiências e perdas da área.

43
Aponta que a longa duração das licitações atrasa a execução do orçamento, resulta em
desabastecimento, dispensação deficiente, baixa qualidade/resolutividade dos serviços
ofertados, a suspensão desses serviços ou a realização de compras de emergência. Os
motivos mais comuns para a dispensa de licitação foram: atraso na licitação, emergência,
falta de propostas no certame, irregularidades ou ordem judicial (BANCO MUNDIAL, 2007).

Ainda no estudo do Banco Mundial, foi verificado que o principal motivo dos atrasos
nas compras estava relacionado com o processo licitatório em si: prazos pré-fixados,
burocracia, dificuldade em cumprir as exigências.

Quando atrasa a licitação, compra-se por emergência, em volumes pequenos e a preços


quase sempre maiores. São comuns os remanejamentos ou empréstimos de outras
unidades.

A gestão dos estoques é deficiente na maioria das secretarias e unidades de saúde devido
à infra-estrutura e controles inadequados. Atrasos e desabastecimento são comuns, e o
controle de qualidade é raro.

Esses problemas muitas vezes resultam na interrupção do serviço, reduzindo a qualidade


do atendimento.

Em 1/3 dos hospitais pesquisados, parte dos medicamentos existentes na farmácia não
é adequada aos tratamentos ministrados ou não são os usualmente prescritos pelos
médicos. Isso ocorre principalmente quando não existem formulários padronizados para
medicamentos, quando a padronização existente não é seguida pelos médicos, quando os
hospitais não são responsáveis diretamente pela aquisição dos medicamentos, ou quando
os médicos não são consultados para a escolha dos medicamentos a serem comprados.

Outro estudo que vale a pena citar é a pesquisa de Mayorga et al (2004). Os autores
apontaram os principais problemas encontrados em farmácias e pontos de dispensação
de medicamentos, sintetizados na tabela a seguir:

44
Fonte: Elaboração própria a partir de Mayorga et al (2004).

2.3 - Responsáveis
As responsabilidades pela gestão, estruturação, financiamento e organização de serviços,
desenvolvimento e capacitação de recursos humanos é de competência comum dos três
gestores do SUS (União, estados e municípios).
Os medicamentos são custeados pelas três esferas, devendo ser aplicados, segundo
a Portaria 155/2013, os seguintes valores mínimos: União, R$ 5,10 por habitante/ano;
Estados e Distrito Federal, R$ 2,36 por habitante/ano e Municípios, R$ 2,36 por habitante/
ano.
Os valores das contrapartidas estaduais e municipais definidos pela Portaria podem ser
majorados pelas pactuações nas Comissões Intergestoras Bipartite (CIB) de cada unidade
federativa.
Vamos fazer um pequeno exercício para quantificar o montante de recursos que o
município hipotético de Pantanal do Norte/MT deverá dispor para custear as ações da
assistência farmacêutica.
Considerando que a população do município é de 28.800 habitantes, segundo a estimativa
do IBGE, qual seria o orçamento anual desse município para a compra de medicamentos
do Componente Básico da Assistência Farmacêutica?

45
Confira o cálculo demonstrado a seguir:
Esfera Valor por Habitante Valor Total
Federal R$ 5,10 R$ 146.880,00
Estadual R$ 2,36 R$ 67.968,00
Municipal R$ 2,36 R$ 67.968,00
TOTAL - R$ 282.816,00
Dessa forma, o município terá o montante anual de R$ 282.816,00. Agora que já sabemos
que o financiamento do Componente Básico da Assistência Farmacêutica é tripartite, fica
mais fácil planejar qual é a previsão orçamentária e quanto realmente é possível gastar
com a aquisição de medicamentos do Componente Básico da Assistência Farmacêutica.
Segundo descrito na Portaria 3.916/1998, cabe ao gestor federal a implementação e a
avaliação da Política Nacional de Medicamentos (PNM).
Conforme disciplinado na Lei nº 8.080/1990, é de competência da direção estadual do
SUS, em caráter suplementar, formular, executar, acompanhar e avaliar a política de
insumos e equipamentos para a saúde.
Por sua vez, a Política Nacional de Medicamento também dispôs as seguintes
responsabilidades:

• coordenar o processo de articulação intersetorial no seu âmbito, tendo em vista a


implementação desta Política;

• promover a formulação da política estadual de medicamentos;

• prestar cooperação técnica e financeira aos municípios no desenvolvimento das


suas atividades e ações relativas à assistência farmacêutica;

• coordenar e executar a assistência farmacêutica no seu âmbito;

• apoiar a organização de consórcios intermunicipais de saúde destinados à


prestação da assistência farmacêutica ou estimular a inclusão desse tipo de
assistência como objeto de consórcios de saúde;

• participar da promoção de pesquisas na área farmacêutica, em especial aquelas


consideradas estratégicas para a capacitação e o desenvolvimento tecnológico,
bem como do incentivo à revisão das tecnologias de formulação farmacêuticas;

• investir no desenvolvimento de recursos humanos para a gestão da assistência


farmacêutica;

• definir a relação estadual de medicamentos, com base na Rename, e em


conformidade com o perfil epidemiológico do estado;

46
• orientar e assessorar os municípios em seus processos de aquisição de
medicamentos essenciais, contribuindo para que esta aquisição esteja consoante
a realidade epidemiológica e para que seja assegurado o abastecimento de forma
oportuna, regular e com menor custo;

• coordenar o processo de aquisição de medicamentos pelos municípios, visando


assegurar o contido no item anterior e, prioritariamente, que seja utilizada a
capacidade instalada dos laboratórios oficiais.

A PNM estabelece, ainda, algumas competências ao gestor municipal no tocante à


Assistência Farmacêutica:

• coordenar e executar a assistência farmacêutica no seu respectivo âmbito;


• associar-se a outros municípios, por intermédio da organização de consórcios,
tendo em vista a execução da assistência farmacêutica;
• promover o uso racional de medicamentos junto à população, aos prescritores e
aos dispensadores;
• treinar e capacitar os recursos humanos para o cumprimento das responsabilidades
do município no que se refere a esta Política;
• assegurar a dispensação adequada dos medicamentos;
• definir a relação municipal de medicamentos essenciais, com base na Rename, a
partir das necessidades decorrentes do perfil nosológico da população;
• assegurar o suprimento dos medicamentos destinados à atenção básica à saúde
de sua população, integrando sua programação à do estado, visando garantir o
abastecimento de forma permanente e oportuna;
• adquirir, além dos produtos destinados à atenção básica, outros medicamentos
essenciais que estejam definidos no Plano Municipal de Saúde como
responsabilidade concorrente do município;
• investir na infraestrutura de centrais farmacêuticas e das farmácias dos serviços
de saúde, visando assegurar a qualidade dos medicamentos;
• receber, armazenar e distribuir adequadamente os medicamentos sob sua guarda.

Dessa forma, as três esferas possuem competências próprias que devem ser
desempenhadas visando apoiar as ações de saúde na promoção do acesso aos
medicamentos essenciais e promover o seu uso racional.

47
2.4 - Análise do Contexto (Matriz SWOT3) -
Farmácia Básica
A análise do contexto refere-se ao entendimento do contexto e da evolução histórica do
programa farmácia básica e de seus riscos, a compreensão do ambiente interno e externo
que o programa está inserido para atingir seus objetivos, visando dar uma visão abrangente
de todos os fatores que podem influenciar a capacidade da farmácia básica de atingir seus
resultados esperados.

Nesse contexto, considerando que os parágrafos precedentes apresentaram o contexto e


evolução histórica do programa, destaca-se a seguir a análise do contexto interno e externo
de uma prefeitura hipotética para o programa, elaborado pelo autor deste material
apenas para fins didáticos do curso de gestão de riscos em logística de medicamentos:

Ambiente Interno Ambiente Externo


Forças Oportunidades
(O que o Programa Farmácia Básica tem (O que existe no ambiente externo que
de força, qualidade, virtude, talento ou pode ajudar o trabalho e a atuação do
de positivo? O que temos que ajuda na Programa Farmácia Básica? Existe algo
realização do trabalho e no atingimento que possa acontecer e afetar de maneira
dos objetivos? positiva?)
▶ Processos de trabalho padronizados ▶ Apoio da sociedade para melhoria da
no município; gestão e combate à corrupção;
▶ Servidores idôneos, comprometidos e ▶ Necessidade de aperfeiçoamento do
capacitados; controle social;
▶ Planejamento adequado de ▶ Clamor social por maior transparência;
abastecimento das Unidades Básicas de
▶ Necessidade de maior eficiência da
+ Saúde - UBS; Administração Pública;
▶ Comunicação clara entre o Almoxarifado
▶ Possibilidade de parcerias (consórcios,
Central, UBS e departamento de compras;
compras conjuntas, etc.) para aquisição
▶ Aquisição de medicamentos realizada de medicamentos;
de forma descentralizada (municípios);
▶ Diretrizes governamentais favoráveis
▶ Existência de estudos de perfil ao fortalecimento do programa;
epidemiológico e nosológico no
▶ Novas fontes orçamentárias;
município;
▶ Forte atuação das organizações da
▶ Veículos adequados para o transporte
sociedade civil na fiscalização da saúde.
dos medicamentos com climatização.

3 Do inglês – Strenghs, Weaknesses, Opportunities and Threats

48
Ambiente Interno Ambiente Externo
Fraquezas Ameaças
(O que o Programa Farmácia Básica tem (O que existe no ambiente externo que
de fraqueza, defeitos, dificuldades ou depode prejudicar o trabalho e a atuação
negativo? O que temos que atrapalha na do Programa Farmácia Básica? Existe algo
realização do trabalho e dos objetivos?) que possa acontecer e afetar de maneira
negativa os resultados esperados?)
▶ Falta de apoio político da Alta ▶ Crise financeira afetando os repasses
Administração para implementação de para os municípios;
controles em medicamentos;
▶ Aumento de demanda da população
▶ Ausência de incentivo (financeiro e não por medicamentos;
financeiro) para o aperfeiçoamento da
▶ Crescente judicialização da saúde;
gestão;
▶ Epidemiologia e sazonalidade;
- ▶ Falta recorrente de profissionais da
área de saúde (médicos, enfermeiros, ▶ Dispersão geográfica do público-alvo
farmacêuticos, etc.) do programa;
▶ Rotatividade de pessoal na área de ▶ Grandes disparidades regionais entre
saúde dos municípios; os municípios de Mato Grosso;
▶ Falta de um sistema para gerenciamento ▶ Atuação combinada dos fornecedores
do estoque de medicamentos; de medicamentos;
▶ Condições inadequadas de estocagem ▶ Complexidade da gestão, envolvendo
e armazenamento; as três esferas da federação.
▶ Perda e desvio de medicamentos por
servidores.

Fonte: Elaboração própria

Esse contexto evidencia que a atividade de logística de medicamentos é marcada por


pontos críticos de riscos em diversas etapas do processo.

2.5 - Planejamento da Assistência Farmacêutica


A assistência farmacêutica apresenta-se como um componente essencial dos sistemas
de atenção à saúde. É uma área estratégica, na medida em que o medicamento – e os
serviços farmacêuticos clínicos, que devem estar a ele associados –, está entre as principais
ferramentas de intervenção sobre grande parte das doenças e agravos que acometem a
população (CFF, 2015).

Além dessa importância técnica e assistencial, a assistência farmacêutica também se


constitui uma das áreas mais complexas do sistema de saúde sob a ótica econômica,

49
pois envolve grande volume de recursos nas três esferas de gestão e, ainda, possibilita
escolhas subjetivas nas prescrições. Portanto, é uma área sujeita a manipulações e fortes
interesses de mercado.

Dentre os desafios nesta área, merecem destaque a necessidade de ampliar o acesso das
pessoas aos medicamentos essenciais, com eficácia e segurança comprovadas, garantia
da sua qualidade, da humanização no atendimento, à luz do seu uso racional e da atenção
integral à saúde (CFF, 2015).

Portanto, seja pela sua relevância, seja pela sua complexidade em termos de desafios à
gestão, essa é uma área que demanda o uso intensivo de ferramentas do planejamento
para o enfrentamento e a resolução dos principais problemas.

Com o intuito de promover a atuação contínua, articulada, integrada e solidária das áreas
de planejamento das três esferas de gestão, foi criado o Sistema de Planejamento do
SUS - PlanejaSUS, no qual foram estabelecidos, de acordo com a Portaria 2.135/2013, os
três instrumentos básicos que dão expressão concreta a este Sistema: o Plano de Saúde,
a Programação Anual de Saúde e o Relatório Anual de Gestão (art. 2, da citada Portaria).

(a) Plano de Saúde

A Portaria nº 1.555/2013 exige, no Art. 15, que as ações, os serviços e os recursos


financeiros relacionados à Assistência Farmacêutica constarão nos instrumentos de
planejamento do SUS: Plano de Saúde, Programação Anual e Relatório Anual de
Gestão.

O Plano de Saúde é um importante instrumento de gestão que apresenta as intenções


e os resultados a serem buscados no período de quatro anos. É elaborado durante o
exercício do primeiro ano da gestão e começa a ser executado a partir do segundo ano
da gestão e essa execução dura até o primeiro ano da gestão seguinte. É a definição das
políticas e dos compromissos de saúde, formuladas a partir de uma análise da situação da
saúde, do modelo de gestão e das prioridades e estratégias de uma determinada esfera de
gestão, expressas em objetivos, diretrizes e metas (BRASIL, 2009).

A elaboração do Plano de Saúde deverá ser orientada pelas necessidades de saúde da


população, considerando: i) análise situacional, orientada, dentre outros, pelos seguintes
temas contidos no Mapa da Saúde: estrutura do sistema de saúde; redes de atenção à
saúde; condições sociossanitárias; fluxos de acesso; recursos financeiros; gestão do
trabalho e da educação na saúde; ciência, tecnologia, produção e inovação em saúde
e gestão; ii) definição das diretrizes, objetivos, metas e indicadores; e iii) o processo de
monitoramento e avaliação.

A Lei nº 8.080/90 dispõe sobre a necessidade de que União, estados e municípios elaborem

50
e atualizem periodicamente seus planos de saúde (revisados anualmente). A Lei nº
8.142/90 estabeleceu como condição para recebimento de recursos federais, dentre
outros, que os estados e municípios tenham plano de saúde. É importante que o plano de
saúde conte com um capítulo específico para assistência farmacêutica.

De acordo com o Decreto nº 7.508/2011, o Conselho Nacional de Saúde estabelecerá


as diretrizes a serem observadas na elaboração dos Planos de Saúde, conforme as
características epidemiológicas e na organização dos serviços nos entes federativos e nas
Regiões de Saúde (BRASIL, 2011a).

O Plano de Saúde deve ser aprovado pelo respectivo Conselho de Saúde e divulgado
aos setores da sociedade envolvidos com o tema, a fim de possibilitar o efetivo controle
social nesta área (CFF, 2011), disponibilizado em meio eletrônico no Sistema de Apoio ao
Relatório de Gestão (SargSUS), disponível em www.saude.gov.br/sargsus.

A falta do principal instrumento de planejamento da saúde do município é uma prática


comum no país, apesar da Lei Orgânica do SUS já ter completado 20 anos. No Levantamento
Operacional da Função Saúde (TC 002.088/2009-2) realizado pelo TCU esse problema foi
apontado e foi determinado ao Ministério da Saúde que adotasse “providências a fim de
que seja dado cumprimento, pelos entes federados, aos incisos I, III e IV do art. 4o da Lei
nº 8.142/1990”.

(b) Programação Anual de Saúde

A partir dos objetivos, das diretrizes e metas do Plano de Saúde, deve ser elaborada a
Programação Anual de Saúde, instrumento que operacionaliza as intenções expressas
no Plano. Nela são detalhadas as ações, as metas, os recursos financeiros e indicadores
para a avaliação, além das áreas responsáveis e parcerias necessárias para a execução das
ações, por meio das quais se pretende alcançar tais objetivos.

De acordo com a Portaria GM/MS 2.135/2013, a PAS deverá conter: i) a definição das
ações que, no ano especifico, garantirão o alcance dos objetivos e o cumprimento das
metas do Plano de Saúde; ii) a identificação dos indicadores que serão utilizados para
o monitoramento da PAS; e iii) a previsão da alocação dos recursos orçamentários
necessários ao cumprimento da PAS. O prazo de vigência coincide com o ano calendário.

A Programação, portanto, reúne o conjunto de iniciativas a serem implementadas pela


respectiva esfera de gestão em determinado ano. Sua elaboração deve ser coordenada
pela área de planejamento ou, caso não exista, por uma equipe designada para tal
(BRASIL, 2009).

Conforme a Lei Complementar 141/2012, os municípios deverão encaminhar a


Programação Anual de Saúde ao respectivo Conselho Municipal de Saúde, para
aprovação antes da data de encaminhamento da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)
do exercício correspondente.

51
A Programação Anual de Saúde é, assim, um instrumento destinado a servir de referência
para a construção do Relatório Anual de Gestão, delimitando o seu objeto. Deste modo, a
Programação Anual de Saúde e o Relatório Anual de Gestão representam (RAG) recortes
anuais do Plano de Saúde. Sendo a PAS o instrumento de previsão das ações e o RAG o que
descreve as ações efetivamente realizadas.

(c) Relatório Anual de Gestão

Por sua vez, o Relatório Anual de Gestão é o instrumento que apresenta os resultados
alcançados, apurados com base no conjunto de ações e indicadores, que foram definidos
na Programação para acompanhar o cumprimento das metas nela fixadas (BRASIL, 2006c).

A prestação de contas dos recursos da assistência farmacêutica é realizada por meio


do Relatório Anual de Gestão (RAG). A apresentação do RAG é precedida dos Relatórios
Quadrimestrais de Prestações de Contas, que são instrumentos de monitoramento e
acompanhamento da Programação Anual de Saúde - PAS.

Os Relatórios Quadrimestrais estão estabelecidos legalmente nos termos do Decreto nº


7.508/2011, da Resolução CIT/SUS no 05/2013 e da Portaria MS/GM nº 2.135, de 25 de
setembro de 2013, bem como em conformidade com o disposto no parágrafo 4 do artigo
36 da Lei Complementar no 141/2012, objeto da Resolução Conselho Nacional de Saúde -
CMS no 459, de 10 de outubro de 2012.

O Relatório de Gestão deve ser submetido à apreciação do Conselho de Saúde, que


poderá aprová-lo ou não, e encaminhá-lo à Secretaria Estadual de Saúde, à Comissão
Intergestores Bipartite e ao Ministério Público.

SargSUS

Para consulta o Plano de Saúde, Programação Anual de Saúde e Relatório Anual de


Gestão dos municípios de Mato-Grosso, consulte em: www.saude.gov.br/sargsus.

52
Fonte: TCU, 2015

A definição de instrumentos de planejamento, tais como os Planos de Saúde e as


Programações Anuais de Saúde, revela, desde a criação do SUS, a preocupação em
institucionalizar o planejamento como componente fundamental de gestão. O caráter
ascendente do planejamento, resgatado pelo Decreto nº 7.508/2011, mostra que a
construção do Plano de Saúde deve ser concebida a partir das necessidades locais.

Ademais, somente por meio do planejamento integrado em saúde é possível ofertar uma
atenção contínua e resolutiva à população e possibilitar que a assistência farmacêutica se
consolide como um sistema fundamental às redes de atenção no SUS.

Nesse contexto, no trabalho de avaliação dos controles internos realizado pelos


Controladores Internos em 127 municípios do Estado de Mato Grosso, no âmbito do
Programa APRIMORA, a existência de um planejamento municipal da assistência
farmacêutica ou Plano Municipal de Saúde – PMS com capítulo específico sobre assistência
farmacêutica foi avaliada da seguinte forma:

53
Fonte: TCE/MT, 2016

O item “0 – Inexistência do controle” indica inexistência completa do Plano Municipal de


Saúde - PMS com capítulo específico sobre assistência farmacêutica. O item “1 – controle
em desenvolvimento e/ou existente sem eficácia” indica que, mesmo existindo tais Planos,
não funcionam efetivamente ou estão em desenvolvimento. O controle pode até existir,
mas sua elaboração e utilização é muito falha.

Já o item “2 – controle existente, porém com falhas” sinaliza para um controle efetivamente
utilizado, bem desenhado, podendo ainda ter melhorias, aprimoramento. É o caso de
existir um PMS bem elaborado, mas ainda apresenta falhas e sua utilização pode ser
aprimorada.

Por fim, o item “3 – controle existente e não há falhas detectadas” é um controle forte,
indica que o PMS está contribuindo para o alcance dos objetivos do programa Farmácia
Básica. (O resultado completo da avaliação de controles internos na atividade de logística
de medicamentos dos municípios do Estado de Mato Grosso pode ser conferido no seguinte
link: http://www.tce.mt.gov.br/conteudo/sid/791).

2.6 - Organização da Assistência Farmacêutica


No que se refere à organização da Assistência Farmacêutica, o Manual de instruções
técnicas do Ministério da Saúde (BRASIL, 2006) afirma que a Farmácia Básica deve fazer
parte da estrutura organizacional formal da Secretaria de Saúde, com definições claras
das competências e níveis hierárquicos (item 4.5.1).

54
O Manual também recomenda a elaboração de
normas e procedimentos para todas as atividades:
Obras de referência
seleção, programação, aquisição, armazenamento,
(Ministério da Saúde, 2006)
recepção de medicamentos, controle, distribuição,
dispensação, prescrição etc. Uma vez elaborados,
“Planejar é preciso: uma
deve-se informá-los aos setores envolvidos.
proposta de método para
aplicação à Farmácia Básica”
Deve-se também abordar aspectos referentes às
questões administrativas, disciplinares, horários,
“Farmácia Básica na atenção
conduta e vestuário, entre outros. Os documentos
básica: instruções técnicas
do setor devem ser padronizados e identificados.
para sua organização”
É imprescindível, ainda, dispor de sistema de
informação eficiente, com uma base referencial de
informação e comunicação integrada, orientado para a gestão, produção, qualificação,
aporte gerencial e comunicação eficiente das informações de interesse à gestão.

Todas as informações - sejam as informais e as formais, as qualitativas e/ou as quantitativas


- são importantes e devem ser consideradas no processo de condução da gestão da
assistência farmacêutica.

Deve-se utilizar o conjunto delas e saber como cada uma é construída e como deve ser
interpretada, e como pode e deve, realmente, contribuir para o reconhecimento da
realidade com a qual lidamos e a qual gerenciamos.

Segundo Boing e Blatt (2011), os sistemas de informação em saúde (SIS) são bancos de dados
destinados a fornecer informações e estatísticas de interesse médico hospitalar, médico
ambulatorial, medicina pública, medicina investigativa (pesquisa e desenvolvimento).

Um SIS deve ser organizado como um instrumento de apoio à gestão de um Sistema de


Saúde e deve produzir informações que possibilitem: a avaliação de uma determinada
situação de saúde; a tomada de decisões sobre as respostas (ações) a serem
implementadas; o acompanhamento ou o controle da execução (eficiência e eficácia)
das ações propostas; a avaliação do impacto (efetividade) alcançado sobre a situação de
saúde inicial (FERREIRA, 1999).

Ter um sistema que permita a obtenção e a disponibilização de dados para os gestores


a respeito de financiamento, gasto, demanda, consumo e distribuição dos produtos nos
diversos níveis de gestão é um fator importante para uma faceta da gestão, que é a gestão
logística, conforme ponderado por Manzini (2013).

Sistemas de informação como o Hórus possibilitam que essa informação esteja


disponível, em tempo real, ao gestor, auxiliando-o na tomada de decisão, como descrevem
Costa e Nascimento Júnior (2012).

55
O Hórus - Sistema Nacional de Gestão da Assistência Farmacêutica – tem por objetivo
contribuir para a qualificação da gestão da assistência farmacêutica nas três esferas de
gestão da saúde, promovendo melhoria do atendimento nos serviços e da qualidade de
vida dos usuários.

Este sistema é ofertado pelo Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos


Estratégicos do Ministério da Saúde (DAF/MS) e foi concebido em 2009 para atender
as singularidades da gestão da assistência farmacêutica no SUS, por meio dos seus
componentes: básico, estratégico e especializado, além do Componente Indígena da
Assistência Farmacêutica.

A partir de abril de 2010, o Hórus passou a ser disponibilizado, por adesão, aos
municípios brasileiros. A adesão ao Hórus é estimulada e apoiada por equipe específica
do DAF/MS e se dá pelo cumprimento de algumas fases definidas: realização de um
cadastro de adesão; formalização da adesão ao sistema por meio da assinatura de um
Termo de Adesão; capacitação ofertada na modalidade a distância para os funcionários
que irão operar o Hórus; e disponibilização e implantação do Hórus, com a liberação de
senha para acesso.

Sem informação e sem organização, não há gerenciamento. Consequentemente, é difícil


desenvolver estratégias, implementar ações, intervenções ou ocorrer melhoria de serviço
com satisfação da equipe e usuários.

HÓRUS

Saiba como aderir ao sistema Hórus, acessando: http://www.saude.gov.br/horus

2.7 - Identificação dos Riscos


Para gerenciar riscos no programa farmácia básica, além de se ter conhecimento
aprofundado dos objetivos-chave da atividade, é necessário identificar os riscos
relevantes para então estabelecer quais controles internos a gestão precisa adotar para
evitar que esses riscos se materializem.
O processo de identificação de riscos tem como propósito conhecer quais riscos podem
influenciar o cumprimento dos objetivos que, caso ocorram, afetarão negativamente os
objetivos da farmácia básica e consequentemente os do Estado ou Município.
Como auxílio na etapa de identificação de riscos, para cada objetivo elencado, o gestor
responsável pelo levantamento pode formular questionamentos a respeito das situações
futuras que venham dificultar, impedir ou atrapalhar os resultados pretendidos.
Ao se preparar para uma viagem, por exemplo, é comum que a gente faça uma lista mental

56
– até intuitivamente, sem perceber – do que pode dar errado. Pode ser até uma lista escrita,
auxiliada por checklist ou outros instrumentos de gestão de viagens.
Há chances de problemas com o transporte, bagagem, medicamentos, clima, documentos.
Isso é identificação de riscos. E o que a gente faz a respeito é tratamento, geralmente por
meio de controles internos. Não adianta reclamar, a vida está cheia deles!
De modo semelhante ao que fazemos antes de viajar, um gestor pode adotar uma postura
sistemática de questionar os possíveis eventos futuros que impactarão os objetivos mais
relevantes da atividade de farmácia básica. Para ajudá-lo nessa tarefa, ele pode utilizar um
questionário, anotando respostas que representem ameaça possível:

ITEM DESCRIÇÃO
1. O que pode dar errado?
2. Como e onde podemos falhar?
3. Onde somos vulneráveis?
4. Quais ativos são mais relevantes?
5. Como podemos ser roubados ou furtados?
6. Como saber se estamos atingindo os objetivos?
7. Onde gastamos mais dinheiro?
8. Quais atividades são mais complexas?
9. Quais situações seriam ruins para nossa imagem?
10. Quais decisões exigem mais análise?
Além desse conjunto de perguntas, existem diversas técnicas que podem ser utilizadas
para identificação de riscos que afetam a realização dos objetivos. A escolha da técnica
mais adequada depende das particularidades de cada organização. Essas técnicas podem
ser utilizadas periódica ou continuamente.
Dentre as principais técnicas estão: questionários e pesquisas; entrevistas com
especialistas; brainstorming; seminários; análise do fluxo do processo; bow-tie;
auditorias; diagrama de causa e efeito; etc.
No caso da farmácia básica em um município, um Secretário de Saúde poderá utilizar os
seguintes documentos:
✓ Organograma e lotacionograma da área de assistência farmacêutica;
✓ Extrato de entrevista com médico, farmacêutico, enfermeiro e auxiliar de
enfermagem, membro do conselho municipal de saúde, etc.;
✓ Relatório de auditoria elaborado pela Controladoria-Geral do Município tratando
da avaliação da gestão da farmácia básica;
✓ Relatório de auditoria elaborado pelo TCE/MT, CGU, TCU e outros órgãos de controle
que tenham por objeto avaliação a atividade de assistência farmacêutica; e
✓ Documento online Riscos e Controle em Aquisições (RCA) mantido pelo TCU.

57
Com todas as informações, um Secretário de Saúde poderá realizar uma reunião de
brainstorming com seus colaboradores para identificar os principais riscos, suas causas e
consequências potenciais, gerando uma lista abrangente de riscos, baseada em eventos
que possam evitar, reduzir ou atrasar a realização dos objetivos.

Fonte: Elaboração própria do problema “falta de medicamentos”


Nesse contexto, considerando que os parágrafos precedentes apresentaram os principais
objetivos-chave da atividade, destaca-se a seguir os riscos relevantes identificados pelo
autor deste material apenas para fins didáticos do curso de gestão de riscos em logística
de medicamentos:
Formulário de Identificação de Riscos
ID Riscos Causas Consequências
R#01 Incompatibilidade entre Inexistência de Aquisição de medicamentos
a percepção do governo Plano Municipal de sem compatibilidade com as
com as necessidades da Saúde ações e serviços de saúde
população.
R#02 Incompatibilidade entre Inexistência de Não atingimento dos objetivos e
as metas, indicadores, Programação Anual das metas estabelecidas no PMS
ações e recursos de Saúde e os recursos orçamentários
financeiros, previstos necessários ao cumprimento
para o médio prazo (4 da programação anual.
anos) com de curso
prazo (1 ano).

58
Esses riscos devem ser vistos apenas como ponto de partida, cabendo aos jurisdicionados
identificar novos riscos de acordo com as particularidades de cada entidade tais como
tamanho da organização, natureza do negócio e a dispersão geográfica de suas atividades,
etc.

2.8 - Avaliação dos Riscos


Após a identificação dos riscos, é necessário avaliar as chances de cada um impactar os
objetivos da farmácia básica e por consequência, da entidade pública. E qual o tamanho
do estrago que o risco pode provocar se acontecer.

Os riscos são avaliados sob as perspectivas de probabilidade de ocorrência (frequência,


chance, possibilidade) e impacto (efeito que o risco pode trazer para a organização):

(...) a avaliação de riscos permite que uma organização considere até que
ponto os eventos em potencial podem impactar a realização dos objetivos.
Essa avaliação fundamenta-se em duas perspectivas – probabilidade e
impacto – e geralmente utiliza uma combinação de métodos qualitativos e
quantitativos (...) (COSO, 2007).

Neste momento, o gestor governamental terá o cálculo da magnitude do risco, identificando


a probabilidade e impacto e assim gerar uma compreensão sobre os riscos.

A avaliação pode ser feita de forma qualitativa, quantitativa ou combinada. Isso vai
depender do grau de detalhe que a organização requer e da natureza dos riscos avaliados,
especialmente se envolvem aspectos quantificáveis como dinheiro, tempo, produtos,
pessoas, instalações, eventos, pacientes, alunos, materiais.

A administração geralmente utiliza técnicas de avaliação qualitativa, quando os riscos


não se prestam à quantificação ou quando não existem dados quantitativos ou quando
a análise é muito cara. Tipicamente, técnicas quantitativas trazem maior precisão e são
mais utilizadas em atividades mais complexas e sofisticadas para complementar as
técnicas qualitativas (COSO, 2006).

Apresentamos a seguir exemplos de escalas qualitativas de probabilidade e impacto que


podem ser utilizadas no setor público para avaliação dos riscos.

Descrição Probabilidade Peso


Muito Baixa Evento extraordinário para os padrões conhecidos da gestão e
1
operação do processo.
Baixa Evento casual, inesperado. Muito embora raro, há histórico de
ocorrência conhecido por parte de gestores e operadores do 2
processo.

59
Descrição Probabilidade Peso
Média Evento esperado, de frequência reduzida, e com histórico de
3
ocorrência parcialmente conhecido.
Alta Evento usual, corriqueiro. Devido à sua ocorrência habitual,
seu histórico é amplamente conhecido por parte de gestores e 4
operadores do processo.
Muito Alta Evento se reproduz muitas vezes, se repete seguidamente, de
maneira assídua, numerosa e não raro de modo acelerado.
5
Interfere de modo claro no ritmo das atividades, sendo evidentes
mesmo para os que conhecem pouco o processo.

Descrição Impacto Peso


Muito Baixo Não afeta os objetivos 1
Baixo Torna duvidoso seu atingimento 2
Médio Torna incerto 3
Alto Torna improvável 4
Muito Alto Capaz de impedir alcance 5

A representação gráfica da probabilidade e do impacto de um ou mais riscos é chamada


de MAPA DE RISCOS.

O Mapa de Risco demonstra o grau de exposição de cada risco da atividade. Apresenta


a posição do cálculo da probabilidade versus a posição da avaliação do impacto, após a
aplicação da metodologia, e demonstra o resultado da avaliação do risco com base em
critérios de avaliação (COSO, 2006).

A seguir apresentamos um exemplo de Mapa de Riscos:

60
Dessa forma, cada risco estará situado em um dos 4 quadrantes (extremo, alto, médio ou
baixo), de acordo com as escalas de probabilidade e consequência utilizadas. O mapa de
riscos da atividade de logística de medicamentos elaborado apenas para fins didáticos do
curso se encontra na aula 06.

Como último critério de riscos, encontram-se as diretrizes para priorização do tratamento


de riscos cuja finalidade é auxiliar o gestor na avaliação da resposta mais adequada no
tratamento dos riscos.

A tabela a seguir contém as Diretrizes para Priorização do Tratamento de Riscos que pode
ser adotada pela gestão municipal.

61
Com base nas escalas citadas, o resultado da avaliação de riscos na atividade de
planejamento e organização da farmácia básica, realizado pelo autor do material
apenas para fins didáticos, está demonstrado na tabela a seguir:

Formulário de Avaliação do Risco Inerente


ID Riscos Probabilidade Impacto Nível Definição
Inexistência de Plano
Municipal de Saúde, levando
a Incompatibilidade entre a
percepção do governo com as
R#01 necessidades da população, 3 4 12 Alto
com consequente Aquisição
de medicamentos sem
compatibilidade com as ações
e serviços de saúde
Incompatibilidade entre as
metas, indicadores, ações e
R#02 recursos financeiros, previstos 3 3 9 Alto
para o médio prazo (4 anos)
com de curso prazo (1 ano).

Nos capítulos seguintes, utilizaremos a mesma metodologia e escalas (probabilidade e


impacto) apresentadas aqui.

62
ASSISTA AO VÍDEO

Na biblioteca do curso encontra-se disponível vídeo sobre fraudes na aquisição de


medicamentos. Não percam!

SAIBA MAIS

Para ler mais sobre o conteúdo que você aprendeu, acesse os seguintes documentos na
biblioteca do curso: (i) Assistência farmacêutica na atenção básica: instruções técnicas para
sua organização; (ii) Assistência Farmacêutica para gerentes municipais; (iii) Aquisição de
medicamentos para assistência farmacêutica no SUS: orientações básicas.

SÍNTESE

Nesta aula, vimos que a atividade de assistência farmacêutica é materialmente importante


(volume de recursos envolvidos), relevante (questão de interesse social) e com muitos
riscos que precisam ser gerenciados.

Estudamos que a saúde é um direito que se encontra gravado no art. 196 da Constituição
Federal de 1988, garantido por meio de políticas sociais e econômicas que visem à redução
do risco de doença e de outros agravos.

Vimos também que as responsabilidades pela gestão, estruturação, financiamento e


organização de serviços, desenvolvimento e capacitação de recursos humanos é de
competência comum dos três gestores do SUS (União, estados e municípios).

