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NATAL/RN
2020
KLEBER CAVALCANTE DE SOUSA
NATAL/RN
2020
KLEBER CAVALCANTE DE SOUSA
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________
Dra. Carmen Margarida Oliveira Alveal
Orientadora
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
__________________________________________
Dr. José Evangelista Fagundes - UFRN
Membro Examinador
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
__________________________________________
Dra. Maria da Conceição Fraga - UFRN
Membro Examinadora
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
A Deus, o Grande Arquiteto do Universo, pelo
dom da vida, e a energia vital que me renova
diariamente, permitindo vencer as dificuldades
e os desafios diários, ora suplantadas para
realizar essa jornada.
AGRADECIMENTOS
Alexis de Tocqueville
RESUMO
This research aimed to identify the ideas, the cause and the performance of Freemasonry in
the province of Rio Grande, at the end of the 19th century (1870-1874) and how these ideas
were related to the ideas of the official bulletin of Brazilian Freemasonry. The 19th century
was a period of great transformations in 19th century Brazilian society, resulting from
important changes that occurred in that period, culminating in the fall of the monarchy,
among them, the so-called religious question, a dispute involving Freemasonry, the Church
and the State. The decade that started in 1870 is a milestone in the history of the empire, not
only because of the end of the Paraguayan War, but also because time and social life
accelerated in a very intense way in Brazil, with the increase of commercial relations and the
reformist change movements that have emerged again, in which the periodical press emerges
as a main means of exposing the ideas of intellectuals in the 19th century. In that Province, a
newspaper appears dedicated to the cause of Freemasonry, which is the main source of this
research, which identified Masonic ideas and their relations with the Rio Masonic press. The
analysis of these sources made it possible to conclude that Freemasonry preached ideas of
freedom, freedom of conscience and religion, progress, civilization, moral and intellectual
emancipation, humanity and human solidarity. And yet, that there was an interest in building
cohesion and a uniform discourse in Brazilian Freemasonry, even considering their
differences, due to the antagonistic groups that existed, as well as in the whole of Brazilian
society
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 10
2 AS ORIGENS DA MAÇONARIA NO RIO GRANDO NORTE E A
LOJA MAÇÔNICA 21 DE MARÇO .............................................................. 18
3 O PERIÓDICO MAÇÔNICO “A LUZ” (1873-1874) E A CAUSA DA
MAÇONARIA NA PROVÍNCIA DO RIO GRANDE DO
NORTE............................................................................................................ 47
4 RELAÇÕES ENTRE AS IDEIAS E DISCURSOS NA IMPRENSA
MAÇÔNICA DA PROVÍNCIA DO RIO GRANDE DO NORTE E DO
BOLETIM OFICIAL DA MAÇONARIA BRASILEIRA (1873-1874)
............................................................................................................................. 75
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 88
REFERÊNCIAS................................................................................................. 92
10
1. INTRODUÇÃO
1
VEIGA, Gláucio. História das ideias da faculdade de direito do Recife. Recife/PE. Editora Universitária/UFPE,
1984. Vol. 4.
11
Essa geração de 1870 também fora conhecida como os ilustrados brasileiros e era
composta por grupos sociais bastante heterogêneos, que incluíam políticos, jornalistas,
literatos e aqueles que aspiravam à intelectualidade no país.5
Neste mesmo sentido, Ângela Alonso, em seu trabalho Apropriação das Ideias no
Segundo Reinado, afirma que o movimento da geração 1870 configurou-se no momento em
que a lenta desagregação de nossa formação social colonial emergiu como tema do debate
político.6 A autora destaca ainda que, neste contexto, havia visões antagônicas de modelo de
nação e de Estado pelos membros da elite política nacional.
José Murilo de Carvalho7, ao estudar a composição dos partidos políticos do Brasil,
defende a tese, que tanto do ponto de vista da origem social, quanto da proveniência regional,
ambos os partidos, conservador e liberal, eram marcados por posições antagônicas, mas
2
GRINBERG, KEILA & SALLES, Ricardo (Orgs.) O Brasil Imperial, Volume II: 1831-1870. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2009.
3
Ibidem.
4
BARROS, Roque S. M. A ilustração brasileira e a ideia de Universidade. São Paulo: Convívio,1986. p. 3.
5
Ibidem.
6
ALONSO, Angela. Apropriação de ideias no Segundo Reinado. In: GRINBERG, Keila & SALLES, Ricardo
(Orgs.). O Brasil Imperial, volume II: 1831-1870. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009, pp. 83-118.
7
CARVALHO, José Murilo de. A Construção da Ordem: a elite política Imperial. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2008.
12
8
Ibidem.
9
Ibidem.
10
MATTOS, Ilmar Rohloff de. O tempo saquarema. São Paulo: Hucitec, 1987.
11
ALONSO, Angela. Apropriação de ideias no Segundo Reinado. In: GRINBERG, Keila & SALLES, Ricardo
(Orgs.). O Brasil Imperial, volume II: 1831-1870. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009, pp. 83-118.
12
Ibidem.
13
SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. 3a. ED. SAO PAULO: Martins Fontes, 1983.
14
CAPELATO, Maria Helena R. Imprensa e História do Brasil. São Paulo: Contexto/EDUSP, 1988.
15
LUSTOSA, Isabel. Insultos Impressos: a Guerra dos jornalistas na independência (1821-1823) São Paulo:
Companhia das Letras, 2000.
16
SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. 3a. ED. SAO PAULO: Martins Fontes, 1983.
13
criação da Imprensa Régia, e que de fato surgiram inúmeros jornais na capital do reino e
também nas províncias.
Isabel Lustosa17 ressalta que o surgimento e expansão da imprensa no Brasil ocorreu
apenas em 1808, pois a impressão das letras no Brasil era proibida por Portugal e que, desde o
período colonial, diversas tentativas de funcionamento de tipografias foram barradas pelas
autoridades portuguesas.18
Destarte, Sodré19 assevera que os jornais e periódicos tornaram-se o principal meio
de exposição das ideias dos intelectuais no século XIX, e para tanto observa-se que foram
instaladas diversas tipografias no Brasil, o que possibilitou o surgimento de diversos
periódicos em todas as províncias.20
Na Província do Rio Grande do Norte, a primeira publicação na imprensa ocorreu em
1832, com o advento do periódico Natalense. Na década de 1870, existiam periódicos de
cunho conservador e liberal.21
Em muitas províncias do Brasil, começava a eclodir outro movimento importante
para a expansão das ideias, em especial as liberais e progressistas, que foi o caso da criação
das Lojas Maçônicas. Marco Morel e Françoise Jean Souza22, no livro “O poder da
Maçonaria”, destacam que o funcionamento regular das primeiras lojas maçônicas no Brasil
ocorreu no início do século XIX, por iniciativa de intelectuais que haviam sido iniciados na
Europa. Assim, nas cidades de Salvador, do Recife e do Rio de Janeiro tem-se notícias da
fundação de lojas maçônicas por intelectuais e membros da elite brasileira.
Josué Silva, João Estevam e Emygdio Fagundes23, maçons que realizaram uma
pesquisa sobre “A Maçonaria no Rio Grande do Norte”, publicada em 1924, assinalam que,
no ano de 1836, surgiu a primeira loja Maçônica do Rio Grande do Norte, denominada
“Sygilo Natalense”, por iniciativa e entusiasmo de maçons dispersos na província, em fins de
1835. Acredita-se que esses maçons tenham ingressado na ordem maçônica por meio da
Maçonaria pernambucana e carioca.
17
LUSTOSA, Isabel. Insultos Impressos: a Guerra dos jornalistas na independência (1821-1823) São Paulo:
Companhia das Letras, 2000.
18
Ibidem.
19
SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. 3a. ED. SAO PAULO: Martins Fontes, 1983.
20
Ibidem.
21
FERNANDES, Luiz. A imprensa periódica no Rio Grande do Norte – 1832 a 1908. Natal: Ed. Sebo
Vermelho, 1998. 2. Ed. [1908].
22
MOREL, Marco; SOUZA, Françoise Jean. O Poder da Maçonaria: a história de uma sociedade secreta no
Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
23
SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001[1924].
14
24
BARATA, Alexandre Mansur. Maçonaria, sociabilidade ilustrada e independência do Brasil (1790-1822). São
Paulo-Juiz de Fora: Annablume-EDUFJF-FAPESP, 2006.
25
KOSELLEC, Reinhart. Crítica e Crise: uma contribuição à patogênese do mundo burguês. Rio de Janeiro:
EDUERJ: Contraponto, 1999.
15
Rio Grande do Norte, que possibilite entender como ocorreu a ocupação de seus espaços
públicos, suas transformações e o seu desenvolvimento, desde a conquista até os dias atuais.
E assim, o presente trabalho buscou identificar qual era à causa da Maçonaria nesta
província, quais as ideias eram propagadas por meio do periódico maçônico potiguar “A
LUZ”: jornal em defesa da causa da Maçonaria publicado nos anos de 1873-1874 e as suas
relações com o periódico maçônico do Grande Oriente do Brasil e suas ideias propagadas, que
era o informativo do poder central da Maçonaria brasileira. Analisou também a participação
política e social dos sujeitos envolvidos na Maçonaria na Província do Rio Grande do Norte.
Para a consecução dos objetivos desta pesquisa foram utilizadas fontes documentais
a saber: atas das reuniões da loja Maçônica 21 de março que compõem um retrato dos
discursos e as ideias que eram discutidas e defendidas pelos maçons que frequentavam a
principal loja maçônica da província no período. O periódico Maçônico, A Luz que era o
jornal fundado por maçons para defender a causa da Maçonaria na província, e onde se
expressavam as ideias maçônicas, quer seja através de artigos escritos por maçons e ou
transcritos de outros periódicos e até de livros, além de divulgar notícias sobre a Maçonaria e
sobre o que acontecia na província ligado à causa da Maçonaria e que envolviam maçons na
Província e na Corte Imperial. Por fim, utilizou-se o conjunto de Boletins Oficiais do Grande
Oriente Unido do Brasil, que era a principal potência maçônica brasileira do período, e a qual
a Loja 21 de Março estava filiada. Esse boletim expressava os princípios, valores e o ideário
maçônico, além de ser a voz e opinião oficial da Maçonaria no Brasil.
Para analisar e discutir essa temática, que se relaciona à questão das ideologias e
disputas de poder político e social, por meio da propagação das ideias e do uso dos discursos e
narrativas na imprensa, foi preciso utilizar um conjunto de fontes bibliográficas, a fim de se
apropriar dos conceitos teóricos necessários. A respeito dos discursos e transformações
sociais foram utilizados os conceitos de concepção tridimensional do discurso de Norman
Fairclough, associado às teorias de Antônio Gramsci, sobre hegemonia, poder e formação de
intelectuais, em A hegemonia cultural e a política e poder. E ainda, a metodologia proposta
por Maria Helena Capelato, Isabel Lustosa e Marcel Cheches sobre a imprensa como fonte
histórica e como utilizá-la, além dos pesquisadores que abordaram o tema da Maçonaria
Brasileira, tais como Alexandre Mansur Barata, Marco Morel, William de Almeida Carvalho,
entre outros. E, por conseguinte, assim foi possível encontrar respostas às questões levantadas
e alcançar os objetivos propostos nessa pesquisa.
Os três capítulos deste trabalho foram organizados objetivando uma construção
cronológica e coerente sobre a Maçonaria no Rio Grande do Norte, a sua causa e sobre o seu
17
A Maçonaria surgiu no Brasil no final do século XVIII, por meio do início das
atividades das primeiras lojas maçônicas no território brasileiro, fundadas sob a égide das
ideias iluministas e pela luta da liberdade. A pesquisadora Célia Maria Azevedo26 destaca que
maçons participaram na Inconfidência Mineira (1789) e na Conjuração Baiana, em 1798.
Já Alexandre Mansur Barata27, em sua pesquisa Maçonaria Sociabilidade Ilustrada e
a independência do Brasil, assinala que muitos brasileiros tiveram oportunidade de conviver e
de se sociabilizar com maçons na Corte, quando estavam estudando, haja vista que, em
Portugal, a Maçonaria já estava presente e atuante. O mesmo autor destaca, ainda, que a
Maçonaria chegou ao Brasil, através desses estudantes que tinham ingressado na ordem
maçônica, no século XVII, em Lojas de Coimbra e de Montpelier na França. Ao retornar ao
Brasil, estes estudantes foram os responsáveis por iniciar novos membros, organizar reuniões
e fundar lojas no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, na Bahia e em Pernambuco.
