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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES


CURSO DE HISTÓRIA

KLEBER CAVALCANTE DE SOUSA

A LOJA MAÇÔNICA 21 DE MARÇO E O JORNAL A LUZ NA DEFESA DA CAUSA


E DO IDEÁRIO MAÇÔNICO NA PROVÍNCIA DO RIO GRANDE DO NORTE
(1870-1874)

NATAL/RN
2020
KLEBER CAVALCANTE DE SOUSA

A LOJA MAÇÔNICA 21 DE MARÇO E O JORNAL A LUZ NA DEFESA DA CAUSA E


DO IDEÁRIO MAÇÔNICO NA PROVÍNCIA DO RIO GRANDE DO NORTE (1870-1874)

Monografia apresentada ao curso de graduação


em História da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, como requisito como
requisito final para obtenção do título de
Bacharel em História.

Orientadora: Prof(a). Dr(a). Carmen Margarida


Oliveira Alveal

NATAL/RN
2020
KLEBER CAVALCANTE DE SOUSA

A LOJA MAÇÔNICA 21 DE MARÇO E O JORNAL A LUZ NA DEFESA DA CAUSA E


DO IDEÁRIO MAÇÔNICO NA PROVÍNCIA DO RIO GRANDE DO NORTE (1870-1874)

Monografia apresentada ao Curso de História


da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, para obtenção do título de Bacharel em
História.

Aprovada em: 29/10/2020

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________
Dra. Carmen Margarida Oliveira Alveal
Orientadora
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

__________________________________________
Dr. José Evangelista Fagundes - UFRN
Membro Examinador
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

__________________________________________
Dra. Maria da Conceição Fraga - UFRN
Membro Examinadora
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
A Deus, o Grande Arquiteto do Universo, pelo
dom da vida, e a energia vital que me renova
diariamente, permitindo vencer as dificuldades
e os desafios diários, ora suplantadas para
realizar essa jornada.
AGRADECIMENTOS

A presente monografia representa um dos resultados alcançados dos anos dedicados


para obter uma formação profissional em História, possibilitando exercer o oficio de
historiador. E, neste sentido, o aprendizado, as discussões e orientações obtidas junto aos
professores do Departamento de História da UFRN foram essenciais nesta jornada. Essa
trajetória iniciou-se com um desejo verdadeiro de estudar a história da humanidade, do Brasil
e do Rio Grande do Norte, e essa vontade foi o combustível que alicerçou a dedicação e a
perseverança para que eu conseguisse realizar a pesquisa e escrever essa monografia,
concluindo essa etapa da minha vida acadêmica na área do conhecimento histórico.
Essa conquista não seria possível sem o apoio de algumas pessoas, e como dizia o
filosofo e político Romano Cícero: “Nenhum dever é mais importante do que a gratidão”,
portanto, é chegado o momento de reconhecer e agradecer o apoio de todos aqueles que
contribuíram nessa caminhada. Seguramente, o apoio de minha família foi decisivo para que
eu não fraquejasse e seguisse firme e perseverante nesta jornada, portanto, agradeço, aqui, aos
meus pais, Nilson e Noelma; minha esposa Ana Paula e filhos, Alinne e Luis Eduardo, pela
compreensão e apoio durante esses anos.
No convívio acadêmico, quero reconhecer a dedicação dos professores do
departamento, dos quais faço um destaque especial aos que foram essenciais para a minha
formação acadêmica. Aurinete Girão, Carmen Alveal, Helder Nascimento, Maria Emília,
Maria Conceição Fraga, Raimundo Nonato, Renato Amado e Wicliffe Costa.
Dentre esses, a professora Carmen Alveal, minha orientadora e principal incentivadora
acadêmica, merece um reconhecimento especial. A sua orientação precisa e abalizada, bem
como todas as orientações acadêmicas foram fundamentais para a conclusão dessa pesquisa.
Agradeço a sua paciência e o apoio durante esse período.
É necessário, ainda, agradecer a amizade e o companheirismo dos diversos colegas
de curso, nos quais faço questão de destacar aqueles em que esse convívio foi mais frequente,
e importante no meu processo de aprendizagem: Belarmino Dutra, Delana Maria de Sousa,
Edson Nascimento, Jônatas Santos, José Roberto Santhiago, Lucenildo Costa e Marcos
Azevedo.
Agradeço, também, aos meus amigos fraternos da Maçonaria Arnildo Albuquerque e
Ubiratam Fernandes de Souza que viabilizaram, junto à Loja 21 de Março, o acesso aos seus
arquivos históricos, possibilitando a realização dessa pesquisa sobre a Maçonaria no Rio
Grande do Norte.
Mais que as ideias, são os interesses que separam as pessoas.

Alexis de Tocqueville
RESUMO

A presente pesquisa objetivou identificar as ideias, a causa e a atuação da Maçonaria na


província do Rio Grande, no final do século XIX (1870-1874) e de que forma essas ideias
relacionavam-se com as ideias do boletim oficial da Maçonaria Brasileira. O século XIX foi
um período de grandes transformações na sociedade brasileira oitocentista, decorrente de
mudanças importantes que ocorreram naquele período, culminando com a queda da
monarquia, dentre eles, a chamada questão religiosa, disputa envolvendo a Maçonaria, a
Igreja e o Estado. A década iniciada em 1870 é um marco para a história do império, não só
pelo fim da Guerra do Paraguai, mas também porque o tempo e a vida social aceleraram-se de
forma bastante intensa no Brasil, com o aumento das relações comerciais e os movimentos de
mudança reformistas que voltaram a eclodir, em que a Imprensa periódica surge como um
principal meio de exposição das ideias dos intelectuais no século XIX. Na Província do Rio
Grande do Norte, surge um Jornal dedicado a causa da Maçonaria, que é a principal fonte
desta pesquisa, no qual foram identificadas as ideias maçônicas e as suas relações com a
imprensa maçônica carioca. A análise destas fontes possibilitou concluir que a maçonaria
pregava ideias de liberdade, liberdade de consciência e religiosa, progresso, civilização,
emancipação moral e intelectual, humanidade e solidariedade humana. E, ainda, que havia um
interesse em construir uma coesão e um discurso uniforme na Maçonaria Brasileira, mesmo
considerando as suas diferenças, em razão de grupos antagônicos que existiam, assim como
em toda a sociedade brasileira.

Palavras-chave: Brasil Império. Poder. Política. Imprensa. Maçonaria.


ABSTRACT

This research aimed to identify the ideas, the cause and the performance of Freemasonry in
the province of Rio Grande, at the end of the 19th century (1870-1874) and how these ideas
were related to the ideas of the official bulletin of Brazilian Freemasonry. The 19th century
was a period of great transformations in 19th century Brazilian society, resulting from
important changes that occurred in that period, culminating in the fall of the monarchy,
among them, the so-called religious question, a dispute involving Freemasonry, the Church
and the State. The decade that started in 1870 is a milestone in the history of the empire, not
only because of the end of the Paraguayan War, but also because time and social life
accelerated in a very intense way in Brazil, with the increase of commercial relations and the
reformist change movements that have emerged again, in which the periodical press emerges
as a main means of exposing the ideas of intellectuals in the 19th century. In that Province, a
newspaper appears dedicated to the cause of Freemasonry, which is the main source of this
research, which identified Masonic ideas and their relations with the Rio Masonic press. The
analysis of these sources made it possible to conclude that Freemasonry preached ideas of
freedom, freedom of conscience and religion, progress, civilization, moral and intellectual
emancipation, humanity and human solidarity. And yet, that there was an interest in building
cohesion and a uniform discourse in Brazilian Freemasonry, even considering their
differences, due to the antagonistic groups that existed, as well as in the whole of Brazilian
society

Keywords: Brazil Empire. Power. Politics. Press. Masonry.


LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Cargos eleitos e hierarquia de uma loja


maçônica................................................................................................. 26
Quadro 2 – Cargos públicos na província ocupados por maçons (1833-1870) ........ 29
Quadro 3 – Presença de maçons norte-riograndense na assembleia provincial
(1835-1869) ............................................................................................ 31
Quadro 4 – Cargos públicos na província ocupados por maçons da Loja 21 de
Março (1870-1875) ................................................................................. 41
Quadro 5 – Presença da maçonaria norte-riograndense na assembleia provincial
(1870-1875) ............................................................................................. 42
Quadro 6 – Maçons da Loja 21 de Março presidentes da assembleia provincial do
Rio Grande do Norte ............................................................................... 44
Quadro 7 – Jornais Maçônicos mencionados no jornal “A LUZ” ............................. 61
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Ingresso de membros na loja maçônica 21 de março em 1873.................. 60


Tabela 2 – Lojas maçônicas, dirigentes e membros na província do Rio Grande....... 83
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 10
2 AS ORIGENS DA MAÇONARIA NO RIO GRANDO NORTE E A
LOJA MAÇÔNICA 21 DE MARÇO .............................................................. 18
3 O PERIÓDICO MAÇÔNICO “A LUZ” (1873-1874) E A CAUSA DA
MAÇONARIA NA PROVÍNCIA DO RIO GRANDE DO
NORTE............................................................................................................ 47
4 RELAÇÕES ENTRE AS IDEIAS E DISCURSOS NA IMPRENSA
MAÇÔNICA DA PROVÍNCIA DO RIO GRANDE DO NORTE E DO
BOLETIM OFICIAL DA MAÇONARIA BRASILEIRA (1873-1874)
............................................................................................................................. 75
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 88
REFERÊNCIAS................................................................................................. 92
10

1. INTRODUÇÃO

A presente pesquisa objetivou identificar as ideias e a causa da Maçonaria na


província do Rio Grande, no final do século XIX (1870-1874) e de que forma essas ideias
relacionavam-se com as ideias da Maçonaria carioca, sede do poder central da Ordem
Maçônica e do Império do Brasil.
O século XIX foi um período de grandes transformações na sociedade brasileira
oitocentista, decorrente de algumas mudanças importantes que ocorreram naquele período.
Dentre estas destacam-se: Iluminismo (Séc. XVIII), abertura dos portos às nações amigas
(1808), fundação da imprensa régia no Brasil (1808); declaração da Independência (1822);
abertura das primeiras faculdades no Brasil (1827); Abdicação de D. Pedro I (1831); Regência
(1831-1840); Guerra do Paraguai (1864-1870).
Esses fatos criaram um ambiente adequado e favorável para que as ideias defensoras
da valorização da ciência e do progresso, e para as liberdades individuais, contrapondo-se aos
valores do Antigo Regime, em ebulição na Europa, desde a metade do século XVIII,
chegassem ao Brasil e aqui fossem difundidas, possibilitando o surgimento de um movimento
de intelectuais brasileiros – geração de 1870 - com novos pensamentos, ideias e desejos para
a sociedade brasileira.
Glaucio Veiga1, em seu livro A História das ideias da Faculdade de Direito do
Recife, destaca que as ideias do Iluminismo explodiram no Brasil, com a chegada da família
real (1808) e que a abertura dos portos iniciaria o processo de ocidentalização, destacando que
essa abertura econômica e cultural contribuiria para tornar o Brasil mais civilizado. O autor
defende que os jovens intelectuais que chegavam ao Brasil, assim como na Europa, buscaram
encontrar um lugar de fala, um espaço que lhes fosse possível, expressar as suas ideias e seus
pensamentos, e os folhetins, periódicos e jornais eram uma excelente ferramenta para este
fim.
Keila Grinberg e Ricardo Salles, em sua obra O Brasil Imperial, destacam que a
abdicação de D. Pedro I, em 1831, até a confirmação de D. Pedro II como Imperador do
Brasil, em 1840, foi um dos períodos mais conturbados da História do Brasil, dado o grande

1
VEIGA, Gláucio. História das ideias da faculdade de direito do Recife. Recife/PE. Editora Universitária/UFPE,
1984. Vol. 4.
11

número de revoltas ocorridas em várias províncias. Em seguida, teve-se o apogeu do Império,


que duraria até́ o fim da Guerra do Paraguai, em 1870.2
Grinberg e Salles evidenciam ainda que o ano de 1870 é um marco para a história do
império, não só pelo fim da Guerra do Paraguai, mas também porque o tempo e a vida social
aceleraram-se de forma bastante intensa no Império do Brasil, com o aumento das relações
comerciais e os movimentos de mudança reformistas que voltaram a eclodir pelo Brasil.3
É importante ainda destacar que, na década de 1870, a sociedade brasileira conheceu
profundas transformações: a crise do escravismo e a eclosão de novas ideias possibilitaram a
maior consciência dos problemas do país. E é neste contexto de mudanças que surge uma
nova elite intelectual, que acreditava no poder das ideias e da ciência como um importante
mecanismo para a contestação e a transformação do país.
Roque Spencer Barros, em sua obra a Ilustração brasileira e a ideia de
Universidade, destaca que

[...]estes homens buscavam instrumentos capazes de integrá-los, de vez, na grande


comunidade euro-americana; ao invés de se entregar a uma realidade brasileira,
procuravam criá-la pela ação educativa da lei, da escola, da imprensa e do livro.4

Essa geração de 1870 também fora conhecida como os ilustrados brasileiros e era
composta por grupos sociais bastante heterogêneos, que incluíam políticos, jornalistas,
literatos e aqueles que aspiravam à intelectualidade no país.5
Neste mesmo sentido, Ângela Alonso, em seu trabalho Apropriação das Ideias no
Segundo Reinado, afirma que o movimento da geração 1870 configurou-se no momento em
que a lenta desagregação de nossa formação social colonial emergiu como tema do debate
político.6 A autora destaca ainda que, neste contexto, havia visões antagônicas de modelo de
nação e de Estado pelos membros da elite política nacional.
José Murilo de Carvalho7, ao estudar a composição dos partidos políticos do Brasil,
defende a tese, que tanto do ponto de vista da origem social, quanto da proveniência regional,
ambos os partidos, conservador e liberal, eram marcados por posições antagônicas, mas

2
GRINBERG, KEILA & SALLES, Ricardo (Orgs.) O Brasil Imperial, Volume II: 1831-1870. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2009.
3
Ibidem.
4
BARROS, Roque S. M. A ilustração brasileira e a ideia de Universidade. São Paulo: Convívio,1986. p. 3.
5
Ibidem.
6
ALONSO, Angela. Apropriação de ideias no Segundo Reinado. In: GRINBERG, Keila & SALLES, Ricardo
(Orgs.). O Brasil Imperial, volume II: 1831-1870. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009, pp. 83-118.
7
CARVALHO, José Murilo de. A Construção da Ordem: a elite política Imperial. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2008.
12

possuíam certa homogeneidade. Para o autor, os liberais defendiam normalmente leis


descentralizadoras, autonomia provincial e questionavam o poder moderador; de outro lado,
conservadores eram mais adeptos do fortalecimento do poder moderador e de medidas mais
centralizadoras.8
José Murilo de Carvalho9 e Ilmar Mattos10 concordam que, apesar de existirem
diferenças de interesses e propostas internas, ambos os grupos políticos estruturalmente não
desejavam mudanças profundas no Brasil.
Nesse cenário, grupos sem acesso às instituições políticas imperiais puderam
exprimir seus dissensos. Vários deles escreveram panfletos e artigos de jornais, fizeram
comícios e manifestações, a partir de fins dos anos 1870. Os “intelectuais” da geração 1870
foram parte dessa agitação, mesmo sem produzir obras de teorias, mas com os textos de
intervenção no debate público. A professora Ângela Alonso afirma que isto está claro em seus
assuntos que contemplavam: eram avaliações dos pilares da tradição imperial, do indianismo,
do liberalismo, do catolicismo, e de suas instituições, sobretudo, a monarquia centralizada e a
escravidão.11
Esses brasileiros, que formavam a geração de 1870, combinaram duas fontes, o
repertório europeu da política científica e a tradição nacional. Seus livros teceram com isso,
interpretações do Brasil que, simultaneamente, criticavam e dialogavam com o status quo,
através da produção de textos e discursos de intervenção no debate público. E, nesse contexto,
a imprensa exerceu um papel relevante para esses intelectuais e letrados que desejavam influir
na política e nos destinos da sociedade da época.12
Nelson Sodré13 (1983) destaca que este movimento, que emerge dos jornais e
periódicos no Brasil, expandiu-se após a fundação da Gazeta do Rio de Janeiro, 13 de maio de
1808, que foi o primeiro periódico brasileiro, o qual tinha a função de divulgar toda a
informação oficial emanada do poder real. Maria Helena Capelato14 e Isabel Lustosa15,
corroborando com Nelson Sodré16, defendem que a imprensa apareceu no Brasil após a

8
Ibidem.
9
Ibidem.
10
MATTOS, Ilmar Rohloff de. O tempo saquarema. São Paulo: Hucitec, 1987.
11
ALONSO, Angela. Apropriação de ideias no Segundo Reinado. In: GRINBERG, Keila & SALLES, Ricardo
(Orgs.). O Brasil Imperial, volume II: 1831-1870. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009, pp. 83-118.
12
Ibidem.
13
SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. 3a. ED. SAO PAULO: Martins Fontes, 1983.
14
CAPELATO, Maria Helena R. Imprensa e História do Brasil. São Paulo: Contexto/EDUSP, 1988.
15
LUSTOSA, Isabel. Insultos Impressos: a Guerra dos jornalistas na independência (1821-1823) São Paulo:
Companhia das Letras, 2000.
16
SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. 3a. ED. SAO PAULO: Martins Fontes, 1983.
13

criação da Imprensa Régia, e que de fato surgiram inúmeros jornais na capital do reino e
também nas províncias.
Isabel Lustosa17 ressalta que o surgimento e expansão da imprensa no Brasil ocorreu
apenas em 1808, pois a impressão das letras no Brasil era proibida por Portugal e que, desde o
período colonial, diversas tentativas de funcionamento de tipografias foram barradas pelas
autoridades portuguesas.18
Destarte, Sodré19 assevera que os jornais e periódicos tornaram-se o principal meio
de exposição das ideias dos intelectuais no século XIX, e para tanto observa-se que foram
instaladas diversas tipografias no Brasil, o que possibilitou o surgimento de diversos
periódicos em todas as províncias.20
Na Província do Rio Grande do Norte, a primeira publicação na imprensa ocorreu em
1832, com o advento do periódico Natalense. Na década de 1870, existiam periódicos de
cunho conservador e liberal.21
Em muitas províncias do Brasil, começava a eclodir outro movimento importante
para a expansão das ideias, em especial as liberais e progressistas, que foi o caso da criação
das Lojas Maçônicas. Marco Morel e Françoise Jean Souza22, no livro “O poder da
Maçonaria”, destacam que o funcionamento regular das primeiras lojas maçônicas no Brasil
ocorreu no início do século XIX, por iniciativa de intelectuais que haviam sido iniciados na
Europa. Assim, nas cidades de Salvador, do Recife e do Rio de Janeiro tem-se notícias da
fundação de lojas maçônicas por intelectuais e membros da elite brasileira.
Josué Silva, João Estevam e Emygdio Fagundes23, maçons que realizaram uma
pesquisa sobre “A Maçonaria no Rio Grande do Norte”, publicada em 1924, assinalam que,
no ano de 1836, surgiu a primeira loja Maçônica do Rio Grande do Norte, denominada
“Sygilo Natalense”, por iniciativa e entusiasmo de maçons dispersos na província, em fins de
1835. Acredita-se que esses maçons tenham ingressado na ordem maçônica por meio da
Maçonaria pernambucana e carioca.

17
LUSTOSA, Isabel. Insultos Impressos: a Guerra dos jornalistas na independência (1821-1823) São Paulo:
Companhia das Letras, 2000.
18
Ibidem.
19
SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. 3a. ED. SAO PAULO: Martins Fontes, 1983.
20
Ibidem.
21
FERNANDES, Luiz. A imprensa periódica no Rio Grande do Norte – 1832 a 1908. Natal: Ed. Sebo
Vermelho, 1998. 2. Ed. [1908].
22
MOREL, Marco; SOUZA, Françoise Jean. O Poder da Maçonaria: a história de uma sociedade secreta no
Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
23
SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001[1924].
14

A fundação da loja maçônica “Sygilo Natalense”, em Natal, demonstrou a presença


de Maçons na cidade e na Província do Rio Grande do Norte, com o desejo de se reunir em
segredo, isto é, ter um lugar para discutir e debater ideias sobre o progresso e causas da
Maçonaria, de forma mais reservada, sob a proteção do espaço da loja.
Em todo o mundo, as lojas maçônicas, quando fundadas, precisam vincular-se a um
poder central, o qual congrega todas as lojas maçônicas. No Brasil do século XIX, havia 2
(duas) organizações que congregavam as Lojas Maçônicas Brasileiras: o Grande Oriente do
Brazil e o Grande Oriente Unido, ambos sediados no Rio de Janeiro/RJ, sede do governo
imperial e local de grande expressão da vida intelectual e política nacional.
Ainda é importante destacar que a pesquisa de Alexandre Mansur Barata24,
intitulada: Maçonaria, sociabilidade ilustrada e independência (Brasil, 1790-1822), que
estuda a trajetória e as relações da Maçonaria no Brasil até a independência, evidenciou que a
criação de um poder central maçônico no Rio de Janeiro, no início do século XIX, o Grande
Oriente do Brasil, buscava dirigir as ações dos maçons e melhor institucionalizar a atuação da
Maçonaria no Brasil.
As lojas maçônicas eram um lugar de fala, discussão e construção de ideias, pois
nesses ambientes os maçons possuíam compromissos solenes de não divulgar os assuntos
tratados em suas reuniões, garantindo a liberdade de expressão a todos, que estariam
protegidos pelo segredo.
Reinhart Kosellec25 destaca a importância da loja maçônica e do compromisso do
segredo, visto que essa condição garantiria mais liberdade aos maçons a se expressarem
livremente, sem o medo de punição pelo regime autoritário, o que tornava as Lojas Maçônicas
um espaço ideal para as discussões políticas diante do poder constituído e fora do controle
hegemônico das monarquias absolutistas ou sistemas políticos autoritários.
Assim, percebe-se que, no período de 1870 a 1874, havia um movimento de novas
ideias no Brasil Imperial, e que havia grupos antagônicos disputando o protagonismo da
política na corte imperial e nas províncias. No entanto, nesse cenário, emergem algumas
questões a serem esclarecidas, tais como: de que forma a Maçonaria relacionava-se com a
sociedade e com o poder na Província do Rio Grande do Norte? Quais as ideias discutidas e
propagadas? Quem eram os membros da Maçonaria na província? Qual a sua causa? Era uma
causa local, regional ou nacional? E quem eram os seus líderes?

24
BARATA, Alexandre Mansur. Maçonaria, sociabilidade ilustrada e independência do Brasil (1790-1822). São
Paulo-Juiz de Fora: Annablume-EDUFJF-FAPESP, 2006.
25
KOSELLEC, Reinhart. Crítica e Crise: uma contribuição à patogênese do mundo burguês. Rio de Janeiro:
EDUERJ: Contraponto, 1999.
15

Visando entender e responder essas questões, a presente pesquisa discutiu e analisou


essas relações da Maçonaria na província do Rio Grande, no período de 1870 a 1874, a fim de
entender o papel da Maçonaria na transformação da província do Rio Grande do Norte, e se
esta transformação estava vinculada a um projeto local ou “nacional”. A hipótese de pesquisa
levantada inicialmente, e confirmada, acreditava que existia uma relação entre a Maçonaria e
o poder provincial, e que essas relações da Maçonaria com o poder nas províncias e na corte
faziam parte de um projeto mais amplo, com base no seu ideário e nos seus princípios.
Observou-se que esse projeto maçônico mais amplo era articulado e dirigido, pelo
seu poder central, o Grande Oriente, no qual as suas lojas eram filiadas, a fim de obter a sua
regularização, o que demonstrou ser essencial, no seio das sociedades maçônicas, visto que
elas pregavam a questão da universalidade.
Essa direção e articulação das Lojas com o poder central, certamente influenciava
nos projetos das lojas maçônicas, pois estas, ao se filiarem a esse poder central, precisavam
cumprir as diretrizes gerais, seguir os regulamentos e praticar os ritos maçônicos adotados por
essa potência, que era responsável por promover a articulação nacional, além de fornecer a
regularidade maçônica às suas lojas jurisdicionadas. Portanto, o cerne dessa pesquisa é
investigar as ideias e a causa da Maçonaria, propagada na imprensa periódica maçônica no
Rio Grande do Norte.
A presente pesquisa justifica-se, inicialmente pelo interesse do pesquisador em
investigar e compreender as relações políticas e sociais no Rio Grande do Norte, durante o
século XIX. Outra justificativa a se considerar, trata-se da falta de historiografia bibliográfica
acerca da Maçonaria no Rio Grande do Norte, instituição em que membros da elite política e
social eram seus membros, e estiveram presentes exercendo um papel essencial no século
XIX e XX, do Rio Grande do Norte. E, ainda, porque observa-se uma carência de estudos que
relacionem a Maçonaria, o seu ideário, e suas relações de poder no Império do Brasil, no
âmbito da historiografia brasileira, o que demonstra que essa abordagem do tema, não teve
ainda a devida atenção dos pesquisadores.
Aliado a isso, o acesso às fontes - documentos maçônicos e periódicos Maçônicos do
século XIX, e a escassez de estudos utilizando esse material, estimularam e instigaram o
pesquisador a realizar essa pesquisa, que foi possível, graças ao apoio de maçons da Loja 21
de Março, que permitiram o acesso aos documentos, visto que, no Brasil, os arquivos das
ordens maçônicas continuam inacessíveis e conservados em arquivos particulares –
localizados no interior das lojas Maçônicas. Por fim, a necessidade de se produzir história do
16

Rio Grande do Norte, que possibilite entender como ocorreu a ocupação de seus espaços
públicos, suas transformações e o seu desenvolvimento, desde a conquista até os dias atuais.
E assim, o presente trabalho buscou identificar qual era à causa da Maçonaria nesta
província, quais as ideias eram propagadas por meio do periódico maçônico potiguar “A
LUZ”: jornal em defesa da causa da Maçonaria publicado nos anos de 1873-1874 e as suas
relações com o periódico maçônico do Grande Oriente do Brasil e suas ideias propagadas, que
era o informativo do poder central da Maçonaria brasileira. Analisou também a participação
política e social dos sujeitos envolvidos na Maçonaria na Província do Rio Grande do Norte.
Para a consecução dos objetivos desta pesquisa foram utilizadas fontes documentais
a saber: atas das reuniões da loja Maçônica 21 de março que compõem um retrato dos
discursos e as ideias que eram discutidas e defendidas pelos maçons que frequentavam a
principal loja maçônica da província no período. O periódico Maçônico, A Luz que era o
jornal fundado por maçons para defender a causa da Maçonaria na província, e onde se
expressavam as ideias maçônicas, quer seja através de artigos escritos por maçons e ou
transcritos de outros periódicos e até de livros, além de divulgar notícias sobre a Maçonaria e
sobre o que acontecia na província ligado à causa da Maçonaria e que envolviam maçons na
Província e na Corte Imperial. Por fim, utilizou-se o conjunto de Boletins Oficiais do Grande
Oriente Unido do Brasil, que era a principal potência maçônica brasileira do período, e a qual
a Loja 21 de Março estava filiada. Esse boletim expressava os princípios, valores e o ideário
maçônico, além de ser a voz e opinião oficial da Maçonaria no Brasil.
Para analisar e discutir essa temática, que se relaciona à questão das ideologias e
disputas de poder político e social, por meio da propagação das ideias e do uso dos discursos e
narrativas na imprensa, foi preciso utilizar um conjunto de fontes bibliográficas, a fim de se
apropriar dos conceitos teóricos necessários. A respeito dos discursos e transformações
sociais foram utilizados os conceitos de concepção tridimensional do discurso de Norman
Fairclough, associado às teorias de Antônio Gramsci, sobre hegemonia, poder e formação de
intelectuais, em A hegemonia cultural e a política e poder. E ainda, a metodologia proposta
por Maria Helena Capelato, Isabel Lustosa e Marcel Cheches sobre a imprensa como fonte
histórica e como utilizá-la, além dos pesquisadores que abordaram o tema da Maçonaria
Brasileira, tais como Alexandre Mansur Barata, Marco Morel, William de Almeida Carvalho,
entre outros. E, por conseguinte, assim foi possível encontrar respostas às questões levantadas
e alcançar os objetivos propostos nessa pesquisa.
Os três capítulos deste trabalho foram organizados objetivando uma construção
cronológica e coerente sobre a Maçonaria no Rio Grande do Norte, a sua causa e sobre o seu
17

ideário e a propagação dessas ideias, e como os maçons potiguares relacionavam-se política e


socialmente na província, até o fim do século XIX.
Portanto, o primeiro capítulo, As Origens da Maçonaria na Província do Rio
Grande do Norte e a Loja Maçônica 21 de Março abordará a temática da história da
Maçonaria no Brasil, desde a sua chegada, organização, expansão, fundação e organização da
Maçonaria nesta província, relações políticas e sociais dos membros da Maçonaria potiguar
com o poder provincial, Imprensa periódica maçônica e potiguar. No segundo capítulo,
intitulado O Periódico Maçônico ‘A LUZ’ (1873-1874) e a causa da Maçonaria, será
realizada uma análise do periódico maçônico a LUZ, a fim de identificar as ideias e a causa da
Maçonaria potiguar, buscando compreender como estas eram utilizadas na disputa
hegemônica e na busca pela consolidação do poder que a Maçonaria potiguar almejava. Neste
mesmo capítulo, identificar-se-á quem eram os seus responsáveis, como eram produzidos os
discursos narrativos e quais eram seus fins, a abrangência desse periódico e que relações
possuía com outros periódicos. O terceiro, e último capítulo – denominado Relações entre as
ideias e os discursos na imprensa maçônica do Rio Grande do Norte e do Boletim oficial da
Maçonaria Brasileira (1873-1874) analisará o Boletim Informativo do Grande Oriente Unido
do Brasil, procurando identificar a correlação e semelhança das ideias propagadas em ambos
periódicos maçônicos, além de relacionar todas as notícias, matérias e atos oficiais da
Maçonaria potiguar, que eram publicadas em ambos os periódicos, a fim de esclarecer se a
Maçonaria potiguar estava envolvida em uma causa local ou estaria sob a orientação do seu
poder central.
O presente trabalho é o resultado de um período de investigação, pesquisa, esforço
intelectual e constantes questionamentos, que possibilitaram ao pesquisador ir enformando
esse trabalho acadêmico, vencendo os desafios e superando os obstáculos, de tal maneira que,
durante esse transcurso, descobertas foram realizadas, questões respondidas, objetivos
alcançados, e novas questões e problemáticas emergiram demonstrando que a pesquisa e a
descoberta de novos conhecimentos é uma atividade infindável, e que sempre é possível
melhorar e descobrir algo novo. E, a partir de novas problemáticas, são construídas novas
hipóteses que nortearão futuras pesquisas sobre a temática da Maçonaria no Rio Grande do
Norte. Portanto, o presente trabalho representa um conjunto de esforços, a fim de contribuir
com a historiografia da Maçonaria no Brasil e da história do Rio Grande do Norte, e
certamente servirá para explicar o papel e a importância da Maçonaria e as relações dos
maçons e das instituições políticas e sociais em terras potiguares.
18

2. AS ORIGENS DA MAÇONARIA NO RIO GRANDE DO NORTE E A LOJA


MAÇÔNICA 21 DE MARÇO

A Maçonaria surgiu no Brasil no final do século XVIII, por meio do início das
atividades das primeiras lojas maçônicas no território brasileiro, fundadas sob a égide das
ideias iluministas e pela luta da liberdade. A pesquisadora Célia Maria Azevedo26 destaca que
maçons participaram na Inconfidência Mineira (1789) e na Conjuração Baiana, em 1798.
Já Alexandre Mansur Barata27, em sua pesquisa Maçonaria Sociabilidade Ilustrada e
a independência do Brasil, assinala que muitos brasileiros tiveram oportunidade de conviver e
de se sociabilizar com maçons na Corte, quando estavam estudando, haja vista que, em
Portugal, a Maçonaria já estava presente e atuante. O mesmo autor destaca, ainda, que a
Maçonaria chegou ao Brasil, através desses estudantes que tinham ingressado na ordem
maçônica, no século XVII, em Lojas de Coimbra e de Montpelier na França. Ao retornar ao
Brasil, estes estudantes foram os responsáveis por iniciar novos membros, organizar reuniões
e fundar lojas no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, na Bahia e em Pernambuco.
Luaê Carregari Carneiro Ribeiro28, corroborando com Alexandre Mansur Barata,
assevera que esses diversos brasileiros, ao concluir seus estudos, e iniciar na Maçonaria na
Corte, voltavam à Colônia, e assim, até́ o início do século XIX, os maçons estavam dispersos
pelo território brasileiro, pois não havia lojas regulares onde pudessem reunir-se.
Nesses termos, esses maçons iniciariam um movimento para fundar as primeiras
lojas maçônicas nos principais centros urbanos da Colônia, tendo como base as ideias
iluministas e a defesa das liberdades e da independência.
Neste sentido, a professora Célia Marinho de Azevedo29 afirma que a primeira loja
maçônica oficial do Brasil foi a Loja Reunião, fundada em 1801 no Rio de Janeiro, vinculada
ao Oriente da Ilha de França. No ano seguinte, fundou-se uma segunda loja, denominada
Virtude e Razão, na Bahia.