Além disso, discutimos a importância do Sistema de Planejamento do SUS, materializados


no Plano de Ação, Programação Anual de Saúde e Relatório Anual de Gestão, que dão
expressão concreta ao sistema. E aprendemos as principais orientações do Ministério da
Saúde para a correta organização da assistência farmacêutica.

Finalmente, concluímos a aula identificando e avaliando os principais riscos relacionados


com a etapa de planejamento e organização da assistência farmacêutica, com objetivo
de identificar o que pode dar errado e qual o tamanho do problema, para, a partir daí,
estabelecer controles internos eficazes para evitar que os riscos se materializem.

Na próxima aula, estudaremos as etapas do ciclo de assistência farmacêutica.

63
Aula 3: Ciclo da Farmácia Básica
O que é o ciclo da farmácia básica? Quais etapas fazem parte?

Existe alguma etapa fundamental para o sucesso do programa? Quais cuidados o


gestor deve adotar para executar as atividades com eficiência?

E na aquisição dos medicamentos, quais procedimentos devem ser observados


na elaboração do planejamento da contratação, seleção do fornecedor e gestão
contratual?

Para responder estas perguntas estudaremos, nesta aula, o ciclo da assistência


farmacêutica.

Aprenderemos que a assistência farmacêutica depende de operações logísticas para sua


execução, envolvendo todo o ciclo, que compreende as etapas de seleção, programação,
aquisição, armazenamento e dispensação de medicamentos.

Estudaremos, ainda, que a seleção é o eixo do ciclo de assistência farmacêutica, pois


todas as outras atividades lhe são decorrentes, sendo uma atividade responsável pelo
estabelecimento da relação de medicamentos.

Finalizaremos a aula conhecendo os principais requisitos para a programação de


compras, aquisição eficiente dos medicamentos, armazenamento adequado, distribuição
e dispensação dos medicamentos aos pacientes.

Todos prontos?

Então, vamos começar.

64
3 CICLO DA FARMÁCIA BÁSICA
Valorizando as ações de aquisição, armazenamento e distribuição, e
afastando a equipe de saúde, em especial o profissional farmacêutico, das
questões outras que integram a Farmácia Básica, desenvolveu-se, no Brasil,
uma visão fragmentada dos serviços quanto à questão dos medicamentos.
(Marin et al, 2003)

A Farmácia Básica depende essencialmente de operações logísticas para a sua execução,


envolvendo todo o Ciclo, constituído pelos processos: seleção, programação, aquisição,
armazenamento e dispensação de medicamentos, permeados por mecanismos de gestão,
aos quais podemos chamar de governança. (Bruns et al, 2014)

O ciclo da Farmácia Básica pode ser demonstrado na imagem a seguir:

Fonte: Elaboração própria a partir de Marin et al (2003) pg 130

Cada um desses processos envolve objetivos a serem alcançados, desdobrados em


operações a serem implementadas, que serão compostas de ações a serem executadas. E
cada objetivo pressupõe riscos que exigem controles.

65
3.1 - Seleção
A seleção é “o eixo do ciclo da Assistência Farmacêutica, pois todas as outras atividades
lhe são decorrentes. É a atividade responsável pelo estabelecimento da relação de
medicamentos, sendo uma medida decisiva para assegurar o acesso aos mesmos”
(BRASIL, 2007).

Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2006a):

“I. A seleção de medicamentos deve ser feita por uma comissão permanente
de profissionais de saúde, com conhecimentos especializados, por critérios de
essencialidade, qualidade e eficácia comprovada. Sua utilização deve ser obrigatória nos
serviços de saúde, especialmente pelos prescritores. Deve ser revisada periodicamente
e amplamente divulgada a todos os profissionais
de saúde.
RENAME
II. Devem constar todos os medicamentos que
serão usados nos serviços de saúde inclusive os Adotada desde 1964.
medicamentos eventualmente fornecidos pelo Seleção e padronização de
Ministério da Saúde. medicamentos e insumos
do SUS. Em 2018, são
III. Deve retratar o perfil epidemiológico local e
1098 produtos. Base para
possibilitar o atendimento dos principais problemas
a REMEME (Estadual) e
de saúde. Deve refletir as estratégias de cuidado e
REMUME (Municipal).
atenção definidas pelos gestores e implementadas
pelos serviços”.

O produto resultante da seleção é a Relação Municipal de Medicamentos (Remume).

A seleção é etapa inicial e uma das mais importantes do Ciclo. Determina todas as outras
atividades. O município tem a prerrogativa de selecionar os medicamentos para compor
o seu elenco, com base no perfil de morbimortalidade e nas prioridades estabelecidas.
Deve contemplar os preceitos do Uso Racional de Medicamentos e critérios baseados na
eficácia, na segurança, na qualidade e no custo do medicamento.

Para adequada seleção de medicamentos é essencial conhecer a população: número de


habitantes, distribuição etária, atividades econômicas, saneamento, moradia, escolaridade
e padrões socioculturais mais importantes. (Marin et al, 2003).

Com recursos escassos, priorizam-se os chamados medicamentos essenciais, que atendem


às necessidades sanitárias da maioria da população.

A seleção deve ser realizada por Comissão ou Comitê de Farmácia e Terapêutica


(CFT) ou Comissão de Padronização de Medicamentos, multidisciplinar, contemplando

66
profissionais de farmácia, medicina, enfermagem e outros, cujo conhecimento se fizer
importante como, por exemplo, especialidades médicas, odontologia, epidemiologia
e farmacologia clínica com o objetivo de estabelecer a REMUME, definindo o que será
disponibilizado pelo SUS para a Atenção Básica. É temerário que a seleção de medicamentos
seja feita apenas por uma pessoa, como ocorre na maioria dos municípios. É preciso que
as decisões sejam técnicas e tomadas em colegiado.

Nesse sentido, a Comissão de Farmácia e Terapêutica (CFT) é uma instância colegiada,


de caráter consultivo e deliberativo, que tem por finalidade selecionar medicamentos
essenciais a serem utilizados no sistema de saúde nos três níveis de atenção, além de
assessorar a gestão nas questões referentes a medicamentos. Em geral, é composta por
profissionais de saúde com várias formações, especialmente farmacêuticos, médicos,
enfermeiros e cirurgiões-dentistas (MARIN et al., 2003; MAGARINOS-TORRES et al., 2011;
CIPRIANO et al., 2011). Sugere-se que os membros pertençam ao próprio quadro da
instituição (MARIN et al., 2003).

Segundo Oliveira e colaboradores (2011), as comissões possuem outras atribuições


importantes na promoção do Uso Racional de Medicamentos - URM, como: elaboração
de documentos, como protocolos clínicos e terapêuticos, pareceres técnicos e científicos
e formulários terapêuticos; participação e estímulo à educação continuada sobre uso
racional; avaliação e monitoramento com definição de indicadores sobre o uso de
medicamentos.

Ainda, segundo os autores, a CFT também pode contribuir com as discussões sobre
judicialização do direito à saúde, elaborando pareceres técnicos sobre as solicitações de
medicamentos, promovendo debates, compondo câmaras técnicas e interagindo com
o Poder Judiciário, de forma a divulgar a lista de medicamentos essenciais e o processo
científico de sua elaboração.

É importante que a CFT esteja legalmente instituída por meio de documento legal,
assim como recomenda-se a regulamentação oficial dos objetivos, das atribuições e
responsabilidades da CFT, por meio de regimento, da mesma forma que se estimula a
capacitação e conscientização acerca das funções e dos papéis a serem desempenhados
pelos integrantes (MARIN et al., 2003, CIPRIANO et al., 2011).

A Resolução CFF no 449, de 24 de outubro de 2006, dispõe sobre as atribuições do


farmacêutico na CFT. Nela, estão definidas as atribuições do farmacêutico no âmbito
da CFT e indicada a função que o farmacêutico poderá ocupar, no desempenho de suas
atividades, isto é, o cargo de presidente, de secretário ou de membro efetivo (CFF, 2006).

A Resolução no 578, de 26 de julho de 2013, reitera a importância da participação ativa do


farmacêutico no processo de seleção de medicamentos, inserindo esta entre as atribuições
técnico-gerenciais do farmacêutico no SUS (CFF, 2013).

A REMUME, produto resultante da fase de seleção, deve ser elaborada com base

67
na RENAME, levando em consideração as características populacionais, perfil
epidemiológica e nosológico, de oferta de serviços do local e da complexidade do
atendimento fornecido, bem como devem ser atualizadas periodicamente, aprovadas
nos respectivos Conselhos de Saúde e pactuadas nas CIB.

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO: Estado de saúde de uma comunidade


PERFIL NOSOLÓGICO: Conjunto de doenças prevalentes e/ou incidentes em uma
comunidade (PNM 1998)

É importante que a definição da lista de medicamentos a ser adotada ocorra de


forma embasada em evidências e que conte com a participação do maior número de
representatividade de profissionais dos serviços. Assim, a seleção dos medicamentos
deve ser construída a partir experiência dos profissionais responsáveis por essa atividade,
levando em consideração dados técnicos que permitiriam mapear as doenças mais
recorrentes em determinado município.

Além das contribuições técnicas para a tomada de decisão sobre incorporações e


exclusões de medicamentos na lista, a participação promove legitimidade da lista junto
aos demais profissionais dos serviços de saúde – o que soma para a capacidade de fazer
da padronização uma prática nos serviços, de forma sustentável e incorporada na prática
de prescrição e uso de medicamentos na sociedade (MENDES, 2013).

A seleção exige esforço operacional e recursos que podem ser racionalizados por meio
da união de dois ou mais municípios com realidades sanitárias semelhantes, que
podem se associar para este fim específico. (Marin et al, 2003)

Um dos objetivos da seleção é reduzir o número de medicamentos gerenciados, o que


possibilita ganhos em várias atividades do Ciclo, como (Marin et al, 2003):
• racionalização e otimização dos recursos humanos, materiais e financeiros
necessários ao armazenamento e distribuição;
• redução das perdas e da imobilização desnecessária de capital, pois facilita a
atividade de programação e aquisição;
• redução dos preços ofertados pelos fornecedores, pois proporciona compra de
volumes maiores de um mesmo produto, gerando ganhos de escala.

Em 127 municípios do Estado de Mato Grosso, questionados sobre a elaboração da


Remume, a resposta foi a seguinte:

68
Fonte: TCE/MT, 2016

Percebe-se que em 56 municípios de um total de 127, a Remume simplemente não foi


elaborada, e em 25, mesmo elaborada, ainda apresenta diversas falhas ou a Remume é
sem eficácia.

Além disso, é importante que haja divulgação da Remume para os médicos das Unidades
Básicas de Saúde – UBS, para evitar que haja prescrição de medicamentos fora da relação
e que não estejam disponíveis nas farmácias dos municípios. Isso pode resultar na falta de
assistência para a população, que pode ser obrigada a comprar os medicamentos na rede
privada com recursos próprios, ou então inviabiliza seu tratamento, caso não possa arcar
com os custos dos fármacos.

A divulgação da Remume aos médicos nos municípios de Mato Grosso não é prática
comum. É o que demonstra o resultado da avaliação dos controles internos na atividade
de logística de medicamentos apresentado a seguir:

Fonte: TCE/MT, 2016

69
Outro importante desafio que tem se apresentado aos gestores e gerentes da assistência
farmacêutica é a judicialização do acesso aos medicamentos. Muitos estudos realizados
nos últimos dez anos apontam que os vazios assistenciais, associados à ineficiência na
logística de suprimentos, às preferências médicas por determinados medicamentos e às
manipulações de atores de mercado frente à fragilidade dessa área nas Secretarias, estão
entre as principais causas do grande aumento no número de ações e decisões judiciais
para medicamentos no Brasil (CHIEFFI; BARATA, 2009; GANDIN et al., 2011; NASCIMENTO,
2012; PEPE et al., 2010).

O direito à saúde, aí compreendida a assistência farmacêutica, tem status de direito


fundamental no ordenamento jurídico brasileiro e, como tal, merece e exige plena eficácia.
A atuação do Poder Judiciário em prol da efetivação dessa assistência é denominada
“judicialização da saúde”. Normalmente, justificada pela omissão e/ou ineficácia do
Estado na prestação da assistência médico-farmacêutica, este crescente fenômeno tem
representado um grande desafio aos gestores públicos e causado inúmeras distorções no
atendimento à saúde e nas políticas públicas instituídas. O resultado é a aplicação dos
recursos destinados às políticas integrais e universais para o atendimento às demandas
individualizadas (GANDIN, et al., 2011; MARQUES, 2008)

A intervenção judicial no âmbito da gestão pública pode ter efeitos positivos e negativos
na garantia do direito à saúde. Por um lado, ajuda na efetivação do acesso, quando o
Estado é ausente ou ineficiente, forçando os gestores a melhorar seus serviços. Por outro,
ao assegurar o atendimento de demandas individuais que infringem princípios como
equidade e integralidade, pode comprometer o orçamento da saúde ou, até mesmo,
prejudicar a efetivação de políticas públicas, sem necessariamente garantir a opção mais
racional e segura para o paciente (BARCELOS, 2010; CHIEFFI; BARATA, 2009).

Vários estudos realizados no Brasil sobre a judicialização da assistência farmacêutica


identificam um predomínio de demanda por medicamentos novos no mercado, de
alto custo unitário e protegidos por patentes. Esta mudança no perfil tem causado um
impacto importante e crescente nos gastos públicos para atendimento às ações judiciais
e promovido distorções no acesso equânime, princípio constitucional a ser garantido
(MESSEDER et al., 2005; CHIEFFI; BARATA, 2010; NASCIMENTO, 2012).

Assim, é importante que os municípios disponham de controle dos medicamentos


adquiridos em decorrência de decisões judiciais, de modo a promover a recomposição
ao erário municipal, quando do fornecimento por determinação judicial de medicamentos
de responsabilidade do estado ou da união, assim como possibilitar a atualização da
Remume.

Entretanto, a existência de controle de medicamentos adquiridos judicialmente não é


prática regular nos municípios de Mato Grosso, conforme pode ser evidenciado pelo
resultado da avaliação de controles internos internos de logística de medicamentos
apresentado a seguir:

70
Fonte: TCE/MT, 2016

3.2 - Programação
A programação “tem como objetivo garantir a disponibilidade dos medicamentos
previamente selecionados nas quantidades adequadas e no tempo oportuno para
atender as necessidades da população. A programação deve ser ascendente, levando em
conta as necessidades locais de cada serviço de saúde” (BRASIL, 2007).

Segundo o MS (BRASIL, 2006a), são requisitos da programação:


▶ dispor de dados de consumo e de demanda (atendida e não atendida) de cada
produto, incluindo sazonalidades e estoques existentes, considerando períodos de
descontinuidade;
▶ Sistema de informação e de gestão de estoques eficientes; perfil epidemiológico
local (morbimortalidade) – para que se possa conhecer as doenças prevalentes e
avaliar as necessidades de medicamentos para intervenção;
▶ dados populacionais; conhecimento da rede de saúde local (níveis de atenção
à saúde, oferta e demanda dos serviços, cobertura assistencial, infraestrutura,
capacidade instalada e recursos humanos);
▶ recursos financeiros para definir prioridades e executar a programação;
mecanismos de controle e acompanhamento.

A programação deve ter como alicerce uma boa gestão de estoques. Segundo Dias (1993),
os elementos de gestão de estoques são os principais parâmetros necessários à adequação,
aos interesses e às necessidades da quantidade nos estoques.

Constituem a própria gestão dos estoques e, por meio deles, são definidas as quantidades
a serem adquiridas, em intervalos de tempo compatíveis. Entre os elementos, o autor

71
destaca: consumo médio mensal, estoque máximo e mínimo, tempo de reposição, ponto
de pedido, giro de estoques.

É imprescindível um sistema de informações e gestão de estoque eficiente, para que a


programação possa ser realizada com base em dados confiáveis. (Marin et al, 2003).

A interação da programação com o sistema de estoques pode ser exemplificada pelo caso
da revisão do estoque para redução de custos adotada pelo Grupo Hospitalar Conceição
(GHC), do Rio Grande do Sul. O hospital adotou ferramentas e sistemas que evitavam
o aumento dos estoques a partir de requisição vinculada ao nível mínimo de produtos
armazenados. Além disso, foi realizado um levantamento para evitar a aquisição de
produtos que não tivessem movimentos há mais de seis meses e adotada uma prática de
redistribuição do excesso de estoque entre outras unidades hospitalares.

Outra medida para redução dos estoques adotada pelo GHC foi privilegiar a modalidade de
“registro de preços” prevista na Lei de Licitações. Nesse modelo o produto só é requisitado
no momento em que atingir o seu nível de estoque mínimo. (ENAP, 2002).

Uma situação de risco para a programação adequada são os “estoques de armário”,


que os usuários adotam para tentar contornar a falta de materiais no Almoxarifado Central.
As principais justificativas para essa prática são:
1) “já que quase nunca tem, quando tiver em estoque vamos pedir o máximo possível
(...)”;
2) “já que o Almoxarifado diminui as quantidades solicitadas, vamos pedir a mais para
vir o suficiente (...)”;
3) “já que o Almoxarifado demora tanto a entregar um pedido, vamos pedir apenas
uma ou duas vezes por ano, para garantir o suprimento no período(...)” (ENAP, 2002)

A solução dessa e de outras situações indesejadas na programação de medicamentos


depende da implantação de um sistema eficaz de gestão de suprimentos.

Mas essa tarefa não pode ser atribuída a um setor isoladamente. Exige a participação de
todos os setores da organização. Não há chance de sucesso se as decisões não envolverem
os usuários cujas necessidades devem ser satisfeitas (ENAP, 2002).

É preciso, assim, superar o conhecimento fragmentado da instituição com a promoção


da interação dos seus componentes e da integração das áreas fim e meio, abrindo
possibilidades para uma gestão eficiente de todo o processo. (ENAP, 2002)

A decisão sobre alocação de estoques é uma das mais conhecidas decisões logísticas.
Manter estoques significa um conjunto de custos que não agregam valor. Mas não mantê-
los pode significar deixar de atender a uma demanda, com altos impactos negativos para
a organização (Christopher, 2007 apud Vaz e Lotta, 2011).

72
A primeira pergunta sobre alocação de
Uma programação eficaz estoques é: “quanto manter estocado?”. As
garante a disponibilidade respostas implicam a definição de estoques
dos medicamentos nas mínimos ou de segurança e pontos de pedido
quantidades adequadas e no ou reposição. Outra pergunta é “centralizar ou
tempo oportuno para atender descentralizar?”. (Vaz e Lotta, 2011).
à demanda da população,
com base na lista oficial de Essas decisões envolvem custos, com estocagem
medicamentos básicos. e armazenamento, transporte, controles.
Produtos que demandam condições especiais
[As] deficiências neste de armazenagem, incluindo conservação e
componente de gestão podem segurança, como vacinas, medicamentos
concorrer para aumentar controlados, termolábeis, devem ter seus
os riscos de desperdício estoques minimizados e centralizados.
e de desabastecimento,
comprometendo todos os Outro critério é a previsibilidade do consumo.
demais componentes do Ciclo Em situações em que o consumo é pouco
da Farmácia Básica, resultando previsível, é mais aconselhável manter
em sérios transtornos à estoques descentralizados. (Vaz e Lotta, 2011)
população, pela falta de acesso
aos medicamentos de que Também é preciso considerar os riscos
precisa. (Bruns et al, 2014). associados à falta de itens em estoque:
quanto maior o risco, mais importante a
descentralização.

Neste ponto é central a discussão sobre o tempo de reposição, ou seja, quanto tempo é
necessário para repor o medicamento e os insumos de saúde e qual a necessidade dessa
reposição.

73
Fonte: Elaboração própria

No setor público, o tempo de reposição deve considerar processos burocráticos como a


realização de licitações, fluxos de requisição, empenho, comunicação com o fornecedor,
prazos de entrega, fatores que dificultam a reposição (Vaz e Lotta, 2011).

A distribuição de medicamentos de baixa densidade de custos tende a utilizar estoques


descentralizados nas unidades básicas de saúde. Já a distribuição de medicamentos de
alto custo e de doenças de menor incidência tende a apoiar-se em estoques centralizados.
(Vaz e Lotta, 2011)

É essencial, portanto, conhecer o tempo médio de reposição dos medicamentos e insumos


e os estoques de segurança desses produtos. Para isso, informação é imprescindível.

Existem várias formas para que se possa realizar o controle de estoque: de forma manual,
através de fichas de prateleiras, de formulários, relatórios de acompanhamento, por meio
de sistema informatizado, entre outros. Para que se possa ter confiabilidade e maior
segurança das informações, deve-se adotar um duplo controle no seu acompanhamento
(Marin et al., 2003).

Os dados de consumo obtidos, normalmente, são aqueles relacionados à distribuição,


sem que haja avaliação da demanda real (atendida e não atendida), aos períodos de
desabastecimento, aos estoques existentes (inventário) (Marin et al, 2003).

74
Fonte: Elaboração própria a partir de Marin et al (2003) pg 130

Além da informação precária de estoques e demanda, a baixa capacitação técnica é um


grande entrave na qualidade do processo de programação. A carência de conhecimentos
técnicos aliada à falta de atitude pró-ativa compromete o desempenho dessa atividade.

Tempo de reposição e estoque de segurança

Observando as fases da licitação (requisição mais objeto, pesquisa de mercado,


previsão orçamentária, elaboração do edital, prazo legal, habilitação, julgamento,
adjudicação, homologação e contrato), com os devidos tempos de recursos,
pode-se estimar o tempo mínimo da concorrência (sem considerar os atrasos
administrativos) em aproximadamente 90 dias.

Assim, a requisição de compra deve ser emitida três meses antes do final do
estoque. A principal consequência dessa demora será observada no tamanho do
estoque de segurança para suportar as variações de demanda durante esse longo
período. Esse tipo de estoque deverá ser, em geral, maior do que aquele observado
nas empresas privadas. (Costa, 2000)

A programação envolve diversos elementos, ações, fontes de informação, tomadas de


decisão. A figura a seguir apresenta os principais elementos do processo.

75
Fonte: Marin et al (2003), adaptado da Opas (1990).

Para definir a quantidade a ser adquirida é necessário conhecer a demanda de consumo.


O método mais adotado é do consumo histórico. Para aplicação do método, devem
existir registros de movimentação de estoques, dados de demanda real (atendida e não
atendida), de inventários com dados históricos de, pelo menos, 12 meses, incluídas as
variações sazonais.

Com esses dados, consolida-se a demanda real, desde que não ocorram faltas prolongadas
de medicamentos e que as informações fornecidas sejam confiáveis. De resto, estima-se a
necessidade sempre tendo em vista a posição dos estoques, como em qualquer método.
Se ocorrer falta de medicamentos por um período de tempo, deve-se fazer o ajuste do
consumo. Para obter uma efetiva programação por consumo histórico, faz-se necessário

76
que as informações de consumo sejam consistentes e confiáveis. (Marin et al, 2003).

Fonte: Marin et al (2003)

Além do consumo histórico, outros métodos existem para estimar as necessidades de


medicamentos e insumos de saúde, como sintetiza o quadro a seguir.

77
Fonte: Adaptado de Marin et al (2003) que adaptaram de MSH (1997)

O Consórcio Paraná Saúde tem um Procedimento Operacional Padrão (POP) específico


para a atividade de Programação, com objetivo de fixar procedimentos para a correta
programação de medicamentos pelo município, de maneira que não haja faltas ou
excessos de medicamentos, e nem perdas devido a prazo de validade expirado. Pode
servir de modelo para as Prefeituras.

No trabalho de avaliação de controles internos da atividade de logística de


medicamentos nos municípios de Mato Grosso, a existência de critérios técnicos
para realização da programação de compras apresentou o seguinte resultado:

78
Fonte: TCE/MT, 2016

3.3 - Aquisição
A aquisição “consiste num conjunto de procedimentos pelos quais se efetiva o processo
de compra dos medicamentos, de acordo com uma programação estabelecida, com o
objetivo de suprir necessidades de medicamentos em quantidade, qualidade e menor
custo-efetividade e manter a regularidade do sistema de abastecimento” (BRASIL,
2006a).

A compra envolve diferentes setores técnicos e administrativos e exige permanente


qualificação, considerando os aspectos jurídicos (cumprimento das formalidades legais),
técnicos (atendimento às especificações técnicas), administrativos (cumprimento dos
prazos de entrega) e financeiros (disponibilidade orçamentária e financeira e avaliação do
preços de mercado).

Além da observação dos aspectos legais, a compra de medicamentos deve considerar


outros relacionados ao planejamento e às estratégias de compra. Por exemplo, municípios
de menor porte podem se beneficiar quando as compras são feitas em maior escala, que
aumenta o poder de negociação e barateia os custos. Além disso, os gestores podem se
beneficiar da infraestrutura proporcionada por essa forma de aquisição.

Maior volume de compras desperta maior interesse dos fornecedores, amplia a


concorrência, potencializa redução de preços e atrai fornecedores de maior porte.

Assim, recomendam-se mecanismos que possibilitem a ampliação da escala de


compras pela adoção de compras consolidadas, seja por meio de aquisições para um
período maior de tempo – para 12 meses, por exemplo –, seja por meio de associações ou
consórcios entre várias instituições, processando as compras em conjunto. (Marin et al,
2003)

79
Um exemplo de consórcio de logística em saúde é o Consórcio Paraná Saúde, criado em
1999 e que congrega 98% dos municípios paranaenses, realizando a gestão de compras de
medicamentos e insumos comuns.

Na maioria das vezes, os profissionais responsáveis pelo processo de aquisição nas


instituições de saúde são oriundos das áreas de administração e/ou do direito. Por isso,
não conhecem as peculiaridades do setor farmacêutico, podendo desconsiderar alguns
aspectos técnicos importantes.

Assim, caso não haja uma interlocução efetiva com a gerência da Farmácia Básica, corre-se
o risco de que os processos de aquisição de medicamentos sejam conduzidos e orientados
apenas pelos rigores burocrático-administrativos, fiscais, econômico-financeiros e
jurídicos, descuidando-se da agilidade processual e de aspectos técnico-sanitários que
são de extrema importância à aquisição desse produto tão peculiar: o medicamento.

Portanto, para o bom desenvolvimento dessa atividade, necessita-se de conhecimentos


específicos e boa interface naquilo que se refere aos recursos humanos envolvidos no
processo. (Marin et al, 2003).

É importante conhecer as diferenças entre o modelo de compras do setor privado e do


setor público. O quadro a seguir sintetiza o comparativo.

PARÂMETRO COMPRAS PRIVADAS LICITAÇÃO


- Centrado no fornecedor - Centrado no produto
- Negociação - Cotação
SELEÇÃO DE
FORNECEDORES - Possibilidade de parcerias - Impossibilidade de parcerias
- Base no custo do ciclo de vida - Base no preço

AVALIAÇÃO DOS - Facilidade de usar como critério - Dificuldade de usar como critério
FORNECEDORES fornecimentos passados fornecimentos passados
CUSTO DE - Pequenos custos de pedidos, - Grandes custos de pedidos, alto
PEDIDOS parcerias fazem tender a zero. custo de vendas para o fornecedor.
- Pequenos lotes de compras - Grandes lotes de compras
TAMANHO DO
LOTE DE COMPRA - Entregas constantes (JIT) - Entregas constantes só com Registro
de Preços ou Padronização
- Pequeno - Grande
- Tende a zero com os sistemas - Processo obedece à lógica
TEMPO DE
eletrônicos, Kanban e JIT cronológica
REPOSIÇÃO
- Apelação jurídica dos participantes
pode estender ainda mais
- Centrada na qualidade, entrega, - Centrada no preço
PREÇO E
serviços, preços, tempo de vida
CONCORRÊNCIA
do produto.

80
PARÂMETRO COMPRAS PRIVADAS LICITAÇÃO
- Especificação mais flexível - Comprador fornece especificação
- Fornecedor pode participar do formal no início do processo de
ESPECIFICAÇÃO projeto do produto (JIT) compra que tende, em regra, a ser
DO PRODUTO seguida rigorosamente.
- Modificação na especificação
com curva de aprendizado de
fabricação
- Pode ser no próprio fornecedor, - Dificuldade de trabalhar com
INSPEÇÃO DE qualidade garantida (JIT) qualidade garantida
QUALIDADE - Inspeção de recebimento feito - Recebimento feito por uma
pelo C.Q. "comissão"
- Longa duração (JIT) - Curta duração
- Flexível na especificação do - Na prática, mais rígido
produto - Especificação formal
CONTRATOS - Incorpora melhoria técnica e - Difícil incorporar melhorias técnicas
qualidade
- Difícil trocar informação técnica
- Modificações por negociação
- Troca de informação técnica
- Pequeno nível de formalismo - Grande nível de formalismo, tudo
CONTROLE SOBRE - Controle "genérico" sobre a deve ser documentado
A FUNÇÃO função - Controle sobre cada processo

Fonte: Costa (2000)

Tendo em vista as características próprias das compras públicas é importante abordar os


principais aspectos legais que influenciam a logística de medicamentos.

1) Elaboração do Projeto Básico ou Termo de Referência – TR


Uma licitação só pode ser realizada com especificação clara do que se pretende contratar.
É o que se chama de Projeto Básico, definido como o conjunto de elementos necessários e
suficientes para caracterizar o objeto, que possibilite a avaliação do custo e a definição dos
métodos e do prazo de execução (conforme art. 6º, inciso IX, da Lei 8666/93). No Pregão,
adota-se a expressão Termo de Referência –TR, mas o conceito é exatamente o mesmo.

O Projeto Básico/Termo de Referência para aquisição de medicamentos é o documento


que propicia à Administração conhecimento pleno do objeto que se quer licitar, de forma
detalhada, clara e precisa. Deve proporcionar ao licitante as informações necessárias à
elaboração de sua proposta.

81
Nenhum órgão ou entidade pública comprará sem a adequada caracterização de
seu objeto, devendo observar-se, para sua realização, a especificação completa e
a definição da quantidade e preço do bem a ser adquirido. Acórdão TCU 648/2007
Plenário (Sumário)

Dessa forma, após o recebimento da programação de compra, o setor responsável pela


aquisição de medicamentos consolidará as informações em um projeto básico ou termo
de referência, que irá conduzir o processo de compra.

Assim, devem constar no projeto básico ou TR itens como:

A – Objeto da compra

No caso da logística de medicamentos, trata-se dos medicamentos inerentes à farmácia


básica.

É recomendado que as Entidades padronizem as especificações medicamentos utilizados


para atendimento do programa farmácia básica, com objetivo de promover maior eficiência
nas contratações, evitando aquisição de produtos ruins dada uma especificação malfeita;
repetição de erros; perda de economia de escala, ante a impossibilidade de contratação
conjunta; multiplicidade de esforços para realizar contratações semelhantes, etc.

Como regra, o setor público deve utilizar padrões nos processos de aquisições públicas,
conforme se depreende dos seguintes dispositivos da Lei nº 8.666/1993:

Art. 11. As obras e serviços destinados aos mesmos fins terão projetos
padronizados por tipos, categorias ou classes, exceto quando o projeto-
padrão não atender às condições peculiares do local ou às exigências
específicas do empreendimento.

(...)

Art. 15. As compras, sempre que possível, deverão:

I - atender ao princípio da padronização, que imponha compatibilidade de


especificações técnicas e de desempenho, observadas, quando for o caso,
as condições de manutenção, assistência técnica e garantia oferecidas;

II - ser processadas através de sistema de registro de preços;

Outro ponto de sustentação da necessidade de padronizar as aquisições para a


Administração Pública é o princípio da eficiência, uma vez que a contratação por padrões
favorece a constituição de atas de registros de preços para contratações conduzidas por

82
meio de planejamentos conjuntos (art. 3º, III, do
Decreto 7.892/2013), o que favorece a racionalização
DENOMINAÇÃO GENÉRICA
do esforço administrativo nas contratações, além da
economia de escala (Acórdão TCU nº 2622/2015 –
Denominação Comum
Plenário).
Brasileira (DCB) identifica
o princípio ativo do
A caracterização precisa, completa e adequada
medicamento.
do objeto é condição essencial para validade do
processo licitatório, segundo o disposto nos artigos
Nome oficial do fármaco, que
14 e 40, inciso I, da Lei 8.666/1993, bem como no art.
permite reconhece-lo.
3º, inciso II, da Lei 10.520/2002, quando se tratar de
pregão. Ex: Captopril, amoxicilina
A jurisprudência do Tribunal de Contas da União,
expressa na Súmula/TCU 177, é de que a definição
precisa e suficiente do objeto licitado constitui regra indispensável da competição, até
mesmo como pressuposto do postulado de igualdade entre os licitantes, do qual é subsidiário
o princípio da publicidade, que envolve o conhecimento das condições básicas da licitação
pelos concorrentes potenciais. São nesse mesmo sentido os Acórdãos: 1.041/2010-TCU-
Plenário, 168/2009-TCU-Plenário, 926/2009-TCU-Plenário, 1.746/2009-TCU-Plenário,
2.927/2009-TCU-Plenário, 6.349/2009-TCU-2a Câmara e 157/2008-TCU-Plenário.

É relevante destacar, ainda, que o TCE/MT passou a exigir dos fiscalizados a padronização
de todos os materiais e serviços a partir de 2017, para serem informados no Sistema
APLIC, por meio do Catálogo de Materiais e Serviços para Licitações (Comunicado Aplic
nº 25/2016, de 20/12/2016). Dessa forma, essa boa prática passou a ser uma obrigação
para os jurisdicionados do TCE/MT.

A padronização implica a definição de uma lista de materiais e medicamentos comprados


com frequência, definindo especificação, volume, unidade de fornecimento, embalagem.
Isso reduz o número de itens e tipos de embalagens, e simplifica a gestão de estoque. É
tarefa que interage diretamente com a seleção e a programação.

A Lei nº 9.787/1999 determina que a prescrição e a compra de medicamentos no SUS


adotarão obrigatoriamente a Denominação Comum Brasileira (DCB) ou, na sua falta, a
Denominação Comum Internacional (DCI), sendo que o medicamento genérico, quando
houver, terá preferência em condições de igualdade de preço.

O Ministério da Saúde determina que os medicamentos sejam referenciados nas licitações


com o seguinte: Princípio ativo do medicamento (ex: Amoxicilina); Composição (opcional);
Concentração (obrigatória, ex: 500mg); Forma farmacêutica (obrigatória, ex: cápsula,
comprimido).

A unidade de fornecimento é definida pela menor unidade de compra possível. Sendo


assim, embalagens secundárias não são incluídas (como caixas, fardos, blisteres e etc.).