Luaê Carregari Carneiro Ribeiro28, corroborando com Alexandre Mansur Barata,
assevera que esses diversos brasileiros, ao concluir seus estudos, e iniciar na Maçonaria na
Corte, voltavam à Colônia, e assim, até́ o início do século XIX, os maçons estavam dispersos
pelo território brasileiro, pois não havia lojas regulares onde pudessem reunir-se.
Nesses termos, esses maçons iniciariam um movimento para fundar as primeiras
lojas maçônicas nos principais centros urbanos da Colônia, tendo como base as ideias
iluministas e a defesa das liberdades e da independência.
Neste sentido, a professora Célia Marinho de Azevedo29 afirma que a primeira loja
maçônica oficial do Brasil foi a Loja Reunião, fundada em 1801 no Rio de Janeiro, vinculada
ao Oriente da Ilha de França. No ano seguinte, fundou-se uma segunda loja, denominada
Virtude e Razão, na Bahia.
26
AZEVEDO, Célia M. Marinho de. Maçonaria: história e historiografia. Revista USP, n. 32, p. 178-189, 1996.
27
BARATA, Alexandre Mansur. Maçonaria, sociabilidade ilustrada e independência do Brasil (1790-1822). São
Paulo-Juiz de Fora: Annablume-EDUFJF-FAPESP, 2006.
28
RIBEIRO, Luaê Carregarti Carneiro. Uma América em São Paulo: a Maçonaria e o Partido Republicano
Paulista (1868-1889). Dissertação de Mestrado do programa de pós-graduação em história social, USP, 2011.
29
AZEVEDO, Célia M. Marinho de. Maçonaria: história e historiografia. Revista USP, n. 32, p. 178-189, 1996.
19
Desse modo, lojas maçônicas começaram a ser fundadas nas principais cidades do
Brasil, por meio desses delegados que tinham autorização e poder dos órgãos centrais da
Maçonaria Portuguesa para propagar e fundar lojas.
Marco Morel33, em seu artigo sobre a sociabilidade maçônica, destaca que as
Maçonarias desempenharam um papel significativo no quadro das revoluções nacionais da
segunda metade do século XVIII e começo do XIX, evidenciando que as Lojas Maçônicas
foram um importante mecanismo da disseminação das “ideias novas”, que contribuíram nesse
processo de independência.
30
CARVALHO, William de Almeida de. “Pequena História da Maçonaria no Brasil” REHMLAC. Revista de
Estudios Históricos de la Masonería Latinoamericana y Caribeña, vol. 2, núm. 1, mayo-noviembre, 2010, pp.
30-58.
31
CARVALHO, William de Almeida de. “Pequena História da Maçonaria no Brasil” REHMLAC. Revista de
Estudios Históricos de la Masonería Latinoamericana y Caribeña, vol. 2, núm. 1, mayo-noviembre, 2010, pp.
30-58.
32
Ibidem, p. 33
33
MOREL, Marco. Sociabilidades entre Luzes e sombras: apontamentos para o estudo histórico das maçonarias
da primeira metade do século XIX. Revista Estudos Históricos, v. 2, n. 28, p. 3-22, 2001.
20
Outrossim, nas duas primeiras décadas do século XIX, as Lojas Maçônicas no Brasil
tornaram-se um espaço para articulação do movimento de independência34, especialmente
para aqueles que desejavam propagar ideias de liberdade, e associavam essa liberdade com a
quebra do Pacto Colonial. Desse modo, criavam um ideal para a Maçonaria no Brasil.
Entre os anos de 1801 e 1822, a Maçonaria brasileira trabalhou apoiando os
movimentos de Independência nacional. Um importante exemplo desses movimentos ocorreu
nas capitanias do Norte do Brasil, com a Insurreição Pernambucana de 1817 - movimento que
pretendia a emancipação das capitanias de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e
Ceará – em que muitos dos líderes revolucionários eram ligados aos movimentos
maçônicos.35
Sobre isso, Alexandre Mansur Barata36 destaca que:
[...]como se sabe, dos 317 réus levados a julgamento por envolvimento neste
levante, 62 eram acusados de pertencerem à Maçonaria [...]. Daí as constantes
perseguições que os maçons sofreram, quando se constataram suas ligações com os
movimentos revolucionários de cunho emancipacionista.37
34
BARATA, Alexandre Mansur. Luzes e Sombras: a ação da Maçonaria Brasileira (1870 – 1910). Editora da
Unicamp, coleção Tempo e Memória n°14, 1999
35
BARATA, Alexandre Mansur. Luzes e Sombras: a ação da Maçonaria Brasileira (1870 – 1910). Editora da
Unicamp, coleção Tempo e Memória n°14, 1999.
36
Ibidem.
37
Ibidem, p. 61.
38 CASCUDO, Luís da Câmara. Movimento de independência do Rio Grande do Norte. Natal: fundação José
Augusto, 1973.
39 SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001[1924]. p. 3-6
21
Silva; João Estevam e Emygdio Fagundes, os quais afirmam que as reuniões ocorriam nos
engenhos Belém e Estivas, antes mesmo da revolução de 1817.40
No período da Insurreição de 1817, o Capitão Mor da Capitania do Rio Grande era
José Inácio Borges, que tinha assumido o governo em 16 de novembro de 1816. Foi preso no
dia 25 de março de 1817, pelo coronel de milícias e proprietário do Engenho Cunhaú André
de Albuquerque Maranhão.41 Segundo Câmara Cascudo42, José Inácio Borges era outra
personagem com ligações maçônicas, mas não aderiu ao movimento de 1817, no Rio Grande
do Norte, e por isso teria sido preso.
O Capitão Mor José Ignácio Borges dirigiu-se a Goianinha para se entender com o
Coronel André de Albuquerque Maranhão sobre a proteção da fronteira sul da capitania, e
após se entender com André de Albuquerque Maranhão voltaria para Natal. Após a reunião, e
quando voltava, resolveu pernoitar no Engenho Belém, em São José de Mipibu, onde foi
preso pelo regimento de André de Albuquerque e por tropas da Paraíba.43
Vicente de Lemos e Tarcísio de Medeiros44 afirmam que José Ignácio Borges
confiava em André de Albuquerque Maranhão e contava com seu apoio para a proteção da
capitania e por isso teria ido ao seu encontro para se reunir com Coronel de Milícias André de
Albuquerque Maranhão, para discutir ações para a proteção da Fronteira Sul da Capitania.
Rocha Pombo45 afirma que a ida do Capitão Mor José Inagcio Borges ao encontro do
Coronel André de Albuquerque Maranhão teria sido seu grande erro, e esse favoreceu aos
revolucionários, pois deixou a sede da capitania sem uma guarda, acompanhado apenas pelo
escrivão da câmara Manuel José de Moraes e de um pajem. Destaca também que esse erro
pode ter sido intencional, visto que o Capitão Mor não deveria ter viajado, desprotegido,
levantando a hipótese que o Capitão Mor poderia estar de conluio com André de Albuquerque
Maranhão, visto que ele saiu da segurança de suas forças fiéis e foi viajar de forma
vulnerável, durante um momento de crise.
40
Ibidem.
41
POMBO, Rocha. História do Estado Rio Grande do Norte. Natal: EDUFRN, 2018.[1922] LIRA, Augusto
Tavares de. História do Rio Grande do Norte. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2012.[1922]
CASCUDO, Luís da Câmara. História do do Rio Grande do Norte. 2 ed. Natal: Fundação José Augusto; Rio de
Janeiro: Achiamé, 1984.
42
CASCUDO, Luís da Câmara. História do Rio Grande do Norte. 2 ed. Natal: Fundação José Augusto; Rio de
Janeiro: Achiamé, 1984.
43
LEMOS, Vicente; MEDEIROS, TARCISIO. Capitães-mores e Governadores do Rio Grande do Norte. 2º
Volume. 1701-1822.Natal/RN IHGRN, 1980. p. 77. POMBO, Rocha. História do Estado Rio Grande do Norte.
Natal: EDUFRN, 2018. p. 244 [1922]
44
LEMOS, Vicente; MEDEIROS, TARCISIO. Capitães-mores e Governadores do Rio Grande do Norte. 2º
Volume. 1701-1822.Natal/RN IHGRN, 1980.
45
POMBO, Rocha. História do Estado Rio Grande do Norte. Natal: EDUFRN, 2018.[1922]. p. 245.
22
Com base nessa questão apresentada por Rocha Pombo,46 uma das hipóteses que se
pode levantar, é que essa confiança de José Inagcio Borges em André de Albuquerque
Maranhão, e seu possível envolvimento com a revolução de 1817, poderia estar relacionada
aos seus laços de fraternidade, construídos nas academias e associações maçônicas que ambos
frequentaram na Capitania de Pernambuco.
Essa hipótese é reforçada com a afirmação de Olavo de Medeiros47, na qual o autor
destaca que o Coronel de Milícias André de Albuquerque Maranhão era frequentador da Casa
dos Suassunas, no período da conspiração em Pernambuco, 1801, e que mantinha excelente
relações com essa família, inclusive com José Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque,
que foi Capitão Mor da Capitania do Rio Grande do Norte, no período de 1806 a 1811.48
Josué Silva; João Estevam e Emigdio Fagundes corroborando com a tese de
Cascudo, afirmam que José Inácio Borges possuía laços maçônicos com André de
Albuquerque e com o Padre Miguelinho, por meio da Academia Paraíso, no Recife, Capitania
de Pernambuco.49
Neste sentido, observa-se a presença de personagens em terras potiguares com
relações maçônicas e com as ideias de liberdade, desde os primeiros anos do século XIX.
Com o passar dos anos, esses maçons que estavam dispersos pelo território, inicialmente da
capitania e depois da província, começaram e nutrir o desejo de fundar uma Loja Maçônica
para realizarem suas reuniões. Assim, poderiam reunir-se sob a proteção da Maçonaria, seus
princípios e o compromisso do sigilo, para poder articular e definir os destinos da província
do Rio Grande do Norte.
É importante destacar que esses maçons no Rio Grande do Norte possuíam relações
sociais e políticas com os maçons de Pernambuco, visto que, neste período, a administração
da Província do Rio Grande do Norte estava vinculada a de Pernambuco, além de que muitos
desses administradores que aqui estavam atuando eram pernambucanos.
De acordo com o historiador e maçom, Renato de Alencar, as Lojas Maçônicas no
Brasil diferenciavam-se das europeias, na medida em que trabalharam pela independência,
mas não buscavam a queda do regime monárquico. O consenso que existia era sobre a
necessidade de liberdade, inclusive a religiosa, através da concepção de consenso em todas as
religiões.
46
Ibidem.
47
FILHO, Olavo de Medeiros. Aconteceu na Capitania do Rio Grande. Natal/RN:IHGRN, 1997. p. 188
48
Ibidem, p. 189.
49
SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001[1924].
23
Dentre os padres citados, Silva; Estevam e Fagundes55 afirmam que pelo menos dois
eram maçons: Padre Feliciano José Dornelas e João Damasceno Xavier Carneiro,
demonstrando, assim, que havia padres maçons atuando na capitania, neste período com
ideias de liberdade e independência.
50
MOREL, Marco. SOUZA, Françoise Souza de Oliveira. Independência: um espaço para a Nação. O poder da
Maçonaria: a história de uma Sociedade Secreta no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
51
GONÇALVES, Thiago Werneck. “Periodismo maçônico e cultura política na corte imperial brasileira
(1871-1874).” Dissertação de mestrado em História, Universidade Federal Fluminense, 2012. Disponível em:
<http://www.historia.uff.br/stricto/td/1588.pdf>. Acesso em: 25 set. 2019. p. 40.
52
MOREL, Marco. SOUZA, Françoise Souza de Oliveira. Independência: um espaço para a Nação. O poder da
Maçonaria: a história de uma Sociedade Secreta no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
53
CASCUDO, Luís da Câmara. O movimento de independência no Rio Grande do Norte. Natal /RN: Fundação
José Augusto, 1973.
54
Ibidem, 1973.
55
SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001[1924].
24
Com relação ao papel das sociedades secretas, Marcelo Basile63 destaca que essas
persistiam, e em especial a Maçonaria, que voltara a ativa, de forma oficial, em 1831, com a
reabertura do Grande Oriente do Brasil64, representando o novo tempo de liberdade advindo
com a revolução de 7 de abril.