26
AZEVEDO, Célia M. Marinho de. Maçonaria: história e historiografia. Revista USP, n. 32, p. 178-189, 1996.
27
BARATA, Alexandre Mansur. Maçonaria, sociabilidade ilustrada e independência do Brasil (1790-1822). São
Paulo-Juiz de Fora: Annablume-EDUFJF-FAPESP, 2006.
28
RIBEIRO, Luaê Carregarti Carneiro. Uma América em São Paulo: a Maçonaria e o Partido Republicano
Paulista (1868-1889). Dissertação de Mestrado do programa de pós-graduação em história social, USP, 2011.
29
AZEVEDO, Célia M. Marinho de. Maçonaria: história e historiografia. Revista USP, n. 32, p. 178-189, 1996.
19

Já o pesquisador Wiliam Almeida de Carvalho30 defende a tese de que a primeira


referência a um grupo de maçons reunidos em uma Loja Maçônica Brasil teria sido, em águas
territoriais da Bahia, em 1797. Esses maçons reuniram-se na fragata francesa La Preneuse.
Depois, na cidade de Salvador foi fundada a loja Cavaleiros da Luz, que veio a funcionar na
Barra. Contudo, esse autor concorda com a professora Célia Marinho Azevedo, e também
destaca que a primeira Loja Maçônica regular do Brasil foi a Loja Reunião, fundada em 1801,
no Rio de Janeiro, filiada ao Oriente da Ilha de França (Ille de France).31
Esse mesmo pesquisador destaca, ainda, que a Maçonaria Portuguesa, através do
Grande Oriente Lusitano, resolveu iniciar maçons no Brasil, para serem responsáveis em
propagar a Maçonaria neste território. Nesses termos, outras lojas foram fundadas no Rio de
Janeiro e em outras cidades, a fim de congregar os maçons existentes, e iniciar novos
membros.

Dois anos depois, o Grande Oriente Lusitano, desejando propagar, no Brasil, a


“verdadeira doutrina maçônica”, nomeou para esse fim três delegados, com plenos
poderes para criar lojas regulares no Rio de Janeiro, filiadas aquele Grande Oriente.
Criaram, então, as Lojas Constância e Filantropia, as quais, junto com a Reunião,
serviram de centro comum para todos os maçons existentes no Rio de Janeiro,
regulares e irregulares, tratando de iniciar outros, até́ ao grau de Mestre.32

Desse modo, lojas maçônicas começaram a ser fundadas nas principais cidades do
Brasil, por meio desses delegados que tinham autorização e poder dos órgãos centrais da
Maçonaria Portuguesa para propagar e fundar lojas.
Marco Morel33, em seu artigo sobre a sociabilidade maçônica, destaca que as
Maçonarias desempenharam um papel significativo no quadro das revoluções nacionais da
segunda metade do século XVIII e começo do XIX, evidenciando que as Lojas Maçônicas
foram um importante mecanismo da disseminação das “ideias novas”, que contribuíram nesse
processo de independência.

30
CARVALHO, William de Almeida de. “Pequena História da Maçonaria no Brasil” REHMLAC. Revista de
Estudios Históricos de la Masonería Latinoamericana y Caribeña, vol. 2, núm. 1, mayo-noviembre, 2010, pp.
30-58.
31
CARVALHO, William de Almeida de. “Pequena História da Maçonaria no Brasil” REHMLAC. Revista de
Estudios Históricos de la Masonería Latinoamericana y Caribeña, vol. 2, núm. 1, mayo-noviembre, 2010, pp.
30-58.
32
Ibidem, p. 33
33
MOREL, Marco. Sociabilidades entre Luzes e sombras: apontamentos para o estudo histórico das maçonarias
da primeira metade do século XIX. Revista Estudos Históricos, v. 2, n. 28, p. 3-22, 2001.
20

Outrossim, nas duas primeiras décadas do século XIX, as Lojas Maçônicas no Brasil
tornaram-se um espaço para articulação do movimento de independência34, especialmente
para aqueles que desejavam propagar ideias de liberdade, e associavam essa liberdade com a
quebra do Pacto Colonial. Desse modo, criavam um ideal para a Maçonaria no Brasil.
Entre os anos de 1801 e 1822, a Maçonaria brasileira trabalhou apoiando os
movimentos de Independência nacional. Um importante exemplo desses movimentos ocorreu
nas capitanias do Norte do Brasil, com a Insurreição Pernambucana de 1817 - movimento que
pretendia a emancipação das capitanias de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e
Ceará – em que muitos dos líderes revolucionários eram ligados aos movimentos
maçônicos.35
Sobre isso, Alexandre Mansur Barata36 destaca que:

[...]como se sabe, dos 317 réus levados a julgamento por envolvimento neste
levante, 62 eram acusados de pertencerem à Maçonaria [...]. Daí as constantes
perseguições que os maçons sofreram, quando se constataram suas ligações com os
movimentos revolucionários de cunho emancipacionista.37

No Rio Grande do Norte, a Revolução de 1817 foi um movimento arquitetado e


liderado pela família Albuquerque Maranhão, tendo em vista que nove dos líderes da
Insurreição eram daquele grupo familiar. De acordo com Câmara Cascudo38, André de
Albuquerque Maranhão possivelmente pertenceu à Loja Paraíso, à Sociedade Maçônica de
Recife, e estivera em contínuas confabulações com os conspiradores.
Para os autores maçons Josué Silva; João Estevam e Emygdio Fagundes39, outras
personagens artífices desta revolução de 1817 eram membros da Maçonaria, e estavam na
Capitania, entre eles: os Padres João Domingos Xavier Carneiro, João Damasceno e Antônio
de Albuquerque Montenegro, além dos senhores Luiz de Albuquerque Maranhão, Manoel
Caetano, José Francisco de Paula, André de Albuquerque Maranhão de Estivas.
A presença de membros do clero, senhores de engenho e de terras com ligações
maçônicas na capitania do Rio Grande é fato destacado pelos pesquisadores maçônicos Josué

34
BARATA, Alexandre Mansur. Luzes e Sombras: a ação da Maçonaria Brasileira (1870 – 1910). Editora da
Unicamp, coleção Tempo e Memória n°14, 1999
35
BARATA, Alexandre Mansur. Luzes e Sombras: a ação da Maçonaria Brasileira (1870 – 1910). Editora da
Unicamp, coleção Tempo e Memória n°14, 1999.
36
Ibidem.
37
Ibidem, p. 61.
38 CASCUDO, Luís da Câmara. Movimento de independência do Rio Grande do Norte. Natal: fundação José
Augusto, 1973.
39 SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001[1924]. p. 3-6
21

Silva; João Estevam e Emygdio Fagundes, os quais afirmam que as reuniões ocorriam nos
engenhos Belém e Estivas, antes mesmo da revolução de 1817.40
No período da Insurreição de 1817, o Capitão Mor da Capitania do Rio Grande era
José Inácio Borges, que tinha assumido o governo em 16 de novembro de 1816. Foi preso no
dia 25 de março de 1817, pelo coronel de milícias e proprietário do Engenho Cunhaú André
de Albuquerque Maranhão.41 Segundo Câmara Cascudo42, José Inácio Borges era outra
personagem com ligações maçônicas, mas não aderiu ao movimento de 1817, no Rio Grande
do Norte, e por isso teria sido preso.
O Capitão Mor José Ignácio Borges dirigiu-se a Goianinha para se entender com o
Coronel André de Albuquerque Maranhão sobre a proteção da fronteira sul da capitania, e
após se entender com André de Albuquerque Maranhão voltaria para Natal. Após a reunião, e
quando voltava, resolveu pernoitar no Engenho Belém, em São José de Mipibu, onde foi
preso pelo regimento de André de Albuquerque e por tropas da Paraíba.43
Vicente de Lemos e Tarcísio de Medeiros44 afirmam que José Ignácio Borges
confiava em André de Albuquerque Maranhão e contava com seu apoio para a proteção da
capitania e por isso teria ido ao seu encontro para se reunir com Coronel de Milícias André de
Albuquerque Maranhão, para discutir ações para a proteção da Fronteira Sul da Capitania.
Rocha Pombo45 afirma que a ida do Capitão Mor José Inagcio Borges ao encontro do
Coronel André de Albuquerque Maranhão teria sido seu grande erro, e esse favoreceu aos
revolucionários, pois deixou a sede da capitania sem uma guarda, acompanhado apenas pelo
escrivão da câmara Manuel José de Moraes e de um pajem. Destaca também que esse erro
pode ter sido intencional, visto que o Capitão Mor não deveria ter viajado, desprotegido,
levantando a hipótese que o Capitão Mor poderia estar de conluio com André de Albuquerque
Maranhão, visto que ele saiu da segurança de suas forças fiéis e foi viajar de forma
vulnerável, durante um momento de crise.

40
Ibidem.
41
POMBO, Rocha. História do Estado Rio Grande do Norte. Natal: EDUFRN, 2018.[1922] LIRA, Augusto
Tavares de. História do Rio Grande do Norte. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2012.[1922]
CASCUDO, Luís da Câmara. História do do Rio Grande do Norte. 2 ed. Natal: Fundação José Augusto; Rio de
Janeiro: Achiamé, 1984.
42
CASCUDO, Luís da Câmara. História do Rio Grande do Norte. 2 ed. Natal: Fundação José Augusto; Rio de
Janeiro: Achiamé, 1984.
43
LEMOS, Vicente; MEDEIROS, TARCISIO. Capitães-mores e Governadores do Rio Grande do Norte. 2º
Volume. 1701-1822.Natal/RN IHGRN, 1980. p. 77. POMBO, Rocha. História do Estado Rio Grande do Norte.
Natal: EDUFRN, 2018. p. 244 [1922]
44
LEMOS, Vicente; MEDEIROS, TARCISIO. Capitães-mores e Governadores do Rio Grande do Norte. 2º
Volume. 1701-1822.Natal/RN IHGRN, 1980.
45
POMBO, Rocha. História do Estado Rio Grande do Norte. Natal: EDUFRN, 2018.[1922]. p. 245.
22

Com base nessa questão apresentada por Rocha Pombo,46 uma das hipóteses que se
pode levantar, é que essa confiança de José Inagcio Borges em André de Albuquerque
Maranhão, e seu possível envolvimento com a revolução de 1817, poderia estar relacionada
aos seus laços de fraternidade, construídos nas academias e associações maçônicas que ambos
frequentaram na Capitania de Pernambuco.
Essa hipótese é reforçada com a afirmação de Olavo de Medeiros47, na qual o autor
destaca que o Coronel de Milícias André de Albuquerque Maranhão era frequentador da Casa
dos Suassunas, no período da conspiração em Pernambuco, 1801, e que mantinha excelente
relações com essa família, inclusive com José Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque,
que foi Capitão Mor da Capitania do Rio Grande do Norte, no período de 1806 a 1811.48
Josué Silva; João Estevam e Emigdio Fagundes corroborando com a tese de
Cascudo, afirmam que José Inácio Borges possuía laços maçônicos com André de
Albuquerque e com o Padre Miguelinho, por meio da Academia Paraíso, no Recife, Capitania
de Pernambuco.49
Neste sentido, observa-se a presença de personagens em terras potiguares com
relações maçônicas e com as ideias de liberdade, desde os primeiros anos do século XIX.
Com o passar dos anos, esses maçons que estavam dispersos pelo território, inicialmente da
capitania e depois da província, começaram e nutrir o desejo de fundar uma Loja Maçônica
para realizarem suas reuniões. Assim, poderiam reunir-se sob a proteção da Maçonaria, seus
princípios e o compromisso do sigilo, para poder articular e definir os destinos da província
do Rio Grande do Norte.
É importante destacar que esses maçons no Rio Grande do Norte possuíam relações
sociais e políticas com os maçons de Pernambuco, visto que, neste período, a administração
da Província do Rio Grande do Norte estava vinculada a de Pernambuco, além de que muitos
desses administradores que aqui estavam atuando eram pernambucanos.
De acordo com o historiador e maçom, Renato de Alencar, as Lojas Maçônicas no
Brasil diferenciavam-se das europeias, na medida em que trabalharam pela independência,
mas não buscavam a queda do regime monárquico. O consenso que existia era sobre a
necessidade de liberdade, inclusive a religiosa, através da concepção de consenso em todas as
religiões.

46
Ibidem.
47
FILHO, Olavo de Medeiros. Aconteceu na Capitania do Rio Grande. Natal/RN:IHGRN, 1997. p. 188
48
Ibidem, p. 189.
49
SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001[1924].
23

Outrossim, sabe-se que membros da Maçonaria participaram ativamente do processo


de independência (1822) dentre eles: José Bonifácio de Andrade e Silva, Joaquim Gonçalves
de Ledo, Domingos Alves Branco Muniz Barreto, Frei Francisco Sampaio, o cônego Januário
da Cunha Barbosa, dentre outros.50
Entretanto, essa participação da Maçonaria no movimento pela independência
contava com a participação de grupos antagônicos na Maçonaria Brasileira, que tinham uma
visão diferente sobre o modelo de nação independente que o Brasil deveria seguir. Um grupo
liderado por José Bonifácio de Andrada defendia a monarquia constitucional, enquanto o
grupo de Gonçalves Ledo defendia um Estado republicano. Essa discordância refletiu-se em
um conflito que dividiu a Maçonaria Brasileira.51
Marco Morel e Françoise Souza52 destacam que as atividades maçônicas foram
decisivas para que as forças políticas que atuaram no “movimento de 1822”, obtivessem êxito,
visto que, nas lojas maçônicas, se encontrava um ambiente adequado para os debates e para a
coordenação das ações em prol da independência.
É importante ainda destacar que, dentre os membros da Maçonaria, participantes da
luta pela independência, também existiam membros da Igreja Católica. No Rio Grande do
Norte, Luís da Câmara Cascudo53 aponta a participação de sete clérigos-potiguares em prol da
independência do Brasil:

Feliciano José Dornelas (Natal), Antônio de Albuquerque Montenegro (Goianinha),


João Barbosa Cordeiro (Portalegre), Gonçalo Borges de Andrade (Apodi e Martins),
Francisco Manuel de Barros (Pau dos Ferros) e João Damasceno Xavier Carneiro
(São José de Mipibu).54

Dentre os padres citados, Silva; Estevam e Fagundes55 afirmam que pelo menos dois
eram maçons: Padre Feliciano José Dornelas e João Damasceno Xavier Carneiro,
demonstrando, assim, que havia padres maçons atuando na capitania, neste período com
ideias de liberdade e independência.

50
MOREL, Marco. SOUZA, Françoise Souza de Oliveira. Independência: um espaço para a Nação. O poder da
Maçonaria: a história de uma Sociedade Secreta no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
51
GONÇALVES, Thiago Werneck. “Periodismo maçônico e cultura política na corte imperial brasileira
(1871-1874).” Dissertação de mestrado em História, Universidade Federal Fluminense, 2012. Disponível em:
<http://www.historia.uff.br/stricto/td/1588.pdf>. Acesso em: 25 set. 2019. p. 40.
52
MOREL, Marco. SOUZA, Françoise Souza de Oliveira. Independência: um espaço para a Nação. O poder da
Maçonaria: a história de uma Sociedade Secreta no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
53
CASCUDO, Luís da Câmara. O movimento de independência no Rio Grande do Norte. Natal /RN: Fundação
José Augusto, 1973.
54
Ibidem, 1973.
55
SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001[1924].
24

As notícias de fundação de Lojas Maçônicas nas províncias da Bahia, da Paraíba e


de Pernambuco propagavam-se e geravam uma motivação aos maçons potiguares. A
ideia da fundação da primeira Loja Maçônica na Província ganhou força, no ano de
1835, com a chegada ao porto de Natal do Segundo Tenente da Armada, o senhor
Joaquim José Ignácio (futuro Visconde de Inhaúma), maçom membro da Loja
Maçônica Integridade, do Oriente do Vale dos Beneditinos que, ao se reunir com o
Presidente da província, o Maçom Basílio Quaresma Torreão, estimulou e apoiou os
maçons desta província a fundar uma Loja Maçônica.56

Outrossim, era fundada em 01 de março de 1836, na cidade de Natal, a Loja


Maçônica Sigilo Natalense, a primeira Loja Maçônica do Rio Grande do Norte, sob a
liderança de Joaquim José Ignacio e Basílio Quaresma Torreão, Raphael Archanjo Galvão,
Coronel José Lourenço de Almeida e outros.57
A Loja Maçônica Sigilo Natalense funcionou na Rua da Conceição, 14, prédio que
também serviu de anexo à Pharmacia Torres58. Atualmente, onde funcionou inicialmente a
Loja Maçônica Sigilo Natalense é o Jardim do antigo Palácio do Governo.
A Loja Maçônica Sigillo Natalense era o ambiente ideal para que os maçons dessa
província pudessem reunir-se, discutir e propagar as suas ideias, a fim de transformar a
realidade da província. Quando fundada em 1836, a loja já contava com um número
considerável de membros:

Convictos de que na Maçonaria encontrariam abrigo para suas ideias adiantadas,


Basílio Quaresma Torreão, Capitão da primeira linha Antônio José de Moura,
Tenente da Armada Jesuíno Lamêgo Costa, Major Joaquim Ferreira Nobre Pellinca,
Comendador Raphael Arcanjo Galvão, Dr. Basilio Quaresma Torreão Júnior, Padre
Pedro José de Queiroz e Sá, Joaquim José de Lima e Silva, Mathias Carlos de
Vasconcellos Monteiro, João de Oliveira Mendes, Manoel Alexandre de Araújo,
Padre João Theotonio de Souza e Silva, Felix Francisco da Silva, Elias Antônio
Cavalcante de Albuquerque, Luiz da Fonseca e Silva e outros, na maioria
representantes do povo legislativo, todas as figuras de destaque, agindo em
diferentes esferas sociais, naturalmente acolhendo os conselhos de seu guia,
organizaram a referida officina.59

Entre os maçons que organizaram a Loja Maçônica Sigillo Natalense destaca-se a


presença de diversos membros da elite local, detentores do poder político e social, políticos,
militares, clérigos, comerciantes, etc.
É importante ressaltar que, com a abdicação de D. Pedro I, em 7 de abril de 1831, a
década de 1831 a 1840, na província do Rio Grande, assim como em outras províncias, foi
56
SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001[1924].
57
Ibidem, p. 7.
58
Ibidem, p. 11
59
Ibidem, p. 10.
25

marcada por incertezas, animosidades e divergências, o que gerou um clima de agitação na


população e desconfiança do governo central, perante as províncias.60
Marcelo Basile61, em o Laboratório da Nação: a era regencial, destaca que o
movimento gerador da Abdicação de D. Pedro I foi:

Muito mais do que produto de um simples arranjo das elites, a sintomaticamente


chamada Revolução do 7 de abril foi resultado não só das tramas urdidas na
imprensa, no Parlamento, nas sociedades secretas e nos quarteis, mas também da
forte pressão popular; participação essa manifesta nos frequentes movimentos de
protesto, envolvendo até centenas de pessoas, que se multiplicaram pelas ruas da
corte no mês de março e na primeira semana de abril, e que culminaram na grande
mobilização do dia 6, reunindo nada menos do que cerca de quatro mil pessoas.62

Com relação ao papel das sociedades secretas, Marcelo Basile63 destaca que essas
persistiam, e em especial a Maçonaria, que voltara a ativa, de forma oficial, em 1831, com a
reabertura do Grande Oriente do Brasil64, representando o novo tempo de liberdade advindo
com a revolução de 7 de abril.
O espaço público era a arena de luta dos mais diversos grupos políticos e camadas
sociais, marcando a emergência de novas formas de ação política, fora dos círculos palacianos
e das instituições representativas.65
Neste cenário, observa-se que, nas reuniões da Loja Maçônica Sigillo Natalense, seus
membros usavam pseudônimos nos documentos produzidos na Maçonaria, fato este
verificado nas atas das reuniões dos primeiros anos dessa Loja (1836-1837).66
Acredita-se que o uso dos pseudônimos era uma forma de proteção e de segurança
aos membros da loja, visto que a Maçonaria já tinha sofrido perseguição por parte da
monarquia brasileira, fato esse observado em 25 de outubro de 1822, quando D. Pedro I
ordenou a suspensão dos trabalhos maçônicos e o fechamento do Grande Oriente do Brasil.67

60
POMBO, Rocha. História do Estado Rio Grande do Norte. Natal: EDUFRN, 2018.
61
BASILE, Marcelo. O laboratório da nação: era regencial (1831-1840). In: Keila Grinberg; Ricardo Salles.
(Org.). Coleção O Brasil Império Vol III (1870-1889). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. p. 62-63
62
Ibidem, p. 59.
63
BASILE, Marcelo. O laboratório da nação: era regencial (1831-1840). In: Keila Grinberg; Ricardo Salles.
(Org.). Coleção O Brasil Império Vol. III (1870-1889). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. p. 66-67
64
O Grande Oriente do Brasil tinha sido fechado em 1823, por decreto do Imperador D. Pedro I.
65
BASILE, Marcelo. O laboratório da nação: era regencial (1831-1840). In: Keila Grinberg; Ricardo Salles.
(Org.). Coleção O Brasil Império Vol. III (1870-1889). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.
66
LOJA MAÇÔNICA 21 DE MARÇO. Arquivo. Atas de reuniões (1836) Loja Sigilo Natalense – Arquivo Loja
21 de Março – Natal, RN.
67
COLUSSI, Eliane Lucia. A Maçonaria Gaúcha no Século XIX. Passo Fundo: EDIUPF, 1998. Op. cit., p.108.
26

A Maçonaria no Brasil, neste período, crescia e se expandia, e a Loja Sigilo


Natalense dava prosseguimento ao trabalho de iniciar novos membros na província do Rio
Grande do Norte. Em reunião datada de 15 de março de 1836, foram propostos e aprovados os
nomes de Estevão José Barbosa de Moura68 e Joaquim Francisco do Nascimento.69
É possível perceber que a análise da maioria das atas da Loja Maçônica Sigilo
Natalense, do ano de 1836 e 1837, registravam apenas as discussões das propostas de
admissão de novos membros no quadro daquela associação, o que mostra que a preocupação
inicial era encontrar novos membros e fortalecer a loja. Em uma ata de 1836, no qual não foi
possível identificar o dia da reunião, observou-se um fato atípico, em que o Venerável
Mestre70 da loja fez a nomeação de uma comissão de maçons para receber, no cais do porto,
três maçons que haviam chegado à cidade, na Escuna Vitória.71 Era uma atitude de boas
vindas ou recepção calorosa para incentivar um sentido de união.
A Loja Maçônica era um espaço de sociabilidade para os membros da elite local,
onde eles se encontravam, discretamente, e discutiam ações e estratégias para influenciar o
desenvolvimento da província, de acordo com os seus interesses.
As lojas maçônicas, que eram os núcleos onde os maçons reuniam-se e realizavam os
trabalhos maçônicos, possuíam regulamentos e legislação própria, com cargos e uma
hierarquia própria. A seguir, apresenta-se os principais cargos de uma loja maçônica e suas
funções específicas.

QUADRO 1 – CARGOS ELEITOS E HIERARQUIA DE UMA LOJA MAÇÔNICA


CARGO FUNCÃO HIERÁRQUICA
Venerável Mestre Presidente da Loja - dirige os trabalhos maçônicos e representa o líder formal do
grupo.
Primeiro 1º Vice-presidente da Loja - dirige os trabalhos maçônicos na ausência do
Vigilante presidente.
Segundo 2º Vice-presidente da Loja - dirige os trabalhos maçônicos na ausência do
Vigilante presidente e do 1º vice-presidente.
Orador Responsável pela defesa da legislação e tem o papel de ser o porta voz da Loja
em reuniões públicas.
Chanceler É o responsável por registrar a frequência dos presentes e recepcionar os
visitantes.
Secretário Responsável por fazer os registros das reuniões e emitir as correspondências da
Loja.

68
Estevão José Barbosa de Moura era Filho de Manuel Teixeira Barbosa, vereador do senado da câmara de Natal
e primeiro presidente da província do Rio Grande do Norte. Genro do Coronel de milícias Joaquim José do
Rego Barros proprietário do Engenho Ferreiro Torto, o qual o Estevão chegou a herdar. (fonte)
69
LOJA MAÇÔNICA 21 DE MARÇO. Arquivo. Ata de reunião 15 de março de 1836 da Loja Maçônica Sigilo
Natalense. Natal, RN. 1836.
70
Venerável Mestre é o principal cargo na hierarquia maçônica, equivalente ao presidente.
71
LOJA MAÇÔNICA 21 DE MARÇO. Arquivo. Ata de reunião - 1836 Loja Sigilo Natalense. Natal, RN. 1836.
27

Tesoureiro Responsável pelas finanças da Loja.


1º Experto Responsável pela ritualística e iniciação de novos membros.
FONTE: CARVALHO, Francisco de Assis. Cargos em Loja. Coleção Cadernos de Estudos
Maçônicos. Londrina/PR: Editora a Trolha, 1998.

No quadro 1, observa-se os principais cargos, as suas funções e a sua hierarquia em


uma loja maçônica. É importante destacar que esses cargos eram eleitos e exerciam o mandato
de um ano, podendo ser reconduzidos, conforme observado, em atas da Loja Sigilo Natalense,
dos anos de 1836 e 1837.
A função dos cargos maçônicos e a sua hierarquia era organizar e disciplinar as
atividades de uma loja maçônica, para que o ritual e o transcorrer da reunião prossiga de
modo que os objetivos para cada reunião fossem alcançados. Em uma reunião maçônica o
Venerável Mestre era o líder e responsável por dirigir as reuniões, as ações da loja, na qual
presidia, e a pessoa a qual todos os membros comprometeram-se a seguir e apoiar.
A Maçonaria, com base no seu lema de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”72,
norteou muitos de suas ações no continente Europeu, na América do Norte e Espanhola, assim
como no Brasil, onde maçons participaram e lideraram revoltas em prol das liberdades, como
a busca pela Independência do Brasil. Um dos maçons que participou desses movimentos foi
Cipriano Barata que esteve envolvido na conjuração Baiana (1798) e na Revolução
Pernambucana (1817) e fundador de lojas maçônicas em Salvador. Cipriano Barata fixou
domicílio em Natal, e a Loja Maçônica Sigilo Natalense procurou dar assistência e
reconhecimento a esse maçom.
Em pelo menos três atas da loja Sigilo Natalense, datadas de 1836 e 1837 encontram-
se referências ao maçom Cipriano Barata, e o seu contato com os maçons da loja. Dentre
esses registros, destaca-se a reunião especial que a loja realizara em homenagem ao patrono
da Maçonaria, São João, na data de 24 de junho de 1837, na qual recebeu a visita de Cipriano
Barata e lhe rendeu homenagens.73
É importante observar que Lojas Maçônicas possuíam como patrono São João, um
santo católico, mesmo defendendo a tese da liberdade religiosa. A adoção de patronos para as
sociedades maçônicas vem de uma tradição originária das antigas guildas e corporações de
ofícios74 que possuíam seus santos padroeiros protetores.

