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2019
Indicionário do Contemporâneo
Ana Cristina Joaquim1
[...] como viver junto e como escrever em colaboração, como escrever, em suma,
coletivamente e a partir de diferentes perspectivas críticas e diferentes geografias
da América do Sul [em atenção aos encontros que motivaram e alimentaram a
escrita do livro, ocorridos em Cali/Colômbia, Campina Grande-PB, São Paulo,
Rio de Janeiro, Florianópolis/Brasil e Buenos Aires/Argentina] (pp. 7-8).
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dessa indistinção se refere à autoria: já mencionada a propósito do que
chamei de semianonimato, ela é textualmente evocada a propósito de
uma performance crítica organizada por Mario Bellatin:
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em detrimento do fechamento como consequência de uma certeza
apriorística (com exceção do verbete “Comunidade”) que tende a insistir
na disputa entre uma visão ali considerada menos filosófica e por isso
mais eficiente e uma visão ali considerada mais filosófica e por isso menos
eficiente (Negri e Hardt versus Agamben e Jean-Luc Nancy), que me parece
mais a construção de uma fronteira do que a sua destruição em direção aos
híbridos contemporâneos, construção na qual o projeto de Indicionário se
empenha declaradamente. Mas até mesmo esse corpo estranho vem selar
de alguma forma o intempestivo na sua circunstância mais atual.
É, sem dúvida, um livro político, sem que seja possível estabilizá-
lo num eixo central que preveja uma concordância dos significados e
das variadas orientações que o conduzem. É um livro que investe seus
múltiplos olhares na ética da responsabilidade, e o faz de modo bastante
evidente, enfatizando a seriedade do comprometimento em questão ao
evocar estas palavras de Latour (apud pp. 190-191):
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A fronteira pode ser natural, seguindo um acidente geográfico como um rio
ou uma montanha. Às vezes é abstrata, como a margem entre a sanidade e a
loucura, às vezes tem a concretude da muralha da China [...]. Ironicamente,
chamamos de “fronteiras vivas” aquelas que estão sujeitas a conflitos e se
alteram, diferentemente das “fronteiras mortas”, que são sólidas. Para o líder
indígena Ailton Krenak, no Brasil há fronteiras fluidas entre mundos em
guerras, mas essas fronteiras não são feitas apenas de conflito. São também
“possibilidade de interpenetração de mundo”. A fronteira é o que separa,
mas também o que une: ponto de contato entre territórios, povos e línguas
(MARIUTTI, 2018, [s.p.]).
REFERÊNCIAS
BADIOU, Alain. Em busca do real perdido. Trad. Fernando Scheibe. Belo Horizonte:
Autêntica, 2017.
MARIUTTI, Sofia. Fronteira. Nexo Jornal [on-line], 2019. Disponível em: <https://
www.nexojornal.com.br/lexico/2019/08/04/Ela-%C3%A9-o-que-separa-mas-
tamb%C3%A9m-o-que-une-%E2%80%93-ponto-de-contato?utm_medium=Social&utm_
campaign=Echobox&utm_source=Facebook&fbclid=IwAR31tSHvBSWr8mF1lF_8tmzD0crj
UKXxNSCto5cvwTBk_v4z9MxD51CdfUw#Echobox=1564973008>. Acesso em: 9 ago. 2019.
Recebido: 12/09/2019
Aceito: 21/11/2019
Publicado: 13/12/2019
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