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ETNOGRAFIA E OCULTISMO:
Londrina
- 2018 -
ISMAR RUFFATO NETO
ETNOGRAFIA E OCULTISMO:
Londrina
- 2018 -
Ismar Ruffato Neto
ETNOGRAFIA E OCULTISMO:
PROFESSOR ORIENTADOR:
BANCA EXAMINADORA:
Giovanni Cirino
Fábio Lanza
Londrina
- 2018 -
DEDICATÓRIA:
Londrina.
especialmente minha tão amada mãe, Maria Vilma de Oliveira Ruffato, meu pai,
Nilton Cesar Ruffato e meu irmão Gabriel de Oliveira Ruffato, assim como
também, com grande importância ofereço esta obra a minha tão querida avó
aos meus avós maternos, Maria do Carmo Moço de Oliveira e Pedro Moço de
Oliveira.
real no aprendizado humano e social, desta forma, afirmo que sou completamente
E por último e com certeza não menos importante dedico este ensaio
pesquisa antropológica.
RESUMO:
PALAVRAS CHAVE:
ABSTRACT:
KEY-WORLDS:
INTRODUÇÃO -------------------------------------------------------- 09
CAPITULO 1
- OBJETIVOS --------------------------------------------------------- 14
CAPÍTULO 2
- MONOGRAFIA I ---------------------------------------------------- 27
- MONOGRAFIA II ---------------------------------------------------- 44
- MONOGRAFIA IV --------------------------------------------------- 51
CAPÍTULO 3
INTRODUÇÃO:
existência, em outras palavras, quem sou eu? De onde eu vim? Para onde devo ir? Para onde vou? O
que é a vida? O que é a morte? Afinal, existe algo além desta vida? Existe algo sobrenatural?
que abarca o totemismo2, a magia3, a mitologia4, a filosofia, as religiões, a ciência e mesmo assim ainda
hoje busca incessantemente descobrir cada vez mais sobre a sua própria natureza, sobre si mesmo,
sobre o universo, o espírito, a matéria; enfim, inquietações que podem perdurar uma vida inteira ou
Uma dessas vias de entendimento ou sistemas de crenças utilizadas pelo ser humano foi o
e o profano, até mesmo tentando influenciar os acontecimentos através da imposição da vontade ou ter
auxílio ou contato com algo sobrenatural. Nessas práticas a humanidade ao menos refletia sobre além
1 Ismar Ruffato Neto: Licenciado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina – UEL. ismar.irn@gmail.com.
2 Totemismo: é um conjunto de ideias e práticas baseadas na crença da existência de um parentesco místico entre seres humanos e
objetos naturais, como animais e plantas. O conceito refere-se a uma ampla variedade de relações de ordem ideológica, mística,
emocional, genealógica e de veneração entre grupos sociais ou indivíduos específicos e animais ou outros objetos naturais, que
constituem o totem. O termo deriva da palavra “ototeman”, do idioma dos índios algonquinos, do leste dos Estados Unidos. A raiz
gramatical ote indica uma relação de sangue entre irmãos e irmãs, filhos da mesma mãe, que não podem se casar entre si.
3Magia: arte, ciência ou prática baseada na crença de ser possível influenciar o curso dos acontecimentos e produzir efeitos não naturais,
valendo-se da intervenção de seres fantásticos e da manipulação de algum princípio oculto supostamente presente na natureza, seja por
meio de fórmulas rituais ou de ações simbólicas.
4Mitologia: Reunião que contém os mitos de um povo; conjunto das narrativas fantásticas e simbólicas que explicam os fenômenos a
partir de entidades sobrenaturais; o estudo desses mitos e de sua evolução.
5 Misticismo: União ou aproximação/experiência do Ser Humano com Deus.
de sua existência neste mundo, sobre os planos sutis da natureza e suas concepções de realidade
extrafísica.
Sobre o prisma dos conceitos de religião e misticismo, analisamos o objeto estudado, tomando o
cuidado para a utilização dos mesmos nas formas de interpretação e escrita especificamente sobre a
distinção do objeto para com o fenômeno religioso, pois, segundo Maluf (2011, p.08):
Sobre este dilema conceitual que trata a situação de tentativa de enquadramento do objeto no
conceito de religião, afirmamos que se torna explicitamente necessário primeiro a análise criteriosa que
objetiva conhecer a fundo as características e manifestações do mesmo, para que só depois possamos
categoriza-lo ou defini-lo como religião ou não. Mesmo o objeto apresentando de antemão moldes,
Buscamos com a pesquisa aprofundar percepções e reflexões para com a forma, definição e
conceituação na explicação do fenômeno a fim de explica-lo da mais fidedigna forma ou obter um prisma
que nos aproxime o máximo possível da realidade observada através da antropologia, em específico,
participações em campo começaram a partir do segundo semestre de dois mil e dezesseis 06/2016,
que perdurou até setembro de dois mil e dezoito – 09/2018, no que se refere ao processo de
aproximação do objeto, à visita ao campo para a - coleta de dados etnográficos -, período que não
Ademais, mesmo com as barreiras próprias e as dificuldades de se realizar este tipo de pesquisa,
ainda mais com a particularidade do objeto estudado – uma sociedade místico-esotérica supostamente
esotérica, cujas atividades são reservadas somente aos seus membros iniciados e adeptos de seus
estudos e práticas espiritualistas – afirmamos então que a construção de uma observação participante
que auxiliasse na compreensão do fenômeno analisado, no caso a AMORC 6 – Antiga e Mística Ordem
Rosa Cruz – Jurisdição da Língua Portuguesa – Londrina – PR, foi de extrema importância no que diz
respeito às oportunidades de interação e contato direto com o objeto a partir das ferramentas que essa
No decorrer da construção da pesquisa buscamos estabelecer relações sociais que por suas
vezes, proporcionaram a criação de vínculos de sociabilização com o objeto, tendo estas vivências
como pesquisador participante como um norte para a explicação do que é a AMORC, observando-a a
partir das fundamentações e parâmetros próprios do objeto, obtidos através de participação e vivência
em campo.
pesquisa das ciências sociais, especialmente a antropologia, neste caso específico a etnografia,
6 AMORC: Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz AMORC – A Ordem Rosacruz, AMORC, é uma organização internacional, de caráter
cultural, fraternal, não-sectário e não-dogmático, de homens e mulheres dedicados ao estudo e aplicação prática das leis naturais que
regem o universo e a vida. Seu objetivo é promover a evolução da humanidade através do desenvolvimento das potencialidades de cada
indivíduo e propiciar uma vida mais harmoniosa para alcançar saúde, felicidade e paz. Para esse objetivo, a Ordem Rosacruz oferece um
sistema eficaz e comprovado de instrução e orientação para o autoconhecimento e a compreensão dos processos que determinam a
mais alta realização humana. Essa profunda e prática sabedoria, cuidadosamente preservada e desenvolvida pelas Escolas de Mistérios
esotéricos estão à disposição de toda pessoa sincera, de mente aberta e motivação positiva e construtiva.
afirmamos que as duas foram o suporte que sustentaram todas as observações, análises, explicações
sobre o objeto, isto é, foram filtradas sob um prisma epistemológico e próprio da antropologia no
modo de se realizar uma pesquisa qualitativa. Contudo, todos os cuidados foram tomados para que não
senso comum, ou cometer práticas etnocêntricas7 sobre o objeto, ou seja, impregnar sentidos e valores
Contudo, não podemos deixar de mencionar que, apesar de estarmos dialogando com conceitos
Urbana, uma vez que o campo se refere a um espaço delimitado no município de Londrina 8 - Paraná;
sociedade contemporânea, neste caso específico uma pesquisa que estuda movimento neo-esotérico
Neste sentido, através do amparo na bibliografia antropológica de autores como José Guilherme
Cantor Magnani, Sônia Weidner Maluf, Roberto Cardoso de Oliveira sob a orientação do Professor Dr.
Celso Bezerra de Menezes – Universidade Estadual de Londrina - UEL, pudemos obter uma base
teórico metodológica o que balizou a pesquisa no seu sentido conceitual, epistemológico e cientifico;
da mesma forma, Kennyo Ismail e Silvana Gobbi Martinho nos auxiliaram no que remete às informações
7 Etnocentrismo: Atitude emocionante condicionada que leva a considerar e a julgar sociedades culturalmente diversas com critérios
fornecidos pela própria cultura. Assim compreende-se a tendência para menosprezar ou odiar culturas cujos padrões se afastam ou
divergem dos da cultura do observador que exterioriza a atitude etnocêntrica. À medida que classes e grupos da mesma sociedade
desenvolvem padrões culturais diversos, vão surgindo atitudes etnocêntricas que se prendem às diferenças de profissão, nível econômico
e profissional. Preconceito racial, nacionalismo, preconceito de classe ou profissão, nível econômico e profissional, intolerância religiosa
são algumas formas de etnocentrismo.
8Londrina: Município do estado do Paraná, na Região Sul do Brasil, distando 381 km da capital paranaense, Curitiba. Tem uma população
estimada em 563 943 habitantes, sendo a segunda cidade mais populosa do estado e a quarta da Região Sul, depois da capital estadual,
Curitiba, de Porto Alegre e Joinville.
específicas com as temáticas esotéricas, especificamente sobre a Maçonaria9, Tradicional Ordem
Martinista - TOM e denominações ligadas ao movimento Rosa Cruz, assim como também arquivos
(artigos, revistas, apostilas e livros) colhidos direto da participação em campo e nos sites institucionais,
Analisando a AMORC – Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz – Jurisdição de Língua Portuguesa –
Londrina – PR, buscaremos interpretar o incógnito, o oculto, o místico, ou o social e o religioso da cidade
de Londrina quando se trata de assuntos esotéricos e ocultistas. No entanto, não cabe a esta pesquisa
entrar em méritos de verdade filosófica/religiosa, nem muito menos julgar os acertos de seus rituais
9Maçonaria: Sociedade discreta, em que as ações são reservadas apenas àqueles que dela participam. A maçonaria é uma sociedade
universal, cujos membros cultivam o aclassismo, humanismo, os princípios da liberdade, democracia, igualdade, fraternidade e
aperfeiçoamento intelectual.
10 Magia Cerimonial: Magia cerimonial ou magia ritual é o nome dado a uma arte que engloba ampla variedade de rituais de magia
complexos, elaborados e longos. Os trabalhos incluídos são caracterizados pela cerimônia e uma parafernália de vários acessórios
necessários para ajudar o praticante, com objetivos tais como invocar forças ou entidades através de fórmulas. Tornou-se parte do
imaginário do ocultismo e esoterismo ocidental. Popularizada pela Ordem Hermética da Aurora Dourada, abrange modernamente vários
sistemas mágicos, nos quais se considera constituída de Rito e Ritual.
CAPÍTULO I
- OBJETIVOS:
Nossa pesquisa objetivou a entender critérios mais humanos do que espirituais, isto é, nos
atribuídos pelos iniciados e membros da instituição a própria ordem místico-filosófica que fazem parte,
tendo como questão central por parte do pesquisador a observância da organização institucional,
buscando no grupo ações que criam os sentidos e atos simbólicos -, assim como também, - analisar o
funcionamento institucional, o perfil social dos membros, sua origem histórica; compreender a relação
“transcende” o social, isto é, o que é capaz de produz efeitos nas esferas de relações, ações e
comportamento dos indivíduos no ciclo ou campo social estudado, ensaiar critérios e categorias de
análises para propor explicações sociais acerca do fenômeno; para que assim possamos distingui-lo
de explicações com cunho de senso comum, que muitas vezes acontecem através de discriminação
religiosa, ou seja, objetivamos explicar de forma minuciosa o que é a AMORC refletindo a possibilidade
de denominá-la ou categorizá-la como uma instituição social, mística, filosófica ou religiosa e analisar
esoterismo11 e neo-esoterismo12.
campo – conhecer, experimentar e descrever a AMORC – Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz - Londrina
11 Esotérico: No campo das religiões e sistemas iniciáticos, esotérico tem uma aplicação bastante precisa: designa aqueles rituais e
elementos doutrinários reservados a membros admitidos em um círculo mais restrito.
12Neo-esoterismo: Propõe separar o conhecido também como “misticismo”, “práticas alternativas” e até “New Age”, ou “Nova Era”, do
uso tradicional da palavra “esotérico”.
PR, através da teoria antropológica, isto é, absorver referências bibliográficas e experiências em campo
suficientes para aplicar, estabelecer análises e construir categorias de explicação para o fenômeno do
explicativos, conceitos ou categorias de análises para uma possível explicação do fenômeno estudado
de maneira que possamos entender a sua ligação para com o fenômeno social e religioso, pois, de
Não buscamos a denominação ou categorização como Nova Era, pois, no decorrer das
aproximações e entendimentos sobre o objeto percebemos claramente seu caráter sério, tradicional,
iniciático e esotérico, e entendemos “nova-era” mais como uma denominação genérica que se aproxima
O que há de diferente ou novo na AMORC são suas práticas sobre a expectativa de angariar novos
membros para seu círculo místico e que nesse processo de abertura acontece o que podemos
categorizar como movimento “neo-esotérico”, sendo esse uma forma moderna de “misticismo urbano”,
13Esoterico: é o nome genérico que evidencia um conjunto de tradições e interpretações filosóficas das doutrinas e religiões - ou mesmo
das Fraternidades Iniciáticas - que buscam transmitir um rol acerca de determinados assuntos que dizem respeito a aspectos da
natureza da vida que estão sutilmente ocultos. Um sentido popular do termo é a percepção de que transmitem um conhecimento
enigmático ou incomum, sempre com vetor oculto. Segundo alguns, o esoterismo é o termo para as doutrinas cujos princípios e
conhecimentos não podem ou não devem ser “vulgarizados”, sendo comunicados a um restrito número de partidários adeptos.
como um processo de democratização do conhecimento que até então era reservado somente aos
iniciados. É claro que essa abertura se dá de forma gradual de acordo com as iniciações e empenho e
inserção do neófito ou buscador, pois, segundo os rosa-cruzes “o processo de busca interior é gradual
adequado”.
Constituímos uma etnografia analisando as especificidades do objeto para que a partir das
interpretações e análises do pesquisador refletirmos a possibilidade de entender cada vez mais sobre
o grupo estudado, para que assim estabeleçamos um diálogo conceitual sobre tal fenômeno, onde
enquadramos a instituição AMORC – Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz R+C – Jurisdição da Língua
Portuguesa; Londrina – PR, como uma instituição esotérica que proporciona um fluxo neo-esotérico.
Os principais recursos que foram trabalhados para a apreensão ou percepção da realidade tomamos
sociocultural.
construção de uma teoria social acerca do fenômeno estudado - e questionando sobre a possibilidade
etnocentrismo14; ao mesmo tempo buscando descrever o objeto através dos sentidos experiência se e
interações do pesquisador para com o campo; onde sempre foi buscada a cautela para não impor algum
14 Etnocentrismo: A palavra etnocentrismo designa uma forma de enxergar outra etnia (e suas derivações, como cultura, hábitos, religião,
idioma e formas de vida em geral) com base na etnia própria. A visão etnocêntrica de mundo não permite ao observador de uma cultura
reconhecer a alteridade e faz com que ele estabeleça a sua própria cultura como ponto de partida e referência para quantificar e qualificar
as outras culturas. Disso se resulta, grosso modo, que o observador etnocêntrico vê-se como superior aos demais em aspectos culturais,
religiosos e étnico-raciais.
tipo de impressão, crença ou característica subjetiva do imaginário do pesquisador no objeto, pois desta
informais com o público e com os informantes, anotações em diário de campo, estudos de documentos
oferecidos pelo objeto e participação em eventos abertos denominados - Câmara Externa” -, e sobre a
luz disso explicaremos como a Rosa Cruz - AMORC Londrina-PR -, se apresenta ao público externo da
ordem, isto é, aos não iniciados, “buscadores15”, ou aos outros indivíduos da cidade de Londrina o que
meramente importantes, informações provenientes de uma relação íntima do pesquisador com objeto,
antropológica de gabinete” ou até mesmo uma análise quantitativa que não tenha caráter e rigor
15Buscadores: indivíduos preocupados com o fator espiritual e desenvolvimento do ser humano, que busca uma espiritualização ou
respostas para questões existenciais.
