O documento é um poema narrando o assassinato de João Batista. Em três frases:
1) João Batista está preso e é visitado por um anjo que diz que é hora de partir;
2) A filha de Herodias dança para Herodias no aniversário dele e pede como recompensa a cabeça de João Batista;
3) Soldados vão e decapitam João Batista, trazendo sua cabeça em uma bandeja para Herodias.
O documento é um poema narrando o assassinato de João Batista. Em três frases:
1) João Batista está preso e é visitado por um anjo que diz que é hora de partir;
2) A filha de Herodias dança para Herodias no aniversário dele e pede como recompensa a cabeça de João Batista;
3) Soldados vão e decapitam João Batista, trazendo sua cabeça em uma bandeja para Herodias.
O documento é um poema narrando o assassinato de João Batista. Em três frases:
1) João Batista está preso e é visitado por um anjo que diz que é hora de partir;
2) A filha de Herodias dança para Herodias no aniversário dele e pede como recompensa a cabeça de João Batista;
3) Soldados vão e decapitam João Batista, trazendo sua cabeça em uma bandeja para Herodias.
Dos palácios reais sobre os eirados, Estende a noite escura a sombra imensa, Que nem sempre derrama a paz e o sono. Aves de Deus, as virgens e as crianças, Adormecem risonhas, ocultando Nas asas da inocência as frontes santas. Voltam os velhos ao passado, em sonhos, Em sonhos o futuro os moços galgam. Mas os ímpios não dormem! Fulgurantes Ardam embora perfumados círios Junto dos leitos de ouro: embora brilhem Dos estucados tetos penduradas Alâmpadas riquíssimas! Embora! Não há luz que afugente as trevas d’alma! Nos vapores do vinho e nos banquetes, Nas orgias febris, nos jogos loucos, Um momento se abranda e se entorpece O verme dos remorsos... – Mais faminto Acordará nas horas do silêncio.
Os primores da Europa, os luxos d’Ásia,
O fausto desta, a profusão daquela De Herodes o palácio aformoseiam. Mil candeeiros, transparentes tochas, Argênteos lampadários, iluminam As vastas arcarias, marchetadas Dos mais lindos mosaicos do Oriente. E as colunas de mármore, as pilastras, Cobertos de lavores, e as paredes Ornamentadas de brasões pomposos. [...] Celebra o rei vaidoso e dissoluto Seu dia natalício. As salas todas Estão cheias de amigos e convivas: Ricos hebreus, latinos cavaleiros, Senhores do Ocidente e do Levante. As mais belas romanas da soberba, Mas depravada corte do tirano, As mais airosas filhas da Circássia, E as ninfas mais gentis das ilhas gregas, À lauta mesa reclinadas ouvem Os torpes, desonestos galanteios Dos escravos de César. Petulante, De louro coroado, e verde mirto, Do amor emblema, e símbolo da glória, Em macia camilha repimpado, Excita à ebriedade o rei da festa Seus libertinos, cínicos parceiros. Bela, apesar do vício, a fronte esbelta Aos joelhos do amante repousando, Herodias sorri. De espaço a espaço, Gracioso escanção, ágil, travesso, Demônio de malícia em tenra idade, As taças de ouro que a seus pés reluzem, De excitante falerne enche, dizendo Imodestos gracejos. Nenhum pajem Do mais devasso camarim do império O vencera em audácia e desvergonha! Entretanto, meu Deus! É uma menina, No albor da adolescência, rósea, loira, Olhos azuis brilhantes, lábios de anjo! E esta menina é filha de Herodias!...
Mas, pouco e pouco, se entibia e passa
O ardor da saturnal. Ébrios e fartos, Estiram-se e bocejam sonolentos, Os heróis do festim: a vil preguiça Vence a voraz e crassa intemperança... Então, como entendendo os pensamentos Que da mãe tediosa a fronte nublam, Corre a menina astuta, a sala deixa, Deixa os vestidos leves que trajava, Cinge de rosas a gentil cabeça, Desnuda os seios, a cintura enfeita De perfumadas e vistosas faixas, Toma um ebúrneo tamboril, coberto Dos mais finos e artísticos lavores. E do espelho fiel se despedindo, Volta faceira à sala do banquete.
Os tangedores, avisados, rompem
Nas mais doces e ternas harmonias; Os convivas levantam-se surpresos: Derramam servos nos braseiros ricos Perfumes sem iguais. Senta-se Herodes, Estremece Herodias. Entretanto, Escrava da cadência, mas senhora Das requebrados, lânguidos meneios, Sobre as flores dos séricos tapetes, Mais ligeira que a leve borboleta, Mais bela que os espíritos errantes Que à noite brincam nos rosais cheirosos, Ela volteia – a doida bailadeira! Às vezes para do salão no centro, Suspira e cerra os olhos... vai, quem sabe, Sucumbir de cansaço! Mas engano! Reanima-se, ri, levanta os braços, Flexível como a serpe encurva o corpo, E num rápido giro se aproxima Do fascinado Herodes, sacudindo Sobre seus pés as rosas da grinalda, Entre os aplausos mil dos assistentes. Depois, qual passarinho caprichoso, Que das nuvens descendo, em tarde estiva, Modera o voo, quando a terra avista, Ela os passos afrouxa, e segue a medo, O mais lento tanger dos instrumentos. Imita a corça, quando alegre salta, Quando corre veloz; é viva abelha Sobre os lírios dos vales adejando; Mimoso colibri, quando descansa, Tão leve, que não dobra das alfombras A mais delgada flor! Por largo tempo, Assim deleita a vista dos convivas; Ofegante por fim, extenuada, Faz um último esforço, e mansamente Cai, pétala de rosa, aos pés de Herodes.
