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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

CLCH - CENTRO DE LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

ISMAR RUFFATO NETO

ETNOGRAFIA E OCULTISMO:

Um prisma antropológico sobre a Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz -


AMORC.

MONOGRAFIA – Ciências Sociais / Antropologia

Londrina

- 2018 -
ISMAR RUFFATO NETO

ETNOGRAFIA E OCULTISMO:

Um prisma antropológico sobre a Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz - AMORC.

Monografia apresentada ao curso de


Monografia II, como conclusão dos requisitos
necessários à obtenção do título de Bacharel
em Ciências Sociais.

ORIENTADOR: Celso V. Bezerra de Menezes.

Londrina

- 2018 -
Ismar Ruffato Neto

ETNOGRAFIA E OCULTISMO: Um prisma antropológico sobre a AMORC – Antiga e


Mística Ordem Rosa Cruz. / Ismar Ruffato Neto. – Londrina, 2018 – 98p.

Orientador: Celso V. Bezerra de Menezes

Monografia / UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS, 2018.


Ismar Ruffato Neto

ETNOGRAFIA E OCULTISMO:

Um prisma antropológico sobre a Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz – AMORC

PROFESSOR ORIENTADOR:

Celso V. Bezerra de Menezes

BANCA EXAMINADORA:

Giovanni Cirino

Fábio Lanza

Londrina

- 2018 -
DEDICATÓRIA:

Retribuo e redireciono parte do mérito deste estudo aqueles que de alguma

forma contribuíram para minha passagem pela Universidade Estadual de

Londrina.

Este trabalho é totalmente dedicado às pessoas de minha família,

especialmente minha tão amada mãe, Maria Vilma de Oliveira Ruffato, meu pai,

Nilton Cesar Ruffato e meu irmão Gabriel de Oliveira Ruffato, assim como

também, com grande importância ofereço esta obra a minha tão querida avó

paterna, a matriarca Dona Sebastiana Ribeiro Ruffato (in memorian) e também

aos meus avós maternos, Maria do Carmo Moço de Oliveira e Pedro Moço de

Oliveira.

Dedico também esta obra aos meus queridos padrinhos e madrinhas de

batismo e crisma, que particularmente, representam uma presença e importância

real no aprendizado humano e social, desta forma, afirmo que sou completamente

grato a Cláudio Moço de Oliveira e Sineire Maria Ruffato, da mesma maneira a

Donizete Viera da Silva e Ivanete Aparecida Ruffato da Silva (in memoriam).

E por último e com certeza não menos importante dedico este ensaio

etnográfico a mulher que sempre esteve ao meu lado me apoiando na caminhada

da vida, minha amada companheira, Barbara Venâncio da Silva.


AGRADECIMENTOS:

Ofereço meus sinceros agradecimentos a toda à equipe que forma o

Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina – UEL,

especialmente ao Professor Doutor Celso de Bezerra e Menezes pelo processo

acolhimento, amizade, auxílio e orientação no processo de construção da

pesquisa antropológica.
RESUMO:

Este estudo busca desenvolver uma experiência participante que proporcione


uma aproximação e descrição etnográfica sincera sobre a Antiga e Mística Ordem
Rosa Cruz – AMORC – Londrina – PR - na perspectiva de estabelecer uma
reflexão acerca da possibilidade de categorização da mesma.

PALAVRAS CHAVE:

ETNOGRAFIA – ORDEM ROSA CRUZ – ESOTERISMO – NEO-ESOTERISMO.

ABSTRACT:

This study seeks to develop a participatory experience that provides an


approximation and an ethnographic description about an ancient and mystical
Rosa Cruz Order - AMORC - Londrina - PR - from a perspective on the possibility
of categorizing it as a social, religious, philosophical phenomenon , mystical,
esoteric or neo-esoteric.

KEY-WORLDS:

ETHNOGRAPHY - ROSA CRUZ ORDER - ESOTERISM - NEO-ESOTERISM.


SUMÁRIO:

INTRODUÇÃO -------------------------------------------------------- 09

CAPITULO 1

- OBJETIVOS --------------------------------------------------------- 14

- A ETNOGRAFIA - UM OLHAR DE FORA ------------------ 17

- A CÂMARA EXTERNA ------------------------------------------- 19

- BUSCADOR X INICIADO ---------------------------------------- 20

- AS ORDENS ROSACRUCIANAS ----------------------------- 21

CAPÍTULO 2

- MONOGRAFIA I ---------------------------------------------------- 27

- MONOGRAFIA II ---------------------------------------------------- 44

- MONOGRAFIA III --------------------------------------------------- 47

- MONOGRAFIA IV --------------------------------------------------- 51

CAPÍTULO 3

- A LOJA LONDRINA --------------------------------------------- 58

- OS LIMITES DA PESQUISA --------------------------------- 75

- AMORC E RELIGIÃO ------------------------------------------ 87

- ESOTERISMO E NEO-ESOTERISMO --------------------- 89

- CONCLUSÃO ---------------------------------------------------- 101


Um prisma antropológico sobre a Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz - AMORC.

Ismar Ruffato Neto1

INTRODUÇÃO:

Há tempos a humanidade vem se questionando sobre as inquietações correlacionadas a sua própria

existência, em outras palavras, quem sou eu? De onde eu vim? Para onde devo ir? Para onde vou? O

que é a vida? O que é a morte? Afinal, existe algo além desta vida? Existe algo sobrenatural?

Dentro desse cenário de reflexão existencial, a humanidade já recorreu a respostas na metafísica

que abarca o totemismo2, a magia3, a mitologia4, a filosofia, as religiões, a ciência e mesmo assim ainda

hoje busca incessantemente descobrir cada vez mais sobre a sua própria natureza, sobre si mesmo,

sobre o universo, o espírito, a matéria; enfim, inquietações que podem perdurar uma vida inteira ou

“vidas inteiras” com muitas perguntas e poucas explicações.

Uma dessas vias de entendimento ou sistemas de crenças utilizadas pelo ser humano foi o

“misticismo”5, na tentativa de estabelecer um contato entre o natural e o sobrenatural ou entre o divino

e o profano, até mesmo tentando influenciar os acontecimentos através da imposição da vontade ou ter

auxílio ou contato com algo sobrenatural. Nessas práticas a humanidade ao menos refletia sobre além

1 Ismar Ruffato Neto: Licenciado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina – UEL. ismar.irn@gmail.com.
2 Totemismo: é um conjunto de ideias e práticas baseadas na crença da existência de um parentesco místico entre seres humanos e
objetos naturais, como animais e plantas. O conceito refere-se a uma ampla variedade de relações de ordem ideológica, mística,
emocional, genealógica e de veneração entre grupos sociais ou indivíduos específicos e animais ou outros objetos naturais, que
constituem o totem. O termo deriva da palavra “ototeman”, do idioma dos índios algonquinos, do leste dos Estados Unidos. A raiz
gramatical ote indica uma relação de sangue entre irmãos e irmãs, filhos da mesma mãe, que não podem se casar entre si.
3Magia: arte, ciência ou prática baseada na crença de ser possível influenciar o curso dos acontecimentos e produzir efeitos não naturais,
valendo-se da intervenção de seres fantásticos e da manipulação de algum princípio oculto supostamente presente na natureza, seja por
meio de fórmulas rituais ou de ações simbólicas.
4Mitologia: Reunião que contém os mitos de um povo; conjunto das narrativas fantásticas e simbólicas que explicam os fenômenos a
partir de entidades sobrenaturais; o estudo desses mitos e de sua evolução.
5 Misticismo: União ou aproximação/experiência do Ser Humano com Deus.
de sua existência neste mundo, sobre os planos sutis da natureza e suas concepções de realidade

extrafísica.

Sobre o prisma dos conceitos de religião e misticismo, analisamos o objeto estudado, tomando o

cuidado para a utilização dos mesmos nas formas de interpretação e escrita especificamente sobre a

distinção do objeto para com o fenômeno religioso, pois, segundo Maluf (2011, p.08):

[...] Além dos dilemas teóricos em torno dos limites do conceito


de religião, é importante mencionar as apropriações e usos
dessa categoria pelos sujeitos e nos diferentes circuitos de
filiações religiosas que formam o campo religioso brasileiro. É
possível de afirmar que nesses usos extra-acadêmicos, o
conceito de religião forma um campo semântico que articula
identidades, estratégias de distinção e hierarquização,
mercadores ideológicos e políticos [...] No caso de meu
estudo, os sujeitos pesquisadores rejeitam as definições de
suas práticas como “religiosas”, preferindo a noção de
“espirituais” e de espiritualidade. A ideia de religião está
ligada para aquelas institucionalizadas e às práticas populares,
ou seja, há dois aspectos diferenciadores nessa rejeição da
“religião” pelos sujeitos da pesquisa: a distinção em relação
ao tradicional e ao institucionalizado e distinção em
relação às práticas populares. Nesse caso a marcação de
distinção social remete a um uso negativo do conceito de
religião, sua negação e atribuição a outros grupos sociais [...].
MALUF (2010, 08) - grifo nosso.

Sobre este dilema conceitual que trata a situação de tentativa de enquadramento do objeto no

conceito de religião, afirmamos que se torna explicitamente necessário primeiro a análise criteriosa que

objetiva conhecer a fundo as características e manifestações do mesmo, para que só depois possamos

categoriza-lo ou defini-lo como religião ou não. Mesmo o objeto apresentando de antemão moldes,

perfis e características de algo “espiritual” ou “místico”, que se assemelham ao de prática religiosa.

Buscamos com a pesquisa aprofundar percepções e reflexões para com a forma, definição e

conceituação na explicação do fenômeno a fim de explica-lo da mais fidedigna forma ou obter um prisma

que nos aproxime o máximo possível da realidade observada através da antropologia, em específico,

as metodologias de observação participante.


É importante dizer que esta pesquisa trata de uma experiência de caráter etnográfico, cujas

participações em campo começaram a partir do segundo semestre de dois mil e dezesseis 06/2016,

que perdurou até setembro de dois mil e dezoito – 09/2018, no que se refere ao processo de

aproximação do objeto, à visita ao campo para a - coleta de dados etnográficos -, período que não

houve a medição de esforços para a estadia do pesquisador em campo.

Ademais, mesmo com as barreiras próprias e as dificuldades de se realizar este tipo de pesquisa,

ainda mais com a particularidade do objeto estudado – uma sociedade místico-esotérica supostamente

esotérica, cujas atividades são reservadas somente aos seus membros iniciados e adeptos de seus

estudos e práticas espiritualistas – afirmamos então que a construção de uma observação participante

que auxiliasse na compreensão do fenômeno analisado, no caso a AMORC 6 – Antiga e Mística Ordem

Rosa Cruz – Jurisdição da Língua Portuguesa – Londrina – PR, foi de extrema importância no que diz

respeito às oportunidades de interação e contato direto com o objeto a partir das ferramentas que essa

metodologia de pesquisa nos proporcionou.

No decorrer da construção da pesquisa buscamos estabelecer relações sociais que por suas

vezes, proporcionaram a criação de vínculos de sociabilização com o objeto, tendo estas vivências

como pesquisador participante como um norte para a explicação do que é a AMORC, observando-a a

partir das fundamentações e parâmetros próprios do objeto, obtidos através de participação e vivência

em campo.

Neste sentido, pelo prezar do rigor acadêmico e científico e correlacionando às metodologias de

pesquisa das ciências sociais, especialmente a antropologia, neste caso específico a etnografia,

6 AMORC: Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz AMORC – A Ordem Rosacruz, AMORC, é uma organização internacional, de caráter
cultural, fraternal, não-sectário e não-dogmático, de homens e mulheres dedicados ao estudo e aplicação prática das leis naturais que
regem o universo e a vida. Seu objetivo é promover a evolução da humanidade através do desenvolvimento das potencialidades de cada
indivíduo e propiciar uma vida mais harmoniosa para alcançar saúde, felicidade e paz. Para esse objetivo, a Ordem Rosacruz oferece um
sistema eficaz e comprovado de instrução e orientação para o autoconhecimento e a compreensão dos processos que determinam a
mais alta realização humana. Essa profunda e prática sabedoria, cuidadosamente preservada e desenvolvida pelas Escolas de Mistérios
esotéricos estão à disposição de toda pessoa sincera, de mente aberta e motivação positiva e construtiva.
afirmamos que as duas foram o suporte que sustentaram todas as observações, análises, explicações

sobre o objeto, isto é, foram filtradas sob um prisma epistemológico e próprio da antropologia no

modo de se realizar uma pesquisa qualitativa. Contudo, todos os cuidados foram tomados para que não

cometamos delitos e “manchar a pesquisa”, isto é, oferecer impressões e explicações levianas, de

senso comum, ou cometer práticas etnocêntricas7 sobre o objeto, ou seja, impregnar sentidos e valores

da realidade do pesquisador no próprio objeto estudado, alterando assim o resultado da pesquisa ou

oferecer uma explicação tendenciosa.

Contudo, não podemos deixar de mencionar que, apesar de estarmos dialogando com conceitos

e metodologias das etnografias clássicas, também adotamos categorias de análises da Antropologia

Urbana, uma vez que o campo se refere a um espaço delimitado no município de Londrina 8 - Paraná;

cidade palco de acontecimentos, atividades e relações sociais que impulsionam a dinâmica da

sociedade contemporânea, neste caso específico uma pesquisa que estuda movimento neo-esotérico

e seus reflexos na vida social, urbana e pós-moderna da cidade.

Neste sentido, através do amparo na bibliografia antropológica de autores como José Guilherme

Cantor Magnani, Sônia Weidner Maluf, Roberto Cardoso de Oliveira sob a orientação do Professor Dr.

Celso Bezerra de Menezes – Universidade Estadual de Londrina - UEL, pudemos obter uma base

teórico metodológica o que balizou a pesquisa no seu sentido conceitual, epistemológico e cientifico;

da mesma forma, Kennyo Ismail e Silvana Gobbi Martinho nos auxiliaram no que remete às informações

7 Etnocentrismo: Atitude emocionante condicionada que leva a considerar e a julgar sociedades culturalmente diversas com critérios
fornecidos pela própria cultura. Assim compreende-se a tendência para menosprezar ou odiar culturas cujos padrões se afastam ou
divergem dos da cultura do observador que exterioriza a atitude etnocêntrica. À medida que classes e grupos da mesma sociedade
desenvolvem padrões culturais diversos, vão surgindo atitudes etnocêntricas que se prendem às diferenças de profissão, nível econômico
e profissional. Preconceito racial, nacionalismo, preconceito de classe ou profissão, nível econômico e profissional, intolerância religiosa
são algumas formas de etnocentrismo.

8Londrina: Município do estado do Paraná, na Região Sul do Brasil, distando 381 km da capital paranaense, Curitiba. Tem uma população
estimada em 563 943 habitantes, sendo a segunda cidade mais populosa do estado e a quarta da Região Sul, depois da capital estadual,
Curitiba, de Porto Alegre e Joinville.
específicas com as temáticas esotéricas, especificamente sobre a Maçonaria9, Tradicional Ordem

Martinista - TOM e denominações ligadas ao movimento Rosa Cruz, assim como também arquivos

(artigos, revistas, apostilas e livros) colhidos direto da participação em campo e nos sites institucionais,

isto é, conteúdos da própria instituição Rosa Cruz - AMORC.

Analisando a AMORC – Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz – Jurisdição de Língua Portuguesa –

Londrina – PR, buscaremos interpretar o incógnito, o oculto, o místico, ou o social e o religioso da cidade

de Londrina quando se trata de assuntos esotéricos e ocultistas. No entanto, não cabe a esta pesquisa

entrar em méritos de verdade filosófica/religiosa, nem muito menos julgar os acertos de seus rituais

místicos, práticas meditativas, ou até mesmo o uso prático da Magia Cerimonial10.

9Maçonaria: Sociedade discreta, em que as ações são reservadas apenas àqueles que dela participam. A maçonaria é uma sociedade
universal, cujos membros cultivam o aclassismo, humanismo, os princípios da liberdade, democracia, igualdade, fraternidade e
aperfeiçoamento intelectual.
10 Magia Cerimonial: Magia cerimonial ou magia ritual é o nome dado a uma arte que engloba ampla variedade de rituais de magia
complexos, elaborados e longos. Os trabalhos incluídos são caracterizados pela cerimônia e uma parafernália de vários acessórios
necessários para ajudar o praticante, com objetivos tais como invocar forças ou entidades através de fórmulas. Tornou-se parte do
imaginário do ocultismo e esoterismo ocidental. Popularizada pela Ordem Hermética da Aurora Dourada, abrange modernamente vários
sistemas mágicos, nos quais se considera constituída de Rito e Ritual.
CAPÍTULO I

- OBJETIVOS:

Nossa pesquisa objetivou a entender critérios mais humanos do que espirituais, isto é, nos

momentos em campo estivemos preocupados em - descrever os sentidos, significados e valores sociais

atribuídos pelos iniciados e membros da instituição a própria ordem místico-filosófica que fazem parte,

tendo como questão central por parte do pesquisador a observância da organização institucional,

buscando no grupo ações que criam os sentidos e atos simbólicos -, assim como também, - analisar o

funcionamento institucional, o perfil social dos membros, sua origem histórica; compreender a relação

da instituição AMORC com as demais denominações esotéricas e outras denominações rosa-cruzes,

lojas maçônicas, martinistas ou martinezistas entre outras instituições esotéricas e iniciáticas.

No decorrer da construção da pesquisa, buscamos também identificar a lógica institucional que

“transcende” o social, isto é, o que é capaz de produz efeitos nas esferas de relações, ações e

comportamento dos indivíduos no ciclo ou campo social estudado, ensaiar critérios e categorias de

análises para propor explicações sociais acerca do fenômeno; para que assim possamos distingui-lo

de explicações com cunho de senso comum, que muitas vezes acontecem através de discriminação

religiosa, ou seja, objetivamos explicar de forma minuciosa o que é a AMORC refletindo a possibilidade

de denominá-la ou categorizá-la como uma instituição social, mística, filosófica ou religiosa e analisar

também a possibilidade de compatibilidade do objeto com os conceitos de religião, religiosidade,

esoterismo11 e neo-esoterismo12.

Por fim, objetivamos e realizamos uma experiência etnográfica de observação e vivência em

campo – conhecer, experimentar e descrever a AMORC – Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz - Londrina

11 Esotérico: No campo das religiões e sistemas iniciáticos, esotérico tem uma aplicação bastante precisa: designa aqueles rituais e
elementos doutrinários reservados a membros admitidos em um círculo mais restrito.

12Neo-esoterismo: Propõe separar o conhecido também como “misticismo”, “práticas alternativas” e até “New Age”, ou “Nova Era”, do
uso tradicional da palavra “esotérico”.
PR, através da teoria antropológica, isto é, absorver referências bibliográficas e experiências em campo

suficientes para aplicar, estabelecer análises e construir categorias de explicação para o fenômeno do

“esotérico13” ou “neo-esotérico” na cidade de Londrina - PR a partir do estudo da instituição AMORC.

No decorrer da construção da pesquisa refletimos também sobre a possibilidade de usar modelos

explicativos, conceitos ou categorias de análises para uma possível explicação do fenômeno estudado

de maneira que possamos entender a sua ligação para com o fenômeno social e religioso, pois, de

acordo com Maluf (2012, p. 7):

[...] A literatura antropológica e sociológica utilizou diferentes


denominações para tentar totalizar estas práticas: novas
espiritualidades ou novas religiosidades, terapias paralelas,
alternativas holísticas, terapias psicomísticas, “ritual healing”, terapias
pós-psicanalíticas, nebulosa místico esotérica, nebulosas de
heterodoxia, medicinas doces, terapias neo-religiosas, misticismo
urbano, reencantamento do mundo e etc. Mas a denominação que
acabou sendo a mais utilizada no Brasil pelos pesquisadores do tema
acabou sendo a de Nova Era, de alguma forma adaptando uma
expressão que se tornou corrente para refletir o fenômeno, sobretudo
na mídia [...] MALUF (2010, 07).

Não buscamos a denominação ou categorização como Nova Era, pois, no decorrer das

aproximações e entendimentos sobre o objeto percebemos claramente seu caráter sério, tradicional,

iniciático e esotérico, e entendemos “nova-era” mais como uma denominação genérica que se aproxima

com as práticas místicas e espiritualistas modernas fragmentadas como os tratamentos holísticos,

terapias alternativas ou florais fitoterápicos.

O que há de diferente ou novo na AMORC são suas práticas sobre a expectativa de angariar novos

membros para seu círculo místico e que nesse processo de abertura acontece o que podemos

categorizar como movimento “neo-esotérico”, sendo esse uma forma moderna de “misticismo urbano”,

13Esoterico: é o nome genérico que evidencia um conjunto de tradições e interpretações filosóficas das doutrinas e religiões - ou mesmo
das Fraternidades Iniciáticas - que buscam transmitir um rol acerca de determinados assuntos que dizem respeito a aspectos da
natureza da vida que estão sutilmente ocultos. Um sentido popular do termo é a percepção de que transmitem um conhecimento
enigmático ou incomum, sempre com vetor oculto. Segundo alguns, o esoterismo é o termo para as doutrinas cujos princípios e
conhecimentos não podem ou não devem ser “vulgarizados”, sendo comunicados a um restrito número de partidários adeptos.
como um processo de democratização do conhecimento que até então era reservado somente aos

iniciados. É claro que essa abertura se dá de forma gradual de acordo com as iniciações e empenho e

inserção do neófito ou buscador, pois, segundo os rosa-cruzes “o processo de busca interior é gradual

e o aprofundamento nas questões existenciais e espirituais se dão de acordo ao qual se é permitido e

adequado”.

Constituímos uma etnografia analisando as especificidades do objeto para que a partir das

interpretações e análises do pesquisador refletirmos a possibilidade de entender cada vez mais sobre

o grupo estudado, para que assim estabeleçamos um diálogo conceitual sobre tal fenômeno, onde

enquadramos a instituição AMORC – Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz R+C – Jurisdição da Língua

Portuguesa; Londrina – PR, como uma instituição esotérica que proporciona um fluxo neo-esotérico.

Os principais recursos que foram trabalhados para a apreensão ou percepção da realidade tomamos

emprestados o que Roberto Cardoso de Oliveira denominou como as “faculdades do entendimento”

sociocultural.

[...] Trato de questionar alguma daquelas que poderiam chamar as


principais “faculdades do entendimento” sócio-cultural que, acredito,
sejam inerentes ao modo de conhecer das ciências sociais. ”- [...]
CARDOSO DE OLIVEIRA, (2000, 17).

