A mentira pode ser definida, de maneira geral, como a
imitação da verdade. O falso surge da possibilidade de substituir o do verdadeiro de forma substancial e, sendo o verdadeiro aquilo que é de fato (a substância mesma), o falso, passa a ser aquilo que substitui o fato sem deixar de parecê- lo. É sabido de todos os cristãos que Deus, o verdadeiro Deus Criador, odeia a mentira, uma vez que seu pai é o diabo, a antiga serpente, Satanás. O que muitos não param para refletir é por que Este Ser, o nosso Deus, odeia a mentira e a falsidade, ainda que cometidas de maneira pequena e sutil. Ora, pessoas comuns também não gostam da mentira, contudo, isso se dá mais quando a mentira as afeta de alguma maneira do que por uma questão de princípios. Com Deus é diferente. E bem diferente. Deus é o “Eu Sou”, ou seja, o único Ser que é sem depender de outra coisa para ser o que é. Ele é a Verdade e a origem de tudo o que é verdadeiro. Quando alguma de suas criaturas, utilizando-se do vasto campo de possibilidades de ações permitidas por Deus, começa a agir com a finalidade de parecer outra coisa ou de fazer outras consciências criadas a acreditarem em algo artificialmente composto para simular uma determinada realidade substituindo-a, isso causa em Deus extrema repugnância e ira, uma vez que Ele não pode suportar a deturpação de finalidade das coisas que criou, tampouco aceitar substituições daquilo que é de fato por aquilo que parece ser. E a falsidade humana começa bem nesse ponto: tentar parecer o que não é, tanto de forma pontual como contínua. Esconder o real e promover o artificial, introduzindo- se furtivamente na realidade alheia para roubar o crédito daquilo que fora substituído ou ocultado. Adão e Eva, depois de haverem transgredido o mandamento de Deus no Jardim do Éden, esconderam-se. Eles estavam não apenas tentando esconder a sua nudez do Criador, mais que isso, eles queriam esconder a realidade. Eles não mentiram quando foram questionados por Deus, mas o ato de ocultarem-se já demonstrava por si o germe da astúcia da mentira na raça humana, semeado pelo diabo, o pai da mentira. E aproveitando em falar no pai da mentira, farei um breve esclarecimento do porquê Jesus tê-lo definido com essa designação. Apesar de toda sorte de mentira ter o dedo do diabo, direta ou indiretamente, ele não foi chamado pai da mentira por induzir seres humanos a mentir. Ele é o pai da mentira porque foi o primeiro a querer ser como Deus. E, como já vimos nas linhas anteriores, a mentira e a falsidade são uma tentativa de substituição espúria da realidade. O diabo queria igualar-se a Deus, mas é impossível a qualquer criatura parecer como Deus. Como dissera o salmista: “Quem é como o Senhor nosso Deus, que habita nas alturas?” (Salmos 113:5). Vejam que aquilo que o diabo quis foi ser como Deus, ou seja, quis o impossível, quis elaborar uma estranha realidade, usurpando o direito absoluto de ser do Ser verdadeiro. Lúcifer inaugurou, assim, a mentira, a substituição da verdade pela vontade, a supressão da realidade pela fraude e a tentativa de remodelagem artificial da ordem existencial. O diabo é a origem da falsificação, da imitação, da ocultação, do roubo de tudo o que é verdadeiro. Ele não só inventou esse estranho mecanismo que desafia o Verdadeiro e Único “Eu Sou”, como ensinou à humanidade esse ignominioso ofício. Os homens, mulheres e crianças passaram a mentir e enganarem-se mutuamente a fim de atingirem objetivos e satisfazerem desejos. A Bíblia é farta de episódios onde a mentira foi usada como ferramenta de deturpação da realidade. Não é sem razão que Deus amaldiçoa aquele que fere seu próximo em oculto (Deuteronômio 27:24). E o que seria ferir em oculto senão ocultar-se para ferir? O que seria a falsidade agressora senão ocultar-se para criar a falsa realidade de que o agressor não está por perto do agredido? A mentira depende da ocultação. Deus odeia muitas coisas, mas existem sete que ganham destaque na Bíblia, sendo a sétima a pior de todas. Vamos ver: Estas seis coisas o Senhor odeia, e a sétima a sua alma abomina: Olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, o coração que maquina pensamentos perversos, pés que se apressam a correr para o mal, a testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos. (Provérbios 6:16-19). Vejam que a língua mentirosa é a segunda abominação, coração que maquina pensamentos perversos (e portanto falsos) é a terceira, testemunha FALSA, é a sexta e o que semeia contenda entre irmãos é a sétima. Destas sete abominações, quatro envolvem a mentira diretamente e três indiretamente, ou seja, o pai da mentira está em todas, e seus filhos também! Vamos nos deter na última abominação, naqueles que semeiam contendas entre irmãos. A primeira contenda foi feita no Céu, entre os anjos. E fundamentou-se na primeira mentira, a de que Lúcifer seria como Deus. Aqui na Terra, a contenda entre irmãos é sempre semeada pela mão de um amante da mentira, de uma pessoa falsa no sentido mais profundo dessa palavra. Todo aquele que altera a realidade, trazendo com isso a discórdia entre pessoas que se amam, está agindo, em última análise, como um filho do diabo, como um filho do pai da mentira. Não se pode romper laços verdadeiros entre irmãos sem a introdução de uma realidade artificial e, portanto, falsa. Não se pode desunir sem enganar. Não se pode desconstruir relações sadias e abençoadas sem a ação de um filho de Satanás. E bem sabemos que somos filhos ou de Deus ou do diabo. Não há espaço para órfãos no cenário cósmico da redenção dos homens. Não nos enganemos. Nenhuma mentira provém da verdade e nenhuma verdade provém da mentira. Uma árvore não pode produzir um fruto estranho à sua espécie. Não nos enganemos. Não permitamos que o engano prospere em nossas vidas, aquele engano que traz consigo muitas máscaras. Deus ama o que fala segundo o seu coração (Salmo 15:2). Davi era um homem segundo o coração de Deus porque guiava-se pela verdade e odiava o engano. Contudo nem ele escapou do enredo de Satanás e promoveu aquilo que mais odiava: a mentira. Uma viúva, um a criança morta e outras desgraças sobrevieram a este servo de Deus como exemplo para aqueles que desejam ser verdadeiros como Deus é. O mundo que vemos hoje é uma manifestação satânica da falsificação das coisas verdadeiras. O amor que o mundo promove é um amor falso. O conceito de felicidade que o mundo impõe é uma conjuntura que leva à frustração e ao desespero. Até a constituição ontológica dos seres humanos está sendo remodelada por Lúcifer. O certo virou errado e o errado, certo. Chesterton, um grande apologista, dizia que um dia os homens verdadeiros teriam de provar que dois mais é quatro e que a grama é verde. Este dia já chegou. O tempo do triunfo da Verdade se aproxima. E este será o evento mais importante da criação, depois da morte e ressurreição de Cristo. Deus restaurará a realidade e a eternizará em glória para todos os que amaram a verdade e odiaram a mentira. E vejam só! Ficarão de fora todos os que amam e cometem a MENTIRA. (Apocalipse 22:15).