O espaço público era a arena de luta dos mais diversos grupos políticos e camadas
sociais, marcando a emergência de novas formas de ação política, fora dos círculos palacianos
e das instituições representativas.65
Neste cenário, observa-se que, nas reuniões da Loja Maçônica Sigillo Natalense, seus
membros usavam pseudônimos nos documentos produzidos na Maçonaria, fato este
verificado nas atas das reuniões dos primeiros anos dessa Loja (1836-1837).66
Acredita-se que o uso dos pseudônimos era uma forma de proteção e de segurança
aos membros da loja, visto que a Maçonaria já tinha sofrido perseguição por parte da
monarquia brasileira, fato esse observado em 25 de outubro de 1822, quando D. Pedro I
ordenou a suspensão dos trabalhos maçônicos e o fechamento do Grande Oriente do Brasil.67
60
POMBO, Rocha. História do Estado Rio Grande do Norte. Natal: EDUFRN, 2018.
61
BASILE, Marcelo. O laboratório da nação: era regencial (1831-1840). In: Keila Grinberg; Ricardo Salles.
(Org.). Coleção O Brasil Império Vol III (1870-1889). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. p. 62-63
62
Ibidem, p. 59.
63
BASILE, Marcelo. O laboratório da nação: era regencial (1831-1840). In: Keila Grinberg; Ricardo Salles.
(Org.). Coleção O Brasil Império Vol. III (1870-1889). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. p. 66-67
64
O Grande Oriente do Brasil tinha sido fechado em 1823, por decreto do Imperador D. Pedro I.
65
BASILE, Marcelo. O laboratório da nação: era regencial (1831-1840). In: Keila Grinberg; Ricardo Salles.
(Org.). Coleção O Brasil Império Vol. III (1870-1889). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.
66
LOJA MAÇÔNICA 21 DE MARÇO. Arquivo. Atas de reuniões (1836) Loja Sigilo Natalense – Arquivo Loja
21 de Março – Natal, RN.
67
COLUSSI, Eliane Lucia. A Maçonaria Gaúcha no Século XIX. Passo Fundo: EDIUPF, 1998. Op. cit., p.108.
26
68
Estevão José Barbosa de Moura era Filho de Manuel Teixeira Barbosa, vereador do senado da câmara de Natal
e primeiro presidente da província do Rio Grande do Norte. Genro do Coronel de milícias Joaquim José do
Rego Barros proprietário do Engenho Ferreiro Torto, o qual o Estevão chegou a herdar. (fonte)
69
LOJA MAÇÔNICA 21 DE MARÇO. Arquivo. Ata de reunião 15 de março de 1836 da Loja Maçônica Sigilo
Natalense. Natal, RN. 1836.
70
Venerável Mestre é o principal cargo na hierarquia maçônica, equivalente ao presidente.
71
LOJA MAÇÔNICA 21 DE MARÇO. Arquivo. Ata de reunião - 1836 Loja Sigilo Natalense. Natal, RN. 1836.
27
72
SOUSA, Kleber Cavalcante. A Maçonaria em 24 lições: introdução ao estudo maçônico. Natal: AMRA, 2017.
73
Loja Maçônica 21 DE MARÇO. Arquivo. Atas de reuniões1836-1837 da Loja Maçônica Sigilo Natalense.
Natal, RN. 1836-1837.
74
Essas guildas e corporações de ofícios são consideradas as organizações que originaram a Maçonaria.
28
75
Antônio José de Moura era tenente adjunto da força policial da província quando fora nomeado comandante
do corpo policial no período de 18 de dezembro de 1835 a 17 de agosto de 1838. Ver: WANDERLEY,
Rômulo C. História do Batalhão de Segurança – A polícia Militar do Rio Grande do Norte de 1834 a 1968. 1
ed. Natal/RN: Walter Pereira EDIÇOES, 1969.
76
SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001[1924], p. 12.
77
CASCUDO, Luís da Câmara. História do do Rio Grande do Norte. 2 ed. Natal: Fundação José Augusto; Rio
de Janeiro: Achiamé, 1984
78
LIRA, Augusto Tavares de. História do Rio Grande do Norte. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial,
2012. [1922] p. 283
79
SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001. [1924]
29
entanto, pode-se subentender que alguns desses problemas podem estar relacionados às
disputas por poder na província de grupos antagônicos que pertenciam à loja.
Neste sentido, Tavares de Lira80 afirma que, neste período, os homens políticos da
província congregavam-se em dois agrupamentos, nortistas e sulistas, que correspondiam aos
partidos Conservador e Liberal e assim como os termos saquaremas e luzias que viriam a ser
denominados depois, jamais formaram organizações homogêneas.
Percebe-se, portanto, que havia um elo entre a Maçonaria e o poder da província,
pelo ingresso de membros de poder na Loja Maçônica e pela ocupação de cargos públicos
provinciais por membros da loja, que ainda não tinham espaço no poder local.
É importante esclarecer que o presente estudo estabeleceu dois períodos para a
pesquisa da participação dos membros da Maçonaria em cargos públicos e na assembleia
provincial. O primeiro, no período entre a fundação da loja Sigilo Natalense, em 1836 até
1869, ano que antecede a questão religiosa nesta província. O segundo período, que foi de
1870 a 1875, período de eclosão da questão religiosa, a fundação do Jornal a Luz e a maior
propagação das ideias maçônicas na província.
Entre os anos de 1836 a 1869, observa-se que os maçons da Loja Sigilo Natalense
ocuparam cargos públicos estratégicos, conforme destacado nos quadros 2 e 3 a seguir. Essa
realidade permaneceu na década de 1870, em que os membros da Loja Maçônica 21 de Março
estavam ocupando diversos cargos na administração pública local e na assembleia provincial.
No quadro 2, são apresentados os cargos públicos ocupados por maçons da Loja 21
de Março no período de 1833 até 1870, demonstrando que nesse período membros da
Maçonaria possuíam um protagonismo na província.
80
LIRA, Augusto Tavares de. Op. cit. p. 283
30
É importante ainda evidenciar que, no século XIX, os cargos públicos eram ocupados
por aqueles que possuíam um certo nível de educação formal, a qual era mais acessível aos
31
homens da elite. Em geral, esses membros da elite foram estudantes nas primeiras faculdades
do Brasil, como a Faculdade de Olinda e Recife, que fora a base da formação de muitos
ocupantes dos cargos públicos das províncias do Norte.81
Uma tese a ser levantada é que, nessas primeiras faculdades do Brasil, esses jovens
tinham acesso às ideias revolucionárias e libertárias, inclusive muitos deles conheceram e
mantiveram contato com as ideias maçônicas, e assim ingressaram em academias e lojas
maçônicas nas províncias de Recife e Salvador, assim como aconteceu com aqueles jovens
que foram estudar em Portugal, Inglaterra e França, no período colonial, conforme apontado
por Barata.82
Da mesma forma, esse ingresso na Maçonaria exigia algum nível intelectual de seus
membros, e, portanto, era natural que os cargos públicos fossem ocupados pelos homens da
elite, que possuíam formação educacional e intelectual, e muitos deles eram maçons. E neste
sentido, é importante evidenciar a tese de Gramsci ao defender que diversos grupos
constituintes da sociedade civil disputam a ascensão política, a fim de ter maior poder, e
tornar-se um grupo dominante, capaz de influenciar as mentalidades das classes dominadas.83
Ainda nesse período, observou-se que a Loja Maçônica Sigilo Natalense e depois a
Loja Maçônica 21 de Março mantiveram uma forte presença na Assembleia Provincial, o que
demonstra que os mesmos buscavam conquistar um maior espaço de atuação política e social,
em busca de ter maior influência na sociedade local. A presença da Maçonaria nesses espaços
públicos pode ser explicada pela ocupação dessa arena de poder, que serviu para a defesa dos
interesses individuais e de seus grupos.
81
PEREIRA, Nilo. A faculdade de Direito do Recife (1927-1977) – ensaio biográfico. Recife: Editora
Universitária, 1977. v. 2. VEIGA, Gláucio. História das ideias da faculdade de direito do Recife. Recife:
Editora Universitária/UFPE, 1984. v. 4.
82
BARATA, Alexandre Mansur. Maçonaria, sociabilidade ilustrada e independência (Brasil, 1790-1822). 2002.
373p. Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas,
Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2002. Disponível em:
<http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/280226>. Acesso em: 5 out. 2019.
83
FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001.
32
84
A Assembleia provincial do Rio Grande do Norte possuía 20 vagas legislativas, até o ano de 1857. A partir da
legislatura de 1858 passou para 22 vagas e dividiu a região em círculos e distritos. Ver: CASCUDO, Luís da
Câmara. Uma história da Assembléia Legislativa Provincial do Rio Grande do Norte. Natal/RN: Fundação
José Augusto, 1972. p. 262.
85
FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001.
86
Ibidem, p.122
87
SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001.[1924]. CASCUDO, Luís da Câmara. História da cidade do Natal. Natal - RN: Edição
Instituto Histórico e Geográfico (RN),1999. LIRA, Augusto Tavares de. História do Rio Grande do Norte.
Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2012. [1922] p. 283
34
província, tendo à frente a figura do Capitão da força policial Antônio José de Moura,
membro da loja Sigilo Natalense e do Padre Bartolomeu Fagundes, que era maçom atuante na
cidade de Recife, onde frequentava a Loja Maçônica Conciliação.88
A Loja Maçônica Sigilo Natalense funcionou normalmente, até surgirem
divergências políticas entre seus membros. Apesar de não haver nos registros da loja 21 de
março, nem na bibliografia pesquisada informações sobre quais foram as divergências
políticas e partidárias, acredita-se que essas discordâncias foram de cunho ideológico, haja
vista os Maçons que saíram da Sigilo Natalense para fundar a Loja Fortaleza e União seguiam
a liderança do Coronel Bonifácio Francisco Pinheiro da Câmara, político da linha dos
conservadores, enquanto o Padre Bartolomeu Fagundes estava ligado aos Liberais, assim
como foi o seu pai, o Bartolomeu Fagundes da Rocha.
E, assim, em 1856, maçons conservadores fundaram a segunda Loja Maçônica da
Província, a Loja Maçônica Fortaleza e União. Essa loja também funcionou na Rua da
Conceição, na cidade de Natal.
Os maçons Josué Silva; João Estevam e Emigdio Fagundes, em seu livro A
Maçonaria no Rio Grande do Norte89 destacaram o fato de que:
88 SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001.[1924]
89 SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001. [1924]
90
SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001. [1924]. P, 14
91
BASILE, Marcelo. O laboratório da nação: era regencial (1831-1840). In: Keila Grinberg; Ricardo Salles.
(Org.). Coleção O Brasil Império Vol III (1870-1889). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.
35
A primeira diretoria da Loja Maçônica Fortaleza e União eleita para os anos de 1858-
1859 era composta pelos maçons:93
92
Ibidem, p. 62
93 SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001. [1924].
94
SILVA, ESTEVAM, FAGUNDES, Op. Cit., p. 17.
36
Este aceite dos maçons da Loja Fortaleza e União para se fundir com a Sigilo
Natalense demonstra que possivelmente um grupo cedeu ao outro, e neste caso tudo indica
que o grupo liderado pelo Vigário Bartolomeu Fagundes, que era ligado ao Partido Liberal,
saiu fortalecido, uma vez que ele veio a ser o Venerável Mestre da nova Loja fundada, a partir
desse entendimento, que ocasionou o fim da Loja Fortaleza e União, e depois fundação da
Loja Maçônica 21 de Março.
Assim, sob a liderança do Vigário Bartolomeu Fagundes, no dia 21 de março de
1867, os membros das duas lojas maçônicas atuantes em Natal se uniram, e por meio de uma
fusão, fundaram à Loja Maçônica 21 de Março, que se tornou a Sociedade Maçônica de maior
expressão na Província, no século XIX até os dias atuais.
A Fundação da Loja Maçônica 21 de Março, em 1867, ocorreu com a participação
dos seguintes maçons:95
95 SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001. [1924].
96
Ibidem, p. 19.
37
97
KOSELLECK, Reinhart. Crítica e crise: uma contribuição à patogênese do mundo burguês. Tradução do
original alemão [de] Luciana Villas-Boas Castelo-Branco. RJ: EDUERJ: Contraponto, 1999.
98
MOREL, Marco. Sociabilidades entre Luzes e sombras: apontamentos para o estudo histórico das maçonarias
da primeira metade do século XIX. Revista Estudos Históricos, v. 2, n. 28, p. 3-22, 2001.