A ETNOGRAFIA
“O olhar de fora”
A Loja Rosa Cruz - AMORC de Londrina fica posicionada na região centro/sul da cidade em um
bairro histórico e padronizado de classe média com casas antigas e de arquitetura que relembra as
casas dos anos de 1980. Percebemos que é um bairro familiar e bem arborizado, fica próximo a
avenidas principais e grandes estabelecimentos de comercio, ou seja, é uma instituição muito bem
localizada e privilegiada no mapa urbano da cidade, logo, consequentemente temos uma prévia
percepção dos perfis de seus membros que em parte moram próximos à instituição.
Ao chegar a Loja Rosa Cruz AMORC – Londrina -, nos deparamos com uma grande instalação aos
moldes da arquitetura egípcia, que lembra seus antigos templos com as inúmeras deidades de seu
panteão.
Basicamente, o prédio conte uma fachada com duas colunas largas de aproximadamente quatro
metros de comprimento, de cor rose, que contrasta com o verde do um pequeno jardim a sua frente
onde podemos ver as rosas vermelhas, flores que carregam significados especiais em meio aos
rosacruzes. Como um vão ou uma senda ao meio das colunas temos o acesso ao portão principal.
Ao entrar na loja o visitante se depara com uma grande escadaria que permite o acesso ao piso
inferior da instituição, onde ficam outras instalações do prédio, como escritório, recepção, biblioteca,
sala das atividades da Tradicional Ordem Marinistas – TOM16 e banheiros. Se continuarmos após os
16Tradicional Ordem Martinista – TOM: Ordem místico-esotérica com linha teúrgica direta de Louis Claude Saint Martin, que se
concretizou e que se encontra atualmente sob a égide da AMORC. O Martinismo é uma corrente de pensamento com base na teurgia e
no esoterismo; um movimento espiritual, conotado com o misticismo judaico-cristão.
Antes mesmo dessa escadaria para os pisos inferiores, ainda no alto, temos à direita uma sala de
recepção e, dentro desta, uma porta que dá acesso a outra, a sala de palestras ao público externo e à
esquerda, ainda no corredor principal de frente a porta da recepção, encontramos a primeira porta do
Na prática a Câmara Externa da AMORC é uma espécie de antecâmara que encontramos antes do
templo principal da loja. Esta antecâmara serve de espaço de reflexão e preparação do corpo, como a
lavagem das mãos e a o ato de se beber água como modo de purificação antes dos trabalhos espirituais,
assim como também à ornamentação com os paramentos como aventais e robes dos membros e
posteriormente seguem para os rituais reservados somente aos iniciados com suas práticas místicas e
ritualísticas.
Em alusão a isto, quando na pesquisa remetemos também à Câmara Externa, nas maiorias das
vezes estamos nos referindo um grupo específico de pessoas que não são buscadores comuns, mas
sim, pessoais realmente interessadas e compromissadas com o ingresso na ordem. Neste sentido, é
extremamente relevante afirmar que nos momentos de se fazer pesquisa participante sempre tivemos
como intuito o máximo de inserção no grupo. Deste modo, conseguimos ser reconhecidos e acolhidos
ao ponto de adquirirmos um material específico para as introduções à Ordem Rosa Cruz - AMORC e
Este material foi recebido em um envelope onde constava o selo internacional da ordem,
especificando que o material era da Jurisdição de Língua Portuguesa, uma vez que a AMORC é uma
instituição universal e que se organiza neste âmbito a partir das línguas, no caso do Brasil ficando no
bloco de países que falam o idioma português juntamente com Portugal e Angola.
Para entendermos melhor os termos utilizados pelos rosa-cruzes, devemos ter a clara ideia do que
Segundo os rosa-cruzes, o buscador é aquele que não se limita com as explicações postas
atualmente pelas instituições religiosas, acadêmicas e sociais sobre a realidade física, social e espiritual
da vida do homem, ou seja, é aquele que constantemente questiona a origem e o “porquê” das coisas,
um investigador do mundo e de si mesmo. O buscador quando opta por trilhar a senda iniciática se
transforma no Adepto17, que é aquele que se propõe seriamente na busca pelo autoconhecimento e
conhecimento das coisas superiores e sobrenaturais dentro de uma orientação de uma determinada
Já o Iniciado18 é aquele que durante a busca pela iluminação e autoconhecimento já passou pela
renascimento do indivíduo como um processo de transição ou rito de passagem de uma vida antiga
para outra vida renovada e espiritualizada, isto é, o indivíduo que se propõe a iniciação deve ter em
mente que sua personalidade deve morrer em virtude do renascimento de um novo homem com novos
propósitos e acesso e entendimento das leis cósmica e espirituais e a dissolução do ego em prol do
benefício do todo.
sentido de infiltração e interação com o grupo estudado em forma de objeto de pesquisa antropológica,
no caso a AMORC.
Segundo as próprias definições do campo estudado, a Ordem Rosa Cruz – AMORC é uma
organização de caráter místico filosófico, com sede mundial na Califórnia, Estados Unidos da América,
onde foi fundada nos anos 1915, tendo como missão o auxílio no despertar do potencial interior de cada
17 Adepto: Indivíduo que adere determinadas práticas sob orientação de alguma filosofia, religião ou escola esotérica.
18Iniciado: Indivíduo que recebeu os ensinamentos, as práticas de um culto, de uma religião, seita, ordem etc.; aquele a quem os
mistérios de um culto foram contados.
ser humano, promovendo uma associação institucional e fraternal que respeita a liberdade de
pensamento e crença dos seus membros através da prática mística da tradição e cultura rosacruciana.
AS ORDENS ROSACRUCIANAS:
Uma grande percepção a qual a pesquisa proporciona é sobre as distinções a qual Antiga a Mística
Ordem Rosa Cruz – AMORC apresenta comparadas as outras denominações rosa-cruzes, que
Diante desses documentos publicados surge-se uma tradição mística rosacruciana que toma
diversas linhas de pensamentos distintos de acordo com influências regionais, filosóficas e territoriais,
mas que mantem o mesmo apreço pela prática mística nos modelos da Rosa e da Cruz. Neste sentido,
queremos dizer que a prática rosacruciana é única e original, e que no desenrolar histórico diversas
fraternidades esotéricas se formaram a partir desta prática mística, porém, com diversas vertentes de
estudos e linhas de pensamento, sendo dividida ou categorizada em ordem rosa cruz hermética22,
denominações inicáticas.
Sabe-se que dentro das principais potências maçônicas reconhecidas, em seus ritos
encontramos o 12° Grau de Cavaleiro Rosacruz e segundo Kennyo Ismail, os primeiros homens que
1800 (sociedade rosacruciana reservada apenas para maçons de 33° Grau – Mestre Maçom).
A partir daí, surgiram várias outras denominações rosa-cruzes no mundo todo, todas surgidas a
partir dos três manifestos citados anteriormente, dentro destas as mais notáveis e consequentemente
23 Cabala: Esoterismo judaico que promove a conexão entre o espírito humano a Deus.
24Thelema: Filosofia deixada por Aleister Crowley através do Livro da Lei ou Liber Al Legis.
25 Gnosticismo: Busca por conhecimento espiritual e divino através de experiências, sentimentos pessoais e intuitivas.
26Mística: Estudos e práticas que permitem a comunicação direta o homem e o divino sem intermediários ou interlocução de um sistema
religioso dogmático.
27Maçonaria: Sociedade discreta, em que as ações são reservadas apenas àqueles que dela participam. A maçonaria é uma sociedade
universal, cujos membros cultivam o aclassismo, humanismo, os princípios da liberdade, democracia, igualdade, fraternidade e
aperfeiçoamento intelectual.
28 Teosofia: União entre religião e filosofia, e ao conhecimento das coisas divinas, proporcionado por Deus através de uma inspiração
direta. Nesse mesmo sentido, foi retomado na modernidade, após o período renascentista, pelo místico protestante Jacob Böhme (1575
– 1624).
29 Rosa Cruz Áurea: fundamenta-se no cristianismo gnóstico e possui fortes influências do catarismo e do hermetismo. Divulga a
possibilidade da libertação da roda da vida e da morte por meio de um processo de purificação e subsequente transfiguração - a qual
se inicia com a revivificação da centelha divina adormecida no coração dos homens.
Ordem Rosacruciana de Apha e Omega – ROAO – 1900.
primeiras informações sobre a instituição, como um convite para conhecer a filosofia Rosacruz aos
moldes da AMORC.
- Maior compreensão da realidade física, mental e espiritual com ensinamentos acerca das leis
naturais (natureza – física e química) e das leis cósmicas (espirituais) – herméticas e alquímicas.
- Ampliação da Consciência.
E para que possamos ter uma apresentação com as palavras da própria instituição estudada:
TEXTO INSTITUCIONAL:
A Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis – AMORC, Grande Loja da Jurisdição de Língua
Portuguesa, é uma organização mística, iniciática, fraternal, de caráter e de atividades templárias,
beneficente, caritativa, educacional, cultural e científica, sem fins econômicos, visando operacionalizar
e administrar a Tradição Rosacruz nos termos e limites estabelecidos pela Suprema Grande Loja da
Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis, AMORC, sediada em San Jose, Califórnia, EUA, tendo por fins:
1- Difundir o ideal místico e metafísico através de uma filosofia prática e de um processo iniciático
destinado a despertar as faculdades latentes do ser humano, com fundamento na orientação
rosacruz;
2- Cultuar, ensinar, promover e perpetuar os princípios e leis tradicionais dos Rosacruzes e Martinistas,
conforme aplicáveis às condições e necessidades modernas;
5- Cooperar com todas as entidades cujos fins estejam de acordo com os da AMORC e a favor da
melhoria da humanidade;
A AMORC-GLP cumpre esses fins por meio de um sistema de instrução e ensino, podendo
propagar os ensinamentos através de monografias, livros e periódicos editados por si ou por terceiros,
ou mediante todas as formas de comunicação, transmitindo o conhecimento teórico e a aplicação
prática das leis divinas, cósmicas e naturais que se manifestam no universo, em torno do ser humano
e nele próprio.
A seguir, analisando o material que nos serve de base para conhecermos o objeto nos deparamos
com a primeira Monografia para a Câmara Externa.
CAPÍTULO 2 – MONOGRAFIAS
MONOGRAFIA I
A partir dos materiais ofertados pela instituição para aqueles que estão seriamente interessados a
iniciar uma jornada na senda esotérica Rosa Cruz, isto é, as Monografias30 (livretos, apostilas e
pequenos livros iniciais), buscamos informações necessárias para responder algumas perguntas
básicas sobre o que de fato é AMORC e o que ela almeja oferecer apara aquele que busca algum tipo
institucionais, isto é, entender o funcionamento, práticas e princípios filosóficos a partir das respostas
do próprio objeto, sendo que, além de contarmos com momentos de estadia em campo – visitas a
que nos ancoraram, assim como também em uma literatura específica para quem inicia a busca sobre
esoterismo tradicional.
através dela e das estadias em campo, transcrições de caderno de campo e juntamente com o
direcionadas aos buscadores da Câmara Externa31 AMORC, podemos conseguir uma aproximação
além do “buscador comum”, isto é, uma das preocupações teóricas deste trabalho é exatamente discutir
propiciar uma análise mais profunda e detalhada do objeto, tentando aplicar um olhar técnico,
sistemático e referencial com o intuito de captar muito mais informações caso estivéssemos procurando
30 Monografia Rosa Cruz – AMORC: Conjunto de cinco livretos que são ofertados aos buscadores membros da Câmara Externa.
31 Câmara Externa: Grupo específico de buscadores reconhecidos pela Ordem Rosa Cruz AMORC.
por uma simples razão filosófica, pessoal, religiosa ou existencial, pois dessa forma não enxergaríamos
como Tradição Primordial, definindo-a como uma tradição primeira que deu origem a todas as
[...] Há uma tradição que está além de nosso planeta. Ela corresponde
a uma intenção diretora que se manifesta pela Sabedoria e pela
Inteligência. A primeira expressão destes dois atributos é o que
chamamos de Tradição Primordial. Dela se originou todas as escolas
iniciáticas e esotéricas, as religiões reveladas, enfim, todo o trabalho
de construção da Grande Obra. Na realidade, estas organizações, sob
várias denominações, constituem um grande esforço para o
desenvolvimento do espírito humano e o bem do planeta numa
verdadeira Fraternidade Branca32 [...] MONOGRAFIA I. p. 01.
somente estas informações ainda não suportam a afirmação de que a Ordem Roa Cruz AMORC é uma
fraternidade exclusivamente esotérica, religiosa, mística ou filosófica, neste sentido aprofundamos nos
próprios relatos e descrições defendidas pela AMORC em seu próprio manifesto introdutório para todo
[...] Descobri que existe um grandioso e divino Plano. Dei-me conta que o
nosso universo não está formado por “um fortuito conglomerados de
átomos”, mas que um desenvolvimento de um grande desenho, regra para
a glória de Deus. Descobri também que a raça humana atrás de outra tem
desaparecido em nosso planeta e que a cada civilização e cultura tem visto
a humanidade dar um passo mais avançado no caminho de retorno à
Deus. Depois descobri que existem aqueles que são responsáveis pelo
desenvolvimento do Plano Divino, que passo a passo e etapa após etapa
tem guiado o gênero humano no transcurso dos séculos. Fiz um
descobrimento assombroso porque pouco sabia, que ensinamento sobre
este Plano Divino ou Caminho Iniciático era idêntico, já fora apresentado
no Ocidente e no Oriente ou dividido antes ou depois da vinda do Cristo
[...] – BAILEY, Alice A. 1980, pg. 106. – apud, MONOGRAFIA 1 – p. 03.
32Grande Fraternidade Branca: Hierarquia de seres espirituais que constituiria o "governo interior" do planeta. Tais seres possuiriam
grande poder, passando ensinamentos espirituais através de seres humanos selecionados. Tais seres são chamados de Mestres da
Sabedoria Antiga ou Mestres Ascensionados.
Analisando este trecho do início da Monografia I percebemos a ideia de Deus, logo, por senso
comum automaticamente correlacionamos estes assuntos com religião, no entanto, já se é sabido que
a AMORC não se apresenta como uma instituição religiosa, neste sentido como definiremos a
Ainda mais que no trecho analisado percebemos além da ideia de Deus, a ideia de que os
ensinamentos transmitidos pela instituição são norteadores para o futuro aparentemente próspero da
própria humanidade, isto é, um futuro espiritual, religioso, social e político que depende somente do
próprio gênero humano. E de alguma forma isso não soa dentro de um caráter religioso?
instituição para propormos uma explicação científica, da mesma forma que a partir dos relatos e
afirmações fidedignas o objetivo da pesquisa foi buscar e identificar informações que nos serviram de
base para estipular uma resposta sobre “o que afinal é a instituição AMORC” para a explicação
antropológica: uma seita? Uma instituição social? Uma escola de filosofia clássica, hermética ou
Contudo, para a resposta destas inquietações nos aprofundamos ainda mais nos documentos que
nos foram proporcionados nos momentos de inserção em campo, isto é, continuamos nos apoiando
Neste sentido, através das palavras do líder responsável pelas jurisdições de língua portuguesa,
isto é, as mais notáveis: Angola, Portugal e Brasil, Hélio de Moraes Marques nos afirma que:
[...] Esta primeira monografia introdutória tem por objetivo demonstrar que
as escolas esotéricas autênticas e tradicionais não existem por iniciativa
de um homem ou de um grupo, mas são desígnios cósmicos que cumprem
seu papel através deles, para auxiliar o bem do planeta e dar sua parcela
de contribuição para aquilo que os místicos chamavam de Magnus Opus,
que é, em última análise, a Grande Obra que os homens e mulheres de
boa vontade procuram realizar. Sua gênese está na Inteligência e
Sabedoria do Criador, que se manifesta desde os primórdios em uma
Tradição Primordial. MONOGRAFIA 1 – p. 05.
