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Sumário

Prólogo .................................................................................... 3
A Nova Aliança ................................................................... 10
O Lugar Limpo .................................................................... 21
O Cordeiro ........................................................................... 28
O Madeiro ............................................................................ 38
O Monte................................................................................ 47
A Arca ................................................................................... 57
O Altar .................................................................................. 66
Prólogo
Jerusalém, Judéia – Ano 30 d.C.

N
o ápice de um dia abrasador, as vielas tortuosas
de Jerusalém ecoavam com murmúrios sinis-
tros, à medida que se erguia o espectro iminente
da tragédia. As paredes de pedra da cidade sagrada pare-
ciam retumbar com o pesar e a incredulidade, enquanto o
Sol lançava seu olhar inclemente sobre a agonia que se des-
dobrava.
E, de súbito, emergiu da escuridão das ruas uma figura
abatida e sangrenta, com uma cruz feita de madeira áspera
a repousar sobre os ombros já vergados. Seu semblante,
ainda sereno apesar das feridas cruéis que lhe manchavam
a pele e da coroa de espinhos que cravejava em sua cabeça,
irradiava uma presença divina. Era Jesus de Nazaré, o Filho
de Deus, o Salvador da humanidade, carregando o peso do
mundo sobre as suas costas no caminho rumo a sua própria
crucificação.
A multidão se aglomerava, alternando entre lágrimas
de compaixão e zombaria cruéis. À medida que ele avançava
pelas ruas de Jerusalém, as palavras das Escrituras ressoa-
vam em sua mente, ecoando a grandeza de sua missão. O
amontoado de pessoas de diversas cidades e regiões na ci-
dade santa para a festa da Páscoa, não compreendia a mag-
nitude do sacrifício que estava diante deles, mas o Mestre
continuava a Sua jornada com determinação inabalável.

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O trajeto de Jesus o levou para fora dos portões de Je-
rusalém, além das altas muralhas, rumo ao Vale de Cedrom,
onde a sombra fresca e as árvores antigas ofereciam um re-
fúgio momentâneo. Cada passo aumentava a agonia, e seus
joelhos cediam sob o peso da cruz. Seus pés ensanguenta-
dos deixavam pegadas vermelhas na poeira dura do chão.
Nesse momento, um homem na multidão, Simão de Ci-
rene, é convocado pelas forças invisíveis do destino. Com
compaixão brilhando em seus olhos, ele se aproxima de Je-
sus, oferecendo os ombros fortes e robustos para comparti-
lhar o fardo. Jesus, com olhar de gratidão e aceitação, aceita
compartilhar o seu instrumento de morte, ciente de que esse
ato é um reflexo da ajuda divina que Ele oferece a humani-
dade.
Unidos, eles continuam a jornada através do Vale de
Cedrom, subindo acentuadamente em direção ao Monte das
Oliveiras, com destino ao lugar chamado Gólgota, que signi-
fica, o lugar da caveira. A cada passo, a cruz parece ainda
mais insuportável, e seus corpos se curvam sob o peso es-
magador. Porém, eles persistem. A multidão, agora em si-
lêncio, observa a visão extraordinária de amor do Salvador e
um homem comum suportando a cruz em seus ombros.
No cume do Monte das Oliveiras, diante do panorama
majestoso de Jerusalém, Jesus é erguido na cruz. Sua jor-
nada de dor e sacrifício atinge o auge. O espectro da crucifi-
cação se materializa, a tragédia se concretiza. Com o sol
ainda no alto do céu, as sombras alongavam-se no Monte
das Oliveiras, criando um cenário que acentuava o drama
daquele evento. Jesus, agora prostrado e exausto, é colo-
cado sob a cruz. Os soldados romanos, com mãos fortes e
frias, pegam os pregos pesados e cruéis.

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Um silêncio pesado paira no ar quando eles transpas-
sam as mãos e os pés de Jesus com pregos afiados. Cada
martelada ecoa pelo local, causando angústia e horror ao co-
ração dos expectadores. O Filho de Deus, cujas mãos pro-
moveu curas e pés caminharam sobre as águas, agora era
pregado em uma cruz áspera, e suspendido em uma árvore
de oliveira alta e robusta.
A dor que contorce o rosto de Jesus é visível, mas sua
expressão ainda reflete uma calma divina e um amor inaba-
lável. Os soldados, por sua vez, cumprem o seu dever com
uma mistura de indiferença e crueldade. Acima da cabeça de
jesus, um dos soldados, com letras rústicas e um gesto bru-
tal, crava a inscrição que zomba de Sua realeza: “Rei dos
Judeus”.
A crucificação prossegue, e, um pouco detrás de Jesus,
à sua direita e esquerda, dois outros homens enfrentam o
mesmo destino terrível. Eles também estão presos com pre-
gos nas mãos e pés, gemendo em agonia. Três cruzes são
suspensas na mesma árvore.
À frente de Jesus, erguia-se o majestoso Templo de
Jerusalém, uma construção imponente que projetava a reli-
giosidade do povo e de seus líderes, que, contemplando
aquela cena, meneavam suas cabeças, em zombaria. O
Messias, crucificado entre ladrões, diante do templo glorioso,
tornando-se o sacrifício final para a redenção.
Conforme o sol se aproximava de seu ápice, ao meio-
dia, um estranho presságio envolveu toda a terra. Uma es-
curidão sobrenatural, densa e impenetrável, começou a se
espalhar, envolvendo Jerusalém e se estendendo além. As
sombras da noite caíram em pleno dia, e uma treva incom-
preensível cobriu a paisagem.

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A escuridão que envolveu a terra não era como a escu-
ridão natural da noite. Era a treva que inspirava medo e as-
sombro. Aqueles que estavam presentes nas proximidades
da crucificação de Jesus não podiam ver nem mesmo suas
próprias mãos diante de seus rostos, enquanto a atmosfera
se tornava opressiva com a sensação de um evento divino
em andamento.
Os soldados encarregados da execução e que haviam
tirado sorte sobre as vestes de Jesus, inicialmente, manti-
nham sua postura de indiferença, embora agora imersos em
total escuridão. A angústia e a inquietação se espalharam
entre eles, pois não havia luar nem estrelas. Era uma escu-
ridão profunda, inegável, que parecia abafar o som e sufocar
quaisquer resquícios de normalidade.
Por três horas intermináveis, aquela treva misteriosa
persistiu, envolvendo a crucificação e silenciando os expec-
tadores, que agora, estavam atordoados. Ao final desse pe-
ríodo, as trevas cederam à luz intensa do dia, apresentando
um Jesus ainda mais exausto, porém triunfante.
Em meio ao silêncio opressivo, um grito cortou o ar car-
regado. Era a voz de Jesus, clamando com angústia: “Deus
meu, Deus meu, por que me desamparaste?”. O brado
ecoou através das pessoas que ali estavam presentes, to-
cando os corações de alguns que testemunhavam a cena.
Contudo, nem todos compreendiam as palavras de Jesus.
Alguns, envoltos pela incredulidade e confusão, sugeriam
que Ele chamava por Elias, confundindo as palavras dolori-
das do Salvador com um chamado ao profeta.
Jesus expressou que tinha sede e clamava por um alí-
vio. Um dos soldados, movido pela compaixão ou zombaria,
tendo embebido uma esponja em vinagre, a ergueu até a
boca de Jesus. O líquido amargo tocou os lábios do Mestre,

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e ele experimentou o último fel de sofrimentos. Depois de
tomar aquele gole, Jesus ergueu a voz mais uma vez, di-
zendo: “Está consumado”. Era o reconhecimento de que Sua
missão na terra estava cumprida. Ele havia levado sobre si
o peso dos pecados da humanidade, e agora, em meio à dor
e triunfo, Ele declara que o preço do resgate estava pago na
íntegra.
E, então, em um último ato solene, Jesus olhou para o
alto e bradou com serenidade e resignação:
“Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”.
Com essas palavras finais, Ele inclinou a cabeça e en-
tregou a Sua vida.
A escuridão que havia envolvido o mundo naquele dia
culminou quando o Filho de Deus entregou o seu espírito,
encerrando a sua jornada terrena e selando o destino da hu-
manidade com um ato supremo de amor e redenção.
Enquanto o corpo inerte de Jesus pendia da cruz, um
verdadeiro milagre ocorreu. O pesado véu que separava o
Santo dos Santos no Templo de Jerusalém, um símbolo de
separação entre Deus e a humanidade, se rasgou ao meio.
Uma fenda profunda, que ia do alto até o chão, partiu o véu
de maneira impressionante, como se o próprio Céu estivesse
proclamando o fim das antigas tradições e a inauguração de
uma nova era espiritual.
Ao mesmo tempo, a terra tremeu com uma violência
assustadora. As rochas racharam-se e se partiram, abrindo
fendas profundas na terra. Túmulos que haviam permane-
cido intocados por gerações se abriram, revelando os corpos
daqueles que haviam sido considerados justos. Entre eles,
provavelmente estavam os de profetas como: Ageu, Mala-
quias e Zacarias, que aguardavam o cumprimento das pro-
messas messiânicas.

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Alguns dos justos que saltaram para fora com o grande
e surpreendente terremoto, foram ressuscitados, testemu-
nhando a redenção. As túnicas que haviam sido pálidas e
desgastadas pelas eras, agora se tornaram vivas e brilhan-
tes. Eles surgiram de seus túmulos como testemunhas do
cumprimento das profecias.
Toda aquela cena era tão impressionante que mesmo
o centurião romano, um homem treinado para enfrentar os
horrores da guerra e da morte, não pôde evitar se ajoelhar.
Ele glorificou a Deus, reconhecendo que algo verdadeira-
mente divino havia acontecido diante de seus olhos. O
evento transcendente o tocou profundamente, fazendo-o
perceber que estava testemunhando o poder de algo muito
maior do que qualquer império terreno.
O cenário no Calvário permanecia imerso em tensão,
enquanto o corpo de Jesus, agora sem vida, permanecia na
cruz. Enquanto os soldados se aproximavam das outras
duas cruzes fixadas na oliveira, onde estavam posicionados
os condenados ao lado do Messias, uma cena dolorosa se
desenrolou. Para acelerar a morte dos crucificados, uma prá-
tica cruel e comum na época, os soldados usavam maças de
ferro ou martelos para quebrar as pernas dos criminosos.
Essa ação brutal tornaria à respiração quase impossível, le-
vando à asfixia e morte rápida.
Os romanos rodearam as primeiras duas vítimas, apli-
cando os terríveis golpes que quebraram seus ossos. Os
condenados gemeram em agonia, e o ar soou com os horro-
res da crucificação. No entanto, quando chegaram a Jesus,
perceberam que já estava morto. Seu corpo, pendurado na
cruz por horas, havia sucumbido à exaustão e agonia. Diante
desse quadro, um dos soldados pegou uma lança. Em um
ato de verificação, perfurou o lado de Jesus, penetrando a

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lança profundamente em seu corpo. Os presentes observa-
ram com espanto enquanto do lado ferido de Jesus fluía san-
gue e água, uma imagem chocante e inexplicável. A cena
tinha um significado espiritual profundo.
A água e o sangue eram vistos como símbolos de puri-
ficação e remissão.
O sangue estava sendo aspergido visivelmente diante
de todos, enfatizando o fato de que o sacrifício de Jesus era
o meio de purificar a humanidade de seus pecados, mar-
cando a promessa de salvação a todos os que nEle cressem.

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A Nova Aliança

N
o coração de Jerusalém, em uma sala iluminada
pelo calor das lâmpadas a óleo, um cenáculo
cuidadosamente preparado aguardava a cele-
bração da Páscoa. O aroma de ervas e especiarias preen-
chia o ar, enquanto o crepitar das brasas e o som suave dos
murmúrios das vozes criavam um ambiente de expectativa
solene.
Era uma noite de profundo significado.
Os apóstolos estavam dispostos em seus lugares ao
redor de uma mesa baixa. Cada um ocupava uma posição
específica, conforme o costume da época. O anfitrião, Jesus,
estava no centro, como era de praxe, reclinado sobre almo-
fadas. Seu semblante, marcado por um misto de alegria e
seriedade, refletia a compreensão do que estava prestes a
acontecer.
Os ritos pascais, enraizados na tradição judaica se
desdobrava com precisão e significado. O cordeiro pascal, o
símbolo da libertação do povo de Israel da escravidão do
Egito, repousava no centro da mesa. O vinho tinto, represen-
tando a alegria da redenção, estava à disposição, assim
como o pão ázimo, que representava a pressa da partida da
terra de Faraó.
Enquanto a cerimônia avançava, Jesus tomou o pão
nas mãos e abençoo-o, partindo-o em pedaços para distri-
buir entre os apóstolos. Cada mordida era um símbolo da
unidade daquele grupo escolhido, uma comunhão de alma
que compartilhavam um mesmo destino.