Ou talvez um termo mais próximo desta pesquisa, as faculdades da alma, - na busca da

construção de uma teoria social acerca do fenômeno estudado - e questionando sobre a possibilidade

de enquadrar em um modelo explicativo conceitual sem correr o risco de cometer o delito de

etnocentrismo14; ao mesmo tempo buscando descrever o objeto através dos sentidos experiência se e

interações do pesquisador para com o campo; onde sempre foi buscada a cautela para não impor algum

14 Etnocentrismo: A palavra etnocentrismo designa uma forma de enxergar outra etnia (e suas derivações, como cultura, hábitos, religião,
idioma e formas de vida em geral) com base na etnia própria. A visão etnocêntrica de mundo não permite ao observador de uma cultura
reconhecer a alteridade e faz com que ele estabeleça a sua própria cultura como ponto de partida e referência para quantificar e qualificar
as outras culturas. Disso se resulta, grosso modo, que o observador etnocêntrico vê-se como superior aos demais em aspectos culturais,
religiosos e étnico-raciais.
tipo de impressão, crença ou característica subjetiva do imaginário do pesquisador no objeto, pois desta

forma poderemos entender melhor o que de fato estamos estudando.

A partir da disciplina antropológica e com relação às formas de se absorver informações do

objeto e respeitando suas indicações metodológicas, fora desenvolvido “vivências, experiências,

estadias em campo, momentos de observações, confraternizações, escutas, momentos de diálogos

informais com o público e com os informantes, anotações em diário de campo, estudos de documentos

oferecidos pelo objeto e participação em eventos abertos denominados - Câmara Externa” -, e sobre a

luz disso explicaremos como a Rosa Cruz - AMORC Londrina-PR -, se apresenta ao público externo da

ordem, isto é, aos não iniciados, “buscadores15”, ou aos outros indivíduos da cidade de Londrina o que

gera a situação neo-esotérica.

Sendo assim, estabelecemos reais aproximações e através delas obtivemos informações

meramente importantes, informações provenientes de uma relação íntima do pesquisador com objeto,

diferente de uma aproximação ou investigação de senso comum e leviana ou uma “pesquisa

antropológica de gabinete” ou até mesmo uma análise quantitativa que não tenha caráter e rigor

cientifico quando se trata de absorver e processar informações vivenciadas em campo.

15Buscadores: indivíduos preocupados com o fator espiritual e desenvolvimento do ser humano, que busca uma espiritualização ou
respostas para questões existenciais.
A ETNOGRAFIA

“O olhar de fora”

A Loja Rosa Cruz - AMORC de Londrina fica posicionada na região centro/sul da cidade em um

bairro histórico e padronizado de classe média com casas antigas e de arquitetura que relembra as

casas dos anos de 1980. Percebemos que é um bairro familiar e bem arborizado, fica próximo a

avenidas principais e grandes estabelecimentos de comercio, ou seja, é uma instituição muito bem

localizada e privilegiada no mapa urbano da cidade, logo, consequentemente temos uma prévia

percepção dos perfis de seus membros que em parte moram próximos à instituição.

Ao chegar a Loja Rosa Cruz AMORC – Londrina -, nos deparamos com uma grande instalação aos

moldes da arquitetura egípcia, que lembra seus antigos templos com as inúmeras deidades de seu

panteão.

Basicamente, o prédio conte uma fachada com duas colunas largas de aproximadamente quatro

metros de comprimento, de cor rose, que contrasta com o verde do um pequeno jardim a sua frente

onde podemos ver as rosas vermelhas, flores que carregam significados especiais em meio aos

rosacruzes. Como um vão ou uma senda ao meio das colunas temos o acesso ao portão principal.

Ao entrar na loja o visitante se depara com uma grande escadaria que permite o acesso ao piso

inferior da instituição, onde ficam outras instalações do prédio, como escritório, recepção, biblioteca,

sala das atividades da Tradicional Ordem Marinistas – TOM16 e banheiros. Se continuarmos após os

banheiros à lateral dos fundos encontramos um salão de confraternização no qual os rosacruzes

afirmam realizar o Ágape, uma espécie de confraternização e comunhão feita em um salão, e um

espaço gramado que serve como estacionamento.

16Tradicional Ordem Martinista – TOM: Ordem místico-esotérica com linha teúrgica direta de Louis Claude Saint Martin, que se
concretizou e que se encontra atualmente sob a égide da AMORC. O Martinismo é uma corrente de pensamento com base na teurgia e
no esoterismo; um movimento espiritual, conotado com o misticismo judaico-cristão.
Antes mesmo dessa escadaria para os pisos inferiores, ainda no alto, temos à direita uma sala de

recepção e, dentro desta, uma porta que dá acesso a outra, a sala de palestras ao público externo e à

esquerda, ainda no corredor principal de frente a porta da recepção, encontramos a primeira porta do

templo que dá acesso à Câmara Externa do Templo Principal.


A CÂMARA EXTERNA – AMORC:

Na prática a Câmara Externa da AMORC é uma espécie de antecâmara que encontramos antes do

templo principal da loja. Esta antecâmara serve de espaço de reflexão e preparação do corpo, como a

lavagem das mãos e a o ato de se beber água como modo de purificação antes dos trabalhos espirituais,

assim como também à ornamentação com os paramentos como aventais e robes dos membros e

posteriormente seguem para os rituais reservados somente aos iniciados com suas práticas místicas e

ritualísticas.

Em alusão a isto, quando na pesquisa remetemos também à Câmara Externa, nas maiorias das

vezes estamos nos referindo um grupo específico de pessoas que não são buscadores comuns, mas

sim, pessoais realmente interessadas e compromissadas com o ingresso na ordem. Neste sentido, é

extremamente relevante afirmar que nos momentos de se fazer pesquisa participante sempre tivemos

como intuito o máximo de inserção no grupo. Deste modo, conseguimos ser reconhecidos e acolhidos

ao ponto de adquirirmos um material específico para as introduções à Ordem Rosa Cruz - AMORC e

automaticamente nos inserir no círculo da Câmara Externa.

Este material foi recebido em um envelope onde constava o selo internacional da ordem,

especificando que o material era da Jurisdição de Língua Portuguesa, uma vez que a AMORC é uma

instituição universal e que se organiza neste âmbito a partir das línguas, no caso do Brasil ficando no

bloco de países que falam o idioma português juntamente com Portugal e Angola.

Para entendermos melhor os termos utilizados pelos rosa-cruzes, devemos ter a clara ideia do que

os mesmos denominam como Buscador e Iniciado.


BUSCADOR X INICIADO:

Segundo os rosa-cruzes, o buscador é aquele que não se limita com as explicações postas

atualmente pelas instituições religiosas, acadêmicas e sociais sobre a realidade física, social e espiritual

da vida do homem, ou seja, é aquele que constantemente questiona a origem e o “porquê” das coisas,

um investigador do mundo e de si mesmo. O buscador quando opta por trilhar a senda iniciática se

transforma no Adepto17, que é aquele que se propõe seriamente na busca pelo autoconhecimento e

conhecimento das coisas superiores e sobrenaturais dentro de uma orientação de uma determinada

senda dentro de uma escola de mistérios.

Já o Iniciado18 é aquele que durante a busca pela iluminação e autoconhecimento já passou pela

experiência da Iniciação esotérica e se tornou regularmente um membro de um determinado grupo de

estudos e práticas esotéricas. O processo de iniciação consiste basicamente no processo de morte e

renascimento do indivíduo como um processo de transição ou rito de passagem de uma vida antiga

para outra vida renovada e espiritualizada, isto é, o indivíduo que se propõe a iniciação deve ter em

mente que sua personalidade deve morrer em virtude do renascimento de um novo homem com novos

propósitos e acesso e entendimento das leis cósmica e espirituais e a dissolução do ego em prol do

benefício do todo.

Contudo, no decorrer da pesquisa “passamos de pesquisador antropológico” a “buscador”, no

sentido de infiltração e interação com o grupo estudado em forma de objeto de pesquisa antropológica,

no caso a AMORC.

Segundo as próprias definições do campo estudado, a Ordem Rosa Cruz – AMORC é uma

organização de caráter místico filosófico, com sede mundial na Califórnia, Estados Unidos da América,

onde foi fundada nos anos 1915, tendo como missão o auxílio no despertar do potencial interior de cada

17 Adepto: Indivíduo que adere determinadas práticas sob orientação de alguma filosofia, religião ou escola esotérica.
18Iniciado: Indivíduo que recebeu os ensinamentos, as práticas de um culto, de uma religião, seita, ordem etc.; aquele a quem os
mistérios de um culto foram contados.
ser humano, promovendo uma associação institucional e fraternal que respeita a liberdade de

pensamento e crença dos seus membros através da prática mística da tradição e cultura rosacruciana.
AS ORDENS ROSACRUCIANAS:

Uma grande percepção a qual a pesquisa proporciona é sobre as distinções a qual Antiga a Mística

Ordem Rosa Cruz – AMORC apresenta comparadas as outras denominações rosa-cruzes, que

começaram a aparecer na história da humanidade a partir dos manifestos Fama Fraternitatis19,

Confessio Fraternitatis20 e Núpcias Alquímicas de Christian Rozenkreuz21, no início do Século XVII.

Diante desses documentos publicados surge-se uma tradição mística rosacruciana que toma

diversas linhas de pensamentos distintos de acordo com influências regionais, filosóficas e territoriais,

mas que mantem o mesmo apreço pela prática mística nos modelos da Rosa e da Cruz. Neste sentido,

queremos dizer que a prática rosacruciana é única e original, e que no desenrolar histórico diversas

fraternidades esotéricas se formaram a partir desta prática mística, porém, com diversas vertentes de

estudos e linhas de pensamento, sendo dividida ou categorizada em ordem rosa cruz hermética22,

19 Fama Fraternitatis: Manifesto rosacruciano publicado em 1614 na cidade alemã de Kassel.


20Confessio Fraternitatis: Manifesto rosacruciano publicado em 1615 na cidade alemã de Kassel.
21Núpcias Alquímicas de Crhistian Rozenkreuz: É o terceiro dos manifestos que deram publicidade à Ordem Rosacruz no início do
século XVII.
22 Hermetismo: Estudo e prática da filosofia oculta herdada da figura de Hermes Trimesgistus.
cabalística23, thelêmica24, gnóstica25, mística26, maçônica27, teosófica28, cristã29 entre outras

denominações inicáticas.

Sabe-se que dentro das principais potências maçônicas reconhecidas, em seus ritos

encontramos o 12° Grau de Cavaleiro Rosacruz e segundo Kennyo Ismail, os primeiros homens que

investiram para transformar a literatura e tradição alquímica rosacruciana em um sistema de estudo

normatizado, prático e templário foram os franco-maçons escoceses com a Societas Rosacruciana em

1800 (sociedade rosacruciana reservada apenas para maçons de 33° Grau – Mestre Maçom).

A partir daí, surgiram várias outras denominações rosa-cruzes no mundo todo, todas surgidas a

partir dos três manifestos citados anteriormente, dentro destas as mais notáveis e consequentemente

as mais importantes são:

 Societas Rosacrciana (maçônica) – 1800.

 Hermetic Ordem of the Golden Dawn – 1888.

 Ordre Kabbalistique de la Roise Croix – OKRC – 1888

 Ordem da Rosa Cruz Católica – CRC – 1890.

23 Cabala: Esoterismo judaico que promove a conexão entre o espírito humano a Deus.
24Thelema: Filosofia deixada por Aleister Crowley através do Livro da Lei ou Liber Al Legis.
25 Gnosticismo: Busca por conhecimento espiritual e divino através de experiências, sentimentos pessoais e intuitivas.
26Mística: Estudos e práticas que permitem a comunicação direta o homem e o divino sem intermediários ou interlocução de um sistema
religioso dogmático.
27Maçonaria: Sociedade discreta, em que as ações são reservadas apenas àqueles que dela participam. A maçonaria é uma sociedade
universal, cujos membros cultivam o aclassismo, humanismo, os princípios da liberdade, democracia, igualdade, fraternidade e
aperfeiçoamento intelectual.
28 Teosofia: União entre religião e filosofia, e ao conhecimento das coisas divinas, proporcionado por Deus através de uma inspiração
direta. Nesse mesmo sentido, foi retomado na modernidade, após o período renascentista, pelo místico protestante Jacob Böhme (1575
– 1624).
29 Rosa Cruz Áurea: fundamenta-se no cristianismo gnóstico e possui fortes influências do catarismo e do hermetismo. Divulga a
possibilidade da libertação da roda da vida e da morte por meio de um processo de purificação e subsequente transfiguração - a qual
se inicia com a revivificação da centelha divina adormecida no coração dos homens.
 Ordem Rosacruciana de Apha e Omega – ROAO – 1900.

 Rosacrcian Fellowship – RF – 1909.

 Ordem do Templo Rosa Cruz – OTRC – 1912.

 Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz – AMORC – 1915.

 Fraternitas Rosa Crucis – FRC – 1920.

 Ordo Templi Orientis – OTO – 1923.

 Rosa Cruz Áurea ou Lectorium Rosicrucianum – RCA – 1924.

 Fraternitas Rosa Cruz Antiqua – FRA – 1927.

 Fraternitas Saturni – FS – 1928.

 Ordem do Templo Rosa Cruz – OTRC – 1912.


MONOGRAFIAS – CÂMARA EXTERNA.

O convite para a Transformação Interior – O Caminho Místico R+C AMORC.

Tratando especificamente do material recebido pelo pesquisador/antropólogo enquanto

buscador/neófito, observamos quatro cadernetas ou apostilas iniciais, onde o buscador recebe as

primeiras informações sobre a instituição, como um convite para conhecer a filosofia Rosacruz aos

moldes da AMORC.

Na primeira caderneta analisada (introdutória) encontramos informações onde podemos perceber

que a AMORC afirma oferecer:

- Lições e Práticas esotéricas aplicáveis na vida.

- Comunhão com o “ser interior”– consciência ou alma.

- Maior compreensão da realidade física, mental e espiritual com ensinamentos acerca das leis

naturais (natureza – física e química) e das leis cósmicas (espirituais) – herméticas e alquímicas.

- Estudo do “misticismo” (experiência p/ com Deus – Escola de Mistérios).

- Ampliação da Consciência.

E para que possamos ter uma apresentação com as palavras da própria instituição estudada:

TEXTO INSTITUCIONAL:

A Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis – AMORC, Grande Loja da Jurisdição de Língua
Portuguesa, é uma organização mística, iniciática, fraternal, de caráter e de atividades templárias,
beneficente, caritativa, educacional, cultural e científica, sem fins econômicos, visando operacionalizar
e administrar a Tradição Rosacruz nos termos e limites estabelecidos pela Suprema Grande Loja da
Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis, AMORC, sediada em San Jose, Califórnia, EUA, tendo por fins:
1- Difundir o ideal místico e metafísico através de uma filosofia prática e de um processo iniciático
destinado a despertar as faculdades latentes do ser humano, com fundamento na orientação
rosacruz;

2- Cultuar, ensinar, promover e perpetuar os princípios e leis tradicionais dos Rosacruzes e Martinistas,
conforme aplicáveis às condições e necessidades modernas;

3- Promover o espírito de fraternidade e compreensão entre os seres humanos, a boa vontade, a


compreensão e a cooperação internacional;

4- Perpetuar e desenvolver o legado da tradição e da cultura Rosacruz, respeitando os seus princípios


e os vínculos normativos, fraternais, intelectuais e espirituais com a Antiga e Mística Ordem Rosae
Crucis – AMORC e seus organismos devidamente constituídos em todo o mundo;

5- Cooperar com todas as entidades cujos fins estejam de acordo com os da AMORC e a favor da
melhoria da humanidade;

6- Fundar, estabelecer e manter instituições educacionais e culturais e outras organizações com


promoções que busquem os fins acima;
7- Promover a felicidade e o bem-estar do ser humano.

A AMORC-GLP cumpre esses fins por meio de um sistema de instrução e ensino, podendo
propagar os ensinamentos através de monografias, livros e periódicos editados por si ou por terceiros,
ou mediante todas as formas de comunicação, transmitindo o conhecimento teórico e a aplicação
prática das leis divinas, cósmicas e naturais que se manifestam no universo, em torno do ser humano
e nele próprio.

A seguir, analisando o material que nos serve de base para conhecermos o objeto nos deparamos
com a primeira Monografia para a Câmara Externa.
CAPÍTULO 2 – MONOGRAFIAS

MONOGRAFIA I

A partir dos materiais ofertados pela instituição para aqueles que estão seriamente interessados a

iniciar uma jornada na senda esotérica Rosa Cruz, isto é, as Monografias30 (livretos, apostilas e

pequenos livros iniciais), buscamos informações necessárias para responder algumas perguntas

básicas sobre o que de fato é AMORC e o que ela almeja oferecer apara aquele que busca algum tipo

de conhecimento, filosofia de vida ou espiritualidade. Neste sentido atendemos a expectativa da

pesquisa de responder as inquietações do pesquisador através de informações plausíveis e

institucionais, isto é, entender o funcionamento, práticas e princípios filosóficos a partir das respostas

do próprio objeto, sendo que, além de contarmos com momentos de estadia em campo – visitas a

eventos abertos ao público externo da AMORC – também experienciamos observações participantes

que nos ancoraram, assim como também em uma literatura específica para quem inicia a busca sobre

esoterismo tradicional.

Diante disso, acreditamos que esta metodologia antropológica – etnografia e observação

participante - se tornam completamente viáveis para a explicação do fenômeno/objeto estudado, pois,

através dela e das estadias em campo, transcrições de caderno de campo e juntamente com o

processamento de dados obtidos através dos documentos denominados como monografias,

direcionadas aos buscadores da Câmara Externa31 AMORC, podemos conseguir uma aproximação

além do “buscador comum”, isto é, uma das preocupações teóricas deste trabalho é exatamente discutir

se as ferramentas e metodologias antropológicas poderiam nos aproximar mais da AMORC, isto é,

propiciar uma análise mais profunda e detalhada do objeto, tentando aplicar um olhar técnico,

sistemático e referencial com o intuito de captar muito mais informações caso estivéssemos procurando

30 Monografia Rosa Cruz – AMORC: Conjunto de cinco livretos que são ofertados aos buscadores membros da Câmara Externa.

31 Câmara Externa: Grupo específico de buscadores reconhecidos pela Ordem Rosa Cruz AMORC.
por uma simples razão filosófica, pessoal, religiosa ou existencial, pois dessa forma não enxergaríamos

além do que o objeto nos apresenta de antemão.

Adiante, com a análise de informações conseguidas através das monografias, ao iniciarmos a

leitura da Monografia I, percebemos o reclame da instituição a pertencer ou seguir o que denomina

como Tradição Primordial, definindo-a como uma tradição primeira que deu origem a todas as

mitologias e religiões ocidentais e orientais:

[...] Há uma tradição que está além de nosso planeta. Ela corresponde
a uma intenção diretora que se manifesta pela Sabedoria e pela
Inteligência. A primeira expressão destes dois atributos é o que
chamamos de Tradição Primordial. Dela se originou todas as escolas
iniciáticas e esotéricas, as religiões reveladas, enfim, todo o trabalho
de construção da Grande Obra. Na realidade, estas organizações, sob
várias denominações, constituem um grande esforço para o
desenvolvimento do espírito humano e o bem do planeta numa
verdadeira Fraternidade Branca32 [...] MONOGRAFIA I. p. 01.

Neste primeiro parágrafo encontramos vestígios de religiosidades e crenças místicas, no entanto,

somente estas informações ainda não suportam a afirmação de que a Ordem Roa Cruz AMORC é uma

fraternidade exclusivamente esotérica, religiosa, mística ou filosófica, neste sentido aprofundamos nos

próprios relatos e descrições defendidas pela AMORC em seu próprio manifesto introdutório para todo

aquele que busca o entendimento sobre a realidade metafísica.

[...] Descobri que existe um grandioso e divino Plano. Dei-me conta que o
nosso universo não está formado por “um fortuito conglomerados de
átomos”, mas que um desenvolvimento de um grande desenho, regra para
a glória de Deus. Descobri também que a raça humana atrás de outra tem
desaparecido em nosso planeta e que a cada civilização e cultura tem visto
a humanidade dar um passo mais avançado no caminho de retorno à
Deus. Depois descobri que existem aqueles que são responsáveis pelo
desenvolvimento do Plano Divino, que passo a passo e etapa após etapa
tem guiado o gênero humano no transcurso dos séculos. Fiz um
descobrimento assombroso porque pouco sabia, que ensinamento sobre
este Plano Divino ou Caminho Iniciático era idêntico, já fora apresentado
no Ocidente e no Oriente ou dividido antes ou depois da vinda do Cristo
[...] – BAILEY, Alice A. 1980, pg. 106. – apud, MONOGRAFIA 1 – p. 03.

32Grande Fraternidade Branca: Hierarquia de seres espirituais que constituiria o "governo interior" do planeta. Tais seres possuiriam
grande poder, passando ensinamentos espirituais através de seres humanos selecionados. Tais seres são chamados de Mestres da
Sabedoria Antiga ou Mestres Ascensionados.
Analisando este trecho do início da Monografia I percebemos a ideia de Deus, logo, por senso

comum automaticamente correlacionamos estes assuntos com religião, no entanto, já se é sabido que

a AMORC não se apresenta como uma instituição religiosa, neste sentido como definiremos a

instituição nesta pesquisa?

Ainda mais que no trecho analisado percebemos além da ideia de Deus, a ideia de que os

ensinamentos transmitidos pela instituição são norteadores para o futuro aparentemente próspero da

própria humanidade, isto é, um futuro espiritual, religioso, social e político que depende somente do

próprio gênero humano. E de alguma forma isso não soa dentro de um caráter religioso?

Nada mais justo e antropológico do que buscar elementos e características específicas da

instituição para propormos uma explicação científica, da mesma forma que a partir dos relatos e

afirmações fidedignas o objetivo da pesquisa foi buscar e identificar informações que nos serviram de

base para estipular uma resposta sobre “o que afinal é a instituição AMORC” para a explicação

antropológica: uma seita? Uma instituição social? Uma escola de filosofia clássica, hermética ou

esotérica? Uma escola iniciática?