99
BARATA, Alexandre Mansur. Maçonaria, sociabilidade ilustrada e independência (Brasil, 1790-1822). 2002.
373p. Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas,
Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2002. Disponível em:
<http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/280226>. Acesso em: 5 out. 2019.
100
RIBEIRO, Luaê Carregari Carneiro. Uma América em São Paulo: a maçonaria e o partido republicano
paulista (1868-1889). 2011. Dissertação de mestrado. Universidade de São Paulo.
Disponível:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-09112012-091354/en.php Acesso em 20 Set.
2019.
101
Potência maçônica ou obediência maçônica é a administração superior de um grupo de lojas. Ver:
CAMARGO, Felipe Côrte Real de. "Protect the integrity ": regularidade no discurso das relações maçônicas
internacionais entre Brasil e Inglaterra (1880-2000). REHMLAC – Revista de Estudios históricos de la
masoneria Latinoamericana y Caribēna, San Pedro, Montes de Oca , v. 8, n. 1, p. 131-
151, Dec. 2016.Disponível: <http://www.scielo.sa.cr/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1659-
42232016000200131&lng=en&nrm=iso.> Acesso: 25 Mar 2020.
38
102
José Maria da Silva Paranhos foi um estadista, diplomata, militar, e maçom jornalista brasileiro. Chegou a
exercer o cargo de presidente do conselho de ministros do Império do Brasil.
103
Joaquim Saldanha Marinho foi jornalista, sociólogo, político e maçom no século XIX. Durante o império, foi
Deputado Geral por cinco legislaturas.
104
GONÇALVES, Thiago Werneck. “Periodismo maçônico e cultura política na corte imperial brasileira
(1871-1874).” Dissertação de mestrado em História, Universidade Federal Fluminense, 2012. Disponível em:
<http://www.historia.uff.br/stricto/td/1588.pdf>. Acesso em: 25 set. 2019.
105
BARATA, Alexandre Mansur. Luzes e Sombras: a ação da Maçonaria Brasileira (1870 – 1910). Editora da
Unicamp, coleção Tempo e Memória n°14, 1999. p. 69-70.
106
BARATA, Alexandre Mansur. Maçonaria, sociabilidade ilustrada e independência do Brasil (1790-1822).
São Paulo-Juiz de Fora: Annablume-EDUFJF-FAPESP, 2006, p. 69-70.
107
BARATA, Alexandre Mansur. Maçonaria, sociabilidade ilustrada e independência do Brasil (1790-1822).
São Paulo-Juiz de Fora: Annablume-EDUFJF-FAPESP, 2006.
39
108
COSTA, Emília Vioti da. Da Monarquia à República: momentos decisivos. 5 ed. São Paulo-SP: Editora
brasiliense, 1987.
109
GONÇALVES, Thiago Werneck. “Periodismo maçônico e cultura política na corte imperial brasileira
(1871-1874).” Dissertação de mestrado em História, Universidade Federal Fluminense, 2012. Disponível em:
<http://www.historia.uff.br/stricto/td/1588.pdf>. Acesso em: 25 set. 2019.
110
Ibidem, p. 50.
111
Ibidem, p. 50.
40
118
SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001, p, 28.
119
SILVA, Maiara Juliana Gonçalves da. A questão religiosa no Rio Grande do Norte: conflito político entre a
Maçonaria e a Igreja Católica no Século XIX (1873-1875). Trabalho de conclusão do curso de História na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2012.
44
interesse desses grupos, visto que através da participação nas decisões legislativas da
província, possibilitava influir nos destinos e na defesa dos interesses de seus grupos sociais,
conforme destacado pela teoria de Gramsci121, em que a busca da hegemonia pressupõe a
conquista do consenso e da liderança cultural e político ideológica. E que todo o grupo social
para a conquista do domínio hegemônico deve tentar assimilar os intelectuais tradicionais,
representantes da estrutura econômica anterior e elaboradores do sistema hegemônico da
classe dominante.122
De fato, observa-se que essa foi uma estratégia adotada pela Maçonaria potiguar
nesse período, desde a criação da loja, em 1837 até o período da Questão Religiosa, quando a
Loja Maçônica 21 de Março foi a principal protagonista na defesa do ideário maçônico na
província, e para tanto, seus líderes buscaram iniciar e inserir no seio da Loja os intelectuais e
lideranças políticas, militares e intelectuais da província, a fim de fortalecer os laços
fraternais e contribuir para que as ideias maçônicas de progresso e liberdade fossem a pauta
do desenvolvimento da província.
Durante os anos entre 1870 e 1875, os principais cargos da Loja Maçônica – ver
Quadro 1, eram ocupados pelos maçons: Vigário Bartolomeu da Rocha Fagundes, José
Gomes Ferreira, Alexandre Thomaz Seabra de Mello, Antônio Pinto de Moraes Castro e
Francisco Gomes da Silva, todos ocupando cargos de destaque na administração da província
ou na assembleia provincial.123
Assim, observa-se que os mais importantes cargos provinciais (presidente de
Província, vice-presidente de Província, secretários, inspetores, capitão de polícia, deputados)
eram ocupados por membros da Loja Maçônica 21 de Março, destarte, pode-se conjecturar
que os interesses da Maçonaria estariam sendo bem defendidos politicamente. No entanto,
essa tese exigirá mais pesquisas para ser confirmada.
Portanto, observa-se que a atividade da Maçonaria potiguar foi bastante intensa no
século XIX, bem como em outras províncias do Império, em que as organizações maçônicas
também eram utilizadas para propagar ideias e causas, a fim de influenciar e transformar os
destinos da colônia e, depois das províncias do Império do Brasil
No capítulo 2 deste trabalho, será abordado uma outra importante estratégia utilizada
pela Loja Maçônica 21 de Março, para continuar a propagar e difundir os princípios e ideias
121
GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultura. 9a. Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1995.
122
GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultura. 9a. Ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1995.
123
SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001 [1924].
46
124
CAPELATO, Maria Helena R. Imprensa e história do Brasil. São Paulo: Contexto/EDUSP,1988.
125
GALVES, Marcelo Cheche. “Ao público sincero e imparcial”: imprensa e independência do Maranhão (1821-
1826). Niterói: UFF, 2010. Tese de Doutorado – Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências
Humanas e Filosofia, Departamento de História, Niterói:2010.
126
Ibidem
127
BASILE, Marcelo. O laboratório da nação: era regencial (1831-1840). In: Keila Grinberg; Ricardo Salles.
(Org.). Coleção O Brasil Império Vol. III (1870-1889). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.
128
FERNANDES, Luiz. A imprensa periódica no Rio Grande do Norte – de 1832 a 1908. 2a. Ed. Natal: Sebo
vermelho, 1998, p. 29.
48
129
BASILE, Marcelo. O laboratório da nação: era regencial (1831-1840). In: Keila Grinberg; Ricardo Salles.
(Org.). Coleção O Brasil Império Vol. III (1870-1889). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.
130
FERNANDES, Luiz. A imprensa periódica no Rio Grande do Norte – de 1832 a 1908. 2a. Ed. Natal: Sebo
vermelho, 1998..
131
GONÇALVES, Thiago Werneck. “Periodismo maçônico e cultura política na corte imperial brasileira
(1871-1874).” Dissertação de mestrado em História, Universidade Federal Fluminense, 2012. Disponível em:
<http://www.historia.uff.br/stricto/td/1588.pdf>. Acesso em: 25 set. 2019.
132
MOREL, Marco. Independência no papel: a imprensa periódica. Independência: história e historiografia. São
Paulo: Hucitec/Fapesp, p. 617-636, 2005.
133
BASILE, Marcelo. O laboratório da nação: era regencial (1831-1840). In: Keila Grinberg; Ricardo Salles.
(Org.). Coleção O Brasil Império Vol. III (1870-1889). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.
49
O pesquisador Thiago Werneck Gonçalves134 afirma que foi nesse cenário de conflito
que a imprensa maçônica se expandiu, inicialmente para combater a visão de mundo
preconizada pelos bispos ultramontanos da Igreja Católica, que eram considerados
conservadores e que representavam o maior inimigo ao progresso da civilização, e
consequentemente propagando as ideias e valores maçônicos.
Na província do Rio Grande do Norte também foi fundado e impresso um periódico
maçônico denominado a “A LUZ”. Este periódico surgiu em 1º de março de 1873 com o
objetivo de ser um jornal em defesa da causa maçônica perante a sociedade norte-rio-
grandense. Era publicado uma vez por semana, e distribuído gratuitamente, sob a
responsabilidade de José Gomes Ferreira, líder maçom da Loja 21 de Março e contava com a
colaboração de outros membros da Loja, chegando inclusive a ser enviado para outras
províncias.135 Foram publicadas 29 edições desse periódico maçônico, no período de março a
setembro de 1873. Nos arquivos da Loja Maçônica 21 de Março, ainda se encontram alguns
exemplares do respectivo jornal, assim como na hemeroteca da Biblioteca Nacional.
As matérias, notícias e ideias propagadas no Jornal “A LUZ” demonstram que havia
um grupo de editores trabalhando, uma vez que, além das notícias, os assuntos e as ideias
publicadas abordavam diferentes campos do conhecimento, desde questões filosóficas,
históricas e maçônicas.
Os autores Silva; Estevam; Fagundes136 destacam que para publicar o jornal, José
Gomes Ferreira137 contava com o apoio dos maçons Dr. Francisco Gomes da Silva138, Dr.
José Paula Antunes, Aleixo Barbosa da Fonseca Tinôco139, entre outros. É importante destacar
que a equipe de responsáveis pelo jornal “A LUZ” eram maçons de destaque e que ocupavam
cargos públicos na província, incluindo a Assembleia Provincial. Notadamente, esses maçons
e editores do jornal seriam pessoas mais letradas e até com um nível de formação intelectual
elevada, em razão da formação educacional mínima necessária adquirida para o exercício de
suas atividades profissionais.
134
GONÇALVES, Thiago Werneck. “Periodismo maçônico e cultura política na corte imperial brasileira
(1871-1874).” Dissertação de mestrado em História, Universidade Federal Fluminense, 2012. Disponível em:
<http://www.historia.uff.br/stricto/td/1588.pdf>. Acesso em: 25 set. 2019.
135
FERNANDES, Luiz. A imprensa periódica no Rio Grande do Norte – de 1832 a 1908. 2a. Ed. Natal Sebo
vermelho, 1998, p. 55.
136
SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001. p. 30.
137
Maçom da Loja 21 de Março e Chefe da segunda secção da Thesouraria Provincial (1866-67)
138
Ex-diretor da instrucção pública (1870) Diretor de Instrucção pública da Província (1872).
139
Professor (1863). Diretor Interino de instrução Pública (1867).
50
140
Testa de ferro seria é o nome que se dá ao indivíduo que aparece como responsável por um determinada
empreitada, negócio ou firma, enquanto o verdadeiro líder/responsável se mantém no anonimato.
141
SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001. p. 30. [1924]
142
GONÇALVES, Thiago Werneck. “Periodismo maçônico e cultura política na corte imperial brasileira
(1871-1874).” Dissertação de mestrado em História, Universidade Federal Fluminense, 2012. Disponível em:
<http://www.historia.uff.br/stricto/td/1588.pdf>. Acesso em: 25 set. 2019.
143
GRAMSCI, Antonio. Concepção dialética da história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
144
Ibidem, p. 15
51
145
A LUZ. PERIÓDICO. JORNAL DEDICADA A CAUSA DA MAÇONARIA. No. 1. Edição 1. 1º de Março
de 1873, p. 1.
52
Nesse trecho extraído do jornal “A LUZ”, percebe-se que o artigo aborda a questão
do monoteísmo e procura associar essa doutrina de antigos pensadores, tais como: Zoroastro,
Confúcio, Sócrates, Platão, com a filosofia da Maçonaria, que exige que os seus membros
tenham a crença em um Deus único.
No mesmo trecho, observa-se que o autor defendia a ideia de contínuo progresso da
sociedade, buscando a sua perfeição moral, no entanto, “os espíritos das trevas, os falsos
ministros de Deos, (...), provocão guerras em seu nome”, demonstrando o conceito dual da
sociedade, o Bem e o Mal.
Em outro trecho do artigo, o autor defendia que a Maçonaria e seus membros
reagiriam a esses “falsos ministros de Deus”, que seriam os bispos e padres ultramontanos, e
empreenderiam uma luta em prol da verdade e da emancipação intelectual e moral da
humanidade:
146
A LUZ. PERIÓDICO. JORNAL DEDICADA A CAUSA DA MAÇONARIA. No. 1. Edição 1. 1º de Março
de 1873, p. 2.