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O cálice de vinho circulava entre eles, e Jesus, to-
mando-o com reverência, declarou que era o sangue da
Nova Aliança, o sangue derramado para a remissão de pe-
cados, uma promessa de salvação eterna. Os apóstolos,
com expressões variadas, refletiam sobre tudo o que o Mes-
tre declarava abertamente.
Nessa cena de profunda significância, no interior do
cenáculo mobiliado de propriedade da mãe de João Marcos,
um dos futuros evangelistas, Jesus e os apóstolos celebra-
vam a última páscoa e inauguravam a primeira ceia do Se-
nhor ou partir do pão, tão conhecido na igreja primitiva.
Aqueles símbolos simples, tomados do rito da Pás-
coa, o pão e o vinho, agora representavam o corpo e o san-
gue de Jesus que seria entregue para a salvação do mundo.
A lição era clara sobre a centralidade de sua morte.
Corpo seria entregue para ser espancado, humi-
lhado e cuspido pelos homens e o seu sangue seria derra-
mado por meios violentos. Jesus voluntariamente faria isso,
sem resistir ou reclamar.
Dessa forma, nenhum dos dois símbolos falavam de
sua vida, mas sim de sua morte que se aproximava. A Ceia
do Senhor é uma representação gráfica de sua morte na cruz
e deveria ser repetida pelos seus discípulos em Sua memó-
ria.
Quando relacionava sua morte à nova aliança, cer-
tamente Jesus evocava o profeta Jeremias.
“Estão chegando os dias, diz o Senhor, quando farei
uma nova aliança com a comunidade de Israel e com a co-
munidade de Judá. Não será como a aliança que fiz com os
seus antepassados quando os tomei pela mão para tirá-los
do Egito; porque quebraram a minha aliança, apesar de eu
ser o Senhor deles, diz o Senhor”. (Jer.31:31,32).

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É necessária a compreensão de que Jesus tinha em
mente algo superior que a primeira aliança firmada com Moi-
sés no Sinai.
O escritor da epístola aos Hebreus cita Jeremias, po-
rém declarando que se o profeta se refere a uma aliança
Nova, torna antiquada a primeira, sendo Jesus o Mediador
de aliança superior, instituída com base em superiores pro-
messas (Heb.8:6-13).
Foi no coração do deserto, que o povo de Israel ha-
via se reunido diante de uma montanha imponente, atraído
por uma força divina invisível. As áridas paisagens de pedra
e areia testemunhavam o momento sagrado, enquanto os
olhares dos israelitas estavam voltados para a montanha,
onde Moisés subiria para encontrar Deus. Ali ele havia sido
escolhido para guiar o povo para fora da escravidão e agora
estava prestes a selar o primeiro pacto entre Deus e Israel.
No cume da montanha, uma espessa nuvem escura
pairava, e raios e trovões ecoavam com a poderosa voz di-
vina. Era o próprio Deus que falava com Moisés, instruindo
sobre as leis e mandamentos que moldariam a vida do povo
escolhido.
Enquanto isso, na base da montanha, o povo se reu-
nia em expectativa e temor, cercado pela imensidão do de-
serto. Suas vestes eram simples e seus rostos estavam mar-
cados pela escravidão e provações que enfrentaram. Moi-
sés, então, retornou da montanha, trazendo consigo tábuas
de pedras nas quais as leis divinas estavam escritas. O povo
se reuniu em um círculo, um sinal de unidade, ansioso por
aceitar o pacto divino.
Moisés, tomando o sangue de animais sacrificados
e o derramou sobre o altar e sobre o próprio povo. Era um

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ato simbólico que selava a aliança entre Deus e Israel, uma
aliança que implicava compromisso, obediência e proteção.
O Antigo Testamento relata episódios em que Deus
puniu o povo de Israel por não manter a aliança, geralmente
acontecia quando Israel se desviava da verdadeira adoração
e passava a venerar outros deuses, praticava a idolatria, de-
sobedecia aos mandamentos e pecava de diversas manei-
ras.
Essas transgressões eram vistas como quebra de
aliança que culminou no exílio do povo para a Babilônia.
De fato, a aliança de Deus com Israel era vista como
um verdadeiro matrimônio. O profeta Jeremias trata das infi-
delidades do povo e as consequências disso. A relação entre
Deus e Israel é comparada à quebra de uma aliança ao ado-
rar outros deuses. Da mesma forma o profeta Oséias com-
para a relação de Deus com Israel a um casamento. Deus é
retratado como um marido fiel, enquanto o povo é represen-
tado como uma esposa adúltera. Oséias profetiza a punição
que Israel enfrentará devido a sua infidelidade espiritual.
A prova inequívoca dessa quebra de pacto ou “divór-
cio” se encontra na saída da glória de Deus do Templo em
direção ao Monte das Oliveiras, mencionado no livro do pro-
feta Ezequiel. Essa passagem descreve a partida da glória
antes da destruição do templo durante a invasão babilônica.
A glória de Deus se move dos querubins, que esta-
vam no Santo dos Santos do Templo, para a entrada oriental
do Templo e, em seguida, para o Monte das Oliveiras, a leste
de Jerusalém. Isso simboliza a partida da presença divina de
Jerusalém devido a infidelidade e à maldade do povo, culmi-
nando na destruição do templo e do exílio que teve por du-
ração cerca de setenta anos.

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Na profecia de Jeremias, temos a promessa de uma
Nova Aliança para a casa de Israel e de Judá, no futuro
(Jer.31:31,32). Isso significa que a primeira aliança não era
perfeita e tinha defeito (Heb.8:7). O problema sem dúvidas
começa com o mediador. Apesar de fiel servo de Deus, Moi-
sés falhou e pecou, sendo desobediente e sendo impedido
de ver a terra prometida.
O mediador é também um que serve como fiador,
como uma garantia de ambas as partes, em relação ao pró-
prio concerto.
Outro contraponto é a falibilidade do povo da aliança.
Essencialmente, não haveria nada de errado com o pacto se
o povo tivesse força moral para cumprir todas as exigências.
Precipitadamente, o povo anunciou: “tudo o que o Senhor
falou, faremos”, o que era impossível, pois a Lei exigia per-
feição, e a todo o tempo.
Tanto a lei quanto o concerto que era promulgado
por meio de Moisés, estavam enfermos pela carne
(Rom.8:3). Por esse motivo a história de Israel foi um enredo
de fracassos, marcados por desobediências, rebeldias, re-
clamações, esquecimentos e abandonos. Para compensar a
quebra dos mandamentos, se voltavam para a idolatria, re-
verenciando deuses locais como baal, moloque, astarote,
dentre outros. Se tratava de um adultério nacional
(Ez.23:37).
O concertou precisou ser substituída por um melhor.
Uma nova aliança era necessária.
A epístola aos Gálatas, escrita pelo apóstolo Paulo,
trata de questões teológicas relacionadas a fé cristã e a re-
lação entre a antiga aliança dada no Monte Sinai e a nova
aliança em Jerusalém, centrada em Jesus Cristo. O argu-
mento de Paulo é que a aliança do Sinai mostrou a

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impossibilidade das pessoas alcançarem a justiça por suas
próprias obras. Ele destaca que em Jesus uma nova aliança
foi estabelecida, baseada na graça e na fé. Ele enfatiza a
superioridade da Nova Aliança em relação a antiga aliança.
Ele afirma que o novo pacto traz a liberdade e a justificação
pela fé. A antiga aliança serviu como um aio ou tutor que
preparou o caminho para a vinda de Cristo. Assim, aqueles
que tem fé em Jesus são filhos da promessa e herdeiro das
bençãos prometidas a Abraão. Ele conecta a nova aliança
feita a Abraão muito antes da aliança do Sinai.
Abraão iniciou a era dos patriarcas de Israel, sendo
o primeiro a ser chamado por Deus e recebido as promessas
de bençãos terrenas e celestiais.
Certa vez, após uma árdua batalha, Abraão retornou
da campanha militar vitoriosa empreendida para resgatar
seu sobrinho Ló das garras das nações inimigas. Seu cora-
ção estava aliviado, e seus seguidores o aclamavam como
herói. O deserto de Canaã testemunhou o triunfo da justiça
sobre a opressão.
No entanto, em sua jornada de regresso, algo extra-
ordinário aconteceu. Enquanto a poeira da batalha ainda pai-
rava sobre Abraão e seus homens, eles foram recebidos por
um sacerdote misterioso, cujo nome ressoava como uma
melodia: Melquisedeque, rei de Salém. Com vestes sacerdo-
tais que pareciam brilhar a luz do sol poente, saiu para en-
contrar Abraão, com um gesto de hospitalidade que trans-
cendia as fronteiras das culturas e nações. Em suas mãos,
ele trazia pão e vinho, os elementos da comunhão e da ben-
ção, que evocavam um significado profundo e espiritual.
Abraão, em sinal de respeito e reconhecimento, se
aproximou do rei-sacerdote e aceitou o pão e vinho que lhe
foram oferecidos. O patriarca, em seu coração repleto de

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gratidão, deu o dízimo dos despojos de guerra a Melquise-
deque, compreendendo que aquele encontro não era casual,
mas o encontro com alguém que simbolizava a benção e o
sacerdócio eterno de Deus.
Mais uma vez os símbolos do pão e do vinho apare-
cem nos apresentando a realidade de uma aliança eterna.
O escritor aos Hebreus atesta que Melquisedeque
era “sacerdote do Deus Altíssimo” e que este era um mo-
narca do reino de Salém, que é a Jerusalém, a mesma ci-
dade que metaforicamente se conecta à Nova Aliança.
Dessa forma, temos a figura de um sacerdócio real, conceito
bastante difundido no Novo Testamento (I Pe.2:9, Ap.1:6).
Assim também, o fato do patriarca ter dado dízimo
ao rei-sacerdote prefigura a ordem levítica, isto é, o sacerdó-
cio da velha aliança, que recebia dízimos e até mesmo o dí-
zimo dos dízimos (no caso do sumo sacerdote), dá dízimo
ao sacerdócio da nova aliança (Heb.7:9,10, cf. Nee.10:34-
39, Núm.18:26).
É surpreendente o argumento do escritor apontando
algumas informações que o primeiro livro da Bíblia oculta.
Melquisedeque não tem pai, nem mãe, nem genealogia, nem
princípio de dias nem fim de vida, o que o torna semelhante
ao Filho de Deus, Jesus (Heb.7:3). Seu nome em hebraico
significa “Rei da Justiça” e, sendo ele monarca de Salém, se
mostra também como “Rei de Shalom”, ou Rei da Paz. O
mesmo também é dirigido ao Messias (Sal.85:10, Zac.6:13,
Sal.72:7, Isa.9:6, Jer.23:6).
Isso se torna ainda mais evidente pelo salmo profé-
tico messiânico que menciona Melquisedeque, o salmo 110.
O primeiro verso desse salmo é frequentemente citado no
Novo Testamento em relação a Jesus Cristo e seu papel
messiânico (cf. Mt.22:44, Mar.12:36. Lc. 20:42,43), que

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também o relaciona diretamente ao Filho do Homem e ao
Ancião de Dias, mencionado pelo profeta Daniel (Dan.7:13).
O escritor aos Hebreus se utiliza desse contexto
para comprovar seu ensino doutrinário. O mesmo “Senhor”
que Davi tinha visto se assentar ao lado do Todo Poderoso
nas alturas, era o mesmo pelo qual Ele havia se interposto
solenemente em juramento, dizendo:
“Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de
Melquisedeque” (Sal.110:4, cf. Heb.7:17).
Jesus se tornaria sacerdote por juramento, porém
não conforme a ordem levítica da primeira aliança, promul-
gada no Sinai. Mas sim, se tornaria o grande sumo sacer-
dote, conforme a ordem eterna do monarca de Salém.
O fato de Melquisedeque ter recebido dízimos e ter
abençoado Levi (em figura), confirma que se trata de uma
pessoa superior, uma ordem sacerdotal superior e uma ali-
ança superior. Jesus Cristo após sua ascensão aos céus, se
tornou o Sumo Sacerdote Perfeito, pois se encaixava nos re-
quisitos dessa ordem sacerdotal: Ele não tem princípio de
dias ou fim de vida, como os sacerdotes terrenos. Ele não
tem pecado, por isso não precisa estar oferecendo sacrifícios
por si mesmos, como os sacerdotes levitas faziam. Ele era
da tribo de Judá, assim como o monarca de Salém.
Portanto, mudando o sacerdócio, necessariamente
se faz também mudança da lei. Isso explica por exemplo por-
que o Filho do Homem era o Senhor do sábado (Mat.12:8,
Mar.2:28). Também é destacado o fato de que os sacerdotes
levitas não poderiam se assentar no santuário e nem terem
cargos reais, ao contrário da a ordem de Melquisedeque, A
instituição de outro sacerdócio necessitaria uma mudança de
Lei, pois tanto a lei quanto o sacerdócio eram partes inte-
grantes de um mesmo sistema.