72
SOUSA, Kleber Cavalcante. A Maçonaria em 24 lições: introdução ao estudo maçônico. Natal: AMRA, 2017.
73
Loja Maçônica 21 DE MARÇO. Arquivo. Atas de reuniões1836-1837 da Loja Maçônica Sigilo Natalense.
Natal, RN. 1836-1837.
74
Essas guildas e corporações de ofícios são consideradas as organizações que originaram a Maçonaria.
28

Nesse ano de 1837, assumiu a presidência da loja o Capitão Antônio José de


Moura75, comandante do corpo policial da Província, o qual conduziu os trabalhos e
contribuiu para a consolidação da maçonaria na província. De forma efetiva, a Maçonaria na
Província do Rio Grande do Norte fortalecia-se, e, em 1838, o quadro de obreiros da Loja
chegava a cinquenta membros, dentre eles destacavam-se:

Estevam José Barbosa de Moura, Joaquim Francisco de Vasconcelos, Trajano


Leocádio de Medeiros Murta, Antônio Basílio Ribeiro Dantas, José da Costa
Pereira, Bartholomeu da Rocha Fagundes, Manoel Teixeira de Barbosa, Padre João
Carlos de Souza Caldas, Padre Manoel Cassiano da Costa Pereira, Professor José
Ribeiro Dantas, André de Paiva Ferreira d’Albuquerque, Padre Manoel José
Fernandes, Antônio Alvares Mariz, Antônio Francisco Ribeiro da Costa, Bonifácio
Francisco Pinheiro da Câmara, Manoel Lins Wanderley, Vitalino Zózimo de Bastos,
Joaquim Barbosa de Oliveira bananeira, Padre Joaquim Alvas da Cosa Pereira,
Professor Hermengildo Pinheiro de Vasconcelos, João de Araújo Costa, Manoel
Ferreira Nobre e José Ignacio de Britto76.

Ressalta-se que a Loja Maçônica se tornara um espaço de força política na província


do Rio Grande do Norte, e assim as lideranças da loja preocupavam-se com a vida social e
política da sociedade potiguar. Cascudo77 afirma que as atitudes sociais e desrespeitosas do
presidente da província Manoel Ribeiro da Silva Lisboa, o Parrudo, incomodavam membros
da loja. Segundo Tavares de Lira78, o presidente Parrudo era uma figura bastante conhecida
pela sua prepotência e libidinagem, tendo entrado em conflito com o Padre Brito Guerra e
mantido hostilidades pessoais com o Coronel Estevão José Barbosa de Moura, Maçom
atuante da província, que teria questionado essas atitudes libidinosas do presidente Parrudo.
Em seguida, o Sr. Parrudo iniciou uma perseguição a Estevam e a alguns membros da Loja,
por questões pessoais e políticas, ocasionando problemas para a administração da Loja e o
encerramento temporário das suas atividades, no ano de 1840.79
Não se conseguiu identificar quais foram esses problemas pessoais e políticos que
contribuíram para o fechamento da Loja, visto que nas atas da loja não foram registrados. No

75
Antônio José de Moura era tenente adjunto da força policial da província quando fora nomeado comandante
do corpo policial no período de 18 de dezembro de 1835 a 17 de agosto de 1838. Ver: WANDERLEY,
Rômulo C. História do Batalhão de Segurança – A polícia Militar do Rio Grande do Norte de 1834 a 1968. 1
ed. Natal/RN: Walter Pereira EDIÇOES, 1969.
76
SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001[1924], p. 12.
77
CASCUDO, Luís da Câmara. História do do Rio Grande do Norte. 2 ed. Natal: Fundação José Augusto; Rio
de Janeiro: Achiamé, 1984
78
LIRA, Augusto Tavares de. História do Rio Grande do Norte. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial,
2012. [1922] p. 283
79
SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001. [1924]
29

entanto, pode-se subentender que alguns desses problemas podem estar relacionados às
disputas por poder na província de grupos antagônicos que pertenciam à loja.
Neste sentido, Tavares de Lira80 afirma que, neste período, os homens políticos da
província congregavam-se em dois agrupamentos, nortistas e sulistas, que correspondiam aos
partidos Conservador e Liberal e assim como os termos saquaremas e luzias que viriam a ser
denominados depois, jamais formaram organizações homogêneas.
Percebe-se, portanto, que havia um elo entre a Maçonaria e o poder da província,
pelo ingresso de membros de poder na Loja Maçônica e pela ocupação de cargos públicos
provinciais por membros da loja, que ainda não tinham espaço no poder local.
É importante esclarecer que o presente estudo estabeleceu dois períodos para a
pesquisa da participação dos membros da Maçonaria em cargos públicos e na assembleia
provincial. O primeiro, no período entre a fundação da loja Sigilo Natalense, em 1836 até
1869, ano que antecede a questão religiosa nesta província. O segundo período, que foi de
1870 a 1875, período de eclosão da questão religiosa, a fundação do Jornal a Luz e a maior
propagação das ideias maçônicas na província.
Entre os anos de 1836 a 1869, observa-se que os maçons da Loja Sigilo Natalense
ocuparam cargos públicos estratégicos, conforme destacado nos quadros 2 e 3 a seguir. Essa
realidade permaneceu na década de 1870, em que os membros da Loja Maçônica 21 de Março
estavam ocupando diversos cargos na administração pública local e na assembleia provincial.
No quadro 2, são apresentados os cargos públicos ocupados por maçons da Loja 21
de Março no período de 1833 até 1870, demonstrando que nesse período membros da
Maçonaria possuíam um protagonismo na província.

QUADRO 2 – CARGOS PÚBLICOS NA PROVÍNCIA OCUPADOS POR MAÇONS


(1833-1870)
Nome Cargo/função na província
Alexandre Thomaz Seabra de Chefe da primeira secção da contadoria da Thesouraria Provincial
Mello da Província (1858-59). Chefe da primeira secção da contadoria da
Thesouraria Provincial da Província (1866-67) Chefe da polícia da
província (1867)
Aleixo Barbosa da Fonseca Professor (1863). Diretor Interino de instrução Pública (1867)
Tinoco
Amaro Carneiro Bezerra Juiz Municipal do termo da Imperatriz (Martins)(1850).
Cavalcante
André de Albuquerque Vice-presidente da província (1843-44)
Maranhão

80
LIRA, Augusto Tavares de. Op. cit. p. 283
30

André de Paiva Ferreira e Encarregados da obra da estrada de Natal a Extremoz (1850)


Albuquerque
Antônio José Moura Comandante da polícia local (1836-38). Tenente Ajudante de
Ordens (1843-44). Lente de geometria do Colégio Atheneo (1850-
52)
Antônio Basílio Ribeiro Dantas Vice-Presidente da província (1867;1868) Comissão de obras
(1872)
Basílio Quaresma Torreão Presidente da Província (1833-36)
Bartolomeu da Rocha Fagundes Presidente de província (julho de 1868 a setembro de 68),
(Vigário) deputado provincial (1848/9, 1850/1, 1864-5, 1866-7)
Berillo Leão Saraiva Inspetor da Alfandega (1877-78)
Bonifácio Francisco Pinheiro da Inspetor da Thesouraria de fazenda (1859-60)
Câmara
Estevão José Barbosa de Moura Vice-presidente da província (1842-43). Responsável pela ponte
de Macaíba (1859-60)
Francisco de Souza Ribeiro Chefe de polícia interino e Juiz municipal e de órfãos da cidade de
Dantas São José (1845-47) 1º suplente de Delegado (1863)
Francisco Xavier Pereira de Inspetor da instrução pública da província (1853-57)
Brito
Galdino Câncio de Afferes e delegado militar para o termo de Pau dos ferros (1863-
Vasconcellos Monteiro 66)
Hermógenes Barbosa Tinoco Diretor geral da instrucção pública interino
Joaquim Ferreira Nobre Pelica Secretário de Governo (1849)
Joaquim José de Lima e Silva Escrivão da Alfandega e da mesa de rendas em Natal/RN (1853-
57)
Joaquim Peregrino da Rocha Official maior da secretaria da Thesouraria provincial do
Fagundes RN(1866-67)
Joaquim Guilherme de Souza Secretário de Polícia da Província do RN (1866-67)
Caldas
João Rodrigues Lins Ajudante interino da alfândega e Oficial maior da Alfandega
(1866-67)
João Olympio de Oliveira Contratado para obra da ponte de Pitimbu e Cajupiranga.
Mendes
José da Costa Pereira Inspetor da Thesouraria provincial (1850-52)
José Gomes Ferreira Escrivão da despesa e receita da contadoria da Thesouraria
Provincial da província (1853-57). Chefe da segunda secção da
Thesouraria Provincial (1866-67).
José Alexandre de Amorim Promotor e comissão para reparos no edifício da cadeia e casa da
Garcia câmara da cidade de são José de Mipibu (1863)
José Ribeiro Dantas Presidente da Câmara
Manoel Teixeira Barbosa Presidente da Câmara Municipal (1824); Vice-presidente da
província (1838)
Mathias Carlos de Vasconcelos Alferes e administrador do armazém de artigos bélicos (1863)
Monteiro
Trajano Leocadio de Medeiros Encarregado de construir uma ponte sobre o Rio Trairi (1861-63).
Murta Delegado (1863) Vice-presidente da província (1863)
FONTES: 1) CASCUDO, Luís da Câmara. Governo do Rio Grande do Norte. Mossoró: ESAM, 1989.
2) SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte.
Natal / RN: Sebo Vermelho, 2001. p. 48-60.

É importante ainda evidenciar que, no século XIX, os cargos públicos eram ocupados
por aqueles que possuíam um certo nível de educação formal, a qual era mais acessível aos
31

homens da elite. Em geral, esses membros da elite foram estudantes nas primeiras faculdades
do Brasil, como a Faculdade de Olinda e Recife, que fora a base da formação de muitos
ocupantes dos cargos públicos das províncias do Norte.81
Uma tese a ser levantada é que, nessas primeiras faculdades do Brasil, esses jovens
tinham acesso às ideias revolucionárias e libertárias, inclusive muitos deles conheceram e
mantiveram contato com as ideias maçônicas, e assim ingressaram em academias e lojas
maçônicas nas províncias de Recife e Salvador, assim como aconteceu com aqueles jovens
que foram estudar em Portugal, Inglaterra e França, no período colonial, conforme apontado
por Barata.82
Da mesma forma, esse ingresso na Maçonaria exigia algum nível intelectual de seus
membros, e, portanto, era natural que os cargos públicos fossem ocupados pelos homens da
elite, que possuíam formação educacional e intelectual, e muitos deles eram maçons. E neste
sentido, é importante evidenciar a tese de Gramsci ao defender que diversos grupos
constituintes da sociedade civil disputam a ascensão política, a fim de ter maior poder, e
tornar-se um grupo dominante, capaz de influenciar as mentalidades das classes dominadas.83
Ainda nesse período, observou-se que a Loja Maçônica Sigilo Natalense e depois a
Loja Maçônica 21 de Março mantiveram uma forte presença na Assembleia Provincial, o que
demonstra que os mesmos buscavam conquistar um maior espaço de atuação política e social,
em busca de ter maior influência na sociedade local. A presença da Maçonaria nesses espaços
públicos pode ser explicada pela ocupação dessa arena de poder, que serviu para a defesa dos
interesses individuais e de seus grupos.

QUADRO 03: PRESENÇA DE MAÇONS NORTE-RIOGRANDENSE NA


ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA PROVINCIAL (1835-1869)
ANO MEMBROS Nº
1835-1837 Antônio Alvares Mariz, Elias Antônio Cavalcanti d’Albuquerque, João de 8
Oliveira Mendes, Joaquim Xavier Garcia de Almeida, Luís da Fonseca e
Silva, Padre Manoel José Fernandes, Padre João Teotônio de Souza e Silva,
Manoel Lins Wanderley.
1838-1839 Antônio Álvares Mariz, Antônio José de Moura, Basílio Quaresma Torreão, 11
Bartolomeu da Rocha Fagundes (Pai), Elias Antônio Cavalcanti
d’Albuquerque, João de Oliveira Mendes, Luis da Fonseca e Silva, Padre

81
PEREIRA, Nilo. A faculdade de Direito do Recife (1927-1977) – ensaio biográfico. Recife: Editora
Universitária, 1977. v. 2. VEIGA, Gláucio. História das ideias da faculdade de direito do Recife. Recife:
Editora Universitária/UFPE, 1984. v. 4.
82
BARATA, Alexandre Mansur. Maçonaria, sociabilidade ilustrada e independência (Brasil, 1790-1822). 2002.
373p. Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas,
Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2002. Disponível em:
<http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/280226>. Acesso em: 5 out. 2019.
83
FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001.
32

Manoel José Fernandes, Padre João Teotônio de Souza e Silva, Rafael


Arcanjo Galvão, Trajano Leocádio de Medeiros Murta.
1840-1841 Antônio Álvares Mariz, Antônio José de Moura, Basílio Quaresma Torreão 14
Júnior, Bartolomeu da Rocha Fagundes(Pai), Elias Antônio Cavalcanti
d’Albuquerque, Estevão José Barbosa de Moura, Francisco de Souza Ribeiro
Dantas, João de Oliveira Mendes, José da Costa Pereira, Luis da Fonseca e
Silva, Padre Manoel José Fernandes, Padre João Teotônio de Souza e Silva,
Rafael Arcanjo Galvão, Trajano Leocádio de Medeiros Murta.
1842-1843 Antônio Álvares Mariz, Antônio José de Moura, Basílio Quaresma Torreão 13
Júnior, Bartolomeu da Rocha Fagundes(Pai), Estevão José Barbosa de
Moura, Francisco de Souza Ribeiro Dantas, João de Oliveira Mendes, José
da Costa Pereira, Joaquim Francisco de Vasconcelos, Luis da Fonseca e
Silva, Padre Manoel José Fernandes, Padre João Teotônio de Souza e Silva,
Rafael Arcanjo Galvão, Trajano Leocádio de Medeiros Murta.
1844-1845 Antônio Álvares Mariz, Antônio José de Moura, Basílio Quaresma 12
Torreão Júnior, Bartolomeu da Rocha Fagundes (Pai), Estevão José Barbosa
de Moura, Francisco de Souza Ribeiro Dantas, João de Oliveira Mendes,
Joaquim Francisco de Vasconcelos, Luis da Fonseca e Silva, Padre João
Teotônio de Souza e Silva, Padre Manoel José Fernandes, Trajano Leocádio
de Medeiros Murta.
1846-1847 Antônio Álvares Mariz, Antônio José de Moura, Bartolomeu da Rocha 8
Fagundes, Francisco de Souza Ribeiro Dantas, Joaquim Francisco de
Vasconcelos, Luis da Fonseca e Silva, Padre Manoel José Fernandes,
Trajano Leocádio de Medeiros Murta
1848-1849 Antônio Álvares Mariz, Antônio José de Moura, Basílio Quaresma Torreão 8
Júnior, Padre Bartolomeu da Rocha Fagundes, Francisco de Souza Ribeiro
Dantas, João de Oliveira Mendes, Joaquim Francisco de Vasconcelos, Luis
da Fonseca e Silva, Padre Manoel José Fernandes, Trajano Leocádio de
Medeiros Murta.
1850-1851 Antônio Álvares Mariz, Antônio José de Moura, Padre Bartolomeu da Rocha 7
Fagundes, Francisco Ribeiro Dantas, Joaquim Francisco de Vasconcelos,
Padre Manoel José Fernandes, Trajano Leocádio de Medeiros Murta.
1852-1853 Amaro Carneiro Bezerra Cavalcanti, Bonifácio Francisco Pinheiro da 5
Câmara, Elias Antônio Cavalcanti d’Albuquerque, Jerônimo Cabral Raposo
da Câmara, Octaviano Cabral da Câmara.
1854-1855 Antônio Basílio Ribeiro Dantas, Bonifácio Francisco Pinheiro da Câmara, 4
Jerônimo Cabral Raposo da Câmara e Padre Manoel José Fernandes.
1856-1857 Amaro Carneiro Bezerra Cavalcanti, Antônio Basílio Ribeiro Dantas, 5
Jerônimo Cabral Raposo da Câmara, Luis da Fonseca e Silva.
1858-1859 Amaro Carneiro Bezerra Cavalcanti, Antônio Basílio Ribeiro Dantas, 3
Francisco Xavier Pereira de Brito.
1860-1861 Amaro Carneiro Bezerra Cavalcanti, Antônio Basílio Ribeiro Dantas, 6
Francisco Gomes da Silva, Francisco Xavier Pereira de Brito, Jerônimo
Cabral Raposo da Câmara, Manoel Ferreira Nobre Júnior.
1862-1863 Amaro Carneiro Bezerra Cavalcanti, Bonifácio Francisco Pinheiro da 4
Câmara, Francisco Xavier Pereira de Brito, Jerônimo Cabral Raposo da
Câmara,
1864-1865 Padre Bartolomeu da Rocha Fagundes; Francisco Gomes da Silva, 5
Hermógenes Joaquim Barbosa Tinoco; Jerônimo Cabral Raposo da Câmara;
Octaviano Cabral Raposo da Câmara,
1866-1867 Padre Bartolomeu da Rocha Fagundes, Hermógenes Joaquim Barbosa 5
Tinoco Câmara, Octaviano Cabral Raposo da Câmara, Francisco Gomes da
Silva, Luís Antônio Ferreira Souto.
33

1868-1869 Amaro Carneiro Bezerra Cavalcanti, Hermógenes Joaquim Barbosa Tinoco, 5


Francisco Xavier Pereira de Brito, Manoel Práxedes Benevides Pimenta,
Manoel Jerônimo Cabral.
FONTES: CASCUDO, Luís da Câmara. Uma história da Assembléia Legislativa Provincial do Rio
Grande do Norte. Natal/RN: Fundação José Augusto, 1972. Quadro de Obreiros e Relações de
legislaturas e administrações da Loja 21 de Março. In: SILVA, Josué; ESTEVAM, João;
FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal / RN: Sebo Vermelho, 2001. p.
48-60.

No quadro 3, é possível observar a forte presença de membros da Maçonaria


ocupando cargos na Assembleia Provincial, no período de 1835 a 1869, em que por quase 10
legislaturas, entre os anos de 1835 a 1845, membros da Maçonaria ocupavam mais de metade
das vagas da Assembleia Provincial, e em alguns períodos 2/3 das vagas dos legisladores da
província eram membros da Maçonaria potiguar. A Assembleia Provincial do Rio Grande do
Norte possuía um número total de 20 vagas.84
Essa análise permite afirmar que havia um elo entre membros da Maçonaria potiguar
com o poder provincial, e essa ligação e a forte presença demonstram que havia uma
estratégia em busca da hegemonia na sociedade potiguar.
Nesse sentido, concorda-se com Fairclough85 quando cita Gramsci e o seu conceito
sobre a hegemonia, em que defende que a “hegemonia é a liderança e a dominação
(econômica, política, cultura e ideológica) de uma sociedade, em detrimento à subordinação
de outros. E que o exercício da hegemonia se desenvolve no papel intervencionista do grupo
dominante na sociedade”.86
Essas disputas políticas por poder na província e os problemas de relacionamento
entre uma parte da elite local, pertencente a Loja Maçônica Sigilo Natalense, e o presidente da
província Manoel Ribeiro Lisboa, o Parrudo, podem ter contribuído para que no ano de 1840
a loja deixasse de funcionar. 87
A Província passou cinco anos sem possuir uma Loja maçônica para congregar seus
membros. Em 1845, mediante a iniciativa de alguns maçons, a loja voltaria a funcionar
através da realização de uma reunião para reabertura e instalação dos trabalhos maçônicos na

84
A Assembleia provincial do Rio Grande do Norte possuía 20 vagas legislativas, até o ano de 1857. A partir da
legislatura de 1858 passou para 22 vagas e dividiu a região em círculos e distritos. Ver: CASCUDO, Luís da
Câmara. Uma história da Assembléia Legislativa Provincial do Rio Grande do Norte. Natal/RN: Fundação
José Augusto, 1972. p. 262.
85
FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001.
86
Ibidem, p.122
87
SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001.[1924]. CASCUDO, Luís da Câmara. História da cidade do Natal. Natal - RN: Edição
Instituto Histórico e Geográfico (RN),1999. LIRA, Augusto Tavares de. História do Rio Grande do Norte.
Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2012. [1922] p. 283
34

província, tendo à frente a figura do Capitão da força policial Antônio José de Moura,
membro da loja Sigilo Natalense e do Padre Bartolomeu Fagundes, que era maçom atuante na
cidade de Recife, onde frequentava a Loja Maçônica Conciliação.88
A Loja Maçônica Sigilo Natalense funcionou normalmente, até surgirem
divergências políticas entre seus membros. Apesar de não haver nos registros da loja 21 de
março, nem na bibliografia pesquisada informações sobre quais foram as divergências
políticas e partidárias, acredita-se que essas discordâncias foram de cunho ideológico, haja
vista os Maçons que saíram da Sigilo Natalense para fundar a Loja Fortaleza e União seguiam
a liderança do Coronel Bonifácio Francisco Pinheiro da Câmara, político da linha dos
conservadores, enquanto o Padre Bartolomeu Fagundes estava ligado aos Liberais, assim
como foi o seu pai, o Bartolomeu Fagundes da Rocha.
E, assim, em 1856, maçons conservadores fundaram a segunda Loja Maçônica da
Província, a Loja Maçônica Fortaleza e União. Essa loja também funcionou na Rua da
Conceição, na cidade de Natal.
Os maçons Josué Silva; João Estevam e Emigdio Fagundes, em seu livro A
Maçonaria no Rio Grande do Norte89 destacaram o fato de que:

Em 1856 rivalidades partidárias reflectiram-se na Off.’., infelizmente, resultando


dahi a discórdia entre irmãos e amigos (…) não tardou muito que no seio de tão
dignos obreiros apparecessem rixas políticas, desgostos, etc., afirmando-se que o
Coronel Bonifácio F. Pinheiro da Camara desejava a chefia da Loja, por contar com
seu prestígio político, affirmando que o Vigário Bartolomeu procurava desprestigiar
os conservadores em proveito de seus correligionários Liberais.90

Apesar da dissidência, a fundação da Loja Fortaleza e União permitiu o início do


processo de expansão da Maçonaria nas terras potiguares, possibilitando a ambas facções
partidárias, e aos grupos políticos terem seus espaços de arena para discutir suas ideias e
articular suas estratégias em busca do poder na província. Essa busca por espaços de arena
visando alcançar o poder, estava acontecendo em todas as cidades do Império do Brasil,
conforme destaca Marcelo Basile:91

88 SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001.[1924]
89 SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001. [1924]
90
SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001. [1924]. P, 14
91
BASILE, Marcelo. O laboratório da nação: era regencial (1831-1840). In: Keila Grinberg; Ricardo Salles.
(Org.). Coleção O Brasil Império Vol III (1870-1889). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.
35

Nas principais cidades do Império, assiste-se a politização das ruas; a política


ultrapassa o tradicional espaço dos círculo palacianos e das instituições
representativas e transborda para a emergente esfera pública.92

A primeira diretoria da Loja Maçônica Fortaleza e União eleita para os anos de 1858-
1859 era composta pelos maçons:93

Joaquim Cândido Pessoa de Seixas – Venerável Mestre, Manoel Ferreira Nobre


Júnior – 1º Vigilante, Manoel Onofre de Andrade – 2º Vigilante, Dr. Francisco
Xavier Pereira de Brito – Orador, Joaquim Lourival de Mello Açucena – Secretário,
Joaquim Miguelino de Souza Santiago – Thesoureiro, Cosme Damião Barboza
Tinoco – Chanceler, José Antônio de Souza Caldas – Mestre de Cerimônias e Luiz
Fonseca e Silva – 1º Experto. 94.

Ao se analisar os membros que fundaram e assumiram a diretoria da Loja Fortaleza


União e comparar com os deputados provinciais, conforme Quadro 2, observa-se que pelos
menos 3 dentre os eleitos, no período de 1858 a 1862, eram maçons da Loja Fortaleza União:
Coronel Bonifácio Francisco Pinheiro da Câmara, Francisco Xavier Pereira de Brito e Manoel
Onofre Júnior.
A presença de membros da Maçonaria na Assembleia provincial estava perdendo
força, desde o ano de 1852, esse número vinha mantendo-se em média de cinco deputados,
bem aquém da década anterior, em que membros da Maçonaria sempre eram a maioria dos
deputados provinciais. Esse fato sugere que havia sim, discordâncias e rivalidades entre os
membros da Maçonaria potiguar nesse período que culminou com o surgimento da segunda
loja. Esse enfraquecimento da força política da Maçonaria na província, em razão das
discordâncias e dos embates políticos, entre os seus grupos antagônicos, observado pela
diminuição de membros da Maçonaria na assembleia provincial nesse período (1850-1860),
exige uma pesquisa mais aprofundada e pretende-se em um futuro, envidar esforços nesse
sentido.
E foi nesse cenário que, apesar da iniciativa desses maçons, a Loja Maçônica
Fortaleza e União não conseguiu estabelecer-se e permanecer funcionando por muito tempo.
Frente às dificuldades enfrentadas pela Loja Fortaleza e União, os membros da Loja liderados
pelo Coronel Bonifácio Francisco Pinheiro da Câmara aceitaram a proposta do Vigário
Bartolomeu Fagundes, membro da Loja Maçônica Sigilo Natalense, para haver uma fusão das
duas lojas existentes, dando origem a outra a ser fundada.

92
Ibidem, p. 62
93 SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001. [1924].
94
SILVA, ESTEVAM, FAGUNDES, Op. Cit., p. 17.
36

Este aceite dos maçons da Loja Fortaleza e União para se fundir com a Sigilo
Natalense demonstra que possivelmente um grupo cedeu ao outro, e neste caso tudo indica
que o grupo liderado pelo Vigário Bartolomeu Fagundes, que era ligado ao Partido Liberal,
saiu fortalecido, uma vez que ele veio a ser o Venerável Mestre da nova Loja fundada, a partir
desse entendimento, que ocasionou o fim da Loja Fortaleza e União, e depois fundação da
Loja Maçônica 21 de Março.
Assim, sob a liderança do Vigário Bartolomeu Fagundes, no dia 21 de março de
1867, os membros das duas lojas maçônicas atuantes em Natal se uniram, e por meio de uma
fusão, fundaram à Loja Maçônica 21 de Março, que se tornou a Sociedade Maçônica de maior
expressão na Província, no século XIX até os dias atuais.
A Fundação da Loja Maçônica 21 de Março, em 1867, ocorreu com a participação
dos seguintes maçons:95

Vigário Bartholomeu da Rocha Fagundes, Bonifácio Francisco Pinheiro da Câmara,


Dr. Francisco Xavier Pereira de Britto, Dr. Hermógenes Joaquim Barboza Tinoco,
Joaquim Francisco de Oliveira Relâmpago, José Antônio de Souza Caldas, José
Ignácio de Britto, João Manoel de Carvalho, Alexandre Thomaz Seabra de Mello,
Aleixo Barboza da Fonseca Tinôco, José Lourenço de Almeida, Padre João Carlos
de Souza Caldas, José Gomes Ferreira, Joaquim Guilherme de Souza Caldas, João
Olympio de Oliveira Mendes, Mathias Carlos de Vasconcelos Monteiro, José Dias
Pimenta, Francisco Gomes da Rocha Fagundes, Padre Francisco de Paula Soares da
Camara, Joaquim Lourival de Mello Açucena, Manoel Pedro Alves, Manoel Onofre
Andrade, José Francisco de Paula Moreira Gloria e Joaquim José de Lima e Silva.96

O surgimento da Loja Maçônica 21 de Março e o fortalecimento dos seus quadros,


com membros das diversas vilas e regiões da província favoreceu a expansão da Maçonaria na
província do Rio Grande do Norte, e possibilitou que esses homens, através do ideal e da
causa da Maçonaria fossem agentes de transformação em todas as regiões da província do Rio
Grande do Norte.
Esses membros das diversas regiões da Província que iniciaram na Loja 21 de Março
organizaram, ainda no século XIX, a fundação de outras Lojas Maçônicas a saber: Loja
Maçônica 24 de Junho, em Mossoró (1873); Loja Maçônica Amor e Sinceridade, em Macau
(1891) e Loja Maçônica Filhos da Fé, em Natal (1899).
Neste sentido, uma interessante pesquisa que se pretende realizar no futuro, é sobre a
naturalidade desses homens que iniciaram na Maçonaria Potiguar, no século XIX, e como eles
promoveram e foram agentes de transformação em suas vilas e regiões.

95 SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001. [1924].
96
Ibidem, p. 19.
37

Esse movimento de homens da elite local, buscando ingressar na Ordem Maçônica,


demonstrava que a Maçonaria se tornara uma importante arena política e que serviria de apoio
a esses grupos em prol do alcance dos seus interesses, pois as lojas maçônicas eram um lugar
de fala, discussão e construção de ideias. E quando estavam organizados em loja, os maçons
assumiam o compromisso solene de não divulgar os assuntos tratados em suas reuniões,
garantindo a liberdade de expressão a todos, que estariam protegidos pelo segredo.
A respeito da importância da Loja Maçônica e do compromisso do segredo entre os
maçons, Kosellec97 destaca que essa condição garantiria mais liberdade aos maçons a se
expressarem livremente, sem o medo de punição pelos regimes autoritários, o que tornava as
Lojas Maçônicas um espaço ideal para as discussões políticas diante do poder constituído e
fora do controle hegemônico das monarquias absolutistas ou sistemas políticos autoritários.
Para os pesquisadores Marco Morel98, Alexandre Mansur Barata99 e Luaê Ribeiro100
é possível depreender que as lojas maçônicas formavam um espaço que servia para criar e
intensificar os laços sociais e políticos entre os membros das elites econômicas das
províncias, no século XIX.
No entanto, no período entre os anos de 1860 a 1870, a Maçonaria no Brasil esteve
dividida em dois grandes grupos que lutavam pela hegemonia da Ordem Maçônica. Existiam
duas potências maçônicas nacionais, que eram os poderes centrais da Maçonaria brasileira,
que congregava diversas lojas maçônicas das províncias.101 Essas lojas filiavam-se a uma
potência maçônica e assim ficavam sobre a jurisdição dessas, devendo obediência e fidelidade
no território.