83
Para medicamentos em pó e em soluções, a unidade de fornecimento é a embalagem
primária, definida pelo frasco, ampola, bisnaga e assim por diante, seguidas pelo volume
ou peso, conforme a apresentação do medicamento. (BRASIL, 2011).
É comum, entretanto, encontrar especificações imprecisas, sem padrão, confusas e mesmo
inexistentes. Há casos de descrições de embalagens que sequer existem no mercado:
caixas com 1000 ampolas, 1000 frascos, 1000 pacotes, quando os produtos possuem, no
máximo, caixas de 100 unidades. Isso pode contribuir para confundir o mercado e dificultar
a comparação de preços e a operacionalização das compras.
Apresentam-se exemplos de especificações corretas e incorretas em compras, como
ilustração do tipo de erro comum em licitações de medicamentos e equipamentos de
saúde.
Quadro 5: Exemplo de especificação correta e incorreta de equipamento

Incorreto:
Estufa em aço inoxidável, termostato regulável até 300º C e termômetro
Correto:
Estufa de secagem e esterilização de material em aço inoxidável, porta com isolamento
hermético, isolamento em lã de vidro de no mínimo 8 cm, elementos aquecedores em fio
cromo níquel, termostato automático regulável até 300º C, prateleiras graduadas e dispositivo
giratório do porta termômetro, corrente de 110/220 – 50/60 ciclos, potência de 5 kw,
dimensões internas 50 x 40 x 50 cm. Acompanha termômetro de mercúrio, com máxima de 400
e mínima de 50 ºC
Fonte: Bueno (1999) apud Marin et al (2003) pg 83

Quadro 6: Exemplo de especificação correta e incorreta de medicamento

Incorreto:
Azitromicina suspensão. Caixa.
Correto:
Azitromicina 40 mg/mL (600 mg), pó para suspensão oral, frasco com 15 mL após
reconstituição, com lacre de segurança + diluente + seringa dosadora acondicionados dentro
da embalagem secundária, embalagem individual em cartucho ou com no máximo 60 frascos,
em embalagem primária e secundária, de acordo com a publicação do registro no Ministério da
Saúde.
Fonte: elaboração própria

Outro exemplo de falta de padrão descritivo é a compra de Soro Fisiológico. São comuns
especificações que utilizam denominações como “soro”, “soro fisiológico”, “solução
fisiológica”, “cloreto de sódio”, “NACL (cloreto de)”.
Para evitar essas situações, o Governo Federal adota um catálogo padronizado de compras,
o CATMAT, que é utilizado no sistema Comprasnet, no Banco de Preços e no sistema
Hórus.

84
O objetivo do CATMAT é estabelecer um
catálogo de referência nacional para
Banco de Preços em Saúde (BPS)
compras dos insumos utilizados na área
de Saúde Pública com linguagem única e
Registra os preços pagos por
padronizada para descrição de materiais,
medicamentos e produtos da área
favorecendo a gestão de materiais, a
da saúde, adquiridos por instituições
comparação de preços, a racionalização
públicas e privadas.
de procedimentos. Os medicamentos
do CATMAT foram descritos seguindo Há determinações do TCU para tornar
a Denominação Comum Brasileira, obrigatória a alimentação do BPS.
obedecendo a Lei nº 9.787/1999. Acórdãos 3491/2010-2C e 661/2010-P
O CATMAT é ferramenta obrigatória e 1457/2009-2C.
para todos os órgãos federais e de uso
facultativo de qualquer órgão público. Os
itens estão agrupados e classificados em grupos e classes, de acordo com sua natureza
física e aplicação. A Classe 6505 é de “drogas e medicamentos”; A classe 6515 agrega
“instrumentos, equipamentos e suprimentos médicos e cirúrgicos”. Um item do CATMAT
tem código alfanumérico de 7 dígitos. Ex: BR0367755.
As codificações e descrições do CATMAT estão disponíveis no Sistema Banco de Preços
em Saúde, como padrão de produtos disponibilizados aos usuários, de modo que todos
tenham acesso a uma lista de itens com especificação padronizada, o que possibilita a
utilização de uma linguagem única para comparação de preços entre produtos idênticos.
Embora obrigatória, essa não é a regra nos municípios de Mato Grosso. Na avaliação
de controles internos realizada pelos Controladores em 127 municípios, em resposta à
pergunta se “a prefeitura padronizou as nomenclaturas e unidades de fornecimento
dos medicamentos para aquisição por meio de processos licitatórios”, o resultado foi o
seguinte:

Fonte: TCE/MT, 2016

85
B – Justificativa

Toda aquisição de bens e contratação de serviços deve ser fundada em real necessidade,
devidamente demonstrada nos autos do processo administrativo, em estrita observância
ao princípio da motivação.

A exigência de expressa motivação, mediante demonstração objetiva e fundamentada


da necessidade da contratação, decorre de expressa disposição legal (art. 2º, da Lei nº
9.784/99; Inciso I, do art. 3º, da Lei nº 10520/02 e art. 15, I, “a”, da IN nº 02/2008).

Na justificativa, podem constar elementos como: relação entre a contratação e o


planejamento existente; benefícios diretos e indiretos da contratação; demonstração dos
resultados a alcançar; etc.

Essas justificativas devem constar inclusive para processos de dispensa e inexigibilidade


de licitação, contendo a clara demonstração de ser a opção escolhida, em termos técnicos
e econômicos, a mais vantajosa para a administração, consoante determina o art. 26,
parágrafo único, da Lei nº 8.666/1993 (Acórdãos 952/2010-TCU-Plenário, 5.319/2009-TCU-
2a Câmara, 5.478/2009-TCU-2a Câmara, 5.736/2009-TCU-1a Câmara, 2.471/2008-TCU-
Plenário, 2.545/2008-TCU-1a Câmara e 2.643/2008-TCU-Plenário).

Nessa situação (contratação direta), deve existir, ainda, a devida justificativa da escolha
do fornecedor e do preço do produto adquirido ou do serviço contratado, nos termos do
artigo 26, parágrafo único, incisos II e III, da Lei nº 8.666/1993. (Acórdão TCU nº 125/2005
Plenário e Decisão 745/2002 Plenário).

Para justificar o preço em contratações diretas (art. 26, parágrafo único, inciso III, da Lei
8.666/1993) deve ser realizada, preferencialmente, mediante:

(i) no caso de dispensa, apresentação de, no mínimo, três cotações válidas de empresas do
ramo, ou justificativa circunstanciada se não for possível obter essa quantidade mínima;

(ii) no caso de inexigibilidade, comparação com os preços praticados pelo fornecedor


junto a outras instituições públicas ou privadas. (Acórdão TCU nº 1565/2015 – Plenário e
Orientação Normativa AGU nº 17/2009).

C – Estimativa de Preço

No processo de planejamento da aquisição de medicamentos, a administração deve


apresentar ampla pesquisa de preços, tendo em vista a necessidade de verificar os preços
praticados no mercado e se os recursos financeiros disponíveis permitirão o atendimento
planejado.

Há vários dispositivos legais que exigem esse orçamento prévio, sem o qual a licitação é
considerada anulável (Lei 8.666/93, art. 15, § 1º; Lei 10.520/01, art. 3º, III; Decreto 3555/00,
art. 8º, § 2º, II; etc.).

86
É a pesquisa de preços, portanto, que vai fundamentar o julgamento da licitação, definindo
o preço de referência. O preço de referência dá suporte ao processo orçamentário da
despesa, define a modalidade de licitação – nos casos previstos na Lei nº 8.666/93 –
fundamenta os critérios de aceitabilidade de propostas, define a economicidade da
aquisição, justifica a compra no sistema de registro de preços.

A atribuição de realizar pesquisa de preços, tendo em vista a complexidade dos diversos


objetos licitados, é dos setores ou pessoas competentes envolvidas na aquisição do objeto
(Acórdão nº 4.848/10 –1ª Câmara). A Lei de licitações não define que a responsabilidade
pela pesquisa de preço e a consequente elaboração do orçamento são de incumbência do
responsável pela homologação do procedimento licitatório, da CPL ou do pregoeiro.

A CPL, o pregoeiro e a autoridade superior devem verificar: primeiro, se houve pesquisa


recente de preço junto a fornecedores do bem e se essa observou critérios aceitáveis;
segundo, se foi realizada a adequação orçamentária; e, por último, se os preços da proposta
vencedora estão coerentes com o orçamento estimado pelo setor competente (Acórdão nº
3516/2007 – Primeira Câmara).

Caso a pesquisa de preços seja malfeita, pode representar prejuízo, já que a concorrência
nem sempre é elemento suficiente para garantir preço justo e os fornecedores estarão
procurando meios de vender seus produtos com lucros maiores (Santos, 2016).

Infelizmente, criou-se uma cultura simplista em torno da pesquisa. A jurisprudência


acabou cristalizando a lógica de que “três orçamentos” validam o preço de mercado.

Mas a lei não determina essa sistemática. O que a lei determina é que as compras, sempre
que possível, deverão “balizar-se pelos preços praticados no âmbito dos órgãos e entidades
da Administração Pública” (art. 15, da Lei nº 8666/93). O “sempre que possível”, nesse caso,
significa “quando estiver disponível” (Santos, 2016).

Foi nesse sentido a recomendação presente no acórdão TCU 247/2017 – P, ao dispor que
“a realização de pesquisa de preços para elaboração de orçamento básico de licitação
com respaldo apenas em consulta a empresas privadas não atende o art. 15, inciso V,
da Lei 8.666/1993, que estabelece que as compras devem balizar-se também pelos preços
praticados no âmbito dos órgãos e entidades da Administração Pública, os quais, no caso
de medicamentos e correlatos, estão disponíveis no Banco de Preços em Saúde (BPS) , do
Ministério da Saúde, entre outros bancos de dados”. Nessa mesma linha é o Acórdão TCE/
MT 248/2017 – TP.

Essa é a fonte de informação mais relevante para as compras públicas. Quanto o setor
público vem pagando pelo mesmo produto, em condições similares e é com ela que o
município deve trabalhar para a formação do preço de referência das aquisições públicas.

E para fazer a pesquisa de preços, uma importante fonte é o site do Tribunal de Contas do
Estado de Mato Grosso – TCE/MT. Por meio dele, é possível obter preços praticados pelos
municípios mato-grossenses, no seguinte endereço:

87
Fonte: Elaboração própria

Além dessa ferramenta de busca de preços, o TCE/MT tem ofertado regularmente pela
Escola Superior de Contas cursos em EAD (Ensino à Distância) sobre formação de preços
de referência em compras públicas, com ênfase em medicamentos, para capacitar os
servidores públicos a utilizar essas ferramentas e melhorar as estimativas de preços nas
licitações.

Ainda sobre o tema, mais recentemente o TCE/MT editou a Resolução de Consulta nº


20/2016, com o seguinte entendimento:

“Aquisições públicas. Balizamento de preços.

1) A pesquisa de preços de referência nas aquisições públicas deve adotar amplitude e


rigor metodológico proporcionais à materialidade da contratação e aos riscos envolvidos,
não podendo se restringir à obtenção de três orçamentos junto a potenciais fornecedores,
mas deve considerar o seguinte conjunto (cesta) de preços aceitáveis: preços praticados
na Administração Pública, como fonte prioritária; consultas em portais oficiais de
referenciamento de preços e em mídias e sítios especializados de amplo domínio público;
fornecedores; catálogos de fornecedores; analogia com compras/contratações realizadas
por corporações privadas; outras fontes idôneas, desde que devidamente detalhadas e
justificadas.

2) Nos processos de inexigibilidade e de dispensa de licitação, inclusive aqueles amparados

88
no art. 24, I, II, da Lei nº 8.666/1993, devem ser apresentadas as respectivas pesquisas de
preços, nos termos do art. 26, da Lei”.

Esse entendimento converge com o adotado pelo TCU, de utilizar a maior amplitude
possível de fontes de referências. Esse é o conceito de “cesta de preços aceitáveis”,
conforme apresentado a seguir:

Fornecedores, pesquisa em catálogos de fornecedores, pesquisa em bases


de sistemas de compras, avaliação de contratos recentes ou vigentes, valores
adjudicados em licitações de outros órgãos públicos, valores registrados em atas
de SRP e analogia com compras/contratações realizadas por corporações privadas
(Acórdãos 2.170/2007-P e 819/2009-P)

O que se espera, portanto, é que a pesquisa de preços seja realizada com amplitude
suficiente (Acórdão TCU nº 2.637/2015 – P), proporcional ao risco da compra, privilegiando
a diretriz emanada pelo art. 15, da Lei de Licitações, a fim de que o balizamento seja
fundamentado nos preços praticados pela Administração Pública.

Nesse sentido, somente quando não for possível obter preços referenciais nos sistemas
oficiais é que a pesquisa pode se limitar a cotações de fornecedores (Acórdão TCU
2.531/2011-P).

Dessa forma, a utilização da maior amplitude possível de fontes de referências nos


processos de licitação, dispensa ou inexigibilidade é uma obrigação do gestor (Acórdãos
3.506/2009-1a Câmara, 1.379/2007-Plenário, 568/2008-1a Câmara, 1.378/2008-1a Câmara,
2.809/2008-2a Câmara, 5.262/2008-1a Câmara, 4.013/2008-1a Câmara, 1.344/2009-2a
Câmara, 837/2008-Plenário e 3.667/2009-2a Câmara).

Com base nesse entendimento, a administração pública não pode, por exemplo, utilizar a
variação de índice inflacionário para estimar o custo de bens e serviços a serem licitados
(Acórdão 2361/2009 Plenário).

Em relação aos métodos para tratar os dados obtidos (fontes de referência), não há
nenhuma orientação legal objetiva acerca da metodologia para obtenção de preço
de referência em licitação, se exigindo, apenas, que os valores estimados estejam em
consonância com a prática de mercado (Acórdão 694/2014 – Plenário). Dessa forma, o
gestor pode utilizar a média aritmética, mediana, média saneada, dentre outras, desde
que devidamente justificada e comprovada no processo.

Ademais, nas licitações realizadas mediante pregão, o TCU tem recomendado às Entidades
que avaliem a conveniência de divulgar os preços estimados para o bem ou serviço a ser
adquirido (Acórdão TCU nº 1178/2008, nº 392/2011 e Acórdão nº 1153/2013, todos do
Plenário e Acórdão nº 3.028/2010, da 2ª Câmara).

89
Assim, encontra amparo legal a disponibilização dos preços unitários e global estimados
apenas após a fase de lances - e não no edital do certame, nas licitações na modalidade
pregão (Acórdão 2080/2012 – Plenário).

Entretanto, sempre que o preço de referência for utilizado como critério de aceitabilidade
da proposta, a sua divulgação no edital é obrigatória, nos termos do art. 40, inciso X, da
Lei 8.666/93 (Acórdão 2166/2014 –Plenário).

Fraude nos orçamentos em Dispensa de Licitação para aquisição de


medicamentos em Várzea Grande

Em 2016, foi noticiado que um vereador em Várzea Grande denunciou aos órgãos
de controle indícios de falsificação em documentos para fraudar dispensa de
licitação e a ocorrência de superfaturamento de medicamentos.

Em análise documental realizada pela CGU, foram constatadas propostas de


preços com o mesmo padrão de apresentação, mesmas características de
abreviação e pontuação e mesmos erros ortográficos e gramaticais. Em um dos
carimbos presente na proposta de preços de uma empresa, foram verificados
erros como “Rondonópolis – GO” e o nome da empresa extrapolava o campo
do carimbo. Uma das empresas informou que nunca participou de licitação no
município e que os documentos eram, portanto, fraudados.

Diante do episódio, a prefeitura rescindiu unilateralmente o contrato e


determinou a formação de uma comissão de sindicância para apurar o caso.
(http://g1.globo.com/mato-grosso/noticia/2016/01/por-suspeita-de-fraude-
prefeitura-suspende-contrato-de-r-21-milhoes.html)
Uma estimativa mal feita pode levar ao sobrepreço. O sobrepreço na aquisição de
medicamentos é uma constatação frequente dos órgãos de controle e da imprensa. Notícia
do jornal O Globo, de 30/01/2011 com a manchete “Sobrepreço na compra de remédios,
um mal nacional” (Benevides e Mercedes, 2011) citou os relatórios da CGU para evidenciar
que a compra superfaturada de medicamentos é recorrente em todo o Brasil.

A Unidade Regional da Controladoria-Geral da União em Mato Grosso detectou o


pagamento de valores até 17.000% acima da média referencial de preços de produtos da
área médica em 76 municípios mato-grossenses. As diferenças foram encontradas em
levantamento realizado nas Atas de Registro de Preços das prefeituras do Estado vigentes
em 2014 e se referem aos 200 medicamentos e suprimentos médicos e hospitalares de uso
mais comum.

Os resultados evidenciam que adotadas providências - como a pesquisa de preços pagos


por outros municípios para o mesmo produto em condições semelhantes de fornecimento
e a negociação durante a fase de licitação – pode-se chegar a R$ 30 milhões de economia
nos valores praticados. Considerando a possibilidade de identificar o mesmo quadro em

90
todos os municípios do Estado, a economia pode ultrapassar R$ 50 milhões, em compras
que se repetem todos os anos.

Sobre esse tema, na avaliação de controles internos da atividade de logística de


medicamentos, a realidade de 127 municípios de Mato Grosso em relação à “normatização
de critérios para realização de pesquisa de preços” apresentou o seguinte resultado:

Fonte: TCE/MT, 2016

Ou seja, em 67,20% dos municípios (85/127) não há normatização dos critérios para
realização de pesquisas de preços ou quando existe é informal ou sem aplicação efetiva,
falhando na maior parte das vezes.

Cabe destacar que este é um importante controle para mitigar o risco de estimativa
inadequada de preços, que pode provocar como consequência o sobrepreço e
superfaturamento na aquisição de medicamentos.

Ademais, a respeito de licitação para aquisição de medicamentos, TCE/MT já emitiu o


seguinte entendimento sobre preços de referência:

ITEM DESCRIÇÃO
As compras públicas de medicamentos devem ser balizadas pelos preços praticados
no âmbito dos órgãos e entidades da administração pública (art. 15, V, da Lei no
01 8.666/93), tendo por fim a adequação da estimativa de preços aos praticados no
mercado, sob pena de a Administração incorrer em superfaturamento de preços com
prejuízo ao erário.
Nas aquisições de medicamentos, a Administração deve observar, ainda, os preços
máximos e critérios fixados pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos
02
(CMED/Anvisa), além de utilizar como referência os preços praticados no âmbito da
administração pública.

91
ITEM DESCRIÇÃO
O balizamento de preços nas aquisições de medicamentos deve considerar as
informações do Banco de Preços em Saúde do Ministério da Saúde (BPS/MS), tendo em
03
vista que é uma fonte de informação oficial dos preços de medicamentos e produtos
para a saúde praticados nas compras públicas.
As tabelas de preços emitidas pela Revista Simpro Hospitalar e pela Unimed
não são aptas para o balizamento de preços nas aquisições governa- mentais de
04
medicamentos, pois, em geral, não refletem os preços praticados na esfera pública.

Fonte: Acórdão TCE/MT 3.473/2015 – TP

Por relevante, cabe destacar que o TCE/MT entendeu que “o gestor e o contratado
responderão solidariamente pelos prejuízos causados à Administração, por ocasião
da aquisição de medicamentos com preços superfaturados, quando restar comprovado
que contribuíram para a ocorrência do evento danoso, cabendo-lhes, conjuntamente, o
respectivo dever de ressarcimento ao erário, com recursos próprios” (Acórdão TCE/MT
248/2017 – TP).

c.1 - Referenciais máximos de preços de medicamentos:

A fixação de preços máximos a serem praticados na aquisição de medicamentos é de


responsabilidade da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (CMED/Anvisa), que foi instituída pelo art. 5 da Lei
10.742/2003. Assim, está sob responsabilidade dessa câmara a edição anual de tabelas
contendo os preços registrados para diversos princípios ativos pelos fornecedores
respectivos.

As informações da CMED devem subsidiar o gestor na pesquisa de preços, que representam


o valor máximo que os laboratórios e distribuidoras estão autorizados a praticar na
comercialização de seus produtos, tanto nas negociações efetuadas com o setor público
quanto com o setor privado. Isso significa que nenhum fabricante ou fornecedor de
medicamento pode vender ou mesmo ofertar um princípio ativo por valor acima do
constante em tabela estabelecida por resolução da Câmara de Regulação do Mercado de
Medicamentos.

Sobre a aplicação da Tabela CMED, cita-se a determinação do Tribunal de Contas da União


proferida no Acórdão 1.437/2007-Plenário-TCU, de 27/7/2007:

(...) determinar ao Ministério da Saúde que dê ampla divulgação junto aos


órgãos e entidades federais que fazem aquisições de medicamentos para
atendimento da população, bem como junto às secretarias estaduais e
municipais de saúde, acerca do teor das Resoluções da Câmara de Regulação
do Mercado de Medicamentos - CMED nos 2/2004 e 4/2006, bem como da

92
Orientação Interpretativa no 02/2006, da mesma Câmara, com vistas a
alertar os gestores estaduais e municipais que, em caso de não observância
das resoluções pelos fornecedores de medicamentos quando de compras
efetuadas pelo setor público, deverá o gestor comunicar o fato à CMED e
ao Ministério Público Federal e Estadual, sob pena de responsabilização
por aquisição antieconômica e pela devolução dos recursos pagos acima
do teto estabelecido pelos normativos da CMED, mediante instauração de
tomada de contas especial;

Os critérios de preços máximos aos medicamentos no setor público são os seguintes:

(i) Preço de Fábrica (PF)

A venda de medicamentos à Administração Pública deve ter como limite máximo o Preço
de Fábrica, definido anualmente pela CMED. Esse entendimento consta da Orientação
Interpretativa nº 02, de 13 de novembro de 2006, cujo teor foi ratificado pelo Tribunal de
Contas da União, mediante o Acórdão nº. 1437-2007 – Plenário. As listas de preços estão
disponíveis no site da ANVISA (http://portal.anvisa.gov.br/listas-de-precos).

(ii) Preço Máximo de Venda ao Governo (PMVG)

Medicamentos aos quais é aplicado o Coeficiente de Adequação de Preços (CAP), um


desconto mínimo obrigatório sobre o Preço de Fábrica quando as vendas tiverem como
destinatária a Administração Pública. Qualquer valor pago a maior que o PMVG deve ser
considerado prejuízo. Cálculo do PMVG: PMVG = PF * (1- CAP)

(iii) Desconto ICMS

Independentemente da incidência ou não do CAP, também deve ser observado se o


medicamento é isento de ICMS pelo Conselho Nacional de Política Fazendária, nos
termos dos Convênios Confaz 87/2002 e 54/2009, que dispõem, respectivamente, sobre
a isenção do ICMS nas operações com fármacos e medicamentos destinados a órgãos da
Administração Pública e sobre a substituição tributária nas operações com cosméticos.

Nas tabelas CMED, referentes aos exercícios mais recentes, que constam do site da Anvisa
já contem indicativos para os medicamentos nela relacionados relativos à incidência ou
não do ICMS e do CAP.

Deduz-se o ICMS do preço-limite. Essa operação deve ficar explícita na Nota Fiscal, que
deve conter o ICMS incidente e, em seguida, deduzir o ICMS que seria devido caso não
houvesse o benefício.

Aproveitando-se das lacunas dos editais de licitação referentes aos casos em que os
medicamentos são isentos de ICMS, muitas empresas se utilizam de procedimentos para
simular a operação de isenção do ICMS e, consequentemente, onerar indevidamente a
fazenda pública.

93
O diagrama a seguir demonstra graficamente o mecanismo utilizado pelas empresas para
superfaturar produtos fornecidos:

Fonte: TCU

O Ministério Público Federal (MPF) e Ministério Público Estadual movem três Ações
Civis Públicas (ACP) por ato de improbidade administrativa contra três indústrias
farmacêuticas Milênio (Processo 26576-89.2010.4.01.3500), Medcomerce (Processo 26578-
59.2010.4.01.3500) e Hospfar (Processo 26577-74.2010.4.01.3500) e outras 14 pessoas
envolvidas na realização de manobra fraudulenta no faturamento de medicamentos
isentos de ICMS.

As planilhas disponibilizadas pela ANVISA informam se o produto é submetido ao CAP e/


ou isento de ICMS.

Cabe destacar que nos acórdãos 1989/2016, 2372/2015, 860/2015 e 1025/2015, todos do
plenário, o TCU entendeu que “na licitação para compra de medicamentos isentos de
ICMS, a Administração deve exigir que as propostas dos licitantes apresentem preços
desonerados desse imposto, consoante decidido no Acórdão 140/2012 Plenário. Contudo,
para licitações ocorridas em data anterior à da publicação desse acórdão, o regramento
do assunto é aquele previsto nos editais”.

(iv) Compras decorrentes de Ação Judicial: CAP obrigatório.

Para os produtos oriundos de decisão judicial, aplica-se o percentual de CAP vigente,


conforme determina o § 2º do Art. 5º da Resolução CMED nº 04/2006. Conforme descrito
no endereço http://www.anvisa.gov.br/divulga/noticias/2009/030609_1.htm, no caso “de
produtos excepcionais, de alto custo, ou qualquer medicamento adquirido por força
de decisão judicial, foi estabelecido como teto o Preço Máximo de Venda ao Governo
(PMVG) ”. Neste caso, o CAP é aplicado para qualquer medicamento (devendo o poder
público comprovar formalmente a existência da ação judicial, por ser esta a condição para
que faça jus ao desconto)

94
Em setembro de 2011, o Tribunal Regional Federal concedeu liminar pedida pelo Ministério
Público Federal e determinou que 14 laboratórios farmacêuticos cumpram a obrigação de
vender medicamentos à administração pública seguindo desconto CAP.

A ação foi proposta pelo MPF, após a constatação de que as regras da CMED estavam sendo
desobedecidas na Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo. As empresas fornecedoras
não respondiam às solicitações para a compra de medicamento com desconto. Citamos
um trecho da decisão:

As recorridas sustentam que (...) não existe lei que imponha a venda de
produtos ao ente estatal. No entanto, a partir do entendimento de que a
administração pública atua como consumidora, é possível afirmar que a
norma que obriga a essa venda é justamente o mencionado artigo 39 do
CDC. Pode-se citar ainda como aplicável ao caso o artigo 421 do Código
Civil, segundo o qual a liberdade de contratar será exercida em razão e nos
limites da função social do contrato. Mencionada regra reafirma o disposto
no CDC. Desse modo, não é autorizado ao empresário se negar a atender
a demanda do consumidor, sob o argumento de que a Constituição Federal
prevê a livre iniciativa, porquanto, como visto, o ordenamento jurídico pátrio,
com esteio em outros preceitos constitucionais, fundados na dignidade
da pessoa humana, apresenta certas limitações a esse direito, a fim de
garantir equilíbrio entre as forças econômicas, entre elas as relacionadas
ao consumo. (TRF-3. Agravo de Instrumento nº 0037364-98.2011.4.03.0000/
SP, 20/03/2014).

(v) Banco de Preços em Saúde (BPS)

Além dos preços máximos, os órgãos públicos têm à disposição as referências registradas
no BPS, que informa os preços pagos, em âmbito nacional, por medicamentos e produtos
da área da saúde, adquiridos por instituições públicas e privadas.

O objetivo final do BPS é a diminuição de preços na saúde ao permitir a ampliação das


fontes de pesquisa utilizadas para estimativa da aquisição pretendida. Ademais, ao tornar
públicas as condições de compras realizadas pelos diversos órgãos e entidades, tem-se
uma maior transparência na destinação dos recursos do SUS.

Embora o TCU tenha reconhecido nos Acórdãos 2901/2016 – P e 5708/2017 – Primeira


Câmara que o BPS, se empregado de forma adequada, é válido como referência de preços
da aquisição de medicamentos, seja pelo gestor público para balizar o preço de suas
contratações, seja pelos órgãos de controle para avaliar a economicidade dos contratos, o
próprio TCU reconhece, também, que não basta o administrador público comprar abaixo
do teto determinado pela CMED.

Isso porque o TCU entende que a tabela CMED traz o preço MÁXIMO, que não é
necessariamente o preço médio praticado no mercado. No Acórdão 3.016/2012–Plenário,

95
o TCU disse que o preço-fábrica pode apresentar graves distorções e que em muitos
casos não representa um parâmetro adequado a ser utilizado nas compras públicas,
tendo determinado ao Ministério da Saúde que alertasse estados e municípios quanto
à possibilidade de superdimensionamento de preços-fábrica registrados na Tabela Cmed,
tornando-se imprescindível a realização de pesquisa de preços prévia à licitação, e que
a aquisição de medicamentos por preços abaixo do preço-fábrica registrado não exime o
gestor de possíveis sanções.

Nesse mesmo sentido foi a orientação presente nos acórdãos 9296/2017 – Primeira
Câmara e 2901/2016 - P, ao dispor que “os preços divulgados pela Câmara de Regulação
do Mercado de Medicamentos (Cmed) não são o parâmetro mais adequado para servir
de referência para aquisições públicas de medicamentos ou como critério de avaliação
da economicidade de tais aquisições, pois são referenciais máximos que a lei permite ao
fabricante vender o seu produto”.

D – Fracionamento, parcelamento e loteamento

Além da realização de adequada pesquisa de preços, existe ainda o tema fracionamento


de despesa, parcelamento e loteamento do objeto também relacionado à elaboração
do Projeto Básico ou Termo de Referência.

O fracionamento de despesas é proibido pela Lei 8.666/93, art. 23, § 5º. É caracterizado
pela divisão da despesa para fugir da licitação, fracionando as compras ou contratações
em pequenos montantes, para se enquadrar na hipótese de dispensa por valor ou para
adotar modalidade inferior à exigida para o total do gasto.

Por “total da despesa” é comum considerar apenas aquelas relativas ao exercício corrente.
Porém, no caso de serviços continuados, deve-se levar em conta o período de vigência do
contrato e as possíveis prorrogações para a correta definição da modalidade de licitação
adequada (concorrência, tomada de preços ou convite), conforme entendimento previsto
na Orientação Normativa AGU nº 10/2009 e Acórdão TCE/MT nº 1.705/2015.

Esse é o entendimento do TCE/MT que está presente na Súmula nº 11/2015: “a Administração


Pública deve planejar as aquisições a serem realizadas no exercício, estimando o valor
global das contratações de objetos idênticos ou de mesma natureza, a fim de efetuar o
processo licitatório na modalidade adequada, evitando-se o fracionamento de despesas”.
A elaboração de um plano anual de aquisições, junto com um calendário integrado
de compras (incluindo compras compartilhadas ou individualizadas) na Entidade vai ao
encontro dessa recomendação.

A Resolução de Consulta TCE/MT nº 21/2011 estabelece alguns parâmetros para definição


do que seriam objetos idênticos ou de mesma natureza:
✓ Espécies de um mesmo gênero; ou possuem similaridade na função; cujos
potenciais fornecedores sejam os mesmos;

96
✓ A classificação orçamentária (elemento ou subelemento de despesas) e a identidade
ou qualidade do fornecedor são insuficientes, isoladamente, para determinação da
obrigatoriedade de licitar ou definição da modalidade licitatória;
✓ O lapso temporal entre as licitações é irrelevante para determinação da
obrigatoriedade de licitar ou definição da modalidade licitatória.

Araguaína/TO: fracionamento para fugir da licitação

O Ministério Público do Tocantins denunciou fraude à licitação pela contratação,


sem processo licitatório, durante oito anos (2001 a 2008), de caminhão para o
transporte de entulhos. Nos oito anos, a locação do veículo foi praticada, de forma
direta, por 39 vezes, de modo que nunca atingisse R$ 8 mil, quando seria obrigatório
licitar.

Existe farta jurisprudência sobre a irregularidade do fracionamento de despesas. Como


exemplo, cita-se o Acórdão TCU 3.550/2008 – Primeira Câmara, que determinou a um
órgão público:

agrupe, em uma mesma licitação, os objetos de futuras contratações que


sejam similares por pertencerem a uma mesma área de atuação ou de
conhecimento, atentando para a possibilidade de parcelamento prevista
no art. 23, §§ 1° e 2°, da Lei nº 8.666/1993;

Na esteira desse entendimento, o Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso – TCE/


MT editou a Súmula 11/2015, com a seguinte orientação “a Administração Pública
deve planejar as aquisições a serem realizadas no exercício, estimando o valor global
das contratações de objetos idênticos ou de mesma natureza, a fim de efetuar o processo
licitatório na modalidade adequada, evitando-se o fracionamento de despesas”.

Já o parcelamento, de acordo com a Lei nº 8.666/1993, é obrigatório quando o objeto


da contratação tiver natureza divisível, desde que não haja prejuízo para o conjunto
a ser licitado. Parcelamento nada mais é que a divisão do objeto em partes menores e
independente. Cada parte, item, etapa ou parcela, representa uma licitação isolada ou em
separado.

Sobre o assunto, é importante lembrar que o art. 23, §1º, da Lei 8.666/1993, estabelece o
parcelamento como regra, razão pela qual cabe ao administrador demonstrar os motivos
que o levaram a não dividir o objeto licitado.

A adjudicação do objeto pelo preço global, quando é possível a divisão do objeto


(parcelamento), impede a participação de licitantes que, embora não dispondo de
capacidade para a execução, fornecimento ou aquisição da totalidade do objeto, possam
fazê-lo com relação a determinados itens, levando à restrição da competitividade do
certame. Nesse sentido é o Enunciado 247, da Súmula da Jurisprudência do TCU.

97
Um outro risco da licitação de compras de medicamentos para o Programa farmácia básica
refere-se ao agrupamento por lote (loteamento). Esse esquema consiste na realização de
compra seletiva, mais conhecido como “jogo de planilha”. Funciona da seguinte forma:

ITEM DESCRIÇÃO
A Administração monta o lote com diversos produtos e quantidades para Ata de
01
Registro de Preços.
O licitante, em conluio com a Administração, sabe exatamente quais produtos
02
daquela Ata serão de fato comprados.
Esse licitante vence com menor proposta no lote, mas com preços altos para os
03 produtos que serão realmente comprados e baixos para aqueles que estão ali apenas
para fazer volume e constar na ata.
Durante a vigência da Ata, compram-se apenas os produtos que estavam com preços
04
mais altos, resultando em prejuízos elevados ao erário.

Nesse caso, a melhor proposta por lote não é necessariamente a vantajosa, pois o Registro
de Preços não reflete a estimativa real de demanda dos produtos.

Para evitar esse tipo de irregularidade, o TCU tem orientado que “nas licitações por lote
para registro de preços, mediante adjudicação por menor preço global do lote, deve-se
vedar a possibilidade de aquisição individual de itens registrados para os quais a licitante
vencedora não apresentou o menor preço” (Acórdão nº 343/2014 – Plenário).

2) Elaboração do Edital de Compra de Medicamentos


A existência de efetiva concorrência é condição fundamental para que as licitações resultem
em contratações eficientes, garantindo, assim, o uso racional dos recursos públicos e
permitindo que a ação governamental possa ter máxima eficácia com o montante de
recursos disponíveis.

Para realizar a licitação, o setor responsável pela aquisição dos medicamentos deverá
elaborar edital, em conformidade com o projeto básico ou termo de referência, o qual
deverá conter informações claras e concisas sobre o que, como e para que se pretende
realizar uma determinada compra.

Assim, deve a Entidade evitar incluir cláusulas restritivas nos editais de licitação que
comprometa a efetiva competição entre os licitantes, e direcione indevidamente o
processo a determinado fornecedor.

Além do cuidado com padronização da especificação do objeto e da estimativa de preços


adequada, o edital de licitação de medicamentos exige vários outros fatores importantes,
relacionados com exigências técnico-sanitárias e administrativas. Citam-se a seguir os
principais.

98
a) Prazo de Validade e Lotes

Os medicamentos deverão ser entregues separados por lotes e data de validade, com
seus respectivos quantitativos impressos na nota fiscal. Além disso, recomenda-se que os
medicamentos sejam entregues com, no máximo, 20% do tempo de vida útil decorrido a
partir da data de fabricação, ou seja, com 80% de sua validade intacta. (Marin et al, 2003)

O Ministério da Saúde recomenda exigir que os produtos sejam entregues com, no


mínimo, 2/3 da validade total. (BRASIL, 2006).

Fatura deve identificar lote e prazo de validade


No acórdão 9301/2017 – Primeria Câmara, o TCU entendeu que o fornecedor é
obrigado a emitir nota fiscal que identifique o lote e o prazo de validade dos produtos.
Além disso, concluiu que a omissão dessas informações em aquisições com recursos
públicos enseja a responsabilização do gestor que autorizou o pagamento da
empresa que forneceu os medicamentos.