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O sistema sacerdócio-lei levita era transitório como
o “tutor” registrado nas alegorias de alianças da epístola aos
Gálatas. Esse tutor mostraria o pecado até que viesse o Sal-
vador (Gal.3:24).
Quando lembramos do rei Davi, temos grandes som-
bras dessa nova ordem sacerdotal e a mudança de lei.
Sob um céu imaculado, Davi, com o coração repleto
de fervor, liderou o povo de Israel em um processo solene e
sagrado. Vestia um manto de linho fino e uma estola sacer-
dotal de linho.
A arca da aliança, uma relíquia sagrada que continha
os mandamentos de Deus, era transportada por levitas e
cantores. O trajeto estava repleto de ofertas e sacrifícios.
Davi não poupou recursos para demonstrar sua devoção e
alegria.
O aroma suave como incenso subia ao céu, en-
quanto o sacrifício de touros e carneiros eram consumidos
pelo fogo. O som do shofar, o chifre de carneiro que servia
como uma buzina, ecoava pela paisagem.
Chegando a gloriosa cidade de Jerusalém, Davi, o
rei segundo o coração de Deus, introduziu a arca da aliança
na tenda que ele havia erguido, uma estrutura simples, mas
cheia de significado espiritual. Ele acomodou a arca com re-
verência e carinho no centro daquele local coberto por corti-
nas, sabendo que ali se encontrava a própria presença de
Deus entre eles.
Com gratidão em seu coração, Davi repartiu genero-
samente com o povo um bolo de pão, um pedaço de carne e
uvas passas. Era um gesto de comunhão e alegria, cele-
brando a chegada daquela mobília santa.
O rei designou os sacerdotes, vestidos com túnicas
e portando instrumentos musicais, para entoar louvores

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diante da arca na tenda que armara. As vozes dos sacerdo-
tes se elevaram em cânticos de adoração.
Quando a arca foi criada por mãos de Bezalel, da
tribo de Judá, ela foi colocada primeiramente no tabernáculo
estabelecido no deserto do Sinai, assim como diversas ou-
tras mobílias sagradas (Êx.37,38).
Conforme o relato do escritor aos Hebreus, a pri-
meira aliança também tinha preceitos de serviço sagrado e
o seu santuário terrestre. Esse tabernáculo era divido basi-
camente em três partes: o átrio externo, o lugar santo e o
lugar santíssimo ou santo dos santos. No santo lugar esta-
vam o candeeiro, a mesa e a exposição dos pães. O que
dividia esse compartimento do espaço mais sagrado era um
véu, chamado segundo véu, sendo que o primeiro se encon-
trava na entrada do tabernáculo.
Do outro lado do segundo véu, pertencia o altar de
ouro que servia como incensário do lugar (mas fisicamente
estava no lugar santo) e a arca da aliança. Na ordem levítica,
somente o sumo sacerdote, uma vez ao ano, no evento cha-
mado Dia da Expiação, poderia acessar o santo dos santos
contendo sangue que seria oferecido por si mesmo e pelo
povo. Também é conhecida as leis morais e cerimoniais,
descritas principalmente no livro de Levítico.
No entanto, quando Davi carrega a arca para Jeru-
salém, vemos a representação fidedigna de uma nova ordem
sacerdotal, um novo santuário e uma nova lei.
Davi, sendo da tribo de Judá e tendo nascido em Be-
lém, era rei de Israel. Podemos dizer que ele, assim como
Melquisedeque no passado, também era “rei de Salém”. Ele
usava roupas sacerdotais, mesmo não sendo um levita e es-
tando no ofício de um monarca.

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No Sinai, nenhum rei ou sacerdote poderia ver a arca
da aliança. Em Jerusalém, porém, ela foi transferida para
uma tenda simples, sem divisões, mobílias ou compartimen-
tos. Enquanto no tabernáculo existia toda uma ritualística e
deveres definidos aos sacerdotes pela Lei mosaica, na tenda
de Davi os serviços e funções foram definidos pelo próprio
rei de Israel. Enquanto o foco no deserto eram os sacrifícios,
o foco em Jerusalém era o entoar cânticos, adorar e comer
do pão, da carne e das uvas passas oferecidas pelo rei Davi.
Trazendo isso para realidade alegórica das alianças
na epístola aos Gálatas, vemos novamente Sinai e Jerusa-
lém em contraposição.
A antiga aliança apontava para a lei mosaica, a or-
dem levítica e toda a ritualística cerimonial do tabernáculo (e
futuramente do templo). A nova aliança era direcionada para
uma nova lei, a ordem de Melquisedeque e os louvores e
adoração na tenda de Davi, onde todos poderiam olhar e in-
teragir com a arca da aliança, livremente.
De fato, Jesus “trouxe” a arca da aliança para a “Je-
rusalém Celestial”, quando pelo seu próprio sangue, entrou
no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna
redenção. Por isso mesmo, Ele é o Mediador da nova ali-
ança. Cristo mesmo entrou no verdadeiro santuário, o céu,
para comparecer diante de Deus, cumprindo o Salmo 110 e
inaugurando uma nova ordem sacerdotal sob o juramento de
Deus, que é eterno e inabalável.

20
O Lugar Limpo

O
sombrio Topheth, situado além dos limites do
arraial, onde os murmúrios da comunidade ce-
dem lugar ao silêncio somente interrompido
pelo crepitar do fogo sagrado, os rituais desenrolam-se num
elo misterioso entre o divino e o terreno. Ali, alguns sacrifí-
cios eram ofertados, entre eles a majestosa novilha verme-
lha, cujo pelame rubro como o sangue simbolizava purifica-
ção.
Sob o céu estrelado, sacerdotes vestidos em trajes
sagrados conduziam as cerimônias, derramando óleos aro-
máticos e incenso que perfumavam o ar. O aroma celestial
mesclava-se ao cheiro de carne a arder, enquanto a chama
consumia os dons apresentados a Deus. O fogo era a ponte
que ligava o céu e a terra, purificando e expiando os pecados
do povo, segundo as antigas tradições prescritas nas Escri-
turas.
No Topheth, o sacrifício transcendia o material e al-
cançava o espiritual, enquanto o eco dos cânticos sagrado
ressoava nas colinas, elevando preces aos céus e selando a
ligação etérea entre Deus e seu povo. O local, envolto em
mistério e santidade, era um local onde a fé se manifestava
em chamas ardentes e ofertas devotas.
As cinzas da novilha vermelha eram recolhidas e
guardadas com reverência, prontas a serem usadas em fu-
turos rituais de purificação.
Topheth era o local onde a carne das ofertas, inclu-
indo a própria novilha vermelha, era queimada. Ele ficava

21
fora do arraial, sendo esse termo bastante conhecido em vá-
rias passagens no Antigo Testamento, incluindo o livro de
Jeremias.
Se tratava de um lugar específico, designado para a
queima de ofertas e sacrifícios, localizado fora dos limites da
comunidade ou arraial, para fins de purificação e expiação.
No caso da rubra novilha, ela era sacrificada fora do arraial,
e suas cinzas usadas nas cerimônias de purificação do povo.
Outros sacrifícios também exigiam que as ofertas
fossem queimadas fora do arraial.
No sacrifício conhecido como “Oferta pelo Pecado”
ou “Sacrifício pelo Pecado”, se mostrava como um ritual cru-
cial no antigo sistema de sacrifícios judaicos, destinado a ex-
piar pecados individuais ou coletivos. Esse rito exigia que o
sacerdote saísse do arraial, simbolizando a remoção espiri-
tual do pecado da comunidade.
O processo começava quando alguém reconhecia
ter cometido um pecado que precisava de expiação. O pe-
cado trazia um animal, geralmente um novilho ou uma cabra
como oferta.
O sacerdote, usando vestes cerimoniais brancas, se
aproximava do pecador e o auxiliava a confessar o seu pe-
cado e a impor as mãos sobre a cabeça do animal. Esse ato
simbolizava a transferência dos pecados do pecador para a
oferta apresentada.
No altar de bronze, no tabernáculo ou templo, o ani-
mal era sacrificado, e o sangue era transportado para o Lu-
gar Santo, onde era aspergido em direção ao véu como parte
do processo de expiação. Um pouco daquele sangue tam-
bém seria colocado nas pontas ou chifres do altar de bronze,
e o restante do sangue seria derramado em sua base.

22
Algumas partes internas da oferta eram retiradas
pelo sacerdote: a gordura dos miúdos, os dois rins e a gor-
dura que os cobre, como também a melhor parte do fígado.
Todas essas partes seriam queimadas no próprio altar de
bronze.
No entanto, o couro do animal sacrificado, assim
como toda a carne, a cabeça, as pernas, os miúdos e os in-
testinos, seriam levados par fora do arraial, ao Topheth, tam-
bém chamado “lugar puro” e ali tudo seria queimado em cima
da lenha.
Quando alguém era suspeito de ter lepra ou alguma
doença de pele, o sacerdote inspecionava a condição da
pessoa. Se a suspeita fosse confirmada, a pessoa era de-
clarada impura e obrigada a habitar fora do arraial, em um
local isolado.
O leproso era instruído a usar vestes rasgadas e ca-
belo desalinhado como sinal de sua condição impura. Ele
também tinha que cobrir o rosto e gritar: “Impuro! Impuro!”,
quando este se aproximava de outras pessoas, a fim de
alertá-las sobre a sua presença.
Ele ficava isolado fora do acampamento por sete
dias, enquanto o sacerdote continuava a monitorar sua con-
dição. Após esse período, o leproso era examinado nova-
mente. Se a doença não piorasse, o sacerdote realizava ou-
tro exame após sete dias adicionais.
Se, após o segundo exame, o sacerdote determi-
nasse que a doença estava curada, o leproso era autorizado
a entrar novamente no arraial. O rito de purificação envolvia
a oferta de diversos sacrifícios, incluindo a oferta de dois
passarinhos vivos, madeira de cedro, escarlate e hissope.
Nesse rito, um dos passarinhos vivos era morto, e o sacer-
dote aspergia o sangue sobre o leproso. O outro pássaro era

23
solto, simbolizando a liberdade e restauração da pessoa à
comunidade.
Após o sacrifício e o ritual, o leproso banhava-se e
trocava as suas vestes.
Outra oferta que envolvia saída do arraial era a do
bode emissário, que ocorria no Dia da Expiação. Nesse dia,
dois bodes eram escolhidos como parte desse ritual. Eles
eram apresentados diante do tabernáculo ou do templo,
onde toda a congregação se reunia.
Os bodes eram apresentados diante do sumo sacer-
dote. Um dos bodes era escolhido para ser oferecido como
um sacrifício pelo pecado do povo ao Senhor. O outro era
designado como bode emissário.
O bode escolhido como sacrifício pelo pecado era
sacrificado como uma oferta pelo pecado no altar de bronze.
O sumo sacerdote aspergia o sangue desse bode no lugar
santíssimo, ou Santo dos Santos, o local mais sagrado do
tabernáculo ou templo, simbolizando a purificação dos peca-
dos do povo.
O bode emissário era trazido diante do sumo sacer-
dote, que impunha as mãos sobre a cabeça do bode emis-
sário e confessava sobre ele todos os pecados e transgres-
sões do povo. Esse ato simbolizava, assim como na oferta
pelo pecado individual, a transferência de pecados para o
bode emissário.
A oferta viva, agora “carregando” os pecados do
povo, era levado para fora do arraial e solto no deserto, que
representava a remoção simbólica dos pecados da comuni-
dade, que era levada embora e nunca mais retornaria.
Enquanto o rito ocorria, a congregação se arrepen-
dia de seus pecados, jejuando e buscando a purificação e
reconciliação com Deus.