97
KOSELLECK, Reinhart. Crítica e crise: uma contribuição à patogênese do mundo burguês. Tradução do
original alemão [de] Luciana Villas-Boas Castelo-Branco. RJ: EDUERJ: Contraponto, 1999.
98
MOREL, Marco. Sociabilidades entre Luzes e sombras: apontamentos para o estudo histórico das maçonarias
da primeira metade do século XIX. Revista Estudos Históricos, v. 2, n. 28, p. 3-22, 2001.
99
BARATA, Alexandre Mansur. Maçonaria, sociabilidade ilustrada e independência (Brasil, 1790-1822). 2002.
373p. Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas,
Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2002. Disponível em:
<http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/280226>. Acesso em: 5 out. 2019.
100
RIBEIRO, Luaê Carregari Carneiro. Uma América em São Paulo: a maçonaria e o partido republicano
paulista (1868-1889). 2011. Dissertação de mestrado. Universidade de São Paulo.
Disponível:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-09112012-091354/en.php Acesso em 20 Set.
2019.
101
Potência maçônica ou obediência maçônica é a administração superior de um grupo de lojas. Ver:
CAMARGO, Felipe Côrte Real de. "Protect the integrity ": regularidade no discurso das relações maçônicas
internacionais entre Brasil e Inglaterra (1880-2000). REHMLAC – Revista de Estudios históricos de la
masoneria Latinoamericana y Caribēna, San Pedro, Montes de Oca , v. 8, n. 1, p. 131-
151, Dec. 2016.Disponível: <http://www.scielo.sa.cr/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1659-
42232016000200131&lng=en&nrm=iso.> Acesso: 25 Mar 2020.
38

Essas potências eram: Grande Oriente do Lavradio, sob a liderança do Visconde do


Rio Branco102, e Grande Oriente dos Beneditinos, comandado por Saldanha Marinho.103
Longe de se constituir em uma ordem homogênea, a história da Maçonaria no Brasil foi
marcada por disputas e divisões. O contexto da política nacional e os debates do período
influenciaram diretamente a trajetória da ordem maçônica.104
A respeito da cisão na Maçonaria brasileira, Alexandre Barata105 corrobora as razões
de ordem política que a provocaram.

Tal divisão certamente pode ser atribuída a descontentamentos quanto ao processo


eleitoral ocorrido para a direção do Grande Oriente do Brasil. Mas é preciso ressaltar
que o grupo liderado por Saldanha Marinho sofria grande influência da corrente
maçônica francesa e não aceitava a ideia que identificava exclusivamente Maçonaria
com filantropia. [...]. As razões, mais uma vez, devem ser buscadas nas diferentes
concepções dos dois círculos quanto à forma de atuação da instituição, bem como
nos diferentes projetos políticos de Saldanha Marinho e do visconde do Rio
Branco.106

Percebe-se que as disputas políticas também estavam presentes na maçonaria


Brasileira, tal qual ocorreriam na corte. E esta situação já havia existido, no período colonial,
com a crise entre José de Bonifácio e Gonçalves Ledo, que tinham visões diferentes de Nação,
para o Brasil, e desejavam que a Maçonaria tivesse um posicionamento de acordo com as suas
ideias e visões.107
Mesmo com essas disputas internas e divisões, é possível observar que, através dessa
“sociabilidade maçônica”, eram criados e reforçados laços de solidariedade e compromisso
para a vida cotidiana, incluindo direito à proteção e aos benefícios obtidos a partir dessas
relações.
Acredita-se que na província do Rio Grande do Norte esse cenário não era diferente,
pois a Maçonaria é uma organização que se denomina universal, seus membros aceitam os
princípios da fraternidade e devem manter laços de solidariedade, e sempre apoiar e ajudar os

102
José Maria da Silva Paranhos foi um estadista, diplomata, militar, e maçom jornalista brasileiro. Chegou a
exercer o cargo de presidente do conselho de ministros do Império do Brasil.
103
Joaquim Saldanha Marinho foi jornalista, sociólogo, político e maçom no século XIX. Durante o império, foi
Deputado Geral por cinco legislaturas.
104
GONÇALVES, Thiago Werneck. “Periodismo maçônico e cultura política na corte imperial brasileira
(1871-1874).” Dissertação de mestrado em História, Universidade Federal Fluminense, 2012. Disponível em:
<http://www.historia.uff.br/stricto/td/1588.pdf>. Acesso em: 25 set. 2019.
105
BARATA, Alexandre Mansur. Luzes e Sombras: a ação da Maçonaria Brasileira (1870 – 1910). Editora da
Unicamp, coleção Tempo e Memória n°14, 1999. p. 69-70.
106
BARATA, Alexandre Mansur. Maçonaria, sociabilidade ilustrada e independência do Brasil (1790-1822).
São Paulo-Juiz de Fora: Annablume-EDUFJF-FAPESP, 2006, p. 69-70.
107
BARATA, Alexandre Mansur. Maçonaria, sociabilidade ilustrada e independência do Brasil (1790-1822).
São Paulo-Juiz de Fora: Annablume-EDUFJF-FAPESP, 2006.
39

membros da Ordem Maçônica quando esse assim o precisar. O apoio ao revolucionário e


Maçom Cipriano Barata, que a Loja Sigilo Natalense prestou, quando o mesmo chegou a esta
província é um exemplo claro dessa sociabilidade e a ajuda e proteção que a Maçonaria
ofereceu e oferece a seus membros.
E foi nesse cenário de fortalecimento da Maçonaria no Brasil, que eclodiu a Questão
Religiosa, um conflito entre o Governo Imperial e a Igreja Católica, entre os anos de 1870 a
1875 que dividiu a sociedade brasileira em dois grupos: àqueles favoráveis às medidas do
Governo Imperial; e, outros, que eram favoráveis às medidas estabelecidas pelos bispos
brasileiros108. Esse conflito envolveu três instâncias: o episcopado brasileiro, as autoridades
civis imperiais, e a Maçonaria brasileira do período imperial.
A Maçonaria brasileira viu-se envolvida nesse conflito, em razão de possuir padres
em seus quadros e esses, em geral, eram muito ativos nas suas lojas e nas suas vilas e
províncias. Para Thiago Werneck Gonçalves,109 no Brasil, o estopim do conflito aconteceu
quando o padre Almeida Martins, também maçom, proferiu um sermão – usando linguagem
maçônica – para saudar a aprovação da Lei do Ventre Livre, que fora proposta pelo Visconde
do Rio Branco, presidente do Conselho de Ministros e Grão Mestre da Maçonaria.
O padre-maçom Almeida Martins foi suspenso pelo Bispo da Cidade de São
Sebastião do Rio de Janeiro, o que provocou a revolta dos maçons da capital do Império, que
viram nesse ato uma perseguição e assim se uniram para combater as ações do alto clero.110
Esse conflito também chegara às províncias do Norte, através do Bispo de Olinda e
Recife, Dom Vital, que iniciou uma campanha para expulsar das irmandades do Santíssimo
Sacramento seus membros que fossem maçons, podendo até fazer o ato de excomunhão e
exigir que padres maçons abjurassem a Maçonaria. O bispo de Olinda e Recife inclusive
puniu dois sacerdotes que não abriram mão de participar da Maçonaria e impediu que fosse
celebrado o casamento de um Maçom.111
O período de 1870 a 1875 foi um período de muita efervescência na Maçonaria
brasileira, em razão da questão religiosa, na qual a Maçonaria tornou-se uma das partes
atuantes nesse conflito, já que maçons brasileiros foram perseguidos pelos bispos

108
COSTA, Emília Vioti da. Da Monarquia à República: momentos decisivos. 5 ed. São Paulo-SP: Editora
brasiliense, 1987.
109
GONÇALVES, Thiago Werneck. “Periodismo maçônico e cultura política na corte imperial brasileira
(1871-1874).” Dissertação de mestrado em História, Universidade Federal Fluminense, 2012. Disponível em:
<http://www.historia.uff.br/stricto/td/1588.pdf>. Acesso em: 25 set. 2019.
110
Ibidem, p. 50.
111
Ibidem, p. 50.
40

ultramontanos112 da Igreja Católica, que defendiam uma maior concentração do poder


eclesiástico nas mãos do papado, além de se posicionar contra uma série de atitudes
consideradas erradas e perigosas para a Igreja.113 O conflito foi mais acentuado nas Províncias
de Pernambucos, Rio Grande do Norte e Pará.114
Na província do Rio Grande do Norte, a questão religiosa ganhou uma dimensão
maior, em razão da punição ao Vigário Bartolomeu da Rocha Fagundes115, vigário de Natal, e
a principal liderança da Loja Maçônica 21 de Março, que decidiu enfrentar o Bispo D.
Vital.116
Neste período, observa-se que a Maçonaria potiguar buscou manter a sua hegemonia
na Província do Rio Grande do Norte, assim como fazia no período compreendido entre os
anos de 1836 a 1869, em que que maçons potiguares estiveram ocupando cargos públicos
estratégicos, conforme destacado nos quadros 2 e 3.
Essa realidade permaneceu na década de 1870, em que os membros da Loja
Maçônica 21 de Março estavam ocupando diversos cargos na administração pública local e na
Assembleia Provincial, e mantendo assim o poder hegemônico.
É importante destacar o pensamento de Gramsci que, ao discutir o papel dos
funcionários públicos e as suas relações políticas e sociais no Estado Moderno, assevera que
os mesmos não podem ser considerados cidadãos formados simplesmente para a “carreira”,
eles são seres políticos, e, portanto, possuíam interesses e estão vinculados a grupos.117
A seguir, apresenta-se um quadro em que são apresentados os cargos públicos
ocupados por maçons na província do Rio Grande do Norte, considerando-se o recorte
temporal (1870 a 1875), período que antecedeu a questão religiosa e que se percebeu uma
considerável expansão tanto das ideias e da imprensa maçônica como da sua atuação no Brasil
e nessa província.
112
A influência ultramontana chegou ao Brasil principalmente através das encíclicas Quanta Cura e Syllabus
Errorum, formuladas pelo então Papa Pio IX, que pregava a moralização de toda sociedade e visava o combate
aos chamados “erros modernos”. Ver: VIEIRA, David Gueiros. O protestantismo, a maçonaria e a questão
religiosa no Brasil. Brasília: editora da UNB, 2a edição, s/d. p. 32-33.
113
Sobre Ultramontanismo Ver: VIEIRA, David Gueiros. O protestantismo, a maçonaria e a questão religiosa no
Brasil. Brasília: editora da UNB, 2ª edição, s/d. p. 32-33.
114
SILVA, Maiara Juliana Gonçalves da. A questão religiosa no Rio Grande do Norte: conflito político entre a
Maçonaria e a Igreja Católica no Século XIX (1873-1875). Trabalho de conclusão do curso de História na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2012.
115
Vigário Bartolomeu Fagundes era maçom filiado a Loja Conciliação, em Recife, desde o period que for a
seminarista em Olinda. Ver: FAGUNDES, Antônio. O Vigário Bartolomeu (Traços Biográficos e Notas da
Questão Religiosa no Rio Grande do Norte) Natal: 1973.
116
Ver: SILVA, Maiara Juliana Gonçalves da. A questão religiosa no Rio Grande do Norte: conflito político
entre a Maçonaria e a Igreja Católica no Século XIX (1873-1875). Trabalho de conclusão do curso de História na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2012.
117
GRAMSCI, Antonio. Maquiavel, a Política e o Estado Moderno. 6a. Ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1988, p. 82.
41

QUADRO 4 – CARGOS PÚBLICOS NA PROVÍNCIA OCUPADOS POR MAÇONS


DA LOJA 21 DE MARÇO (1870-1875)
Nome Cargo/função na província
Bartolomeu da Rocha Fagundes Vereador de Natal (1872). Vice-presidente (julho de 1876 a
agosto de 1876)
Capitão Antônio Pinto de Moraes Oficial da Força Pública (1870-71), Capitão da força policial
Castro (1870)
Capitão José Ignácio de Brito Adjunto do Promotor público da Comarca e termo da capital
(1872)
Francisco Gomes da Silva Ex-diretor da instrucção pública (1870) Diretor de Instrucção
pública da Província (1872)
Francisco de Souza Ribeiro Juiz Municipal do Termo de São José de Mipibu (1876).
Dantas
Francisco Xavier Pereira de Brito Diretor interino da instrução pública (1872)
Galdino Câncio de Vasconcellos Responsável pelo depósito de artigos bélicos (1872)
Monteiro
Genésio Xavier Pereira de Brito 1º Escripturário da província (1870)
Joaquim Guilherme de Souza Secretário de Polícia da Província do RN (1866-67) e (1870-71)
Caldas
José Ferreira Nobre Pelinca Alferes (1871-72)
Jeronimo Cabral Raposo da Director Geral de Instrução Pública (1870-71) Vice-Presidente e
Câmara presidente da Província (1871). Presidente da Assembléia
Legislativa Provincial (1870-1871)
José Lourenço de Almeida Contador para obra da Gamboa do atalho (1870-71)
Joaquim Guilherme de Souza Secretário de Polícia da Província do RN (1870-71)
Caldas
Joaquim Peregrino da Rocha Inspetor secretaria da Thesouraria provincial do RN (1870-71)
Fagundes
Luiz Antônio Ferreira Souto Juiz municipal do termo de São José (1873-75).
Manoel Quintiliano da Silva Promotor público da comarca de Natal (1872)
FONTES: CASCUDO, Luís da Câmara. Governo do Rio Grande do Norte. Mossoró: ESAM, 1989. E
Relações de legislaturas e administrações da Loja 21 de Março. In: SILVA, Josué; ESTEVAM, João;
FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal / RN: Sebo Vermelho, 2001. p.
48-60.

De acordo com o quadro 4 é possível constatar que os membros da Loja Maçônica 21


de Março estavam ocupando cargos públicos importantes na província, fato esse, que
comprova a influência e o poder que esse grupo social exercia na sociedade local.
Essa presença dos membros da Loja Maçônica 21 de Março na vida cotidiana da
Província não se resumia aos cargos públicos administrativos, pois eles também tinham
conquistado cargos eletivos, e detinham diversos cargos na Assembleia Provincial, chegando
inclusive a presidi-la.
A seguir, no Quadro 05, apresenta-se relação dos membros da Loja Maçônica 21 de
Março que assumiram cargos como deputados na Assembleia Provincial, com seus
respectivos mandatos, no período do recorte temporal de 1870 a 1875.
42

QUADRO 05: PRESENÇA DA MAÇONARIA NORTE-RIOGRANDENSE NA


ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA PROVINCIAL (1870-1875)
ANO MEMBROS
1870-1871 Cosme Damião Barbosa Tinoco; Francisco Gomes da Silva; Dr. Henrique Leopoldo
Soares da Câmara; Jerônimo Américo Raposo da Câmara; Jerônimo Cabral Raposo da
Câmara; José Alexandre de Amorim Garcia; Octaviano Cabral da Câmara.
1872-1873 Cosme Damião Barbosa Tinoco; Francisco Gomes da Silva; Dr. Henrique Leopoldo
Soares da Câmara; Jerônimo Cabral Raposo da Câmara; José Alexandre de Amorim
Garcia; Bonifácio Francisco Pinheiro da Câmara; Luís Antônio Ferreira Souto;
1874-1875 Antônio Pinto de Moraes Castro; Bonifácio Francisco Pinheiro da Câmara; Cosme
Damião Barbosa Tinoco; Dr. Henrique Leopoldo Soares da Câmara; Francisco Gomes
da Silva; Jerônimo Cabral Raposo da Câmara; Luís Antônio Ferreira Souto;
FONTES: 1) CASCUDO, Luís da Câmara. Uma história da Assembléia Legislativa Provincial do Rio
Grande do Norte. Natal/RN: Fundação José Augusto, 1972. 2) Relações de legislaturas e
administrações da Loja 21 de Março. In: SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A
Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal / RN: Sebo Vermelho, 2001. p. 48-50.

Ao analisar o quadro 5, percebe-se que os membros da Maçonaria ocupavam uma


parte considerável das cadeiras de Deputado na Assembleia Provincial, demonstrando que,
provavelmente, os seus membros tinham um papel central nas decisões políticas da província.
É importante ainda evidenciar que esses políticos e maçons representavam os intelectuais da
província, e buscavam ocupar esses espaços para expressar suas ideias, princípios e
principalmente, defenderem os interesses do seu grupo social, através do desempenho na
ocupação dos aparelhos administrativos e políticos provinciais.
Portanto, essa articulação fraterna possibilitava a Maçonaria na província do Rio
Grande do Norte (que tinha em seu seio funcionários públicos, políticos e militares) ocupar as
funções administrativas, organizar e direcionar a política e instrução na Província, tornando-a
um dos principais atores da construção da sociedade local, assim como acontecia nas outras
províncias do Império.
Dentre os maçons potiguares que mais se destacaram na província do Rio Grande do
Norte, no século XIX, a maioria era membro da Loja Maçônica 21 de Março, primeira loja
maçônica da província e a mais atuante do período, visto que a Loja Maçônica 24 de junho, de
Mossoró, fora fundada em 1873 e as demais no fim daquele século.
Assim, a Loja maçônica 21 de Março era o local de reunião dos principais maçons da
província e destacadamente a principal arena de discussão e articulação das ideias e fonte de
propagação do ideário e dos princípios maçônicos, tais como: a Liberdade, Igualdade e
Fraternidade.
43

Os maçons da loja não se restringiam apenas a se reunir ritualisticamente; discutiam


e propunham ações a fim de implementar as suas ideias, tais como a criação da caixa de
socorro maçônico e de uma escola de artífices, em 1873, proposta pelos maçons Francisco
Gomes da Silva, que era o presidente da Assembleia Legislativa provincial e José Gomes
Ferreira, funcionário público e editor responsável pelo Jornal A LUZ.118
A caixa de socorro maçônico chegou a funcionar e objetivava ajudar e apoiar os
maçons e seus familiares em situação de dificuldades econômicas-financeiras, enquanto a
escola de artífices foi pensada para colaborar na formação profissional dos jovens da cidade
do Natal, mas não chegou a ser implementada.
A Maçonaria Brasileira foi um grupo atuante nesse conflito, dentro dessa Sociedade
Imperial, dado que vários membros da Maçonaria eram do Clero, e não se sujeitaram às
ordens dos Bispos. Na província do Rio Grande do Norte, esse conflito ocorreu porque
membros do Clero que eram maçons não obedeceram às ordens do Bispo de Olinda e Recife,
Dom Vital, de abjurar a Maçonaria e excomungar maçons das ordens religiosas.119
Em 1873, quando eclodiu a questão religiosa na Província do Rio Grande do Norte, a
Maçonaria já estava constituída e era bastante atuante, com grande protagonismo nos
principais espaços públicos da província, conforme demonstrado nos Quadros 3 e 4.
Na Província do Rio Grande do Norte, uma personalidade que se destacou foi o
padre e maçom Bartolomeu da Rocha Fagundes, Venerável Mestre da Loja Maçônica 21 de
Março e Vigário de Natal. O Vigário Bartolomeu tornou-se o ator principal do movimento da
Questão Religiosa na província potiguar, ao não cumprir as decisões do Bispo de Olinda e
Recife, Dom Vital, que ordenara que todos os Padres e Vigários da Igreja Católica que fossem
maçons deveriam deixar de participar da sociedade maçônica, assim como não realizar os
sacramentos a membros da Maçonaria.
O Vigário Bartolomeu Fagundes, através de sua liderança popular e como líder da
Loja Maçônica, resistiu às pressões do Bispo Ultramontano da Igreja Católica e não
abandonou a Maçonaria, nem concordou com a excomunhão e exclusão de maçons das ordens
religiosas, e continuou a realizar os sacramentos religiosos a membros da Maçonaria, e assim
enfrentou a decisão do Bispo Dom Vital, da Diocese de Olinda, Recife e Natal, o que causou
o seu afastamento das suas funções religiosas, como vigário de Natal.

118
SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001, p, 28.
119
SILVA, Maiara Juliana Gonçalves da. A questão religiosa no Rio Grande do Norte: conflito político entre a
Maçonaria e a Igreja Católica no Século XIX (1873-1875). Trabalho de conclusão do curso de História na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2012.
44

Nesse conflito de ideias antagônicas e visões de mundo distintas entre a Maçonaria e


os Bispos Ultramontanos120 da Igreja Católica, percebe-se que a Loja Maçônica 21 de Março
teve um papel preponderante na defesa dos ideais maçônicos, visto que, com a sua força
política na província conseguiu fundar e distribuir um jornal periódico “A LUZ”, com o
objetivo de propagar as ideias maçônicas, noticiar as atividades da Maçonaria na província,
além de combater as ações do Bispo Ultramontano Dom Vital.
Com relação às ideias e à causa da Maçonaria, será dedicado o próximo capitulo para
realizar a análise do Jornal “A LUZ”, que foi um importante meio utilizado pela Loja
Maçônica 21 de Março para propagar a causa da Maçonaria.
A força política da Maçonaria potiguar pode ser comprovada com a presença de
diversos membros da Loja 21 de Março nos cargos mais importantes da Província, inclusive
como deputados provinciais. Observa-se que, em 1873, momento da eclosão da Questão
Religiosa no Brasil, havia sete deputados provinciais que eram maçons na Assembleia
Provincial do Rio Grande do Norte, demonstrando a importância política e a capacidade de
articulação e de influência da Sociedade Maçônica no Rio Grande do Norte.
A presença no âmbito Legislativo de maçons ratifica a importância desses grupos
sociais por meio da participação política, da formação e da organização da sociedade norte-
rio-grandense. Assim, membros da Loja Maçônica 21 de Março, além de ocupar os mandatos
legislativos, também conseguiram conquistar a presidência da Assembléia Provincial, no
período de 1870 a 1875.

QUADRO 06: MAÇONS DA LOJA 21 DE MARÇO PRESIDENTES DA


ASSEMBLÉIA PROVINCIAL DO RIO GRANDE DO NORTE
Nº MEMBROS CARGO
1870 Bel. Jerônimo Cabral Raposo da Câmara Presidente
1871 Bel. Jerônimo Américo Raposo da Câmara Presidente
1872 Bel. Francisco Gomes da Silva Presidente
1873 Bel. Francisco Gomes da Silva Presidente
1874 Bel. Francisco Gomes da Silva Presidente
1875 Bel. Francisco Gomes da Silva Presidente
Fonte: 1) CASCUDO, Luís da Câmara. Uma história da Assembléia Legislativa Provincial do Rio
Grande do Norte. Natal/RN: Fundação José Augusto, 1972; 2) SILVA, Josué; ESTEVAM, João;
FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal / RN: Sebo Vermelho, 2001.

A Assembleia Provincial era o centro do poder legislativo e percebe-se que a


presença de membros da Maçonaria reforça a tese da busca de poder para a defesa dos
120
Ver: VIEIRA, David Gueiros. O protestantismo, a maçonaria e a questão religiosa no Brasil. Brasília: Editora
Universidade de Brasília, 1980.
45

interesse desses grupos, visto que através da participação nas decisões legislativas da
província, possibilitava influir nos destinos e na defesa dos interesses de seus grupos sociais,
conforme destacado pela teoria de Gramsci121, em que a busca da hegemonia pressupõe a
conquista do consenso e da liderança cultural e político ideológica. E que todo o grupo social
para a conquista do domínio hegemônico deve tentar assimilar os intelectuais tradicionais,
representantes da estrutura econômica anterior e elaboradores do sistema hegemônico da
classe dominante.122
De fato, observa-se que essa foi uma estratégia adotada pela Maçonaria potiguar
nesse período, desde a criação da loja, em 1837 até o período da Questão Religiosa, quando a
Loja Maçônica 21 de Março foi a principal protagonista na defesa do ideário maçônico na
província, e para tanto, seus líderes buscaram iniciar e inserir no seio da Loja os intelectuais e
lideranças políticas, militares e intelectuais da província, a fim de fortalecer os laços
fraternais e contribuir para que as ideias maçônicas de progresso e liberdade fossem a pauta
do desenvolvimento da província.
Durante os anos entre 1870 e 1875, os principais cargos da Loja Maçônica – ver
Quadro 1, eram ocupados pelos maçons: Vigário Bartolomeu da Rocha Fagundes, José
Gomes Ferreira, Alexandre Thomaz Seabra de Mello, Antônio Pinto de Moraes Castro e
Francisco Gomes da Silva, todos ocupando cargos de destaque na administração da província
ou na assembleia provincial.123
Assim, observa-se que os mais importantes cargos provinciais (presidente de
Província, vice-presidente de Província, secretários, inspetores, capitão de polícia, deputados)
eram ocupados por membros da Loja Maçônica 21 de Março, destarte, pode-se conjecturar
que os interesses da Maçonaria estariam sendo bem defendidos politicamente. No entanto,
essa tese exigirá mais pesquisas para ser confirmada.
Portanto, observa-se que a atividade da Maçonaria potiguar foi bastante intensa no
século XIX, bem como em outras províncias do Império, em que as organizações maçônicas
também eram utilizadas para propagar ideias e causas, a fim de influenciar e transformar os
destinos da colônia e, depois das províncias do Império do Brasil
No capítulo 2 deste trabalho, será abordado uma outra importante estratégia utilizada
pela Loja Maçônica 21 de Março, para continuar a propagar e difundir os princípios e ideias

121
GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultura. 9a. Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1995.
122
GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultura. 9a. Ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1995.
123
SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001 [1924].
46

maçônicos no século XIX, que foi a fundação, impressão e distribuição de um periódico


maçônico, intitulado a “A LUZ”.
47

3. O PERIÓDICO MAÇÔNICO “A LUZ” (1873-1874) E A CAUSA DA MAÇONARIA


NA PROVÍNCIA DO RIO GRANDE

A imprensa periódica teve um papel bastante importante para a vida da sociedade


brasileira do século XIX, também conhecido como oitocentos. Os jornais impressos foram
meios de divulgação de notícias e propagação de ideias de grupos que buscavam a hegemonia
e a capacidade de influenciar os destinos de suas províncias. Outrossim, os periódicos e
jornais tornaram-se importantes fontes históricas para pesquisadores, que desejam conhecer o
passado e o presente.
Maria Helena Capelato124 assevera que os jornais são um dos mananciais mais férteis
para o conhecimento do passado e possibilita aos historiadores acompanhar o percurso dos
homens através do tempo. Já para Marcelo Cheche Galves125 é através dos jornais e
periódicos que é possível aprender a movimentação política de uma época e de uma região.
No entanto, é necessário que os pesquisadores sejam capazes de compreender as articulações
e elos entre as ideias propagadas, com seus produtores e os interesses em jogo na dinâmica da
política provincial e do Império.126
Marcelo Basile, em o laboratório da Nação, destaca que a imprensa conheceu
desenvolvimento sem precedentes na década de 1830, em que houve uma forte expansão de
publicações nas províncias em que já havia tipografias - Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco,
Maranhão, Pará, Minas Gerais, Ceará, Paraíba, São Paulo, Rio Grande do Sul e Goiás. E na
década de 1840, a Imprensa expandia-se para as províncias de Santa Catarina, Alagoas, Rio
Grande do Norte, Sergipe e Espírito Santo.127
Na província do Rio Grande do Norte, a primeira publicação na imprensa ocorreu em
1832, com o advento do periódico o Natalense, fundado por iniciativa do padre e educador
Francisco de Brito Guerra. O Natalense foi impresso, nos primeiros meses, nas províncias do
Maranhão, Ceará e Pernambuco. Em fins de 1832, o jornal passou a ser impresso na cidade de
Natal, na província do Rio Grande do Norte, na Typografia Natalense.128

124
CAPELATO, Maria Helena R. Imprensa e história do Brasil. São Paulo: Contexto/EDUSP,1988.
125
GALVES, Marcelo Cheche. “Ao público sincero e imparcial”: imprensa e independência do Maranhão (1821-
1826). Niterói: UFF, 2010. Tese de Doutorado – Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências
Humanas e Filosofia, Departamento de História, Niterói:2010.
126
Ibidem
127
BASILE, Marcelo. O laboratório da nação: era regencial (1831-1840). In: Keila Grinberg; Ricardo Salles.
(Org.). Coleção O Brasil Império Vol. III (1870-1889). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.
128
FERNANDES, Luiz. A imprensa periódica no Rio Grande do Norte – de 1832 a 1908. 2a. Ed. Natal: Sebo
vermelho, 1998, p. 29.
48

Basile129 relaciona a expansão e o desenvolvimento da imprensa no Brasil Imperial


com as disputas políticas e os diversos projetos políticos que estavam sendo pensados para o
Brasil, e a necessidade desses grupos de mobilizar a opinião pública. Esse pesquisador destaca
que a imprensa foi uma importante arena nacional para os debates, afirmando que os jornais e
panfletos foram os grandes responsáveis pela produção e difusão da cultura política, sendo
importantes veículos de expressão de ideias e de propaganda das facções concorrentes.
A imprensa na província do Rio Grande do Norte teve mais de 200 jornais
publicados no século XIX, desde a fundação de seu primeiro periódico, fato esse que
demonstra a importância e o papel que esses periódicos tinham como meios de propagação de
ideias.130
Neste mesmo sentido, observa-se que no final do século XIX (1870-1899) houve
uma expansão de periódicos maçônicos, que buscavam defender a causa da Maçonaria e
propagar as suas ideias, princípios e valores.
Thiago Werneck Gonçalves, em seu estudo sobre o periodismo maçônico e a cultura
política na corte imperial (1871-1874), destacou que a Maçonaria Brasileira, nesse período,
defendia suas ideias, especialmente no período em que a instituição estava ligada ao campo
liberal, e lutava pelo estabelecimento de uma sociedade secular e pregava as ideias de
liberdade e de progresso.131 Gonçalves, abordando a questão da imprensa maçônica, e
corroborando com Morel132 e Basile133, evidência que, para além da circulação e da
divulgação de ideias, os jornais maçônicos representavam espaços privilegiados para as
disputas políticas e ideológicas existentes no seio da Corte Imperial Brasileira.
E, neste cenário, eclodiu a questão religiosa, conflito entre o governo imperial
brasileiro e a Igreja Católica, iniciado pelos desentendimentos entre Bispos da Igreja Católica
e Padres-Maçons e cidadão pertencentes à Maçonaria no Brasil, o que estimulou um grande
movimento de propagação das ideias e dos princípios da Maçonaria, utilizando-se inclusive de
uma imprensa própria para esse fim.