Contudo, para a resposta destas inquietações nos aprofundamos ainda mais nos documentos que

nos foram proporcionados nos momentos de inserção em campo, isto é, continuamos nos apoiando

nas monografias para estabelecer tais respostas.

Neste sentido, através das palavras do líder responsável pelas jurisdições de língua portuguesa,

isto é, as mais notáveis: Angola, Portugal e Brasil, Hélio de Moraes Marques nos afirma que:

[...] Esta primeira monografia introdutória tem por objetivo demonstrar que
as escolas esotéricas autênticas e tradicionais não existem por iniciativa
de um homem ou de um grupo, mas são desígnios cósmicos que cumprem
seu papel através deles, para auxiliar o bem do planeta e dar sua parcela
de contribuição para aquilo que os místicos chamavam de Magnus Opus,
que é, em última análise, a Grande Obra que os homens e mulheres de
boa vontade procuram realizar. Sua gênese está na Inteligência e
Sabedoria do Criador, que se manifesta desde os primórdios em uma
Tradição Primordial. MONOGRAFIA 1 – p. 05.
Inicialmente podemos entender Tradição Primordial como uma tradição milenar que situa

conhecimentos místicos e esotéricos milenares que foram transmitidos para humanidade através destas

escolas de mistérios, acreditando-se que tais conhecimentos foram entregues aos antigos iniciados

diretamente por autoridades divinas, mestres cósmicos, divindades e avatares33 ao decorrer do

processo de evolução da consciência individual e consequentemente social da humanidade durante os

séculos.

Mesmo assim, a instituição não se define como instituição religiosa por ausência de dogmas,

uma vez que a mesma afirma e defende o oposto a isso, isto é, cada indivíduo deve ter seu processo

de compreensão do metafísico e que os dogmas religiosos interferem na evolução da consciência

aprisionando-os em verdades irrevogáveis. Isso nos faz lembrar os lemas institucionais que afirmam

“um Deus do meu coração (sentimento) e da minha compreensão (razão)” ou “a mais ampla tolerância

dentro da mais irrestrita independência, sendo nada imposto e tudo proposto”.

33Avatar: Descida de um ser divino/espiritual à terra, em forma materializada, como por exemplo, para os hindus são Krishna e Rama,
são avatares do deus Vixnu; os avatares podem assumir a forma humana ou a de um animal.
O CAMINHO DA LUZ:

Ao desenvolver a pesquisa e conhecendo um pouco mais sobre a realidade e atividades da

instituição AMORC e através das participações em campo para a construção etnográfica, isto é, eventos

abertos ao público externo não iniciado, confraternizações, cafés filosóficos e rituais místicos aberto ao

público e consulta ao material oferecido (Monografias – Câmara Externa), encontramos o

posicionamento institucional de que a humanidade necessita de uma orientação moral e espiritual para

o desenrolar do seu desenvolvimento na Terra, acreditando que a saída para mazelas sociais como

violência, desigualdade e intolerância serão dissolvidas ao passo da evolução da consciência da

humana como um todo, isso se daria através do conhecimento e da prática altruística no trabalho

espiritual para a humanidade através da caridade.

Neste sentido a organização aponta seus princípios e preocupações como:

[...] A história é um eterno recomeçar e neste sentido a humanidade


conhece periodicamente crises que constituem provas evolutivas.
Vivemos em um mundo em que o homem foi posto a serviço da
economia, da política, da tecnologia, da ciência, o que contribui
para “desumanizar” a sociedade e torná-la cada vez mais materialista.
É necessário “recolocar” o homem no centro da sociedade, da vida, e
isto implica em “recolocar” a seus serviços todos os domínios da
atividade humana e não o inverso. Para isso, uma volta aos valores
essências da vida se impõe: o amor, a solidariedade, a fraternidade e
mais do que nunca, a espiritualidade, no sentido mais nobre do termo.
[...] MONOGRAFIA I. p. 05. (grifo nosso).

Diante deste trecho podemos perceber uma grande preocupação da instituição para com os

rumos e futuro da humanidade, isto é, ao passo do desenvolvimento capitalista que dita as regras de

comportamento social individualista e egoísta a humanidade se fragmenta em princípios

individualizantes e não se preocupa com o desenvolvimento social e espiritual.

Neste sentido, a ordem Rosa Cruz AMORC preza pelo resgate dos valores espirituais e coletivos

para com a raça humana, e segundo a mesma, oferece conhecimentos e práticas capazes de
proporcionar esta evolução de consciência e conjuntamente a isso a evolução da consciência humana

para com a realidade material e metafísica.

[...] A AMORC (Antiga e Mística Ordem Rosa Crucis) não é unicamente


uma Organização Espiritualista, preocupada somente coma dimensão
espiritual da existência. Ela é, por definição, uma Organização
filosófica, iniciática e tradicional que perpetua ensinamentos que
os rosacruzes transmitiram através dos tempos, aberto aos
homens quanto às mulheres, sem distinção de etnias e credos. –
MONOGRAFIA I – p. 5. (grifo nosso).

Uma das mais pertinentes problemáticas desta pesquisa é como definir e explicar a instituição

AMORC dentro de um prisma social e antropológico, uma vez que a instituição apresenta vários indícios

de organização religiosa, sendo que ao mesmo tempo não se declara uma instituição religiosa. No

entanto, apresenta discussões altruístas, espiritualistas, metafísicas e falam sobre Deus, ou seja,

temáticas próprias do ambiente religioso.

Diante disso encontramos na Monografia I uma afirmação interessante que afirma sobre a definição

da própria instituição acerca do tema:

[...] Ela (AMORC) não é composta por dogmas ou por sectarismos,


mas ensina seu membro estudante a estabelecer uma ligação
direta com as leis divinas, sem intermediários. Perante a legislação
brasileira ela é equiparada a uma organização religiosa por
possuir caráter templário e princípios que levam o Ser Humano ao
contato íntimo com Deus através da mística. No entanto não é uma
seita religiosa – ou uma religião tal como as conhecidas
atualmente – pois não possui uma doutrina a que o estudante deva
seguir, conduzindo por um intermediário entre ele e Deus -
MONOGRAFIA I - p. 5. (grifo nosso).

A partir disso podemos ter noção do tamanho problema e dificuldade sobre o enquadramento da

instituição analisada nos conceitos antropológicos, desta ou daquela linha de pesquisa. Diante disso

tornou-se necessário refletirmos sobre a própria prática antropológica clássica que preza que as

interpretações ou modos de categorizar o objeto antropológico sirvam mais ao próprio pesquisador do

que ao próprio texto etnográfico. Partindo desse pressuposto afirmamos que existe uma extrema

preocupação em explicar o fenômeno dentro de um prisma conceitual, no entanto, buscaremos mais


ainda explicar a partir das categorias nativas, ou seja, sobre o ponto de vista no nativo, ou no caso o

adepto, isto é, uma explicação de dentro.


A ROSA E A CRUZ:

Analisando o símbolo que também é o nome da ordem, percebemos dois símbolos interligados, a

Rosa e a Cruz, sendo prudente lembrar que segundo a ordem a cruz em si não tem nenhuma ligação

direta com o cristianismo. Segundo os rosa-cruzes a cruz representa o corpo material e suas ligações

com o mundo físico, os quatro elementos, os quatros pontos cardeais, os quatro pontos do quadrado

que simbolizam esotericamente a matéria e a rosa ou o botão de rosa ao desabrochar representando

o despertar da alma humana para com a realidade espiritual ou a própria alma.

EM BUSCA DA LUZ:

A Ordem Rosa Cruz AMORC se denomina como uma “ordem iniciática” que objetiva a busca a Luz

ou, no caso, também o conhecimento e a evolução através dele, ou seja, o objetivo maior seria a

iluminação através da sabedoria, que segundo eles é a aplicação pratica do conhecimento.

[...] A compreensão dos mistérios nos torna verdadeiros agentes da


Criação e com ela aprendemos a conhecer, respeitar e agir de acordo
com as leis cósmicas e como consequência, nos harmonizamos com
todo o universo. [...] MONOGRAFIA I. p. 6.
A ORIGEM DA ORDEM ROSA CRUZ

Para entendermos a história e concepção de origem do movimento rosacruz no mundo temos duas

explicações: uma mística e esotérica correlacionada a AMORC e outra histórica e documental. A

primeira remonta o primeiro movimento de tentativa de implantação da ideia do monoteísmo no Egito

antigo em 1353 a.C pelo Faraó Amenhotep que também é conhecido como Akhenaton; e a segunda

remonta ao Século XVII, quando se torna público na Europa três manifestos Rosa Cruzes: Fama

Fraternitatis (1614), Confessio Fraternitatis (1615) e Casamento Alquímico de Christian Rosenkreutz

(1616).

Para os rosa-cruzes ligados a AMORC as duas vertentes são verdadeiras, uma remontando sua

origem real e mística e a outra o momento em que os rosa-cruzes até então ocultos resolvem se

manifestar em público em favor e alerta à sociedade não iniciada. Toda via, os rosa-cruzes modernos

ligados a AMORC continuam tendo o Faraó Akhenaton como o grande primeiro iniciado e iniciador nos

mistérios da vida, o grande iluminado é reconhecido por que percebeu e pregou que havia um deus –

Atom - acima de todos os outros deuses do panteão egípcio, causando assim grande revolução de

ideias e também de consciência, no mesmo tempo que causava grande revolução política e institucional

na época, o que veio culminar em seu assassinato devido a interesses políticos do Egito Antigo com

relação as suas estruturas religiosas e a tentativa de instalação de um pensamento monoteísta;

contudo, contando com esta tradição milenar os rosa-cruzes ligados a AMORC seguem um calendário

próprio onde afirmam estar no ano de 3.371, sendo que o ano novo da ordem é comemorado em março

por representar um período de renovação – o equinócio vernal ou primavera no hemisfério norte do

planeta Terra.
O EGITO ANTIGO E AS ESCOLAS DE MISTÉRIOS:

Parafraseando as informações contidas na Monografia I fundamentamos a explicação sobre a

revolução de consciência humana iniciada pelo Faraó Amenhotep, o que mais tarde culminaria na

Ordem Rosa Cruz - AMORC.

Segundo a Monografia I, no começo da 18º dinastia (1550 a.C a 1295 a.C), os egípcios haviam

alcançado um elevado grau de civilização e possuíam um conhecimento avançado, comparável ao do

renascimento europeu.

Os conhecimentos versavam sobre os mais profundos saberes sobre a natureza, da ciência, da

arte e religião, eram tidos com mistérios, logo, não deveriam ser entregues a todos. Inicialmente os

mistérios estudados eram os fenômenos cíclicos da natureza, mais tarde se aprofundaram no

conhecimento esotérico das leis naturais dos cosmos e dos propósitos da vida e do ser humano.

Assim os sábios organizaram esses conhecimentos em classes e categorias onde alguns

mistérios eram transmitidos de acordo com a aptidão e comprometimento do adepto. Iniciados em

câmaras secretas do faraó reinante, essas classes foram aos poucos se tornando cada vez mais

seletas, o estudo mais aprofundado e as discussões tão dialéticas que acabaram dando origem a uma

sociedade secreta autocrática integrando as grandes personalidades ao decorrer das épocas.

[...] Amenhotep IV ergueu monumentos pela glória da Fraternidade e


mudou seu próprio nome para glorificar o Deus único: passou a
chamar-se Akhenaton, que significa “devoto de Aton” ou “glória a Aton”.
Aton representado pelo disco solar, que era o símbolo da energia
criadora que emana através do sol, o eterno Deus único que pelos seus
raios está em todos os lugares. [...]
MONOGRAFIA I. p. 08.

Por volta de 1.500 antes da era cristã, o Faraó Tutmés III reuniu essas Escolas de Mistérios em

uma única Ordem regida pelas mesmas normas como forma de unificação e organização das mesmas.

Um século mais tarde o Faraó Amenhotep IV, mais conhecido como Akhenaton, criou um ensinamento
único para essa Ordem destinada somente aos iniciados, ao mesmo tempo iniciou uma campanha

revolucionária monoteísta em pleno auge dos panteões do Egito sendo assim os alicerces do

surgimento da Grande Fraternidade Branca.


A GRANDE FRATERNIDADE BRANCA:

Segundo a Ordem Rosa Cruz AMORC a Grande Fraternidade Branca representa toda egrégora34

sendo esta o conjunto de todas as religiões monoteístas, doutrinas místicas e esotéricas provenientes

da sabedoria das mentes iluminadas ao longo dos séculos. O aspecto visível e material da Grande

Fraternidade Branca são as Grandes Lojas Brancas e em plano astral35, o Colégio Invisível dos Mestres

Cósmicos, também conhecido como Agartha – o governo oculto do mundo.

[...] Os ensinamentos rosa-cruzes abordam em profundidade e


reverência, o tema Mestres Cósmicos, tendo isto como seres que
adquiriram o domínio das leis espirituais, universais e naturais tais
como se apresentam nos planos visíveis e invisíveis da criação, ou
seja, o domínio das Leis Cósmicas. Esse domínio não lhes foi dado
arbitrariamente por Deus; antes, resultou de seu desenvolvimento
psíquico, alcançado ao longo de várias encarnações que são, por sua
vez, consequência do seu alto nível de espiritualidade e desejo
incondicional de servir à humanidade. [...] MONOGRAFIA I. p. 08.

Notamos então uma máxima de que o trabalho ou a prática mística do adepto rosa-cruz é de fato a

prática altruísta em favor da evolução das condições humanas na Terra ao longo dos séculos, sendo

também os princípios da Grande Fraternidade Branca.

Avançando na leitura da Monografia I chegamos a um pequeno trecho no qual são citadas

informações que nos norteiam e nos auxiliam a entender sobre a sua forma de organização, estrutura

institucional e espiritual, refiro-me à mais alta hierarquia ou forma de organização social da instituição,

isto é, o mais alto cargo da Ordem Rosa Cruz AMORC que é denominado como Imperator, sendo

seguido uma linha sucessória de homens que se origina no círculo social do seu primeiro fundador

Harvey Spencer Lewis em 1915, nos Estados Unidos da América, ou seja segue os nomes mais

34 Egrégora: Uma concentração de pensamentos comuns a um grupo mágico, místico ou religioso que segundo a crença esotérica,
através deste pode-se causar alterações no plano mental, astral e físico. Criada a partir da soma de energias coletivas, mentais e
emocionais, fruto da congregação de duas ou mais pessoas o termo pode também ser descrito como sendo um campo de energias
extrafísicas criadas no plano astral a partir da energia emitida por um grupo de pessoas através dos seus padrões vibracionais.

35 Plano Astral: Universo Paralelo, Realidade Superior ou Dimensão de Existência distinta do mundo físico manifestado.
importantes da história da instituição Harvey Spencer Lewis (1909 - 1939), Ralph Maxwell

Lewis (1939 - 1987) Gary L. Stewart (1987 - 1990) Christian Bernard (1990 - 2018).

[...] Assim como a hierarquia de nossa Ordem está sob a


responsabilidade suprema de nosso Imperator, a hierarquia invisível é
dirigida pelos Mestres Cósmicos que escolheram servir à Ordem
Rosacruz e, do plano espiritual onde se encontravam, velam pelos
destinos de nossa fraternidade [...] Monografia I – p. 09. (grifo nosso)

Vale ressaltar que a palavra Imperator não designa algo imperativo como o próprio conceito de

imperador, mas sim, um aforismo que significa “senhor de si mesmo”, como algo como a superação

dos laços entre o homem e seu destino por uma condição de controle da sua própria vida ou

discernimento sobre o uso do livre arbítrio.

A seguir o livreto continua fazendo menção aos conhecimentos religiosos, místicos, ocultos,

esotéricos do Egito Antigo, afirmam que estes conhecimentos foram perpetuados com o auxílio dos

filósofos gregos, principalmente Pitágoras e na Idade Média por meio dos alquimistas e dos cavaleiros

templários que futuramente originaria também a Franco-Maçonaria. Nos séculos Seguintes afirmam

que estes conhecimentos também passaram pelos Renascentistas e pelos escritores Espiritualistas da

Idade Moderna.

Uma ressalva interessante é de que os rosa-cruzes afirmam que os Essênios36 prepararam a vinda

espiritual e o próprio nascimento de Jesus Cristo, ou Yeshua Benpandira37, isso aparece nos livros “A

vida Mística de Jesus” de autoria de Harvey S. Lewis, o primeiro imperator da ordem no atual ciclo de

atividade que se iniciou em 1909.

36 Essênios: comunidade espiritual asceta, apolítica e messiânica ligada ao judaísmo antigo.


37 Yeshua Bem Pandira: nome esotérico de Jesus Cristo.
Afirmam que as atividades da ordem em seu período “moderno” iniciaram no ano de 804 em

Touluse na França, em 1001 em Nîmes em um mosteiro rosa-cruz e uma expansão para a Alemanha

em 1100.

Alguns dos filósofos importantes da ordem estão Jacob Boehme (1575-1624); Francis Bacon (1561-

1626). Caligostro (1743- 1795; Louis Claude Saint Martin (1743-1803) o místico francês que deu

continuidade aos feitos do teurgo espanhol Martinez Pasqually na criação da T.O.M - Tradicional Ordem

Martinista.

Adiante, a Monografia I nos apresenta os Ensinamentos da Ordem, mostrando que os

conhecimentos da ordem são “místicos”38 no que diz respeito aos sentidos do e dos mistérios da

existência e da relação do ser humano com o divino e com a Terra. Neste sentido místico a Ordem

Rosa Cruz AMORC afirma a existência de uma “Força Universal” criou e sustenta todo o Universo e

que através de “experiências místicas”39 todos os seres humanos podem ter acesso ao seu “mundo

interior” através da elevação da consciência.

Com o passar do tempo de experiências em campo e mantidos os momentos de contato através

de visitas e conversa com os membros do grupo estudado pudemos perceber certas importâncias aos

que os mesmos denominavam experiências místicas, que segundo eles, são a base do trabalho rosa-

cruz, sendo que o misticismo contido nesses trabalhos deve ser entendido como experiências, na forma

de uma religiosidade prática ritualística e templária.

Diante disso voltamos a problematizar a situação de uma instituição que não se diz religiosa, mas

que está constantemente dialogando com os conceitos próprios de religião, isto é, ideias sobre Deus,

o Universo, Ser Humano, princípios e valores altruístas e místicos e diversas práticas mágicas

38 Místico: possibilidade individual de experimentação direta com o sobrenatural ou divino.

39Experiência Mística: Segundo informações diretas de alguns informantes os rosacruzes acreditam na possibilidade de obter
experiências em outros estados de consciência e planos da realidade física, mental e espiritual.
acreditando que de alguma forma conseguimos interferir no destino ou termos relações direta com

Deus. Porém, da mesma forma que devemos ter em mente e problematizar que tal pesquisa objetiva

desenvolver uma explicação etnográfica, qualitativa e que pretende se apoiar em narrativas e categorias

nativas no sentido de qualificar as interpretações sobre o que os membros do grupo significam.

Continuando, as impressões sobre as informações contidas na Monografias I, percebemos um

diálogo diferente das religiões tradicionais, ou seja, uma abertura para discussões sérias sobre a

condição de “livre arbítrio”40 do ser humano no que diz respeito a suas decisões para a construção de

sua vida e o próprio destino, deixando uma liberdade ao indivíduo também sobre compreensão

individual de cada membro sobre a ideia de Deus.

[...] A Ordem entende que Deus pode ser compreendido e sentido não
por meio de uma experiência intelectual ou teórica, mas através de uma
experiência mística interior. Sendo assim, a AMORC se refere a Deus
como: “Deus do meu coração, Deus da minha compreensão”.
Monografia I. p. 10. (grifo nosso).

A saudação “Deus do meu coração, Deus da minha compreensão” é de alguma forma muito querida

e prezada pelos iniciados na Rosa Cruz - AMORC, comumente usada anteriormente ou durante alguns

momentos de o que nos assemelha a ser uma prece ou reflexão coletiva realizada pelo grupo,

normalmente antes de alguma atividade mística, meditativa ou antes mesmos das refeições. De toda

maneira, é importante ressaltar aqui o que o pesquisador entendeu como forma de tratamento e crença

em algo transcendental como um arquétipo sobre Deus, ou um a força universal consciente que controla

tudo o que existe e que pode nos ouvir e na auxiliar na busca por “iluminação” ou autoconhecimento.

[...] O ensinamentos rosa-cruzes não tem por objetivo o enriquecimento


intelectual. São primordialmente destinados a despertar a consciência
da alma, este despertar sendo o fundamento da realização interior. [....]
MONOGRAFIA I. p. 10.

40
Livre Arbítrio: Para a filosofia é a possibilidade de decidir, escolher em função da própria vontade, isenta de qualquer condicionamento,
motivo ou causa determinante.
A Ordem Rosa Cruz AMORC se diz ligada aos primeiros movimentos monoteístas da história da

humanidade devido à ligação das histórias de Tutmés IV e Amenhotep, posteriormente Akhenton, como

uma tentativa de instituir a ideia de monoteísmo no Antigo Egito através da Divindade Aton, que

segundo os faraós, estava hierarquicamente acima do panteão egípcio, que no entanto seguia uma

histórica linha de pensamento politeísta. A partir disso vários conflitos políticos e religiosos aconteceram

que inclusive o que ocasionou a morte precoce do próprio Faraó Akhenathon aos trinta e seis anos de

idade.

Tratando-se de um tipo de conhecimento sagrado, místico, esotérico entre outros adjetivos que nos

remetam a temática ocultista, devemos entender que estamos também parafraseando situações

históricas de perseguições e práticas sociais de intolerância religiosa, cujas pejorativas seriam de que

o “ocultismo41” estaria diretamente ligado a coisas maléficas ou demoníacas.

Diante desta situação histórica de constante perseguição e intolerância religiosa a AMORC

estabeleceu uma forma de se proteger ocultando-se socialmente em alguns períodos históricos, da

mesma forma as vezes quando necessário alega atuar intencionalmente em alguns aspectos espirituais

e metafísicos com respeito ao destino da humanidade em geral.

Segundo a Monografia I a Ordem AMORC afirma que:

[...] Antes mesmo da era cristã a ordem adotou um regulamento


bastante antigo, uma alternância de ciclos de atividade e inatividade,
cada um com 108 anos de duração. Seguindo-se ao adormecimento
da Fraternidade, veio a restauração do movimento na Alemanha, no
Século XVII, com o início de um novo ciclo ativo de 108 anos. Na
ocasião, a Ordem ressurgiu num contexto de reformas religiosas e lutas
políticas por toda a Europa e a Rosacruz foi trazida à luz mediante aos
manifestos: Fama Fraternitatis de 1614; Conféssio Fraternitatis de
1625 e O casamento Alquímico de Rosenkreuts em 1626. [...]
MONOGRAFIA I. p. 11.