Já no Acórdão nº 718/2014-P o TCU entendeu que receber produtos farmacêuticos


cuja nota fiscal não tem o número dos lotes dos produtos está em desacordo com
o inciso X, da Portaria MS/SVS 802/1998, podendo prejudicar a rastreabilidade dos
medicamentos.

b) Embalagem e Acondicionamento

Os medicamentos deverão ser entregues contendo em suas unidades de acondicionamento


primárias – frascos, tubos, blisters ou strips, ampolas etc. – o número do lote, a data de
validade, a denominação genérica e a concentração, conforme determina a legislação
vigente. Os comprimidos deverão ser entregues em blisters ou strips como embalagem
primária. (Marin et al, 2003)

Deve-se analisar a relação custo-benefício da aquisição em embalagens hospitalares, na


medida em que acarreta um custo adicional para o fracionamento, por demandar material
de embalagem, área adequada e recursos humanos. (Marin et al, 2003)

c) Rotulagens e Bulas

Todos os medicamentos, nacionais ou importados, devem ter, constadas nos rótulos e


nas bulas, todas as informações em língua portuguesa. Ou seja: número de lote, data de
fabricação e validade, nome do responsável técnico, número do registro, nome genérico
e concentração, de acordo com a legislação sanitária e nos termos do artigo 31 do Código
de Defesa do Consumidor.

99
Por se tratar de órgão público, deve-se exigir também que os produtos sejam entregues
com a seguinte impressão nas embalagens secundárias e/ou primárias: “PROIBIDA A
VENDA NO COMÉRCIO”. (Portaria GM/MS 2814/1998)

d) Especificações

Os medicamentos não podem ser adquiridos com nome de marca/fantasia. Deve ser
utilizada a DCB (Denominação Comum Brasileira), disponível no endereço eletrônico
www.anvisa.gov.br.

Os medicamentos devem estar com as especificações em conformidade com o que foi


solicitado: forma farmacêutica, concentração, condições de conservação. Além disso, a
proposta das empresas deverá indicar a marca (medicamentos de referência e similar), o
fabricante e a procedência do medicamento oferecido.

e) Transporte

O transporte dos medicamentos deverá obedecer a critérios adequados, de modo a não


afetar a identidade, qualidade, integridade dos mesmos, conforme Portaria nº 1052/98;
RDC nº 329/99; RDC nº 478/99.

Os medicamentos somente serão recebidos por transportadora autorizada. Os


medicamentos termolábeis devem ser acondicionados em caixas térmicas (isopor ou
equivalente) com controle de temperatura.

f) Entrega Parcelada

Considerando que as compras devem ser processadas por Registro de Preços, conforme
previsto no Art. 15 da Lei 8.666/93, as vantagens de comprar quando necessário são:
▶ manutenção da regularidade no abastecimento;
▶ possibilidade de ajustar a demanda em função das sazonalidades;
▶ imobilização de um volume menor de recursos financeiros;
▶ realização de um número menor de processos de compra no decorrer do ano;
▶ redução dos estoques armazenados, racionalizando a utilização dos recursos
▶ necessários e, com isso, reduzindo os custos de armazenagem;
▶ medicamentos sempre com prazo de validade favorável;
▶ execução financeira planejada e gradual. (Marin et al, 2003)

100
g) Prazo de entrega

É importante determinar, com razoabilidade, prazo máximo de entrega a partir do pedido,


forma como o pedido será realizado e multas em caso de descumprimento. Outros
elementos importantes do edital: local de entrega, horário para recebimento e regras para
reposição de mercadoria avariada ou faltante.

h) Habilitação

A Portaria nº 2.814/1998 do Ministério da Saúde estabelece os procedimentos a serem


observados pelas empresas produtoras, importadoras, distribuidoras e do comércio
farmacêutico, objetivando a comprovação da identidade e qualidade dos medicamentos.

O art. 5º dessa Portaria estabeleceu requisitos para as compras públicas de medicamentos,


exigindo:
• Licença Sanitária Estadual ou Municipal;
• Autorização de Funcionamento da empresa participante da licitação;
• Certificado de Boas Práticas de Fabricação e Controle emitido pela ANVISA;
• Certificado de Registro de Produto (disponível no Portal da ANVISA na Internet)
• Declaração de credenciamento como distribuidora junto à empresa detentora
do registro dos produtos (§ 3º)

É comum exigir-se, também, Certificado de Boas Práticas de Armazenamento (CBPA).

Há polêmica sobre a legalidade dessas exigências. O TCU, no Acórdão nº 718/2014-P,


entendeu que a declaração de credenciamento das distribuidoras é ilegal, porque a
Portaria GM/MS nº 1.167/2012 revogou o § 3º do art. 5º da Portaria nº 2.814/GM/MS/1998.
O Tribunal entende, ainda, que esse tipo de exigência fere a Constituição Federal, art. 37,
inciso XXI, e a Lei 8666/1993, art. 27; art. 30, § 5º.

Sobre os Certificados de Boas Práticas de Fabricação (CBPF) e de Armazenamento (CBPA), o


TCU entendeu, no Acórdão 392/2011-P, que não há lei especial que obrigue a apresentação
desses certificados para habilitação em certames licitatórios, o que afasta a possibilidade
de enquadramento dessa exigência no inc. IV do art. 30 da Lei 8666/93.

Ainda sobre o CBPF, o TCU emitiu o acórdão 4788/2016 – Primeira Câmara e os Acórdãos
126/2010, 127/2010, 128/2010, 129/2010 e 392/2011– todos do Plenário, no sentido de ser
irregular exigir o Cerificado por falta de amparo legal, por não se mostrar indispensável
à garantia do cumprimento das obrigações a serem pactuadas e por constituir exigência
excessiva, uma vez que o efetivo registro de medicamentos pressupõe a adoção prévia,
pelo fabricante, das boas práticas de fabricação.

101
Mais recentemente, o TCU voltou a enfrentar a questão no Acórdão 1392/2014-P,
determinando à sua Secretaria especializada em Saúde dar tratamento sistêmico e
uniforme ao exame da legalidade da exigência.

A questão, portanto, ainda não está pacificada, mas, até o momento, a jurisprudência do
TCU é contrária à exigência do CBPF.

Outra polêmica em licitações de insumos de saúde é o dispositivo de segurança para


materiais perfuro cortantes (agulha, cateter, scalp). A Norma Regulamentadora nº 32 e a
Portaria nº 1.748/2011, ambas do Ministério do Trabalho e Emprego, tratam disso.

A Norma Regulamentadora nº 32 (Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos


de Saúde) do MTE estabelece (item 32.2.4.16, alterado pela Portaria MTE 1748/2011) que
“O empregador deve elaborar e implementar Plano de Prevenção de Riscos de Acidentes
com Materiais Perfurocortantes (PPRAMP), conforme as diretrizes estabelecidas no Anexo III
desta Norma Regulamentadora.”

O art. 3º da Portaria MTE nº 1748/2011 exige que o empregador deve elaborar e implantar
o Plano de Prevenção, mas não determina prazo para substituição dos materiais
perfurocortantes.

Em seu anexo, a Portaria MTE nº 1748/2011 define o que é um “dispositivo de segurança”:


“um item integrado a um conjunto do qual faça parte o elemento perfurocortante OU uma
tecnologia capaz de reduzir o risco de acidente, seja qual for o mecanismo de ativação do
mesmo.”

Portanto, qualquer tecnologia que reduza o risco de acidentes, independente do


mecanismo de ativação, pode ser considerada “dispositivo de segurança” e atende às
normas.

Para implantar compras de perfurocortantes com dispositivo de segurança, primeiro deve-


se criar o PPRAMP e, nele, estabelecer os critérios que serão adotados para selecionar
quais tipos de materiais serão aceitos. Implantar essa mudança é um processo e não se
pode esquecer da capacitação, que é parte obrigatória e relevante da segurança.

Portanto, antes de decidir pela exigência de


produtos que atendam à NR 32, a Prefeitura COMPETÊNCIA RESTRITA DO TCU
precisa, primeiro, elaborar o PPRAMP e
definir os critérios que adotará em suas No acórdão 1169/2017 – P, o TCU
compras de materiais perfurocortantes, ententeu que não tem competência
assim como a capacitação que permeará para afirmar que os fármacos são
esse processo. semelhantes ou têm má qualidade,
mas apenas opinar sobre a existência
Os materiais com dispositivos de segurança de semelhanças ou de condições
mais avançados são, em geral, muito mais materiais inadequadas, pois a
caros. responsabilidade primária pela
indicação de medicamentos é do
102 ministério, com apoio da Anvisa.
Existe, ainda, polêmica sobre a exigência de certificado de conformidade INMETRO
para agulhas hipodérmicas e gengivais. A RDC n° 5/2011 da ANVISA determina que a
conformidade deve ser comprovada à própria ANVISA “no momento da solicitação do
registro e da revalidação”.

Portanto, não é na licitação que se exigirá esse documento, mas nos procedimentos da
ANVISA de registro e revalidação do produto.

Então, no caso das agulhas, existe um documento obrigatório a ser apresentado: o registro
do produto. Só pode comercializar quem tiver o registro. Essa é a exigência legal.

No caso de produtos que possuem norma técnica a ser observada é diferente. Existe a
norma, deve ser seguida, deve ser atestada por organismo especializado, mas não há
necessariamente um processo e um documento de registro. O que confirma a confiabilidade
do produto é o próprio certificado.

Porém, a exigência de “certificado de qualidade” como requisito de habilitação não é


permitida pelo TCU (Acórdão nº 492/2011-Plenário) porque não existe obrigação legal de
obter o documento para comercializar ou prestar o serviço.

Já o “certificado de conformidade”, depende. Se a certificação é compulsória, deve ser


exigida. Vide, por exemplo, Acórdão TCU nº 463/2010-Plenário: “exija a devida certificação
quando evidenciada a sua compulsoriedade para o comércio do produto”.

Quando a certificação não é obrigatória, mas existe norma técnica, pode exigir no edital,
desde que justificado. O mais recente Acórdão 1687/2013-P do TCU diz: “Esta exigência
está afeta ao poder discricionário do administrador e deve ser acompanhada de parecer
técnico devidamente justificado”.

Sobre o mesmo tema, pode-se citar o Acórdão 61/2013-P: “... a exigência de certificado
de conformidade de produtos às normas da ABNT... deve ser acompanhada de justificativa
plausível e fundamentada em parecer técnico...”.

Uma boa prática para reduzir o riscos de erros e irregularidades na elaboração do edital de
aquisição de medicamentos, é elaborar editais-padrão para das suporte às contratações
de objeto dessa natureza. Entretanto, percebe-se que a maioria dos municípios não adota
essa prática em relação à aquisição de medicamentos.

g) Pregão Presencial ou Eletrônico

É comum nos municípios de Mato Grosso o uso do Pregão Presencial para compra de
medicamentos. Isso dificulta muito que empresas de fora do estado entrem nas disputas,
dados os altos custos operacionais de participar em todas essas cidades do interior.

103
O Decreto 5.504/2005 obriga que seja justificada a inviabilidade da utilização do pregão
na forma eletrônica quando a licitação envolver recursos federais repassados aos entes
de forma voluntária, como é o caso dos principais programas que custeiam a aquisição de
medicamentos e insumos hospitalares nos municípios: Farmácia Básica e PAB-Fixo.

Na visão do TCU, o Pregão Eletrônico é obrigatório, a menos que inviável (Ac 1700/2007-
P). Foi essa mesma orientação presente no acórdão 247/2017 –P “na aquisição de
medicamentos e correlatos ou no respectivo registro de preços, o uso da modalidade
pregão na forma eletrônica é obrigatório, nos termos do art. 4º, § 1º, do Decreto
5.450/2005, salvo se houver comprovada e justificada inviabilidade”.

Pagamento Antecipado de Medicamentos. Ilegalidade.

O TCU entendeu que é ilegal o pagamento antecipado de medicamentos adquiridos


sob a guarda de fornecedores. Pagamentos somente devem ocorrer após a efetiva
entrega dos bens, não sendo para tanto considerada a manutenção dos bens no
estabelecimento do fornecedor, mesmo que amparada em contrato de depósito.
(Acórdão TCU 178/2012 – Plenário).

3 - Equipe Especializada
Em função da complexidade e das características técnicas específicas das compras de
medicamentos e insumos de saúde, a equipe de licitação da Prefeitura deve estar em
constante e permanente contato e sendo assessorada pelo pessoal especializado da
Secretaria de Saúde.

As principais funções desse pessoal especializado no apoio ao processo de aquisição:


• Participar da elaboração de normas administrativas e requisitos técnicos;
• Solicitar pedido de compras conforme a demanda ou encaminhar solicitações de
aquisição de outros setores analisando criteriosamente;
• Analisar documentação sanitária das empresas;
• Analisar se o registro do produto atende a especificação do edital;
• Caso necessário, solicitar amostra de produto e/ou esclarecimento à empresa para
verificação do atendimento ao edital;
• Emitir parecer técnico dos processos de compras relacionados a medicamentos e/
ou outros materiais sob sua responsabilidade

Sobre esse tema, na avaliação de controles internos da atividade de logística de


medicamentos, a realidade de 127 municípios de Mato Grosso em relação à “designação

104
formal de equipe técnica para auxiliar a CPL na análise da documentação de habilitação e
proposta de preços nas licitações para aquisição de medicamentos e insumos da saúde”
apresentou o seguinte resultado:

Fonte: TCE/MT, 2016

4 - Doações, Empréstimos e Permutas


Outro mecanismo previsto na Lei 8.666/93, no seu art. 17, e que interessa sobremaneira
aos gerentes da Farmácia Básica, refere-se à possibilidade de doações e permutas de
interesse social entre órgãos ou entidades da administração pública.

Esse mecanismo, mesmo não se tratando de uma forma de aquisição propriamente dita,
possibilita a esses órgãos e entidades a incorporação e/ou alienação de medicamentos
nos seus estoques, com o foco voltado para ganhos de eficiência administrativa e o
atendimento das necessidades de saúde da sua clientela-alvo.

Porém, todos os atos de doações e/ou permutas devem ser documentados pela Gerência
de Farmácia Básica, cuidando dos devidos registros quanto à quantidade, ao nome do
medicamento, ao número do lote, à data de validade e ao nome do fabricante. De maneira
complementar, recomenda-se que os gestores maiores da secretaria em cada instituição
autorizem formalmente essas transações.

Muitos outros aspectos de risco em licitações e contratos ainda poderiam ser abordados,
em especial as questões relacionadas a direcionamento, restrição à competição, fraudes
e conluios, compras diretas sem licitação, a prática do fiado. Entretanto, optamos
por enfatizar os tópicos que estão mais diretamente ligados às compras específicas de
medicamentos e insumos de saúde.

105
3.4 - Armazenamento e Distribuição
O armazenamento é caracterizado por um conjunto de procedimentos técnicos e
administrativos que envolvem as atividades:
• Recebimento – examinar e conferir o material
• Estocagem ou guarda – arrumação organizada, aproveitamento de espaço
• Segurança – cuidados contra danos físicos, furtos e roubos.
• Conservação – assegurar as características dos produtos
• Controle de estoque – monitoramento da movimentação física dos produtos
• Entrega – entrega ao solicitante, transporte adequado, rastreabilidade.

Em 25/04/2010, matéria do jornal O Globo com o título “R$ 1 bi em remédios no lixo”


chamou atenção para o desperdício no poder público e nos hospitais privados por falhas na
aquisição e no armazenamento dos remédios e por problemas na gestão dos produtos. A
estimativa é do Conselho Federal de Farmácia (CFF) que calcula, em média, 20% de perdas
anuais. (Alencastro, 2010).

Pesquisa do Horus com os 1314 municípios usuários revelou diversos problemas nos
almoxarifados das Secretarias de Saúde conforme Gráfico a seguir sobre a situação dos
almoxarifados em municípios usuários do Hórus:

Fonte: BI-HÓRUS. 20ª OFICINA DE PLANEJAMENTO QUALIFAR-SUS. 2012

106
Com base na pesquisa, pode-se evidenciar que quase metade dos municípios não tem
climatização, apenas 16% controlam umidade e somente metade se preocupa com
temperatura. O controle de estoque é feito por menos de metade das prefeituras e quase
ninguém tem Comissão de Farmácia e Terapêutica.

O gerenciamento adequado dessa etapa do ciclo reduz perdas e deve observar alguns
procedimentos e ações, entre os quais se destacam (CONASS, 2011):

◆ a. Cumprimento das Boas Práticas de Armazenagem, incluindo limpeza e


higienização; delimitação dos espaços destinados a estocagem, recebimento
e expedição de medicamentos, minimizando o risco de trocas; controle de
temperatura e umidade; monitoramento da rede de frio; entre outros.

◆ b. Qualificação do recebimento de medicamentos, melhorando os processos de


conferência dos quantitativos, lotes e prazos de validade quando da separação dos
produtos.

◆ c. Elaboração de Procedimentos Operacionais Padrão (POP), que descrevam


todas as atividades executadas.

◆ d. Existência de um sistema de controle de estoque de medicamentos que


disponibilize informações gerenciais como balancetes, relatórios e gráficos.

◆ e. Melhoria da capacidade administrativa e da qualificação de pessoas para


garantir que todas as atividades sejam desenvolvidas de forma adequada.

O almoxarifado é responsável, também, por assegurar a rastreabilidade dos produtos,


mantendo sob seus cuidados a documentação administrativa relacionada a eles, devendo
ainda tomar as medidas relacionadas à sua segurança patrimonial.

Existem fatores ambientais que afetam a estabilidade dos medicamentos na armazenagem.


temperatura; luminosidade; ar; umidade.

Fonte: CPRFB (1988) apud Marin et al, 2003

107
Sobre condições de estocagem e armazenamento dos produtos, destacamos os seguintes
aspectos:

a) Organização e Estruturação do Serviço


Requisitos básicos para funcionalidade do armazenamento:
• Localização – perto de transporte, longe de calor e contaminação.
• Identificação externa – visível (nome, logotipo, indicativo luminoso).
• Dimensionamento – área física adequada à movimentação dos produtos.
• Acesso – facilitar procedimentos de carga e descarga.
• Comunicação – com as unidades fornecedoras e usuárias.
• Instalações físicas – elétrica, sanitários, equipamentos e acessórios.
• Condições ambientais – temperatura, ventilação, luminosidade, umidade.
• Higienização – limpeza e controle de pragas;
• Segurança – controle do acesso, proteção das pessoas e dos produtos;
• Equipamentos e acessórios suficientes – adequados às necessidades.

b) Recebimento de Medicamentos
Receber implica conferência se os medicamentos entregues estão em conformidade com
os requisitos estabelecidos quanto à especificação, quantidade e qualidade. Para tanto,
devem ser elaboradas normas técnicas e administrativas, procedimentos operacionais e
instrumentos de controle para registro de todas as informações referentes aos processos
de trabalho.

A adoção de normas e procedimentos administrativos em todas as etapas do processo


(recepção, estocagem, controle de estoque, conservação, distribuição, segurança, limpeza,
normas gerais etc.), acompanhada de respectivos instrumentos de controle (formulários
específicos), é imprescindível para orientar na execução das tarefas de controle quantitativo
e qualitativo dos medicamentos, escritas em manuais e fixadas no local do serviço, com o
conhecimento de todos do setor, previamente treinados para consulta e manuseio.

Alguns procedimentos-padrão:
• só receber com documentação; se não houver 2ª via, providenciar cópia;
• observações em formulário padronizado;
• documentação arquivada no serviço;
• inconformidades devem ser notificadas e registradas formalmente;

108
• conferir, por amostragem, lotes dos produtos recebidos;
• não atestar faturas ou documento que não esteja sob seu controle;
• determinações de gestão formais (memorando ou e-mail);
• ocorrências devem ser notificadas, datadas e assinadas;
• devoluções de medicamentos pelas unidades de saúde sob justificativas
• procedimentos e providências por escrito e arquivadas.

Nesta etapa, os fornecedores devem realizar a entrega dos medicamentos, conforme


estabelecido no contrato e no edital de licitação. Assim, o gestor da entidade deve
designar, formalmente, um servidor ou uma comissão para receber os medicamentos
e atestar as respectivas notas fiscais, posteriormente encaminhadas ao setor responsável
para a efetivação do pagamento.

No momento do recebimento, são realizados dois tipos de conferência: especificações


administrativas (documento fiscal, quantidade, prazo de entrega, preços); e especificações
técnicas (produto, lote, validade, embalagem, rotulagem, condições de transporte).

Medicamentos termolábeis (que podem sofrer alterações por temperatura), devem ter
prioridade na conferência e no armazenamento.

O Consórcio Paraná Saúde tem um Procedimento Operacional Padrão (POP) específico


para a atividade de Recebimento de medicamentos pelo município, com objetivo de fixar
procedimentos para que não haja faltas, sobras ou outros problemas. Pode servir de
modelo para as Prefeituras.

Recebimento de medicamentos. Registro de Preços. Entrega de produto com


marcas não indicadas no registro de preços.

O TCE/MT entendeu que na fase de liquidação das despesas com aquisição de


medicamentos, a Administração deve exigir do contratado a entrega dos produtos
com a marca indicada no respectivo registro de preços, não sendo aceitável o
recebimento de produtos com marcas diferentes, ainda que com “princípios ativos”
iguais e tendo sido respeitados os preços e quantidades pactuadas. (Acórdão
3.178/2015 – TP).

c) Estocagem
Estocar consiste em ordenar adequadamente os produtos em áreas apropriadas, de
acordo com suas características e condições de conservação exigidas (termolábeis,
psicofármacos, inflamáveis, material médico-hospitalar etc.).

109
Para a estocagem de medicamentos, deve-se dispor de área física suficiente e apropriada
aos diferentes tipos de produtos a serem armazenados.

Além dos procedimentos básicos de controle, segurança, conservação, facilidade de


acesso dos produtos, destaca-se:

• Manter em local seguro os medicamentos de alto custo. Conferência diária por


amostragem.

• Produtos controlados. Local específico, sob controle e responsabilidade legal do


farmacêutico.

• Termolábeis em áreas específicas com controle de temperatura.

d) Controle de Estoque
Atividade técnico-administrativa que visa subsidiar a programação e aquisição de
medicamentos, na manutenção dos níveis de estoques necessários ao atendimento da
demanda, evitando-se a superposição de estoques ou desabastecimento do sistema,
mantendo-se o equilíbrio (Brasil, 2006).

Na operacionalização do Programa Farmácia Básica, os municípios deverão assegurar


a estrutura necessária para realizar o controle de estoque dos medicamentos. Esse
controle pode ser feito por fichas de prateleira ou controle informatizado.

Fichas de prateleiras são fichas de registro da movimentação de estoque, entradas e


saídas. Ficha individual para cada medicamento e sua respectiva forma farmacêutica.

O correto preenchimento da ficha proporciona a análise de Consumo Médio Mensal do


medicamento. A falta de controle de estoque pode comprometer a programação das
aquisições, gerando falta ou excesso de medicamentos.

A ficha de prateleira para controle de estoque pode ser substituída por controle
informatizado. O controle informatizado deve identificar a quantidade dispensada
para cada paciente, de forma a inibir o uso de uma mesma receita para a retirada de
medicamentos em mais de uma UBS e prevenir o desvio de medicamentos.

O crescente uso da informática no registro de entradas, movimentações e saídas de


medicamentos é uma das soluções que devem ser buscadas pelos municípios para
minimizar os riscos de que sejam dadas destinações diversas aos medicamentos adquiridos
com recursos públicos.

Em algumas prefeituras do Estado de Mato Grosso, não existe sequer controle manual de
estoque dos medicamentos armazenados no Almoxarifado Central e nas Unidades Básicas
de Saúde, conforme se depreende da análise do resultado da avaliação de controles
internos em 127 municípios apresentado a seguir:

110
Fonte: TCE/MT, 2016

Os seguintes elementos devem ser observados no acompanhamento e controle de estoque


de medicamentos adquiridos:

a) Os registros escritos são fundamentais para que se tenha um programa de controle


eficaz do custo dos medicamentos. Emitir os pedidos de compras por escrito e fazer
os inventários em planilhas adequadas são atividades importantes para o controle do
estoque na farmácia básica.

b) As informações contidas nos registros de estoque devem incluir: os nomes dos


fornecedores primários e secundários; a descrição do produto e/ou suas especificações;
a unidade de compra e o preço pago; e um registro dos níveis de utilização entre as
entregas. Se tais detalhes são mantidos escritos, qualquer pessoa que conheça o sistema,
rapidamente poderá determinar o que precisa ser comprado, de quem e qual a quantidade.

c) O estoque mais utilizado de medicamentos deve ser monitorado através do Controle


Permanente. No Controle Permanente os produtos são controlados em quantidades de
itens individualmente, e a qualquer momento que se desejar saber o saldo existente de
uma determinada mercadoria é necessário acessar o sistema e identificar a quantidade
disponível. O estoque é controlado dando entrada das mercadorias que foram adquiridas
e incorporadas, bem como fazendo as baixas das mercadorias que foram distribuídas nas
escolas.

A falta de um adequado controle manual ou eletrônico de estoque pode levar a perdas de


medicamentos, falta de medicamentos para a população, dificuldade na programação de
compra, inexistência de informações gerenciais para tomada de decisões, etc.

111
e) Descarte de Medicamentos
Este é sempre um grande problema. A grande e melhor solução é o investimento na
melhoria contínua do processo e da estrutura para impedir que os produtos se tornem
inservíveis (por vencimento ou deterioração) durante o tempo de estocagem. No entanto,
deve haver procedimentos previstos para quando isso eventualmente aconteça.

Alguns riscos do descarte inadequado de medicamentos


◆ Riscos à saúde de crianças ou pessoas carentes que possam reutilizá-los.
◆ Reuso indevido de sobras de medicamentos - reações adversas graves, intoxicações,
entre outros problemas.
◆ Medicamentos: primeiro lugar entre agentes causadores de intoxicações
◆ Agressão ao meio ambiente - contaminação da água, do solo e de animais.

O Brasil ainda não dispõe de legislação específica de âmbito nacional para o descarte,
recolhimento, transporte e destinação ambientalmente adequada dos resíduos de
medicamentos vencidos ou em desuso pela população.

O gerenciamento de resíduos é abordado em regulamentos específicos para determinados


setores da cadeia de produção farmacêutica, como a RDC nº 306/2004 da ANVISA e
Resolução nº 358/2005 do CONAMA (gerenciamento e destinação final de resíduos
sólidos de saúde - RSS) e a RDC nº 17/2010 da ANVISA (Boas Práticas de Fabricação de
medicamentos).

Dentre os diversos tipos de resíduos gerados, encontram-se os resíduos sólidos de saúde


(RSS) que merecem atenção particular devido, principalmente, ao elevado potencial de
risco de contaminação que oferecem, não somente na unidade geradora (aquela onde o
resíduo é gerado), mas também ao meio externo quando são dispostos no meio ambiente
de forma inadequada.

Os profissionais devem ser conscientes de que os resíduos gerados por suas atividades
podem levar riscos ao meio ambiente e à saúde das pessoas que, eventualmente, possam
entrar em contato com esses materiais (UFSC, 2011).

Os resíduos sólidos de saúde classificam-se em grupos distintos de risco, que exigem


formas de manejo específicas:

Grupos Descrição
resíduos com a possível presença de agentes biológicos que, por suas
Grupo A
características, podem apresentar risco de infecção;
Grupo B resíduos químicos (incluindo os medicamentos);
Grupo C rejeitos radioativos;

112
Grupos Descrição
Grupo D resíduos comuns;
Grupo E materiais perfurocortantes.

Cada estabelecimento gerador de resíduo de saúde deve implementar um plano de


gerenciamento de resíduos em serviço de saúde (PGRSS) com objetivo de minimizar a
produção e proporcionar aos resíduos gerados um encaminhamento seguro e eficiente.
Para atingir tal objetivo, o PGRSS deve contar com a descrição de todas as ações pertinentes
ao manejo de resíduos (UFSC, 2011).

A RDC Anvisa nº 306/04 determina como deve ser a segregação para os medicamentos que
pertencem aos grupos dos produtos hormonais, produtos antimicrobianos, citostáticos
e antineoplásicos, imunossupressores, digitálicos, imunomoduladores, antirretrovirais e
medicamentos controlados pela Portaria MS nº 344/98 e suas atualizações (UFSC, 2011).

Esses medicamentos devem ser descartados juntamente com os blísteres e frascos. Retirar
as caixas e bulas quando estas não estiverem sujas e descartar em lixo comum (UFSC,
2011).

Todos os outros medicamentos não apontados pela RDC Anvisa nº 306/04 devem ser
separados em sólidos e líquidos.
▶ Sólidos: retirar os comprimidos e as cápsulas das embalagens (blísteres ou
frascos). As embalagens devem ser descartadas em lixo comum, junto com caixa e
bula. Os comprimidos e as cápsulas são descartados no lixo químico, devidamente
identificado.
▶ Líquidos: retirar as caixas e bulas (lixo comum). O líquido deve ser despejado em
uma bombona devidamente identificada. Os frascos devem ser descartados em lixo
comum.
▶ Semi-sólidos: devem ser descartados juntamente com os sólidos em sua
embalagem (bisnaga).
▶ Ampolas: quebrar a ampola, despejar o líquido na bombona. As ampolas devem
ser descartadas em caixa para perfurocortantes.

113
Fonte: UFSC, 2011

Apesar de muitos municípios e estados já terem aprovado e implementado seus planos


de gestão de resíduos sólidos, observa-se que faltam recursos financeiros e capacitação
técnica; que os planos são genéricos e não respeitam a logística e as peculiaridades
ambientais dos municípios (UFSC, 2011).

f) Inventário
Inventário consiste na contagem de todos os produtos em estoque para verificar se
a quantidade encontrada nas prateleiras coincide com a quantidade registrada nos
controles.

Segundo o art. 40, da Portaria TCU nº 307/2014, que dispõe sobre a política de gestão dos
bens móveis pertencentes ao órgão, os tipos de inventário são:

I - de verificação: realizado a qualquer tempo, com o objetivo de verificar a regularidade


de um conjunto de bens, por iniciativa da unidade de patrimônio, ou a pedido do detentor
de carga, do responsável, de autoridade;

II - de transferência: realizado quando da mudança de um titular de função de confiança


detentora de carga patrimonial;

III - de criação: realizado quando da criação de função de confiança detentora de carga


patrimonial, de unidade ou de subunidade da entidade;

114
IV - de extinção: realizado quando da extinção ou transformação de uma função de
confiança detentora de carga patrimonial, de uma unidade ou subunidade ou de endereço
da entidade;

V - anual: realizado em razão de exigência contida na Lei no 4.320, de 1964, tem por
finalidade comprovar a exatidão dos registros de controle patrimonial de todo o patrimônio
da entidade, demonstrando, de acordo com o Plano de Contas da Administração Pública, o
acervo de cada detentor de carga, o valor total do ano anterior e as variações patrimoniais
ocorridas no exercício; e

VI - de baixa: realizado para fins de desfazimento de bens.

É recomendado que a o município realize inventários (no almoxarifado central e nas


escolas) de acordo com cada situação específica, com vista a fornecer subsídios para a
avaliação e controle gerencial dos medicamentos.

Embora seja recomendado e se constitua em boa prática de gestão, muitos municípios


do Estado de Mato Grosso não realizam inventário físico dos medicamentos (47 de 127),
conforme resultado da avaliação de controles internos apresentado a seguir:

Fonte: TCE/MT, 2016

g) Distribuição
Uma distribuição correta e racional de medicamentos deve garantir: rapidez na entrega,
segurança e eficiência no sistema de informação e controle:
▶ Rapidez – tempo hábil, impedindo atrasos e/ou desabastecimento ao sistema.
▶ Segurança – produtos chegarão ao destinatário nas quantidades corretas e com a
qualidade desejada.
▶ Transporte – condições adequadas de segurança, distância das rotas das viagens,
tempo da entrega e custos financeiros.

115
▶ Sistema de informação e controle eficiente – propiciar, a qualquer momento,
dados atualizados sobre a posição ‘físico-financeira’ dos estoques, das quantidades
recebidas e distribuídas, dados de consumo e da demanda de cada produto,
dos estoques máximo e mínimo, do ponto de reposição, das quantidades que
foram adquiridas, e qualquer outra informação que se fizer necessária, para um
gerenciamento adequado.
Recomendações para distribuição de medicamentos
▶ Associar a distribuição de medicamentos a uma programação previamente
estabelecida.
▶ Contemplar no planejamento da distribuição o cronograma de entrega,
normas e procedimentos, instrumentos (formulários contendo informações sobre
especificação completa, quantidade, lote, prazo de validade, preço, dentre outros)
para acompanhamento e controle.
▶ Considerar a estrutura física para o armazenamento dos produtos.
▶ Entregar medicamentos somente mediante uma autorização (por escrito),
acompanhada das duas vias do documento e assinada pelo solicitante responsável.
▶ Separar os medicamentos por ordem cronológica de prazo de validade, procurando
enviar a cada cliente um único lote de medicamento por vez.
▶ Reconferir (sempre) o pedido antes da entrega.
▶ Registrar a saída no sistema de controle após a entrega do pedido.
▶ Arquivar a segunda via do documento.
▶ Elaborar relatórios mensais, informando aos gestores, as quantidades e recursos
distribuídos, percentual de cobertura etc.
▶ Registrar em formulário próprio (em duas vias) os pedidos não atendidos na
totalidade (nome da unidade, especificação do produto, quantidade total a receber,
quantidade entregue, total do crédito e a data).

O Manual “Farmácia Básica para gerentes municipais” traz diversos modelos de formulários
e instrumentos de controle de armazenagem. (Marin et al, 2003).

Para proporcionar a qualificação do acesso e promover o uso racional dos medicamentos,


é preciso que as farmácias disponham de ambientes adequados, com áreas físicas
planejadas e capazes de oferecer:
◆ Condições para acolher o usuário com dignidade e respeito, na lógica da
humanização;
◆ Condições para facilitar o diálogo entre o farmacêutico e o usuário do medicamento,
possibilitando uma escuta qualificada;

116
◆ Garantia da integridade física e química dos medicamentos;
◆ Boas condições de trabalho aqueles que realizam o atendimento dos usuários do
sistema (BRASIL, 2009a).
Sobre o tema, questionados sobre as condições de estocagem e conservação dos
medicamentos adquiridos pela prefeitura se estão em conformidade com as boas práticas
recomendadas pelo Ministério da Saúde, presentes no Manual de Assistência Farmacêutica
do MS, o resultado nos municípios de Mato Grosso foi o seguinte:

Fonte: TCE/MT, 2016

3.5 - Dispensação
Segundo a Política Nacional de Medicamentos (Portaria nº 3.916/1998), a Dispensação é:
o ato profissional farmacêutico de proporcionar um ou mais medicamentos
a um paciente, geralmente, como resposta a apresentação de uma receita
elaborada por um profissional autorizado. Neste ato o farmacêutico
informa e orienta o paciente sobre o uso adequado do medicamento.
São elementos importantes da orientação, entre outros, a ênfase no
cumprimento da dosagem, a influência dos alimentos, a interação com
outros medicamentos, o reconhecimento de reações adversas potenciais e
as condições de conservação dos produtos.
A dispensação, portanto, não é apenas o fornecimento, a entrega do medicamento ao
paciente, devendo atender a aspectos técnicos, com o objetivo de garantir a entrega do
medicamento correto ao usuário, na dosagem e na quantidade prescrita, com instruções
suficientes para seu uso adequado e guarda correta.
A responsabilidade técnica por estabelecimentos com dispensação de medicamentos é
uma atividade privativa do farmacêutico desde 1973, quando foi regulamentada pela

117
Lei nº 5.991/73. O farmacêutico é o único profissional habilitado para exercer a atribuição
de dispensação de medicamentos, conforme Decreto nº 85.878/81. Ele participa desde a
compra, transporte, e os cuidados no correto armazenamento e na efetiva dispensação
de medicamentos, ato em que orienta acerca da utilização, interações medicamentosas e
contribui para o sucesso da terapia.
Pesquisa no sistema gerencial do Horus com os 1314 municípios usuários revelou diversos
problemas nos sistemas informatizados disponíveis, conforme Gráfico a seguir. Dois
terços dos municípios não têm cadastro dos usuários, quase ninguém controla os
medicamentos dispensados por via judicial e 67% não fazem controle informatizado
da dispensação.