129
BASILE, Marcelo. O laboratório da nação: era regencial (1831-1840). In: Keila Grinberg; Ricardo Salles.
(Org.). Coleção O Brasil Império Vol. III (1870-1889). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.
130
FERNANDES, Luiz. A imprensa periódica no Rio Grande do Norte – de 1832 a 1908. 2a. Ed. Natal: Sebo
vermelho, 1998..
131
GONÇALVES, Thiago Werneck. “Periodismo maçônico e cultura política na corte imperial brasileira
(1871-1874).” Dissertação de mestrado em História, Universidade Federal Fluminense, 2012. Disponível em:
<http://www.historia.uff.br/stricto/td/1588.pdf>. Acesso em: 25 set. 2019.
132
MOREL, Marco. Independência no papel: a imprensa periódica. Independência: história e historiografia. São
Paulo: Hucitec/Fapesp, p. 617-636, 2005.
133
BASILE, Marcelo. O laboratório da nação: era regencial (1831-1840). In: Keila Grinberg; Ricardo Salles.
(Org.). Coleção O Brasil Império Vol. III (1870-1889). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.
49

O pesquisador Thiago Werneck Gonçalves134 afirma que foi nesse cenário de conflito
que a imprensa maçônica se expandiu, inicialmente para combater a visão de mundo
preconizada pelos bispos ultramontanos da Igreja Católica, que eram considerados
conservadores e que representavam o maior inimigo ao progresso da civilização, e
consequentemente propagando as ideias e valores maçônicos.
Na província do Rio Grande do Norte também foi fundado e impresso um periódico
maçônico denominado a “A LUZ”. Este periódico surgiu em 1º de março de 1873 com o
objetivo de ser um jornal em defesa da causa maçônica perante a sociedade norte-rio-
grandense. Era publicado uma vez por semana, e distribuído gratuitamente, sob a
responsabilidade de José Gomes Ferreira, líder maçom da Loja 21 de Março e contava com a
colaboração de outros membros da Loja, chegando inclusive a ser enviado para outras
províncias.135 Foram publicadas 29 edições desse periódico maçônico, no período de março a
setembro de 1873. Nos arquivos da Loja Maçônica 21 de Março, ainda se encontram alguns
exemplares do respectivo jornal, assim como na hemeroteca da Biblioteca Nacional.
As matérias, notícias e ideias propagadas no Jornal “A LUZ” demonstram que havia
um grupo de editores trabalhando, uma vez que, além das notícias, os assuntos e as ideias
publicadas abordavam diferentes campos do conhecimento, desde questões filosóficas,
históricas e maçônicas.
Os autores Silva; Estevam; Fagundes136 destacam que para publicar o jornal, José
Gomes Ferreira137 contava com o apoio dos maçons Dr. Francisco Gomes da Silva138, Dr.
José Paula Antunes, Aleixo Barbosa da Fonseca Tinôco139, entre outros. É importante destacar
que a equipe de responsáveis pelo jornal “A LUZ” eram maçons de destaque e que ocupavam
cargos públicos na província, incluindo a Assembleia Provincial. Notadamente, esses maçons
e editores do jornal seriam pessoas mais letradas e até com um nível de formação intelectual
elevada, em razão da formação educacional mínima necessária adquirida para o exercício de
suas atividades profissionais.

134
GONÇALVES, Thiago Werneck. “Periodismo maçônico e cultura política na corte imperial brasileira
(1871-1874).” Dissertação de mestrado em História, Universidade Federal Fluminense, 2012. Disponível em:
<http://www.historia.uff.br/stricto/td/1588.pdf>. Acesso em: 25 set. 2019.
135
FERNANDES, Luiz. A imprensa periódica no Rio Grande do Norte – de 1832 a 1908. 2a. Ed. Natal Sebo
vermelho, 1998, p. 55.
136
SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001. p. 30.
137
Maçom da Loja 21 de Março e Chefe da segunda secção da Thesouraria Provincial (1866-67)
138
Ex-diretor da instrucção pública (1870) Diretor de Instrucção pública da Província (1872).
139
Professor (1863). Diretor Interino de instrução Pública (1867).
50

O Jornal “A LUZ” era publicado semanalmente, com quatro páginas, contendo um


cabeçalho na primeira página com o título do jornal e logo abaixo explicitado que o seu
objetivo era a causa da Maçonaria. Informava também que não se admitia “testa de ferro”.140
Sobre a estrutura do jornal, o mesmo era composto por duas seções: a primeira publicava
artigos escritos pelos seus editores, que eram maçons.141 E a segunda, que consistia das
notícias de fatos que envolviam a Maçonaria e seus membros na Província e no Império, além
de fazer referência e agradecimentos a outros periódicos, inclusive maçônicos, que apoiavam
a causa maçônica e divulgavam o Jornal “A LUZ”.
Os artigos e notícias publicadas usavam uma linguagem de fácil entendimento, e não
usavam palavras cifradas - codificadas - o que é bastante comum em documentos maçônicos,
considerando que os editores eram maçons, conforme já apresentado. Este fato demonstra que
havia uma preocupação dos redatores em conseguir alcançar e sensibilizar o maior número de
pessoas letradas possíveis, já que o jornal não tinha como público exclusivo os maçons. Os
artigos raramente foram assinados, e, quando continham assinaturas, usavam um pseudônimo.
Em geral, as matérias publicadas tinham como objetivo esclarecer aos leitores sobre
o que era a Maçonaria, seus objetivos, fins, princípios e valores. Observa-se também artigos
que defendiam a Maçonaria dos ataques e perseguições sofridas, durante o período da questão
religiosa, que na Província do Rio Grande do Norte foi bastante intensa.
E, neste sentido, o Jornal “A LUZ”, assim como outros periódicos maçônicos, desse
período, inicialmente objetivou combater as ideias e visões de mundo dos bispos
ultramontanos, que tinham envidado uma campanha de perseguição aos maçons e a
Maçonaria.142 Para esse combate às ideias dos bispos ultramontanos, os editores do jornal
utilizavam-se de artigos de cunho filosófico e históricos, relacionando com os valores e
princípios da Maçonaria.
E, nessa lógica, é importante destacar a ideia de Gramsci143 ao defender que “não se
pode destacar a filosofia da política; ao contrário, pode-se demonstrar que a escolha e a crítica
de uma concepção de mundo são, também elas, fatos políticos”.144

140
Testa de ferro seria é o nome que se dá ao indivíduo que aparece como responsável por um determinada
empreitada, negócio ou firma, enquanto o verdadeiro líder/responsável se mantém no anonimato.
141
SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001. p. 30. [1924]
142
GONÇALVES, Thiago Werneck. “Periodismo maçônico e cultura política na corte imperial brasileira
(1871-1874).” Dissertação de mestrado em História, Universidade Federal Fluminense, 2012. Disponível em:
<http://www.historia.uff.br/stricto/td/1588.pdf>. Acesso em: 25 set. 2019.
143
GRAMSCI, Antonio. Concepção dialética da história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
144
Ibidem, p. 15
51

Outro ponto bastante interessante observado no Jornal “A LUZ” foram os artigos de


cunho histórico publicados, que descreviam fatos e momentos importantes da História
Universal, sempre destacando o papel importante da instituição Maçônica como um agente de
transformação da sociedade e organização promotora do progresso humano.
No periódico “A LUZ”, em seu primeiro número, na primeira página, os editores
justificaram a fundação do jornal como sendo um instrumento de fala daqueles que estavam
sendo perseguidos e injustamente atacados. O trecho a seguir foi retirado do primeiro número
do jornal “A LUZ”, publicado em 1° de março de 1873:

Um brado de justa indignação se alevanta hoje em todos os ângulos do Império


contra os jesuítas, que expelidos da Europa, pretendem assentar no Brasil seus
arraiais e nele firmar o domínio do obscurantismo e do servilismo. A nossa diocese
está interpretada desses homens de pensamentos tão negros como negras são as
vestes que trajam, que, tendo a sua frente um bispo inexperiente e precipitado,
ousaram a afrontar a opinião pública que os repele, e atirar uma luva acintosa à
Maçonaria, que eles com razão reputam uma poderosa alavanca da civilização e dos
progressos e por conseguinte um grande e talvez o maior obstáculo à realização de
seus tenebrosos planos. Uma luta de vida e morte se acha, pois, empenhada entre os
apóstolos da verdade e essa hidra de mil cabeças que, como em razão procura hoje
sufocar a luz da razão e matar os mais nobres impulsos do coração. (...) Em face de
tais acontecimentos, os maçons desta Província não podiam deixar de tomar parte
nessa cruzada que o espírito de Satanás empreende contra os amigos da
humanidade.145

A respeito do trecho extraído, observa-se que os editores desejavam evidenciar


perseguição que os Bispos Ultramontanos faziam a Maçonaria e que o jornal seria um
importante instrumento a ser utilizado pela Maçonaria da província para rebater e esclarecer a
opinião pública. Destaca-se, ainda, que o editor fez questão de reforçar a ideia de que a
Maçonaria era uma instituição capaz de promover o progresso do homem e da civilização,
sendo os maçons considerados “amigos da humanidade”, e que uma parte da Igreja,
representada pelos bispos ultramontanos, que são descritos como a “ hidra de mil cabeças”,
não tinha interesse nesse progresso.
Nesta primeira edição do Jornal “A LUZ” também foi publicado um artigo em quatro
partes em que os autores faziam uma espécie de história da origem da fé, desde o surgimento
da ideia do Deus Único na Tribo de Israel, passando pelos textos de Zoroastro, Confúcio,
Sócrates e Platão. O artigo abordava as guerras iniciadas em nome de Deus, do egoísmo e da
ambição humana, como causadores dos males do Homem. E, assim relacionavam as atitudes
da Igreja Católica durante os séculos a esses males, dado que suas ações se distanciavam dos

145
A LUZ. PERIÓDICO. JORNAL DEDICADA A CAUSA DA MAÇONARIA. No. 1. Edição 1. 1º de Março
de 1873, p. 1.
52

princípios e valores da fé cristã-católica, de forma a realizarem atrocidades, e associou esses


males da Igreja Católica aos padres Jesuítas.
A seguir apresenta-se um trecho do referido artigo:

Ella havia concebido a existência de um Deos Unno: e da convicçãoo profunda e


inabalável dessa verdade derivou ella a sua força. O mundo por muito tempo ouvio
esse dogma e não o aceitou; e o próprio povo judaico que o havia o enunciado, o
compreendia mal. É que esse dogma necessitava de um complemento. É que dele se
devia deduzir uma conseqaência, da qual dependia, o aperfeiçoamento moral do
homem, a sua felicidade: A consequência resultante de ser Deos um só, e um só o
gênero humano. Zoroastro, Confúcio, Sócrates, Platão e outros varões que o mundo
ainda hoje admira e venera, e que a Maçonaria se gloria de contar no número de seus
mestres, vierão dar esse complemento, ensinar a consequência sublime que se
continha nessa grande verdade. Elles disseram:`homem, ama ao teu semelhante; sê
caridoso; perdoa as ofensas; procede para com teu inimigo de modo que elle se torne
teu amigo; não faças ao outro o que não quiseres que se te faça (...) Era esse o
corolário contido no dogma da existência de um só Deos. Ao Egoismo porém e à
ambição não convinha que tão augusta moral fose aceita e praticada, e para que ella
não progredisse, os potentados do mundo procuravao incutir no animo dos povos
doutrinas falsas, que lhes lisongeavão as paixões. Dahi a origem dessas luctas
sanguinolentas, que por tanto tempo trouxerão o mundo mergulhado em um abismo
de males e incertezas. (...) Quando a humanidade caminhava progressivamente
para a sua perfeição moral, os espíritos das trevas, os falsos ministros de um
Deos de paz, de bondade e de caridade (...) provocão em seu nome essas guerras e
perseguições atrozes contra aquelles que eles chamarão de hereges. (...) E ainda em
seu nome os padres da Santa Inquisição de mãos dadas com os da companhia de
Jesus fizerão encarcerar mais de 840 mil pessoas, das quis mais de 32.382 foram
queimadas. (...) 146

Nesse trecho extraído do jornal “A LUZ”, percebe-se que o artigo aborda a questão
do monoteísmo e procura associar essa doutrina de antigos pensadores, tais como: Zoroastro,
Confúcio, Sócrates, Platão, com a filosofia da Maçonaria, que exige que os seus membros
tenham a crença em um Deus único.
No mesmo trecho, observa-se que o autor defendia a ideia de contínuo progresso da
sociedade, buscando a sua perfeição moral, no entanto, “os espíritos das trevas, os falsos
ministros de Deos, (...), provocão guerras em seu nome”, demonstrando o conceito dual da
sociedade, o Bem e o Mal.
Em outro trecho do artigo, o autor defendia que a Maçonaria e seus membros
reagiriam a esses “falsos ministros de Deus”, que seriam os bispos e padres ultramontanos, e
empreenderiam uma luta em prol da verdade e da emancipação intelectual e moral da
humanidade:

146
A LUZ. PERIÓDICO. JORNAL DEDICADA A CAUSA DA MAÇONARIA. No. 1. Edição 1. 1º de Março
de 1873, p. 2.
53

Os amigos da humanidade reagem e procurão por termos a tantas atrocidades.


Trava-se a luta. (...) Depois de um porfiado combate entre a verdade e o imbuste,
triumpha aquella e este precipita-se no báratro medonho donde havia surgido. A
humanidade desassombrada de seus mais cruéis inimigos, caminha nas vias do
progresso; de uma a outra extremidade do globo o homem encontra irmãos que lhe
estendem a mão bem fazeja. As nações apesar da diversidade de seus cultos, tem
todas uma crença universal, que faz que ellas se aproximen e se entendão. Todas
ellas trabalhão na edificação do templo eterno, na emancipação intellectual e moral
da humanidade. Todas ellas concorrerem ao banquete fraternal da divina palavra;
todas ellas venerão essa trindade santa; “Liberdade, Igualdade e Fraternidade.147

No enunciado acima, também é possível perceber que o autor defende a ideia de que
as nações, independente de seus cultos, sempre buscam a sua emancipação intelectual e
moral, e consequentemente da humanidade, e que essa busca progressiva estava associada ao
desejo de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, o lema da Revolução Francesa e da
Maçonaria.
Portanto, é possível levantar a hipótese de que o autor do artigo buscou demonstrar
que a Maçonaria, através dos maçons, denominados como “amigos da humanidade”, era uma
instituição que contribuía para o progresso da humanidade, por intermédio da emancipação
intelectual e moral de seus membros.
Neste sentido, concorda-se com Fairclough148 que defende que todo o discurso é
ideológico, especialmente, quando incorporam significações que contribuem para reestruturar
as relações de poder, como neste período, em que havia a disputa de poder entre a Maçonaria
e Igreja.
Fairclough149, assevera também, que as práticas discursivas que envolvem os
processos de produção, distribuição e consumo de textos, são formas materiais de ideologia.
E, assim, essas práticas contribuem para consolidar as relações de dominação e conquista de
poder.
Analisando ainda a primeira edição do jornal - páginas 2 e 3, o periódico publicou um
artigo intitulado a “QUESTÃO MAÇÔNICA”, letra em caixa alta, o que demonstra o
interesse de chamar a atenção do leitor. No texto, os editores explicaram o papel da
Maçonaria e a sua importância para a sociedade e que é uma instituição cosmopolita.

Crença ou sistema, principio religioso ou doutrina política, a Maçonaria apresenta


hoje uma questão complexa, e importante, ligada aos interesses mais vitaes da

147
Ibidem.
148
FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001. p.
121.
149
Ibdem, p. 116.
54

sociedade: sancionada no campo da teoria pela verdade de consciência, justificada


como facto histórico não só pelos gloriosos faustos, que constituem sua história
particular como por suas influências benéficas mais ainda pelo espírito de tolerância
evangélica e verdadeiro cosmopolitismo da virtude, que é seu característico
particular.150

Em outro trecho do artigo, pode-se observar que é evidenciada a legalidade da


existência e da participação dos cidadãos nas atividades maçônicas, afirmando que a
Maçonaria promovia uma revolução intelectual e moral na sociedade, visto que as suas
doutrinas estavam ligadas à busca da melhoria do homem, através de uma vida virtuosa, do
trabalho intelectual, e da prática do bem e da caridade feita a quem verdadeiramente
precisava.

[...] garantida pelos direitos concedidos ao cidadão brasileiro na carta constitucional


no que é relativo à materia religiosa, era inconstestável que a Maçonaria operava em
todas classes sociaes uma revolução, lenta, pacífica, cheia de auspiciosos resultados;
revolução, que significava para o povo a troca dos hábitos adquiridos na ignorância
pelos fructos da educação, que significava mais ainda, pois que em suas práticas de
mera beneficência, não era só com o laburum da inteligência, que ella abria os
sulcos, onde se devião plantar as sementes do bem, era ainda com os balsamos da
caridade, esses orvalhos, que cabem no coração, e ali se cristallisão na pureza de
uma aspiração divina, que ella amparava muitos e muitos que em sua falta rollarão
pela encontra do vicio desnorteados e perdidos; revolução finalmente que
significava para todos luz e progresso. Tendo como programa o bem, como
aspiração o a virtude (...) Todos sabem que a maçoneria brasileira dada desde os
tempos coloniaes e que sempre viveu em paz com o catholicismo [...] Todos sabem
que ella forma hoje um poder moral importante que mantem na altura devida tudo
que se liga a dignidade humana e ao progresso social151

Sobre a presença e a importância da Maçonaria em terras brasileiras, o artigo destaca


que ela estava presente desde o período colonial e que sempre se manteve em harmonia com o
Catolicismo, destacando que não havia conflitos. O autor afirma que a Maçonaria possui um
poder moral, associando esse poder à dignidade humana e ao progresso social.
No último parágrafo do artigo, o(s) autor(es) destacam que a Maçonaria não deixaria
de atuar e cumprir seu papel social:

[...]a maçoneria brazileira não fica tolhida em seus diversos modos de acção pela
exorbitância dessa ou daquela peça no systema social, cônscia de seus direitos, forte
pela coesão de seus elementos, immensa por seu programma cosmopolita ella
caminha, não obstante esses óbices, opostos somente pela ignorância e pela

150
A LUZ. PERIÓDICO. JORNAL DEDICADA A CAUSA DA MAÇONARIA. No. 1. Edição 1. 1º de março
de 1873, p. 2-3.
151
Ibidem, p. 2-3.
55

hypocrisia – pela inveja – e pelo fatalismo de crenças retrogradas. No século actual,


com a civilização contemporânea só as doutrinas da luz podem pugnar e vencer.152

Acredita-se que esse artigo, além de esclarecer e informar a população letrada da


província sobre a questão maçônica, o papel da Maçonaria e a sua importância social, também
tinha o objetivo de motivar os seus membros na defesa da causa maçônica e dos seus ideais e
princípios, entre eles: liberdade intelectual e religiosa, busca pelo progresso através do esforço
intelectual e da vida virtuosa, e que juntos os maçons poderiam resistir e vencer essa luta
contra os padres jesuítas e ultramontanos.
A última parte do jornal a Luz era intitulada “NOTICIÁRIO”, e era destinada às
notícias da província que envolviam membros da Maçonaria. Essas notícias sempre vinham
acompanhadas de comentários e opiniões, dos próprios editores, em geral defendendo os
maçons e criticando as arbitrariedades cometidas contra os mesmos. Fato esse compreensível,
em virtude dos redatores do jornal serem maçons.
No segundo número do Jornal A Luz, datado de 08 de março de 1873, observa-se
que o periódico mantém a mesma linha editorial, e, na sua primeira página, tem-se um artigo
intitulado: “A Igreja, o Estado e a Maçonaria”, em que é abordada a importância da harmonia
entre o poder do Estado e o poder da religião, e que ambas deviam ser independentes. É
importante destacar que nesse período o Catolicismo era a religião oficial do Império do
Brasil, em razão da Lei do Padroado.153
O artigo destaca que o Estado e a Igreja são autoridades que contribuem para o
progresso da sociedade e pela felicidade das pessoas, cada um atuando nos seus campos.

Na sociedade actual duas grandes e poderosas autoridades conduzem o carro da


civilização [...] sonhada nas utopias dos reformadores, repleta de paz e justiça, e
desejada nas modestas tendências de todos que se interessão pela causa da
humanidade, cheia de progresso e felicidade: a autoridade espiritual [...] e a
autoridade temporal.154

Sobre essas autoridades, o artigo descreve o que se esperar de cada uma, a saber:

A autoridade espiritual, que una, forte, no foro da consciência, lançando sua luz no
caminho da existência, apontando destinos sublimes que se realisarão em uma outra

152
Ibidem, p. 4
153
Por esta lei eram reguladas as relações entre Lisboa e o Pontificado Romano. O padroado consistiu em
acordos firmados entre os Estados ibéricos e a Santa Sé. Ver: LIMA, Lana Lage da Gama et al. O padroado e a
sustentação do clero no Brasil colonial. Saeculum Revista de História, v. 30, p. 47-62, 2014, 2014.
154
A LUZ. PERIÓDICO. JORNAL DEDICADA A CAUSA DA MAÇONARIA. N º 2. Edição 2. 8 de março de
1873, p. 1.
56

vida, esclarecendo a inteligência e nobilitando a liberdade, prepara o indivíduo em


suas múltiplas relações domésticas e sociaes, civis e políticas para um mundo
melhor, onde se verificarão todas as promessas incompletas aqui, e onde a lei moral
terá absoluta sancção: e a autoridade temporal, que, na comunhão dos interesses
ligados em busca de um poder mantenedor da ordem e da justiça, no centro dessa
teia immensa de actividade humana por onde se abrem as diversas ramificações dos
direitos e deveres. Unifica-se no imprescindível de sua origem – a necessidade –
engrandece-se, e fortifica-se nas elevações de seus fins – o bem ser geral.155

Percebe-se que a ideia defendida pelos editores é que cada um dos poderes precisa
atuar em um campo distinto. O poder espiritual deveria trabalhar na transformação moral do
homem, preparando-o para a vida futura. Já o poder temporal seria o responsável por manter a
ordem e a justiça, estabelecendo que os homens usufruam de seus direitos, cumpram suas
obrigações, e assim a sociedade progrida de forma organizada, e portanto, ambos os poderes
precisam atuar de forma harmônica, em prol do bem geral. No trecho a seguir, identifica-se no
artigo que o(s) autor(es) defenderam a ideia de independência entre esses poderes, em que o
poder espiritual, assim como o poder temporal não deveriam interferir um no outro.

[...] é certo que a Igreja e o Estado devem se manter cada uma na sua esfera. Uma
quando – esclarecendo a consciência, outra protegendo e fortificando a liberdade [...]
Se é verdade que as leis do estado não podem ferir as consciências, cujo árbitro é a
autoridade espiritual, assim as bulas papais de nenhum modo poderão ferir o
exercício dos direitos concedidos pelos estado sem o beneplácito legal.156

Observa-se que o artigo procura estabelecer um discurso ideológico com os leitores


objetivando sensibilizar e convencê-los, a respeito de um conjunto de ideias defendidas por
quem escreve, a fim de estabelecer uma relação de influência, de modo que esse público,
venha a aceitar e a defender essa ideologia. Nesse caso específico, o(s) autor(es) trabalharam
a questão da liberdade religiosa, a independência do Estado perante a Igreja, e o conceito de
progresso da humanidade, através da razão.
No recorte extraído do mesmo artigo, percebe-se que o discurso encaminha para a
possibilidade de conflitos, e havia a necessidade de mediação, mesmo que a autoridade
espiritual e temporal possuísse missões diferentes:

[...] entretanto harmonizem-se ou lutem, vivam na paz ou na discórdia,[...], a Igreja –


foro interno e as consciências[...] e o estado – foro externo e a lei - precisão um e
outro de um poder neutro bastantemente alto para não se deixa influenciar por este
ou aquele – suficientemente imparcial[..] e esse poder é a Maçonaria [...]
contemporânea de tudo que se liga a causa da humanidade, ella embalou o berço da
nossa civilização, desviou os espinhos da ignorância dos trilhos dos reformadores,

155
Ibidem
156
Ibidem
57

abrio os braços a Luthero, como abracou Pio IX – e a emancipação política do


Império brasileiro – para falar nos que toca de perto – operou-se no seio dela. [...]
Igreja, estado e Maçonaria, são essas as três columnas do templo da civilização.
Theologia Sublime: - o estado ahi vê o seu ideal nesse desideratum de liberdade,
fraternidade e igualdade, - a igreja – ahi vê os seus dogmas no mistério, na caridade
e no amor, que enecerrão suas práticas [...] Maçonaria, estado e igreja – são pois
estas as três luzes do firmamento da civilização moderna: - com eles a liberdade, a
igualdade e fraternidade estenderão por sobre as gerações a felicidade e o bem ser
em geral; sem elles a sciencia e o amor fugirão entre os homens157

O(s) autor(es) do artigo inserem a Ordem Maçônica como uma terceira autoridade,
sendo o poder conciliador, e a única instituição capaz de mediar e conciliar possíveis
conflitos que podem surgir entre a Igreja e o Estado, pois a maçonaria teria capacidade de
manter liberdade de consciência no pedestal em razão de ser uma instituição que perpassou os
séculos e teve uma participação em diversos momentos decisivos da história mantendo-se fiel
aos seus princípios de liberdade e tolerância, considerada também como uma teologia
sublime, em que o Estado observa o seu ideal alcançado, quanto a Igreja tem os seus dogmas
contemplados, em prol do bem-estar social.
Em edição publicada no dia 22 de março de 1873, o jornal “A LUZ” publicou um
artigo defendendo a Causa da Maçonaria, conclamando que a defesa dessa causa fosse
entregue aos homens ilustrados, que eram os conhecedores da utilidade da ordem maçônica,
que ajudava aos pobres e apoiava o desenvolvimento moral do ser humano, através da
filosofia maçônica, que tinha por base valores e virtudes morais elevadas.158
Nesta mesma edição, em um outro artigo, os editores abordavam o cristianismo, o
Jesuitismo e a Maçonaria procurando associar as atividades maçônicas com os ensinamentos e
proferidos por Jesus Cristo e presentes nos evangelhos.

Os antigos apóstolos da verdade recomendando o amor do homem para com o


homem, desenvolvem e esclareceu o corollario sublime que se contem na grande
verdade enunciada pelo povo judaico: e destarte assentão os primeiros fundamentos
da mais pura moral. O filho de Maria dizendo do alto da montanha a multidões -
Vois sois todos Irmãos – consolida essa moral, e a santifica com o seu sangue. [...]
A Maçonaria estuda e persenta as grandes verdades proferidas pelo Christo, e
consignadas nas páginas santas do Evangelho: e formula esse programma universal
que inscreve em sua bandeira – liberdade, igualdade e fraternidade.159

157
A LUZ. PERIÓDICO. JORNAL DEDICADA A CAUSA DA MAÇONARIA. N º 2. Edição 2. 8 de março de
1873, p. 1-2
158
LOJA MAÇÔNICA 21 de Março. A LUZ: jornal em defesa da causa da maçonaria, nº. 4. 22 DE MARÇO
DE 1873, p. 4).
159
A LUZ. PERIÓDICO. JORNAL DEDICADA A CAUSA DA MAÇONARIA. N º 4. Edição 4. 22 de março
de 1873, p. 1
58

No recorte extraído do artigo, observa-se que os autores procuraram associar os


estudos e as atividades maçônicas com as verdades e os ensinamentos de Cristo, e desta forma
buscando evidenciar o conceito da fraternidade universal, quando destaca que todos seriam
irmãos, que fora pregado por Cristo e adotado pela Maçonaria, através do conceito de
fraternidade maçônica, em que todos se consideram Irmãos. O artigo também procurava
defender que a Maçonaria tinha seus princípios baseados nos ensinamentos do evangelho.
No mesmo artigo, os autores procuram demonstrar que a Maçonaria e o Cristianismo
possuem os mesmos objetivos e suas doutrinas complementavam-se e harmonizavam-se e que
trabalhavam juntas para levar o homem à perfeição.

O christianismo e a Maçonaria tornam-se complementos um do outro: suas doutrinas


se harmonisão e se identificão, e ambos se constituem as duas poderosas alavancas
da civilização e do progresso. Ambos procurão conduzir o homem a sua maior
perfectibilidade.160

Em outro trecho, do mesmo artigo, os autores procuraram demonstrar que a


Maçonaria e o cristianismo trabalhavam em busca do desenvolvimento intelectual do ser
humano e diferentemente do jesuitismo que desejava tornar o homem um ser autômato e sem
vontade própria.

O christianismo e a Maçonaria querem o homem livre, inteligente, orgulhoso de sua


missão neste mundo, capaz de assumir a responsabilidade de suas acções. O
jesuitismo pelo contrário quer tornar o homem um automato, sem vontade própria, e
por conseguinte sem consciência de si, e incapaz de pensar. O christianismo e a
Maçonaria querem a dominação da razão e da justiça: e por isso, procurão
desenvolver e esclarecer as faculdades intelectuaes do homem a fim de que elle
possa comprehender seus direitos e seus deveres.161

Além disso, é importante destacar que os autores buscavam aproximar a Maçonaria


com o Cristianismo, nesse artigo, mesmo considerando que as suas doutrinas não fossem tão
semelhantes assim, visto que a Maçonaria tinha como base princípios iluministas, humanistas
e do racionalismo, diferentemente do Cristianismo que se baseava em dogmas e seus
princípios tinham como base a fé dogmática.
Acredita-se que esta estratégia dos editores do Jornal “A LUZ” objetivava convencer
os cidadãos de que a Maçonaria poderia atuar na província e que não estaria afrontando a fé

160
Ibidem
161
Ibidem
59

cristã, e, consequentemente, os cidadãos católicos poderiam ingressar na Maçonaria sem


nenhum problema. Ao fazer isso, estariam contribuindo com o seu desenvolvimento
intelectual e contribuindo para o progresso da província e da sociedade em geral.
Dessa forma, concorda-se com Fairclough162, quando este defende que “as ideologias
embutidas nas práticas discursivas são muito eficazes quando se tornam naturalizadas e
atingem o status de senso comum”, contribuindo para o convencimento e a conquista de
novos adeptos e assim fortalecendo o seu grupo social, a fim de torná-lo, cada vez mais forte,
em busca da hegemonia social.
Na edição nº 6, de 05 de abril de 1873, observa-se que, na página 3, foi publicado um
extrato de um artigo do Boletim do Grande Oriente do Lavradio, intitulado A Maçonaria na
Diocese de Pernambuco, destacando o conflito que ocorria entre a Maçonaria e os Bispo Dom
Vital, de Pernambuco, criticando as ações desse bispo jesuíta contra a Maçonaria, e contra os
maçons, destacando que essas ações eram autoritárias, ilegítimas e não-civilizatórias, e frutos
de fanatismo religioso e da ignorância.
Então, observa-se que o Jornal “A Luz”, também publicava artigos ou trechos de
artigos de outros jornais, da corte carioca e de outras províncias, especialmente os da Loja do
Grande Oriente163, que ficava sediada no Rio de Janeiro, centro do poder do Império e da
Maçonaria, assim corroborando com a tese de que as ideias maçônicas eram propagadas,
através de uma coordenação nacional e local.
Outro fato interessante observado, na edição de nº 06, de 05 de abril de 1873, foi que
o periódico publicou, em sua página 3, uma nota de agradecimento por ter recebido os
periódicos O Assuense – cidade Assu, A Província e o Liberal Pernambucano – Pernambuco,
que já tinham publicado e divulgado em suas páginas, o surgimento do periódico da
Maçonaria Potiguar, “A Luz”, demonstrando, dessa maneira, que o periódico “A LUZ”
chegava a romper as fronteiras da província e levava as notícias e as ideias da Maçonaria
potiguar para outras regiões do Império.
Acrescente-se ainda que, nessa mesma edição, os autores destacaram que a
Maçonaria na província fortalecia a ordem maçônica com o ingresso de novos membros.
Nesse número, o editor destaca que, em menos de um mês, a Loja teria iniciado oito novos
maçons. Os editores do Jornal, maçons, associavam esse fortalecimento em razão da união e

162
FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001. p.
117.
163
Grande Oriente – Poder Central da Maçonaria em cada região. Responsável por congregar lojas maçônicas e
acompanhar as atividades e dar legalidade maçônicas as lojas.
60

do engajamento de mais homens, através da iniciação à Loja Maçônica 21 de Março, e assim


se comprometendo a defender a causa maçônica e a propagar as suas ideias.
No trecho a seguir extraído do jornal “A Luz”, apresenta-se a notícia publicada no
qual se destacavam as constantes iniciações de novos membros à Loja Maçônica 21 de Março,
no ano de 1873 e o consequente fortalecimento da Maçonaria nesta província.