41Ocultismo: Estudo e prática de ciências que se rodeiam de mistério; ciência das coisas ocultas ou estudo das coisas e fenômenos
para os quais as leis naturais ainda não deram explicação.
O CÍCLO ATUAL DA AMORC:

Dentro destes momentos de ocultamento e abertura para a sociedade em geral o movimento

rosa-cruz passou pelo o que a Monografia I denomina como “ciclos de atuação”, cujo o atual ciclo que

vivenciamos se iniciou em 1909, com o primeiro Imperator deste ciclo o Frater Harvey Spencer Lewis

em 1883 – 1939, a qual a missão espiritual seria transcrever ensinamentos que até então eram

transmitidos apenas oralmente na Europa e reativar a Ordem Rosacruz nas Américas.

[...] Para tanto, Harvey S. Lewis, iniciado em Toulouse, na França,


recebe documentos, normas e arquivos necessários para essa
empreitada. Apesar das dificuldades encontradas, H. Spencer Lewis,
se dedicou sem descanso a essa tarefa, até sua transição em 1939.[...]
MONOGRAFIA I p. 11.

Segundo os dados observados percebemos que a AMORC afirma que essa transferência das

instalações rosa-cruzes para a América fora completamente estratégica no sentido de proteger os

ensinamentos da tradição, uma vez que os rosa-cruzes na Europa teriam previsto situação de guerra

no continente e posteriormente à instalação da Primeira Guerra Mundial.

Segundo o documento, após a instalação da paz através do término da primeira guerra, H. Spencer

Lewis retorna a Europa em 1926 e confia aos rosa-cruzes franceses, dos quais muitos eram franco-

maçons, a missão de criar lojas rosa-cruzes, o que foi feito em Paris e em Nice, entre 1927 e 1928.

As atrocidades cometidas nos períodos da Segunda Guerra Mundial e com o avanço do Nazismo

também interferiram nas atividades da ordem, que por outras vezes precisaram se ocultar, podendo

somente retornar as atividades normalmente em 1949 na França, sendo que as atividades na América

de certa forma foram poupadas disso, sendo que os conhecimentos rosa-cruzes que ali estavam se

propagando não foram afetados diretamente sob os efeitos da guerra.


Atualmente a Ordem Rosa Cruz AMORC está ativa em todos os continentes do globo, e seus

membros no mundo inteiro acreditam que nunca mais se precisará que a ordem se oculte ou que a

mesma seja perseguida como em outros períodos da história da humanidade.

Concluindo os relatos sobre os grandes feitos de Harvey Spencer Lewis, o grande percursor da

AMORC nas américas, seu filho e sucessor Ralph M. Lewis escreve um minucioso relato sobre as obras

de seu pai neste atual ciclo de atividade da Ordem.

Destacamos:

DEPOIMENTO DE RALPH M. LEWIS:

“O homem a respeito de quem escrevo jamais revolucionou qualquer


campo científico, nem se aventurou por selvas em buscas de novas
terras, ou mesmo foi responsável por um invento tão engenhoso que
estivesse além da capacidade criadora de seus semelhantes; relato a
vida de um filantropo, alguém que encontrou a felicidade e êxito
modelando o espírito dos seres humanos”

TESTAMENTO DE HARVEY SPANCER LEWIS:

“Pressinto que as forças cósmicas logo irão livrar-me deste corpo


exausto e guiar minha alma à mais alta escola de preparação para a
próxima encarnação. Enquanto houver vida e consciência em meu
corpo, servirei e lutarei sempre pela integridade da Ordem, pois ela não
pertence a mim, mas a vós, ó Deus do meu coração”
MONOGRAFIA I. p. 13.

Contudo a Monografia I encerra discursando sobre as oportunidades de crescimento filosófico e

espiritual a qual a Ordem Rosa Cruz AMORC oferece, como uma clássica escola de mistérios, envolve

altruísmo e misticismo dentre de uma preocupação imensa com os possíveis rumos do futuro da

humanidade.

Oferece também ao buscador a oportunidade de compreender na prática os profundos sentidos da

existência através na crença em Deus e dos estudos das Leis Divinas ou Leis Cósmicas e como elas

se manifestam no universo, na natureza e no homem.


Entretanto, a informação mais útil a pesquisa até então fora uma das problematizações

levantadas durante a construção da mesma; ou seja, a Ordem Rosa Cruz AMORC pode de alguma

forma ser considerada ou categorizada com o conceito de religião?

Ao caminhar da análise da Monografia encontramos:

[...] A busca Rosacruz é espiritualista, mas não religiosa, ainda mais


pelo fato de não se ter nenhum caráter dogmático e que não se apoia
em nenhum credo particular. [...] MONOFGRAFIA I. p. 13.

Contudo, se quisermos ter uma pesquisa meramente antropológica não devemos deixar estas

informações passarem a nossa vista de maneira ligeira. Devemos entender que estamos diante de uma

resposta que norteia a definição institucional do objeto, isto é, se prezamos pela metodologia qualitativa

e lembrando que nos preocupamos com as categorias nativas, ou seja, as formas de interpretações

advindas do próprio objeto, devemos ler a AMORC fora de um prisma religioso, mas sim, da meneira a

qual a mesma se apresenta.


MONOGRAFIA II

A seguir com a análise das quatro monografias estamos diante da Monografia II que apresenta

duas das principais práticas místicas rosa-cruzes, que são os exercícios mentais como a Criação Mental

e a Visualização.

Segundo Ralph M. Lewis, filho do primeiro Imperator do atual ciclo Harvey Spencer Lewis:

[...] Do ponto de vista rosa-cruz a criação mental tem por finalidade criar
no Cósmico a contraparte espiritual de um desejo que acalentamos e
queremos realizar no plano material. Se esse desejo estiver em
harmonia com o Bem e nada o opuser carmicamente, ele se tornará
uma forma pensamento, ou seja, um pensamento que se concretizará
quando forem reunidas as condições adequadas em nós e em torno de
nós. [...] MONOGRAFIA II. p. 03.

Todavia, a Monografia II versa sobre o que os rosa-cruzes acreditam ser as possibilidades da mente

humana, sendo que, segundo as palavras de Hélio de Moraes Marques:

[...] Constituída da mesma substancia do Divino, a mente do ser


humano é infinita em possibilidades. Aprender a usa-la para alcançar
mais saúde, prosperidade e paz interior tem sido a “pedra de toque”
que justificou as mais surpreendentes descobertas nos campos das
ciências, das religiões e, sobretudo, das escolas de filosofia metafísica.
[...] MONOGRAFIA II. p. 04.

A CRIAÇÃO MENTAL E A PRÁTICA DE VISUALIZAÇÃO:

Segundo a Monografia II a arte da Criação Mental consiste em um momento de meditação ou

concentração a qual o rosa-cruz cria mentalmente alguma situação ou objetivo a ser atingido e o projeta

ao cosmos, como um feito místico. Caso esta Criação Mental esteja alinhada com os princípios morais

de bondade, fraternidade, ou seja, caso esta demanda não interfira negativamente a alguém, acreditam

os rosa-cruzes que tal desejo será de alguma forma absorvido pelo cosmos e se materializará quando

estiver a disposição as condições necessárias.


Vale ressaltar que os rosa-cruzes da AMORC, principalmente os informantes afirmam que, a pratica

de criação mental em si não é algo milagroso ou espontâneo, pois segundo a Monografia II, este desejo

será de certa forma “preparado” pelo universo ao passo em que as surgirem as condições para que o

acontecimento seja possível, ou seja:

[...] No processo místico de Criação Mental, a mente é o agente ativo,


mas não se limita a formar imagens, a conceber elementos, mas
emprega também os poderes psíquicos, para receber e estabelecer as
condições pelas quais a imagem pode ser materializada, passando a
ter existência fora da mente. Suponhamos que desejamos progredir na
empresa que trabalhamos. Se já temos todas as condições intelectuais
e técnicas para uma nova função, projetamos o eu para a imagem
mental, não apenas nos vendo na posição que desejamos alcançar.
Um pensamento claro, vívido e real torna-se um poder vitalizado na
mente. Esse poder irradia-se para o espaço, ultrapassa limites do
indivíduo e afeta pessoas e coisas. [...] MONOGRAFIA II. p. 06.

E aqui um relato riquíssimo no que diz respeito à construção de uma etnografia, pois, em um dos

encontros ao público aberto e membros da câmara externa da Rosa Cruz AMORC, eventos a qual eu

já havia frequentado assiduamente a maios ou menos seis meses com o objetivo de aproximação

antropológica - observação participante - e busca de conhecimentos gerais sobre as práticas da

instituição. Em um destes momentos pude ter a oportunidade de assistir uma palestra sobre a temática

Criação Mental e Visualização.

A palestra fora redigida por um dos membros ou “Fráter”42 muito respeitado dentro da AMORC de

Londrina - Paraná, assim como também pertencente a TOM – Tradicional Ordem Martinista. Nesta

palestra pudemos ter uma base geral sobre como os rosa-cruzes entendem como funciona os

mecanismos da mente e do espírito na sua relação com o inconsciente e com o cosmos.

Ao desenrolar desta prática meditativa pude também experimentar a arte rosacruz, da Criação e

a Visualização Mental na prática, e sem entrar em méritos de verdade ou crença, é de se observar que

ao menos os efeitos de meditação como: relaxamento, sensação de alívio ou satisfação são percebidos

42 Fráter e Soror: Forma de reconhecimento e denominação dos rosacruzes. Ex.: Fráter José ou Soror Maria.
em todos os momentos, sendo curioso também refletir além da pesquisa empírica e tentar especular

ao máximo sobre as possibilidades da mente; neste sentido colocamos que tais momentos de

participação direta na experimentação do objeto consegui perceber uma dimensão de sentidos que

extrapolam as noções de razão humana, onde recorremos as ideais extremas como de Deus ou do

mundo sobrenatural ou inconsciente, ou ao menos, o que o que é realmente importante ressaltar é que

caso não tenhamos uma experiência divina, tivemos ao menos uma experiência de hipnose.

Enquanto a Criação Mental é o conjunto de todas as etapas do processo meditativo, a

Visualização se restringe na metodologia da construção da imagem mental.

[...] Misticamente, a visualização consiste em pintar na tela da


consciência uma imagem simples ou complexa. O indivíduo pinta na
tela da sua mente representações daquilo que deseja. Em sua visão
mental, vê ele, pouco a pouco, um quadro do seu desejo. Quando ele
vê o quadro tão completo quanto o consegue visualizar, afasta-o de
todo de sua mente. Isto transfere a imagem d objetivo para o
subconsciente, e daí para o Cósmico. [...] MONOGRAFIA II. p. 07.

Segundo a Monografia II, a Visualização deve ser feita com os “olhos interiores”, isto é, uma

faculdade psíquica da mente que proporciona ao ser humano a capacidade de ser um ser sensitivo e

consciente da realidade física e espiritual. Através da visão psíquica o indivíduo pode acessar a sua

memória remontando acontecimentos do passado ou projetar e imaginar fatos futuros, no entanto, na

segunda existe uma série de regras e fatores determinantes para o êxito consciente desta projeção

mental.
MONOGRAFIA III

A seguir com a análise das Monografias, entramos em um assunto a qual a Monografia III predispõe

muita atenção e cuidado ao ensinar sobre os segredos da Prosperidade.

[...] Para nos tornarmos “prósperos”, precisamos aprender a usar o


potencial criativo de nossa consciência, em harmonia com a Divina
Consciência. Assim, em concordância com o tema tratado nesta
monografia, citamos um excerto de nossa literatura rosacruz. É
perfeitamente verdadeiro que, como seres humanos, somos a mais
elevada expressão da criação de Deus. Também é verdade que, tendo
sido criado a Sua Consciência e uma parte inseparável do Seu próprio
Ser. Por consequência, é mais que uma conclusão apenas lógica que
somos filhos do amor, perfeitamente criados, trazendo em nós os
poderes criativos, a bondade essencial e a divindade da própria
consciência de Deus. [...] MONOGRAFIA III. p. 03.

Ora, aqui podemos notar um discurso afirmativo acerca da prosperidade ao mesmo tempo que

afirma que somos filhos de Deus, isto é, princípios e indícios de religiosidade.

Continuando a leitura e percebendo ainda mais questões correlacionadas ao que os rosa-cruzes

afirma ser a Prosperidade.

[...] Esta terceira monografia introdutória tem por objetivo apresentar


um novo modo de olhar para a questão crucial para quase todos os
seres que habitam o nosso planeta: a prosperidade, que traz no seu
corolário centra a questão financeira. [...] Para que a prosperidade
alcance um indivíduo, ele precisa permitir a aproximação de sua
energia de prosperidade, e faze-la fluir através dele, para que alcance
também os outros. Afinal, estamos todos sob a mesma situação diante
do divino. [...] MONOGRAFIA III. p. 04. – grifo nosso.

Diante das primeiras páginas da Monografia III encontramos muitas informações positivas

defendendo a ideia da prosperidade na vida do estudante rosa-cruz em seus diversos aspectos,

principalmente prosperidade nos negócios comerciais, pois, desde que seja licito o enriquecimento, não

há culpa em desfrutar dos prazeres da vida.

[...] O dinheiro é um recurso que se transforma numa “energia positiva”


desde que a sabedoria seja a base do conhecimento para a aquisição
e utilização. Se a sabedoria não estiver presente, podemos criar mais
problemas do que aqueles que podemos resolver. [...]
MONOGRAFIA III. p. 05.

Em seguida o livreto segue como uma forma de orientação de organização financeira do estudante,

indicando a criação de um caderno para estruturar seu “plano mensal” como meio de reconhecer seus

gastos financeiros e momento de capitalização de recursos em seu orçamento e até formas de se

guardar dinheiro em forma de poupança. Desta maneira a AMORC acredita que o estudante atingirá o

domínio da vida financeira através de uma reeducação financeira e não somente a tratando como um

assunto espiritual ou místico.

Para uma maior captação de todas as potencialidades de riquezas os estudantes são aconselhados

a listar todas as suas habilidades ou talentos, a fim de que tais característica possam auxilia-lo no

processo de aquisição de valores, como por exemplo, uma pessoa que tenha conhecimentos com

música, logo, poderá desenvolver atividades remuneradas na forma de transmissão desse

conhecimento ou técnica através de aulas como professor, da mesma forma que um ex-jogador de

futebol aposentado pode atuar como professor de escolas de futebol, ou seja, formas de transmissão

de conhecimento ou talentos podem no fim se transformar em dinheiro, ou, prosperidade.

[...] Outra forma útil de inventariar sua riqueza no sentido mais amplo é
contando suas bênçãos. Não teremos um emergente em forma de
energia, vigor, tempo, afabilidade, ideias criativas, uma capacidade ou
conhecimento especial ou qualquer outra coisa do gênero?
Escrevamos tudo isso e verifiquemos que não estamos empobrecidos.
É daquilo que nos sobra que damos ao próximo. Se algumas destas
sobras são talentos ou habilidades, como podem ser trocados ou
convertidos em dinheiro? Escrevamos cada ideia, não importa o quanto
nos pareça estranha. Esta fórmula abre os canais para auxílio
Cósmico.[...] MONOGRAFIA III. p. 07.

O livreto afirma várias vezes à possibilidade de petição ao “Cosmos”43 a prosperidade, para que se

tenha uma vida material plena e que se possam saciar os anseios da vida de forma completa. A vida

43
Cósmico: termo utilizado pelos rosa-cruzes para designar o conjunto de leis naturais e espirituais que abrange tudo o que existe. É a
manifestação da presença de Deus na Criação. Universo, como a relação harmoniosa de todas as leis naturais e espirituais. É a
material, as posses e a abundancia não são mal vistas pelos rosa-cruzes da AMORC, no entanto, a

soberba, a ganancia devem ser observadas, pois, sentimentos de avareza e inveja poderiam causar o

oposto dos efeitos da prosperidade.

Ao tratar das práticas meditativas, orações e reflexões rosa-cruzes destacamos os experimentos

de Agradecimento e Prosperidade:

AGRADECIMETNO:

Ao se levantar pela manhã, e antes de qualquer acontecimento significativo ou importante durante

o dia, faça com convicção interior a seguinte invocação:

Deus de meu coração:

“ Que eu possa ser grato por Tuas inúmeras bênçãos, pela Tua luz, Vida e Amor que tenho recebido.

Que meus esforços místicos sejam sempre inspirados, e que eu me torne consciente de tua presença

e orientação divina neste dia. Santifica meu coração e minha mente para que eu possa refletir, sempre,

Teu Amor e Tua Divina Sabedoria. Assim seja! ”

PROSPERIDADE:

Este experimento é constituído por quatro estágios:

1) Um período diário e agradecimento pela ajuda Cósmica;

2) Um depósito monetário uma caixinha a qual denominaremos “Caixinha da Prosperidade” onde

será colocada regularmente uma determinada quantia estipulada por quem realiza o

experimento, durante 40 dias.

Inteligência Divina, infinita, do Ser Supremo que tudo penetra. Não é um lugar, mas sim, um estado, ou uma condição de ordem e
regulação. O Cósmico e a totalidade de leis e fenômenos que se manifestam no homem e na natureza, as forças, as energias e os
poderes que respondem pelos mundos finito e infinito.
3) A visualização da prosperidade somo uma corrente de energia da qual participamos;

4) Um período diário, dirigido ao Cósmico para obter a compreensão do uso e da abundância.

Após quarenta dias da realização do experimento, o valor total deve ser doado com alegria e o

pensamento de que a “Lei da Prosperidade” se cumpra.

Devemos lembrar que a riqueza não consiste somente em ter dinheiro, mas também em saúde,

poder mental, alegria de viver e riqueza provinda da satisfação de uma vida ajustada e gradativamente

melhorada.

Toda via, através da leitura da Monografia III podemos visualizar que a AMORC estima as

expectativas de felicidade, saúde e prosperidade na vida do buscador afirmando que nós enquanto

seres espirituais devemos atrair bênçãos mantendo a prática nos experimentos e a atitude mental

honesta.

[...] Devemos usar bem o que possuímos; dar sem restrições e receber
sem orgulho. [...] MONOGRAFIA III. p. 09.

Se organizando na vida financeira, o buscador exercitaria o canal de bênçãos harmonizando os atos

de agradecimento e desapego e consequentemente vivenciando momentos de abonança, fartura, ou

seja, receber do Cosmos através da Lei da Prosperidade. É estar livre como um rio para o transito da

energia do dinheiro.
MONOGRAFIA IV

Durante os momentos de pesquisa e leitura geral sobre a literatura ocultista em seu âmbito mais

amplo, como proposito de aproximação e de entender um pouco mais sobre as diversas escolas

esotéricas, ou “sendas”44, sempre lhe damos com a palavra Egrégora.

A Monografia IV inicia suas afirmações informando o que a Ordem Rosa Cruz AMORC entende

sobre este conceito tão popular no meio esotérico / ocultista.

Segundo a Monografia IV e nas palavras do maçom Jules Boucher:

[...] Egrégoros (do grego egrêgorein = vigiar) é uma palavra que no livro
de Enoch designa os anjos que juraram vigiar e proteger o Monte
Hermon. O termo pode ser traduzido por “entidade vigilante”. Assim, a
Egrégora, (egrégore) é uma entidade, um ser vigilante e coletivo
produzido por uma assembleia (...) que o alimenta. [...]
MONOGRAFIA VI. p. 03.

Para entender melhor o que os rosa-cruzes da AMORC consideram como egrégora, sempre nos

momentos de campo entre conversas informais com diversos membros da instituição pude iniciar o

assunto sobre o que seria a egrégora da AMORC e entre várias explicações pude perceber que estes

entendem egrégora como um conjunto de intenções e formas pensamentos coletivos que se unem as

pessoas para a realização de um objetivo tanto individual quanto coletivo, que no caso os do rosa-

cruzes, seria a intenção da auxiliar no processo de evolução espiritual da humanidade por meio de

orientação, proteção e inspiração para os trabalhos em prol da mesma.

[...] A energia da egrégora é um dos princípios mais reveladores e


poderosos que a nossa ordem introduz ao candidato à Luz do Sol rosa-
cruz. É uma pérola de aprendizado para o crescimento interior e
expansão da consciência da alma. Harmonizar-se coma egrégora é
uma prática que todo místico, sobretudo os estudantes rosa-cruzes,
devem fazer diariamente para sua proteção e inspiração. [...]
MONOGRAFIA IV. p. 04.

44Senda: Senda, Caminho ou via são termos esotéricos que designam o percurso do progresso espiritual após a iniciação, que segundo
os rosacrezus é conseguido através de estudo, dedicação e prática.
O texto segue afirmando que devemos dar atenção ao que os rosa-cruzes denominam “Eu Interior”,

ou Consciência, isto é, o meio as quais as percepções espirituais são derivações das práticas de

meditação e inspiração cósmica.

A Monografia IV segue afirmando que o fato do postulante que busca a senda rosa-cruz estar lendo

tal livreto é consequência de um processo inicial do despertar para o mundo sobrenatural e oculto e

que tal estímulo deve ser trabalhado a fim de que se possa obter resultado prático que no caso seria o

total acesso aos potenciais latentes no homem e acesso as verdades universais.


EGRÉGORA ROSA-CRUZ:

Continuando a análise, o texto da Monografia IV segue discorrendo sobre o conceito de Egrégora:

[...] Talvez você nunca tenha pensado sobre isso, mas toda associação
de indivíduos, todo grupo que contenha algumas pessoas interessadas
eu um mesmo objetivo, constitui no invisível, ou no plano psíquico, um
campo de energia que adquire, como tempo, vida própria e passa a,
inclusive, orientar o comportamento do grupo. Trata-se de uma massa
energética muito definida, que corporifica todos os ideais do grupo em
questão. [...] MONOGRAFIA IV. p. 06.

Em conversas informais, espaços de convivências em diversos eventos oferecidos aos membros

da câmara externa, momentos de interação pesquisador com os membros do grupo, foi perceptível na

fala dos rosa-cruzes o termo egrégora como um campo de energia que habitava o templo principal da

AMORC - Londrina, que, segundo eles, era a somatória das energias dos membros e das atividades ali

desenvolvidas em prol de objetivos comuns dos membros do grupo. Uma força mística personificada

do próprio grupo.