— Oh!... Pede o que quiseres, não vaciles!
Inda que sejam meu governo e erário, Juro que tos darei! — grita enlevado O romano senhor, — eia, responde! —. Então do ódio escuro o escuro gênio Aos ouvidos murmura de Herodias: — Lembra-te do Batista! — Estranho lume Da régia libertina inflama os olhos, Vivo rubor lhe sobe ao lindo rosto; Chama a filha imprudente, ao colo a estreita, E um conselho cruel lhe dá baixinho.
— Oh rei! diz a volúvel dançarina,
Se a promessa que parte de teus lábios Um gracejo não fosse... — Pelos deuses, E deusas imortais! — Herodes brada, Seja eu ludíbrio do plebeu mais rude Se alguma cousa te negar! — Desculpa, Se duvidei de ti, — pois bem, atende: Sabes quantas afrontas recebemos Do protervo Batista, — diz a moça, — Que punição lhe deste? Descuidoso Nos terrados de vasta fortaleza, Em risonha colina levantada, Escarnece de ti!... Agora escuta, E cumpre como um rei o que juraste: — Dá-me a cabeça do Batista! — Herodes Treme, os olhos abaixa, e não responde. — Hesitas?... E da mesa do banquete A filha de Herodias se aproxima, Lança mão de uma salva primorosa Que ao tirano apresenta: — Nesta salva Quero a cabeça do Batista — O bárbaro Chama o chefe da guarda que o servia: — Escutaste? — Escutei. — Parte, e obedece! Eis meu anel, te servirá de senha. — O sinistro emissário a sala deixa.
Carregado de ferros, junto às grades,
Amortecido o olhar, lívido o rosto, João contempla uma estrela solitária, Que pouco a pouco apaga-se e se afunda Nos véus caliginosos do Ocidente. Nem um amigo, um sócio de infortúnio, Nem uma voz humana, as longas horas Amenizam do pobre encarcerado!... Do teto escuro e baixo, gota a gota, Ressuma, estala e cai no chão lodoso Condensada humidade; nos recantos Da cripta tenebrosa, livremente Passeia o escorpião, a osga brinca, Arrasta-se tranquila a treda víbora. Que pungentes lembranças, que saudades Amargas e cruéis, que pensamentos Sinistros e aflitivos não torturam Do filho de Isabel a mente e o peito! Quem pudera saber o que se passa Naquela fronte heroica? — Porventura, À luz da bela estrela que cintila, Qual uma gota de amoroso pranto, No triste véu da noite, ao longe avista As montanhas natais, frescas e umbrosas, O vale do Jordão, e os verdes bosques Das encostas do Hermon? Os lindos campos Dos terrenos de Dan, cheios de flores, Cobertos de rebanhos? — Porventura, Lembra-se de Jesus e seus amigos? Das santas penitências do deserto? Dos primeiros milagres do batismo? Chora os tempos felizes que passaram? Ou, tomado de horror, mede o futuro, E só vê dissabores e amarguras, E talvez o suplício?... — Oh! não! a morte Não amedronta o rígido profeta! O martírio... não teme, antes o aspira E aguarda, como a prova gloriosa De seu zelo e fervor; o mais... que importa!...
Qual, entre os nevoeiros do Oceano
Some-se a vela que a remotas praias Leva nossos amores e esperanças, Tal, entre a cerração desaparece A solitária estrela, a casta amiga Das noites do profeta. Quebrantado Pela longa vigília, João descansa Sobre a gélida mão a fronte ardente, E cerra, suspirando, os turvos olhos.... Mas, uma luz esplêndida, divina, Da sombria prisão clareia os muros, E um anjo do Senhor pousa tranquilo Entre os grilhões do pálido cativo. João estremece; a imagem do verdugo Ao pensamento acode-lhe. — Estou pronto, São horas de partir? — severo indaga Sem levantar o rosto. — Sim! — responde O celeste enviado, ergue-te, e vamos Para o seio de Deus! João abre os braços.... O anjo do Senhor desaparece.
Um profundo rumor, triste, confuso,
Pelas negras abóbadas retumba; Rangem as chaves e as pesadas portas Movem-se sobre os quícios, vagarosas; Surdo tropel e vozes misturadas Espalham-se nos longos corredores; Vivo clarão derrama-se nos cantos E esverdeados, úmidos pilares, De sanguinosa cor tingindo as lájeas; Um magote de esquálidos esbirros E sequazes de Herodes se aproxima, E rodeia o profeta. — Ilustre mestre, Grita um ébrio soldado, motejando, Rende graças à amásia de teu amo, Está findo o teu triste cativeiro! Ai! O que então seguiu-se, a língua humana Não pôde descrever! Meus lábios tremem, E minha voz não passa da garganta!...