Inicialmente podemos entender Tradição Primordial como uma tradição milenar que situa
conhecimentos místicos e esotéricos milenares que foram transmitidos para humanidade através destas
escolas de mistérios, acreditando-se que tais conhecimentos foram entregues aos antigos iniciados
séculos.
Mesmo assim, a instituição não se define como instituição religiosa por ausência de dogmas,
uma vez que a mesma afirma e defende o oposto a isso, isto é, cada indivíduo deve ter seu processo
aprisionando-os em verdades irrevogáveis. Isso nos faz lembrar os lemas institucionais que afirmam
“um Deus do meu coração (sentimento) e da minha compreensão (razão)” ou “a mais ampla tolerância
33Avatar: Descida de um ser divino/espiritual à terra, em forma materializada, como por exemplo, para os hindus são Krishna e Rama,
são avatares do deus Vixnu; os avatares podem assumir a forma humana ou a de um animal.
O CAMINHO DA LUZ:
instituição AMORC e através das participações em campo para a construção etnográfica, isto é, eventos
abertos ao público externo não iniciado, confraternizações, cafés filosóficos e rituais místicos aberto ao
posicionamento institucional de que a humanidade necessita de uma orientação moral e espiritual para
o desenrolar do seu desenvolvimento na Terra, acreditando que a saída para mazelas sociais como
humana como um todo, isso se daria através do conhecimento e da prática altruística no trabalho
Diante deste trecho podemos perceber uma grande preocupação da instituição para com os
rumos e futuro da humanidade, isto é, ao passo do desenvolvimento capitalista que dita as regras de
Neste sentido, a ordem Rosa Cruz AMORC preza pelo resgate dos valores espirituais e coletivos
para com a raça humana, e segundo a mesma, oferece conhecimentos e práticas capazes de
proporcionar esta evolução de consciência e conjuntamente a isso a evolução da consciência humana
Uma das mais pertinentes problemáticas desta pesquisa é como definir e explicar a instituição
AMORC dentro de um prisma social e antropológico, uma vez que a instituição apresenta vários indícios
de organização religiosa, sendo que ao mesmo tempo não se declara uma instituição religiosa. No
entanto, apresenta discussões altruístas, espiritualistas, metafísicas e falam sobre Deus, ou seja,
Diante disso encontramos na Monografia I uma afirmação interessante que afirma sobre a definição
A partir disso podemos ter noção do tamanho problema e dificuldade sobre o enquadramento da
instituição analisada nos conceitos antropológicos, desta ou daquela linha de pesquisa. Diante disso
tornou-se necessário refletirmos sobre a própria prática antropológica clássica que preza que as
que ao próprio texto etnográfico. Partindo desse pressuposto afirmamos que existe uma extrema
Analisando o símbolo que também é o nome da ordem, percebemos dois símbolos interligados, a
Rosa e a Cruz, sendo prudente lembrar que segundo a ordem a cruz em si não tem nenhuma ligação
direta com o cristianismo. Segundo os rosa-cruzes a cruz representa o corpo material e suas ligações
com o mundo físico, os quatro elementos, os quatros pontos cardeais, os quatro pontos do quadrado
EM BUSCA DA LUZ:
A Ordem Rosa Cruz AMORC se denomina como uma “ordem iniciática” que objetiva a busca a Luz
ou, no caso, também o conhecimento e a evolução através dele, ou seja, o objetivo maior seria a
Para entendermos a história e concepção de origem do movimento rosacruz no mundo temos duas
antigo em 1353 a.C pelo Faraó Amenhotep que também é conhecido como Akhenaton; e a segunda
remonta ao Século XVII, quando se torna público na Europa três manifestos Rosa Cruzes: Fama
(1616).
Para os rosa-cruzes ligados a AMORC as duas vertentes são verdadeiras, uma remontando sua
origem real e mística e a outra o momento em que os rosa-cruzes até então ocultos resolvem se
manifestar em público em favor e alerta à sociedade não iniciada. Toda via, os rosa-cruzes modernos
ligados a AMORC continuam tendo o Faraó Akhenaton como o grande primeiro iniciado e iniciador nos
mistérios da vida, o grande iluminado é reconhecido por que percebeu e pregou que havia um deus –
Atom - acima de todos os outros deuses do panteão egípcio, causando assim grande revolução de
ideias e também de consciência, no mesmo tempo que causava grande revolução política e institucional
na época, o que veio culminar em seu assassinato devido a interesses políticos do Egito Antigo com
contudo, contando com esta tradição milenar os rosa-cruzes ligados a AMORC seguem um calendário
próprio onde afirmam estar no ano de 3.371, sendo que o ano novo da ordem é comemorado em março
planeta Terra.
O EGITO ANTIGO E AS ESCOLAS DE MISTÉRIOS:
revolução de consciência humana iniciada pelo Faraó Amenhotep, o que mais tarde culminaria na
Segundo a Monografia I, no começo da 18º dinastia (1550 a.C a 1295 a.C), os egípcios haviam
renascimento europeu.
arte e religião, eram tidos com mistérios, logo, não deveriam ser entregues a todos. Inicialmente os
conhecimento esotérico das leis naturais dos cosmos e dos propósitos da vida e do ser humano.
câmaras secretas do faraó reinante, essas classes foram aos poucos se tornando cada vez mais
seletas, o estudo mais aprofundado e as discussões tão dialéticas que acabaram dando origem a uma
Por volta de 1.500 antes da era cristã, o Faraó Tutmés III reuniu essas Escolas de Mistérios em
uma única Ordem regida pelas mesmas normas como forma de unificação e organização das mesmas.
Um século mais tarde o Faraó Amenhotep IV, mais conhecido como Akhenaton, criou um ensinamento
único para essa Ordem destinada somente aos iniciados, ao mesmo tempo iniciou uma campanha
revolucionária monoteísta em pleno auge dos panteões do Egito sendo assim os alicerces do
Segundo a Ordem Rosa Cruz AMORC a Grande Fraternidade Branca representa toda egrégora34
sendo esta o conjunto de todas as religiões monoteístas, doutrinas místicas e esotéricas provenientes
da sabedoria das mentes iluminadas ao longo dos séculos. O aspecto visível e material da Grande
Fraternidade Branca são as Grandes Lojas Brancas e em plano astral35, o Colégio Invisível dos Mestres
Notamos então uma máxima de que o trabalho ou a prática mística do adepto rosa-cruz é de fato a
prática altruísta em favor da evolução das condições humanas na Terra ao longo dos séculos, sendo
informações que nos norteiam e nos auxiliam a entender sobre a sua forma de organização, estrutura
institucional e espiritual, refiro-me à mais alta hierarquia ou forma de organização social da instituição,
isto é, o mais alto cargo da Ordem Rosa Cruz AMORC que é denominado como Imperator, sendo
seguido uma linha sucessória de homens que se origina no círculo social do seu primeiro fundador
Harvey Spencer Lewis em 1915, nos Estados Unidos da América, ou seja segue os nomes mais
34 Egrégora: Uma concentração de pensamentos comuns a um grupo mágico, místico ou religioso que segundo a crença esotérica,
através deste pode-se causar alterações no plano mental, astral e físico. Criada a partir da soma de energias coletivas, mentais e
emocionais, fruto da congregação de duas ou mais pessoas o termo pode também ser descrito como sendo um campo de energias
extrafísicas criadas no plano astral a partir da energia emitida por um grupo de pessoas através dos seus padrões vibracionais.
35 Plano Astral: Universo Paralelo, Realidade Superior ou Dimensão de Existência distinta do mundo físico manifestado.
importantes da história da instituição Harvey Spencer Lewis (1909 - 1939), Ralph Maxwell
Lewis (1939 - 1987) Gary L. Stewart (1987 - 1990) Christian Bernard (1990 - 2018).
Vale ressaltar que a palavra Imperator não designa algo imperativo como o próprio conceito de
imperador, mas sim, um aforismo que significa “senhor de si mesmo”, como algo como a superação
dos laços entre o homem e seu destino por uma condição de controle da sua própria vida ou
A seguir o livreto continua fazendo menção aos conhecimentos religiosos, místicos, ocultos,
esotéricos do Egito Antigo, afirmam que estes conhecimentos foram perpetuados com o auxílio dos
filósofos gregos, principalmente Pitágoras e na Idade Média por meio dos alquimistas e dos cavaleiros
templários que futuramente originaria também a Franco-Maçonaria. Nos séculos Seguintes afirmam
que estes conhecimentos também passaram pelos Renascentistas e pelos escritores Espiritualistas da
Idade Moderna.
Uma ressalva interessante é de que os rosa-cruzes afirmam que os Essênios36 prepararam a vinda
espiritual e o próprio nascimento de Jesus Cristo, ou Yeshua Benpandira37, isso aparece nos livros “A
vida Mística de Jesus” de autoria de Harvey S. Lewis, o primeiro imperator da ordem no atual ciclo de
Touluse na França, em 1001 em Nîmes em um mosteiro rosa-cruz e uma expansão para a Alemanha
em 1100.
Alguns dos filósofos importantes da ordem estão Jacob Boehme (1575-1624); Francis Bacon (1561-
1626). Caligostro (1743- 1795; Louis Claude Saint Martin (1743-1803) o místico francês que deu
continuidade aos feitos do teurgo espanhol Martinez Pasqually na criação da T.O.M - Tradicional Ordem
Martinista.
conhecimentos da ordem são “místicos”38 no que diz respeito aos sentidos do e dos mistérios da
existência e da relação do ser humano com o divino e com a Terra. Neste sentido místico a Ordem
Rosa Cruz AMORC afirma a existência de uma “Força Universal” criou e sustenta todo o Universo e
que através de “experiências místicas”39 todos os seres humanos podem ter acesso ao seu “mundo
de visitas e conversa com os membros do grupo estudado pudemos perceber certas importâncias aos
que os mesmos denominavam experiências místicas, que segundo eles, são a base do trabalho rosa-
cruz, sendo que o misticismo contido nesses trabalhos deve ser entendido como experiências, na forma
Diante disso voltamos a problematizar a situação de uma instituição que não se diz religiosa, mas
que está constantemente dialogando com os conceitos próprios de religião, isto é, ideias sobre Deus,
o Universo, Ser Humano, princípios e valores altruístas e místicos e diversas práticas mágicas
39Experiência Mística: Segundo informações diretas de alguns informantes os rosacruzes acreditam na possibilidade de obter
experiências em outros estados de consciência e planos da realidade física, mental e espiritual.
acreditando que de alguma forma conseguimos interferir no destino ou termos relações direta com
Deus. Porém, da mesma forma que devemos ter em mente e problematizar que tal pesquisa objetiva
desenvolver uma explicação etnográfica, qualitativa e que pretende se apoiar em narrativas e categorias
diálogo diferente das religiões tradicionais, ou seja, uma abertura para discussões sérias sobre a
condição de “livre arbítrio”40 do ser humano no que diz respeito a suas decisões para a construção de
sua vida e o próprio destino, deixando uma liberdade ao indivíduo também sobre compreensão
[...] A Ordem entende que Deus pode ser compreendido e sentido não
por meio de uma experiência intelectual ou teórica, mas através de uma
experiência mística interior. Sendo assim, a AMORC se refere a Deus
como: “Deus do meu coração, Deus da minha compreensão”.
Monografia I. p. 10. (grifo nosso).
A saudação “Deus do meu coração, Deus da minha compreensão” é de alguma forma muito querida
e prezada pelos iniciados na Rosa Cruz - AMORC, comumente usada anteriormente ou durante alguns
momentos de o que nos assemelha a ser uma prece ou reflexão coletiva realizada pelo grupo,
normalmente antes de alguma atividade mística, meditativa ou antes mesmos das refeições. De toda
maneira, é importante ressaltar aqui o que o pesquisador entendeu como forma de tratamento e crença
em algo transcendental como um arquétipo sobre Deus, ou um a força universal consciente que controla
tudo o que existe e que pode nos ouvir e na auxiliar na busca por “iluminação” ou autoconhecimento.
40
Livre Arbítrio: Para a filosofia é a possibilidade de decidir, escolher em função da própria vontade, isenta de qualquer condicionamento,
motivo ou causa determinante.
A Ordem Rosa Cruz AMORC se diz ligada aos primeiros movimentos monoteístas da história da
humanidade devido à ligação das histórias de Tutmés IV e Amenhotep, posteriormente Akhenton, como
uma tentativa de instituir a ideia de monoteísmo no Antigo Egito através da Divindade Aton, que
segundo os faraós, estava hierarquicamente acima do panteão egípcio, que no entanto seguia uma
histórica linha de pensamento politeísta. A partir disso vários conflitos políticos e religiosos aconteceram
que inclusive o que ocasionou a morte precoce do próprio Faraó Akhenathon aos trinta e seis anos de
idade.
Tratando-se de um tipo de conhecimento sagrado, místico, esotérico entre outros adjetivos que nos
remetam a temática ocultista, devemos entender que estamos também parafraseando situações
históricas de perseguições e práticas sociais de intolerância religiosa, cujas pejorativas seriam de que
mesma forma as vezes quando necessário alega atuar intencionalmente em alguns aspectos espirituais
41Ocultismo: Estudo e prática de ciências que se rodeiam de mistério; ciência das coisas ocultas ou estudo das coisas e fenômenos
para os quais as leis naturais ainda não deram explicação.
O CÍCLO ATUAL DA AMORC:
rosa-cruz passou pelo o que a Monografia I denomina como “ciclos de atuação”, cujo o atual ciclo que
vivenciamos se iniciou em 1909, com o primeiro Imperator deste ciclo o Frater Harvey Spencer Lewis
em 1883 – 1939, a qual a missão espiritual seria transcrever ensinamentos que até então eram
Segundo os dados observados percebemos que a AMORC afirma que essa transferência das
ensinamentos da tradição, uma vez que os rosa-cruzes na Europa teriam previsto situação de guerra
Segundo o documento, após a instalação da paz através do término da primeira guerra, H. Spencer
Lewis retorna a Europa em 1926 e confia aos rosa-cruzes franceses, dos quais muitos eram franco-
maçons, a missão de criar lojas rosa-cruzes, o que foi feito em Paris e em Nice, entre 1927 e 1928.
As atrocidades cometidas nos períodos da Segunda Guerra Mundial e com o avanço do Nazismo
também interferiram nas atividades da ordem, que por outras vezes precisaram se ocultar, podendo
somente retornar as atividades normalmente em 1949 na França, sendo que as atividades na América
de certa forma foram poupadas disso, sendo que os conhecimentos rosa-cruzes que ali estavam se
membros no mundo inteiro acreditam que nunca mais se precisará que a ordem se oculte ou que a
Concluindo os relatos sobre os grandes feitos de Harvey Spencer Lewis, o grande percursor da
AMORC nas américas, seu filho e sucessor Ralph M. Lewis escreve um minucioso relato sobre as obras
Destacamos:
espiritual a qual a Ordem Rosa Cruz AMORC oferece, como uma clássica escola de mistérios, envolve
altruísmo e misticismo dentre de uma preocupação imensa com os possíveis rumos do futuro da
humanidade.
existência através na crença em Deus e dos estudos das Leis Divinas ou Leis Cósmicas e como elas
levantadas durante a construção da mesma; ou seja, a Ordem Rosa Cruz AMORC pode de alguma
Contudo, se quisermos ter uma pesquisa meramente antropológica não devemos deixar estas
informações passarem a nossa vista de maneira ligeira. Devemos entender que estamos diante de uma
resposta que norteia a definição institucional do objeto, isto é, se prezamos pela metodologia qualitativa
e lembrando que nos preocupamos com as categorias nativas, ou seja, as formas de interpretações
advindas do próprio objeto, devemos ler a AMORC fora de um prisma religioso, mas sim, da meneira a
A seguir com a análise das quatro monografias estamos diante da Monografia II que apresenta
duas das principais práticas místicas rosa-cruzes, que são os exercícios mentais como a Criação Mental
e a Visualização.