Também percebemos a fala sobre egrégora nos momentos de convite e solicitação dos membros

do grupo ao pesquisador no sentido de questioná-lo de “quando vocês farão parte de nossa egrégora?”

ou, “estaremos muitos felizes em acolhe-los em nossa egrégora”, onde em primeira noção do

pesquisador se entendia egrégora apenas como titulação de um grupo esotérico.

[...] Imagine, então, o que pode ser essa Egrégora no caso das
organizações milenares que se dedica exclusivamente ao Bem, à
elevação das consciências e ao despertar de poderes adormecidos nos
seres humanos. É um elemento muito positivo e valioso para o
desenvolvimento dos seus estudantes, pois estes não contarão com
apenas o apoio material da organização (seus ensinamentos,
publicações, reuniões etc.), mas com o poderoso influxo energético
que concentra sua sabedoria espiritual. [...] MONOGRAFIA IV. p. 07.

Sobre Sabedoria Espiritual, a Ordem AMORC afirma estar ligada com entidades interplanetárias e

interdimensionais que auxiliam no processo evolutivo da expansão da consciência da humanidade

como um todo. Tais seres são denominados no livreto como Personalidades Supraterrestres.
[...] As personalidades supraterrestres formam a Sagrada Assembleia
dos Mestres Cósmicos e, em particular, daqueles que estão mais
especificamente encarregados da Senda Rosa-Cruz, representada
pela nossa Ordem. A maioria destes mestres não estão no plano físico,
mas atuam no plano psíquico, não de forma a interferir em nossos
afazeres diários, como alguns poderiam pensar nem se manifestando
próximo aos seres encarnados, mas operando psiquicamente através
das melhores vibrações e influências do âmbito da Egrégora Rosa-
Cruz, mantendo-a ativa, com todo o seu potencial de instrução,
inspiração, cura etc. [...] MONOGRAFIA IV. p. 08.

Adiante com a leitura da Monografia IV encontramos uma explicação importante no que diz respeito

às noções sobre o sobrenatural, o metafísico e o místico da Ordem Rosa Cruz AMORC, pois a mesma

afirma que a sua egrégora (conjunto de forças psíquicas dos integrantes do grupo com um ideal comum)

é organizada dentro de uma hierarquia que extrapola o mundo físico e sensível partindo para os mundos

ou dimensões superiores ou internas, ou seja, a hierarquia da instituição alcança pleno contato com

outras inteligências supraterrestres a fim de auxilia-la no processo evolutivo da consciência da

humanidade.

Portanto a egrégora comum, social ou profana de grupos comerciais ou amistosos são meramente

o resultado da somatória dos interesses individuais norteados por um objetivo comum, no entanto, a

egrégora rosa-cruz, além de ser tudo isso é também uma coligação desta força psíquica com um grupo

de Mestres Cósmicos desencarnados que trabalham junto aos rosa-cruzes no processo de iluminação

da humanidade.

[...] A hierarquia inicia-se nos níveis mais elevados da consciência e se


entende no plano físico. É constituída da Sagrada Assembleia do
Cósmico e de todos os oficiais terrenos da ordem, cada qual em seu
restrito cargo, na sua partícula função, desde que esse cargo e esta
função tenha sido determinado em nome da alta hierarquia invisível,
segundo as normas estabelecidas para a organização visível, e sejam
preenchidos com conformidade com os princípios temporais que os
regem. Não apenas isto, nesta hierarquia também estão os milhares
de rosa-cruzes do mundo todo, vibrando em uníssono pela semelhança
de suas aspirações e pela uniformidade de seus estudos esotéricos no
seio da ordem. [...] MONOGRAFIA IV. p. 08
.
Contundo, para entendermos os ensinamentos sobre egrégora rosa-cruz, devemos entendê-la

como uma assembleia constituída pelos membros terrestres da AMORC, juntamente com os seres

supraterrestres em um Conclave Universal que constitui e orienta a força psíquica espiritual e mental

de todos os envolvidos no processo de evolução individual e coletiva do ser humano.

[...] No seio dessa egrégora geral, cada qual tem o seu lugar. Um
membro dedicado da AMORC colherá, em proteção e evolução, os
frutos de sua participação na força comum [...] Um membro da ordem,
por seus estudos efetuados regularmente e por viver segundo os
princípios rosa-cruzes, receberá, em inspiração, proteção e graça os
influxos positivos que os auxiliarão na consecução com êxito de seus
projetos pessoais. O caminhar na senda com sinceridade, lealdade e
responsabilidade de cada um, a fim de que “tudo seja em baixo como
é em cima”. MONOGRAFIA IV. p. 09.

PRÁTICA:

No final da leitura da Monografia IV nos deparamos novamente com uma prática esotérica para

iniciantes que se constitui em um momento de meditação e visualização da imagem que representa a

Egrégora Rosa-Cruz, isto é, uma pirâmide luminosa de coloração azul clara tendo ao topo uma cruz

dourada representado o corpo físico, o Cristo Cósmico e a matéria em geral com a rosa cravada em

seu centro significando a alma humana ou a manifestação do espírito na matéria.

Tal exercício é apresentado como prática de aproximação e harmonização com as energias

proeminentes da egrégoras rosa-cruz, isto é, uma forma de adaptação do iniciante aos influxos

cósmicos e padrões de pensamentos e objetivos.

Para que o buscador tenha sua primeira experiência com o campo de energia sutil que é a egrégora

rosa-cruz o mesmo deve seguir os seguintes passos afirmados pela Monografia IV que são:

- Acender um incenso ou harmonizar o ambiente com uma música de baixa frequência e calma.
- Sentar-se confortavelmente em uma cadeira, poltrona ou banco na posição de meditação egípcia –

conhecida entre os rosa-cruzes da AMORC como a Posição do Faraó - (costas levemente eretas, pés

relativamente afastados e plantados no chão, mãos descansando sobre as coxas com as palmas

voltadas para baixo).

- Iniciar uma série de sete respirações profundas buscando o tato relaxamento do corpo. Deve-se

buscar sentir todas as sensações físicas e corporais desaparecendo dando comando mental de

relaxamento profundo e concentração na respiração leve.

- Estando completamente relaxado visualize (através da tela mental – visualização) a imagem da

Egrégora Rosacruz (Pirâmide de Luz de tonalidade azulada com a R+C em seu topo); visualize entrado

mentalmente dentro da pirâmide com calma.

- Quando sentir que conseguiu reproduzir o mais fielmente possível na sua mente o símbolo da

Egrégora Rosacruz AMORC deixe-se infundir por todo o que ela representa em sabedoria, poder,

saúde, paz e prosperidade. Para isso, interrompa a visualização e coloque-se receptivo, sem pensar

em nada, apenas ficando pronto para receber as energias da egrégora.

- Quando julgar necessário volte para a realidade física despertando gradualmente e volte a movimentar

o corpo lentamente para acorda-lo.

[...] É por isso que o Estudante Rosacruz sincero e dedicado nunca


está sozinho. Onde quer que esteja sempre estará assistido pela
Egrégora da Ordem. Com o tempo, caso persevere na Senda Rosa
Cruz, você se harmonizara mais e mais com este campo de energia
milenar e regenerador na justa medida em que consolida sua conquista
da Rosa pelos desafios da Cruz. [...] MONOGRAFIA IV. p. 12.

O livreto termina com a advertência de que se deve praticar e estudar constantemente os ensinos

e práticas esotéricas da Monografia IV, sugestionando até a criação de um caderno para a anotações

obre as sensações e pensamentos nos momentos de meditação.


LOJA LONDRINA:

ANTIGA E MÍSTICA ORDEM ROSA CRUZ - AMORC

Figura 1- Loja Ordem Rosa Cruz de Londrina, Paraná.

Os primeiros contatos com a AMORC – Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz de Londrina Paraná

foram feitas através do telefone. Em uma das tentativas de contato, através de uma série de ligações,

eis que por sorte ou mero acaso fui atendido no meio da semana por volta das quatro horas da tarde

por um membro da ordem em uma das ligações realizadas. Este que fora o principal ator para

estabelecer o contato com a mesma e que durante as estadias e momentos de se fazer pesquisa pude

desenvolver certo nível de amizade.

Ainda pelo telefone, pude obter as primeiras respostas sobre as principais inquietações da pesquisa

sobre a organização do grupo. Logo, perguntei sobre como seriam as formas de aproximação de um

leigo não iniciado para com a instituição e através desta abordagem fui saber sobre as atividades

voltadas à Câmara Externa de “buscadores”, isto é, um evento mensal que acontece sempre no terceiro

sábado do mês, a partir das três horas da tarde com duração de aproximadamente uma hora, onde

podíamos assistir palestras temáticas e entender um pouco mais sobre as práticas místicas dos rosa-

cruzes.
Iniciei as visitas, participações e estadias em campo no segundo semestre de 2016 (dois mil e

dezesseis), onde neste ano pude participar de cinco sessões mensais concluindo as atividades daquele

ano.

Nestas primeiras visitas, vale ressaltar, foi desprendido tempo não somente para as atividades

abertas, mas tomamos um cuidado ao visitar o campo, como por exemplo chegando com antecedência

aos encontros para ter um maior acesso aos espaços como o pequeno museu egípcio, a biblioteca, e

tempo para socializar, conversar e interagir com os membros.

A partir da terceira visita adotei a prática de sempre chegar aos eventos uma hora mais cedo do que

o agendado e sempre saindo uma ou duas horas após as palestras, momentos de meditação induzida,

aulas sobre mitologia egípcia e hieróglifos, orientada pelos rosa-cruzes ou convidados de outras escolas

esotéricas como a maçonaria e o martinismo, ou seja, instituições que são sincréticas e correlacionadas

à AMORC. Em alguns destes momentos pude participar de visitações ao Templo Principal Rosa Cruz

– AMORC, participar de alguns rituais místicos reservados aos grupos mais próximos e, até mesmo,

momentos de confraternização, o que os rosa-cruzes denominam como “Ágape”45.

45 Ágape: momentos de confraternização, geralmente jantares.


O ACOLHIMENTO:

Desde as primeiras visitas à loja Rosa Cruz AMORC, tivemos a impressão de um ótimo acolhimento

dos membros que proporcionavam os eventos abertos da Câmara Externa. Sempre nos recepcionavam

com grande atenção e generosidade, o que nos deixava completamente à vontade para conhecer a

instituição e iniciar diálogos sobre a mesma. Nestes primeiros momentos de visita e reconhecimento do

campo, apesar da grande hospitalidade e acolhimento sempre buscamos observar as participações em

campo como uma experiência de experimentação participante e entendendo a AMORC como o objeto

de pesquisa.

Nestes momentos de visita e observação sobre a forma de tratamento para com os “buscadores”

percebemos um cuidado ou uma preocupação com o ser humano, com aqueles que buscam um espaço

espiritualizado e de vivências místicas.

Percebemos nas visitas e nas vivências que o ser humano é sagrado; experimentamos a sensação

de fraternidade e integração com um grupo ou uma “egrégora”, grupo de seres humanos, de

“buscadores” e, principalmente, agentes da transformação espiritual daqueles que buscam o

conhecimento fornecido aos adeptos.


A HIERARQUIA INSTITUCIONAL DA ROSA CRUZ AMORC:

A mais alta hierarquia da Ordem Rosa Cruz AMORC é o cargo denominado “Imperator”, que segundo

os informantes, não se deve de maneira alguma entender o significado da palavra comparando ao que

normalmente interpretamos como “Imperador”. Ou seja, segundo os rosa-cruzes ligados a AMORC,

Imperator quer dizer “senhor de si mesmo”, isto é, aquele que conseguiu através dos métodos da

AMORC a compreensão das tramas do destino e do livre arbítrio, através dos estudos e experiências

para com as Leis Cósmicas e espirituais.

Imperator é um título utilizado outorgado ao Supremo Grande Mestre da AMORC. Anteriormente,

nos primórdios da AMORC, o cargo era vitalício, até a nova constituição interna da AMORC ser

aprovada. Atualmente, o título de “Imperator” designa o Presidente do Supremo Conselho, sendo um

cargo eletivo com mandato de cinco anos, podendo ser renovados por novas eleições. Quem elege o

“Imperator” é o Supremo Grande Conselho da AMORC, formado pelos Supremos Grandes Mestres de

todas as jurisdições da AMORC no mundo.

Atualmente o cargo de “Imperator” encontra-se em processo de transição, sendo que, desde o dia

doze de abril de 1990 a ordem estava sob controle do americano Frater Cristian Bernard46, e agora em

transição para o comando de “Claudio Mazzucco”, o antigo Grande Mestre da Jurisdição da Língua

Italiana.

Após o cargo supremo de “Imperator” temos os “Grandes Mestres”, que são divididos em Jurisdições

de Línguas. O Grande Mestre que direciona as atividades rosa-cruzes no Brasil, Portugal e Angola é o

Fráter Hélio de Moraes Marques47, que orienta aproximadamente trinta mil estudantes rosa-cruzes nos

países de língua portuguesa.

46Christian Bernard: Nascido em 30 de novembro de 1951 em Bourg-d´Oisans (Isère), na França, onde foi educado e criado sob a égide
da Ordem Rosacruz, estando ligado aos estudos e aos trabalhos da AMORC desde sua infância. https://www.amorc.org.br.

47Hélio de Moraes e Marques: Hélio de Moraes e Marques é empresário da construção civil durante 30 anos e professor universitário
nas áreas de filosofia, sociologia e antropologia cultural. O Frater Hélio é formado em Administração de Empresa pela Faculdade de
Administração – Facecs e bacharel em Filosofia pela Universidade Católica de Santos com especialização em filosofia antiga e
Segundo a entrevista do Fráter Hélio ao jornal Folha de Londrina,48 entendemos que a Rosa Cruz

AMORC se apresenta como uma instituição mística e filosófica, que aceita homens e mulheres e que

pelas palavras do Grande Mestre de Jurisdição de Língua Portuguesa, proporciona uma série de

práticas de meditação e estudos para o desenvolvimento do ser humano.

Sobre as interpretações e correlações das atividades da AMORC com outras atividades religiosas e

sobre a possível crença em Deus, o Fráter Hélio responde que a AMORC não é nenhuma religião, pois

não possui dogmas, não apresenta respostas impostas nem uma “verdade colocada”. Segundo ele,

Ordem Rosa Cruz se distancia do caráter religioso a partir do momento que não apresenta uma

“verdade” ou uma versão sobre esta “verdade”, mas sim, deixa ao próprio iniciado construir e ter acesso

aos esclarecimentos que envolvem as questões da existência.

Segundo o Grande Mestre da JLP, “Deus é ‘aquilo’ e nós nos relacionamos com Ele através da

mística, uma centelha divina que temos interiormente; como se Deus habitasse o coração de cada Ser”.

mestrando em Educação. Ingressou na Ordem em 1973 com 15 anos de idade e vem servindo como Oficial desde 1979, ocupando
cargos de Presidente da Junta Depositária da Loja Rosacruz Santos – AMORC; Mestre, Monitor Regional e Grande Conselheiro. Serviu
como Diretor-Secretário da GLP entre 1992 e 1994 quando assumiu a função de Diretor Vice-Presidente, cargo que ocupou até sua
assunção como Grande Mestre da Jurisdição de Língua Portuguesa, em 06 de setembro de 2008 durante a XXII Convenção Nacional
Rosacruz, em inspirador Ritual de Instalação conduzido pelo Presidente mundial e Imperator da AMORC, Sr. Christian Bernard. É Reitor
da URCI – Universidade Rose-Croix desde setembro de 2008.

48 Folha de Londrina: Jornal periódico da idade de Londrina, em atividade desde 1948.


O MESTRE:

Agora observando especificamente loja Ordem Rosa Cruz AMORC de Londrina, isto é, o objeto de

pesquisa propriamente dito, percebemos que existe uma simples distribuição de cargos e funções que

dizem respeito às instalações do prédio.

No que toca à organização de cargos sobre a parte espiritual, onde cabem as ritualísticas e

trabalhos místicos templários deparamos com a figura do “Mestre”.

Através de diálogos corriqueiros e momentos de conversas, mas também grandes momentos

de debates profundos e especulações filosóficas, religiosas e espirituais; percebemos que a figura do

mestre também se assemelha aos outros cargos institucionais como o contador, o secretário ou o

zelador, representando o cargo de “Mestre” apenas como mais uma função que é distribuída e revezada

entres os membros iniciados.

É claro que a função de ser o mestre da loja deva ter seu prestígio ou significado pessoal ao

indivíduo, mesmo que momentâneo, e também aos membros da instituição estudada, no entanto, é

claramente notável e expressivo como os rosa-cruzes afirmam a grande horizontalidade ao qual tanto

prezam no que diz respeito às formas de tratamento entre eles. Mais especificamente, queremos

demonstrar uma grande humildade intelectual do grupo ao afirmarem constantemente que o

conhecimento é cabível e dever de toda a humanidade e que a AMORC é, uma grande “escola

mística”49 onde todos são aptos a ensinar e aprender, sendo seu lema “a mais ampla tolerância na mais

irrestrita independência”, assim, o cargo de Mestre de uma loja é rotativo e passível a todos que tiverem

interesse e disposição para tal.

49Escola Mística: Instituições de correntes gnósticas, rosacrucianas ou maçônicas que afirmam ensinar seus membros a utilizar áreas
desconhecidas do cérebro para aumentar a capacidade de intuição, cognição e iluminação.
O ECUMENISMO:

No discurso apresentado pelos rosa-cruzes sobre as questões que remetem aos princípios morais,

éticos, religiosos e espirituais da AMORC encontramos uma perspectiva completamente ecumênica e

universalista. Com frequência afirmavam que a escola Rosa Cruz AMORC não era uma instituição

religiosa, mas de fato uma instituição mística e filosófica, que tem por princípio o estudo sobre o divino,

recomendando até uma prática religiosa exterior, independentemente da denominação religiosa uma

vez que não entendem a rosa-cruz como algo estreitamente religioso e espiritual.

Portanto, considerando que em todos os países que atualmente contém uma filial da Ordem Rosa

Cruz AMORC teríamos rosa-cruzes de diversas religiões do mundo e, especificamente em Londrina,

percebemos um perfil dos membros mais próximos ao catolicismo, protestantismo, judaísmo, islã, entre

outras denominações religiosas comuns, além dos membros que também pertenciam a Maçonaria e a

TOM – Tradicional Ordem Martinista.

É extremamente importante ressaltar que, infelizmente não detectamos indivíduos de etnia

afrodescendente e nem indivíduos que pertenciam às religiões de matriz africana, isto é, a Umbanda50

e o Candomblé51 e essa pequena observação já nos traz uma grande inquietação e que abre brecha

para inúmeras outras problematizações e projetos de pesquisa, no entanto, devido ao recorte e

objetivos específicos não nos aprofundaremos nesta seara uma vez que o recorte da pesquisa já fora

muito bem delimitado e apontado.

50Umbanda é uma religião brasileira formada através de elementos de outras religiões como o catolicismo ou espiritismo juntando ainda
elementos da cultura africana e indígena.

51Candomblé: religião afro-brasileira em que se pratica o culto de divindades de origem africana chamadas orixás. Assim, apesar de ter
nascido na Bahia, no século XIX, o candomblé foi formado a partir de tradições religiosas africanas de povos iorubás. Essas tradições
foram trazidas ao Brasil por populações negras escravizadas vindas de países da África Ocidental, como Nigéria, Benin e Togo.
BIBLIOTECA:

Através destas “horas extras” de campo pude visitar, analisar, fotografar e fazer breves leituras

na biblioteca do espaço para um reconhecimento geral do mesmo. Desta forma eu sempre anotava em

caderno de campo as obras mais relevantes e pré-reconhecidas para ter uma noção maior e mais

específica sobre o que estudavam os rosa-cruzes da AMORC e, nestes momentos pude perceber a

presença da literatura de diferentes livros sagrados como o Torá, Alcorão, Sepher Yestsrá, Talmude,

Bíblia Sagrada, literatura espírita em geral, tratados sobre os simbolismos alquímicos da Idade Média

– O Livro Mudo da Alquimia, e história do renascentismo, literatura religiosa oriental budista e taoísta,

livros acadêmicos sobre filosofia e psicologia freudiana e jungiana, antropologia, entre vários outros

livros herméticos sobre Hermes Trimegistos, os compêndios teosóficos de Helena P.Blavastky, como o

Véu de Ísis, A Doutrina Secreta, A Chave da Teosofia, Manual de Ocultismo Prático, A Cosmogênese

e, A Antropogêne, entre outros livros esotéricos e de Magia Cerimonial52, como por exemplo o A Chave

Menor de Salomão (ver goetia), entre outros contúdos ocultistas específicos de autores rosa-cruzes,

maçons, martinistas, entre outros filósofos e correntes espiritualistas.

Posso afirmar que a biblioteca foi o espaço que eu tive maior acesso para possibilidade de

realização consultas, o que me fazia refletir sobre o processo de abertura da instituição para o público

não-iniciado, pois, se por muito tempo na história da humanidade, a mesma permaneceu anônima,

como passar dos tempos passou de sociedade secreta para sociedade discreta e agora os interessados

podem visitar e consultar sua biblioteca, o que em épocas antigas seria completamente impossível.

52Magia Cerimonial: arte que engloba ampla variedade de rituais de magia complexos, elaborados e longos. Os trabalhos incluídos são
caracterizados pela cerimônia e uma parafernália de vários acessórios necessários para ajudar o praticante, com objetivos tais como
invocar forças ou entidades através de fórmulas. Tornou-se parte do imaginário do ocultismo e esoterismo ocidental. Popularizada
pela Ordem Hermética da Aurora Dourada, abrange modernamente vários sistemas mágicos, nos quais se considera constituída
de Rito e Ritual.
O interessante neste período é que enquanto pesquisador e curioso chamei a atenção de alguns

membros da Ordem Rosa Cruz ao ponto de ser reconhecido pela “sede de conhecimento”. A partir daí,

consegui ganhar mais espaço e credibilidade do grupo ao ponto de ser agraciado com seis livretos

iniciais da AMORC que são, o livreto sobre os tópicos abordados pela AMORC, outro como uma

reflexão geral sobre o processo de despertar de consciência e explicações sobre o “buscador” e outros

quatro que compelem as monografias da câmara externa, além de revistas de edição próprias da ordem

entre outros livros que acho melhor não mencionar aqui.