24
É importante destacar que em todos os ritos menci-
onados há um paralelo bastante curioso entre o chamado
“lugar puro” e o “lugar santo”.
O primeiro, como já mencionado, estava localizado
fora dos limites do arraial em uma zona pouco habitada,
onde normalmente residiam somente pessoas “impuras”,
como os leprosos e outros. O “lugar puro” é a designação do
próprio altar onde as carnes das ofertas ou a própria oferta,
no caso da novilha vermelha, era queimada.
O segundo, estava localizado dentro do tabernáculo
ou templo, e era onde os sacerdotes ministravam seu ofício
sagrado e para onde o sangue era levado para fins de as-
persão e purificação ritual. No lugar santo havia, além da
mesa, os pães e o candelabro aceso, um altar de ouro que
estava diante do véu.
Pode parecer um contraste como esses dois lugares
tão diferentes entre si pudessem compartilhar de uma
mesma oferta e, por causa dela, ambas fossem chamadas
de “puro” e “santo”.
De fato, todas essas ofertas da ordem levítica apon-
tavam para a oferta única e eterna da ordem de Melquisede-
que. E todas apontavam para o sacrifício de Jesus, na cruz.
O escritor aos Hebreus menciona que Cristo, para
santificar o seu povo, pelo seu próprio sangue sofreu fora da
porta, e, por isso, somos exortados a sair a Ele, fora do ar-
raial, levando a sua vergonha e humilhação.
Tratando do sacerdócio inaugurado por Jesus, me-
diante o maior e mais perfeito tabernáculo, não por meio de
sangue de bodes e bezerros, mas pelo próprio sangue, en-
trou no Santo dos Santos, uma vez por todas.
Assim, o sangue de bodes e touros e a cinza de uma
novilha, aspergida sobre os contaminados, que os

25
santificavam quanto à purificação da carne. Muito mais
agora, afirma o escritor sacro, o sangue de Cristo, que, pelo
Espírito Eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus,
purificará a consciência das obras mortas, para serviço ao
Deus Vivo.
Jesus consagrou aos seus pelo véu, isto é, pela sua
carne, tendo Ele próprio construído esse caminho até Deus
quando penetrou além do véu. (Heb.13:12,13, 9:12-14,
10:20).
É notável que os sacrifícios mencionados pelo escri-
tor aos Hebreus estejam diretamente relacionados aos sacri-
fícios em que a oferta e o sacerdote, precisariam sair para
fora do arraial.
Jesus Cristo, ensanguentado e pendurado na cruz
era a realização de todas aquelas ofertas, que prefiguravam
o seu próprio sacrifício. Estavam ali com ele os utensílios que
eram necessários para purificar os contaminados: o madeiro,
o sangue escarlate e o hissope, pelo qual ele beberia o vina-
gre.
Ele mesmo, era a própria representação das duas
pombinhas, a que seria sacrificada e a que voaria cruzando
o céu. Cristo também era a própria representação da novilha
vermelha em sua mansidão, o sangue derramado pelo seu
corpo e sua perfeição moral.
O profeta Isaías, em sua famosa profecia sobre os
sofrimentos do Messias, afirma que Ele daria a sua alma
como oferta pelo pecado, pois seria trespassado pelas nos-
sas transgressões e moído pelas nossas iniquidades, pois o
Senhor fez cair sobre Ele a iniquidade de nós todos
(Isa.53:5,6,10).
Como vimos, na oferta pelo pecado, um novilho ou
cabra era sacrificado no altar de bronze e seu sangue levado

26
para o Lugar Santo e seu couro seria queimado no Lugar
Limpo, fora do arraial.
A cruz de Cristo cumpriu com perfeição a oferta pelo
pecado, quando seu corpo sofreu a punição da ira de Deus
Si mesmo no madeiro, fora da cidade de Jerusalém. Tam-
bém, após sua morte, ele penetrou aos céus (o verdadeiro
véu) com seu sangue que foi aceito para a satisfação da jus-
tiça de Deus.
Com essa oferta de Si mesmo, Ele se tornou o me-
diador de uma nova aliança e de uma nova ordem sacerdo-
tal.

27
O Cordeiro

S
ob o céu aberto e impregnado de uma luz dou-
rada, Abraão e o jovem Isaque, seu filho, se
aventuravam pelas colinas acidentadas da terra
de Moriá. A paisagem se estendia à sua frente, um cenário
de deserto salpicado de rochas e arbustos, enquanto o sol
do meio-dia derramava calor sobre eles.
Isaque, com sua juventude e força, carregava nos
ombros a pesada lenha que seria utilizada no altar de sacri-
fício. Cada passo que ele dava era uma expressão de seu
compromisso, mesmo que ainda não entendesse completa-
mente o que estava prestes a acontecer.
Abraão, o patriarca de uma linhagem abençoada por
Deus, seguiu adianta com determinação. Em sua mão, ele
carregava com o fogo e o cutelo, as ferramentas que seriam
usadas para o ato de obediência suprema.
Seu coração estava um misto de angústia e devo-
ção.
Conforme pai e filho avançavam, o silêncio que en-
volvia a jornada era quebrado bruscamente por um questio-
namento de Isaque. Com curiosidade e um toque de apreen-
são, ele perguntou a seu pai: Eis o fogo e a lenha, porém
onde está o cordeiro para o holocausto? A pergunta pairou
no ar, carregando consigo a incerteza assim como a inocên-
cia do jovem.
A resposta de Abraão, no entanto, foi um testemu-
nho de sua fé inabalável. Com uma confiança derivada de
um relacionamento profundo com o divino, ele declarou:
Deus proverá o cordeiro.

28
E, assim, pai e filho continuaram a subir o monte, a
lenha nas costas de Isaque, o cutelo nas mãos de Abraão, o
fogo da fé que ardia em seu coração.
No topo da colina indicada por Deus, Abraão e Isa-
que finalmente chegaram. O lugar, banhado pela luz dourada
do sol, era como que uma antevisão do próprio céu, e a brisa
suave sussurrava palavra de expectativa no ar. Com o cora-
ção pesado, mas fiel, Abraão começou a preparar o altar
com obediência.
Ele empilhou as pedras, uma por cima da outra,
construindo um altar sólido e firme, que testemunharia o ato
de fé que estava prestes a ocorrer. Com reverência, ele dis-
pôs a lenha sobre o altar, uma carga que Isaque carregara
com tanto esforço, mas que agora repousava como sinal de
cumprimento divino. A madeira, simbolizando o fogo da de-
voção, estava pronta para receber a oferta.
Em um gesto de fidelidade inquebrantável, Abraão
amarrou as mãos e os pés de Isaque, que voluntariamente
se submeteu a vontade de seu pai. O jovem rapaz, com
olhos cheios de confiança e resolução, deitou-se sobre a le-
nha, pronto para ser ofertado.
Abraão, com o cutelo na mão, estava prestes a cum-
prir o mandamento divino, compreendendo, pela fé, que
Deus seria capaz de ressuscitar a Isaque para que nele
fosse cumprida as promessas do próprio Deus. A tensão no
ar era quase insuportável, enquanto o céu observava a cena
com solenidade.
De repente, uma voz do céu ecoou como um trovão
gentil, um som que carregava a autoridade do próprio Deus.
Era o Anjo do Senhor, ordenando que o patriarca não fizesse
nenhum mal a seu filho amado, sendo que Deus agora sabia
que nem mesmo a este pouparia.

29
Abraão, com lágrimas nos olhos e coração aliviado
ergueu os olhos para contemplar o milagre da provisão di-
vina.
Entre os arbustos, ele vislumbrou um carneiro preso
pelos chifres, como um presente do céu. Com um coração
grato, Abraão pegou o animal e o ofertou como sacrifício de
holocausto a Deus, em lugar de seu filho Isaque.
A famosa história bíblica da provação do patriarca
ainda hoje é vista por muitos como a maior prova de fé das
Escrituras Sagradas. Abraão entregou o seu único filho para
ser sacrificado em obediência a Deus. Essa é a premissa te-
ológica básica do evangelho, onde o Pai entregou o seu filho
unigênito (cf. Jo.3:16).
Sombras da cruz podem ser contempladas a todo o
momento no capítulo 22 do livro de Gênesis.
Primeiramente, vemos Isaque carregando a lenha
em seus ombros e nossos olhos espirituais se voltam para
Jesus, o Filho Unigênito do Pai, carregando a o seu próprio
instrumento de execução em direção ao lugar chamado Gól-
gota. Assim, como Isaque, Jesus caminha voluntariamente
até o “lugar limpo”, onde seria crucificado e morto.
Também contemplamos Abraão com o cutelo e o
fogo e entendemos que Deus tem em Seu cálice a santa ira
contra o pecado. Ele daria a Jesus esse cálice, para que
fosse sorvido em nosso lugar. No Getsêmani, Cristo pôde
dizer: Se for possível, passe de mim esse cálice. Essa seria
a única forma de salvação para a humanidade.
Isaías profetizou que o Senhor fez cair sobre o Mes-
sias a iniquidade de nós todos e esse foi o motivo pelo qual
agradou moê-lo (Isa.53:4,5).
É notável que Isaque é apresentado como o próprio
cordeiro e oferta. Isaías afirma que Cristo, como cordeiro,

30
seria levado ao matadouro (Isa.53:7). O filho de Abraão foi
colocado deitado sobre a lenha que ele mesmo carregou até
o topo do monte. O fato do carneiro ter morrido no lugar de
Isaque nos fala simbolicamente da morte e ressurreição de
Jesus, após ele ter sido colocado e suspenso na cruz pelos
romanos.
A tradição judaica afirma que o templo de Salomão
foi construído no mesmo local onde Isaque foi oferecido. Po-
rém, devemos lembrar que esse monte não é identificado
nas Escrituras. A única menção a ele fala que o patriarca
deveria levar seu filho à “terra de Moriá” onde ele seria ofe-
recido sobre uma das montanhas do lugar. Quem indicou a
montanha foi o próprio Deus.
O templo de Salomão foi edificado no Monte Moriá,
“onde o Senhor aparecera a Davi, seu pai, no lugar que Davi
tinha preparado na eira de Ornã, o jebuseu” (2 Cro.3:1). O
rei Davi havia comprado essa eira para oferecer sacrifícios a
Deus e evitar uma praga que estava assolando Israel. Essa
é a referência bíblica do templo e não a oferta de Isaque.
Por esse motivo, entendo que o monte em que o filho
do patriarca Abraão foi oferecido a Deus não é o mesmo
Monte Moriá do Templo de Salomão, mas um monte próximo
a ele que mais a frente identificaremos como o Monte das
Oliveiras.
Há alguns séculos antes, no crepúsculo de uma
noite de temor, um casal judeu, com seus filhos pequenos ao
redor, reuniram-se na penumbra da sua casa, iluminada ape-
nas pelas chamas das velas. As paredes, as vigas do teto e
o chão estavam preenchidos com a energia do momento,
pois aquela era a noite da primeira Páscoa, uma noite que
marcaria a passagem para um novo começo.

31
Eles haviam selecionado um cordeiro perfeito, um
símbolo de pureza e inocência, e o prepararam com ervas
amargas e especiarias. O aroma que se espalhava no ar era
uma recordação constante da amargura da escravidão que
eles estavam prestes a abandonar. O cajado, símbolo de au-
toridade e liderança, estava à mão, pois esta era a noite em
que eles, assim como todo o povo de Israel, seriam guiados
para fora do cativeiro.
Com cuidado e respeito, eles tingiram os umbrais de
sua porta com o sangue do cordeiro, como uma marca de
proteção ordenada por Javé. O sangue era a garantia de que
a morte do primogênito não entraria naquela casa, mas pas-
saria por ela.
Enquanto a refeição da Páscoa era preparada, com
o cordeiro assando no fogo, eles se reuniram para a ceia
festiva. Pães ázimos, demonstrando a pressa da saída, er-
vas amargas, a recordação do sofrimento e vinho tinto, o sa-
bor da alegria da libertação, compunham a mesa. O cajado,
agora apoiado perto da porta, lembrava a liderança de Deus
em suas vidas.
Naquela mesma noite, o Anjo do Senhor passaria
com a décima praga, uma praga que traria a morte dos pri-
mogênitos dos egípcios, mas poupando aqueles cujas casas
estavam marcadas com o sangue do cordeiro. Enquanto a
noite avançava e a lua subia no céu, a tensão estava no ar,
mas também a esperança de que a sonhada liberdade esta-
ria próxima.
A casa estava repleta de orações silenciosas, de co-
rações gratos e de uma sensação de expectativa. Naquela
noite, o povo de Israel selou a sua aliança com Deus, e a
Páscoa se tornou uma celebração eterna da liberdade, da
redenção e da fidelidade divina. Era o começo de uma nova

32
jornada que levaria o povo de Israel para fora do Egito, em
direção à Terra Prometida, e à luz da promessa cumprida.
No mês de nissan (ou abib), que se tornaria o pri-
meiro dos meses no calendário hebreu, ao entardecer, co-
meça a festa da Páscoa judaica, baseada em Êxodo 12,
quando Deus deu instruções detalhadas através de Moisés
sobre o que deveria ser feito quando o Anjo Destruidor pas-
sasse por território egípcio.
No décimo dia do mês, toda a família israelita deve-
ria tomar para si um cordeiro ou cabrito, macho de um ano,
sem defeito (Êx. 12:3-6).
Essa ordenança teve seu cumprimento de forma im-
pressionante em Jesus, que se tornou o Cordeiro de Deus
que tira o pecado do mundo.
Jesus entrou em Jerusalém antes da Páscoa com a
intenção de sofrer e morrer, após ter tido a sua estadia em
um local restrito, evitando a prisão ordenada pelos sacerdo-
tes e fariseus (Jo.11:54).
Seis dias antes da Páscoa, Jesus chegou até Betâ-
nia, na encosta do Monte das Oliveiras, próxima a Jerusa-
lém, conforme narrado em Jo.12:1.
No primeiro dia da semana, Jesus entra publica-
mente na cidade santa e no Templo acompanhado do brado
de alegria dos discípulos e do povo (Jo.12:12). É possível
que esse tenha sido o décimo dia do primeiro mês, quando
o cordeiro pascal deveria ser preparado. Jesus se recolheu
em Betânia exatamente como aconteceu com o cordeiro no
Egito, que, antes de ser sacrificado, foi separado por quatro
dias (Êx.12:6).
Durante todo o ministério de Jesus por três anos e
meio, aproximadamente, três páscoas são mencionadas, e
uma quartam são feitas apenas algumas referências.

