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A MENTIRA, SEU PAI E SEUS FILHOS

(Por Jorge Camargo)

A mentira pode ser definida, de maneira geral, como a


imitação da verdade. O falso surge da possibilidade de
substituir o do verdadeiro de forma substancial e, sendo o
verdadeiro aquilo que é de fato (a substância mesma), o falso,
passa a ser aquilo que substitui o fato sem deixar de parecê-
lo.
É sabido de todos os cristãos que Deus, o verdadeiro Deus
Criador, odeia a mentira, uma vez que seu pai é o diabo, a
antiga serpente, Satanás. O que muitos não param para refletir
é por que Este Ser, o nosso Deus, odeia a mentira e a falsidade,
ainda que cometidas de maneira pequena e sutil. Ora, pessoas
comuns também não gostam da mentira, contudo, isso se dá
mais quando a mentira as afeta de alguma maneira do que por
uma questão de princípios. Com Deus é diferente. E bem
diferente. Deus é o “Eu Sou”, ou seja, o único Ser que é sem
depender de outra coisa para ser o que é. Ele é a Verdade e a
origem de tudo o que é verdadeiro. Quando alguma de suas
criaturas, utilizando-se do vasto campo de possibilidades de
ações permitidas por Deus, começa a agir com a finalidade de
parecer outra coisa ou de fazer outras consciências criadas a
acreditarem em algo artificialmente composto para simular
uma determinada realidade substituindo-a, isso causa em
Deus extrema repugnância e ira, uma vez que Ele não pode
suportar a deturpação de finalidade das coisas que criou,
tampouco aceitar substituições daquilo que é de fato por aquilo
que parece ser. E a falsidade humana começa bem nesse
ponto: tentar parecer o que não é, tanto de forma pontual como
contínua. Esconder o real e promover o artificial, introduzindo-
se furtivamente na realidade alheia para roubar o crédito
daquilo que fora substituído ou ocultado.
Adão e Eva, depois de haverem transgredido o
mandamento de Deus no Jardim do Éden, esconderam-se.
Eles estavam não apenas tentando esconder a sua nudez do
Criador, mais que isso, eles queriam esconder a realidade. Eles
não mentiram quando foram questionados por Deus, mas o ato
de ocultarem-se já demonstrava por si o germe da astúcia da
mentira na raça humana, semeado pelo diabo, o pai da
mentira. E aproveitando em falar no pai da mentira, farei um
breve esclarecimento do porquê Jesus tê-lo definido com essa
designação.
Apesar de toda sorte de mentira ter o dedo do diabo,
direta ou indiretamente, ele não foi chamado pai da mentira
por induzir seres humanos a mentir. Ele é o pai da mentira
porque foi o primeiro a querer ser como Deus. E, como já vimos
nas linhas anteriores, a mentira e a falsidade são uma
tentativa de substituição espúria da realidade. O diabo queria
igualar-se a Deus, mas é impossível a qualquer criatura
parecer como Deus. Como dissera o salmista: “Quem é como
o Senhor nosso Deus, que habita nas alturas?” (Salmos
113:5). Vejam que aquilo que o diabo quis foi ser como Deus,
ou seja, quis o impossível, quis elaborar uma estranha
realidade, usurpando o direito absoluto de ser do Ser
verdadeiro. Lúcifer inaugurou, assim, a mentira, a
substituição da verdade pela vontade, a supressão da
realidade pela fraude e a tentativa de remodelagem artificial da
ordem existencial. O diabo é a origem da falsificação, da
imitação, da ocultação, do roubo de tudo o que é verdadeiro.
Ele não só inventou esse estranho mecanismo que desafia o
Verdadeiro e Único “Eu Sou”, como ensinou à humanidade
esse ignominioso ofício. Os homens, mulheres e crianças
passaram a mentir e enganarem-se mutuamente a fim de
atingirem objetivos e satisfazerem desejos. A Bíblia é farta de
episódios onde a mentira foi usada como ferramenta de
deturpação da realidade. Não é sem razão que Deus amaldiçoa
aquele que fere seu próximo em oculto (Deuteronômio 27:24).
E o que seria ferir em oculto senão ocultar-se para ferir? O que
seria a falsidade agressora senão ocultar-se para criar a falsa
realidade de que o agressor não está por perto do agredido? A
mentira depende da ocultação.
Deus odeia muitas coisas, mas existem sete que ganham
destaque na Bíblia, sendo a sétima a pior de todas. Vamos ver:
Estas seis coisas o Senhor odeia, e a sétima a sua
alma abomina:
Olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam
sangue inocente, o coração que maquina pensamentos
perversos, pés que se apressam a correr para o mal, a
testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia
contendas entre irmãos. (Provérbios 6:16-19).
Vejam que a língua mentirosa é a segunda abominação,
coração que maquina pensamentos perversos (e portanto
falsos) é a terceira, testemunha FALSA, é a sexta e o que
semeia contenda entre irmãos é a sétima. Destas sete
abominações, quatro envolvem a mentira diretamente e três
indiretamente, ou seja, o pai da mentira está em todas, e seus
filhos também!
Vamos nos deter na última abominação, naqueles que
semeiam contendas entre irmãos. A primeira contenda foi feita
no Céu, entre os anjos. E fundamentou-se na primeira
mentira, a de que Lúcifer seria como Deus. Aqui na Terra, a
contenda entre irmãos é sempre semeada pela mão de um
amante da mentira, de uma pessoa falsa no sentido mais
profundo dessa palavra. Todo aquele que altera a realidade,
trazendo com isso a discórdia entre pessoas que se amam, está
agindo, em última análise, como um filho do diabo, como um
filho do pai da mentira. Não se pode romper laços verdadeiros
entre irmãos sem a introdução de uma realidade artificial e,
portanto, falsa. Não se pode desunir sem enganar. Não se pode
desconstruir relações sadias e abençoadas sem a ação de um
filho de Satanás. E bem sabemos que somos filhos ou de Deus
ou do diabo. Não há espaço para órfãos no cenário cósmico da
redenção dos homens. Não nos enganemos. Nenhuma mentira
provém da verdade e nenhuma verdade provém da mentira.
Uma árvore não pode produzir um fruto estranho à sua
espécie. Não nos enganemos. Não permitamos que o engano
prospere em nossas vidas, aquele engano que traz consigo
muitas máscaras. Deus ama o que fala segundo o seu coração
(Salmo 15:2). Davi era um homem segundo o coração de Deus
porque guiava-se pela verdade e odiava o engano. Contudo
nem ele escapou do enredo de Satanás e promoveu aquilo que
mais odiava: a mentira. Uma viúva, um a criança morta e
outras desgraças sobrevieram a este servo de Deus como
exemplo para aqueles que desejam ser verdadeiros como Deus
é.
O mundo que vemos hoje é uma manifestação satânica
da falsificação das coisas verdadeiras. O amor que o mundo
promove é um amor falso. O conceito de felicidade que o
mundo impõe é uma conjuntura que leva à frustração e ao
desespero. Até a constituição ontológica dos seres humanos
está sendo remodelada por Lúcifer. O certo virou errado e o
errado, certo. Chesterton, um grande apologista, dizia que um
dia os homens verdadeiros teriam de provar que dois mais é
quatro e que a grama é verde. Este dia já chegou. O tempo do
triunfo da Verdade se aproxima. E este será o evento mais
importante da criação, depois da morte e ressurreição de
Cristo. Deus restaurará a realidade e a eternizará em glória
para todos os que amaram a verdade e odiaram a mentira. E
vejam só! Ficarão de fora todos os que amam e cometem a
MENTIRA. (Apocalipse 22:15).

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