Fonte: BI-HÓRUS. 20ª OFICINA DE PLANEJAMENTO QUALIFAR-SUS. 2012

Isso evidencia a falta de informação e registro da efetiva entrega adequada dos


medicamentos aos usuários do SUS nos municípios brasileiros.
No levantamento de Bruns e colaboradores (2014) em 34,5% dos municípios paraibanos
fiscalizados pela CGU foi constatada a “falta de controle na dispensação dos
medicamentos”. Não há controle da quantidade de saída, destino, se o medicamento
realmente foi dispensado e, consequentemente, não há conhecimento da demanda de
medicamentos não atendida, ou seja, da demanda reprimida.
Além desses problemas é importante frisar que a ênfase da dispensação está na
orientação farmacêutica ao paciente quanto ao uso adequado do medicamento. É no ato
da dispensação em que ocorre o contato do usuário com o farmacêutico, antes de iniciar
o seu tratamento (Marin et al., 2003).

118
A ausência do farmacêutico ou, no mínimo, de um servidor treinado e capacitado
pelo farmacêutico para a atividade de dispensação, constitui um sério obstáculo à
implementação e à prestação de Farmácia Básica de qualidade ao cidadão.

A dispensação envolve as seguintes etapas principais:

▶ ler cuidadosamente a receita e avaliar se está completa; via original é do paciente;

▶ interpretar a receita, verificando sua adequação ao paciente;

▶ conferir, cuidadosamente, os medicamentos com a receita, quando da retirada da


prateleira e, novamente, ao serem entregues ao paciente (rechecagem);

▶ indicar os medicamentos atendidos (carimbo);

▶ indicar data do fornecimento nas 2 vias (farmácia e paciente), rubricando ao lado;

▶ fornecer somente a quantidade necessária a um tratamento de tempo definido


(por exemplo, uma antibioticoterapia) ou por um tempo predefinido (por exemplo, 1
mês) no caso de tratamentos crônicos ou prolongados. A quantidade a ser fornecida
nos tratamentos sintomáticos (analgésicos, antialérgicos) pode ser predefinida pela
Comissão de Farmácia e Terapêutica;

▶ orientar o paciente quanto ao uso e cuidados corretos, fornecendo informações


básicas sobre o uso racional dos medicamentos a ele prescritos;

▶ registrar o atendimento, segundo normas e procedimentos estabelecidos,


visando documentar as atividades de dispensação de medicamentos, tendo em
vista necessidades administrativas, técnicas e éticas.

▶ registrar demanda reprimida, mantendo controle dos medicamentos solicitados


e não aviados por ausência no estoque ou inexistência nas compras do município.

Ademais, o art. 2º da Resolução nº 578/2013 do Conselho Federal de Farmácia (CFF)


detalha as atribuições do profissional farmacêutico na gestão da assistência farmacêutica
no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), quais sejam:
1) participar na formulação de políticas e planejamento das ações, em consonância
com a política de saúde de sua esfera de atuação e com o controle social;
2) participar da elaboração do plano de saúde e demais instrumentos de gestão em
sua esfera de atuação;
3) utilizar ferramentas de controle, monitoramento e avaliação que possibilitem o
acompanhamento do plano de saúde e subsidiem a tomada de decisão em sua
esfera de atuação;
4) participar do processo de seleção de medicamentos;

119
5) elaborar a programação da aquisição de medicamentos em sua esfera de gestão;
6) assessorar na elaboração do edital de aquisição de medicamentos e outros
produtos para a saúde e das demais etapas do processo;
7) participar dos processos de valorização, formação e capacitação dos profissionais
de saúde que atuam na assistência farmacêutica;
8) avaliar de forma permanente as condições existentes para o armazenamento,
distribuição e dispensação de medicamentos, realizando os encaminhamentos
necessários para atender à legislação sanitária vigente;
9) desenvolver ações para a promoção do uso racional de medicamentos;
10) participar das atividades relacionadas ao gerenciamento de resíduos dos
serviços de saúde, conforme legislação sanitária vigente;
11) promover a inserção da assistência farmacêutica nas redes de atenção à saúde
(RAS) e dos serviços farmacêuticos.

Percebe-se que o profissional farmacêutico tem papel fundamental para o êxito


das atividades da assistência farmacêutica no SUS, participando desde a etapa de
elaboração do plano de saúde, seleção de medicamentos, elaborando a programação
de compras, assessorando a elaboração do edital, avaliando as condições de estocagem,
armazenamento e dispensação, entre outras atividades relevantes.

Cabe destacar, ainda, que consta do art. 3º da Resolução nº 578/2013 do Conselho


Federal de Farmácia (CFF) que “o farmacêutico deve ser o responsável pela coordenação
das atividades técnico-gerenciais que lhe são inerentes e desenvolvidas na gestão da
assistência farmacêutica no âmbito do serviço público.”

Por sua vez, o art. art. 4º da mesma resolução dispõe que a assunção dessa responsabilidade
técnica, pelo farmacêutico habilitado para tal, é confirmada pela Certidão de Regularidade
Técnica fornecida pelo Conselho Regional de Farmácia, que será cancelada na ocorrência
do desligamento da função.

No acórdão 2516/2015 – P, o TCU recomendou à Unidade Jurisdicionada que “habilite junto


ao Conselho Regional de Farmácia todos os farmacêuticos responsáveis pelas farmácias
das Unidades Municipais de Saúde, visando à obtenção dos respectivos Certificados
de Regularidade Técnica, os quais deverão ser expostos em local de fácil acesso para o
público, em cumprimento ao disposto no art. 4º da Resolução CFF nº 578/2013 e no art. 2º,
inciso IV, da RDC Anvisa nº 44/2009”.

Além do desconhecimento e da falta de informação/orientação, por parte dos usuários, dos


riscos advindos do uso irracional dos medicamentos, para Marin et al. (2003), a educação
dos prescritores (médicos) e do público em geral é um elemento fundamental da política
de medicamentos. Porém, pouca atenção é dada a este aspecto. (Bruns et al, 2014).

120
Em relação à dispensação, registramos, ainda, os seguintes aspectos:

a) Registro do Atendimento
O procedimento da dispensação resultará em uma série de registros que terão a finalidade
administrativa de documentar a movimentação de estoque, o cumprimento das normas
legais (ex: medicamentos de controle especial) e governamentais (prestação de contas) até
a finalidade gerencial de garantia de qualidade e proteção do paciente e dos profissionais.

Principalmente quando implementados os procedimentos mais técnicos, como os


que envolvem o aconselhamento e a educação, é importante a garantia do registro das
informações prestadas. (Marin et al, 2003).

b) Receituário
De acordo com a Lei 10.241/1999 é direito do paciente: receber a receita com seu nome e
endereço, nome do medicamento, concentração, posologia, tempo de tratamento, tudo
em letra legível, data, assinatura e identificação do profissional com seu número de
registro no órgão de controle e regulamentação da profissão.

Apresenta-se, na Figura a seguir, o modelo utilizado pelo Centro de Pesquisa do Hospital


Evandro Chagas para comunicação de eventuais problemas a quem emitiu a receita.

Fonte: Marin et al (2003)

A Resolução Anvisa nº 328/1999 apresenta as Boas Práticas de Dispensação e tem um


roteiro de inspeção que contempla vários aspectos. Serve de referência para avaliação da
atividade.

121
Embora a grande maioria dos municípios de Mato Grosso tenham profissionais
farmacêuticos, as atividades de dispensação de medicamentos podem ser aprimoradas,
conforme avaliação de controles internos na atividade de logística de medicamentos
apresentado a seguir:

Fonte: TCE/MT, 2016

3.6 - Identificação dos Riscos


Assim como foi realizado no capítulo sobre planejamento e organização da AF, iremos
identificar as fontes de risco, suas causas e suas consequências potenciais na atividade de
seleção.

Nesse contexto, considerando que os principais objetivos da atividade foram debatidos


nos tópicos precedentes, apresentamos seguir os principais riscos identificados:

Formulário de Identificação de Riscos


ID Riscos Causas Consequências
Piora na qualidade de
Inexistência de comissão
saúde da população;
Falta de medicamentos de farmácia e terapêutica;
inviabilidade do
essenciais à população ausência de estudos de perfil
R#03 tratamento, nos casos em
por seleção inadequada epidemiológico e nosológico;
que o paciente não puder
(Remume) ausência de elaboração da
arcar com os custos dos
REMUME
fármacos.

122
Formulário de Identificação de Riscos
ID Riscos Causas Consequências
Aumento de gastos da
Planejamento inadequado
entidade com aquisição
das aquisições; falta de
de medicamentos;
R#04 Excesso de judicialização coordenação entre as áreas;
comprometimento
inexistência de controle de
da programação de
demandas judiciais.
compras.
Falta de medicamentos
importantes para a
Desconhecimento da Ausência de controles manuais população, prejudicando
R#05 demanda não atendida ou eletrônicos de demanda a adesão ao tratamento
de medicamentos reprimida (não atendida) e consequentemente
à resolubilidade
terapêutica.
Falta de medicamentos,
Prescrição de obrigando a população
medicamentos não Ausência de divulgação da a comprar na rede
R#06
contemplados na Remume para os médicos privada com recursos
Remume próprios; inviabilidade do
tratamento.
Inexistência de dados de
consumo histórico, demanda Piora na qualidade de
Programação de compras atendida e não atendida de saúde da população;
de medicamentos cada produto; falta de estudos indisponibilidade da
R#07
sem conhecimento da de perfil epidemiológico e quantidade necessária
demanda da população nosológico; falta de método de medicamentos a
para estimar compra de população.
medicamentos.
Dificuldade de obtenção
de preços de referência
Contratações sem
Falta de padronização de ante a singularidade das
padronização das
R#08 especificações técnicas dos especificações; qualidade
especificações dos
medicamentos ruim dos medicamentos
medicamentos
dada uma especificação
mal elaborada
Coleta insuficiente de
referências, levando S o b r e p r e ç o ;
Falta de normativo
a estimativas sem Superfaturamento; jogo
padronizando o processo de
R#09 e m ba s a m e n to , de planilha; demora na
pesquisa de preços; falta de
resultando na aceitação realização da pesquisa de
capacitação dos servidores
de preços acima do preço preços
de mercado

123
Formulário de Identificação de Riscos
ID Riscos Causas Consequências
Editais para aquisição Direcionamento;
de medicamentos recursos e impugnações
Falta de modelos de editais
sem padrão, levando à licitação; retrabalho;
R#10 de licitação, atas, contratos e
a multiplicidade de demora na conclusão
Check-list padronizados
esforços e repetição de do certame; ato
erros. antieconômico
Contratação ineficiente
ou ineficaz e consequente
Exame inadequado Não designação de equipe
desperdício de recursos
dos documentos de técnica para dar apoio à CPL
R#11 públicos; aquisição de
habilitação e propostas ou pregoeiro nas licitações de
medicamentos que não
de preços das licitações. medicamentos.
atendem a necessidade
da AF
Existência de conluio
ou adoção de práticas Inexistência de rotinas de
Contratação com preços
anticompetitiva entre verificação de elementos
não compatíveis com o
R#12 as empresas licitantes, que comprometem o caráter
mercado; frustração do
fraudando ou frustrando competitivo do certame; falta
princípio da isonomia
o caráter competitivo da de capacitação dos servidores
licitação.
Desperdício de
medicamentos por perda
de validade; entrada de
Falta de um Procedimento
Perda de medicamentos animais e insetos nos
Operacional Padrão
em função do locais dos medicamentos;
definindo as condições de
armazenamento comprometimento
R#13 estocagem e conservação
inadequado; alteração da da quantidade
dos medicamentos, em
qualidade; perda e desvio (desperdício), e
conformidade com orientações
de medicamentos; qualidade, prejudicando
do Ministério da Saúde
os pacientes e os
objetivos da Farmácia
Básica.
Inexistência de Comissão/
Recebimento de
servidor com formação técnica
Recebimento de alimentos medicamentos em
designada para recebimento
em desconformidade descompasso com o
dos alimentos, apoiada em
R#14 com as especificações do planejado e solicitado;
instrumentos adequados
objeto e com a proposta Qualidade ruim/prazo
(norma operacional,
da contratada de validade vencido dos
procedimentos para
medicamentos.
devolução).

124
Formulário de Identificação de Riscos
ID Riscos Causas Consequências
Ausência deInexistência de Controles
comprovação do efetivo manuais ou eletrônicos de
Perda, desvios de
recebimento nas UBS registros dos medicamentos
R#15 medicamentos da
dos medicamentos (enviados/devolvidos/
entidade.
adquiridos com recursosemprestados) do almoxarifado
do Programa central para as UBS
Ausência de procedimento
Descarte de Contaminação de água
operacional para realização
R#16 medicamentos vendidos e pessoas em função do
de descarte de medicamentos
de forma inadequada descarte incorreto
vencidos.
Impossibilidade
de avaliação do
Ausência de sistema desempenho das
Falta de informações informatizado de controle de atividades da Farmácia
R#17 gerenciais do estoque de estoque dos medicamentos Básica; Dificuldade
medicamentos ou controle manual diário e na verificação das
mensal nas UBS ações planejadas e
programadas para o
período
Saldo físico real de Registros de saldos
Inexistência de realização
estoque de medicamentos desatualizados e
de inventário físico
em desacordo com incorretos; desvios
periódico das condições de
R#18 os registros de saldo de medicamentos;
estocagem e conservação dos
e movimentação nas desconhecimento do
medicamentos armazenados
planilhas e sistemas desempenho gerencial
no almoxarifado
informatizados do setor de almoxarifado.
Efeitos indesejáveis
aos pacientes,
Instruções inadequadas ao
comprometendo
Utilização indevida do pacientes em razão da ausência
R#19 o tratamento e
medicamento de profissionais habilitados
co n s e q u e n te m e n te ,
(farmacêuticos)
à resolubilidade
terapêutica.

3.7 - Avaliação dos Riscos


A análise de risco da atividade de seleção de medicamentos foi realizada utilizando as
tabelas já apresentadas no capítulo anterior, resultando nos níveis de risco apresentados
a seguir:

125
Formulário de Avaliação do Risco Inerente
ID Riscos Probabilidade Impacto Nível Definição
Falta de medicamentos essenciais à 4 5 20 Extremo
R#03 população por seleção inadequada
(Remume)
R#04 Excesso de judicialização 3 3 9 Alto
Desconhecimento da demanda não 3 2 6 Médio
R#05
atendida de medicamentos
Prescrição de medicamentos não 2 3 6 Médio
R#06
contemplados na Remume
Programação de compras de 4 4 16 Extremo
R#07 medicamentos sem conhecimento da
demanda da população
Contratações sem padronização das 3 4 12 Alto
R#08
especificações dos medicamentos
Coleta insuficiente de referências, 4 4 16 Extremo
levando a estimativas sem
R#09 embasamento, resultando na
aceitação de preços acima do preço
de mercado
Editais para aquisição de 4 4 16 Extremo
medicamentos sem padrão, levando
R#10
a multiplicidade de esforços e
repetição de erros.
Exame inadequado dos documentos 3 4 12 Alto
R#11 de habilitação e propostas de preços
das licitações.
Existência de conluio ou adoção de 3 4 12 Alto
práticas anticompetitiva entre as
R#12 empresas licitantes, fraudando ou
frustrando o caráter competitivo da
licitação.
Perda de medicamentos em função 4 5 20 Extremo
do armazenamento inadequado;
R#13
alteração da qualidade; perda e
desvio de medicamentos.
Recebimento de medicamentos 3 4 12 Alto
em desconformidade com as
R#14
especificações do objeto e com a
proposta da contratada
Ausência de comprovação do 3 2 6 Médio
efetivo recebimento nas UBS dos
R#15
medicamentos adquiridos com
recursos do Programa

126
Formulário de Avaliação do Risco Inerente
ID Riscos Probabilidade Impacto Nível Definição
Descarte de medicamentos vencidos 3 3 9 Alto
R#16
de forma inadequada
Falta de informações gerenciais do 3 3 9 Alto
R#17
estoque de medicamentos
Saldo físico real de estoque de 3 2 6 Médio
medicamentos em desacordo com os
R#18 registros de saldo e movimentação
nas planilhas e sistemas
informatizados
Utilização indevida do medicamento, 4 5 20 Extremo
em razão de instruções inadequadas
ao paciente, podendo levar a efeitos
R#19
indesejáveis, comprometendo o
tratamento e consequentemente, à
resolubilidade terapêutica.

127
SAIBA MAIS

Na biblioteca do curso, encontra-se disponível a publicação do Conselho Federal de


Farmácia com o título “O farmacêutico na assistência farmacêutica do SUS: diretrizes para
ação”.

SÍNTESE

Nesta aula, conhecemos as etapas do ciclo de assistência farmacêutica, compreendendo


a seleção, programação, aquisição, armazenamento e dispensação de medicamentos,
permeados por mecanismos de gestão.

Estudamos que a seleção é uma das principais etapas do ciclo, sendo considerado o
eixo da assisência farmacêutica, pois todas as demais etapas dependem dela. O produto
resultante da seleção é a Remume.

Vimos também que programação tem por objetivo garantir disponibilidade de


medicamentos em quantidades adequadas e no tempo oportuno para atender as
necessidades da população. Esse planejamento deve levar em consideração a boa gestão
de estoques, tendo por base informações sobre quanto manter estocado, centralizar ou
descentralizar, quanto e quando pedir.

Além disso, compreendemos o conjunto de procedimentos que caracterizam a aquisição


de medicamentos, sendo fundamental o adequado planejamento dessas aquisições para
garantir êxito nessa atividade.

Aprendemos que as condições adequadas de estocagem e armazenamento são


fundamentais para evitar a perda de medicamentos no almoxarifado e que uma boa
dispensação realizada pelo farmacêutico contribui para o uso racional dos medicamentos.

Finalmente, concluímos a aula identificando e avaliando os principais riscos relacionados


com o ciclo da assistência farmacêutica, com objetivo de identificar o que pode dar errado
e qual o tamanho do problema, para, a partir daí, estabelecer controles internos eficazes
para evitar que os riscos se materializem.

Na próxima aula, estudaremos sobre a importância do Controle Municipal de Saúde - CMS


para a boa regular gestão dos recursos da saúde.

128
Aula 4: Conselho Municipal de
Saúde
Qual é a importância do Conselho Municipal de Saúde - CMS para o controle social do
programa?

Por que ele precisa ser criado? Qual a sua finalidade, atribuições e condições
necessárias para seu efetivo funcionamento?

Para responder estas perguntas estudaremos, nesta aula, os critérios para criação e
funcionamento do Conselho Municipal de Saúde - CMS.

Apresentaremos os conceitos básicos e a importância do CMS para garantir a implementação


das ações do programa e a regular aplicação dos recursos públicos

Por fim, abordaremos as regras de composição e as condições para o efetivo funcionamento


do CMS na fiscalização da boa e regular aplicação dos recursos públicos da assistência
farmacêutica.

Todos prontos?

Então, vamos começar.

129
4 CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE
4.1 - Conceitos Básicos
O controle social representa o exercício da democracia participativa e representativa,
no qual a comunidade local atua, direta ou indiretamente, no controle da execução
descentralizada pelos municípios da política pública federal, para garantir a implementação
das ações do programa e a regular aplicação dos recursos públicos.
Nesse sentido, o Conselho de Saúde é órgão ou instância colegiada, de caráter permanente
e deliberativo, integrante da estrutura básica da Secretaria Municipal de Saúde (no caso
do Conselho Municipal de Saúde) ou da Secretaria Estadual de Saúde (no caso do Conselho
Estadual de Saúde), com composição, organização e competência fixadas em lei, para
desenvolver o controle social na área de saúde (TCU, 2015).
A Lei 8.142/1990, art. 1o, § 2o, estabelece que:
O Conselho de Saúde, em caráter permanente e deliberativo, órgão
colegiado composto por representantes do governo, prestadores de serviço,
profissionais de saúde e usuários, atua na formulação de estratégias e no
controle da execução da política de saúde na instância correspondente,
inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas decisões serão
homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada esfera
de governo.
Vamos entender esse conceito, dividindo-o em partes:
a) Caráter permanente – O conselho de saúde deve sempre existir, independentemente
de decisões da gestão da União, do estado ou do município. Não é um órgão que possa
ser extinto por nenhuma autoridade ou lei estadual ou municipal. É necessária outra lei
federal para que ele possa ser extinto.
b) Caráter deliberativo – Deliberar significa conversar para analisar ou resolver um
assunto, um problema, ou tomar uma decisão. Assim, o conselho de saúde deve reunir-se
com o objetivo de discutir determinados assuntos ou temas e chegar a um acordo ou uma
decisão (TCU, 2015).
c) Órgão colegiado - Um órgão colegiado é composto por pessoas que representam
diferentes grupos da sociedade. Os conselhos de saúde são compostos por:
◆ representantes dos gestores do Ministério da Saúde, da Secretaria de Saúde
Estadual ou Municipal.
◆ representantes dos prestadores de serviço instituições conveniadas ao SUS ou
filantrópicas;
◆ representantes dos trabalhadores de saúde sindicatos e conselhos profissionais
da área de saúde;

130
◆ representantes dos usuários de saúde associações de moradores, associações de
trabalhadores, sindicatos, associações de portadores de patologias etc. O usuário é
aquele que não está comprometido de forma direta ou indireta com os demais grupos
(gestores, prestadores de serviço e profissionais de saúde), não possuindo qualquer
vínculo empregatício na área de saúde.

Fonte: TCU, 2015

A Lei 8.142, de 1990, estabelece também que o conselho de saúde:


“Atua na formulação de estratégias e no controle da execução da política de saúde”
– isso nada mais é do que exercer o controle social. Assim, a população dos estados e
dos municípios, por meio do conselho de saúde, ajuda a planejar a política de saúde,
identificando necessidades e prioridades, e fiscaliza como o governo administra e realiza as
ações de saúde e, também, verifica se as leis relacionadas ao SUS estão sendo cumpridas.
O conselho de saúde deve fiscalizar até mesmo as questões financeiras do gerenciamento
da saúde no estado ou município.

131
“As decisões do conselho de saúde serão homologadas pelo chefe do poder legalmente
constituído em cada esfera do governo” – isso quer dizer que o prefeito ou o secretário
de saúde municipal, no caso do conselho municipal de saúde, ou o governador ou o
secretário de saúde estadual, no caso do conselho estadual de saúde, devem aprovar as
decisões do conselho relacionadas à formulação das estratégias de saúde.
Apresentamos a seguir informações relevantes sobre a estruturação dos conselhos de
saúde:
a) Criação do Conselho
De acordo com a Lei Complementar 141/2012, os estados e municípios devem instituir e
manter em funcionamento o Conselho de Saúde (art. 22, parágrafo único, inciso II). A Lei
8.142, de 28/12/1990 determinou que a União (governo federal), os estados e os municípios
deveriam criar os conselhos de saúde (TCU, 2015).
A criação dos conselhos de saúde é estabelecida por lei municipal, no caso dos Conselhos
Municipais de Saúde (CMS), ou estadual, no caso dos Conselhos Estaduais de Saúde. Na
criação e na reformulação (reestruturação) dos conselhos de saúde, a Secretaria de Saúde,
respeitando os princípios da democracia, deverá acolher as demandas da população, de
acordo com o que foi decidido nas conferências de saúde (Resolução 453/2012).
Todo conselho de saúde deve ter regimento interno, que definirá como será o mandato
dos conselheiros e estabelecerá regras de funcionamento do conselho.

CONSULTA ONLINE DE CONSELHOS DE SAÚDE

Para consultar os conselhos de saúde cadastrados do Estado ou Município de todo o


país, clique no link: http://aplicacao.saude.gov.br/siacs/login.jsf

b) Orçamento do conselho de saúde


Geralmente o dinheiro para cobrir os custos para o funcionamento do conselho vem do
orçamento do Poder Executivo, ou seja, da prefeitura do governo estadual ou do governo
federal, por meio das respectivas secretarias de saúde (TCU, 2015).
De qualquer forma, é preciso lembrar que o dinheiro destinado ao conselho de saúde deve
ser gerenciado pelo próprio conselho. Esta é uma questão muito importante para a sua
independência.
O conselheiro tem direito de cobrar da administração municipal a disponibilização de
recursos no orçamento para funcionamento do conselho, o qual tem direito de ter dinheiro
próprio para custear despesas de funcionamento.
Vale lembrar que, de acordo com a Resolução 453/2012, o conselho de saúde terá poder de
decisão sobre o seu orçamento, não sendo mais apenas o gerenciador dos seus recursos.

132
c) Composição
A Resolução 453/2012 definiu que o conselho de saúde deve ser composto por
representantes de entidades, instituições e movimentos representativos de usuários, de
entidades representativas de trabalhadores da área da saúde, do governo e de entidades
representativas de prestadores de serviços de saúde, sendo o seu presidente eleito entre
os membros do conselho, em reunião plenária (TCU, 2015).
Nos municípios onde não existam entidades, instituições e movimentos organizados em
número suficiente para compor o conselho, a eleição da representação deve ser realizada
em plenária no município, promovida pelo conselho municipal de maneira ampla e
democrática.
Veja a seguir a composição do Conselho de Saúde:

Fonte: Elaboração própria a partir de TCU, 2015

133
Composição paritária

Preste atenção para que a paridade sempre exista. Os usuários devem sempre ser a
metade dos conselheiros, pois, se isso não ocorrer, o objetivo de promover a melhoria
do SUS para os seus usuários, por meio do conselho, pode ficar prejudicado (TCU,
2015).

No que se refere à renovação periódica da composição do conselho, a recomendação trazida


pela Resolução 453/2012 é de que, a cada eleição, os segmentos de representações de
usuários, trabalhadores e prestadores de serviços, ao seu critério, promovam a renovação
de, no mínimo, 30% de suas entidades representativas.

d) Reuniões do conselho de saúde

É importante que os assuntos tratados em cada reunião sejam registrados em ata. Basta
que, durante a reunião, a pessoa responsável pela Secretaria Executiva escreva tudo o
que está sendo falado, o mais detalhadamente possível, e registre o nome de todos os
conselheiros presentes (TCU, 2015).

Após a reunião, os escritos são organizados no caderno de atas. Na reunião seguinte será
apresentada a ata da reunião anterior, para que seja assinada pelos conselheiros que
estiveram presentes e concordarem com tudo o que foi escrito.

O conselheiro não deve, de forma alguma, assinar lista de presença ou atas de reuniões
das quais não participou.

De acordo com a Resolução 453/2012, as reuniões plenárias dos Conselhos de Saúde, além
de serem abertas ao público, deverão acontecer em espaços e horários que possibilitem a
participação da sociedade.

O plenário do conselho tem que tornar públicas suas decisões por meio de documentos,
tais como resoluções, recomendações e propostas. As resoluções serão homologadas
pelo prefeito ou governador em 30 (trinta) dias e devem ser divulgadas oficialmente.

Se os 30 dias se passarem e a resolução não for homologada, ou se o gestor não enviar ao


conselho uma justificativa com proposta de mudança ou rejeição da resolução, o conselho
de saúde pode buscar sua validação recorrendo, se necessário, ao Poder Judiciário ou ao
Ministério Público.

De acordo com a lei 8.142/90 e a Lei Complementar 141, de 2012, a existência e o


funcionamento dos conselhos de saúde pode ser uma condição necessária ao
recebimento de recursos, se assim definirem a União ou os Estados.

134
No que se refere ao funcionamento do conselho de saúde, com o advento da Lei
Complementar 141/2012, foram consolidadas as competências do Conselho de Saúde, até
então definidas em Resolução do Conselho Nacional de Saúde. Outras atribuições estão
estabelecidas na Lei 8.080/1990, em decretos presidenciais e em portarias do Ministério
da Saúde.

Cabe ao conselho, exercer, resumidamente, as seguintes atividades:

ITEM DESCRIÇÃO
Deliberar sobre estratégias e atuar no controle da execução da Política Municipal
1.
de Saúde, inclusive quanto aos seus aspectos econômicos e financeiros;
Deliberar, analisar, controlar e apreciar o funcionamento do Sistema Único de
2.
Saúde no estado ou no município;
3. Aprovar, controlar, acompanhar e avaliar o Plano de Saúde;
Apreciar, previamente, emitindo parecer sobre o Plano de Saúde e a aplicação
4. de recursos financeiros recebidos fundo a fundo, bem como dos recursos
destinados pelos orçamentos do estado ou do município para a saúde;
Apreciar a movimentação dos recursos financeiros do SUS e pronunciar-se
5. conclusivamente sobre os relatórios de gestão apresentados pela Secretaria
de Saúde do estado ou município;
6. Acompanhar e fiscalizar os procedimentos do Fundo de Saúde;
Propor critérios para a criação de comissões necessárias ao efetivo desempenho
7. do Conselho de Saúde, aprovando, coordenando e supervisionando suas
atividades;
Apreciar os parâmetros estaduais ou municipais quanto à política de recursos
8. humanos para a saúde, bem como a alocação de recursos econômicos,
financeiros operacionais e humanos dos órgãos integrantes do SUS;
Promover a articulação entre diferentes instituições e setores a fim de garantir a
9.
atenção à saúde no estado ou município;
Aprovar o regimento, a organização e as normas de funcionamento da
10.
Conferência de Saúde;
Elaborar propostas, aprovar e examinar quaisquer outros assuntos que lhes
11.
forem submetidos, dentro de sua área de competência.

Para exercer suas atribuições, os conselheiros precisarão ter acesso, periodicamente, a


diversos documentos e informações atualizadas sobre as políticas de saúde, sobre a
movimentação financeira dos recursos dessa área, bem como sobre a ocorrência de
irregularidades (TCU, 2015).

A seguir, encontram-se transcritas as informações e os documentos aos quais os


conselheiros podem ter acesso, segundo leis e outras normas:

135
DOCUMENTOS E INFORMAÇÕES BASE LEGAL
1. Montante de recursos previsto para transferência da União,
Lei Complementar 141,
com base no Plano Nacional de Saúde, pactuado entre a
de 2012, art. 17, § 3o
União, Estados e Municípios
2. Receber do gestor municipal do SUS, até o dia 30 de
março, Relatório de Gestão que demonstre a elaboração dos
Relatórios detalhados quadrimestrais, contendo as seguintes
informações: I - montante e fonte dos recursos aplicados no
Lei Complementar 141,
período; II - auditorias realizadas ou em fase de execução no
de 2012, art. 36, § 1o
período e suas recomendações e determinações; III - oferta e
produção de serviços públicos na rede assistencial própria,
contratada e conveniada, cotejando esses dados com os
indicadores de saúde da população em seu âmbito de atuação
3. Receber do município a programação anual do Plano de
Saúde, para aprovação antes da data de encaminhamento da
Lei Complementar 141,
lei de diretrizes orçamentárias do exercício correspondente,
de 2012, art. 36, § 2o
à qual será dada ampla divulgação, inclusive em meios
eletrônicos de acesso público
4. Receber, do Ministério da Saúde, se for o caso, comunicação
Lei Complementar
de irregularidades referentes a descumprimento de
141, de 2012, art. 39, §
disposições da Lei Complementar 141, de 2012, ou aplicação
5o; Decreto 7.827, de
de recursos federais em objeto diverso do originalmente
2012, art. 23, §§ 2o e 3o,
pactuado, para que o Conselho adote medidas a para que
Portaria 53/ GM/MS, de
o município promova a imediata devolução dos recursos
16/1/2013, art. 23, inciso
irregularmente aplicados ao respectivo Fundo de Saúde, com
II
recursos do próprio Tesouro
5. Participar do programa permanente de educação na saúde,
para qualificar sua atuação na formulação de estratégias e
assegurar efetivo controle social da execução da política de Lei Complementar 141,
saúde, a ser disponibilizado pelo gestor municipal do SUS, de 2012, art. 44
com prioridade para os representantes dos usuários e dos
trabalhadores da saúde
6. Receber do Sistema Nacional de Auditoria (SNA) do
Ministério da Saúde relatório contendo as irregularidades Decreto 1.651, de 1995,
identificadas na execução das ações e serviços desenvolvidos art. 10
no âmbito do SUS
7. Ter acesso aos dados e informações do acompanhamento Portaria Interministerial
da condicionalidade do Programa Bolsa-Família, objetivando MS/MDS 2.509, de
subsidiar a definição de ações e políticas de saúde ou nutrição 18/11/2004, art. 8o
8. Receber do Município informação sobre a adesão do Portaria 1.654/GM/MS,
Município ao Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da de 2011, art. 4o, § 2o,
Qualidade da Atenção Básica PMAQ-AB inciso III

136
DOCUMENTOS E INFORMAÇÕES BASE LEGAL
Portaria 1.402/GM/MS,
9. Receber do gestor municipal do SUS informações sobre
de 2011, art. 16, inciso
o Programa Academia da Saúde implantado no âmbito do
III; Portaria 2.975/GM/
município
MS, de 2011, art. 3o, § 1o

É importante lembrar que os conselheiros de saúde têm o papel fundamental de


acompanhar, de perto, como está a saúde da população e a qualidade dos serviços
oferecidos. Isso acontece porque o conselheiro pode chegar onde, muitas vezes, os
gestores ou outras autoridades não podem ir (TCU, 2015).

Por isso, é muito bom que os conselheiros estejam sempre muito bem informados a
respeito das seguintes questões:
▶ A quem se destina o atendimento em determinada unidade de saúde, ou em
determinado programa, ou seja, qual é a população-alvo dos serviços prestados por
determinada unidade de saúde?
▶ Quais os problemas de saúde mais comuns na população? Existem serviços de
saúde para atender esses problemas?
▶ A quantidade de atendimentos realizados nos postos/centros de saúde,
maternidades e hospitais, a cada mês, é compatível com as necessidades da
população?
▶ As especialidades oferecidas nas unidades de saúde e o número de consultas
realizadas por especialidade nessas unidades de saúde (por exemplo, na pediatria, na
cardiologia, na clínica-geral) estão compatíveis com as necessidades da população?
▶ Há falta de médicos especialistas na região? Se houver, em quais especialidades?
▶ Quantas crianças devem ser vacinadas?
▶ Há vacinas disponíveis para as próximas campanhas em quantidade suficiente
para o público a ser atendido?
▶ Qual a previsão da quantidade de gestantes que devem fazer o pré-natal nos
próximos meses em cada unidade de saúde? Há profissionais para atendê-las?
▶ Quantos leitos hospitalares há na rede pública, em sua região (cidade ou estado)?
▶ Quanto tempo, em média, esses leitos ficam ocupados? Quais os principais
problemas de saúde que levam às internações na rede pública?

Além disso, o conselheiro, no exercício do seu papel, precisa olhar para a realidade à sua
volta e compreender que, muitas vezes, existem fatores que influenciam na saúde da
população, e aparentemente, parecem não ter relação com saúde. Por isso, mesmo que
a área de atuação do conselheiro seja a saúde, ele precisará olhar além da saúde pura e
simplesmente (TCU, 2015).