33
Aparentemente, se passaram cerca de quatro anos desde o
batismo de João e a apresentação de Jesus como o Cordeiro
de Deus e a sua morte na cruz (Jo.1:29).
A entrega de Jesus para ser crucificado é descrita
em Jo.19:14-16. De fato, tudo ocorrera naquele mesmo dia,
embora os principais sacerdotes e anciãos tentassem evitar
a coincidência com celebração da Páscoa (Mat.26:4,5).
Prova disso é a pressa com que todo o processo e execução
aconteceram, mostrando que buscaram a qualquer modo re-
solver toda a questão rapidamente.
Jesus ficou suspenso na cruz por seis horas, das
nove horas da manhã às três horas da tarde.
Conforme a tradição judaica conforme descrita na
Torá, prescreve que os cordeiros da Páscoa devem ser sa-
crificados “entre as duas tardes”. Isso gerou alguma interpre-
tação e debate, mas geralmente é entendido como sendo no
período entre meio-dia e as três da tarde, durante o tempo
conhecido como “Ben HaShemashot”, que é o crepúsculo, o
pôr do sol.
Os cordeiros deveriam ser sacrificados somente no
Templo, pois o sangue deveria ser colocado sobre o altar
(Deut.16:5-7). Como eram mortos milhares de animais, era
necessário começar às três da tarde.
Os sinais visíveis como as trevas sobre a terra desde
o meio-dia até as três da tarde, quando então tremeu a terra,
fenderam-se as rochas e o véu do santuário se rasgou em
dias partes, de alto a baixo, no momento em que se come-
çava a matar os cordeiros pascais no Templo.
As ervas amargas e pães asmos nos falam da vida
sem pecado de Jesus e de seus sofrimentos físicos no Gól-
gota. Nenhum osso do cordeiro pascal deveria ser quebrado,
o ocorreu no caso de Jesus que não teve nenhum osso de

34
seu corpo quebrado pelos romanos (Êx.12:46. Cf. Jo.19:33-
36). Paulo também afirmou que Cristo era a completude do
sacrifício da Páscoa quando afirmou que “Cristo, nosso cor-
deiro pascal, foi imolado” (I Cor.5:7).
Em suas visões celestiais, o apóstolo João foi arre-
batado a um lugar de maravilhas, onde o tempo e o espaço
cediam lugar a eternidade. Diante de seus olhos, ele contem-
plou uma cena extraordinária, ecoando as visões do profeta
Daniel do passado.
Em meio a glória e a majestade do céu, João viu o
Ancião de Dias, o Deus eterno, assentado em um trono de
autoridade suprema. Este trono, em sua grandiosidade, pa-
recia tocar o próprio céu, e o Todo Poderoso segurava em
sua mão direita um livro. Estava escrito por dentro e por fora,
e selado com sete selos, continha segredos guardados
desde a fundação do mundo.
Enquanto João estava submerso a visão transcen-
dental, um Anjo Forte e resplandecente apareceu, inter-
pondo-se na cena celestial. Com uma voz que ecoava como
um trovão, o Anjo proclamou: Quem é digno de abrir o livro
e desatar os sete selos? Era um desafio lançado para o céu
e a terra, e o silêncio que se seguiu foi ensurdecedor.
Ninguém, no céu ou na terra, foi encontrado digno
de abrir o livro, e isso trouxe lágrimas aos olhos de João. Sua
angústia e perplexidade eram palpáveis, pois ele compreen-
dia a importância do que estava contido no livro selado.
Então, um dos anciãos que estava ali, representando
sabedoria e experiência espiritual, percebendo o desespero
do apóstolo, disse-lhe com compaixão: Não chores, pois eis
que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para
abrir o livro e os sete selos.

35
As palavras do ancião eram uma promessa de que,
apesar da aparente desesperança, a vitória já havia sido as-
segurada por aquele que era digno de romper os selos.
João, com a fronte estendida e os olhos cheios de
expectativa, viu então, em meio à corte celestial, de pé um
Cordeiro. Esse Cordeiro era como se estivesse sido morto,
mas agora estava vivo, e Sua presença irradiava paz e ma-
jestade. Era o próprio Jesus Cristo, o Salvador, o sacrifício
perfeito que conquistara a vitória sobre o pecado e a morte,
o único digno abrir o livro selado e revelar seus segredos ao
mundo.
Nesse momento solene, o céu e a terra convergiram,
e o plano divino de redenção e restauração começou a se
desdobrar diante dos olhos de João, diante dos livros sela-
dos com sete selos, revelando a soberania de Deus e o
triunfo de Cristo sobre todas as coisas.
Conforme Apocalipse 6, o livro de sete selos é aberto
por Jesus, o Cordeiro, de forma gradual. Ele contém os juí-
zos contra o mundo ímpio. O fato de Jesus ser Digno de abrir
o livro significa que Ele venceu para tomar posse do mundo,
isto é, para implantar no planeta Terra o seu reino.
Se levarmos em consideração a visão paralela de
Daniel, vemos que o Ancião de Dias se aproxima do Filho do
Homem, que desce dos céus com as nuvens. Foi-lhe dado
domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e
homens de todas as línguas o servissem, o seu domínio é
domínio eterno, que não passará, e o seu reino não será des-
truído (Dan.7:13,14). Nessa ocasião, o Senhor será Rei so-
bre toda a terra (Zac.14:9).
Esses eventos colocam a morte na cruz como um
evento ainda mais sublime: a vitória sobre os domínios ter-
restre, não apenas os principados espirituais, mas os

36
governos que regem as nações. Todos eles serão subjuga-
dos e se submeterão ao reino messiânico.
João contempla o Cordeiro “como tendo sido morto”,
o que mostra que o sacrifício pascal realizado por Jesus por
meio de Seu próprio corpo continua válido e permanecerá
assim por toda a eternidade.
Do ponto de vista divino, e do valor do sangue der-
ramado, Jesus Cristo, o Cordeiro, morreu antes da criação
do mundo (Ap.13:8).

37
O Madeiro

A
pós o milagroso evento no Mar Vermelho, onde
as águas se abriram diante do povo de Israel,
permitindo-lhes atravessar em segurança, a jor-
nada do deserto estava apenas começando.
O êxodo da escravidão do Egito os levou a uma terra
árida e desolada, onde a escassez de recursos tornou-se
uma nova provação.
O povo, liderado por Moisés, viajou por três dias pelo
deserto de Sur, sem encontrar fontes de água para saciar a
sua sede. O calor abrasador e a desolação do deserto co-
meçaram a pesar sobre eles, gerando angústia e murmura-
ção. A falta de água era uma ameaça a sobrevivência, e o
desespero começou a se espalhar.
Finalmente, chegaram a um lugar chamado Mara,
onde havia uma fonte de água. No entanto, a esperança se
tornou em decepção quando descobriram que as águas
eram amargas e não potáveis. O amargor da água era um
reflexo das dificuldades que enfrentavam, e o povo não pôde
evitar expressar sua insatisfação.
Moisés, sempre buscando a orientação divina e a so-
lução para os desafios que surgiam, recorreu ao Senhor em
oração diante da reclamação intensa do povo. Em resposta
à súplica de Moisés, Deus mostrou-lhes uma árvore, que ele
lançou nas águas amargas de Mara.
O milagre aconteceu diante dos olhos de todo o
povo, e as águas, que antes eram amargas e sem serventia
para saciar a sede, tornaram-se doces e boas para beber,
satisfazendo a necessidade da multidão.

38
A palavra hebraica usada para “árvore” em Êx.15:25
é etz. É uma palavra comum no idioma bíblico no Antigo Tes-
tamento para árvore ou madeira. Moisés, então, sobre a or-
dem divina, lança um “etz” na água amarga de mara.
Etz, é a mesma raíz para “árvore da vida” (etz há-
chayyim) e “árvore do conhecimento do bem e do mal” (etz
há-da’at tov v’ra), no relato de Gên.2:9.
É também usada para a descrição da construção da
arca de Noé: “Faze para ti uma arca de madeira de gofer”
(Gên. 6:14) e ao descrever a construção do altar: “Farás tam-
bém o altar de madeira de acácia” (Êx.27:1).
Também é a mesma palavra usada em Deuteronô-
mio 21:22,23, numa lei que trata sobre a pena de morte:
“Quando alguém houver pecado que mereça a pena
de morte, e ele for morto, e o pendurares num madeiro, o seu
cadáver não permanecerá no madeiro, mas certamente en-
terrarás no mesmo dia, porquanto o pendurado é maldito de
Deus; assim não contaminarás a tua terra que o Senhor teu
Deus te dá em herança”
Essa foi a mesma passagem citada por Paulo no
Novo Testamento em sua teologia sobre a cruz, registrada
em Gálatas 3:13:
“Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se
maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele
que for pendurado no madeiro”
Ele se referia a última maldição pronunciada do
monte Ebal:
“Maldito aquele que não confirmar as palavras desta
lei, não as cumprindo. E todo o povo dirá: Amém”
(Deut.27:26. Cf. Gál.3:10).

39
A teologia do Novo Testamento, principalmente pau-
lina, afirma que o homem não poderá ser justificado pelas
obras da lei.
Paulo afirma isso, citando Habacuque 2:4:
“O justo viverá pela fé”.
Sendo assim, não haveria lugar para as obras da lei
na justificação do homem, pois:
“Qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um
só ponto, se torna culpado de todos” (Tiago 2:10).
Isso comprova que nenhum ser humano conseguiria
por toda a vida cumprir toda a lei com perfeição, sem trope-
çar em nada, pois, sendo assim, se tornaria culpado por toda
a lei, tomando para si mesmo a maldição de Deuteronômio
27:26.
Sob a ótica dessa realidade, Deus olhos desde os
céus para os filhos dos homens, para ver se há alguém que
entenda e busque a Deus e o resultado foi:
“Todos se extraviaram e juntamente se corrompe-
ram, não há quem faça o bem, não há nenhum sequer”
(Salmo 14:3).
O profeta Isaías deixa esse fato ainda mais explícito
quando declara:
“Por que todos nós somos como o imundo, e todas
as nossas justiças, como trapo da imundícia; e todos nós ca-
ímos como a folha, e as nossas iniquidades, como um vento,
nos arrebatam” (Isa.64:6).
Paulo complementa Isaías, quando afirma que:
“Ora, aquele que faz qualquer obra, não lhe é impu-
tado o prêmio segundo a graça, mas segundo a dívida”
(Rom.4:4).
Portanto, todos os homens são considerados peca-
dores e malditos diante de Deus. Ele enxerga a humanidade

40
em seu estado natural como uma grande “Mara”, um lugar
amargoso e que não serve para a Sua satisfação. Nem
mesmo as “boas obras” dessa humanidade caída serviria
como prêmio, mas sim como dívida para o homem.
Ele então, providencia um “madeiro”, literalmente
uma árvore, que é cortada e lançada nas águas, tornando-
as doces.
Podemos ver nisso o sacrifício vicário de Jesus rea-
lizado na cruz. O fato da árvore ser “cortada”, faz recordar de
Isaías 53:8, sobre o Messias que seria “cortado da terra dos
viventes”.
No Novo Testamento a palavra grega para madeiro
é xulon, que pode significar madeira, lenha ou estaca. Ela é
usada somente em Atos 5:30, Atos 13:29, Gálatas 3:13 e I
Pedro 2:24.
“O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, a quem
vós matastes, pendurando-o num madeiro (xulon)” .
“E, havendo eles cumprido as coisas que dele esta-
vam escritas, tirando-o do madeiro (xulon), puseram-no em
um sepulcro”
“Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se
maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele
que for pendurado no madeiro” (xulon).
“Levando ele mesmo em seu corpo os nossos peca-
dos sobre o madeiro” (xulon).
É importante notar que a palavra xulon é utilizada
sempre no contexto em que Jesus já está crucificado, isto é,
pendurado na cruz, enquanto outra palavra grega, stauros, é
utilizada quando Jesus está para ser crucificado ou carrega
a sua cruz.
Em Mateus 27:32, Marcos 15:21, Lucas 9:23 e João
19:17, por exemplo, nos comprova isso:

41
“E, saindo, encontraram um homem de Cirene, Si-
mão por nome, a este constrangeram a levar a sua cruz
(stauros)”.
“E constrangeram um certo Simão, cireneu, que pas-
sava, vindo do campo, pai de Alexandre e de Rufo, a que
levasse a cruz (stauros) de Jesus.
“E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, ne-
gue-se a si mesmo, e tome a sua cruz (stauros) cada dia, e
siga-me”
“E ele, levando a sua cruz (stauros), saiu para um
lugar chamado Caveira, que em hebraco se chama Gólgota”.
Algumas palavras derivadas de stauros também po-
dem apresentar o ato de estar crucificado no madeiro, porém
não se trata do resultado final e sim do processo de estar
perfurado no “stauros” (cruz), como em Gálatas 2:20 e Lucas
23:32:
“Já estou crucificado (sunestauromai) com Cristo, e
vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim...”
E foram também crucificados (sunestauromai) com
ele outros dois, que eram malfeitores, para serem mortos”.
Portanto, conforme entendimento das palavras origi-
nais e os devidos contextos bíblicos, alguns condenados a
morte por crucificação, por exemplo, carregavam seu próprio
(stauros, a cruz) até o local de execução, onde poderiam ser
crucificados (sunestauromai) e suspensos em um madeiro
(xulon).
No primeiro século, os romanos usavam geralmente
três tipos de cruzes: a Crux Commissa, na forma de T, a Crux
Decussata, na forma de X, a Crux Furcata, na forma de Y e
a Crux Simples, na forma de uma barra de madeira vertical
ou horizontal.