LOJA 21 DE MARÇO – em o dia 1º da corrente tiveram lugar duas iniciações. Em


menos de um mez tem a Maçonaria nesta província chamado a seu grêmio oito
adeptos. Tanto as sessões magnas como as econômicas tem tido uma concorrência
extraordinária. Muitas são as pessoas nesta província que hoje procurão fazer parte
dessa associação que PIO IX, no auge de sua raiva impotente contra as luzes do
século, que lhe arrancarão das mãos o poder temporal, fulminara com o seu
poderoso anathema, e sobre o qual o nosso jovem prelado derrama hoje toda a sua
bílis religiosa ou jesuítica. Em breve terão lugar diversas iniciações.164

Percebe-se ainda que os editores do jornal “A Luz”, além das iniciações, faziam
questão de destacar que a Loja Maçônica 21 de Março estava constantemente reunindo-se e as
suas reuniões eram bastante concorridas, demonstrando a união dos maçons da província em
defesa da causa da Maçonaria. E, com base nessas informações, pode-se supor que haveria um
compromisso em buscar mais adeptos para a ordem, visto que em várias edições do periódico
foram destacadas as cerimônias de iniciações maçônicas que esta loja tinha realizado.
A seguir, apresenta-se na tabela 01 um demonstrativo dos ingressos de membros na
Loja Maçônica 21 de Março, no período de março a agosto de 1873, com base nos relatos e
notícias publicadas no Jornal a Luz.
Na tabela, será possível perceber o crescimento em número de membros ocorridos na
loja maçônica 21 de março e da Maçonaria no Rio Grande do Norte, visto que essa loja era a
única agremiação maçônica em atividade nesta província, no período de maior disputa entre a
maçonaria e a Igreja Ultramontana no Rio Grande do Norte.
O fato demonstrando que essa estratégia de fortalecer o quadro da loja, através de
iniciação, filiações e regularizações de membros afastados da Maçonaria tinha sido efetiva.

TABELA 01: INGRESSO DE MEMBROS NA LOJA MAÇÔNICA 21 DE MARÇO EM


1873
DATA DATA FILIADOS/
PUBLICAÇÃO EDIÇÃO/PÁG. REUNIÃO INICIADOS REGULARIZADOS
22/03/1873 Nº 04 – p. 2 13 e 17 /03 1873 04 membros -
05/04/1873 Nº 06 – p. 3 01/04/1873 04 membros -
19/04/1873 Nº 08 – p. 3 18/04/1873 04 membros 3 filiações

164
A LUZ. PERIÓDICO. JORNAL DEDICADA A CAUSA DA MAÇONARIA. N º 6. Edição 6. 05 de abril de
1873, p. 3.
61

26/04/1873 Nº 09 – p. 3 26/04/1873 01 membro 1 regularização e


1 filiação.
03/05/1873 Nº 10 – p. 4 29/04/1873 05 membros -
17/05/1873 Nº 12 – p. 4 13/05/1873 03 membros -
17/06/1873 Nº 15 – p. 4 02/06/1873 01 membro -
16/08/1873 Nº 25– p. 4 02/06/1873 01 membros 1 filiação
Total 08 edições 10 reuniões 23 membros 6 membros
Fonte: 1) LOJA 21 DE MARÇO. A Luz: jornal dedicado a causa da Maçonaria. Nº 1 ao 29 (Março a
Setembro de 1873) 2) SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio
Grande do Norte. Natal / RN: Sebo Vermelho, 2001.

A tabela 01 demonstra que, em quatro meses, a Loja Maçônica 21 de março


conquistou 29 novos membros, sendo 23 iniciações (novos maçons), 5 filiações (maçons de
outras lojas ou províncias) e 1 regularização (maçons irregulares ou afastados). Esses números
comprovam que a loja maçônica, no ano de 1873, estava fortalecendo-se e aumentando a sua
influência, apontando que havia uma estratégia de conquista de novos membros para a
Maçonaria nesta província, a fim de que ela mantivesse a sua hegemonia na sociedade
potiguar.
E para tanto, o periódico “A LUZ” teve um papel fundamental, uma vez que o
mesmo mantinha acessa a chama maçônica na província, informando e propagando as ações e
ideias maçônicas desta e de outras províncias aos homens letrados da sociedade potiguar.
No quadro 7, a seguir, apresenta-se alguns jornais maçônicos de outras províncias e
da corte carioca, que constantemente eram mencionados em uma das 29 edições do jornal A
Luz.

QUADRO 7 – JORNAIS MAÇÔNICOS MENCIONADOS NO JORNAL “A LUZ”


JORNAIS MAÇÔNICOS LOCALIDADE
A Família Pernambuco
A verdade Pernambuco
Boletim oficial do Grande Oriente Rio de Janeiro
O Pelicano Pará
O Tacape Pará
Fonte: LOJA 21 DE MARÇO. A Luz: jornal dedicado a causa da Maçonaria. Nº 1 ao 29 (março a
setembro de 1873)

Com relação a esses periódicos maçônicos mencionados no jornal “A LUZ”,


destacam-se o jornal a Verdade, publicado em Pernambuco, que além de fazer referência ao
mesmo, diversos artigos publicados no Jornal A Luz, eram oriundos desse periódico
pernambucano.
62

Com relação aos outros periódicos, destaca-se o Boletim Oficial do Grande Oriente
do Brasil, que era o Boletim Oficial da Maçonaria Brasileira, e potência maçônica a qual a
Loja 21 de Março estava filiada. Esse periódico era distribuído para todas as lojas maçônicas
do Brasil, com notícias e atos oficiais da Maçonaria brasileira, logo o mesmo possuía bastante
credibilidade no meio maçônico.
Eram uma constante em todos os números do periódico, a propagação das ideias
maçônicas. Nas edições de Nº 8 e 9, datadas de 19 e 26 de abril de 1873 pode-se identificar
ideias de liberdade religiosa, progresso, nacionalismo, separação da religião do Estado e que a
Maçonaria contribuía para o progresso da humanidade. Ideias que frequentemente eram
propagadas nas páginas desse periódico, o que se leva a supor que os editores desejavam
massificar esse conceito e essas ideias na população letrada da província.
Percebe-se, também, que era comum a publicação de matérias e ou artigos que
tratassem de temas históricos, e nestas duas edições, os editores publicaram a continuação do
Artigo Maçonaria e Jesuitismo, em que foi abordado, em um trecho desse artigo, o
acontecimento histórico que culminou com o fim da Ordem dos Templários, após a
perseguição da Igreja católica aos membros da ordem do Templo, na Europa Medieval.
Os autores do artigo destacam que essa perseguição a esta Ordem aconteceu a partir
de um acordo entre o Rei da França e o Papa Bento XI, com o objetivo de diminuir o seu
poder e em busca das suas riquezas. Com relação às riquezas da Ordem dos Templários e,
sobre esse acordo, os autores destacavam que:

No tempo de Felipe, o belo, rei de França, tinhão os templários um poder imenso e


uma riqueza que alçava oito milhões de libras e acummulavao quinze milhões de
libras em rendimentos de suas propriedades a fora a prata que havião trazidos em
cargas de burro para a comenda (mosteiro), da França, onde residia o Grão Mestre
[...] satisfeitas outras condições do contracto, como a mudança da Santa Sé para a
França, declarou Felippe o Belo que exigia a abolição da Ordem dos Templários
prometendo dividir com Clemente 5 os bens confiscados: era condição reservada
que Felippe aguardava-se para declarar a Bertrand de Gott depois que empunhasse o
báculo pontificial. Clemente 5 exita: mas o rei lembra-lhe o juramento, lança-lhe em
rosto o telo arrancado do nada e tranquilisa-o dizendo que se tomaria por pretexto
para aparentar justiça e zelo em seu acto, o afrouxamento da disciplina monástica
entre os Templários. Vence o rei: Clemente 5 automato nas mãos do Soberano e
muito ambicioso, não pode resistir à tentação.165

Desse modo, também é possível identificar que os editores demonstraram que havia
um acordo entre Felipe Belo - Rei da França e o Papa Francês Clemente V, eleito, após a

165
A LUZ. PERIÓDICO. JORNAL DEDICADA A CAUSA DA MAÇONARIA. N º 8. Edição 8. 19 de abril de
1873, p. 2.
63

morte do Papa Bento XI, a fim de mudar a sede da Igreja de Roma para a França, e extinguir a
Ordem dos Templários, e se apoderar das suas riquezas.
Através desse artigo, percebe-se que os editores buscaram na história um fato em que
a Monarquia e a Igreja tivessem agido de forma autoritária, prepotente e duvidosa, sobre os
seus fins, e, neste caso, contra a Ordem dos Templários. Outro ponto que se pode perceber é
que a narrativa procura demonstrar que essa perseguição era injusta, e estava ocorrendo
movida pela ganância e a ambição humana, e em especial do Rei Felipe - O Belo e do Bispo
Bertrand de Gott, que desejava tornar-se Papa. Assim, os editores procuraram associar esse
fato histórico, com os acontecimentos do momento, nesta província e no Brasil.
Observa-se uma prática discursiva implementada a fim de convencer os leitores do
periódico a respeito dessa tese, de que a Igreja Católica, liderada pelos Bispos Ultramontanos,
estava novamente perseguindo os membros de uma Ordem, em razão dos seus interesses em
aumentar o seu poder.
Neste sentido, acredita-se que esses artigos e as ideias contidas nessas narrativas
serviam de instrumentos para sensibilizar e convencer as pessoas, de que existiam interesses
não justos nessas perseguições a membros da Maçonaria, assim como ocorreu com a
perseguição aos membros da Ordem do Templo, na Idade Média.
É importante lembrar que todas as práticas discursivas possuem ideologias, e essas
quando são eficazes podem atingir o status de senso comum, e assim contribuir para o
convencimento e a conquista de novos adeptos, e o fortalecimento de um grupo social.166
Esse objetivo está fundamentado na teoria de Gramsci167, que defende que “os
leitores devem ser considerados como elementos ideológicos ‘transformáveis’
filosoficamente, capazes, dúcteis maleáveis à transformação”, e que poderiam ser, passíveis
de convencimento e mudança de seus pensamentos.
Em vários números do periódico “A Luz”, observou-se que eles publicavam notícias
Maçônicas de outras províncias, fato este que pode ser justificado com a necessidade de
motivar e manter o grupo maçônico local engajado na defesa da causa e das ideias da
Maçonaria, comprovando que havia uma articulação em nível de todo o Império, e não
somente na província.
A seguir, apresenta-se um trecho de um documento maçônico que foi transcrito do
jornal maçônico “A Verdade” - da província de Pernambuco e publicada no jornal “A Luz”,

166
FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001. p.
117.
167
GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1995.
p.163
64

na edição de nº 8, datada de 19 de abril de 1873, em sua página 4. O documento transcrito


tratava-se de uma declaração de apoio dos maçons da Província da Bahia aos maçons de
província de Pernambuco, em razão das perseguições e das injustiças que estavam sofrendo.

ORDO AB CHAO
A GL\ DO SUPR\ ARCH\ DO UNIV\
Aos respeitáveis irmãos maçons de Pernambuco – os maçons da Bahia desejam
saúde, fortaleza e união. Respeitáveis irmãos: - Foi com a maior indignação que
tivemos a noticia das inauditas ofensas que em vossa qualidade de maçons
recebestes de vosso diocesano, mandando eliminar das irmandades ou confrarias
religiosas os irmãos que pertencem à Maçonaria. Vossos gritos de dor retumbaram
dolorosamente em nossos corações, como nos de todos os maçons do norte e sul do
império; e nossa admiração e pasmo não foi menor que nossa indignação ao vermos
que um bispo, chefe da igreja brasileira em seu século de luz, de discussão, de
desenvolvimento intelectual e da civilização, desconhece a tal ponto as instituições
que não são um mistério para alguém, que se abalanças se a anathematisar e a repelir
por seu livre e absoluto arbítrio da comunhão catholica aquelles que são delas
seguros e devotados sustentaculos (...) sentido vossas maguas que também são as
nossas maguas, solidários na defeza da vossa causa, que também é a nossa causa,
nos os maçons da Bahia, vemos com prazer no meio das presentes tribulações, que o
povo maçom não tem sido surdo ao som das trombetas de Hiram. Elle reunio-se, e
como uma só voz, vos dirige um voto de applauso e agradecimento pela atitude
firme, resoluta e honesta que assumiste nesta triste e inaudita emergência, que acaba
de provocar o vosso prelado. E juntamente com esse voto de aplauso eles vos
enviam as mais cordiaes protestações de que deveis contar com vossos irmãos da
Bahia na defesa das instituições maçônicas, tão injustamente agredidas pelo
jesuitismo disfarçado na pessoa e na mente de vosso imprudente prelado e de alguns
de seus colegas. Deveis, pois, contar que um só maçom não desertará de nossas
fileiras, e sabei que a assemblea de maçons, reunida para tomar conhecimento dessas
ocorrências, e tomar sobre ellas as convenientes medidas, determinou que o maçom
que desertasse de suas fileiras seria “infame e maldito”. Os maçons da Bahia hão de
estar a vosso lado na estacada nos dias luctosos, nas afflicções, nas tribulações e nas
perseguições, inabaláveis no propósito da resistência. O supremo architecto do
universo nos ilumine a todos, nos guie e nos salve. Feita em assemblea do povo
maçônico da Bahia, no tempo da augusta loja capitular – Fidelidade e Beneficencia
– aos 21 de março de 1873, era vulgar. Estão assignados: - A comissão de redação,
os delegados da assembléa do povo maçônico.168

Acredita-se que a publicação dessa matéria, no Jornal “A LUZ”, objetivava


demonstrar aos maçons da província do Rio Grande do Norte que a Maçonaria estava unida
nessa luta, e que os princípios de fraternidade e de liberdade não seriam abandonados. E ainda
que as lojas maçônicas nas outras províncias estavam ativas e engajadas em defesa da causa
da Maçonaria, e, dessa forma, servindo para fortalecer e elevar o ânimo dos maçons desta
província que também sofriam perseguições da Igreja, precisavam manter-se firmes em defesa
da Maçonaria.

168
A VERDADE. In.: A LUZ. PERIÓDICO. JORNAL DEDICADA A CAUSA DA MAÇONARIA. N º 8.
Edição 8. 19 de abril de 1873, p. 4.
65

Neste texto, também se pode perceber que as ideias de desenvolvimento intelectual,


progresso e de civilização estavam presentes, e estas associadas ao trabalho que a Maçonaria
fazia e que maçons eram homens devotados e que não mereciam sofrer essas perseguições.
Na edição de nº 11, publicada em 11 de maio de 1873, em um artigo intitulado
Maçonaria e o Catolicismo, observa-se que os editores abordaram a temática de que a
Maçonaria não é religião, mas sim uma instituição cosmopolita, humanitária e que respeita
todas as crenças, e pregava pela liberdade de consciência. Neste mesmo artigo, os editores
fizeram críticas ao jesuitismo e ao perigo destes para a fé cristã.

A verdade, a evidencia é esta; A Maçonaria não é uma associação de caracter


religioso, como uma confraria, uma irmandade. É uma associação civil, como
muitas desse gênero, diferenciando-se, porem, dessas pelos seus fins humanitarios,
pela mais vasta esfera em que gira. Como instituição cosmopolita, não dá, nem pode
dar preferencia a religião alguma: mas a nenhuma ataca, respeitando a todas. Não
quer isto dizer, porém, que aqueles que entrão para o seu grêmio, que os seus
associados, sejam constrangidos phisisca ou moralmente, a apostatar das crenças
religiosas que receberam de seus pais. O que entra catholico, permanece catholico, o
que entre protestante, tal se conserva.169

Percebe-se que os editores, ao apresentar a Maçonaria como uma instituição


cosmopolita e humanitária, objetivavam demonstrar que a Ordem Maçônica estava aberta a
todas as pessoas que aceitassem e estivessem dispostas a cumprir os seus princípios e valores,
inclusive a causa da Maçonaria em defesa da humanidade. Já na questão que eles tratam a
respeito de todas as crenças e da liberdade de consciência, pode-se entender que eles
pretendiam evocar a questão do racionalismo em que a humanidade deve basear-se, em busca
do progresso, através do aperfeiçoamento do homem.
Na página 2, deste mesmo número do jornal “A LUZ’, essa questão do caráter não
religioso da Maçonaria é novamente abordada:

[...] uma associação civil, como muitas deste gênero diferenciando-se dessas pelos
seus fins humanitários. Como instituição cosmopolita não dá, nem pode dar,
preferência à religião alguma. A nenhuma ataca, respeitando todas. (...) Entretanto,
como o sentimento religião é inato ao homem, e só o irracional o desconhece, pode-
se afirmar que a Maçonaria tem uma religião: que considera todos os homens
irmãos, que aconselha a caridade, a fraternidade, a prática do dever e da virtude.(...)
É aquela que tem por dogmas a liberdade, a igualdade, a fraternidade, é aquela ainda
que se traduz no culto do amor a Deus e ao próximo170

169
A LUZ. PERIÓDICO. JORNAL DEDICADA A CAUSA DA MAÇONARIA. N º 11. Edição 11. 11 de maio
de 1873, p. 1.
170
Ibidem, p. 2.
66

Essa auto-definição do que seja a Maçonaria, publicada no jornal “A LUZ”, a


Maçonaria norte-rio-grandense do século XIX define-se como associação filantrópica, não-
secreta, não-religiosa, e de jurisdição civil. Definição essa também encontrada em outros
órgãos da Imprensa Maçônica, como o Boletim Oficial do Grande Oriente171, que era a
instituição maçônica central no Brasil, no qual as lojas estavam associadas e se submetiam.
Isto demonstra que o conceito do que seria Maçonaria não se restringia à província, mas sim
era um conceito universal e que deveria ser difundido, para esclarecer e informar a sociedade
que a Maçonaria não tinha caráter religioso, procurando desconstruir essa ideia.
Sobre os segredos maçônicos, o Jornal “A LUZ”, em sua edição de nº 14, datada de
31 de maio de 1873, publicou um artigo intitulado a Maçonaria e seus segredos, em que
esclarecia e desmistificava o que vem a ser a Maçonaria, seus princípios e objetivos. O autor
explicava que os únicos segredos da Maçonaria, eram os meios de reconhecimento entre os
maçons, e que esses eram inofensivos à sociedade e a sua razão da existência, era somente
para resguardar os seus membros dos demais da sociedade.

Os únicos segredos, pois da Maçonaria são inoffencivos, e não encerrão attentados


de especie alguma contra a existência individual e collectiva em todas as suas
manifestações. Consiste, eles apenas nos meios pelos quaes se fazem reconhecer os
seus adeptos, em suas iniciações, e celebrações de suas sessões. A razão, porém,
dessa reserva, sem ter nada de misteriosa, é clara, e salta aos olhos de todos. Si não
fora assim, si aquelles meios se divulgassem, si a todos ella abrisse as portas de seus
templos, para assistir aos seus trabalhos; então todos se confundiriam, todos seriam
maçons, todos conseguiriao esses favores, e essa proteção mais especial, a que só
tem direito os seus membros, sem contudo carregarem com os ônus a que estes são
obrigados.172

Em outro trecho do artigo, pode-se observar que o autor apresenta o segundo segredo
da Maçonaria, que seria a prática da caridade, realizada pela Maçonaria, sem divulgação, em
razão das lojas maçônicas seguirem o preceito da discrição em suas ações.

Ha, além disto, ainda um outro segredo: É a caridade que ella derrama sobre todos
os infelizes, como balsamo consolador de todas as misérias da humanidade, à
semelhança do orvalho nocturno, que desprendendo-se dos ceos, só se torna
conhecido pela sua acção benéfica.173

171
GOB – Grande Oriente do Brasil. O Boletim do Grande Oriente do Brazil: jornal official da maçonaria
brazileira – “Círculo maçônico do Lavradio” (1871-1874).
172
A LUZ. PERIÓDICO. JORNAL DEDICADA A CAUSA DA MAÇONARIA. N º 14. Edição 14. 31 de maio
de 1873, p. 4
173
Ibidem.
67

A defesa da causa da Maçonaria, pelo jornal, utilizava-se de argumentos de


autoridade, quando fazia citações de personalidades que defendiam a Maçonaria. Na edição
de nº 15, de 07 de junho de 1873, o jornal abordou a temática da luta da Maçonaria contra o
obscurantismo, em prol da civilização e do progresso humano, através da emancipação moral
e intelectual do homem. Para tanto, o jornal transcreveu um discurso e seus apartes, do
Maçom Visconde do Rio Branco, que era presidente do conselho de ministros do Império, em
que o ministro Rio Branco explica o que é a Maçonaria, seus princípios e símbolos, além de
defender e esclarecer o papel da Maçonaria na sociedade.174
Já na edição de nº 16, de 14 de junho de 1873, os editores publicaram um artigo
intitulado “Maçonaria, seus juramentos e iniciações”, em que se procura explicar e justificar
as razões de tais procedimentos, garantindo que não há nada que possam ferir a
suscetibilidade da fé religiosa dos homens. Explica também que esses regramentos eram um
direito de qualquer associação, desde que seus membros os aceitassem livremente, era um
procedimento legal. O artigo ainda procura diminuir as críticas e os dos padres jesuítas as
iniciações e juramentos maçônicos.

Mas ellas nada encerrao de ofensivo à divindade, nem à personalidade humana. Não
ha nelas um sacrilégio contra aquella, nem um atentado contra. Ao contrario é por
ocasião da iniciação que se procura formar o coração do neophito para a pratica da
virtude e preparar-lhe o espírito para o culto do dever. O compasso e o punhal de
que nos fallão os Srs. Bispos são ainda symbolos. E suas reverencias, que sabem
tantas cousas sobre a Maçonaria, devem tambem saber o sentido de taes symbolos.
Nada ha pois nas iniciações maçônicas que possa ferir a suscetibilidade da
consciência religiosa. Essas iniciações, essas provas não são hoje se nao uma espécie
de respeito e veneração a antiguidade maçônica.175

Na edição de nº 18, 28 de junho de 1873, o jornal “A LUZ” tratou de noticiar as


atividades realizadas na província, para comemorar a vitória da Maçonaria na questão
religiosa. Vitória essa conquistada, uma vez que o governo imperial tinha dado provimento ao
recurso interposto pela irmandade do Santíssimo Sacramento da Matriz de Santo Antônio,
cidade de Recife, em favor da participação de Maçons naquela instituição.
A seguir, apresenta-se o editorial do jornal “A LUZ” que abordou a questão:

174
LOJA MAÇÔNICA 21 de Março. A LUZ: jornal em defesa da causa da maçonaria, nº. 4. 07 DE JUNHO DE
1873.
175
A LUZ. PERIÓDICO. JORNAL DEDICADA A CAUSA DA MAÇONARIA. N º 16. Edição 16. 14 de junho
de 1873, p. 4
68

Sempre estivemos convencidos que seria infalível o triunfo da Maçonaria nessa luta
a que o jesuitismo a provocou. A humanidade não retrograda; ella caminha sempre
em demanda da terra da promissão. No meio desses grandes cataclysmas em que o
genio do mal parece querer destruir a própria natureza e fazel-a voltar aos cabos
donde sahira, uma scentelha se desprende, e dela se forma a luz. A história assim no
lo diz. (...) O tryumpho portanto da Maçonaria era uma questão de tempo. Elle
realisou se, e realisou-se mais cedo do que se supúnhamos. O governo, dando por
aviso de 12 do corrente provimento ao recurso interposto pela irmandade do
Santissimo Sacramento da igreja matriz de Santo Antônio, na cidade de Recife,
decidio o pleito176

Neste mesmo artigo, os autores defenderam a tese de que a Maçonaria não tinha fins
religiosos, nem conspirava contra a religião Católica; portanto, eram injustas as perseguições
e condenações aos maçons, especialmente porque a legislação do Império da época, permitia a
existência de sociedades secretas, inclusive a Maçonaria, garantindo a sua independência da
jurisdição eclesiástica.

Considerando que a Maçonaria como sociedade secreta, é permitida pela lei civil,
não tem fins religiosos, nem conspira contra a religião catholica; e que, portanto,
faltam-lhe caracter e intuitos que a sujeitem à jurisdição eclesiásticas e à condenação
sem forma e figura de juízo.177

Com a decisão favorável do governo Imperial conquistada pelas irmandades junto ao


governo Imperial, permitindo a participação de maçons, observa-se que a Loja 21 de Março,
liderou as comemorações nesta província, procurando demonstrar para a sociedade potiguar
que, nesta questão, a Maçonaria tinha saído vencedora e estava com a razão. Outrossim, o
Jornal “A LUZ” foi um importante instrumento para sensibilizar e influenciar a população
letrada nessa questão, e agora divulgava e convocava as pessoas a comemorar com os maçons
essa vitória e conquista, e assim o jornal, além de noticiar a decisão, também informou sobre a
solenidade maçônica, realizada na Loja 21 de Março, no dia 24 de Junho, em que a Maçonaria
potiguar celebrou a vitória.

SOLEMNIDADE MAÇONICA. - A Loja 21 de Março ao valle desta cidade


festejou com toda a solenidade o dia 24 do corrente. Os trabalhos forão dirigidos
pelo respeitável venerável Bartholomeu da Rocha Fagundes, e a eles presidio a
maior ordem.178

A celebração da “vitória Maçônica” e a sua divulgação objetivava demonstrar o


apoio do Estado à causa maçônica. E essa publicação do posicionamento favorável do

176
A LUZ. PERIÓDICO. JORNAL DEDICADA A CAUSA DA MAÇONARIA. N º 18. Edição 18. 28 de junho
de 1873, p. 1.
177
Ibidem, p. 2.
178
Ibidem, p. 4.
69

Governo Imperial no jornal “A LUZ” proporcionava uma maior credibilidade à causa


Maçônica nesta província. E assim construía-se, no imaginário popular, a ideia de que o
“Império apoiava a Maçonaria”, tanto que publicou quatro páginas do discurso do visconde de
Rio Branco no periódico. E, nesse sentido, apontando a existência do apoio do Estado
Imperial, consolidar-se-ia a percepção de que a Maçonaria conseguiu vencer essa disputa
hegemônica, e especialmente na província do Rio Grande do Norte, este fato teve bastante
destaque.
Para alcançar esse objetivo, a Loja Maçônica 21 de março, utilizou-se de várias
ferramentas, dentre elas, o uso da imprensa que foi deveras importante, pois, através de seus
periódicos, a Loja conseguiu manter seus membros ativos, aglutinados, sensibilizar e
influenciar a população, propagar as ideias maçônicas, seus valores e princípios, e conquistar
novos membros para fortalecer o seu quadro. Para esse fim, propagava a ideologia de que a
Maçonaria era uma instituição progressista e que buscava o aperfeiçoamento intelectual e
moral do homem, e assim contribuindo para o progresso da humanidade, combatendo o
obscurantismo e o fanatismo de qualquer forma, inclusive o religioso.
Nesse sentido, o periódico A LUZ: jornal dedicado à causa da Maçonaria foi uma
importante ferramenta para disseminar as ideias e princípios maçônicos, corroborando com
outras estratégias do jogo político, implementadas, a fim de manter e ampliar a hegemonia
político-social nesta província, já comprovada com a presença de maçons nos principais
cargos públicos da província do Rio Grande do Norte, demonstrando que a ocupação desses
espaços políticos era um objetivo da maçonaria potiguar, a fim de manter o seu poder local.
As comemorações que foram bastante efusivas, inclusive com homenagens a maçons
importantes desta província como o Sr. Raphael Archanjo Galvão179, um dos fundadores da
Maçonaria na província do Rio Grande do Norte e do Império, como o Visconde do Rio
Branco e o Conselheiro Saldanha Marinho, ambos exercendo funções importantes no
Governo Imperial e na Maçonaria Brasileira.180
Neste momento, a Maçonaria expandia-se no Rio Grande do Norte, e era fundada em
Mossoró, a Loja Maçônica “24 de Junho”, a primeira Loja Maçônica fora da capital da
província, com a finalidade de ampliar o poder e a influência da maçonaria em outras regiões
do Rio Grande do Norte.