137
Vamos observar as situações exemplificadas a seguir e suas possíveis implicações sobre a
saúde da população:

◆ O problema da falta de saneamento básico em um município (por exemplo,


falta de rede de esgoto) compromete a saúde de toda a população, em virtude do
contato com esgotos a céu aberto e da poluição dos rios, dos córregos e de outras
fontes de água.

◆ A ausência de água tratada para o consumo da população piora sensivelmente a


qualidade de vida das pessoas.

◆ A existência de estradas mal conservadas e sinalizadas também pode


comprometer a saúde, por prejudicar a chegada de alimentos em determinadas
cidades, por aumentar a quantidade de acidentes (o que aumenta o número de
internações), por prejudicar o acesso a unidades de saúde que, por vezes, são
distantes de onde as pessoas estão.

◆ A falta de acesso à alimentação, a inexistência de moradia digna, a impossibi-


lidade da prática de lazer e as deficiências na educação também contribuem para
o crescimento da violência, com impacto na saúde e na qualidade de vida da
população. As casas feitas de barro e pau-a-pique, por exemplo, podem abrigar
insetos que causam doenças, como o barbeiro que causa a doença de Chagas,
escorpiões, mosquitos que transmitem leishmaniose, dentre outros. Casas de
alvenaria melhoram as condições de saúde de seus moradores.

Verifica-se, então, que a saúde é o resultado das condições sociais, econômicas, políticas
e culturais. Assim, melhorar a saúde envolve o enfrentamento de problemas que atingem
diversos setores das políticas sociais.

Para realmente promover a saúde da população, o Plano de Saúde do estado ou do


município deve ser elaborado considerando ações e objetivos que envolvem vários setores
e diversas políticas públicas. Saúde é também uma ação de educação permanente. É
preciso sempre trabalhar esse conceito entre os conselheiros e com a população, para que
não se perca de vista as várias dimensões envolvidas.

4.2 - Identificação dos Riscos


Da mesma forma que foi realizado nos capítulos anteriores, iremos, agora, identificar as
fontes de risco, suas causas e consequências potenciais na atuação do conselho de saúde.

Nesse contexto, considerando que os principais objetivos da atividade foram debatidos


nos tópicos anteriores, apresentamos a seguir os principais riscos identificados:

138
Formulário de Identificação de Riscos
ID Riscos Causas Consequências
I n o b s e r v â n c i a Desconhecimento da legislação Prejuízo à
do percentual de quanto a composição regular organização e
participação entre do CMS; ineficiência; ausência operacionalização
r e p r e s e n t a n t e s de estrutura física e recursos do conselho.
R#20
do governo e da humanos, materiais, financeiros e
sociedade civil na tecnológicos adequados.
composição do CMS e
estrutura inadequada.
"Captura" do CMS Interferência política; Prejuízo ao bom
por interesses Desconhecimento da legislação andamento do papel
políticos locais, quanto às atribuições do CMS; fiscalizatório do
comprometendo sua Falta de treinamento para CMS.
atuação; Atuação os conselheiros; Ausência
R#21
deficiente dos de instrumentos (checklist,
membros do CMS. procedimentos, roteiro de
verificação, extrato de entrevista,
etc.) para subsidiar a atuação do
CMS.

4.3 - Avaliação dos Riscos


A análise de risco da atuação do conselho municipal de saúde foi realizada utilizando as
tabelas já apresentadas na aula 02, resultando nos níveis de risco apresentados a seguir:

Formulário de Avaliação do Risco Inerente


ID Riscos Probabilidade Impacto Nível Definição
Inobservância do percentual
de participação entre
R#20 representantes do governo e da 3 2 6 Médio
sociedade civil na composição
do CMS e estrutura inadequada.
"Captura" do CMS por
interesses políticos locais,
R#21 comprometendo sua atuação; 2 4 8 Alto
Atuação deficiente dos
membros do CMS.

SAIBA MAIS

Na biblioteca do curso encontra-se Cartilha elaborada pelo TCU para auxiliar Conselheiros
de Saúde no exercício de suas atividades.

139
SÍNTESE

Nesta aula, aprendemos que o Conselho Municipal de Saúde tem papel estratégico para
garantir a implementação do programa e a regular aplicação dos recursos públicos, no
âmbito da assistência farmacêutica.

Estudamos que o CMS é composto de 50% de usuários da saúde, 25% de profissionais da


saúde e 25% de prestadores de serviços ao SUS e gestores. Os usuários devem sempre ser a
metade dos conselheiros, com objeitvo de promover a melhoria do SUS para a população.

Também vimos que, entre as principais atribuições do CMS, estão a de aprovar, controlar,
acompanhar e avaliar o Plano de Saúde; apreciar, previamente, emitindo parecer sobre o
Plano de Saúde e a aplicação de recursos financeiros recebidos fundo a fundo, bem como
dos recursos destinados pelos orçamentos do estado ou do município para a saúde; apreciar
a movimentação dos recursos financeiros do SUS e pronunciar-se conclusivamente sobre
os relatórios de gestão apresentados pela Secretaria de Saúde do estado ou município;
entre outras.

Concluímos a aula identificando e avaliando os principais riscos relacionados à etapa de


composição e funcionamento do CMS, com objetivo de identificar o que pode dar errado
e qual o tamanho do problema para, a partir daí, estabelecer controles internos eficazes
para evitar que os riscos se materializem.

Na próxima aula, estudaremos os principais riscos identificados nos capítulos anteriores


para definirmos o tratamento que deverá ser dado, bem como os controles internos
sugeridos que podem ser implementados para que as Entidades executem o programa
farmácia básica de forma eficiente.

140
Aula 5: Tratamento dos Riscos
e Implantação de Controles
Internos
Quais são os principais riscos identificados na farmácia básica?

Como esses riscos devem ser priorizados? Existe algum critério para isso?

Quais são os controles internos sugeridos para o programa farmácia básica para que
o mesmo seja executado de forma eficiente?

Para responder estas perguntas estudaremos, nesta aula, os principais critérios para
tratamento e priorização dos riscos identificados na atividade de farmácia básica.

Na sequência, apresentaremos a Matriz de Riscos e Controles com a relação de controles


internos sugeridos para evitar que os riscos identificados se materializem.

Por fim, destacamos que o TCE/MT aprovou a matriz de riscos e controles para a atividade
de logística de medicamentos, por meio da Resolução Normativa TCE/MT 08/2016,
determinando que os municípios mato-grossenses implantem os controles sugeridos na
MRC.

Todos prontos?

Então, vamos começar.

141
5 TRATAMENTO DOS RISCOS E
IMPLANTAÇÃO DE CONTROLE INTERNO
5.1 - Conceitos Básicos
Após o conhecimento dos objetivos-chave do programa farmácia básica e seus riscos
relevantes, avaliados quanto a probabilidade de ocorrência e impacto, passaremos, agora,
à etapa de priorização dos riscos do programa farmácia básica.

A finalidade dessa etapa é apresentar uma relação de riscos em forma de gráfico, também
conhecido por Mapa de Riscos, apontando os riscos considerados mais críticos para a
gestão do Programa farmácia básica, no âmbito municipal.

O Mapa de Risco demonstra o grau de exposição de cada risco do programa. Apresenta


a posição do cálculo da probabilidade versus a posição da avaliação do impacto, após a
aplicação da metodologia, e demonstra o resultado da avaliação do risco com base em
critérios de avaliação.

O Mapa de Riscos que será utilizado para implantação e avaliação dos controles internos
da atividade de farmácia básica, objeto deste curso, apresenta 21 riscos, a saber:

Os riscos priorizados na Matriz são os seguintes:

142
ITEM DESCRIÇÃO
Incompatibilidade entre a percepção do governo com as necessidades da
R1
população.
Incompatibilidade entre as metas, indicadores, ações e recursos financeiros,
R2
previstos para o médio prazo (4 anos) com de curso prazo (1 ano).
R3 Falta de medicamentos essenciais à população por seleção inadequada
Excesso de judicialização, levando ao aumento de gastos com aquisição de
R4
medicamentos e consequente comprometimento da programação de compras.
R5 Desconhecimento da demanda não atendida de medicamentos
R6 Prescrição de medicamentos não contemplados na REMUME
Programação de compras de medicamentos sem conhecimento da demanda da
R7
população
Contratações sem padronização das especificações (Nome e Unidade de
R8
Fornecimento) dos medicamentos
Coleta insuficiente de preços de medicamentos, levando a estimativas sem
R9
embasamento, resultando na aceitação de preços acima do preço de mercado
Editais para aquisição de medicamentos sem padrão, levando a multiplicidade
R10
de esforços e repetição de erros.
R11 Exame inadequado dos documentos de habilitação e propostas de preços
Existência de conluio ou adoção de práticas anti-competitivas entre as empresas
R12
licitantes, fraudando ou frustrando o caráter competitivo da licitação;
Perda de medicamentos em função do armazenamento inadequado; alteração
da qualidade; perda e desvio de medicamentos; recebimento de insumos da
R13 saúde em desconformidade com as especificações do objeto e com a proposta
da contratada; e ausência de comprovação do efetivo recebimento dos
medicamentos adquiridos com recursos do Programa
Recebimento de medicamentos em desconformidade com as especificações do
R14
objeto e com a proposta da contratada
Ausência de comprovação do efetivo recebimento nas UBS dos medicamentos
R15
adquiridos com recursos do Programa
R16 Descarte de medicamentos vendidos de forma inadequada
R17 Falta de informações gerenciais do estoque de medicamentos
Saldo físico real de estoque de medicamentos em desacordo com os registros de
R18
saldo e movimentação nas planilhas e sistemas informatizados
Utilização indevida do medicamento, em razão de instruções inadequadas ao
R19 paciente, podendo levar a efeitos indesejáveis, comprometendo o tratamento e
consequentemente, à resolubilidade terapêutica.
Inobserância do percentual de participação na composição do CMS e estrutura
R20
inadequada

143
ITEM DESCRIÇÃO
"Captura" do CMS por interesses políticos locais, compromentendo sua efetiva
R21
atuação

Respaldado nos resultados demonstrados no Mapa de Riscos, o gestor municipal pode


aprovar o tratamento a ser dado ao risco: aceitar, mitigar, transferir ou evitar, de acordo
com o quadrante em que o risco este está localizado.

Qualquer opção de resposta a riscos definida pela organização gera custos (pessoas,
processos, estrutura física ou organizacional, tecnologia, sistemas), sejam eles diretos
ou indiretos, os quais devem ser comparados com os benefícios que serão gerados em
decorrência de sua implementação.

Essa avaliação dos custos em relação aos benefícios pode ser mais robusta e envolver sua
quantificação estatística ou implicar uma avaliação mais subjetiva. O importante é que os
custos das medidas a serem adotadas (controles internos), em resposta aos riscos, não
sejam superiores aos benefícios que tais medidas possam proporcionar para o alcance
dos objetivos correspondentes.

É nesse sentido a orientação contida no Art. 14, do Decreto-Lei nº 200/67, ao dispor que:

“o trabalho administrativo será racionalizado mediante simplificação de


processos e supressão de controles que se evidenciarem como puramente
formais ou cujo custo seja evidentemente superior ao risco.”

Nesse mesmo sentido, o art. 5, da Lei 13.460/2017 dispõe que:

“O usuário de serviço público tem direito à adequada prestação dos serviços,


devendo os agentes públicos e prestadores de serviços públicos observar as
seguintes diretrizes:

(…)

XI - eliminação de formalidades e de exigências cujo custo econômico ou


social seja superior ao risco envolvido.”

Tanto o modelo COSO ERM quanto a ISO 31000 (Seção 5.5.2 - Seleção das opções de
tratamento de riscos) ressaltam a importância da avaliação dos custos versus benefícios
das possíveis opções de respostas a riscos.

Como proposta de controles internos (resposta a riscos) que podem ser adotados pelos
municípios para gerenciar os riscos na atividade de farmácia básica, aprovados pela
Resolução Normativa TCE/MT nº 08/2016, apresentamos a seguinte Matriz de Riscos e
Controles – MRC:

144
5.2 - Matriz de Riscos e Controle
MATRIZ DE RISCOS E CONTROLES – FARMÁCIA BÁSICA

1 - Atividade: Elaboração do Plano Municipal de Saúde - PMS.


Objetivo: Assegurar que o planejamento da Farmácia Básica seja realizado com
conformidade com as normas legais, contemplando as metas, cronograma e indicadores.
Risco Controle Interno Sugerido
R#01 - Incompatibilidade CT#01.01 – Plano municipal de saúde - PMS atualizado na
entre a percepção prefeitura, com capítulo específico sobre Farmácia Básica.
do governo com as CT#01.02 – Aprovação do PMS pelo Conselho Municipal de
necessidades da população. Saúde.

2 - Atividade: Elaboração da Programação Anual de Saúde - PAS.


Objetivo: Assegurar que a programação da assistência farmacêutica seja realizada em
conformidade com as normas legais, contemplando as metas, cronograma e indicadores.
Risco Controle Interno Sugerido
R#02 - Incompatibilidade CT#02.01 – Programação Anual de Saúde – PAS vigente,
entre as metas, indicadores, elaborada a partir dos objetivos, diretrizes e metas
ações e recursos financeiros, previstos no Plano Municipal de Saúde – PMS, definindo
previstos para o médio ações que irão garantir o alcance dos objetivos e das
prazo (4 anos) com de curso metas estabelecidas no PMS e os recursos orçamentários
prazo (1 ano). necessários ao cumprimento da programação anual.

3 - Atividade: Elaboração da Relação Municipal de Medicamentos Essenciais


(Remume)
Objetivo: Estabelecer a relação municipal de medicamentos, de modo a assegurar o
acesso da população aos mesmos.
Risco Controle Interno Sugerido
CT#03.01 – Relação Municipal de
R#03 – Falta de medicamentos essenciais à
Medicamentos Essenciais (Remume)
população por seleção inadequada
compatível com a Rename.
R#04 - Excesso de judicialização, levando
ao aumento de gastos com aquisição CT#04.01 - Controle manual ou
de medicamentos e consequente eletrônico dos medicamentos
comprometimento da programação de decorrentes de decisões judiciais
compras.

145
4 - Atividade: Controle de demandas reprimidas (não atendidas) de medicamentos.
Objetivo: Assegurar instrumentos para a Prefeitura identificar se novos medicamentos
estão se tornando necessários para a população.
Risco Controle Interno Sugerido
R#05 – Desconhecimento da demanda não CT#05.01 – Controle manual ou eletrônico
atendida de medicamentos de demanda reprimida (não atendida)

5 - Atividade: Divulgação da Remume para os médicos das UBS


Objetivo: Garantir que os medicamentos prescritos pelos médicos sejam da Remume e
estejam disponíveis nas farmácias.
Risco Controle Interno Sugerido
R#06 – Prescrição de medicamentos não CT#06.01 – Divulgação da Remume para os
contemplados na REMUME médicos das UBS.

6 - Atividade: Programação de compras dos medicamentos.


Objetivo: Garantir a disponibilidade dos medicamentos previamente selecionados
nas quantidades adequadas e no tempo oportuno para atender as necessidades da
população.
Risco Controle Interno Sugerido
CT#07.01 – Planejamento de aquisição
elaborada com base em dados de consumo,
R#07 – Programação de compras de
demanda atendida e não atendida de
medicamentos sem conhecimento da
cada produto, incluindo sazonalidades e
demanda da população
estoques existentes, perfil epidemiológico
local, entre outros.

7 - Atividade: Elaboração do Termo de Referência


Objetivo: Garantir que as demandas da prefeitura sejam elaboradas após estudos
técnicos preliminares materializados no Termo de Referência - TR, especialmente quanto
a padronização de nomenclatura dos medicamentos e unidade de fornecimento.
Risco Controle Interno Sugerido
R#08 – Contratações sem padronização CT#08.01 - Relação padronizada de
das especificações (Nome e Unidade de medicamentos para servir de referência
Fornecimento) dos medicamentos para a licitação.

146
8 - Atividade: Realização de pesquisa de mercado de valores e quantidades..
Objetivo: Garantir que as pesquisas de preços realizadas previamente à licitação reflitam
os preços praticados no mercado.
Risco Controle Interno Sugerido
R#09 - Coleta CT#09.01 - Normativo estabelecendo procedimento consistente
insuficiente de preços para elaboração de estimativas de preço, a fim de orientar as
de medicamentos, equipes de planejamento das contratações da Unidade, inclusive
levando a estimativas nos casos de contratações diretas e adesões a atas de registro de
sem embasamento, preço.
resultando na
aceitação de preços CT#09.02 - Capacitação de servidores envolvidos no processo de
acima do preço de elaboração de pesquisas de preços na entidade.
mercado

9 - Atividade Relevante: Elaboração do edital e minuta do contrato


Objetivo da Atividade: Garantir que a elaboração do edital atenda a legislação
Risco Controle Interno Sugerido
CT#10.01 - Modelos de editais de licitação, check-list,
R10 - Editais para aquisição
atas de registro de preços e contratos de aquisição com
de medicamentos
elementos mínimos necessários ao cumprimento das
sem padrão, levando a
normas aplicáveis ao processo de seleção e contratação das
multiplicidade de esforços
empresas, podendo utilizar os editais-padrão da AGU como
e repetição de erros.
referência.

10 - Atividade: Habilitação e Julgamento das propostas


Objetivo: Garantir que a análise e julgamento dos documentos de habilitação e proposta
de preços das empresas sejam realizados de forma adequada.
Risco Controle Interno Sugerido
R#11 - Exame CT#11.01 - Designação formal de equipe técnica da área de
inadequado dos saúde e farmácia para auxiliar a CPL ou Pregoeiro na análise
documentos de da documentação de habilitação (ex:. Avaliação dos atestados
habilitação e de capacidade técnica) e propostas de preços das empresas
propostas de preços licitantes.

147
11 - Atividade: Análise das licitantes a fim de identificar situações que comprometam
o caráter competitivo e evitem a participação de empresas impedidas de licitar.
Objetivo: Garantir que o processo licitatório seja realizado em obediência ao princípio
constitucional da isonomia, sem ocorrência de fraudes e conluios.
Risco Controle Interno Sugerido
CT#12.01 - Rotinas para verificação (listas de
R#12 - Existência de conluio verificação) de elementos que comprometem o caráter
ou adoção de práticas competitivo (vínculos, documentos falsos, incoerências
anti-competitivas entre e inconsistências), anexando os procedimentos aplicados
as empresas licitantes, no processo licitatório
fraudando ou frustrando CT#12.02 – Exigir dos licitantes a apresentação de
o caráter competitivo da declaração formal informando que a proposta foi
licitação; elaborada de forma independente (declaração de
independência de propostas)

12 - Atividade: Recebimento, Armazenamento, Controle e Distribuição.


Objetivo: Assegurar que as atividades de recebimento, estocagem, segurança e
conservação dos medicamentos sejam realizadas de forma adequada.
Risco Controle Interno Sugerido
R#13 - Perda de medicamentos em
função do armazenamento inadequado;
CT#13.01 – Regras definindo as condições
alteração da qualidade; perda e desvio de
de estocagem e conservação dos
medicamentos; recebimento de insumos
medicamentos em conformidade com o
da saúde em desconformidade com as
Manual de Farmácia Básica na Atenção
especificações do objeto e com a proposta
Básica - Instruções Técnicas para sua
da contratada; e ausência de comprovação
Organização, do Ministério da Saúde.
do efetivo recebimento dos medicamentos
adquiridos com recursos do Programa
CT#14.01 - Comissão/servidor com formação
técnica designada para recebimento dos
R#14 - Recebimento de medicamentos em
medicamentos, apoiada em instrumentos
desconformidade com as especificações
adequados para recebimento do objeto,
do objeto e com a proposta da contratada
objetivando avaliar as especificações,
prazos de validade, data de entrega, etc.
CT#15.01 – Controles e registros dos
R#15 - Ausência de comprovação do efetivo
medicamentos (enviados/devolvidos/
recebimento nas UBS dos medicamentos
emprestados) do almoxarifado central para
adquiridos com recursos do Programa
as UBS
CT#16.01 - Controle (manual ou eletrônico)
R#16 - Descarte de medicamentos
dos medicamentos vencidos para realização
vendidos de forma inadequada
dos procedimentos de descarte.

148
13 - Atividade: Controle de Estoque
Objetivo: Assegurar a estrutura necessária para realizar o controle de estoque de
medicamentos
Risco Controle Interno Sugerido
R#17 – Falta de
CT#17.01 – Sistema informatizado de controle de estoque e
informações gerenciais
dispensação de medicamentos (Hórus-Sistema Informatizado
do estoque de
de Controle de Estoque do MS) ou controle manual.
medicamentos

14 - Atividade: Inventário Físico


Objetivo: Assegurar que quantidade de medicamentos encontrada nas prateleiras
coincide com a quantidade registrada nos controles.
Risco Controle Interno Sugerido
CT#18.01 – Inventario físico periódico das
R#18 – Saldo físico real de estoque de
condições de estocagem e conservação
medicamentos em desacordo com os
dos medicamentos e confrontação entre
registros de saldo e movimentação nas
os receituários arquivados nas UBS e suas
planilhas e sistemas informatizados
fichas de estoque.

15 - Atividade: Dispensação dos medicamentos


Objetivo: Garantir a entrega do medicamento correto ao usuário, na dosagem
e quantidade prescrita, com instruções suficientes para seu uso correto e seu
acondicionamento, de modo a assegurar a qualidade do produto.
Risco Controle Interno Sugerido
R#19 - utilização indevida do
medicamento, em razão de instruções
CT#19.01 – Dispensação de medicamentos,
inadequadas ao paciente, podendo levar
inclusive de controle especial, realizado
a efeitos indesejáveis, comprometendo
por profissional habilitado (farmacêuticos).
o tratamento e consequentemente, à
resolubilidade terapêutica.

16 - Atividade: Composição e Estrutura do Conselho Municipal de Saúde - CMS


Objetivo: CMS com composição adequada para zelar pelos medicamentos oferecidos à
população.
Risco Controle Interno Sugerido
R#20 – Inobserância do percentual de CT#20.01 – Estrutura adequada de
participação na composição do CMS e recursos humanos, financeiros, materiais e
estrutura inadequada tecnológicos

149
17 - Atividade: Atuação e Funcionamento do CMS
Objetivo: CMS atuando efetivamente na fiscalização da execução do PNAE
Risco Controle Interno Sugerido
CT#21.01 – Atas de Reunião e Parecer do
CMS evidenciando efetiva atuação
R#21 – "Captura" do CMS por interesses
CT#21.02 – Regimento Interno do CMS
políticos locais, compromentendo sua
CT#21.03 – Plano de Ação do CMS
efetiva atuação
CT#21.04 – Capacitação periódica dos
conselheiros

A partir do diagnóstico resultado da comparação entre o controle interno sugerido (Matriz


de Riscos e Controle – MRC) na Resolução Normativa – RN TCE/MT nº 08/2016 e a realidade
da gestão municipal (existência ou não do controle), a organização pode adotar um plano
de tratamento de riscos ou plano de ação (Seção 5.5.3, da ISO 31000).

Esse diagóstico já foi realizado em 127 Controladorias Municipais que participaram da 2ª


etapa do Programa APRIMORA, avaliando os controles internos da atividade de logística
de medicamentos. Esse pode ser o ponto de partida para elaboração dos planos de ação
para esses municípios avaliados.

A utilização de planos de ação é importante para o estabelecimento de prazos e responsáveis


por implementar os controles.

É essa a diretriz emanada do art. 3, da Resolução Normativa – RN TCE/MT nº 08/2016, que


assim dispõe: “Quando constatadas deficiências nos controles internos administrativos
definidos na MRC, os gestores dos entes deverão elaborar um Plano de Ação com objetivo
de implementar e/ou aperfeiçoar as atividades de controle definidas na MRC.”

Para contribuir com essas ações, por meio deste curso, o TCE/MT e a CGU estão orientando
sua atuação como indutora do processo de aperfeiçoamento da gestão pública,
subsidiando os gestores, servidores públicos, membros do controle social, entre outros,
com conhecimento técnico especializado para auxiliar na implantação dos controles
internos que irão contribuir para a melhoria da gestão e da qualidade dos medicamentos
oferecidos para a população dos municípios do Estado de Mato Grosso.

Como demonstrado neste curso, a Gestão de Riscos não é um conceito abstrato ou


complexo demais. Tampouco se aplica apenas aos órgãos das grandes cidades, em
contextos de volumosos montantes orçamentários. É possível aplicar a Gestão de Riscos
na prática, incorporar seus princípios e sua sistemática à rotina de qualquer organização,
qualquer processo, qualquer objeto de gestão, a exemplo da logística de medicamentos.

Basta começar.

150
SÍNTESE

Nesta aula, conhecemos os 21 (vinte e um) riscos identificados e priorizados na atividade


de farmácia básica. Esses riscos foram avaliados pelo autor do material didático quanto à
probabilidade de ocorrência e impacto nos objetivos, caso eles venham a acontecer.

Vimos que, para cada risco identificado, existem controles sugeridos para evitar que o risco
se materialize. Esses controles estão presentes na Matriz de Riscos e Controles, aprovada
pela Resolução Normativa – RN TCE/MT nº 08/2016.

Também estudamos que a partir do diagnóstico resultado da comparação entre o controle


interno sugerido na MRC e a realidade da gestão municipal (existência ou não do controle),
a organização pode adotar um plano de tratamento de riscos ou plano de ação, com
objetivo de implementá-los, efetivá-los e/ou aperfeiçoá-los

Enfim, chegamos ao final do nosso curso!! Iniciamos com os conceitos básicos que dão
suporte ao curso de gestão de riscos em logística de medicamentos, conhecemos o
contexto e evolução histórica do programa, as ações planejamento e organização, o ciclo
da assistência farmacêutica e o conselho municipal de saúde.

Por fim, identificamos os riscos do programa e definimos ações eficazes para gerenciar
esses riscos, por meio da implantação e/ou aperfeiçoamento dos controles internos
administrativos.

Obrigado pela sua participação. Espero que você tenha realizado um bom curso e que
alcance resultados significativos na aplicação prática da metodologia de gestão de riscos
em logística de medicamentos.

151
Aula 6: Avaliação de Controles
Internos
De que maneira é realizada a avaliação de controle internos em nível de atividades?

Como o TCE/MT tem normatizado essa avaliação em Mato Grosso?

Para responder estas perguntas estudaremos, nesta aula, a avaliação de controles internos
em nível de atividades, processos, operações específicas, abordando os seus objetivos, as
ferramentas e as atividades desenvolvidas em todas as etapas do processo de avaliação
nesse nível.

Na sequência, abordaremos as fases do processo de avaliação (planejamento, execução e


relatório) destacando as principais etapas de cada uma, incluindo o desenvolvimento de
ferramentas e instrumentos de avaliação.

Esta é a última aula do nosso curso de avaliação de controles internos, na atividade de


logística de medicamentos.

Todos prontos?

Então, vamos começar.

152
6 AVALIAÇÃO DE CONTROLES
INTERNOS
A partir do conhecimento dos principais riscos apresentados nos capítulos anteriores e
dos controles internos necessários para gerencia-los, os auditores poderão decidir quais
controles serão avaliados, a extensão dos exames, e planejará os procedimentos que
serão aplicados na realização dos testes de desenho e de efetividade operacional, que
consiste basicamente em verificar se os controles internos estão adequadamente
concebidos na proporção requerida pelos riscos, sendo aplicados e se funcionam de
maneira contínua e coerente.

Com isso, o auditor governamental estabelecerá um planejamento com foco nos riscos e
controles mais relevantes e realizar uma Auditoria Baseada em Riscos (ABR).

Aliás, é essa a diretriz emanada do art. 4, da Resolução Normativa – RN nº TCE/MT 08/2016


que assim dispõe: “Cabe ao responsável pela UCI do ente avaliar o funcionamento dos
controles internos administrativos implementados pelos gestores, devendo verificar,
além da conformidade, a eficiência, a eficácia e a efetividade das atividades de controle
definidas na MRC.”

Além disso, a UCI deverá monitorar a implementação das recomendações do relatório


específico de auditoria e analisar as providências adotadas pela gestão em capítulo
próprio do parecer quadrimestral ou semestral do Controle Interno (§ 4, do art. 5, da RN
TCE/MT nº 08/2016)

Nesse mesmo sentido, a Atricon, que congrega os Tribunais de Contas do país inteiro, tem
intesificado atuação sobre a cobrança de auditorias de avaliação de controles internos.
Daí a origem da Resolução Atricon nº 05/2014, que definiu diretrizes para estreitar o
relacionamento dos Tribunais de Contas com órgãos de controle interno – geralmente
chamados de controladorias ou auditorias gerais – na busca por desenvolver metodologia
de auditoria de avaliação de controles internos e capacitar os auditores internos nessa
área de atuação.

Nesse contexto se desenvolveu, em Mato Grosso, o Programa APRIMORA, que deu origem
aos estudos que agora se materializam neste curso.

Em 2014, o Tribunal de Contas de Mato Grosso emitiu diretrizes às controladorias1 , por meio
da Resolução TCE-MT nº 26/2014, determinando que deveriam considerar como principal
atribuição a avaliação de controles internos da organização quanto à sua capacidade
1 Para simplificação, chamamos aqui de “controladorias” as Unidades de Controle Interno (UCI), aqueles
setores responsáveis por coordenar, supervisionar e avaliar os sistemas de controle interno dentro das
organizações. A exemplo da CGU, no Poder Executivo Federal, muitas outras UCI adotaram a denominação
de Controladoria-Geral.

153
para evitar ou reduzir riscos, observando o modelo COSO. No Plano Estratégico do TCE-
MT passou a constar a meta de fomentar o aprimoramento dos sistemas de controles
internos dos fiscalizados, com o objetivo de contribuir para a melhoria do desempenho da
administração pública.

Assim, surgiu a parceria entre o TCE-MT e a CGU, no desenvolvimento de metodologia,


instrumentos de avaliação, material didático e capacitação aos controladores municipais,
para que realizassem a avaliação do nível de maturidade dos controles internos em
atividades importantes. A primeira delas envolveu a logística de medicamentos e materiais
médico-hospitalares. Depois vieram a merenda escolar, gestão de frotas e contratações. Em
2017, foram realizadas avaliações em nível de entidade e gestão financeira e os resultados
podem ser conferidos no portal do TCE-MT.

Com base nessa perspectiva e convencidos de que a avaliação dos controles internos
administrativos é a finalidade essencial dos órgãos de controle interno, podendo ser
realizada também pelos órgãos de controle externo, o auditor precisa programar seus
trabalhos.

Nesse sentido, a INTOSAI (2004), que reúne instituições de Controle do Setor Público do
mundo inteiro, sugere começar uma auditoria de avaliação de controles internos pela
identificação dos objetivos e os riscos fundamentais da organização, para, em seguida,
encontrar as áreas e as atividades mais relevantes, que merecem prioridade de análise. As
etapas do processo são divididas em planejamento, execução e relatório.

É exatamente isso que iremos fazer, apresentando a metodologia e os instrumentos


desenvolvidos para avaliação de controles internos na atividade de logística de
medicamentos em Mato Grosso.

6.1 - Planejamento
Envolve identificar os objetivos-chave dos processos e das atividades neles contidas, os
riscos relevantes relacionados e os respectivos controles que a gestão adota ou deveria
adotar para tratar esses riscos. Pode ser sistematizado em: levantamento de informações;
identificação dos objetivos, riscos e controles e planejamento dos testes de controle,
conforme demonstrado na figura a seguir:

154
Fonte: TCU (2012), adaptado.

a) Levantamento de Informações

Para entender a sequência, os eventos e as ações de uma atividade no setor público


como a logística de medicamentos, o melhor referencial para levantar informações são as
regras normativas específicas. É comum existirem leis, decretos, instruções normativas ou
portarias, disciplinando os objetivos, procedimentos e limites das ações.

Há também, com frequência, estudos acadêmicos sobre o tema, relatórios de auditorias,


jurisprudência e notícias. Desse conjunto de elementos pode-se entender os processos, os
resultados desejados, quem e como as coisas devem ser realizadas. Em geral, no serviço
público, essas fontes de informação estão disponíveis na Internet. Ou podem ser obtidas
por meio da Lei de Acesso à Informação.

155
Além disso, pode-se entrevistar os gestores responsáveis pela atividade, os servidores que
executam e operam os controles, os usuários e beneficiários. Todos eles conhecem, ao
menos em parte, como as coisas são realizadas.

b) Identificação dos objetivos, riscos e controles

Conhecidos os detalhes da atividade-alvo, está na hora de identificar seus objetivos,


riscos relevantes e os respectivos controles necessários para reduzir esses riscos.

De acordo com a Resolução no 338, de 6 de maio de 2004, do Conselho Nacional de Saúde,


que aprovou a Política Nacional de Assistência Farmacêutica, Assistência Farmacêutica
(AF) tem por objetivo apoiar as ações de saúde na promoção do acesso aos medicamentos
essenciais e promover o seu uso racional.

Além dessa definição normativa, existem materiais de capacitação, jurisprudência, estudos


acadêmicos, que ajudam a descrever as ações operacionais, as etapas, procedimentos,
agentes envolvidos, compondo o cenário da sua execução e permitindo maior compreensão
sobre o alcance e a magnitude do Programa.

Conhecidos os objetivos, vem o mapeamento de riscos, buscando responder: “o que pode


dar errado? ” Essa é a pergunta-chave a ser formulada, com o propósito de descobrir
eventos que podem influenciar o cumprimento dos objetivos de cada processo dentro do
Programa, nas ações, por exemplo, de seleção, programação, aquisição, armazenamento e
dispensação dos medicamentos. Quais eventos podem afetar negativamente os objetivos
da logística de medicamentos? Esses são os riscos a serem identificados.

Essa etapa consiste na busca, reconhecimento e descrição de riscos, em termos de suas


fontes, causas e consequências. Ao fim, teremos uma lista abrangente de riscos, baseada
em eventos que possam impedir, reduzir ou atrasar os objetivos.

Com base nessa perspectiva, destacamos alguns riscos da atividade de logística de


medicamentos:

ID Risco Causa Consequência


Falta de
Inexistência de comissão
medicamentos Piora na qualidade de saúde
de farmácia e terapêutica;
essenciais à da população; inviabilidade
ausência de estudos de
R#01 p o p u l a ç ã o do tratamento, nos casos em
perfil epidemiológico e
por seleção que o paciente não puder arcar
nosológico; ausência de
inadequada com os custos dos fármacos.
elaboração da REMUME
(Remume)

156
ID Risco Causa Consequência
Aquisição de Aquisições em quantidades e
medicamentos valores superiores ao limite
Inexistência de controle
não contemplados da ata de registro de preços;
R#02 manual ou eletrônico de
em ata; aquisições adesões indiscriminadas
itens registrados
superiores ao em percentual superior ao
limite registrado. legalmente permitido
Perda de Desperdício de medicamentos
Falta de um Procedimento
medicamentos por perda de validade; entrada
Operacional Padrão
em função do de animais e insetos nos
definindo as condições de
armazenamento locais dos medicamentos;
estocagem e conservação
R#03 i n a d e q u a d o ; comprometimento da
dos medicamentos,
alteração da quantidade (desperdício), e
em conformidade com
qualidade; perda qualidade, prejudicando os
orientações do Ministério
e desvio de pacientes e os objetivos da
da Saúde
medicamentos; Farmácia Básica.