42
Numa execução feita as pressas, como foi o caso de
Jesus, o tipo de cruz mais provável a ser usada seria a “Crux
Simples”. Esta era uma forma de crucificação mais simples
e rápida, com apenas uma haste vertical ou horizontal. Ela
permitia que a execução fosse realizada de maneira mais
eficiente, sem a necessidade de preparações elaboradas.
Assim, uma haste de madeira (o stauros) deveria ser
carregada pelo condenado a morte até o local de sua execu-
ção. Lá ele seria crucificado (sunestauromai) e seu corpo se-
ria levantado no madeiro, isto é, numa árvore (xulon).
Esse fato pode explicar por que Pedro nos relata que
Jesus levou os nossos pecados sobre Ele, isto é, suspenso
em um madeiro (xulon) e não em uma cruz ou haste (stau-
ros).
Cristo cumpriu com perfeição a exigência sobre a
maldição de Deus quando foi “pendurado” no madeiro (xu-
lon), após ter sido crucificado (sunestauromai) em uma Crux
Simples (stauros).
Jesus ter sido crucificado em uma cruz e suspenso
em um madeiro também nos aponta para um outro milagre
na peregrinação de Israel.
A jornada do povo de Israel pelo deserto, após a tra-
vessia do Mar Vermelho e a libertação do Egito, era uma
prova de fé e paciência. O caminho, muitas vezes árido e
desolado, testava a confiança do povo na liderança de Moi-
sés e na providência de Deus.
À medida que percorriam o caminho que rodeava a
terra de Edom, a paciência do povo começou a se esgotar,
mais uma vez. A escassez de recursos, começou a pesar
sobre eles e a murmuração cresceu. Eles expressaram a sua
insatisfação, questionando tanto Deus quanto a Moisés, per-
guntando por que haviam sido libertados do Egito apenas

43
para enfrentar a morte certa no deserto. O desejo os cegou
para as maravilhas de Deus já realizadas em favor deles.
A reclamação deles provocou a ira de Deus e, como
resultado, o Senhor enviou serpentes venenosas do deserto
para mordê-los. A picada das serpentes provocou sofrimento
e morte, e uma multidão de israelitas pereceu.
Moisés, mediador entre o povo e Deus, intercedeu
pelo povo em oração. Ele reconheceu a gravidade do pecado
deles e buscou pela misericórdia divina em favor deles. O
Senhor ouviu a oração de seu servo e deu uma solução para
o problema.
Ele ordenou que Moisés construísse uma serpente
de bronze e a colocasse sobre uma haste, para que esti-
vesse aos olhos de todo o povo.
A serpente de bronze se tornou um símbolo de cura
e redenção. Aquele que havia sido mordido pelas serpentes
venenosas, olhavam para a serpente de bronze e eram mi-
lagrosamente curados. Em si mesma ela não tinha poder,
mas era um meio pelo qual Deus demonstrava sua miseri-
córdia mesmo em meio ao julgamento.
Em conversa com o fariseu Nicodemus, Jesus citou
a passagem de Números 21:4-9, dizendo:
“E do modo que Moisés levantou a serpente no de-
serto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado,
para que todo aquele que nele crê tenha a vida eterna”
(Jo.3:14,15).
Em um discurso a multidão, Ele também disse:
“E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a
mim mesmo. Isto dizia, significando o gênero de morte es-
tava para morrer” (Jo.12:32).
Cristo era a “serpente de bronze” que Deus havia en-
viado ao mundo para salvar a humanidade de seus pecados.

44
Por isso, assim como a serpente no deserto foi levantada
numa haste, Jesus seria levantado e suspenso em um ma-
deiro, com visibilidade suficiente para “atrair a todos”.
Assim, chegamos a duas conclusões:
Ou Jesus foi colocado numa Crux Commissa (T) ou
Crux Furcata (Y) e, a partir dela, ele foi levantado da terra
pelos soldados romanos. Ou então ele foi pregado em uma
Crux Simples (I) ou (—) e suspenso em alguma outra coisa
que servisse como uma “haste”.
Já vimos que, pela pressa de seu julgamento e execu-
ção, o mais provável é que os romanos o fizessem carregar
uma “Crux Simples”.
Essa tese ganha ainda mais força quando entendemos
que duas palavras gregas são usadas para a “cruz”: xulon e
stauros. Se Cristo fosse suspenso pela própria cruz (T ou Y),
o narrador bíblico não precisaria utilizar a palavra xulon (ár-
vore ou madeiro).
Se Jesus carregou uma “Crux Simples”, então ele car-
regou um “stauros” na forma de uma barra de madeira verti-
cal ou horizontal. Os soldados romanos pregaram suas mãos
nessa barra de madeira, assim como o título “Rei dos Ju-
deus”, no processo de sunestauromai. Já crucificado, Ele é
suspenso sobre uma árvore, o madeiro, e seus pés são pre-
gados ali.
É possível que na mesma árvore sejam crucificados os
outros dois malfeitores, um à sua direita e outro a esquerda,
mas veremos isso com mais detalhes mais adiante.
Dessa forma, o processo da “serpente” se assemelha
com enorme exatidão. A serpente é construída apoiada em
uma barra horizontal, todo o material é feito em bronze. En-
tão, ela é colocada sob uma arte que possivelmente fora feita
de madeira.

45
Jesus é pregado em uma “Crux Simples” (stauro) e é
levantado pelos soldados para que permanecesse suspenso
em uma árvore (madeiro), cumprindo a maldição de Deute-
ronômio 27:26.
No entanto, podemos chegar ao seguinte questiona-
mento: Por que a árvore ou madeiro é um local de maldição
segundo a Lei mosaica?
Em Gênesis 2 temos a formação do homem e do jardim
no Éden. Deus fizera brotar toda sorte de árvores agradáveis
a vista e boas para alimento e também a árvore da vida no
meio do jardim assim como a árvore do conhecimento do
bem e do mal.
Sabemos que Deus havia proibido do homem comer da
árvore do bem e do mal, porém não temos nenhuma proibi-
ção quanto a árvore da vida. É evidente que o fruto da árvore
da vida daria a vida eterna, assim como a árvore do bem e
do mal havia trazido o conhecimento do mal, assim como o
pecado (Gên.3:22).
Com a desobediência de Adão, o primeiro homem, e de
sua mulher, Eva, Deus guardou o caminho para a árvore da
vida, impedindo o homem de comer daquela árvore e viver
para sempre através de seu próprio mérito.
A conexão entre Jesus e a árvore da vida é evidenciada
nas passagens de Provérbios 3:18 e Apocalipse 2:7. A ár-
vore da vida só pode dar vida ao homem por causa do sacri-
fício de Cristo e porque Ele tomou sobre Si na cruz os nossos
pecados e a maldição da lei contra nós.
Enquanto uma árvore trouxe o pecado sobre a humani-
dade, outra árvore, a da vida, trouxe salvação e graça a todo
aquele que crê no sacrifício expiatório de Jesus.

46
O Monte

N
o esplendor do Templo recém construído, Salo-
mão, o sábio rei de Israel, estava ajoelhado di-
ante do altar. O altar, testemunho de adoração
e sacrifício, era uma estrutura imponente de bronze. Diante
de toda a congregação de Israel, o rei Salomão estava em
oração, com suas mãos estendidas em direção aos céus, em
um gesto de humildade e reverência.
Sua voz ecoou pelo espaço sagrado, suas palavras
eram como um cântico de adoração e súplica, enaltecendo
o nome do Senhor e buscando a Sua benção sobre o Templo
e sobre o povo de Israel. As palavras de Salomão eram um
testemunho de sua devoção e sabedoria, e sua oração era
uma expressão profunda de fé.
Após a conclusão de sua oração, algo extraordinário
aconteceu. Descendo do céu, como uma manifestação di-
vina de aceitação e aprovação, veio o fogo. Este fogo celes-
tial consumiu o holocausto e os sacrifícios, como uma ofe-
renda aceita por Deus. Era uma demonstração visível da pre-
sença divina e do favor celestial sobre o Templo de Salomão.
A glória do Senhor encheu o Templo, enchendo o
espaço sagrado com a Sua presença majestosa. O resplen-
dor e a luminosidade da Shekinah, a glória de Deus, brilha-
vam de maneira deslumbrante. Era uma experiencia que dei-
xou a todos os presentes em reverência e temor, incapazes
de se mover ou de ousar se aproximar da presença divina.
Os sacerdotes, que normalmente ministravam no
Templo, ficaram paralisados pela santidade e magnitude da
ocasião. Eles não podiam entrar no Templo, pois a glória do

47
Senhor o havia preenchido. Era como se o próprio céu ti-
vesse descido a terra, transformando aquele lugar em um
pedaço do paraíso.
Diante dessa manifestação divina, todo o povo se
encurvou com o rosto em terra, em um ato de adoração e
reverência.
Os cânticos de louvor e ação de graças encheram o
ar, pois o povo de Israel reconheceu que estavam na pre-
sença do Deus Altíssimo. Aquele momento solene foi uma
confirmação da aliança entre Deus e seu povo escolhido.

371 Anos Depois...

Ezequiel, o profeta, encontrava-se diante de uma vi-


são inigualável e sagrada, uma experiencia que o transpor-
tou para além do reino humano e em direção a presença di-
vina. Diante de seus olhos, ele contemplou a Glória de Deus,
uma figura semelhante a um ser humano assentado no
trono. A descrição da figura era de uma beleza transcenden-
tal: ele reluzia como um metal brilhante, cercada por um fogo
resplandecente, um testemunho da majestade divina que
transcende qualquer compreensão humana.
A Glória de Deus, com seu brilho e esplendor, era
uma manifestação da presença divina, uma visão que enchia
Ezequiel de temor e reverência.
Sob a orientação da glória de Deus, Ezequiel foi
transportado sobre o Templo, uma jornada espiritual, que re-
velaria abominações cometidas pelos sacerdotes. À medida
que ele observava, viu imagens horríveis pintadas nas pare-
des, representando todas as formas de répteis e animais
abomináveis. Essas representações profanas eram um

48
testemunho das práticas ímpias que haviam se infiltrados no
culto religioso, profanando o que era sagrado.
Diante dessas imagens pecaminosas, Ezequiel viu
setenta anciãos da casa de Israel em pé, diante das pinturas,
segurando incensários em suas mãos. Esses líderes, em vez
de preservar a pureza do culto, estavam envolvidos em prá-
ticas impuras que violavam a santidade do Templo.
Em seguida, a visão do Ezequiel o transportou para
a entrada do Templo, onde ele viu mulheres assentadas e
chorando em luto pelo deus Tamuz. Essa era mais uma
prova da idolatria que havia se infiltrado no coração de Israel,
desviando-os da adoração do Deus Verdadeiro.
Por fim, Ezequiel foi levado ao lugar santo do Tem-
plo, onde cerca de vinte e cinco homens estavam de costas
para o Templo, com o rosto voltado para o oriente, adorando
o sol. Essa era uma clara violação do primeiro mandamento,
que proíbe a adoração a outros deuses, além do Senhor.
A visão de Ezequiel continuou a se desdobrar com
uma magnificência. Mais uma vez, ele contemplou a Glória
de Deus, que estava assentada em um trono acima do firma-
mento. Esta manifestação divina se assemelhava a uma pe-
dra de safira, irradiando uma beleza e majestade que desa-
fiavam a descrição.
A Glória de Deus, que havia enchido o Templo ante-
riormente, agora se ergueu do Santo dos Santos e se movei
em direção à porta do Templo. Era uma demonstração da
presença de Deus em ação, e esse movimento indicava um
julgamento que estava prestes a acontecer.
Em seguida, Ezequiel viu a chegada de seis homens
vestidos de linho, cada um deles com uma arma destruidora
na mão. Um dos seis, vestido de linho e com um estojo de
escriba a cintura, destacou-se entre eles. A missão desses

49
homens era clara: deveria marcar com tinta todos os homens
que suspiravam e lamentavam as abominações que ocor-
riam na cidade santa. Esses homens, com o sinal da marca,
seriam poupados da destruição que estava por vir.
Uma vez que os marcadores cumpriram a sua mis-
são, aqueles que não haviam sido marcados e que estavam
envolvidos em práticas idólatras foram condenados a morte.
A arma destruidora nas mãos dos homens de linho era um
instrumento de juízo divino.
A Glória de Deus se move novamente após a ma-
tança. Os querubins, cujas asas eram a base do trono divino,
ergueram suas asas, e a Glória se elevou da entrada do
Templo.
Ela se afastou do meio da cidade de Jerusalém, e
pousou sobre o Monte das Oliveiras, uma visão que simboli-
zava o afastamento da presença de Deus da cidade que ha-
via se desviado de seus caminhos.