179
Raphael Arcanjo Galvão foi um “empregado público” da Corte, chegando a ocupar o cargo de diretor-geral da
Contabilidade do Tesouro Nacional. Ver: BRASIL. Anais da Biblioteca Nacional – Rio de Janeiro: Biblioteca
Nacional, vol. 66. 1944. p.
180
LOJA MAÇÔNICA 21 de Março. A LUZ: jornal em defesa da causa da maçonaria, nº. 18. 28 DE JUNHO
DE 1873, p. 4).
70

A loja foi fundada por iniciativa dos Maçons da Loja 21 de Março, em destaque o
Vigário Bartholomeu Fagundes (Venerável Mestre) e José Gomes Ferreira, redator do jornal
“A Luz”, que contaram com o apoio de José Damião de Souza Mello e Jeremias da Rocha
Nogueira, redatores do jornal o Mossoroense.181
Esse fato teve um destaque especial na edição de nº 21, de 19 de julho de 1873, em
sua página 4. A esse respeito o jornal “A LUZ” noticiou:

MAÇONARIA EM MOSSORÓ
Uma loja maçônica acaba de ser instalada na cidade de Mossoró sob o título de 24
de junho. Essa trindade santa – liberdade, igualdade e fraternidade – é hoje ali
venerada. Uma influência retrograda matava ali as aspirações humanitárias. Os
sentimentos generosos que pullalavao no coração de seus habitantes erao para logo
suplantados pelo obscurantismo, que a todos trazia atados ao poste de uma
obediência passiva e da mais crassa ignorância .(...) Faltava lhes um destes augustos
recintos, onde o homem praticando a virtude, aprende a conter os seus
desregramentos e a regular suas acções segundo os disctames de san razão. (...) Hoje
porem existe um centro de luz e de atividade, cujo acçao benefica se exercerá com
mais eficácia e proficuidade, do que poderiao fazel-o os esforços isolados de um ou
outro individuo. Reunidos fraternalmente, os seus membros aprenderão a amar-se e
a respeitar-se mutuamente. Praticando a beneficencia e caridade e trabalhando no
seu aperfeiçoamento moral e intelectual, eles trabalharão no de seus semelhantes e
conseguirão espancar as trevas do obscurantismo. E dentro em pouco a cidade de
Mossoró conhecerá por experiência propria os salutares efeitos de uma instituição
que em seu caminhar de séculos só visa o bem da humanidade.182

Percebe-se, nessa matéria publicada no Jornal “A LUZ”, que a fundação de uma loja
maçônica em Mossoró fazia parte da estratégia da Loja 21 de Março para expandir e aumentar
a propagação das ideias e da causa da Maçonaria, que era contribuir para que os homens
vencessem o obscurantismo, através do seu aperfeiçoamento moral e intelectual e lutando pela
liberdade de consciência.
É importante destacar que, em Mossoró, já existia uma disputa de poder entre a
Maçonaria e a Igreja, com a participação de um grupo que se posicionava contra as propostas
ultramontanas dos bispos de Olinda e Belém e seus aliados jesuítas. Dentre as personalidades
que combatiam as ideias ultramontanas em Mossoró, destaca-se o papel dos redatores do
jornal o Mossoroense, que difundiam ideias maçônicas naquela cidade e região, contribuindo
demonstrando a simpatia e a possível relação dos redatores e dirigentes do jornal com a
maçonaria, nessa província.

181
SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001[1924]. p. 32
182
A LUZ. PERIÓDICO. JORNAL DEDICADA A CAUSA DA MAÇONARIA. N º 21. Edição 21. 19 de julho
de 1873, p. 4.
71

Neste sentido, Raimundo Nonato183, ao abordar a fundação da loja maçônica 24 de


junho em Mossoró, destaca a relação desses redatores com a maçonaria e o papel do jornal
que eles dirigiam, na difusão das ideias maçônicas naquela região da província do Rio Grande
do Norte:

A Loja de Mossoró nascia, assim, com uma tradição de que eram portadores certos
grupos de livres pensadores (...) como se deduz das publicações que apareciam no
“O Mossoroense”, um jornal independente, onde as opiniões do seu diretor, Jeremias
da Rocha Nogueira, deixavam transparecer, claramente, suas tendências para o rumo
da franco maçonaria, com revelações que identificavam seus pontos de vista
doutrinários.184

Portanto, observa-se que, assim como na cidade de Natal capital da província, os


maçons e simpatizantes da causa maçônica, que residiam em Mossoró e região, também se
utilizavam da imprensa periódica, como um importante instrumento para os embates
ideológicos que se travavam na província.
Sobre a presença de maçons na cidade de Mossoró e região, o pesquisador e autor
maçônico Olismar Lima, afirma que a Loja Maçônica 24 de Junho fora fundada com o apoio
decisivo dos maçons residentes naquela cidade, dentre eles destacam-se: José Paulino de
Castro Medeiros, Abel Ageleu Dantas, Conrado Mayer, João Severiano de Souza, Joaquim
Fernandes Dias, José Ignácio Pereira do Lago e Orlando Alves de Paiva.185
Por conseguinte, a Maçonaria fortalecia a sua posição no Rio Grande do Norte, por
meio da fundação de uma segunda loja, agora no interior da Província, o que facilitaria o
ingresso de novos membros daquela região, e chegaria a conquistar o apoio de um outro
periódico, que passaria a propagar as ideias maçônicas naquela região da província, que seria
o Jornal o Mossoroense, em que seus redatores, Jeremias da Rocha Nogueira e José Daniel de
Melo, que eram maçons.186
Após esse período, de comemorações das primeiras vitórias conquistadas pela
Maçonaria nesse conflito, observa-se que o periódico “A LUZ” se concentrou em todos os
exemplares seguintes – dos números 15 ao 29 –, a divulgar notícias relacionadas com o
triunfo da Maçonaria perante a Igreja e publicavam mais decisões do Governo Imperial, que
lhes favoreciam.

183
NONATO, Raimundo. História Social da Abolição em Mossoró. Mossoró: Edição do
Centenário. Coleção Mossoroense. Vol. CCLXXXV, 1983.
184
NONATO, Raimundo. História Social da Abolição em Mossoró. Mossoró: Edição do
Centenário. Coleção Mossoroense. Vol. CCLXXXV, 1983. p. 88.
185
Ibidem, p. 25.
186
Ver: ROSADO, Cid Augusto da Escóssia. Escóssia. Mossoró, RN: Fundação Vingt-un Rosado, 1998.
(Coleção Mossoroense. Série C, v. 989).
72

E assim, a publicação e divulgação das ideias maçônicas pelo jornal foi diminuindo,
até que na edição de nº 28, datada de 13 de setembro de 1873, foi publicado um aviso,
justificando a falta de circulação do periódico na semana passada, e que haveria dificuldades
para manter a regularidade, visto que um dos seus redatores e responsável pelo jornal “A Luz”
estava morando fora da província.

Por circunstancias imprevistas deixou a nossa folha de sahir na semana passada; e


julgamos conveniente prevenir ao respeitável público que d’ora em diante talvez não
seja possível observar-se em sua publicação a regularidade que durante seis mezes
sempre houve, em consequência de ir residir fora da cidade um dos redactores, que
era também encarregado da sua direção; pelo menos em quanto se não providenciar
em ordem a ser substituído o referido redactor.187

De acordo com Gramsci, o papel dos meios de comunicação era formar a opinião
pública a fim de aproximar a sociedade civil em torno de certas propostas. Essa disputa pela
conquista da opinião pública desencadeou uma luta entre órgãos de opinião: os jornais188. De
fato, a teoria de Gramsci é voltada para os jornais, parlamentos e partidos políticos do início
do século XX. No entanto, pode-se utilizar essas considerações para analisar disputas sócio-
políticas em qualquer período.
Gramsci189 declara que não bastava uma classe dominante legitimar-se por meio da
ocupação da sociedade política – representada pelos cargos políticos, mas era necessário
legitimar também a posição social através da persuasão de opiniões e ideias. Portanto, o jornal
é caracterizado como um dos “instrumentos de hegemonia”.190
Neste mesmo sentido, historiador Robert Darnton191 assinalou que os textos
jornalísticos não são meros transmissores de informações, mas divulgadores de uma narrativa
de “segunda mão” sobre os fatos ocorridos, pois “a notícia não é o que aconteceu no passado
imediato, e sim o relato de alguém sobre o que aconteceu. E esse relato pode sempre estar
inserido de ideologia, conforme defendido por Fairclough.192
Observa-se que os artigos publicados no jornal “A LUZ” frequentemente repetiam,
de forma sistemática, ideias e temas, a fim de conseguir esclarecer e sensibilizar os leitores
sobre os conceitos, valores e princípios maçônicos, e se acredita que este método funcionou,

187
A LUZ. PERIÓDICO. JORNAL DEDICADA A CAUSA DA MAÇONARIA. N º28. Edição 28. 13 de
setembro de 1873, p. 1
188
SCHLESENER, Anita Helena. Hegemonia e cultura: Gramsci. 3 ed. Curitiba: editora UFPR, 2007. P. 31-33.
189
GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da sociedade. Rio de Janeiro (RJ): civilização Brasileira,
1995.
190
Ibidem.
191
DARNTON, Robert. O beijo de Lamourette: mídia, cultura e revolução. São Paulo: Companhia das Letras,
1990
192
FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001.
73

pois houve um crescimento no número de maçons iniciados na loja e de participação nas


reuniões semanais.
Gramsci explica sobre a importância da utilização dessa estratégia utilizada no Jornal
“A LUZ”, em que se observa a massificação e divulgação das ideias maçônicas. Gramsci193
defende que a ‘repetição’ paciente e sistemática é um princípio metodológico fundamental:
mas a repetição não mecânica, ‘obsessiva’, material; porém é necessária a adaptação de cada
conceito às diversas peculiaridades e tradições culturais, demonstrando, assim, a importância
do Jornal “A LUZ” e das ideias propagadas por ele com o objetivo de manter e conquistar
maior poder na província do Rio Grande do Norte.
Portanto, o jornal “A LUZ” que defendia a causa da Maçonaria na província do Rio
Grande do Norte, durante a sua circulação, foi o meio utilizado pela loja maçônica, para
defender a instituição maçônica e os seus membros, durante a questão religiosa, e para tal fim,
utilizaram-se de artigos, matérias e noticiários, sempre comentados, objetivando difundir e
propagar as ideias maçônicas no meio da sociedade potiguar, sempre relacionando a
Maçonaria com as ideias e noções de civilização, progresso, liberdade de consciência e
religiosa, regeneração moral e de fraternidade.
Através deste periódico, os maçons e os homens letrados desta província e para as
quais o jornal era enviado, tinham acesso a essas ideias e as notícias maçônicas do Rio Grande
do Norte e especialmente de questões que envolviam maçons potiguares.
Destarte, o jornal “A Luz”, assim como outros jornais e panfletos foi um importante
meio de produção e difusão da cultura política e das ideias das elites e intelectuais do século
XIX, que se utilizavam desses impressos a fim de influenciar e conquistar apoiadores aos seus
ideais e suas causas, e como eram lidos e comentados em público conseguiam até romper a
barreira do analfabetismo.
O próximo capítulo é dedicado a investigar e relacionar se as ideias e os discursos da
imprensa maçônica na província do Rio Grande do Norte tinham semelhanças ou diferenças
com a Imprensa Maçônica carioca, onde estava situado o poder central da Maçonaria no
Brasil e a sede do governo imperial.

193
GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da sociedade. Rio de Janeiro (RJ): civilização Brasileira,
1995, p. 174.
74

4. RELAÇÕES ENTRE AS IDEIAS E OS DISCURSOS NA IMPRENSA MAÇÔNICA


DA PROVÍNCIA DO RIO GRANDE DO NORTE E DO BOLETIM OFICIAL DA
MAÇONARIA BRASILEIRA (1873-1874)

A Maçonaria brasileira, no século XIX, constituía-se pelas suas lojas maçônicas


espalhadas pelas diversas províncias, que precisavam estar filiadas a um Grande Oriente, que
seria o poder central da Maçonaria no Brasil, que forneceria a regularidade maçônica as lojas.
A Loja Maçônica 21 de Março era filiada ao Grande Oriente Unido Brasil.194
Cada potência maçônica195 utilizava-se de um boletim informativo oficial, que era
publicado mensalmente, para encaminhar seus atos oficiais, decisões maçônicas a serem
cumpridas pelas lojas jurisdicionadas, artigos maçônicos, notícias da Maçonaria nas
províncias e em todo o Império, além de outras regiões estrangeiras, tais como: Estados
Unidos, Inglaterra, Portugal, França, Bélgica, Itália, etc.
Neste capítulo, apresenta-se o resultado da análise do Boletim oficial do Grande
Oriente Unido do Brasil, que foi publicado no período de 1872 a 1877. Esse boletim foi
escolhido em razão de ser o informativo da potência maçônica, a qual a Loja 21 de março
estava filiada, e devia obediência e fidelidade, no final do século XIX, no período de 1870-
1874.
O acesso a esse periódico maçônico ocorreu pela pesquisa realizada no acervo da
Fundação Biblioteca Nacional, na seção de Periódicos, na qual foram encontradas 15 edições,
sendo 5 publicadas no ano de 1873, 3 edições nos anos de 1874, 1875, 1876 e 1 no ano de
1877. Na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional encontram-se, apenas, as edições
referentes ao período compreendido entre 1873 a 1877.196
Com relação ao Boletim Informativo do Grande Oriente Unido e Supremo Conselho
do Brazil, este se denominava como Jornal Oficial da Maçonaria Brasileira, começando a
circular no ano de 1872, e tinha como Redator Chefe, o Dr. Alexandrino Freire do Amaral.
A análise deste periódico possibilitou identificar as ideias, notícias e matérias que
estavam contidas, possibilitando relacioná-las com as presentes e propagadas no Jornal “A
LUZ”, na província do Rio Grande do Norte.

194
SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001[1924]. p. 32.
195
Potência e obediência maçônica são os termos utilizados para fazer referência ao poder central da Maçonaria
nos estados nacionais, principados, reinos e impérios.
196
Para acessar esse boletim: ver: Biblioteca Nacional. Hemeroteca digital Brasileira. Disponível:
<http://bndigital.bn.br/acervo-digital/boletim-grande-oriente/074594> Acesso: 20 JAN 2020.
75

Em sua edição de nº 1, do ano 2, datado de janeiro de 1873, observa-se que na


“SESSÃO DOGMATICA”, escrito em caixa alta, tem-se um artigo intitulado “A Maçonaria
Brasileira” em que o autor destaca o papel do Grande Oriente Unido como condutor da
Maçonaria Brasileira em prol do trabalho maçônico, do progresso moral, e de expansão da
Maçonaria pelos recantos do Brasil, a fim de combater os jesuítas e contribuir ao
desenvolvimento do País, através do apoio à construção de escolas e ajuda aos mais
necessitados.197
Em um trecho extraído desse artigo, percebe-se que o Grande Oriente Unido definia
que a Maçonaria deveria trabalhar em prol da melhoria da instrução das pessoas a fim de
possibilitar elevar as famílias a um certo grau de independência, contribuindo, assim, para que
a sociedade alcançasse um melhor nível de vida.198
Ainda nesse Boletim, em sua página 8, em um artigo intitulado “O Jesuitismo em
Pernambuco” foi abordada a questão religiosa, em Pernambuco, no qual, os seus autores,
descrevendo o que acontecera na percepção dos maçons, enalteciam as posições dos maçons
da província de Pernambuco em não abjurar a Ordem e promover a defesa do ideal e da causa
maçônica. Inclusive, defendendo que a Maçonaria tinha um papel essencial na sociedade
brasileira, e convocavam os maçons a lutar em prol da Maçonaria e da sua causa.
Com relação às notícias ligadas à Maçonaria potiguar, observa-se que em dois
momentos o Grande Oriente Unido realizava ajuda financeira a maçons potiguares, em
atendimento ao pedido da Loja Maçônica 21 de Março. Na página 22 da Edição nº 1 um ato
do Grão Mestre Geral da Ordem autorizava uma ajuda financeira, no valor de “cincoenta mil
réis”, e na página 128 da Edição nº 2 e 3 de fevereiro e março de 1873, na seção “Actos do
Gram Mestre da Ordem”, autorizava uma ajuda financeira de setenta mil réis, que deveria ser
enviada por este Grande Oriente à Loja 21 de Março, para atender as necessidades desses
irmãos, que não foram identificados no boletim.
Em sua página de nº 26, esse Boletim, na seção “Extractos das actas das sessões do
Grande Oriente Unido do Brasil”, mencionava que a Loja maçônica 21 de março tinha feito
recomendações de seus membros ao Grande Oriente, praxe em que as lojas apresentavam
membros de seus quadros ao poder central, para o preenchimento de cargos na hierarquia
maçônica do poder central

197
O Boletim do Grande Oriente Unido e Supremo Conselho do Brazil: jornal official da maçonaria brazileira –
“Círculo maçônico dos Beneditinos” (1873-1874), p.3-5. Disponível: http://bndigital.bn.br/acervo-
digital/boletim-grande-oriente/074594. Acesso: 25 Mar 2020.
198
Ibidem, p. 3-5.
76

Em diversos trechos, é possível identificar as correspondências de diversas lojas


maçônicas das províncias apoiando esse Grande Oriente,199 e evidenciando que através desse
seria possível que a Maçonaria brasileira cumprisse o seu papel, que era o de contribuir com a
regeneração dos costumes, a liberdade, a emancipação do homem e o direito.
Havia comunicação de potências maçônicas estrangeiras com o Grande Oriente
Unido do Brazil, e havia trocas de Boletins e envio de revistas. Gonçalves200 afirma que um
conjunto de jornais foram recebidos ou tiveram artigos transcritos no Boletim do Grande
Oriente Unido do Brazil, dentre eles destaca-se o periódico “A LUZ”, jornal dedicado à causa
da Maçonaria, que era patrocinado pela Loja Maçônica 21 de Março.
Foi possível identificar no Boletim Oficial do Grande Oriente Unido do Brazil, o
registro de recebimento de pelo menos 32 jornais e revistas maçônicas estrangeiras
(Alemanha, Áustria, Argentina, Bélgica, Colômbia, Egito, Espanha, Estados Unidos, França,
Índia, Inglaterra, Itália, Holanda, Luxemburgo, Romênia, Suíça, Portugal) demonstrando que
os seus redatores tinham conhecimento dos artigos e das ideias destes periódicos, que além de
serem transcritos, também poderiam servir de base para a construção dos discursos e da
propagação das ideias maçônicas no Brasil.
Um trecho interessante observado no Boletim, em sua página 60, do seu nº 1, do ano
de 1873, fazia referência ao Periódico Freemason, de Londres - Informativo oficial da Grande
Loja Unida da Inglaterra, que era a obediência maçônica mais tradicional, por ter sido a
primeira a registrar os regulamentos para os maçons modernos. Nesta nota, o boletim do
Grande Oriente Unido do Brazil, destaca que a Grande Loja de Londres tinha recebido um
comunicado da Grande Loja Royal York da Amizade, de Berlim, havia revisado seus
estatutos e de agora em diante, autorizava a iniciação e judeus e pessoas de qualquer
religião.201
Em outro trecho do mesmo número do Boletim, observa-se uma nota, transcrevendo
uma assembleia maçônica na Itália, que se reuniu em Roma, entre 28 de abril a 02 de maio de
1872, no qual foi adotada uma emenda com a definição dos fins da Maçonaria, para aquele
oriente e região: “Ella se aplica às ciências physicas, estuda as questões sociaes, sem

199
Grande Oriente e Grande Loja são as denominações maçônicas que as potências e obediências maçônicas se
utilizam , enquanto representam o poder central da maçonaria em caráter nacional. Ver: SOUSA, Kleber
Cavalcante. A maçonaria em 24 lições. Natal: AMRA, 2017.
200
GONÇALVES, Thiago Werneck. “Periodismo maçônico e cultura política na corte imperial brasileira
(1871-1874).” Dissertação de mestrado em História, Universidade Federal Fluminense, 2012. Disponível em:
<http://www.historia.uff.br/stricto/td/1588.pdf>. Acesso em: 25 set. 2019.
201
O Boletim do Grande Oriente Unido e Supremo Conselho do Brazil: jornal official da maçonaria brazileira –
“Círculo maçônico dos Beneditinos” (1873-1874), p.60. Disponível: http://bndigital.bn.br/acervo-
digital/boletim-grande-oriente/074594. Acesso: 25 Mar 2020.
77

restricção de qualquer especie ou gráu, e procura resolvel-as somente pelas forças da


inteligência, tanto individuas, como colectivas”.202
Um outro assunto que foi bastante identificado no Boletim Informativo do Grande
Oriente Unido do Brazil e que fora mencionado em um periódico estrangeiro, referia-se a
libertação de escravos. Ao se fazer a pesquisa, verificou-se pelo menos 84 ocorrências, sendo
a maioria delas sobre as ações das lojas maçônicas, que estavam organizando-se e comprando
a liberdade de escravos.
Sobre essa ação das lojas maçônicas brasileiras, o Informativo do Grande Oriente
Unido informou sobre uma matéria publicada na edição – novembro de 1873, do periódico
Monde Maçonnique, da Maçonaria francesa, que havia publicado em suas páginas no mês de
novembro. O boletim do Grande Oriente fez questão de transcrever a matéria, enfatizando a
importância que a Maçonaria francesa atribuía a esta ação da Maçonaria brasileira.203
Na revista estrangeira do nº 7 do Monde Maçonnique, correspondente ao mez de
novembro de encontram-se notícias a respeito da Maçonaria do Brasil, algumas das quais
transcrevemos para dar conhecimento aos leitores (...) Brazil – O boletim informativo do
Grande Oriente Unido do Brasil nos anuncia o apparecimento do Pelicano, no Pará, da
Verdade e da Família Universal em Pernambuco. Há além disso uma nobre emulação entre as
lojas a fim de libertar escravos. Os relatórios dos trabalhos das officinas registraram
constantemente novas actos de manumissão. É isto a Maçonaria bem entendida.204
A questão da liberdade dos escravos fazia parte das bandeiras de liberdade, progresso
e civilização defendidas pela Maçonaria, apesar de que, no seio das lojas maçônicas
existissem membros que possuíam escravos, assim como em todo o Brasil, neste período,
portanto, essa questão não estava ainda totalmente pacificada.
Entretanto, é fato que houve diversos homens que foram libertos, através do apoio
das Maçonaria brasileira. Inclusive, na província do Rio Grande do Norte, a Loja Maçônica
21 de Março, no ano de 1968, por iniciativa do maçom José Lourenço de Almeida propôs a
criação de uma ‘sociedade’ para libertar escravos, ideia que fora implementada e celebrada
em cerimônia de aniversário da loja, três anos depois. Segundo os professores e autores

202
O Boletim do Grande Oriente Unido e Supremo Conselho do Brazil: jornal official da maçonaria brazileira –
“Círculo maçônico dos Beneditinos” (1873-1874), p. 61. Disponível: http://bndigital.bn.br/acervo-
digital/boletim-grande-oriente/074594. Acesso: 25 Mar 2020.
203
Boletim do Grande Oriente Unido e Supremo Conselho do Brazil: jornal official da maçonaria brazileira –
“Círculo maçônico dos Beneditinos” (1873-1874), p. 57. Disponível: http://bndigital.bn.br/acervo-
digital/boletim-grande-oriente/074594. Acesso: 25 Mar 2020.
204
Ibidem, p. 57.
78

maçônicos Olismar Lima205 e Josué Pedrosa206, essa iniciativa também fora implementada
pela Loja Maçônica 24 de Junho, de Mossoró, que criou um fundo de emancipação de
escravos e com a fundação da Sociedade Libertadora Mossoroense, a qual o seu primeiro
presidente era o líder maçom Romualdo Lopes Galvão, primeiro vigilante da Loja Maçônica
24 de Junho.207
Com relação às notícias das Maçonarias das províncias do Norte, na página 79, o
boletim acusava o recebimento do jornal maçônico a Verdade, da província de Pernambuco,
que também era enviado para a Província do Rio Grande do Norte, e sempre citado no Jornal
“A LUZ”. Nesta nota, o boletim oficial destacava o importante papel desse periódico na
defesa da causa maçônica, e em especial da luta pela liberdade de consciência. O trecho
também destaca que o jornal: “revela mais vida e atividade na sustentação dos direitos de
nossa associação e na defesa dos princípios que devem repercutir no coração de todos os
homens honestos que prezam a pátria, a família, e a humanidade”.208
Sobre a Maçonaria potiguar, a edição de nº 2 do Jornal “A LUZ” registra, em sua
página 131, que a Loja Maçônica 21 de Março reconhecia esse Grande Oriente como único
poder maçônico do Brasil. Na página 133, a assembleia geral do Grande Oriente Unido do
Brasil confirmava o resultado da eleição da nova diretoria da Loja 21 de março para o ano de
1873. Na página 182-183, foi publicado parecer enviado pela Loja Maçônica 21 de Março, do
Oriente de Natal, reconhecendo o Grande Oriente Unido do Brazil. Neste parecer, percebe-se
que a comissão de maçons da Loja fez questão de destacar a importância de que a Maçonaria
brasileira estivesse unida para enfrentar os desafios e lutas que se apresentassem.
Sobre o periódico “A LUZ”, este foi recebido pelo Grande Oriente Unido, e, em seu
boletim, de nº 2 e 3, em sua página 196, fora feita uma nota sobre a sua fundação em Natal,
enaltecendo o papel da Loja Maçônica 21 de Março, a mantenedora desse periódico.
A seguir, transcreve-se o texto de apresentação do periódico maçônico potiguar a
toda a Maçonaria brasileira:

A LUZ. – Com esse título acaba de publicar-se em Natal, província do Rio Grande
do Norte, um jornal dedicado à causa da Maçonaria. A reacção religiosa,
imprudentemente agitada no Paiz, vai felizmente encontrando por toda a parte
valentes adversários que hão de conseguir avassala-la. A folha de que ora damos
notícias é redigida com critério e talento, publicada sob os auspícios da Loja Vinte e

205
LIMA, Olismar Medeiros. Loja Maçônica 24 de Junho: do pó dos arquivos. Mossoró, 2006.
206
PEDROSA, Josué. O Aprendiz de Spartacus. Natal: offset Editora, 2018.
207
Ibidem, p. 20.
208
O Boletim do Grande Oriente Unido e Supremo Conselho do Brazil: jornal official da maçonaria brazileira –
“Círculo maçônico dos Beneditinos” (1873-1874), p. 79 Disponível: http://bndigital.bn.br/acervo-
digital/boletim-grande-oriente/074594. Acesso: 25 Mar 2020.
79

Um de Março, e distribue-se grátis. Endereçamos os merecidos encomios aos nossos


companheiros de lucta, e como prova de adhesão aos princípios por que propugnam,
para aqui trasladamos o artigo inicial da folha referida. Ei- lo: “ Um brado de justa
indignação e levanta hoje em todo o Império contra os Jesuítas (...) pretendem
assentar no Brazil seus arraiaes, e nelle firmar o domínio do obscurantismo e do
servilhismo.209

Na página 210, desse mesmo número, o boletim do Grande Oriente fez menção à
postura do Vigário Bartolomeu da Rocha Fagundes, maçom e venerável mestre da Loja 21 de
março, que tinha sido convocado pelo Bispo de Recife Dom Vital, para abjurar e se afastar da
Maçonaria, mas o Padre-Maçom enfrentou o Bispo, e por esta atitude era considerado digno
da elevadíssima consideração e tinha o apoio de diversas lojas maçônica brasileiras, inclusive
algumas lhe concedendo o título de membro honorário.210
Observa-se que havia um interesse e preocupação do poder central da maçonaria
brasileira, em reforçar e valorizar as atitudes e posturas de maçons que resistiam e
enfrentavam as posições dos bispos ultramontanos contra os maçons, e que eram consideradas
autoritárias e não legítimas pela maçonaria. Seguramente, essa estratégia visava estimular e
encorajar as lojas maçônicas e seus membros, por meio da construção de discursos que
demonstravam as atitudes e posturas em defesa da maçonaria.
É importante destacar que o boletim do Grande Oriente era enviado a todas as lojas
maçônicas do Brasil e a algumas potências maçônicas fora do Império, o que o tornara um
importante meio de difusão das ideias e dos fatos que envolviam a maçonaria e seus membros
no Império do Brasil.
Sobre a importância daqueles que estavam dirigindo as lojas maçônicas espalhadas
pelas províncias, observa-se que em sua página 226, deste mesmo número, o boletim fez
referência aos oficiais das Lojas que eram filiadas a essa obediência, e consta como Venerável
Mestre e Secretário da Loja Maçônica 21 de Março, os maçons: Vigário Bartholomeu da
Rocha Fagundes e Paulilio Fernandes Barrros.211
O boletim do Grande Oriente Unido, citando o Jornal “A LUZ”, descreveu que a
Loja Maçônica 21 de março tinha iniciado oito novos membros, sendo quatro nas reuniões

209
O Boletim do Grande Oriente Unido e Supremo Conselho do Brazil: jornal official da maçonaria brasileira.
(1873-1874), p. 196. Disponível: http://bndigital.bn.br/acervo-digital/boletim-grande-oriente/074594. Acesso:
26 Mar 2020
210
O Boletim do Grande Oriente Unido e Supremo Conselho do Brazil: jornal official da maçonaria brazileira –
“Círculo maçônico dos Beneditinos” (1873-1874), p. 210. Disponível: http://bndigital.bn.br/acervo-
digital/boletim-grande-oriente/074594. Acesso: 26 Mar 2020
211
O Boletim do Grande Oriente Unido e Supremo Conselho do Brazil: jornal official da maçonaria brazileira –
“Círculo maçônico dos Beneditinos” (1873-1874), p. 226. Disponível: http://bndigital.bn.br/acervo-
digital/boletim-grande-oriente/074594. Acesso: 26 Mar 2020.
80

nos dias 13 e 17 de março, e mais quatro, no dia 18 de abril de 1873. Além de a filiação de
maçons que estavam afastados dos trabalhos. O redator da nota, associa esse crescimento e
maior engajamento dos maçons, em razão das perseguições que a Maçonaria e seus membros
estavam sofrendo nesta província, destacando que até maçons septuagenários estavam se
unindo a essa causa.
Dessa forma, ao relatar esse crescimento do número de maçons iniciando na loja 21
de março e em especial na província do Rio Grande do Norte, o boletim do Grande Oriente,
possivelmente desejava confirmar que nesse embate entre a Ordem Maçônica e a Igreja
Católica, a maçonaria estava seguindo firme e conseguindo sair fortalecida, visto que havia,
os membros da sociedade local continuavam a aderir à causa da maçonaria na província e
consequentemente a Maçonaria Brasileira.
Ademais, percebe-se que a imprensa periódica maçônica objetivava confirmar, que
as estratégias utilizadas para difundir e sensibilizar a sociedade letrada, quanto as ideias
maçônicas, estavam sendo efetivas. Do mesmo modo, acredita-se que essas notícias
enfocando a conquista de novos membros e o crescimento da Maçonaria no Brasil, desejava
reforçar e estimular as lojas maçônica a manterem as suas estratégias de conquista de espaço e
influência nas províncias e em todo o Império.
Consoante as ideias de Gramsci212, de hegemonia e sobre a maçonaria, observa-se
que a Ordem Maçônica, estaria conseguindo influenciar e atrair mais membros para os seus
quadros, possivelmente, pois estes homens que agora ingressavam na Ordem, vislumbrariam
nela, oportunidades de estreitar laços sociais, assim como se utilizar da mesma, para
consolidar seus interesses e de seus grupos, na medida em que, a maçonaria, neste período,
estava envolvida nas transformações sociais e políticas do Império, e conforme já observado
era uma arena das disputas políticas, e um centro de poder no Império do Brasil.
Sobre a causa da Maçonaria, um pronunciamento feito pelo Maçom Franklin Távora,
realizado no dia 24 de junho de 1873, em reunião maçônica em Pernambuco, com a finalidade
de entregar cinco cartas de alforrias, que a Loja teria comprado, com o apoio dos maçons,
para libertar esses homens que eram escravos.
Franklin Távora213 exaltava o papel e a missão que a Maçonaria assumira:

212
GRAMSCI, Antonio. Maquiável, a Política e o Estado Moderno. 6a. Ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1988. GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultura. 9a. Ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1995.
213
Foi advogado, político, jornalista e romancista. Foi também fundador e diretor da Revista A Verdade – órgão
de defesa da Causa da Maçonaria na Província de Pernambuco.
81

Sinto que a Maçonaria é grande hoje como a liberdade. Sinto que nunca ella deu
tanto que esperar de si. O seu triunfo foi o um comprometimento. (...)Ella estava
inerme, e deram-lhe o escudo e lança inquebrantável. Oh Maçonaria, si bem
comprehenderes o papel que te acaba de ser distribuído na scena das agitações
pacíficas, talvez pela mão da fatalidade, longe irá o teu nome, a projecção do teu
grandioso passado. Tu encarnas em ti, hoje, o futuro embryonário da nossa cara
patria.(...) Chegou, pois, a vez da Maçonaria, que não aspira posições, que não tem
compromisso de agradar ninguém sinão à sua consciência de instituição
profundamente civilizadora. A Maçonaria nao precisa do poder para cumpri a sua
missão, a qual é toda de propaganda. Quem se mette na Maçonaria e começa a tratar
da difusão dos princípios e da adopção das reformas (...) Pois bem, meus irmãos,
convençamo-nos destas verdades. Disponhamo-nos para a luta de ideias. (...) Eis o
programma que eu entendo dever ser actualmente o da Maçonaria no Brasil (...)
felicitemo-nos, meus irmãos. A Maçonaria está no caminho de ser grande, grande
como o futuro!214

Esse discurso de Franklin Távora, inicialmente publicado no periódico maçônico


pernambucano “a verdade”, e depois no Boletim do Grande Oriente Unido do Brazil
demonstra que havia um interesse de propagar para a Maçonaria brasileira, as ações efetivas
das lojas maçônicas em suas províncias, em prol da defesa das liberdades, dos direitos
individuais e das ideias de progresso e de civilização. Observa-se que nesse discurso o
Maçom Franklin Távora evidencia o papel da Maçonaria como instituição promotora do
progresso e civilizatória, e que seria necessário que os maçons se preparassem e se
envolvessem na luta de ideias que estava sendo travada no Brasil, no qual a Ordem Maçônica
possuía um papel decisivo
Em edição de número 004-006 o Boletim oficial do Grande Oriente Unido publicou a
carta que o Vigário Bartholomeu Fagundes, venerável da Loja 21 de Março, enviara ao Bispo
Dom Vital, se negando a fazer a declaração de abjurar a Maçonaria. Essa mesma carta,
também fora publicada no Jornal “A LUZ”, em sua edição de nº 3, de 15 de março de 1873:

Exmo e Reverendíssimo Sr, Dom Vital Maria Gonçalves de Oliveira.