Fonte: Elaborado pelos autores

Identificados os riscos relevantes, o auditor analisa os controles internos que a gestão


adota ou que deveria adotar para gerenciar esses riscos.

Essa atividade pode se valer de entrevistas, questionários, solicitações de auditoria,


consulta à legislação, doutrina e jurisprudência sobre o assunto e ainda, a experiência
profissional, estabelecendo as melhores práticas de controles que possam mitigar
os riscos, atendendo ao princípio da racionalidade administrativa, simplificação de
processos e a lógica de custo/benefício, de forma a comparar o descrito pelos gestores
com as melhores práticas, com objetivo de verificar se o que é praticado pelo gestor é o
que deveria ser praticado sob o ponto de vista de controle.

Com base nessas informações, o auditor elabora a Matriz de Risco e Controles – MRC,
produto final da fase de identificação dos objetivos, riscos e controles. No caso deste
curso, a Matriz de Riscos e Controle já se encontra elaborada e foi objeto de aprovação
pelo TCE/MT, por meio da Resolução Normativa 08/2016.

c) Planejamento dos testes de controle

A próxima tarefa é decidir quais controles avaliar, a extensão e escopo dos exames, os
procedimentos para testes de desenho e de efetividade operacional. Trata-se de verificar
se os controles existem, se estão adequados, se estão sendo aplicados e se funcionam, ou
seja, se são capazes de reduzir o risco de maneira contínua e coerente, alinhados com as
respostas a riscos definidas pela administração.

157
Assim, orientando-se pela MRC, o auditor desenvolve os instrumentos que conduzirão a
aplicação dos testes de controles. Na Logística de Medicamentos são:
▶ Questionário de Avaliação de Controles Internos (QACI);
▶ Procedimentos de Auditoria;
▶ Roteiro de Verificação - Armazenagem de Medicamentos; e
▶ Checklist de análise documental.

Após definir os instrumentos de avaliação, que especificam como avaliar, o auditor, ainda
na fase de planejamento dos testes de controle, determina o que será testado, definindo a
amostragem (processos licitatórios, estoques, farmácias, pessoas).

6.2 - Execução
Planejada a auditoria, aplicam-se os instrumentos de avaliação, coletando evidências dos
achados, desenvolvendo as constatações e documentando o trabalho realizado.

Para preencher o QACI, adotamos uma escala de eficácia dos controles internos:

Eficácia Situação encontrada


0 - Inexistente Ausência completa do controle;
1 - Fraco Informal; sem disseminação; sem aplicação; quase sempre falha;
2 - Mediano Formalizado, conhecido, aplicado, funciona; pode ser aprimorado;
Sem falhas detectadas; pode ser enquadrado num nível de “melhor
3 - Forte
prática”.

Fonte: Elaborado pelos autores

Um controle classificado como “Forte” (3 pontos) mitiga todos os aspectos relevantes


do risco. Tem um desenho adequado e funciona todas às vezes que é necessário. Para
entender esse conceito, pense numa catraca eletrônica na recepção de um edifício. É um
controle de entrada e saída de pessoas. Serve para mitigar o risco de segurança.

Essa catraca seria um controle “Forte” se todas as pessoas sempre a utilizassem. Se o


sistema, todas às vezes, contemplasse os dados mínimos de cadastramento de usuários.
Ninguém entra ou sai do prédio sem efetivo registro.

Agora imagine que, às vezes, alguém deixa de usar a catraca. O crachá não é reconhecido
ou o porteiro deixa algum conhecido entrar sem registro. Acontece com pouca frequência,
mas acontece. Esse é um controle do tipo “Mediano” (2 pontos). Há falhas que podem
ser melhoradas em sua efetividade. A tecnologia é boa, a catraca funciona, mas pode ser
melhorada.

158
Por outro lado, a catraca poderia existir, mas ter uma tecnologia obsoleta, que torna
lento o fluxo de pessoas, ou que fica inoperante com frequência, ou que as pessoas não
respeitam. Muita gente entra e sai do edificio sem registro. Esse é um controle “Fraco”.

Mesmo a melhor catraca do mundo, se não for utilizada, será um controle “Fraco”. De
pouco ou nada vale um controle que não mitiga riscos.

Com essa lógica, ao avaliar os contoles internos, o auditor atribui uma nota ao controle.

Os instrumentos de avaliação aplicados durante a auditoria fornecem as evidências para


auxiliar o julgamento, tornando o tratamento dos dados e os resultados mais objetivos.
A adoção da escala para pontuação dos testes de controle permitirá a interpretação dos
resultados e definição do nível de maturidade dos controles internos na atividade.

Adotamos aqui, a escala proposta pelo TCU no Acórdão nº 568/2014–Plenário. A soma de


pontos obtidos é dividida pelo total de pontos possíveis, o que resulta em um índice de
Avaliação dos Controles Internos Municipais (iACIM) em nível de atividade, conforme a
figura:

Fonte: TCU, Acórdão nº 568/2014–Plenário.

6.3 - Relatório
Os achados de auditoria mais relevantes vão a relatório, de modo a fundamentar as
conclusões e recomendações para os responsáveis e interessados pela atividade avaliada,
com vistas a implementar um plano de ação para o aperfeiçoamento dos controles internos
da atividade avaliada.

Afinal, o principal objetivo da auditoria é identificar as oportunidades de melhoria dos


controles internos, de modo a aumentar a capacidade de mitigar os riscos e contribuir
para o alcance dos objetivos da atividade avaliada.

Agora que já entendemos como a coisa funciona, vamos aprender, na prática, como se faz
isso na logística de medicamentos.

Para garantir que os trabalhos de avaliação sejam executados de forma eficiente e


padronizados, apresentamos, a seguir, os instrumentos de avaliação que podem ser
utilizados em um trabalho de avaliação de controles internos na atividade de logística de
medicamentos.

159
FARMÁCIA
PREFEITURA MUNICIPAL DE
PANTANAL DO NORTE/MT Rev. 01

CONTROLADORIA-GERAL DO MUNICÍPIO 01/04/2018


CONTROLADORIA-GERAL DO MUNICÍPIO DE PANTANAL DO NORTE/MT
QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DE CONTROLES
INTERNOS (QACI) – FARMÁCIA BÁSICA
Objetivo: Garantir que os trabalhos de avaliação dos controles internos da logística de
medicametnos sejam executados de forma objetiva, eficiente e padronizados.

Escala de Eficácia
Situação do Controle
do Controle
0 - Inexistente Ausência completa do controle
1 - Fraco Em desenvolvimento; informal; sem disseminação; sem aplicação
efetiva; quase sempre falha
2 - Mediano Formalizado, conhecido, adotado na prática, funciona na maior
parte das vezes; pode ser aprimorado
3 - Forte Mitiga o risco em todos os aspectos relevantes; sem falhas
detectadas; pode ser enquadrado num nível de “melhor prática”
01 – A execução das ações e serviços de saúde estão sendo realizadas com base em
planejamento municipal da Farmácia Básica ou Plano Municipal de Saúde – PMS com
capítulo específico sobre Farmácia Básica?
( ) 0 – Inexistente
( ) 1 - Fraco
( ) 2 – Mediano
( ) 3 – Forte

Justificativa da resposta:
Clique aqui para digitar texto.

02 – A prefeitura elaborou Relação Municipal de Medicamentos - REMUME?


( ) 0 – Inexistente
( ) 1 - Fraco
( ) 2 – Mediano
( ) 3 - Forte

Justificativa da resposta:
Clique aqui para digitar texto.

160
03 – A prefeitura mantém controle dos medicamentos adquiridos em decorrência de
decisões judiciais?
( ) 0 – Inexistente
( ) 1 - Fraco
( ) 2 – Mediano
( ) 3 - Forte

Justificativa da resposta:
Clique aqui para digitar texto.

04 – A prefeitura dispõe de controle das demandas reprimidas (não atendidas) de


medicamentos?
( ) 0 – Inexistente
( ) 1 - Fraco
( ) 2 – Mediano
( ) 3 - Forte

Justificativa da resposta:
Clique aqui para digitar texto.

05 – Há divulgação da relação de medicamentos elaborada pela prefeitura (Remume)


aos médicos das UBS??
( ) 0 – Inexistente
( ) 1 - Fraco
( ) 2 – Mediano
( ) 3 - Forte

Justificativa da resposta:
Clique aqui para digitar texto.

06 – A prefeitura realiza programação de suas compras de medicamentos?


( ) 0 – Inexistente
( ) 1 - Fraco
( ) 2 – Mediano
( ) 3 - Forte

Justificativa da resposta:
Clique aqui para digitar texto.

161
07 – A Prefeitura designa formalmente equipe técnica para auxiliar a CPL na análise
da documentação de habilitação e propostas de preços nas licitações para aquisição
de insumos da saúde?
( ) 0 – Inexistente
( ) 1 - Fraco
( ) 2 – Mediano
( ) 3 - Forte

Justificativa da resposta:
Clique aqui para digitar texto.
08 - As condições de estocagem e conservação dos medicamentos adquiridos pela
prefeitura estão em conformidade com as boas práticas recomendadas pelo Ministério
da Saúde, presentes no Manual de Farmácia Básica do MS?
( ) 0 – Inexistente
( ) 1 - Fraco
( ) 2 – Mediano
( ) 3 - Forte

Justificativa da resposta:
Clique aqui para digitar texto.
09 - A Entidade dispõe de controle eletrônico ou manual de estoque dos medicamentos
armazenados no depósito central e nas UBS’s?
( ) 0 – Inexistente
( ) 1 - Fraco
( ) 2 – Mediano
( ) 3 - Forte

Justificativa da resposta:
Clique aqui para digitar texto.
10 - As atividades de dispensação de medicamentos estão sendo realizadas por
profissionais habilitados (farmacêutico)?
( ) 0 – Inexistente
( ) 1 - Fraco
( ) 2 – Mediano
( ) 3 - Forte

Justificativa da resposta:
Clique aqui para digitar texto.

Pantanal do Norte - MT, Servidor responsável pela análise (nome e assinatura)

Versão de 01/03/2018

162
ESTADO DE MATO GROSSO
PREFEITURA MUNICIPAL DE PANTANAL DO NORTE
CONTROLADORIA-GERAL DO MUNICÍPIO

PROCEDIMENTO DE AUDITORIA

AVALIAÇÃO DA FARMÁCIA BÁSICA

I – OBJETIVOS
Avaliar a estrutura de controles internos instituída pela prefeitura com vistas a garantir
que seus objetivos para a área da Farmácia Básica sejam atingidos.

II – CONCEITOS
1) CONTROLE INTERNO: conjunto de atividades, planos, métodos, indicadores e
procedimentos interligados, utilizado com vista a assegurar a conformidade dos atos
de gestão e a concorrer para que os objetivos e metas estabelecidos para as unidades
jurisdicionadas sejam alcançados. (IN TCU nº 63/2010)

2) RISCO: exposição a fatos, como ganhos ou perdas econômicas ou financeiras, danos


materiais, insucessos de um projeto em alcançar seus objetivos, descontentamento
de cliente, má reputação, ameaças à segurança das instalações ou falta de segurança,
malversação de recursos, inoperância de equipamentos e fraudes. O risco caracteriza,
portanto, a probabilidade de ocorrência de fatores (internos ou externos) à organização,
que afetem ou comprometam o alcance das metas e o cumprimento dos objetivos.

3) AVALIAÇÃO DE CONTROLES INTERNOS: visa a avaliar o grau em que o controle interno


de organizações, programas e atividades governamentais assegura, de forma razoável,
que, na consecução de suas missões, objetivos e metas, os princípios constitucionais da
administração pública sejam obedecidos; as operações sejam executadas com eficiência,
eficácia e efetividade, de maneira ordenada, ética e econômica e em conformidade com as
leis e os regulamentos aplicáveis; as informações e os registros produzidos sejam íntegros,
confiáveis e estejam disponíveis para apoiar o processo decisório e para o cumprimento
das obrigações de prestar contas; e os recursos, bens e ativos públicos sejam protegidos
de maneira adequada contra desperdício, perda, mau uso, dano, utilização não autorizada

163
ou apropriação indevida.

4) FARMÁCIA BÁSICA: conjunto de ações voltadas à promoção, proteção e recuperação


da saúde, tendo o medicamento como insumo essencial e visando o acesso e seu uso
racional.

5) ÓRGÃOS DE CONTROLE INTERNO: unidades administrativas, integrantes dos sistemas


de controle interno da administração pública, incumbidas, entre outras funções, da
verificação da consistência e qualidade dos controles internos, bem como do apoio às
atividades de controle externo exercidas pelo Tribunal

III – BASE NORMATIVA


1) Resolução nº 1.135/2008, do Conselho Federal de Contabilidade - Aprova a NBC T 16.8
– Controle Interno.

2) Committee of Sponsoring Organizations of the Treadway Commission (COSO), (Org.).


Internal Control: integrated framework. United States of America: COSO, 1992. (Executive
Summary).

3) Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8.080/90) – Dispõe sobre as condições para a promoção,
proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
correspondentes e dá outras providências.

4) Política Nacional de Medicamentos (Portaria GM/MS nº 3.916/98) – Aprovar a Política


Nacional de Medicamentos

5) Portaria GM/MS nº 204/2007 – Regulamenta o financiamento e a transferência dos


recursos federais para as ações e os serviços de saúde, na forma de blocos de financiamento,
com o respectivo monitoramento e controle.

6) Decreto nº 7.508/2013 – Regulamenta a Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, para


dispor sobre a organização do Sistema Único de Saúde - SUS, o planejamento da saúde, a
assistência à saúde e a articulação Inter federativa, e dá outras providências.

7) Portaria nº 1.555/2013 - regulamenta o Componente Básico da Farmácia Básica.

IV – OPERACIONALIZAÇÃO
A – LEVANTAMENTO DE DOCUMENTAÇÃO

1. Solicitar formalmente (por meio de Solicitação de Documentos) os documentos e


informações relacionados a seguir:

164
1 – Avaliação do Sistema de Controle Interno – Farmácia Básica

1.1 - Informar (por meio de memorando):

a) Como são feitos o controle de estoque e a distribuição dos medicamentos da farmácia


básica. Se for utilizado sistema informatizado, informar o nome do software e o respectivo
período de utilização;

b) Quais os métodos de programação de compra de medicamentos (perfil epidemiológico,


oferta de serviços, consumo histórico ou ajustado etc.) adotados pelo Município em
2014. Detalhar como e com que periodicidade é feito o levantamento da demanda de
medicamentos, indicando todos os trâmites internos e os nomes e CPFs dos responsáveis
pelas atividades de levantamento da demanda, pesquisa de preços, formulação do pedido
de compra, autorização da compra, processo licitatório, recebimento e conferência dos
produtos e atesto das notas fiscais. Para essas informações considerar os últimos 12
(doze) meses;

c) Informar se foram descartados medicamentos básicos com prazo de validade vencidos


ou deteriorados nos últimos 12 (doze) meses;

d) Informar como é feito o descarte de medicamentos com prazo de validade vencido, na


Unidade da Farmácia Básica e nas Unidades de Saúde;

e) Como é feita a divulgação da relação de medicamentos da farmácia básica aos médicos


das Unidades Básicas de Saúde, disponibilizando a documentação comprobatória;

f) Informar se existe um manual de normas e procedimentos para a atividade de licitação


de contrato na prefeitura. Disponibilizar a documentação comprobatória se houver.

g) Se a prefeitura padronizou as nomenclaturas e unidades de fornecimento de


medicamentos para aquisição por meio de processo licitatório;

h) Se a prefeitura realiza inventário físico no almoxarifado central e nas unidades básicas


de saúde e qual a sua periodicidade.

1.1.2 - Disponibilizar para exame:

a) Plano Municipal de Saúde com capítulo específico sobre Farmácia Básica Municipal ou
plano da Farmácia Básica. Caso não exista, justificar;

b) Ata de aprovação do respectivo Plano pelo Conselho Municipal de Saúde, se houver;

c) Relação Municipal de Medicamentos (REMUME);

d) Controles instituídos pela prefeitura para registro das demandas reprimidas (não

165
atendidas) de medicamentos e controles de medicamentos dispensados decorrentes de
decisões judiciais;

e) Todos os processos licitatórios, inclusive dispensas e inexigibilidades de licitação,


realizados para a aquisição dos medicamentos básicos nos últimos 12 (doze) meses;

f) Documentação comprobatória das aquisições de medicamentos realizados nos últimos


12 (doze) meses (notas fiscais, empenhos, notas de liquidação, cheques e ordens de
pagamento e transferências);

g) Controles/documentos dos envios de medicamentos básicos distribuídos da Unidade


da Farmácia Básica/ Almoxarifado da Secretaria Municipal de Saúde para as Unidades de
Saúde nos últimos 12 (doze) meses;

1.3 - Sistema HORUS: Informar se o município está alimentando a Base Nacional de


Dados de ações e serviços referentes ao Componente Básico da Farmácia Básica no
âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), utilizando-se do Sistema Nacional de Gestão da
Farmácia Básica – HÓRUS ou de outro sistema similar com informações sobre a execução
do Programa.

B – VERIFICAÇÃO DAS CONFORMIDADES

As técnicas mais utilizadas em avaliações de controles internos são entrevista, observação


direta e exame documental. Por conseguinte, os instrumentos para aplicá-las configurar-se-
ão como: Questionário de Avaliação de Controles Internos (QACI), Roteiros de Entrevistas,
Roteiros de Observação Direta e Procedimentos para Exames Documentais.

Sem prejuízo de outras técnicas de avaliação de controles internos, recomenda-se a


utilização do QACI, Roteiro de Verificação de Almoxarifado, Check-list de licitação e
contratos e Matriz de Riscos e Controle (MRC), produzidos para orientar o desenvolvimento
dos trabalhos e servir de papéis de trabalho, os quais se encontram disponíveis à equipe
de auditoria.

B.1 – APLICAÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO

De posse dos documentos disponibilizados pelos gestores da prefeitura, em atendimento


à Solicitação de Auditoria encaminhada previamente, e após entrevista com servidores
responsáveis pelo processo (utilizando o QACI como roteiro), com objetivo de conhecer as
rotinas e controles internos existentes na área de medicamentos, a equipe deverá aplicar
os teste de auditoria para avaliar a qualidade desses controles instituídos, especialmente
quanto a sua existência, adequação e eficácia operacional.

Os procedimentos constantes da segunda coluna da tabela a seguir têm por objetivo


auxiliar a equipe na análise dos controles, mas não possuem caráter exaustivo; ou seja,
caso a equipe deseje realizar outras verificações, deve fazê-lo, atentando para o objetivo

166
dos trabalhos.

Ademais, cabe informar que os itens de nº 07 a 12 serão verificados por meio de análise
dos processos licitatórios de medicamentos realizados no exercício, selecionados pela
equipe de auditoria com base nos critérios de materialidade, relevância e criticidade.

Após definição dos processos a serem avaliados (amostra), a equipe deverá aplicar o
Check-list de Licitação para verificação de sua regularidade. Por sua vez, a verificação
do item de nº 13 será realizada por meio de inspeção física no local de armazenagem/
UBS, aplicando o Roteiro de Verificação de Almoxarifado. Já no item de nº 17 a equipe
de auditoria deverá elaborar amostra de medicamentos mais utilizados para certificar
se o saldo registrado na planilha/sistema está de acordo com a quantidade existente
fisicamente.

Os demais itens serão confirmados por exame documental e entrevista com os gestores,
conforme procedimentos demonstrados a seguir:

AVALIAÇÃO DE CONTROLES INTERNOS – LOGÍSTICA DE MEDICAMENTOS


1. Existência (Subsídio para responder os itens 0)
1.1 – Verificar a existência de um Plano Municipal de Saúde – PMS com capítulo
específico para assistência farmacêutica (ou um plano da Assistência Farmacêutica);
2. Adequação (Subsídio para responder os itens 1 e 2)
1 – A execução das
ações e serviços de 2.1 – Avaliar se o PMS contempla: intenções e resultados a serem buscados no perído
saúde estão sendo de quatro anos; objetivos, diretrizes e metas para a área de saúde.
realizadas com base em
2.2 - Verificar se PMS foi elaborado levando em consideração as características
planejamento municipal
epidemiológicas e organização dos serviços de saúde nos entes federativos e Regiões
da Farmácia Básica
de Saúde;
ou Plano Municipal
de Saúde – PMS com 2.3 – Verificar se o PMS é atualizado periodicamente; e
capítulo específico sobre
2.3 - Verificar se houve aprovação do PMS pelo Conselho de Saúde e divulgados aos
Farmácia Básica?
setores da sociedade envolvidos com o tema, a fim de possibilitar o controle social.
3. Efetividade (Subsídio para responder o item 3)
3.1 – Analisar se a Plano Municipal de Saúde tem contribuído com a melhoria da
qualidade de saúde da população a partir de indicadores (julgamento profissional).

167
AVALIAÇÃO DE CONTROLES INTERNOS – LOGÍSTICA DE MEDICAMENTOS
1. Existência (Subsídio para responder os itens 0)
1.1 – Verificar a houve elaboração da Programação Anual de Saúde - PAS (instrumento
que operacionaliza as intenções expressas no PMS).
2. Adequação (Subsídio para responder os itens 1 e 2)
2.1 – Avaliar se a Programação Anual de Saúde – PAS detalha as ações, metas, recursos
financeiros e indicadores para avaliação, além das áreas responsáveis e parcerias
2 – Foi elaborada a necessárias para a execução das ações, por meio das quais se pretende alcançar tais
Programação Anual de objetivos.
Saúde - PAS? 2.2 - Verificar se a Programação Anual de Saúde foi coordeanda pela área de
planejamento ou equipe designada para essa atividade.
2.3 - Verificar se houve aprovação da PAS pelo Conselho de Saúde e divulgados aos
setores da sociedade envolvidos com o tema, a fim de possibilitar o controle social.
3. Efetividade (Subsídio para responder o item 3)
3.1 – Analisar se a Programação Anual de Saúde tem contribuído com a melhoria da
qualidade de saúde da população a partir de indicadores (julgamento profissional).
1. Existência (Subsídio para responder os itens 0)
1.1 – Verificar se existe REMUNE no município.
2. Adequação (Subsídio para responder os itens 1 e 2)
2.1 – Avaliar se a REMUME foi elaborada por Comissão de Farmácia e Terapêutica – CFT.
2.2 - Avaliar se existe estudo de perfil epidemiológico e nosológico do município, e ainda,
3 – A prefeitura elaborou se a REMUNE está compatível com a Relação Nacional de Medicamentos – RENAME;
Relação Municipal
de Medicamentos - 2.3 – Verificar se a REMUME encontra atualizada (elaborada há menos de 2 anos) e se
REMUME? esta sendo efetivamente utilizada.
2.4 – Avaliar se a REMUME foi aprovada pelo Conselho Municipal de Saúde.
2.5 – Verificar se a REMUME é divulgada no Portal da Transparência do município.
3. Efetividade (Subsídio para responder o item 3)
3.1 – Examinar se a REMUME tem contribuído para uma melhor gestão dos medicamentos
essencias no município.
1. Existência (Subsídio para responder os itens 0)
1.1 – Verificar se a entidade dispõe de algum controle (manual ou eletrônico) de
medicamentos adquiridos em decorrência de decisão judicial
2. Adequação (Subsídio para responder os itens 1 e 2)
4 – A prefeitura
mantém controle 2.1 – Avaliar se o município utiliza o controle de medicamentos demandados
dos medicamentos judicialmente para atualizar a Remume;
adquiridos em
2.2 - Verificar se o controle tem sido utilizado para promover a recomposição ao erário
decorrência de decisões
municipal, quando do fornecimento por determinação judicial de medicamentos de
judiciais?
responsabilidade do estado ou da união.
3. Efetividade (Subsídio para responder o item 3)
3.1 – Analisar se controle de medicamentos adquiridos judicialmente tem resultado na
adequação do planejamentos de aquisição de medicamentos do município.

168
AVALIAÇÃO DE CONTROLES INTERNOS – LOGÍSTICA DE MEDICAMENTOS
11. Existência (Subsídio para responder os itens 0)
1.1 – Verificar se a entidade dispõe de algum controle (manual ou eletrônico) de
demandas não atendidas de medicamentos.
5 – A prefeitura
mantém controle de 2. Adequação (Subsídio para responder os itens 1 e 2)
demandas reprimidas 2.1 – Avaliar se o município utiliza o controle de demandas reprimidas para atualizar a
(não atendidas) de Remume.
medicamentos)
3. Efetividade (Subsídio para responder o item 3)
3.1 – Analisar se controle demandas reprimidas tem resultado na adequação do
planejamentos de aquisição de medicamentos do município.
1. Existência (Subsídio para responder os itens 0)
6 – Há divulgação
da relação de 1.1 - Examinar junto aos gestores se a prefeitura adota ações de divulgação da REMUME
m e d i c a m e n t o s junto a todos os profissionais de saúde.
elaborada pela
2. Adequação (Subsídio para responder os itens 1 e 2)
prefeitura
2.1 – Avaliar a forma de divulgação da REMUME, podendo ser realizada por meio de
(Remume) aos médicos palestras, seminários, portaria, portal da transparência, outros meios de comunicação.
das UBS? 3. Efetividade (Subsídio para responder o item 3)
3.1 – Verificar se a divulgação da REMUME tem contribuído para prescrição dos
medicamentos presentes na relação, evitando a falta de assistência para a população.
1. Existência (Subsídio para responder os itens 0)
1.1 – Examinar se a organização dispõe de critérios e métodos para programação das
compras de medicamentos.
2. Adequação (Subsídio para responder os itens 1 e 2)
2.1 – Avaliar se existe normativo definindo o método adotado pela organização (perfil
epidemiológico, custo histórico, consumo médio mensal (CMM), oferta de serviços, etc)
para estimar quantidades de medicamentos necessárias para aquisição.
2.2 – Analisar se o normativo foi comunicado e está disponíveis a todos na organização
(intranet, internet, videoconferências, workshops, portarias, emails, etc).
7 – A prefeitura realiza 2.3 - Verificar se existe uma estratégia para assegurar compreensão uniforme, na
programação de organização, dos conceitos e da terminologia utilizadas no normativo.
suas compras de
2.4 – Avaliar se houve capacitação dos servidores envolvidos no processo de elaboração
medicamentos?
de estimativa de quantidade na entidade.
2.5 - Verificar se as quantidades adquiridas são fundamentadas em memórias de cálculo
que lhe deram origem e nos documentos que evidenciam as informações utilizadas no
cálculo, todos apensados aos autos do processo de contratação.
2.6 – Analisar se são levados em conta as demandas reprimidas, expectativa de
alteração na demanda futura, estoque atual, estatística de consumo médio, referências
técnicas, etc.
3. Efetividade (Subsídio para responder o item 3)
3.1 – Analisar se a programação de compras tem contribuído para melhor gestão dos
medicamentos no município.

169
AVALIAÇÃO DE CONTROLES INTERNOS – LOGÍSTICA DE MEDICAMENTOS
1. Existência (Subsídio para responder os itens 0)
1.1 – Verificar a Entidade dispõe de uma padronização da nomenclatura dos
medicamentos fornecidos.
2. Adequação (Subsídio para responder os itens 1 e 2)
2.1 – Avaliar se padronização da nomenclatura contém, por exemplo, nome dos
8 – A prefeitura
medicamentos por ordem alfabética e Denominação Comum Brasileira (DCB)/nome
padronizou as
da substância química/princípio ativo; número do código dos medicamentos; forma
nomenclaturas
farmacêutica; concentração; apresentação da embalagem; especificação técnica; e
e unidades de
nível de utilização.
fornecimento dos
medicamentos? 2.2 – Avaliar se a padronização envolveu diversos setores na organização e se sua
utilização, como regra, é obrigatória nos processos licitatórios.
3. Efetividade (Subsídio para responder o item 3)
3.1 – Verificar se os medicamentos padronizados estão sendo utilizados nas aquisições
de medicamentos e contribuído para a eficiência da assistência farmacêutica no
município.
1. Existência (Subsídio para responder os itens 0)
1.1 - Examinar se a Entidade normatizou os procedimentos para elaboração de
pesquisas de preços, de modo a orientar as equipes de planejamento da contratação.
2. Adequação (Subsídio para responder os itens 1 e 2)
2.1 – Avaliar se o conteúdo do normativo abrange as assuntos como princípios,
conceitos, responsabilidades, especificação do objeto, pesquisa de preços preliminar,
9 – A Enidade classificação de prioridades, fontes de referência, tratamento dos dados, formalização
normatizou os critérios processual, prazo de realização, validade, etc.
para realização de 2.2 - Analisar se o normativo foi comunicado e está disponíveis a todos na organização
pesquisa de preços (intranet, internet, videoconferências, workshops, portarias, emails, etc);
de medicamentos
prévia a realização das 2.3 - Verificar se existe uma estratégia para assegurar compreensão uniforme, na
licitações, dispensas e organização, dos conceitos e da terminologia utilizadas nos manuais.
inexigibilidades? 2.4 – Avaliar se houve capacitação dos servidores envolvidos no processo de elaboração
de pesquisas de preços na entidade.
3. Efetividade (Subsídio para responder o item 3)
3.1 – Analisar se no período de vigência do normativo houve redução do prazo para
elaboração de preços de referência;
3.2 – Verificar se no período de vigência houve ocorrência de sobrepreço,
superfaturamento, jogo de planilha, etc.

170
AVALIAÇÃO DE CONTROLES INTERNOS – LOGÍSTICA DE MEDICAMENTOS
1. Existência (Subsídio para responder os itens 0)
1.1 - Examinar se a Entidade padronizou os editais de licitação, dispensa e inexigibilidade
para aquisição de medicamentos.
2. Adequação (Subsídio para responder os itens 1 e 2)
2.1 – Avaliar se o edital padronizado contém elementos mínimos necessários ao
cumprimento das normas aplicáveis ao processo de seleção e contratação das
10 – A Entidade empresas;
utiliza edital-padrão
nas licitações de 2.2 - Analisar se o edital padronizado é complementado com modelos de check-list,
medicamentos? atas de registro de preços e contratos de aquisição;
2.3 – Analisar se foi promovida, mediante orientação normativa, a obrigatoriedade da
utilização do edital-padrão e check-list, as quais devem ser acostadas aos autos dos
processos licitatórios.
3. Efetividade (Subsídio para responder o item 3)
3.1 – Analisar se a partir da utilização de editais-padronizados tem reduzido o tempo
médio de realização do certame; redução de recursos e impugnações ao edital; etc.
1. Existência (Subsídio para responder os itens 0)
11 – A Entidade designa 1.1 - Examinar se a Entidade designa formalmente (portaria ou outro meio) equipe
formalmente equipe técnica com profissionais de saúde para auxiliar a CPL ou pregoeiro.
técnica para auxiliar
a CPL ou pregoeiro na 2. Adequação (Subsídio para responder os itens 1 e 2)
análise da documentação 2.1 – Avaliar se a equipe técnica dispõe de estrutura, capacitação e tempo suficiente
de habilitação e para atuar efetivamente nos certames realizados pela entidade.
propostas de preços nas
licitações para aquisição 3. Efetividade (Subsídio para responder o item 3)
de medicamentos? 3.1 – Analisar se a equipe técnica tem contribuiído para a regularidade e eficiência dos
processos licitatórios de aquisição de medicamentos.
1. Existência (Subsídio para responder os itens 0)
1.1 - Examinar se a Entidade dispõe de instrumentos (check-list; procedimentos
operacionais; normativos, etc) para detecção de fraudes e conluio.
2. Adequação (Subsídio para responder os itens 1 e 2)
2.1 - Avaliar se o conteúdo dos instrumentos abrange as ações a serem adotadas, os
itens a serem verificados, bem como os prazos e responsáveis para aplicar, revisar e
supervisionar essas ações;
12 – A Entidade adota
2.2 - Analisar se os manuais, normas ou instruções operacionais são comunicados
rotinas para prevenção
e estão disponíveis a todos na organização. (intranet, internet, videoconferências,
de fraudes e conluios nos
workshops, portarias, emails, etc);
processos de aquisição
de medicamentos? 2.3 – Verificar se houve capacitação dos servidores envolvidos na licitação em técnicas
de detecção de fraudes em licitação;
2.4 - Analisar se foi promovida, mediante orientação normativa, a obrigatoriedade da
utilização dos instrumentos desenvolvidos, os quais devem ser acostadas aos autos
dos processos licitatórios.
3. Efetividade (Subsídio para responder o item 3)
3.1 – A partir de relatórios e/ou documentos equivalentes, examinar se os instrumentos
têm contribuído para a regularidade e eficiência dos processos licitatórios.

171
AVALIAÇÃO DE CONTROLES INTERNOS – LOGÍSTICA DE MEDICAMENTOS
13 - As condições
de estocagem e
conservação dos
medicamentos
adquiridos pela prefeitura Confirmar a situação apontada quanto a existência, adequação e efetividade por
estão em conformidade meio de inspeção física no local de armazenagem (aplicar o Roteiro de Verificação –
com as boas práticas Armazenagem).
recomendadas pelo
Ministério da Saúde,
presentes no Manual de
Farmácia Básica do MS?
1. Existência (Subsídio para responder os itens 0)
1.1 - Examinar se a Entidade designa formalmente (portaria ou outro meio) servidores
para atuarem no recebimento dos medicamentos.

14 – Os medicamentos 2. Adequação (Subsídio para responder os itens 1 e 2)


adquiridos são recebidos 2.1 – Avaliar se a equipe técnica designada dispõe de estrutura (Check-list e metodologia
por servidor ou de fiscalização para efetuar esse recebimento), capacitação e tempo para atuar
comissão técnica? efetivamente na fiscalização da ata/contrato.
3. Efetividade (Subsídio para responder o item 3)
3.1 – Analisar se a atuação da comissão e/ou servidor tem contribuiído para a
regularidade e eficiência das aquisição de medicamentos (Julgamento Profissional).
1. Existência (Subsídio para responder os itens 0)

15 – Existem controles 1.1 - Verificar se a prefeitura dispõe de documentos que comprovam as trocas de
dos medicamentos medicamentos entre o Almoxarifado Central e as UBS, e/ou entre a prefeitura avaliada
(enviados/devolvidos/ e outras prefeituras
emprestados) do 2. Adequação (Subsídio para responder os itens 1 e 2)
almoxarifado central
da prefeitura para as 2.1 – Verificar se esses controles são fidedignos.
Unidades Básicas de 3. Efetividade (Subsídio para responder o item 3)
Saúde - UBS?
3.1 – Analisar se os controles adotados garantem efetividade para a gestão dos
medicamentos.
1. Existência (Subsídio para responder os itens 0)
1.1 - Verificar se a prefeitura dispõe de algum controle (manual ou eletrônico) de
medicamentos vencidos
2. Adequação (Subsídio para responder os itens 1 e 2)
16 – A prefeitura dispõe
de procedimentos 2.1 – Verificar se o controle de medicamentos vencidos contempla a identificação dos
adequados para a medicamentos, separação dos demais, armazenagem adequada, registro de baixa e
realização do descarte destinação, entre outros critérios.
de medicamentos
2.2 - Avaliar como é realizado esse descarte e se existe empresa contratada para
vencidos?
realização desse procedimento.
3. Efetividade (Subsídio para responder o item 3)
3.1 – Analisar se os controles adotados garantem efetividade para a gestão dos
medicamentos.