Segundo Ralph M. Lewis, filho do primeiro Imperator do atual ciclo Harvey Spencer Lewis:
[...] Do ponto de vista rosa-cruz a criação mental tem por finalidade criar
no Cósmico a contraparte espiritual de um desejo que acalentamos e
queremos realizar no plano material. Se esse desejo estiver em
harmonia com o Bem e nada o opuser carmicamente, ele se tornará
uma forma pensamento, ou seja, um pensamento que se concretizará
quando forem reunidas as condições adequadas em nós e em torno de
nós. [...] MONOGRAFIA II. p. 03.
Todavia, a Monografia II versa sobre o que os rosa-cruzes acreditam ser as possibilidades da mente
concentração a qual o rosa-cruz cria mentalmente alguma situação ou objetivo a ser atingido e o projeta
ao cosmos, como um feito místico. Caso esta Criação Mental esteja alinhada com os princípios morais
de bondade, fraternidade, ou seja, caso esta demanda não interfira negativamente a alguém, acreditam
os rosa-cruzes que tal desejo será de alguma forma absorvido pelo cosmos e se materializará quando
de criação mental em si não é algo milagroso ou espontâneo, pois segundo a Monografia II, este desejo
será de certa forma “preparado” pelo universo ao passo em que as surgirem as condições para que o
E aqui um relato riquíssimo no que diz respeito à construção de uma etnografia, pois, em um dos
encontros ao público aberto e membros da câmara externa da Rosa Cruz AMORC, eventos a qual eu
já havia frequentado assiduamente a maios ou menos seis meses com o objetivo de aproximação
instituição. Em um destes momentos pude ter a oportunidade de assistir uma palestra sobre a temática
A palestra fora redigida por um dos membros ou “Fráter”42 muito respeitado dentro da AMORC de
Londrina - Paraná, assim como também pertencente a TOM – Tradicional Ordem Martinista. Nesta
palestra pudemos ter uma base geral sobre como os rosa-cruzes entendem como funciona os
Ao desenrolar desta prática meditativa pude também experimentar a arte rosacruz, da Criação e
a Visualização Mental na prática, e sem entrar em méritos de verdade ou crença, é de se observar que
ao menos os efeitos de meditação como: relaxamento, sensação de alívio ou satisfação são percebidos
42 Fráter e Soror: Forma de reconhecimento e denominação dos rosacruzes. Ex.: Fráter José ou Soror Maria.
em todos os momentos, sendo curioso também refletir além da pesquisa empírica e tentar especular
ao máximo sobre as possibilidades da mente; neste sentido colocamos que tais momentos de
participação direta na experimentação do objeto consegui perceber uma dimensão de sentidos que
extrapolam as noções de razão humana, onde recorremos as ideais extremas como de Deus ou do
mundo sobrenatural ou inconsciente, ou ao menos, o que o que é realmente importante ressaltar é que
caso não tenhamos uma experiência divina, tivemos ao menos uma experiência de hipnose.
Segundo a Monografia II, a Visualização deve ser feita com os “olhos interiores”, isto é, uma
faculdade psíquica da mente que proporciona ao ser humano a capacidade de ser um ser sensitivo e
consciente da realidade física e espiritual. Através da visão psíquica o indivíduo pode acessar a sua
segunda existe uma série de regras e fatores determinantes para o êxito consciente desta projeção
mental.
MONOGRAFIA III
A seguir com a análise das Monografias, entramos em um assunto a qual a Monografia III predispõe
Ora, aqui podemos notar um discurso afirmativo acerca da prosperidade ao mesmo tempo que
Diante das primeiras páginas da Monografia III encontramos muitas informações positivas
principalmente prosperidade nos negócios comerciais, pois, desde que seja licito o enriquecimento, não
Em seguida o livreto segue como uma forma de orientação de organização financeira do estudante,
indicando a criação de um caderno para estruturar seu “plano mensal” como meio de reconhecer seus
guardar dinheiro em forma de poupança. Desta maneira a AMORC acredita que o estudante atingirá o
domínio da vida financeira através de uma reeducação financeira e não somente a tratando como um
Para uma maior captação de todas as potencialidades de riquezas os estudantes são aconselhados
a listar todas as suas habilidades ou talentos, a fim de que tais característica possam auxilia-lo no
processo de aquisição de valores, como por exemplo, uma pessoa que tenha conhecimentos com
conhecimento ou técnica através de aulas como professor, da mesma forma que um ex-jogador de
futebol aposentado pode atuar como professor de escolas de futebol, ou seja, formas de transmissão
[...] Outra forma útil de inventariar sua riqueza no sentido mais amplo é
contando suas bênçãos. Não teremos um emergente em forma de
energia, vigor, tempo, afabilidade, ideias criativas, uma capacidade ou
conhecimento especial ou qualquer outra coisa do gênero?
Escrevamos tudo isso e verifiquemos que não estamos empobrecidos.
É daquilo que nos sobra que damos ao próximo. Se algumas destas
sobras são talentos ou habilidades, como podem ser trocados ou
convertidos em dinheiro? Escrevamos cada ideia, não importa o quanto
nos pareça estranha. Esta fórmula abre os canais para auxílio
Cósmico.[...] MONOGRAFIA III. p. 07.
O livreto afirma várias vezes à possibilidade de petição ao “Cosmos”43 a prosperidade, para que se
tenha uma vida material plena e que se possam saciar os anseios da vida de forma completa. A vida
43
Cósmico: termo utilizado pelos rosa-cruzes para designar o conjunto de leis naturais e espirituais que abrange tudo o que existe. É a
manifestação da presença de Deus na Criação. Universo, como a relação harmoniosa de todas as leis naturais e espirituais. É a
material, as posses e a abundancia não são mal vistas pelos rosa-cruzes da AMORC, no entanto, a
soberba, a ganancia devem ser observadas, pois, sentimentos de avareza e inveja poderiam causar o
de Agradecimento e Prosperidade:
AGRADECIMETNO:
“ Que eu possa ser grato por Tuas inúmeras bênçãos, pela Tua luz, Vida e Amor que tenho recebido.
Que meus esforços místicos sejam sempre inspirados, e que eu me torne consciente de tua presença
e orientação divina neste dia. Santifica meu coração e minha mente para que eu possa refletir, sempre,
PROSPERIDADE:
será colocada regularmente uma determinada quantia estipulada por quem realiza o
Inteligência Divina, infinita, do Ser Supremo que tudo penetra. Não é um lugar, mas sim, um estado, ou uma condição de ordem e
regulação. O Cósmico e a totalidade de leis e fenômenos que se manifestam no homem e na natureza, as forças, as energias e os
poderes que respondem pelos mundos finito e infinito.
3) A visualização da prosperidade somo uma corrente de energia da qual participamos;
Após quarenta dias da realização do experimento, o valor total deve ser doado com alegria e o
Devemos lembrar que a riqueza não consiste somente em ter dinheiro, mas também em saúde,
poder mental, alegria de viver e riqueza provinda da satisfação de uma vida ajustada e gradativamente
melhorada.
Toda via, através da leitura da Monografia III podemos visualizar que a AMORC estima as
expectativas de felicidade, saúde e prosperidade na vida do buscador afirmando que nós enquanto
seres espirituais devemos atrair bênçãos mantendo a prática nos experimentos e a atitude mental
honesta.
[...] Devemos usar bem o que possuímos; dar sem restrições e receber
sem orgulho. [...] MONOGRAFIA III. p. 09.
seja, receber do Cosmos através da Lei da Prosperidade. É estar livre como um rio para o transito da
energia do dinheiro.
MONOGRAFIA IV
Durante os momentos de pesquisa e leitura geral sobre a literatura ocultista em seu âmbito mais
amplo, como proposito de aproximação e de entender um pouco mais sobre as diversas escolas
A Monografia IV inicia suas afirmações informando o que a Ordem Rosa Cruz AMORC entende
[...] Egrégoros (do grego egrêgorein = vigiar) é uma palavra que no livro
de Enoch designa os anjos que juraram vigiar e proteger o Monte
Hermon. O termo pode ser traduzido por “entidade vigilante”. Assim, a
Egrégora, (egrégore) é uma entidade, um ser vigilante e coletivo
produzido por uma assembleia (...) que o alimenta. [...]
MONOGRAFIA VI. p. 03.
Para entender melhor o que os rosa-cruzes da AMORC consideram como egrégora, sempre nos
momentos de campo entre conversas informais com diversos membros da instituição pude iniciar o
assunto sobre o que seria a egrégora da AMORC e entre várias explicações pude perceber que estes
entendem egrégora como um conjunto de intenções e formas pensamentos coletivos que se unem as
pessoas para a realização de um objetivo tanto individual quanto coletivo, que no caso os do rosa-
cruzes, seria a intenção da auxiliar no processo de evolução espiritual da humanidade por meio de
44Senda: Senda, Caminho ou via são termos esotéricos que designam o percurso do progresso espiritual após a iniciação, que segundo
os rosacrezus é conseguido através de estudo, dedicação e prática.
O texto segue afirmando que devemos dar atenção ao que os rosa-cruzes denominam “Eu Interior”,
ou Consciência, isto é, o meio as quais as percepções espirituais são derivações das práticas de
A Monografia IV segue afirmando que o fato do postulante que busca a senda rosa-cruz estar lendo
tal livreto é consequência de um processo inicial do despertar para o mundo sobrenatural e oculto e
que tal estímulo deve ser trabalhado a fim de que se possa obter resultado prático que no caso seria o
[...] Talvez você nunca tenha pensado sobre isso, mas toda associação
de indivíduos, todo grupo que contenha algumas pessoas interessadas
eu um mesmo objetivo, constitui no invisível, ou no plano psíquico, um
campo de energia que adquire, como tempo, vida própria e passa a,
inclusive, orientar o comportamento do grupo. Trata-se de uma massa
energética muito definida, que corporifica todos os ideais do grupo em
questão. [...] MONOGRAFIA IV. p. 06.
da câmara externa, momentos de interação pesquisador com os membros do grupo, foi perceptível na
fala dos rosa-cruzes o termo egrégora como um campo de energia que habitava o templo principal da
AMORC - Londrina, que, segundo eles, era a somatória das energias dos membros e das atividades ali
desenvolvidas em prol de objetivos comuns dos membros do grupo. Uma força mística personificada
do próprio grupo.
Também percebemos a fala sobre egrégora nos momentos de convite e solicitação dos membros
do grupo ao pesquisador no sentido de questioná-lo de “quando vocês farão parte de nossa egrégora?”
ou, “estaremos muitos felizes em acolhe-los em nossa egrégora”, onde em primeira noção do
[...] Imagine, então, o que pode ser essa Egrégora no caso das
organizações milenares que se dedica exclusivamente ao Bem, à
elevação das consciências e ao despertar de poderes adormecidos nos
seres humanos. É um elemento muito positivo e valioso para o
desenvolvimento dos seus estudantes, pois estes não contarão com
apenas o apoio material da organização (seus ensinamentos,
publicações, reuniões etc.), mas com o poderoso influxo energético
que concentra sua sabedoria espiritual. [...] MONOGRAFIA IV. p. 07.
Sobre Sabedoria Espiritual, a Ordem AMORC afirma estar ligada com entidades interplanetárias e
como um todo. Tais seres são denominados no livreto como Personalidades Supraterrestres.
[...] As personalidades supraterrestres formam a Sagrada Assembleia
dos Mestres Cósmicos e, em particular, daqueles que estão mais
especificamente encarregados da Senda Rosa-Cruz, representada
pela nossa Ordem. A maioria destes mestres não estão no plano físico,
mas atuam no plano psíquico, não de forma a interferir em nossos
afazeres diários, como alguns poderiam pensar nem se manifestando
próximo aos seres encarnados, mas operando psiquicamente através
das melhores vibrações e influências do âmbito da Egrégora Rosa-
Cruz, mantendo-a ativa, com todo o seu potencial de instrução,
inspiração, cura etc. [...] MONOGRAFIA IV. p. 08.
Adiante com a leitura da Monografia IV encontramos uma explicação importante no que diz respeito
às noções sobre o sobrenatural, o metafísico e o místico da Ordem Rosa Cruz AMORC, pois a mesma
afirma que a sua egrégora (conjunto de forças psíquicas dos integrantes do grupo com um ideal comum)
é organizada dentro de uma hierarquia que extrapola o mundo físico e sensível partindo para os mundos
ou dimensões superiores ou internas, ou seja, a hierarquia da instituição alcança pleno contato com
humanidade.
Portanto a egrégora comum, social ou profana de grupos comerciais ou amistosos são meramente
o resultado da somatória dos interesses individuais norteados por um objetivo comum, no entanto, a
egrégora rosa-cruz, além de ser tudo isso é também uma coligação desta força psíquica com um grupo
de Mestres Cósmicos desencarnados que trabalham junto aos rosa-cruzes no processo de iluminação
da humanidade.
como uma assembleia constituída pelos membros terrestres da AMORC, juntamente com os seres
supraterrestres em um Conclave Universal que constitui e orienta a força psíquica espiritual e mental
[...] No seio dessa egrégora geral, cada qual tem o seu lugar. Um
membro dedicado da AMORC colherá, em proteção e evolução, os
frutos de sua participação na força comum [...] Um membro da ordem,
por seus estudos efetuados regularmente e por viver segundo os
princípios rosa-cruzes, receberá, em inspiração, proteção e graça os
influxos positivos que os auxiliarão na consecução com êxito de seus
projetos pessoais. O caminhar na senda com sinceridade, lealdade e
responsabilidade de cada um, a fim de que “tudo seja em baixo como
é em cima”. MONOGRAFIA IV. p. 09.
PRÁTICA:
No final da leitura da Monografia IV nos deparamos novamente com uma prática esotérica para
Egrégora Rosa-Cruz, isto é, uma pirâmide luminosa de coloração azul clara tendo ao topo uma cruz
dourada representado o corpo físico, o Cristo Cósmico e a matéria em geral com a rosa cravada em
proeminentes da egrégoras rosa-cruz, isto é, uma forma de adaptação do iniciante aos influxos
Para que o buscador tenha sua primeira experiência com o campo de energia sutil que é a egrégora
rosa-cruz o mesmo deve seguir os seguintes passos afirmados pela Monografia IV que são:
- Acender um incenso ou harmonizar o ambiente com uma música de baixa frequência e calma.