53
No enunciado acima, também é possível perceber que o autor defende a ideia de que
as nações, independente de seus cultos, sempre buscam a sua emancipação intelectual e
moral, e consequentemente da humanidade, e que essa busca progressiva estava associada ao
desejo de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, o lema da Revolução Francesa e da
Maçonaria.
Portanto, é possível levantar a hipótese de que o autor do artigo buscou demonstrar
que a Maçonaria, através dos maçons, denominados como “amigos da humanidade”, era uma
instituição que contribuía para o progresso da humanidade, por intermédio da emancipação
intelectual e moral de seus membros.
Neste sentido, concorda-se com Fairclough148 que defende que todo o discurso é
ideológico, especialmente, quando incorporam significações que contribuem para reestruturar
as relações de poder, como neste período, em que havia a disputa de poder entre a Maçonaria
e Igreja.
Fairclough149, assevera também, que as práticas discursivas que envolvem os
processos de produção, distribuição e consumo de textos, são formas materiais de ideologia.
E, assim, essas práticas contribuem para consolidar as relações de dominação e conquista de
poder.
Analisando ainda a primeira edição do jornal - páginas 2 e 3, o periódico publicou um
artigo intitulado a “QUESTÃO MAÇÔNICA”, letra em caixa alta, o que demonstra o
interesse de chamar a atenção do leitor. No texto, os editores explicaram o papel da
Maçonaria e a sua importância para a sociedade e que é uma instituição cosmopolita.
147
Ibidem.
148
FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001. p.
121.
149
Ibdem, p. 116.
54
[...]a maçoneria brazileira não fica tolhida em seus diversos modos de acção pela
exorbitância dessa ou daquela peça no systema social, cônscia de seus direitos, forte
pela coesão de seus elementos, immensa por seu programma cosmopolita ella
caminha, não obstante esses óbices, opostos somente pela ignorância e pela
150
A LUZ. PERIÓDICO. JORNAL DEDICADA A CAUSA DA MAÇONARIA. No. 1. Edição 1. 1º de março
de 1873, p. 2-3.
151
Ibidem, p. 2-3.
55
Sobre essas autoridades, o artigo descreve o que se esperar de cada uma, a saber:
A autoridade espiritual, que una, forte, no foro da consciência, lançando sua luz no
caminho da existência, apontando destinos sublimes que se realisarão em uma outra
152
Ibidem, p. 4
153
Por esta lei eram reguladas as relações entre Lisboa e o Pontificado Romano. O padroado consistiu em
acordos firmados entre os Estados ibéricos e a Santa Sé. Ver: LIMA, Lana Lage da Gama et al. O padroado e a
sustentação do clero no Brasil colonial. Saeculum Revista de História, v. 30, p. 47-62, 2014, 2014.
154
A LUZ. PERIÓDICO. JORNAL DEDICADA A CAUSA DA MAÇONARIA. N º 2. Edição 2. 8 de março de
1873, p. 1.
56
Percebe-se que a ideia defendida pelos editores é que cada um dos poderes precisa
atuar em um campo distinto. O poder espiritual deveria trabalhar na transformação moral do
homem, preparando-o para a vida futura. Já o poder temporal seria o responsável por manter a
ordem e a justiça, estabelecendo que os homens usufruam de seus direitos, cumpram suas
obrigações, e assim a sociedade progrida de forma organizada, e portanto, ambos os poderes
precisam atuar de forma harmônica, em prol do bem geral. No trecho a seguir, identifica-se no
artigo que o(s) autor(es) defenderam a ideia de independência entre esses poderes, em que o
poder espiritual, assim como o poder temporal não deveriam interferir um no outro.
[...] é certo que a Igreja e o Estado devem se manter cada uma na sua esfera. Uma
quando – esclarecendo a consciência, outra protegendo e fortificando a liberdade [...]
Se é verdade que as leis do estado não podem ferir as consciências, cujo árbitro é a
autoridade espiritual, assim as bulas papais de nenhum modo poderão ferir o
exercício dos direitos concedidos pelos estado sem o beneplácito legal.156
155
Ibidem
156
Ibidem
57
O(s) autor(es) do artigo inserem a Ordem Maçônica como uma terceira autoridade,
sendo o poder conciliador, e a única instituição capaz de mediar e conciliar possíveis
conflitos que podem surgir entre a Igreja e o Estado, pois a maçonaria teria capacidade de
manter liberdade de consciência no pedestal em razão de ser uma instituição que perpassou os
séculos e teve uma participação em diversos momentos decisivos da história mantendo-se fiel
aos seus princípios de liberdade e tolerância, considerada também como uma teologia
sublime, em que o Estado observa o seu ideal alcançado, quanto a Igreja tem os seus dogmas
contemplados, em prol do bem-estar social.
Em edição publicada no dia 22 de março de 1873, o jornal “A LUZ” publicou um
artigo defendendo a Causa da Maçonaria, conclamando que a defesa dessa causa fosse
entregue aos homens ilustrados, que eram os conhecedores da utilidade da ordem maçônica,
que ajudava aos pobres e apoiava o desenvolvimento moral do ser humano, através da
filosofia maçônica, que tinha por base valores e virtudes morais elevadas.158
Nesta mesma edição, em um outro artigo, os editores abordavam o cristianismo, o
Jesuitismo e a Maçonaria procurando associar as atividades maçônicas com os ensinamentos e
proferidos por Jesus Cristo e presentes nos evangelhos.
157
A LUZ. PERIÓDICO. JORNAL DEDICADA A CAUSA DA MAÇONARIA. N º 2. Edição 2. 8 de março de
1873, p. 1-2
158
LOJA MAÇÔNICA 21 de Março. A LUZ: jornal em defesa da causa da maçonaria, nº. 4. 22 DE MARÇO
DE 1873, p. 4).
159
A LUZ. PERIÓDICO. JORNAL DEDICADA A CAUSA DA MAÇONARIA. N º 4. Edição 4. 22 de março
de 1873, p. 1
58
160
Ibidem
161
Ibidem
59
162
FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001. p.
117.
163
Grande Oriente – Poder Central da Maçonaria em cada região. Responsável por congregar lojas maçônicas e
acompanhar as atividades e dar legalidade maçônicas as lojas.
60
Percebe-se ainda que os editores do jornal “A Luz”, além das iniciações, faziam
questão de destacar que a Loja Maçônica 21 de Março estava constantemente reunindo-se e as
suas reuniões eram bastante concorridas, demonstrando a união dos maçons da província em
defesa da causa da Maçonaria. E, com base nessas informações, pode-se supor que haveria um
compromisso em buscar mais adeptos para a ordem, visto que em várias edições do periódico
foram destacadas as cerimônias de iniciações maçônicas que esta loja tinha realizado.
A seguir, apresenta-se na tabela 01 um demonstrativo dos ingressos de membros na
Loja Maçônica 21 de Março, no período de março a agosto de 1873, com base nos relatos e
notícias publicadas no Jornal a Luz.
Na tabela, será possível perceber o crescimento em número de membros ocorridos na
loja maçônica 21 de março e da Maçonaria no Rio Grande do Norte, visto que essa loja era a
única agremiação maçônica em atividade nesta província, no período de maior disputa entre a
maçonaria e a Igreja Ultramontana no Rio Grande do Norte.
O fato demonstrando que essa estratégia de fortalecer o quadro da loja, através de
iniciação, filiações e regularizações de membros afastados da Maçonaria tinha sido efetiva.
164
A LUZ. PERIÓDICO. JORNAL DEDICADA A CAUSA DA MAÇONARIA. N º 6. Edição 6. 05 de abril de
1873, p. 3.
61
Com relação aos outros periódicos, destaca-se o Boletim Oficial do Grande Oriente
do Brasil, que era o Boletim Oficial da Maçonaria Brasileira, e potência maçônica a qual a
Loja 21 de Março estava filiada. Esse periódico era distribuído para todas as lojas maçônicas
do Brasil, com notícias e atos oficiais da Maçonaria brasileira, logo o mesmo possuía bastante
credibilidade no meio maçônico.
Eram uma constante em todos os números do periódico, a propagação das ideias
maçônicas. Nas edições de Nº 8 e 9, datadas de 19 e 26 de abril de 1873 pode-se identificar
ideias de liberdade religiosa, progresso, nacionalismo, separação da religião do Estado e que a
Maçonaria contribuía para o progresso da humanidade. Ideias que frequentemente eram
propagadas nas páginas desse periódico, o que se leva a supor que os editores desejavam
massificar esse conceito e essas ideias na população letrada da província.
Percebe-se, também, que era comum a publicação de matérias e ou artigos que
tratassem de temas históricos, e nestas duas edições, os editores publicaram a continuação do
Artigo Maçonaria e Jesuitismo, em que foi abordado, em um trecho desse artigo, o
acontecimento histórico que culminou com o fim da Ordem dos Templários, após a
perseguição da Igreja católica aos membros da ordem do Templo, na Europa Medieval.
Os autores do artigo destacam que essa perseguição a esta Ordem aconteceu a partir
de um acordo entre o Rei da França e o Papa Bento XI, com o objetivo de diminuir o seu
poder e em busca das suas riquezas. Com relação às riquezas da Ordem dos Templários e,
sobre esse acordo, os autores destacavam que:
Desse modo, também é possível identificar que os editores demonstraram que havia
um acordo entre Felipe Belo - Rei da França e o Papa Francês Clemente V, eleito, após a
165
A LUZ. PERIÓDICO. JORNAL DEDICADA A CAUSA DA MAÇONARIA. N º 8. Edição 8. 19 de abril de
1873, p. 2.
63
morte do Papa Bento XI, a fim de mudar a sede da Igreja de Roma para a França, e extinguir a
Ordem dos Templários, e se apoderar das suas riquezas.
Através desse artigo, percebe-se que os editores buscaram na história um fato em que
a Monarquia e a Igreja tivessem agido de forma autoritária, prepotente e duvidosa, sobre os
seus fins, e, neste caso, contra a Ordem dos Templários. Outro ponto que se pode perceber é
que a narrativa procura demonstrar que essa perseguição era injusta, e estava ocorrendo
movida pela ganância e a ambição humana, e em especial do Rei Felipe - O Belo e do Bispo
Bertrand de Gott, que desejava tornar-se Papa. Assim, os editores procuraram associar esse
fato histórico, com os acontecimentos do momento, nesta província e no Brasil.
Observa-se uma prática discursiva implementada a fim de convencer os leitores do
periódico a respeito dessa tese, de que a Igreja Católica, liderada pelos Bispos Ultramontanos,
estava novamente perseguindo os membros de uma Ordem, em razão dos seus interesses em
aumentar o seu poder.
Neste sentido, acredita-se que esses artigos e as ideias contidas nessas narrativas
serviam de instrumentos para sensibilizar e convencer as pessoas, de que existiam interesses
não justos nessas perseguições a membros da Maçonaria, assim como ocorreu com a
perseguição aos membros da Ordem do Templo, na Idade Média.
É importante lembrar que todas as práticas discursivas possuem ideologias, e essas
quando são eficazes podem atingir o status de senso comum, e assim contribuir para o
convencimento e a conquista de novos adeptos, e o fortalecimento de um grupo social.166
Esse objetivo está fundamentado na teoria de Gramsci167, que defende que “os
leitores devem ser considerados como elementos ideológicos ‘transformáveis’
filosoficamente, capazes, dúcteis maleáveis à transformação”, e que poderiam ser, passíveis
de convencimento e mudança de seus pensamentos.
Em vários números do periódico “A Luz”, observou-se que eles publicavam notícias
Maçônicas de outras províncias, fato este que pode ser justificado com a necessidade de
motivar e manter o grupo maçônico local engajado na defesa da causa e das ideias da
Maçonaria, comprovando que havia uma articulação em nível de todo o Império, e não
somente na província.
A seguir, apresenta-se um trecho de um documento maçônico que foi transcrito do
jornal maçônico “A Verdade” - da província de Pernambuco e publicada no jornal “A Luz”,
166
FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001. p.
117.