Mais de 2500 Anos Depois...

Na Batalha do Armagedom, diversas nações do


mundo se unem e cercam a cidade de Jerusalém para uma
guerra de proporções épicas. É uma aliança militar liderada
por um líder político implacável e obcecado, cujo objetivo é
a conquista da cidade santa.
À medida que a aliança militar avança, Jerusalém é
tomado de assalto. As casas são saqueadas, as mulheres
são vítimas de violência, e metade da cidade cai sobre o con-
trole do inimigo. A situação é desesperadora, e a cidade
santa parece estar à beira da derrota total.
Nesse momento crítico, o Senhor intervém. Ele sai
para guerrear contra as nações reunidas, determinado a

50
proteger Sua cidade e Seu povo. O local escolhido para essa
intervenção divina é o Monte das Oliveiras, um lugar histori-
camente significativo.
Enquanto o Senhor pisa no Monte das Oliveiras, algo
extraordinário acontece. O monte se parte ao meio, criando
um vale muito grande que se estende de leste a oeste. Me-
tade do monte de afasta para o norte e a outra metade para
o sul. Esse evento sobrenatural cria uma rota de fuga para
aqueles que estavam prestes a se tornarem prisioneiros.
O Senhor retorna dos céus com todos os santos com
ele. Esse é o momento também da grande ressurreição dos
santos predito pelo profeta Daniel.
É um momento de triunfo e justiça divina.
A visão aponta para a vitória final de Deus sobre as
forças do mal e a restauração da soberania sobre a Terra.
A intervenção divina e o retorno do Senhor, acompa-
nhado por todos os santos, marcam o fim da batalha do Ar-
magedom e o estabelecimento do Reino de Deus na Terra.
Vem do caminho do oriente a Glória do Deus de Is-
rael, uma presença que enche o ambiente com o Seu res-
plendor e poder. Sua voz é como o rugido de muitas águas,
ecoando e ressoando, enchendo o espaço com um som im-
pressionante.
A terra resplandece por causa da glória que se apro-
xima, e tudo ao redor se ilumina diante da majestade divina
que esta prestes a entrar no Templo.
A Glória de Deus adentra o Templo pela porta que
olha para o oriente, a porta dourada que se abre a partir do
Monte das Oliveiras. À medida que a Glória avança do Monte
até o Templo, ela enche o espaço sagrado com sua magnifi-
cência.

51
O Templo, uma vez profanado pelas abominações,
agora é santificado e purificado pela presença corpórea de
Deus. Ela se assenta no trono no mais interior do Templo, o
Santo dos Santos.
Ao se assentar no trono, a Glória de Deus afirma a
sua soberania e santidade sobre o lugar que havia sido de-
sonrado pelo líder vencido.
Tratando desse pano de fundo, entendemos por al-
gumas passagens que Cristo é a própria Glória de Deus, a
Shekinah:
“O Verbo se fez carne e habitou entre nós. Vimos a
sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de
graça e de verdade” (João 1:14)
“O Filho é o resplendor da glória de Deus e a expres-
são exata do seu ser, sustentando todas as coisas pela sua
palavra poderosa. Depois de ter realizado a purificação dos
pecados, ele se assentou à direita da Majestade nas alturas”
(Hebreus 1:3)
“Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de
toda a criação” (Colossenses 1:15)
Sendo assim, Cristo é a mesma glória do Senhor que
encheu o tabernáculo, o templo de Salomão e o futuro tem-
plo da profecia de Ezequiel (Êx.40:34,35, I Re.8:10,11,
Eze.10:4,5).
É notável que Cristo tenha deixado o Templo de Sa-
lomão antes da invasão dos babilônicos em 586 a.C, quando
eles sob liderança de Nabucodonosor II, conquistaram Jeru-
salém.
A narrativa histórica sobre essa destruição pode ser
encontrada em vários livros da Bíblia, incluindo o segundo
livro de Reis e o livro de Jeremias.

52
O Templo de Salomão foi saqueado e incendiado pe-
los babilônicos. Grande parte da população judaica foi le-
vada cativa para a Babilônia, em um evento conhecido como
Exílio Babilônico. O Templo foi destruído como parte da cam-
panha de Nabucodonosor II para subjugar o Reino de Judá.
Essa destruição marcou um evento significativo na
história do antigo Israel e teve um profundo impacto religioso
e cultural sobre o povo judeu. A destruição do primeiro tem-
plo levou à restauração do Templo após o retorno dos exila-
dos de Babilônia.
A construção do Templo de Herodes foi construída
entre 20 a.C e 4 a.C sob a liderança do rei Herodes, o
Grande. Ele expandiu e renovou o Templo original, tornando-
o muito mais grandioso. Esse Templo era conhecido e fa-
moso por sua beleza e esplendor arquitetônico. Envolveu
uma série de fases e levou muitos anos para ser concluída.
No entanto, esse templo também foi destruído, desta vez pe-
los romanos, no ano 70 d.C, durante o cerco a Jerusalém.
Tanto na restauração do primeiro templo sob a lide-
rança de Esdras, Ageu e Zorobabel, quanto na construção
do Segundo Templo pelo rei Herodes não há menção espe-
cífica na Bíblia de que a glória de Deus tenha enchido o Tem-
plo.
Dessa forma, podemos afirmar que, da ocasião da
destruição do Templo pelos babilônicos até os tempos de Je-
sus a Glória de Deus, a própria Shekinah, se encontrava fora
do arraial, no Monte das Oliveiras onde ficava o Lugar Santo
ou Topheth, próximo ao altar onde eram queimados o couro
e a carne dos sacrifícios e era sacrificada a novilha vermelha.
O mesmo lugar para onde iam os impuros, os contaminados
e os leprosos.

53
Esse ponto é solene pois sabemos que desde a des-
truição do Templo de Salomão pelos babilônicos a arca da
aliança, a representação física da presença de Deus jamais
foi achada.
Esse fato confirma que tanto no Templo restaurado
quanto no Templo de Herodes, o Santo dos Santos, o com-
partimento mais sagrado da Casa de Deus estava vazio: não
havia a arca da aliança e nem a Glória de Deus enchendo o
Templo.
No entanto, com a vinda de Jesus como o Verbo de
Deus encarnado, tendo Ele sido feito semelhante aos ho-
mens mesmo sendo a própria Glória de Deus.
O evangelista Lucas, médico e companheiro do
apóstolo Paulo, apesar de não ser um dos apóstolos, reali-
zou pesquisas minuciosas e entrevistas com várias testemu-
nhas oculares para compor seu evangelho.
Lucas demonstra em seus escritos a prioridade e im-
portância que Jesus dava a um monte bem específico: o
Monte das Oliveiras:
“Cada dia Jesus ensinava no templo, e à noite saía
e passava a noite no monte chamado das Oliveiras”
(Luc.21:37)
“Saindo, foi como de costume para o monte das Oli-
veiras. Os discípulos também o seguiram” (Luc.22:39)
Da mesma forma, os evangelistas Mateus e Marcos
descrevem que foi lá o local onde Jesus fez seu sermão es-
catológico e onde ele se angustiou antes de ser preso:
“Enquanto Jesus estava assentado no monte das
Oliveiras, os discípulos aproximaram-se dele em particular,
e disseram: Dize-nos, disseram eles, quando acontecerão
essas coisas? E qual será o sinal da tua vinda e do fim dos
tempos?” (Mat.24:3)

54
“E, tendo cantado o hino, saíram para o monte das
Oliveiras” (Mat.26:30)
“Enquanto ele estava assentado no monte das Oli-
veiras, defronte do templo Pedro, Tiago, João e André lhe
perguntaram em particular” (Mar.13:3)
Em suas idas ao Monte das Oliveiras, Jesus entrava
em uma aldeia das proximidades do monte, chamada Betâ-
nia. Normalmente lá ele passava a noite com os apóstolos
ou mesmo sozinho (Mat.21:17, Mar.11:11).
Em Betânia, Jesus se hospedava na casa de Lázaro,
em companhia de suas duas irmãos Maria e Marta, e tam-
bém na casa de Simão, o leproso. Foi na casa de Simão que
veio a ele uma mulher com frasco de alabastro cheio de um
perfume de nardo puro, muito caro, sendo este derramado
na cabeça de Jesus como uma unção antes de sua morte
(Mar.14:3, Jo.12:1).
Foi nas próximo a Betânia, no Monte das Oliveiras
que Jesus teve sua ascensão aos céus (Luc.24:50).
É possível que Lázaro, assim como Simão, também
fosse um leproso ou tivesse alguma doença contagiosa ou
impura aos olhos da Lei. Isso explicaria o fato dele e suas
irmãs morarem em uma localidade afastada da cidade santa,
onde apenas pessoas com alguma contaminação, doença
ou impureza cerimonial habitava.
A própria morte de Lázaro pode ter sido acarretada
por essa suporta doença.
O fato é que Jesus com frequência ia para o Monte
das Oliveiras orar a Deus e, passava as noites na aldeia de
Betânia. Algumas vezes ele lá ensinava, tanto aos discípu-
los, quanto nas casas, como quando Marta se assentou aos
Seus pés, para O ouvir (Luc.10:38-42).

55
A palavra Betânia é a transliteração de “Beit Aniyah”,
podendo ser traduzida como “Casa de Aniyah” ou “Casa de
Pobres”.
Sem dúvidas, Betânia era uma aldeia desprezada
pelos judeus religiosos. Um lugar que estava fora de Jerusa-
lém, próximo a um monte repleto de sepulcros e onde habi-
tavam pessoas em que os sacerdotes se afastavam.
Jesus, por outro lado, tinha prazer em estar em Be-
tânia e no Monte das Oliveiras. Era o lugar onde continua-
mente Ele falava com o Pai e descansava com os discípulos
e amigos.
Entendo que o fato da Glória de Deus estar sobre o
Monte das Oliveiras, de forma simbólica, seria como se o
verdadeiro Santo dos Santos tivesse sido transportado para
o local do Topheth, o Lugar Santo onde havia um altar, fora
do arraial.
Por fim, é importante lembrar que no Monte das oli-
veiras estava o lugar chamado Getsêmani.
O Getsêmani é um jardim localizado no Monte das
Oliveiras, próximo a Jerusalém, e é um local de grande im-
portância religiosa no Cristianismo devido aos eventos que
ocorreram lá. O nome deriva da palavra hebraica “Gath-
Shmane”, que significa “Prensa de azeite” ou “Local onde se
espreme azeitona”.
Lá, Jesus passou pela experiencia mais angustiante
de sua vida terrestre, de acordo com os relatos do Novo Tes-
tamento. Jesus foi ao Getsêmani antes de sua prisão e cru-
cificação. Juntamente com seus discípulos, Ele passou por
profunda agonia espiritual e oração a Deus, pedindo que, se
possível, o cálice da ira de Deus fosse afastado dEle, porém
ele aceitaria a vontade de Deus (Mat.26:39).

56
A Arca

E
m uma terra onde gigantes valentes e guerreiros
reinavam, a violência imperava e o coração hu-
mano era continuamente mal, um homem se
destacou perante Deus. Este homem não era exaltado de-
vido às suas virtudes intrínsecas, mas encontrou graça di-
ante do Senhor.
Seu nome era Noé, e ele se tornaria o instrumento
da misericórdia divina em um mundo marcado pelo pecado.
Deus, em sua revelação a Noé, mostrou seu plano
em destruir toda a carne devido à crescente violência dos
seres humanos. Ele instruiu Noé a construir uma arca, uma
embarcação de salvação, feita de tábuas de cipreste. A arca
deveria ser dividida em três compartimentos e revestida com
betume, tanto por dentro quanto por fora, a fim de torná-la
impermeável.
As dimensões da arca eram monumentais. Ela tinha
um comprimento de 300 côvados, o que equivale a aproxi-
madamente 135 metros, uma largura de 50 côvados, cerca
de 22,5 metros, e uma altura de 30 côvados, aproximada-
mente 13,5 metros. Essas dimensões demonstram a magni-
tude da embarcação que Deus ordenou que Noé constru-
ísse, suficiente para acomodar animais de todas as espé-
cies, as pessoas daquela terra, além de suprimentos para a
jornada que se aproximava.
Além disso, a arca possuía uma abertura de 1 cô-
vado de altura ao seu redor, proporcionando ventilação e ilu-
minação, e a porta da arca estava posicionada lateralmente,
permitindo o acesso aos ocupantes.