- Sentar-se confortavelmente em uma cadeira, poltrona ou banco na posição de meditação egípcia –
conhecida entre os rosa-cruzes da AMORC como a Posição do Faraó - (costas levemente eretas, pés
relativamente afastados e plantados no chão, mãos descansando sobre as coxas com as palmas
- Iniciar uma série de sete respirações profundas buscando o tato relaxamento do corpo. Deve-se
buscar sentir todas as sensações físicas e corporais desaparecendo dando comando mental de
Egrégora Rosacruz (Pirâmide de Luz de tonalidade azulada com a R+C em seu topo); visualize entrado
- Quando sentir que conseguiu reproduzir o mais fielmente possível na sua mente o símbolo da
Egrégora Rosacruz AMORC deixe-se infundir por todo o que ela representa em sabedoria, poder,
saúde, paz e prosperidade. Para isso, interrompa a visualização e coloque-se receptivo, sem pensar
- Quando julgar necessário volte para a realidade física despertando gradualmente e volte a movimentar
O livreto termina com a advertência de que se deve praticar e estudar constantemente os ensinos
e práticas esotéricas da Monografia IV, sugestionando até a criação de um caderno para a anotações
Os primeiros contatos com a AMORC – Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz de Londrina Paraná
foram feitas através do telefone. Em uma das tentativas de contato, através de uma série de ligações,
eis que por sorte ou mero acaso fui atendido no meio da semana por volta das quatro horas da tarde
por um membro da ordem em uma das ligações realizadas. Este que fora o principal ator para
estabelecer o contato com a mesma e que durante as estadias e momentos de se fazer pesquisa pude
Ainda pelo telefone, pude obter as primeiras respostas sobre as principais inquietações da pesquisa
sobre a organização do grupo. Logo, perguntei sobre como seriam as formas de aproximação de um
leigo não iniciado para com a instituição e através desta abordagem fui saber sobre as atividades
voltadas à Câmara Externa de “buscadores”, isto é, um evento mensal que acontece sempre no terceiro
sábado do mês, a partir das três horas da tarde com duração de aproximadamente uma hora, onde
podíamos assistir palestras temáticas e entender um pouco mais sobre as práticas místicas dos rosa-
cruzes.
Iniciei as visitas, participações e estadias em campo no segundo semestre de 2016 (dois mil e
dezesseis), onde neste ano pude participar de cinco sessões mensais concluindo as atividades daquele
ano.
Nestas primeiras visitas, vale ressaltar, foi desprendido tempo não somente para as atividades
abertas, mas tomamos um cuidado ao visitar o campo, como por exemplo chegando com antecedência
aos encontros para ter um maior acesso aos espaços como o pequeno museu egípcio, a biblioteca, e
A partir da terceira visita adotei a prática de sempre chegar aos eventos uma hora mais cedo do que
o agendado e sempre saindo uma ou duas horas após as palestras, momentos de meditação induzida,
aulas sobre mitologia egípcia e hieróglifos, orientada pelos rosa-cruzes ou convidados de outras escolas
esotéricas como a maçonaria e o martinismo, ou seja, instituições que são sincréticas e correlacionadas
à AMORC. Em alguns destes momentos pude participar de visitações ao Templo Principal Rosa Cruz
– AMORC, participar de alguns rituais místicos reservados aos grupos mais próximos e, até mesmo,
Desde as primeiras visitas à loja Rosa Cruz AMORC, tivemos a impressão de um ótimo acolhimento
dos membros que proporcionavam os eventos abertos da Câmara Externa. Sempre nos recepcionavam
com grande atenção e generosidade, o que nos deixava completamente à vontade para conhecer a
instituição e iniciar diálogos sobre a mesma. Nestes primeiros momentos de visita e reconhecimento do
campo como uma experiência de experimentação participante e entendendo a AMORC como o objeto
de pesquisa.
Nestes momentos de visita e observação sobre a forma de tratamento para com os “buscadores”
percebemos um cuidado ou uma preocupação com o ser humano, com aqueles que buscam um espaço
Percebemos nas visitas e nas vivências que o ser humano é sagrado; experimentamos a sensação
A mais alta hierarquia da Ordem Rosa Cruz AMORC é o cargo denominado “Imperator”, que segundo
os informantes, não se deve de maneira alguma entender o significado da palavra comparando ao que
Imperator quer dizer “senhor de si mesmo”, isto é, aquele que conseguiu através dos métodos da
AMORC a compreensão das tramas do destino e do livre arbítrio, através dos estudos e experiências
nos primórdios da AMORC, o cargo era vitalício, até a nova constituição interna da AMORC ser
cargo eletivo com mandato de cinco anos, podendo ser renovados por novas eleições. Quem elege o
“Imperator” é o Supremo Grande Conselho da AMORC, formado pelos Supremos Grandes Mestres de
Atualmente o cargo de “Imperator” encontra-se em processo de transição, sendo que, desde o dia
doze de abril de 1990 a ordem estava sob controle do americano Frater Cristian Bernard46, e agora em
transição para o comando de “Claudio Mazzucco”, o antigo Grande Mestre da Jurisdição da Língua
Italiana.
Após o cargo supremo de “Imperator” temos os “Grandes Mestres”, que são divididos em Jurisdições
de Línguas. O Grande Mestre que direciona as atividades rosa-cruzes no Brasil, Portugal e Angola é o
Fráter Hélio de Moraes Marques47, que orienta aproximadamente trinta mil estudantes rosa-cruzes nos
46Christian Bernard: Nascido em 30 de novembro de 1951 em Bourg-d´Oisans (Isère), na França, onde foi educado e criado sob a égide
da Ordem Rosacruz, estando ligado aos estudos e aos trabalhos da AMORC desde sua infância. https://www.amorc.org.br.
47Hélio de Moraes e Marques: Hélio de Moraes e Marques é empresário da construção civil durante 30 anos e professor universitário
nas áreas de filosofia, sociologia e antropologia cultural. O Frater Hélio é formado em Administração de Empresa pela Faculdade de
Administração – Facecs e bacharel em Filosofia pela Universidade Católica de Santos com especialização em filosofia antiga e
Segundo a entrevista do Fráter Hélio ao jornal Folha de Londrina,48 entendemos que a Rosa Cruz
AMORC se apresenta como uma instituição mística e filosófica, que aceita homens e mulheres e que
pelas palavras do Grande Mestre de Jurisdição de Língua Portuguesa, proporciona uma série de
Sobre as interpretações e correlações das atividades da AMORC com outras atividades religiosas e
sobre a possível crença em Deus, o Fráter Hélio responde que a AMORC não é nenhuma religião, pois
não possui dogmas, não apresenta respostas impostas nem uma “verdade colocada”. Segundo ele,
Ordem Rosa Cruz se distancia do caráter religioso a partir do momento que não apresenta uma
“verdade” ou uma versão sobre esta “verdade”, mas sim, deixa ao próprio iniciado construir e ter acesso
Segundo o Grande Mestre da JLP, “Deus é ‘aquilo’ e nós nos relacionamos com Ele através da
mística, uma centelha divina que temos interiormente; como se Deus habitasse o coração de cada Ser”.
mestrando em Educação. Ingressou na Ordem em 1973 com 15 anos de idade e vem servindo como Oficial desde 1979, ocupando
cargos de Presidente da Junta Depositária da Loja Rosacruz Santos – AMORC; Mestre, Monitor Regional e Grande Conselheiro. Serviu
como Diretor-Secretário da GLP entre 1992 e 1994 quando assumiu a função de Diretor Vice-Presidente, cargo que ocupou até sua
assunção como Grande Mestre da Jurisdição de Língua Portuguesa, em 06 de setembro de 2008 durante a XXII Convenção Nacional
Rosacruz, em inspirador Ritual de Instalação conduzido pelo Presidente mundial e Imperator da AMORC, Sr. Christian Bernard. É Reitor
da URCI – Universidade Rose-Croix desde setembro de 2008.
Agora observando especificamente loja Ordem Rosa Cruz AMORC de Londrina, isto é, o objeto de
pesquisa propriamente dito, percebemos que existe uma simples distribuição de cargos e funções que
No que toca à organização de cargos sobre a parte espiritual, onde cabem as ritualísticas e
mestre também se assemelha aos outros cargos institucionais como o contador, o secretário ou o
zelador, representando o cargo de “Mestre” apenas como mais uma função que é distribuída e revezada
É claro que a função de ser o mestre da loja deva ter seu prestígio ou significado pessoal ao
indivíduo, mesmo que momentâneo, e também aos membros da instituição estudada, no entanto, é
claramente notável e expressivo como os rosa-cruzes afirmam a grande horizontalidade ao qual tanto
prezam no que diz respeito às formas de tratamento entre eles. Mais especificamente, queremos
conhecimento é cabível e dever de toda a humanidade e que a AMORC é, uma grande “escola
mística”49 onde todos são aptos a ensinar e aprender, sendo seu lema “a mais ampla tolerância na mais
irrestrita independência”, assim, o cargo de Mestre de uma loja é rotativo e passível a todos que tiverem
49Escola Mística: Instituições de correntes gnósticas, rosacrucianas ou maçônicas que afirmam ensinar seus membros a utilizar áreas
desconhecidas do cérebro para aumentar a capacidade de intuição, cognição e iluminação.
O ECUMENISMO:
No discurso apresentado pelos rosa-cruzes sobre as questões que remetem aos princípios morais,
universalista. Com frequência afirmavam que a escola Rosa Cruz AMORC não era uma instituição
religiosa, mas de fato uma instituição mística e filosófica, que tem por princípio o estudo sobre o divino,
recomendando até uma prática religiosa exterior, independentemente da denominação religiosa uma
vez que não entendem a rosa-cruz como algo estreitamente religioso e espiritual.
Portanto, considerando que em todos os países que atualmente contém uma filial da Ordem Rosa
percebemos um perfil dos membros mais próximos ao catolicismo, protestantismo, judaísmo, islã, entre
outras denominações religiosas comuns, além dos membros que também pertenciam a Maçonaria e a
afrodescendente e nem indivíduos que pertenciam às religiões de matriz africana, isto é, a Umbanda50
e o Candomblé51 e essa pequena observação já nos traz uma grande inquietação e que abre brecha
objetivos específicos não nos aprofundaremos nesta seara uma vez que o recorte da pesquisa já fora
50Umbanda é uma religião brasileira formada através de elementos de outras religiões como o catolicismo ou espiritismo juntando ainda
elementos da cultura africana e indígena.
51Candomblé: religião afro-brasileira em que se pratica o culto de divindades de origem africana chamadas orixás. Assim, apesar de ter
nascido na Bahia, no século XIX, o candomblé foi formado a partir de tradições religiosas africanas de povos iorubás. Essas tradições
foram trazidas ao Brasil por populações negras escravizadas vindas de países da África Ocidental, como Nigéria, Benin e Togo.
BIBLIOTECA:
Através destas “horas extras” de campo pude visitar, analisar, fotografar e fazer breves leituras
na biblioteca do espaço para um reconhecimento geral do mesmo. Desta forma eu sempre anotava em
caderno de campo as obras mais relevantes e pré-reconhecidas para ter uma noção maior e mais
específica sobre o que estudavam os rosa-cruzes da AMORC e, nestes momentos pude perceber a
presença da literatura de diferentes livros sagrados como o Torá, Alcorão, Sepher Yestsrá, Talmude,
Bíblia Sagrada, literatura espírita em geral, tratados sobre os simbolismos alquímicos da Idade Média
– O Livro Mudo da Alquimia, e história do renascentismo, literatura religiosa oriental budista e taoísta,
livros acadêmicos sobre filosofia e psicologia freudiana e jungiana, antropologia, entre vários outros
livros herméticos sobre Hermes Trimegistos, os compêndios teosóficos de Helena P.Blavastky, como o
Véu de Ísis, A Doutrina Secreta, A Chave da Teosofia, Manual de Ocultismo Prático, A Cosmogênese
e, A Antropogêne, entre outros livros esotéricos e de Magia Cerimonial52, como por exemplo o A Chave
Menor de Salomão (ver goetia), entre outros contúdos ocultistas específicos de autores rosa-cruzes,
Posso afirmar que a biblioteca foi o espaço que eu tive maior acesso para possibilidade de
realização consultas, o que me fazia refletir sobre o processo de abertura da instituição para o público
não-iniciado, pois, se por muito tempo na história da humanidade, a mesma permaneceu anônima,
como passar dos tempos passou de sociedade secreta para sociedade discreta e agora os interessados
podem visitar e consultar sua biblioteca, o que em épocas antigas seria completamente impossível.
52Magia Cerimonial: arte que engloba ampla variedade de rituais de magia complexos, elaborados e longos. Os trabalhos incluídos são
caracterizados pela cerimônia e uma parafernália de vários acessórios necessários para ajudar o praticante, com objetivos tais como
invocar forças ou entidades através de fórmulas. Tornou-se parte do imaginário do ocultismo e esoterismo ocidental. Popularizada
pela Ordem Hermética da Aurora Dourada, abrange modernamente vários sistemas mágicos, nos quais se considera constituída
de Rito e Ritual.
O interessante neste período é que enquanto pesquisador e curioso chamei a atenção de alguns
membros da Ordem Rosa Cruz ao ponto de ser reconhecido pela “sede de conhecimento”. A partir daí,
consegui ganhar mais espaço e credibilidade do grupo ao ponto de ser agraciado com seis livretos
iniciais da AMORC que são, o livreto sobre os tópicos abordados pela AMORC, outro como uma
reflexão geral sobre o processo de despertar de consciência e explicações sobre o “buscador” e outros
quatro que compelem as monografias da câmara externa, além de revistas de edição próprias da ordem
proporcionadas pela figura histórica de “Hermes Trimegistus”, sendo também o grande difusor do
ocultismo egípcio antigo, sendo correlacionado com o deus Toth no Egito e ao deus Hermes na Grécia.
Trimegistos, sendo que algumas correntes de pensamento afirmam que não se trata de uma única
pessoa, mas sim um movimento, uma deidade sincrética ou uma egrégora, grupo ou ordem místico-
através da “Ordem Hermética do Amanhecer Dourado” ou “Hermetic Order of the Golden Dawn”54.
53 Hermetismo: Conjunto de filosofias e práticas místicas remetidas à figura de Hermes Trimegistus ou Hermes, Três vezes O Grande.
54Ordem Hermética do Amanhecer Dourado: Golden Dawn é um sistema de magia que, a partir de um currículo de estudos e do trabalho
pessoal, organizado e constante, combinados com um programa de meditação e exercícios mágicos, permitirá ao estudante a sua
caminhada para a Luz. Golden Dawn é uma escola de mistérios antigos. O adepto é instruído a desenvolver um trabalho que depende
exclusivamente de si mesmo, pois a ninguém cabe dizer qual a sua vontade, exceto o próprio buscador. Desejamos conosco pessoas
sinceras e preocupadas com o desenvolvimento social e progresso da humanidade. O aspirante a membro da Golden Dawn será
admitido na condição de Estudante, na qual permanecerá por algum tempo, recebendo ensinamentos básicos e sendo avaliado pelas
autoridades da Ordem.
ROSACRUZ, ROSA + CRUZ, OU, R+C:
Segundo os rosa-cruzes ligados AMORC, o simbolismo da Rosa e da Cruz não deve ser assimilado
aos significados cristãos para com a cruz de Jesus Cristo. A cruz para os rosa-cruzes representa corpo
físico do homem e da mulher; a matéria densa que envolve uma Rosa em seu centro que representa a
alma.
AMORC e a Rosa Cruz Áurea, que nas vivências em campo e no processo de descrição etnográfica,
pode-se conhecer e perceber a semelhança entre as duas instituições, ordens, ou ramificações rosa-
cruzes.
Para os rosa-cruzes da AMORC, a Rosa por si só representa a “Alma do Ser”, que é uma
partícula da “Grande Alma Universal”; O Todo; a Mente Universal. Sendo que para os rosa-cruzes da
denominação ou ramificação Rosa Cruz Áurea – Lectorium Rosacrusianum; a Rosa tem o significado
de chispa da centelha divina, ou átomo centelha do espírito, também afirmando a alma do Ser Humano
O Templo Rosa-Cruz é a parte principal da loja. É um espaço reservado aos membros iniciados na
senda, isto é, para frequentar as atividades no templo é necessário não somente a filiação institucional,
Vale ressaltar que na fala dos rosa-cruzes sempre está presente a ideia de que o templo é um lugar
sagrado e secreto, reservado aos membros e que deve ser protegido de estranhos para que não haja
pudemos perceber que não existia um pleno consenso sobre a prática de apresentar o templo principal
ao público externo não iniciado nos mistérios esotéricos da ordem, mesmo assim a visita acontecia.