167
GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1995.
p.163
64
ORDO AB CHAO
A GL\ DO SUPR\ ARCH\ DO UNIV\
Aos respeitáveis irmãos maçons de Pernambuco – os maçons da Bahia desejam
saúde, fortaleza e união. Respeitáveis irmãos: - Foi com a maior indignação que
tivemos a noticia das inauditas ofensas que em vossa qualidade de maçons
recebestes de vosso diocesano, mandando eliminar das irmandades ou confrarias
religiosas os irmãos que pertencem à Maçonaria. Vossos gritos de dor retumbaram
dolorosamente em nossos corações, como nos de todos os maçons do norte e sul do
império; e nossa admiração e pasmo não foi menor que nossa indignação ao vermos
que um bispo, chefe da igreja brasileira em seu século de luz, de discussão, de
desenvolvimento intelectual e da civilização, desconhece a tal ponto as instituições
que não são um mistério para alguém, que se abalanças se a anathematisar e a repelir
por seu livre e absoluto arbítrio da comunhão catholica aquelles que são delas
seguros e devotados sustentaculos (...) sentido vossas maguas que também são as
nossas maguas, solidários na defeza da vossa causa, que também é a nossa causa,
nos os maçons da Bahia, vemos com prazer no meio das presentes tribulações, que o
povo maçom não tem sido surdo ao som das trombetas de Hiram. Elle reunio-se, e
como uma só voz, vos dirige um voto de applauso e agradecimento pela atitude
firme, resoluta e honesta que assumiste nesta triste e inaudita emergência, que acaba
de provocar o vosso prelado. E juntamente com esse voto de aplauso eles vos
enviam as mais cordiaes protestações de que deveis contar com vossos irmãos da
Bahia na defesa das instituições maçônicas, tão injustamente agredidas pelo
jesuitismo disfarçado na pessoa e na mente de vosso imprudente prelado e de alguns
de seus colegas. Deveis, pois, contar que um só maçom não desertará de nossas
fileiras, e sabei que a assemblea de maçons, reunida para tomar conhecimento dessas
ocorrências, e tomar sobre ellas as convenientes medidas, determinou que o maçom
que desertasse de suas fileiras seria “infame e maldito”. Os maçons da Bahia hão de
estar a vosso lado na estacada nos dias luctosos, nas afflicções, nas tribulações e nas
perseguições, inabaláveis no propósito da resistência. O supremo architecto do
universo nos ilumine a todos, nos guie e nos salve. Feita em assemblea do povo
maçônico da Bahia, no tempo da augusta loja capitular – Fidelidade e Beneficencia
– aos 21 de março de 1873, era vulgar. Estão assignados: - A comissão de redação,
os delegados da assembléa do povo maçônico.168
168
A VERDADE. In.: A LUZ. PERIÓDICO. JORNAL DEDICADA A CAUSA DA MAÇONARIA. N º 8.
Edição 8. 19 de abril de 1873, p. 4.
65
[...] uma associação civil, como muitas deste gênero diferenciando-se dessas pelos
seus fins humanitários. Como instituição cosmopolita não dá, nem pode dar,
preferência à religião alguma. A nenhuma ataca, respeitando todas. (...) Entretanto,
como o sentimento religião é inato ao homem, e só o irracional o desconhece, pode-
se afirmar que a Maçonaria tem uma religião: que considera todos os homens
irmãos, que aconselha a caridade, a fraternidade, a prática do dever e da virtude.(...)
É aquela que tem por dogmas a liberdade, a igualdade, a fraternidade, é aquela ainda
que se traduz no culto do amor a Deus e ao próximo170
169
A LUZ. PERIÓDICO. JORNAL DEDICADA A CAUSA DA MAÇONARIA. N º 11. Edição 11. 11 de maio
de 1873, p. 1.
170
Ibidem, p. 2.
66
Em outro trecho do artigo, pode-se observar que o autor apresenta o segundo segredo
da Maçonaria, que seria a prática da caridade, realizada pela Maçonaria, sem divulgação, em
razão das lojas maçônicas seguirem o preceito da discrição em suas ações.
Ha, além disto, ainda um outro segredo: É a caridade que ella derrama sobre todos
os infelizes, como balsamo consolador de todas as misérias da humanidade, à
semelhança do orvalho nocturno, que desprendendo-se dos ceos, só se torna
conhecido pela sua acção benéfica.173
171
GOB – Grande Oriente do Brasil. O Boletim do Grande Oriente do Brazil: jornal official da maçonaria
brazileira – “Círculo maçônico do Lavradio” (1871-1874).
172
A LUZ. PERIÓDICO. JORNAL DEDICADA A CAUSA DA MAÇONARIA. N º 14. Edição 14. 31 de maio
de 1873, p. 4
173
Ibidem.
67
Mas ellas nada encerrao de ofensivo à divindade, nem à personalidade humana. Não
ha nelas um sacrilégio contra aquella, nem um atentado contra. Ao contrario é por
ocasião da iniciação que se procura formar o coração do neophito para a pratica da
virtude e preparar-lhe o espírito para o culto do dever. O compasso e o punhal de
que nos fallão os Srs. Bispos são ainda symbolos. E suas reverencias, que sabem
tantas cousas sobre a Maçonaria, devem tambem saber o sentido de taes symbolos.
Nada ha pois nas iniciações maçônicas que possa ferir a suscetibilidade da
consciência religiosa. Essas iniciações, essas provas não são hoje se nao uma espécie
de respeito e veneração a antiguidade maçônica.175
174
LOJA MAÇÔNICA 21 de Março. A LUZ: jornal em defesa da causa da maçonaria, nº. 4. 07 DE JUNHO DE
1873.
175
A LUZ. PERIÓDICO. JORNAL DEDICADA A CAUSA DA MAÇONARIA. N º 16. Edição 16. 14 de junho
de 1873, p. 4
68
Sempre estivemos convencidos que seria infalível o triunfo da Maçonaria nessa luta
a que o jesuitismo a provocou. A humanidade não retrograda; ella caminha sempre
em demanda da terra da promissão. No meio desses grandes cataclysmas em que o
genio do mal parece querer destruir a própria natureza e fazel-a voltar aos cabos
donde sahira, uma scentelha se desprende, e dela se forma a luz. A história assim no
lo diz. (...) O tryumpho portanto da Maçonaria era uma questão de tempo. Elle
realisou se, e realisou-se mais cedo do que se supúnhamos. O governo, dando por
aviso de 12 do corrente provimento ao recurso interposto pela irmandade do
Santissimo Sacramento da igreja matriz de Santo Antônio, na cidade de Recife,
decidio o pleito176
Neste mesmo artigo, os autores defenderam a tese de que a Maçonaria não tinha fins
religiosos, nem conspirava contra a religião Católica; portanto, eram injustas as perseguições
e condenações aos maçons, especialmente porque a legislação do Império da época, permitia a
existência de sociedades secretas, inclusive a Maçonaria, garantindo a sua independência da
jurisdição eclesiástica.
Considerando que a Maçonaria como sociedade secreta, é permitida pela lei civil,
não tem fins religiosos, nem conspira contra a religião catholica; e que, portanto,
faltam-lhe caracter e intuitos que a sujeitem à jurisdição eclesiásticas e à condenação
sem forma e figura de juízo.177
176
A LUZ. PERIÓDICO. JORNAL DEDICADA A CAUSA DA MAÇONARIA. N º 18. Edição 18. 28 de junho
de 1873, p. 1.
177
Ibidem, p. 2.
178
Ibidem, p. 4.
69
179
Raphael Arcanjo Galvão foi um “empregado público” da Corte, chegando a ocupar o cargo de diretor-geral da
Contabilidade do Tesouro Nacional. Ver: BRASIL. Anais da Biblioteca Nacional – Rio de Janeiro: Biblioteca
Nacional, vol. 66. 1944. p.
180
LOJA MAÇÔNICA 21 de Março. A LUZ: jornal em defesa da causa da maçonaria, nº. 18. 28 DE JUNHO
DE 1873, p. 4).
70
A loja foi fundada por iniciativa dos Maçons da Loja 21 de Março, em destaque o
Vigário Bartholomeu Fagundes (Venerável Mestre) e José Gomes Ferreira, redator do jornal
“A Luz”, que contaram com o apoio de José Damião de Souza Mello e Jeremias da Rocha
Nogueira, redatores do jornal o Mossoroense.181
Esse fato teve um destaque especial na edição de nº 21, de 19 de julho de 1873, em
sua página 4. A esse respeito o jornal “A LUZ” noticiou:
MAÇONARIA EM MOSSORÓ
Uma loja maçônica acaba de ser instalada na cidade de Mossoró sob o título de 24
de junho. Essa trindade santa – liberdade, igualdade e fraternidade – é hoje ali
venerada. Uma influência retrograda matava ali as aspirações humanitárias. Os
sentimentos generosos que pullalavao no coração de seus habitantes erao para logo
suplantados pelo obscurantismo, que a todos trazia atados ao poste de uma
obediência passiva e da mais crassa ignorância .(...) Faltava lhes um destes augustos
recintos, onde o homem praticando a virtude, aprende a conter os seus
desregramentos e a regular suas acções segundo os disctames de san razão. (...) Hoje
porem existe um centro de luz e de atividade, cujo acçao benefica se exercerá com
mais eficácia e proficuidade, do que poderiao fazel-o os esforços isolados de um ou
outro individuo. Reunidos fraternalmente, os seus membros aprenderão a amar-se e
a respeitar-se mutuamente. Praticando a beneficencia e caridade e trabalhando no
seu aperfeiçoamento moral e intelectual, eles trabalharão no de seus semelhantes e
conseguirão espancar as trevas do obscurantismo. E dentro em pouco a cidade de
Mossoró conhecerá por experiência propria os salutares efeitos de uma instituição
que em seu caminhar de séculos só visa o bem da humanidade.182
Percebe-se, nessa matéria publicada no Jornal “A LUZ”, que a fundação de uma loja
maçônica em Mossoró fazia parte da estratégia da Loja 21 de Março para expandir e aumentar
a propagação das ideias e da causa da Maçonaria, que era contribuir para que os homens
vencessem o obscurantismo, através do seu aperfeiçoamento moral e intelectual e lutando pela
liberdade de consciência.
É importante destacar que, em Mossoró, já existia uma disputa de poder entre a
Maçonaria e a Igreja, com a participação de um grupo que se posicionava contra as propostas
ultramontanas dos bispos de Olinda e Belém e seus aliados jesuítas. Dentre as personalidades
que combatiam as ideias ultramontanas em Mossoró, destaca-se o papel dos redatores do
jornal o Mossoroense, que difundiam ideias maçônicas naquela cidade e região, contribuindo
demonstrando a simpatia e a possível relação dos redatores e dirigentes do jornal com a
maçonaria, nessa província.
181
SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001[1924]. p. 32
182
A LUZ. PERIÓDICO. JORNAL DEDICADA A CAUSA DA MAÇONARIA. N º 21. Edição 21. 19 de julho
de 1873, p. 4.
71
A Loja de Mossoró nascia, assim, com uma tradição de que eram portadores certos
grupos de livres pensadores (...) como se deduz das publicações que apareciam no
“O Mossoroense”, um jornal independente, onde as opiniões do seu diretor, Jeremias
da Rocha Nogueira, deixavam transparecer, claramente, suas tendências para o rumo
da franco maçonaria, com revelações que identificavam seus pontos de vista
doutrinários.184
183
NONATO, Raimundo. História Social da Abolição em Mossoró. Mossoró: Edição do
Centenário. Coleção Mossoroense. Vol. CCLXXXV, 1983.
184
NONATO, Raimundo. História Social da Abolição em Mossoró. Mossoró: Edição do
Centenário. Coleção Mossoroense. Vol. CCLXXXV, 1983. p. 88.
185
Ibidem, p. 25.
186
Ver: ROSADO, Cid Augusto da Escóssia. Escóssia. Mossoró, RN: Fundação Vingt-un Rosado, 1998.
(Coleção Mossoroense. Série C, v. 989).
72
E assim, a publicação e divulgação das ideias maçônicas pelo jornal foi diminuindo,
até que na edição de nº 28, datada de 13 de setembro de 1873, foi publicado um aviso,
justificando a falta de circulação do periódico na semana passada, e que haveria dificuldades
para manter a regularidade, visto que um dos seus redatores e responsável pelo jornal “A Luz”
estava morando fora da província.
De acordo com Gramsci, o papel dos meios de comunicação era formar a opinião
pública a fim de aproximar a sociedade civil em torno de certas propostas. Essa disputa pela
conquista da opinião pública desencadeou uma luta entre órgãos de opinião: os jornais188. De
fato, a teoria de Gramsci é voltada para os jornais, parlamentos e partidos políticos do início
do século XX. No entanto, pode-se utilizar essas considerações para analisar disputas sócio-
políticas em qualquer período.