57
Durante os 120 anos em que a arca levou para ser
construída, Noé foi o pregoeiro da justiça divina, anunciando
o juízo e as boas novas, isto é, a solução de Deus através
da arca, aos homens daquela época.
Porém zombavam dele, achando que estava louco.
Chegando o momento, Deus manda Noé entrar na
arca com os animais, que entraram de dois em dois, sendo
direcionados pelo Senhor até o local da construção.
Seus filhos, Sem, Cam e Jafé, além de sua mulher e
a esposa de seus filhos.
Ao todo, oito pessoas entraram na arca. Eles perma-
neceram na arca por sete dias.
O próprio Deus havia fechado a arca por fora, e de-
pois de sete dias houve copiosa chuva por toda a terra pelo
período de 40 dias, como também se romperam as fontes
subterrâneas e os abismos se abriram, liberando água de to-
das as direções.
Conforme a chuva continuava a cair e as águas su-
biam, a arca foi levantada da terra, flutuando sobre os cres-
centes mares. As águas se elevaram cima dos mais altos
montes, subindo a uma altura de 15 côvados acima dos mon-
tes.
O Dilúvio engoliu toda a terra, e toda a criatura que
tinha fôlego morreu, cumprindo o juízo de Deus sobre a hu-
manidade pecadora.
As águas do dilúvio permaneceram na terra por 150
dias, causando devastação e cobrindo tudo o que havia sob
o céu. Entretanto, Deus em sua misericórdia, fez soprar um
vento sobre a terra, e as águas começaram a baixar.
As fontes do abismo e as comportas dos céus foram
fechadas, encerrando as copiosas chuvas que tinham du-
rado 40 dias.

58
No dia 17 do sétimo mês, a arca finalmente repousou
sobre as montanhas do Ararate, hoje localizado na Turquia,
no leste do país, perto da fronteira com o Irã e da Armênia.
É a montanha mais alta da Turquia.
As águas continuaram a minguar, e no décimo mês,
no primeiro dia desse mês, os cumes das montanhas come-
çaram a aparecer.
Quarenta dias após a arca repousar sobre as mon-
tanhas, Noé abriu a janela que tinha feito no terceiro pavi-
mento da arca. Ele soltou um corvo que voou para fora da
arca e retornou indicando que ainda não havia encontrado
local para pousar.
Depois disso, Noé soltou uma pomba que retornou.
Uma semana depois, Noé soltou a pomba novamente que
dessa vez retornou com uma folha nova de oliveira no bico,
indicando que as águas haviam minguado o suficiente para
a vegetação começar a brotar.
Noé esperou outros sete dias e soltou a pomba pela
terceira vez. A pomba não mais retornou a arca, sinalizando
que havia encontrado um lugar para pousar e que a terra
estava seca.
No primeiro dia do primeiro mês, Noé removeu a co-
bertura da arca e viu que o solo estava enxuto.
No dia 27 do segundo mês, toda a terra estava seca,
completamente.
Foi nesse momento que Deus ordenou que que Noé
saísse da arca com todos os animais, sua esposa, seus fi-
lhos e as mulheres deles.
Portanto, tendo exposto o cenário bíblico, podemos
entender alguns pontos de suma importância.
Apesar da região onde fica o Monte Ararate possuir
áreas onde oliveiras são cultivadas, o fato dela ter demorado

59
sete dias para retornar com uma folha no bico nos dá a en-
tender de que o seu percurso foi bem mais longo.
Os montes do Ararate distam cerca de 780 a 800
quilômetros do Monte das Oliveiras.
As pombas, por serem aves migratórias, conseguem
percorrer essa distância.
Assumindo uma velocidade média de 50 a 60 quilô-
metros por hora, uma pomba levaria cerca de 14 a 15 horas
em linha reta para voar dos montes do Ararate para o Monte
das Oliveiras.
Levando em consideração o tempo de ida e volta e
o período em que a pomba permaneceu na “terra”, o período
de sete dias é devidamente adequado.
Outro fator importante a se destacar é que arca deti-
nha três compartimentos, sendo que a janela se encontrava
apenas no terceiro.
O Tabernáculo e o Templo de Salomão, conforme
relato bíblico, possuía três andares ou compartimentos prin-
cipais: O Pátio Externo ou Átrio, o Lugar Santo e o Santo dos
Santos.
No Primeiro Templo havia câmaras ou salas superi-
ores (I Cro.28:11,12, II Cro.3:9).
A doutrina neotestamentária indica que existem três
céus: a atmosfera visível, as regiões celestiais e o santuário
de Deus ou paraíso.
A arca de Noé é figura maravilhosa da cruz e de
Cristo. Lá temos o madeiro e o betume, uma espécie de re-
sina obtido a partir de fontes naturais como poços de asfalto
ou depósitos naturais de alcatrão. Sua cor pode variar do
marrom escuro a preto e, quando aquecido, pode ser usado
para impermeabilizar materiais como madeira.

60
A madeira de cipreste é conhecida por ser de alta
qualidade, sendo apreciada por suas características durá-
veis e capacidade de resistir à decomposição. Ela tem uma
cor que varia do marrom claro à marrom avermelhado.
O tom rubro da madeira somado ao líquido viscoso
do betume certamente lembraria o Filho de Deus ensan-
guentado pregado na cruz sobre o madeiro.
Nesse sentido podemos visualizar algumas seme-
lhanças entre a Arca de Noé e a Novilha Vermelha.
Ambos têm conexões com a ideia de purificação e
restauração.
A arca foi construída para salvar Noé, sua família e
uma seleção de animais do dilúvio, purificando a terra devido
a corrupção humana. A Novilha era usada para purificar e
restaurar a pureza ritual daqueles que estavam contamina-
dos pelo contato com cadáveres.
A arca manteve a continuidade da humanidade e da
criação animal após o dilúvio, enquanto a Novilha permitiu a
purificação e a restauração da pureza ritual para os israeli-
tas.
Também é importante destacar que tamanho da arca
permitiria salvar a todos os homens daquele período, tor-
nando-se o meio de salvação universal, assim como a cruz.
Oito pessoas estavam na arca, Noé e mais sete. Noé
é uma figura de Cristo, o Grande Construtor da Obra da Sal-
vação. Há um paralelo sublime entre Noé e as sete pessoas
no interior da arca e Cristo no meio dos sete candeeiros con-
forme narrado pelo Apocalipse, capítulo 1.
Além disso, o número oito é símbolo de consagra-
ção.

61
A circuncisão se dava ao oitavo dia, as pessoas con-
taminadas segundo a lei se purificavam em sete dias e no
oitavo eram consagradas.
A ressurreição de Jesus ocorreu no domingo, o dia
após o shabat, o sétimo dia.
A conexão entre o número 888 e Jesus está relacio-
nada com o uso da gematria, uma prática que atribui valores
numéricos a letras e palavras. No sistema numérico grego,
as letras do alfabeto também têm valores numéricos.
O valor das letras “Iesous” no grego são: iota, 10 –
eta, 8, sigma, 200, ômicron, 70 – upsilon, 400 e sigma, 200,
resultando na soma 888.
As sete pessoas na arca, com exceção de Noé, a
oitava, prefigura os crentes que estão em Cristo, conforme 2
Cor.5:17, Gál.3:26,27, Rom.8:1, I Cor.1:30, Rom.6:11.

Cerca de 900 a 1000 Anos Depois...

Moisés, seguindo as instruções divinas, chamou um


homem da tribo de Judá chamado Bezalel, filho de Uri. Be-
zalel foi abençoado com a capacidade do Espírito de Deus,
que dotou de habilidade e inteligência para realizar uma am-
pla gama de trabalhos artísticos e de artesanato.
Ele se destacava em desenhos, na manipulação de
materiais preciosos como ouro, prata e bronze, bem como
na lapidação de pedras preciosas e entalhes em madeira.
Bezalel, era, portanto, um artesão extremamente talentoso e
versátil.
Sob a liderança de Bezalel, um grande grupo de ar-
tesãos habilidosos foi reunido para a realização de trabalhos
específicos. Entre os diversos projetos empreendidos por
esse talentoso grupo, o mais notável foi a construção de uma

62
arca, que foi revelada a Moisés no monte Sinai. Essa arca
era uma peça de mobiliário sagrada e possuía característi-
cas impressionantes.
A arca era feita de madeira de acácia, com dimen-
sões de dois côvados e meio de comprimento, um côvado e
meio de largura e um côvado e meio de altura. Para torná-la
ainda mais grandiosa, a caixa era revestida com ouro puro,
por dentro e por fora, criando uma aparência magnífica. Uma
bordadura de ouro também adornava o exterior da arca, re-
alçando sua beleza e majestade.
Quatro argolas de ouro foram fundidas e fixadas nos
quatro cantos da caixa, proporcionando uma base sólida
para os varais que seriam usados para transporte da arca.
Os varais, por sua vez, eram feitos de madeira de acácia e
coberto de ouro, combinando com o esplendor da mobília
sagrada.
Além de construir a arca, Bezalel e sua equipe foram
encarregados de criar a tampa da arca, conhecida como pro-
piciatório. Sobre ele, Bezalel moldou cuidadosamente dois
querubins de ouro. Esses querubins eram criaturas angeli-
cais aladas, representadas de maneira especial nesse con-
texto. Eles foram posicionados nas duas extremidades do
propiciatório, encarando um ao outro. Suas asas se esten-
diam por cima da tampa, cobrindo-a completamente.
A posição dos querubins tinha grande simbolismo.
Eles se inclinavam para o centro, com seus rostos voltados
para o propiciatório. Esse gesto representava adoração e re-
verência a Deus, manifestando Sua presença acima do pro-
piciatório. Os querubins serviam como guardiões da pre-
sença divina e da Sua aliança com o povo de Israel.
A arca com o propiciatório formava uma só mobília.
O lugar dela era no recinto mais sagrado do tabernáculo e

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no templo: o Santo dos Santos. Somente uma vez ao ano,
no Dia da Expiação, o Sumo Sacerdote poderia comparecer
diante da arca e nele deveria ser aspergido o sangue do sa-
crifício.
Assim como a Arca de Noé era de madeira, mas co-
berta de betume, por dentro e por fora, a Arca da aliança era
feita de madeira e coberta de ouro, por dentro e por fora.
Ambas falam da cruz e de Jesus, em Sua Humanidade Per-
feita coberto pela Divindade.
Ele é a Glória de Deus, a Imagem do Deus Invisível,
seja no Santuário Celestial, assentado no Trono ou junto a
pecadores, estando suspenso na Cruz.
O propiciatório contendo o sangue dos sacrifícios
nos aponta para a Cruz, cobrindo os pecados e anulando o
escrito de dívida que era contra nós.
Dentro da arca constava as tábuas da lei, o vaso
contendo maná e a vara florescida de Arão.
As tábuas da lei nos falam das ordenanças da Torá
que foram cumpridas por Jesus. O maná é o pão do céu e
representa a Sua encarnação e providencia. A vara de Arão
prefigura a Sua ressurreição. Tudo apontava para o Filho de
Deus, porém acima de tudo estava o sangue.
Pelo sangue na cruz, Jesus pagou o preço da maldi-
ção da lei, efetuou a redenção da escravidão do pecado e a
expiação da culpa.
O Santo dos Santos não possuía janelas e não havia
a Menorah, o candeeiro de sete braços, como no lugar santo.
Isso significa que o local era coberto por uma enorme escu-
ridão. Além disso, o sumo sacerdote quando atravessava o
véu, precisava acender o incensário para que o local fosse
cheio de fumaça impedindo a visualização da arca da ali-
ança.

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As copiosas chuvas e os trovões cobriam a Arca de
Noé no meio do oceano, assim como as trevas e a fumaça
sóbria a Arca da Aliança no Santo dos Santos.
Por três horas, as trevas cobriram a Cruz. Naquele
momento, o Monte das Oliveiras se transformou no verda-
deiro Santo dos Santos, como veremos com mais detalhes
adiante. Lá estava a Glória de Deus acima do “propiciatório”
e da “arca”, isto é, o próprio Cristo crucificado.
A maior prova que o Gólgota se transformou, na-
quele momento, no Santo dos Santos legítimo, foi o véu do
templo rasgado na morte de Jesus.
Nesse evento, foi publicamente apresentada uma
sala vazia, sem a Shekinah e sem a Arca da Aliança. No en-
tanto, do outro lado do Vale do Cedrom, o verdadeiro Santo
dos Santos era aberto a todos.
As dimensões da arca nos fazem recordar das di-
mensões do amor de Deus em Efésios 3:18.

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O Altar

E
m uma terra onde gigantes valentes e guerreiros
reinavam, a violência imperava e o coração hu-
mano era continuamente mal, um homem se
destacou perante Deus. Este homem não era exaltado de-
vido às suas virtudes intrínsecas, mas encontrou graça di-
ante do Senhor.

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