Averiguamos também que no processo de abertura da ordem a prática de visita ao templo se tornou
mais maleável e, que ao final de alguns encontros semanais, nós todos éramos convidados a visitar e
conhecer o templo principal. Tive a oportunidade de adentrar ao templo em forma de visita três ou
quatro vezes, lembrando que sempre quando eles convidavam a conhecer o templo alertavam que era
somente para os que ainda não visitaram. Porém, como estratégia de absorver cada vez mais
impressões sobre os símbolos e ornamentos egípcios, sempre que havia a possibilidade, eu estava
envolvido na visitação.
Uma vez em especial, pude participar de um ritual semelhante à prática de batismo nas religiões
cristãs. Esse ritual é denominado pelos rosa-cruzes como “Aposição de Mãos”, que se resume em um
ritual de apresentação da criança à comunidade, onde todos estendem a mão sobre a criança como
este é um dos rituais místicos abertos a todo o público externo uma vez que os familiares não iniciados
da criança devem ter o direito de participar deste momento, mesmo não sendo um rosa-cruz.
Antes de adentrar ao templo principal, adentramos primeiro na “Câmara Externa do Templo”, isto
é, um lugar intermediário entre o mundo exterior profano e o templo sagrado, neste espaço somos
orientados a beber um copo de água e lavar as mãos como sinal de respeito e “ato ascético”55 para
adentrar em lugar sagrado. Nesta câmara podemos ver desenhos egípcios em todas as paredes como
existem nas paredes das pirâmides no Egito. Em específico, o desenho das paredes da Câmara Externa
conta a história mítica egípcia sobre a reencarnação, onde no momento da morte, a alma sai do corpo
mumificado e desce até os reinos dos mortos onde seu coração é pesado pelo deus Anubis na presença
da deusa Ísis, e que o mesmo não deveria ter mágoas e rancores, sendo assim pesaria menos do que
uma pena, caso contrário seria devorado pela deusa Ammit, e caso seja um coração puro, sua alma
55Ascético: que ou aquele que se dedica à vida de asceta, que exerce o ascetismo; que ou aquele que se volta para a vida espiritual,
mística; místico, contemplativo.
a oficial ritualístico que o ocupa simboliza a Mãe da Loja - a mãe
espiritual de todos os membros da Fraternidade. À esquerda,
situa-se a estação Norte onde o Sol não lança a sua luz. É,
simbolicamente, um lugar das trevas por onde penetram os
neófitos em busca da Iniciação. Ao centro, vemos o Quinto Ponto
da Loja, o lugar onde todas as linhas se cruzam, o altar triangular
denominado Shekinah (a Rosa da Cruz), onde brilham as três
chamas, sempre mantidas acesas pelas vestais do Templo, e que
maravilhosamente simbolizam as pontas do Sagrado Triângulo
Rosacruz - LUZ, VIDA e AMOR” [...]
BLOG O ROSACRUZES, 2018.
Após uma primeira parada na “Câmara Externa” para as explicações sobre os desenhos na parede,
entramos calmamente no templo e a partir daí surgiram várias impressões sobre as quais, discorro
agora.
Entrando pela primeira vez no tão protegido “Templo Rosa-Cruz”, percebemos de início um
ambiente leve e sereno, uma ópera calma tocava ao fundo com um volume razoavelmente baixo e
calmo. O clima era fresco, com o auxílio do ar condicionado e a iluminação média, de coloração azul
claro, como descrevemos no símbolo da egrégora rosa-cruz. O espaço tinha cheiro de incenso, porém,
não víamos nenhum aceso no momento, o que me fez pensar que estava impregnado pelo constante
uso em seus rituais místicos ou que talvez tenha sido preparado para tal visita.
A disposição do templo era diferente de qualquer instituição religiosa ou filosófica por mim já
visitada. Com cadeiras e púlpitos organizados nos quatro quadrantes cardeais da sala, onde ao leste
se via o púlpito principal onde podíamos ver claramente o desenho de um olho aberto, como o “Olho
da Providência Divina, comum também na simbologia da Maçonaria, porém, não era ornamentado por
um triângulo. Este púlpito é o lugar onde fica o “Mestre Ritualístico da Loja”, um homem de idade
madura, (líder e cerimonialista), sendo que ao oeste ficava o púlpito, que informaram ser lugar da
matriarca da ordem, a mulher mais velha da instituição que carregava um cargo muito importante para
os rosa-cruzes representando o “Sagrado Feminino56”, que representa basicamente a sabedoria e a
maturidade.
Os púlpitos laterais norte e sul também são lugares destacados, porém não tivemos detalhe sobre
quem ou como se ocupariam, porém, percebemos que estes tinham mais de um lugar de assento,
diferentemente dos púlpitos do leste e oeste que só tinham um lugar de assento onde um era
A disposição dos bancos dos outros demais membros que compunham o ritual ficava um pouco
atrás destes púlpitos, tais bancos eram coletivos e, de certa forma, estava à parte dos outros púlpitos e
assentos.
56Sagrado Feminino: Movimento de despertar, cura, conexão e empoderamento de mulheres. É um mundo de mistérios e clareza. É
permitir que a mulher, e não só ela, mas ambos os gêneros, desperte em seu interior a energia feminina.
SHEKINAH:
No meio dos quatros púlpitos ficava um espaço vago de aproximadamente três metros de largura
por seis metros de comprimento, no centro existia uma espécie de altar com um tablado de madeira
quadrado, protegido por três passantes de cordas, como se estivessem limitando e protegendo a
presença de alguém dentro daquele espaço. Este lugar é denominado pelos rosa-cruzes como
“Shekinah”, que segundo eles é o espaço da presença divina no tempo. Ainda neste espaço, existia um
tablado superior onde ficava uma mesa triangular com uma vela em cada canto do triângulo. Os rosa-
cruzes brevemente explicaram que este lugar é o que a loja tem de mais sagrado, é um espaço onde
os rosa-cruzes afirmam estabelecer contato com entidades superiores e o ponto físico central de sua
egrégora. O triângulo é um dos principais símbolos da AMORC, que representa o número três e que o
mesmo é a síntese de tudo na vida humana, como por exemplo: tese, antítese e síntese; pai, mãe e
filho; corpo, mente e espírito, entre outros significados esotéricos correlacionados ao número três.
COLUMBA:
Uma das figuras presentes nos rituais místicos dos rosacruzes é o que os mesmos denominam
como “Columba”. Este cargo ritualístico é geralmente assumido por uma criança de gênero feminino,
simples, inocente e ao mesmo tempo sábia, como se fosse a própria “Consciência Divina” sendo
57 Virgem Vestal: Eram sacerdotisas que cultuavam a deusa romana Vesta. Um sacerdócio exclusivamente feminino, restrito a seis
mulheres que seriam escolhidas entre a idade de seis a dez anos de idade, servindo durante trinta anos. Durante esse período, as
virgens vestais eram obrigadas a preservar sua virgindade e castidade, pois qualquer atentado a esses símbolos de pureza significariam
um sacrilégio aos deuses romanos e, portanto, também à sociedade romana.
O SANCTUM CELESTIAL:
Uma das coisas fundamentais para os rosa-cruzes da AMORC é o que eles denominam como
Para os rosa-cruzes, o “Sanctum Celestial” talvez seja o que a Ordem tem de mais importante e
real, o que fundamenta toda a filosofia, prática ou de certa forma crença rosa-cruz. Segundo os
iniciados, que de toda forma buscavam metáforas e alegorias sobre a explicação do que seria o
“Sanctum Celestial”, afirmavam que através da prática da meditação mística podemos nos conectar
com a sede principal Rosa-Cruz - extrafísica, ou como eles mesmos caracterizam como a “Catedral da
Alma” que não se localiza no mundo físico, mas sim, em outros planos sutis da realidade cósmica, que
os mesmos podem acessar essas dimensões através de técnicas específicas rosa-cruzes que
roporcionam projeções psíquicas para o praticante, também conhecida como “apometria58” e “projeção
astral”59.
58Apometria: (apo- do gr. "além de" e-metron "medida") é um conjunto de práticas pseudocientíficas de tratamento espiritual. Segundo
seus praticantes, a técnica consiste no transporte do "corpo astral" do enfermo para hospitais em um suposto mundo astral, onde
espíritos realizariam o tratamento.
59Projeção Astral: Projeção da Consciência descreveria um suposto fenômeno paranormal: a “saída” da consciência do corpo humano
e uma suposta "manifestação" em uma "dimensão extrafísica". O Espiritismo denomina esta "dimensão extrafísica" como plano
espiritual.
Esses ensinamentos sobre o Sanctum Celestial se encontram no “LIBER 777”, onde a AMORC
adverte sobre como manter uma harmonia entre o “Eu e o Universo”; a harmonia para com os outros;
a harmonia para com a natureza; além de apresentar a definição do “Sanctum Celestial” e técnicas de
Além do tão estimado, Sanctum Celestial, temos também o que os rosa-cruzes chamam de
“Sanctum Pessoal”, e que podemos comparar grosseiramente com uma espécie de altar individual ou
um espaço de meditação.
Através das percepções que obtivemos no desenrolar da pesquisa e diversas análises e diálogo
com os membros, conseguimos entender que para os rosa-cruzes, o “Sanctum Pessoal” é um espaço
extremamente íntimo e sagrado. Lugar onde o iniciado pratica suas experiências, técnicas de
razoavelmente grande para uma boa observação de si mesmo, duas velas paralelas ao lado do espelho,
formando três pontos de luz onde o terceiro seria ele mesmo, sua centelha divina, o símbolo da ordem
– a cruz com a rosa em seu centro -, e um incenso. Outras informações acerca dos sanctuns são
Uma das características que auxiliam na afirmação de que a Ordem Rosa Cruz AMORC se distancia
de ser uma religião é o fator de afiliação ou ingresso institucional na ordem ou grupo social.
Essa afiliação pode ser solicitada pessoalmente pelo “buscador” ou membro da “Câmara Externa”
da AMORC, na própria loja física como também na internet através do “site oficial”60 da AMORC. A
afiliação não exige a atividade templária, isto é, a Ordem Rosa Cruz AMORC oferece os estudos
místicos que podem ser feitos em casa “à distância”, não necessariamente exigindo a iniciação
monografias em domicílio e pratica-las em casa sem necessidade de afiliação à loja, porém, indica a
atividade templária para efeitos de sociabilização e rituais místicos, acesso a biblioteca entre outros.
Ao observar o processo de afiliação através do site institucional fica evidente o caráter institucional,
Contudo, sobre o processo de ingresso na senda Rosa Cruz oferecida pela AMORC se resguarda
sobre tais ensinamento e pede a colaboração do novo membro para continuar poupando tais textos do
público externo da loja para que tal conhecimento não seja profanado ou ridicularizado.
Na sessão de afiliação a AMORC se apresenta novamente como instituição místico filosófica e não-
informações sobe o objeto estudado. Ainda mais, tratando de um grupo específico, no caso uma
instituição esotérica / ocultista – Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz - AMORC de Londrina - Paraná.
Para que o pesquisador tenha uma observação e participação e descrição completa do objeto seria
necessária a real infiltração do mesmo ao grupo, através do processo aos quais os rosa-cruzes
iniciando – psicodrama, que proporciona a origem da caminhada na senda espiritual específica, através
dos estudos dos mistérios reservados, assim como a prática templária, mística específica rosacruz.
Agora, analisando o termo “iniciação”, dentro do cenário exterior da instituição, podemos entender
renascimento da persona do indivíduo, muito utilizados em tribos indígenas como “ritos de passagem”61,
como por exemplo a transição da infância para a vida adulta, de um estado de consciência a outro
distinto e mais complexo e mais maduro. Geralmente o iniciado passa por um processo de extremidade
física ou psicológica onde é convidado a despertar para uma nova realidade espiritual, social ou uma
61Ritos de Passagem: Celebrações que marcam mudanças de status de uma pessoa no seio de sua comunidade. Os ritos de passagem
podem ter caráter social, comunitário ou religioso.
O processo de “iniciação” é conhecido entre as mais populares e diversas religiões do mundo,
assim como também tem seu significado particular nas escolas esotéricas como a Ordem Rosa Cruz e
Para que a “iniciação” aconteça são necessárias duas principais figuras, o “iniciador” e o que será
iniciado, aquele que ainda está à parte da realidade e aquele que mantém o conhecimento sobre alguma
coisa. Desta forma, encontramos a iniciação desde as religiões tribais indo-americanas e religiões
que pleiteia a iniciação, deve se retirar do convívio social por ao menos vinte e um dias para dedicar-
Nas universidades também existe o termo iniciação científica, onde o estudante é orientado por um
aprendiz.
Na própria história do catolicismo romano, até mesmo o Cristo, Yeshua Bem Pandira ou Jesus de
Nazaré, é submetido ao processo de iniciação através de seu primo João Batista, O Anunciador.
Jesus passa pelo batismo das águas realizado pelo iniciador João, no Rio Jordão em Israel,
especificamente na Jordânia, onde anteriormente já havia batizado uma multidão de fiéis sobre a
Através da perpetuação da prática do batismo os cristãos acreditam que o indivíduo passa a ser
reconhecido como autêntico cristão, isto é a iniciação na cultura, moral, ética e espiritualidade cristã.
No entanto, embora existam vários significados sobre o conceito de iniciação, agora nos
Primeiramente, para as “Sociedades Iniciáticas”, como as que aqui foram citadas, o termo iniciação
espiritual, que geralmente é denominado como Grau, a Ordem Rosa Cruz AMORC atua com a distinção
de Doze Graus, na Maçonaria encontramos este mesmo sistema com Trinta e Três graus iniciáticos -
que remetem ao número de vertebras da espinha dorsal e a idade de Jesus Cristo no momento de sua
No caso da Rosa Cruz AMORC os iniciados percorrem o caminho de doze graus, sendo que na
conclusão de todos os estudos e atividades místicas necessárias o membro rosa-cruz passa a ter
acesso a um novo tipo de informações ou outro círculo social rosa-cruz, que são ainda mais restritas
que a completude da senda dos doze graus anteriores. Esses rosa-cruzes que atingem a completude
dos doze graus inferiores e assumem uma nova plataforma ou meio social são reconhecidos entre os
iniciados como “Illuminati”, que segundo os rosa-cruzes, o iluminado é aquele que percorreu todo o
humanidade encarnada.
Embora encontrássemos várias explicações sobre o que é a “iniciação”, nos preocupamos também
em ter a experiência, entendê-la de modo prático e sincero para a explicação e descrição fiel do
fenômeno, no entanto, com o pesar de não ter a chance de experimentar a fundo ou participar como
coadjuvante no processo iniciático, como nos propomos na metodologia da pesquisa, de fato não
atingimos devido o dilema dos “limites da pesquisa”, seria também um limite ético uma vez que
entendemos que por se tratar de uma sociedade reservada e esotérica avançar esses limites seriam
como “profanar e desrespeitar” os conhecimentos e práticas da ordem que se mantêm discreta á
Diante disso preparamos uma um texto em reflexão baseada nas falas de rosa-cruzes não só da
instituição AMORC de Londrina, mas como também o agrupamento de diversos rosa-cruzes e maçons
Através destes contatos podemos afirmar que existe outro sentido da iniciação, além do conceito,
é o “sentido individual” a qual cada iniciado atribui ao fato. Isso expressa o que de mais importante
existe no processo iniciático, que é a consciência do Ser Humano sobre Si, sobre o que entende sobre
a ideia de Deus e sobre o Universo, o resultado da busca pelo processo de autoconhecimento, o sentido
Entendemos então que a “iniciação” é uma prática que conduz ao caminho do autoconhecimento,
e que segundo os rosa-cruzes, levam também a auto-realização e a iluminação, que ocorre através de
Pelo convite ao despertar para uma nova consciência e autoconhecimento a iniciação fornece o
conhecimento sobre a Mística, o Universo, suas Leis Cósmicas e sobre o Ser Humano, algo que age
em prol de uma questão superior, sobre o direito de Ser, Saber, Querer, Ousar a agir sobre si mesmo
no Calar do Infinito do Eu, que segundo os iniciados entrevistados, ao mesmo tempo é o “Todo”.