HERMETISMO:

O “Hermetismo”53 é um conjunto de obras filosóficas, espirituais e de práticas místicas

proporcionadas pela figura histórica de “Hermes Trimegistus”, sendo também o grande difusor do

ocultismo egípcio antigo, sendo correlacionado com o deus Toth no Egito e ao deus Hermes na Grécia.

Existem divergências na explicação do que é realmente é a figura emblemática de Hermes

Trimegistos, sendo que algumas correntes de pensamento afirmam que não se trata de uma única

pessoa, mas sim um movimento, uma deidade sincrética ou uma egrégora, grupo ou ordem místico-

filosófica muito antiga que compila conhecimentos “herméticos”.

Esse movimento se cristalizou na Inglaterra em 1888, no renascimento ocultista do Século XIX,

através da “Ordem Hermética do Amanhecer Dourado” ou “Hermetic Order of the Golden Dawn”54.

53 Hermetismo: Conjunto de filosofias e práticas místicas remetidas à figura de Hermes Trimegistus ou Hermes, Três vezes O Grande.
54Ordem Hermética do Amanhecer Dourado: Golden Dawn é um sistema de magia que, a partir de um currículo de estudos e do trabalho
pessoal, organizado e constante, combinados com um programa de meditação e exercícios mágicos, permitirá ao estudante a sua
caminhada para a Luz. Golden Dawn é uma escola de mistérios antigos. O adepto é instruído a desenvolver um trabalho que depende
exclusivamente de si mesmo, pois a ninguém cabe dizer qual a sua vontade, exceto o próprio buscador. Desejamos conosco pessoas
sinceras e preocupadas com o desenvolvimento social e progresso da humanidade. O aspirante a membro da Golden Dawn será
admitido na condição de Estudante, na qual permanecerá por algum tempo, recebendo ensinamentos básicos e sendo avaliado pelas
autoridades da Ordem.
ROSACRUZ, ROSA + CRUZ, OU, R+C:

Figura 2. Cruz Cabalística ou Cruz Hermética.

Segundo os rosa-cruzes ligados AMORC, o simbolismo da Rosa e da Cruz não deve ser assimilado

aos significados cristãos para com a cruz de Jesus Cristo. A cruz para os rosa-cruzes representa corpo

físico do homem e da mulher; a matéria densa que envolve uma Rosa em seu centro que representa a

alma.

Uma observação e assimilação sobre as duas denominações rosa-cruzes, em específico, a

AMORC e a Rosa Cruz Áurea, que nas vivências em campo e no processo de descrição etnográfica,

pode-se conhecer e perceber a semelhança entre as duas instituições, ordens, ou ramificações rosa-

cruzes.

Para os rosa-cruzes da AMORC, a Rosa por si só representa a “Alma do Ser”, que é uma

partícula da “Grande Alma Universal”; O Todo; a Mente Universal. Sendo que para os rosa-cruzes da

denominação ou ramificação Rosa Cruz Áurea – Lectorium Rosacrusianum; a Rosa tem o significado

de chispa da centelha divina, ou átomo centelha do espírito, também afirmando a alma do Ser Humano

como uma parte do Todo que é Deus.


O TEMPLO PRINCIPAL:

Figura 3. Templo Místico Rosa Cruz.

O Templo Rosa-Cruz é a parte principal da loja. É um espaço reservado aos membros iniciados na

senda, isto é, para frequentar as atividades no templo é necessário não somente a filiação institucional,

mas também a iniciação mística.

Vale ressaltar que na fala dos rosa-cruzes sempre está presente a ideia de que o templo é um lugar

sagrado e secreto, reservado aos membros e que deve ser protegido de estranhos para que não haja

“interferência ou influência de energias externas à egrégora Rosa Cruz”. Em alguns momentos,

pudemos perceber que não existia um pleno consenso sobre a prática de apresentar o templo principal

ao público externo não iniciado nos mistérios esotéricos da ordem, mesmo assim a visita acontecia.

Averiguamos também que no processo de abertura da ordem a prática de visita ao templo se tornou

mais maleável e, que ao final de alguns encontros semanais, nós todos éramos convidados a visitar e

conhecer o templo principal. Tive a oportunidade de adentrar ao templo em forma de visita três ou

quatro vezes, lembrando que sempre quando eles convidavam a conhecer o templo alertavam que era

somente para os que ainda não visitaram. Porém, como estratégia de absorver cada vez mais

impressões sobre os símbolos e ornamentos egípcios, sempre que havia a possibilidade, eu estava

envolvido na visitação.
Uma vez em especial, pude participar de um ritual semelhante à prática de batismo nas religiões

cristãs. Esse ritual é denominado pelos rosa-cruzes como “Aposição de Mãos”, que se resume em um

ritual de apresentação da criança à comunidade, onde todos estendem a mão sobre a criança como

forma de “agraciamento” e direcionamento de boas vibrações para a mesma. Segundo os rosa-cruzes,

este é um dos rituais místicos abertos a todo o público externo uma vez que os familiares não iniciados

da criança devem ter o direito de participar deste momento, mesmo não sendo um rosa-cruz.

Antes de adentrar ao templo principal, adentramos primeiro na “Câmara Externa do Templo”, isto

é, um lugar intermediário entre o mundo exterior profano e o templo sagrado, neste espaço somos

orientados a beber um copo de água e lavar as mãos como sinal de respeito e “ato ascético”55 para

adentrar em lugar sagrado. Nesta câmara podemos ver desenhos egípcios em todas as paredes como

existem nas paredes das pirâmides no Egito. Em específico, o desenho das paredes da Câmara Externa

conta a história mítica egípcia sobre a reencarnação, onde no momento da morte, a alma sai do corpo

mumificado e desce até os reinos dos mortos onde seu coração é pesado pelo deus Anubis na presença

da deusa Ísis, e que o mesmo não deveria ter mágoas e rancores, sendo assim pesaria menos do que

uma pena, caso contrário seria devorado pela deusa Ammit, e caso seja um coração puro, sua alma

seria direcionada para o reencarne.

[...] “O interior de um Templo Rosacruz, a réplica do corpo físico


do homem, do mundo, e do próprio Universo; o material e o
imaterial - com a suas quatro estações representando os quatro
esteios do mundo e também os pontos cardeais. Como todo
templo Iniciático, um lugar de trabalho, reverência e adoração. O
Leste é o primeiro ponto do horizonte, o lugar ocupado pelo mestre
e de onde provém a Luz Maior. De lá se irradia a Glória de Deus,
e de onde todos os irmãos e irmãs buscam a iluminação. A
Estação Sul, à direita (na foto), é ocupada pelo oficial que
representa Deus no seu Templo, o lugar onde simbolicamente
brilha a Luz na sua máxima intensidade. De lá partem as preces e
sagradas bênçãos do Serviço Rosacruz, por Deus e pelo Homem.
A estação Oeste (não visível na foto), é onde o sol da vida
lentamente se abandona ao término da sua jornada, o local onde

55Ascético: que ou aquele que se dedica à vida de asceta, que exerce o ascetismo; que ou aquele que se volta para a vida espiritual,
mística; místico, contemplativo.
a oficial ritualístico que o ocupa simboliza a Mãe da Loja - a mãe
espiritual de todos os membros da Fraternidade. À esquerda,
situa-se a estação Norte onde o Sol não lança a sua luz. É,
simbolicamente, um lugar das trevas por onde penetram os
neófitos em busca da Iniciação. Ao centro, vemos o Quinto Ponto
da Loja, o lugar onde todas as linhas se cruzam, o altar triangular
denominado Shekinah (a Rosa da Cruz), onde brilham as três
chamas, sempre mantidas acesas pelas vestais do Templo, e que
maravilhosamente simbolizam as pontas do Sagrado Triângulo
Rosacruz - LUZ, VIDA e AMOR” [...]
BLOG O ROSACRUZES, 2018.

Após uma primeira parada na “Câmara Externa” para as explicações sobre os desenhos na parede,

entramos calmamente no templo e a partir daí surgiram várias impressões sobre as quais, discorro

agora.

Entrando pela primeira vez no tão protegido “Templo Rosa-Cruz”, percebemos de início um

ambiente leve e sereno, uma ópera calma tocava ao fundo com um volume razoavelmente baixo e

calmo. O clima era fresco, com o auxílio do ar condicionado e a iluminação média, de coloração azul

claro, como descrevemos no símbolo da egrégora rosa-cruz. O espaço tinha cheiro de incenso, porém,

não víamos nenhum aceso no momento, o que me fez pensar que estava impregnado pelo constante

uso em seus rituais místicos ou que talvez tenha sido preparado para tal visita.

A disposição do templo era diferente de qualquer instituição religiosa ou filosófica por mim já

visitada. Com cadeiras e púlpitos organizados nos quatro quadrantes cardeais da sala, onde ao leste

se via o púlpito principal onde podíamos ver claramente o desenho de um olho aberto, como o “Olho

da Providência Divina, comum também na simbologia da Maçonaria, porém, não era ornamentado por

um triângulo. Este púlpito é o lugar onde fica o “Mestre Ritualístico da Loja”, um homem de idade

madura, (líder e cerimonialista), sendo que ao oeste ficava o púlpito, que informaram ser lugar da

matriarca da ordem, a mulher mais velha da instituição que carregava um cargo muito importante para
os rosa-cruzes representando o “Sagrado Feminino56”, que representa basicamente a sabedoria e a

maturidade.

Os púlpitos laterais norte e sul também são lugares destacados, porém não tivemos detalhe sobre

quem ou como se ocupariam, porém, percebemos que estes tinham mais de um lugar de assento,

diferentemente dos púlpitos do leste e oeste que só tinham um lugar de assento onde um era

necessariamente destinado a um homem e outro a uma mulher.

A disposição dos bancos dos outros demais membros que compunham o ritual ficava um pouco

atrás destes púlpitos, tais bancos eram coletivos e, de certa forma, estava à parte dos outros púlpitos e

assentos.

56Sagrado Feminino: Movimento de despertar, cura, conexão e empoderamento de mulheres. É um mundo de mistérios e clareza. É
permitir que a mulher, e não só ela, mas ambos os gêneros, desperte em seu interior a energia feminina.
SHEKINAH:

Figura 4. Altar Central do Templo.

No meio dos quatros púlpitos ficava um espaço vago de aproximadamente três metros de largura

por seis metros de comprimento, no centro existia uma espécie de altar com um tablado de madeira

quadrado, protegido por três passantes de cordas, como se estivessem limitando e protegendo a

presença de alguém dentro daquele espaço. Este lugar é denominado pelos rosa-cruzes como

“Shekinah”, que segundo eles é o espaço da presença divina no tempo. Ainda neste espaço, existia um

tablado superior onde ficava uma mesa triangular com uma vela em cada canto do triângulo. Os rosa-

cruzes brevemente explicaram que este lugar é o que a loja tem de mais sagrado, é um espaço onde

os rosa-cruzes afirmam estabelecer contato com entidades superiores e o ponto físico central de sua

egrégora. O triângulo é um dos principais símbolos da AMORC, que representa o número três e que o

mesmo é a síntese de tudo na vida humana, como por exemplo: tese, antítese e síntese; pai, mãe e

filho; corpo, mente e espírito, entre outros significados esotéricos correlacionados ao número três.
COLUMBA:

Uma das figuras presentes nos rituais místicos dos rosacruzes é o que os mesmos denominam

como “Columba”. Este cargo ritualístico é geralmente assumido por uma criança de gênero feminino,

que lembra-nos as “Virgens Vestais”57 da Roma e Grécia antiga.

Segundo os rosa-cruzes, a “Columba” representa as características de uma alma virtuosa, pura,

simples, inocente e ao mesmo tempo sábia, como se fosse a própria “Consciência Divina” sendo

sagrada e comparável ao “Shekinah”.

57 Virgem Vestal: Eram sacerdotisas que cultuavam a deusa romana Vesta. Um sacerdócio exclusivamente feminino, restrito a seis
mulheres que seriam escolhidas entre a idade de seis a dez anos de idade, servindo durante trinta anos. Durante esse período, as
virgens vestais eram obrigadas a preservar sua virgindade e castidade, pois qualquer atentado a esses símbolos de pureza significariam
um sacrilégio aos deuses romanos e, portanto, também à sociedade romana.
O SANCTUM CELESTIAL:

Figura 5. Representação - Sanctum Celestial.

Uma das coisas fundamentais para os rosa-cruzes da AMORC é o que eles denominam como

“Sanctum Celestial” e o “Sanctum Pessoal”.

Para os rosa-cruzes, o “Sanctum Celestial” talvez seja o que a Ordem tem de mais importante e

real, o que fundamenta toda a filosofia, prática ou de certa forma crença rosa-cruz. Segundo os

iniciados, que de toda forma buscavam metáforas e alegorias sobre a explicação do que seria o

“Sanctum Celestial”, afirmavam que através da prática da meditação mística podemos nos conectar

com a sede principal Rosa-Cruz - extrafísica, ou como eles mesmos caracterizam como a “Catedral da

Alma” que não se localiza no mundo físico, mas sim, em outros planos sutis da realidade cósmica, que

os mesmos podem acessar essas dimensões através de técnicas específicas rosa-cruzes que

roporcionam projeções psíquicas para o praticante, também conhecida como “apometria58” e “projeção

astral”59.

58Apometria: (apo- do gr. "além de" e-metron "medida") é um conjunto de práticas pseudocientíficas de tratamento espiritual. Segundo
seus praticantes, a técnica consiste no transporte do "corpo astral" do enfermo para hospitais em um suposto mundo astral, onde
espíritos realizariam o tratamento.
59Projeção Astral: Projeção da Consciência descreveria um suposto fenômeno paranormal: a “saída” da consciência do corpo humano
e uma suposta "manifestação" em uma "dimensão extrafísica". O Espiritismo denomina esta "dimensão extrafísica" como plano
espiritual.
Esses ensinamentos sobre o Sanctum Celestial se encontram no “LIBER 777”, onde a AMORC

adverte sobre como manter uma harmonia entre o “Eu e o Universo”; a harmonia para com os outros;

a harmonia para com a natureza; além de apresentar a definição do “Sanctum Celestial” e técnicas de

visualização e elevação ao templo, que segundo eles se encontra em dimensões superiores.


O SANCTUM PESSOAL:

Figura 6. Sanctum Pessoal - Altar / Espaço para estudos e meditação.

Além do tão estimado, Sanctum Celestial, temos também o que os rosa-cruzes chamam de

“Sanctum Pessoal”, e que podemos comparar grosseiramente com uma espécie de altar individual ou

um espaço de meditação.

Através das percepções que obtivemos no desenrolar da pesquisa e diversas análises e diálogo

com os membros, conseguimos entender que para os rosa-cruzes, o “Sanctum Pessoal” é um espaço

extremamente íntimo e sagrado. Lugar onde o iniciado pratica suas experiências, técnicas de

meditação, orações e estudo.

O “Sanctum Pessoal” se resume basicamente em um assento para o praticante, um espelho

razoavelmente grande para uma boa observação de si mesmo, duas velas paralelas ao lado do espelho,

formando três pontos de luz onde o terceiro seria ele mesmo, sua centelha divina, o símbolo da ordem

– a cruz com a rosa em seu centro -, e um incenso. Outras informações acerca dos sanctuns são

resguardadas ou só podem ser acessadas através das práticas rosa-cruzes.


OS LIMITES DA PESQUISA:

Uma das características que auxiliam na afirmação de que a Ordem Rosa Cruz AMORC se distancia

de ser uma religião é o fator de afiliação ou ingresso institucional na ordem ou grupo social.

Essa afiliação pode ser solicitada pessoalmente pelo “buscador” ou membro da “Câmara Externa”

da AMORC, na própria loja física como também na internet através do “site oficial”60 da AMORC. A

afiliação não exige a atividade templária, isto é, a Ordem Rosa Cruz AMORC oferece os estudos

místicos que podem ser feitos em casa “à distância”, não necessariamente exigindo a iniciação

templária e o trabalho templário, ou seja, é possível solicitar a afiliação na ordem e receber as

monografias em domicílio e pratica-las em casa sem necessidade de afiliação à loja, porém, indica a

atividade templária para efeitos de sociabilização e rituais místicos, acesso a biblioteca entre outros.

Ao observar o processo de afiliação através do site institucional fica evidente o caráter institucional,

embora carregado de sentido místico de escola espiritual.

[...] Conservarei confidencial toda a literatura rosacruz privativa que me


for enviada, e me empenharei em seguir seu sistema de estudos e
práticas para uma vida de maior compreensão pessoal. Considerando
que os Ensinamentos Rosacruzes não são vendidos, mas cedidos a
título de empréstimo, comprometo-me a devolver todas as monografias
que me forem concedidas para estudo individual no caso de
afastamento definitivo da AMORC. [...]
SITE INSTITUCIONAL AMORC (AREA DE FILIAÇÃO, 2018).

Contudo, sobre o processo de ingresso na senda Rosa Cruz oferecida pela AMORC se resguarda

sobre tais ensinamento e pede a colaboração do novo membro para continuar poupando tais textos do

público externo da loja para que tal conhecimento não seja profanado ou ridicularizado.

Na sessão de afiliação a AMORC se apresenta novamente como instituição místico filosófica e não-

religiosa, que atua no desenvolvimento espiritual de seus membros.

60 Site AMORC: https://www.amorc.org.br/


A INICIAÇÃO:

Observando a proposta de se realizar uma pesquisa antropológica, qualitativa e participante,

sempre haverá empecilhos que se caracterizam como “limites” no processo de absorção de

informações sobe o objeto estudado. Ainda mais, tratando de um grupo específico, no caso uma

instituição esotérica / ocultista – Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz - AMORC de Londrina - Paraná.

No processo de inserção do pesquisador em campo encontramos diversas barreiras e limites a

serem ultrapassados, no entanto, nem todos são possíveis de transpor.

Para que o pesquisador tenha uma observação e participação e descrição completa do objeto seria

necessária a real infiltração do mesmo ao grupo, através do processo aos quais os rosa-cruzes

denominam como Iniciação.

Para os iniciados rosa-cruzes a iniciação é um processo ritualístico, com efeitos na mente do

iniciando – psicodrama, que proporciona a origem da caminhada na senda espiritual específica, através

dos estudos dos mistérios reservados, assim como a prática templária, mística específica rosacruz.

Agora, analisando o termo “iniciação”, dentro do cenário exterior da instituição, podemos entender

iniciação como um processo de transição ou metamorfose, acontecendo através da morte do “eu” e

renascimento da persona do indivíduo, muito utilizados em tribos indígenas como “ritos de passagem”61,

como por exemplo a transição da infância para a vida adulta, de um estado de consciência a outro

distinto e mais complexo e mais maduro. Geralmente o iniciado passa por um processo de extremidade

física ou psicológica onde é convidado a despertar para uma nova realidade espiritual, social ou uma

nova maneira de interpretar o mundo e as coisas.

61Ritos de Passagem: Celebrações que marcam mudanças de status de uma pessoa no seio de sua comunidade. Os ritos de passagem
podem ter caráter social, comunitário ou religioso.
O processo de “iniciação” é conhecido entre as mais populares e diversas religiões do mundo,

assim como também tem seu significado particular nas escolas esotéricas como a Ordem Rosa Cruz e

outras denominações ocultistas como a Maçonaria, o Martinismo entre outras.

Para que a “iniciação” aconteça são necessárias duas principais figuras, o “iniciador” e o que será

iniciado, aquele que ainda está à parte da realidade e aquele que mantém o conhecimento sobre alguma

coisa. Desta forma, encontramos a iniciação desde as religiões tribais indo-americanas e religiões

africanas como o nas universidades, no catolicismo, ou especificamente no Candomblé, onde aquele

que pleiteia a iniciação, deve se retirar do convívio social por ao menos vinte e um dias para dedicar-

se as práticas do ritual de iniciação com as obrigações aos Orixás.

Nas universidades também existe o termo iniciação científica, onde o estudante é orientado por um

professor no processo de aprendizagem de como realizar uma pesquisa em troca de auxílio na

construção da pesquisa do orientador. Nisto podemos perceber também a figura do mestre e do

aprendiz.

Na própria história do catolicismo romano, até mesmo o Cristo, Yeshua Bem Pandira ou Jesus de

Nazaré, é submetido ao processo de iniciação através de seu primo João Batista, O Anunciador.

Jesus passa pelo batismo das águas realizado pelo iniciador João, no Rio Jordão em Israel,

especificamente na Jordânia, onde anteriormente já havia batizado uma multidão de fiéis sobre a

profecia da vinda com Salvador da Humanidade.

Através da perpetuação da prática do batismo os cristãos acreditam que o indivíduo passa a ser

reconhecido como autêntico cristão, isto é a iniciação na cultura, moral, ética e espiritualidade cristã.

No entanto, embora existam vários significados sobre o conceito de iniciação, agora nos

preocuparemos em descrever o que conseguimos definir através das vivências, experimentações e


relacionamento em campo como: conversas, palestras, confraternizações entre outras atividades nos

momentos que visitei a instituição ou mantive contato via internet.

Primeiramente, para as “Sociedades Iniciáticas”, como as que aqui foram citadas, o termo iniciação

remete a um sistema de organização e categorização que identifica a evolução da caminhada na senda

espiritual, que geralmente é denominado como Grau, a Ordem Rosa Cruz AMORC atua com a distinção

de Doze Graus, na Maçonaria encontramos este mesmo sistema com Trinta e Três graus iniciáticos -

que remetem ao número de vertebras da espinha dorsal e a idade de Jesus Cristo no momento de sua

morte entre outras coisas atribuídas ao número místico trinta e três.

No caso da Rosa Cruz AMORC os iniciados percorrem o caminho de doze graus, sendo que na

conclusão de todos os estudos e atividades místicas necessárias o membro rosa-cruz passa a ter

acesso a um novo tipo de informações ou outro círculo social rosa-cruz, que são ainda mais restritas

que a completude da senda dos doze graus anteriores. Esses rosa-cruzes que atingem a completude

dos doze graus inferiores e assumem uma nova plataforma ou meio social são reconhecidos entre os

iniciados como “Illuminati”, que segundo os rosa-cruzes, o iluminado é aquele que percorreu todo o

caminho da senda e descobriu seus mistérios interiores no processo de desintegração do “eu

psicológico individual” e se integrou à consciência coletiva e atua no desenvolvimento geral da

humanidade encarnada.