172
AVALIAÇÃO DE CONTROLES INTERNOS – LOGÍSTICA DE MEDICAMENTOS
1. Existência (Subsídio para responder os itens 0)
1.1 - Analisar se existe o controle dos medicamentos (manual ou eletrônico) no
almoxarifado central.
17 – A Entidade dispõe 2. Adequação (Subsídio para responder os itens 1 e 2)
de controle eletrônico
ou manual de estoque 2.1 – Avaliar se o controle implementado dispõe de informações estoque de segurança
dos medicamentos necessário para que não haja falta de medicamentos, assim como o ponto a partir do
armazenados? qual deve ser efetuado o pedido de compras ao setor competente
3. Efetividade (Subsídio para responder o item 3)
3.1 – Analisar se o controle assegura uma adequada gestão dos medicamentos,
realizando testes com aqueles mais utilizados para avaliar a fidedignidade dos registros.
1. Existência (Subsídio para responder os itens 0)
1.1 - Certificar se existem rotinas de realização de inventário dos medicamentos
utilizados no farmácia básica.
18 – A prefeitura realiza 2. Adequação (Subsídio para responder os itens 1 e 2)
inventario físico dos
medicamentos do 2.1 – Avaliar se são realizados inventários de acordo com cada situação específica (de
almoxarifado e das UBS? verificação, transferência, criação, extinção, anual e de baixa).
3. Efetividade (Subsídio para responder o item 3)
3.1 – Analisar se os inventários têm fornecido subsídios para avaliação e controle
gerencial dos medicamentos.
1. Existência (Subsídio para responder os itens 0)
1.1 - Verificar se a prefeitura dispõe de farmacêutico para realização das atividades de
dispensação de medicamentos, tanto de forma centralizada quanto nas UBS.
2. Adequação (Subsídio para responder os itens 1 e 2)
2.1 – Avaliar se existe procedimento operacional padrão tratando das ações de
dispensação.
19 – As atividades
2.2 - Analisar se existe registro de atendimento, visando documentar as atividades de
de dispensação de
dispensação de medicamentos, tendo em vista as necessidade técnicas, administrativas
medicamentos estão
e éticas.
sendo realizadas por
profissionais habilitados 2.3 - Verificar se há registro da demanda reprimida, mantendo controle dos
(farmacêutico)? medicamento solicitados e não aviados por ausência no estoque ou inexistência nas
compras do município.
2.4 – Verificar se existe cadastro de usuários e sistema informatizado da dispensação
dos medicamentos.
3. Efetividade (Subsídio para responder o item 3)
3.1 – A partir de relatórios e/ou documentos equivalentes, examinar se a atividade de
dispensação obedece às normas legais (Resolução 328/1999 da Anvisa.)

173
AVALIAÇÃO DE CONTROLES INTERNOS – LOGÍSTICA DE MEDICAMENTOS
1. Existência (Subsídio para responder os itens 0)
1.1 – Verificar se a Entidade instituiu o Conselho Municipal de Saúde - CMS.
2. Adequação (Subsídio para responder os itens 1 e 2)
20 – A composição e a
2.1 – Avaliar se a composição do CMS está de acordo com a legislação vigente.
estrutura do Conselho
Municipal de Saúde está 2.2 – Verificar a Entidade garantiu infraestrutura necessária (local apropriado,
em conformidade com a disponibilidade de equipamento de informática, transporte, recursos humanos e
legislação? financeiros).
3. Efetividade (Subsídio para responder o item 3)
3.1 – Analisar se o CMS apresenta os requisitos (composição e estrutura) para efetiva
atuação.
1. Existência (Subsídio para responder os itens 0)
1.1 – Analisar as atas do conselho para certificar se o CMS é atuante.
2. Adequação (Subsídio para responder os itens 1 e 2)
2.1– Avaliar se há nas atas referência a questionamentos, reclamações, irregularidade/
21 – O Conselho impropriedades ou sugestões quanto ao funcionamento da Farmácia Básica;
Municipal de Saúde tem
atuado adequadamente 2.3 – Avaliar se houve formação para conselheiros e se a Entidade disponibiliza os
no exercício de suas documentos quando solicitados pelo CMS;
funções? 2.4 – Verifiar se houve elaboração do Regimento Interno do CMS e elaboração do Plano
de Ação.
3. Efetividade (Subsídio para responder o item 3)
3.1 – Analisar se a atuação do CMS tem contribuído para a efetividade da Farmácia
Básica na Entidade.

Com base nas informações levantadas conforme os itens supracitados, e considerando


as conclusões obtidas após aplicação dos testes de auditoria, a equipe deve avaliar se as
atividades de controle (controle sugerido) adotadas pela prefeitura são suficientes para
garantir a regularidade das ações de logística de medicamentos.

Ressalta-se que para cada item examinado, a equipe deverá utilizar como referência os
critérios presentes no QACI desenvolvidos para pontuação dos testes de controle, os quais
deverão ser preenchidos somente no final dos trabalhos de avaliação.

V – RELATORIA (DESENVOLVIMENTO DOS ACHADOS)

Devem ser relatadas apenas as deficiências significativas, que em princípio são aquelas
situações cujos resultados foram classificados como “inicial”, “básico” ou “intermediário”,
contudo, a equipe poderá desenvolver achados até mesmo para às situações classificadas
como “aprimorado”, desde que pretenda elaborar propostas de recomendações para
sua melhoria. O importante é que a equipe utilize o seu julgamento profissional para
determinar o que é relevante para os objetivos da auditoria e que, portanto, mereça
ser relatado. Para o desenvolvimento desta etapa, a equipe poderá utilizar o Modelo de
Relatório desenvolvido para padronizar a estruturação dos pontos principais a serem
considerados.

174
Os elementos necessários para o desenvolvimento de achados positivos (ou boas práticas)
constatados durante a aplicação de testes de controle também devem ser coletados,
pois em trabalhos de avaliação dos controles internos esses achados assumem uma
importância maior do que normalmente recebem em outros trabalhos de auditoria. As
inclusões de boas práticas nos relatórios de avaliação, bem como o detalhamento e a
catalogação delas, constituem uma importante fonte para o desenvolvimento profissional
das equipes e para servir de base para a elaboração de propostas de ações corretivas em
outros trabalhos.

Versão de 01/04/2018

175
FARMÁCIA
PREFEITURA MUNICIPAL DE
PANTANAL DO NORTE/MT Rev. 01

CONTROLADORIA-GERAL DO MUNICÍPIO 01/04/2018


CONTROLADORIA-GERAL DO MUNICÍPIO DE PANTANAL DO NORTE/MT
CHECK - LIST – LICITAÇÃO DE COMPRAS (FASE INTERNA) –
FARMÁCIA BÁSICA
Objetivo: Garantir que os trabalhos de auditoria nas licitações de compras de
medicamentos sejam executados de forma objetiva, eficiente e padronizados.

Resposta desejada = Não em todos os quesitos.

1. Preâmbulo do Edital e Termo de Referência


Procedimentos Base Legal S N N/A
TCU. Ac 1.041/2010-P, 168/2009-P
1.1. O objeto licitado está definido de forma imprecisa
MS. Padrão Descritivo de Medicamentos
e insuficiente?
(2011).
1.2. Há fracionamento com fuga da modalidade TCU. Ac. 55/2000-P 203/2002-P,
adequada ou para dispensar? 167/2002-P e 420/2003-P.
Art. 23, §1 da LGL. TCU: Súmula 247; Ac
1.3. Falta parcelamento do objeto em itens e/ou lotes? 280/2010-P, 520/2009-P, 693/2010-P,
2219/2010-P.
1.4. O edital proíbe apresentação de documentos pela
TCU. Ac 539/2007–P
via postal, fax, telegrama ou e-mail?
TCU. Ac 723/2005-P, 740/2004-P,
1.5. Há indicação de marca sem justificativa?
1705/2003-P e Súmula 270/2012.
1.6. Exige-se comprovante de compra do edital como TCU. Ac 1208/2004-P e Decisão
condição de habilitação? 1344/2002-P
Art. 167, §1 da CF, art. 7º, §2, III da LGL,
1.7. A previsão orçamentária é inadequada?
TCU Ac 1505/2009-P e art. 16 da LRF.
1.8. Há especificações que direcionam a contratação LGL, Art. 15, § 7 inciso I e Acórdão nº
para determinado fornecedor/marca? 740/2004 TCU-P.
1.9. Havendo recurso federal, deixou-se de adotar o TCU. Ac 1700/2007-P
pregão eletrônico sem justificativa? Decreto 5.504/2005
1.10. Faltam condições específicas relativas à compra
de medicamento: Entrega Parcelada, Prazo de Validade OPAS. Farmácia Básica
e Lotes, Embalagem e Acondicionamento, Rotulagens e para gerentes municipais (2003).
Bulas, Prazo de entrega?
1.11. Os preços de referência estão fora da margem TCU. Ac 3.016/2012–P; 1437-2007–P;
aceitável de mercado? 1861/2008-1C; 65/2010-P;
1.12. As quantidades licitadas são incompatíveis com TCU Ac. 2387/2007-P. 646/2007-P;
a demanda? 740/2004-P
1.13. Falta parecer jurídico no processo e/ou o parecer
LGL, art. 38, § único. TCU. Acórdão
é genérico, sem a demonstração da efetiva análise do
1944/2014-Plenário.
edital e dos anexos?

176
2. Condições de Participação
Procedimentos Base Legal S N N/A
Art. 33 da LGL, Acórdão nº
2.1. O edital veda a participação de consórcios sem a
1.636/2007-Plenário, Acórdão nº
devida motivação?
1316/2010-1ª.
2.2 Há proibição de participação de empresa em litígio
Acórdão nº 2.434/2011-Plenário.
judicial com a Entidade?
2.3. Exige-se inscrição prévia no Sistema de Ac TCU 989/2006-1C e Súmula nº
Cadastramento como único meio de habilitação? 274/2012 do TCU.
2.4. Para obter o edital, exige-se valor incompatível Art. 32, §5 da LGL, Ac 2.297/2005-
com o custo de reprodução gráfica? O acesso ao edital P, 2.036/2008-P, 2.099/2009-P,
é garantido de forma inadequada? 1.117/2012-1C.
2.5. O ato convocatório estabelece cláusulas
desnecessárias ou inadequadas, que restrinjam o Ac 1.028/2011-P, 2.796/2011-2C.
caráter competitivo do certame?
2.6. O autor do Termo de Referência/Edital participa, Ac 486/2011-1C, 2.395/2011-1C,
ainda que indiretamente, da licitação? 3.031/2009-P, 597/2008-P.
2.7. Servidor público em cargo de influência sobre
a licitação participa, mesmo que indiretamente, do Ac 1019/2013-P e 3368/2013-P.
certame?
2.8. A publicidade do certame é insuficiente ou
LGL Art. 21, TCU Decisão 233/1996–1C e
inadequada ou há redução do prazo útil mínimo da
TCESP. Processo 6.736/026.
modalidade?

3. Habilitação
Procedimentos Base Legal S N N/A
3.1. Exige-se alvará de funcionamento que comprove Acórdãos 2.194/2007-TCU e 855/2009-
localização específica do licitante? TCU, ambos do Plenário.
3.2. Exige-se “quitação” em vez de “regularidade” Acórdão 1265/2010 – Plenário e
fiscal? Acórdão 2081/2007 – Plenário.
3.3. Exige-se certificado de qualidade que não é LGL Art 30, II c/c §1 e Ac TCU 608/2008-
obrigatório por lei? (Exemplos: ISO, PBQP-H, ABIC, etc). P
LGL Art. 30, II, Acórdãos 244/2003,
3.4. Exige-se número mínimo, máximo ou fixo de
584/2004-, 170/2007, 1.636/2007-,
atestados?
1.780/2009, todos do Plenário.
3.5. Falta exigir licença sanitária da licitante? Art. 5 da Portaria MS nº 2.814/1998
3.6. Falta exigir Autorização de Funcionamento
Art. 5 da Portaria MS nº 2.814/1998
expedida pela ANVISA?
TCU. Ac 392/2011-P, 126/2010,
3.7. Exige-se Certificado de Boas Práticas de
127/2010, 128/2010, 129/2010 e
Fabricação e Controle emitido pela ANVISA?
392/2011 – todos do Plenário.
3.8. Exige-se Certificado de Boas Práticas de
TCU. Ac 392/2011-P.
Armazenamento emitido pela ANVISA?
3.7. Exige-se carta de solidariedade ou credenciamento Ac TCU 2.294/2007–1C e Ac TCU
do fabricante do produto? 1.350/2010-1C e 718/2014-P
3.8. Exige-se declaração de idoneidade financeira? TCU Ac 2056/2008-P, 2179/2011-P.

177
3. Habilitação
Procedimentos Base Legal S N N/A
3.9. Exige-se, na fase de habilitação ou de classificação,
amostras a todos os licitantes, quando o correto Acórdão TCU nº 2749/2009 e 1113/2008,
deveria ser apenas na fase de classificação, do licitante ambos do Plenário.
provisoriamente em primeiro lugar?
3.10. Exige-se cumulativamente garantia de TCU. Ac 1.229/2008, 2.712/2008,
participação E (capital social ou patrimônio líquido 2.815/2009 e 3.043/2009, todos do
mínimo)? Plenário.
TCU. Ac 1871/2005; 170/2007 e
3.11. Exige-se capital social integralizado?
113/2009, todos do Plenário.
3.12. A garantia de proposta (1%) e/ou capital social
mínimo/Patrimônio Líquido (10%) superaram os LGL Art. 31,§ 3º
percentuais máximos fixados na lei?
3.13. Exige-se certidão negativa de Corregedoria de
Ac TCU 768/2007–P
Justiça?
3.14. Os índices contábeis são incomuns (por exemplo,
exigência de índice de grau de endividamento) e estão Ac TCU 4.606/2010–2C, 434/2010-2C e
acima de valores usuais (por exemplo, acima de 1,5)? LGL Art. 31, § 5º
Caso contrário, falta justificativa razoável?
Ac 5.391/2008-2C, 1391/2009–P e
3.15. Exige-se certidão negativa de protesto?
534/2011-P.

4. Julgamento
Procedimentos Base Legal S N N/A
4.1. Se Carta-Convite há menos de três propostas
Súmula nº 248 do TCU
válidas?
4.2. Se Carta-Convite, há convidado com ramo de Acórdãos 1.313/2011-TCU-Plenário,
atividade econômica incompatível com o objeto? 349/2010-TCU-Plenário.
4.3. Falta exigir Certificado de Registro de Produto na
Art. 5 da Portaria MS nº 2.814/1998
ANVISA?
Ac 818/2007-P, 1.746/2009-P, 168/2009-
4.4. Faltam critérios de aceitabilidade de preços
P e 1.755/2004-P e Súmula nº 259/2010
unitário e global?
TCU.
4.5. O julgamento descumpre regras do edital (ex:
TCU. Ac 966/2011-1C, 1.308/2010-P,
desclassificação de proposta, lances, desistências,
2.588/2010-P.
prazos, recursos, critérios)?

5. Pagamento
Procedimentos Base Legal S N N/A
5.1. Falta definição clara de regras de prazo de
Art. 40, XIV da LGL.
pagamento e correção por descumprimento do prazo?
5.2. Consta cláusula no edital prevendo a pagamento
Acórdão nº 1341/2010 TCU – P e ON nº
antecipado sem observância dos pressupostos fixados
37/2011 da AGU
pelo TCU?

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Versão de 01/04/2018

178
FARMÁCIA
PREFEITURA MUNICIPAL DE
PANTANAL DO NORTE/MT Rev. 01

CONTROLADORIA-GERAL DO MUNICÍPIO 01/04/2018


CONTROLADORIA-GERAL DO MUNICÍPIO DE PANTANAL DO NORTE/MT
CHECK - LIST – LICITAÇÃO DE COMPRAS (FASE EXTERNA)
– FARMÁCIA BÁSICA
Objetivo: Garantir que os trabalhos de auditoria nas licitações de compras da
medicamentos sejam executados de forma objetiva, eficiente e padronizados.

Resposta desejada = Não em todos os quesitos.

1. Julgamento da Licitação – Todas as modalidades e objetos


Procedimentos Base Legal S N N/A
1. Há erros semelhantes nos documentos ou cartas de proposta Diretrizes para combater
apresentadas por empresas diferentes, tais como erros conluios – OCDE, Acórdão
ortográficos e gramaticais? TCU nº 888/2011 – Plenário
Diretrizes para combater
2. As propostas de empresas diferentes apresentam caligrafia
conluios – OCDE, Acórdão
ou tipo de letras semelhantes, ou utilizam formulários ou papel
TCU nº 888/2011 – Plenário e
timbrado similares ou mesmo padrão de apresentação?
RE 68.006-MG do STF.
3. Os documentos das propostas de um concorrente fazem Diretrizes para combater
referência expressa às propostas de outros concorrentes ou conluios – OCDE, RE 68.006-
utilizam o cabeçalho ou número de fax de outro concorrente? MG do STF.
4. As propostas de empresas diferentes contêm erros de cálculo Diretrizes para combater
semelhantes ou mesma proporção linear nos preços? conluios – OCDE.
5. Os envelopes de empresas diferentes têm carimbos postais ou Diretrizes para combater
marcas de registo postal semelhantes? conluios – OCDE.
6. Há coincidência exata dos prazos de validade das propostas de
Diretrizes para combater
preço e/ou de validade dos produtos/serviços, sem que qualquer
conluios – OCDE, Plenário e
exigência a esse respeito houvesse sido formulada no instrumento
RE 68.006-MG do STF.
convocatório?
7. As empresas participantes existem juridicamente junto ao
órgão fiscal. Para isso, pesquisar dados na base do CNPJ (www. Diretrizes para combater
receita.fazenda.gov.br > serviços para a empresa > cadastros > conluios – OCDE, Acórdão
comprovante de inscrição e de situação cadastral no CNPJ > acesso TCU nº 888/2011 – Plenário e
direto ou com senha específica) e no SINTEGRA (www.sintegra.gov. RE 68.006-MG do STF.
br > escolher estado >).

179
1. Julgamento da Licitação – Todas as modalidades e objetos
Procedimentos Base Legal S N N/A
8. Foi constatada a inexistência de vínculos empregatícios
da empresa? Consultar a base de dados da Relação Anual de
Informações Sociais – RAIS, Cadastro Nacional de Informações
Sociais – CNIS e GFIP - Guia de Recolhimento do FGTS e de Diretrizes para combater
Informações à Previdência Social (Acesso Restrito) para confirmar a conluios – OCDE, Acórdão
existência de empregados registrados pela empresa. A inexistência TCU nº 888/2011 – Plenário e
de vínculos empregatícios pode ser indicativo de fraude na RE 68.006-MG do STF.
emissão de atestados de capacidade técnica, especialmente em
contratação de serviços terceirizados e ainda, de inidoneidade das
informações presentes nos demonstrativos contábeis.
9. Existem relacionamentos entre os licitantes? Verificar:
endereços, telefones, e-mails, quadro societário, responsáveis
Acórdão TCU nº 888/2011 –
técnicos, representantes e procuradores em comum; responsáveis
Plenário e RE 68.006-MG do
técnicos registrados no CREA, CAU ou outro conselho profissional
STF.
(consultar o site da entidade local); vínculos em redes sociais como
o Facebook.
10. A empresa de engenharia (Obras) encontra-se inativa no
CREA? Analisar se a empresa de engenharia encontra-se ativa no Acórdão TCU nº 888/2011 –
CREA (http://www.crea-mt.org.br/empresas/consultar_empresa. Plenário e RE 68.006-MG do
php), pois sua inatividade pode indicar a não autenticidade dos STF.
atestados de capacidade técnica apresentados pela empresa.
11. Os registros de cartório presentes nos documentos de
habilitação e proposta de preços são autênticos? Consulta ao site
do Tribunal de Justiça/Cartório competente para verificação da Acórdão TCU nº 888/2011 –
autenticidade dos selos presentes nos documentos de habilitação e Plenário e RE 68.006-MG do
proposta de preços da empresa vencedora, especialmente quando STF.
o tempo de emissão do documento é requisito habilitatório (http://
www.tjmt.jus.br/selos).
12. Há participação, ainda que indiretamente, de servidores
do próprio órgão/entidade contratante? Verificar no Sistema de Acórdão TCU nº 888/2011 –
CNPJ da Receita Federal e RAIS se o servidor ou dirigente do órgão Plenário e RE 68.006-MG do
ou entidade contratante ou responsável pela licitação faz parte do STF.
quadro societário da empresa contratada.
13. Houve contratação de MEE ou EPP com faturamento do
ano anterior superior ao limite e que tenha usado benefícios
ilegalmente? Para isso, consultar o Portal da Transparência para
Acórdão TCU nº 888/2011 –
verificar se a ME ou EPP obteve faturamento no exercício anterior
Plenário e RE 68.006-MG do
dentro do limite de enquadramento (www.portaldatransparencia.
STF.
gov.br > transferência de recursos > selecione o exercício > marque
a opção por favorecido e selecione a opção outras pessoas jurídicas
> digite o CNPJ e marque ok).
14. Há participação em licitação reservada a microempresas
Acórdãos 1028/2010-TCU-
(ME) e empresas de pequeno porte (EPP) por sociedade que não
Plenário, 2259/2011- TCU-
se enquadra na definição legal reservada a essas categorias? ou
Plenário.
atuam se valendo da estrutura empresarial de outra empresa?

180
1. Julgamento da Licitação – Todas as modalidades e objetos
Procedimentos Base Legal S N N/A
15. A empresa participante da licitação é idônea para contratar
com a Administração Pública? Essa verificação pode ser realizada
consultando cadastros impeditivos, a exemplo do CEIS (www.
portaltransparencia.gov.br > selecione a opção sanções > Ceis,
clicando em consultar > pesquise por CNPJ ou nome da empresa), Acórdão TCU nº 888/2011 –
Cadastro de Improbidade do CNJ (digitar cadastro de improbidade Plenário e RE 68.006-MG do
cnj no google > digitar o cnpj da empresa) e Lista de Inidôneos STF.
do TCU (digitar lista de inidôneos TCU > clicar no ícone licitantes
inidôneos > escolher a opção lista de inidôneos); Controle de
Empresas Penalizadas da entidade contratante e outros registros
no Google.
16. Há irregularidade nas certidões de habilitação emitidas pelas
licitantes? Verificar a data de emissão das certidões (INSS, FGTS,
tributos Federais, Estaduais e Municipais, falência, trabalhista)
apresentadas no processo, para constatar se são válidas e se sua
emissão é muito próxima ou há semelhança nos documentos
Acórdão TCU nº 888/2011 –
que possam sugerir que tenham sido realizadas por uma mesma
Plenário e RE 68.006-MG do
pessoa ou conjunto de pessoas. Verificar a autenticidade nos sites
STF.
dos emissores. (Tributos federais e INSS - (www.receita.fazenda.
gov.br > serviços para a empresa > certidão e situação fiscal >
certidão e regularidade fiscal pessoa jurídica > acesso direto ou
com senha específica; FGTS – www.cef.gov.br > produtos > FGTS >
consulta CRF)
17. As garantias de proposta/contratuais são inidôneas? Verificar Acórdão TCU nº 888/2011 –
a idoneidade de seguro-garantia na Susep (www.susep.gov.br > Plenário e RE 68.006-MG do
serviços ao cidadão > consulta de apólice de seguro garantia). STF.
Acórdão TCU nº 888/2011 –
18. Existem divergências entre assinaturas apostas nos
Plenário e RE 68.006-MG do
documentos presentes no processo?
STF.
19. Os sócios que constam do Contrato Social possuem condições
financeiras compatíveis com o cargo? Avaliar os dados contidos Acórdão TCU nº 888/2011 –
na RAIS e CNIS, pesquisas na Internet, Facebook, cadastros de Plenário e RE 68.006-MG do
benefícios sociais como o Bolsa Família, verificar condições de STF.
moradia no Google Mapas.
20. Nos processos realizados na modalidade convite, houve
Súmula nº 248 do TCU
instrução com menos de três propostas válidas?
21. Nos processos realizados na modalidade convite, foram Acórdãos 1.313/2011-TCU-
convidadas licitantes cujo ramo de atividade econômica seja Plenário, 349/2010-TCU-
incompatível com o objeto de licitação? Plenário.
Acórdãos 966/2011-TCU-1a
22. A Administração descumpriu regras estabelecidas no ato Câmara, 1.308/2010-TCU-
convocatório, ao qual se encontrava estritamente vinculada? Plenário, 2.588/2010-TCU-
Plenário.

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181
FARMÁCIA
PREFEITURA MUNICIPAL DE
PANTANAL DO NORTE/MT Rev. 01

CONTROLADORIA-GERAL DO MUNICÍPIO 01/04/2018


CONTROLADORIA-GERAL DO MUNICÍPIO DE PANTANAL DO NORTE/MT
ROTEIRO DE VERIFICAÇÃO – ESTOQUE DE
MEDICAMENTOS
Objetivo: Garantir que os trabalhos de avaliação das condições de estocagem de
medicamentos sejam executados de forma objetiva, eficiente e padronizados.

1 – Verificar se as condições de estocagem dos medicamentos observam as condições


técnicas e operacionais apresentadas a seguir:

Resposta desejada = Sim em todos os quesitos.


Procedimentos S N N/A
1. A Área de armazenagem é livre de poeira, lixo, roedores, insetos? O interior apresenta superfícies
lisas, sem rachaduras, sem desprendimento de pó ou infiltrações na parede?
2. Os medicamentos são ordenados de forma lógica, que permita fácil identificação dos produtos,
por forma farmacêutica; em ordem alfabética por princípio ativo, da esquerda para a direita;
rotulagem de frente para facilitar a visualização e rapidez na entrega?
3. Há distância entre os produtos, e entre produtos e paredes, piso, teto e empilhamentos, a fim
de facilitar a circulação interna de ar?
Obs.: Deve-se manter uma distância mínima de 50 cm da parede, solo, teto, e entre os produtos e
cada um desses itens, para evitar formação de zonas de calor. Não se deve encostar medicamentos
junto às paredes, ao teto, ou em contato com o chão, por causa da umidade.
4. As caixas de medicamentos não estão próximas de condicionadores de ar, estufas, sobre
geladeiras ou freezers?
5. O manuseio dos medicamentos é adequado?
Obs.: O manuseio inadequado dos medicamentos pode afetar a sua integridade e estabilidade.
Por isso, não se deve arremessar caixas, arrastar ou colocar muito peso sobre elas.
6. Os medicamentos estão conservados nas embalagens originais?
Obs.: Além da proteção, isso facilita a identificação e a verificação dos lotes e validades, ao serem
retiradas da caixa, as embalagens devem ser identificadas.
7. Os produtos estão armazenados por ordem de prazo de validade?
Obs.: Os que vão vencer primeiro devem ser armazenados à esquerda e na frente. A observância
dos prazos de validade deve ser monitorada rigorosamente, para evitar perdas. Os medicamentos
devem ser distribuídos por ordem cronológica de validade, sempre pela validade mais antiga.
8. A Prefeitura observa o empilhamento máximo permitido para o produto (ver recomendações
do fabricante)?
Obs.: As pilhas devem obedecer às recomendações dos fabricantes, quanto ao limite de peso e
resistência. Não ultrapassar cinco caixas e uma altura máxima de 2,5m, para evitar desabamentos
e deformações por compressões. Devem ser mantidas a certa distância das paredes. O
empilhamento deve ser feito em sistema de amarração, mantendo espaços de circulação de ar
para evitar desabamentos.

182
Procedimentos S N N/A
9. Os medicamentos estão em contato direto com o solo?
Obs.: O contato direto com o solo cria pontos de acúmulo indesejáveis de umidade que se
depositam nas embalagens e posteriormente pode afetar o produto.
10. As prateleiras e áreas de estocagem são mantidas limpas e isentas de poeiras?
Obs.: A poeira funciona como elemento catalisador de umidade e corrosão. Graças ao seu elevado
poder higroscópico, absorve umidade para superfície do produto.
11. A Unidade realiza inspeção sistemática no estoque, para identificar possíveis alterações nos
produtos, que possam comprometê-los ou oferecer risco às pessoas?
12. Os itens mais volumosos e mais pesados ficam próximo à área de saída, para facilitar a
movimentação?
13. É realizado periodicamente rodízio nos estoques, para evitar o seu envelhecimento, minimizar
o número de viagens entre as áreas de estocagem e a expedição; otimizar o tempo despendido na
expedição do material, com menor desgaste físico dos operadores?
14. A Unidade dispõe de controle de temperatura para os medicamentos termolábeis?
Obs.: Alguns medicamentos, quando armazenados em locais quentes e sem ventilação estão
sujeitos a alterações em suas propriedades físico-químicas. Fazem-se necessários aparelhos
condicionadores de ar, que permitem o controle da temperatura ambiente.
15. Os medicamentos de controle especial dispõem de armário especial para guarda dos
produtos?
16. Os produtos diferentes estão armazenados em estrado diferentes, para evitar troca na entrega?
17. Nas áreas de estocagem de medicamentos, não há junto outros insumos, principalmente
material de limpeza e de consumo?
18. Existem medicamentos deteriorados ou vencidos?
Obs.: As perdas de medicamentos são inaceitáveis. Isso acarreta sérios problemas, inclusive de
ordem penal, tendo em vista que se trata de dinheiro público. Para tanto, as validades devem
ser monitoradas; o pessoal deve ser orientado a respeito, e no caso de ocorrência de perda
por validade, os medicamentos devem ser retirados das prateleiras, as embalagens devem ser
identificadas e deve-se entrar em contato com a Vigilância Sanitária local para orientação sobre
o recolhimento do produto.
19. Os medicamentos interditados estão devidamente identificados nas embalagens e ficam em
áreas separadas, se houver espaço, ou na própria prateleira?
20. Os medicamentos com problemas de qualidade ou devolvidos por alguma razão, ficam
separados dos demais, até que sejam tomadas providências quanto ao seu destino?
21. Os banheiros são separados do estoque de medicamentos da prefeitura?

Fonte: Manual de Farmácia Básica na Atenção Básica – Instruções Técnicas para sua
Organização, 2ª edição -2006, produzida pelo Ministério da Saúde

2 – Verificar se as condições de conservação dos medicamentos observam as condições


técnicas e operacionais apresentadas a seguir:

Resposta desejada = Sim em todos os quesitos.


Procedimentos S N N/A
1. A área de estocagem de medicamentos dispõe de controle de temperatura, com utilização
de termômetros, com registros diários em mapa de controle, registro mensal consolidado,
elaboração de relatórios e gráficos demonstrativos, etc?
Obs.: Os medicamentos armazenados em áreas úmidas podem sofrer alterações na consistência,
sabor, odor, cor, tempo de desintegração. Por isso, não devem ser encostados em paredes, teto,
em contato direto com o chão, próximos a banheiros, áreas úmidas e com infiltrações.

183
Procedimentos S N N/A
2. Os produtos sensíveis à umidade são conservados em frascos hermeticamente fechados ou
conter substâncias dessecantes? Há medição feita com higrômetro ou psicrômetro?
Obs.: Dependendo da forma farmacêutica do medicamento, a umidade elevada pode afetá-
la, favorecer o crescimento de fungos e bactérias e desencadear algumas reações químicas. A
medição é feita com higrômetro ou psicrômetro.
3. O local de estocagem possui iluminação natural adequada? Em caso de iluminação artificial,
recomenda-se a utilização de lâmpadas fluorescentes (luz fria)?
Obs.: A incidência direta de raios solares sobre os medicamentos acelera a velocidade das
reações químicas, alterando sua estabilidade. Essa ação leva à ocorrência de reações químicas
(principalmente, óxido-redução).
4. Há boa circulação interna de ar para conservação dos produtos?
Obs.: Elementos vazados nas janelas facilitam a ventilação natural.
6. Há extintores de incêndio, adequados aos tipos de materiais armazenados, fixados nas paredes
e sinalizados, conforme as normas vigentes?
7. A Unidade dispõe de câmara fria e refrigeradores, utilizados principalmente para a conservação
de produtos que exigem temperatura de conservação entre 2 e 8ºC?
8. O local dispõe de exaustores eólicos/ventiladores, utilizados em locais quentes ou que
ultrapassem os 30º C, para ajudar na renovação do ar circulante?
9. Os medicamentos não estão armazenados em estante de madeira?
Obs.: É desaconselhável seu uso para estocagem de medicamentos, em razão do tipo de madeira
utilizada, que nem sempre é de boa qualidade. Não se recomenda o uso de prateleiras de madeira,
por causa da umidade.

Fonte: Manual de Farmácia Básica na Atenção Básica – Instruções Técnicas para sua
Organização, 2ª edição -2006, produzida pelo Ministério da Saúde.

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Versão de 01/04/2018

184
SÍNTESE

Nesta aula, estudamos todas as fases – planejamento, execução e relatório – do processo


de avaliação de controle interno na atividade de logística de medicamentos, detalhando
todas as suas etapas, com exemplos práticos de elaboração das ferramentas necessárias
para executar a avaliação de controles internos, tais como a elaboração de matrizes de
riscos e controles, questionário de avaliação de controles internos, procedimentos de
auditoria, checklist, extrato de entrevista, etc.

Finalmente, podemos perceber que o monitoramento de ações corretivas ou de melhoria


resultantes de avaliações em nível de atividades são fundamentais para garantir a
efetividade na implementação dos controles internos pelo gestor.

Enfim, chegamos ao final do nosso curso!! Iniciamos com os conceitos básicos que dão
suporte ao curso de gestão de riscos em logística de medicamentos, conhecemos o
contexto e evolução histórica do programa, as ações planejamento e organização, o ciclo
da assistência farmacêutica e o conselho municipal de saúde.

Por fim, identificamos os riscos do programa e definimos ações eficazes para gerenciar
esses riscos, por meio da implantação e/ou aperfeiçoamento dos controles internos
administrativos e conhecemos a metodologia desenvolvida pelo TCE/MT, em parceria com
a CGU, para avaliar esses controles internos na atividade de logística de medicamentos.

Obrigado pela sua participação. Espero que você tenha realizado um bom curso e que
alcance resultados significativos na aplicação prática da metodologia de avaliação de
controles internos em logística de medicamentos.

185
REFERÊNCIAS
ABNT a NBR ISO 31000:2009 - Gestão de Riscos - Princípios e Diretrizes. 1.ed. 2009.
Disponível em: <http://www.slideshare.net/fdecicco/nbr-iso-31000-projeto-final-seg>
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BANCO MUNDIAL. (2007). Governança no Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil:


Melhorando a Qualidade do Gasto Público e Gestão de Recursos. Relatório No . 36601-
BR. Washington D.C.: Banco Mundial

BARCELOS, P. C. Perfil de demandas judiciais de medicamentos da Secretaria de Estado


da Saúde do Espírito Santo: um estudo exploratório. 2010. 170 f. Dissertação (Mestrado em
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Rio de Janeiro. 2010.

BENEVIDES, Carolina; MENEZES, Maiá. (2011) Sobrepreço na compra de remédios, um


mal nacional. O Globo, 30/01/2011, O País, p. 9

BERNSTEIN, Peter L. DESAFIO AOS DEUSES: A FACINANTE HISTÓRIA DO RISCO. Rio de


Janeiro. Editora: Campus, 1997

BOING, Alexandra C.; BERTOLDI, Andréa D.; PERES, Karen G. (2011). Desigualdades
socioeconômicas nos gastos e comprometimento da renda com medicamentos no Sul do
Brasil. Revista de Saúde Pública, v. 45, n. 5, p. 897-905, maio 2011.

BRASIL (2006). Ministério da Saúde. Farmácia Básica na atenção básica: instruções


técnicas para sua organização. 100 p. Série A. Normas e Manuais Técnicos.

BRASIL (2011). Ministério da Saúde. Padrão descritivo de medicamentos. 158p. (Série B.


Textos Básicos de Saúde)

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Disponível


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2014.Versão 1/2014.

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