Gramsci189 declara que não bastava uma classe dominante legitimar-se por meio da
ocupação da sociedade política – representada pelos cargos políticos, mas era necessário
legitimar também a posição social através da persuasão de opiniões e ideias. Portanto, o jornal
é caracterizado como um dos “instrumentos de hegemonia”.190
Neste mesmo sentido, historiador Robert Darnton191 assinalou que os textos
jornalísticos não são meros transmissores de informações, mas divulgadores de uma narrativa
de “segunda mão” sobre os fatos ocorridos, pois “a notícia não é o que aconteceu no passado
imediato, e sim o relato de alguém sobre o que aconteceu. E esse relato pode sempre estar
inserido de ideologia, conforme defendido por Fairclough.192
Observa-se que os artigos publicados no jornal “A LUZ” frequentemente repetiam,
de forma sistemática, ideias e temas, a fim de conseguir esclarecer e sensibilizar os leitores
sobre os conceitos, valores e princípios maçônicos, e se acredita que este método funcionou,
187
A LUZ. PERIÓDICO. JORNAL DEDICADA A CAUSA DA MAÇONARIA. N º28. Edição 28. 13 de
setembro de 1873, p. 1
188
SCHLESENER, Anita Helena. Hegemonia e cultura: Gramsci. 3 ed. Curitiba: editora UFPR, 2007. P. 31-33.
189
GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da sociedade. Rio de Janeiro (RJ): civilização Brasileira,
1995.
190
Ibidem.
191
DARNTON, Robert. O beijo de Lamourette: mídia, cultura e revolução. São Paulo: Companhia das Letras,
1990
192
FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001.
73
193
GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da sociedade. Rio de Janeiro (RJ): civilização Brasileira,
1995, p. 174.
74
194
SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001[1924]. p. 32.
195
Potência e obediência maçônica são os termos utilizados para fazer referência ao poder central da Maçonaria
nos estados nacionais, principados, reinos e impérios.
196
Para acessar esse boletim: ver: Biblioteca Nacional. Hemeroteca digital Brasileira. Disponível:
<http://bndigital.bn.br/acervo-digital/boletim-grande-oriente/074594> Acesso: 20 JAN 2020.
75
197
O Boletim do Grande Oriente Unido e Supremo Conselho do Brazil: jornal official da maçonaria brazileira –
“Círculo maçônico dos Beneditinos” (1873-1874), p.3-5. Disponível: http://bndigital.bn.br/acervo-
digital/boletim-grande-oriente/074594. Acesso: 25 Mar 2020.
198
Ibidem, p. 3-5.
76
199
Grande Oriente e Grande Loja são as denominações maçônicas que as potências e obediências maçônicas se
utilizam , enquanto representam o poder central da maçonaria em caráter nacional. Ver: SOUSA, Kleber
Cavalcante. A maçonaria em 24 lições. Natal: AMRA, 2017.
200
GONÇALVES, Thiago Werneck. “Periodismo maçônico e cultura política na corte imperial brasileira
(1871-1874).” Dissertação de mestrado em História, Universidade Federal Fluminense, 2012. Disponível em:
<http://www.historia.uff.br/stricto/td/1588.pdf>. Acesso em: 25 set. 2019.
201
O Boletim do Grande Oriente Unido e Supremo Conselho do Brazil: jornal official da maçonaria brazileira –
“Círculo maçônico dos Beneditinos” (1873-1874), p.60. Disponível: http://bndigital.bn.br/acervo-
digital/boletim-grande-oriente/074594. Acesso: 25 Mar 2020.
77
202
O Boletim do Grande Oriente Unido e Supremo Conselho do Brazil: jornal official da maçonaria brazileira –
“Círculo maçônico dos Beneditinos” (1873-1874), p. 61. Disponível: http://bndigital.bn.br/acervo-
digital/boletim-grande-oriente/074594. Acesso: 25 Mar 2020.
203
Boletim do Grande Oriente Unido e Supremo Conselho do Brazil: jornal official da maçonaria brazileira –
“Círculo maçônico dos Beneditinos” (1873-1874), p. 57. Disponível: http://bndigital.bn.br/acervo-
digital/boletim-grande-oriente/074594. Acesso: 25 Mar 2020.
204
Ibidem, p. 57.
78
maçônicos Olismar Lima205 e Josué Pedrosa206, essa iniciativa também fora implementada
pela Loja Maçônica 24 de Junho, de Mossoró, que criou um fundo de emancipação de
escravos e com a fundação da Sociedade Libertadora Mossoroense, a qual o seu primeiro
presidente era o líder maçom Romualdo Lopes Galvão, primeiro vigilante da Loja Maçônica
24 de Junho.207
Com relação às notícias das Maçonarias das províncias do Norte, na página 79, o
boletim acusava o recebimento do jornal maçônico a Verdade, da província de Pernambuco,
que também era enviado para a Província do Rio Grande do Norte, e sempre citado no Jornal
“A LUZ”. Nesta nota, o boletim oficial destacava o importante papel desse periódico na
defesa da causa maçônica, e em especial da luta pela liberdade de consciência. O trecho
também destaca que o jornal: “revela mais vida e atividade na sustentação dos direitos de
nossa associação e na defesa dos princípios que devem repercutir no coração de todos os
homens honestos que prezam a pátria, a família, e a humanidade”.208
Sobre a Maçonaria potiguar, a edição de nº 2 do Jornal “A LUZ” registra, em sua
página 131, que a Loja Maçônica 21 de Março reconhecia esse Grande Oriente como único
poder maçônico do Brasil. Na página 133, a assembleia geral do Grande Oriente Unido do
Brasil confirmava o resultado da eleição da nova diretoria da Loja 21 de março para o ano de
1873. Na página 182-183, foi publicado parecer enviado pela Loja Maçônica 21 de Março, do
Oriente de Natal, reconhecendo o Grande Oriente Unido do Brazil. Neste parecer, percebe-se
que a comissão de maçons da Loja fez questão de destacar a importância de que a Maçonaria
brasileira estivesse unida para enfrentar os desafios e lutas que se apresentassem.
Sobre o periódico “A LUZ”, este foi recebido pelo Grande Oriente Unido, e, em seu
boletim, de nº 2 e 3, em sua página 196, fora feita uma nota sobre a sua fundação em Natal,
enaltecendo o papel da Loja Maçônica 21 de Março, a mantenedora desse periódico.
A seguir, transcreve-se o texto de apresentação do periódico maçônico potiguar a
toda a Maçonaria brasileira:
A LUZ. – Com esse título acaba de publicar-se em Natal, província do Rio Grande
do Norte, um jornal dedicado à causa da Maçonaria. A reacção religiosa,
imprudentemente agitada no Paiz, vai felizmente encontrando por toda a parte
valentes adversários que hão de conseguir avassala-la. A folha de que ora damos
notícias é redigida com critério e talento, publicada sob os auspícios da Loja Vinte e
205
LIMA, Olismar Medeiros. Loja Maçônica 24 de Junho: do pó dos arquivos. Mossoró, 2006.
206
PEDROSA, Josué. O Aprendiz de Spartacus. Natal: offset Editora, 2018.
207
Ibidem, p. 20.
208
O Boletim do Grande Oriente Unido e Supremo Conselho do Brazil: jornal official da maçonaria brazileira –
“Círculo maçônico dos Beneditinos” (1873-1874), p. 79 Disponível: http://bndigital.bn.br/acervo-
digital/boletim-grande-oriente/074594. Acesso: 25 Mar 2020.
79
Na página 210, desse mesmo número, o boletim do Grande Oriente fez menção à
postura do Vigário Bartolomeu da Rocha Fagundes, maçom e venerável mestre da Loja 21 de
março, que tinha sido convocado pelo Bispo de Recife Dom Vital, para abjurar e se afastar da
Maçonaria, mas o Padre-Maçom enfrentou o Bispo, e por esta atitude era considerado digno
da elevadíssima consideração e tinha o apoio de diversas lojas maçônica brasileiras, inclusive
algumas lhe concedendo o título de membro honorário.210
Observa-se que havia um interesse e preocupação do poder central da maçonaria
brasileira, em reforçar e valorizar as atitudes e posturas de maçons que resistiam e
enfrentavam as posições dos bispos ultramontanos contra os maçons, e que eram consideradas
autoritárias e não legítimas pela maçonaria. Seguramente, essa estratégia visava estimular e
encorajar as lojas maçônicas e seus membros, por meio da construção de discursos que
demonstravam as atitudes e posturas em defesa da maçonaria.
É importante destacar que o boletim do Grande Oriente era enviado a todas as lojas
maçônicas do Brasil e a algumas potências maçônicas fora do Império, o que o tornara um
importante meio de difusão das ideias e dos fatos que envolviam a maçonaria e seus membros
no Império do Brasil.
Sobre a importância daqueles que estavam dirigindo as lojas maçônicas espalhadas
pelas províncias, observa-se que em sua página 226, deste mesmo número, o boletim fez
referência aos oficiais das Lojas que eram filiadas a essa obediência, e consta como Venerável
Mestre e Secretário da Loja Maçônica 21 de Março, os maçons: Vigário Bartholomeu da
Rocha Fagundes e Paulilio Fernandes Barrros.211
O boletim do Grande Oriente Unido, citando o Jornal “A LUZ”, descreveu que a
Loja Maçônica 21 de março tinha iniciado oito novos membros, sendo quatro nas reuniões
209
O Boletim do Grande Oriente Unido e Supremo Conselho do Brazil: jornal official da maçonaria brasileira.
(1873-1874), p. 196. Disponível: http://bndigital.bn.br/acervo-digital/boletim-grande-oriente/074594. Acesso:
26 Mar 2020
210
O Boletim do Grande Oriente Unido e Supremo Conselho do Brazil: jornal official da maçonaria brazileira –
“Círculo maçônico dos Beneditinos” (1873-1874), p. 210. Disponível: http://bndigital.bn.br/acervo-
digital/boletim-grande-oriente/074594. Acesso: 26 Mar 2020
211
O Boletim do Grande Oriente Unido e Supremo Conselho do Brazil: jornal official da maçonaria brazileira –
“Círculo maçônico dos Beneditinos” (1873-1874), p. 226. Disponível: http://bndigital.bn.br/acervo-
digital/boletim-grande-oriente/074594. Acesso: 26 Mar 2020.
80
nos dias 13 e 17 de março, e mais quatro, no dia 18 de abril de 1873. Além de a filiação de
maçons que estavam afastados dos trabalhos. O redator da nota, associa esse crescimento e
maior engajamento dos maçons, em razão das perseguições que a Maçonaria e seus membros
estavam sofrendo nesta província, destacando que até maçons septuagenários estavam se
unindo a essa causa.
Dessa forma, ao relatar esse crescimento do número de maçons iniciando na loja 21
de março e em especial na província do Rio Grande do Norte, o boletim do Grande Oriente,
possivelmente desejava confirmar que nesse embate entre a Ordem Maçônica e a Igreja
Católica, a maçonaria estava seguindo firme e conseguindo sair fortalecida, visto que havia,
os membros da sociedade local continuavam a aderir à causa da maçonaria na província e
consequentemente a Maçonaria Brasileira.
Ademais, percebe-se que a imprensa periódica maçônica objetivava confirmar, que
as estratégias utilizadas para difundir e sensibilizar a sociedade letrada, quanto as ideias
maçônicas, estavam sendo efetivas. Do mesmo modo, acredita-se que essas notícias
enfocando a conquista de novos membros e o crescimento da Maçonaria no Brasil, desejava
reforçar e estimular as lojas maçônica a manterem as suas estratégias de conquista de espaço e
influência nas províncias e em todo o Império.
Consoante as ideias de Gramsci212, de hegemonia e sobre a maçonaria, observa-se
que a Ordem Maçônica, estaria conseguindo influenciar e atrair mais membros para os seus
quadros, possivelmente, pois estes homens que agora ingressavam na Ordem, vislumbrariam
nela, oportunidades de estreitar laços sociais, assim como se utilizar da mesma, para
consolidar seus interesses e de seus grupos, na medida em que, a maçonaria, neste período,
estava envolvida nas transformações sociais e políticas do Império, e conforme já observado
era uma arena das disputas políticas, e um centro de poder no Império do Brasil.