Embora que pareça que a iniciação seja algo totalmente íntimo, não podemos confundir com uma
situação egoísta ou individualista, mas sim sempre, observa-la no sentido de consciência individual.
Além do mais, esta evolução individual é parte do “Todo”, que como em uma escada de elevação
pensamentos, sobre a mente, os sons e vibrações, à vontade, o impulso e a ação humana como
despertar de um sono profundo, que conta a história de uma vida pacata e transitória sobre os
acontecimentos vivenciados pela “persona”62 – que é limitada ao mundo material, como um despertar
para uma realidade que ultrapassa o mundo das formas. O iniciado deve ultrapassar a noção do “Eu” –
limitado, e se perceber parte de um “Todo” e não mais ser influenciado por pelas noções de
Contudo, a iniciação rosacruciana promete a plenitude de uma vida no sentido de proporcionar uma
percepção mais clara e objetiva sobre o quais são os “sentidos da vida”, o que é viver e o que é “Ser”.
O Iniciado, ao acordar para uma nova realidade deve buscar a vigilância constante para não mais
cair em dúvida, ilusão ou engano, deve sempre buscar o discernimento entro o que ele mesmo julga
certo e errado, para não devanear no que os mesmos denominam como mundo físico, denso,
manifestado, que consequentemente é uma ilusão dual, pois se passa no mundo das formas, conhecido
62 Persona: Na psicologia analítica de Jung, é a face social que o indivíduo apresenta ao mundo, como uma espécie de máscara
projetada, por um lado, para fazer uma impressão definitiva sobre os outros, e por outro, dissimular a verdadeira natureza do indivíduo.
A persona também pode se referir à identidade de gênero, a um estágio do desenvolvimento como a infância e a adolescência, a um
status social, a um emprego ou profissão.
63Ego: De acordo com a interpretação esotérica, o ego em maioria das vezes aparece como algo pejorativo, como um obstáculo a
evolução espiritual que se caracteriza nos vícios, desvios morais e atos inconscientes do indivíduo.
64Maia: Maya é uma palavra sânscrita feminina Hindu que significa “medir”. O termo possui também o significado corrente de “ilusão”,
“miragem” ou “mundo de aparências”. Maya é a ilusão do mundo físico; a irrealidade dos fenômenos; a miragem ou “alucinação” do
mundo da manifestação. Os fenômenos sensíveis do mundo são vazios da verdadeira substância, não são reais, mas possuem apenas
uma aparência de realidade.
65Malkuth: Em Cabala é a manifestação final das forças da Árvore da Vida, o último estágio da energia onde ela se solidifica. Porém,
não é formada apenas pela matéria, mas também seu aspecto psíquico e sutil.
O verdadeiro iniciado detém, ou pelo menos deve ter, consigo as rédeas de sua vida e
consequentemente de seu próprio destino, que nada mais é que ter claro as consequências de suas
escolhas e ações conscientes sobre si mesmo, que são possíveis através da condição de livre arbítrio
ou liberdade individual por meio da iniciação; agindo sempre de maneira consciente, correta e digna.
O iniciado atua no mundo e em sua vida não por obrigação ou receio de punição, mas porque esta
intencionado e direcionado para a prática do bem em prol da realização comum, ou seja, a evolução da
O iniciado é o homem que se fez consciente de que se pode fazer muito, pode-se até criar e destruir
a vida neste mundo empírico, sensível e inteligível, onde a realidade é norteada pelas formas e pela
aparência. Este mundo é afetivo é o mundo de ser, estar, sentir, da realidade física e material do ser
humano. Neste sentido o homem pode transformar e atuar de forma concreta sobre si e sobre a
sociedade de acordo com sua intenção ou vontade. No entanto, é na busca íntima e profunda da
transformação e evolução do “Ser Individual” que se encontra o sentido puro da iniciação. Um convite
Por fim chegamos à conclusão que para os iniciados a iniciação é também uma dádiva, uma
proposta e oportunidade de evolução pessoal, pois privilegiado é aquele que consegue conhecer,
assimilar, produzir e transformar a consciência individual e coletiva em prol de um bem maior, no sentido
de atuação sobre si e sobre os outros. Ter esse nível de atuação individual e coletivo representa uma
conquista e uma responsabilidade, pois para o místico, a lapidação das imperfeições humanas se faz
O Iniciado sabe o que veio fazer na Terra, pois conhece sua própria história de vida através da
mística, o que traz sentido a sua própria existência a partir do que sabe de si, sendo que desta forma,
age no mundo por intenção justa e consciente, por vontade manifestada dentro de uma conduta ética
específica e nunca por obrigação ou norteamento moral. Desta forma o iniciado “pode realizar milagres
na Terra” – Martinismo; assumir o “Domínio de sua Vida” – AMORC; realizar a “Grande Obra” –
66Thelema: Também se refere à doutrina ou filosofia religiosa difundida por Aleister Crowley a partir de 1904 nos moldes propostos pelo
Liber AL vel Legis.
MARTINISMO - A Ordem dentro da ordem, o círculo dento do círculo:
entender melhor sobre o que seria a Tradicional Ordem Martinista – TOM, e o que conseguimos
absorver é que segundo os rosa-cruzes da AMORC, a TOM é uma instituição mística, filosófica e para-
maçonica que, de certa maneira se aproxima com a filosofia, misticismo e esoterismo judaico-cristão e
que se caracteriza principalmente pela prática da “teurgia”67 interior. Uma ordem esotérica que se aloja
dentro de outra ordem esotérica; por motivos históricos específicos a TOM se uniu institucionalmente
com a AMORC, sendo que para que haja iniciação ou ingresso na TOM necessariamente deverá ser
Diante disso interpretamos como “o círculo dentro do círculo”, sendo um espaço de pesquisa ainda
mais restrito que o próprio objeto, mesmo se tratando do mesmo campo estudado, previamente
A Ordem Martinista deriva dos ensinamentos de Martinès de Pasqually – 1710 – 1774, Teósofo do
Século XVIII; que em sua época era líder da Ordem Iniciática dos Elus-Cohen, que focavam seus
estudos e práticas místicas na reintegração da ligação entre o Ser Humano e a Divindade, consequente
No entanto, a “Senda Martinista” ainda não era reconhecida como Martinismo, pois este nome
deriva da figura de San Martin, que foi tomando forma, reconhecimento e conceituação na medida dos
acontecimentos da sua história, principalmente pela continuação de sua tradição através de Jean Batist
Willermoz e o mais notável que passa a denominar a Ordem Martinista, “Louis Claude Saint Martin”68.
67 Teurgia: Ciência do maravilhoso; arte de fazer milagres. Espécie de magia fundada em relação com os espíritos celestes.
68 Louis Claude San Martin: Louis-Claude de Saint-Martin (Amboise, França 18 de janeiro de 1743 - 13 de Outubro de 1803) foi um
filósofo e místico francês. Foi discípulo de Martinez de Pasqually e Jacob Boehme. Advogado, deixou de lado a jurisprudência e, ao lado
de Jean-Baptiste Willermoz, lançou a base do martinismo. Influenciou diversos ocultistas franceses, especialmente Éliphas Lévi,
Stanislas de Guaita e Papus.
Após o falecimento de Pasqually, seus ensinamentos místicos dos ligados à “Ordem dos Elus-
Cohen”69 foram disseminados em várias ordens ocultistas e círculos esotéricos, nesse meio
sobressaíram-se dois principais seguidores, que são: “Jean Baptist Willermoz70” e “Louis Claude Saint
Martin”, o primeiro era adepto da Franco-Maçonaria e acreditava que a prática da Teurgia Externa,
aproximava os seres humanos à realidades superiores através da magia ritualística; já Saint Martin
Uma das principais características da diferenciação entre a antiga teurgia utilizada na Ordem dos
Elus-Cohen e a teurgia de San Martan é a opção pelo que o mesmo denominava como via interna que
está ligada ao coração do próprio homem. San Martin acreditava que as tradicionais práticas teúrgicas
da época deveriam deixar de ser o centro das atenções dos iniciados, ele propunha o caminho da senda
interna, cardíaca, onde a máxima era “deixar que Deus adentre o coração do Homem para que a
No entanto, Louis Claud San Martin, o “Grande Iniciador”, deixa as responsabilidades atribuídas as
atividades da sua via senda interna e cardíaca ao seus mais próximos seguidores que são: “Gérald
Encause”71, esotericamente conhecido como “Papus”, e “Pierre Augustin Chaboseau72” que deram
continuidade ao círculos de iniciados até se firmarem sob a denominação Martinista em 1891, devido
69 Ordem dos Elus-Cohen: Originalmente fundado por Martinez de Pasqually em 1768. Foi fundido com alguns ritos Maçons pelo
discípulo dele e sucessor Jean Baptiste Willermoz. O Dr. Blitz de Eduoard, um companheiro antigo de Papus, trabalhou com os
Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa de Willermoz, nos E.U.A., e consequentemente mantinha a exigência de afiliação maçônica.
70 Jean Baptiste Willermoz: Lião, 10 de julho de 1730 — Lião, 29 de maio de 1824 - foi maçom e martinista francês que exerceu papel
importante no estabelecimento de vários sistemas de altos graus maçônicos em seu tempo na França e Alemanha.
71 Gérard Anaclet Vincent Encausse: Corunha, Espanha, 13 de Julho de 1865 — Paris, França, 25 de Outubro de 1916), mais conhecido
pelo pseudônimo de Papus, foi um médico, escritor, ocultista, rosacrucianista, cabalista, maçom e fundador do martinismo moderno.
72 Augustin Chaboseau - 17 de junho de 1868 - 2 de janeiro de 1946 - é o organizador original e oficial de promulgação da Ordem
Martinista Tradicional (TMO), ocultista e historiador. Notavelmente, sua fundação foi em parceria com a Papus em 1888. Em seus
primeiros anos, ele tinha os talentos, habilidades e habilidades necessárias que o levaram a se tornar médico e foi com o conhecimento
adquirido no trabalho com a responsabilidade de salvar a vida das pessoas que ele foi capaz de transição bem sucedida em seu trabalho
com o TMO.
aos legados de San Martin período que a ordem começou a ganhar espaço em várias regiões da
Europa.
Por conta do surgimento da Primeira e Segunda Guerra Mundial, a Ordem Martinista entrou em
estado de dormência, isto é, deve de criar estratégias de sobrevivência com relação para manter suas
atividades, chegando beira da extinção, uma vez que o cenário proposto pela guerra proibindo e
perseguindo as atividades de organizações secretas. Esta situação piora após o falecimento de Papus
Após a o termino da Segunda Guerra Mundial, Chaboseau se reuniu seus ultimas forças para
reaver a ordem mais uma vez e consegue concluindo sua missão e morre em 1946.
Portanto, neste momento as atividades martinistas estavam novamente dispersas pela Europa
até que o “Imperator” mundial da AMORC na época, Ralph M. Lewis buscou uma forma de
reorganização e união dos adeptos a filosofia deixada por San Martin e estruturada por Papus e
Chaboseau. Dessas organizações surgem o que conhecemos hoje como Tradicional Ordem Martinista,
onde se encontra atualmente sob a administração da Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz – AMORC.
AMORC E RELIGIÃO:
existenciais, sobre os sentidos que regem a vida íntima e espiritual do ser humano.
Embora todas as suas características mais notáveis como o caráter templário, místico, esotérico e
filosófico nos apontem de alguma forma como a expressão de uma religiosidade, devemos
primeiramente ouvir o que a própria instituição diz de si mesma, assim como também fazer um
misticismo ou esoterismo.
próprias, doutrinas, dogmas, rituais, valores morais e costumes específicos. E por mais que algumas
destas práticas sejam trabalhadas dentro do círculo da AMORC, através das reflexões conceituais
mesma como uma instituição não-religiosa, porém, fraternal, mística, filosófica, esotérica e espiritual.
Por mais que nos períodos de 1990 até os anos 2000, o termo “nova era” ou “new age” era o mais
orientais e holísticas, que ganharam certa notoriedade no Brasil na época, preferimos entender e
explicar especificamente a AMORC a partir da análise de pesquisador social, José Cantor Magnani,
como uma instituição esotérica tradicional, que proporciona certo fluxo, mercado ou trânsito religioso
no que denominamos na pesquisa como Câmara Externa, diante disso, preferimos defini-la
Dando uma atenção especial para o discurso do próprio objeto sobre sua aproximação da prática
sobre um imaginário extra-físico ou religioso, encontramos sempre uma observação ou ressalva de que
“a ordem rosacruz não pode ser confundida com uma religião por não possuir princípios dogmáticos
correlacionados a uma crença imposta ou indicada”. Segundo os rosa-cruzes, AMORC se assemelha
Também notamos que nas falas dos membros sobre Deus e o Universo, e embora tenham uma
afeição especial à teologia iniciada por Akenathon, o antigo faraó que ao seu reinado tentou implantar
a ideia monoteísta a frente do panteão do Egito Antigo; percebemos também que a ordem não prefere
nenhuma religião específica, inclusive indica a prática ou adoção de uma religião fora da AMORC,
Contudo, tendo como ponto de partida a explicação institucional da AMORC e também a partir da
literatura antropológica utilizada para a reflexão e análise do fenômeno podemos claramente afirmar
que a Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz – AMORC não se classifica como instituição religiosa, mas
Por religião entendemos instituições que norteiam as ações de um grupo de sujeitos organizados
ética num corpo doutrinário demarcado com narrativas centrais estabelecidas e proselitistas.
cenário religioso passando a ser um qualificativo de diferentes tipos de agenciamento, tanto centrais
como também periféricos e marginais, que também podemos entender popularmente como “nova era”
AMORC, para entendermos um pouco mais sobre o mesmo a partir de um prisma epstemológico, no
caso antropológico.
cerimoniais, procedimentos, técnicas, filosofias, doutrinas, crenças e ordens secretas que são
temáticas como o domínio da vida e do próprio destino, a satisfação da vontade individual através do
uso da “magia”73, aspectos ocultos da vida e da psicologia do homem dentro de uma perspectiva de
que tais assuntos devem ser velados, poupados ou reservados apenas aos digníssimos adeptos.
Também podemos entender o esotérico como um nome genérico que evidencia um conjunto de
tradições e interpretações filosóficas das doutrinas e religiões - ou mesmo das Fraternidades Iniciáticas
– AMORC, que buscam transmitir um rol acerca de determinados assuntos que dizem respeito a
autodenominar assim, uma vez que preferem o termo “místico” ou “espiritualista” que opta por práticas
73 Magia: Forma de ocultismo que estuda os segredos da natureza e a sua relação com o homem, criando, assim, um conjunto de
teorias e práticas que visam ao desenvolvimento integral das faculdades internas espirituais e ocultas do Homem, até que este tenha o
domínio total sobre si mesmo e sobre a natureza. A magia tem características ritualísticas e cerimoniais que visam a entrar em contato
com os aspectos ocultos do Universo e da Divindade. Afirma-se que, por meio de rituais, feitiços, orações, invocações e evocações, é
possível fazer com que forças ocultas atuem sobre o ambiente, modificando, por exemplo, a vontade, o agir ou o destino das pessoas.
