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1983, entre outros). Como salientam Leal e Boff (1996), tem-se, tradicionalmente,
pesquisas sobre essa temática não apenas se debruçando sobre a ótica feminina,
mais periférico nesta discussão, sendo-lhes mais legítimo falar sobre sexualidade.
movimento feminista. Esse, embora sempre tenha tido como preocupação política
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Doutoranda em Antropologia Social na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, vinculada ao
Núcleo de Pesquisa em Antropologia do Corpo e da Saúde (NUPACS)/UFRGS.
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mulheres são construídas pela cultura e não apenas dadas pela biologia; ii) o
(SCOTT, 1995).
como elemento central e balizador para tais análises. A hipótese que norteia o
elas.
PARKER, 1995; HEILBORN, 1996). Assim, adoto três eixos analíticos, os quais
trabalho de campo, foram entrevistados dez homens, com idades entre vinte e
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Nathalie Bajos e Jacques Marquet (2000), ao defenderem uma perspectiva relacional do risco,
demonstram como é fundamental considerar diferentes níveis e contextos sociais para pensar
de que forma se constroem sentidos sobre o risco. Esses níveis vão desde o contexto
institucional e macrosocial, passando pelo contexto social das relações próximas, o da
interação entre os parceiros até o nível intrapessoal.
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A pesquisa foi realizada com recursos do Programa Interinstitucional de Treinamento em
Metodologia de Pesquisa em Gênero, Sexualidade e Saúde Reprodutiva promovido pelo
Programa de Estudos e Pesquisas em Gênero, Sexualidade e Saúde/IMS/UERJ com apoio da
Fundação Ford.
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mais sistemática, não poderia deixar de pontuar uma peculiaridade que permeou
masculina indicada no encontro com uma mulher. Por outro lado, a diferença de
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O Bar do Zé e o Clube Campeão estão localizados na vila onde foi realizada a pesquisa. O Bar
do Zé funciona, também, como minimercado. Já o Clube Campeão é um local privilegiado de
socialização masculina, onde os homens se reúnem para conversar, beber, jogar sinuca,
organizar campeonatos de futebol e carteado.
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Proponho que essa especificidade metodológica talvez esteja revelando particularidades de
gênero e que deva ser pensada no sentido mais amplo dos trabalhos que envolvem homens.
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lugares e tarefas entre de homens e de mulheres, ainda que não possam ser lidas
simples, são reveladoras, no nível das representações, de uma lógica que torna
de mulher.
por ser esta a forma usual através da qual os informantes a ele se referem), o
único entrevistado que relatou ser essa a estratégia preventiva de escolha, como
filhos (cinco).
Existe, assim, uma outra lógica que também vigora e que parece ser muito
sobre um conhecido cuja mulher teve filhos mesmo usando pílula: Pô, o cara deve
ter um super espermatozóide pra passar... até a pílula não adianta. (Alexandre, 26
anos).
esse grupo, enquanto os primeiros são descritos pelos homens como mais
frágeis, fracos e não confiáveis, e que são, de forma geral, insuficientes para
barrar ou segurar o esperma, os segundos são vistos como mais eficazes. Dessa
sentida como duvidosa no que concerne à sua eficácia. Ela pode ser vista como
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Enganar, aqui, está intimamente relacionado à intencionalidade das mulheres quanto ao uso da
pílula. Pode significar, por exemplo, que a mesma diz estar utilizando e, de fato, não está ou que
não faz uso de forma correta. Supõe-se, nesses casos, normalmente uma intenção feminina de
amarrar (engravidando) ou enganar o parceiro. Um dos informantes, por exemplo, se refere ao
anticoncepcional oral como enganador.
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a idéia de que não seja capaz de segurar, nem filho nem doença. O
espermatozóide, por sua vez, deve ser forte e incansável na conquista do alvo,
como o próprio homem6. Um dos informantes, por exemplo, expressa sua dúvida:
que apontada como desconfortável pela maioria dos homens, é vista como um
eficácia. Nesse mesmo sentido, o coito interrompido pode ser acionado como
próprio corpo. Além disso, a camisinha e o coito interrompido são valorizados pela
métodos de mulher, por outro lado, agem dentro do corpo e um corpo que não é o
interferem na eficácia umas das outras. O fato de a mulher afirmar usar pílula, por
exemplo, não significa que o homem não deva utilizar o preservativo. Isso
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Sobre as representações de gênero contidas nos relatos “científicos” acerca do óvulo e do
espermatozóide, ver Martin (1996).
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contraceptivo. Ele relata: Bá, se ela toma pílula até ajuda. Mas camisinha é
homens apontam o uso da camisinha, por exemplo, como uma decisão que
diálogo aberto e consciente sobre esse tema. Regina Barbosa (1999) ressalta,
mulher e métodos de homem é balizada por noções mais amplas de gênero, está
informando sobre elas. O gênero aparece, aqui, não apenas como categoria
Fases do método
podem adotar diferentes condutas de acordo com a posição que ocupam nas
afetivo-sexual do sujeito.
pertencem.
status variáveis no que se refere a diferentes mulheres, mas também para uma
pelos métodos também vão sofrendo alterações, passando por “fases”, as quais
supondo que elas dão pra todo mundo, por outro temem ser amarrados pelas
gurias de família no que se refere ao risco de uma gravidez que possa “prendê-
define que, com gurias sem-vergonha deve ser usada camisinha, um método de
servir de outra lógica, como com mulheres maduras quando os homens sentem
amadurecimento.
Considerações finais
pesquisa operem fortemente com a idéia de que existem métodos para prevenir
estratégias mais próprias às mulheres e outras mais próprias aos homens parece
capaz de solucionar.
2002). Dessa forma, a partir das práticas cotidianas que envolvem relações entre
mais amplas de gênero, corpo e saúde, abre-se espaço para uma discussão
Referências Bibliográficas
MARTIN, Emily. The Egg and the Sperm: how science has constructed a romance
based on stereotypical male-female roles. In: LASLETT, B. et al. Gender and
scientific authority. Chicago: University of Chicago, 1996.
VÍCTORA, Ceres Gomes. Images of the body: lay and biomedical views of the
body and the reproductive system in Britain and Brazil. 1996. Tese (Doutorado em
Antropologia), Brunel University, Uxbridge, 1996.