Embora encontrássemos várias explicações sobre o que é a “iniciação”, nos preocupamos também

em ter a experiência, entendê-la de modo prático e sincero para a explicação e descrição fiel do

fenômeno, no entanto, com o pesar de não ter a chance de experimentar a fundo ou participar como

coadjuvante no processo iniciático, como nos propomos na metodologia da pesquisa, de fato não

atingimos devido o dilema dos “limites da pesquisa”, seria também um limite ético uma vez que

entendemos que por se tratar de uma sociedade reservada e esotérica avançar esses limites seriam
como “profanar e desrespeitar” os conhecimentos e práticas da ordem que se mantêm discreta á

séculos, ou segundo eles, á milênios.

Diante disso preparamos uma um texto em reflexão baseada nas falas de rosa-cruzes não só da

instituição AMORC de Londrina, mas como também o agrupamento de diversos rosa-cruzes e maçons

a qual tive contato via e-mail, rede social e aplicativo de mensagens.

Através destes contatos podemos afirmar que existe outro sentido da iniciação, além do conceito,

é o “sentido individual” a qual cada iniciado atribui ao fato. Isso expressa o que de mais importante

existe no processo iniciático, que é a consciência do Ser Humano sobre Si, sobre o que entende sobre

a ideia de Deus e sobre o Universo, o resultado da busca pelo processo de autoconhecimento, o sentido

profundo da existência individual nos âmbitos materiais e espirituais.

Entendemos então que a “iniciação” é uma prática que conduz ao caminho do autoconhecimento,

e que segundo os rosa-cruzes, levam também a auto-realização e a iluminação, que ocorre através de

transformações de constantes de consciência ao decorrer da vida.

Pelo convite ao despertar para uma nova consciência e autoconhecimento a iniciação fornece o

conhecimento sobre a Mística, o Universo, suas Leis Cósmicas e sobre o Ser Humano, algo que age

em prol de uma questão superior, sobre o direito de Ser, Saber, Querer, Ousar a agir sobre si mesmo

no Calar do Infinito do Eu, que segundo os iniciados entrevistados, ao mesmo tempo é o “Todo”.

Embora que pareça que a iniciação seja algo totalmente íntimo, não podemos confundir com uma

situação egoísta ou individualista, mas sim sempre, observa-la no sentido de consciência individual.

Além do mais, esta evolução individual é parte do “Todo”, que como em uma escada de elevação

espiritual e despertar de consciência coletiva progride através das iniciações individuais.


Entendemos que a iniciação proporciona uma reflexão sobre os sentimentos, emoções,

pensamentos, sobre a mente, os sons e vibrações, à vontade, o impulso e a ação humana como

consequência em sutileza da verdade divina manifestada. Ultrapassar o limite da iniciação é como o

despertar de um sono profundo, que conta a história de uma vida pacata e transitória sobre os

acontecimentos vivenciados pela “persona”62 – que é limitada ao mundo material, como um despertar

para uma realidade que ultrapassa o mundo das formas. O iniciado deve ultrapassar a noção do “Eu” –

limitado, e se perceber parte de um “Todo” e não mais ser influenciado por pelas noções de

pensamento, emoções, papeis sociais e outras características que constituem o “Ego”63.

Contudo, a iniciação rosacruciana promete a plenitude de uma vida no sentido de proporcionar uma

percepção mais clara e objetiva sobre o quais são os “sentidos da vida”, o que é viver e o que é “Ser”.

O Iniciado, ao acordar para uma nova realidade deve buscar a vigilância constante para não mais

cair em dúvida, ilusão ou engano, deve sempre buscar o discernimento entro o que ele mesmo julga

certo e errado, para não devanear no que os mesmos denominam como mundo físico, denso,

manifestado, que consequentemente é uma ilusão dual, pois se passa no mundo das formas, conhecido

esotericamente como “Maia”64 ou “Malkuth”65.

62 Persona: Na psicologia analítica de Jung, é a face social que o indivíduo apresenta ao mundo, como uma espécie de máscara
projetada, por um lado, para fazer uma impressão definitiva sobre os outros, e por outro, dissimular a verdadeira natureza do indivíduo.
A persona também pode se referir à identidade de gênero, a um estágio do desenvolvimento como a infância e a adolescência, a um
status social, a um emprego ou profissão.

63Ego: De acordo com a interpretação esotérica, o ego em maioria das vezes aparece como algo pejorativo, como um obstáculo a
evolução espiritual que se caracteriza nos vícios, desvios morais e atos inconscientes do indivíduo.

64Maia: Maya é uma palavra sânscrita feminina Hindu que significa “medir”. O termo possui também o significado corrente de “ilusão”,
“miragem” ou “mundo de aparências”. Maya é a ilusão do mundo físico; a irrealidade dos fenômenos; a miragem ou “alucinação” do
mundo da manifestação. Os fenômenos sensíveis do mundo são vazios da verdadeira substância, não são reais, mas possuem apenas
uma aparência de realidade.

65Malkuth: Em Cabala é a manifestação final das forças da Árvore da Vida, o último estágio da energia onde ela se solidifica. Porém,
não é formada apenas pela matéria, mas também seu aspecto psíquico e sutil.
O verdadeiro iniciado detém, ou pelo menos deve ter, consigo as rédeas de sua vida e

consequentemente de seu próprio destino, que nada mais é que ter claro as consequências de suas

escolhas e ações conscientes sobre si mesmo, que são possíveis através da condição de livre arbítrio

ou liberdade individual por meio da iniciação; agindo sempre de maneira consciente, correta e digna.

O iniciado atua no mundo e em sua vida não por obrigação ou receio de punição, mas porque esta

intencionado e direcionado para a prática do bem em prol da realização comum, ou seja, a evolução da

consciência humana em geral.

O iniciado é o homem que se fez consciente de que se pode fazer muito, pode-se até criar e destruir

a vida neste mundo empírico, sensível e inteligível, onde a realidade é norteada pelas formas e pela

aparência. Este mundo é afetivo é o mundo de ser, estar, sentir, da realidade física e material do ser

humano. Neste sentido o homem pode transformar e atuar de forma concreta sobre si e sobre a

sociedade de acordo com sua intenção ou vontade. No entanto, é na busca íntima e profunda da

transformação e evolução do “Ser Individual” que se encontra o sentido puro da iniciação. Um convite

a um mergulho dentro de si mesmo na busca de autoconhecimento e prática altruísta.

Por fim chegamos à conclusão que para os iniciados a iniciação é também uma dádiva, uma

proposta e oportunidade de evolução pessoal, pois privilegiado é aquele que consegue conhecer,

assimilar, produzir e transformar a consciência individual e coletiva em prol de um bem maior, no sentido

de atuação sobre si e sobre os outros. Ter esse nível de atuação individual e coletivo representa uma

conquista e uma responsabilidade, pois para o místico, a lapidação das imperfeições humanas se faz

no processo de altruísmo e autoconhecimento.

O Iniciado sabe o que veio fazer na Terra, pois conhece sua própria história de vida através da

mística, o que traz sentido a sua própria existência a partir do que sabe de si, sendo que desta forma,

age no mundo por intenção justa e consciente, por vontade manifestada dentro de uma conduta ética
específica e nunca por obrigação ou norteamento moral. Desta forma o iniciado “pode realizar milagres

na Terra” – Martinismo; assumir o “Domínio de sua Vida” – AMORC; realizar a “Grande Obra” –

Maçonaria; ou até mesmo “conhecer sua Verdadeira Vontade” – Thelema66.

66Thelema: Também se refere à doutrina ou filosofia religiosa difundida por Aleister Crowley a partir de 1904 nos moldes propostos pelo
Liber AL vel Legis.
MARTINISMO - A Ordem dentro da ordem, o círculo dento do círculo:

Nos momentos de estadias em campo na loja em Londrina, sempre tivetambém a curiosidade de

entender melhor sobre o que seria a Tradicional Ordem Martinista – TOM, e o que conseguimos

absorver é que segundo os rosa-cruzes da AMORC, a TOM é uma instituição mística, filosófica e para-

maçonica que, de certa maneira se aproxima com a filosofia, misticismo e esoterismo judaico-cristão e

que se caracteriza principalmente pela prática da “teurgia”67 interior. Uma ordem esotérica que se aloja

dentro de outra ordem esotérica; por motivos históricos específicos a TOM se uniu institucionalmente

com a AMORC, sendo que para que haja iniciação ou ingresso na TOM necessariamente deverá ser

primeiramente iniciado na AMORC.

Diante disso interpretamos como “o círculo dentro do círculo”, sendo um espaço de pesquisa ainda

mais restrito que o próprio objeto, mesmo se tratando do mesmo campo estudado, previamente

selecionado, ou seja, a AMORC.

A Ordem Martinista deriva dos ensinamentos de Martinès de Pasqually – 1710 – 1774, Teósofo do

Século XVIII; que em sua época era líder da Ordem Iniciática dos Elus-Cohen, que focavam seus

estudos e práticas místicas na reintegração da ligação entre o Ser Humano e a Divindade, consequente

uma comunicação ou contato através do que é conhecido esotericamente como Teurgia.

No entanto, a “Senda Martinista” ainda não era reconhecida como Martinismo, pois este nome

deriva da figura de San Martin, que foi tomando forma, reconhecimento e conceituação na medida dos

acontecimentos da sua história, principalmente pela continuação de sua tradição através de Jean Batist

Willermoz e o mais notável que passa a denominar a Ordem Martinista, “Louis Claude Saint Martin”68.

67 Teurgia: Ciência do maravilhoso; arte de fazer milagres. Espécie de magia fundada em relação com os espíritos celestes.
68 Louis Claude San Martin: Louis-Claude de Saint-Martin (Amboise, França 18 de janeiro de 1743 - 13 de Outubro de 1803) foi um
filósofo e místico francês. Foi discípulo de Martinez de Pasqually e Jacob Boehme. Advogado, deixou de lado a jurisprudência e, ao lado
de Jean-Baptiste Willermoz, lançou a base do martinismo. Influenciou diversos ocultistas franceses, especialmente Éliphas Lévi,
Stanislas de Guaita e Papus.
Após o falecimento de Pasqually, seus ensinamentos místicos dos ligados à “Ordem dos Elus-

Cohen”69 foram disseminados em várias ordens ocultistas e círculos esotéricos, nesse meio

sobressaíram-se dois principais seguidores, que são: “Jean Baptist Willermoz70” e “Louis Claude Saint

Martin”, o primeiro era adepto da Franco-Maçonaria e acreditava que a prática da Teurgia Externa,

aproximava os seres humanos à realidades superiores através da magia ritualística; já Saint Martin

percebe um outro caminho ou outra senda, a “Senda do Coração”, ou “Via Cardíaca”.

Uma das principais características da diferenciação entre a antiga teurgia utilizada na Ordem dos

Elus-Cohen e a teurgia de San Martan é a opção pelo que o mesmo denominava como via interna que

está ligada ao coração do próprio homem. San Martin acreditava que as tradicionais práticas teúrgicas

da época deveriam deixar de ser o centro das atenções dos iniciados, ele propunha o caminho da senda

interna, cardíaca, onde a máxima era “deixar que Deus adentre o coração do Homem para que a

humanidade possa se aconchegar no coração de Deus”.

No entanto, Louis Claud San Martin, o “Grande Iniciador”, deixa as responsabilidades atribuídas as

atividades da sua via senda interna e cardíaca ao seus mais próximos seguidores que são: “Gérald

Encause”71, esotericamente conhecido como “Papus”, e “Pierre Augustin Chaboseau72” que deram

continuidade ao círculos de iniciados até se firmarem sob a denominação Martinista em 1891, devido

69 Ordem dos Elus-Cohen: Originalmente fundado por Martinez de Pasqually em 1768. Foi fundido com alguns ritos Maçons pelo
discípulo dele e sucessor Jean Baptiste Willermoz. O Dr. Blitz de Eduoard, um companheiro antigo de Papus, trabalhou com os
Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa de Willermoz, nos E.U.A., e consequentemente mantinha a exigência de afiliação maçônica.
70 Jean Baptiste Willermoz: Lião, 10 de julho de 1730 — Lião, 29 de maio de 1824 - foi maçom e martinista francês que exerceu papel
importante no estabelecimento de vários sistemas de altos graus maçônicos em seu tempo na França e Alemanha.
71 Gérard Anaclet Vincent Encausse: Corunha, Espanha, 13 de Julho de 1865 — Paris, França, 25 de Outubro de 1916), mais conhecido

pelo pseudônimo de Papus, foi um médico, escritor, ocultista, rosacrucianista, cabalista, maçom e fundador do martinismo moderno.
72 Augustin Chaboseau - 17 de junho de 1868 - 2 de janeiro de 1946 - é o organizador original e oficial de promulgação da Ordem
Martinista Tradicional (TMO), ocultista e historiador. Notavelmente, sua fundação foi em parceria com a Papus em 1888. Em seus
primeiros anos, ele tinha os talentos, habilidades e habilidades necessárias que o levaram a se tornar médico e foi com o conhecimento
adquirido no trabalho com a responsabilidade de salvar a vida das pessoas que ele foi capaz de transição bem sucedida em seu trabalho
com o TMO.
aos legados de San Martin período que a ordem começou a ganhar espaço em várias regiões da

Europa.

[...] Em 1891 a Ordem Martinista foi dotada de um Conselho Supremo,


e Papus foi escolhido Grande Mestre da Ordem. O coração do
Martinismo fixou-se em Paris, e, imediatamente, foram criadas quatro
Lojas: Esfinge, Hermanubis, Velleda e Sphinge. Cada uma com
características específicas, mas todas fiéis ao pensamento de seu
inspirador: Louis-Claude de Saint-Martin – o FILÓSOFO
DESCONHECIDO. A Ordem, com o tempo, expandiu-se também no
estrangeiro, e foram instaladas diversas heptadas na Bélgica,
Alemanha, Inglaterra, Espanha, Itália, Egito, Tunísia, Estados Unidos,
Argentina, Guatemala e Colômbia. Não há registros, s.m.j., do
funcionamento da Ordem, naquela época, nem em Portugal, nem no
Brasil.[...] PIZZINGA (BLOG MARTINISMO, 2016)

Por conta do surgimento da Primeira e Segunda Guerra Mundial, a Ordem Martinista entrou em

estado de dormência, isto é, deve de criar estratégias de sobrevivência com relação para manter suas

atividades, chegando beira da extinção, uma vez que o cenário proposto pela guerra proibindo e

perseguindo as atividades de organizações secretas. Esta situação piora após o falecimento de Papus

na fronte de batalha onde serviu como médico em 1916.

Após a o termino da Segunda Guerra Mundial, Chaboseau se reuniu seus ultimas forças para

reaver a ordem mais uma vez e consegue concluindo sua missão e morre em 1946.

Portanto, neste momento as atividades martinistas estavam novamente dispersas pela Europa

até que o “Imperator” mundial da AMORC na época, Ralph M. Lewis buscou uma forma de

reorganização e união dos adeptos a filosofia deixada por San Martin e estruturada por Papus e

Chaboseau. Dessas organizações surgem o que conhecemos hoje como Tradicional Ordem Martinista,

onde se encontra atualmente sob a administração da Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz – AMORC.
AMORC E RELIGIÃO:

No processo de entendimento e descrição sobre da AMORC passamos por um prisma ou

categorização da como instituição religiosa, principalmente por tratar conceitos metafísicos e

existenciais, sobre os sentidos que regem a vida íntima e espiritual do ser humano.

Embora todas as suas características mais notáveis como o caráter templário, místico, esotérico e

filosófico nos apontem de alguma forma como a expressão de uma religiosidade, devemos

primeiramente ouvir o que a própria instituição diz de si mesma, assim como também fazer um

levantamento bibliográfico para definirmos o que entendemos ou categorizamos como religião,

misticismo ou esoterismo.

Sobre o conceito de religião entendemos grupos sociais institucionalizados, com cosmologias

próprias, doutrinas, dogmas, rituais, valores morais e costumes específicos. E por mais que algumas

destas práticas sejam trabalhadas dentro do círculo da AMORC, através das reflexões conceituais

estabelecidas e da observância do discurso do próprio objeto consultado preferimos categorizar a

mesma como uma instituição não-religiosa, porém, fraternal, mística, filosófica, esotérica e espiritual.

Por mais que nos períodos de 1990 até os anos 2000, o termo “nova era” ou “new age” era o mais

usado para definir as consequências das práticas alternativas de religiosidades e espiritualidades

orientais e holísticas, que ganharam certa notoriedade no Brasil na época, preferimos entender e

explicar especificamente a AMORC a partir da análise de pesquisador social, José Cantor Magnani,

como uma instituição esotérica tradicional, que proporciona certo fluxo, mercado ou trânsito religioso

no que denominamos na pesquisa como Câmara Externa, diante disso, preferimos defini-la

conceitualmente como parte do processo como movimento “neo-esotérico” urbano.

Dando uma atenção especial para o discurso do próprio objeto sobre sua aproximação da prática

sobre um imaginário extra-físico ou religioso, encontramos sempre uma observação ou ressalva de que

“a ordem rosacruz não pode ser confundida com uma religião por não possuir princípios dogmáticos
correlacionados a uma crença imposta ou indicada”. Segundo os rosa-cruzes, AMORC se assemelha

mais a uma “escola espiritual” do que a uma organização religiosa.

Também notamos que nas falas dos membros sobre Deus e o Universo, e embora tenham uma

afeição especial à teologia iniciada por Akenathon, o antigo faraó que ao seu reinado tentou implantar

a ideia monoteísta a frente do panteão do Egito Antigo; percebemos também que a ordem não prefere

nenhuma religião específica, inclusive indica a prática ou adoção de uma religião fora da AMORC,

tratando a religiosidade prática como um processo estritamente religioso e as atividades místicas,

filosóficas e de estudo num prisma de escola esotérica e espiritual.

Contudo, tendo como ponto de partida a explicação institucional da AMORC e também a partir da

literatura antropológica utilizada para a reflexão e análise do fenômeno podemos claramente afirmar

que a Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz – AMORC não se classifica como instituição religiosa, mas

sim esotérica, enquadrando-se no conceito de “neo-esoterismo urbano”.

Por religião entendemos instituições que norteiam as ações de um grupo de sujeitos organizados

como agentes dispostos, em um campo hierárquico de competências, cosmologias, princípios, crenças,

ética num corpo doutrinário demarcado com narrativas centrais estabelecidas e proselitistas.

Já a AMORC, se aproxima mais de um campo de maior plasticidade e dinâmica. A religião deixa

de ser um substancial, transcendente e supera as práticas particulares e passa a ser coadjuvante no

cenário religioso passando a ser um qualificativo de diferentes tipos de agenciamento, tanto centrais

como também periféricos e marginais, que também podemos entender popularmente como “nova era”

religiosa, ou neste caso específico categorizado como “neo-esotérico”.


ESOTERISMO E NEO-ESOTERISMO – Uma tentativa etnográfica.

A partir obra “O Neo-Esoterismo na cidade”, de José Cantor Magnani, buscaremos refletir o

enquadramento ou categorização do perfil institucional do objeto, em específico a Ordem Rosa Cruz –

AMORC, para entendermos um pouco mais sobre o mesmo a partir de um prisma epstemológico, no

caso antropológico.

Segundo Magnani, Entende-se também como esotérico o “conjunto de tradições ocultas,

cerimoniais, procedimentos, técnicas, filosofias, doutrinas, crenças e ordens secretas que são

acessadas a um número restrito de pessoas ou iniciados”, que recebem conhecimentos a respeito de

temáticas como o domínio da vida e do próprio destino, a satisfação da vontade individual através do

uso da “magia”73, aspectos ocultos da vida e da psicologia do homem dentro de uma perspectiva de

que tais assuntos devem ser velados, poupados ou reservados apenas aos digníssimos adeptos.

[...] No campo das religiões e sistemas iniciáticos, esotérico tem uma


aplicação bastante precisa: designa aqueles ritos ou elementos
doutrinários reservados a membros admitidos em um círculo mais
restrito; exotérica é a parte pública do corpo cerimonial e dos
ensinamentos populares [...] MAGNANI, (1996, 08).

Também podemos entender o esotérico como um nome genérico que evidencia um conjunto de

tradições e interpretações filosóficas das doutrinas e religiões - ou mesmo das Fraternidades Iniciáticas

– AMORC, que buscam transmitir um rol acerca de determinados assuntos que dizem respeito a

aspectos da natureza da vida que estão sutilmente ocultos.

Importante ressaltar que os adeptos do esoterismo: iniciados, ocultistas, não costumam se

autodenominar assim, uma vez que preferem o termo “místico” ou “espiritualista” que opta por práticas

73 Magia: Forma de ocultismo que estuda os segredos da natureza e a sua relação com o homem, criando, assim, um conjunto de
teorias e práticas que visam ao desenvolvimento integral das faculdades internas espirituais e ocultas do Homem, até que este tenha o
domínio total sobre si mesmo e sobre a natureza. A magia tem características ritualísticas e cerimoniais que visam a entrar em contato
com os aspectos ocultos do Universo e da Divindade. Afirma-se que, por meio de rituais, feitiços, orações, invocações e evocações, é
possível fazer com que forças ocultas atuem sobre o ambiente, modificando, por exemplo, a vontade, o agir ou o destino das pessoas.
Essa concepção, no entanto, é tida como irracional pela ciência.
alternativas, pois de alguma forma, e em algum momento a denominação estorérica ou ocultista se faz

como pejorativa do termo debido às inúmeras formas de intolerancia religiosa.

Anteriormente entendíamos ou explicávamos o esoterismo como um conjunto de instituições que

guardavam ou protegiam os conhecimentos e ciências ocultas dos profanos ou não iniciados; sendo

“esotérico” se refere ao que está dentro ou reservado a poucos, em oposição ao “exotérico”, que é o

que está fora ou a público em geral.

Atualmente podemos nos dispor do conceito de “neo-esoterismo”, onde podemos definir as

consequências de fenômenos atuais como as crises contemporâneas de ética, valores, percepções de

mundo, individualismo e egoísmo, intensa fragmentação e transito religioso e corrupções das

instituições religiosas tradicionais, debilitando-as em suas práticas religiosas e a consequente busca

por uma espiritualidade ajustada a sociedade atual contemporânea ou pós-moderna.