Assunto: respondendo ao ofício que me dirigiu, determinando que eu
declarasse aos jornais que não pertenço mais à Maçonaria.
Permita V Exa Rever. que, como todo respeito que devo ao meu Prelado, lhe
fale que a dignidade que todo homem de bem deve a todo transe procurar
manter e o juramento que espontaneamente prestei quando fui admitido
àquela associação, me impedem de fazer a declaração ordenada por V Exa
Reva. Uma semelhante declaração importa numa abjuração ou perjúrio, e
não há que ser no último quartel de minha vida que eu hei de cometer um
perjúrio, muito principalmente contra uma associação cujos fins
humanitários são de sobejo conhecimento. Quando conferenciei com V Exa
Reva, que tenho 34 anos de vida pública, a qual considerava sem manchas,
graças à Divina Misericórdia, não poderia, sem quebra de minha dignidade

214
O Boletim do Grande Oriente Unido e Supremo Conselho do Brazil: jornal official da maçonaria brasileira.
(1873-1874). Ed. 004-006, p. 458.
82

pessoal e sem lançar uma nódoa em minha reputação de homem de bem,


abjurar da Maçonaria. Portanto, pretendo continuar em meu propósito, sem
querer desobedecer às ordens de meu Prelado, a quem atribuo todo respeito e
acatamento. In Christus Jesus, Pe. Bartolomeu Fagundes”.215

A respeito dessa publicação, percebe-se que, a Maçonaria estava enaltecendo a


postura e o compromisso do Maçom vigário Bartholomeu Fagundes, venerável mestre da loja
21 de março e vigário de Natal, que estava enfrentando e em uma disputa com o Bispo de
Recife e Olinda. Ao publicar e dar publicidade a essa carta, para todas as lojas maçônicas do
Império, em seu jornal, acredita-se que essa atitude, objetivava fortalecer o engajamento e
mobilizar as lojas maçônica e seus membros, em prol das lutas e disputas, que a Ordem
Maçônica enfrentava e viria a enfrentar no Império.
No que cerne, ao crescimento da Maçonaria, a sua mobilização e o engajamento de
maçons na sua causa percebe-se que, de fato a Ordem Maçônica obteve um crescimento e em
meados de 1874, já estava presente em todas as províncias do Império.
De acordo, com o Boletim Oficial do Grande Oriente Unido do Brazil, em 1874, essa
potência maçônica possuía 204 instituições maçônicas jurisdicionadas, sendo 171 lojas
simbólicas216 e 73 lojas capitulares217. Com relação as eleições para Grão-Mestre Geral da
Ordem Maçônica, observa-se que em 1874, votaram 4.383 maçons de todo o Brasil, sendo
eleito o Maçom Saldanha Marinho.218
Essa informação demonstra que, em 1874, a Maçonaria brasileira possuía mais de
quatro mil trezentos maçons atuantes, espalhados em mais de 250 corpos maçônicos presentes
em todas as províncias do Império, comprovando a forte presença maçônica no império e que
as estratégias para engajar e conquistar membros para a ordem maçônica havia sido efetiva,
visto que, aproximadamente 0,5% da população livre do Império do Brasil, eram membros da
Maçonaria, considerando os dados referentes ao censo populacional219 de 1872.

215
A LUZ. PERIÓDICO. JORNAL DEDICADA A CAUSA DA MAÇONARIA. Nº 3. Edição 3. 15 de março de
1873, p. 4
216
Lojas simbólicas trabalham nos três primeiros graus da maçonaria: aprendiz, companheiro e mestre. Ver:
SOUSA, Kleber Cavalcante de. A maçonaria em 24 lições. Natal: AMRA, 2017.
217
Lojas Capitulares trabalham nos graus superiores ou filosóficos, que vão do 4 ao 33, no Rito Escocês Antigo
e Aceito. Ver: CAMINO, Rizardo de. Rito Escocês Antigo e Aceito: 1 ao 33. São Paulo: Madras, 1999. 2a.
Ed.
218
O Boletim do Grande Oriente Unido e Supremo Conselho do Brazil: jornal official da maçonaria brazileira –
“Círculo maçônico dos Beneditinos” (1873-1874), ed. 001-003. Disponível: http://bndigital.bn.br/acervo-
digital/boletim-grande-oriente/074594. Acesso: 27 Mar 2020
219
BRASIL.IBGE. Recenseamento do império do Brazil em 1872. Rio de janeiro: Typ. G. Leuzinger, 1874, 12
volumes. ver: https://biblioteca.ibge.gov.br/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=225477
83

Sobre a realidade da Maçonaria no Rio Grande do Norte, em 1874, em sua edição nº


004-007, na página 191, o boletim do Grande Oriente Unido do Brazil, listou as lojas
maçônicas potiguares jurisdicionadas aquela obediência maçônica, com seus principais
dirigentes, seu número de obreiros e o rito que praticavam que nesse caso ambas trabalhavam
no rito escocês. As duas lojas eram: A Loja 21 de Março, em Natal e a Loja 24 de Junho, na
cidade Mossoró, o que comprova que ambas as lojas eram filiadas aquela obediência
maçônica e estavam atuantes, e portanto, conforme o principio da fraternidade maçônica, seus
membros deveriam merecer o reconhecimento e receber apoio, quando necessário, de todas
as lojas maçônicas jurisdicionadas do Império.
A seguir apresenta-se uma tabela com essas informações detalhadas:

Tabela 2: Lojas Maçônicas, dirigentes e membros na Província do Rio Grande do Norte


(1874)
Loja Cidade Dirigentes Membros %
Vinte e um de março Natal Venerável Mestre: Vigário Bartholomeu da 9
Rocha Fagundes
90 90,90
Secretário: Eutychiano de Amorim Garcia
Vinte e quatro de Mossoró Venerável Mestre Int: José Paulino de 9
Castro Medeiros
junho 9 9,10
Secretário Int: Abel Ageleu Dantas
1
Total 02 99 100
Fonte: Adaptado do Boletim Informativo do Grande Oriente Unido do Brazil, 1874.

A tabela 02 demonstra que, no ano de 1874, a Maçonaria no Rio Grande do Norte


tinha-se expandido, e estava consolidando-se. Chegava a Mossoró através da fundação da
Loja 24 de junho, onde já contava com 9 membros, enquanto a 21 de março, em Natal possuía
90 membros em seu quadro, demonstrando a força e a importância dessa loja e da Maçonaria
na província.
Essa força e importância, pode ser percebida, com a referência à Maçonaria do Rio
Grande do Norte, no boletim do Grande Oriente Unido, que fazia menções, sobre os
problemas maçônicos na província do Rio Grande do Norte, em especial com relação às
perseguições sofridas por maçons, em razão de pertencerem a ordem maçônica. Na página
460, desta mesma edição (004-007), o boletim cita o caso de um maçom da Loja 21 de Março,
que não pôde ser padrinho de batismo de um menino. Fato semelhante foi noticiado no Jornal
“A LUZ”, em sua edição de nº 20, 12 de julho de 1873, em que os editores destacam que o
84

Padre Joaquim negou o batismo do Filho do Maçom Galdino Monteiro, em razão desse se
filho de um Maçom.
Ainda tratando dessas perseguições, na página 467, do Boletim do Grande Oriente
Unido, publica uma notícia do jornal Conservador de Natal, que faz referência a um caso de
maçom potiguar de nome Manoel Pedro Alvares que lhe fora negada a Unção dos enfermos e
a encomenda do corpo, por se negar a abjurar a Maçonaria em seu leito de morte.220
Com relação à disputa entre a Maçonaria e a Igreja, na província do Rio Grande do
Norte, observa-se que no Boletim Oficial do Grande Oriente Unido, em sua edição 008-012,
do ano de 1874, registrou e deu publicidade a uma ação organizada pela Loja 21 de Março,
que em 15 de dezembro de 1874 enviou uma representação ao presidente da província contra
o Padre José Hermínio, coadjutor pro-pároco desta capital, que estava em suas missas fazendo
ataques a maçons e a Maçonaria. Nesta representação mais de 50 maçons da Província que
assinaram a representação, utilizando-se do direito de petição, solicitaram providências contra
o padre, a fim de manter a paz pública. A seguir, apresenta-se a relação dos maçons que
assinaram a representação.221

Vigário Bartolomeu da Roche Fagundes, Dr. Francisco Xavier Pereira de Brito,


Capitão José Antônio de Souza Caldas, Tenente Germano Antônio Machado,
Francisco Gomes da Rocha Fagundes, Capitão Joaquim José Pinto, Capitão Manoel
Onofre de Andrade, Capitão Paulilio Fernandes Barros, Tenente Coronel João
Inagcio de Loyolla Barros, Pedro Paulo Vieira de Mello, Professor Tertuliano da
Costa Pinheiro, Daniel Francisco da Cunha Sampaio, Capitão José Gervasio de
Morim Garcia, Tenente José Bonifácio Pinheiro da Câmara, Alferes Francisco
Heroncio de Mello, Tenente Antonio Ferreira de Oliveira, Sabino Henrique da Luz,
Alferes Francisco othilio Vivares da Silva, Capitão Luiz Emygdio P. da Camara,
Tenente Joaquim Machado do Rego Barros, Capitão Odilon de Amorim Garcia,
Alferes Galdino Cancio de Vasconcelos Monteiro, Dr. José Paulo Antunes,
Diomedes Jacinto Barbosa Tinoco, Capitão Alexandre Thomaz Seabra de Mello,
Tenente Coronel José Lourenço de Almeida, Padre Bartholomeu Fagundes de
Vasconcelos, Padre Francisco de Paula Soares da Camara, João Ferreira Nobre
Júnior, Major Antonio Pinheiro da Camara, Capitão João Ferreira Nobre, André
Avelino Sobrera de Mello, Tenente Genesio Xavier Pereira de Brito, Dr.
Hermogenes Joaquim Barboza Tinoco, Capitão Mauricio Theodoro de Souza, José
Gomes Ferreira, Alferes José Francisco de Paula Moreira, Capitão Eneas Leucrácio
de Moura Soares, Capitão Joaquim Soares Raposo da Camara, Alferes Joaquim
Peregrino da Rocha Fagundes, Alferes Manoel Alexandre Pessoa de Mello, Major
Joaquim Ferreira Nobre Pelinca, Tenente Emygdio Getulio de Oliveira, Tenente
Absalo de Oliveira Mendes, Professor Aleixo Barbosa da Fonseca Tinoco, Capitão
Antonio Pinto de Moraes Castro, Tenente Francisco de Bernardino Pinheiro,
Antonio Minervino de Moura Soares, Capitão Joaquim Lourival de Mello Açucena,

220
O Boletim do Grande Oriente Unido e Supremo Conselho do Brazil: jornal official da maçonaria brazileira –
“Círculo maçônico dos Beneditinos” (1873-1874), ed. 004-007, p. 210. Disponível:
http://bndigital.bn.br/acervo-digital/boletim-grande-oriente/074594. Acesso: 26 Mar 2020
221
O Boletim do Grande Oriente Unido e Supremo Conselho do Brazil: jornal official da maçonaria brazileira –
“Círculo maçônico dos Beneditinos” (1873-1874), ed. 008-012, p. 760-762. Disponível:
http://bndigital.bn.br/acervo-digital/boletim-grande-oriente/074594. Acesso: 26 Mar 2020
85

Capitão Birillo Leão Saraiva, Capitão Francisco Ignacio Manuel de Lima, Alferes
Francisco Philippe da Fonseca Tinoco, Coronel Bonifácio Francisco Pinheiro da
Camara, José Sebastiao Leite, Tenente Manoel Joaquim de Amorim Garcia.222

Esta notícia demonstra que a disputa hegemônica pelo poder, na província do Rio
Grande do Norte, não se tinha encerrado, e qualquer tipo de atitude que buscasse denegrir a
imagem da Maçonaria e ou prejudicar os maçons, não seria tolerado, e eles reagiriam,
principalmente, agora que estavam mais organizados e mais fortes, na Província e no Império,
inclusive contando com o apoio oficial das lideranças maçônicas nacionais, que ocupavam
cargos importantes no Império.
Ao analisar o Boletim Oficial do Grande Oriente Unido do Brazil, obediência a qual
as lojas maçônicas potiguares (Loja 21 de Março e Loja 24 de Junho) estavam filiadas,
percebe-se que a sua linha editorial, suas notícias e as ideias propagadas eram semelhantes
com as do periódico “A LUZ”. Jornal da causa maçônica nesta província, e que seguramente
havia uma estratégia unificada da Maçonaria brasileira em defesa da sua causa, pois é possível
perceber que em diversos números de ambos os periódicos, destacavam os mesmos valores,
princípios e enalteciam personagens da Maçonaria brasileira que agiam de acordo com esse
ideal.
Ademais, é possível identificar que frequentemente o Boletim Oficial do Grande
Oriente Unido do Brasil, além de publicar as comunicações oficiais da Maçonaria brasileira,
também reforçava a sua posição com publicações de matérias e notícias, e fazia transcrições
de artigos das Maçonarias estrangeiras, objetivando manter engajados os membros da
Maçonaria brasileira e consolidar os valores e princípios, de liberdade de consciência,
progresso, e civilidade, e fraternidade.
Frequentemente, esse boletim era enviado às lojas jurisdicionadas e solicitado que
estas encaminhassem notícias maçônicas de suas províncias, a fim de que o periódico as
publicasse e divulgasse para toda a Maçonaria brasileira, demonstrando que a ordem
maçônica estava atuando e se mantinha fiel na luta contra o “obscurantismo”.
Não se sabe qual o custo e com que frequência as lojas enviavam as notícias e se
essas eram encaminhadas como ofícios ou as notícias eram retiradas e transcritas dos jornais
que eram encaminhados ao Grande Oriente Unido do Brazil. Para este fim, uma nova
pesquisa pode ser realizada, para investigar os custos, os meios e a frequência do envio dessas
notícias e informações ao Boletim Oficial.

222
Os autores maçônicos Silva; Estevam e Fagundes, em A Maçonaria no Rio Grande do Norte, 2001 [1924],
também fazem referência a esse fato, informando que encontram nos arquivos da loja, esse documento, com a
relação de peticionários.
86

Constata-se que, a partir da segunda edição desse boletim, do ano de 1873, O Grande
Oriente Unido do Brazil teve dificuldades para manter a frequência da publicação, visto que
nenhuma de suas edições entre os nos anos de 1873 e 1876, conseguiu publicar todos os
meses, sendo necessário, publicar um número referente a vários meses. Posto isso, pode-se
supor que havia uma dificuldade financeira para custear a publicação, mesmo considerando
que os boletins eram impressos em tipografia própria do Grande Oriente Unido do Brasil,
conforme evidenciado nas capas dos boletins.
A comunicação do Grande Oriente com suas lojas era essencial para manter a
unidade e o poder dirigente sobre as suas lojas e respectivamente seus membros, a fim de que
as estratégias fossem efetivas. E nesse modelo democrático, percebe-se também que a
hierarquia e a obrigação dos dirigidos em obedecer aos dirigentes é fundamental para a
manutenção da hegemonia.
Neste sentido, Antônio Gramsci, em sua obra que discute Maquiavel, a política e o
Estado Moderno223, destaca que no:

[...]sistema hegemônico, existe democracia entre o grupo dirigente e os grupos


dirigidos na medida em que o desenvolvimento da economia, e por conseguinte da
legislação, que exprime este desenvolvimento, favorece a passagem (molecular) dos
grupos dirigidos ao grupo dirigente.224

E esta comunicação entre o poder central da Maçonaria, o Grande Oriente - grupo


dirigente, com suas lojas - grupos dirigidos - servia, essencialmente, para que o poder
dirigente fosse informando as normas e procedimentos a serem seguidos por todas as lojas,
esclarecendo e dando publicidade sobre as ações maçônicas, e difundindo os princípios e a
causa, a fim de que as lojas mantivessem a estratégia, e continuassem propagando as ideais,
iniciando novos membros, ocupando espaços de poder nas províncias e no Império,
fortalecendo a causa da Maçonaria nas diversos Espaços do Império do Brasil.
Por conseguinte, esses periódicos, além de circulação e divulgação de ideias eram
espaços privilegiados para as disputas políticas e ideológicas existentes no seio da Corte
Imperial Brasileira e nas províncias.225

223
GRAMSCI, Antonio. Maquiável, a Política e o Estado Moderno. 6a. Ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1988. p. 183.
224
Ibidem, p. 183
225
GONÇALVES, Thiago Werneck. “Periodismo maçônico e cultura política na corte imperial brasileira
(1871-1874).” Dissertação de mestrado em História, Universidade Federal Fluminense, 2012. Disponível em:
<http://www.historia.uff.br/stricto/td/1588.pdf>. Acesso em: 25 set. 2019. p. 40.
87

Em resumo, a análise desse boletim possibilitou identificar as ideias e valores da


Maçonaria, com base em artigos escritos e transcritos periódicos maçônicos estrangeiros,
além de referências e citações à Maçonaria potiguar, em vários momentos, de tal sorte que foi
possível observar que havia uma semelhança com as ideias e discursos propagados no Jornal
“A LUZ”.
Percebe-se, assim, que através dessa estratégia buscava-se dar coesão e construir um
discurso uniforme na Maçonaria Brasileira, mesmo considerando as suas diferenças, em razão
de grupos antagônicos que existiam, assim como em toda a sociedade brasileira.
E, portanto, supõe-se que o uso dos periódicos, seria um instrumento para a
construção de novos defensores dos ideais e princípios maçônicos, e conforme Gramsci226
esse era um aspecto essencial para a conquista da hegemonia. Isso ocorria através da criação
de um bloco ideológico, que permite à classe dominante manter o monopólio intelectual,
inclusive conquistando as demais camadas de intelectuais.

226
GRAMSCI, Antonio. Concepção dialética da história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
88

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa ora apresentada tratou de investigar as relações existentes entre as ideias


propagadas pela maçonaria na província do Rio Grande do Norte e relacionar com as ideias da
Maçonaria carioca, sede do poder central no Brasil e do Império. Para tanto, o estudo fez uma
análise do Jornal “A LUZ”, publicado pela Loja Maçônica 21 de março, desta província,
assim como o Boletim Informativo do Grande Oriente Unido do Brazil e do Supremo
Conselho da Maçonaria do Grau 33, que era potência maçônica, na qual a maçonaria potiguar
estava jurisdicionada e vinculada.
A análise desses periódicos da Imprensa Maçônica possibilitou identificar as ideias e
a causa da Maçonaria potiguar, no período estudado, e compreender como a influência destas
ideias foi essencial na disputa pelo poder na província e na busca da consolidação da
hegemonia, ansiado pela Maçonaria.
Foi possível identificar que havia a correlação e semelhança entre as ideias
propagadas em ambos periódicos maçônicos estudados, que, em geral, defendiam a liberdade
de consciência e religiosa, a emancipação intelectual, a igualdade e fraternidade entre os
homens, a prática do dever e da virtude e a lealdade a seus princípios. Além disso, foi possível
identificar e analisar as notícias, matérias e atos oficiais sobre a Maçonaria potiguar,
publicadas em ambos os periódicos.
Constatou-se que as matérias publicadas nos periódicos maçônicos da época tinham
como objetivo principal esclarecer aos leitores sobre o que era a Maçonaria, seus objetivos,
fins, princípios e valores. E, através desses esclarecimentos, defendiam a Maçonaria dos
ataques e perseguições sofridas durante o período da questão religiosa, que na Província do
Rio Grande do Norte foram frequentes e intensos. Nesses artigos escritos por maçons
potiguares e brasileiros, assim como nos que eram transcritos de outros periódicos maçônicos
nacionais e estrangeiros, é possível identificar as ideias de liberdade, liberdade de consciência
e religiosa, progresso, civilização, emancipação moral e intelectual, humanidade e
solidariedade humana.
Outrossim, observa-se também que os artigos que tanto o Jornal “A LUZ”, assim
como outros periódicos maçônicos desse período, inicialmente objetivava combater as ideias
e visões de religiosos ultramontanos, mas também propagavam as ideias maçônicas e seus
princípios e valores, objetivando conquistar a opinião publica e fortalecer a ordem maçônica.
89

Apesar de o ideário da maçonaria ser distinto das doutrinas católicas, e de possuírem


visões de mundo antagônicas, no período, observa-se que a Imprensa Maçônica Potiguar
procurava demonstrar, através de alguns artigos, publicados no Jornal “A LUZ”, que a
Maçonaria e o Cristianismo possuíam os mesmos objetivos, suas doutrinas complementavam-
se e harmonizavam-se, e ambas trabalhavam juntas para levar o homem a perfeição.
A defesa da causa da Maçonaria, pelo Jornal “A LUZ”, utilizava-se de argumentos
de autoridade, assinalando personalidades, que defendiam a Maçonaria abordando a luta da
Maçonaria contra o obscurantismo, em prol da civilização e do progresso humano através da
emancipação moral e intelectual do homem.
A Maçonaria potiguar publicou em vários números do jornal “A LUZ” artigos e
matérias abordando temas que explicavam as práticas ritualísticas maçônicas, procurando
defender a sua doutrina e explicar a questão dos seus segredos, a fim de esclarecer o que
vinha a ser a Maçonaria, seus princípios e objetivos.
Foi possível também identificar que o Jornal abordava a caridade e a solidariedade
humana, procurando demonstrar que era uma prática maçônica, mas realizada em segredo ou
de forma discreta. Acredita-se que essas ideias foram efetivamente colocadas em prática,
conforme apontado na pesquisa, através da criação da Caixa de Socorro Maçônico e de uma
escola de artífices, em 1873, proposta pelos maçons Francisco Gomes da Silva, que era o
presidente da assembleia legislativa provincial e José Gomes Ferreira, funcionário público e
editor responsável pelo Jornal A LUZ.227
Neste sentido, foi possível identificar que, já em 1837, nos primeiros anos da
maçonaria nesta província, através da observação das atas das reuniões da Loja Maçônica 21
de março, já eram realizadas coleta de dinheiro, para ajudar os necessitados, demonstrando
que a ideia e a prática da caridade existiam na maçonaria.
É importante destacar que a Maçonaria brasileira, no século XIX, tinha uma presença
marcante nas relações políticas e sociais no Império do Brasil, e nesta província não seria
diferente, fato também comprovado por esta pesquisa, ao investigar as relações políticas e
sociais dos membros da Maçonaria potiguar com o poder provincial. Nesta questão,
identificou-se uma forte presença de maçons na administração da província, e na assembleia
provincial, apontando indícios de relações da Loja Maçônica 21 de Março, com a política
local. É importante destacar que, possivelmente, essa presença no poder provincial buscava

227
SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001, p, 28.
90

influenciar e conduzir as decisões políticas desta província, de forma a alcançar consecução


das liberdades, do progresso e da maior civilidade desta província.
Assim, observa-se que os mais importantes cargos provinciais (presidente de
Província, vice-presidente de Província, secretários, inspetores, capitão de polícia, deputados)
eram ocupados por membros da Loja Maçônica 21 de Março, e, consequentemente, pode-se
associar que os interesses da Maçonaria estariam sendo defendidos politicamente, entretanto,
esta é uma hipótese para uma segunda etapa da pesquisa.
Ademais, a pesquisa possibilitou identificar que havia uma comunicação permanente
e frequente entre Grande Oriente Unido do Brazil, suas lojas vinculadas, e com outras
potencias maçônicas do mundo. Essa comunicação ocorria através de cartas e do envio de
periódicos e revistas maçônicas entre eles.
Com relação à comunicação entre o Grande Oriente Unido do Brazil com suas lojas,
o fato justifica-se por haver uma relação de hierarquia e autoridade, no qual as lojas eram
obrigadas a enviar notícias e informar suas atividades, assim como o Grande Oriente as
divulgava em seu boletim, e encaminhava às lojas as diretrizes e atos executivos e legislativos
a ser seguidos, bem como propagava as ideias e princípios maçônicos e suas visões de mundo,
procurando influenciar as suas lojas jurisdicionadas, a fim de conquistar o apoio dessas lojas e
de seus maçons em prol dos seus projetos de poder no Império do Brasil.
Po meio das relações internacionais mantidas com outras potências maçônicas do
mundo ocidental, o Grande Oriente Unido do Brazil, estreitava os laços de fraternidade,
mantinha-se informado sobre os acontecimentos maçônicos no mundo ocidental, bem como
divulgava as ações da Maçonaria Brasileira para essas potencias maçônicas, as quais tinha
relacionamento fraterno.
É importante lembrar que a Maçonaria norteou muito suas ações no continente
europeu, na América do Norte e espanhola, assim como no Brasil, onde maçons participaram
e lideraram revoltas em prol das liberdades, da emancipação do homem e em defesa do
direito.
Com relação aos objetivos propostos, a pesquisa demonstrou a presença política e
social dos diversos sujeitos envolvidos na Maçonaria na província do Rio Grande do Norte,
inclusive descrevendo os maçons que ocupavam cargos públicos na administração e na
assembleia provincial. Em seguida, a pesquisa identificou quais eram as ideias e a causa da
Maçonaria, propagadas pelo seu periódico, nesta província, entre os anos de 1873-1874, e
identificou que o principal responsável pelo Jornal “A Luz era José Gomes Ferreira que
contava com o apoio de Dr. Francisco Gomes da Silva, Dr. José Paula Antunes e Aleixo
91

Barbosa da Fonseca Tinôco, todos membros da Loja maçônica 21 de março e com cargos
públicos na província
E, por fim, relacionou as narrativas discursivas presentes na imprensa maçônica
potiguar, através do Jornal Maçônico “A LUZ” e no periódico maçônico Boletim Oficial do
Grande Oriente Unido do Brasil, vinculado ao Grande Oriente, que representavam o poder
central da Maçonaria Brasileira e que a Loja 21 de Março estava filiada.
Ademais, entende-se que o recorte temporal “definido” para a realização desta
pesquisa possibilitou a consecução dos objetivos estabelecidos que se relacionam com a
compreensão das conexões existentes entre os maçons, a imprensa e a expansão das ideias na
província do Rio Grande, através do periódico maçônico “A LUZ”, publicado na Tipografia
de propriedade do Sr. José Gomes Ferreira, que era um líder Maçom da Loja 21 de Março, e
que propagava as ideias maçônicas.
Certamente, essa pesquisa possibilitou o surgimento de novas questões que precisam
ser respondidas, e que serão objeto de futuros trabalhos. Dentre essas questões podemos
destacar, quais seriam os vínculos familiares e a origem desses maçons potiguares que
ocuparam os principais cargos público nesta província. Outra questão a ser investigada é quais
as transformações urbanas e rurais, de fato, foram implementadas por esses maçons no
exercício dos cargos na assembleia provincial e quando presidentes da província e da
assembleia provincial, e se essas transformações estavam relacionadas ao ideário e à causa da
Maçonaria.
Outra pesquisa que pode ser realizada é sobre quais as relações que existiam entre a
Maçonaria potiguar e a pernambucana, visto que, neste estudo, comprovou-se que havia
comunicação entre os periódicos maçônicos destas duas províncias, e também pelos vínculos
e ligações construídas, entre esses sujeitos, durante o período de seus estudos em
Pernambuco, e depois viriam a exercer cargos públicos no Rio Grande do Norte, e
possivelmente aprofundando as suas relações e fortalecendo os seus interesses e dos grupos
que estavam vinculados.
Portanto, assim como em outras províncias do Império, no século XIX, a atividade
da Maçonaria potiguar foi bastante intensa, em que as organizações maçônicas eram utilizadas
para propagar ideias e causas, a fim de influenciar e transformar os destinos da colônia e,
depois, das províncias do Império do Brasil.
92

REFERÊNCIAS

Fontes

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