Sobre a causa da Maçonaria, um pronunciamento feito pelo Maçom Franklin Távora,
realizado no dia 24 de junho de 1873, em reunião maçônica em Pernambuco, com a finalidade
de entregar cinco cartas de alforrias, que a Loja teria comprado, com o apoio dos maçons,
para libertar esses homens que eram escravos.
Franklin Távora213 exaltava o papel e a missão que a Maçonaria assumira:
212
GRAMSCI, Antonio. Maquiável, a Política e o Estado Moderno. 6a. Ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1988. GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultura. 9a. Ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1995.
213
Foi advogado, político, jornalista e romancista. Foi também fundador e diretor da Revista A Verdade – órgão
de defesa da Causa da Maçonaria na Província de Pernambuco.
81
Sinto que a Maçonaria é grande hoje como a liberdade. Sinto que nunca ella deu
tanto que esperar de si. O seu triunfo foi o um comprometimento. (...)Ella estava
inerme, e deram-lhe o escudo e lança inquebrantável. Oh Maçonaria, si bem
comprehenderes o papel que te acaba de ser distribuído na scena das agitações
pacíficas, talvez pela mão da fatalidade, longe irá o teu nome, a projecção do teu
grandioso passado. Tu encarnas em ti, hoje, o futuro embryonário da nossa cara
patria.(...) Chegou, pois, a vez da Maçonaria, que não aspira posições, que não tem
compromisso de agradar ninguém sinão à sua consciência de instituição
profundamente civilizadora. A Maçonaria nao precisa do poder para cumpri a sua
missão, a qual é toda de propaganda. Quem se mette na Maçonaria e começa a tratar
da difusão dos princípios e da adopção das reformas (...) Pois bem, meus irmãos,
convençamo-nos destas verdades. Disponhamo-nos para a luta de ideias. (...) Eis o
programma que eu entendo dever ser actualmente o da Maçonaria no Brasil (...)
felicitemo-nos, meus irmãos. A Maçonaria está no caminho de ser grande, grande
como o futuro!214
214
O Boletim do Grande Oriente Unido e Supremo Conselho do Brazil: jornal official da maçonaria brasileira.
(1873-1874). Ed. 004-006, p. 458.
82
215
A LUZ. PERIÓDICO. JORNAL DEDICADA A CAUSA DA MAÇONARIA. Nº 3. Edição 3. 15 de março de
1873, p. 4
216
Lojas simbólicas trabalham nos três primeiros graus da maçonaria: aprendiz, companheiro e mestre. Ver:
SOUSA, Kleber Cavalcante de. A maçonaria em 24 lições. Natal: AMRA, 2017.
217
Lojas Capitulares trabalham nos graus superiores ou filosóficos, que vão do 4 ao 33, no Rito Escocês Antigo
e Aceito. Ver: CAMINO, Rizardo de. Rito Escocês Antigo e Aceito: 1 ao 33. São Paulo: Madras, 1999. 2a.
Ed.
218
O Boletim do Grande Oriente Unido e Supremo Conselho do Brazil: jornal official da maçonaria brazileira –
“Círculo maçônico dos Beneditinos” (1873-1874), ed. 001-003. Disponível: http://bndigital.bn.br/acervo-
digital/boletim-grande-oriente/074594. Acesso: 27 Mar 2020
219
BRASIL.IBGE. Recenseamento do império do Brazil em 1872. Rio de janeiro: Typ. G. Leuzinger, 1874, 12
volumes. ver: https://biblioteca.ibge.gov.br/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=225477
83
Padre Joaquim negou o batismo do Filho do Maçom Galdino Monteiro, em razão desse se
filho de um Maçom.
Ainda tratando dessas perseguições, na página 467, do Boletim do Grande Oriente
Unido, publica uma notícia do jornal Conservador de Natal, que faz referência a um caso de
maçom potiguar de nome Manoel Pedro Alvares que lhe fora negada a Unção dos enfermos e
a encomenda do corpo, por se negar a abjurar a Maçonaria em seu leito de morte.220
Com relação à disputa entre a Maçonaria e a Igreja, na província do Rio Grande do
Norte, observa-se que no Boletim Oficial do Grande Oriente Unido, em sua edição 008-012,
do ano de 1874, registrou e deu publicidade a uma ação organizada pela Loja 21 de Março,
que em 15 de dezembro de 1874 enviou uma representação ao presidente da província contra
o Padre José Hermínio, coadjutor pro-pároco desta capital, que estava em suas missas fazendo
ataques a maçons e a Maçonaria. Nesta representação mais de 50 maçons da Província que
assinaram a representação, utilizando-se do direito de petição, solicitaram providências contra
o padre, a fim de manter a paz pública. A seguir, apresenta-se a relação dos maçons que
assinaram a representação.221
220
O Boletim do Grande Oriente Unido e Supremo Conselho do Brazil: jornal official da maçonaria brazileira –
“Círculo maçônico dos Beneditinos” (1873-1874), ed. 004-007, p. 210. Disponível:
http://bndigital.bn.br/acervo-digital/boletim-grande-oriente/074594. Acesso: 26 Mar 2020
221
O Boletim do Grande Oriente Unido e Supremo Conselho do Brazil: jornal official da maçonaria brazileira –
“Círculo maçônico dos Beneditinos” (1873-1874), ed. 008-012, p. 760-762. Disponível:
http://bndigital.bn.br/acervo-digital/boletim-grande-oriente/074594. Acesso: 26 Mar 2020
85
Capitão Birillo Leão Saraiva, Capitão Francisco Ignacio Manuel de Lima, Alferes
Francisco Philippe da Fonseca Tinoco, Coronel Bonifácio Francisco Pinheiro da
Camara, José Sebastiao Leite, Tenente Manoel Joaquim de Amorim Garcia.222
Esta notícia demonstra que a disputa hegemônica pelo poder, na província do Rio
Grande do Norte, não se tinha encerrado, e qualquer tipo de atitude que buscasse denegrir a
imagem da Maçonaria e ou prejudicar os maçons, não seria tolerado, e eles reagiriam,
principalmente, agora que estavam mais organizados e mais fortes, na Província e no Império,
inclusive contando com o apoio oficial das lideranças maçônicas nacionais, que ocupavam
cargos importantes no Império.
Ao analisar o Boletim Oficial do Grande Oriente Unido do Brazil, obediência a qual
as lojas maçônicas potiguares (Loja 21 de Março e Loja 24 de Junho) estavam filiadas,
percebe-se que a sua linha editorial, suas notícias e as ideias propagadas eram semelhantes
com as do periódico “A LUZ”. Jornal da causa maçônica nesta província, e que seguramente
havia uma estratégia unificada da Maçonaria brasileira em defesa da sua causa, pois é possível
perceber que em diversos números de ambos os periódicos, destacavam os mesmos valores,
princípios e enalteciam personagens da Maçonaria brasileira que agiam de acordo com esse
ideal.
Ademais, é possível identificar que frequentemente o Boletim Oficial do Grande
Oriente Unido do Brasil, além de publicar as comunicações oficiais da Maçonaria brasileira,
também reforçava a sua posição com publicações de matérias e notícias, e fazia transcrições
de artigos das Maçonarias estrangeiras, objetivando manter engajados os membros da
Maçonaria brasileira e consolidar os valores e princípios, de liberdade de consciência,
progresso, e civilidade, e fraternidade.
Frequentemente, esse boletim era enviado às lojas jurisdicionadas e solicitado que
estas encaminhassem notícias maçônicas de suas províncias, a fim de que o periódico as
publicasse e divulgasse para toda a Maçonaria brasileira, demonstrando que a ordem
maçônica estava atuando e se mantinha fiel na luta contra o “obscurantismo”.
Não se sabe qual o custo e com que frequência as lojas enviavam as notícias e se
essas eram encaminhadas como ofícios ou as notícias eram retiradas e transcritas dos jornais
que eram encaminhados ao Grande Oriente Unido do Brazil. Para este fim, uma nova
pesquisa pode ser realizada, para investigar os custos, os meios e a frequência do envio dessas
notícias e informações ao Boletim Oficial.
222
Os autores maçônicos Silva; Estevam e Fagundes, em A Maçonaria no Rio Grande do Norte, 2001 [1924],
também fazem referência a esse fato, informando que encontram nos arquivos da loja, esse documento, com a
relação de peticionários.
86
Constata-se que, a partir da segunda edição desse boletim, do ano de 1873, O Grande
Oriente Unido do Brazil teve dificuldades para manter a frequência da publicação, visto que
nenhuma de suas edições entre os nos anos de 1873 e 1876, conseguiu publicar todos os
meses, sendo necessário, publicar um número referente a vários meses. Posto isso, pode-se
supor que havia uma dificuldade financeira para custear a publicação, mesmo considerando
que os boletins eram impressos em tipografia própria do Grande Oriente Unido do Brasil,
conforme evidenciado nas capas dos boletins.
A comunicação do Grande Oriente com suas lojas era essencial para manter a
unidade e o poder dirigente sobre as suas lojas e respectivamente seus membros, a fim de que
as estratégias fossem efetivas. E nesse modelo democrático, percebe-se também que a
hierarquia e a obrigação dos dirigidos em obedecer aos dirigentes é fundamental para a
manutenção da hegemonia.
Neste sentido, Antônio Gramsci, em sua obra que discute Maquiavel, a política e o
Estado Moderno223, destaca que no:
223
GRAMSCI, Antonio. Maquiável, a Política e o Estado Moderno. 6a. Ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1988. p. 183.
224
Ibidem, p. 183
225
GONÇALVES, Thiago Werneck. “Periodismo maçônico e cultura política na corte imperial brasileira
(1871-1874).” Dissertação de mestrado em História, Universidade Federal Fluminense, 2012. Disponível em:
<http://www.historia.uff.br/stricto/td/1588.pdf>. Acesso em: 25 set. 2019. p. 40.
87
226
GRAMSCI, Antonio. Concepção dialética da história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
88
CONSIDERAÇÕES FINAIS
227
SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Sebo Vermelho, 2001, p, 28.
90
Barbosa da Fonseca Tinôco, todos membros da Loja maçônica 21 de março e com cargos
públicos na província
E, por fim, relacionou as narrativas discursivas presentes na imprensa maçônica
potiguar, através do Jornal Maçônico “A LUZ” e no periódico maçônico Boletim Oficial do
Grande Oriente Unido do Brasil, vinculado ao Grande Oriente, que representavam o poder
central da Maçonaria Brasileira e que a Loja 21 de Março estava filiada.
Ademais, entende-se que o recorte temporal “definido” para a realização desta
pesquisa possibilitou a consecução dos objetivos estabelecidos que se relacionam com a
compreensão das conexões existentes entre os maçons, a imprensa e a expansão das ideias na
província do Rio Grande, através do periódico maçônico “A LUZ”, publicado na Tipografia
de propriedade do Sr. José Gomes Ferreira, que era um líder Maçom da Loja 21 de Março, e
que propagava as ideias maçônicas.
Certamente, essa pesquisa possibilitou o surgimento de novas questões que precisam
ser respondidas, e que serão objeto de futuros trabalhos. Dentre essas questões podemos
destacar, quais seriam os vínculos familiares e a origem desses maçons potiguares que
ocuparam os principais cargos público nesta província. Outra questão a ser investigada é quais
as transformações urbanas e rurais, de fato, foram implementadas por esses maçons no
exercício dos cargos na assembleia provincial e quando presidentes da província e da
assembleia provincial, e se essas transformações estavam relacionadas ao ideário e à causa da
Maçonaria.
Outra pesquisa que pode ser realizada é sobre quais as relações que existiam entre a
Maçonaria potiguar e a pernambucana, visto que, neste estudo, comprovou-se que havia
comunicação entre os periódicos maçônicos destas duas províncias, e também pelos vínculos
e ligações construídas, entre esses sujeitos, durante o período de seus estudos em
Pernambuco, e depois viriam a exercer cargos públicos no Rio Grande do Norte, e
possivelmente aprofundando as suas relações e fortalecendo os seus interesses e dos grupos
que estavam vinculados.
Portanto, assim como em outras províncias do Império, no século XIX, a atividade
da Maçonaria potiguar foi bastante intensa, em que as organizações maçônicas eram utilizadas
para propagar ideias e causas, a fim de influenciar e transformar os destinos da colônia e,
depois, das províncias do Império do Brasil.
92
REFERÊNCIAS
Fontes
Documentos Maçônicos
Loja Sigilo Natalense. Atas de reuniões maçônicas –. Anos de 1836 – 1837.
Periódicos
Bibliografia
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Teses