Frente a esta situação social, com o apoio teórico de Magnani entendemos “neo-esoterismo”

como:

[...] uma busca de novos paradigmas de conhecimento, de uma


espiritualidade independente de sistemas religiosos
institucionalizados e de uma “visão holística” do homem e da
natureza, tendências de ampla circulação e visibilidade nos anos 80 e
90. [...] MAGNANI (1996, 02). (grifo nosso).

Chamamos de “neo” – de novo, o reformulado esoterismo, pois previamente o movimento

esotérico já aconteceu na história da humanidade.

O conceito “esoterismo” já é bem estabelecido tanto no meio no meio ocultista quanto no

acadêmico, no senso comum e até midiático sendo que através desta “popularização dos

conhecimentos esotéricos em uma perspectiva comercial”, isto é, a “banalização dos conhecimentos

antigos e ocultos dentro de um esquema de mercado religioso”, chegando ao ponto de aparecer

contrafações e transformações desses temas nas atuais práticas modernas esotéricas, holísticas ou

místicas, como: consultas de tarô em anúncios de jornais e panfletos nas ruas ou via telefone e internet;
o que diferencia e se distancia totalmente do caráter “templário” e “cerimonial” exercido por sérias

correntes esotéricas históricas como o Gnosticismo, a Cabala, o Sufismo, as denominações

Templárias, Alquímicas, Rosa-Cruzes, Martinistas e Maçonicas.

Também se afirma como “neo-esotérico” conceitos como o de “Nova Era, Nova Consciência

Humana, Movimento do Potencial Humano e Espiritualista, Era de Aquário” ou, um esoterismo

carregado de sentido de transformação e inovação, redirecionado a humanidade com relação aos

mistérios do sobrenatural em paralelo com as descobertas da ciência moderna, em específico as novas

descobertas e teorias da física quântica, da psicologia e da “parapsicologia”74.

Antes mesmo dessa nova corrente atual de instituições que promulgam o conhecimento místico

e esotérico – neo-esotéricos - outras instituições, ordens esotéricas ou filosofias mais antigas já

tratavam o “ocultismo”, ou no caso, o esoterismo, como por exemplo: a Maçonaria, os Alquimistas da

Idade Média, o Gnosticismo75, os Cátaros76” e os Essênios77, o Tantrismo78 e, Hinduismo79 e Busdismo

74Parapsicologia: É uma pseudociência dedicada à investigação de supostos fenômenos paranormais e psíquicos. Seu propósito é a
pesquisa científica de telepatia, precognição, retrocognição, clarividência, telecinesia, projeção da consciência, experiências de quase
morte, reencarnação, mediunidade e outras reivindicações paranormais e sobrenaturais.
75Gnosticismo: designa um conjunto de crenças de natureza filosófica e religiosa cujo princípio básico assenta na ideia de que há em
cada homem uma essência imortal que transcende o próprio homem. Os gnósticos consideram a existência humana neste mundo como
não natural, por estar submetida a diversos sofrimentos.
76 Cátaros: O catarismo (do grego καϑαρός, katharós, "puro") foi um movimento cristão de ascese extrema na Europa Ocidental entre
os anos de 1100 e 1200, que teve suas raízes no movimento pauliciano na Armênia e no bogomilismo na Bulgária, que tiveram
influências dos seguidores de Paulo de Samósata.
77 Essênios: (Issi'im) constituíam um grupo asceta, apocalíptico messiânico do movimento judaico antigo que foi fundado em meados
do 2º século a.C. e foram dizimados no ano 68, com a destruição de seus assentamentos em Qumran. O movimento já foi mencionado
por autores antigos. Atualmente, tem-se redespertado o interesse pelo grupo após a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto e do
levantamento arqueológico de Qumran.

78 Tantra: (sânscrito: तन्त्र, lit. "tear, tecelagem, sistema" — denotando "continuidade" ou tantrismo refere-se às tradições esotéricas do
hinduísmo e do budismo que se co-desenvolveram provavelmente em meados do primeiro milênio d.C. O termo tantra, nas tradições
indianas, também significa qualquer "texto, teoria, sistema, método, instrumento, técnica ou prática" sistemática de aplicação ampla.
79
Hinduismo: Hinduísmo é uma tradição religiosa que se originou no subcontinente indiano. É frequentemente chamado de Sanātana
Dharma (सनातन धर्म ) pelos seus praticantes, frase em sânscrito que significa "a eterna (perpétua) darma (lei)". Num sentido mais
abrangente, o hinduísmo engloba o bramanismo, isto é, a crença na "Alma Universal", Brâman; num sentido mais específico, o termo é
empregado para designar apenas o sistema cultural e religioso da Índia medieval e posterior.
Tibetano80, a Gnose Samaeliana81, a Teosofia82, a Teurgia83, os Martinistas84, o Judaísmo85 e a

Cabala86, o Sufismo87 e o Islã88, entre outras ordens e práticas religiosas discretas que atuavam entre

as religiões históricas tradicionais.

Porém, o faziam de forma mais velada e reservada, onde o processo de iniciação, introdução e

acesso a esses ensinamentos místicos eram muito mais velados aos profanos não iniciados,

diferentemente das atuais características da atual Rosa Cruz AMORC, que aparentemente tem um

anseio por angariar membros as suas egrégora e revelar em algum grau os ensinamentos místicos e

esotéricos da ordem em benefício do desenvolvimento individual e coletivo com a cidade ou com o meio

em que convivem.

80 Bustismo Tibetano: também chamado de budismo vajrayana ou lamaísmo, emprega práticas de meditação na forma de elaborados
rituais, com leitura de Sadhanas (textos litúrgicos), visualizações e instrumentos musicais. Possui uma forte tradição nas artes, com
elaboradas pinturas e esculturas, e também em ordens monásticas, com ênfase no relacionamento entre alunos e lamas.
81 Samael Aun Woer: Pseudómino esotérico oi iniciático de Victor Manuel Gómez Rodrigues, nascido em Bogotá em 06/03/1917 e que
faleceu em 24/12/1977; escritor e fundador do Movimento Gnóstico Cristão Universal em 1972.

82Teosofia: conjunto de doutrinas religiosas de caráter sincrético, místico e iniciático, acrescidas eventualmente de reflexões filosóficas,
que buscam o conhecimento da divindade para alcançar a elevação espiritual. Doutrina espiritualista fundada no Século XIX por Helena
P. Blavatsky 1831-1891, ligada à tradição ocultista e às religiões orientais; teosofismo.

83 Teurgia: Espécie de prática mística fundada em relação com os espíritos celestes.

84Martinismo: corrente pensamento com base no esoterismo; um movimento para-militar e espiritual, conotado com o misticismo judaico-
Cristão, e com os ensinamentos de Louis Claude de Saint-Martin (1743-1803).

85 Judaismo: Judaísmo (em hebraico: ‫יהדות‬, Yahadút) é uma das três principais religiões abraâmicas, definida como "religião, filosofia e
modo de vida" do povo judeu. Originário da Torá Escrita e da Bíblia Hebraica (também conhecida como Tanakh) e explorado em textos
posteriores, como o Talmud, é considerado pelos judeus religiosos como a expressão do relacionamento e da aliança desenvolvida
entre Deus com os Filhos de Israel.
86 Cabala: Sistema esotérico , religioso e filosófico que reivindica o discernimento da natureza divina. Uma palavra hebraica que significa

recepção. A Qabalah divide-se em quatro partes principais: Cabala Prática: trata dos talismãs, rituais e cerimônias mágicas; Cabala
literal não-escrita: conhecimento oral e a tradição; Cabala Dogmática: parte doutrinal da ciência, sendo que suas principais fontes são
o Sepher Yetzirah, o Zohar, o Sepher Sephiroth e o Asch Metzareph.

87Sufismo: Forma de misticismo e ascetismo islâmico, hostil à ortodoxia muçulmana, caracterizado por uma crença de fundo panteísta
e pela utilização da dança e da música para uma comunhão direta com a divindade. Propagou-se especialmente na Índia e na Pérsia,
do Século IX ao Século XII, e foi influenciado pelo hinduísmo, budismo e cristianismo.

88Islã: É uma religião abraâmica monoteísta articulada pelo Alcorão, um texto considerado pelos seus seguidores como a palavra literal
de Deus - Alá, em árabe – Allāh. Pelos ensinamentos e exemplos normativos de Maomé, considerado pelos fiéis como o último profeta
de Deus. Um adepto do islamismo é chamado de muçulmano.
Se tratando de religiões e suas condições na pós-modernidade podemos perceber que até mesmo

as instituições milenares tradicionais, como por exemplo, o hinduísmo, o islamismo, cristianismo, o

budismo, o judaísmo, taoísmo, entre outras, sofrem constantes transformações, diante disso podemos

nos perguntar: por que o esoterismo não se transformaria em “neo-esoterismo”?

No entanto, a partir das transformações e dinâmicas sociais o pesquisador sente a necessidade de

criar um novo conceito que abranja as práticas contemporâneas que envolvem o universo místico e

ocultista no meio urbano. Neste sentido nos damos com o que o mesmo denomina “neo-esotérico” ou

“neo-esoterismo”, utilizando-o para descrever as práticas e trânsitos religiosos contemporâneos

justificando a partir da percepção da presença e disseminação em diferentes contextos da cidade –

praças, shopping centers, feiras místicas, viadutos, postes de energia elétrica, lojas e bairros de classe

média.

[...] Agora é diferente: a leitura de cartas, a interpretação de I-Ching, o


alinhamento dos chakras, a prática de yoga, a aplicação do doin em
outras tantas atividades que integram, de uma forma genérica, o
caldeirão das práticas neo-esotéricas finalmente modernizaram-se.
Seus praticantes desdenham e equipamentos, condições e técnicas-
computação, marketing, terceirização – comuns a qualquer a qualquer
das atividades de prestação de serviços nos grandes centros urbanos.
O neo-esoterismo virou um empreendimento empresarial. [...]
MAGNANI (1996,08).

A partir do texto percebemos um movimento de modernização das práticas místicas dentro de um

contexto urbano e consumista. A religiosidade e a espiritualização aparecem de forma moderna e

acessível aos novos padrões e paradigmas, o que vai contra a ideia de secularização89, sendo que,

uma vez que a mesma não acontece abre brecha para novas práticas místicas ou religiosas e é ai que

entra o que entendemos como movimento “neo-esotérico”.

Dentre os mais diversos grupos iniciáticos históricos encontramos as linhagens que seguem o

estilo do gnosticismo pagão e o gnosticismo cristão, misticismo judaico e a cabala, o sufismo islâmico,

89 Secularização: Processo de perda de relevância da religiosidade nos vários aspectos da vida do sujeito moderno.
o budismo tibetano entre outros movimentos seculares e paralelamente a eles encontramos as ordens,

sociedades discretas, monastérios, associações, núcleos, centros, lojas, templos entre vários outros

espaços que oferecem o estudo das artes ocultas e místicas, assim como também proporciona acesso

ao conhecimento esotérico com fluxo muito bem estabelecido, isto é, um número regular de membros

iniciados assíduos que professam tais princípios ou aderem filosofias de vida a um considerável tempo.

No entanto, diante desse público, grupo ou associação de longa data já estabelecida nos assuntos

de ocultismo, misticismo e esoterismo encontramos outra corrente ou que podemos conceituar como

movimento “neo-esotérico”, isto é, um fluxo de indivíduos que se interessam, busca e consomem a

prática de um esoterismo moderno que orbita as sociedades iniciáticas com o intuito da espiritualização,

orientação pessoal ou até mesmo iniciação nos mistérios.

Contudo neste momento da vida social contemporânea ou pós-moderna, isto é, aos reflexos da

sociedade em rede com os meios de comunicação em massa a níveis globais como a internet e as

redes sociais e o processo de transformação de valores, os “neo-esotéricos” acessam e trocam

informações sobre ocultismo/esoterismo a nível mundial, pois os fenômenos conhecidos como a “New

Age, a Conspiração Aquariana, Movimento do Potencial Humano, Era de Aquário ou Era da Nova

Consciência da Humanidade” os temas sobre espiritualização, religião, misticismo, holismo e

esoterismo ganharam notabilidade inclusive nos meios de informação tecnológicos como classificados

de jornais on-line, espaços reservados em livrarias, entrevistas em talk-shows, feiras místicas, canais

na plataforma You Tube, grupos de redes sociais (Facebook, WhatsApp, Telegram e Instagram) entre

outros meios modernos.

Neste sentido podemos claramente classificar o objeto analisado nesta pesquisa, ou seja, a

AMORC, como uma - séria e histórica instituição esotérica com abertura para o fluxo neo-esotérico;

pois, durante as observações em campo e estudos das bibliografias antropológicas, estadias,

experimentações e vivências reais em campo a luz das teorias etnográficas pode-se verificar que existe
uma barreira de acesso a informações entre os “buscadores” ou membros da câmara externa e os

membros da instituição/ordem, os iniciados da mesma forma que existe uma lógica institucional muito

respeitada a seguida à risca desde sua origem no início do Século XX.

No entanto, observando o processo de abertura e angariamento de membros na AMORC através

das regulares palestras abertas ao público geral e à Câmara Externa, e consequentemente a procura

dos que os rosa-cruzes denominam como “buscadores”, percebemos a possibilidade de entendermos

o mesmo como um processo ou movimento “neo-esotérico” urbano, pois, através das experiências em

campo, isto é, convivência, participação assídua e infiltração observante, pudemos ter um panorama

geral do perfil dos “buscadores” e seus objetivos, que coincidem com as definições sobre o que aqui

denominamos “neo-esotérico”, isto é, uma expectativa para com uma religiosidade ou espiritualidade

prática, não dogmática e com certa liberdade e incentivo a uma reflexão individual e estudo sobre a

existência e a vida encarnada.

Da mesma forma, uma vez que categorizamos estes fluxos e buscas como um movimento “neo-

esotérico”, a instituição AMORC continua de certa forma aos moldes de uma “instituição esotérica” ou

“ordem iniciática esotérica”, uma vez que ainda permanece fechada ao círculo de iniciados dentro de

um molde tradicional e institucional, ou seja, o movimento “neo-esotérico” se caracteriza pela “busca e

flexibilização / abertura”, e o caráter “esotérico” se dá pelo tradicionalismo milenar, ou secular, da Ordem

Rosa Cruz AMORC.


CLASSIFICAÇÃO:

Como uma forma de categorizar ou classificar a Ordem Rosa Cruz AMORC entre demais

instituições esotéricas classificamos a partir dos objetivos que se norteiam as ações da instituição, suas

normas de funcionamento e o produto que oferecem ao seu público.

Segundo Magnani, podemos classificar esses grupos em cinco categorias:

1. INSTITUIÇÕES FILOSÓFICAS E ESPIRITUALISTAS:

Caracterizam-se por apresentar um corpo doutrinário próprio, ritualística e níveis de iniciação.

Possuem hierarquia interna, distinguindo ao menos em grupo de seguidores e mestre ou dirigente; os

vínculos que se estabelecem aproximam-se de tipo religioso. Muitas delas são filiais, adaptações ou

criações locais inspiradas em instituições com sede ou origem no exterior.

Fazem parte deste grupo, entre outras, as seguintes instituições:

 Sociedade Brasileira de Eubiose, até 1969 denominada Sociedade Teosófica Brasileira.

 Fraternidade PAX Universal.

 Sociedade Antroposófica.

 Sociedade Internacional da Consciência de Krishna.

 Sociedade Teosófica do Brasil.

 Ordem Rosa Cruz – AMORC.

 Ordem Rosa Cruz Aurea ou Lectorium Rosacrucianum.

 Círculo Esotérico Comunhão e Pensamento.


Neste trecho encontramos a AMORC citada como instituição filosófica e espiritualista que está ligada

ao movimento “neo-esotérico” no seu processo de abertura e acesso para novos membros, mesmo

mantendo-se como uma instituição séria e hermética, de caráter místico filosófico e esotérico, muito

bem instalado no meio ocultista oriental e ocidental, como observamos no processo etnográfico.

O mais importante notarmos é que a AMORC provem de um histórico tradicional que mentem o

caráter esotérico tradicional, institucional, místico e filosófico; e que mantem de forma rigorosa este

perfil em suas atividades, embora esteja em processo de abertura e angariamento por novos membros

em oferta de iniciação.

Em torno deste processo de abertura e convite à busca interior e iniciação orbita o que entendemos

como movimento “neo-esotérico”, que segundo a bibliografia utilizada na pesquisa, nada mais é que

um grupo de instituições instalações de atendimento clínico e institucional que fornece o acesso a

literatura, pratica, estudo ou tratamento holístico, ou até mesmo atendimento oracular, divinatório entre

outras coisas denominadas “esotéricas”.

2. CENTROS INTEGRADOS:

Espaços que reúnem e organizam, de forma criativa, várias atividades como práticas divinatórias,

terapias variadas, cursos de formação, venda de produtos, vivências coletivas. Não apresentam uma

doutrina própria nem seguem um conjunto rígido de dogmas que não deixem de fundamentar suas

escolhas através de um discurso mais ou menos coerente que pode combinar várias tradições

religiosas, filosóficos ou ocultistas. Geralmente são gerenciados em moldes comerciais – muitos deles

são microempresas; tem como base o trabalho de profissionais da casa – em maioria terapeutas; que
quase sempre são os proprietários do local que abrem espaço para atuação esporádica ou permanente

de pessoal de fora.

Alguns destes:

 Centro Visvaram.

 Espaço Reviver.

 Instituto Avalon.

 Reeducação Holística

 Associação Palas Athena.

 Sol Sirius Espaço Holístico.

 Zeta 1 – Núcleo de Expansão Pessoal.

 Watam – Oficial Esotérica.

 Instituto Nacional de Parapsicologia e Psicometafísica.

3. CENTROS ESPECIALIZADOS:

São associações, institutos, escolas, clínicas voltadas para a pesquisa e ensino de temas “neo-

esotéricos”, treinamento ou aplicações de técnicas específicas como diferenciados tipos de danças, em

específico as orientais que visam o “sagrado feminino”, artes marciais, práticas terapêuticas como

acupuntura e massagens.

Estes centros podem comportar mais de uma atividade, porém, geralmente é a atividade principal é

que dá o nome a instituição, alguns exemplos destes:

 Associação Nacional de Acupuntura.

 Centro Paulista de Biodança.


 Associação Paulista de Tai-chi-chuan.

 CEATA – Centro de Estudos de Acupuntura e Terapias Alternativas.

 Centro de Eventos Educacionais e de Autoconhecimento.

 Centro de Kenko Shioda – massagem quiroprática.

 Centro Nacional de Numerologia.

 CEPEK – Centro de Pesquisa e Estudos Kirlian.

 Escola Gea-Astrologia.

 Instituto Internacional de Projecioologia.

4. ESPAÇOS INDIVIDUALIZADOS:

 Centro Especializado.

 Espaços Individualizados.

 Pontos de vendas.
CONCLUSÃO:

Portanto, ao fim desta pesquisa chegamos a determinadas considerações a que só chegamos


devido a um intenso processo de dedicação para a construção de uma pesquisa qualitativa,
antropológica e participante. Esforço que se traduziu em uma etnografia pautada na presença do
antropólogo em campo realizando não somente uma simples observação, mas uma real interação,
experimentação e participação efetiva junto ao grupo, para uma fiel experiência e a possibilidade de
entendimento e descrição do mesmo a partir da ideia do “de perto e de dentro”.

Através das observações, vivências, participações, interações e, principalmente, criação de


vínculos com os rosa-cruzes, pude perceber uma instituição filosófica, altruísta, iniciática, mística,
humanitária e acolhedora em todos os aspectos.

Nesse tempo de dedicação à realização da pesquisa a Ordem Rosa Cruz - AMORC não
proporcionou somente uma experiência etnográfica e antropológica, mas sim, um convite a uma nova
interpretação do mundo e das coisas, seja em um sentido filosófico, místico, antropológico ou esotérico.

Na promessa de acesso a “saberes ocultos”, a AMORC também oferece uma orientação,


acolhimento institucional e social, acesso a outras “câmaras de estudos esotéricos” e, é claro que não
devemos esquecer o que proporciona enquanto experiência de vida, aprendizado e evolução pessoal.

Dentro de um prisma antropológico perpassado por uma linguagem conceitual e acadêmica


podemos entender então a AMORC não só como uma instituição “esotérica” que perpassa pelo
movimento “neo-esotérico”, mas também, como uma instituição social que afirma obter um ensinamento
filosófico, místico e oculto e que o oferece a humanidade objetivando uma revolução de consciência.

Ainda mais, podemos perceber que o movimento rosacruciano proporciona uma espiritualidade
prática em forma de um misticismo templário e ritualístico e se mistura com uma religiosidade em forma
de práticas e rituais místicos. Embora possamos observar deste prisma; em respeito ao discurso da
mesma sobre si – considerando a definição do nativo sobre si mesmo; não devemos em hipótese
alguma reduzir ou categorizar o movimento Rosa Cruz como religioso.

Por fim, entendemos a Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz – AMORC através de uma teoria
antropológica que nos mostra um cenário social urbano, espiritualista e moderno.

O nosso objeto de estudo, a própria Ordem Rosa Cruz – AMORC de Londrina, nos serve como
exemplo para o entendimento de que existe um leque de sociedades iniciáticas historicamente
reconhecidas na humanidade e que essas revelariam uma “situação esotérica”, no entanto, com o
movimento de dessecularização e reencantamento do mundo a sociedade parte para outras
possibilidades de resolução dos problemas existenciais como a ciência e o ocultismo ou,
esotericamente, misticismo que é a oferta da experimentação direta do ser humano para com Deus.

Segundo a teoria que nos serve de apoio, em torno dessas religiões e sociedades esotéricas ocorre
um fluxo, um mercado ou trânsito religioso/espiritualista que especificamente adotaremos o conceito de
“neo-esoterismo” para a explicação e categorização deste fenômeno social com relação ao que foi
observado sobre a AMORC.

Por fim, entendo a ordem Rosa Cruz AMORC como uma instituição ou ordem esotérica histórica e
que devido ao cenário atual da oferece uma abertura de ingresso na senda espiritual de forma concreta
através da iniciação.

Quod est superius est sicut quod est inferius,

Quod est inferius est sicut quod est supra.


REFERENCIAS:

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BLOG ROSACRUZ - Breve Simbolismo de um Templo Rosacruz, AMORC -

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REVISTA - O PENTÁCULO – Tradicional Ordem Martinista – T.O.M – ANO II. Nº

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REVISTA - O ROSACRUZ – Misticismo, Ciência, Arte e Cultura – Curitiba – PR –

Primavera 2016.

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