Essa concepção, no entanto, é tida como irracional pela ciência.
alternativas, pois de alguma forma, e em algum momento a denominação estorérica ou ocultista se faz
guardavam ou protegiam os conhecimentos e ciências ocultas dos profanos ou não iniciados; sendo
“esotérico” se refere ao que está dentro ou reservado a poucos, em oposição ao “exotérico”, que é o
Frente a esta situação social, com o apoio teórico de Magnani entendemos “neo-esoterismo”
como:
acadêmico, no senso comum e até midiático sendo que através desta “popularização dos
contrafações e transformações desses temas nas atuais práticas modernas esotéricas, holísticas ou
místicas, como: consultas de tarô em anúncios de jornais e panfletos nas ruas ou via telefone e internet;
o que diferencia e se distancia totalmente do caráter “templário” e “cerimonial” exercido por sérias
Também se afirma como “neo-esotérico” conceitos como o de “Nova Era, Nova Consciência
Antes mesmo dessa nova corrente atual de instituições que promulgam o conhecimento místico
74Parapsicologia: É uma pseudociência dedicada à investigação de supostos fenômenos paranormais e psíquicos. Seu propósito é a
pesquisa científica de telepatia, precognição, retrocognição, clarividência, telecinesia, projeção da consciência, experiências de quase
morte, reencarnação, mediunidade e outras reivindicações paranormais e sobrenaturais.
75Gnosticismo: designa um conjunto de crenças de natureza filosófica e religiosa cujo princípio básico assenta na ideia de que há em
cada homem uma essência imortal que transcende o próprio homem. Os gnósticos consideram a existência humana neste mundo como
não natural, por estar submetida a diversos sofrimentos.
76 Cátaros: O catarismo (do grego καϑαρός, katharós, "puro") foi um movimento cristão de ascese extrema na Europa Ocidental entre
os anos de 1100 e 1200, que teve suas raízes no movimento pauliciano na Armênia e no bogomilismo na Bulgária, que tiveram
influências dos seguidores de Paulo de Samósata.
77 Essênios: (Issi'im) constituíam um grupo asceta, apocalíptico messiânico do movimento judaico antigo que foi fundado em meados
do 2º século a.C. e foram dizimados no ano 68, com a destruição de seus assentamentos em Qumran. O movimento já foi mencionado
por autores antigos. Atualmente, tem-se redespertado o interesse pelo grupo após a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto e do
levantamento arqueológico de Qumran.
78 Tantra: (sânscrito: तन्त्र, lit. "tear, tecelagem, sistema" — denotando "continuidade" ou tantrismo refere-se às tradições esotéricas do
hinduísmo e do budismo que se co-desenvolveram provavelmente em meados do primeiro milênio d.C. O termo tantra, nas tradições
indianas, também significa qualquer "texto, teoria, sistema, método, instrumento, técnica ou prática" sistemática de aplicação ampla.
79
Hinduismo: Hinduísmo é uma tradição religiosa que se originou no subcontinente indiano. É frequentemente chamado de Sanātana
Dharma (सनातन धर्म ) pelos seus praticantes, frase em sânscrito que significa "a eterna (perpétua) darma (lei)". Num sentido mais
abrangente, o hinduísmo engloba o bramanismo, isto é, a crença na "Alma Universal", Brâman; num sentido mais específico, o termo é
empregado para designar apenas o sistema cultural e religioso da Índia medieval e posterior.
Tibetano80, a Gnose Samaeliana81, a Teosofia82, a Teurgia83, os Martinistas84, o Judaísmo85 e a
Cabala86, o Sufismo87 e o Islã88, entre outras ordens e práticas religiosas discretas que atuavam entre
Porém, o faziam de forma mais velada e reservada, onde o processo de iniciação, introdução e
acesso a esses ensinamentos místicos eram muito mais velados aos profanos não iniciados,
diferentemente das atuais características da atual Rosa Cruz AMORC, que aparentemente tem um
anseio por angariar membros as suas egrégora e revelar em algum grau os ensinamentos místicos e
esotéricos da ordem em benefício do desenvolvimento individual e coletivo com a cidade ou com o meio
em que convivem.
80 Bustismo Tibetano: também chamado de budismo vajrayana ou lamaísmo, emprega práticas de meditação na forma de elaborados
rituais, com leitura de Sadhanas (textos litúrgicos), visualizações e instrumentos musicais. Possui uma forte tradição nas artes, com
elaboradas pinturas e esculturas, e também em ordens monásticas, com ênfase no relacionamento entre alunos e lamas.
81 Samael Aun Woer: Pseudómino esotérico oi iniciático de Victor Manuel Gómez Rodrigues, nascido em Bogotá em 06/03/1917 e que
faleceu em 24/12/1977; escritor e fundador do Movimento Gnóstico Cristão Universal em 1972.
82Teosofia: conjunto de doutrinas religiosas de caráter sincrético, místico e iniciático, acrescidas eventualmente de reflexões filosóficas,
que buscam o conhecimento da divindade para alcançar a elevação espiritual. Doutrina espiritualista fundada no Século XIX por Helena
P. Blavatsky 1831-1891, ligada à tradição ocultista e às religiões orientais; teosofismo.
84Martinismo: corrente pensamento com base no esoterismo; um movimento para-militar e espiritual, conotado com o misticismo judaico-
Cristão, e com os ensinamentos de Louis Claude de Saint-Martin (1743-1803).
85 Judaismo: Judaísmo (em hebraico: יהדות, Yahadút) é uma das três principais religiões abraâmicas, definida como "religião, filosofia e
modo de vida" do povo judeu. Originário da Torá Escrita e da Bíblia Hebraica (também conhecida como Tanakh) e explorado em textos
posteriores, como o Talmud, é considerado pelos judeus religiosos como a expressão do relacionamento e da aliança desenvolvida
entre Deus com os Filhos de Israel.
86 Cabala: Sistema esotérico , religioso e filosófico que reivindica o discernimento da natureza divina. Uma palavra hebraica que significa
recepção. A Qabalah divide-se em quatro partes principais: Cabala Prática: trata dos talismãs, rituais e cerimônias mágicas; Cabala
literal não-escrita: conhecimento oral e a tradição; Cabala Dogmática: parte doutrinal da ciência, sendo que suas principais fontes são
o Sepher Yetzirah, o Zohar, o Sepher Sephiroth e o Asch Metzareph.
87Sufismo: Forma de misticismo e ascetismo islâmico, hostil à ortodoxia muçulmana, caracterizado por uma crença de fundo panteísta
e pela utilização da dança e da música para uma comunhão direta com a divindade. Propagou-se especialmente na Índia e na Pérsia,
do Século IX ao Século XII, e foi influenciado pelo hinduísmo, budismo e cristianismo.
88Islã: É uma religião abraâmica monoteísta articulada pelo Alcorão, um texto considerado pelos seus seguidores como a palavra literal
de Deus - Alá, em árabe – Allāh. Pelos ensinamentos e exemplos normativos de Maomé, considerado pelos fiéis como o último profeta
de Deus. Um adepto do islamismo é chamado de muçulmano.
Se tratando de religiões e suas condições na pós-modernidade podemos perceber que até mesmo
budismo, o judaísmo, taoísmo, entre outras, sofrem constantes transformações, diante disso podemos
criar um novo conceito que abranja as práticas contemporâneas que envolvem o universo místico e
ocultista no meio urbano. Neste sentido nos damos com o que o mesmo denomina “neo-esotérico” ou
praças, shopping centers, feiras místicas, viadutos, postes de energia elétrica, lojas e bairros de classe
média.
acessível aos novos padrões e paradigmas, o que vai contra a ideia de secularização89, sendo que,
uma vez que a mesma não acontece abre brecha para novas práticas místicas ou religiosas e é ai que
Dentre os mais diversos grupos iniciáticos históricos encontramos as linhagens que seguem o
estilo do gnosticismo pagão e o gnosticismo cristão, misticismo judaico e a cabala, o sufismo islâmico,
89 Secularização: Processo de perda de relevância da religiosidade nos vários aspectos da vida do sujeito moderno.
o budismo tibetano entre outros movimentos seculares e paralelamente a eles encontramos as ordens,
sociedades discretas, monastérios, associações, núcleos, centros, lojas, templos entre vários outros
espaços que oferecem o estudo das artes ocultas e místicas, assim como também proporciona acesso
ao conhecimento esotérico com fluxo muito bem estabelecido, isto é, um número regular de membros
iniciados assíduos que professam tais princípios ou aderem filosofias de vida a um considerável tempo.
No entanto, diante desse público, grupo ou associação de longa data já estabelecida nos assuntos
de ocultismo, misticismo e esoterismo encontramos outra corrente ou que podemos conceituar como
prática de um esoterismo moderno que orbita as sociedades iniciáticas com o intuito da espiritualização,
Contudo neste momento da vida social contemporânea ou pós-moderna, isto é, aos reflexos da
sociedade em rede com os meios de comunicação em massa a níveis globais como a internet e as
informações sobre ocultismo/esoterismo a nível mundial, pois os fenômenos conhecidos como a “New
Age, a Conspiração Aquariana, Movimento do Potencial Humano, Era de Aquário ou Era da Nova
esoterismo ganharam notabilidade inclusive nos meios de informação tecnológicos como classificados
de jornais on-line, espaços reservados em livrarias, entrevistas em talk-shows, feiras místicas, canais
na plataforma You Tube, grupos de redes sociais (Facebook, WhatsApp, Telegram e Instagram) entre
Neste sentido podemos claramente classificar o objeto analisado nesta pesquisa, ou seja, a
AMORC, como uma - séria e histórica instituição esotérica com abertura para o fluxo neo-esotérico;
experimentações e vivências reais em campo a luz das teorias etnográficas pode-se verificar que existe
uma barreira de acesso a informações entre os “buscadores” ou membros da câmara externa e os
membros da instituição/ordem, os iniciados da mesma forma que existe uma lógica institucional muito
das regulares palestras abertas ao público geral e à Câmara Externa, e consequentemente a procura
o mesmo como um processo ou movimento “neo-esotérico” urbano, pois, através das experiências em
campo, isto é, convivência, participação assídua e infiltração observante, pudemos ter um panorama
geral do perfil dos “buscadores” e seus objetivos, que coincidem com as definições sobre o que aqui
denominamos “neo-esotérico”, isto é, uma expectativa para com uma religiosidade ou espiritualidade
prática, não dogmática e com certa liberdade e incentivo a uma reflexão individual e estudo sobre a
Da mesma forma, uma vez que categorizamos estes fluxos e buscas como um movimento “neo-
esotérico”, a instituição AMORC continua de certa forma aos moldes de uma “instituição esotérica” ou
“ordem iniciática esotérica”, uma vez que ainda permanece fechada ao círculo de iniciados dentro de
Como uma forma de categorizar ou classificar a Ordem Rosa Cruz AMORC entre demais
instituições esotéricas classificamos a partir dos objetivos que se norteiam as ações da instituição, suas
vínculos que se estabelecem aproximam-se de tipo religioso. Muitas delas são filiais, adaptações ou
Sociedade Antroposófica.
ao movimento “neo-esotérico” no seu processo de abertura e acesso para novos membros, mesmo
mantendo-se como uma instituição séria e hermética, de caráter místico filosófico e esotérico, muito
bem instalado no meio ocultista oriental e ocidental, como observamos no processo etnográfico.
O mais importante notarmos é que a AMORC provem de um histórico tradicional que mentem o
caráter esotérico tradicional, institucional, místico e filosófico; e que mantem de forma rigorosa este
perfil em suas atividades, embora esteja em processo de abertura e angariamento por novos membros
em oferta de iniciação.
Em torno deste processo de abertura e convite à busca interior e iniciação orbita o que entendemos
como movimento “neo-esotérico”, que segundo a bibliografia utilizada na pesquisa, nada mais é que
literatura, pratica, estudo ou tratamento holístico, ou até mesmo atendimento oracular, divinatório entre
2. CENTROS INTEGRADOS:
Espaços que reúnem e organizam, de forma criativa, várias atividades como práticas divinatórias,
terapias variadas, cursos de formação, venda de produtos, vivências coletivas. Não apresentam uma
doutrina própria nem seguem um conjunto rígido de dogmas que não deixem de fundamentar suas
escolhas através de um discurso mais ou menos coerente que pode combinar várias tradições
religiosas, filosóficos ou ocultistas. Geralmente são gerenciados em moldes comerciais – muitos deles
são microempresas; tem como base o trabalho de profissionais da casa – em maioria terapeutas; que
quase sempre são os proprietários do local que abrem espaço para atuação esporádica ou permanente
de pessoal de fora.
Alguns destes:
Centro Visvaram.
Espaço Reviver.
Instituto Avalon.
Reeducação Holística
3. CENTROS ESPECIALIZADOS:
São associações, institutos, escolas, clínicas voltadas para a pesquisa e ensino de temas “neo-
específico as orientais que visam o “sagrado feminino”, artes marciais, práticas terapêuticas como
acupuntura e massagens.
Estes centros podem comportar mais de uma atividade, porém, geralmente é a atividade principal é
Escola Gea-Astrologia.
4. ESPAÇOS INDIVIDUALIZADOS:
Centro Especializado.
Espaços Individualizados.
Pontos de vendas.
CONCLUSÃO:
Nesse tempo de dedicação à realização da pesquisa a Ordem Rosa Cruz - AMORC não
proporcionou somente uma experiência etnográfica e antropológica, mas sim, um convite a uma nova
interpretação do mundo e das coisas, seja em um sentido filosófico, místico, antropológico ou esotérico.
Ainda mais, podemos perceber que o movimento rosacruciano proporciona uma espiritualidade
prática em forma de um misticismo templário e ritualístico e se mistura com uma religiosidade em forma
de práticas e rituais místicos. Embora possamos observar deste prisma; em respeito ao discurso da
mesma sobre si – considerando a definição do nativo sobre si mesmo; não devemos em hipótese
alguma reduzir ou categorizar o movimento Rosa Cruz como religioso.
Por fim, entendemos a Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz – AMORC através de uma teoria
antropológica que nos mostra um cenário social urbano, espiritualista e moderno.
O nosso objeto de estudo, a própria Ordem Rosa Cruz – AMORC de Londrina, nos serve como
exemplo para o entendimento de que existe um leque de sociedades iniciáticas historicamente
reconhecidas na humanidade e que essas revelariam uma “situação esotérica”, no entanto, com o
movimento de dessecularização e reencantamento do mundo a sociedade parte para outras
possibilidades de resolução dos problemas existenciais como a ciência e o ocultismo ou,
esotericamente, misticismo que é a oferta da experimentação direta do ser humano para com Deus.
Segundo a teoria que nos serve de apoio, em torno dessas religiões e sociedades esotéricas ocorre
um fluxo, um mercado ou trânsito religioso/espiritualista que especificamente adotaremos o conceito de
“neo-esoterismo” para a explicação e categorização deste fenômeno social com relação ao que foi
observado sobre a AMORC.
Por fim, entendo a ordem Rosa Cruz AMORC como uma instituição ou ordem esotérica histórica e
que devido ao cenário atual da oferece uma abertura de ingresso na senda espiritual de forma concreta
através da iniciação.
Cardoso de Oliveira. Brasília: Paralelo 15, São Paulo –UNESP, 2000. 220 p.
- MÉXICO, 1960.
SITE: https://www.folhadelondrina.com.br/opiniao/misticismo-e-filosofia-ordem-
III, IV.
p.99-117, 1997.
– disponível em http://www.rdpizzinga.pro.br.
2. 1994.
Primavera 2016.